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Artigo de Revisão Figueirêdo SS et al.

ATRESIA DO TRATO GASTRINTESTINAL: AVALIAÇÃO


POR MÉTODOS DE IMAGEM*
Sizenildo da Silva Figueirêdo1, Luiza Helena Vilela Ribeiro2, Bruno Barcelos da Nóbrega1,
Marlos Augusto Bittencourt Costa3, Galba Leite Oliveira4, Edward Esteves5, Soraya Silveira
Monteiro6, Henrique Manoel Lederman7

Resumo Um amplo espectro de anomalias congênitas pode afetar qualquer nível do trato gastrintestinal, do esôfago
ao ânus. A atresia é uma importante causa de obstrução gastrintestinal, com alta taxa de morbidade em
recém-natos. Há diversos mecanismos patológicos possíveis para explicar esta malformação e duas expli-
cações clássicas de sua gênese são um defeito de recanalização do tubo intestinal ou uma interrupção no
suprimento sanguíneo durante a vida intra-uterina. Os autores fazem uma revisão da literatura com ensaio
iconográfico dos achados de imagem em crianças com atresia do trato gastrintestinal.
Unitermos: Atresia; Crianças; Pediatria; Imagem.

Abstract Atresia of the gastrointestinal tract: imaging evaluation.


A wide spectrum of congenital anomalies may affect the gastrointestinal tract at any level from the esopha-
gus to the anus. Atresia is an important cause of gastrointestinal obstruction with high morbidity rate in
neonates. Different pathogenetic mechanisms could cause this malformation and the two classical expla-
nations are: a defect of recanalization of the intestinal tube or an interruption of blood supply during intrau-
terine life. The authors present a literature review with an iconographic essay of imaging findings in children
with gastrointestinal atresia.
Key words: Atresia; Children; Pediatrics; Imaging.

INTRODUÇÃO intestinos anterior e posterior terminam em Em neonatos saudáveis, o ar geralmen-


fundo cego. A extremidade cranial do in- te pode ser observado no estômago poucos
O tubo digestivo primitivo consiste em testino anterior está separada do estomó- minutos após o nascimento, e com três ho-
duas partes: o intestino anterior, dentro da dio pela membrana bucofaríngea e o intes- ras o intestino delgado comumente está re-
flexura cefálica e dorsal ao coração, e o tino posterior termina na cloaca, fechada pleto de gás. Após oito a nove horas, neo-
intestino posterior, dentro da flexura cau- pela membrana cloacal(1).. natos saudáveis apresentam gás no sigmói-
dal. Entre ambos encontra-se a larga aber- Um trato alimentar completamente fun- de. O diagnóstico de obstrução é baseado
tura do saco vitelino, gradualmente estrei- cional em recém-natos corresponde a um em interrupções desta disposição de ga-
tada e reduzida a um pequeno forame que complexo sistema orgânico que se desen- ses(3). Deve-se enfatizar que retardo na pas-
conduz ao ducto vitelino. A princípio os volve do tubo digestivo primitivo a partir sagem de gás pelo interior do intestino
de uma complicada, porém ordenada se- neonatal pode ser decorrente de parto trau-
qüência de eventos que se estende desde mático, septicemia, hipoglicemia ou dano
* Trabalho realizado no Departamento de Diagnóstico por o período embrionário até o nascimento. encefálico(3).
Imagem da Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista
de Medicina (Unifesp/EPM), São Paulo, SP. Um completo entendimento sobre o desen- As indicações para aplicação de cada
1. Médicos Especializandos do Departamento de Diagnóstico
por Imagem da Unifesp/EPM, Membros Titulares do Colégio
volvimento normal do trato gastrintestinal modalidade de imagem e a ordem na qual
Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR). é útil na compreensão das suas anomalias serão realizadas devem ser cuidadosamen-
2. Mestranda do Curso de Pós-graduação do Departamento
de Diagnóstico por Imagem da Unifesp/EPM, Membro Titular do congênitas(2). te analisadas para evitar exames desneces-
CBR. Um amplo espectro de anomalias con- sários(2). A radiografia é o mais valioso
3. Médico Especializando do Departamento de Diagnóstico
por Imagem da Unifesp/EPM. gênitas do trato gastrintestinal é causa sig- meio de determinar se obstruções estão
4. Médica Especializanda do Departamento de Diagnóstico
por Imagem da Irmandade Santa Casa de Misericórdia de São
nificativa de morbidade no grupo pediátri- presentes. Este método é freqüentemente
Paulo. co. Estas anormalidades incluem distúrbios diagnóstico e, caso não seja, poderá ser útil
5. Professor Assistente do Departamento de Cirurgia e Urolo-
gia Pediátrica da Universidade Federal de Goiás (UFG). obstrutivos completos ou parciais (atresia/ na determinação do próximo procedimen-
6. Médica Radiologista da Disciplina de Diagnóstico por Ima- estenose), anomalias de rotação e fixação, to diagnóstico a ser utilizado(3).
gem em Pediatria do Departamento de Diagnóstico por Imagem
da Unifesp/EPM. bem como duplicações e compressões ex- Este artigo tem por finalidade descrever
7. Chefe da Disciplina de Diagnóstico por Imagem em Pedia-
tria do Departamento de Diagnóstico por Imagem da Unifesp/
trínsecas. Entre as causas obstrutivas des- e ilustrar os achados de imagem presentes
EPM. tacamos as atresias, cuja apresentação clí- nos casos de atresias em vários níveis do
Endereço para correspondência: Dr. Bruno Barcelos da Nó-
brega. Alameda Ribeirão Preto, 551, ap. 14, Bela Vista. São nica é variável com a topografia acometi- trato gastrintestinal e discutir os principais
Paulo, SP, 01331- 001. E-mail: brunoradiol@hotmail.com da, a qual deve ser determinada principal- aspectos referentes à sua embriogênese,
Recebido para publicação em 3/3/2004. Aceito, após revi-
são, em 14/4/2004. mente em estudos por métodos de imagem. quadro clínico e anomalias associadas.

