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Comentários Psicológicos

Sobre

Volume II - O Eneagrama
Textos de I a XIV – De 22/01 a 06/05/1944

Dr. Maurice Nicoll


O ENEAGRAMA I

Esta noite daremos início ao estudo do diagrama chamado Eneagrama (ou diagrama de nove).

O diagrama é peculiar a este ensino. Quando G. o compartilhou pela primeira vez, observou que
uma série de coisas neste sistema poderiam ser encontradasa em outros sistemas antigos de
ensinamento esotérico, mas não o Eneagrama. Sobre este particular, disse que, se bem que
várias coisas pertencentes a este sistema poderiam descobrir-se nos fragmentos que nos tem
chegado de outros sistemas, nada neles está devidamente organizado e gerido, e não se pode
ver como uma coisa depende da outra. Todas as partes deste sistema estão relacionadas umas
com as outras na ordem correta para formar um todo orgânico - um organismo vivo. O homem
e o universo são tomados em conjunto. O ensinamento sobre o homem está relacionado ao do
Universo, de quem é filho, e mostra que, o que existe nele, também existe no Universo. O
significado do homem em evolução e o significado do universo em evolução, as leis dos homens
e as leis do universo, são estudados em conjunto, pois são inseparáveis.

Falar sobre o Eneagrama, G dizia que postulava todo o ensinamento do Trabalho, e quanto
melhor se entendia o Eneagrama, mais se compreendia o Trabalho. Em uma oportunidade ao
perguntar-lhe do que tratava G. disse que representava a união da Lei de Três, ou da Lei da
Trindade e a Lei de Sete ou Lei da Oitava. Recordemos que a lei de três estabelece que em toda
manifestação devem intervir três forças, ativa, passiva e neutralizante, e que essas são as forças
criadoras que criam as diferentes ordens de mundos em escala descendente, aumentando o
número de leis à medida em que são duplicadas. Devemos também lembrar que existe uma
segunda lei, a lei de sete, que se refere à ordem de manifestação. Se há uma força criadora, deve
haver também ordem na criação, ou tudo será um caos. No Eneagrama está representada a
interação dessas duas leis, de modo que uma não prejudique ou anule a outra, e que assim todas
as possibilidades se realizem, mas na fase em que estamos só podemos fazer uma leitura simples
do Eneagrama.

Está construído da seguinte maneira: o círculo é dividido em nove partes iguais. O número 1 é
então dividido em 7, o que dá o resultado 0,142857 e 142857 como um período recorrente. São
traçadas linhas que conectam esses números, ou seja, de 1 para 4, etc.

Observarão várias coisas. Primeiro, o diagrama é simétrico. Em segundo lugar, três números não
aparecem: 3, 6 e 9, todos os múltiplos de 3. Terceiro, você vai notar que as linhas se cruzam. Um
dos pontos onde se cruzam é exatamente na linha média, os outros dois estão ao lado e
equidistantes dela.

Assinalamos, então, por meio de setas as direções representadas pelas linhas. O ponto de
partida do Eneagrama é a figura 1, porque o Eneagrama é um diagrama em movimento e
representa de duas maneiras os movimentos das coisas. Descreverei apenas dois. Com base em
1, há um movimento para 4 ao longo da linha 1 - 4. Depois de 4 a 2, cruzando a área onde seria
3, mas falta. Após 2 ocorre um movimento em uma linha reta através de 8, até 5 e, em seguida,
através da área onde seria 6 até 7.

Então há o movimento para trás em uma linha reta em toda a figura até 1, mas ao fazê-lo cruza
a linha 2-8. Este é um movimento. O segundo movimento é externo à circunferência de 2 para
4 para 5 para 7 para 8.
Ao lado do número 1 coloquemos a nota Ré, junto ao 2 a nota Mi e ao lado de 4 a nota Fá. No
momento isto é o suficiente para ver os dois movimentos que descrevemos. Verão que dentro
do Eneagrama há um movimento de 1 para 4 e, em seguida, para 2 - ou seja, 1, 4, 2. E há outro
possível movimento através da circunferência, de 1 para 2 e 4 – isto é, 1, 2, 4. Colocamos o resto
das notas da oitava em torno da circunferência, terminando com Dó no ponto mais alto. O
diagrama, agora, é semelhante a este

Deve ser salientado o possível movimento na circunferência do ponto Ré para o ponto Mi, a Fa,
a Sol, etc. por setas, curvas que indicam um movimento semelhante ao dos ponteiros de um
relógio. Os outros movimentos que acontecem dentro do Eneagrama já foram identificados por
seis flechas, uma em cada uma das seis linhas que unem as figuras na circunferência na ordem
142857 - o número obtido dividindo 1 por 7.

