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RESUMO
Foram analisadas33 amostrasde fezes de cães com diarréia (n=25) e sem diarréia (n=8), de variadas idades e
raças, de ambos os sexos, a fim de se determinar a ocorrência de agentesvirais considerados causadoresda
gastroenterite no cão, suaspossíveis associaçõese a participação no complexo gastroenterite canina, buscando
relacionar a etiologia viral com o histórico de vacinação, além do exame clínico dos animais. Utilizou-se
microscopia eletrônica nas 33 amostras fecais e o teste EUSA em 71 amostraspara detecção de antígeno de
rotavírus e adenovírus. Partículas viTais foram detectadasem 75,8% (25/33) do total de amostrasdiarréicas ou
não, examinadas à rnicroscopia eletrônica. Em 44% dos espécimespositivos para vírus (11/25), o vírus-like
tipo 1 foi o mais detectado nas amostras fecais, seguido pelo parvovírus (24%). A ocorrência de diarréia com
sangueesteveassociadaa 90,9% dos agentesdetectados,variando em freqüência de 25% a 100% dos casos.
Palavras-Chaves:
Cão,gastroenterite,
diarréia.
ABSTRACT
Fecal samplesfrom both diarrheic (n=25) and non-diarrheic (n=8) dogs of both sexes,with va1)'ing ages and
breeds, were examined by electronic microscopy (EM) in order to detennine candidate viTal pathogens which
would be associated with gastroenteritis, particularly the canine gastroenteritis complexo in an attempt to
correlate vira I etiology and clinical and vaccination history. In addition to EM, 71 stool samples were tested
by ELISA to detect either rotavirus or adenovirus antigens. ViTal particles could be visualized by EM in 25
(75.8%) of lhe 33 samples. Type-1 virus-like structures and parvoviruses were frequently detected,accounting
for 44% and 36% of lhe virus-positive preparations. Bloody diarrhea was noted in 90.9% of dogs that were
excreting viTal particles.
Keywords:Dog. gastroenteritis.diarrhea
531
Homem et alo
532
Arq. Bras. Med. VeloZoOlec.,v.51,n.6, p.531-536,1999.
cães cujas amostras fecais foram examinadas pela excretaram-nasaté o sexto dia de diarréia, quando
microscopia eletrônica, a maioria era de diarréicos foram colhidas asamostrasfecais.
não vacinados (51,5%, 17/33) em relação aos
animais sem diarréia não vacinados (21,2%, 7/33) Todos os cães positivos para parvovírus não tinham
(Tab. 1). sido vacinados ou estavam sob esquema de
vacinação incompleto ou desatualizado contra a
Ocorreram 75,8% de animais positivos para vírus parvovirose. O parvo vírus, mesmo com vacinas
(Tab. 2), desses,24% representadospor partículas disponíveis no mercado, ainda é o vírus de maior
compatíveis com parvovírus (Fig. I), 4% por destaque no quadro da etiologia da gastroenterite
partículas de rotavírus (Fig. 3), 4% compatíveis viral no cão e o mais patogênico quanto à
com paramixovírus (Fig. 2) em associação com o sintomatologia clínica que desencadeia nos
parvovírus, 8% por coronavirus-/ike (Fig. 4), 44% animais. Constatou-se que a grande maioria dos
por partículas virus-/ike tipo 1 (Fig. 5), 12% cães não estava com o esquemade vacinação
compatíveis com a associaçãodo parvovírus com o completo atualizado (93,9%). Ainda nos dias de
virus-/ike tipo 1 e 4% por partículas virus-/ike tipo hoje procura-se estudar o papel das vacinas e a
2 (Fig. 6). Classificaram-secomo vinIs-fite tipos 1 proteção imunológica contra as afecções virais que
e 2 as partículas de aspecto morfológico bastante afetam o trato gastroentérico do cão, tanto contra a
sugestivas de vírus, em função da homogeneidade parvovirose (Harrenstein et ai., 1997; Larson &
das estruturas internas e contorno, da aproximação Schultz, 1997; McCaw et ai., 1997; Yule et ai.,
entre os valores de diâmetro, sua repetitividade e 1997) como contra a cinomose (Ek-Kommonen et
predomínio da ocorrência do tipo 1 nos animais ai., 1997). É importante citar que apenas36,4% do
diarréicos (28%). total de animais estavam em dia com o esquemade
vermifugação, segundo os proprietários (Tab. 2), o
Os agentes virais mais comuns nos dois primeiros que é insuficiente na prevenção de parasitos
dias de manifestação da diarréia (Tab. 3) foram o gastrointestinais. Pode-se considerar tal tendência
parvovírus (25%) e o virus-like tipo I (18,7%). como um reflexo do que ocorre na população de
Existe, aparentemente,uma excreção prolongada cães, o que chega inclusive a promover maior
das partículas de vinls-like, pois três dos sete predisposição dos animais a serem acometidos por
animais (42,3%) que apresentaramtais partículas viroses entéricas (Evermann et ai., 1988; Mahl,
1994).
