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Um Estudo da Implantação de um Otimizador

de Mix para o Setor Agropecuário

Guilherme Luís Roehe Vaccaro


Luís Henrique Rodrigues
Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção e Sistemas – PPGEPS,
Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS,
Av. Unisinos, 950, Prédio 5, 3º Andar, Bairro Cristo Rei,
CEP 93022-000, São Leopoldo, RS,
e-mails: guilhermev@unisinos.br, lhr@unisinos.br

Felipe Morais Menezes


Produttare Consultores Associados,
Rua Engenheiro Afonso Cavalcanti, 54, Bairro Bela Vista,
CEP 90440-110, Porto Alegre, RS,
e-mail: menezes@produttare.com.br

Recebido em 08/6/2005
v.13, n.2, p.283-295, mai.-ago. 2006 Aceito em 17/4/2006

Resumo

O presente trabalho descreve uma abordagem de implantação de um otimizador de mix de produção em empresas
do setor agropecuário, mais propriamente em frigoríficos. A implantação de um otimizador de mix envolve diversas
áreas da organização, uma vez que esta é uma ferramenta sistêmica e que tem por objetivo gerar um plano mestre de
produção orientado ao mercado, respeitando capacidades finitas agregadas e otimizando a lucratividade da empresa.
O artigo discute as dimensões envolvidas na implantação de um projeto dessa natureza, bem como os principais be-
nefícios de sua implantação.
Palavras-chave: otimização de mix, planejamento de produção, processos divergentes.

1. Introdução
O Brasil ocupa uma posição estratégica no mercado a pequena vantagem que o Brasil apresenta em relação a
frigorífico mundial. Em 2004, o complexo de carnes ex- outros fornecedores em alguns setores do ramo frigorífi-
portadas superou a marca de seis bilhões de dólares, sen- co demandam vigilância no sentido do alinhamento ade-
do que cerca de cinco bilhões foram gerados pela expor- quado do mix de produção e vendas previsto em relação
tação de carne de frango e bovina (ABIPECS, 2004). O às expectativas e demandas dos mercados.
País é o maior exportador, em volumes, de carne bovina Do ponto de vista estratégico, a definição do mix de
e de frangos (ABIPECS, 2004), tendo superado as expec- produção afeta a rentabilidade das empresas de duas for-
tativas previstas para o ano de 2004 (ABEF, 2004). No mas: pela racionalização do uso de recursos, matérias-
entanto, por questões como cotas de exportação, ainda primas, transportes e outros elementos do ambiente pro-
ocupa apenas a quarta posição como produtor de carne dutivo; e pela indicação de qual combinação de produtos
suína e contribui com apenas 3% do volume exportado pode maximizar a receita líquida da empresa. Isso porque
mundialmente (ABIPECS, 2004). As previsões são de o mesmo frango (suíno, etc.), ao ser espostejado de for-
que este quadro seja mantido no próximo biênio, com mas diferentes, gera produtos finais diferentes, alterando
previsão de incremento anual médio de 5% nos volumes a riqueza gerada a partir, essencialmente, da mesma ma-
produzidos (ABEF, 2005). téria-prima.
Do ponto de vista comercial, a definição do mix de Indústrias de produção conjunta e, mais particular-
produção depende diretamente da compreensão das ne- mente, do setor frigorífico, apresentam como caracterís-
cessidades dos clientes, traduzida pelas previsões de de- tica marcante a possibilidade de geração de uma grande
manda. A alta competitividade do mercado frigorífico e quantidade de produtos finais a partir de um pequeno nú-
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mero de matérias-primas. Outra característica marcante produtivas podem ser classificadas como V, A ou T, ou
desse tipo de indústria é que a geração de um conjunto de ainda como uma combinação desses três tipos, como por
produtos implica na geração compulsória de outro con- exemplo, I.
junto de produtos. Essa característica de diversificação Empresas com processos produtivos do tipo V geral-
de produtos, ao longo da estrutura produtiva, torna estra- mente apresentam um pequeno número de matérias-pri-
tégica e altamente impactante a questão do planejamento mas, as quais são transformadas em uma gama variada de
do mix de produção. produtos finais. Estas são também chamadas de plantas
A adoção de um método e de ferramentas que permi- de fluxo divergente, pela característica do fluxo dos pro-
tam definir o mix de produção (e que, simultaneamente, dutos, como ilustrado na Figura 1. São exemplos desse
levem em conta as características de produção conjunta tipo de empresas: empresas do ramo frigorífico, usinas de
do setor frigorífico, aspectos estratégicos como os men- aço, refinarias de petróleo, empresas do ramo metalúrgi-
cionados anteriormente, restrições de capacidade produ- co, indústrias de beneficiamento de madeira, etc. Dada a
tiva, de suprimentos e de logística) faz-se necessária para natureza de seu processo produtivo, esse tipo de empresa
agilizar a resposta das indústrias deste segmento frente a apresenta maior dificuldade na seleção do mix de produ-
realinhamentos do mercado e outras incertezas críticas. to, principalmente se considerada a dimensão estratégica
O que diferencia a abordagem proposta de outras abor- de maximizar a rentabilidade do negócio da empresa.
dagens de definição de mix (Bayou e Reinstein, 2005; Em empresas frigoríficas há ainda a dificuldade da de-
Corbett, 1998; Low, 1992; Lea e Fredendall, 2002) é a finição da estrutura de produto, que pode ser representada
possibilidade de priorizar o adequado atendimento às ne- por uma árvore composta por ramos compulsórios e por
cessidades de seus clientes, de identificar eventuais fal- ramos alternativos. Os ramos compulsórios representam,
tas de capacidade ou de matéria-prima em ambiente de por exemplo, cortes de componentes que são obrigato-
planejamento e, em havendo excedentes, de maximizar riamente gerados. Exemplos de ramos compulsórios são
o lucro das empresas pelo melhor aproveitamento da es- pés, miúdos, cabeça, etc., para um suíno, ave ou bovino.
trutura de produção divergente, característica desse tipo Os ramos alternativos representam as decisões estratégi-
de indústria. A operacionalização desse método é o tema cas dos programadores de produção, definindo quais cor-
proposto neste artigo. tes serão priorizados em uma dada produção. Exemplos
de ramos alternativos são o envio de carcaças para con-
gelamento (produto final) ou para espostejamento, ge-
2. Materiais e métodos rando outros cortes, ou a opção de produção de frangos
Este artigo descreve um método para a definição do griller ou broiler. Nesse segmento, há também um outro
mix ótimo de produção e vendas, visando maximizar a tipo de decisão alternativa, que consiste na seleção de
lucratividade de indústrias de produção conjunta, tais fórmulas para a fabricação de embutidos, empanados ou
como as do setor frigorífico. Por “ótimo” entende-se a elaborados. Fórmulas diferentes podem dar ao produto
melhor configuração de mix que atenda, simultaneamen- final as mesmas características de paladar, consistência,
te, ao seguinte conjunto de critérios: etc., mas gerar impactos diferentes no aproveitamento
•  Alinhamento às diretrizes da empresa, de atendimento dos cortes e dos insumos. Essas características tornam
ao mercado;
mais complexa a tarefa do gestor de produção, visto que

