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1 Doutoranda em Direito Civil pela UFRGS, mestre em Direito Civil pela UFRGS,
professora de Direito Romano e História do Direito das Faculdades São Judas Tadeu
de Porto Alegre, Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre e professora substituta por
concurso público da Faculdade de Direito da UFRGS.
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existe um modo de regular a sucessão sem o pai morto ou com capitis de-
de quem faleceu intestato, isso é, minutio, bisnetos na mesma situação,
sem testamento, ou com testamento a mulher in manus. Assim, era o pa-
inválido. É, então, uma forma rentesco agnatício que determinava a
supletiva, subordinada, excepcional, e qualidade de heredes. Para estes sui
não se baseia nos vínculos de sangue, heredes não havia a possibilidade de
mas nas relações de agnação e, ainda, renunciar a herança, que adquiriam
gentílicas. Hoje chamamos esta automaticamente. Se faltasse o he-
modalidade de “sucessão legítima” redes sui, é chamado o agnado mais
(Alves, 2007, p. 742): próximo. A mulher sui iuris, ao fale-
cer, somente tem como heredes legi-
Somente o cidadão romano é que, timi os agnados próximos e, na falta
com sua morte, dá ensejo à abertura deles, os gentiles, porque a mulher
da sucessão ab intestato, uma vez
que essa sucessão foi organizada
nunca poderia ser pater familias, e
pelo ius ciuile, cujos preceitos só se por isso não poderia ter heredes sui, e
aplicavam aos cidadãos romanos. A assim o agnado é o primeiro a ser cha-
sucessão ab intestato dos estrangeiros mado a sucedê-la ab intestato (Kaser,
é disciplinada pela sua lei nacional, 1999, p. 374).
e não pelo direito romano. Por outro O sistema do ius civile era muito
lado, a princípio, além de cidadão
romano, é necessário que o de cuius
restrito e a prática da valorização
se sui iuris; a partir do século IV do parentesco cognatício foi sendo
d.C., começa-se a admitir a sucessão respeitada. Assim, a reação do pretor
ab intestato do filius familias (pessoa ao sistema da sucessão ab intestato da
alieni iuris, no tocante ao pecúlio, Lei das XII Tábuas se fez mediante
e Justiniano, na Novela CXVIII, as bonorum possessiones ab intestato
admitindo que o filius familias possa
ter herdeiros ab intestato, o equipara,
(Kaser, 1999, p. 375). Num primeiro
nesse particular, ao paterfamilias. momento, as bonorum possessios
não eram protegidas contra o heredes
Como já foi visto, preconiza a Lei legitimus que recuperava a herança
das XII Tábuas: “Se morre intestado pelas ações do ius civile, mas, pouco
quem carece de um ‘herdeiro seu’, a pouco, passaram a ser concedidas
tenha a herança o agnado mais próxi- cum re, isso é, protegidas contra os
mo. Se não existe agnado, recorram a herdeiros legítimos. Pessoas a quem
herança aos gentis”. Sui Heredes são eram deferidas a bonorum possessio:
aqueles que estavam sob o pátrio po- 1. unde liberi: os sui heredes do ius
der ou sob a manus do de cujus: os civile e mais os filhos emancipados,
filhos vivos, inclusive adotivos e não desde que tivessem nascido de
emancipados, seus netos caso tives- justas núpcias, não estivessem sob
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Referências