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Engenharia da Qualidade
Sumário
CAPÍTULO 1 – Afinal, o que é a qualidade? como se entende a qualidade hoje?...................05
Introdução.....................................................................................................................05
Síntese...........................................................................................................................20
Referências Bibliográficas.................................................................................................21
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Capítulo 1
Afinal, o que é a qualidade? como
se entende a qualidade hoje?
Introdução
Prezado estudante, no mundo todo, a busca pela qualidade tem representado um sinônimo
de evolução e posicionamento dos produtos e serviços, em uma contínua melhoria afim de se
adequar às novas realidades do mercado, sem desconhecer o relacionamento entre os fatores
envolvidos. Entenda que isso ocorre porque a qualidade está muito longe de ser apenas um con-
ceito: ela é uma concepção que muda conforme o desenvolvimento social, cultural, econômico
e ambiental dos núcleos de pessoas.
Tenha em mente que a qualidade vai muito além do controle, inspeção e verificação final na
saída de uma linha de produção. Atualmente, seu conceito está inserido tanto na filosofia das
empresas e em seus modelos de gestão, quanto na forma de perceber os produtos e serviços e
no desenvolvimento dos processos, permitindo, assim, um conhecimento maior dos setores pro-
dutivos e o desenvolvimento de novos produtos.
E você, já percebeu as mudanças da comunicação, dos produtos e dos serviços nos últimos 10
anos? E nos últimos 5? Percebeu os produtos que ganham multifuncionalidade ou um novo design?
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Engenharia da Qualidade
Dessa forma, de maneira conjunta com a inserção dos produtos e serviços, perceba que os ce-
nários para o gerenciamento da qualidade são móveis e de contínua evolução, porém sempre
na procura de dois fatores básicos: o aprimoramento do processo produtivo e, principalmente,
a satisfação do cliente.
Mas, o que é a qualidade? Como ela foi definida ao longo do tempo? Essas e outras questões,
como algumas definições de qualidade, você estudará no próximo tópico.
A norma ISO 9000:2015 define a qualidade como o atendimento dos requisitos do cliente, onde
menciona algumas das abordagens citadas anteriormente, como a adequação ao uso (Jurán), a
menor perda causada à sociedade (Taguchi) e uma menor variabilidade (Deming).
Aqui, entenda que autores mais recentes explicam a qualidade de acordo com a relação com
o seu gerenciamento, a partir do ponto de vista (usuário, produto, processo) e do contexto em
que se desenvolvem. Veja, por exemplo, a definição de Campos 1999, p. 2), que afirma que um
produto ou serviço de qualidade é “aquele que atende perfeitamente, e de forma confiável, ac-
cessível, segura e no tempo certo, as necessidades do cliente”. Isnard. J. et al (2005, p.17), por
sua vez, define que “a qualidade abarca um conceito espontâneo e intrínseco a qualquer situa-
ção de uso de algo tangível, na prestação de um serviço ou na percepção referente a produtos
de natureza intelectual, artística, emocional ou vivencial”. Já Rodrigues (2010, p. 11) descreve a
qualidade como “aquilo que o cliente entende ou percebe como valor, diante do seu socialmente
aprendido, do mercado, da sociedade e das tecnologias disponíveis”. Por fim, Pearson (2011)
define o conceito ligado a três fatores. Confira:
• o aumento da produtividade;
Para o autor, a conjunção desses fatores conduziria a uma produção mais efetiva e com menor
custo, possuindo atributos ou caraterísticas procuradas pelos clientes.
Hoje, a qualidade está longe de ficar restrita a apenas um departamento: ela é o eixo central
das caraterísticas inerentes aos processos, contribuindo para o sucesso da organização. Nesse
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Engenharia da Qualidade
sentido, é possível dizer que todos os funcionários da empresa devem conhecer, compreender e
se responsabilizar pelos controles de qualidade ao longo do processo e pelo sua aplicação na
realização de suas tarefas e projetos, sempre na busca da constante melhoria da organização. A
seguir, discutiremos mais profundamente as origens da qualidade e sua história.