•  Respeito a restrições da estrutura física da empresa,


capacidades de recursos, características de qualidade
dos produtos e disponibilidades de matérias-primas e a
insumos;
b
•  Maximização da rentabilidade, expressa por elementos
financeiros, tais como preço de venda diferenciado por c
item e mercado, despesas e custos variáveis, taxas de
frete, etc.; e Matérias-primas
d
•  Minimização de estoques, considerando seu valor fi-
nanceiro. e
Chase e Aquilano (1995) apresentam a classificação f
VAT, que distingue as empresas com base na natureza do Produtos finais
fluxo de materiais pela planta, considerando a estrutura
dos roteiros de produção e a estrutura de materiais que Figura 1. Esquema de uma planta tipo V. Fonte: Mansi-
compõem o produto. De uma forma geral, as empresas lha (2005), adaptado de Chase e Aquilano (1995).
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a integração de quais cortes realizar e quais fórmulas 2.1 Visão estratégica, orientada ao ­mercado
privilegiar impactam diretamente os níveis de inventário Goldratt (1986) afirma que “a meta de uma empresa é
gerados. ganhar dinheiro, hoje e no futuro”. Um pensamento mais
O uso de ferramentas para o auxílio na definição de detido sobre essa máxima permite observar que “ganhar
mix de produção é comum na pesquisa em Engenha- dinheiro, hoje e no futuro” preconiza a necessidade de
ria de Produção e é preconizado na atividade industrial manutenção de padrões de qualidade e excelência, de
(Bayou e Reinstein, 2005; Mansilha, 2005; Baldissera, atendimento de necessidades específicas e alinhamento a
2003; Lea e Fredendall, 2002; Rodrigues et al., 2002; demandas de clientes, e de racionalização das capacida-
­Antunes  Jr. et al., 2001; Bercht, 1996; Chase e ­Aquilano, des excedentes em função da maximização de lucros.
1995; Goldratt, 1994; Rodrigues, 1994). O simples uso Classicamente, em indústrias de produção conjunta, a
de uma ferramenta, porém, não é suficiente para garantir definição de mix de produção é “puxada” por estimativas
o sucesso de uma estratégia de definição otimizada de mercadológicas. No entanto, essas estimativas são dadas,
mix de produção. Bayou e Reinstein (2005) argumen- em geral, por meio de números fixos, baseados em séries
tam que a seleção do mix de produção é, em geral, uma históricas e na experiência das equipes de vendas. Esse
decisão multinível, envolvendo critérios, pressupostos modo de operação, apesar de efetivo, diminui a possibili-
e objetivos conflitantes. O processo de implantação de dade de identificação de alternativas de maximização de
uma ferramenta dessa natureza requer o envolvimento de rentabilidades. Em último caso, ao setor de Planejamento
pessoas em diferentes níveis da organização, estrutura- e Controle de Produção (PCP), resta definir se o conjunto
ção de dados em informações adequadas para o uso da de demandas apresentadas é viável ou inviável, dadas as
ferramenta e o uso de processos (Mansilha, 2005) para capacidades de produção e de logística e as disponibili-
garantir a manutenção dos dados e a efetiva execução do dades de suprimentos.
O método de implantação proposto sugere agregar a
plano de ação definido.
visão estratégica dos departamentos comerciais por meio
A presença de interações dinâmicas entre produtos,
de estimativas intervalares de demandas, sugerindo a de-
entre diferentes áreas da organização e entre decisões su-
finição de dois números para cada previsão em lugar de
cessivas ao longo do tempo (Bayou e Reinstein, 2005;
apenas um. O número menor, denominado “mínimo es-
Lea e Frendendall, 2002) também impacta no processo
tratégico de vendas”, indica a quantidade mínima que a
de seleção do mix de produção. Bayou e Reinstein (2005)
empresa estima como relevante para a absorção de cada
sugerem o uso de um modelo hierárquico baseado em Ló-
produto em cada mercado. O número maior, denominado
gica Difusa, enquanto Lea e Fredendall (2002) sugerem o “máximo de absorção de vendas”, indica a quantidade
uso de um modelo baseado em Programação Matemática máxima que poderá ser absorvida de cada produto em
para tratar dessas interações. A abordagem proposta nes- cada mercado a partir dos esforços de venda. Neste pon-
te artigo faz uso de um modelo de Programação Matemá- to, duas considerações são necessárias:
tica, com função objetivo multicriterial, visando maximi-
•  O uso do mínimo estratégico de vendas e do máximo de
zar uma função de utilidade gerada a partir de elementos absorção de vendas flexibiliza o processo de estimação
financeiros (maximização de rentabilidade, minimização e retira parte da criticidade do processo de estimação
de custos variáveis, etc.) e estratégicos (atendimento a realizado pelas equipes de vendas, baseado em apenas
clientes, uso de horas extras, etc.). um número por produto e mercado; e
De modo a permitir uma visão ampla do escopo envol-
vido na abordagem proposta de seleção do mix ótimo de •  Se o mínimo estratégico de vendas e o máximo de ab-
produção e vendas, os autores propõem a consideração sorção de vendas forem iguais, eles representarão o va-