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Atresia do trato gastrintestinal: avaliação por métodos de imagem

ATRESIA ESOFÁGICA mento distal ou um alto grau de estenose Tipo C: atresia do esôfago com fístula
neste segmento(8,9). Nas fístulas em H, se entre a traquéia ou brônquio principal e o
Atresia esofágica com ou sem fístula o segmento comunicante é longo ou oblí- segmento distal do esôfago (53% a 84%);
traqueoesofágica é um complexo de ano- quo, os sintomas respiratórios podem ser Tipo D: atresia de esôfago com fístula
malias congênitas caracterizadas pela for- mínimos e esta condição pode não ser des- entre a traquéia e tanto com o segmento
mação incompleta do esôfago com ou sem coberta por muitos anos(6). proximal quanto com o distal do esôfago
comunicação anormal entre este e a tra- Existem inúmeras variações anatômicas (2,1% a 3%);
quéia(2). Ocorre com uma incidência de um da atresia de esôfago, sendo que até 1976 Tipo E: fístula em “H” traqueoesofági-
caso entre 3.000 nascidos vivos(4) e é mais cerca de 96 subtipos já tinham sido descri- ca sem atresia do esôfago (4% a 10%).
comum em brancos e no sexo masculino. tos, e outros foram descritos desde então. Conforme citado, o tipo C é expressi-
Apresenta maior incidência em gêmeos e Os principais tipos de atresia e suas fre- vamente mais freqüente(2,6) (Figura 2). O
esta eleva-se com o aumento da idade ma- qüências são(2,6) (Figura 1): segmento proximal em fundo cego geral-
terna e com a primiparidade. Também está Tipo A: atresia pura do esôfago, sem mente é hipertrofiado e dilatado, secundá-
freqüentemente associada a anomalias cro- fístulas (8% a 10%); rio aos esforços fetais para deglutir o líqui-
mossômicas(5). Tipo B: atresia do esôfago com fístula do amniótico(6) e a fístula freqüentemente
Acredita-se que seja uma anomalia da entre o segmento esofágico proximal e a ocorre próximo à traquéia(6). A segunda
formação e da separação do intestino an- traquéia (0,9% a 1%); mais comum é a atresia pura sem fístula tra-
terior primitivo em traquéia e esôfago(2).
Durante a quarta ou quinta semana de
desenvolvimento embriológico, estes ór- A B C D E
gãos constituem um tubo único que pos-
teriormente divide-se em duas estruturas,
devido à formação de um septo na parede
do intestino primitivo(2,6). Uma falha na
formação do esôfago tubular (vacuolização
do estágio sólido) e/ou uma separação in-
completa das porções do intestino anterior,
neste período, resultam em atresia e/ou
fístula traqueoesofágica(6,7).
Os sintomas estão relacionados ao tipo
de atresia, que pode estar ou não associado Figura 1. Esquema ilustrativo dos vários tipos de atresia esofagiana. A, atresia sem fistula; B, atresia com
fístula proximal; C, atresia com fístula distal; D, atresia com fístulas proximal e distal; E, fístula traqueoeso-
a fístulas. Geralmente é suspeitada quan- fágica em H (sem atresia) (adaptado da referência 35).
do há poliidrâmnio, dificuldade em deglu-
tir saliva e leite, aspiração durante as pri-
meiras alimentações e falha na tentativa de ’
passar a sonda gástrica(2). Nestes pacientes,
a sonda pára tipicamente após a introdu-
ção de 10 a 12 cm, sendo que a distância
normal até a região cárdica de uma crian-
ça normal é de aproximadamente 17 cm(6).
Tosse e cianose (que se acentuam com a
alimentação) podem estar presentes(6), bem
como pneumonia por aspiração, especial-
mente nos lobos superiores(7).
Classicamente, o neonato com atresia
esofagiana apresenta copiosa quantidade
de bolhas de muco, esbranquiçadas e re-
gulares na boca e às vezes nas narinas(6).
Se há fístula traqueoesofágica distal,
ocorrerá distensão gasosa do abdome e este
será escavado, se não houver fístula(6). A
ausência de gás no abdome de um recém-
A B
nato com atresia esofagiana nem sempre
Figura 2. Atresia esofagiana tipo C. A: Radiografia simples em incidência frontal evidencia meio de con-
descarta uma fístula distal e também pode traste retido na bolsa esofagiana proximal em fundo cego, sem extravasamento para o trato respiratório (seta).
decorrer de uma ou mais atresias no seg- Há gás no trato gastrintestinal. B: Em perfil também nota-se uma bolha gástrica proeminente.

