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Revista Serviço Social em Perspectiva

Montes Claros, Edição Especial, março de 2018. www.periodicos.unimontes.br/sesoperspectiva


Anais do I Encontro Norte Mineiro de Serviço Social

O ATENDIMENTO DAS NECESSIDADES SOCIAIS NO RIO DE JANEIRO:


retomada do conservadorismo religioso

Alejandra Pastorini Corleto1


Gabriele Gomes Faria2
Jessika Lopes de Oliveira3
Olívia Ramos da Penha4

RESUMO

Este trabalho objetiva-se analisar as ações sociais que estão sendo implementadas
no atual governo Crivella, na cidade do Rio de Janeiro. Ao abordar essa gestão, é
necessário aduzira influência da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) na esfera
pública; essa incidência vê-se refletida na escolha das instituições executoras das
ações sociais, no discurso oficial acerca da assistência social, nos mecanismos de
implantação dos programas etc. reforçando o caráter moralizador e conservador no
método de atendimento das manifestações da questão social. Com isso, objetiva-se
analisar as características das ações sociais executadas na cidade,buscando
desvendar o influxo da IURD nas decisões políticas, sobretudo, aquelas vinculadas
aos programas sociais fadadas às populações mais empobrecidas.

Palavras-chave: Política Pública; Desigualdade; Controle; Conservadorismo


religioso

RESUMEN

El objetivo de este trabajo es analizar las acciones sociales que implantadas en el


actualgobiernoCrivella en la ciudad de Rio de Janeiro. Para abordar esa gestión
municipal, es necesario aducir la influencia de la Iglesia Universal del Reino de Deus
(IURD) en la esfera pública; esa incidencia puede ser percibida en la selección de
las instituciones ejecutoras de las acciones sociales, en el discurso oficial sobre la
asistencia social, en los mecanismos de puesta en práctica de los programas etc.
reforzando el carácter moralizador y conservador delmétodo de atención de las
manifestaciones de lacuestión social. De esa forma, este texto busca analizar las

1
Professora Associada da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro. E-mail:
alejapasto@yahoo.com.br.
2
Assistente Social da Prefeitura Municipal de Armação dos Búzios. E-mail: fwgf20@gmail.com.
3
Discente da modalidade de bacharelado do curso de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro/ Escola de
Serviço Social. E-mail: jessikaloliveirah@gmail.com.
4
Discente da modalidade de bacharelado do curso de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro/ Escola de
Serviço Social. E-mail: oliiviaramos@outlook.com.
CORLETO, A. P.; FARIA, G. G.; OLIVEIRA, J. L.; PENHA, O. R.
O atendimento das necessidades sociais no Rio de Janeiro: retomada do conservadorismo religioso

características de las acciones sociales ejecutadas en la ciudad, buscando entender


la afluencia de la IURD en las decisiones políticas, en especial, aquellas vinculadas
a los programas sociales predestinados a las poblaciones más empobrecidas.

Palabras claves: Política Pública; Desigualdad; Control; Conservadurismo religioso

INTRODUÇÃO

O presente trabalho é resultado das atividades desenvolvidas no projeto de


pesquisa “A política de assistência social no capitalismo contemporâneo”, que
integra o Núcleo de Pesquisa e Extensão LOCUSS da Escola de Serviço Social, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (ESS/UFRJ) e objetiva analisar a lógica da
intervenção do Poder Público na cidade do Rio de Janeiro, notadamente as ações
direcionadas às populações mais empobrecidas, especialmente a partir do início da
gestão do prefeito Marcelo Crivella (PRB-RJ), bispo licenciado na Igreja Universal do
Reino de Deus.

Para o desenvolvimento da pesquisa, que se encontra em andamento, tomou-


se como referência o levantamento dos programas de assistência social e
segurança pública implementados no mesmo município, entre os anos de 2015 e
2017, realizado pelo conjunto dos integrantes do grupo de pesquisa. 5 A partir de tal
feita, buscamos identificar as principais características nas ações e programas
sociais implementados por Marcelo Crivella, em seu primeiro ano de governo, que
vem apontando para uma gestão com uma forte presença das instituições religiosas
e protagonismo de sujeitos vinculados às mesmas, fato que estaria indicando um
retrocesso na perspectiva laica e democrática que deve estruturar o processo de
atendimento das manifestações da questão social por parte do poder público.
Também incluímos no universo da pesquisa os programas na área de segurança
pública implementado no Rio de Janeiro.