lor da estimativa de vendas classicamente utilizada; em
de cinco dimensões:
outras palavras, para manter a coerência entre as visões
1.  Visão estratégica, orientada ao mercado;
propostas, estes valores deverão englobar a estimativa
2.  Compreensão das características do setor de pro-
pontual classicamente utilizada.
dução conjunta;
A possibilidade de uso desses novos elementos é ape-
3.  Incorporação dos conceitos preconizados pela Te-
nas uma parte do método proposto. No entanto é uma
oria das Restrições (Goldratt, 1994);
parte importante do processo, pois dá flexibilidade de de-
4.  Incorporação das técnicas de otimização da Pes- cisão estratégica ao otimizador de produção sem ferir o
quisa Operacional; e alinhamento comercial estratégico da empresa. Durante
5.  Incorporação dos conceitos de Gestão de Informa- a implantação, esses conceitos necessitam ser dissemi-
ção. nados e bem compreendidos, uma vez que constituem
A seguir, esses elementos serão brevemente apresenta- uma das bússolas para a definição dos resultados a serem
dos, de modo a compor o método proposto. obtidos. De modo a tornar-se efetiva, essa bússola neces-
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sita ser completada pelos outros elementos apresentados proposto sugere o uso de conhecimentos da Teoria das
e deve ser operacionalizada por meio de uma ferramenta Restrições (TOC – Goldratt, 1994), tais como:
computacional, conforme será discutido adiante. •  Atuação sobre recursos restritivos de capacidade (Cons-
trained Capacity Resources – CCR): aqueles que efeti-
2.2 Compreensão das características do vamente restringem a capacidade de produção da em-
setor de produção conjunta presa. Sob o prisma de que uma hora perdida em um
O abate de um frango, por exemplo, origina, além das CCR gera perdas reais para todo o sistema, a identifi-
carnes, também pés, penas, sangue, vísceras, etc. No en- cação de recursos CCR é fundamental para a definição
tanto, o destino dado a cada um desses elementos com- da efetiva capacidade agregada das plantas produtivas.
pulsórios no processo produtivo é estratégico de cada in- Além disso, o controle efetivo e a atuação sobre recur-
dústria, gerando alternativas de produtos semi-acabados, sos CCR permitem reduzir as necessidades de levanta-
as quais poderão gerar novos ciclos de definição de itens mento de dados de tempos e de roteiros de produção; e
compulsórios e alternativos até serem produzidos itens
•  Utilização da filosofia de custeio variável direto: O uso
de venda efetiva ou componentes para formulados (em-
do conceito de “ganho” de um produto (preço de venda
butidos, empanados, etc.). O conhecimento desse meca-
menos despesas totalmente variáveis diretas – Goldratt,
nismo de diversificação dos produtos semi-acabados faz
1994) permite identificar qual a efetiva contribuição de
parte da indústria de produção conjunta e do dia-a-dia
cada produto na maximização da rentabilidade da em-
dos programadores de produção de empresas desse setor.
presa. Custos variáveis indiretos são incorporados de
Situações similares ocorrem em empresas frigoríficas de
forma indireta, a saber:
suínos, de bovinos e em empresas do ramo petroquímico,
por exemplo. -  Custos relativos à aquisição das matérias-primas e
A incorporação do tratamento dessa diversidade se faz dos insumos são levados em conta, mas são incor-
necessária para a obtenção de uma proposta de mix que porados a partir das necessidades de abate ou de
tenha pretensões de otimização. Infelizmente, a capaci- compras identificadas na geração do mix ótimo de
dade humana de processar toda a diversidade de opções produção. Os custos unitários de aquisição de maté-
geradas nesse contexto divergente é insuficiente para pro- rias-primas ou de insumos são utilizados no processo
por um mix com essas características e em prazo hábil. de otimização do mix; e
O método proposto define dois elementos que permi- -  Custos logísticos, de transporte entre unidades ou de
tem modelar a divergência característica dos processos estocagens, seguem as mesmas características dos
de abate e produção de cortes: custos de aquisição acima descritas.
•  Itens compulsórios: aqueles necessariamente gerados O processo de custeio da Teoria das Restrições é
por um processo de abate ou corte; e bastante flexível e não se opõe – e não deve se opor – à
existência de mecanismos tradicionais de custeio contá-
•  Itens alternativos: aqueles que representam decisões estra- bil, necessários para questões fiscais, por exemplo. Glo-
tégicas do setor de PCP, para o atendimento do mix com o balmente, a conta gerada pela “soma das margens, com
melhor aproveitamento de matérias-primas e ­recursos. despesas rateadas em cada produto” e a conta “total de
A modelagem desses itens demanda o envolvimento de receitas – total de despesas” gerarão o mesmo resultado.
profissionais das áreas de PCP no sentido de construir es- O método apenas propõe que o custeio variável seja usa-
truturas formais de produto. É comum a existência de ban- do para identificar os produtos mais atrativos do ponto de
