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Ministro do Trabalho
Carlos Lupi
Financiamento:
Presidente da Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP
Luiz Manuel Rebelo Fernandes
Marcelo Trindade
– 2010 –
ESTA OBRA É LICENCIADA POR
UMA LICENÇA CREATIVE COMMONS
Coordenação e organização:
Fundação Interuniversitária
de Pesquisas e Estudos sobre
o Trabalho – UNITRABALHO
www.unitrabalho.org.br
Revisão:
Célia Rita Genovez
— 2010 —
N T MENDES EDITORA
www.todososbichos.com.br
Apresentação 7
Mapeamento da economia solidária no Brasil:
Uma estratégia de reconhecimento e visibilidade 7
Motivações e objetivos do
Mapeamento da Economia Solidária 7
Construindo uma base conceitual para o SIES 9
O mutirão nacional do SIES 11
Colhendo os resultados 12
Continuando a caminhada 13
Anexos 87
Procedimentos metodológicos 88
1. Análise de agrupamentos 88
2. Representação gráfica das variáveis
consideradas em cada dimensão 91
2.1. Dimensão de organização dos EES 91
2.2. Dimensão de atividade econômica dos EES 93
2.3. Dimensão de gestão financeira dos EES 95
2.4. Dimensão de gestão adminsitrativa dos EES 98
2.5. Dimensão de trabalho nos EES 107
2.6. Dimensão sociopolítica dos EES 111
Análise conjunta das tipologias 114
Os autores 119
Colaboradores 120
TIPOLOGIA DOS EES 7
Apresentação
Sumário
8 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
empreendimentos de economia solidária, as entidades de apoio, assessoria
e fomento e os gestores governamentais vêm se articulando em redes e
fóruns de economia solidária.
Criada em 2003, a Secretaria Nacional de Economia Solidária do
Ministério do Trabalho e Emprego (SENAES/MTE) está desenvolvendo
um conjunto de ações para o fortalecimento dessa realidade. Dentre elas,
destaca-se o Sistema de Informações em Economia Solidária (SIES) que se
constitui em iniciativa pioneira para identificação e caracterização de Em-
preendimentos Econômicos Solidários, de Entidades de Apoio e Fomento
à Economia e, mais recente, de Políticas Públicas de Economia Solidária.
Essa iniciativa tem início em 2003, quando a SENAES e o Fórum
Brasileiro de Economia Solidária, recém-criados, assumiram conjuntamente
a tarefa de realizar um Mapeamento da Economia Solidária no Brasil.
O objetivo era constituir uma base nacional de informações que contribuís-
se para a visibilidade e o fortalecimento e integração dos empreendimentos
de economia solidária através do cadastro, redes, catálogos de produtos e
comercialização. Além disso, deveria oferecer subsídios aos processos pú-
blicos de reconhecimento das iniciativas de economia solidária, para a for-
mulação de políticas públicas e para a elaboração de um marco jurídico para
a economia solidária.
Fruto do mapeamento, o Sistema de Informações em Economia So-
lidária (SIES) possibilita identificar e dar visibilidade a milhares de empre-
endimentos econômicos de base coletiva e autogestionária. O Sistema veio
preencher uma lacuna em termos de conhecimento sobre a realidade da
economia solidária no Brasil, tornando-se importante instrumento para o
planejamento de políticas públicas e permitindo o início do reconhecimen-
to e dimensionamento de uma realidade do mundo do trabalho que até
então não era captada nas pesquisas oficiais.
Essa proposta começou a tomar forma concreta em outubro de
2003 quando foi constituído um Grupo de Trabalho do Mapeamento da
Economia Solidária, contando com a participação de diversas entidades
com experiências acumuladas no levantamento de informações e no de-
senvolvimento de bancos de dados. Esse intercâmbio possibilitou uma
compreensão sobre os desafios e possibilidades na realização do Mape-
amento da Economia Solidária, sobretudo no que se refere aos aspectos
conceituais e metodológicos.
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 9
Sumário
10 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
O SIES procurou reconhecer uma identidade nessa diversidade
por meio de um conceito síntese que já vinha sendo utilizado em pes-
quisas sobre a economia solidária e por organizações que atuavam na
economia solidária e que incorporava dimensões comuns dessas ini-
ciativas: a ação empreendedora coletiva (empreendimento), a atividade
econômica (econômico), e os vínculos e valores sociais (solidariedade).
A partir dessa reflexão, a economia solidária passou a ser definida no
âmbito do SIES como o “conjunto de atividades econômicas – de pro-
dução, distribuição, consumo, poupança e crédito – organizadas e rea-
lizadas solidariamente por trabalhadores e trabalhadoras sob a forma
coletiva e autogestionária”. Esse conceito geral explicita os valores e
princípios fundamentais da Economia Solidária: cooperação, autoges-
tão, solidariedade e dimensão econômica.
Além da elaboração de um conceito síntese com capacidade de ser
reconhecido e legitimado socialmente, a tarefa de construção de um sis-
tema de informação exigia um conceito operacional caracterizado pela
clareza, simplicidade e objetividade. A partir dessa exigência, o Empre-
endimento Econômico Solidário (EES) foi definido como a unidade
mais simples e concreta da Economia Solidária, coerente com as suas
características essenciais: organizações coletivas de trabalhadores(as) que
exercem a autogestão na realização de atividades econômicas de forma
continuada ou permanente. Esse conceito procura sintetizar as princi-
pais características da economia solidária, afirmando uma nova identidade
(instrumento da ação política) que não é subsumida nas formas coopera-
tivas, associativas ou societárias (legalmente definidas), mas que pode se
expressar como parte dessas formas organizativas. Ou seja, não se trata
de confirmar a economia solidária pela forma ou natureza da organização,
mas pelas características presentes nos empreendimentos.
Posteriormente foram definidos outros dois conceitos do SIES: En-
tidades de Apoio, Assessoria e Fomento à Economia Solidária (EAF),
como aquelas organizações que desenvolvem ações nas várias modalida-
des de apoio direto junto aos empreendimentos econômicos solidários; e
as Políticas Públicas de Economia Solidária (PPES) como aquelas ações,
projetos ou programas que são desenvolvidos ou realizados por órgãos da
administração direta e indireta das esferas municipal, estadual ou federal
com o objetivo de fortalecimento da economia solidária.
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 11
Sumário
12 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
Hoje é possível identificar que um dos principais fatores de sucesso do
SIES é a capacidade de sensibilização e mobilização da base organizada da
economia solidária nos estados e territórios para assumir a gestão compar-
tilhada do processo de implantação de um sistema de informações. O resul-
tado é que a Gestão Participativa ampliou o potencial do SIES. As parcerias
construídas viabilizaram a superação das metas previstas, considerando que o
perfil principal das entidades conveniadas é de instituições universitárias e or-
ganizações não-governamentais que já atuam em formação e pesquisa na área
de economia solidária. Além disso, os atores sociais locais conhecem melhor
a realidade nas diversas regiões brasileiras e estão acostumados a soluções
apropriadas para identificar as iniciativas da economia solidária
colhendo oS reSUltadoS
Todo esse processo de mobilização permitiu maior reconhecimento e
articulação da economia solidária em todo o território nacional. Entre 2005 e
2007 foram identificados 21.859 Empreendimentos Econômicos Solidários
em 2.934 municípios do Brasil (o que corresponde a 52% dos municípios
brasileiros). Os dados revelados pelo Mapeamento da Economia Solidária in-
dicam que está em constituição uma importante alternativa de inclusão social
pela via do trabalho e da renda. Isso é possível quando ocorre a combinação
da cooperação, da autogestão e da solidariedade na realização de atividades
econômicas, melhorando a qualidade de vida dos trabalhadores e trabalha-
doras da economia solidária, estabelecendo novas relações entre produtores
e consumidores, respeitando o meio ambiente e contribuindo para os movi-
mentos emancipatórios na sociedade.
Além da disseminação dos dados para dar visibilidade à economia so-
lidária no Brasil, o SIES vem se constituindo em mais um instrumento para
fortalecer as potencialidades da economia solidária no Brasil, subsidiando
programas e projetos de organização da comercialização justa e solidária, de
fortalecimento de redes de cooperação, de formação e qualificação social e
profissional. A base de dados do SIES é referência para criação do Sistema
Brasileiro de Comércio Justo e Solidário e para a implantação de Sistemas
Estaduais de Comercialização da Agricultura Familiar e Economia Solidária,
fornecendo informações para identificação de cadeias e arranjos produtivos
em territórios, dimensionando as demandas e ofertas de produtos e serviços.
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 13
O Sistema Nacional de Informações em Economia Solidária vem se
constituindo em mais um instrumento para fortalecer as potencialidades da
economia solidária no Brasil. Com o dimensionamento das demandas e a
identificação da localização espacial dos empreendimentos, o poder público,
nas esferas municipal, estadual e federal, em parceria com as organizações da
sociedade civil, poderá ampliar e aperfeiçoar suas ações na direção de uma
política pública de economia solidária.
continUando a caMinhada
A continuidade desse processo depende da capacidade de enfrenta-
mento de alguns desafios. O primeiro e maior deles é a continuidade do pro-
cesso de identificação de Empreendimentos Econômicos Solidários e de atu-
alização da base de dados já existente. O SIES não é um Censo da Economia
Solidária e nem uma pesquisa com base em amostra estatística. Trata-se de
uma base de dados permanente que vai sendo ampliada a cada período, con-
siderando inclusive o seu processo dinâmico. Possivelmente ainda existem
milhares de empreendimentos econômicos solidários a serem identificados
e caracterizados. Em um país de dimensões continentais como Brasil, não
é fácil alcançar o universo dos municípios. Além disso, as fragilidades de lo-
gística e mesmo as intempéries climáticas dificultam o trabalho das equipes.
É necessário, portanto, prosseguir com o mapeamento, tornando o Atlas da
Economia Solidária no Brasil ainda mais abrangente.
Além disso, é preciso fortalecer e viabilizar novos instrumentos para
disseminação e uso das informações do SIES, possibilitando intercâmbios
organizativos e comerciais entre os empreendimentos, com a divulgação dos
produtos e serviços. Com a continuidade do mapeamento e a implantação
desses novos instrumentos de disseminação e uso das informações, o SIES
poderá cumprir seus objetivos, ampliando a visibilidade e o reconhecimento
da economia solidária no Brasil, integrando os EES em redes e arranjos pro-
dutivos e organizativos nacionais, estaduais e territoriais, facilitando proces-
sos de produção, comercialização e consumo solidários.
Sumário
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 15
econoMia Solidária
Apesar do conceito de economia solidária nem sempre ser usado com
o mesmo significado e nome, seu princípio é a idéia da solidariedade em con-
traste com o individualismo competitivo que caracteriza a sociedade capita-
lista. Atualmente utiliza-se esse conceito amplamente no Brasil e em diversos
países. Seus empreendimentos apresentam as seguintes características: são
organizações urbanas ou rurais, de produtores, de consumidores e de cré-
dito, baseadas na livre associação, no trabalho cooperativo, na autogestão e
no processo decisório democrático, sendo a cooperativa a forma clássica de
organização de um empreendimento da economia solidária.
A economia solidária vem se transformando em um eficiente meca-
nismo gerador de trabalho e renda. Seus empreendimentos são formados
predominantemente por trabalhadores de segmentos sociais de baixa renda,
desempregados ou em via de desemprego, trabalhadores do mercado infor-
mal ou subempregados e pelos empobrecidos.
Essa nova forma de economia que se desenvolve no século XXI tem o
cooperativismo operário como principal antecedente. O cooperativismo ope-
rário surgiu durante o século XIX em reação à Revolução Industrial, era uma
Sumário
16 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
tentativa de construir outra maneira de processar a economia, com base no
trabalho associado e na distribuição equitativa do excedente adquirido e não
na acumulação individual do dinheiro a partir da exploração do trabalho do
outro. Seus principais pensadores foram: Robert Owen (1771-1858), Willian
King (1786-1865), Charles Fourier (1772-1837), Philippe Buchez (1796-1865)
e Louis Blanc (1812-1882).
O cooperativismo preocupa-se com o aprimoramento do ser humano
nas suas dimensões econômicas, sociais e culturais. É um sistema de coopera-
ção que historicamente aparece junto com o capitalismo, mas é reconhecido
como um sistema mais adequado, participativo, democrático e mais justo para
atender às necessidades e aos interesses específicos dos trabalhadores.
Hoje, uma parte importante dos trabalhadores excluídos do mercado
formal de trabalho busca se organizar em associações, cooperativas, empre-
endimentos autogeridos e familiares para gerar trabalho e renda. A adoção
de iniciativas de trabalhos cooperativos pode advir de objetivos despretensio-
sos, mas responde, através da própria associação das pessoas, a necessidades
de proteção contra o desemprego provocado pelo movimento econômico
que levam as empresas a alterarem seu quadro de trabalhadores conforme a
conjuntura. Outros motivos também mobilizam as pessoas para essa forma
de trabalho. Além da necessidade, pode ser também uma escolha por outra
relação que vai ao encontro de suas crenças, valores, práticas ou maneira de
ver e lidar com a vida produtiva e social.
Essas iniciativas com base na forma solidária e associativa têm se mul-
tiplicado em todo o território nacional chamando atenção de setores da so-
ciedade civil, do poder público e de entidades de classe. Juntas, elas buscam
maneiras de gerar trabalho e renda de forma coletiva e solidária. Entretanto,
a economia solidária enfrenta várias dificuldades, como a de ter a fonte prin-
cipal de sustentação na sua capacidade de trabalho e, ao mesmo tempo, ela
ser a razão de muitas fragilidades. Apesar disso, os princípios intrínsecos dos
empreendimentos de economia solidária não os impedem de competir no
mercado e, por outro lado, possuem vantagem quanto a sua capacidade adap-
tativa diante dos movimentos desse mercado.
É também relevante, na economia solidária, o efeito imediato de dis-
tribuição de propriedade e renda em função do princípio formativo da igual-
dade na participação econômica dos associados nos empreendimentos. Isso
reflete na democratização dessa economia com estímulo para o crescimento
e para a redução das desigualdades. Os ganhos sociais são mais amplos, pois
além de possibilitar o reconhecimento dos trabalhadores como cidadãos, via-
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 17
biliza e reforça espaços que estruturam elos comunitários com efeitos valio-
sos na diminuição da degradação do tecido social.
Apesar das vantagens, reconhecendo também as fragilidades ainda pre-
sentes nos empreendimentos e empreendedores da economia solidária, há
hoje reducionismos ou idéias preconcebidas que dificultam uma reflexão so-
bre as mudanças em curso na sociedade, demonstradas pela via da economia
solidária, que precisam ser evitadas para possibilitar que se enxergue a sua
real importância no sentido da mudança e transformação social e econômica.
É possível enumerar quatro idéias preconcebidas que foram criadas em
torno da economia solidária, as quais chamamos de mitos1.
A primeira delas é que “a economia solidária seria um setor à parte”.
As concepções que focalizam a dimensão econômica (inspiração neoclássi-
ca) e, por isso, não abordam a gênese dessas organizações, consideram-na
residual ou de terceira categoria. Outras, que se sistematizam fora da ótica da
economicidade, identificam-na como um setor de atividades de ajuda mútua,
convivais e voluntárias, alheias à circulação do dinheiro, seccionam, assim,
o setor de mercado e o convival, numa forma similar a um aprisionamento
comunitário. Portanto, as duas idéias colocam as iniciativas ou a economia
solidária como setor de fronteiras estanques e, por isso, jogam um véu que
camufla a realidade concreta.
