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CAPÍTULO I - AS PREPARAÇÕES

Toda intenção que não se manifesta por atos é uma intenção vã, e
a
palavra que a exprime é uma palavra ociosa. É a ação que prova a
vida, e é
também a ação que prova e demonstra a vontade. Por isso, está
escrito nos
livros simbólicos e sagrados, que os homens serão julgados, não
conforme
seus pensamentos e suas idéias, mas segundo suas obras. Para ser
é preciso
fazer.
Temos, pois, de tratar agora da grande e terrível questão das obras
mágicas. Não se trata mais, aqui, de teorias e abstrações;
chegamos às
realidades, e vamos pôr entre as mãos do adepto a baqueta dos
milagres,
dizendo-lhe: Não confies somente nas nossas palavras; age tu
mesmo.
Trata-se aqui das obras de uma onipotência relativa e do meio de
apoderar-se dos maiores segredos da natureza e fazê-los servir a
uma
vontade esclarecida e inflexível.
A maioria dos rituais mágicos conhecidos são mistificações ou
enigmas, e vamos rasgar, pela primeira vez, depois de tantos
séculos, o véu
do santuário oculto. Revelar a santidade dos mistérios é remediar
a sua
profanação. Tal é o pensamento que sustenta a nossa coragem e
nos faz
afrontar todos os perigos desta obra, a mais ousada talvez que
tenha sido
dado ao espírito humano conceber e realizar.
As operações mágicas são o exercício de um poder natural, mas
superior às forças ordinárias da natureza. São o resultado de uma
ciência e
de um hábito, que exaltam a vontade humana acima dos seus
limites
habituais.
O sobrenatural é simplesmente o natural extraordinário ou natural
exaltado: um milagre é um fenômeno que impressiona a multidão,
porque é
inesperado; o maravilhoso e o que admira são efeitos que
surpreendem os
que ignoram suas causas ou lhes atribuem causas não
proporcionais a
semelhantes resultados. Só há milagres para os ignorantes; mas
como não
existe ciência absoluta entre os homens, o milagre ainda pode
existir, e
existe para todos.
Comecemos por dizer que cremos em todos os milagres, porque
estamos convencidos e certos, até pela nossa própria experiência,
da sua
inteira probabilidade.
Existem os que não explicamos, mas que nem por isso deixamos
de
considerar como explicáveis. De o mais ao menos e do menos ao
mais, as
conseqüências são identicamente as mesmas e as proporções
progressivamente rigorosas.
Mas, para fazer milagres, é preciso estar fora das condições
comuns
da humanidade; é preciso estar ou abstraído pela sabedoria, ou
exaltou pela
loucura, acima de todas as paixões, ou fora das paixões, pelo
êxtase ou
frenesi. Tal é a primeira e mais indispensável das preparações do
operador.
Assim, por uma lei providencial ou fatal, o mago só pode exercer
a
onipotência na razão inversa do seu interesse material; o
alquimista faz
tanto mais ouro, quanto mais se resigna às privações e estima a
pobreza,
protetora dos segredos da grande obra.
Só o adepto de coração sem paixão disporá do amor ou ódio
daqueles
que quiser fazer de instrumentos da sua ciência: o mito do Gênese
é
eternamente verdadeiro, e Deus só permite que se aproximem da
árvore da
ciência os homens tão abstinentes e tão fortes para não cobiçar os
frutos.
Vós, pois, que procurais na magia o meio de satisfazer vossas
paixões, parai nesse caminho funesto; só achareis nele a loucura
ou a
morte. É o que exprimiam outrora por esta tradição vulgar: que o
diabo
acabava, mais cedo ou mais tarde, por torcer o pescoço dos
feiticeiros.
O magista deve, pois, ser impassível, sóbrio e casto,
desinteressado,
impenetrável e inacessível a toda espécie de preconceitos ou
terror. Deve
ser sem defeitos corporais e estar à prova de todas as contradições
e de
todos os sofrimentos. A primeira e mais importante das obras
mágicas é
chegar a esta rara superioridade.
Dissemos que o êxtase apaixonado pode produzir os mesmos
resultados que a superioridade absoluta, e isto é verdade no que
diz respeito
ao sucesso, mas não no que se refere ao governo das operações
mágicas.