cos de dados em empresas do setor frigorífico, assim como vista comercial e produtivo, sem depreciá-los pelo rateio
também é comum que o conhecimento efetivo de rendi- da estrutura física, por exemplo, que deverá ser mantida,
mentos de cortes e alternativas de produção seja domínio havendo ou não produção.
tão somente das pessoas, não havendo registro formal Para viabilizar a aplicação desses conceitos, o envolvi-
desses dados. Tipicamente, essa é uma informação que se mento dos profissionais de controladoria é fundamental,
encontra disseminada de maneira informal “na cultura da permitindo a definição da segunda bússola na busca de
organização”. Da mesma forma, é comum essa situação um mix de produção alinhado às tendências mercadoló-
repetir-se com dados de roteiros e tempos de processo. gicas e que efetivamente resulte no maior lucro para a
empresa como um todo.
2.3 Incorporação dos conceitos
­preconizados pela teoria das restrições 2.4 Incorporação das técnicas de
A implantação de um sistema de planejamento da ­otimização da pesquisa operacional
produção é freqüentemente observada como um “grande As informações geradas nas diversas áreas da empresa
desafio”, havendo a necessidade de se classificar e prio- envolvidas com o planejamento otimizado da produção
rizar atividades. Nesse sentido, o método de implantação devem ser validadas (no sentido de sua fidelidade e con-
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fiabilidade) e verificadas (no sentido de serem correta- 2002), tendo sido realizadas entrevistas com diferentes
mente informadas à ferramenta de suporte). Isso porque integrantes de empresas e, após uma etapa de análise,
elas formam a base para a geração de um modelo mate- identificadas as classes de restrições mais representativas
mático de otimização que tem por objetivo maximizar a a serem incorporadas no modelo de otimização:
rentabilidade líquida da empresa, atendendo às previsões •  Alinhamento ao mercado;
de demanda indicadas e às capacidades das plantas de
•  Estruturas do produto e necessidades físico-químicas de
fabricação. O modelo gerará um mix ótimo de produção produtos formulados;
vinculado aos dados que lhe foram informados, sugerin-
do decisões com base nesses dados. Para sugerir decisões •  Necessidades de fornecimento de matérias-primas; e
úteis para a empresa, é necessário que o modelo receba •  Capacidades de produção nos CCRs.
dados exatos e realistas. Durante a implantação de uma Com base na identificação dessas classes de restrições,
solução dessa natureza o espírito de comprometimento foi desenvolvido o modelo conceitual, considerando as
com cada dado informado é fundamental, devendo este seguintes variáveis de decisão:
ser disseminado desde os operadores responsáveis por Pi, m: quantidade em mil kg do produto i no período m;
coletas de tempos até os mais altos níveis de gestão da
empresa. Nesse sentido, o apoio da alta gerência da em- MPi, j, m: quantidade em mil kg da matéria-prima j usa-
presa é fundamental, uma vez que sua demonstração de da no produto i no período m;
comprometimento será refletida nos níveis operacionais. Bi, r, m: número de bateladas do produto i no recurso
r no período m;
2.5 Incorporação dos conceitos de gestão
Vi, m: quantidade em mil kg do produto i vendida no
de informação
período m;
A abordagem metodológica se faz presente não apenas
pelos referenciais teóricos, mas também a partir do pro- Ei, m: quantidade em mil kg do produto i estocada no
vimento de meios que permitam sua utilização de forma período m;
sistemática. Sob esse aspecto, o método proposto neces- Ci, m: quantidade em mil kg do produto i comprada no
sita da existência de cinco características fundamentais período m; e
da Gestão da Informação:
Fi, m: quantidade em mil kg de falta para o produto i no
•  Pessoas: as principais beneficiárias do método propos-
período m.
to. O provimento dos dados e a análise dos resultados
propostos dependem da participação de funcionários. Em termos de modelagem específica, as classes de res-
Em contrapartida, os benefícios gerados pela maior ren- trições, são assim formuladas:
tabilidade da empresa são sentidos por toda a empresa;
2.6.1 Restrições de alinhamento ao
•  Ferramentas de software e bancos de dados: necessários ­mercado
para incorporar a complexidade do sistema produtivo; Cada produto final terá a sua quantidade vendida li-
•  Hardware: necessário para suportar as ferramentas de mitada ao máximo de mercado. O mínimo estratégico de
software e bancos de dados; vendas é representado pelos valores MINi, m e o máximo
de absorção de vendas, pelos valores MAXi, m
•  Processos: fundamentais para a implantação e a manu-
tenção do método, permitindo a visão da seqüência e Vi, m < MAXi, m (1)
dos efeitos de cada tarefa de um ponto de vista mais
amplo; e Vi, m > MINi, m + Fi, m (2)
•  Comunicação: transmissão de conceitos de Engenharia
de Produção, de modelagem de recursos e de processos 2.6.2 Restrições de estrutura de produto
produtivos, entre outros, por meio de workshops, com Para os itens formulavdos é necessário determinar a
foco em situações reais do setor. quantidade de cada componente