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A B Figura 4. Atresia esofagiana tipo A. Incidência frontal


Figura 3. Atresia esofagiana tipo A. A: Radiografia simples em incidência frontal revela ausência de gás no mostra meio de contraste iodado acumulado na bol-
trato gastrintestinal, sugerindo inexistência de fístula distal. B: Em perfil também não é possível a identifica- sa esofagiana proximal em fundo cego e sem extra-
ção da bolsa esofagiana proximal. vasamento para a árvore traqueobrônquica (seta).
Nota-se ausência de gás no trato gastrintestinal.

queoesofágica (tipo A), cujo segmento dis-


tal remanescente é usualmente subdesen-
volvido(6) (Figuras 3 e 4).
À ecografia pré-natal, a atresia esofa-
giana pode ser sugerida pela presença de
uma combinação de poliidrâmnio, reduzi-
da quantidade de líquido intraluminal no
intestino fetal e não visualização do estô-
mago(2,6,10,11). Uma bolsa proximal disten- _
dida do esôfago atrésico pode ser visível(7).
O diagnóstico radiológico é baseado
nos achados de radiografias de tórax em ’
incidências frontais e em perfil, que reve-
lam a extremidade proximal do esôfago em
fundo cego distendida com ar(2). A avalia-
ção radiográfica deve sempre incluir o ab-
dome para comprovar a presença ou não
de ar no trato gastrintestinal (indício de fís-
tula distal)(2,6).
Nos tipos A e B há completa ausência
de gás no estômago e no restante do trato
gastrintestinal; entretanto, nos tipos C e D,
estes comumente aparecem distendidos
com ar. Podem ser confirmados pela intro- Figura 5. Fístula em H. Radiografia localizada da transição cérvico-torácica mostra comunicação traqueo-
esofágica (seta) por meio da passagem de contraste iodado para a traquéia (contorno de seta).
dução de um cateter com contraste radio-
paco até o nível da atresia. A sonda vai se
curvar ao chegar no fundo cego(2). ção radiológica é direcionada para a de- pequena quantidade de bário diluído pode
Estudos contrastados raramente são monstração da fístula, que tipicamente se ser usada, se necessário(2) (Figura 5).
necessários para confirmar o diagnóstico(6), orienta superiormente a partir do esôfago Deve ser feita a injeção do contraste por
porém, quando se suspeita do tipo E (fís- à traquéia. Contraste não-iônico hidrosso- meio de uma fina sonda com o paciente em
tula na forma H, sem atresia), a investiga- lúvel é preferível nestes casos, mas uma decúbito lateral. Depois de três ou quatro

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Atresia do trato gastrintestinal: avaliação por métodos de imagem

injeções neste nível, traciona-se a sonda afetando pele e mucosas)(13,15). Também


