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Dessa forma, achou-se necessário relembrar que a sucessão de ações praticadas por Jesus no início da
descrição do Sermão, embora pareçam desprovidas de um sentido maior, possuíam, na verdade, um significado
profundo para os discípulos, os quais conheciam os costumes judaicos relacionados à prática do ensino por parte de
um Mestre. Em Mt 5.1, lê-se que: (i) Jesus viu as multidões; (ii) subiu a um monte; (iii) e assentou-se. Segundo o
Comentário Beacon:
“Alguém poderia deduzir do primeiro versículo do capítulo cinco que Jesus deixou a multidão (i) e entregou
este “sermão” somente para os discípulos. Mas parece que a multidão se reuniu em torno da parte externa do círculo
interno e ouviu o discurso (cf. 7.28). A referência a um monte é provavelmente significativa (ii). Assim como Moisés
recebeu a antiga Lei no monte Sinai, assim também Jesus, o novo Líder, pronunciou a lei do Reino na encosta de um
monte. (iii) Assentando-se. Enquanto os pregadores de hoje seguem o costume grego e romano de ficar em pé para
falar, os mestres judeus sempre se sentavam enquanto ensinavam.” – os grifos são nossos.
Assim, depreende-se que Jesus sobe ao Monte a fim de ser identificado como alguém semelhante a Moisés
(cf Dt 18.15-18), sendo, ao mesmo tempo, superior a ele. Jesus, no Sermão do Monte, não apenas profere o seu
próprio jugo da Lei, mas promulga uma Lei mais profunda, aplicando os princípios universais da Torá aos meandros do
coração humano, e, ao mesmo tempo, aperfeiçoando-os através de sua correta interpretação (Mt 5.21, 22, 27, 28, 31,
32, 33, 34, 38, 39, 43, 44). A isso os apóstolo Paulo denominou Lei de Cristo (1 Co 9.21; Gl 6.2). Ao assentar-se, o Cristo
desejava que os discípulos soubessem que tudo aquilo que seria dito era da mais alta relevância.
Em Mt 7.21-23, Jesus afirma a futilidade de dizer e não fazer. De anda adianta afirmar Jesus como Senhor e
não agir como servo dEle? Muitos dirão Senhor, Senhor! mas apenas o que fazem a vontade do Pai serão salvos. Não
se trata de salvação pelas obras, mas de obras que são fruto de uma fé verdadeira. Já em Mt 7.24-27, Jesus refere-se
ao Ouvir e não fazer. Dirige-se àqueles que ouvem a Palavra de Deus, mas não tem compromisso com ela, não
permitindo que a esta seja o norte de suas vidas. Ouvir e não praticar é perigosíssimo. Não podemos esquecer que a
Palavra de Deus é, segundo o escritor aos Hebreus, e mais afiada que qualquer espada de dois gumes (Hb 4.12), e a
quem muito é dado, muito será cobrado (Lc 12.48).
Tiago, em sua epístola universal, parece ter entendido a seriedade de ambos os assuntos, pois os realça, à
semelhança de Jesus, em Tg 2.14-20 (Dizer e Fazer) e Tg 1.22-25 (Ouvir e Fazer).
Dois construtores representam dois seres humanos que ouviram a Palavra. Um porém é chamado de insensato
(ou louco, em algumas versões), enquanto o outro é denominado de prudente.
Casas: As vidas de ambos os construtores;
Alicerce: Areia: Ouvir e não praticar – Religião;
Rocha: Ouvir e praticar – Obediência ao Evangelho – Cristo;
Chuvas, rios, ventos: Julgamento das obras.
Portanto, levando-se em consideração o contexto imediato, Jesus não se refere aqui, pelo menos prioritariamente, ás
vicissitudes da vida, aos problemas, às dificuldades enfrentadas no cotidiano nas mais diversas áreas, mas ao destino
eterno dos seres humanos.
Dessa forma, ao analisar o contexto geográfico e das edificações da época, percebe-se que os discípulos
entendiam muito bem o que Jesus quis dizer. Não deviam ser apenas ouvintes, enganando-se a si mesmos, mas
praticantes da Palavra (Tg 1.22), pois grande é a ruína daqueles que incorrem em tal erro (Mt 7.27).
Quando Jesus concluiu o seu sermão, o povo se admirou da sua doutrina pois Ele ensinava com autoridade
(29). As pessoas comuns sentiram a sua autoridade divina, que faltava aos escribas, e a reverenciaram. Os escribas
tinham o hábito de citar antigos mestres como apoio aos seus ensinos, enquanto Jesus falava per si, com autoridade
própria.
Aqui levanta-se a questão: de onde procedia a autoridade de Jesus? Pedro afirmou que Jesus era o Cristo, o
Filho do Deus vivo (Mt 16.16), e essa confissão foi ratificada pelo próprio Jesus, que afirmou que não havia sido nem
carne nem sangue que tinham revelado essa maravilhosa verdade a Pedro, mas o Espírito de Deus (Mt 16.17). Com
isso, Jesus afirmava ser o Cristo, o Messias prometido nas Escrituras, o Ungido de Deus (Is 61; cf Lc 4.15-21). Logo,
Jesus é o Profeta de Deus (Dt 18.15-18), o Sumo Sacerdote da Nova Aliança (Hb 8.1 – 9.22; cf. Gn 14.18-24), e o Rei de
todo o Universo (Gn 49.10; 2 Sm 7.12-14; Ap 19.16).
Outrossim, Pedro afirmou algo mais profundo: Jesus é o Filho do Deus vivo, isto é, Jesus possui a mesma
substância do Pai. Em outras palavras, Pedro afirmou que Jesus era Deus conjuntamente com o Pai. Em outra ocasião,
o próprio Jesus afirmou explicitamente ser Deus (Jo 8.24; cf. Êx 3.14).
Finalmente, a autoridade de Jesus residia no fato dEle ser Deus, Perfeito Profeta, Supremo Sumo Sacerdote
da Nova Aliança e Rei dos Reis e Senhor dos Senhores. Jesus não tem alguma, mas toda a autoridade e Suas palavras
são dignas de toda aceitação.