2.6 O modelo de otimização


!MP i, j, m - QPDi * Pi, m = 0 (3)
j

Para dar suporte ao processo de seleção do mix ótimo


de produção e vendas, um modelo multicriterial baseado em que os valores QPDi representam as somas das
em técnicas de Pesquisa Operacional, mais especifica- quantidades padrão para produção de um kg do produ-
mente a Programação Matemática, foi desenvolvido. O to formulado i. Também é necessário determinar as ca-
modelo conceitual foi baseado no acompanhamento de racterísticas de composição do formulado, em função de
casos em empresas do setor frigorífico (Rodrigues et al., quantidades mínimas e máximas dos componentes
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MPi, j, m - MINQi, j * Pi, m $ 0 (4) rem realizadas, restringe-se a necessidade total do recur-
so à sua capacidade:
MPi, j, m - MAXQi, j * Pi, m # 0 (5)
!TOP i, r * Bi, r, m - RHXr, m - Cr, m # 0 (13)
em que os valores MINQi, j e MAXQi, j representam as i

quantidades mínima e máxima do componente que deve em que os valores TOPi, r representam os tempos padrão
estar presente em um kg do produto i. Finalmente, são de operação de uma batelada do produto i no recurso r, os
necessárias restrições para garantir a manutenção das ca- valores Cr, m e RHXr, m representam os valores de capaci-
racterísticas físico-químicas dos produtos dade normal e de horas extras disponíveis para o recurso
r no período m.
!PDR j, k * MPi, j, m - MINCi, k * Pi, m $ 0 (6) Para recursos que trabalham com valores unitários, a
j
restrição de capacidade é simplesmente
!PDR * MPi, j, m - MAXCi, k * Pi, m # 0 (7)
!TOP
j, k
j i, r * Pi, m - RHXr, m - Cr, m # 0 (14)
i

em que os valores PDRj, k representam os padrões físico- Outros tipos de recursos podem ser agregados, assim
químicos da característica k no componente j e os valores como roteiros alternativos, sendo este tipo de restrição
MINCi, k e MAXCi, k representam as quantidades mínima bastante flexível para adaptação de outras realidades do
e máxima da característica k no produto i. processo produtivo.
Para os itens de corte, os componentes devem ser tra-
tados de acordo com as estruturas compulsórias ou alter- 2.6.5 Função objetivo
nativas. Itens de estrutura compulsória são derivados de A função objetivo representa a utilidade da decisão
cada item básico por meio de rendimentos específicos: multicriterial, por meio de um conjunto de variáveis e de
pesos conflitantes. Essencialmente, cada item vendido
RND1i, i2 * Pi1, m – Pi2, m = 0 (8) aumentará o lucro da empresa proporcionalmente a sua

em que os valores RENi1, i2 representam o rendimento margem de contribuição. O uso de horas extras, estoques
do corte de i1 para i2. Itens de estrutura alternativa são ou o não atendimento a mercados é devidamente penali-
produzidos por um balanço de massas a partir do item zado por custos unitários de utilização ou de custos es-
básico: tratégicos estabelecidos de acordo com o caso analisado,
bem como a necessidade de compra de matérias-primas
Pi1, m - !P i2, m = 0 (9) de terceiros.
i2
Este modelo conceitual foi implementado na forma de
Finalmente as quantidades produzidas necessitam ser um aplicativo computacional de suporte à decisão deno-
transferidas entre os períodos, por um balanço de massas: minado ProfMix – Profit Mix, da Produttare Consultores
Associados (Rodrigues et al., 2002). Posteriormente, mo-
Pi, m + Ei, m + Vi, m – Ei, m-1 – Ci, m = 0 (10) delo e aplicativo foram acrescidos de outras funcionali-
dades tais como consideração de outros tipos de recursos,
2.6.3 Restrições de necessidades de tipos diferenciados de estocagem, tipos diferenciados de
­fornecimento de matérias-primas matérias-primas, entre outros.
As necessidades de cada matéria-prima são as neces-
sidades estabelecidas nas restrições anteriormente descri- 3. Discussão e resultados
tas, somadas adequadamente:
O método de implantação proposto foi desenvolvido
Pj, m - !MP i, j, m = 0 (11) a partir de projetos acadêmicos (Rodrigues, 1994; Bal-
i
dissera, 2003; Oenning, 2004; Mansilha, 2005) e valida-
2.6.4 Restrições de capacidades de do comercialmente em empresas do setor frigorífico. O
­produção nos CCRs tempo de implementação varia com a complexidade da
Para definir a necessidade de um recurso que trabalha empresa (número de itens de venda, número de unidades
com bateladas é necessário que se calcule o número de produtivas, número de mercados atendidos, etc.) e com
bateladas necessárias para que toda a produção do mês a disponibilidade de dados em sistemas corporativos. O
seja contemplada: acompanhamento de casos de implantação permite ob-
servar o seguinte perfil nas empresas do setor frigorífico:
QPRi, r, m *Bi, r, m – Pi, m > 0 (12)
•  Independentemente do tamanho da empresa, há um mo-
em que os valores QPRi, j, m representam a quantidade do nitoramento sistemático dos dados comerciais e de con-
produto i processada por batelada do recurso r no perío- troladoria, com conhecimento refinado de informações
do m. Uma vez definida a quantidade de bateladas a se- dessa natureza. Parte das empresas faz uso de sistemas
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de monitoramento baseados em planilhas eletrônicas. Na coleta de dados estruturais prevê-se a modelagem