Vamos agora refletir sobre este extraordinário diagrama, porque a menos que captemos o seu
mistério, o tomaremos como todas as outras coisas. Este diagrama deverá ser recebido pelas
partes superiores dos centros. Quando você sentir que algo é extraordinário, isso significa que
ele cai nas divisões superiores dos centros. Todo o trabalho deve ser recebido lá. Vamos
considerar um dos grandes ensinamentos do trabalho. O trabalho não nos ensina que vivemos
em um universo moribundo, mas que vivemos em um universo em evolução. Tudo está
crescendo de acordo com seu próprio tempo e escala.

A Lua, a Terra, o Sol, todos estão crescendo em períodos de tempo gigantescos se os


comparamos com nosso reduzido tempo e escala.
Tudo o que foi criado busca chegar ao seu Criador. Vamos fazer uma comparação
aparentemente trivial, mas que, em minha opinião, é legítima. O universo, que inicia Na
Unidade, se estende como um elástico. Busca retornar à sua fonte, eliminar a tensão. (Aqui eu
poderia falar muitas coisas sobre a tabela de elementos químicos e a tendência deles se
combinarem uns com os outros a fim de atingir o equilíbrio). No entanto, o raio da criação
representa o Absoluto como 1 e todos os níveis da criação que derivam dele como números -
ou seja, 3, 6, 12 e assim por diante. Na escola esotérica de Pitágoras é dito que todas as coisas
são números. Vocês pensaram alguma vez sobre as relações entre os números? Você pode
multiplica-los ou dividi-los. O que faz a divisão? Suponha que o número 3 deseja retornar ao 1.
Imaginemos que luta para passar ao 1 - ou seja, à Unidade Absoluta. Matematicamente, isto é
representado por 1 dividido por 3. Agora, se 3 busca chegar ao 1 de modo que seja absorvida -
e toda a criação busca retornar à sua fonte e ser absorvida por ela - o que acontece então?

Dividamos 1 por 3. 3 em 1 está contido 3 vezes, (isto é, em 10) e nos deixa como resíduo 1.

Novamente está contido 3 vezes e deixa 1 como resíduo. Então 3 em 1 = 0,3 em uma eterna
recorrência. E todo o raio como 7 notas, em sua tentativa de encontrar uma solução e paz,
torna-se a unidade absoluta como 7 em 1 (ou seja, 7 em 10 está contido 1 e deixa 3 como
resíduo, em 30 está contido 4 e deixa 2 como resíduo, em 20 está contido 2 e deixa 6 como
resíduo, em 60 está contido 8, etc. etc...). Assim vejam que 3 e 7 não podem voltar para 1,
enquanto que o 1 está em todos os números. 1 está em 3, mas 3 não pode voltar para 1, e assim
sucessivamente. O universo é construído com números como Pitágoras ensinou - mas é
necessário acrescentar outra coisa. Toda a criação, todo o universo criado, qualquer que seja o
seu nível ou número, procura retornar à sua fonte, isto é, procura entrar em 1 ou "Unidade". A
trindade- ou 3 - buscando fazê-lo é eterna, porque sempre se reproduz a si mesma e, assim,
recorda-se a si mesma . O número 7 também é eterno, mas no tempo, e deste modo não é no
mesmo sentido. Ele se perde a si mesmo e encontra seu ser em uma repetição do que não é ele
mesmo - ou seja, na constante repetição de 142857. Já que este diagrama refere-se ao homem
e suas possibilidades, inicia com 7 e as propriedades deste número em relação à unidade.
Estudando as propriedades de 7 em relação à unidade encontramos o número 142857. Isto por
si só não tem significado algun. Mas dado no gráfico do Eneagrama, achamos que isso dá origem
a um relacionamento extraordinário, devido ao diagrama simétrico. O número 1 4 2 8 5 7 por si
só não tem nada de simétrico. A única coisa que pode ser dita sobre esse número é que se repete
infinitamente em termos do sistema decimal e que não contém nem 3 nem qualquer múltiplo
de 3. Isso é notável. Este número também tem outras propriedades. Mas o que é preciso
entender é que o universo criado busca pela evolução retornar à sua fonte e que todas as coisas
almejam esta satisfação ou realização. Tudo está em um estado de privação, é incompleto, como
uma criação desarticulada, e todos estão procurando completar-se - o átomo, o homem, o
planeta, o sol, a galáxia. No que diz respeito à unidade absoluta, não só é dividida em duas ou
quatro, mas está sob as forças do divisor de 48. Mas esta reflexão é direcionada para aqueles
que já meditaram sobre o Raio. Na próxima vez falaremos sobre o Espírito Santo dentro do
Eneagrama, pelo qual é fato vivente. Até agora só nos referimos brevemente à série Ré, Mi, etc.
- isto é, à Lei de 7 - e à relação interior das notas.