Com a revolução mercantil, a partir do século XVI tornou-se possível o intercâmbio de produtos
entre as diversas sociedades da época. De acordo com Rodrigues (2010), nesse cenário cada
artesão tinha um diferencial em seus produtos, traduzido em atributos específicos, pelos quais
outras sociedades tinham preferência, pagando por seus produtos. Nesse ponto, compreenda
que a qualidade pode ser percebida como aqueles atributos e valores que são percebidos pelo
cliente, pelos quais está disposto a pagar.
Já no fim do século XIX, com a revolução industrial e o surgimento das máquinas a vapor, a
indústria passou a ter um crescimento da sua capacidade produtiva. Por esse motivo, a produ-
ção passou de experientes artesãos, que desempenhavam seu oficio ao longo do tempo, para
operários que realizavam tarefas muito simples e repetitivas. Assim, a qualidade começou a ser
percebida como a procura da padronização e uniformidade dos produtos e do processo. Fre-
derick Winslow Taylor (1919) foi o precursor da divisão do trabalho, introduzindo conceitos e
técnicas no meio produtivo para viabilizar a produção em escala a partir desse método, onde
as inspeções do processo e do produto final atestavam sua qualidade, separando aqueles que
não possuíam as características ideais. Perceba que, assim, criou-se os primeiros inspetores da
qualidade, que eram responsáveis pelo cumprimento dos aspectos finais do produto. Essa ação
foi tão importante que ficou conhecida como a “Era das Inspeções”, onde o inspetor possuía um
gabarito padrão de conformidade para comparar com as peças produzidas ou, em alguns casos,
com as amostras do processo. Se por acaso defeito fosse encontrado, todo o lote de peças de-
veria passar por uma inspeção. Já com Henry Ford na produção da Ford Motor Company foram
introduzidas as linhas de montagem móveis, que dividiu operações complexas em procedimentos
simples num sistema de produção em massa.
VOCÊ O CONHECE?
O engenheiro mecânico norte-americano Frederick Winslow Taylor (1856 -1915) co-
meçou sua carreira como operário na siderúrgica Midavale Steel Co. logo tornando-se
gerente da empresa. Taylor é considerado o “pai da produtividade” por seu estudo de
tempos e movimentos, que focava no aumento da produtividade baseada na racionali-
zação da produção e a motivação econômica do trabalhador. Suas principais contribui-
ções são: a análise cientifica dos processos produtivos e o estudo de tempos e métodos.
As mudanças que ocorreram após esse período obrigaram as empresas a enfrentarem os mer-
cados, que resultou na busca de vantagens competitivas na fabricação dos produtos. Mas como
foi esse desenvolvimento?
Para um melhor entendimento, Garvin (2002) propõe uma classificação em períodos ou “Eras da
Qualidade”, o que facilita a compreensão do contexto histórico e evolução desse conceito, tanto
no oriente quanto no ocidente. Vamos lá?
• A Era da Inspeção
Esse período vai desde a revolução mercantil, nos primórdios da era industrial, até metade
do século XIX, quando os artesãos elaboravam elementos tradicionais e eram reconhecidos
por seu trabalho e caraterísticas de seus produtos. Nessa etapa, quando o artesão estava
presente em todas as fases do processo, a inspeção era realizada por aquele que era
considerado o mais experiente e segundo critérios estabelecidos de acordo com as
características do produto. Caso as peças cumprissem com os requisitos pré-definidos,
o artesão imprimia seu selo ou marca de elaboração, obtendo, assim, boa reputação e
reconhecimento entre seus clientes.
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Engenharia da Qualidade
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, as principais potências estavam com seus
parques fabris destruídos. Os Estados Unidos, por meio do plano Marshall, expandiram
seus modelos de gestão e com eles suas corporações ao longo do mundo. No Japão, por
sua vez, W. Edwards Deming e Joseph M. Jurán participaram de maneira representativa
na recuperação do país.
VOCÊ SABIA?
Você sabe o que foi o Plano Marshall e por que ele foi importante para o desenvolvi-
mento da qualidade? Segundo Rodrigues (2010), ele surge como um programa dos
Estados Unidos para a recuperação dos países europeus no período pós guerra, quan-
do ele viram crescer sua economia como consequência da adoção das técnicas admi-
nistrativas norte-americanas. Entre os professionais que participaram da recuperação
do Japão, estavam W. Edwards Deming e Joseph M Jurán, que atuaram nas técnicas de
controle da produção e na instituição de modelos de gestão da qualidade.