Grande parte das empresas faz uso de sistemas integra- das unidades produtivas, das unidades de estocagem, dos
dos de gestão com bases de dados corporativas; mercados, dos itens de produção (cortes e formulações),
•  Dados de produção são gerenciados em bases locais ou insumos e matérias-primas. Esse processo dá suporte
por conhecimento tácito. É comum a ausência de in- para a coleta de dados de produção, tais como a definição
formações sistematizadas, em bancos de dados, sobre das estruturas de produto (Figura 3) e a coleta de dados
as decisões compulsórias e alternativas tomadas sobre de recursos e de roteiros de fabricação. Esses proces-
as estruturas de corte, principalmente no que se refere sos carregam a responsabilidade de produzirem dados
a itens semi-acabados. A gestão da produtividade dos que representem o ambiente interno do PCP, de modo a
recursos críticos é, em geral, controlada de forma siste- modelar as estruturas de corte e desossa e de fabricação
mática, mas não é rara a ausência de informações siste- de embutidos, empanados, massadas, etc. Por meio dos
matizadas sobre roteiros de produção; e trabalhos realizados observou-se que no setor frigorífico
não é comum a existência de cadastros formais de itens
•  Para o caso da indústria de aves, os dados de fomento
intermediários de produção. A geração desses dados é
são geralmente mantidos com alto refinamento, tendo
importante do ponto de vista do melhor aproveitamento
em vista a suscetibilidade desse tipo de matéria-prima a
das matérias-primas em função da orientação do merca-
questões tais como o tempo de permanência em criação
do, pois os processos de decisão tomados pelos analistas
e a linhagem genética. Para as demais indústrias do se-
de PCP sobre esses itens devem ser também modelados
tor, este é um conhecimento em formação.
para que o mix produzido seja efetivamente ótimo. Da
A implementação do método é desenvolvida a par- mesma forma, as capacidades agregadas de produção,
tir da definição de processos de implantação, como os por meio de seus gargalos produtivos, devem ser correta-
apresentados nas Figuras 2 e 3, baseados na metodologia mente informadas para que o método defina um modelo
de mapeamento de processos (Davenport, 1994). Nes- aderente à realidade das plantas de produção.
sas figuras, eventos são representados por hexágonos, Os processos de Coleta de dados comerciais e Coleta
ações por retângulos de cantos arredondados, materiais de dados de controladoria são encarregados de identifi-
ou informações por retângulos de cantos retos e pessoas car os elementos estratégicos de orientação ao mercado.
responsáveis pelos processos por elipses. Outros proces- Nesses processos os valores de mínimos estratégicos de
sos são representados por retângulos decorados por he- vendas, de máximos de absorção de mercados, de com-
xágonos. Há ainda conectores lógicos, “e” (∧), “ou” (∨) posição de ganhos e de certificação de atendimento de
e “ou exclusivo” (xor). Um “e” indica que todas as ações mercados são definidos de modo a orientar a decisão do
geradas ou que todas as ações que o alimentam deverão modelo de otimização. A qualidade dos dados gerados
ser cumpridas para que o processo continue fluindo. Um por esses processos é crucial no sentido do alinhamento
“ou” indica que pelo menos uma das ações geradas deve- estratégico do método aqui proposto, pois direciona as
rá ser concluída para que o processo continue fluindo e decisões. As experiências mostraram que o uso de valo-
um “ou exclusivo” indica que somente uma das ações ge- res de margens de contribuição não se mostrou tão efeti-
radas deverá ser cumprida. O mapeamento de processos vo quanto o uso de valores de ganhos, do ponto de vista
de implantação permite disseminar a visão contextual de da Teoria das Restrições. Por este motivo, a compreensão
cada ação entre os colaboradores do projeto, facilitando do impacto dos números fornecidos por parte dos cola-
sua participação, e auxilia na redução da variabilidade boradores deve ser reforçada e constantemente reiterada
dos tempos de execução de tarefas. O objetivo é dar uma pelos gestores do projeto. O mesmo se aplica aos demais
visão mais ampla das atividades do projeto de implanta- dados coletados, sob outros pontos de vista.
ção, permitindo que os colaboradores ajustem os tempos Nos processos de Coleta de dados logísticos e de Co-
de execução sem grandes ­impactos nos prazos globais. leta de dados de suprimentos os conjuntos de dados ne-
O primeiro processo a ser executado é o de Defini- cessários são completados, sendo informados dados de
ção das equipes (Figura 2), pelo qual são nominados os custeio e capacidade de estocagem e de transporte, bem
colaboradores e definidos os gestores de cada processo como disponibilidades de abates, de compras de maté-
de implantação, a saber: Coletar dados estruturais, Co- rias-primas e de insumos. Novamente, a abordagem de
letar dados comerciais, Coletar dados de controladoria, implementação por processos, aqui apresentada, permite
Coletar dados logísticos, Coletar dados de suprimentos e que os profissionais de áreas não centrais em um proje-
Ajustar sistemas corporativos. Para cada equipe, um ges- to dessa natureza possam ser mais facilmente agregados
tor e uma lista de contatos deverá ser gerada. Uma lista como efetivos colaboradores.
consolidada de contatos deverá ser mantida pelo gestor Uma vez coletados os dados e formatados de maneira
principal do projeto. adequada, podem ser incorporados à base de dados da
290 Vaccaro et al. − Um Estudo da Implantação de um Otimizador de Mix para o Setor Agropecuário

ProfMix
Início do
levantamento de
Definir Equipes
dados

Definir responsáveis pelos


Um gesto por equipe, responsável Gestores do Definir equipes de
grupos de dados a serem
por gerenciar as atividades, prazos Projeto levantamento
coletados
e reportar relatórios aos gestores do
projeto.
É conveniente a presença de um V
membro do corpo de TI em casa
equipe, como facilitador de proces-
sos futuros.

A equipe de dados
estruturais deve ser Definir equipe Definir equipe Definir equipe Definir equipe Definir equipe Definir equipe
formada por um de dados de dados de dados de de dados de dados de de suporte
integrante de cada uma estruturais comerciais controladoria logísticos suprimentos de TI
das outras equipes.