De fato, algumas atividades de ajuda mútua e convivais não são me-
diadas pelo mercado e não têm fluxo monetário, atendendo às necessidades
das pessoas, mas outras atividades e empreendimentos de economia solidária
estão entranhados no mercado capitalista. Queiramos ou não, há uma ligação
dessa economia com o mercado, visto que, nele, em medidas variáveis, mes-
mo priorizando as trocas e/ou comércio entre os empreendimentos solidá-
rios, estes buscam subsídios, informações, formação e insumos para produ-
zir, vender ou trocar seus serviços e produtos ou bens materiais e imateriais.
A economia solidária não é e nem deve ser um gueto que, para crescer, deva
ser protegido, colocado à parte do mercado, para depois se relacionar com
ele. Essa é uma idéia equivocada, que não a fortalece; ao contrário, fragiliza-a
e restringe ações que podem impulsionar seu crescimento e desenvolvimento
tecnológico. Ela deve manter sua ética e sua forma de conviver, produzir e
distribuir as sobras no interior de seus empreendimentos e, externamente,
1 No debate internacional, Jean-Louis Laville, numa mesa redonda na França (2001), falou sobre a economia
solidária e seus caminhos futuros, chamando atenção para o reducionismo e as idéias preconcebidas sobre ela, das
quais vamos nos apropriar de quatro para fazer nossos comentários com o olhar no Brasil, visto que elas também
ocorrem na sociedade brasileira.
Sumário
18 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
sendo pequena ou grande como todas as empresas tradicionais, deve se colo-
car no mercado, salvaguardando sua autonomia.
A segunda idéia é de que a “economia solidária seria uma economia ca-
ritativa de reparação”, cuja única vocação seria a caridade. Aqui há um enten-
dimento filantrópico que confunde caridade com solidariedade. O que vemos,
na realidade dos empreendimentos brasileiros, desde sua constituição até seu
funcionamento, é que eles nada têm de caridade. Trata-se, sim, de uma relação
contratual de trabalho entre pessoas, muitas vezes não formalizadas, mas quan-
do formalizadas, são previstas em seus estatutos e regimentos e se pautam por
princípios solidários. Portanto, nada têm de caridade ou filantropia, são relações
pautadas no trabalho coletivo e na solidariedade com fim de gerar renda.
A terceira é de que a “economia solidária seria uma subeconomia re-
servada aos excluídos”. Essa idéia deriva das precedentes, principalmente da
primeira, que considera a economia solidária como um setor “à parte”, que
abriga os “inempregáveis”, visto que os “empregáveis”, quando a conjun-
tura melhora e, com ela, a situação de emprego, encontram novamente um
trabalho. De fato, não se pode generalizar. A realidade já nos indica que nos
empreendimentos econômicos solidários existem trabalhadores que se ma-
nifestam contra a idéia de retornar ao emprego formal; outros nunca foram
empregados assalariados e, sim, autônomos por escolha, seja ou não do mer-
cado informal de trabalho; existem ainda aqueles que retornariam ao empre-
go formal, caso tivessem essa possibilidade.
Pensamos que essa concepção de economia solidária estigmatiza seus
componentes e em nada os ajuda. Além disso, subestima as pessoas quanto
à sua capacidade de escolher, decidir e de exercer sua própria liberdade. Ao
se alimentar essa idéia, dificulta-se que as pessoas renovem sua autoestima e
se vejam como capazes de construir algo próprio, considerando-se fadadas a
permanecer pobres ou na miséria e nada lhes resta tentar.
Paira, na sociedade, a idéia de que os trabalhadores que formam seus
empreendimentos solidários, com ajuda ou não de políticas públicas, não são
capazes de se tornarem empreendedores. As razões nunca são bem explici-
tadas, mas supõe-se que sejam muito mais derivadas de preconceito do que
de conhecimento concreto das condições de existência desses trabalhadores.
Sabemos que as dificuldades são imensas; existe uma série de barreiras que
precisam ser rompidas e superadas, com maior ou menor facilidade e que
demandam um tempo que é próprio de cada indivíduo e de cada grupo, espe-
cialmente os relativos à escolaridade.
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 19
Por que a economia solidária seria sempre de e para pobres, desem-
pregados e excluídos? Não necessariamente. A realidade nos mostra que, no
Brasil, ela é composta predominantemente por essa população, mas isso não
pode ser um castigo que a faça assim permanecer; ela pode e deve construir
seus próprios caminhos, aprender a andar com suas próprias pernas para me-
lhorar, sair dessa condição ou até mesmo para não sucumbir. Vive-se numa
sociedade democrática onde os empreendimentos econômicos solidários
abrem a possibilidade de construção de condições mais justas de produção e
distribuição dos ganhos e, consequentemente, de melhor condição de vida.
Hoje são representativas as ações dos apoiadores, sejam eles oriundos
de política pública, de outros organismos e instituições de fomento, como
as universidades. Constituindo uma assessoria técnica e científica nos mais
diversos campos do saber, eles fornecem a esses empreendimentos uma vi-
são mais universal, favorecem uma análise conjuntural e estrutural que lhes
propicia uma abrangência maior. O apoio pode ser de ordem financeira ou de
formação profissional e educacional. As incubadoras universitárias, por inte-
grarem as questões de ordem pedagógica, política e técnica aos empreendi-
mentos, dão-lhes a possibilidade de construir soluções inovadoras, integradas
e viáveis para o conjunto da economia solidária.
Pensamos que a economia solidária não deve ser estigmatizada por
isso: não é esse o único tipo de empreendimento que recebe apoio de media-
dores, educadores, especialistas, analistas e pesquisadores, entre outros, para
poder se constituir e desenvolver. As empresas privadas tradicionais também
gozam de infraestrutura e subsídios financeiros oferecidos pelo Estado, seja
por meio da isenção ou redução de alíquotas de impostos e/ou tarifas, no
âmbito de programas nacionais, estaduais e municipais, seja por meio de cré-
ditos subsidiados, seja por meio de serviços de assessoria e suporte científico
e tecnológico de especialistas na formação e desenvolvimento de empreendi-
mentos tanto do setor urbano como rural.
A última idéia que aqui comentamos é a de que “a economia solidária
estaria condenada a se dissolver na economia privada ou pública”. É freqüente
a afirmação de que a economia solidária só pode ser pioneira em setores da
atividade econômica em que não há ainda interesse da grande empresa porque
sua rentabilidade ainda não é atraente. Dessa perspectiva, a economia solidária
teria uma função temporária, atuando na precariedade da experimentação e da
exploração. Há também os que pensam uma ótica estatal que liga o futuro da
economia solidária à sua integração num serviço público ampliado.
Sumário
20 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
Pensamos que também esse pensamento estigmatiza e leva a concluir,
de forma apressada, que qualquer organização cujo fim seja gerar trabalho
e renda inexoravelmente vai se modelar às formas de mercado ou do Esta-
do. Essa preocupação está centrada apenas na ótica quantitativa financeira.
Embora seja provável que isso aconteça em alguma medida, o contrário
também pode ocorrer.
Não há porque ter preconceitos e ser contra a inserção e a interação dos
empreendimentos solidários com o mercado e isso não quer dizer necessa-
riamente que sejam subsumidos nesse mercado pelas grandes empresas tradi-
cionais. A convivência entre as duas formas certamente suscita conflitos, mas,
afinal, os conflitos são próprios da democracia.. Por isso, é preciso evitar o
fechamento dessas iniciativas em guetos protegidos. Como já venho observan-
do, há um direcionamento, imbuído, inclusive, nas próprias políticas públicas
de apoio, para aumentar a inserção desses empreendimentos em elos de cadeias
produtivas, em planos de desenvolvimento local e regional ou outras opções.
Esses empreendimentos, ao se integrarem, mantêm sua forma orga-
nizativa original e contribuem para fomentar seu próprio desenvolvimento
e fortalecimento, tanto para as pessoas que dele dependem, no aspecto do
trabalho coletivo, social e da viabilidade econômica, como para o desenvolvi-
mento mais geral, em nível macroecônomico. As chances são consideráveis,
quando se levam em conta os vários apoiadores e o fomento financeiro e de
formação. A prática da autogestão tem um potencial educativo importante
por si só, que extrapola o âmbito do empreendimento, chegando às relações
familiares e sociais. Sabemos que esses empreendedores mobilizam-se por
um misto de necessidades e vontades, como apontou a pesquisa organizada
por Gaiger (2004); portanto, é forte a preocupação com a consolidação de
seus empreendimentos ou alternativas.
Por outro lado, se há chances de êxito nessa economia, ela gradativa-
mente poderá se distanciar da possibilidade de ser incorporada às políticas
de Estado, especialmente quando predomina a visão neoliberal de Estado
mínimo. Nesse sentido, o lugar que deve ser ocupado pela economia solidária
no campo das políticas públicas não deve ser o de um apêndice à mercê da
própria política mais ampla, e sim o de um movimento coletivo, cuja priori-
dade é o próprio coletivo e não o indivíduo, por meio de políticas individuais
compensatórias. Um coletivo forte possibilita enfrentar e construir alterna-
tivas mais sólidas para lidar com mais autonomia frente à grande força do
neoliberalismo que está posto.
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 21
Além disso, se é o mercado que exclui e gera o excedente de pessoas
empobrecidas, seria necessário devolver-lhe essa responsabilidade e buscar ali
alternativas viáveis; por isso, a idéia da convivência pactuada com autonomia
também para a economia solidária. Vivemos numa sociedade democrática,
na qual os interesses de todos, para serem garantidos, passam por regras de
convivência, sem distinções, fazendo-se assim a justiça social. Portanto, a eco-
nomia solidária é um desafio num campo aberto de possibilidades.
2 Convênio firmado entre a Fundação Interuniversitária de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho (UNI-
TRABALHO) e FINEP (Ref.: 2297/06)/Termo Aditivo, que além de executar a pesquisa do mapeamento em 14
Estados (AC, AL, DF, MA, MT, MS, MG, PB, RO, RN, RS, SC,SE ,TO) conforme o projeto: “Mapeamento para
Ampliação da Base de Dados do Sistema Nacional de Informações em Economia Solidária (SIES)”, também ficou
responsável por realizar um estudo de âmbito nacional com as informações da Base de Dados do SIES, alimentada
pelos mapeamentos.
Sumário
22 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
modo de agregar seus recursos produtivos e humanos para atenderem a seus
objetivos e necessidades. Ou seja, trata-se de aferir a natureza socioeconômica
característica dos empreendimentos de economia solidária, por sua organiza-
ção associativa, na qual os sócios-proprietários são os próprios trabalhadores
organizados executando práticas de autogestão e construindo uma identidade
política e do movimento social da economia solidária.
Conforme buscaremos demonstrar, os dados do mapeamento contêm
indicadores importantes que serviram de base a este estudo. Trata-se de uma
abordagem que construiu tipologias interpretativas3 que procuram identificar
um perfil da economia solidária em âmbito nacional, caracterizando os empre-
endimentos econômicos solidários quanto a sua organização, atividade econô-
mica, gestão financeira e administrativa, situação de trabalho e sociopolítica.
Contamos com a familiaridade do leitor em relação a expressões gerais
da economia solidária, objeto de vários estudos e autores já realizados no Brasil.
Lembramos que já tivemos um retrato da economia solidária revelado pelo ma-
peamento que foi amplamente divulgado por meio do Atlas da Economia Solidária,
publicado em abril de 2006 (SENAES/MTE) e das opções de acesso ao Sistema
Nacional de Informações da Economia Solidária – SIES (www.sies.mte.gov.br).
O último mapeamento que compõe o SIES cobriu 52% dos municí-
pios brasileiros e levantou dados sobre 21.859 empreendimentos e uma po-
pulação de 1 milhão e 687 mil homens e mulheres. Desses empreendimentos,
9.498 estão localizados no Nordeste, 3.583 no Sul, 2.656 no Norte, 3.912 no
Sudeste e 2.210 no Centro-Oeste do país. Ou seja, quase a metade (43,5%)
deles localiza-se no Nordeste, em segundo lugar está o Sudeste (17,9%), em
terceiro e quarto, o Sul (16,4%) e o Norte (12,1%) e por último, o Centro-
Oeste (10,1%). Os dados também indicam que mais da metade dos empreen-
dimentos (52%) está organizada na forma de associações, 36,4% são grupos
informais, 9,6% cooperativas e 2% distribuídos entre empresas autogestio-
nárias de sociedade mercantil. Segundo os registros, a atividade econômica
desses empreendimentos é muito variada, mas considerando as 50 atividades
que mais aparecem nos empreendimentos, predomina as ligadas à agropecu-
ária, extrativismo e pesca (50%), seguida das de produção manufaturada – in-
dustrial e artesanal (37%), ficando as atividades caracterizadas como serviços
com 7% e como comércio 6%. Quase a metade (48%) desses empreendimen-
3 Ver também trabalho do Prof. Dr. Luiz Ignácio Gaiger, “Racionalidade dos empreendimentos econômicos
solidários segundo os dados do primeiro mapeamento nacional” – artigo disponível no site: www.ecosol.org.br.
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 23
tos atua exclusivamente na área rural, 34,6% exclusivamente na área urbana e
17,1% têm atuação tanto na área rural como na área urbana.
Estão associados nos empreendimentos econômicos solidários mais de
1 milhão e 687 mil homens e mulheres, resultando numa média de 78 parti-
cipantes por empreendimento. Quanto à composição social dos empreendi-
mentos verifica-se que 72,6% são formados por homens e mulheres, 17,9%
somente por mulheres e 9,5% formados somente por homens.
Apenas 50% dos empreendimentos prestaram informações a respeito
da remuneração dos seus associados configurando o seguinte quadro: 37,9%
apresentam remuneração com valor até meio salário mínimo (SM), enquanto
que 24,4% têm uma remuneração de meio a um SM e 26% recebem de 1 a 2
SM, sendo que os demais ficam entre 2 a 5 SM e mais de 5 SM.
Com relação à comercialização, os produtos e serviços são destinados
predominantemente aos pequenos mercados. As indicações são de que apro-
ximadamente 68% vendem no comércio local comunitário e municipal, perto
de 26% em mercados/comércios microrregional e estadual, 4% têm como
destino de seus produtos o território nacional e menos de 1% realizam tran-
sações com outros paises. Depreende-se dos dados, portanto, a importância
desses empreendimentos para o desenvolvimento local sustentável.
Para fomentar o desenvolvimento local integrado e sustentável, os
instrumentos necessários são: capital social local, instituições democráticas,
fortes laços de cooperação e confiança entre os agentes locais, processo con-
tínuo de inovação endógena e estratégias produtivas adequadas às condições
locais ou do território. O desenvolvimento endógeno deve promover, a partir
dos recursos, das potencialidades e dos agentes locais, o fortalecimento da
economia e da sociedade local.
É interessante notar que a economia solidária se utiliza, em grande me-
dida, dos mesmos instrumentos. Além do desenvolvimento endógeno e sus-
tentável, na economia solidária agrega-se o desenvolvimento solidário, pois são
iniciativas na qual a autogestão, a confiança mútua, a cooperação, a democracia,
a autossustentação, o desenvolvimento humano, a responsabilidade social e o
controle social são princípios fundamentais. A economia solidária agrega ainda
a inclusão social. Contribui também com o desenvolvimento sustentável, pois é
um processo de melhoria da qualidade de vida que compatibiliza o crescimento
econômico, a conservação dos recursos naturais e a igualdade social, no curto e
no longo prazo. Em síntese, as condições para o desenvolvimento local e para
Sumário
24 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
a economia solidária dependem de um desenvolvimento endógeno que possa
contar com capital social fortalecido e que integre e mobilize os produtores por
meio de redes sociais de técnicas de produção, comercialização, informação e
formação, bem como outros atores locais, regionais e estaduais e as próprias
políticas públicas em torno da sua autossustentação.
