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Volume II - O Eneagrama
Textos de I a XIV – De 22/01 a 06/05/1944
Esta noite daremos início ao estudo do diagrama chamado Eneagrama (ou diagrama de nove).
O diagrama é peculiar a este ensino. Quando G. o compartilhou pela primeira vez, observou que
uma série de coisas neste sistema poderiam ser encontradasa em outros sistemas antigos de
ensinamento esotérico, mas não o Eneagrama. Sobre este particular, disse que, se bem que
várias coisas pertencentes a este sistema poderiam descobrir-se nos fragmentos que nos tem
chegado de outros sistemas, nada neles está devidamente organizado e gerido, e não se pode
ver como uma coisa depende da outra. Todas as partes deste sistema estão relacionadas umas
com as outras na ordem correta para formar um todo orgânico - um organismo vivo. O homem
e o universo são tomados em conjunto. O ensinamento sobre o homem está relacionado ao do
Universo, de quem é filho, e mostra que, o que existe nele, também existe no Universo. O
significado do homem em evolução e o significado do universo em evolução, as leis dos homens
e as leis do universo, são estudados em conjunto, pois são inseparáveis.
Falar sobre o Eneagrama, G dizia que postulava todo o ensinamento do Trabalho, e quanto
melhor se entendia o Eneagrama, mais se compreendia o Trabalho. Em uma oportunidade ao
perguntar-lhe do que tratava G. disse que representava a união da Lei de Três, ou da Lei da
Trindade e a Lei de Sete ou Lei da Oitava. Recordemos que a lei de três estabelece que em toda
manifestação devem intervir três forças, ativa, passiva e neutralizante, e que essas são as forças
criadoras que criam as diferentes ordens de mundos em escala descendente, aumentando o
número de leis à medida em que são duplicadas. Devemos também lembrar que existe uma
segunda lei, a lei de sete, que se refere à ordem de manifestação. Se há uma força criadora, deve
haver também ordem na criação, ou tudo será um caos. No Eneagrama está representada a
interação dessas duas leis, de modo que uma não prejudique ou anule a outra, e que assim todas
as possibilidades se realizem, mas na fase em que estamos só podemos fazer uma leitura simples
do Eneagrama.
Está construído da seguinte maneira: o círculo é dividido em nove partes iguais. O número 1 é
então dividido em 7, o que dá o resultado 0,142857 e 142857 como um período recorrente. São
traçadas linhas que conectam esses números, ou seja, de 1 para 4, etc.
Observarão várias coisas. Primeiro, o diagrama é simétrico. Em segundo lugar, três números não
aparecem: 3, 6 e 9, todos os múltiplos de 3. Terceiro, você vai notar que as linhas se cruzam. Um
dos pontos onde se cruzam é exatamente na linha média, os outros dois estão ao lado e
equidistantes dela.
Assinalamos, então, por meio de setas as direções representadas pelas linhas. O ponto de
partida do Eneagrama é a figura 1, porque o Eneagrama é um diagrama em movimento e
representa de duas maneiras os movimentos das coisas. Descreverei apenas dois. Com base em
1, há um movimento para 4 ao longo da linha 1 - 4. Depois de 4 a 2, cruzando a área onde seria
3, mas falta. Após 2 ocorre um movimento em uma linha reta através de 8, até 5 e, em seguida,
através da área onde seria 6 até 7.
Então há o movimento para trás em uma linha reta em toda a figura até 1, mas ao fazê-lo cruza
a linha 2-8. Este é um movimento. O segundo movimento é externo à circunferência de 2 para
4 para 5 para 7 para 8.
Ao lado do número 1 coloquemos a nota Ré, junto ao 2 a nota Mi e ao lado de 4 a nota Fá. No
momento isto é o suficiente para ver os dois movimentos que descrevemos. Verão que dentro
do Eneagrama há um movimento de 1 para 4 e, em seguida, para 2 - ou seja, 1, 4, 2. E há outro
possível movimento através da circunferência, de 1 para 2 e 4 – isto é, 1, 2, 4. Colocamos o resto
das notas da oitava em torno da circunferência, terminando com Dó no ponto mais alto. O
diagrama, agora, é semelhante a este
Deve ser salientado o possível movimento na circunferência do ponto Ré para o ponto Mi, a Fa,
a Sol, etc. por setas, curvas que indicam um movimento semelhante ao dos ponteiros de um
relógio. Os outros movimentos que acontecem dentro do Eneagrama já foram identificados por
seis flechas, uma em cada uma das seis linhas que unem as figuras na circunferência na ordem
142857 - o número obtido dividindo 1 por 7.
Vamos agora refletir sobre este extraordinário diagrama, porque a menos que captemos o seu
mistério, o tomaremos como todas as outras coisas. Este diagrama deverá ser recebido pelas
partes superiores dos centros. Quando você sentir que algo é extraordinário, isso significa que
ele cai nas divisões superiores dos centros. Todo o trabalho deve ser recebido lá. Vamos
considerar um dos grandes ensinamentos do trabalho. O trabalho não nos ensina que vivemos
em um universo moribundo, mas que vivemos em um universo em evolução. Tudo está
crescendo de acordo com seu próprio tempo e escala.
Dividamos 1 por 3. 3 em 1 está contido 3 vezes, (isto é, em 10) e nos deixa como resíduo 1.
Novamente está contido 3 vezes e deixa 1 como resíduo. Então 3 em 1 = 0,3 em uma eterna
recorrência. E todo o raio como 7 notas, em sua tentativa de encontrar uma solução e paz,
torna-se a unidade absoluta como 7 em 1 (ou seja, 7 em 10 está contido 1 e deixa 3 como
resíduo, em 30 está contido 4 e deixa 2 como resíduo, em 20 está contido 2 e deixa 6 como
resíduo, em 60 está contido 8, etc. etc...). Assim vejam que 3 e 7 não podem voltar para 1,
enquanto que o 1 está em todos os números. 1 está em 3, mas 3 não pode voltar para 1, e assim
sucessivamente. O universo é construído com números como Pitágoras ensinou - mas é
necessário acrescentar outra coisa. Toda a criação, todo o universo criado, qualquer que seja o
seu nível ou número, procura retornar à sua fonte, isto é, procura entrar em 1 ou "Unidade". A
trindade- ou 3 - buscando fazê-lo é eterna, porque sempre se reproduz a si mesma e, assim,
recorda-se a si mesma . O número 7 também é eterno, mas no tempo, e deste modo não é no
mesmo sentido. Ele se perde a si mesmo e encontra seu ser em uma repetição do que não é ele
mesmo - ou seja, na constante repetição de 142857. Já que este diagrama refere-se ao homem
e suas possibilidades, inicia com 7 e as propriedades deste número em relação à unidade.
Estudando as propriedades de 7 em relação à unidade encontramos o número 142857. Isto por
si só não tem significado algun. Mas dado no gráfico do Eneagrama, achamos que isso dá origem
a um relacionamento extraordinário, devido ao diagrama simétrico. O número 1 4 2 8 5 7 por si
só não tem nada de simétrico. A única coisa que pode ser dita sobre esse número é que se repete
infinitamente em termos do sistema decimal e que não contém nem 3 nem qualquer múltiplo
de 3. Isso é notável. Este número também tem outras propriedades. Mas o que é preciso
entender é que o universo criado busca pela evolução retornar à sua fonte e que todas as coisas
almejam esta satisfação ou realização. Tudo está em um estado de privação, é incompleto, como
uma criação desarticulada, e todos estão procurando completar-se - o átomo, o homem, o
planeta, o sol, a galáxia. No que diz respeito à unidade absoluta, não só é dividida em duas ou
quatro, mas está sob as forças do divisor de 48. Mas esta reflexão é direcionada para aqueles
que já meditaram sobre o Raio. Na próxima vez falaremos sobre o Espírito Santo dentro do
Eneagrama, pelo qual é fato vivente. Até agora só nos referimos brevemente à série Ré, Mi, etc.
- isto é, à Lei de 7 - e à relação interior das notas.
Observem que esta segunda figura, o triângulo, que liga agora os pontos 3, 6 e 9, não se obtém
da relação de 7 a 1 que só dá a primeira figura e deixa fora a 3, 6 e 9. Aqui há algo estranho.
Dois sistemas diferentes (ou figuras) são obtidos do que ao que parece é independente um de
outro e, no entanto parece estar em alguma relação simétrica ao diagrama em seu conjunto.
Examinemos o vértice do triângulo onde está o número 3. Está entre os pontos assinalados pelos
números 2 e 4 que pertencem à figura de sete (chamarei à figura simétrica localizada entre os
pontos 1 4 2 8 5 7 `a figura de sete e ao triângulo obtido unindo os pontos não tocados pela
figura de sete, chamá-la-ei figura de três). Esses dois pontos 2 e 4 estão assinalados também
pelas notas da oitava Mi e Fa. A Lei de Sete é chamada às vezes a Lei do Choque. Se as coisas
procedessem de um modo regular e se desenvolvessem harmoniosamente sem interrupção
alguma viveríamos em outro mundo.
Uma das origens do mal ou das coisas que não andam como deveriam é devido à Lei do Choque
– ou melhor, a seu não cumprimento. Todos devem refletir sobre o ensino deste sistema no que
se refere aos choques. Pelo que sabemos é totalmente desconhecido tanto na ciência como nos
antigos sistemas esotéricos. (Cabe observar que refletir não é sonhar e que muitos tomam
equivocadamente a reflexão por sonho). A cada série de desenvolvimentos, a cada progressão,
é necessário um choque em determinado ponto. Este ponto é representado pelos intervalos de
semitons na escala maior - entre Dó e Si e Fá e Mi. Ocupar-nos-emos agora só do "lugar do
semitom faltante", assinalado por Fa-Mi ou Mi-Fa. Se não se produz um choque a direção do
desenvolvimento ou progresso seja qual for mudará por completo. Inicia com a intenção de fazer
algo e termina fazendo o contrário. Não pode ter uma passagem correta desde o estado Mi ao
Fa sem choque. De outro modo, o que segue a Mi não será Fá.
