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Unidade II
A nutrição envolve alimentação, metabolismo e excreção e está em constante evolução, abrangendo
a manutenção da saúde e prevenção de doenças. A alimentação pode ser considerada um dos fatores
determinantes das condições de saúde, portanto será abordada a sua aplicação na prevenção de doenças,
tratamento e reabilitação, bem como os problemas nutricionais mais comumente encontrados no Brasil.
Nossos objetivos são:
Uma alimentação adequada pode auxiliar na recuperação ou manutenção da saúde, sendo em alguns
casos, a única opção de tratamento de algumas doenças, esse conjunto de procedimentos terapêuticos
é definido como terapia nutricional. A terapia nutricional deve ser aplicada com base na avaliação do
estado nutricional dos pacientes, na qual o enfermeiro e sua equipe têm um importante papel em
identificar os pacientes em risco ou desnutrição, bem como aqueles com características relacionadas a
problemas nutricionais. O encaminhamento para uma avaliação nutricional e médica deve ser realizado
baseando-se na perda significativa de peso, índice de massa corporal (IMC) fora da normalidade ou
outros fatores de risco nutricional.
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Unidade II
O enfermeiro deve realizar o cuidado geral do paciente no contexto cultural, social e emocional
com objetivo de melhora de suas condições, aplicando seu conhecimento técnico com humanização.
Entretanto, algumas atribuições relacionadas à terapia nutricional são de responsabilidade do
profissional de enfermagem, por exemplo: conhecer a prescrição da dieta do paciente e observar a sua
aceitação; anotar na prescrição as alterações funcionais relacionadas à alimentação; auxiliar o paciente,
se necessário, na administração de suas refeições.
As dietas hospitalares são padronizadas em cada Serviço de Nutrição e Dietética com objetivo de
atender ao estado clínico e fisiológico durante a internação, a fim de manter as reservas de nutrientes
no organismo e possibilitar a recuperação no menor tempo possível. Elas podem ser modificadas
em consistência, composição química (acréscimo ou redução de algum componente) ou teor de
macronutrientes (dietas especiais).
A dieta geral é indicada para os pacientes que não exijam modificações dietéticas e que apresentam
funções de mastigação e gastrointestinais preservadas. Nessa não há alteração na consistência e é normal
em todos os nutrientes (carboidratos, proteínas e lipídios), atendendo assim a todas as recomendações
nutricionais. São permitidos todos os alimentos e preparações, sendo sua permanência por tempo
indeterminado.
A dieta pastosa é indicada a pacientes com dificuldades de mastigação, disfagia e/ou alterações
gastrointestinais, ausência de dentição, em pós-operatório e doenças neurológicas. Os alimentos
são oferecidos na forma de purê, suflê, papa ou mingau; e as carnes batidas, trituradas ou desfiadas.
Diversos alimentos são permitidos, como: leite e derivados (queijo cremosos, iogurte, coalhada), mingau;
ovo cozido, pochê, omeletes assados; frutas cozidas, amassadas, em purês ou sucos; vegetais na forma
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NUTRIÇÃO APLICADA À ENFERMAGEM
de purê ou bem cozidos ou amassados; arroz papa, macarrão bem cozido; bolo simples, pães macios,
bolachas simples; caldo de leguminosas. A alimentação é fracionada em 5 a 6 refeições ao dia e é normal
em todos os nutrientes (carboidratos, proteínas e lipídios).
Caracterizada pela presença de líquidos e alimentos semissólidos, abrandados pela cocção simples,
sendo indicada em repouso digestivo, situação de pré ou pós-operatório (fase de transição), função do
sistema digestório moderadamente reduzida, dificuldade de mastigação e/ou deglutição. Inclui bebidas
lácteas, café, chá, sucos de frutas, iogurte sem frutas ou sementes, manteiga, margarina, gelatina,
sorvete, pudim, açúcar, mel, sopas com pedaços, purês ou vegetais cozidos, carnes moídas ou desfiadas,
frutas cozidas ou picadas bem macias, bolachas. Devem ser evitados cereais secos, sobremesas e doces
que contenham coco, nozes ou frutas inteiras.