O mapeamento também identificou um total significativo de instituições
de apoio que atuam na economia solidária em todo o país. Essas instituições
podem ampliar a dinâmica social no sentido de aumentar o capital social e
produtivo criando novos arranjos institucionais resultantes da articulação de
parcerias com: agências de desenvolvimento (os IDR); instituições de crédito;
centros nacionais e internacionais de desenvolvimento tecnológicos; Empresa
de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater); Serviço Brasileiro de Apoio
à Pequena e Média Empresa (Sebrae); instituições governamentais; instituições
não governamentais; empresas que desenvolvem uma política de responsabi-
lidade social; órgãos especializados junto às secretarias de planejamento, de-
senvolvimento econômico, indústria, comércio e agricultura; conselhos para a
gestão integrada das políticas; fóruns permanentes de debates sobre o desen-
volvimento local e economia solidária.
A exploração dos dados, portanto, no escopo do estudo que deu origem
a esta publicação foi feita com base num tratamento empírico-analítico, a partir
da análise de variáveis numéricas e categóricas, que foram analisadas segundo
metodologia de análise multivariada, buscando identificar grupos e tipologias
que caracterizassem os empreendimentos econômicos solidários, segmentadas
por estados e grandes regiões. A seleção das variáveis se fez por meio da análise
de agrupamentos (Cluster Analysis) utilizando-se do método BIRSCH (Balanced
Iterative Reducing and Clustering using Hierarchies) – Agrupamentos por similaridade
das variáveis numéricas e categóricas. Esse procedimento estatístico permite a
divisão de unidades/objetos em grupos homogêneos com características simi-
lares dentro dos grupos e o mais distintas possíveis entre os grupos4.
Como resultado, foram construídas seis dimensões de análise dos em-
preendimentos econômicos solidários: a de organização ou características gerais
dos empreendimentos, da atividade econômica, da gestão financeira e gestão ad-
ministrativa e da situação de trabalho e sociopolítica. Essas dimensões indicaram,
por agrupamento, as tipologias formadas dos empreendimentos da economia
solidária em cada um dos 27 estados brasileiros e das cinco grandes regiões.
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 25
Em síntese, o estudo permitiu retratar a partir dos empreendimentos
econômicos a economia solidária no território nacional, como composta por
empreendimentos econômicos que têm similaridades, diferenças e igualdade em
vários aspectos entre os estados e regiões. De todo modo, com o olhar para os
princípios intrínsecos da economia solidária, podemos dizer que são fortes os
aspectos da autogestão, da solidariedade e cooperação. No campo da viabilidade
econômica há fragilidades, mas há também aspectos importantes que foram con-
siderados que indicam na perspectiva de crescimento e sustentabilidade.
Tais resultados devem ter seus méritos tributados inicialmente aos pro-
fessores/pesquisadores que foram os coordenadores técnicos em seus estados
e suas equipes nas universidades que participaram do projeto na pesquisa de
campo nos 14 estados e em 17 universidades pela integração e diálogo com a
coordenação nacional, bem como pelo árduo trabalho de campo que gerou as
informações com as quais alimentamos a Base de Dados SIES; as outras ins-
tituições e pesquisadores que também atuaram no mapeamento em outros es-
tados; aos professores/pesquisadores que compõe o Grupo de Trabalho (GT)
nacional do Programa de Economia Solidária e Desenvolvimento Sustentável
da UNITRABALHO pelo suporte à pesquisa em seus estados e aporte valiosos
nas discussões e reflexões sobre as análises dos dados; aos membros da equipe
de apoio da UNITRABALHO, em especial à Sandra Carreira, que atuou como
Coordenadora Executiva, de ajuda valiosa e sem a qual seria muito difícil dar
conta de todo trabalho institucional e diálogo com os Coordenadores Técnicos
Estaduais; aos professores/pesquisadores também autores nesta publicação
pela persistência e longas horas de trabalho para coletivamente lidarmos com
os dados e encontrarmos os caminhos metodológicos e analíticos para defini-
ção dos estudos e análise dos dados, cujo resultado gerou três estudos valiosos,
sendo um deles objeto deste livro; à Financiadora de Estudos e Projetos (FI-
NEP) e ao MTE/SENAES que contribuíram com o financiamento e de forma
indireta para a execução do projeto; aos profissionais encarregados da revisão e
editoração dos originais, por seu trabalho diligente.
Sumário
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 27
introdUção
Os empreendimentos econômicos solidários que compõe a economia soli-
dária no Brasil são milhares de organizações coletivas organizadas sob a forma de
autogestão que realizam atividades de produção de bens e de serviços, crédito e
finanças solidárias, comércio e consumo solidários. São formados predominante-
mente por trabalhadores de segmentos sociais de baixa renda. No âmbito do SIES
(2005, p.11-12) são organizações coletivas, suprafamiliares, singulares e complexas:
cooperativas, associações, empresas autogestionárias, grupos de produção, clubes
de troca, redes e centrais, cujos participantes ou sócios são trabalhadores(as) do
meio urbano e rural que exercem coletivamente a gestão das atividades, bem como
a distribuição dos resultados. Tem caráter permanente e apresentam diversos graus
de formalização. Inclui-se também, além dos empreendimentos que estão em fun-
cionamento, aqueles que estão em processo de implantação, com o grupo de parti-
cipantes constituído e com as atividades econômicas definidas.
Nesses empreendimentos ou atividades econômicas organizadas, desta-
cam-se quatro importantes características sempre presentes na economia solidá-
ria: cooperação, autogestão, solidariedade e viabilidade econômica. Na cooperação
há interesses e objetivos comuns, união dos esforços e capacidades, propriedade
coletiva de bens, partilha dos resultados de forma equitativa e responsabilidade
Sumário
28 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
solidária diante das dificuldades. Na autogestão estão presentes as práticas par-
ticipativas de autogestão dos processos de trabalho, das definições estratégicas e
cotidianas dos empreendimentos, da direção e coordenação das ações nos seus
diversos graus de interesses. A solidariedade envolve a preocupação permanente
com a justa distribuição dos resultados e a melhoria das condições de vida dos
participantes, comprometimento com o meio ambiente sustentável, com a comu-
nidade, com movimentos emancipatórios e com o bem-estar de trabalhadores(as)
e consumidores(as). Na viabilidade econômica vê-se a agregação de esforços, re-
cursos e conhecimentos para viabilizar as iniciativas coletivas de produção, co-
mercialização, crédito e consumo. Portanto, um empreendimento econômico
solidário precisa ter agregado todos esses princípios.
Considerando esses conceitos, o estudo desenvolvido buscou identificar,
por meio de uma metodologia de análise multivariada, o perfil aproximado desses
empreendimentos econômicos solidários (EES) de forma a retratar a economia
solidária, buscando identificar grupos e tipologias por estados e grandes regi-
ões brasileiras. A metodologia utilizada foi a análise de conglomerados em duas
etapas. Esse procedimento estatístico permite a divisão de unidades/objetos em
grupos homogêneos com características similares dentro dos grupos e os mais
distintos possíveis entre os grupos. A análise foi dividida em seis dimensões e
nelas foram identificados os grupos/tipologias que são apresentados a seguir.
São elas: dimensão de organização dos empreendimentos econômicos solidários,
dimensão de atividade econômica, dimensão de gestão financeira e administra-
tiva, dimensão de situação de trabalho e sociopolítica nos empreendimentos. A
metodologia tem uma exposição mais detalhada no Anexo 1.
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 29
Tabela 1:
Distribuição de grupos/tipologias para dimensão de organização
Grupo/Tipologia N % % Válido
1 8.686 39,7 40,4
2 5.554 25,4 25,8
3 7.255 33,2 33,8
Sub-Total 21.495 98,3 100,0
Sem Informação 364 1,7
Total 21.859 100,0
Fonte: MTE/SIES – elaboração própria.
Cada uma destas tipologias apresenta um perfil diferenciado em relação a
uma ou mais das características consideradas na análise. A caracterização de cada
uma é apresentada abaixo.
caracterização
GRupo/tipoloGiA 1: é o grupo que reúne os EES mais jovens, a maioria
surge entre 2003 e 2007, em maioria grupos informais e localizados em área urbana.
Quanto ao número de sócios, aproximadamente metade é composto de até 10 sócios.
GRupo/tipoloGiA 2: é um grupo onde existem EES de todas as idades,
sendo os mais jovens mais comuns (se considerarmos a partir de 2002), composto
de cooperativas (único grupo com essa característica) e associações, localizados em
áreas rurais e urbanas. Esses EES apresentam tamanhos variados em relação ao
número de sócios, com superioridade dos EES com até 10 sócios (pouco maior
que as demais categorias).
GRupo/tipoloGiA 3: é o grupo onde estão os EES mais antigos, a maioria
surge até 1999, todos funcionando como associações e localizados somente em
áreas rurais. Neste grupo é maior a informação de não declarar ter sócios2, ou de ser
um EES com 21 a 50 sócios.
As características que mais diferenciam os grupos são as formas de organização
e localização dos EES. O primeiro grupo é formado por EES urbanos e informais, o
segundo por EES em espaços urbanos e rurais, sendo cooperativas, e o terceiro por
EES rurais (somente) formados em associações. A demonstração gráfica das variáveis
isoladas que foram agrupadas nessas tipologias podem ser encontradas nos anexos.
2 Este resultado pode ser explicado por respostas obtidas dos entrevistados de EES que estavam em fase de
implantação e até mesmo por aqueles que não sabiam informar o número certo. Considera-se também as Redes, que
a rigor não se caracterizam com associados.
Sumário
30 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 31
urbano, mas quase a metade deles organizados como associações e coope-
rativas. No caso do Amazonas, os empreendimentos são bastante jovens,
sendo quase metade deles formados entre 2003 e 2007. Chama atenção o
alto número (acima de 60%) de empreendimentos informais concentrados
no setor urbano nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Mato Grosso
do Sul. Vale destaque também os estados que tem entre 15% a 30% dos
empreendimentos organizados como cooperativas, sendo eles respectiva-
mente: Sergipe, Amapá, Rio Grande do Sul, São Paulo e Santa Catarina. Os
estados do Pará, Espírito Santo, Goiás, Roraima, Rondônia e Paraná ficam
assim organizados em torno de 10%. Em números absolutos, os estados
com mais cooperativas são: Rio Grande do Sul com 382, Santa Catarina
com 200, São Paulo com 175 e Paraná com 86.
Os estados do Pará, Santa Catarina, Sergipe e Goiás são majori-
tariamente EES do tipo 2, cooperativas e associações rurais e urbanas.
Entretanto, em Sergipe há uma importante proximidade entre a tipologia
1 e 2 em vista de quase a metade dos empreendimentos serem informais,
apesar da divisão entre o setor rural e urbano estar equilibrada e, em
Goiás, fica muito próxima a 2 e 3, porque quase a metade dos empreen-
dimentos são rurais e organizados na forma de associações. No Pará, as
três tipologias estão bem divididas por estarem os EES distribuídos de
forma equilibrada entre o setor urbano e rural, sendo mais representativa
a forma de organização em associações.
Predomina a tipologia 3, que são os EES rurais, organizados em
associações, mais antigos e com maior número de sócios nos estados do
Acre, Rondônia, Espírito Santo, Tocantins, Mato Grosso, Maranhão, Ce-
ará, Rio Grande do Norte, Bahia, Paraíba e Pernambuco, embora neste
último e em Mato Grosso as tipologias 1 e 3 estão muito próximas. Os
empreendimentos mais novos fazem a diferença nesse caso, visto que
houve um crescimento significativo (da ordem de 80%) no número de
empreendimentos a partir da segunda metade da década de 90.
A Tabela 2 e os mapas nas páginas 34 e 35 apresentam as distribuições
dos grupos segundo formas de organização por estados e grandes regiões.
Seguindo o mesmo raciocínio para as grandes regiões, podemos ve-
rificar os grupos mais comuns em cada uma delas. Apenas duas tipologias
aparecem dicotomizando a análise: as regiões Norte e Nordeste apresen-
Sumário
32 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
tam EES caracteristicamente rurais, associações, mais antigos e de maior
número de sócios, enquanto as demais regiões apresentam EES urbanos
e informais, mais jovens e de menor número de associados. Observando
os gráficos de barra internos ao mapa, pode-se destacar:
■ Sudeste com predominância explícita (61,1%) de EES do tipo 1;
■ As regiões Nordeste e Sul, apesar da tipologia predominante
de cada uma representar quase 50%, na primeira é a 3, onde os
EES são rurais, associações, mais antigos e com maior número
de sócios, ao passo que na Sul é a tipologia 1, que agrega os
EES urbanos, mais jovens, informais e com menos sócios;
■ Centro-Oeste e Norte com menor diferença entre as propor-
ções dos diversos tipos de grupos de EES, na região Centro-
Oeste predomina com 40% a tipologia 1 e na região Norte há
40% de tipologia 3.
É interessante observar que, apesar de até 1930 o cooperativis-
mo no Brasil caminhar muito lentamente, a crise econômica mundial
estimulou a emergência de cooperativas, especialmente no Sul do país.
Esse fato parece refletir também nos EES quando hoje, na região Sul,
encontramos a tipologia 2 (38%), onde se encontram todas as cooperati-
vas, sendo mais representativa percentualmente que nas demais regiões,
inclusive maior que a média nacional (26%). Dos três estados do sul, o
Rio Grande do Sul é o que mais tem cooperativas, visto que 60% delas
estão concentradas nele, vindo em seguida Santa Catarina, com 30%
das cooperativas da região. Apesar disso, ainda é mais forte na região
os EES urbanos, mais jovens, informais e com menos sócios. Por outro
lado, contrastando com isso, a região Nordeste tem a maior participação
percentual na tipologia 3 (48,8%) em relação às outras regiões e o índice
nacional (33,8%), que são os EES rurais, associações, mais antigos e
com maior número de sócios. Cabe ressaltar também, nessa leitura das
duas regiões, outro dado que as diferencia, relativo aos motivos apon-
tados para a criação de seus empreendimentos. Na região Sul é mais
significativo que todas as outras opções a motivação de “obter maiores
ganhos em um empreendimento” e na sequência, “uma fonte comple-
mentar de renda para os associados”. Na região Nordeste e Norte vem
em primeiro lugar o motivo de ser “uma alternativa ao desemprego” e
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 33
é maior que todas as regiões a alternativa de “condição exigida para ter
acesso a financiamentos e outros apoios”. Por outro lado, agregando os
índices mais recentes de incidência da pobreza levantados pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, eles ficam em torno de
50% no estados do Nordeste e 30% nos estados do Sul do país. Histo-
ricamente tem sido essa a tendência, o que nos ajuda a entender a razão
da região Nordeste apresentar a característica de EES mais antigos e
associações e o Sul mais focado no aumento da renda e também na
obtenção de uma renda complementar por meio dos EES mais jovens e
urbanos com forte participação das cooperativas.