Birdlip, 22 de janeiro, 1944.


O ENEAGRAMA II
Os pontos que estão em relação pelo traçado das linhas internas, entre os números obtidos da
divisão de 1 por 7 - a saber, os números 1 4 2 8 5 7 formam uma figura simétrica de grande
beleza. Mas nesta figura não estão incluídas três posições. Unamos estes três pontos. Aparece
um triângulo, sobressaindo à figura prévia e em relação simétrica com ela, nos ângulos onde
deveriam aparecer os números 3, 6 e 9. Agreguemos esses números.

Observem que esta segunda figura, o triângulo, que liga agora os pontos 3, 6 e 9, não se obtém
da relação de 7 a 1 que só dá a primeira figura e deixa fora a 3, 6 e 9. Aqui há algo estranho.

Dois sistemas diferentes (ou figuras) são obtidos do que ao que parece é independente um de
outro e, no entanto parece estar em alguma relação simétrica ao diagrama em seu conjunto.

Examinemos o vértice do triângulo onde está o número 3. Está entre os pontos assinalados pelos
números 2 e 4 que pertencem à figura de sete (chamarei à figura simétrica localizada entre os
pontos 1 4 2 8 5 7 `a figura de sete e ao triângulo obtido unindo os pontos não tocados pela
figura de sete, chamá-la-ei figura de três). Esses dois pontos 2 e 4 estão assinalados também
pelas notas da oitava Mi e Fa. A Lei de Sete é chamada às vezes a Lei do Choque. Se as coisas
procedessem de um modo regular e se desenvolvessem harmoniosamente sem interrupção
alguma viveríamos em outro mundo.

Uma das origens do mal ou das coisas que não andam como deveriam é devido à Lei do Choque
– ou melhor, a seu não cumprimento. Todos devem refletir sobre o ensino deste sistema no que
se refere aos choques. Pelo que sabemos é totalmente desconhecido tanto na ciência como nos
antigos sistemas esotéricos. (Cabe observar que refletir não é sonhar e que muitos tomam
equivocadamente a reflexão por sonho). A cada série de desenvolvimentos, a cada progressão,
é necessário um choque em determinado ponto. Este ponto é representado pelos intervalos de
semitons na escala maior - entre Dó e Si e Fá e Mi. Ocupar-nos-emos agora só do "lugar do
semitom faltante", assinalado por Fa-Mi ou Mi-Fa. Se não se produz um choque a direção do
desenvolvimento ou progresso seja qual for mudará por completo. Inicia com a intenção de fazer
algo e termina fazendo o contrário. Não pode ter uma passagem correta desde o estado Mi ao
Fa sem choque. De outro modo, o que segue a Mi não será Fá.
Tracemos uma "oitava" vertical deixando fora o Dó em cada extremo.

Comparemo-la com o Eneagrama. Verão que o lugar do choque na oitava vertical está assinalado
com um pequeno retângulo. Corresponde ao ângulo da figura de três que está situada entre os
números 2 e 4 – ou as notas Mi e Fá – marcados na circunferência do Eneagrama. Portanto esse
ângulo representa de algum modo um choque que se produz em dito ponto do sistema. Já que
temos traçada a oitava vertical, aproveitarei esta oportunidade para ver o que sucede quando
se lhe aplica a figura de sete. A observação deste curioso diagrama produz o efeito de uma coisa
viva. De ser atravessado por uma espécie de circulação. Mas cabe advertir que se o põe direito a simetria
da figura de certo modo se perde.

No Eneagrama, a oitava está situada no entorno de um círculo. O círculo é a base do diagrama.

É necessário que compreendam que lhes faça encarar o Eneagrama desde diferentes angulos. É bastante
inútil toma-lo como se fosse um diagrama. É uma coisa vivente e toda a vida depende dele.

