A TEORIA DO DUPLO ESTATUTO é a possibilidade de que uma norma
de Tratado de Direitos Humanos seja incorporada no ordenamento jurídico brasileiro
com status supralegal ou com status de emenda constitucional. Terão status equivalente às emendas constitucionais, os Tratados de Direitos Humanos aprovados pelo rito qualificado previsto na Constituição Federal de 1988: aprovadas em Cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros. Terão status supralegal, por sua vez, as normas que forem incorporadas pelo rito comum. A incorporação dos Tratados Internacionais de Direitos Humanos ao nosso ordenamento jurídico traz duas repercussões importantes. A primeira é a inclusão de novos direitos fundamentais correlacionados aos já elencados na Constituição. De fato, o rol de direitos fundamentais previstos no art. 5º da CF/88 não é taxativo, pelo contrário, o próprio art. 5º, §2º dispões que “os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte”. Essa é uma consequência positiva, já que permite acrescentar novos direitos ao rol já previsto. Como exemplo dessa primeira repercussão podemos citar a concessão de refúgio e de asilo político no Brasil decorrente da Organização Internacional para Refugiados A segunda repercussão que a incorporação dos Tratados Internacionais de Direitos Humanos ao nosso ordenamento jurídico é sobre a interpretação desse ordenamento de acordo com o que preceitua tais tratados. Um grande exemplo dessa repercussão foi o fim da prisão do depositário infiel por uma decisão do STF que baseou- se na tese de que os tratados internacionais sobre direitos humanos ratificados pelo Brasil, como é o caso da Convença Americana de Direitos Humanos que proíbe prisão por dívida, tem o condão de paralisar a eficácia jurídica de toda e qualquer disciplina normativa infraconstitucional com ela conflitante. Podemos considerar, portanto, que a Teoria do Duplo Estatuto consiste em uma importante fonte de interpretação para o Poder Judiciário para dar eficácia aos tratados internacionais de direitos humanos. Sem essa possibilidade, tais tratados ficariam sem efeito, não aumentaria o rol de direitos, nem auxiliaria coibir injustiças como era o caso da prisão do depositário infiel. Sendo assim, o STF, por meio dessa decisão paradigmática, fez a interpretação conforme a Constituição, respeitando seus comandos e dando a máxima eficácia aos seus princípios e valores.