em 1 cm e repetem-se as injeções (deve ser pode estar associada à síndrome de atre-
feito este procedimento até o nível da fa- sias intestinais múltiplas. Esta associação
ringe). As fístulas traqueoesofágicas nem é rara e de origem familial, sendo de trans-
sempre estão abertas, sendo necessários, às missão autossômica recessiva(13).
vezes, a deglutição ou movimentos respi- Regurgitação e vômitos não biliosos são ’
ratórios para a sua melhor identificação(12). observados nas primeiros horas pós-nasci-
Os exames de imagem também são úteis mento(2,13,17), configurando sinais de obs-
para o diagnóstico de lesões associadas que trução.
são comuns em crianças com atresia de A atresia gástrica pode ser classificada
esôfago. Defeitos da linha mediana são os em três variações anatômicas(13,15,16):
mais freqüentes. As anomalias cardíacas Tipo A: correspondente a um diafragma
são observadas em cerca de um quarto des- (membrana) pré-pilórico (57%);
sas crianças, sendo as mais comuns o de- Tipo B: atresia sem intervalo entre os
feito de septo interventricular, um ducto ar- segmentos. Corresponde a um cordão fi-
terioso patente e a tetralogia de Fallot(6,7). broso sólido na região do canal pilórico
As anomalias do trato gastrintestinal (34%);
estão associadas em 16% dos casos de atre- Tipo C: atresia com intervalo. Consti-
sia de esôfago, consistindo em ânus imper- tui num piloro atrésico com um intervalo
furado, atresia de duodeno, má-rotação e entre estômago e duodeno (9%).
estenose congênita do esôfago distal (este Em cinco casos descritos por Al-Salem
último ocorre em 8% dos casos)(6). Defei- et al.(15), quatro apresentavam atresia piló- Figura 6. Radiografia simples em incidência frontal
tos no sistema músculo-esquelético tam- rica sem intervalo (tipo B) e apenas um e em ortostatismo revela bolha gástrica com nível
bém são comuns e incluem anomalias de possuía um diafragma pilórico duplo (tipo hidroaéreo e sem gás no resto do trato gastrintesti-
nal (sinal da bolha única) (seta). Apesar de sugesti-
corpo vertebral e defeitos de costelas e A), distintamente dos dados da literatura. vo de atresia gástrica, trata-se de um caso de signi-
extremidades(6). À ecografia pré-natal, freqüentemente ficativa estenose hipertrófica de piloro.
Malformações do trato geniturinário, observam-se poliidrâmnio e estômago fe-
como anormalidades ureterais, hipospádia, tal distendido(13). A ultra-sonografia do re-
rim em ferradura e agenesia renal também cém-nato confirma a distensão gástrica e cólon quase inexistente. As alças delgadas
podem ocorrer(6). Aproximadamente 10% demonstra piloro anormal obliterado, com distais estavam preenchidas por material
das crianças com atresia de esôfago têm a paredes finas, e duodeno normal. Pode calcificado que se assemelha a “massa de
síndrome VACTERL (acrônimo corres- demonstrar diretamente a anormalidade vidraceiro”. À radiografia aparecem como
pondente a defeitos nas Vértebras, malfor- pilórica, avalia a anatomia regional e revela alças intestinais preenchidas por tênue e
mações Anorretais, defeitos Cardíacos, fís- lesões associadas(13). uniforme calcificação, semelhante a um
tula Traqueo-Esofágica, anomalias Renais A radiografia simples do abdome reve- “estudo contrastado”. Este é um achado
e dos membros - Limbs)(2,6,7). la expressiva distensão do estômago (pro- patognomônico de atresias intestinais múl-
ximal à obstrução) e ausência de gás no in- tiplas(16) e está presente na maioria destes
ATRESIA GÁSTRICA testino delgado e no cólon, resultando na casos(15).
imagem de uma “única bolha gasosa”(2,3,
13,16)
Atresia gástrica corresponde à completa . Em ortostatismo, nível hidroaéreo ATRESIA DUODENAL
obstrução da saída do estômago. É condi- pode ser evidente e seu principal diagnós-
ção bastante rara e representa menos de tico diferencial dever ser feito com este- Atresia é a causa mais importante de
1% de todas as obstruções intestinais con- nose hipertrófica do piloro (Figura 6). obstrução duodenal e provavelmente seja
gênitas, estando limitada à região antro- O estudo contrastado é geralmente des- decorrente de falência na recanalização
pilórica(2,13–15). A sua incidência é estima- necessário para o diagnóstico(2,13). Quan- duodenal, aproximadamente entre a nona
da em um caso para 100.000 nascidos vi- do realizado, envidencia-se ausência da e a 11ª semanas de gestação(2,18,19). Tem in-
vos(2,13,16) e acredita-se que seja decorrente passagem do contraste pelo local de atre- cidência estimada de um caso entre 7.500
de uma interrupção no desenvolvimento sia, não contrastando o duodeno(13). Deve- a 10.000 nascidos vivos(4,7).
do órgão entre a quinta e a 12ª semana de mos enfatizar que este estudo também pode Diferentemente dos casos de atresia de
vida intra-uterina, por falha no processo de causar aspiração do meio de contraste e jejuno e do íleo, a atresia duodenal pare-
recanalização(14). não exclui outras causas de obstrução. ce não estar relacionada a acidentes vascu-
Pode ocorrer como uma condição iso- Em um caso publicado por Bass(16) ha- lares intra-uterinos(2,3). Uma das principais
lada ou associada a outras anormalidades. via atresia pilórica associada a atresia duo- diferenças entre atresia duodenal e outras
A mais comum é a epidermólise bolhosa denal, dilatação cística do duodeno, múl- atresias mais distais é a óbvia complexi-
(uma rara doença autossômica recessiva tiplas atresias jejunoileais (tipos I e II) e dade da má formação duodenal, sua alta

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Figueirêdo SS et al.

incidência na síndrome de Down (trissomia


do 21) e múltiplas anomalias sistêmicas as-
sociadas(20).
Estas anomalias associadas incluem

’
má-rotação do intestino delgado, cardio-
patia congênita, ânus imperfurado, atresia
do intestino delgado, atresia biliar, pân-
’

’
creas anular e anomalias renais(2). Malfor-
mação cardíaca congênita é a mais impor- ’
tante, sendo encontrada em aproximada-
mente 20% dos bebês com atresia duode-
nal(3,19). Defeitos do coxim endocárdico e
do canal atrioventricular são vistas em 80%
das crianças com síndrome de Down(20).
Vecchia et al.(18), ao estudarem 138 ca-
sos de atresia duodenal, evidenciaram as
seguintes associações: prematuridade
(46%), poliidrâmnio (33%), síndrome de
Down (24%), pâncreas anular (33%), má-
A B
rotação intestinal (28%) e veia porta pré-
Figura 7. Atresia duodenal. A: Radiografia simples revela distensão gástrica e duodenal, bem como ausên-
duodenal (7%). Outras anomalias foram cia de gás no restante do trato gastrintestinal (sinal da dupla bolha) (setas). B: Dois níveis hidroaéreos ad-
menos freqüentes. jacentes são vistos quando em ortostatismo (setas).
A apresentação clínica é caracterizada
por vômitos após a primeira alimentação,
aumentando progressivamente. Os vômi- O achado radiográfico clássico é o “si-
tos são geralmente biliosos, pois a obstru- nal da dupla bolha” (Figura 7), estando a
ção, em dois terços dos casos, localiza-se maior bolha no lado esquerdo (estômago)
abaixo da ampola hepatopancreática(2,3,7). e a outra, menor, à direita (duodeno pro-
Devido a este nível da obstrução, comu- ximal)(2,3,19). Este sinal é diagnóstico de
mente não se observa distensão abdomi- obstrução, mas não necessariamente de
nal(19), porém ocasionalmente o epigástrio atresia(20). Ausência de ar além da segun-
aparece distendido, resultante da dilatação da bolha é geralmente diagnóstico de atre-
’