• Líquida completa
• Líquida restrita
A dieta hipossódica é prescrita àqueles pacientes que necessitam controlar o consumo de sódio
devido à hipertensão (arterial ou pulmonar) ou por insuficiência cardíaca, renal ou hepática. Essa é
fracionada em cinco refeições ao dia e pode ter sua consistência modificada, conforme a necessidade
do paciente. A alteração é feita limitando ou excluindo a quantidade de sal no cozimento, podendo em
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Unidade II
caso de restrição severa, não utilizar sal durante ou após a preparação dos alimentos. Na restrição leve
ou moderada, pode ser adicionado 1 ou 2 g de sal no prato pronto.
Os pacientes que apresentam constipação intestinal devem receber uma dieta laxativa, rica em fibras
totais (aproximadamente 40 g) sendo composto em sua maioria de fibras insolúveis. A dieta é composta
de mamão, pera madura, suco de laranja, mingau de aveia, verduras e legumes crus e são evitados
alimentos como tubérculos e cereais refinados.
Pacientes que apresentam elevação no nível de potássio sérico devem receber uma dieta hipocalêmica,
na qual são restritos os alimentos considerados fonte desse mineral. Portanto, devem ser evitados:
leguminosas, sucos, refrigerantes, frutas, verduras e legumes crus e, utilizar leite, pão, arroz, carnes,
bolacha, vegetais e frutas cozidos em água.
O paciente diabético deve receber uma dieta equilibrada em calorias e macronutrientes durante
sua internação hospitalar com objetivo de controle glicêmico. A consistência dessa alimentação pode
ser adaptada à necessidade do paciente nesse período. O teor calórico é padronizado de acordo com a
realidade do hospital e público atendidos, podendo ser entre 1800 a 2500 calorias.
A prescrição da dieta hipoproteica e hipossódica é feita a pacientes com insuficiência renal não
dialítica, ou seja, em tratamento conservador. Nessa fase a restrição proteica é realizada de acordo
com a taxa de filtração glomerular, que é o indicativo do grau de comprometimento renal. Podem ser
oferecidas dietas com 20 a 60 g de proteínas por dia, sendo que a definição de qual o teor adequado
de proteínas a cada paciente deve ser realizado pelo nutricionista, considerando o peso atual e grau da
doença. São utilizadas porções menores de alimentos proteicos e restringidos outros alimentos fonte.
O sal também é restrito para não deteriorar mais a função renal, utilizando alimentos preparados com
pouco ou nenhum sal.
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NUTRIÇÃO APLICADA À ENFERMAGEM
Pacientes desnutridos e ou em risco nutricional devem receber um maior aporte calórico proteico
pela dieta hospitalar, podendo assim suprir as necessidades aumentadas pelo hipermetabolismo. Essa
dieta deve ser hiperproteica utilizando alimentos de fácil digestão e pouco volume e, se necessário pode
ser acrescida de suplementação.
Observação
O estado nutricional da população também pode ser alterado por doenças levando os indivíduos
à desnutrição ou obesidade devido à interferência nos processos que ocorrem ao longo do sistema
digestório afetando a ingestão, deglutição, digestão e absorção dos nutrientes. Contudo, a intervenção
nutricional deve ser adequada à condição patológica e nutricional para uma oferta apropriada de macro
e micronutrientes.
6.1 Obesidade
Segundo a Organização Mundial da Saúde (1995), a obesidade pode ser definida como “o grau de
armazenamento de gordura no organismo associado a riscos para a saúde, devido à sua relação com várias
complicações metabólicas” sendo também caracterizada como uma enfermidade crônica e está associada à
dislipidemia, diabetes, hipertensão e doenças coronárias. Além disso, a obesidade predispõe a outras doenças
como colelitíase, esteatose hepática, osteoartrite, osteoartrose, apneia obstrutiva do sono, alteração da
ventilação pulmonar e de ciclos menstruais, redução da fertilidade e alguns tipos de câncer.
Na tabela a seguir estão descritos os pontos de corte para diagnóstico de sobrepeso e obesidade
preconizados pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2004), utilizando peso e altura em diversas fases
da vida:
Tabela 4
O objetivo do tratamento nutricional nesses pacientes é obter uma perda razoável e sustentável
de gordura corporal e atenuar os riscos associados à morbimortalidade, como foco em qualidade de
vida e saúde. Para isso, o acompanhamento deve englobar além do peso, outros parâmetros como
circunferência abdominal, pressão arterial e exames laboratoriais.