O trabalho fora organizado a partir de estudos teóricos conjuntamente com


uma pesquisa documental que consiste na análise das normatizações e documentos
5
Além das autoras do texto o grupo está integrado por Isabella Carvalho (ESS/UFRJ) e GeorgiaJantorno (ESS/UFRJ).
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oficiais relativos aos programas selecionados (na área de assistência social e de


segurança pública), assim como as normatizações e regulamentações aprovadas
nos anos 2017-18 pelo atual prefeito Marcelo Crivella.

DESENVOLVIMENTO

Para o desenvolvimento da presente pesquisa, parte-se do pressuposto que


as ações do Poder Público direcionadas a atender as necessidades dos setores
mais pauperizados do município do Rio de Janeiro contêm fortes traços
conservadores que se materializam em ações higienistas, controladoras e
moralizadoras. Concomitante a esse ponto, pode-se observar que a partir do
governo Crivella, essas características tornam-se intensificadas com a presença de
instituições religiosas, em especial a IURD, na dinâmica do cenário político
municipal.

Para realizar o mapeamento dos programas, tomou-se como referência o


período de 2015 a 2018. Dentre o conjunto de programas públicos selecionamos
cinco (5)para aprofundar nosso estudo, dois (2) na área de assistência social, sendo
eles: Centro de Referência Especializado para Pessoas em Situação de Rua
(CENTRO POP) e o Programa de Atendimento Integrado à Família (PAIF); e três (3)
na área de segurança pública: Operação Verão,6 Segurança Presente7 e Unidade de
Polícia Pacificadora (UPP).8Para realizar essa escolha levamos em consideração: a
abrangência da implementação, visibilidade dos programas, público alvo e objetivos
declarados.

Sendo assim, nos concentraremos aqui, em um primeiro momento, em


sistematizar algumas descobertas vinculadas a estes 5 programas, para

6
Este programa municipal busca coibir “atos de vandalismo”, furtos, roubos e “desordens urbanas” através de abordagens
individuais e coletivas nos ônibus e principais vias de acesso à orla carioca.
7
O programa responsabilidade da FECOMERCIO, Prefeitura do Rio de Janeiro e SEAS-DH do estado do Rio de Janeiro se
coloca como objetivo elaborar estratégias de Segurança Pública para combater a violência, os roubos e furtos em áreas
específicas da cidade que concentram atividades comerciais e turísticas. As principais ações desenvolvidas são: rondas,
abordagens individuais e coletivas.
8
O objetivo deste programa estadual consiste em recuperar os territórios controlados pelo tráfico e consolidar o controle estatal
sobre essas comunidades sob influência de grupos criminosos ostensivamente armados.
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posteriormente analisar de forma mais detalhada as particularidades das ações


sociais a partir de 2017.

Os programas de Assistência Social estudados são federais. O PAIF9é


implantado em todo o território Municipal, mas desenvolvido com maior destaque
nas zonas norte e oeste, regiões que concentram os setores populacionais mais
pauperizados. O CENTRO POP10 concentra suas ações nas zonasSul e Centro,
regiões residenciais e comerciais que reúnem uma grande quantidade de população
em situação de rua. Uma questão a ser salientada é que as ações vinculadas a
esses programas assumem, na prática, um notado caráter controlador, fiscalizador e
moralizador das famílias e usuários, seja quando buscam a reeducação destes
através das atividades desenvolvidas nas oficinas e cursos vinculados ao PAIF, seja
quando se exige a comprovação do cumprimento das condicionalidades para
acessar e/ou permanecer nos programas sociais, ou mesmo quando realizam ações
de abordagem de rua com forte teor higienista. Também, a identificação e redução
das manifestações da questão social à situação de pobreza e fragilidade dos
vínculos sócio-familiares é um elemento que contribui com a culpabilização e
responsabilização dos sujeitos (vítimas das desigualdades sociais) pelas suas
necessidades materiais concretas.11

No que se refere às áreas de implantação dos programas de segurança


pública constatamos que os mesmos concentram suas ações em o Centro, Lapa,
Região Portuária e Zona Sul da cidade, localidades de maior atividade turística e
comercial, essa realidade se faz mais evidente no caso dos programas Operação
Verão e Segurança Presente. Com relação às UPPs é possível perceber que elas se
localizam nas mesmas regiões (Zona Sul, Centro e Lapa), entretanto, conforme o
Mapa da Violência da cidade do Rio de Janeiro, não seriam essas áreas que
concentram os maiores índices de violência e criminalidade.