A paixão projeta com força a luz vital e imprime movimentos
imprevistos no agente universal: mas não pode reter tão
facilmente como
lançou, e o seu destino é, então, semelhante ao de Hipólito
arrastado pelos
seus próprios cavalos, ou ao de Phalaris experimentando o próprio
instrumento de suplícios que inventara para outros.
A vontade humana realizada pela ação é semelhante à bala de
canhão
que nunca recua diante do obstáculo. Ela o atravessa, ou entra e
perde-se
nele, quando é lançada com violência; mas, se caminhar com
paciência e
perseverança, nunca se perde, e é como a onda que sempre volta e
acaba
por corroer o ferro.
O homem pode ser modificado pelo hábito, que, conforme o
provérbio, nele se torna uma segunda natureza. Por meio uma
ginástica
perseverante e graduada, as forças e a agilidade do corpo se
desenvolvem
ou se criam numa proporção que admira. O mesmo se dá com as
forças da
alma. Quereis vós reinar sobre vós mesmos e os outros? Aprendei
a querer.
Como se pode aprender a querer? Aqui está o primeiro arcano da
iniciação mágica, e é para fazer compreender a própria essência
deste
arcano que os antigos, depositários da arte sacerdotal rodeavam os
acessos
do santuário de tantos terrores e prestígios. Só davam crédito a
uma
vontade, quando tinha dado suas provas, e tinham razão. A força
só pode
afirmar-se por vitórias.
A preguiça e o esquecimento são os inimigos da vontade, e é por
isso
que todas as religiões multiplicaram as práticas e tornaram
minucioso e
difícil o seu culto. Quanto mais a pessoa se preocupa por uma
idéia, tanto
mais adquire força no sentido dessa idéia.
As mães mão preferem os filhos que lhes causaram mais dores e
lhes
custaram mais cuidados? Por isso, a força das religiões está
inteiramente na
inflexível vontade dos que a praticam. Enquanto houver um fiel
crente do
santo sacrifício da missa, haverá um padre para dizê-la, e
enquanto houver
um padre que reze todos os dias o seu breviário, haverá um papa
no mundo.
As práticas mais insignificantes em aparência e mais estranhas em
si
mesmas, ao fim que nos propomos, levam, não obstante, a esse
fim pela
educação e o exercício da vontade. Um camponês que se
levantasse todas
as manhãs, às duas ou três horas, e que fosse bem longe colher,
todos os
dias, um ramo da mesma erva, antes do levantar do sol, poderia,
levando
consigo a erva, operar um grande número de prodígios. Esta erva
seria o
sinal da sua vontade e tornar-se-ia, para esta própria vontade, tudo
o que ele
quisesse que se tornasse no interesse dos seus desejos.
Para poder é preciso crer que se pode, e esta fé deve traduzir-se
imediatamente em atos. Quando uma criança diz: “Não posso”,
sua mãe lhe
responde: “experimenta”. A fé nem mesmo experimenta; ela
começa com a
certeza de acabar, e trabalha com calma, como tendo a
onipotência às suas
ordens e a eternidade diante de si.
Vós, pois, que vos apresentais diante da ciência dos magos, que
lhes
pedis? Ousai formular vosso desejo, seja qual for, depois ponde-
vos
imediatamente à obra, e não cesseis mais de agir no mesmo
sentido e para o
mesmo fim; o que quereis será feito, e já está começado para vós
e por vós.
Sixto V, apascentando suas ovelhas, tinha dito: “Quero ser papa”.
Sois pedinte e quereis fazer ouro: ponde-vos à obra e não cesseis
mais. Eu vos prometo, em nome da ciência, todos os tesouros de
Flamel e
Raimundo Lullo.
Que é preciso fazer primeiramente? – É preciso crer que podeis, e,
depois, agir. – Agir como?
– Levantar-vos todos os dias à mesma hora e cedo; lavar-vos, em
qualquer estação, antes do dia, numa fonte; nunca trazer roupas
sujas, e,
para isso, lavá-las vós mesmos, se for preciso; exercer-vos às
privações
voluntárias, para melhor suportar as involuntárias; depois impor
silêncio a
todo desejo que não seja o da realização da grande obra. – Como?
Lavando-me todos os dias, numa fonte, farei ouro? – Trabalhareis
para
fazê-lo. – É uma zombaria! – Não, é um arcano. – Como posso
servir-me
de um arcano que não sei compreender? – Crede e fazei;
compreendereis
depois.