O acompanhamento do paciente obeso deve ser feito por uma equipe multidisciplinar envolvendo
médico, nutricionista, educador físico e psicólogo, no qual cada profissional poderá atuar em sua
especialidade, considerando a individualidade, e prescrever conduta e orientações adaptadas. O valor
energético a ser prescrito deve ser calculado mediante consumo alimentar habitual do paciente com
redução diária de 500 a 1000 calorias gradativamente. É importante salientar que a prescrição de dieta
com valor calórico total inferior a 1200 calorias não deve ser feita, pois as necessidades mínimas do
metabolismo basal do paciente precisam ser atendidas. A recomendação dietética para o tratamento da
obesidade deve ser hipocalórica (20 kcal/kg) sendo 55 a 60% carboidratos, 15 a 20% proteínas, 20 a 25%
lipídios e 20 a 30 g fibras por dia.
Uma perda de peso considerada saudável é aquela na qual a dieta adequada aliada à atividade
física regular possibilitam a perda de 0,5 a 1 kg por semana, ou seja, de 2 a 4 kg por mês. Esse ritmo de
emagrecimento lento e gradativo permitirá a redução de 5 a 10% do peso inicial com maior adesão ao
tratamento e sua manutenção.
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NUTRIÇÃO APLICADA À ENFERMAGEM
Além da prescrição de uma dieta apropriada à condição do paciente, é importante fornecer orientações
nutricionais para situar o paciente na mudança do estilo de vida e melhorar a adesão ao tratamento.
Essas recomendações podem ser: evitar pular refeições, comer devagar, mastigar bem os alimentos,
realizar atividade física e terapia comportamental com orientação profissional, evitar a síndrome do
ioiô. O acompanhamento da eficiência da intervenção deve ser realizado com periodicidade e novas
estratégias podem ser estabelecidas, sempre que necessário.
As tentativas de mudanças no estilo de vida levam ao fracasso recorrente em alguns obesos, com
inúmeros tratamentos e oscilações de peso, nesses casos a cirurgia da obesidade é considerada uma
terapia efetiva resultando em melhora da qualidade de vida e das comorbidades relacionadas. Os critérios
de seleção para o tratamento cirúrgico são:
• pacientes que tenham IMC ≥ 40 kg/m2, há pelo menos 2 anos, que não tiveram sucesso com
tratamento clínico orientado por endocrinologista;
• pessoas que tenham IMC maior ou igual a 35 kg/m2, nas mesmas condições do critério anterior e que
apresentem pelo menos duas comorbidades. As principais comorbidades ou aquelas consideradas
mais graves e que são mais levadas em consideração na avaliação desse critério são: diabetes tipo
II, hipertensão arterial, alterações do colesterol ou triglicérides (dislipidemias), apneia obstrutiva
do sono, esteatose hepática, problemas ortopédicos graves (artroses importantes, hérnia de disco).
Mas, outros problemas nos quais a perda de peso pode contribuir muito com a melhora ou cura
também podem ser levados em consideração (por exemplo: infertilidade).
O aconselhamento nutricional no período pré-operatório deve ser feito por no mínimo 3 meses para
modificar os hábitos alimentares e orientar o paciente para a cirurgia. A perda de peso nesse período
reduz a mortalidade associada às comorbidades, ameniza o risco cirúrgico e aumenta o sucesso no pós-
operatório. As orientações e a dieta do pós-operatório são realizadas de acordo com o tipo de cirurgia
realizado (restritiva ou disabsortiva), porém em todos os casos deve ser feita uma evolução gradativa na
consistência, iniciando pela dieta líquida restrita até a geral. Essa evolução é concluída em 2 a 3 meses
após a cirurgia, mantendo depois, uma alimentação saudável em consistência normal.
6.2 Desnutrição
A desnutrição pode ser definida como o desequilíbrio produzido pela ingestão insuficiente ou a
excessiva perda de substratos pelo organismo. São considerados fatores de risco para a instalação:
ingestão inadequada de nutrientes, alteração na absorção e/ou utilização de nutrientes, hipermetabolismo
ou catabolismo, fármacos que interferem no processo de nutrição, demora na implementação de
terapia nutricional e condição clínica do paciente. Pode ser classificada segundo sua intensidade em
leve quando ocorre comprometimento antropométrico (peso para estatura); moderada, que afeta
sistemas imunológico e neurológico; e grave, denominada marasmo e kwashiorkor de acordo com as
manifestações clínicas.