Em 1950, Deming (1990) definiu uma nova Era no controle da qualidade, quando ela
passou a ser vista como um processo de melhoria contínua, baseada no conhecimento
e desenvolvimento constante das tarefas. Considerado o filósofo da qualidade, Deming
acreditava que, ao serem analisadas pelas ferramentas estatísticas, as atividades produtivas
gerariam, como resultados, decisões organizacionais baseadas em fatos (dados verificáveis),
deixando de lado impressões e declarações (ISNARD et. al., 2005; RODRIGUES, 2010).
Nesse sentido, ele toma as ideias de Sthewhart sobre as causas das variações da qualidade
e propõe uma abordagem de gestão de 14 pontos que, baseado na evidência estatística,
reduz as oscilações nos processos. O ciclo conhecido como PDCA (Plan, Do, Check,
Act, em português Planejar, Fazer, Verificar, Agir) é um ponto de partida inquestionável
nos planos de melhoria. Nesse cenário, o prêmio Deming foi criado em 1951 como
reconhecimento ao aporte significativo para o desenvolvimento do processo de qualidade.
Joseph Jurán (1992), por sua vez, introduziu uma nova forma de ver a qualidade além
do controle estatístico e os cálculos de probabilidade, passando a ter uma visão geral
da organização, onde a alta gerência e o treinamento seriam os componentes principais
de um processo de qualidade. Entre suas principais contribuições estão a trilogia da
qualidade, que refere-se ao Planejamento, Melhoria e Controle como aspectos básicos
no aperfeiçoamento das organizações e no estudo dos custos no processo. Junto com
Armand Feigenbaum, acreditava que o controle de qualidade deve começar na fase de
projeto do produto, pois erros nesta fase repercutem de maneira significativa nos custos
do projeto e na funcionalidade dos produtos, afetando a satisfação do cliente.
Philip B. Crosby fecha esta era com uma metodologia conhecida como “Zero Defeito”,
definindo a qualidade como “uma disciplina da gerência que diz respeito a prevenção de
problemas, criando atitudes e controles que possibilitam a prevenção” (CROSBY, 1990
apud PEARSON, 2011, p. 7). E ele viu a qualidade como um meio sistemático que integra
as atividades de projeto, engenharia planejamento e serviços, a fim de garantir que as
atividades transcorram conforme seu planejamento.
VOCÊ O CONHECE?
Philip Bayard Crosby (1926-2001) centrou seu trabalho na eliminação dos custos da não
qualidade. A partir do conceito “zero defeito”, criado por ele em 1961, Crosby apresenta
4 conceitos principais: a qualidade é a conformidade com as especificações que traduz
em fazer certo na primeira vez; a qualidade tem origem na prevenção e esta se origina no
treinamento e na disciplina; o padrão do desempenho deve ser zero defeito e a qualidade
é medida pelo preço da não conformidade e não por seus índices.
Observe no quadro 1 um resumo do desenvolvimento das abordagens e suas ações ao longo do tempo.
Região Ações
Pesquisas e estudos sobre Iniciativas isoladas na Desenvolvimento e aplicação
Ocidente
qualidade e seu controle. área da qualidade. de uma abordagem ocidental.
Aplicação das pesqui-
Extensão da abordagem japo-
sas ocidentais e desen-
Japão nesa a grupos de empresas da
volvimento e aborda-
mesma cadeia de negócios.
gem própria .
Época 1920 a 1945 1945 a 1975 1975 a 1995
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Segundo Rodrigues (2010), no início de 1970 o mundo entrou em uma crise energética provo-
cada pelo aumento no preço do petróleo. Nessa época, os Japoneses já possuíam experiência
em superar as dificuldades e foram a primeira nação a direcionar suas energias e capacidade
de trabalho para uma economia tipo exportação. Isso foi possível como consequência do
desenvolvimento e modificação das técnicas e abordagens de gestão, introduzindo aspectos
culturais e sociais como o respeito pelo homem e o ambiente, a formação de mão de obra
comprometida com a melhoria contínua e a qualidade como prioridade. Como resultado, os
japoneses passaram a fabricar produtos superiores.