Em síntese, temos o país dividido com Norte e Nordeste carregan-
do os EES rurais, associações, mais antigos e com maior número de só-
cios e as regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul com os EES urbanos, mais
jovens, informais e com menos sócios. A região Norte, quando compara-
da à tipologia por estados, passa para a 3, em vista dos estados do Acre e
Tocantins terem maior número de EES em relação aos demais estados da
região e predominarem neles a tipologia 3. O mesmo acontece na região
Centro-Oeste, que muda para a tipologia 1, alavancado pelo número ex-
pressivo de EES dos estados de Mato Grosso do Sul e Distrito Federal,
onde 70% deles são desse tipo.
Sumário
34 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
Mapa 1:
Dimensão de organização (características gerais) – maiores percentuais por estados e
distribuição dos grupos/tipologias por UF (gráfico de barras ao lado)
Mapa 2:
Dimensão de organização (características gerais) – maiores percentuais por grandes
regiões e distribuição dos grupos/tipologias por grandes regiões (gráfico de barras)
Tipologia 1
Tipologia 2
Tipologia 3 Valores no gráfico de barras ao lado em %.
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 35
Tabela 2:
Tabulação da classificação de grupos/tipologias da di-
mensão de organização segundo grandes regiões e UF
Sumário
36 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
caracterização
GRupo/tipoloGiA 1: é o grupo que reúne os EES que só faz
venda direta ao consumidor por meio de comércio local ou comunitário.
As atividades predominantes são agrícolas, fabricação de alimentos e
bebidas e de produtos têxteis, sem nenhuma dessas ser muito superior
percentualmente às demais.
GRupo/tipoloGiA 2: é o grupo de EES cuja forma de comer-
cialização está dividida majoritariamente entre venda aos revendedores
e atacadistas e venda direta (sendo o primeiro tipo mais comum). A
comercialização destina-se, em metade dos casos, ao mercado municipal
como era de se esperar para a forma de comercialização majoritária. A
atividade principal é a agrícola, com mais de 50% dos EES.
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 37
A característica sobre os espaços de comercialização não se mos-
traram diferentes nos grupos formados, sendo eles: entrega direta a
clientes, feiras livres, lojas ou espaços próprios, espaços coletivos (Cen-
trais de Comercialização e Centrais de Abastecimento – Ceasas) e expo-
sições eventuais/especiais. A demonstração gráfica das variáveis isola-
das agrupadas aqui são encontradas nos anexos.
Sumário
38 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
uma integração regional. Fomenta, portanto, um desenvolvimento en-
dógeno, que é mais sustentável, estimulando os laços de confiança
e cooperação entre as pessoas, empreendimentos e instituições com
foco na valorização do ser humano e preservação do meio ambiente.
Dos oito estados que se enquadraram na tipologia 1, observando os
gráficos de barra, temos três deles divididos entre uma e a outra: Ama-
zonas, Paraná e Rio de Janeiro. Nos estados de Mato Grosso do Sul e
Amapá é bem mais significativa a participação da tipologia 1, ao passo
que em Minas Gerais, Piauí e Roraima a participação da tipologia 2 é
menos acentuada.
Fazendo uma análise com a dimensão anterior, referente ao aspec-
to da organização ou características gerais dos empreendimentos, esses
mesmos estados apresentaram empreendimentos mais jovens, informais
e de tamanho menores. Portanto, nos parece coerente estarem produ-
zindo e comercializando ainda em pequenos mercados locais com venda
direta ao consumidor. Nesse sentido, o contrário acontece na região
Nordeste, onde, em todos os estados (com exceção do Piauí) predomina
a tipologia 2, com grande margem de participação em todos eles, o que é
compatível com o resultado anterior que demonstrou haver nessa região
empreendimentos mais antigos, maiores e organizados como associa-
ções em áreas rurais, que se supõem dispor de melhores condições de
expandir suas vendas para mercados maiores e mais distantes. Reforça
essa análise o fato de os empreendimentos do setor rural, que represen-
ta a metade deles nessa tipologia, venderem 40,3% do que produzem
para revendedores e atacadistas. Os empreendimentos de área urbana
e rural-urbana vendem apenas em torno de 19% a 29% para esse tipo
de compradores (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos
Socioeconômicos – DIEESE: 2008, p. 49).
A Tabela 4 e os mapas nas páginas 40 e 41 apresentam os resulta-
dos por estados e grandes regiões.
Seguindo o mesmo raciocínio para as grandes regiões, podemos
verificar os grupos mais comuns em cada uma delas. O resultado geral
é bem satisfatório, visto que a predominância é de um mercado e de
uma comercialização mais ampliada em todo o país. Apenas a região
Centro-Oeste apresenta uma maior proporção de EES de tipologia 1,
influenciada pelo Distrito Federal por ter nele mais de 80% dos empre-
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 39
endimentos nessa tipologia, embora fique bem dividido com a tipologia
2, conforme demonstra o gráfico interno. Entretanto, é compatível com
o resultado da dimensão anterior, da organização e características gerais
dos empreendimentos. Na região Sudeste a divisão é praticamente igual
entre a tipologia 1 e 2. Conforme análise desagregada dos dados, as
regiões Sul e Sudeste apresentaram uma participação mais significativa
de empreendimentos com vendas em lojas ou espaços próprios, que fez
a diferença em relação à lógica do resultado da dimensão anterior. Ou
seja, apesar de nessas regiões os empreendimentos serem majoritaria-
mente mais jovens, informais e urbanos, contam com algum nível de
comercialização em espaços mais privativos.
Sumário
40 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
Mapa 3:
Dimensão de atividade econômica – maiores percentuais por estado e distribuição dos
grupos/tipologias por UF (gráfico de barras ao lado)
Mapa 4:
Dimensão de atividade econômica – maiores percentuais por grande região e distribui-
ção dos grupos/tipologias por grande região (gráfico de barras)
Tipologia 1
Tipologia 2 Valores no gráfico de barras ao lado em %.
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 41
Tabela 4:
Tabulação da classificação de grupos da dimensão
atividade econômica segundo grandes regiões e UF
Sumário
42 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
caracterização
GRupo/tipoloGiA 1: é o grupo dos EES em que todos realizaram in-
vestimentos nas áreas de infraestrutura e equipamentos em maior quantidade. No
acesso a financiamento e crédito, apesar de a maioria dos EES deste grupo não ter
acesso, uma maior proporção que no grupo 2 teve algum tipo de financiamento.
5 As variáveis escolhidas para análise não sofreram modificações, sendo apenas excluídos aqueles EES que
não tinham informação para pelos menos uma das variáveis na análise.
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 43
GRupo/tipoloGiA 2: é o grupo dos EES que não realizaram investi-
mentos e não tiveram acesso a crédito.
Esses dois grupos dividem o conjunto de empreendimentos econômi-
cos solidários entre aqueles de atividades mais dinâmicas do ponto de vista
financeiro, com acesso a financiamentos e investimentos que podem levar a
um aumento de produtividade por aplicarem em infraestrutura e equipamen-
tos e outro, menos dinâmico, sem investimento e de baixa procura e acesso
a crédito. Os dois grupos compartilham características similares quanto difi-
culdades de comercialização, acesso a apoios, assessoria e capacitação, bem
como a fonte inicial dos recursos da atividade.
A demonstração gráfica das variáveis isoladas agrupadas nessas tipolo-
gias podem ser encontradas nos anexos.
Sumário
44 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
Nos estados do Pará, Amapá, Espírito Santo e Mato Grosso do Sul,
também classificados na tipologia 2, a diferença entre os que fizeram inves-
timentos e tiveram acesso a crédito é muito sutil. Considerando os dados
desagregados, nos estados de Mato Grosso do Sul e Pará essa proximidade
pode ser entendida porque são os estados entre os 10 com mais acesso a cré-
dito/financiamento. O primeiro também está entre os que alegaram menos
dificuldades para esse acesso.
O estado do Espírito Santo se destaca por estar entre os seis estados
que mais tiveram acesso a algum tipo de apoio, assessoria e capacitação, pois
86% dos empreendimentos fizeram essa afirmação. Por sua vez, no Amapá,
quase a metade dos empreendimentos alegaram ter feito investimentos no
último ano anterior à pesquisa. Vale ainda lembrar que os estados do Para,
Amapá e Espírito Santo estão entre aqueles que se destacam pelo número
de cooperativas neles existentes. Em todas as outras unidades da federação
existem mais empreendimentos não dinâmicos que dinâmicos no aspecto
da gestão financeira.
A Tabela 6 e os mapas nas páginas 46 e 47 apresentam os resultados
por estados e grandes regiões.
Na análise das grandes regiões nenhuma apresenta a tipologia dos EES
mais dinâmicos como maioria. Ao contrário, é majoritária (de 55% a 65%) a
participação em todas as grandes regiões de empreendimentos que não reali-
zaram investimentos e tampouco tiveram acesso a crédito.
A maioria dos empreendimentos (61%) teve inicio com investimentos
dos próprios sócios, sendo seguido pelas doações como segunda fonte mais
importante e depois os empréstimos e financiamentos. Na região Centro-
Oeste e Norte, o investimento dos próprios sócios tem mais representativi-
dade que nas demais, ao passo que as doações figuraram como mais impor-
tante nas regiões Nordeste e Sudeste. A maioria dos empreendimentos (61%)
declara não ter feito nenhum novo aporte de recursos como investimentos
às suas atividades econômicas. Aqueles que o fizeram destinaram os recursos
principalmente à aquisição de equipamentos e infraestrutura. A capacitação
aparece de forma mais significativa nas regiões Norte, Sudeste e Sul.
Buscando nos dados desagregados os motivos alegados para a ausên-
cia de investimento e crédito, as principais dificuldades caminham na dire-
ção da falta de capital de giro, no caso da comercialização. Tanto que essa
informação está presente também quando responderam sobre a utilização
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 45
do crédito obtido, apontando para o investimento em maior medida, vindo
depois o uso em capital de giro e custeio.
As regiões onde os empreendimentos tiveram menor acesso a crédito
ou financiamento foram: Centro-Oeste (58,8%), Nordeste (55,4%) e Norte
(64,6%). A região Sudeste apresentou a maior proporção (52,2%) de empre-
endimentos sem busca de crédito. Quanto à finalidade, em todas as regiões
o investimento foi predominante. A necessidade de investimentos nos em-
preendimentos parece inquestionável, quando as respostas dadas por 76,4%
deles, foi de necessitar de novos financiamentos para aplicar em custeio ou
capital de giro e investimentos (48,1%) e só em investimentos (41,9%).
A necessidade de investimento se mostra maior nas regiões que menos
tiveram acesso a crédito ou financiamento, são elas: Norte (82%), Centro-
Oeste (79%) e Nordeste (84,6%). Essas regiões são as que mais apontaram
dificuldades para acessar esses recursos por vários motivos, principalmente
pela falta de documentação exigida pelos agentes financiadores (mais acentu-
ada nas regiões Norte e Centro-Oeste) e a falta de apoio para elaborar pro-
jetos, sendo seguidas pelas dificuldades das taxas de juros elevadas, falta de
aval e burocracia. Nas regiões Sul e Sudeste são menores as proporções dos
empreendimentos que declararam precisar de financiamentos.
Sumário
46 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
Mapa 5:
Dimensão de gestão financeira – maiores percentuais por estados e distribuição dos gru-
pos/tipologias por UF (gráfico de barras ao lado)
Mapa 6:
Dimensão de Gestão Financeira – maiores percentuais por grandes regiões e distribui-
ção dos grupos/tipologias por grande região (gráfico de barras)
Tipologia 1
Tipologia 2 Valores no gráfico de barras ao lado em %.
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 47
Tabela 6:
Tabulação da classificação de grupos de gestão
financeira segundo grandes regiões e UF
Sumário
48 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
caracterização
GRupo/tipoloGiA 1: este grupo compreende EES com mecanis-
mos de direção e decisão muito simples. Basicamente têm como instância
de direção as Assembleias e as decisões são tomadas sempre de forma
cotidiana. A periodicidade das reuniões é mensal em aproximadamente
40% dos EES e semanal em 20% deles.
6 Ao todo foram consideradas 18 questões, sendo a maioria com duas possibilidades, abrindo para
identificar em outras perguntas as diversas formas de participação e tomada de decisão. Apenas a perio-
dicidade e os resultados da atividade consistiam de perguntas com múltiplas escolhas, sendo apenas uma
válida. Como nas análises anteriores, os empreendimentos que não informaram alguma das perguntas foram
excluídos da análise.
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 49
GRupo/tipoloGiA 2: este grupo compreende os EES com maior
complexidade organizacional. As atividades identificadas neste grupo
possuem como instâncias de direção: assembleias, diretorias e conselhos
fiscais, majoritariamente. Em relação às formas de participação nas deci-
sões, têm-se: acesso a registros, decisão sobre fundos/sobras, eleição de
diretoria, prestação de contas e, em metade deles, plano de trabalho. A
periodicidade das reuniões é mensal em mais de 50% dos EES.
Deve-se ressaltar que essas características são correspondentes a
maioria dos EES presentes em cada grupo. Nos dois casos os EES con-
seguiram pagar suas despesas no ano anterior, uns com sobra outros não,
sem diferenciação clara entre os grupos.
A demonstração gráfica que apresentam os dados de cada uma das
variáveis da análise, inclusive aquelas onde não aparecem diferenças entre
os grupos, encontra-se nos anexos.
Sumário
50 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
micas, com exceção dos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Mato
Grosso e Pará, todos os demais são os mesmos que apresentaram uma
comercialização em mercado mais abrangente com vendas predominan-
temente a revendedores e atacadistas (tipologia 2). Depreende-se dessas
comparações que esses empreendimentos estão mais estruturados e só-
lidos e nos permite concluir que essas condições exigem e explicam esse
resultado em termos do gerenciamento ou administração mais complexa
quanto à direção dos sócios, formas de participação nas decisões, periodi-
cidade das reuniões coletivas e dos resultados financeiros, possuindo dire-
torias, conselhos, relatórios de prestação de contas, bem como reuniões e
assembleias planejadas para tomada de decisões, entre outros instrumen-
tos. Ou seja, praticam uma administração mais participativa, democrática,
transparente e, por isso mesmo, mais complexa. Confirma-se desse modo,
um perfil importante dos empreendimentos de economia solidária. Dos
estados citados acima, apesar de se mostrarem mais promissores com re-
lação ao mercado e à comercialização e nessa tipologia ficarem no grupo
que apresentou um gerenciamento mais simples (tipologia 1), fugindo da
lógica indicada, no caso dos estados do Rio Grande do Sul, São Paulo e
Pará, se deve ao fato de as formas de participação nos empreendimen-
tos acontecerem de forma significativa nas decisões cotidianas, ou seja,
sem planejamento ou mais informal. No caso do estado de Mato Grosso,
influenciou no resultado o fato de muito poucos empreendimentos des-
tinarem parte do excedente econômico para a formação dos fundos de re-
servas ou distribuição entre os sócios. Isto fica mais evidente com a outra
informação de que é significativa a proporção dos empreendimentos que
depois de pagarem as despesas não tiveram nenhuma sobra e também os
empreendimentos em que o resultado econômico não foi suficiente para
pagar as despesas.
A Tabela 8 e os mapas nas páginas 52 e 53 apresentam as distribui-
ções das tipologias por estados e grandes regiões.
Quando se considera a análise por grandes regiões, a Sudeste e Sul
apresentam a maioria das atividades classificadas na tipologia 1, de ge-
renciamento e organização mais simples, sendo a região Sul com divisão
quase equânime. As outras regiões apresentam características de EES de
tipologia 2, organização e gerenciamento mais complexo (Centro-Oeste
com divisão percentual quase igual entre as duas tipologias).