gástrica(19). sia e neonatos, mostrando forte evidência


A mais útil classificação de atresia duo- de completa obstrução duodenal; raramen-
denal a divide em três tipos(19): te necessitam de outras avaliações radio-
Tipo I: diafragma (membrana) mucoso. gráficas(18).
A camada muscular está intacta nestes ca- O estudo contrastado não fornece infor-
sos. A porção do duodeno proximal à atre- mação adicional alguma e há risco poten-
sia está dilatada e a porção distal está es- cial de aspiração de bário. Tal estudo mos-
treitada; tra opacificação apenas do estômago e do
Tipo II: há um cordão fibroso interpos- duodeno(2,19) (Figura 8). Vômitos freqüen-
Figura 8. Seriografia do trato gastrintestinal supe-
to às extremidades do doudeno atrésico; tes podem resultar em ausência de ar no rior em incidência frontal revela distensão acentua-
Tipo III: há completa separação das ex- segmento obstruído(2). Nesses casos, pe- da do estômago e do duodeno, o qual finaliza em
tremidades do duodeno atrésico. Comu- quena quantidade de ar pode ser injetada fundo cego, configurando um padrão “em dupla bo-
lha” (seta).
mente associada a anomalias ductais bilia- pela sonda nasogástrica para confirmar o
res incomuns. diagnóstico(2).
A maioria dos casos de atresia é diag- À ecografia abdominal do recém-nato A sobrevivência de bebês com atresia
nosticada durante os sete e oito meses de podemos observar duodeno finalizando em de duodeno tem gradualmente aumentado
vida intra-uterina(19).O diagnóstico pré-na- fundo cego e peristalse gástrica aumenta- nos últimos anos, sendo que essa taxa está
tal deve ser suspeitado quando for eviden- da (peristaltismo de luta) (Figura 9). por volta de 95% na série avaliada por
ciado poliidrâmnio em conjunção a uma O diagnóstico diferencial deve ser feito Grosfeld e Rescorla(19). Causas comuns de
“dupla bolha”, preenchida por líquido no com pâncreas anular, bandas peritoneais, morte em bebês com atresia duodenal são
abdome fetal(2,4,19). O poliidrâmnio é ob- duplicação intestinal, cisto de colédoco e prematuridade com doença pulmonar ou
servado em cerca se 100% dos casos no ter- incisura angular proeminente causando associada a anomalias graves, particular-
ceiro trimestre(7). bidissecção do estômago(7). mente lesões cardíacas(20).

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Atresia do trato gastrintestinal: avaliação por métodos de imagem

’
Figura 9. Atresia duodenal. Ecografia do hipocôndrio direito de paciente com Figura 10. Esquema ilustrativo dos vários tipos de atresia intestinal. I, membrana
atresia duodenal revela líquido no interior do arco duodenal proximal, que ter- mucosa; II, cordão fibroso no intervalo; IIIa, com “gap” mesentérico em V; IIIb,
mina em fundo cego (setas). À avaliação foram evidenciadas ondas peristálti- atresia em “casca de maçã”; IV, atresias múltiplas (adaptado da referência 18).
cas vigorosas a montante deste ponto.