O marasmo acomete principalmente crianças menores de 1 ano, quando elas apresentam aspecto
emagrecido, com gordura subcutânea ausente, atrofia muscular e cutânea (costelas proeminentes,
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Unidade II
pele frouxa e envelhecida), cabelos secos e finos. Observa-se redução na velocidade de crescimento,
irritabilidade, apetite variável e infecções constantes. Está associado à amamentação ou diluição de
fórmulas infantis inadequadas.
A terapia nutricional consiste inicialmente em identificar e corrigir a causa da perda de peso, sendo
que seus objetivos são: aumentar o peso corporal e o apetite, atender as necessidades nutricionais,
promover educação nutricional e corrigir deficiências de macro e micronutrientes. A alimentação
deve ser estimulada considerando alimentos preferidos e uma variedade deles, sempre respeitando
alergias e aversões alimentares. Em alguns casos, pode ser necessária a prescrição de suplementos
industrializados ou caseiros. Os cálculos de necessidade energética devem ser baseados no peso atual
para não superalimentar o paciente, utilizando 50 a 60% de carboidratos, 10 a 15% de proteínas
e 25 a 35% de lipídios. A ingestão calórica deve ser aumentada gradativamente e iniciada com as
calorias consumidas na avaliação nutricional, evitando assim desconforto gástrico e síndrome do
roubo celular (síndrome da realimentação).
A síndrome do roubo celular ocorre quando “a ingestão calórica excessiva determina liberação
de insulina e rápido desvio de glicose para dentro da célula, arrastando consigo esses íons (potássio,
magnésio e fósforo) e reduzindo, por vezes, drasticamente, seus níveis plasmáticos” (REIS, 2015, p. 278).
As consequências são: hipofosfatemia, hipomagnesemia e hipopotassemia, deficiência vitamínica e
retenção hídrica.
A prevalência da desnutrição em ambiente hospitalar varia de 20 a 50%, sendo que alguns pacientes
já são admitidos com desnutrição e outros a desenvolvem após a internação. De acordo com o Inquérito
Brasileiro de Avaliação Nutricional Hospitalar (Ibranutri), estudo clássico feito na década de 1990 em
hospitais brasileiros, foi realizada avaliação nutricional de 4 mil pacientes internados e constatou-se
que cerca de 48,1% dos pacientes hospitalizados da rede pública apresentavam desnutrição hospitalar.
Em relação a esse total, 12,6% apresentavam desnutrição grave e 35,5%, moderada (Waitzberg; Caiaffa;
Correia, 2001).
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NUTRIÇÃO APLICADA À ENFERMAGEM
Alergia alimentar é uma entidade clínica resultante de reações imunológicas após a ingestão de
proteínas alimentares, em indivíduos previamente sensibilizados. Os alimentos mais envolvidos são leite
de vaca, ovo, trigo e soja, sendo responsáveis por cerca de 90% dos casos e a maioria delas ocorre devido
à sensibilização a apenas um ou dois alimentos.
As manifestações clínicas podem ser mediadas por IgE ou imediatas, que ocorrem dentro de
minutos até 2 horas após a ingestão do alimento. Tais processos incluem urticária e angioedema,
hipersensibilidade gastrointestinal imediata, síndrome oral alérgica e anafilaxia; não mediadas
por IgE ou tardias, que surgem horas após a ingestão do alimento. As manifestações são doenças
celíacas, como, enteropatia induzida por proteína, dermatite herpetiforme e síndrome de Heiner;
ou mistas, cujas manifestações são dermatite atópica, esofagite eosinofílica, gastrite e enterocolite
eosinofílicas, além de asma.
O diagnóstico da alergia alimentar poderá ser feito pelo médico com base na história clínica, testes
cutâneos, dosagem de IgE específica, dieta de exclusão, teste de provocação oral e, se necessário,
endoscopia e biópsia. A forma mais eficaz de tratamento de alergia alimentar é excluir totalmente da
dieta do paciente o alimento identificado.
A intolerância alimentar pode ser definida como qualquer resposta diferente a um aditivo ou
alimento, sem que haja intervenções imunológicas. Ela pode ser ativada por ação de toxinas produzidas
por bactérias e fungos, agentes farmacológicos ou erros metabólicos por deficiência enzimática.
A intolerância à lactose é a mais frequentemente encontrada em crianças, sendo caracterizada pela
incapacidade de sua absorção.