Um dos gurus japoneses sobre esse tema foi Kaoru Ishikawa (1993), que considerava que a
prática da qualidade não deveria ser delegada para consultores e especialistas. Pelo contrá-
rio: para Ishikawa ela deveria ser aplicada de modo sistemático e inerente ao trabalho, sendo
o primeiro a considerar o processo subsequente como cliente do processo imediatamente
anterior. Entre as caraterísticas predominantes do seu estudo estão a visão da gerência como
aquele que deve ensinar e orientar e o comprometimento com a qualidade como uma carate-
rística predominante na construção de uma sociedade onde o cliente percebe que a resultado
esperado é de fato aquele que foi prometido.
Shingeo Shingo, por sua vez, considerava que os métodos estatísticos para o controle da quali-
dade não conduziam, por si mesmos, ao controle da qualidade com zero defeitos, distinguindo
erros de defeitos, pois os defeitos são produzidos por causa dos erros. Dessa forma, ao iden-
tificar os erros, era possível procurar as causas e tomar ações para que não ocorressem nova-
mente. Autores como Correa & Correa (2011), explicam que a filosofia do Poka Yoke considera
que a qualidade “Zero Defeitos” é produto de ações básicas e objetivas implantadas a partir de
dispositivos físicos visuais e tangíveis para o operário que, anos mais tarde, seriam introduzidas
como elementos-chave na eliminação de erros potenciais na fase de projeto e manutenção.
Para Genichi Taguchi (1986), a definição da qualidade de um produto pode-se apreciar por
meio das perdas que ele impõe na sociedade. “Os parâmetros que determinam fatores pre-
dominantes do desempenho do produto são definidos durante o projeto e, consequentemente,
mantidos na produção em valores que impusessem as menores perdas para a sociedade”
(CORREA & CORREA, 2011, p. 126).
Perceba que, no nível estatístico, Taguchi baseia-se na crítica da postura ao considerar con-
formes aqueles produtos que estão dentro das tolerâncias e não conformes os produtos fora
das tolerâncias. Pense da seguinte forma: as tolerâncias devem servir de guias ou parâmetros,
mas não como “definidoras” da qualidade dos produtos. Nesse ponto, ele analisa a redução
na variação dos produtos em relação aos valores considerados ótimos.
• A qualidade de conformidade
Que diz respeito ao grau no qual as especificações do projeto são cumpridas.
• Qualidade na fonte
Que se assegura de forma contínua que o produto atenda às especificações para os quais
foi projetado.
Diante deste cenário, o próximo passo é identificar o que é um custo da qualidade e como
é possível gerenciá-lo.
Essa determinação dos custos pode ser uma poderosa ferramenta gerencial, já que avalia, de
forma contínua, a qualidade através dos relatórios de custos gerados, incrementando o desen-
volvimento dos processos.
Autores como Jacobs e Chase (2009) e Rodrigues (2010) asseguram que uma das grandes
contribuições ao estudo dos custos é a chamada “Trilogia da Qualidade”, proposta por Jurán
(1951), que determinou a diferença entre os defeitos crônicos, cuja origem pode-se remontar na
fase de projeto, e os defeitos esporádicos, que são identificados pelo operador, já que acontecem
durante o processo produtivo.
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Engenharia da Qualidade
QUALIDADE EFICIÊNCIA
CUSTOS
Quando os custos da qualidade não são gerenciados, podem custar para as empresas entre 15%
e 20% de cada dólar de vendas provenientes de retrabalho, inspeções, testes e garantias. Autores
como Crosby (1990 apud JACOBS & CHASE, 2009, p. 155) têm estudado o tema e afirma que
o custo considerado correto para um programa de gestão e gerenciamento da qualidade não
superaria 2,5 % de cada dólar das vendas, razão pela qual realmente a prevenção da qualidade
é considerada mais econômica do que assumir as consequências da não qualidade.
• Custos de Avaliação
Chamados assim por serem custos que advém do processo de inspeção, teste e auditorias,
com o objetivo de certificar que o produto, serviço ou processo é aceitável conforme as
especificações de qualidade.
• Custos de Prevenção
São os custos que implicam na identificação das possíveis causas que geram defeitos, como
treinamento do pessoal, atividades e planejamento, salários, consultoria, manutenção do
sistema da qualidade, reprojeto do produto, serviço ou sistema de medidas corretivas para
eliminar as causas de erros, modificações no processo ou compra de novos equipamentos.