ATRESIA INTESTINAL Bebês com atresia jejunal proximal ini- ciada a defeito (“gap”) mesentérico em
(JEJUNOILEAL) ciam vômitos biliosos logo após o nasci- forma de V;
mento, enquanto aqueles com atresia mais Tipo IIIb: atresia com extenso defeito
Atresia é a mais comum causa de obs- distal podem não apresentar vômitos até mesentérico. O intestino distal enrola-se
trução intestinal congênita e corresponde várias horas ou dias pós-natal(20). em torno dos vasos mesentéricos, dando
a cerca de um terço de todos os casos de Acentuada distensão abdominal é ób- um aspecto em “casca de maçã”. Este seg-
obstrução intestinal nos recém-natos(20). via em 80% dos bebês com obstrução dis- mento distal é curto e de pequeno calibre;
Estima-se que seja duas vezes mais comum tal ao jejuno, e peristalse ativa de alças dis- Tipo IV: atresia múltipla do intestino
que atresia esofagiana e hérnia hiatal dia- tendidas pode ser visível. Esta distensão delgado.
fragmática. A distribuição é quase igual grave pode estar associada a desconforto À ecografia pré-natal, a atresia intesti-
entre os sexos(18,20) e a incidência é de um respiratório, por elevação do diafragma(20). nal é caracterizada por alças delgadas di-
entre 5.000 nascidos vivos(4). É importante enfatizar que os bebês latadas formando tipicamente um aspecto
Opostamente à atresia duodenal, pa- com abdome escavado ou de aspecto nor- de “tripla ou quádrupla bolha”. Estas apa-
cientes com atresia jejunoileal apresentam mal com vômitos biliosos após o parto tam- recem como áreas sonolucentes em toma-
poucos defeitos congênitos em outros sis- bém devem ser considerados como porta- das axiais do abdome. As estruturas colô-
temas(21). Combinações de atresia de alças dores de obstrução duodenal e jejunal pro- nicas estão normais(4).
delgadas e colônicas são raras. Aproxima- ximal até que se prove o contrário(20). O Poliidrâmnio ocorre em aproximada-
damente 20% das atresias jejunais são número de alças dilatadas aumenta quan- mente metade dos recém-nascidos com
múltiplas(3). to mais distal for a atresia, porém ocasio- atresia duodenal e jejunal proximal, no
Considera-se que as atresias jejunais e nalmente o segmento mais dilatado está entanto, é pouco observado em bebês nas-
ileais sejam resultantes de falha de recana- preenchido por líquido ou há um vólvulo, cidos com atresia ileal e colônica(20). Além
lização do estágio sólido do tubo intesti- dificultando a identificação do segmento de sua aplicação no diagnóstico de atre-
nal ou de insulto vascular durante o desen- mais dilatado(3,20). sias intestinais altas, a ecografia fornece in-
volvimento dessas estruturas(4). A classificação sugerida por Grosfeld et formação sobre anomalias cardíacas e do
Em estudo realizado por Heij et al.(22), al.(24) é uma boa opção para representar os sistema nervoso central(20,25). A chamada
observaram-se algumas diferenças entre as vários tipos de atresia (Figura 10): síndrome de má-rotação de múltiplos ór-
atresias jejunais e ileais. Esses autores en- Tipo I: diafragma intraluminal em con- gãos, que compreende situs inversus par-
contraram, nos casos de atresia jejunal, tigüidade com as camadas musculares dos cial, atresia duodenal e hérnia de Bochda-
uma incidência em ascenção, menor dura- segmentos distal e proximal; leck à direita, também pode ser diagnosti-
ção de gestação e menor peso ao nascimen- Tipo II: atresia com um segmento em cada pela ultra-sonografia(20).
to, bem como maior incidência em gêmeos forma de cordão fibroso entre as extremi- Portanto, o diagnóstico pré-natal obti-
bivitelinos. Também houve mais casos de dades em fundo cego do intestino; do na maior parte dos casos de atresia je-
atresias múltiplas e maior mortalidade no Tipo IIIa: atresia com completa separa- junoileal tem fornecido uma melhora no
grupo jejunal(22,23). ção das extremidades em fundo cego asso- acompanhamento clínico da gestante e

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Figueirêdo SS et al.

melhor suporte ao neonato, incluso na re-


solução de anomalias associadas(20).
À radiografia, estas atresias são carac-
terizadas pela presença de alças intestinais
delgadas dilatadas, freqüentemente asso-
ciadas a níveis hidroaéreos(25). Não há gás
na porção inferior do abdome nas atresias
jejunais(3). O aumento do conteúdo abdo-
minal é refletido em flancos distendidos e ’
hemicúpulas diafragmáticas elevadas(3). O
“sinal do segmento intestinal bulboso”,
representado por uma alça dilatada ime-
diatamente proximal ao local da atresia
(devido à impactação prolongada do con- ’
teúdo intestinal) com terminação curvilí-
nea pode ser evidente em alguns casos(7)
(Figuras 11, 12 e 13).
Nas atresias ileais a perfuração pode
A B
ocorrer in utero e resultar em peritonite
Figura 11. Radiografias simples em incidência frontal de pacientes com atresia jejunal proximal revelam o
meconial, com ou sem formação de cisto sinal da tripla bolha. A: Nota-se um grande segmento distendido por gás e terminado em fundo cego (seta).
meconial(3). Este tipo de perfuração intes- B: Em outro caso, a presença de sonda nasogástrica impediu distensão extrema do segmento imediata-
mente proximal à atresia (seta).
tinal pré-natal ocorre mais freqüentemen-
te nas atresias ileais e provavelmente está
relacionada à maior complacência e ao
melhor suprimento vascular jejunais com-
parativamente ao íleo(22,23). A presença de
calcificações intraperitoneais é indicativa
de peritonite meconial(18).
O enema opaco geralmente revela “mi-
crocólon” (por desuso durante a vida in-
tra-uterina), mostra que a obstrução está
limitada ao intestino delgado e pode mos-
trar porções de mecônio nos casos de sín-
drome do tampão meconial. Também re-
vela o posicionamento do ceco, alertando
para possíveis anomalias de fixação e ro-
tação intestinais associadas(18) (Figura 14).