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 51
Também por analogia com a dimensão da característica dos em-
preendimentos e da atividade econômica, a região Norte e Nordeste
apresenta a mesma lógica implícita da análise por estados. Ou seja, o
fato de os empreendimentos serem especialmente mais antigos, maio-
res, e operarem em mercados ampliados, implica, consequentemente,
numa gestão administrativa mais consistente ou mais estruturada. A
região Centro-Oeste vem demonstrando nas tipologias anteriormente
citadas um perfil de empreendimentos predominantemente mais jovens,
informais e de comercialização de seus produtos e serviços em merca-
dos locais ou comunitários com venda direta. Entretanto, nessa dimen-
são a tipologia foi alavancada para o grupo dos empreendimentos de
gerenciamento e organização mais complexa pelo estado de Goiás, que
é o segundo maior na região em número de empreendimentos que estão
majoritariamente agregados na tipologia 2. Vale observar que em todas
as tipologias a região apresenta sempre uma divisão quase equânime.
A região Sul e Sudeste também segue a mesma lógica, pois vem se
apresentando como uma região de empreendimentos mais jovens, infor-
mais e com menor número de sócios, demandando, portanto, uma admi-
nistração organizacional interna menos complexa, conforme a tipologia
1. Fazemos destaque para o estado do Rio Grande do Sul por apresentar
uma divisão de quase 50% em cada tipologia, que entendemos, como já
apontamos nas análises anteriores, pode ser reflexo do número expres-
sivo de cooperativas nesse estado que impõe, por sua natureza, uma
estrutura organizacional mais estruturada.
Sumário
52 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
Mapa 7:
Dimensão de gestão administrativa – maiores percentuais por estado e distribuição dos
grupos/tipologias por UF (gráfico de barras ao lado)
Mapa 8:
Dimensão de gestão administrativa – maiores percentuais por grande região e distribui-
ção dos grupos/tipologias por grande região (gráfico de barras)
Tipologia 1
Tipologia 2 Valores no gráfico de barras ao lado em %.
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 53
Tabela 8:
Tabulação da classificação de grupos/tipologias de
gestão administrativa segundo grandes regiões e UF
Sumário
54 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
caracterização
GRupo/tipoloGiA 1: Possui sócios trabalhando diretamente na
atividade com remuneração fixa e a maioria dos EES não possui não
sócios trabalhando.
GRupo/tipoloGiA 2: Possui sócios trabalhando diretamente na ativi-
dade, sendo remunerados por produtividade, por hora de trabalho e de outras
formas. A maioria absoluta dos EES não possui não sócios trabalhando.
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 55
GRupo/tipoloGiA 3: Possui sócios trabalhando diretamente na ati-
vidade, mas a maioria dos EES não tem conseguido remunerá-los. A maior
parte dos EES não possui não sócios trabalhando.
GRupo/tipoloGiA 4: Possui sócios e não sócios trabalhando direta-
mente na atividade, sendo os sócios remunerados por produtividade.
GRupo/tipoloGiA 5: Possui sócios e não sócios trabalhando di-
retamente na atividade, mas a maior parte dos EES não tem conseguido
remunerar os sócios.
GRupo/tipoloGiA 6: Não possui sócios trabalhando diretamente na
atividade e todos os EES têm não sócios trabalhando.
A demonstração gráfica das variáveis isoladas agrupadas nessas tipolo-
gias podem ser encontradas nos anexos.
Sumário
56 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
No segundo grupo, que reúne empreendimentos com sócios e não
sócios trabalhando diretamente nas atividades, destacamos, por apresentar
um percentual de 7,8% dos empreendimentos, a tipologia 4, onde ficaram
reunidos os que têm sócios sendo remunerados por produtividade e não
sócios participando diretamente das atividades. O grupo 5, representando
4,1% dos empreendimentos, se diferencia do anterior porque a maioria de-
les não consegue remunerar seus associados.
Formou-se também um sexto grupo, no qual ficaram reunidos 2,7%
dos empreendimentos que têm a presença em todos eles de trabalhadores
não sócios e a ausência de trabalhadores sócios trabalhando diretamente nas
atividades dos empreendimentos. Ao cruzar diversas variáveis para melhor
explicar esse grupo, encontramos uma participação significativa (60%) de
empreendimentos classificados como associações.
Na análise por estados verificamos que na maioria absoluta deles
predomina a tipologia 2, que reúne sócios trabalhando diretamente nas
atividades dos empreendimentos com mais de uma modalidade de remu-
neração. Entretanto, em oito deles há uma situação bastante preocupante,
visto que é quase igual o número de empreendimentos que remuneram
monetariamente seus associados daqueles que não conseguem remunerar.
Devemos levar em consideração que há empreendimentos que produzem
e usam ou trocam toda a produção ou parte dela em autoconsumo. Esse
tipo de relação de troca e uso chega a quase 5% dos empreendimentos
que acabam sendo caracterizados por não gerarem remuneração aos seus
associados. Entretanto, entendemos que o autoconsumo também pode
ser considerado uma forma de remuneração, na medida em que evita o
dispêndio financeiro para adquirir o bem do qual se tem necessidade.
Considera-se também a presença de trabalho voluntário, que não implica
em qualquer tipo de pagamento por trabalho prestado no empreendimen-
to, seja em prestação de serviços ou produção propriamente.
No estado de Tocantins a situação de ausência de remuneração mo-
netária aos associados representa um quarto dos empreendimentos e chega
a ser maior que todos os demais tipos de remuneração, ressaltando que é
significativamente menor a produção destinada ao autoconsumo ou efetu-
ada com trabalho voluntário. No estado de Mato Grosso é praticamente
igual o número de empreendimentos que conseguem remunerar seus asso-
ciados daqueles que não conseguem e nestes é menor a proporção dos que
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 57
destinam a sua produção para autoconsumo ou têm trabalho voluntário. No
extremo oeste do país, o estado do Acre também não apresenta uma situa-
ção boa nesse aspecto, pois estão bem próximas as tipologias 2 e 3, sendo
praticamente igual o número de empreendimentos com autoconsumo e os
que não conseguem efetuar pagamento aos associados. Também chama a
atenção no Nordeste quatro estados: Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte e
Bahia. No Sudeste se destaca o Espírito Santo, todos em condições simi-
lares de proximidade das tipologias 2 e 3, entretanto, apresentam algumas
particularidades. Dos estados do Nordeste, o Piauí apresenta o maior per-
centual de empreendimentos sem capacidade de efetuar remuneração aos
associados. Nele, essa situação representa a terça parte dos empreendimen-
tos, sendo muito poucos os que destinam a produção para autoconsumo ou
têm trabalho voluntário. Cabe lembrar que nos aspectos de dimensões da
organização, atividade econômica e gestão administrativa, o Piauí sempre
se diferenciou dos demais da sua região, apresentando uma tipologia onde
os empreendimentos são mais novos, de tamanhos menores e urbanos,
efetuando venda direta e local, com gestão administrativa simples. Esses
dados em conjunto nos levam a deduzir que os empreendimentos são frá-
geis e não apresentam muita sustentabilidade econômica. No Rio Grande
do Norte um quarto dos empreendimentos tem dificuldades para produ-
zir renda monetária aos associados, sendo praticamente igual o número de
empreendimentos que não conseguem remunerar seus associados e os que
usam e trocam os produtos para autoconsumo. No estado do Ceará, pou-
co menos de um terço dos empreendimentos tem essa dificuldade, sendo
muito pequena a proporção do autoconsumo ou voluntariado. No estado
da Bahia, a situação é similiar, no entanto, ele se diferencia por apresentar
um percentual significativo de empreendimentos que declararam não pos-
suir sócios trabalhando diretamente nas atividades e sim os não sócios. No
Espírito Santo, a quinta parte dos empreendimentos não consegue remu-
nerar seus sócios, ficando igualmente dividido entre os que não conseguem
e os que praticam o autoconsumo ou possuem trabalho voluntário. Nesse
estado também é bastante significativo o número dos empreendimentos
que não tem sócios trabalhando diretamente, mas tem a presença dos não
sócios nas atividades.
Nos demais estados é predominante o número de empreendimentos
que produzem renda monetária e as distribui entre os associados por critérios
de produtividade, horas trabalhadas ou outras formas.
Sumário
58 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
A Tabela 10 ao lado e os mapas nas páginas 60 e 61, apresentam as
distribuições das tipologias por estados e grandes regiões.
De modo geral, o quadro nacional dos empreendimentos econômi-
cos solidários se caracteriza por apresentar predominância absoluta da-
queles que têm como associados trabalhadores ocupados diretamente nas
atividades dos empreendimentos, gerando renda monetária destinada para
remuneração de seus associados e, na maioria, não há trabalhadores não
sócios. Essa situação nos permite afirmar que são empreendimentos com
alguma sustentabilidade econômica e social.
Entre as grandes regiões, a Nordeste representa bem a situação nacio-
nal, visto ser a que se destaca por ter a tipologia 2 como a mais representativa,
embora não seja desprezível o grupo dos empreendimentos que não conse-
gue gerar renda monetária para remunerar seus associados.
Nessa mesma ótica, destacamos as regiões Sudeste e Sul. Nas duas
verificamos uma melhor situação quando observamos a magnitude das ti-
pologias 3 e 5, que é inferior percentualmente em relação ao Nordeste. Isto
significa dizer que nessas duas regiões é menor o número de empreendi-
mentos que não conseguem gerar renda monetária para remunerar seus
associados, ou porque produzem para autoconsumo ou porque tenham
trabalhadores voluntários executando as atividades nos empreendimentos.
Nas regiões Norte e Centro-Oeste predomina a tipologia 2, mas a proxi-
midade dela com as demais é muito grande, denotando um quadro menos
promissor no sentido da sustentabilidade econômica e social dos empreen-
dimentos e, consequentemente, na renda dos associados.
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 59
Tabela 10:
Tabulação da Classificação de Grupos da Dimensão
Situação do Trabalho segundo grandes regiões e UF
Sumário
60 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
Mapa 9:
Dimensão da situação de trabalho – maiores percentuais por estado e distribuição dos
grupos/tipologias por estado (gráfico de barras ao lado)
Mapa 10:
Dimensão de situação de trabalho – maiores percentuais por grande região e distribui-
ção dos grupos/tipologias por grande região (gráfico de barras)
Tipologia 1 Tipologia 4
Tipologia 2 Tipologia 5
Tipologia 3 Tipologia 6 Valores no gráfico de barras ao lado em %.
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 61
Sumário
62 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
caracterização
GRupo/tipoloGiA 1: este é o grupo com maior envolvimento so-
cial. A maioria dos EES participa de fórum ou rede, todos participam de
movimento social, quase 80% desenvolvem ações sociais, todos têm pre-
ocupação com a qualidade de vida dos clientes/consumidores e aproxi-
madamente 65% gera algum tipo de lixo/resíduo, sendo que o tratamento
mais frequente é o reaproveitamento no empreendimento.
GRupo/tipoloGiA 2: este é um grupo de envolvimento social in-
termediário. A maioria participa de fórum ou rede, mais de 80% participam
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 63
de movimento social, pouco mais de 60% desenvolvem ações sociais, em
nenhum há preocupação com a qualidade de vida dos clientes/consumi-
dores, são os que menos (50%) produzem lixo/resíduo e o destino mais
frequente é o reaproveitamento no empreendimento.
GRupo/tipoloGiA 3: este é um grupo quase sem envolvimento
social. A maioria não participa de fórum ou rede, nenhum participa de
movimento social, mais de 60% não desenvolvem ações sociais, mas em
aproximadamente 70% há preocupação com a qualidade de vida dos
clientes/consumidores e 59,2% produzem lixo/resíduos e o tratamento
mais presente é o reaproveitamento no empreendimento.
Esses grupos diferenciam os EES de grande envolvimento social e
preocupação com clientes (topologia 1), os EES de envolvimento social,
mas sem preocupação com o cliente (tipologia 2) e os EES sem qual-
quer envolvimento social, mas preocupados com a qualidade de vida
do cliente (tipologia 3). Nas três tipologias há geração de resíduos e o
destino é o mesmo. A demonstração gráfica das variáveis de análise é
encontrada nos anexos.
Sumário
64 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
idênticas, com exceção do estado do Pará que está em posição intermedi-
ária. Destacamos dois estados apenas em que as diferenças entre as duas
tipologias não estão tão próximas, pois em Mato Grosso do Sul, dentre
todos os estados, é o que menos tem participação dos empreendimentos
envolvidos em movimentos social ou popular, mas que estão altamen-
te preocupados com o consumidor. O contrário acontece no estado da
Bahia, no qual os empreendimentos são bem envolvidos com os movi-
mentos sociais ou populares, é o segundo estado com alta participação
dos empreendimentos desenvolvendo ação social, bem como altamente
zelosos com os consumidores. A classificação na tipologia 2 do estado do
Pará se explica por ser o estado com a mais alta participação dos empre-
endimentos sem preocupação com a qualidade de vida dos consumidores
e com média participação em movimentos sociais e populares.
A Tabela 12 e os mapas nas páginas 66 e 67 apresentam as distribui-
ções das tipologias por estados e grandes regiões.
Na análise por grandes regiões o resultado não poderia ser outro.
O país fica dividido entre as duas tipologias: grupo 1 e grupo 3. As regi-
ões Sudeste e Centro-Oeste do tipo 3, alavancada pelos estados de Mato
Grosso do Sul e Goiás e a primeira região pelos estados de Rio de Janeiro,
São Paulo e Espírito Santo. Nas demais regiões, predomina a tipologia 1,
em que a região Nordeste é a que tem maior participação, quando com-
parada com as regiões Norte e Sul. Ou seja, são regiões que se destacam
por acolher empreendimentos com alta participação social e qualidade de
vida dos consumidores, ao passo que nas regiões Sudeste e Centro-Oeste
os empreendimentos quase não têm envolvimento social, mas estão muito
preocupados com a qualidade de vida de seus consumidores/clientes.
Vale ressaltar que sobre a participação dos empreendimentos em
redes ou fórum, a atuação mais frequente e comum em todas as regi-
ões é nas redes e fórum de economia solidária. Com relação à partici-
pação em movimentos sociais ou populares, a maior frequência é de
participação em movimentos comunitários e sindical, urbano ou rural,
sendo maior a participação nesses movimentos na região Norte e Nor-
deste, e em maior proporção nos comunitários. Em todas as regiões, o
desenvolvimento de ações sociais é notadamente em educação, saúde
e trabalho. Sobre as iniciativas em vista da qualidade de vida de seus
consumidores/clientes, as diferenças são pequenas por grandes regiões,
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 65
mas o preço foi a variável que apresentou maior importância nas regiões
Norte, Nordeste e Sul, e a qualidade do produto na região Sudeste. Com
relação à geração de lixo ou resíduo, mais de 60% dos empreendimentos
geram algum tipo e 40% deles têm alguma forma de reaproveitamento,
sendo essa proporção maior nas regiões Sul e Sudeste.
Sumário
66 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
Mapa 11:
Dimensão sociopolítica – maiores percentuais por estado e distribuição dos grupos/tipolo-
gias por estado (gráfico de barras ao lado)
Mapa 12:
Dimensão sociopolítica – maiores percentuais por grande região e distribuição dos
grupos/tipologias por grande região (gráfico de barras)
Tipologia 1
Tipologia 2
Tipologia 3 Valores no gráfico de barras ao lado em %.