Lembrete
É uma doença autoimune caracterizada como uma intolerância permanente ao glúten, que
geralmente se manifesta na infância, entre o primeiro e terceiro anos de vida, podendo, entretanto surgir
em qualquer idade, inclusive no adulto. Além do consumo do glúten e da suscetibilidade genética, é
também necessária a presença de fatores imunológicos e ambientais para que ocorra o desenvolvimento
da doença. A doença celíaca é uma condição crônica que afeta principalmente o intestino delgado,
ocasionando desagradáveis sintomas como diarreia crônica, vômito, humor alterado, puberdade tardia,
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Unidade II
entre outros. A dietoterapia é de grande importância, tendo como ponto fundamental a exclusão do
glúten, termo utilizado para descrever frações proteicas encontradas no trigo, centeio, cevada, aveia e
em seus derivados.
A obediência à dieta com as exclusões necessárias é mais eficaz em pacientes com conhecimento
em relação à doença e seu tratamento, para isto, a equipe multiprofissional deve esclarecer as dúvidas e
orientar da melhor forma possível. É considerada mundialmente um problema de saúde pública devido
à sua prevalência, à frequente associação com morbidade variável e não específica e à probabilidade
de aparecimento de complicações graves, principalmente osteoporose e doenças malignas do trato
gastroentérico.
Saiba mais
A medida da hemoglobina glicada (A1C) é a mais recomendada para avaliação do controle da doença,
pois ela fornece um valor médio da glicemia nos dois ou três meses anteriores ao exame. Assim, esse
resultado auxilia na avaliação da oscilação da glicemia e na eficácia do tratamento atual. O valor de
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NUTRIÇÃO APLICADA À ENFERMAGEM
normalidade é < 7%, com ausência de hipoglicemias no período, indicando assim um menor risco de
complicações micro e macrovasculares e neuropáticas do diabetes.
A terapia nutricional adequada é de extrema importância para os diabéticos, pois esse controle
metabólico com mudanças no estilo de vida, reduzirão o risco de outras complicações como dislipidemia
e hipertensão, que são fatores de risco para doença cardiovascular. Os objetivos da terapia nutricional
são: manter a glicemia dentro da normalidade ou próxima a ela; otimizar o perfil lipídico e níveis
pressóricos; adequar o consumo alimentar; melhorar a saúde com escolhas alimentares saudáveis;
promover educação para automonitoramento do tratamento e cuidados.
Não há necessidade de restringir a sacarose em pacientes diabéticos, ela pode integrar o total de
carboidratos diário (até 10%), assim como os alimentos que a contém e serem usados como substitutos
de outros carboidratos. Deve-se ter atenção ao detalhe que, a sacarose possui apenas energia e nenhum
nutriente, sendo assim, seu consumo deve ser reduzido e utilizadas escolhas mais nutritivas. Portanto, a
prescrição dietética dos diabéticos deve englobar 60 a 70% de carboidratos, 15 a 20% do valor calórico
total em proteínas e até 30% em lipídios. O consumo de fibras deve ser no mínimo de 20 g ao dia e o
álcool deve ser restrito.
Saiba mais
As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte mundial, sendo que a aterosclerose é
a base fisiopatológica para eventos cardiovasculares. As placas de ateroma formadas na parede dos
vasos sanguíneos estão associadas com fatores de risco cardiovascular como hipercolesterolemia,
hipertrigliceridemia, diminuição do HDL-c, hipertensão arterial, diabetes mellitus, obesidade, fatores
genéticos e raciais. Essas placas podem levar a consequências clínicas, como o infarto agudo do miocárdio
(IAM) e acidente vascular cerebral (AVC).
O quadro clínico do AVC depende da extensão da lesão e da área do cérebro afetada e suas sequelas
levam a algum grau de dependência para desempenho de atividades básicas do dia a dia. Entre os
prejuízos, a disfagia é a mais frequente, levando o paciente à perda da funcionalidade e independência
para alimentar-se, podendo necessitar de auxílio para dieta via oral ou enteral.
A alimentação do paciente pós-AVC deve considerar uma dieta com consistência adaptada ao grau
de disfagia, calorias para manutenção de peso, utilizando 50 a 55% de carboidratos, 0,8 a 1,5 g de
proteínas/kg por dia e 25 a 35% de lipídios.
