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3 A Psicanélise Cura? Uma Contribuigao 4 Teoria da Técnica Psicanalitica’ 3.1 Introdugdo Em seu “Recomendagées aos médicos que praticam a psicanilise” Freud (1912) recomendava aos psicanalistas que “procurem tomar como modelo, durante o tratamento psicanalitico, ... um antigo cirurgiao, [que] adoton o seguinte lema: ‘Je le pansai, Dieu le guérit”” (p. 115). (Ambroise Paré, cirurgiao militar francés do século XVI, ao ser elogiado por sua capacidade de evitar que as feridas dos soldados gangrenassem, supostamente replicou: “Eu fago o curativo, Deus é quem cura.”) Se 0 analista nfo adotar essa atitude, Freud advertiu, “ndo s6 se coloca num estado mental desfavordvel para o trabalho, como (se] expe totalmente indefeso a certas resisténcias do paciente, cuja superagdo, ‘bem sabemos, depende essencialmente do interjogo de forgas nele.” Freud estava advertindo seus colegas contra actenga de que a psicanslise pode, ou deve, curar 0 paciente, O destino da andlise nao é determinado, em tiltima instincia, pelas intervengdes per se do analista, mas pela dinamica do inconsciente do paciente. O analista se limita a sondar 0 inconsciente como um cirurgido, reconhecendo que os fatores que 1 Bata éuma verso ligecamente mdificada de um anigo publicadono International Journal of PaychosAnalyss 73, 283-82 (1998), 41 Tendo Mente Prdpria ‘governam a recuperagdo do paciente estilo além de seu controle. (Deus é quem cura.) Longe de ser um incentivo a indiferenga com relagio ao sofrimento do paciente, como foi freqtlentemente mal interpretada, a analogia de Freud entre o psicanalista eo cirurgiao é um conselho técnico baseadona ‘modéstia realista, cujo objetivo ¢ situar o analista num estado mental ‘muito importante, se ndo essencial para a pratica da psicandlise. Tentarei demonstrar que este estado mental modesto parece ser também o que dis- tingue a psicandlise da maioria das outras terapias psicolégicas. (A dis- ‘tingo que proponho nao depende da freqiiéncia ou duragdo das sessdes, do uso do diva ou de avertos relativos ao pagamento. Estes so acertos meramente priticos, cujo ‘nico propésito € facilitar aquilo que é essen- cial para a pratica da psicandlise, ou seja, 0 estado mental especffico que © analista adota. Este capitulo descreve uma de suas caracteristicas.) Desde que Freud fez essa recomendagdo, certos desenvolvimento na teoria da técnica psicanalitica nos permitiram ver mais claramente sua origem no vaivém da sessio analitica. Recapitularei alguns desses desenvolvimentos, comegando pelo artigo cléssico de James Strachey, “A natureza da ago terapéutica da psicandlise” (1934 [1969)). De acordo com Strachey, o paciente em andlise percebe o analista ‘como aquilo que ele chama um “objeto externo de fantasia” — frase que, de forma magnifica, descreve que o que o paciente inconscientemente vé no analista é uma mistura da realidade externa com partes projetadas de sua realidade interna; a diferenca entre ambas néo se distingue clara- mente no conceito do paciente. Um exemplo bastante comum disto ‘corre quando o paciente projeta sua prépria onipoténcia no analista, de maneira que este se torna aos olhos do paciente alguém que cura ‘magicamente. A tendéncia do paciente de constituir objetos extemos de fantasia no se limita & situago analitica, mas ocorre em todas as suas relagdes objetais. © mundo do neurdtico esté repleto destes objetos extemos de fantasia e, na medida em que o analista se transforma em tal objeto na concepgao do paciente, sua utilidade como analista — ou seja, alguém em quem 0 paciente pode se apoiar para viver uma experiéncia de realidade externa ¢ interna em que os dois nfo se confundem — pode ficar bastante diminuida. 2 oO ‘Apesar deste petigo, o analista deve transformar-se no objeto exter- no de fantasia para que a andlise possa prosseguir. Um objeto externo de fantasia apenas é uma figura transferencial que o paciente usa ao projetar ‘sua onipoténcia no analista. E de crucial importancia que o analista no ‘compartithe as fantasias do paciente acerca de sua onipoténcia. A reco- mendagao de Freud parece apontar precisamente para esta questo: ane- cessidade de que o analista seja realista com relagdo a seus poderes de ‘cura para poder conservar o estado mental analitico apropriado. _ Psicandlisee Sugestao | 3.2 Identificaglio projetiva no processo analitico Desde a publicagdo do artigo de Strachey, trabalhos de outros auto- res, como Klein (1946), e alguns de seus seguidores, como Bion (1959), Meltzer (1966) e Rosenfeld (1941), sobre a teoria da identificagao proje- tiva, nos permitiram entender as observagGes de Strachey em relagio a0 ‘analista enquanto objeto externo de fantasia na transferéneia, Atual- mente, reconhecemos que o paciente, ao constituir a transferéncia, pro- jeta uma parte de si mesmo (em fantasia) para dentro do analista, para depois sentir 0 analista identificado com essa parte. Ou seja, o paciente acredita que a parte projetada ndo é mais seu atributo, mas do analista. Quando o paciente eleva o analista ao status daquele que cura, fi-lo pro- jetando sua onipoténcia no analista, sendo levado a acreditar que este ‘possui poderes curativos magicos e que o processo analitico é de alguma rmaneira a realizagao da sua ansiada crenga no objeto extemno particular de fantasia chamado de deus pessoal. | Também sabemos que a identificagdo projetiva na transferéncia mais do que uma mera fantasia do paciente. O paciente de fato provoca (por meio de comunicago verbal e ndo-verbal) um estado mental no analista que corresponda ao que o paciente projeta para dentro dele na fantasia (Heimann, 1950). Este estado mental é 0 tipo de contratransfe- réncia que Grinberg (1962) chamou de contra-identificagao projetiva. (Esta afirmagio pode ser considerada uma simplificagdo extrema de um tema complexo. O fato de que a fantasia do paciente — por exemplo, de que o analista ¢ alguém que cura magicamente — possa encontrar uma fantasia correspondente na mente do analista nao implica que a fantasia do paciente tomou-se algo mais do que uma fantasia. Continua sendo ‘uma fantasia, mas agora se uniu a uma outra— a fantasia do analista 48

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