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 67
Tabela 12:
Tabulação da classificação de grupos da dimensão
sociopolítica segundo grandes regiões e UF
Sumário
68 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 69
Sumário
70 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
Figura 2:
Cruzamento da folha 1 com dimensão financeira e administrativa
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 71
Figura 3:
Cruzamento das folhas 4 e 6 com dimensão financeira e administrativa
Sumário
72 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
Figura 4:
Cruzamento da folha 1.3 com dimensão sociopolítica e situação de trabalho
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 73
Figura 5:
Cruzamento da folha 46.4 com dimensão sociopolítica e situação de trabalho
Sumário
74 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 75
introdUção
Nesta análise, a partir das tipologias construídas, vamos identificar a
correspondência do empreendimento econômico solidário (EES) com os
princípios da solidariedade, cooperação, autogestão e dimensão econômica,
próprios da economia solidária.
aUtogeStão
A autogestão como forma de organização produtiva pode ser identifica-
da em diferentes momentos históricos e espaços econômicos rurais e urbanos.
Embora seja mais difundida em meados do século XX, no entanto, desde sua
origem as “experiências autogestionárias sempre estiveram relacionadas com
as lutas dos trabalhadores e principalmente do movimento operário” (ALBU-
QUERQUE, 2003: p. 21). Portanto, não se trata apenas de um modelo geren-
cial de administração de uma organização econômica e, sim, de práticas sociais
que se construíram ao longo do tempo. Na atualidade, o que a faz emergir
são os efeitos da reestruturação produtiva que desencadeia o desemprego e a
Sumário
76 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
precarização nas relações de trabalho, levando os trabalhadores à procura de
alternativa de trabalho organizado com possibilidades de gerar renda.
A autogestão é um dos aspectos mais importantes nos empreendimen-
tos econômicos solidários. É por meio dela que se obtém o exercício de prá-
ticas participativas nos processos de trabalho, nas definições estratégicas e
cotidianas, bem como na direção e coordenação das ações nos diversos graus
de interesses dos associados.
Essas ações são possíveis num empreendimento de economia solidária
porque uma organização autogestionária não aliena e tampouco submete seus
membros. Antes, baseia-se no princípio da igualdade de todos que a com-
põem e na liberdade de cada um. Organizações dessa natureza resultam da
autonomia dos sujeitos e da liberdade constitutiva do ser do homem que, por
essência, não deve obedecer ninguém. Cada um, determinando-se livremente
por adesão ao que compreende ser melhor para si mesmo, encontra outros
sujeitos racionais que optam pela mesma direção e, assim, ajustam livremente
a instituição de uma organização que exprime a vontade geral.
O saber e a consciência de sua situação e do coletivo não vêm de fora,
mas de cada associado e do próprio coletivo. Nesse processo ocorrem os des-
cobrimentos de seus limites e de suas potencialidades, no qual não é proibido
de expressar seus desejos de autonomia, vontade de auto-realização, de desen-
volvimento e de expressão da sociabilidade. Na autogestão, os associados não
esperam salvadores, antes arquitetam a própria organização do trabalho e admi-
nistrativa. Eles deixam de receber o saber unicamente de fora do coletivo e são
incitados a tomar consciência do que são e, sobretudo, do que podem fazer. Ou
seja, deixam de ser dirigidos e passam a ser dirigentes, numa ação que une es-
forços no agir coletivo para a repartição do poder, dos ganhos e posse dos bens.
Os trabalhadores que formam e se associam aos empreendimentos eco-
nômicos solidários vêm em geral se organizando como uma economia solidária
ao longo dos anos pela necessidade de gerar trabalho e renda, mas de forma
espontânea, mesmo sem conhecer em boa medida a história dessa prática social.
Atuam nessa perspectiva quase que por intuição ou mesmo por escolha, visto que
a economia solidária não foi construída por determinações de políticas públicas.
Ela simplesmente existe, emerge e passa a ser reconhecida e apoiada por essas
políticas mais recentemente. Devemos, no entanto, não ignorar que esse reco-
nhecimento foi e continua sendo importante para alavancar o seu crescimento e
desenvolvimento no aspecto da prática social, bem como no aspecto econômico.
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 77
Pelas informações contidas no SIES, os associados dos empreendimen-
tos apontaram terem se organizado, seja em grupos informais, cooperativas,
associações ou outras formas, predominantemente como uma alternativa ao
desemprego, mas também para obter maiores ganhos num empreendimento
associado, ter uma fonte complementar de renda e desenvolver uma atividade
onde todos são donos.
Nesse sentido e na tentativa de avaliar em que medida a autogestão está
sendo praticada nos empreendimentos desses trabalhadores, observamos pelos
Indicadores da Gestão Administrativa, nos dois grupos/tipologias formados (1 e 2),
que as decisões são compartilhadas, com conotação de autogestão. Mesmo que
de maneira informal, a periodicidade das reuniões para discutir e tomar decisões
sobre seus empreendimentos se apresentou semanal e mensal. Naqueles de maior
complexidade organizacional, as decisões apesar de serem tomadas em instâncias
mais formais tem periodicidade mensal. Portanto, há uma prática participativa,
dialógica e democrática onde as decisões são tomadas com base na representação
coletiva dos trabalhadores que compõem o empreendimento.
Analisando pelos Indicadores da Situação do Trabalho, do total dos EES,
em 76,5% deles os trabalhadores são os proprietários e trabalham diretamen-
te no empreendimento. Os rendimentos são na maioria determinados em ba-
ses variáveis (produtividade, horas trabalhadas ou outras formas) e não fixos,
dependendo de suas atuações ou decisões. Apenas 15% dos EES declararam
contratar trabalhadores além dos sócios e, ainda assim, são em proporções
bem menores que as dos sócios. Além disso, as contratações em mais da me-
tade deles (55,3%) são em caráter temporário. Uma proporção pequena dos
empreendimentos citaram que os trabalhadores contratados estão em cargos
de gerência, assessoria e consultoria (11,1%), bem como na administração,
secretaria, contabilidade e finanças (28,2%). A maior parte está trabalhando
na área de produção ou prestação de serviços (52,4%) e na manutenção e
serviços gerais (29,8%) dos empreendimentos.
Portanto, esses empreendimentos coletivos têm presença absoluta dos as-
sociados trabalhando e decidindo sobre a forma de organizar o trabalho, sobre a
divisão de seus ganhos e outras estratégias. Se há diferentes formas de dividir os
ganhos, pressupõe-se haver decisões autônomas de grupo a grupo ou nos empre-
endimentos, não seguindo um padrão de contratação como no sistema de assa-
lariamento, onde os ganhos dos trabalhadores são predominantemente fixos, na
forma de salários determinados pelo contratante (empresa privada tradicional).
Sumário
78 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
Solidariedade e cooperação
A solidariedade se transformou historicamente ao longo do tempo.
A forma antiga de solidariedade, ou tradicional, denominada por Durkheim
(1858-1917) como “mecânica”, permite abrigo e segurança diante das adversi-
dades, pois é feita por relações interpessoais muito próximas, como as relações
na comunidade, de vizinhança ou familiares. A moderna vida urbana e indus-
trial trouxe a idéia da autonomia dos sujeitos diante da comunidade, levando-
nos a praticar relações despersonalizadas e utilitaristas na linha do “salve-se
quem puder”, dissolvendo os laços sociais e deteriorando os sentimentos de so-
lidariedade e naturalizando também as desigualdades. Ao dispersar o sentido de
solidariedade, como afirma Lisboa, “deixamos de perceber que tudo existe em
relação e tudo nos afeta mutuamente: se uma parte vive mal, a outra também
se verá afetada” (2003, p.242-9). Ainda segundo ele, com o Welfare State “se ten-
tou fazer o bem impessoalmente, sem um sentimento de co-responsabilidade,
gerando o individualismo ao dispersar a ajuda dos mais próximos e asfixiando
a solidariedade, pois esta nasce na concretude das relações que nos ligam uns
aos outros”(2003, p.243). O resultado aparente desse processo, no qual vai se
perdendo gradativamente a solidariedade na forma antiga, fica visível na mo-
dernidade por meio da convivência com sentimentos que denotam a geração
de muita insegurança em todos os níveis.
A economia solidária indica num caminho que ameniza os resultados
desse processo por ser agregadora. Hoje o sistema econômico ou a mundia-
lização construiu caminhos de cooperação e comunicação interdependentes
muito sofisticados, mas dentro da ótica capitalista, que prima pela individua-
lidade. Ou seja, essa cooperação e sociabilidade decorrem do sistema de mer-
cado e não é naturalmente solidária. A economia solidária, representada pelos
seus empreendimentos econômicos, faz parte desse sistema, entretanto, ela
se diferencia por apresentar aquilo que nele não existe, que é o acolhimento
da ação social, o sentimento de não “estar só”. O trabalho cooperativo ou
associativo carrega um forte componente de afetividade, de cuidados mútuos
e interação humana, além do aspecto econômico. Nele se refaz a dimensão
da solidariedade sem renunciar à subjetividade moderna. Estamos falando de
um solidarismo emancipador, de um “esforço que deve ser orientado para
recuperar socialmente o que o progresso técnico proporcionou em termos
de conforto e qualidade de vida” (CATTANI, 2003: p.13).
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 79
O vinculo social que se estabelece não é apenas aquele contratualmen-
te definido e utilitarista. Ele se constrói cotidianamente por meio de rela-
ções mútuas de confiança que nascem entre os membros de um grupo, na
sua comunidade, em torno daquilo que é vantajoso para cada um, para cada
comunidade, construindo gradualmente uma sensibilidade humana cada vez
mais solidária e cooperativa. Entretanto, sabemos que a cooperação não é
privilegio daqueles que são solidários. Ela pode surgir nas próprias transações
capitalistas, como no mercado, onde ninguém age sozinho, mas todos ga-
nham quando se trabalha cooperativamente, pois reduzem os custos de tran-
sação. De todo modo, numa sociedade, de maneira geral, a cooperação e a
solidariedade se mostram mais fortes entre as pessoas mais empobrecidas por
desenvolverem com frequência relações de apoio mútuo para sobreviverem.
A solidariedade é também o sentimento de responsabilidade para com a
comunidade. A economia solidária segue essa lógica, por apresentar sensibili-
dade e preocupação com a melhoria das condições de vida de seus participan-
tes, comprometimento com o meio ambiente saudável e com a comunidade,
com movimentos emancipatórios, com a justa distribuição dos resultados e
com o bem estar de trabalhadores e consumidores (SIES, 2009: p.17).
Nesse sentido e entendendo a solidariedade pelas várias formas de
envolvimento social e preocupação com a qualidade de vida de clientes
ou consumidores, buscamos dimensionar o campo da solidariedade nos
empreendimentos econômicos solidários pelo Indicador Sóciopolitico, no qual
constatamos que mais da metade, ou quase 60% dos associados são so-
lidários (Grupo 1 e 2). Ou seja, esses associados participam de redes ou
fórum de articulação e desenvolvem alguma ação social ou comunitária em
movimentos sociais e populares como o ambientalista, igualdade racial, de
gênero, luta pela terra e agricultura familiar, luta pela moradia, educação,
saúde, redução da violência e outros.
No aspecto da preocupação com a qualidade de vida dos consu-
midores, há os que se preocupam mais e outros menos, apesar do enga-
jamento social fazer parte do seu cotidiano. Assim, dos mais envolvidos
nos movimentos, 16,1% (Grupo 2) não tem nenhuma preocupação com
a qualidade de vida dos consumidores. Por outro lado, quando olhamos
os que não têm quase nenhum envolvimento social (Grupo 3), encon-
tramos em 70% desse grupo preocupação com a qualidade de vida dos
consumidores. Essa preocupação está no fato de produzir e oferecer pro-
Sumário
80 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
dutos orgânicos e livres de agrotóxicos, promoção do consumo ético e
do comércio justo, entre outras iniciativas nesse campo. De todo modo,
de forma associada ou não, está presente a preocupação com o bem-estar
daqueles que consomem seus produtos e/ou serviços, denotando solida-
riedade com os mesmos.
Com relação à geração e ao destino dos resíduos gerados nos em-
preendimentos com vistas à preservação do meio ambiente, 60% deles
geram algum tipo de resíduo, mas 40% destes reaproveitam de alguma
forma tais descartes e aqueles que não são reaproveitados são descartados
por meio de queima ou incineração, destinados à coleta especial, venda
ou coleta de lixo normal. No caso do reaproveitamento, está presente
também o aspecto da racionalidade econômica, que é muito positivo, mas
há também, e principalmente, a preocupação com a preservação do seu
entorno e do meio ambiente, num aspecto mais abrangente para gerar
bem estar a todos os cidadãos.
Além da solidariedade, na economia solidária o princípio da coo-
peração é entendido como a existência de interesses e objetivos comuns,
a união dos esforços e capacidades, propriedade coletiva dos bens, par-
tilha dos resultados e responsabilidade solidária diante das dificuldades
(SIES, 2009: p.17).
O interesse e objetivos comuns estão presentes quando decidem for-
mar seus empreendimentos coletivos na busca de trabalho, geração de ren-
da ou melhoria dela, bem como deterem a posse dos meios de produção,
unindo seus esforços, recursos e capacidades.
Quando pensamos na justa distribuição dos resultados como um
dos princípios importantes da cooperação na economia solidária, re-
corremos às informações relativas às modalidades de partilha dos rendi-
mentos dos associados. Nos Indicadores da Situação de Trabalho (Grupos 2
e 4), observamos que a maioria (63,9%) dos empreendimentos divide o
resultado econômico da atividade produtiva do empreendimento entre
seus associados por critérios de proporcionalidade (produtividade, hora
e outras), evitando, assim, a exploração de uns sobre outros na realiza-
ção do trabalho e, consequentemente, nos ganhos. Muitos empreendi-
mentos produzem e dividem a produção para o próprio autoconsumo,
conforme a demanda de cada um. Há também a remuneração fixa, mas
em menor proporção.
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 81
Considerando a origem das transações comerciais nos empreen-
dimentos econômicos solidários, tanto na compra de insumos como na
venda de produtos, buscamos encontrar o nível de cooperação entre eles
por meio do Indicador de Atividades. Observamos que ela existe, embora
não seja tão significativa, visto que:
■ Na compra dos insumos ou matéria-prima, mais da metade dos EES
(52%) compram de empresas privadas tradicionais e não de outros
EES. Os que compram de associados e de outros EES somam ape-
nas 21,8% dos empreendimentos, apontando para uma baixa inte-
gração e incipiente mercado solidário;
■ A venda dos produtos a outros EES é ainda mais secundária, visto
que em primeira opção apenas 1% dos empreendimentos vendem
entre EES, em segunda opção 2% deles, e em terceira opção 1,9%.
Ou seja, não é priorizada a venda entre EES como poderia se espe-
rar para fortalecer os laços de cooperação e solidariedade entre eles.
Cabe ressaltar, entretanto, o que já apontamos anteriormente, quan-
to aos empreendimentos de economia solidária fazerem parte do sistema
de mercado. Eles não são ilhas isoladas no mercado mas, sim, existem e
interagem nele por meio das transações de compra de insumos e matérias-
primas e venda de serviços e produtos finais ou intermediários. Não vemos
problemas nisso, pois não os descaracteriza, ao contrário, o enfrentamento
da concorrência com empresas tradicionais pode ser positivo para o seu
aprimoramento comercial e fortalecimento econômico.