Também entendemos importante mencionar que os documentos oficiais e


normatizações que dão forma a esses programas, por um lado, definem como

9
Este programa federal busca fortalecer as funções protetivas da família em situação de risco e vulnerabilidade social e
prevenir o rompimento dos vínculos familiares e comunitários, por meio de atividades sócio educativas.
10
Reduzir as violações de direitos sócio assistenciais e preservar a integridade e autonomia da população em situação de rua é
o principal objetivo deste programa federal. Para atingir esses objetivos desenvolvem-se ações como: acompanhamento e
articulação com a rede de serviços, promoção de oficinas, reforça-se a alimentação e acesso a espaços de guarda de
pertences.
11
Essa discussão pode ser aprofundada em “Programas Sociais no Rio de Janeiro: Entre o Controle e a Proteção” (Jantorno,
G et al, 2018 - no prelo) que sistematiza parte dos resultados da pesquisa maior desenvolvida pelo grupo acima referenciado.
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objetivo: prevenir atos de vandalismo, furtos, roubo e desordens, combater a


violência na cidade etc.; e por outro lado, dirigem suas ações (abordagens
individuais e coletivas em linhas de ônibus e nas vias de acesso às praias,
encaminhamentos para equipamentos de assistência social e abrigos de
adolescentes desacompanhados de seus responsáveis etc.) prioritariamente às
populações mais empobrecidas, jovens negros e moradores das periferias. Dessa
forma, seria possível afirmar que esses programas vinculam de forma direta a esses
grupos populacionais com atividades criminosos transformando-os em “potenciais
criminosos”, sujeitos “desintegrados” e “perigosos”. Essa vinculação entre pobreza e
crime se constitui em elemento fundante do processo de “criminalização da pobreza”
e elemento central para justificar as ações punitivas por parte do Poder Público.

Essa lógica moralizadora, controladora e punitiva se aguça com a chegada ao


governo Municipal de Marcelo Crivella, que tem uma importante participação política
desde 2002como Senador. Crivella foi eleito prefeito do Rio de Janeiro, em outubro
de 2016, com 59% dos votos. Bispo da Igreja Universal do Reino de Deus e
sobrinho do bispo Edir Macedo, é filiado ao Partido Republicano Brasileiro (PRB),
partido que lhe permite assumir esse cargo executivo no Município. Sua ligação com
essa instituição religiosa levantou denúncias e acusações, não comprovadas, de
propaganda eleitoral na IURD. Ainda candidato, seu discurso já se confundia entre
pessoa política e religiosa, em um tom populista/paternalista e caridoso, o que
indicava no levantamento feito pelo Ibope (2016) que o então candidato aparecia
com 52% das intenções de votos entre as pessoas que estudaram até a 4ª série do
ensino fundamental e entre jovens que não estavam nas universidades. Pode-se
correlacionar a essa intenção de voto: o descrédito na política, o aumento do
desemprego, a crise financeira que vivia o estado do Rio de Janeiro, entre outros.
Neste contexto, um discurso que inspire esperança em consonância com o apelo
religioso (a caridade, a fé e o amor) pode ser determinante na disputa eleitoral,
retomando como ponto factual que o slogan “cuidar das pessoas” dava tom à sua
campanha para prefeito.Desta forma, torna-se possível compreender a
fundamentação que orienta suas ações, analisando imprescindivelmente em qual
figura está representada o prefeito Marcelo Crivella, tal como seu projeto de governo
para o município do Rio de Janeiro.

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No que tange às ações desenvolvidas e decisões tomadas pelo atual gestor


municipal identificamos uma forte presença e incidência das instituições religiosas e,
em especial, uma articulação com o neopentecostalismo12, ou seja, desde início da
gestão do atual Prefeito é perceptível uma junção entre as instituições e sujeitos
neopentecostais e a esfera pública que pode ser evidenciada em várias das
deliberações e ações mais recentes (proibição de rodas de samba, limitação das
verbas destinadas ao Carnaval, atos de intolerância religiosa, Censo Religioso na
Guarda Municipal etc.).

Diante disso questionamo-nos: de que forma o predomínio das ações sociais


embasadas e sustentadas no credo religioso em face do assistencialismo
representam uma perda do caráter constitucional dos direitos?