Tracemos uma "oitava" vertical deixando fora o Dó em cada extremo.
Comparemo-la com o Eneagrama. Verão que o lugar do choque na oitava vertical está assinalado
com um pequeno retângulo. Corresponde ao ângulo da figura de três que está situada entre os
números 2 e 4 – ou as notas Mi e Fá – marcados na circunferência do Eneagrama. Portanto esse
ângulo representa de algum modo um choque que se produz em dito ponto do sistema. Já que
temos traçada a oitava vertical, aproveitarei esta oportunidade para ver o que sucede quando
se lhe aplica a figura de sete. A observação deste curioso diagrama produz o efeito de uma coisa
viva. De ser atravessado por uma espécie de circulação. Mas cabe advertir que se o põe direito a simetria
da figura de certo modo se perde.
É necessário que compreendam que lhes faça encarar o Eneagrama desde diferentes angulos. É bastante
inútil toma-lo como se fosse um diagrama. É uma coisa vivente e toda a vida depende dele.
Todas as coisas viventes organizadas levam nelas a Lei de 3 e a Lei de 7. No caso de animais há só uma
parte do Eneagrama e só um choque. Mas falarei sobre este particular logo quando discutirmos os outros
dois choques que só podem ser atingidos pelo Homem neste planeta. Agora lhes brindarei com outro
pensamento pleno de sugestões se lhe prestam a devida reflexão. Tomemos uma coisa qualquer no
tempo que se produz em série e a disponhamos em torno da circunferência. Por exemplo, os dias da
semana produzem-se em sucessão, em série no tempo. Coloquemos a segunda-feira enfrente do número
1 no lugar chamado Ré, a terça-feira junto do número 2 ou lugar chamado Mi, a quarta-feira junto do
número 4 e assim sucessivamente. Isto não resulta que o Domingo fique no lugar indicado pelo nº 9. Agora
observamos a correspondência assinalada pela figura de sete com os dias mencionados.
Algo passa da segunda-feira à quarta-feira e regressa à terça-feira. Tentemos livrar-nos da ideia de tempo
concebendo o mundo em dimensões superiores, isto é, concebendo que o tempo não existe e que tudo
quanto está em sucessão no tempo está vivo e por assim dizer, está sempre presente, mesmo que sobre
o Eneagrama, e convertê-lo em algo vivo dirigido à mente e à imaginação. Aparentemente a segunda-
feira relaciona-se de algum modo com a quarta-feira, com o que chamamos o futuro, mas que, na quarta
dimensão já está ali. Logo, a quarta-feira está ligada com a terça-feira, e terça-feira está ligada com
sábado, que é ao que parece extraordinário. Esta parece uma maneira de pensar inusitada, nos parece
passar de uma coisa à outra. É preciso prestar atenção ao lugar onde se produz o choque na série de dias
marcados na circunferência e também a circulação interna que corre entre os dias. Propus-me obrigá-los
a refletir, que não há relação alguma com nossa maneira temporária de pensar na causa e no efeito,
segundo a qual achamos que o único que pode influir no presente é o passado. Como estarão todos de
acordo, achamos que a causa de uma coisa é anterior ao efeito no tempo. Nós não imaginamos que o
futuro possa influir no presente. Se pensássemos que certas coisas que teriam lugar no sábado estavam
relacionadas de algum modo com o que tinha sucedido na terça-feira, e que como resultado disso o que
me acontece na quinta-feira se deve ao sábado, o qual ainda não atingiu na série de dias, por certo me
surpreenderia muito. Pensaria naturalmente – de acordo com meus sentidos - que um dia segue ao outro,
exatamente deste modo, e que as influências de ontem só podem atuar hoje ou manhã. No entanto, por
meio de uma reflexão mais profunda chegarei a compreender que não é necessário que isto suceda assim
e deixarei de me surpreender. Até posso chegar a pensar que algo que estou fazendo hoje pode afetar
meus anos passados. Na próxima vez prosseguiremos expondo estes pensamentos e reflexões a respeito
deste particular diagrama.
Para que algo cresça, se desenvolva de uma etapa a outra, etapa por etapa, numa ordem
correta, é necessário um choque. O lugar deste choque está assinalado no ponto Mi-Fa, ou lugar
do semitom faltante. Que exemplo encontraremos de tal evolução ou desenvolvimento, etapa
por etapa, numa ordem correta? Podemos encontrar na evolução da célula microscópica no ser
humano. Esta é uma ilustração da evolução por etapas de transformações sucessivas de uma
coisa que se converte em outra coisa - ou de uma coisa pertencente a um mundo, o mundo das
células, que passa a outro mundo, o mundo do Homem (pelo duplo processo de diferenciação
e integração).
É preciso dar-se conta que a hora de nosso nascimento está distante, não meramente no tempo,
mas, em escala vertical, na ordem das coisas, na união de duas minúsculas células, em um
mundo inferior ao mundo em que vivemos- um mundo que comumente é invisível para nós.
Mas a Lei de 7 aplica-se a todos os mundos, às galáxias estelares, ao Homem e às células tal
como o faz a Lei de 3, porque estas duas leis são as leis criativas e formativas que estão além do
Universo e tudo quanto contém, em cada nível. São leis últimas no sentido de que não são mais
reduzíveis a algo mais simples. A Lei de Sete exige a existência de um choque. Portanto podemos
estar seguros de que, sendo que a Lei de Sete se aplica em todo o lugar a todas as coisas, em
cada lugar da criação, quer seja no mundo dos átomos, no das células ou da humanidade; quer
seja nos sistemas solares ou nos cúmulos estelares, existe a necessidade de um choque, e que
se este choque não é dado, ocorre a degeneração e a morte. No caso da célula que se eleva por
sucessivas etapas de autoevolução até o mundo dos seres humanos e chega a converter-se
numa pessoa visível, há uma etapa em que uma completa alteração de sua disposição interior
lhe é exigida se tem de sobreviver. Mas é preciso que o estudem por si mesmos se lhes apraz o
fazer. A este respeito é preciso recordar que 9 meses de nosso tempo é 30.000 vezes 9 meses
para a célula. (Calculem por si mesmos o que significa este período).
Estudem o diagrama.
As etapas intermediárias de transformação estão entre Ré e Si. Digamos que na etapa Sol, existe
algo intermediário, algo inacabado e inútil. Cada Dó (o inferior e o superior) é completo num
sentido. Representam pontos "mais inteligentes" que as notas intermediárias, ou cabe
considerá-los como pontos de descanso. Mas vê-se que existem dois lugares perigosos nesta
aplicação da oitava à evolução de uma célula no homem. A natureza do Dó superior é fácil de
ver. Para compreender o Dó inferior é preciso um conhecimento especial ainda que de certo
modo comum. Quando se compreende que os choques são necessários em toda a extensão do
Universo devido a Lei de Sete ser onipresente no mais minúsculo e no mais gigantesco, percebe-
se que tudo deve se esforçar por atingir um correto crescimento ou desenvolvimento ou deve
receber um choque no momento apropriado. Diremos umas poucas palavras sobre o choque
mecânico. O homem recebe um choque mecânico que se repete a curtos intervalos.
Este choque é ar. Aceitamos o fato de respirar, do mesmo modo que aceitamos qualquer outra
coisa, sem pensar nisso. O ar entra nos pulmões e põe-se em contato com o sangue. Aqui existe
uma notável árvore com uns cem números de galhos e ramos. A árvore-sangue se entrelaça com
a árvore-ar nas ramificações mais finas, mas sem penetração alguma, e então acontece um
intercâmbio, algo que está no ar passa ao sangue e vice-versa. Este é o choque dado à primeira
oitava no Homem, isto é, à Oitava da Transformação de Alimento. A não ser que este choque
seja dado mecanicamente no bebé, o organismo físico é incapaz de trabalhar.
Não pode trabalhar porque o choque que precisa não foi recebido. Falando a partir deste
ângulo, é óbvio que somos simples máquinas. Tudo é feito para nós e uma vez que o processo
se iniciou corretamente andamos durante certo tempo. Os animais, os peixes e as aves
requerem o choque de ar. Isto é, vemos como funciona neles a Lei de Sete.
O Ar também não pode produzir um choque a não ser que tenha algo para recebê-lo. O Ar
penetra nos Pulmões e então sua parte mais valiosa (oxigénio) é escolhida e levada à Corrente
Sanguínea, sendo recusado o resto (nitrogênio e bióxido de carbono). Todas as coisas criadas
trabalham por meio de choques. Se não tivesse esses choques morreriam. Recebemos um
choque mecânico que permite ao corpo viver - o choque de Ar. Por que respiramos? Podemos
viver sem respirar? A respiração é algo mecânico em nós, algo que foi arranjado para nós, algo
que nos foi feito sob medida. Mas no Homem há muitas coisas que não estão feitas sob medida,
que não lhe foram dadas.
Mas o resto da pessoa humana, isto é tudo quanto possa ir para além do nível mecânico, não
está trabalhando. Vive a vida de um modo qualquer sem ter a menor ideia de que é preciso se
produzir um choque, e por certo pode viver a própria vida deste modo devido ao choque
mecânico de ar.
Mas o Homem foi criado para algo mais. O Trabalho ensina-nos que somos capazes de nos dar
dois choques conscientes além do choque mecânico de ar e a não ser que se produzam estes
choques o homem segue dormindo e na verdade começa a morrer psicologicamente.
Num homem completamente desenvolvido e consciente têm lugar três choques - o choque
mecânico do ar, que é dado, e os dois choques adicionais que não são dados, mas que devem
ser criados.