ATRESIA COLÔNICA

Atresia colônica é causa rara de obstru- A B


ção intestinal neonatal e constitui 1,8% a Figura 12. Atresia jejunal distal. A: Radiografia simples em incidência frontal mostra acentuada distensão
15% de todas as atresias intestinais(26–29). gasosa de alças intestinais delgadas e ausência de gás no reto (padrão obstrutivo). B: Há muitas alças dis-
tendidas com níveis hidroaéreos neste segundo caso.
Apresenta incidência de um em 66.000
nascidos vivos(4). Há predominância no
sexo masculino(17,18,30), e correlação gené- principal causa de todos os tipos de atre- Tipo IIIa: contém extremidades em fun-
tica tem sido observada(17). Ocasionalmen- sia intestinal e colônica(17,18,27,31). do cego separadas por um defeito mesoco-
te pode ocorrer em associação com atresia O tipo de atresia colônica também pode lônico em V;
múltipla de alças delgadas(26,27), porém ser indicado pela classificação das atresias Tipo IIIb: atresia em casca de maçã;
múltiplas atresias de cólon são raras(20). intestinais prosposta por Grosfeld et al.(24): Tipo IV: com múltiplas atresias.
Insulto vascular no intestino fetal devi- Tipo I: representa atresia mucosa (mem- A atresia tipo IIIa é a mais freqüente
do a vólvulo, intussuscepção, hérnia inter- branosa) com parede intestinal e mesenté- (80%), seguida pelos tipos I e II(17,18,30,32).
na ou estrangulamento de gastrosquise/ rio intactos; As atresias tipo IIIa são geralmente obser-
onfalocele por defeito abdominal estreito Tipo II: possui extremidades em fundo vadas próximas à flexura esplênica(17,18,
30,32)
tem sido universalmente aceito como a cego separadas por um cordão fibroso; , enquanto as atresias tipo I ocorrem

Radiol Bras 2005;38(2):141–150 147


Atresia do trato gastrintestinal: avaliação por métodos de imagem

A B C
Figura 13. Atresia ileal. A: Radiografia simples evidencia acentuada distensão de alças delgadas. B: Em outro paciente, 12 horas após a utilização de meio de
contraste iodado, evidencia-se acúmulo do contraste nas alças distendidas, sem passagem para os cólons. C: O enema opaco revela microcólon (por desuso
durante a vida intra-uterina) (setas).

se proximais à flexura esplênica (ascenden- latado, se mantido por uma valva ileocecal
te ou transverso) em oito casos e no sigmói- competente, o deixa sujeito a rupturas(3).
de em um caso. As atresias do tipo I foram Deve-se enfatizar que uma radiografia
observadas em várias localizações (do ceco sugerindo obstrução alta (proximal) não
ao sigmóide) e as do tipo II eram proximais torna o enema desnecessário, bem como
à flexura hepática. um enema demonstrando atresia colônica
Entre as raras anomalias associadas, a não exclui a possibilidade de atresias pro-
gastrosquise e as atresias intestinais múlti- ximais associadas, seja no cólon ou intes-
plas são as mais comuns e ocorrem em 10% tino delgado(17). Também a ausência de al-
e 22% dos casos, respectivamente(3,17). ças intestinais delgadas dilatadas não des-
’ Crianças com atresia colônica mostram carta obstrução colônica, nos casos de vál-
típicas características clínicas de obstrução vula ileocecal competente(27).
intestinal baixa: distensão de alças, vômi- O enema baritado demonstra microcó-
tos e falha na eliminação meconial(18,26,27). lon finalizado em fundo cego(26,27) e, assim,
O vômito geralmente é bilioso, porém pode a localização do segmento distal atrési-
ser inicialmente claro ou também estar co(3,17). Em casos de diagnóstico tardio,
presente em pacientes com obstrução pro- pode haver pneumoperitônio causado pela
ximal associada localizada acima da papila perfuração de segmento dilatado proximal
Figura 14. Enema opaco revela atresia ileal com maior do duodeno(26). ao nível atrésico(26,27).
microcólon associado a vício de rotação. O ceco Embora o ultra-som pré-natal possa Doença de Hirschsprung, síndrome do
encontra-se próximo à linha mediana e ao nível da revelar um diagnóstico sugestivo de obstru- tampão meconial e íleo meconial também
vértebra L3. Nota-se alça adjacente bastante disten-
dida por gás (sinal do segmento intestinal bulboso) ção intestinal, sua capacidade para excluir causam obstrução simulando atresia ileal
(seta). má formação colônica é limitada(17,18,33). ou colônica(20). Felizmente, uma distinção
Alças delgadas dilatadas poderão ser vis- pode ser efetuada com enema na maioria
em qualquer nível colônico(17). Devido à tas à ecografia; porém, uma notável quan- dos casos e o diagnóstico diferencial em
freqüente associação das atresias tipo I com tidade de casos desta atresia permanece recém-natos com obstrução intestinal bai-
múltiplas atresias do intestino delgado, não dectectada por este método(18). xa pode ser esclarecida(20).
torna-se necessária uma cuidadosa avalia- Radiografias simples mostram múltiplas
ção de todo o trato gastrintestinal(17). alças intestinais distendidas com níveis ATRESIA RETAL
Em estudo desenvolvido por Karnak et hidroaéreos(17,26–28), e freqüentemente há
al.(17), avaliando 14 casos de atresia colô- um segmento grosseiramente ectasiado, Atresia é uma anomalia anorretal extre-
nica, os tipos encontrados foram: IIIa em correspondente ao cólon proximal dilata- mamente rara, correspondendo a 1,5% a
nove casos, I em seis casos e II em três ca- do, que pode apresentar um padrão mo- 2% das malformações neste nível(34). A ra-
sos(17). As atresias do tipo IIIa localizavam- teado de gás e fezes(17,28). Este segmento di- zão masculino:feminino é de 7:3(35,36).