Observação
Câncer pode ser definido como conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o
crescimento desordenado (maligno) de células que invadem os tecidos e órgãos, podendo espalhar-
se (metástase) para outras regiões do corpo. Dividindo-se rapidamente, essas células tendem a
ser muito agressivas e incontroláveis, determinando a formação de tumores (acúmulo de células
cancerosas) ou neoplasias malignas. É considerada a segunda causa de morte por doença na
maioria dos países e seu curso é concomitante com a desnutrição em 30 a 50% dos pacientes,
sendo denominada caquexia.
A caquexia tem como manifestações clínicas anorexia, perda tecidual, atrofia da musculatura
energética, miopatia, perda rápida de tecido gorduroso, atrofia de órgãos viscerais e anergia. O estado
nutricional dos pacientes oncológicos é alterado por diversos fatores como agressividade e localização
do tumor, órgãos envolvidos, condições clínicas, imunológicas e nutricionais, diagnóstico tardio e
magnitude da terapêutica utilizada no tratamento. O diagnóstico da caquexia é realizado pela avaliação
nutricional, na qual verifica-se se houve emagrecimento involuntário de > 5% do peso em 6 meses
associado à perda de peso muscular e em obesos, se ocorreu perda igual ou superior a 10% do peso já
é indicativo de depleção grave.
É importante lembrar que a via de alimentação preferencial é a oral, porém em alguns casos, o
nutricionista com base nos parâmetros definidos pelo Inca (Brasil, 2011) poderá selecionar outra que
julgar adequada:
• suplementação via oral: ingestão alimentar < 75% das recomendações em até 5 dias, sem
expectativa de melhora da ingestão;
• terapia de nutrição enteral: impossibilidade de utilização da via oral, TGI total ou parcialmente
funcionante, ingestão alimentar < 60% das recomendações em até 5 dias consecutivos, sem
expectativa de melhora da ingestão;
Lembrete
O Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) causa uma infecção no paciente, podendo levar à
Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA), sendo ela caracterizada por progressiva destruição do
sistema imune, o vírus habita os linfócitos T. Os primeiros registros da doença apareceram entre 1977
e 1978, na África, Haiti e Estados Unidos, entretanto, a denominação oficial da estranha enfermidade
que causava a falência imunológica do organismo aconteceu somente em 1982, enquanto que
a descoberta do vírus, propriamente dita, se deu em 1984. No surgimento da SIDA na década de
1980, a desnutrição era uma característica comum, associando a perda de peso involuntária ao
enfraquecimento, febre e diarreia, contudo, atualmente com o uso da terapia antirretroviral, observa-
se uma redução na incidência de infecções oportunistas e aumento de efeitos colaterais como
obesidade, dislipidemia e lipodistrofia.
A avaliação e intervenção nutricional precoce deve ser realizada com objetivo nutricional de:
A terapia nutricional precisa ser prescrita de acordo com a presença ou não de sintomas relacionados,
sendo que em pacientes HIV/SIDA assintomáticos deve-se manter uma dieta normoproteica e
normocalórica e nos sintomáticos utilizar dieta hiperproteica e hipercalórica.
7 NUTRIÇÃO ENTERAL
A terapia nutricional enteral deve ser indicada quando houver risco de desnutrição, na ingestão oral
insuficiente para suprir dois terços a três quartos das necessidades diárias nutricionais, trato digestivo
total ou parcialmente funcionante.
Segundo a Resolução RDC nº 63/2000 da Anvisa: a nutrição enteral é definida como um “alimento
para fins especiais, com ingestão controlada de nutrientes, na forma isolada ou combinada, de
composição definida ou estimada, especialmente formulada e elaborada para uso por sondas ou via oral,
industrializada ou não, utilizada […] para substituir ou complementar a alimentação oral em pacientes
desnutridos ou não, conforme suas necessidades nutricionais, em regime hospitalar, ambulatorial ou
domiciliar, visando a síntese ou manutenção dos tecidos, órgãos ou sistemas” (parágrafo 3.4) sendo que
“o enfermeiro é responsável pela administração da NE e prescrição dos cuidados de enfermagem em
nível hospitalar, ambulatorial e domiciliar” (parágrafo 5.6.1).