Equipe de Equipe de Equipe de Equipe de Equipe de Equipe de


dados dados dados de dados dados duporte de TI
estruturais comerciais controladoria logísticos suprimentos definida
definida definida definida definida definida

gerar lista gerar lista gerar lista gerar lista gerar lista gerar lista
de de de de de de
contato contato contato contato contato contato

Lista de contato

Coletar dados
estruturais
V

V V

Coletar dados
V de
Coletar dados suprimentos
logísticos
V
Coletar dados
de
controladoria
Coletar dados
comerciais
V

Fim do
levantamento de Ajustar
dados sistemas
corporativos

Figura 2. Exemplo de processo durante a fase de implantação do método: definição de equipes de trabalho.
GESTÃO & PRODUÇÃO, v.13, n.2, p.283-295, mai.-ago. 2006 291

ProfMix
Definir Estruturas de
Produto e de Processo
Necessidade de levantamento
de estruturas de produto
Equipe de dados
e de processos
estruturais

Definir
PCP natureza
do item

XOR
"Montagem" inclui
itens são itens são
empanados,
provenientes de provenientes de
embutidos, kits de
cortes "montagens"
produtos, etc.

Definir origens Definir fórmulas


possíveis possíveis para as
do corte montagens

XOR
v

As fórmulas ou
Definir As fórmulas
algum componente
item de Definir corte já estão todas
não estão
abate (vivos) cadastradas
cadastrados

XOR Gerar
Template
template
de fórmulas
de fórmulas
O corte provém Os cortes
de um item ainda estão todos
não cadastrado cadastrados

v
v

Revisão da lista
Gerar Template Template
de itens
de cortes de cortes
necessária

v
Coletar dados
estruturais

Levantamento de Gerar relatório


estruturas de produto Relatório de
de análise de
e de processos análise de TI
TI
realizados

Coletar dados Realizar


de recursos e Integração de
roteiros Dados

Figura 3. Exemplo de processo durante a fase de implantação do método: definição de estruturas de produtos.
292 Vaccaro et al. − Um Estudo da Implantação de um Otimizador de Mix para o Setor Agropecuário

ferramenta de otimização de mix. Conforme mencionado posto no sentido de garantir que as dimensões da Gestão
anteriormente, para a manipulação da massa de dados, da Informação (pessoas, software, hardware, processos,
geração do modelo de otimização e conversão dos resul- comunicação) interajam adequadamente, mantendo o
tados ótimos na forma de um mix de produção foi utiliza- método de otimização de mix em pleno funcionamento.
da a ferramenta ProfMix. Uma imagem dessa ferramenta Como elemento de discussão deve-se considerar também
é apresentada na Figura 4, evidenciando a estrutura de a questão da centralização e da atualização dos dados
cortes com decisões compulsórias e alternativas. apresentados à ferramenta de otimização de mix. Os da-
O software selecionado incorpora as características de dos necessários para o funcionamento de uma ferramenta
orientação ao mercado e flexibilidade de visão estraté- desta natureza são originados em diferentes setores da
gica, suportado por conceitos da Teoria das Restrições, empresa (diferentes unidades produtivas, diferentes de-
gerando um plano mestre otimizado de produção que partamentos, etc.). A manutenção destes dados exige a
respeita a orientação estratégica da empresa e as capa- mobilização, o comprometimento e o apoio de diferentes
cidades produtivas, minimizando, por conseqüência, in- profissionais da empresa, com claro entendimento da im-
ventários e despesas operacionais. O ProfMix permite a portância de seu papel no resultado projetado: dados que
geração de cenários que podem ser comparados, dando, não correspondam à realidade da empresa potencialmente
aos gestores, meios de analisar mais amplamente os im- levarão a projeções irreais. Nesse sentido, uma etapa im-
pactos de diferentes estratégias, tais como: portante do método é a análise dos processos vigentes.
•  Criação de novos produtos ou eliminação de produtos Os processos que devem ser analisados, tipicamente,
existentes; são (Mansilha, 2005):
•  Aumento ou diminuição de capacidade agregada de re- •  Previsão e gestão de demanda;
cursos críticos; •  Criação de novo produto;
•  Utilização de políticas de produção em que o abate é •  Atualização de ganhos;
“puxado” pela demanda; e
•  Atualização de custos;
•  Uso de fórmulas alternativas para embutidos, empana-
dos, etc. •  Aquisição de novos equipamentos; e
Esses cenários podem ser comparados não apenas na •  Geração do mix de produção.
forma de volumes de produção, mas por meio de indica- Esses processos, depois de mapeados, devem ser rede-
dores financeiros, relevantes para as diretorias das em- finidos à luz da nova ferramenta de otimização de mix. O
presas. processo de “Simulação de cenários” não é comumente
A próxima etapa da implantação do método proposto encontrado de maneira formalizada em indústrias do se-
de definição de mix ótimo de produção é o mapeamen- tor frigorífico, em função de ser extremamente laborioso.
to adequado dos processos de gestão que interagem com A presença de uma ferramenta com essa capacidade inse-
a nova ferramenta. Essa visão se insere no método pro- rida no método proposto fomenta esse processo, viabili-
zando uma análise estratégica mais criteriosa e de forma
mais flexível.
O redesenho dos processos completa o método de im-
plantação proposto, permitindo a definição sistemática de
um mix de produção orientado ao mercado e focado na
maximização da receita líquida das empresas, com base
nas efetivas capacidades produtivas. A implantação so-
mente poderá ser considerada bem sucedida se o plane-
jamento otimizado de produção tornar-se uma atividade
cotidiana da empresa.
Do ponto de vista operacional, o uso de um particular
aplicativo, responsável por dar o suporte computacional
ao método de otimização de mix de produção, inter-
fere na forma como o processo de implantação deverá
ser executado. Dessa forma, o ProfMix foi desenvolvi-
do de modo a permitir uma ampla visão dos conceitos
anteriormente abordados, bem como diversos relatórios
operacionais e gerenciais. A Figura 5 apresenta extratos
Figura 4. A ferramenta computacional ProfMix. da interface do ProfMix, em que se pode observar (a)
GESTÃO & PRODUÇÃO, v.13, n.2, p.283-295, mai.-ago. 2006 293