Cabe aqui salientar que a partir de 2017 quando se inicia a gestão Crivella
percebe-se uma íntima articulação da IURD coma prefeitura e influência dessa
instituição religiosa na esfera pública; dessa forma, o atual Prefeito busca
reconfigurar a dimensão pública do Estado tornando-o permeável aos interesses e
preceitos religiosos específicos da Igreja Universal, reforçando os traços
conservadores, moralistas e controladores na sua gestão. Essa estratégia se
consolida com a participação das mídias (internet, redes sociais, jornais), instituições
de ensino, instituições religiosas etc. Os quais propagam sua “verdade” e suas
escolhas ancoradas nesses preceitos que transcendem o espaço do privado e
impregnam o espaço público, colocando limites reais à diversidade, ao pluralismo e
ao caráter laico do Estado. Podemos assim dizer que há traços em que as ações
sociais desenvolvidas pela prefeitura do Rio de Janeiro se apresentam “convertida” a
uma ideologia religiosa, onde se confunde a política e religião.

Dentro do conjunto de ações executadas pelo atual prefeito, têm-se a


continuidade dos programas mencionados anteriormente (na área de Assistência
Social e de Segurança Pública) que se articulam com a elaboração de novas ações
propostas por sua gestão, com o intuito de reduzir a vulnerabilidade social das
famílias. Como por exemplo, o programa Primeira Infância Carioca (PIC) e o
Territórios Sociais, que de acordo com o prefeito, têm por iniciativas acompanhar o

12
O prefixo “neo” é utilizado para apresentar um caráter de novidade dentro do protestantismo, mas especificamente do
pentecostalismo. Assim o Movimento de renovação e readaptação propõem o abandono de hábitos e estereótipos pelo qual os
“crentes” eram conhecidos trazendo novos ritos, arranjos modernos que permeiam a evangelização pelos meios de
comunicação e até mesmo pela via política. (SILVA, 2007)
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desenvolvimento de crianças, desde o pré-natal até os seis anos de idade, e reduzir


a vulnerabilidade social de famílias que vivem em áreas de baixo IDS (Índice de
Desenvolvimento Social). Esses programas assumem o mesmo caráter de controle
e moralizador, com um recorte direcionado às populações mais empobrecidas da
cidade. Outra ação de intervenção, direcionada às pessoas em situação de rua,
expressa forte caráter moralizador ao firmar “convênios” com igrejas evangélicas
para viabilizar as ações de abrigamento - elemento este caro à política de
assistência. Sendo assim, é importante ressaltar como essa perspectiva de gestão
particular se manifesta nessa direção, remetendo ao privado a função protetiva do
Estado e trazendo à tona, uma prática que se constitui como um retrocesso à
política de Assistência Social.

Outro elemento não menos importante diz respeito à organização do aparelho


estatal municipal e utilização do público em geral com fins privados. Desde 2017,
diversos cargos na Prefeitura do Rio de Janeiro estão sendo disponibilizados a
representantes da IURD, instituição religiosa da qual o Prefeito faz parte e/ou a
familiares, a exemplo: a nomeação de Fabio Macedo primo do bispo Edir Macedo
líder da Igreja Universal– para a gestão do Centro Administrativo São Sebastião ––,
e de Marcelo HodgeCrivela filho do prefeito – proposto para o cargo de secretário-
chefe da Casa Civil do Município. Essas nomeações foram denunciadas como
práticas de nepotismo.

Também é importante mencionar os diversos pronunciamentos públicos do


atual Prefeito posicionando-se contrário à despenalização do aborto e do uso de
drogas e à ampliação dos direitos das mulheres denominada como “ideologia de
gênero”; essas posições indicam o carácter conservador e moralizador da atual
gestão.

Ainda sobre este protagonismo das instituições religiosas nos Estado, é


interessante trazer as reflexões da pesquisadora Christina Vital acerca do
protagonismo dos grupos evangélicos na política, que anseiam alcançar a
Presidência da República e dessa forma, cumprir não só o “desejo divino” de ser
“cabeça” na política – exercer o poder de comando, fazendo uma alusão a um trecho

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bíblico –13, como também, segundo um vídeo publicado pelo próprio Crivella, “eleger
um presidente da República que vai trabalhar por nossas igrejas para cumprirmos a
missão de levar o evangelho a todas as nações da Terra”.