Essa mesma resolução determina que é responsabilidade do enfermeiro estabelecer o acesso enteral
por via oro/nasogástrica ou transpilórica. Tal procedimento pode ter complicações graves como inserção
inadvertida na árvore traqueobrônquica e pneumotórax. O Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) na
Resolução nº 277/2003, determina que o enfermeiro deve: “assumir o acesso ao trato gastrointestinal
(sonda com fio guia introdutor e transpilórica) assegurando o posicionamento adequado por avaliação
radiológica”.
A sonda pode ser localizada no estômago, onde podem ser administrados nutrientes intactos, fórmulas
hiperosmolares, apresenta progressão mais rápida para via oral, é possível administrar grandes volumes
em certo tempo, fácil posicionamento, maior risco de aspiração. Enquanto na localização duodenal/
jejunal há menor risco de aspiração, maior dificuldade de saída acidental da sonda, necessidade de
dietas iso ou hipo-osmolares, maior risco de distensão abdominal e diarreia.
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NUTRIÇÃO APLICADA À ENFERMAGEM
• sistema em bolos: inclui administração do volume total da nutrição enteral, fracionada em 5-6
horários/dia, administrado em seringas de alto calibre sem agulhas diretamente na entrada da
SNE do paciente, não necessitando de equipo para administração.
“O enfermeiro deve assegurar que todas as ocorrências e dados referentes ao paciente e à TNE sejam
registrados de forma correta, garantindo a disponibilidade de informações necessárias à avaliação do
paciente e eficácia do tratamento” (Resolução RDC nº 63/2000).
A monitorização da NE inclui:
• controle semanal do peso do paciente; a altura deve ser verificada no momento da admissão,
sempre que possível;
• balanço hídrico;
• exame físico com especial atenção à hidratação e à propedêutica abdominal: distensão, RHA,
dor etc.; pesquisar queixas de sede, fome e anorexia, que podem indicar oferta calórica e
hídrica inadequada;
• exames laboratoriais conforme solicitação médica: glicemia, proteínas séricas, eletrólitos, exames
de função hepática, ureia e creatinina etc.;
• aceitação da alimentação oral quando associada à NE. Importante, estimular a ingestão oral
sempre que possível, registrando com precisão a aceitação do cliente. Com o aumento da ingestão
oral, a NE por sonda poderá ser gradativamente diminuída, de acordo com a prescrição médica
ou dietética. A aceitação adequada da alimentação oral deverá ser demonstrada antes de se
suspender a NE e se retirar a sonda.
8 NUTRIÇÃO PARENTERAL
• trato digestivo não funcionante, obstruído ou inacessível com previsão que essa condição
continuará por pelo menos sete dias;
• quando as condições anteriores estão associadas ao estado de desnutrição não corrigíveis por NE.
A seleção dos pacientes que podem ser beneficiados pela NP depende da avaliação nutricional
detalhada realizada pelo nutricionista, em que será englobado seu estado nutricional, condição clínica e
prognósticos globais. Os benefícios da NP devem ser maiores que os riscos, assim ela deve ser considerada
entre o 1º e 3º dias, quando o paciente está desnutrido ou em estado intensamente catabólico, e entre
o 7º e 14º dias, quando o indivíduo está bem nutrido.
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NUTRIÇÃO APLICADA À ENFERMAGEM
Podem ser utilizados acesso venoso central ou periférico. O central possibilita infusão de solução
nutricional e fármacos hipertônicos e hiperosmolares em uma veia central calibrosa por um cateter
venoso central (subclávia, cefálica, jugular, femoral e basílica), indicada por mais de 10 a 14 dias e/ou
NP por veia periférica, seja inadequada ou clinicamente inexequível. A nutrição parenteral periférica
é indicada para terapia de curta duração (até 14 dias) e para aquelas que utilizam soluções com
osmolaridade < 900 mOsm/l para evitar tromboflebite, porém requer volume maior para atingir a
necessidade nutricional.