as estruturas de itens formulados, (b) os recursos CCR tes e da seleção de fórmulas adequadas às disponibili-
e sua ocupação, (c) diferentes tipos de relatórios e (d) dades de carnes.
um exemplo de relatório de alinhamento às diretrizes Do ponto de vista qualitativo, a aplicação da abordagem
comerciais.
proposta em quatro empresas do setor permitiu observar:
Os benefícios do uso de uma abordagem hierárquica e
otimizante da produção podem ser divididos em tangíveis •  Qualificação do processo decisório, que passa a ser sis-
e intangíveis. A aplicação prática da abordagem proposta temático e analítico, aproximando as áreas comercial e
e com o uso da ferramenta ProfMix em um frigorífico de produção;
de suínos resultou, após 6 meses de uso, em (Baldissera, •  Maior entendimento dos processos produtivos, com
2003): visão mais detalhada das inter-relações sistêmicas de
•  Incremento de 15% da margem de contribuição média suas subpartes, bem como dos impactos das alterações
em função do mix sugerido; realizadas sobre essas partes. Por exemplo, a alteração
•  Melhor aproveitamento das matérias-primas, com redu- da capacidade de um recurso considerado ccr pode ser
ção das necessidades de compra de carnes de terceiros em avaliada do ponto de vista do impacto geral de desem-
50%, considerados os mesmos níveis de atendimento; e penho quanto ao atendimento dos clientes ou do bene-
•  Balanceamento de estoques, com redução de 20% do fício econômico gerado, servindo como subsídio para a
volume, em função do melhor aproveitamento dos cor- avaliação do investimento;

Figura 5. Extrato das interfaces e informações apresentadas pela ferramenta ProfMix.


294 Vaccaro et al. − Um Estudo da Implantação de um Otimizador de Mix para o Setor Agropecuário

•  Sistematização dos dados de produção, por seu cadastro dos, tais como produtividades excessivas ou demasia-
e de sua manutenção e constante atualização, evitando damente baixas; e
redundâncias ou ambigüidades; e •  Acompanhamento de reuniões de gestão e avaliação de-
•  Aprendizagem da organização no que tange à gestão do talhada das decisões tomadas, eventualmente com aná-
processo produtivo e de vendas, pelo repasse de conhe- lise de cenários alternativos e avaliação do impacto de
cimentos, da motivação dos profissionais da empresa en- pressupostos no desempenho geral da organização.
volvidos no projeto e da busca de benefícios coletivos.
No processo de implantação de uma abordagem am- 4. Conclusões
pla e sistêmica como a proposta neste artigo, certos fa-
tores podem contribuir negativamente para a obtenção O Brasil possui uma posição estratégica importante no
de resultados como os acima apresentados. Ao longo das setor frigorífico, a qual deve manter-se consolidada e, si-
quatro aplicações realizadas, os seguintes fatores foram multaneamente, permitir um aumento de sua participação
identificados como críticos: no mercado mundial de carnes. Essa posição estratégica
•  Desconhecimento de conceitos de gestão da produção depende de inúmeros fatores, mas que certamente per-
e de otimização por profissionais da empresa, uma vez passam a orientação às exigências dos mercados consu-
que a abrangência da pesquisa operacional não é de do- midores e a racionalização do aproveitamento dos recur-
mínio público em ambientes produtivos; sos e matérias-primas disponíveis.
A otimização de mix de produção, se bem utilizada,
•  Indisponibilidade de dados na forma adequada ou em é uma estratégia que permite atender a esses objetivos.
forma estruturada; e Para tanto, não se pode fundamentá-la somente no uso
•  Necessidade de quebra de paradigmas, principalmente de um ou de um conjunto de ferramentas de software.
em relação à interpretação de resultados que beneficiam Tampouco a otimização de mix de produção pode estar
a empresa e não áreas ou unidades específicas, ou que vinculada somente a um olhar definido sobre o ambiente
alteram a seqüência histórica do modo de operação de interno das empresas.
determinadas áreas da empresa. O método proposto descreve elementos que devem ser
As aplicações realizadas permitiram identificar um considerados na implantação de uma estratégia de otimi-
conjunto de ações de suporte destinadas a minimizar os zação de produção, observando que ela deve ser estrate-
efeitos ou a ocorrência desses fatores críticos: gicamente orientada ao mercado e ter indicadores ade-
•  Repasse de conhecimentos por meio de workshops e quados – fundamentados na Teoria das Restrições – para
do acompanhamento da ação de profissionais-chave na direcionar adequadamente os esforços de melhor uso dos
geração de dados e na interpretação dos resultados ge- recursos de produção. Além disso, o método contempla
rados pela ferramenta; uma preocupação com a lógica de processos que se des-
tinem não apenas às etapas iniciais de coletas de dados,
•  Desenvolvimento de esforços no desenvolvimento, na or- mas à manutenção desses dados período após período,
ganização e na atualização sistemática de cadastros para tornando efetiva sua realização. Uma última parte neces-
itens de produção, recursos, tempos e produtividades; sária, mas não suficiente, é o uso de um software capaz de
•  Acreditação dos resultados, pela busca constante e produzir um mix otimizante que seja alinhado com essa
aprofundada de comportamentos diversos dos espera- orientação estratégica ao mercado.

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Study of the implementation of a production


mix optimizer for the beef sector

Abstract

This paper proposes the implementation of a mix optimization tool for the beef sector, particularly for meat packing
plants. The implementation of a mix optimization tool involves different areas of the organization, since this is a syste-
mic tool for creating a market-oriented master production plan based on aggregate finite capacities, which optimizes
the company’s profitability. The article discusses the dimensions involved in the implementation of such a project and
the main benefits resulting from it.
Keywords: mix optimization, production planning, divergent processes.

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