148 Radiol Bras 2005;38(2):141–150


Figueirêdo SS et al.

A sua exata patogênese é desconheci- 15 mm indica lesão que requer abordagem CONCLUSÃO
da, mas a maioria dos autores postula que com colostomia associada(35), porém esta
seja anomalia adquirida decorrente de análise pela ecografia é limitada. Acreditamos que uma anamnese bem
trombose intravascular secundária a infec- A tomografia computadorizada e a res- direcionada, associada a diagnósticos pre-
ção intra-uterina(34,36,37). sonância magnética são modalidades de coces ou forte evidência de atresia em eco-
As anomalias anorretais estão associa- escolha, nestes casos, porque podem aju- grafias pré-natais, servirá de subsídio va-
das a malformações de vértebras, rins, esô- dar a determinar a presença dos músculos lioso na abordagem pós-natal imediata,
fago ou traquéia em quase 40% dos casos. puborretais e do esfíncter externo, bem mantendo baixas taxas de mortalidade e
Estas podem fazer parte da síndrome VAC- como topografar o saco retal e anomalias morbidade, conseguidas atualmente.
TERL(35) e, portanto, também devem ser vertebrais associadas(35,39). A maioria dos casos de atresias altas
investigadas. (esofágica, gástrica, duodenal e jejunal
Na atresia retal o ânus está aberto, po- proximal) é discernível à radiografia sim-
rém um segmento variável do reto (proxi- ples, e estudos contrastados geralmente
mal ao ânus) é atrésico e não associado a são desnecessários. Nos casos de obstru-
fístulas(35). Apesar do ânus ser bem desen- ção distal há muitas alças dilatadas e a dis-
volvido, também termina em fundo cego tensão abdominal é marcante, tornando os
1,5 a 3 cm cranial à margem anal. O saco estudos contrastados necessários para di-
retal em fundo cego geralmente acaba pró- ferenciar atresias ileais e colônicas de ou-
ximo ou dentro do diafragma pélvico(38). tras causas de obstrução. Outros métodos
Geralmente não há comunicação fistu- de imagem (ultra-sonografia, tomografia
losa com o trato urinário, nem há fixação computadorizada, ressonância magnética)
à uretra ou bexiga(37,38). Usualmente os têm aplicações muito específicas em alguns
componentes esfincterianos são anatomi- casos de atresia do trato gastrintestinal,
camente desenvolvidos em seus níveis ha- sendo ocasionalmente utilizados.
bituais(37,38) e os feixes puborretais circun- REFERÊNCIAS
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Dorairajan(36) classificou casos de atre- 2. Berrocal T, Torres I, Gutiérrez J, Prieto C, del Hoyo
sia retal em quatro tipos: ML, Lamas M. Congenital anomalies of the upper
Tipo 1: atresia com curto intervalo (< 2 gastrointestinal tract. RadioGraphics 1999;19:
cm), com ou sem banda fibrosa interposta Figura 15. Atresia retal. Radiografia do abdome em 855–72.
perfil demonstra bolsa retal proximal em fundo cego 3. Hernanz-Schulman M. Imaging of neonatal gas-
(mais comum); preenchida por gás (seta). Um marcador metálico si- trointestinal obstruction. Radiol Clin North Am
Tipo 2: atresia com longo intervalo; naliza a topografia anal. 1999;37:1163–86.
Tipo 3: atresia tipo diafragmático (mem-
branoso);
Tipo 4: estenose retal com comprimento
variável do segmento estenótico (não cons-
titui atresia verdadeira).
Radiologicamente, a identificação da
chamada linha M é usada para classificar
lesões como altas, intermediárias ou bai-
xas, dependendo do posicionamento da ’
’

bolsa retal proximal. Esta linha passa ho-


rizontalmente na junção do terço inferior
com os dois terços superiores do ísquio e
representa o nível do músculo puborre-
tal(35). Uma aparência normal do ânus e do
períneo pode retardar o diagnóstico até
que massiva distensão abdominal ocorra(38)
(Figuras 15 e 16).
A ecografia é útil para delinear a distân-
cia do saco retal até o períneo. Distância A B
inferior a 10 mm indica baixa posição, que Figura 16. Colonogramas distais em perfil mostram atresia retal. A: Bolsa retal proximal (seta) preenchida
por meio de contraste, distando cerca de 4 cm da borda anal, sinalizada por marcador metálico. B: Outro
pode ser seguramente tratada com anoplas- caso revela a bolsa proximal bastante distendida, retendo o meio de contraste e distando cerca de 1 cm do
tia perineal simples. Distância superior a ânus (seta).

Radiol Bras 2005;38(2):141–150 149


Atresia do trato gastrintestinal: avaliação por métodos de imagem

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