Toda a psicologia esotérica trata em última instância, da natureza destes dois choques adicionais
e dos meios que permitem produzi-los, e refere-se às oitavas que existem potencialmente no
Homem e que podem ser desenvolvidas por meio de um trabalho consciente. Para mudar, para
chegar a ser diferente, para transformar-se a si mesmo, é preciso compreender estes dois
choques e criá-los continuamente na vida cotidiana. Mas antes de qualquer coisa deve ser
produzido o Primeiro Choque Consciente, e neste Trabalho uma pessoa deve saber o que
significa dar o Primeiro Choque Consciente na sua vida cotidiana. A não ser que conheçamos
genuinamente algo sobre o Primeiro Choque Consciente, que é chamado a Transformação de
Impressões será impossível para nós compreendermos o Segundo Choque Consciente. As
impressões que entram na máquina humana são um alimento que constitui o começo de uma
oitava.
Este é o lugar onde temos que trascender nossos sentidos, e digerir tudo quanto nos sucede,
onde devemos formar o poder psicológico que escolhe e por outra parte elimina, da mesma
forma que os Pulmões escolhem no Ar o que é mais útil e eliminam o inútil. Mais adiante nos
estenderemos sobre este tema, mas verão que o Eneagrama com todas suas possibilidades não
age no homem a não ser que se cumpram todas as condições que lhe são inerentes.
Quando chegarem a se dar conta de que a Lei de Sete ou Lei de Choque se aplica à vida
psicológica, já terão visto por que é necessário fazer esforços contínuos na esfera psicológica.
Quando o Trabalho começa a agir sobre si e deixa de ser uma mera ideia teórica, quando começa
a ver como se aplica a si mesmo, quando vê por si mesmo alguns dos muitos significados
implicados no Primeiro Choque Consciente, que no geral é chamado Lembrança de Si, ou se é
consciente do lugar de entrada das Impressões provenientes do mundo externo, então se
compreende que numerosos e variados são os aspectos pertencentes a este choque.
O que mais surpreende é a beleza com que tudo está formulado no diagrama, a singeleza com
que tudo está exposto quando se lhe confere um significado, com o próprio pensamento e
compreensão, quando deixa de ser uma coisa só para se contemplar.
No diagrama tudo é vivente, tudo está pleno de significação, e as palavras, letras, números e
linhas são em realidade fontes de significação uma vez que o entendimento as apreende.
Assemelha-se a um mapa que tivesse países viventes, não meras representações.
Para nós, é um fato familiar que a civilização não ultrapassa certo ponto, o que também
geralmente nos acontece pessoalmente. Isso ocorre porque um choque é necessário, e esse não
foi dado, recebido ou criado. Vamos estudar os choques no homem. No caso do Homem, o
primeiro choque necessário para sua vida não precisa ser criado por ele. É dado no ponto 3 do
Eneagrama e recebido como o ar que respiramos. Se um homem se recusasse a respirar - o que
não é possível - morreria. Ou se respirasse algo que não ar, como monóxido de carbono, o
choque seria dado mas não recebido e desse modo pereceria.
É preciso refletir sobre estes dois aspectos do choque e também sobre o fato de que a respiração
do ar deve ocorrer e com intervalos não muito longos. Dar e receber este choque é essencial
para a vida. Se não é dado, o organismo físico deixa de trabalhar. É preciso lembrar aqui que
tudo respira, inclusive a Terra. É muito interessante dar-se conta disso e de que este choque é
necessário em todas as coisas. Mas já que a Lei de Sete ou a Lei do Choque está presente em
todas as coisas (junto com a Lei de Três), este fato não deve surpreender-nos.
No caso do homem, são possíveis dois outros choques, mas não essenciais. Eles não são dados
nem recebidos, mas devem ser criados.
A posição dos três choques pode ser vista nos ângulos do triângulo nos pontos 3, 6 e 9. Um
homem que só trabalha o primeiro choque, em 3, é um homem de uma classe particular. Um
homem em quem trabalham o primeiro e segundo choque é um homem de outra classe
diferente. Um homem em quem trabalham os três choques é totalmente diferente do primeiro
e do segundo homem.
A criação destas três classes de homens é descrita em ordem progressiva nos dois primeiros
capítulos do Gênesis em relação aos dias da criação, que dividem o Homem em 7 categorias
diferentes e não o consideram um e o mesmo homem ou um homem sempre igual. A primeira
ampla distinção é feita entre o Homem Mecânico e o Homem Consciente. O primeiro homem
descrito em Gênesis é o homem mecânico ou morto - no versículo 2. No Trabalho, diz-se que a
humanidade mecânica está dormindo e às vezes que está morta. Da mesma forma, no Novo
Testamento, Cristo diz "que os mortos enterrem os seus mortos". No homem mecânico, não há
choque, exceto o choque da respiração. No entanto, o termo respirar ou respiração também é
aplicado ao segundo choque, como veremos mais adiante. O que precisa ser enfatizado aqui é
que, tanto em Gênesis, quanto no Trabalho e no Novo Testamento, aparece a idéia do homem
morto, o Homem que está morto enquanto vive.
Para despertar do estado de morte, um homem ou uma mulher devem dar-se a si mesmos o
segundo choque, no ponto 6. Descreve-se a referida pessoa no Génesis como a que segue ao
homem "morto".
Consideremos primeiro ao homem "morto". É impossível descrevê-lo brevemente. É o homem
dos sentidos, sem vida interior, o homem que atribui seus poderes a si mesmo, o homem da
autoestima, para quem toda a verdade descansa no mundo exterior, o homem que não
começou a pensar ou sentir além de si mesmo. Este homem é chamado em Gênesis de
"desordenado e vazio". Este é o homem das trevas, em quem não há luz. Supõe-se que nenhum
de nós está nessa condição. O Antigo e o Novo Testamento referem-se a esse estado tenebroso
no homem. É dito em Isaías: "O povo que andava na escuridão viu grande luz" (IX 2) e em São
João: "A luz nas trevas resplandeceu, e as trevas não prevaleceram contra ela" (I 5) o que
significa que o ensino esotérico representado pelo Cristo apareceu como luz para aqueles que
estavam na escuridão da mente ou da compreensão. Para dar um exemplo, este homem morto
ou homem de mente escura é o homem Hasnamus mencionado no Trabalho - a saber, o homem
cujo bem-estar depende da miséria de milhares e milhões de outros homens. Napoleão é um
bom exemplo. Esse homem não pode pensar em termos que estão além de si e do que ele quer.
Nele não há "amor ao próximo”- isto é, não há um desenvolvimento emocional além do egoísmo
e do interesse próprio, ou, em termos do Trabalho, falta o poder de uma consideração sincera
dos outros, e tampouco ele tem a habilidade de se colocar genuinamente no lugar de outra
pessoa e pensar e sentir-se tal qual esta pessoa pensa e sente, a menos que pertença ao seu
próprio círculo pessoal. Este é o estado geral do homem. No Trabalho é necessário superar esse
estado e é difícil para todas as pessoas fazê-lo, sem exceção alguma. No entanto, será necessário
dar esse passo para que possa ir além do que está atualmente.
O que é exigido antes de tudo é proporcionar um choque ao estado atual da mente e dos
sentimentos. É necessário pensar e sentir de uma maneira nova. Mas a menos que algo seja
encontrado que o provoque, continuará a ser um passo não tomado e continuará a receber a
mesma nota durante a vida toda, como a maioria das pessoas o faz.
O triângulo, sobre o qual falaremos mais, tem três vértices marcados com os números 3,
6, 9. Nós tocamos somente os pontos 3 e 6. No trabalho, esses pontos são chamados de "Pontos
de Choque". No ponto 3, ocorre o choque mecânico do ar que entra nos pulmões e é recebido
pelo sangue . O ponto 6 é chamado, às vezes, o ponto do primeiro choque consciente, porque
ele é dado a nós mecanicamente. Por esta razão, o ponto 6, às vezes, é chamado de Primeiro
Choque Consciente e o ponto 9 o Segundo Choque Consciente. Esta nomenclatura baseia-se nos
conceitos de mecânico e de consciente. Mas também, é possível se referir aos choques como
primeiro segundo e terceiro. Na próxima vez, falaremos sobre o triângulo à luz do que é o
Espírito Santo, para usar a linguagem esotérica dos Evangelhos, e também como a respiração
entrante e extrovertida no ponto 3 corresponde a algo semelhante no ponto 6.
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(inspiração)
(expiração)
Estas direções representam a respiração para dentro e a respiração para fora. Agora, o
triângulo no centro do Eneagrama tem três pontos, numericamente chamados 3, 6 e 9, e cada
ponto representa um lugar de choque. O choque no ponto 3 é o da respiração. Eu me pergunto
se alguns de vocês pensaram que o segundo choque em 6 tem alguma correspondência com o
primeiro, ou seja, que de alguma forma se verifica "dentro e fora" e "fora e dentro". É fácil de
ver, examinando o diagrama de lembrança de si que primeiro vai a uma direção e em seguida
para outra, dentro e fora, fora e dentro, da mesma forma que a respiração faz. Para aqueles que
desejam refletir sobre este ensinamento e ter uma confirmação intelectual disso, chamarei a
atenção para o triângulo extraordinário localizado no meio do Eneagrama e depois para a
natureza do primeiro choque de Ar. Isto é, o movimento para dentro e para fora da respiração.
Então eu vou perguntar-lhes: "Vocês acham que o segundo choque no ponto 6 (o primeiro
choque que é dado conscientemente) não está relacionado pelo seu caráter ao primeiro choque
que ocorre mecanicamente no ponto 3?" O diagrama de Lembrança de Si nos demonstra que
está relacionado.