A cooperação também pode ser deduzida no Indicador Organização pelo
tempo de existência dos empreendimentos econômicos solidários. Eles cres-
ceram significativamente a partir de 1995, apesar de 1,8% já existir até 1979 e
9% na década de 80. Considerando os que surgiram na década de 90, pode-
mos afirmar que 25,1% têm de 12 a 8 anos de existência, 22,7% de 7 a 5 anos
e 33,9% de 4 a 1 ano. Ou seja, são empreendimentos que apresentam vários
anos de convivência de seus associados sem desfazer a cooperação para se
transformarem em empresas tradicionais ou mesmo sucumbir. Além disso,
apesar da rotatividade, que é comum em qualquer tipo de empresa, 51% dos
empreendimentos declaram que seu quadro social permaneceu igual e 30,3%
informou que aumentou nos últimos 12 (doze) meses. Portanto, levando em
consideração todos esses aspectos, vemos que nos empreendimentos econô-
micos que compõem essa economia, há solidariedade e cooperação.
Sumário
82 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
diMenSão econôMica
Os empreendimentos econômicos que compõem a economia solidária
realizam atividades econômicas de produção de bens e serviços, de crédito,
comercialização e consumo para proporcionar renda aos seus sócios constitui-
dores e, por isso, não são caritativos como muitas vezes são confundidos. São
unidades coletivas formais ou informais constituídas que devem proporcionar
excedente econômico com vistas à melhoria de vida dos trabalhadores que de-
les participam. O seu funcionamento é pautado pelo trabalho coletivo autoge-
rido, pela cooperação e solidariedade entre seus membros, pela intercooperação
entre os empreendimentos similares e pela viabilidade econômica.
No campo da viabilidade econômica, focando no desenvolvimento local
e regional que tanto pode fortalecer esses empreendimentos como se fortalecer
com eles, pode-se dizer que tais empreendimentos estão desempenhando um
papel importante no caminho da sustentabilidade. O desenvolvimento local
integra os recursos que existem no território, a cultura da comunidade e as
instituições. A economia local se dinamiza e fortalece quando as pessoas e ins-
tituições interagem e o resultado é a criação de riqueza, a geração de trabalho e
renda e a melhoria do bem-estar e da qualidade de vida. O fluxo financeiro cir-
cula em grande medida no próprio território e volta a ser investido ali mesmo,
gerando novas oportunidades de desenvolvimento.
Desse modo, considerando o Indicador da Atividade, a maioria dos empre-
endimentos está comercializando seus produtos, tanto de origem urbana como
rural, por meio do mercado local ou comunitário e municipal e, em menores
proporções, no mercado microrregional e estadual. As vendas são diretas aos
consumidores, a revendedores e atacadistas, executadas em espaços de feiras
livres, espaços próprios e entrega direta a clientes (Grupo 1 e 2). Constata-se,
assim, que esses empreendimentos estão atuando por meio de um comércio
mais restrito ao espaço onde estão localizados ou em âmbito regional, por isso
são atividades que podem dinamizar esses espaços e contribuir para um de-
senvolvimento endógeno, principalmente se atuarem em redes ou integradas a
planos ou programas que venham fortalecer esse tipo de desenvolvimento. Em
geral são grupos produtivos ou empreendimentos que guardam fortes traços
de costumes e culturas locais. Apesar de o mercado apontar sempre para novos
serviços e produtos, que invariavelmente podem distanciá-los de suas raízes,
eles as mantêm e com isso acabam por dar-lhes um diferencial importante que,
por sua vez não pode ser apartado da localidade ou da região.
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 83
Ao analisar o Indicador da Organização, encontramos uma maioria (66,2%)
de empreendimentos econômicos solidários que ainda são predominantemente
pequenos, compostos de 1 a 10 sócios (Grupo 1 e 2). Por outro lado, iniciaram
suas atividades quase que exclusivamente com recursos próprios e uma parce-
la deles, apesar de não muito significativa, está investindo em infraestrutura e
equipamentos, mesmo contando com pouca disponibilidade de crédito e da
quase ausência de financiamento (Grupo 1 – Gestão Financeira).
Corrobora no sentido da sustentabilidade, o fato de os empreendimen-
tos (em mais da metade deles) apresentarem pelos indicadores uma gestão
organizacional mais complexa, denotando maturidade, que é um dos aspec-
tos importantes para a estabilidade econômica do empreendimento (Grupo
2 – Gestão Administrativa). Os Indicadores da Gestão Financeira também indicam
o caminho da sustentabilidade, pois o Grupo 1 (38,7%), que representa perto
de 40% dos empreendimentos, realizou investimentos em infraestrutura e
equipamentos com algum tipo de financiamento, ou seja, está melhorando
suas estruturas ou está em fase de estruturação.
Por outro lado, também é importante a estabilidade observada no quadro
de associados, que permaneceu igual nos últimos doze meses na metade deles
(51%) e foi maior o índice dos empreendimentos que tiveram aumento (30,3%)
no número de associados em relação àqueles que tiveram saídas (18,7%).
Outro aspecto relevante a ser considerado, no sentido da sustentabi-
lidade, pode ser também o tempo de existência desses empreendimentos.
Analisando as informações sobre o tempo de vida, observamos que a maioria
deles surgiu depois de 1995 (81,7%), dos quais 25,1% têm de 12 a 8 anos de
existência. Esse é um dado que demonstra alguma estabilidade. Cabe lem-
brar as informações divulgadas, via de regra pelo Sebrae, nas quais 80% das
microempresas tradicionais depois de iniciarem suas atividades acabam por
encerrá-las definitivamente depois de dois anos de existência.
Em síntese, podemos concluir que os empreendimentos econômicos
solidários no Brasil se organizam com a preocupação principal de gerar traba-
lho e renda. Na sua funcionalidade, apresentam uma forte conotação de auto-
gestão, na qual descobrem seus limites e suas potencialidades numa ação que
une esforços no agir coletivo para a repartição do poder, dos ganhos e posse
dos bens. Apesar da moderna vida urbana e industrial imprimir relações e
práticas mais despersonalizadas com sua capacidade de desfazer laços sociais
e deteriorar os sentimentos de solidariedade e de cooperação, a prática da
solidariedade e da cooperação está presente em boa medida na vida cotidiana
Sumário
84 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
desses empreendimentos. São empreendimentos coletivos com forte poten-
cial de fomentar o desenvolvimento local e regional, apesar de predominan-
temente pequenos. Foram formados com capital próprio em grande medida
e estão produzindo e comercializando principalmente em âmbito local e/ou
regional. Apresentam estabilidade no quadro de associados e possuem gestão
organizacional simples em geral e mais complexas apenas naqueles que são
maiores e mais antigos. Apesar da quase indisponibilidade de crédito, uma
parte deles está investindo em infraestrutura e equipamentos.
Se buscarmos apoio nos fundamentos das teorias econômicas sobre as
questões relativas ao funcionamento de mercado e os pequenos empreendimen-
tos, a resposta é bastante conhecida, pois coloca esses empreendimentos nas
franjas do sistema produtivo, servindo ao processo de acumulação de capital das
grandes empresas. Nesse sentido, as possibilidades de crescimento e de sustenta-
bilidade seriam limitadas por várias características muito comuns entre eles.
Trata-se de empreendimentos coletivos que dispõem de pouca tecno-
logia, nos quais o uso da mão-de-obra é mais intenso juntamente com a uti-
lização de instrumentos de baixa densidade técnica. No aspecto do retorno
financeiro, como resultado das vendas (faturamento), os dados demonstram
ser a maioria de pequenos valores e, consequentemente, as sobras líquidas
divididas entre os associados também acabam sendo pequenas. Esse fato
agrava a capacidade de autofinanciamento dos empreendimentos, que não
conseguem ter capital suficiente para reinvestimentos que venham beneficiar
a produção e os resultados econômicos da atividade. Por outro lado, também,
a maioria demonstrou não ter ou ter pouco acesso a crédito. Tudo isso corro-
bora para o pensamento teórico dominante.
Acreditamos, todavia, que temos outras questões a serem consideradas
nesse campo. São empreendimentos que nasceram predominantemente durante
a década de 1990, quando a economia de modo geral atravessava um momento
econômico difícil, mas, apesar disso, continuam em atividades a mais de 12 anos.
Considerando as fragilidades já apontadas, esse fato requer uma pesquisa mais
detalhada, para desnudar ainda mais a gênese desses empreendimentos.
Poderíamos apontar no caminho do apoio das políticas públicas, mas
devemos considerar também que elas ainda não chegam a atender as deman-
das desse tipo de empreendimento para aportar sua sustentabilidade. O aces-
so ao crédito e tecnologias adequadas a pequenos empreendimentos ainda é
bastante restrito, pois o que há disponível é bem mais apropriado ao grande
negócio ou empresa, tanto do meio rural como do urbano. Refletimos, desse
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 85
modo, que não é isto que os faz manter-se em funcionamento pelo tempo já
indicado, que é importante ter em consideração.
Há que ponderar também que nasceram e estão se mantendo com re-
cursos próprios e não apresentam endividamento. Além disso, mais da meta-
de deles já possuem uma gestão administrativa mais complexa ou estruturada
e, por outro lado, apesar dos poucos recursos excedentes e acesso a crédito,
uma parte desses empreendimentos já estão investindo em infraestrutura e
equipamentos, dando indícios de crescimento e sustentabilidade.
Também considero ser importante levar em conta as chances que dis-
põem pelas suas próprias características, as quais, ao contrário de ser um
defeito, podem ser uma qualidade, que é o fato de ainda serem pequenos e
interagirem num mercado também pequeno, local ou regional. Desse modo,
os EES poderiam fomentar e ao mesmo tempo se beneficiar de um desen-
volvimento endógeno, se fossem integrados em planos e políticas de desen-
volvimento, bem como em redes de produção e comercialização. Isso permi-
tiria manter as suas características culturais, de costumes e de regionalidade,
fazendo-os diferenciados.
Na linha da diferenciação, também é preciso lembrar que os empre-
endimentos econômicos atuam praticando a cooperação, solidariedade e au-
togestão. Embora sejam aspectos de difícil operacionalidade, nesse tipo de
empreendimento pode ser o que vem proporcionando a sua maturidade, for-
talecimento e permanência no mercado, visto que o trabalho associado é uma
força produtiva peculiar e decisiva.
Por todos esses aspectos, consideramos que esses empreendimentos de
economia solidária funcionam dentro de uma racionalidade e eficiência dife-
renciada. Eficiência que vai além da geração de recursos monetários e provo-
ca externalidades positivas para os sujeitos envolvidos e seu entorno. Nesse
sentido, proporciona também sentimento de autonomia, liberdade, formas de
trabalho que reconhecem e dão liberdade para o florescimento da criatividade
e das potencialidades individuais em prol de um coletivo, no qual o associado
sente-se integrado e acolhido, sem medo, por exemplo, de perder o emprego
no dia seguinte. Enfim, estamos discorrendo sobre benefícios sociais que
proporcionam bem-estar, cidadania e também boas perspectivas de essas ati-
vidades econômicas crescerem e provocarem efeitos benéficos ao ponto de
se transformarem numa economia mais forte e integrada, contribuindo para
a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável do próprio
empreendimento e do seu entorno. Em suma, assim é a economia solidária.
Sumário
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 87
Anexos
Sumário
88 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
procediMentoS MetodológicoS
1. análiSe de agrUpaMentoS
Depois de finalizada a inserção dos dados do mapeamento de 2007 na
Base de Dados do Sistema Nacional de Informações em Economia Solidá-
ria (SIES), eles foram disponibilizado para a realização de um estudo com
abrangência nacional que pudesse mostrar, por meio das características dos
empreendimentos econômicos solidários, o retrato da economia solidária no
Brasil, demonstrado por estados e por grandes regiões.
O presente estudo é um dos produtos do projeto “Mapeamento para a
ampliação da base de dados do Sistema Nacional de Informações em Econo-
mia Solidária (SIES)”, executado por meio de convênio firmado entre UNI-
TRABALHO e FINEP (ref. 2297/06), que teve por objetivo geral: mapear
empreendimentos econômicos solidários, bem como instituições de apoio e
assessoria em 14 estados brasileiros e inserir os dados coletados no Sistema
Nacional de Informações em Economia Solidária –SIES/MTE.
Um Termo Aditivo ao referido convênio ampliou o nosso estudo,
previsto inicialmente para Acre, Alagoas, Distrito Federal, Maranhão, Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Rondônia, Rio Grande
do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Sergipe e Tocantins, para os de-
mais estados da federação, tornando-o, assim, um estudo de âmbito nacional.
Inicialmente, o estudo gerou um relatório com a tabulação simples da
pesquisa, mapeando os empreendimentos econômicos solidários (EES), apre-
sentando os resultados segundo divisões temáticas presentes no questionário
da pesquisa de campo. Nesse relatório produziu-se a apuração e cruzamentos
simples das informações dos questionários, apresentando análise descritiva
dos itens, por meio de variáveis numéricas (média, mínimo, máximo, quartis,
desvio padrão) e variáveis categóricas (frequências absolutas e relativas), com
análise segmentada por estados e grandes regiões. Ao todo foram aplicados
e tabulados 21.859 questionários abrangendo todas as unidades da federação
(estados). O trabalho de apuração inicial (simples) teve como objetivo subsi-
diar as análises mais complexas que permitiram caracterizar e tipificar melhor
as atividades empreendedoras coletivas solidárias no país.
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 89
A partir dos resultados observados no relatório de apuração simples,
foram escolhidas questões que apresentaram percentuais válidos em cada di-
visão temática, que chamamos de dimensão, conforme quadro ao lado, para
compor a análise segundo metodologia de análise multivariada, buscando
identificar grupos e tipologias que caracterizassem os empreendimentos eco-
nômicos solidários.
As variáveis foram utilizadas por dimensão na Análise de Agrupa-
mentos (Cluster Analysis). Para a formação de grupos, neste estudo foi
utilizado o Método BIRSCH (Balanced Iterative Reducing and Clustering using
Hierarchies), que permite a realização de agrupamentos de objetos cujos
atributos são tanto variáveis numéricas como categóricas (qualitativas).
Para a aplicação desse método foi utilizado o pacote estatístico SPSS v13
no procedimento Two-Step Cluster.
O método BIRSCH apresenta dois passos:
pASSo 1 – Pré-agrupamento dos objetos em diversos subgrupos de
tamanho pequeno;
DEScRição Do pASSo 1
O passo de pré-agrupamento consiste numa abordagem de agrupa-
mento sequencial na qual se decide se o objeto a ser agrupado deverá ser
incluído a um dos subgrupos já formados, ou se formará um novo subgru-
po baseado num critério de distância (logaritmo natural da verossimilhança
para variáveis numéricas e categóricas, ou distância Euclidiana aplicáveis
somente para variáveis numéricas). Esse procedimento é implementado a
partir da construção de um esquema de árvores modificado. Cada objeto a
ser agrupado é recursivamente direcionado ao nó mais próximo da árvo-
re. Se este for suficientemente similar (medida de distância inferior a um
limiar), será absorvido pelo nó, caso contrário formará um novo nó. Caso
não haja mais espaço no nó, este se subdividirá em dois outros nós. Esse
processo termina quando se atinge o tamanho máximo da árvore. Caso ain-
da esteja longe de atingir este tamanho, a árvore é reconstruída, utilizando-
se um limiar maior para a distância.
Sumário
90 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
DEScRição Do pASSo 2
Neste passo realiza-se a análise de agrupamentos comuns a par-
tir dos subgrupos formados. Em geral, utiliza-se a análise de agrupa-
mentos hierárquica.
