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R. Fac, Educ., Sao Paulo 14(2) 303-313, jul./dez. 1988 SISTEMAS SOCIAIS COMO DEFESAS CONTRA A ANSIEDADE DEPRESSIVA E A ANSIEDADE PERSECUTORIA: contribuigie ao estudo psicanalitico dos processes sociais* Elliott JAQUES: Inameros fenémenos sociais manifestam —- como freqiientemente foi notado — estreita e surpreendente correspondéncia com os proces- gos psicéticos individuais. Melitta Schmideberg, por exemplo, evoca 0 contetido psicético de muitas ceriménias e ritos primitivos. Bion sugere que a vida afetiva do grupo sé pode ser compreendida em termos de mecanismos psicéticos. Minha experiéncia pessoal recente mostrou-me, de modo impres- sionante, como os individuos utilizam as instituigdes de que sao mem- bros, para reforgar mecanismos individuais de defesa contra a ansie- dade, sobretudo contra o retorno dessas ansiedades primarias, parandi- des e depressivas descritas, pela primeira vez, por Mélanie Klein. Li- gando os comportamentos em sociedade ao fato de se defenderem contra a ansiedade psicética, néo pretendo absolutamente sugerir que as rela- des sociais nfo preencham outra fun¢&o sendo uma fungéio defensiva desse tipo. Como exemplos de outras funcées citarei, aspecto de suma importancia, a expresso e a satisfagao das pulsdes libidinais nas ati- vidades sociais construtivas, tanto quanto a cooperagdo social em ins- tituigdes que oferecem possibilidades de criagéo e de sublimacao. Entretanto, meu propésito leva-me a me limitar, nesse texto, a0 exame de certas fungées de defesa; espero, assim, tornar claros ¢ pre- cisos os processos segundo os quais os mecanismos de identificagaio projetiva e introjetiva ligam as condutas individuais e sociais. A hipotese especifica que examinarei consiste em que wm dos elementos primarios de coesio unindo. os individuos em associagdes humanas institucionalizadas é a defesa contra a ansiedade psicdtica. + Texto cléssico fundamental de antropo-psicandlise das organizactes © instituighes: de LEVY, A. (org.) Psychologie Sociale: textes fondamentaux anglais et américains, Paris, Dunod, 197, tome 2 pp. 546-665. ‘gradugido por José Carlos de Paula Carvalho, Professor Livre-Docente do Departamento do Administragho Hscolar e Heonomia da Educagio da Faculdade de Educaglo da Univer- sldade de Sio Paulo. 304 ELLIOTT JAQUES Nesse sentido podemos pensar que os individuos projetam no ex- terior as pulsGes e os objetos internos que, caso contrario, seriam fonte de ansiedade psicética, e que, ademais, sio postos em comum na vida das instituigdes sociais onde se associam. Isso néo quer dizer que as instituig6es assim usadas se tornem “psicéticas”; mas isso implica, efe- tivamente, que devemos esperar encontrar, nas relacdes de grupo, manifestacdes de irrealismo, de clivagem, de hostilidade, de descon- fianca, além de outras formas de conduta mal adptadas. Tais manifes- tagdes sAo o simétrico e social — mas ndo o equivalente — daquilo que aparece como sintomas psicdticos nos individuos que nao desenvolve- ram sua capacidade de utilizar os mecanismos de filiagdo a grupos so- ciais para evitar a ansiedade psicética. Se a hipétese for exata, a observacio dos processos sociais pro- vavelmente daraé uma visio ampliada dos mecanismos psicdticos obser- vaveis nos individuos, ao mesmo tempo em que possibilita um referen- cial acessivel a mais de um observador. Além disso, muitos proble- mas sociais, econdmicos e politicos — freqiientemente atribuidos 4 ignorancia humana, a estupidez, As mas atitudes, 20 egoismo ou a busca do poder — podem se tornar mais compreensiveis se nos apereebermos que contém tentativas, cujas motivacdes sAo inconscientes, de seres humanos para se defenderem, da melhor maneira possivel naquele mo- mento, contra a experiéncia de ansiedades com relacao as quais nao poderiam conscientemente controlar as fontes. As razdes da dificulda- de em tratar o problema da mudanca de muitas pressdes sociais e de muitas tensdes de grupo serao, talvez, melhor avaliadas se as virmos como as “resisténcias” de grupos de pessoas que inconscientemente se agarram a suas