Tabela 1. Ocorrência de gastroenterite viral em cães segundo a idade, o estado vacinal e a presença de diarréia.
Vacinados
Não vacinados
Idade (Meses) VP VCHL VCHLPCR
C S C S C S C S
1-3 2* 2* 8 5
4-5 2* 1* 4
>6 1* 1 5 2
C = com diarréia; S = sem diarréia; *esquema de vacinação incompleto;
VP = vacina contra parvovirose; VCHL = vacina contra cinomose, hepatite canina e leptospirose; VCHLPCR = vacina contra
cinomose, hepatite canina, leptospirose, parvovirose, coronavirose e raiva.
Tabela 2. Identificação dos agentes causadores de gastroenterite canina pela microscopia eletrônica em cães
com e sem diarréia
Com diarréia Sem diarréia
Agente Vacinação Não vacinado ou Vacinação Não vacinado ou
atualizada vacinação desatualizada atualizada vacinação desatualizada
Parvovírus 6*
Rotavírus 1*
Paramixovírus + Parvovírus 1*
Coronavirus-like 2* 1*
Parvovirus + Type 1 Virus-like 2
Type 1 Virus-like 2 5*
Type 2 Virus-like 1* 4*
Fagos 2
Bactéria 1 1* 2
Negativo 2
* não vermifugado ou vermifugação desatualizada
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Homem et ai.
Fi
1;'gura I. Partículas de parvovírus; Figura 2. Partículas de paramixovírus; Figura 3. Partículas de
ro
rvtavírus; Figura 4. Partículas coroIlClI..iTlls-like;Figura 5. Partículas \'irl/s-like tipo I; Figura 6. Partículas
virl/s-like tipo 2
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Arq. Bras. Med. VetoZootec.,v.51, n.6, p.531-536,1999.
Tabela 3. Agentes detectados pela microscopia eletrônica segundo o dia da coleta de material fecal no
período de diarréia.
Dias após o aparecimento da diarréia (dias)
Agente
1° 2° 3° 4° 5° 6°
Parvovírus 1 3 1 1
Rotavírus 1
Paramixovírus + Parvovírus 1
Coronavirus-like 1 1
Parvovirus + Type 1 Virus-like 1 1
Type 1 Virus-like 1 2 1 3
Type 2 Virus-like 1
Fagos 1 1
Bactéria 1
Negativo 1 1
Em relação às partículas classificadas neste estudo presente em 28% dos animais diarréicos (n=7) e em
como virus-like. tem-se a citar sua freqUência em 50% dos não diarréicos (n=4). além de apresentar-
li amostras. O seu aspecto morfológico é se associado com parvovfrus em três casos (12%).
indicativo de partícula viral e há o falo de estar Chama a atenção o fato de 100% das amostras
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Homem el ai.
positivas para virus.like tipo t e sua associação Veterinárias São Francisco e Clinvetam em Belém.
com parvovrrus serem provenientes de animais do pela atençãoe suporte.