Todas as coisas viventes organizadas levam nelas a Lei de 3 e a Lei de 7. No caso de animais há só uma
parte do Eneagrama e só um choque. Mas falarei sobre este particular logo quando discutirmos os outros
dois choques que só podem ser atingidos pelo Homem neste planeta. Agora lhes brindarei com outro
pensamento pleno de sugestões se lhe prestam a devida reflexão. Tomemos uma coisa qualquer no
tempo que se produz em série e a disponhamos em torno da circunferência. Por exemplo, os dias da
semana produzem-se em sucessão, em série no tempo. Coloquemos a segunda-feira enfrente do número
1 no lugar chamado Ré, a terça-feira junto do número 2 ou lugar chamado Mi, a quarta-feira junto do
número 4 e assim sucessivamente. Isto não resulta que o Domingo fique no lugar indicado pelo nº 9. Agora
observamos a correspondência assinalada pela figura de sete com os dias mencionados.

Algo passa da segunda-feira à quarta-feira e regressa à terça-feira. Tentemos livrar-nos da ideia de tempo
concebendo o mundo em dimensões superiores, isto é, concebendo que o tempo não existe e que tudo
quanto está em sucessão no tempo está vivo e por assim dizer, está sempre presente, mesmo que sobre
o Eneagrama, e convertê-lo em algo vivo dirigido à mente e à imaginação. Aparentemente a segunda-
feira relaciona-se de algum modo com a quarta-feira, com o que chamamos o futuro, mas que, na quarta
dimensão já está ali. Logo, a quarta-feira está ligada com a terça-feira, e terça-feira está ligada com
sábado, que é ao que parece extraordinário. Esta parece uma maneira de pensar inusitada, nos parece
passar de uma coisa à outra. É preciso prestar atenção ao lugar onde se produz o choque na série de dias
marcados na circunferência e também a circulação interna que corre entre os dias. Propus-me obrigá-los
a refletir, que não há relação alguma com nossa maneira temporária de pensar na causa e no efeito,
segundo a qual achamos que o único que pode influir no presente é o passado. Como estarão todos de
acordo, achamos que a causa de uma coisa é anterior ao efeito no tempo. Nós não imaginamos que o
futuro possa influir no presente. Se pensássemos que certas coisas que teriam lugar no sábado estavam
relacionadas de algum modo com o que tinha sucedido na terça-feira, e que como resultado disso o que
me acontece na quinta-feira se deve ao sábado, o qual ainda não atingiu na série de dias, por certo me
surpreenderia muito. Pensaria naturalmente – de acordo com meus sentidos - que um dia segue ao outro,
exatamente deste modo, e que as influências de ontem só podem atuar hoje ou manhã. No entanto, por
meio de uma reflexão mais profunda chegarei a compreender que não é necessário que isto suceda assim
e deixarei de me surpreender. Até posso chegar a pensar que algo que estou fazendo hoje pode afetar
meus anos passados. Na próxima vez prosseguiremos expondo estes pensamentos e reflexões a respeito
deste particular diagrama.

Birdlip, 29 de janeiro, 1944.


O ENEAGRAMA III — CHOQUE
Falamos na última vez sobre a Lei de Sete e dissemos que às vezes ela é chamada de Lei de
Choque.

Para que algo cresça, se desenvolva de uma etapa a outra, etapa por etapa, numa ordem
correta, é necessário um choque. O lugar deste choque está assinalado no ponto Mi-Fa, ou lugar
do semitom faltante. Que exemplo encontraremos de tal evolução ou desenvolvimento, etapa
por etapa, numa ordem correta? Podemos encontrar na evolução da célula microscópica no ser
humano. Esta é uma ilustração da evolução por etapas de transformações sucessivas de uma
coisa que se converte em outra coisa - ou de uma coisa pertencente a um mundo, o mundo das
células, que passa a outro mundo, o mundo do Homem (pelo duplo processo de diferenciação
e integração).

É preciso dar-se conta que a hora de nosso nascimento está distante, não meramente no tempo,
mas, em escala vertical, na ordem das coisas, na união de duas minúsculas células, em um
mundo inferior ao mundo em que vivemos- um mundo que comumente é invisível para nós.