Quero que reflitam sobre essas duas direções ou movimentos psíquicos relacionados à
Lembrança de Si, que são diferentes das duas direções físicas ou movimentos da respiração. Na
lembrança de si, um homem deve olhar para fora e para dentro ao mesmo tempo. Quando uma
pessoa está fazendo isso, basta olhar nos olhos dela para não ter dúvidas, porque a expressão
dos olhos muda. Para lembrar-se de si, você deve olhar para dentro e para fora. Deve ver o
exterior e ver a si mesmo com relação ao exterior. Mas, na realidade, ninguém pode ver dentro
e fora ao mesmo tempo, da mesma maneira que uma pessoa não pode inspirar e expirar o ar ao
mesmo tempo. A atenção de uma pessoa deve ir para dentro e para fora, alternadamente, e se
compararmos com a respiração, pode-se dizer que o ato de se lembrar de si mesmo é um
movimento para o interior e para o exterior, não um movimento interior ou um movimento
exterior. O ato de lembrança de si é um duplo movimento como o ato de respirar. E para que
possamos pensar na Lembrança de Si como se fosse um movimento de vai e vem, psicológico
por sua natureza, deve ser realizado conscientemente. Isto é, com certa pressão da atenção que
é produzida pelo propósito e pelo sentimento do trabalho. Por exemplo, percebo uma pessoa
e, em seguida, minha reação à luz do meu propósito, então, para fora, novamente na pessoa,
em seguida dentro, em minha reação, e assim sucessivamente. Desse modo a identificação é
impossível.
Voltaremos mais tarde a estudar o choque no ponto 6, mas vou acrescentar o seguinte. A
menos que seja entendido que o Trabalho, e toda psicologia esotérica se ocupa dos estados
interiores e trata com as reações aos outros que agem sobre si mesmo, tudo parecerá vago,
fantástico e desnecessário. A observação de Si, o ponto de partida deste Trabalho, baseia-se em
tomar consciência dos estados internos. A evolução é uma evolução dos estados interiores. O
desenvolvimento de si é um desenvolvimento de estados internos. Apenas cada um pode
conhecer seus próprios estados internos: apenas cada um pode se separar de estados inúteis,
negativos ou prejudiciais. Repito que é impossível tornar-se mais consciente, impossível de ser
atingido no ponto 6, a menos que perceba o tipo de coisas que tem dentro de si mesmo e o que
acontece em si, e para isso acontecer, antes de mais nada, é necessário que a atenção seja
internalizada e observe as próprias reações para o exterior, mas ao mesmo tempo devemos ter
em conta o exterior. É necessário descobrir o que o externo e o interno significam e qual é o
sentido desse movimento de dentro para fora e de fora para dentro, porque estar apenas no
interior ou apenas no exterior é um equívoco. Existe eu e há o mundo exterior, que me é
transmitido pelos sentidos. Há o mundo e há as próprias reações ante ele. Se a distinção entre
si mesmo e o mundo externo não pode ser feita, o Primeiro Choque Consciente não pode ser
aplicado. Logo me ocuparei mais extensamente deste tema.
Birdlip, 4 de março de 1944.
O ENEAGRAMA VI
Prosseguiremos falando do choque que é dado no ponto 6 do Eneagrama. Recordar-lhes-
ei brevemente que este é o Primeiro Choque Consciente, chamado em geral o Choque da
Lembrança de Si, e este choque não acontece mecanicamente no Homem. Repito essas noções
porque é importante compreendê-las. Toda a ideia da Psicologia Esotérica e o que mais a
distingue da Psicologia Ocidental reside no fato de que não considera o homem como se
estivesse consciente.
A psicologia esotérica vê o homem como estando em um estado de sono em que tudo
lhe acontece, um estado em que ele se imagina consciente, no qual ele imagina que tem
vontade, que tem um Ego permanente e que pode fazer. A Psicologia Esotérica nos ensina que
tudo isso é ilusão e que o Homem atribui a si próprio o que não possui. O primeiro passo
necessário para possuir esses atributos pertence ao choque no ponto 6 ao qual nos referimos
em diferentes ângulos.
Algumas pessoas acreditam que um choque é apenas uma experiência súbita e
desagradável. Por sinal, alguns acidentes são desse tipo e muitas vezes são úteis. Mas é preciso
ter um conceito muito mais amplo do choque no ponto 6. Aqui é onde se apresenta uma
mudança completa de perspectiva, uma mudança completa de mentalidade.
É preciso compreender o que significa ver que as coisas não são o que parecem ser. Nós
devemos realmente entender que nós e os outros estamos dormindo, e que não podemos fazer
nem ter a Vontade verdadeira, nem um Ego permanente. Chegar a entender isso produz um
choque, um choque lento e, às vezes, um choque súbito. Já ouviram em uma fase preliminar do
ensinamento uma definição de lembrança de si em que se define como uma compreensão de
nossa mecanicidade.
Quando começamos a entender que não somos nós que fazemos, mas é Ele quem faz,
nós começamos a sentir certo tipo de lembrança de si. Mas precisam entender que, se não
puderem separar-se de si mesmos, nunca entenderão o que significa dar-se conta da sua própria
mecanicidade. Dirão a todos 'eu', e este é um dos maiores pecados que podem ser cometidos
contra si mesmo e contra os outros. Na verdade, somos uma legião de "eus" e nos consideramos
como se fôssemos um "eu" único e nos comportamos em relação a outras pessoas como se cada
um fosse um "eu" único.
Quando alguém se observa imparcial e sinceramente por um período, Entende até que
ponto é mecânico e percebe que não tem o direito de dizer "Fui eu quem fez isso", mas é preciso
dizer "Ele é quem fez isso". E percebe-se que a pessoa cede a Ele e, por assim dizer, chama-se
"eu", embora isso não seja um processo consciente, mas um tipo de auto justificação que
funciona em segundo plano.
Assim, por exemplo, um homem acredita que sua fala interior é ele mesmo e, na
realidade, são os "eus" que estão falando e as coisas que dizem as dizem em seu próprio nome,
embora acredite que é ele mesmo. Então, de repente, um 'eu', um 'eu' mais consciente, um “eu”
de Trabalho, geralmente nos diz: Por que você não está no trabalho? E então tudo muda
completamente, a conversa para e todos os 'eus' que estavam falando fogem e se escondem.
Agora, não poderão dar o choque no ponto 6 se sempre fizerem o que gostam ou tratam
de sair a sua própria maneira. Sair à sua maneira é sempre o equivalente a permanecer
dormindo, a permanecer mecânico, a ser nada mais que uma máquina. Quando uma pessoa sai
à sua maneira, quando as coisas parecem andar sobre os trilhos, não vai contra si mesma e não
é consciente. Quando duas coisas se cruzam, conseguimos um ligeiro momento de consciência.
Despertamos um pouco, por um momento. Se nunca opomos o Trabalho à vida, não haverá luta
alguma, em amplo sentido, porque o Trabalho e a vida seguem direções diferentes, e esta luta
não pode se comparar com as pequenas lutas da vida cotidiana. Uma vez que essa luta começa
a formar-se num homem, permanece e se sente o tempo todo. É sabido que não se pode fazer
o que se quer, às vezes mais distintamente e às vezes menos distintamente, mas se sabe sempre
que se as coisas parecem fáceis é impossível se enganar supondo que isto é o que se queria.
A realidade do trabalho torna-se uma realidade mais importante que as realidades da
vida. Quando as coisas são fáceis na vida, quando as relações que se tem com a vida são
momentaneamente boas, isso não impede que a presença do Trabalho permaneça sempre por
trás. A vida pode nos dar satisfações e o trabalho também, mas eles são diferentes por causa do
sabor. Tudo isso se refere ao que eu disse sobre o Primeiro Choque Consciente, no sentido de
que devemos saber a diferença entre estar adormecido e estar acordado por causa de seu sabor
interior, mesmo antes de saber como nos daremos o choque.
Devem entender que se estão identificados com a Vida, estão na vida. Só respondem às
influências A. Estão em todos os sentimentos que a vida produz, em todas as suas ansiedades.
Mas estão muito longe do Trabalho. O trabalho lhes parece um sonho. Estarão muito longe da
possibilidade do choque no ponto 6.
Quero que todos entendam que é necessário reinterpretar a vida e vê-la à luz do Trabalho.
Mas enquanto estão completamente imersos nos 'eus' da vida e absorvidos nos problemas,
ansiedades, fricções e ambições da vida, como podem esperar interpretar a vida de uma
maneira diferente? Somente os "eus" do Trabalho podem fazê-lo. Os "eus" da vida conhecem
apenas uma língua, a da vida, mas os "eus" do Trabalho conhecem duas linguagens, a da vida e
a do Trabalho. Se não fosse assim, que esperança teríamos de evitar servir a maquinaria da Vida
Orgânica? Como poderíamos nos separar de nós mesmos se não houvesse nada diferente de
nós mesmos? Como, se você pensa que é um, você pode se separar de si mesmo? Esse é outro
aspecto do choque no ponto 6. Consiste em sempre valorizar os "eus" do Trabalho nos períodos
difíceis.
É necessário obedecer ao que o Trabalho diz em determinada situação. Refletir sobre
como trabalhar de acordo com as diretrizes do Trabalho e tentar obedecer àquilo que é
percebido e visualizar-se a si mesmo ao fazê-lo. Por essa razão, é tão importante conhecer o
Trabalho, fazer um esforço real para entender seu ensinamento, mantê-lo vivo em sua própria
mente descobrir novas conexões.
Agora desejo retornar à primeira definição de lembrança de si e à compreensão da própria
mecanicidade. Quando nos achamos falando de um modo característico nos damos conta de
que falamos de uma atitude parecida com um ou dois discos de um toca discos. É sabido que
não custa muito ver as gravações nas demais pessoas quando alguém nos aponta. É muito mais
difícil ver os nossos discos gravados e surpreendê-los quando estão trabalhando. Pode ser
reconhecido mais tarde por certo gosto e também por um sentimento interior de perda de força.
Toda vez que pensamos mecanicamente ou sentimos mecanicamente, tendemos a perder força.