Uma pessoa me disse um dia: - Queria ser um fervoroso católico,
mas sou um volteriano. Quanto não daria para ter a fé! – Pois
bem, lhe
respondi, não digais mais: Queria; dizei: Quero, e fazeis as obras
da fé; eu
vos asseguro que acreditareis. Vós sois voltaireano, dizeis, e entre
os
diferentes modos de entender a fé, o dos jesuítas vos é o mais
antipático, e
vos parece, entretanto, o mais desejável e forte... Fazei, e
recomeçai, sem
vos desanimar, os exercícios de Santo Inácio, e ficareis crentes
como um
jesuíta. O resultado é infalível, e, se então tiverdes a ingenuidade
de crer
que é um milagre, vós já vos enganais, crendo-vos voltaireano.
Um preguiçoso nunca será mago. A magia é um exercício de
todas as
horas e de todos os instantes. É preciso que o operador das
grandes obras
seja senhor absoluto de si mesmo; que saiba vencer as atrações do
prazer, o
apetite e o sono; que seja insensível ao sucesso como à afronta. A
sua vida
deve ser uma vontade dirigida por um pensamento e servida pela
natureza
inteira, que terá subordinada ao espírito nos seus próprios órgãos
e por
simpatia em todas as forças universais que lhe são
correspondentes.
Todas as faculdades e todos os sentidos devem tomar parte na
obra, e
nada no sacerdote de Hermes tem direito de estar ocioso; é
preciso
formular a inteligência por signos e resumi-la por caracteres ou
pantáculos; é preciso determinar a vontade por palavras e realizar
as palavras por atos;
é preciso traduzir a idéia mágica em luz para os olhos, em
harmonia para os
ouvidos, em perfumes para o olfato, em sabores para a boca, e em
formas
para o tato; é preciso, numa palavra, que o operador realize na sua
vida
inteira o que quer realizar fora de si no mundo; é preciso que se
torne um
imã para atrair a coisa desejada; e, quando estiver suficientemente
imantado, saiba que a coisa virá sem que ele pense por si mesma.
É importante que o mago saiba os segredos da ciência; mas pode
conhecê-los por intuição e sem os ter aprendido. Os solitários que
vivem na
contemplação habitual da natureza, adivinham, muitas vezes, as
suas
harmonias e são mais instruídos, no seu simples bom senso, do
que os
doutores, cujo sentido natural é falseado pelo sofismas das
escolas. Os
verdadeiros magos práticos se acham quase sempre no sertão e
são, muitas
vezes, pessoas sem instrução ou simples pastores.
Existem também certas organizações físicas mais dispostas do
que
outras às revelações do mundo oculto; existem naturezas
sensitivas e
simpáticas às quais a intuição na luz astral é, por assim dizer,
inata; certos
desgostos e doenças podem modificar o sistema nervoso, e fazer
dele, sem
o concurso da vontade, um aparelho de adivinhação mais ou
menos
perfeito; mas estes fenômenos são excepcionais, e geralmente o
poder
mágico deve e pode ser adquirido pela perseverança e o trabalho.
Existem também substâncias que produzem êxtase e dispõem ao
sono magnético; existem as que põem ao serviço da imaginação
todos os
reflexos mais vivos e coloridos da luz elementar; mas o uso
dessas
substâncias é perigoso, porque, em geral, produzem a estupefação
ea
embriaguez. Todavia, empregamo-las, mas em proporções
rigorosamente
calculadas e em circunstâncias excepcionais.
Aquele que quer entregar-se seriamente às obras mágicas, depois
de
ter firmado o seu espírito contra qualquer perigo de alucinação e
temor,
deve purificar-se, exterior e interiormente, durante quarenta dias.
O número
quarenta é sagrado, e até a sua figura é mágica. Em algarismos
árabes,
compõem-se do círculo, imagem do infinito, e do 4, que resume o
ternário
pela unidade. Em algarismos romanos, dispostos do modo
seguinte,
representa o signo do dogma fundamental de Hermes e o caráter
do selo de
Salomão:
X x
X X X x
X x

A purificação do mago deve consistir na abstinência das


voluptuosidades brutais, num regime vegetariano e brando, na
supressão
dos licores fortes e na regularidade das horas de sono. Esta
preparação foi
indicada e representada, em todos os cultos, por um tempo de
penitência e
privações que precede as festas simbólicas da renovação da vida.