Mas a Lei de 7 aplica-se a todos os mundos, às galáxias estelares, ao Homem e às células tal
como o faz a Lei de 3, porque estas duas leis são as leis criativas e formativas que estão além do
Universo e tudo quanto contém, em cada nível. São leis últimas no sentido de que não são mais
reduzíveis a algo mais simples. A Lei de Sete exige a existência de um choque. Portanto podemos
estar seguros de que, sendo que a Lei de Sete se aplica em todo o lugar a todas as coisas, em
cada lugar da criação, quer seja no mundo dos átomos, no das células ou da humanidade; quer
seja nos sistemas solares ou nos cúmulos estelares, existe a necessidade de um choque, e que
se este choque não é dado, ocorre a degeneração e a morte. No caso da célula que se eleva por
sucessivas etapas de autoevolução até o mundo dos seres humanos e chega a converter-se
numa pessoa visível, há uma etapa em que uma completa alteração de sua disposição interior
lhe é exigida se tem de sobreviver. Mas é preciso que o estudem por si mesmos se lhes apraz o
fazer. A este respeito é preciso recordar que 9 meses de nosso tempo é 30.000 vezes 9 meses
para a célula. (Calculem por si mesmos o que significa este período).
Estudem o diagrama.

As etapas intermediárias de transformação estão entre Ré e Si. Digamos que na etapa Sol, existe
algo intermediário, algo inacabado e inútil. Cada Dó (o inferior e o superior) é completo num
sentido. Representam pontos "mais inteligentes" que as notas intermediárias, ou cabe
considerá-los como pontos de descanso. Mas vê-se que existem dois lugares perigosos nesta
aplicação da oitava à evolução de uma célula no homem. A natureza do Dó superior é fácil de
ver. Para compreender o Dó inferior é preciso um conhecimento especial ainda que de certo
modo comum. Quando se compreende que os choques são necessários em toda a extensão do
Universo devido a Lei de Sete ser onipresente no mais minúsculo e no mais gigantesco, percebe-
se que tudo deve se esforçar por atingir um correto crescimento ou desenvolvimento ou deve
receber um choque no momento apropriado. Diremos umas poucas palavras sobre o choque
mecânico. O homem recebe um choque mecânico que se repete a curtos intervalos.

Este choque é ar. Aceitamos o fato de respirar, do mesmo modo que aceitamos qualquer outra
coisa, sem pensar nisso. O ar entra nos pulmões e põe-se em contato com o sangue. Aqui existe
uma notável árvore com uns cem números de galhos e ramos. A árvore-sangue se entrelaça com
a árvore-ar nas ramificações mais finas, mas sem penetração alguma, e então acontece um
intercâmbio, algo que está no ar passa ao sangue e vice-versa. Este é o choque dado à primeira
oitava no Homem, isto é, à Oitava da Transformação de Alimento. A não ser que este choque
seja dado mecanicamente no bebé, o organismo físico é incapaz de trabalhar.
Não pode trabalhar porque o choque que precisa não foi recebido. Falando a partir deste
ângulo, é óbvio que somos simples máquinas. Tudo é feito para nós e uma vez que o processo
se iniciou corretamente andamos durante certo tempo. Os animais, os peixes e as aves
requerem o choque de ar. Isto é, vemos como funciona neles a Lei de Sete.

Construamos novamente o Eneagrama e escrevamos Sistema Digestivo, Sistema Aéreo e


Sistema sanguíneo junto a Re, Mi e Fa respectivamente. Os Pulmões por si mesmos não podem
produzir um choque. Este só pode ser produzido pela entrada do Ar.

O Ar também não pode produzir um choque a não ser que tenha algo para recebê-lo. O Ar
penetra nos Pulmões e então sua parte mais valiosa (oxigénio) é escolhida e levada à Corrente
Sanguínea, sendo recusado o resto (nitrogênio e bióxido de carbono). Todas as coisas criadas
trabalham por meio de choques. Se não tivesse esses choques morreriam. Recebemos um
choque mecânico que permite ao corpo viver - o choque de Ar. Por que respiramos? Podemos
viver sem respirar? A respiração é algo mecânico em nós, algo que foi arranjado para nós, algo
que nos foi feito sob medida. Mas no Homem há muitas coisas que não estão feitas sob medida,
que não lhe foram dadas.

O Homem foi criado como um organismo capaz de desenvolvimento próprio, e se refletirem


sobre o que isto significa dar-se-ão conta de que o Homem não está feito de acordo com um
molde.
Até certo ponto estamos feitos sobre medida, mas para além desse ponto não estamos feito sob
medida. Ao mesmo tempo somos capazes de evoluir, de desenvolver-nos, de crescer para além
do nível do feito sobre medida ou mecânico. Mas já que tudo está governado pela Lei de Sete
ou Lei de Choque é menester que compreendam que todo desenvolvimento ulterior depende
do choque. - isto é, que será impossível se desenvolver para além de um nível mecânico dado
sem que se produza um choque. O corpo trabalha o tempo todo como uma máquina que
transforma o alimento físico em substâncias cada vez mais elevadas. - substâncias que tornam
possível o sentimento, o pensamento, etc. E isto se produz por meio do choque mecânico do Ar-
que entra na oitava da Transformação de Alimento em certo ponto entre Mi e Fa.