Quando você consegue perceber algumas gravações da classe que se expressa
externamente por meio da palavra falada como a da classe que trabalha internamente dentro
de si, já começa a entender que tipo de mecanicidade se tem dentro de si. É claro que você não
entende se você se justificar - isto é, se você encontrar razões que explicam o que é dito
externamente ou internamente enquanto você está falando. Toda vez que as mesmas coisas são
ditas repetidas vezes, isso é mecanicidade. Quando você chega a perceber esse tipo de
mecanicidade, a ilusão sobre si mesmo é destruída. Então há uma luta muito interessante que
eu não tentarei descrever porque é uma experiência que todos devem sofrer e que cada um
inevitavelmente enfrentará em um certo estágio do trabalho em si mesmo. Agora, essa ilusão
de si mesmo deve ser destruída antes que o choque possa realmente ocorrer no ponto 6. Se
você tentar se dar esse choque enquanto estiver cheio da ilusão de si mesmo que sempre teve,
você não chegará a ficar mais consciente, mas, pelo contrário, tenderá a cair num sono mais
profundo. Precisamos perceber nossa posição.
Você se lembra da história da corda e do precipício? Um homem não avisa nenhum dos
dois. Então ele vê o penhasco, e percebe sua verdadeira posição, e então ele vê a corda
pendurada acima de sua cabeça. Você entende o que isso significa? Um homem não pensa em
segurar a corda enquanto não vê o perigo, e não vê o perigo enquanto está dominado pela ilusão
de que está tudo bem. Da mesma forma, uma pessoa com a ilusão de si mesmo, uma pessoa em
quem algo não foi revelado, não fará um esforço correto de Lembrança de Si, uma vez que ele
não vê o precipício e, portanto, não vê a corda. Agora, a corda é o trabalho. A corda é o
esoterismo que está acima de nós, mas em um nível mais elevado. As influências curativas do
Esoterismo podem nos alcançar no 3º Estado de Consciência, mas não no 2º Estado. O Primeiro
Choque Consciente é elevar à Consciência as formas do Despertar, esse tipo de Luz, que
pertencem ao 3º Estado.
Agora você entenderá porque se diz que dar-se conta da própria mecanicidade é uma
forma de Lembrança de si, significa que começamos a perceber o perigo em que corremos
quando percebemos que aquilo que tomamos como garantido em nós mesmos é uma ilusão e
que não existimos. E uma vez que essa ilusão de si desaparece, é possível sentir que as
influências do Trabalho não apenas nos alcançam, mas também nos ensinam. Por outro lado, se
você tem a convicção de que o modelo de si mesmo está correto, naturalmente custa muito
trabalhar sobre si mesmo, porque não há razão alguma que o motive a fazê-lo. Se você não sente
uma falta, por que você deveria trabalhar? Se sente que conhece tudo, por que aprender? Se
você se sente fundamentalmente satisfeito consigo mesmo, por que mudar?
Nós tomamos como certo o que somos. Nós assumimos o fato de falar, pensar, mover-se,
ver ou ouvir. Nós não percebemos que somos incapazes de explicar coisa alguma e que
simplesmente não sabemos nada. Conseguir perceber isso nos faz sentir assombro e
impotência. Na verdade, não há pessoa que possa dizer, por mais que o negue que tenha
criado a si mesmo e que saiba exatamente o que é e como funciona o pensamento, o
sentimento, etc. Basta refletir um instante para perceber que não se sabe nada.
Quando entendemos que a máquina da Personalidade nos leva de um lado para outro e
toma conta de nós o tempo todo, temos vislumbres do que significa perceber nossa
mecanicidade. Começamos a entender por que tal concepção é definida como uma forma
de Lembrança de Si. Percebemos que um homem não pode ir além de seus limites se ele
toma tudo em si mesmo como sendo "ele mesmo". Como poderá atravessar a corrente com
todas as suas posses? Como poderá sair da prisão se insistir em levar tudo consigo? É
necessário evitar a si mesmo. É preciso ser paciente consigo até que o barulho da
Personalidade tenha se acalmado e finalmente esteja "consigo mesmo".
Há uma frase que é muito usada no Trabalho, e também em outros escritos esotéricos
antigos, no sentido de que o Homem está em uma prisão. G. costumava dizer que ninguém
está ciente de sua situação. "Todos vocês", disse ele, "estão presos e, se forem pessoas
sensatas, a única coisa que devem querer é fugir dessa prisão" Ninguém, porém, pode
escapar sem a ajuda daqueles que escaparam antes. Somente eles podem te mostrar como
é possível escapar. “Houve uma época em que sua afirmação favorita era que, se um homem
na prisão tivesse alguma chance de escapar, ele deveria primeiro perceber que estava na
prisão. Enquanto ele não for capaz de perceber, enquanto continuar acreditando que é livre,
ele não tem possibilidade alguma. Se não nos damos conta de nossa mecanicidade,
continuaremos a imaginar que somos livres. Nós imaginamos que fazemos tudo por nós
mesmos, por nosso livre arbítrio. A prisão da qual G. falou tantas vezes é, antes de tudo,
nossa Personalidade. No caso do Sr. Smith, sua prisão é o Sr. Smith, a quem ele não observa
de forma alguma e a quem ele toma como ele mesmo. O que tem que fazer? Ele tem que
se dividir em "eu" e o Sr. Smith. Ele está com o Sr. Smith durante todo o dia e tem muitas
oportunidades de observá-lo e é em vão que ele diz que não pode entrar em contato com o
Sr. Smith por telefone, porque ele está tantas vezes ao lado do Sr. Smith que ele le nem
percebe que o Sr. Smith o faz fazer tudo. Você vai entender por que, quando se encontra
com o Sr. Smith, você não deve simplesmente dizer: "Como você está?” mas acrescente:
"Como está o Sr. Smith?” e o Sr. Smith tem que responder: "Oh, o Sr. Smith está em perfeita
saúde, mas eu não me sinto muito bem”.
Agora, é impossível ajudar esse homem a se separar do Sr. Smith através da persuasão.
Talvez ele diga que não acredita na existência dessa pessoa chamada Sr. Smith, porque este
é apenas um homem, e ele discutirá e exigirá provas. Claro, isso é impossível, porque ele é
o único que pode libertar a si mesmo. É preciso que veja por si mesmo o que significa a
própria mecanicidade. Deve perceber que, enquanto imagina que sempre se deu bem com
isso, na verdade é o Sr. Smith quem se deu bem, e precisa sentir sua própria impotência na
presença do Sr. Smith. É claro que isso deve ser um processo gradual e intermitente que se
estende por anos de estudo de si. Mas uma vez que tenha começado, uma vez que perceba
por um momento a presença do Sr. Smith, sua eventual libertação já é uma possibilidade.
Em vez de se opor à ideia de observação, ele começa a usá-la inteligentemente e então sua
vida é dividida em duas correntes: uma será a vida do Sr. Smith e a outra será a história e
reflexões do "eu" que observa o Sr. Smith. Então, por muito tempo, ele levará uma vida
dupla, que muitas vezes é dolorosa. Mas se não se permitir ser negativo, irá gradualmente
perceber que novos significados entram em sua compreensão. Algo acontece nela. E essa
mudança, por menor que seja, é devida ao choque que ocorre no ponto 6 através das novas
influências que atingem o homem.
Existe uma forma de Yoga que se baseia na meditação sobre o que é e o que pode ser
chamado de "eu". Neste Trabalho, devemos nos perguntar quando digo "eu": "Qual 'eu'?"
Entendendo que o termo 'eu' é usado de maneira completamente equivocada, o trabalho
prático sobre si é iniciado. Pertence ao choque no ponto 6 porque pode aumentar a
consciência- aumentar a própria percepção de si mesmo. Tente um relacionamento
completamente novo com você mesmo. Basta dizer a si mesmo em um momento de ação:
"Qual 'eu'?”.
Agora vou dar um exemplo referindo-me a uma pessoa que começou a perceber a
mecanicidade. Ser mecânico significa reagir, reagindo às coisas como sempre faz. Vocês
precisam refletir sobre essa observação pessoal do que significa ser mecânico.
A vida pode ser transformada. Eu não estava mais à mercê da vida. Eu encontrei uma
maneira de tratar a vida. Eu não precisei mais reagir. Ninguém ou nada poderia me
machucar ou me tocar se eu pudesse encontrar força suficiente para não reagir. A solução
para essa dificuldade estava em mim. Eu tinha o poder, se soubesse como usá-lo, para fazer
a vida não me prejudicar. A vida não era o amo. Podia superar as dificuldades e infortúnios
da vida sendo passivo, não reagindo contra eles.
Após um intervalo, voltaremos à ideia fundamental do Trabalho, ou seja, que para mudar
é necessário observar a si mesmo e perceber com que se assemelha neste exato momento.
Em que parte de si está o homem neste momento? Está em todos os rolos dos centros,
estabelecido pela ação determinada da vida em dito homem.
O que isso significa? Significa que aquele homem desde a infância estabeleceu nele
associações peculiares que são representadas em seus centros e que funcionam
mecanicamente. Aqui tudo foi estabelecido nos centros deste homem ou mulher, isto é, em seus
pontos de vista peculiares ou maneiras de extrair as coisas dos centros oriundos, da mãe, do pai,
da enfermeira, de todas as pessoas que o cercaram.
Nós todos tomamos essa coisa pré-estabelecida como se fosse nós mesmos. No entanto,
é apenas um mero modelo de todos os possíveis "nós mesmos". Isso é bastante difícil de
entender. Todo o material associativo depositado nos centros desde os primeiros anos de vida
faz do homem certa classe ou modelo de pessoa. Aqui me permitirei dizer, não é estranho que
ninguém perceba que, em certo sentido, é uma pessoa petrificada, um tipo particular de pessoa
- uma pessoa que sempre se comporta de uma forma ou de outra?
É interessante porque cada pessoa tem a ideia de que é completamente livre e pode se
comportar, falar, agir, entender, etc. como quiser. Isso é uma ilusão. A Personalidade, construída
a partir da mãe, pai, enfermeira, escola, etc. é muito poderosa. Está sempre trabalhando para si
própria. No entanto, temos a visão, o sentimento, a ideia de que somos livres e que nada nos
predispõe ou nos fixa ou nos faz máquinas.