Outro exemplo do cunho moralizador e coercitivo presente nesta gestão é o


uso de aparelhos coercitivos, como a Guarda Militar, para inibir o uso do espaço
público por parte dos cariocas. Essa estratégia limita diretamente a diversidade
cultual e coíbe as manifestações culturais de matriz africana incorporadas à cultura
da cidade. Pode-se citar como exemplo dessa interferência às proibições das rodas
de Samba na “Pedra do Sal” e a reorganização da disponibilização de recursos para
as Escolas de Samba, que para a visão da Christina Vital (2017), reflete em toda a
ação política do prefeito uma estratégia política a qual desmistifica a intenção
religiosa. Esta intenção velada torna-se explícita no caso do veto à exposição
“Queermuseu”.

Outro elemento que reforça o caráter repressor e punitivo da atual gestão


municipal é a intervenção do Governo Federal na área de segurança pública no
estado do Rio de Janeiro dando plenos poderes ao interventor que passa a gerir a
segurança fluminense e controlar a Polícia Civil, Polícia Militar, os bombeiros e a
administração penitenciária. Tal intervenção apresenta uma concussão explícita e
ameaçadora para comunidades cariocas mais empobrecidas, concebidas pelo Poder
Público e pela Polícia Militar como espaços de risco.

É considerável destacar a importância que possuem na atualidade as


bancadas: religiosa dos evangélicos e armamentista, defensoras ambas da
necessidade de enrijecer as penas e intensificar o papel punitivo do Estado. Essas
bancadas totalizaram 134 votos dos 340 apoiadores da intervenção militar no Rio de
Janeiro; ou seja, esses parlamentares conservadores
protagonizaram,conjuntamente com outros aliados do presidente Michel Temer, o
apoio à intervenção, e justificaram seu voto: como “Deus mandou votar”.

Tendo como denominador comum a ideia da existência de um “inimigo em


comum” – o “crime organizado”– e o comprometimento da ordem pública produto do
caos e da violência urbana, diversas bancadas apoiaram tal medida, expressando a

13
“E o Senhor te porá por cabeça, e não por cauda; e só estarás em cima, e não debaixo, se obedeceres aos mandamentos do
Senhor teu Deus, que hoje te ordeno, para os guardar e cumprir”. (Deuteronômio 28:13). Trecho bíblico apropriado para
reforçar a importância da centralização política por parte da bancada evangélica.
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representação quase hegemônica de setores conservadores, que atendem aos


interesses da classe dominante.

Demonstrando uma postura favorável à intervenção militar, Marcelo Crivella


se pronunciou com entusiasmo em apoio à determinação do presidente Michel
Temer, afirmando já haver feito o pedido de tal medida e parabenizando o ato.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando que a garantia de direitos sociais se vincula com lógica


democrática, fica evidente o grande retrocesso refletido nas ações que entrelaçam
os âmbitos estaduais, federal e municipais que ameaçam o caráter democrático em
face da constante defesa de uma agenda regressiva de direitos humanos e sociais
que se encontram não obstantes a um possível triunfo de uma agenda mais
conservadora e autoritária daqui em diante.

Conclui-se desta forma, que para pensar o governo Crivella se faz necessário
levar em consideração três grandes pilares que se entrelaçam: o conservadorismo
religioso, controle das populações/territórios e assistencialismo. Dessa forma,
ancorado nesses pilares o projeto do atual governo municipal traz para dentro do
Estado as instituições religiosas, em especial Igreja Universal do Reino de Deus, e
diversos sujeitos que se vinculam institucionalmente à IURD. Podemos ousar dizer,
ao olhar para a dinâmica política no Brasil e para a importância que a bancada
evangélica vem adquirindo nos últimos anos, que talvez seja o Rio de Janeiro uma
importante experiência piloto desse grupo conservador no país.14 Mas que para além
disto, sustenta as velhas concepções: satanização do público em detrimento do
privado e a valorização de uma moral cristã, propagada pela Igreja Universal.

14
Um exemplo dessa experiência piloto materializada em uma das ações da prefeitura é o episódio do censo religioso,
realizado em agosto de 2017, através de um questionário direcionado aos servidores da Guarda Municipal, de caráter
obrigatório, o qual resultou uma insatisfação coletiva por parte dos agentes e o pedido de suspensão ao Ministério Público, por
alegação de medida inconstitucional e constrangedora.
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