Vous êtes sur la page 1sur 25
“O que esperar da Constituinte? Uma vez concluida a batalha do seu Regimento Interno, mesmo com a sua.soberania restringida, a Constituinte comeca a enfrentar alguns dos principais problemas que conformam a face contempordnea do Brasil. Para antecipar oalcance e os limites com que, por exemplo, a questao sindical, a quest&o dos partidos politicos e a questdo militar — entre outras — serio tratados por ela, a revista LUA NOVA reuniu trés dos mais importantes cientistas sociais brasileiros para um debate, em sua redagdo. Maria Herminia Tavares de Almeida, da Unicamp e do IDESP, Eliezer Rizzo de Oliveira, do Nicleo de Estudos Estratégicos, da Unicamp, e Francisco Weffort, da USP e do CEDEC, conversaram por mais de trés horas, sob a coordenagdo de José Alvaro Moisés, diretor de LUA NOVA, para apresentarem a sua avaliagdo prospectiva e para discutirem o que o pats pode e deve esperar da Constituinte. A seguir, o teor desse debate, cujos temas centrais foram a questdo sindical, a questao dos partidos politicos e da representacao e a questao militar. 10 LUA NOVA A questao sindical MARIA HERMINIA — Penso, como muitas outras pessoas que tém tratado da quest&o sindical, que a idéia de uma estrutura assentada no principio do pluralismo seguramenteé mais adequada para a organizacdo sindical numa ordem democratica. Mesmo que, num primeiro momen- to, desarmar a estrutura corporati- vista crie problemas e desorganiza- ¢40, estou absolutamente convenci- da de que é necessario correr 0 risco de criar uma organizagao de tipo plural. Os beneficios que, a longo prazo, isso pode trazer para a demo- cracia, para a organizag4o do movi- mento dos trabalhadores, sao muito maiores do que 0s inevitaveis proble- mas de desorganizacdo que, certa- mente, ocorreréo com a desmonta- gem da estrutura corporativa. Nao estou, porém, muito otimista quanto a isso, pois acho que existem fortes fatores que empurram na dire- cao da sua manutencdo. Mas estou convencida que os democratas mais avancados tém que se esforcar para ver se pelo menos abalam esta estru- tura que se ope ao aprofundamen- to da democracia no pais. Esta é a minha opiniao, certamente um juizo de valor do qual eu parto para fazer as afirmacdes que se seguem. Dessa Otica, um ponto de partida otimista ¢ o de que, de alguma ma- neira, nds j4 convivemos com uma organizacao sindical parcialmente plural. Na verdade, 0 que existe co- mo organizac&o sindical, hoje, no pais é algo mais do que a estrutura sindical corporativa legalmente esta- belecida pela Consolidag&o das Leis do Trabalho. Algo um pouco mais complicado, onde convivem os prin- cipios de um ordenamento pluralista e aqueles que possibilitam a unicida- de sindical, resultante do mohopédlio da representac&o outorgado pelo Es- tado, que constitui o cerne da estru- tura corporativista. A dimensao plu- ralista do sindicalismo atual manifesta-se por dois lados: um 6b- vio e mais visivel, pela constituigao das centrais sindicais. Hoje, elas sio um dado da realidade, e nio mais questZo de opinido favoravel ou contraria, Elas existem, fazem parte da dinamica do movimento sindical endo mostram nenhuma tendéncia ao desaparecimento. Obviamente, um processo repres- sivo pode fazer as coisas voltarem atras. Mas nao se percebe no movi- mento sindical qualquer sintoma de recomposicao da unicidade da repre- sentacao ao nivel das centrais sindi- cais. Um segundo terreno onde se manifesta o pluralismo é aquele no qual se movem os setores que esto proibidos de se associaren sindical- n.ente pela legislac4o: os servidores piblicos, Ai, espontaneamente, por forca da experiéncia, surgiu um sis- tema de representacdo e intermedia- 80 que nao se pauta pela unicidade, A represer.‘acdo é claramente orde- nada segundo os principios do plura- lismo. Ou seja, onde a lei nao regu- lou, 0 que brotou foi uma forma de Tepresentac4o muito mais complica- O QUE ESPERAR DA CONSTITUINTE? 11 dae plural. Esse é um dado da situa- 40 e é resultado do processo de ati- vaco do movimento sindical, a par- tir da segunda metade da década de 70. Ele nao foi resultado de nenhu- ma politica intencional de qualquer corrente, mesmo as mais avancadas, no sentido da transformacao plura- lista da estrutura sindical. O novo sindicalismo da década de 70 nio ti- nha nada a ver com 0 pluralismo ou com a criago de varias centrais sin- dicais. Na verdade, a pluralizacao do sistema sindical foi resultado de um processo: as correntes que hoje co- mecam a defender a representacdo de tipo pluralista o fazem ex-post- factum, por sensibilidade ao que foi © processo real, e nao por uma poli- tica deliberada e/ou anteriormente tracada que tivesse levado a isso. En- tretanto, ainda subsiste uma ambi- gilidade. Na verdade, o centro de gravidade do sistema corporativo éo sindicato tnico. Ele tem o monopé- lio da representag4o no processo de negociacao e detém o grosso dos re- cursos. Com relaco a representagao unica no plano sindical, as coisas sao um pouco mais complicadas. A ex- periéncia e a maneira como se estru- turaram mesmo as correntes renova- doras no movimento sindical, no in- terior do sindicato oficial, contribui- ram para tornar as posicdes mais ambiguas, menos nitidas. Muito poucas liderancas importantes no movimento sindical estariam dispos- tas a abandonar um recurso de poder significativo como 0 monopélio ou- torgado da representacdo, para cor- rer 0 risco de constituir uma estrutu- ra sindical inspirada em principios mais democraticos. Portanto, a idéia do sindicato nico convivecom formas plurais de representacdo, se- janos setores onde a legislacao ainda nao foi estendida — como 0 dos ser- vidores publicos —, seja nos érgdos de cipula do movimento sindical. Outra expressao de adesdo a idéia do sindicato unico se manifesta na dis- cussdo sobre a organizacdo da repre- sentagdo na empresa. Ai 0 processo incipiente de organizac4o foi acom- panhado por um esforgo enorme de colocar as comissGes de representan- tes sob controle do sindicato, para manter o controle do sindicato sobre a regulamentagao das formas de re- presentac4o na empresa, sem nenhu- ma disposicdo de experimentar alter- nativas que possibilitassem o plura- lismo na representacdo. Existem ten- déncias divergentes que apontam, seja no sentido de criar uma organi- zac&o sindical mais plural, seja no sentido de reforgar o ordenamento de tipo corporativista. Essas tendén- cias nao se manifestam s6 no interior do movimento sindical, creio que também pelo lado empresarial e pelo lado governamental. Ai as posicdes também tendem a ambigitidade, em- bora, com freqiténcia, as propostas de pluralismo vindas dos governos, mesmo da Nova Republica, sempre tenhamvindo como uma ameacaem. momentos de mobilizac4o, e com a intengdo clara de assustar ou de de- sorganizar o movimento sindical. A proposta do Murilo Macedo, por exemplo, era muito clara nesse senti- do: ela quebrava um pouco 0 mono- polio da representagao, criando al- ternativas de representacado nas em- presas como uma forma de minar 0 poder sindical. Os sindicatos se opu- seram claramente a isso, mas toda vez que © governo nao conseguia nego-

Vous aimerez peut-être aussi