Eu disse que isso era uma ilusão. Mas, ao mesmo tempo, não é uma ilusão, no sentido de
que é possível dissolver a máquina da personalidade e libertar-se. Para isso, é necessário pagar
e pagar por muito tempo. O trabalho faz com que esse pagamento seja justo. Começa com a
Observação de Si.
O que significa a Observação de Si? Significa observar o que somos como reagimos, o que
nos faz negativos. O Trabalho nos ensina especificamente a observar certos aspectos de si
mesmo sem um espírito crítico- isto é, sem que alguém se justifique de uma forma ou de outra.
Ver o que se toma como si mesmo, a máquina das respostas, a máquina do
comportamento, dos pensamentos, dos preconceitos, dos sentimentos - esse é o propósito
perseguido pela observação de si.
Estarão de acordo comigo que uma pessoa não pode mudar a menos que seja capaz de
ver a si mesma. Mas as pessoas geralmente fazem as tentativas mais fantásticas e ineficazes
para se verem. Geralmente acreditam que devem fumar ou comer menos ou levantar-se mais
cedo ou trabalhar mais duro no emprego que lhes permite ganhar a vida.
Entretanto, este trabalho não começa com isso. Tem seu início no campo psicológico. É
necessário observar esse aspecto primeiro. É aí que está o que é aceito como si.
Primeiro, é necessário que haja uma mudança mental, na forma de considerar a si, no
sentir de si mesmo.
Como é sabido, todo homem é identificado consigo mesmo, toda mulher consigo mesma.
Todos esperam começar a partir de si mesmos, como são. O trabalho baseia-se em tornar esse
"você mesmo" - esse "si mesmo" - mais passivo. Quem é você? O que é você? É aquela coisa
pré-fabricada que não o serve em nada ou que o ajuda muito pouco.
Entretanto a pessoa é escrava do que considera natural - "ele mesmo", é esse "si mesmo".
O Trabalho está em mudar a base em que repousa aquela concordância cega, aquela coisa em
si que nunca foi discutida e que não foi vista dessa maneira.
A vida implantou em nós, especialmente através da imitação dos outros, milhares de
atitudes, de interrupções, de imagens, de registros de gramofone, enfim, milhares de modelos
associativos. Sentimos desconforto se não os seguirmos. É nossa própria edição.
O Trabalho busca pôr fim a essa identificação, consigo mesmo, formada pela ação da vida
e que se apoia na personalidade estabelecida. Certamente, é uma questão muito difícil e que
não está ao alcance dos insipientes. Orientar-se por uma nova maneira não é algo fácil. É
necessário chegar ao fundo de "si mesmo".
O Trabalho não pode fazer nada por nós se partir de "si mesmo" - ou "você mesmo" - isto
é, se partir da personalidade.
São muitos os que se equivocam sem conseguir entender o alcance do Trabalho. Todos
têm um sentimento sagrado em relação si mesmo, tais como são. Este está no lugar errado - na
Personalidade.
Personalidade, por si só, não é algo sagrado. Os sentimentos mais profundos de si mesmo
sempre possuem a qualidade milagrosa da santidade, de conceder felicidade. Entretanto, nós
tomamos essa coisa, o "si mesmo", como se fosse sagrada - e, desse modo, o sentimento está
no lugar errado - isto é, está na autoestima, na convicção de que estamos certos; no passado
relevante; na educação.
É necessário remover esse sentimento. Ir além dele. Renová-lo. Atribuir a si mesmo, a
ideia de algo tão profundo e cheio de significado, como denota a palavra "sagrado", é cometer
um crime contra si mesmo.
Talvez alguns de vocês se lembrem de que nas lendas do Santo Graal, o jovem cavaleiro
que sai para encontrar a escola ou o castelo místico, não deve obedecer a sua mãe.
Isso pode ser interpretado de uma maneira muito rude. Mas o que isso realmente
significa? A mãe é a fonte de nossas ações, sentimentos e pensamentos.
É necessário desobedecer a personalidade. Neste Trabalho, o que devemos observar? As
coisas que tomamos como garantidas e às quais dizemos o dia todo "Eu". Mas não é "Eu". Não
é o verdadeiro "Eu".
São muitos "Eus" adquiridos. É uma máquina de 'Eus' adquiridos. Si mesmo está
intimamente ligado a ela (máquina de Eus). Ele é obedecido em todos os pontos. Ele (Si mesmo)
diz alguma coisa e crê que ele que disse isso. Ele faz alguma coisa e pensa que ele o faz. Ele sente
algo e pensa que ele que sente isso. É um modelo (maneira) encontrado nas amplas áreas
associativas ou silenciosas do cérebro. É o seu modelo, é o que tem registrado suas tentativas
de dar forma a si mesmo. É um pequeno instrumento de conexões elétricas, entre milhares de
milhões, devido as que se comunica sempre com as mesmas áreas e obtém os mesmos
resultados. É uma máquina em cada um.
G. disse uma vez, "é possível fazer com que as impressões sejam recebidas em novos
lugares nos centros? Esta é minha tarefa". No início, ele forçou as pessoas a fazer novos
movimentos, e também fazer coisas com as quais não estavam acostumadas. "A verdade", disse
ele, “é que tudo se torna mecânico depois de um tempo”. Como é possível fazer com que as
coisas se tornem novas? Tudo se torna mecânico... O que vocês acham? Vocês conduziram este
dia de uma maneira completamente mecânica? Já encararam seus problemas domésticos como
sempre fazem, ou tentaram mudar levando as coisas de uma maneira nova? É difícil, mas
possível.
Este é o objetivo maior do Trabalho - livrar-se da maneira mecânica adquirida de conduzir
tudo conforme um molde, a uma série de associações, como a ideia do que deve ser justo ou
injusto.
O foco do Trabalho é si mesmo. Si e si mesmo não são a mesma coisa, mas são tomados
como se fossem. As pessoas se identificam consigo mesmo. E desta maneira, o Si (Eu) se
identifica consigo mesmo e se torna Si mesmo (Muitos Eus).
No entanto, O Si é muito mais velho que Si mesmo. Mas como não conhecemos a nós
mesmos, ignoramos que haja algo diferente em nós fora de nós mesmos e o Eu Exterior se funde
com o Eu Interior e não há separação.
A observação de Si dá início a uma separação. Começa por se separar de Si mesmo. Mas
no começo esse Si é meramente o Eu Observador. No entanto, a partir do Eu Observador, surge
o Mordomo Substituto, que encaminha ao Mordomo, o que dá acesso ao Eu Real. Este é o Si. E
esse Si é inatingível enquanto se continue olhando Si um como Si Mesmo.
Deixar-se para trás a Si mesmo não é o que as pessoas enfocam. Muitas vezes as pessoas
acreditam que ignoram a Si mesmas e realmente o que elas fazem é identificar-se mais ainda.
O Trabalho nos ensina muitas coisas interessantes sobre o que deve ser observado e o
que deve ser desprezado. No entanto, as pessoas tendem a pensar que já conhecem e
estabelecem restrições ou limitações, por exemplo, com a comida ou com cigarros, ou então,
recusam roupas decentes ou viajar de ônibus, quando na realidade, não têm necessidade de
proceder dessa maneira.
É preciso observar esses "Eus" e separar-se deles. Eles tendem a constituir um poderoso
sistema tirânico que controla a pessoa. Eles (esses Eus) se originam nas primeiras associações
como pessoa. Esta pode ser escrava delas ao longo de toda a vida. É uma escravidão mórbida
que não leva a parte alguma.
Assim, com a observação de si, começa-se a perceber onde e a que se está preso. O que
está de acordo com o senso do Trabalho, pois este nos faz ver a vida e seus efeitos em nós.
O Trabalho é uma negação às ações da vida. A vida criou "Eus" que convivem conosco e
até chegam a nos devorar. Esses "Eus" são de todos os tipos.
Suponhamos que se permita às influências do Trabalho varrer tudo e expulsarem aqueles
“Eus”; provavelmente nos surpreenderia muito ver o que o Trabalho considerou inútil.
O primeiro passo que deve ser dado no Trabalho é libertar-se de Si mesmo. O Trabalho
não acrescenta nada a Si mesmo, removendo-o de Si, apenas procura eliminar o que é inútil para
o próprio desenvolvimento.
Birdlip, Páscoa, 9 de abril, 1944.
O ENEAGRAMA XI – O ESTUDO DO CHOQUE NO PONTO 6.
Se o Tempo não fosse o "molusco" capaz de se contrair e expandir, aquele corpo macio e
musculoso, todo ele seria rígido como uma régua de madeira. Mas O Tempo, isto é, os eventos
- não é desse espécie. Pode e deve ser acompanhado por um método seletivo, um método para
escolher e descartar, prestar atenção ou não aos incidentes ou eventos ou situações que
inevitavelmente acompanham sua aparente passagem através de nossa consciência limitada. O
"tempo" está todo lá - como um campo. Mas chegamos a ele pouco a pouco e passamos por ele
de acordo com nosso estado. Se somarmos um estado consciente ao estado mecânico ou a
reação cega diante dos eventos, estaremos então em um nível superior de ser, e percebemos
que alguns eventos precisam ser contraídos - espremidos e descartados - outros devem ser
deixados como estão e alguns precisam ser estendidos com todos os nossos poderes de trabalho
interior e de lembrança de si.
Quando todas as ideias do Trabalho são recebidas, assimiladas e colocadas em seu lugar,
e quando se tenta viver de acordo com elas, elas ajudam a dar o choque no compartimento
superior ou mental. Este lugar corresponde no Eneagrama ao ponto 6. A mente deve mudar
antes que o resto do homem mude. Este é o mesmo ensinamento que é dado nos Evangelhos
quando diz que o homem deve primeiro se arrepender, o que em grego, na realidade, significa
mudar a mente. Mudar a própria mente significa pensar de uma maneira nova.
