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A autora cita uma frase de Marilyn Strathern sobre a questão: "Uma cultura
dominada pelas ideias de propriedade só pode imaginar a ausência dessas
ideias sob determinadas formas". Ou seja, "O conhecimento indígena é
conceitualizado como o avesso das ideias dominantes. Assim, os povos
indígenas parecem estar inextricavelmente condenados a encarnar o reverso
dos dogmas individualistas e de posse do capitalismo. São obrigados a
carregar o fardo da imaginação do Ocidente se quiserem ser ouvidos" (páginas
328).
Muitas sociedades tradicionais tem a noção de direitos privados sobre alguns
conhecimentos, por exemplo, a noção que somente um líder religioso
específico da aldeia pode ter conhecimento e direito sobre algum ritual, ou seja,
não é cultural dessas culturas que certos conhecimentos sejam de domínio
público.
Esse caso diz respeito à cultura de cada sociedade, porém, a autora sugere o
termo "cultura", com aspas, esse termo, portanto, diz respeito à existência de
um projeto político que considera a que o conhecimento tradicional possa se
tornar domínio público (payant). Essa contradição é explicada através da
propriedade metalinguística de "cultura".
A autora recorre também ao conceito de "efeito de looping" de Ian Hacking que
diz respeito a uma teoria da rotulação. Essa teoria afirma, de modo
simplificado, que quando pessoas são rotuladas institucionalmente elas
passam a aderir a comportamentos de tal esteriótipo. O ser-humano procura,
portanto, responder ao que se espera dele, mas acaba muitas vezes tendo um
resultado diferente, logo, "há um novo conhecimentos ser obtido sobre o tipo.
Mas esse novo conhecimento, por sua vez, torna-se parte do que se deve
saber acerca dos membros do tipo, que muda novamente". Isso é o que a
autora entende como o efeito looping.
A afirmativa do chefe Yawanawa é um paralelo entre a autorreflexão de
Hacking e o metadiscurso do termo "cultura" sobre a cultura. Ao afirmar
que honi não é cultura, ele trata da "cultura", pois ela é entendida como
compartilhada por todos os membros dessa sociedade, ele se manisfestava
contra isso. O honi, naquele cultura, não era compartilhado entre todos os
Yawanawa.
Em síntese, no capítulo a autora trata a questão da cultura x “cultura” e debate
sobre como a “cultura” foi imposta e posteriormente aproveitada pelas
sociedades periféricas. Nesse debate para elucidar a diferença desses termos
ela traz como exemplo a fala sobre o Honi e a questão da indigenização –
quando cita o efeito looping – que é um fenômeno de adaptação de um povo a
um princípio de valor humano que lhe foi pregado ou incutido. A partir de
exemplos e reflexões sobre os termos e conceitos utilizados para definir
conhecimento nas sociedades em geral, a autora explica a dicotomia entre
cultura e “cultura”.