Mas o resto da pessoa humana, isto é tudo quanto possa ir para além do nível mecânico, não
está trabalhando. Vive a vida de um modo qualquer sem ter a menor ideia de que é preciso se
produzir um choque, e por certo pode viver a própria vida deste modo devido ao choque
mecânico de ar.

Mas o Homem foi criado para algo mais. O Trabalho ensina-nos que somos capazes de nos dar
dois choques conscientes além do choque mecânico de ar e a não ser que se produzam estes
choques o homem segue dormindo e na verdade começa a morrer psicologicamente.

A verdadeira vida do Homem está na esfera psicológica no desenvolvimento do entendimento,


do sentimento, do pensamento, da percepção interior. Se vocês pensam que são simplesmente
seus corpos, então cometem um grande erro. Por mais que prestem atenção ao corpo não terão
a possibilidade de se dar os outros dois choques conscientes que pertencem ao lado psicológico
do Homem. O Homem é mais que seu corpo, ou melhor, foi predestinado a ser mais que seu
corpo. Ocupemos-nos do primeiro dos choques adicionais. Este choque pertence à entrada das
impressões, à sua recepção e digestão. É chamado o Primeiro Choque Consciente.

Num homem completamente desenvolvido e consciente têm lugar três choques - o choque
mecânico do ar, que é dado, e os dois choques adicionais que não são dados, mas que devem
ser criados.

Toda a psicologia esotérica trata em última instância, da natureza destes dois choques adicionais
e dos meios que permitem produzi-los, e refere-se às oitavas que existem potencialmente no
Homem e que podem ser desenvolvidas por meio de um trabalho consciente. Para mudar, para
chegar a ser diferente, para transformar-se a si mesmo, é preciso compreender estes dois
choques e criá-los continuamente na vida cotidiana. Mas antes de qualquer coisa deve ser
produzido o Primeiro Choque Consciente, e neste Trabalho uma pessoa deve saber o que
significa dar o Primeiro Choque Consciente na sua vida cotidiana. A não ser que conheçamos
genuinamente algo sobre o Primeiro Choque Consciente, que é chamado a Transformação de
Impressões será impossível para nós compreendermos o Segundo Choque Consciente. As
impressões que entram na máquina humana são um alimento que constitui o começo de uma
oitava.

No Eneagrama o ângulo esquerdo da figura de três ou triângulo refere-se ao Primeiro Choque


Consciente; o ângulo da direita refere-se ao choque mecânico do Ar. Pois bem, desde o exterior
o Ar penetra pelo lado direito do Eneagrama como Dó que tem o valor numérico do Hidrogênio
192. Sofre certas transformações até o ponto Mi. Indicaremos estas etapas no diagrama. O
desenvolvimento da transformação do Ar procede até o ponto Mi onde está o ângulo esquerdo
da figura de 3 ou triângulo. Então se detém porque nesse ponto é necessário um choque para
que possa prosseguir. Mas comumente este choque não se produz. Algo deve entrar aqui tal
como o fez o Ar no exemplo anterior para produzir o choque. O que entra nesse ponto são as
Impressões. Mas as Impressões não produzem o choque da mesma maneira como o fez o Ar a
não ser que sejam recebidas conscientemente. Portanto a natureza destes dois choques é
diferente. No número 3 o choque é passivo ou mecânico, mas no número 6 o choque deve ser
ativo ou consciente. Este último assinala o lugar da evolução consciente. Este é o lugar onde
temos que tomar a vida, que são Impressões entrantes, de um modo novo, onde temos que
transformar todos os incidentes diários, todas nossas relações com os outros.

Este é o lugar onde temos que trascender nossos sentidos, e digerir tudo quanto nos sucede,
onde devemos formar o poder psicológico que escolhe e por outra parte elimina, da mesma
forma que os Pulmões escolhem no Ar o que é mais útil e eliminam o inútil. Mais adiante nos
estenderemos sobre este tema, mas verão que o Eneagrama com todas suas possibilidades não
age no homem a não ser que se cumpram todas as condições que lhe são inerentes.

Quando chegarem a se dar conta de que a Lei de Sete ou Lei de Choque se aplica à vida
psicológica, já terão visto por que é necessário fazer esforços contínuos na esfera psicológica.