Mas para pensar de uma maneira nova, são necessárias novas ideias e um novo
conhecimento. Por exemplo, se alguém admite a ideia de Tempo e Recorrência, percebe que o
passado está diante dele, de modo que tem novos pensamentos sobre a vida, isto é, ocorre uma
mudança de mentalidade.. Não estou dizendo que isso é feito instantaneamente, mas
gradualmente, ao longo de vários anos. Esses pensamentos desenvolvem uma nova parte da
mente que, de outra forma, permaneceria sem uso.. Este é um exemplo de “choque lento” na
parte mental. É uma transformação gradual da mente em relação com o Tempo, que afeta a
parte emocional, a qual, por sua vez, afeta a parte física.
Todas as ideias do Trabalho, quando a mente as percebe e as reconhece, atuam como
fermentos, como levedura e mudam gradualmente a mente, a maneira de pensar, e em especial
o sentimento do “Eu” Tudo isso tem a ver com o choque na parte mental, ou Primeiro Choque
Consciente, que no Eneagrama é indicado como o choque no ponto 6, e no diagrama do Homem
como uma fábrica de três andares no compartimento superior, atuando em 48.
Se alguém começar a viver este Trabalho e pensar em tudo a partir das ideias que ele
ensina, fazendo esforços para se separar da emoção negativa e das ideias inúteis que tiram a
nossa força, se estivermos caminhando com cuidado no meio dos acontecimentos da vida como
se algo nos protegesse e nos mantivesse de pé, então é dado o Primeiro Choque Consciente e
cria-se os Hidrogênios suplementares 24 e 12 em si mesmo.
Mas é preciso conhecer a si mesmo, o que é uma grande luta interior entre o Sim e o Não
em relação com o Trabalho, porque só o que conta é a própria atitude interior. À medida que
se cria o Hidrogênio suplementar 24 percebe-se que o pensamento muda. Começa a
compreender emocionalmente, a ver a verdade de uma coisa emocionalmente, e em seguida,
se vêm infinitos significados e se compreende que o Trabalho é inesgotável em seus significados
e no que pode oferecer. Porque, pensar a partir do Hidrogênio 48, com o qual começamos se é
comparado com o pensamento do Hidrogênio 24, é uma coisa estéril. Vocês todos já sabem que
um hidrogênio mais alto é mais inteligente que um hidrogênio mais baixo.
Vocês não se lembram da expressão, o ditado, de que uma batata cozida é mais
inteligente que uma batata crua, porque na escala 768 é maior que 1536?
Assim, eles compreenderão que o pensamento da inteligência que pertence ao
Hidrogênio 24 é muito mais cheio de conexões e significados internos do que o pensamento da
inteligência do Hidrogênio 48. Por meio do Hidrogênio 24 é possível ver-se caminhando sobre a
terra, saindo de si mesmo, porque se ergue acima de si mesmo.
Ilustração do Eneagrama intitulado de Ouspensky.
(Elucida o Eneagrama do Alimento descrito por M. Nicoll)
Assim:
Se 192 não estiver presente, o 768 não pode alcançar o próximo estágio de evolução e
passar para 384. Nem o 192, atuando em 768, pode alcançar qualquer coisa que seja igual a ele
mesmo. Só pode criar algo que seja entre si e aquilo sobre o qual está trabalhando. De modo
que a ação superior sobre a inferior só pode transformar a inferior e levá-la a um estágio que
está além de onde estava, mas o nível da superior não é suficiente. E a inferior não pode alcançar
o próximo estágio, exceto pela influência de algo que é superior a ambas. Essa ideia é muito
profunda e não apenas explica muitas coisas que acontecem na vida, mas também muitas coisas
especiais, como a química do corpo.
Também explica, mas apenas em um sentido, o que é o Esoterismo. As idéias esotéricas,
o fogo e a luz que estão por trás delas e que um homem sente quando lhes dá o devido valor,
podem ser consideradas a esse respeito, e somente a esse respeito, como uma força ativa.
Trabalhando no Homem, tomando o Homem como Hidrogênio, cujo centro de gravidade
é 48, essas influências que vêm de um ponto mais alto na Oitava do Sol podem transformá-lo
ou "cozinhá-lo" até o nível 24. Mas, na realidade, as idéias esotéricas devem ser tomadas
primeiro com 12 - ou seja, em um nível mais alto do que o produto ou resultado. Porque quando
o Carbono 12 trabalha sobre a vida, é tomado como 48 e só pode dar origem a 24.
Vamos cuidar agora da área direita do Eneagrama, que está marcada com os números
384, 192 e 96, em séries progressivas na periferia. Muitas outras coisas podem ser organizadas
em torno da circunferência, além dos hidrogênios, mas custará menos discutir o movimento
invertido em termos de hidrogênios. Observe que nas linhas internas 384 é conectado com 96
e, em seguida, com 192. Algo vai para frente e depois para trás, em um movimento invertido.
A linha interna entre 384 e 96 aponta para alguma ação, alguma conexão, entre esses dois
pontos como o primeiro movimento. Em seguida, outra linha vai para a posição 192 como a
segunda direção. A ordem dessas conexões internas difere da ordem da série externa na
circunferência, a saber, 384, 192 e 96. Isto é, a circulação interna no Eneagrama assume uma
forma diferente da externa.
Nós acreditamos, é claro, que 384 tem que se tornar 192 e 96 de maneira regular. Mas
internamente, fora das aparências externas, funciona outro sistema, o que é muito estranho se
pararmos para refletir sobre esse particular.
Se examinarmos a circulação interna do Eneagrama, somos confrontados com o mistério
da vida, enquanto, examinando a série externa de números, vemos, talvez, o que corresponde
ao pensamento poderoso, mas errôneo, chamado pensamento a partir das aparências, dos
sentidos. . Note-se que o superior deve existir antes que o inferior possa sofrer uma
transformação.
Não é difícil de entender, uma vez que é percebido emocionalmente e o significado claro
do Raio da Criação é claramente reconhecido, porque nele o superior forma o inferior para que,
se o inferior busque transformar, o superior esteja esperando por tal transformação.
Essa é uma das razões pelas quais é conveniente parar e refletir com frequência sobre o
Raio no próprio pensamento interior. O raio é uma série de transformações, do mais sutil ao
mais grosseiro, do superior ao inferior.
Sobre o que é o Eneagrama? O Eneagrama descreve uma série de transformações do mais
baixo, do mais grosseiro ao mais sutil. Agora, para que o inferior possa ser transformado no
superior, ele deve ser passivo. Isto é, é necessário deixar trabalhar sobre si a influência superior.
De que outra forma o inferior poderia chegar a ser superior? De que outra forma os
alimentos que ingerimos poderiam ser cozidos e recozidos, transformar-se cada vez em
substâncias mais elevadas, a menos que estivessem submetidos aos seis estágios da digestão?
A digestão é transformação.
E para que as influências superiores do Trabalho atuem sobre um homem, em certo
sentido, é necessário que ele se torne passivo para elas e permita que elas ajam. Ele deve
perceber o que ele não pode fazer, mas também que a Mente Superior existe, caso contrário
ele estaria imerso em confusão.
Se ele não admite que haja algo maior do que ele, ou se acredita de alguma forma que ele
faz a si mesmo, ele não deixa nada trabalhe sobre ele e, portanto, não pode evoluir. Mas se é
passivo - isto é, capaz de ouvir e depois aceitar, no início não deve esperar ir além de seu próximo
estágio. Não pode cumprir todo o Trabalho.
Seria um erro acreditar nisso. Não pode alcançar as forças que o estão transformando. Se
refletir, verá que sempre deve haver algo superior ao homem, seja qual for o estágio em que
esteja, para que a evolução seja possível, da mesma forma que deve haver algo superior que é
inatingível.
Muitas perguntas foram feitas sobre a posição dos hidrogênios nas oitavas. Existe, por
exemplo, o Hidrogênio 48 que é criado pela comida que comemos após as sucessivas
transformações que ele sofre dentro do corpo. Este é o Hidrogênio que usamos para o
pensamento comum e que coloca em operação a parte relativamente mecânica do Centro
Intelectual ou Mente. Com esse hidrogênio só podemos pensar em termos de sim ou não e,
assim, vemos que tudo é dividido em opostos irreconciliáveis. Quando pensamos com o
Hidrogênio 24, no entanto, temos uma imagem diferente das coisas, porque através de sua
energia psíquica vemos tudo de um modo mais puro, em uma interconexão muito mais sutil, de
modo que os rígidos opostos desaparecem e tudo parece fundido em uma maravilhosa
harmonia.
Agora, os hidrogênios 48 e 24 estão conectados com as notas Sol e La. O Sol 48 surge da
transformação de Do 768 em Re 384, depois em Mi 192, em Fa 96, em Sol 48, depois em La 24
e finalmente em Si 12. Agora suponhamos que a oitava de impressões seja colocada em
operação por um homem que vive por um curto período de tempo tão conscientemente quanto
possível
Aqui temos Do 48: aqui temos novamente um Hidrogênio de valor 48 mas na nota Do.
Este Hidrogênio por transformação dentro da mente desperta passa para Re 24. Agora há dois
48 e dois 24 - Do 48 e Sun 48 e La 24 e Re 24. Que diferença pode haver neste caso? Vamos
refletir sobre esse particular.
Suponhamos que alguém tenha cem soberanos de ouro e os divida em duas partes. Ele
decide depositar metade dos soberanos de ouro no Banco e usar a outra metade para pagar as
dívidas. Agora, os soberanos de ouro são exatamente os mesmos quando se trata de sua
matéria, mas seu destino e potencialidades são completamente diferentes. O ouro que é
depositado no Banco pode ser acumulado, enquanto o ouro usado para pagar as dívidas
desaparece, e certamente o que se pensa sobre as duas somas é muito diferente.