institugdes porque as mudangas nas relagées sociais ameacam perturbar as defesas sociais existentes que protegem contra a ansiedade psicética. As instituigdes sociais, no sentido em que uso esse termo, sao estruturas sociais que comportam mecanismos culturais’ reguladores das relagdes internas. As estruturas sociais sfo sistemas de papéis ou de posicées que podem ser adotadas e ocupadas por pessoas. Os mecanismos culturais sio as convencées, costumes, tabus, regras etc., que so utilizados para regular as relagdes entre os membros de uma sociedade. Para fins de andlise, as instituigdes podem ser definidas independentemente dos individuos particulares que desempenham os papéis e ocupam as funcées ¢ manipulam tais mecanismos culturais. Mas o efetivo funcionamento das instituicées se dé pelo intermédio de Pessoas reais manipulando os mecanismos culturais dentro de uma estrutura social; e as fungdes inconscientes ou implicitas de uma insti- ‘tuicgdo sio determinadas de modo especifico pelos individuos particula- res associados na instituicdo, ocupando fungdes dentro de uma estrutura e manipulando a cultura. Podem se dar mudancas nas fungées inconscientes de uma insti- tuigo através de uma mudanca de pessoal sem que necessariamente R, Fac. Educ, 14(2):303-313, 1988 SISTEMAS SOCIAIS COMO DEFESAS CONTRA A... 305 acontega qualquer mudanga aparente nos niveis manifestos das estru- turas e funcées. E reciprocamente, como freaiientemente se observa, impor uma mudan¢a na estrutura manifesta ou na cultura, com obje- tivo de resolver um problema, pode fregiientemente deixar o problema insolivel, persistindo imutaveis as relagdes inconscientes. PROJEGAO, INTROJECGAO E IDENTIFICACAO NAS RELACGOES SACIAIS Em “Psicologia coletiva e analise do Ego”, Freud toma como ponto de partida, para seu estudo da psicologia dos grupos, a relagéio entre © grupo e seu chefe. Vislumbra a esséncia dessa relacéo nos mecanis- mos de identificagéo dos membros do grupo com o chefe e de uns com os outros, Nesse sentido, os processos de grupo podem ser ligados a formas mais primitivas de comportamento, desde que “a identifieacdo é co- nhecida pela psicanalise como a primeirissima expressio de um laco emocional com outra pessoa”. Mas Freud nao desenvolveu explicit mente 0 conceito de identificacao além da identificacio por introjecao, concepgao derivada de seu trabalho sobre a retengiio, dos objetos perdi- dos, pelo processo da introjecdo. Na sua analise da vida coletiva distingue, entretanto, a identifi- cago do ego com um objeto (ou identificagao por introjecdo), e aquilo a que chama de substituicéo do eu-ideal por um objeto externo. Nos dois exemplos que descreve, o exército e a igreja, mostra que © soldado substitui seu cu-ideal pelo chefe, que se torna seu ideal, ao Passo que 0 cristéo incorpora o Cristo como seu ideal, identificando-se a ele, Como Freud, Mélanie Klein vé a introjegao como um dos pro- cessos primarios por meio dos quais a crianca estabelece relagées emo- cionais com seus objetos. Mas ela considera que os processos de intro- jecdo e de projecdo interagem no engendramento dessas relacdes. Essa formulagao parece-me concordar, ainda que de modo nfo explicito, com os enfoques de Freud, que acabamos de dar. Isto 6, a identificacio do ego com um objeto é uma identificacdo por introjeco; isso esta ex- plicito em Freud. Mas a substituic&éo do eu-ideal por um objeto exter- no parece-me conter implicitamente a concepgio da identificagdo por projecio. Assim, os soldados que adotam seu chefe como seu eu-ideal, de fato com ele se identificam projetivamente, ou fazem nele repousar uma parte de si mesmos. E essa identificacio projetiva comum ou par- tilhada que permite aos soldados identificarem-se entre si, Na forma externa de tal identificacéo projetiva, os subordinados tornam-se total- mente dependentes do chefe, porque cada um a ele entregou uma parte de si mesmo. De fato, 6 precisamente esse extremo de identificacéo projetiva que poderia explicar o caso de panico descrito por Freud, onde R, Fac, Educ., £4(2):303-313, 1988

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