É preciso, como já dissemos, observar, para o exterior, a limpeza
mais escrupulosa: o mais pobre pode achar água nas fontes. É
preciso
também lavar ou mandar lavar com cuidado as roupas, os móveis
e os
vasos que se usam. Toda sujidade atesta uma negligência, e, em
magia, a
negligência é mortal.
É preciso purificar o ar, ao levantar-se e deitar-se, com um
perfume
composto de seiva de louro, sal, cânfora, resina branca e enxofre,
e recitar,
ao mesmo tempo, as quatro palavras sagradas, voltando-se para as
quatro
partes do mundo.
Não devemos falar a ninguém das obras que realizamos; e, como
dissemos bastante no Dogma, o mistério é a condição rigorosa e
indispensável de todas as operações da ciência. É preciso desviar
os
curiosos, alegando outras ocupações e investigações, como
experiências
químicas para resultados industriais, prescrições higiênicas, a
investigação
de alguns segredos naturais, etc.; mas a palavra proibida de magia
nunca
deve ser pronunciada.
O mago deve isolar-se, no começo, e mostrar-se muito difícil em
relações, para concentrar em si a sua força e escolher os pontos de
contato;
mas quanto mais for selvagem e inacessível nos primeiros
tempos, tanto
mais vê-lo-ão, mais tarde, rodeado e popular, quando tiver
imantado a sua
cadeia e escolhido o seu lugar numa corrente de idéias de luz.
Uma vida trabalhosa e pobre é de tal modo favorável à iniciação
pela
prática, que os maiores mestres a procuraram, até quando podiam
dispor
das riquezas do mundo. É então que Satã, isto é, o espírito de
ignorância que ri, duvida e odeia a ciência, porque a teme, vem
tentar o futuro senhor
do mundo, dizendo-lhe: “Se és o filho de Deus, faz com que estas
pedras se
tornem pães”. As pessoas de dinheiro procuram, então, humilhar
o príncipe
da ciência, obstando, desapreciando ou explorando
miseravelmente o seu
trabalho; partem em dez pedaços, para que estenda a mão dez
vezes, o
pedaço de pão de que parece ter necessidade. O mago nem
mesmo se digna
sorrir desta inépcia, e prossegue na sua obra com acalma.
É preciso evitar, tanto quanto possível, a vista das coisas
horrendas e
das pessoas feias; não comer em casa de pessoas que não se
estimam, evitar
todos os excessos e viver do mudo mais uniforme e organizado.
Ter o maior respeito por si mesmo e considerar-se como um
soberano desconhecido que assim faz para reconquistar a sua
coroa. Ser
dócil e digno com todos; mas, nas relações sociais, nunca deixar-
se
absorver e retirar-se dos círculos em que não haja nenhuma
iniciativa.
Podemos, enfim, e mesmo devemos fazer as obrigações e praticar
os
ritos do culto a que pertencemos. Ora, de todos os cultos, o mais
mágico é
aquele que realiza mais milagres, que apóia, nas mais sábias
razões, os
mais inconcebíveis mistérios, que tem luzes iguais às suas
sombras, que
populariza os milagres e encarna Deus nos homens pela fé. Esta
religião
sempre existiu, e sempre houve no mundo, sob diversos: é a
religião única
e dominante. Agora, ela tem, entre os povos da terra, três formas
em
aparência hostis umas às outras, que se reunirão logo numa única
para
constituir uma Igreja universal. Quero falar da ortodoxia russa, do
catolicismo romano e de uma última transfiguração da religião de
Buda.
Cremos ter feito compreender bem, pelo que precede, que a nossa
magia é oposta à dos goécios e necromantes. A nossa magia é, ao
mesmo
tempo, uma ciência e uma religião absoluta, que deve não destruir
e
absorver todas as opiniões e todos os cultos, mas regenerá-los e
dirigi-los,
reconstituindo o círculo dos iniciados, e dando, assim, às massas
cegas,
condutores sábios e clarividentes.
Vivemos num século em que não há nada para destruir; mas tudo
está para refazer, porque tudo está destruído. – Refazer o quê? O
passado?
– Não se refaz o passado. – Reconstruir o quê? Um templo e um
trono? -
Para que, se os antigos caíram? – É como se dissésseis: A minha
casa acaba
de cair de velhice; para que serve construir uma outra? – Mas a
casa que
ides construir será semelhante à que caiu? – Não; aquela que caiu
era
velha, e esta será nova.
– Mas, enfim, será sempre uma casa? – Que queríeis, pois, que
fosse?

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