E creio que você concordará comigo que os sentimentos sobre os 50 soberanos que serão
depositados no Banco são muito mais saudáveis do que aqueles com os quais você pagará sua
dívida. E da mesma forma as emoções que são sentidas através do Re 24 são muito mais
saudáveis do que aquelas que são sentidas através do La 24.
É sabido que todas as coisas capazes de se transformar muitas vezes têm certa qualidade,
frescor e vitalidade, como os brotos, enquanto as coisas que estão quase acabadas, que estão
prestes a completar o curso, são muito diferentes. Re 24 está em uma posição anterior na Oitava
em relação a La 24. Entre Do e Do uma oitava completa é estendida. Na verdade, o novo Do
inicia uma nova Oitava. Desenvolvemos-nos a partir de uma célula que passa para o estado Si.
Nascemos na forma de bebês e começamos um novo Do. A Oitava que abandonamos que havia
começado com a célula fertilizada como Do, é agora completamente estranha para nós. Nós nos
tornamos velhos e depois somos jovens novamente. É por isso que Mi 12 é mais jovem que Si
12 e Re 24 mais jovem que La 24. Em geral, é necessário entender que a mesma matéria pode
estar sob diferentes potencialidades e destinos de acordo com sua relação com as coisas que a
cercam. "No país dos cegos, o homem de um olho é o rei."
Se vocês têm dificuldade em entender os hidrogênios e seus relacionamentos, é suficiente
examinar o mundo exterior e ver como as coisas são de diferentes materialidades, e tem
diferentes destinos, como elas podem ser classificadas pelo seu uso, e como não há nada
independente e tudo está relacionado uns aos outros, como uma coisa depende da outra, e
como sua significância muda de acordo com as circunstâncias, de modo que uma coisa em um
dado momento pode ser muito importante e no momento seguinte é completamente
irrelevante.
Todos vocês sabem que no mundo exterior existem coisas melhores e piores, mais
refinadas e mais grosseiras, mais raras e mais comuns. Sabem a diferença entre coisas de
qualidade superior e aquelas de qualidade inferior.
Todos vocês sabem o que significa refinamento, o que significa a separação. São capazes
de distinguir entre a grande literatura e a literatura comum. Por que, então, é tão difícil entender
quais são os Hidrogênios que trabalham sobre o aparato psíquico do homem, sobre sua mente
e células, sobre seus centros, seja de uma maneira pior, ou de uma maneira melhor?
Eu acho que a dificuldade é que você não tentou entender os diagramas simples e,
portanto, permanece em um estado de confusão, simplesmente por não ter tentado produzir
em você o simples choque de entender o significado geral dos diagramas. Antes de qualquer
coisa, é necessário usar o Hidrogênio 48 - isto é, tentar concentrar-se nesses diagramas com o
centro formatório para que fiquem gravados na mente. Então, uma vez que os diagramas
estejam estabelecidos, ao pensar sobre seu significado e ouvir alguns dos comentários, eles
terão momentos em que verão seu significado mais profundamente e isso significa que o
Hidrogênio 24 começará a agir em sua compreensão. Às vezes isso acontece de repente, como
um lampejo repentino, e a esse respeito vou citar um exemplo que ouvi no outro dia:
O matemático Hamilton, que por muitos anos procurava maneiras de multiplicar duas
grandezas bidimensionais, enquanto caminhava pelo campo de repente viu a solução, que veio
sobre ele "como se de repente um circuito tivesse fechado em sua mente e produzido um
relâmpago brilhante”. Sua surpresa foi tal que, com um canivete, ele esculpiu a fórmula que
acabara de ver nas pedras de uma ponte próxima.
Isto é ver um problema por meio de um hidrogênio superior no Centro Intelectual. Esta
é uma prova definida entre centenas de outros exemplos de que a mente é capaz de trabalhar
em diferentes níveis.
Se vocês entendem, então compreenderão o que significam os diferentes hidrogênios, e
se vocês nunca experimentaram tal coisa em relação aos seus estados e à qualidade de seus
sentimentos ou à compreensão de sua própria mente, isso é porque vocês nem sequer deram o
Primeiro Choque Consciente em um grau mínimo, que permite ao homem alcançar novas
influências.
Tem sido perguntado muitas vezes porque o hidrogênio superior aparece na parte mais
baixa da fábrica de 3 andares. É necessário que todos entendam que esses diferentes andares
não têm, para o homem comum, o significado de inferior ou superior. O homem tal qual é só
usa o Hidrogênio 48 no andar superior, enquanto o Centro Motor e o Centro Instintivo
trabalham com o Hidrogeio 24
Isso significa simplesmente que o trabalho realizado no primeiro andar é infinitamente
mais inteligente do que o trabalho realizado no terceiro andar. Aquele Hidrogênio 12 está na
nota Si, isso significa que ele só pode fazer uma coisa.
O que é esse hidrogênio 12 nesse ponto da Oitava? É o Hidrogênio relacionado à
possibilidade de algo se unir com seu oposto correspondente e, assim, iniciar uma nova oitava.
Este hidrogênio de vida muito elevada contém a possibilidade de produzir um novo Do - isto é,
de iniciar algo completamente novo - uma nova Oitava. O choque entre Si e Do é
particularmente cuidado pelas influências cósmicas que tendem a manter a constante
multiplicação da vida na Terra. Portanto, é de perguntar-se o que significa o Mi12 e que
descendência é capaz de produzir. Lembre-se de que o Mi 12 não é produzido mecanica, natural
e ordinariamente. Se uma pessoa se dá o Primeiro Choque Consciente, o choque da Lembrança
de s-, o choque de todo o Trabalho, começa a transformar seu contato diário com a vida e não
toma as coisas como fazia antes, sente profundamente que sempre faz outra coisa que está
relacionada a algo que gradualmente se torna mais importante, então pode produzir o
Hidrogênio 12 no ponto Mi da Oitava - é Mi 12. Este Mi 12 criará algo como um filho a quem
terá que cuidar com muito cuidado se quiser permanecer no Trabalho. O que é essa criança
criada por Mi 12? É algo completamente novo para essa pessoa. Precisa prestar atenção a essa
coisa recém-nascida que é o começo de um renascimento.
Essa coisa nova, essa criança, pode facilmente morrer se você adormecer. Quando essa
criança existe em um homem ou uma mulher, você tem que dar-lhe a comida adequada e você
tem que cuidar muito dele. Claro, você não pode ver essa criança externamente, e devemos
lembrar que essa criança nascida em si mesmo, na relação que se tem com o Trabalho, essa
criança que tanto um homem quanto uma mulher podem ter, aparece na nota. Mi. Não está em
Si, onde deve se tornar instantaneamente outra coisa. Essa criança invisível está na nota Mi e,
portanto, em um lugar onde falta um semitom, de um modo muito semelhante à criança nascida
em Si 12. Agora, está claro que a criança nascida em Si 12 deve receber um choque. Mas que
tipo de choque é necessário para a criança nascida em Meus 12 ir além do ponto onde um
semitom está faltando?
Quantas vezes as pessoas dão origem a uma criança que elas matam porque não têm nem
a força nem a profundidade do sentimento e do propósito necessários para levar a criança além
do seu nível normal. Quantas sementes de esperma semeiam o trabalho. Quantas vezes as
pessoas tiveram um filho no Trabalho - quero que compreendam que eu me refiro àquelas
crianças invisíveis nascidas na própria compreensão. - e quantas vezes essas crianças, como suas
contrapartes na vida, sofrem de escorbuto, febre tifóide, etc. o que acontece quando as pessoas
se tornam negativas no trabalho.
. O poder da concepção do homem na esfera espiritual - isto é, em pensamento e
sentimento - é muito fraco, especialmente quando um homem ou uma mulher é deixado por
um tempo sem ajuda, sem ser elogiado ou sem prestar atenção.
Neste trabalho, é necessário manter algo invisível em atividade, apesar de todas as
dificuldades externas. Nos Evangelhos chama-se Fé: no Trabalho é o trabalho sobre si mesmo
em relação ao próprio fim. Lembre-se que foi dito que era necessário lutar pelo Trabalho. Em
todos os momentos, os "eus" negativos, fundados na vida sensual, presentes na cena visível,
atacam-na. Se não se tem, dentro de si a capacidade da concepção interior, do pensamento e
do sentimento interior, o Trabalho cairá ao longo do caminho ou em um pedregal, e quando o
calor do sol for muito forte, a pequena coisa que nasceu em você da Semente espermática do
Trabalho, murchará - isto é, as crianças nascidas de Mi 12 continuarão a morrer. Haverá um
período de entusiasmo e, então, quando alguém se sentir agravado, não tendo nenhum poder
de concepção interior real, seus filhos morrerão.
É uma coisa estranha refletir sobre o que significa manter o Trabalho vivo e jovem em nós
mesmos. Por certo, isso não será possível se apenas a evidência dos sentimentos for examinada
e considerada uma prova. Algo fez aquele escritor desconhecido, a quem se sipõe uma mulher,
dissera em Hebreus (XI, 1): "É, portanto, fé a certeza do que é esperado, a convicção do que não
é visto". Agora que você chegou a entender algo e ver sua verdade em sua própria mente, você
quer ter o apoio, a convicção do que você não vê? Você quer que as pessoas concordem com
você ou você é forte o suficiente para passar pelo teste de coisas externas e visíveis? Se você
não é forte o suficiente para conceber uma criança em sua própria mente e mantê-la viva, para
manter aquela coisa recém-nascida em si, então, a essa coisa só resta morrer de fome.
Toda vez que se põe em relação os pensamentos, que vê novos significados, que aplicam
o Trabalho a si mesmo, que observa o que está dizendo, que vê sua própria mecanicidade, que
se separa das emoções negativas, que não se deixa levar pelos "Eus" fracos, tolos ou perigosos
- em suma, cada vez que ocorre o Primeiro Choque Consciente, o Choque deste Trabalho -
alimenta a criança que é o seu novo ser.