Se não se dão os choques necessários à oitava psicológica produzir-se-á necessariamente a


morte ou a degeneração da mente e do sentimento, do mesmo modo que, se não se produz o
choque mecânico do Ar sobrevem a morte do corpo.

Os esforços psicológicos, o choque psicológico, são de muitas classes diferentes. Receber as


Impressões de uma maneira nova, não tomar sempre as coisas do mesmo modo, receber as
novas Impressões mediante uma atenção dirigida, são alguns dos aspectos que pertencem ao
Primeiro Choque Consciente, que é possível resumir como o trabalho sobre o Ser e o trabalho
sobre o Conhecimento.

Quando o Trabalho começa a agir sobre si e deixa de ser uma mera ideia teórica, quando começa
a ver como se aplica a si mesmo, quando vê por si mesmo alguns dos muitos significados
implicados no Primeiro Choque Consciente, que no geral é chamado Lembrança de Si, ou se é
consciente do lugar de entrada das Impressões provenientes do mundo externo, então se
compreende que numerosos e variados são os aspectos pertencentes a este choque.

Ao mesmo tempo se compreende o que significa viver mais conscientemente. E quando se


começa a entender tudo o que isto significa, se contempla a vida que levava antes, quando
reagia a tudo mecanicamente, com um sentimento parecido a horror. Sente então que no
passado poderia ter preferido viver mais conscientemente. Tem- um vislumbre de como viveu e
de como poderia ter vivido.

O que mais surpreende é a beleza com que tudo está formulado no diagrama, a singeleza com
que tudo está exposto quando se lhe confere um significado, com o próprio pensamento e
compreensão, quando deixa de ser uma coisa só para se contemplar.

No diagrama tudo é vivente, tudo está pleno de significação, e as palavras, letras, números e
linhas são em realidade fontes de significação uma vez que o entendimento as apreende.
Assemelha-se a um mapa que tivesse países viventes, não meras representações.

Birdlip, 5 de fevereiro, 1944


O Eneagrama IV
Já temos dito que é necessário um choque para o progressivo desenvolvimento e continuidade
de uma coisa, e temos visto como a Lei de Sete pode ser chamada, a partir de certo ponto de
vista, a Lei de Choque. No desenvolvimento de uma coisa, seja o crescimento de uma criatura
viva ou de uma idéia, seja aprendendo um assunto difícil, a realização de uma empresa ou a
transformação de uma coisa em outra, as etapas sucessivas podem ser representadas pelas
notas de uma oitava posição ascendente: Do, Re, Mi, Fa, Sol, etc. Agora, entre a fase Mi e a fase
Fa, é necessário um choque para que o objeto possa prosseguir na sua ordem correta de
desenvolvimento. Caso contrário, ele se desvia do corpo que seguia e transforma-se em outra
coisa. A fase Fá não será alcançada.

Para nós, é um fato familiar que a civilização não ultrapassa certo ponto, o que também
geralmente nos acontece pessoalmente. Isso ocorre porque um choque é necessário, e esse não
foi dado, recebido ou criado. Vamos estudar os choques no homem. No caso do Homem, o
primeiro choque necessário para sua vida não precisa ser criado por ele. É dado no ponto 3 do
Eneagrama e recebido como o ar que respiramos. Se um homem se recusasse a respirar - o que
não é possível - morreria. Ou se respirasse algo que não ar, como monóxido de carbono, o
choque seria dado mas não recebido e desse modo pereceria.
É preciso refletir sobre estes dois aspectos do choque e também sobre o fato de que a respiração
do ar deve ocorrer e com intervalos não muito longos. Dar e receber este choque é essencial
para a vida. Se não é dado, o organismo físico deixa de trabalhar. É preciso lembrar aqui que
tudo respira, inclusive a Terra. É muito interessante dar-se conta disso e de que este choque é
necessário em todas as coisas. Mas já que a Lei de Sete ou a Lei do Choque está presente em
todas as coisas (junto com a Lei de Três), este fato não deve surpreender-nos.

No caso do homem, são possíveis dois outros choques, mas não essenciais. Eles não são dados
nem recebidos, mas devem ser criados.
A posição dos três choques pode ser vista nos ângulos do triângulo nos pontos 3, 6 e 9. Um
homem que só trabalha o primeiro choque, em 3, é um homem de uma classe particular. Um
homem em quem trabalham o primeiro e segundo choque é um homem de outra classe
diferente. Um homem em quem trabalham os três choques é totalmente diferente do primeiro
e do segundo homem.