Esses procedimentos estatísticos, portanto, permitem a divisão de
unidades/objetos em grupos homogêneos com características similares
dentro dos grupos e o mais distintas possíveis entre os grupos. Na análise
se considerou as seis divisões do questionário e, dentro delas, selecionou-
se um conjunto de perguntas. O conjunto de perguntas e dimensões é
apresentado no quadro a seguir.
Quadro 1:
Dimensão de análise, variáveis e itens da base de
dados/questionário e número de opções possíveis.
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 91
A partir dessa seleção foi feita a análise de conglomerados para identi-
ficação de grupos homogêneos. Os resultados são apresentados segundo di-
mensões, nas quais primeiro os grupos são caracterizados e depois é realizada
uma apuração dos grupos segundo unidades da federação (estados) e grandes
regiões. As tabelas que mostram as seis dimensões formadas são apresentadas
junto ao conteúdo das análises no livro.
Gráfico 1
Sumário
92 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
Gráfico 2
Gráfico 3
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 93
Gráfico 4
Gráfico 5
Sumário
94 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
Gráfico 6
Gráfico 7
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 95
Gráfico 8
Gráfico 9
Sumário
96 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
Gráfico 10
Gráfico 11
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 97
Gráfico 12
Gráfico 13
Sumário
98 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
Gráfico 14
Gráfico 15
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 99
Gráfico 16
Gráfico 17
Sumário
100 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
Gráfico 18
Gráfico 19
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 101
Gráfico 20
Gráfico 21
Sumário
102 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
Gráfico 22
Gráfico 23
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 103
Gráfico 24
Gráfico 25
Sumário
104 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
Gráfico 26
Gráfico 27
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 105
Gráfico 28
Gráfico 29
Sumário
106 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
Gráfico 30
Gráfico 31
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 107
Gráfico 32
Gráfico 33
Sumário
108 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
Gráfico 34
Gráfico 35
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 109
Gráfico 36
Gráfico 37
Sumário
110 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
Gráfico 38
Gráfico 39
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 111
Gráfico 40
Gráfico 41
Sumário
112 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
Gráfico 42
Gráfico 43
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 113
Gráfico 44
Sumário
114 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 115
Situação de trabalho nos EES
Organi- Ativ. Finan- Adminis- Sóciopo- 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Total
zação Econ. ceira trativa litica
2 Total 33 178 16 20 20 52 21 20 8 117 485
2 Total 62 373 35 42 33 130 38 37 14 192 956
1 Total 121 645 60 72 87 201 71 114 32 319 1722
2 1 1 1 27 66 8 7 12 9 5 13 1 22 170
2 4 19 3 3 3 3 3 7 2 7 54
3 26 83 7 5 7 14 7 19 3 24 195
1 Total 57 168 18 15 22 26 15 39 6 53 419
2 1 69 163 22 20 54 30 21 90 21 66 556
2 17 39 6 2 20 6 4 26 5 17 142
3 45 133 17 15 47 17 13 73 36 32 428
2 Total 131 335 45 37 121 53 38 189 62 115 1126
1 Total 188 503 63 52 143 79 53 228 68 168 1545
2 1 1 13 73 8 5 12 18 3 10 2 27 171
2 5 27 2 2 4 5 8 1 20 74
3 17 122 14 6 9 23 11 8 4 42 256
1 Total 35 222 24 11 23 45 19 26 7 89 501
2 1 37 147 9 13 32 38 21 37 11 92 437
2 7 36 2 4 14 16 13 14 2 30 138
3 40 164 11 10 39 36 12 47 18 74 451
2 Total 84 347 22 27 85 90 46 98 31 196 1026
2 Total 119 569 46 38 108 135 65 124 38 285 1527
2 Total 307 1072 109 90 251 214 118 352 106 453 3072
2 Total 428 1717 169 162 338 415 189 466 138 772 4794
3 1 1 1 1 3 20 2 1 3 6 6 2 1 12 56
2 3 11 3 3 5 25
3 1 23 1 1 4 2 2 1 5 40
1 Total 7 54 3 2 3 13 11 4 2 22 121
2 1 21 78 8 12 22 24 13 6 2 69 255
2 1 15 3 8 3 4 2 13 49
3 6 28 1 2 4 15 4 4 11 75
2 Total 28 121 9 14 29 47 20 10 8 93 379
1 Total 35 175 12 16 32 60 31 14 10 115 500
2 1 1 4 45 3 5 6 27 5 3 55 153
2 4 26 1 2 1 41 2 27 104
3 8 54 3 4 7 23 3 2 1 59 164
1 Total 16 125 7 11 14 91 10 2 4 141 421
2 1 23 106 7 15 13 44 24 5 8 132 377
2 4 40 3 5 14 27 15 2 6 59 175
3 5 64 9 18 6 54 5 5 6 68 240
2 Total 32 210 19 38 33 125 44 12 20 259 792
2 Total 48 335 26 49 47 216 54 14 24 400 1213
1 Total 83 510 38 65 79 276 85 28 34 515 1713
2 1 1 1 15 61 6 3 6 24 1 4 4 31 155
2 3 28 2 1 8 1 1 11 55
3 4 41 2 2 5 5 3 4 2 12 80
1 Total 22 130 8 7 12 37 5 8 7 54 290
2 1 66 209 23 31 75 68 26 27 23 130 678
2 21 59 2 7 3 34 9 6 4 54 199
3 28 91 10 21 16 42 15 18 16 64 321
2 Total 115 359 35 59 94 144 50 51 43 248 1198
1 Total 137 489 43 66 106 181 55 59 50 302 1488
2 1 1 9 77 4 8 6 26 8 6 2 107 253
2 3 49 6 9 32 2 42 143
3 7 134 4 10 8 55 9 6 3 98 334
1 Total 19 260 8 24 23 113 19 12 5 247 730
2 1 59 257 18 38 38 109 40 22 18 301 900
2 18 133 6 11 8 71 18 9 4 236 514
3 49 166 8 35 22 111 26 13 19 183 632
2 Total 126 556 32 84 68 291 84 44 41 720 2046
2 Total 145 816 40 108 91 404 103 56 46 967 2776
2 Total 282 1305 83 174 197 585 158 115 96 1269 4264
3 Total 365 1815 121 239 276 861 243 143 130 1784 5977
Total 1248 7329 616 619 877 2359 684 876 354 3542 18504
Sumário
116 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
Tabela 1 (ao lado):
Tabulação da Classificação de Grupos da Dimensão
Situação do Trabalho segundo grandes regiões e UF
Legenda
1 Possui sócios e não sócios trabalhando diretamente na atividade, sendo os sócios
remunerados por produtividade
2 Possui sócios trabalhando diretamente na atividade, sendo os sócios remunerados por
produtividade. Não possui não sócios trabalhando no EES
3 Possui sócios trabalhando diretamente na atividade, sendo os sócios remunerados de
outra forma. Na maioria dos EES não possui não sócios trabalhando
4 Possui sócios e não sócios trabalhando diretamente na atividade e na maioria dos EES não
tem conseguido remunerar os sócios
5 Possui sócios trabalhando diretamente nas atividades, sendo os sócios remunerados por
hora. A maioria não possui não sócios trabalhando no EES
6 Possui sócios trabalhando diretamente na atividade e não tem conseguido remunerar os
sócios. Não possui não sócios trabalhando no empreendimento
7 Possui sócios trabalhando diretamente na atividade e não há remuneração. A maior parte
dos EES não possui não sócios trabalhando no empreendimento
8 Possui sócios trabalhando diretamente na atividade com remuneração fixa. Na maioria das
vezes não possui não sócios trabalhando no empreendimento
9 Não possui sócios trabalhando diretamente na atividade. Todos os empreendimentos tem
não sócios trabalhando
10 Não procede (sem declaração de quem trabalha no empreendimento – sócios e/ou não sócios)
Sumário
117
Sumário
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
n % n % n % n % n % n % n % n % n % n % n
Total 158 7,1 822 37,2 66 3,0 90 4,1 72 3,3 327 14,8 143 6,5 86 3,9 54 2,4 392 17,7 2.210
DF 16 4,1 196 50,8 13 3,4 18 4,7 15 3,9 59 15,3 17 4,4 12 3,1 17 4,4 23 6,0 386
GO 108 14,7 293 39,8 17 2,3 50 6,8 23 3,1 81 11,0 52 7,1 47 6,4 11 1,5 55 7,5 737
MS 19 5,6 166 48,8 13 3,8 9 2,6 3 0,9 52 15,3 5 1,5 7 2,1 6 1,8 60 17,6 340
MT 15 2,0 167 22,4 23 3,1 13 1,7 31 4,1 135 18,1 69 9,2 20 2,7 20 2,7 254 34,0 747
Total 595 6,3 3.234 34,0 269 2,8 350 3,7 279 2,9 1.568 16,5 404 4,3 290 3,1 153 1,6 2356 24,8 9.498
AL 33 11,6 164 57,7 5 1,8 3 1,1 4 1,4 36 12,7 3 1,1 10 3,5 3 1,1 23 8,1 284
BA 19 1,2 162 10,1 31 1,9 16 1,0 67 4,2 104 6,5 16 1,0 45 2,8 66 4,1 1.085 67,3 1.611
CE 206 11,1 696 37,5 42 2,3 132 7,1 60 3,2 494 26,6 85 4,6 53 2,9 10 0,5 76 4,1 1.854
Nordeste
MA 60 7,6 340 42,9 11 1,4 25 3,2 17 2,1 73 9,2 74 9,3 20 2,5 12 1,5 161 20,3 793
PB 41 6,1 238 35,5 39 5,8 11 1,6 21 3,1 43 6,4 36 5,4 32 4,8 31 4,6 178 26,6 670
PE 55 3,6 640 41,9 76 5,0 30 2,0 33 2,2 222 14,5 31 2,0 38 2,5 11 0,7 390 25,6 1.526
PI 112 7,6 576 39,1 28 1,9 108 7,3 26 1,8 464 31,5 45 3,1 24 1,6 6 0,4 83 5,6 1.472
RN 55 6,7 280 34,3 23 2,8 14 1,7 29 3,5 96 11,8 98 12,0 41 5,0 7 0,9 174 21,3 817
SE 14 3,0 138 29,3 14 3,0 11 2,3 22 4,7 36 7,6 16 3,4 27 5,7 7 1,5 186 39,5 471
Total 148 5,6 795 29,9 110 4,1 70 2,6 130 4,9 292 11,0 139 5,2 125 4,7 55 2,1 792 29,8 2.656
AC 14 2,6 90 16,6 7 1,3 4 0,7 16 2,9 24 4,4 22 4,1 18 3,3 13 2,4 335 61,7 543
AM 62 13,4 191 41,4 15 3,3 25 5,4 14 3,0 61 13,2 23 5,0 35 7,6 4 0,9 31 6,7 461
Norte
AP 20 12,7 60 38,2 10 6,4 10 6,4 3 1,9 25 15,9 2 1,3 6 3,8 4 2,5 17 10,8 157
PA 41 7,1 260 45,3 22 3,8 19 3,3 13 2,3 29 5,1 32 5,6 23 4,0 19 3,3 116 20,2 574
RO 5 1,7 78 26,6 1 0,3 5 1,7 78 26,6 13 4,4 20 6,8 21 7,2 7 2,4 65 22,2 293
RR 1 0,8 61 48,4 23 18,3 2 1,6 1 0,8 13 10,3 9 7,1 1 0,8 0 0,0 15 11,9 126
TO 5 1,0 55 11,0 32 6,4 5 1,0 5 1,0 127 25,3 31 6,2 21 4,2 8 1,6 213 42,4 502
Total 271 6,9 1.885 48,2 145 3,7 137 3,5 253 6,5 495 12,7 146 3,7 234 6,0 72 1,8 274 7,0 3.912
TIPOLOGIA DOS EES
Sudeste
ES 35 6,7 82 15,8 18 3,5 16 3,1 39 7,5 53 10,2 52 10,0 49 9,4 48 9,2 128 24,6 520
MG 62 5,0 705 57,0 49 4,0 23 1,9 57 4,6 194 15,7 36 2,9 46 3,7 2 0,2 62 5,0 1236
RJ 124 9,2 753 56,1 34 2,5 80 6,0 40 3,0 155 11,5 25 1,9 76 5,7 6 0,4 50 3,7 1343
SP 50 6,2 345 42,4 44 5,4 18 2,2 117 14,4 93 11,4 33 4,1 63 7,7 16 2,0 34 4,2 813
Total 179 5,0 1.147 32,0 158 4,4 64 1,8 263 7,3 222 6,2 195 5,4 376 10,5 130 3,6 849 23,7 3.583
PR 69 8,5 289 35,8 48 5,9 21 2,6 89 11,0 56 6,9 51 6,3 62 7,7 24 3,0 99 12,3 808
Sul
RS 72 3,5 683 32,8 88 4,2 26 1,2 109 5,2 116 5,6 108 5,2 220 10,6 77 3,7 586 28,1 2.085
SC 38 5,5 175 25,4 22 3,2 17 2,5 65 9,4 50 7,2 36 5,2 94 13,6 29 4,2 164 23,8 690
Total 1.351 6,2 7.883 36,1 748 3,4 711 3,3 997 4,6 2.904 13,3 1.027 4,7 1.111 5,1 464 2,1 4.663 21,3 21.859
118 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
referênciaS BiBliográficaS
ALBUQUERQUE, Paulo Peixoto de. Autogestão. In: Cattani, Antonio
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CATTANI, Antonio David. A outra economia: os conceitos essenciais.
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CULTI, Maria Nezilda. O Desafio do Processo Educativo na Prática
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Doutorado. FE/USP, São Paulo; 2006.
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GAIGER, Luiz Inácio Germany (Org.). Sentidos e Experiências da
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LAVILLE, Jean-Louis. Economia solidária: Ilusão ou caminho de futuro?
Artigo extraído do site: http//france.attac.org., 2001.
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Efficient Data Clustering Method for Very Large Datebases. Proce-
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Montreal, Canadá: 1996.
Sumário
TIPOLOGIA DOS EES 119
oS aUtoreS
Maria Nezilda culti
nezilda@terra.com.br
Mestre em Economia pela Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo (1992) e Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo/USP
(2006). Atualmente é professora no Departamento de Economia da Univer-
sidade Estadual de Maringá (UEM). É também integrante do Conselho Na-
cional de Economia Solidária e componente do Grupo de trabalho (GT) de
Economia Solidária e Desenvolvimento Sustentável da Rede Interuniversitá-
ria de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho (UNITRABALHO). Desenvolve
ensino, pesquisa e extensão, principalmente nos seguintes temas: economia
do trabalho, economia solidária, incubadoras universitárias, processo de incu-
bação, cooperativismo/associativismo e geração de renda.
Sumário
120 ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL
colaBoradoreS
Armando Lírio de Souza (UFPA)
Doutor em Economia
17 coordenadores
técnicos Estaduais nos estados/universidades:
Acre (UFAC), Alagoas (UFAL), Distrito Federal (UNB),
Maranhão (UFMA), Mato Grosso (UNEMAT), Mato Grosso do
Sul (UEMS), Minas Gerais (UFU e PUC-Minas), Paraíba (UFCG
e UFPB), Rondônia (UNIR), Rio Grande do Norte (UFRN),
Rio Grande do SUL (UNISINOS e UNIJUÍ), Santa Catarina
(UNOCHAPECÓ), Sergipe (UFS) e Tocantins (UNITINS).
Coordenadores Técnicos Estaduais e
pesquisadores dos demais estados
Sumário
Sumário