CUSTOS DE PREVENÇÃO
- Treinamentos 3,500 1,95
CUSTOS DE AVALIAÇÃO
- Consertos 7,200 -
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Engenharia da Qualidade
Perceba que, desta forma, é possível obter uma análise da profundidade dos custos gerados. Nes-
te processo de avaliação e tomada de decisão, Crosby (1990) e Gryna (1998) propõem algumas
regras básicas: quando os custos de falhas forem maiores ou mais representativos, deve proceder-
-se uma análise sequencial e, mediante auditorias, inspeções e análises de relatórios, até que se
encontre a fonte destas falhas e sua solução. Se, por outro lado, os custos de avaliação são maio-
res, deve-se revisar e aprimorar os processos de inspeção, validação de testes e verificação das
caraterísticas dos projetos, assim como projetar uma ênfase maior em atividades de prevenção.
VOCÊ SABIA?
Você provavelmente já ouviu falar em recall, principalmente de peças no setor automo-
tor, nos últimos anos. Mas você sabe o que exatamente é um recall? De acordo com o
PROCON, é a forma pela qual um fornecedor vem a público informar que seu produto
ou serviço apresenta uma inconformidade que pode gerar riscos aos consumidores. Ao
mesmo tempo, recolhe produtos, esclarece fatos e apresenta soluções.
Segundo Rodrigues (2010), alguns custos devem ser considerados como “Custos da Não Qua-
lidade”, uma vez que envolvem a não conformidade dos processos e produtos, em relação
ao atendimento das necessidades e requerimentos dos clientes. Em outras palavras, influencia
diretamente o cliente e sua decisão de compra. Observe na Figura 4 a divisão dos custos dos
processos em direitos ou de conformidade (COC) e indiretos ou de não conformidade.
Custos de Prevenção
Custos
Direitos COC
Custos de Falhas Internas
Custos
Custos Assumidos pelo Cliente
Indireitos CNOC
Tenha em mente que outra forma comum para apresentar os custos da qualidade são os gráficos, já
que eles evidenciam as variáveis e sua evolução ao longo do tempo. Você pode conferir na figura
5 uma representação da análise do tempo das vendas e os custos da qualidade nos últimos 3 anos
de uma empresa.
Figura 5 – O gráfico apresenta a relação entre os custos da qualidade, as vendas e os custos ao longo de um
determinado período em uma organização.
Fonte: Elaborado pela autora, 2016.
A partir desse gráfico, é possível analisar os dados do custo da qualidade ao longo dos semestres
com relação às vendas. Segundo Rodrigues (2010), um incremento nos custos de conformidade
(COC) diminui de maneira significativa os custos de não conformidade (CNOC), como conse-
quência da eliminação progressiva de falhas no processo. Isso ocorre por que uma redução de
retrabalhos reflete em menor desperdício de recursos como tempo, matéria-prima e horas de
trabalho, gerando, como consequências, maior satisfação do trabalhador, aumento da produti-
vidade, melhor qualidade e crescimento do lucro das empresas.
CASO
Muito se fala na cadeia de fornecedores, mas não se investe nela. Em 2013, a cadeia de autopeças
no Brasil tinha faturado 5,6 bilhões de reais por conta da falta da qualidade, uma cifra equivalente
a 6,6% do faturamento do setor. O dado foi apresentado pela consultora Letícia Costa, sócia-
-diretora da Prada Assessoria, no I Fórum da Qualidade Automotiva, e salienta que as empresas,
especialmente as menores, ainda têm uma visão da qualidade como um “custo” e não como um
benefício, sacrificando seu lucro pela falta de qualificação dos seus produtos, visto que entre os
maiores custos gerados pela não qualidade encontram-se retrabalhos e trocas de garantia. Na
ocasião, foi discutido como a falta de padrão reflete de maneira irremediável no produto final, des-
tacando que qualidade e produtividade são os principais problemas do setor industrial brasileiro.
Nesse cenário, é preciso resolver os gargalos em toda a cadeia, pois as montadoras dependem em
grande parte dos fornecedores e são responsáveis por cerca de 45% do custo da qualidade, contra
28% das fábricas de veículos e 27% dos concessionários nos serviços de pós-venda.