Saiba mais
Resumo
Exercícios
Questão 1. (ENADE, 2013) A Síndrome Metabólica (SM), alvo de muitos estudos nos últimos anos,
pode ser caracterizada por um grupo de fatores de risco (FR) inter-relacionados, de origem metabólica, que
diretamente contribuem para o desenvolvimento de doença cardiovascular e/ou diabetes do tipo 2. São
considerados como FR: dislipidemia aterogênica (hipertrigliceridemia, níveis elevados de apolipoproteína
B e de LDL-C e níveis baixos de HDL-C), hipertensão arterial, hiperglicemia e estado pró-inflamatório e
pró-trombótico. Os critérios clínicos e laboratoriais para o diagnóstico da SM são: 1. Glicemia de jejum: ≥
100 mg/dL; 2. HDL-C: Homens: < 40 mg/dL; Mulheres: < 50 mg/dL; 3. Triglicerídeos: ≥ 150 mg/dL ou em
tratamento para hipertrigliceridemia; 4. Circunferência da cintura ≥ 102 cm para homens ou ≥ 88 cm para
mulheres e 5. Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS): ≥ 130 x 85 mmHg ou em tratamento medicamentoso
para HAS. O número de alterações maior ou igual a três pode configurar o diagnóstico da SM.
I. Alimentos como gema de ovo, vísceras, queijo tipo cheddar e camarões têm influência insignificante
sobre os FR que aumentam a incidência da SM e, por conterem aminoácidos essenciais, importantes
para a manutenção da massa magra nos pacientes com SM, podem ser consumidos à vontade.
II. Os altos níveis da proteína C reativa (envolvida em eventos cardiovasculares), do fator inibidor
da ativação do plasminogênio (PAI-1) e do fibrinogênio caracterizam estado pró-inflamatório e pró-
trombótico e estão associados à incidência da SM.
III. O excesso de peso corporal influi no desenvolvimento da SM, pois a obesidade contribui para
hipertensão arterial, níveis elevados de colesterol total, baixos níveis de HDL-C e hiperglicemia.
IV. A resistência à insulina tem papel fundamental na gênese da SM, uma vez que a ausência desse
hormônio contribui para a incidência de diabetes insipidus.
V. A ingestão elevada de carboidratos (acima de 60% do total de energia) pode contribuir para
hipertrigliceridemia, que é um dos FR da SM.
A) I, III e IV.
B) I, II e V.
C) I, II e IV.
D) II, III e V.
E) III, IV e V.
I – Afirmativa incorreta.
Justificativa: os alimentos gordurosos, ricos em colesterol e gordura saturada, como vísceras, queijo
tipo cheddar e camarões, devem ser evitados por pacientes com síndrome metabólica. Na I Diretriz
Brasileira de Diagnóstico e Tratamento da Síndrome Metabólica (2014), é recomendada a restrição do
consumo de gema de ovo a duas vezes por semana, tendo em vista baixar o teor de colesterol e o
excesso de proteína na alimentação do paciente.
II – Afirmativa correta.
Justificativa: o excesso de peso corporal é um fator de risco para a síndrome metabólica e está
associado à maior chance de apresentar hipertensão arterial, hipercolesterolemia, baixos níveis de
HDL-C e hiperglicemia.
IV – Afirmativa incorreta.
V – Afirmativa correta.
Além disso, o elevado consumo de carboidratos refinados exerce efeito direto no excesso de peso e
desenvolvimento da obesidade. Alterações pós-prandiais, como hiperglicemia, hiperinsulinemia e
hipertrigliceridemia, também têm se associado a risco cardiovascular aumentado. Nesse sentido, os
CH ideais para melhorar o dismetabolismo nutricional pós-prandial incluem aqueles com menor índice
glicêmico, menor densidade calórica, maiores teores de fibras e água (I Diretriz sobre o consumo de
gorduras e saúde cardiovascular).
Fermentação
Glicose Lactato
láctica
Músculo
Glicogênio
Gluconeogênese
Glicose Lactato
Glicogênio
Fígado
Resultados de avaliação nutricional em pacientes internados com câncer mostram que grande parte
deles se apresenta desnutridos ou em risco nutricional. Acerca da relação entre desnutrição e câncer,
analise as afirmativas a seguir.
PORQUE
II. Os pacientes com câncer em estágio avançado costumam apresentar intolerância à glicose,
balanço nitrogenado negativo e aumento da lipólise.
70
NUTRIÇÃO APLICADA À ENFERMAGEM
A) As duas afirmativas são proposições verdadeiras, e a segunda é uma justificativa correta da primeira.
B) As duas afirmativas são proposições verdadeiras, mas a segunda não é uma justificativa correta
da primeira.
71
FIGURAS E ILUSTRAÇÕES
Figura 2
Figura 3
Figura 4
Figura 5
Figura 6
Figura 7
Figura 9
Grupo UNIP-Objetivo.
Figura 10
72
Figura 11
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Exercícios
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78
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80
Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000