Estado do Pará (n=t I), e nenhumá do Estado de
São Paulo, embora tenham sido avaliadas somente
seis amostras provenientes de São Paulo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Confinnado tratar-se de vrrus, supõe-se não ser
dotado de caráter enteropatogênico. Ressalte-se, APPEL. M.J.G. Does canine coronavirus augment lhe effects of
a ~ub~equentparvovirus infeclion? Velo Med.. v.83. p.360-
ainda, que a hipertennia ocorreu sobretudo em 45%
366. 19M8.
dos cães positivos para tal agente, o que não BARTH, O.M. Estudos sobre a conlrastação negativa de
ocorreu nos casos dos demais vrrus. Quando a suspensõesvirais. Rev. Bras. Biol.. v.44. p.70-80. 1984.
amostra (código de número 23) foi inoculada em CHAPPUIS. G. Étiopathogénie des affections digestives
d'origine viraIe chez le chien. Ric. Méd. Vil., v.IS8, p.IO7-
cultura celular LLCMK2 para se detectar algum
113,1982.
efeito citopatogenico, houve leve alteração suspeita EK-KOMMONEN, C., SIHVONEN, L., PEKKANEN, K. et aI.
na primeira inoculação, mas não se observou Outbreak of canine distemper in vaccinated dogs in Finland.
qualquer resultado significativo na segunda VeloRec., v.141, p.380-383, 1997.
EVERMANN, J.F.. Mc KEIRMAN, A.J., EUGSTER. A.K. et ai.
passagem em cultivo celular (mesmas células).
Update on canine coronavirus infections and inleraclions
Falta detenninar a famma e o gênero virais e, em with other enteric pathogens of lhe doS. Compan. Anim.
liltima análise, saber se não se trata de um vrrus PrucI.(Cunint Pracl.), v.19. p.6-122. 1988.
canino ainda não descrito, tendo como base o atual EVERMANN. J.F., Mc KEIRMAN. A.J.. SMITH. A.W. et ai.
Isolation and identificalion of caliciviruses from dogs with
conhecimento da etiologia vira! da gastroenterite,
enteric infections. Am. J. Vtl. Res.,v.46. p.2 I 8-220, 1985.
abrindo-se, então, espaço para estudos ulteriores, A..EWETT, T.H., BRYDEN. A.S.. DAVIES, H. Diagnostic
inclusive para detenninar sua possrvel importância electron microscopy of faeces. I. The viral flora of faeces as
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regional.
614. 1974.
A..EWETT, T.H.. ANAS. C.F.. AVENDANO, L.F. el ai.
Quanto às partfculas ~';rl,.~-/;ketipo 2, () aspecto Compuralive evn!uation of lhe WHO al1d DAKOPATTS
morfológico, seu tamanho e contorno são bastante enzyme-linked immunoassay kits for lhe rotavirus detection.
sugestivos de tratar-se, eventualmente, de um Buli. World Health Org., v.67, p.369-374. 1989.
HARRENSTEIN, L.A.. MUNSON, L., RAMSA Y, E.C. et ai.
ca/icivirus-/ike. Uma série de estudos
Antibody responses of red wolves to canine distemper virus
cómplementaresdeve ser efetuadaa fim de se and canine parvovirus vaccination. J. Wildl. Dis., v.33,
confinnar tal hipótese. Em caso positivo, seria p.600-60S,1997.
muito próximo ao calicivfrus relatado nos felinos, LARSON, L.J., SCHULTZ, R.D. Comparison of seJectedcanine
vaccine for their ability to induce protective immunity
podendo-se realizar, por exemplo, uma prova de against canine parvovirus infection. Am. J. Veto Res., v.S8,
imunomicroscopia eletrônica com anti-soro p.360-3, 1997.
especffico para o calicivírus (Evennann et aI., McCAW, D.L., TATE, D., DUBOVI, E.J. et aI. Early protection
of puppies against canine parvovirus: a comparison of two
1985). vaccines. J. Am. Anim. Ho.,p. Assoc., v.33, p.244-50, 1997.
MAHL, P. As gastroenterites do cão. Cães Gatos, v.9, p.24,
1994.
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Detection of canine parvovirus in wolves from Italy. J.
Wildl. Dis.. v.33, p.628-631, 1997.
Ao Manoel do Canno Soares, Joana D' Arc MECH, L.D., KURTZ, H.J., GOYAL, S. Death of a wild wolf
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Moura, Antônio Miranda e Antônia dos Santos 322, 1997.
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do Hospital Veterinário da FCAP; às Clínicas
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