Antes de partir para o próximo tópico, devemos considerar que os custos de qualidade apresen-
tam os gastos em que se incorrem para assegurar o padrão de produtos e processos, ou, ainda,
deixam em evidência os custos da má qualidade e suas consequências. Além disso, você estudará
os setores de atuação da gestão da qualidade.
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Engenharia da Qualidade
Paladini (2000) explica como não existe a delimitação entre a produção do serviço e a estrutura-
ção de métodos na prestação de serviços, ou seja, não é possível separar totalmente o ambiente
de prestação do serviço do processo produtivo. Porém, entenda que a gestão de qualidade
procura ter como foco a interação com o usuário com caraterísticas como heterogeneidade, si-
multaneidade, flexibilidade e adaptabilidade, motivo pelo qual deve-se possuir uma capacidade
para manter constantemente um padrão nos serviços. Paladini afirma ainda que a gestão de
qualidade no ambiente de serviços possui as caraterísticas que você confere a seguir:
Pense da seguinte forma: como não é possível produzir e estocar o serviço de forma antecipa-
da, não há a possibilidade de adotar ações corretivas. Por esse motivo, a gestão estratégica da
qualidade deve criar padrões de serviço através de critérios competitivos ou caraterísticas esta-
belecidos conforme as necessidades, requerimentos ou expectativas dos clientes, uma vez que
dependem do tipo de serviço oferecido: serviços profissionais, de alimentação ou locais voltados
para o lazer, relaxamento e cuidados com o corpo (SPA).
Como apontam Correa e Caón (2009), a qualidade, como critério competitivo, abrange o for-
necimento do serviço livre de falhas e conforme o prometido, passando uma imagem de qualifi-
cação do serviço e de seus fornecedores.
Segundo Parente Filho (1991), quando se trata de organizações públicas, não há um mercado
específico a ser buscado, mas sim a necessidade de prestar um serviço bem executado e de forma
econômica. Para ele, existem inúmeras ações de controle para o gerenciamento dos processos no
Deming (1990) afirma que o controle da qualidade no setor público pode ser alavancada se dei-
xarmos de lado a “impressão” de que nossos problemas são diferentes dos do outro. Ele afirma
ainda que, com certeza, são diferentes, mas que sãos os princípios universais que contribuem e
melhoram a qualidade do produto e dos serviços.
Tenha em mente que, entre os parâmetros que garantem a qualidade, estão aqueles baseados
em princípios de boas práticas de fabricação (BFP), que contém uma série de medidas preven-
tivas para cada etapa de processamento. Essa ação reduz, assim, a possibilidade de contami-
nação. Outro fator que contribui para o sucesso desse controle é a metodologia denominada
Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (HACCP, do inglês Hazard Analysis and Critical
Control Point), que estabelece as medidas para garantir a segurança dos alimentos.
Para monitorar o cumprimento do objetivo do selo, os feirantes serão avaliados a cada três meses
através de um checklist com itens que vão desde a limpeza do local de trabalho até o controle
da temperatura dos alimentos.
Dessa forma, é possível entender que, com o passar dos anos, os serviços públicos ganharam repre-
sentatividade nesse cenário, pois se melhorar a qualidade, é possível reduzir custos, desperdícios,
os tempos de espera no atendimento, melhorando significativamente o bem estar da população.
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Síntese Síntese
Ao final do primeiro capítulo de Engenharia da Qualidade, você explorou diversos conceitos
essenciais para avançar no estudo desta disciplina. De forma resumida, você:
• Entendeu que a qualidade tornou-se uma filosofia que abrange gestão de pessoas,
materiais, fluxos, informações, caraterísticas de produtos e processos;
• Viu que, quando os custos da qualidade não são gerenciados, as empresas podem perder
parte significativa de seu lucro ao resolver problemas de retrabalho, testes e inspeções, razão
pela sua prevenção é mais econômica do que assumir as consequências da não qualidade;
• Conheceu a qualidade aplicada aos setores público de serviços que, ainda com suas
particularidades e especificidades, apresentam uma clara visão de melhora contínua, com
o objetivo de atingir as necessidades e requerimentos do cliente..
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