A criação destas três classes de homens é descrita em ordem progressiva nos dois primeiros
capítulos do Gênesis em relação aos dias da criação, que dividem o Homem em 7 categorias
diferentes e não o consideram um e o mesmo homem ou um homem sempre igual. A primeira
ampla distinção é feita entre o Homem Mecânico e o Homem Consciente. O primeiro homem
descrito em Gênesis é o homem mecânico ou morto - no versículo 2. No Trabalho, diz-se que a
humanidade mecânica está dormindo e às vezes que está morta. Da mesma forma, no Novo
Testamento, Cristo diz "que os mortos enterrem os seus mortos". No homem mecânico, não há
choque, exceto o choque da respiração. No entanto, o termo respirar ou respiração também é
aplicado ao segundo choque, como veremos mais adiante. O que precisa ser enfatizado aqui é
que, tanto em Gênesis, quanto no Trabalho e no Novo Testamento, aparece a idéia do homem
morto, o Homem que está morto enquanto vive.
Para despertar do estado de morte, um homem ou uma mulher devem dar-se a si mesmos o
segundo choque, no ponto 6. Descreve-se a referida pessoa no Génesis como a que segue ao
homem "morto".
Consideremos primeiro ao homem "morto". É impossível descrevê-lo brevemente. É o homem
dos sentidos, sem vida interior, o homem que atribui seus poderes a si mesmo, o homem da
autoestima, para quem toda a verdade descansa no mundo exterior, o homem que não
começou a pensar ou sentir além de si mesmo. Este homem é chamado em Gênesis de
"desordenado e vazio". Este é o homem das trevas, em quem não há luz. Supõe-se que nenhum
de nós está nessa condição. O Antigo e o Novo Testamento referem-se a esse estado tenebroso
no homem. É dito em Isaías: "O povo que andava na escuridão viu grande luz" (IX 2) e em São
João: "A luz nas trevas resplandeceu, e as trevas não prevaleceram contra ela" (I 5) o que
significa que o ensino esotérico representado pelo Cristo apareceu como luz para aqueles que
estavam na escuridão da mente ou da compreensão. Para dar um exemplo, este homem morto
ou homem de mente escura é o homem Hasnamus mencionado no Trabalho - a saber, o homem
cujo bem-estar depende da miséria de milhares e milhões de outros homens. Napoleão é um
bom exemplo. Esse homem não pode pensar em termos que estão além de si e do que ele quer.
Nele não há "amor ao próximo”- isto é, não há um desenvolvimento emocional além do egoísmo
e do interesse próprio, ou, em termos do Trabalho, falta o poder de uma consideração sincera
dos outros, e tampouco ele tem a habilidade de se colocar genuinamente no lugar de outra
pessoa e pensar e sentir-se tal qual esta pessoa pensa e sente, a menos que pertença ao seu
próprio círculo pessoal. Este é o estado geral do homem. No Trabalho é necessário superar esse
estado e é difícil para todas as pessoas fazê-lo, sem exceção alguma. No entanto, será necessário
dar esse passo para que possa ir além do que está atualmente.

O que é exigido antes de tudo é proporcionar um choque ao estado atual da mente e dos
sentimentos. É necessário pensar e sentir de uma maneira nova. Mas a menos que algo seja
encontrado que o provoque, continuará a ser um passo não tomado e continuará a receber a
mesma nota durante a vida toda, como a maioria das pessoas o faz.

Consideremos agora o homem que se dá o segundo choque, no ponto 6. Está descrito em


Gênesis. Já não é um homem morto, desordenado e vazio. Examinemos um instante o
Eneagrama no ponto 6. Este é o ponto onde o ensinamento esotérico pode penetrar no homem
e iniciar uma nova oitava nele. Agora examinemos o ponto 6 onde existe a possibilidade da
entrada de algo novo. Dissemos que existe a possibilidade. Agora examinemos o ponto 6. Não é
necessário para viver na vida comum. Mas é um ponto em que algo é possível. Aqui o Trabalho
entra no plano do Homem, contemplado à luz de um organismo capaz de autodesenvolvimento
por criação. No Génesis, a ideia de que o Homem é um organismo capaz de desenvolvimento
próprio está contida na primeira linha: "No princípio criou Deus os céus e a terra”. Isto é, dois
níveis, um superior e outro inferior. Depois se refere ao Homem morto ao dizer: "E a terra estava
desordenada e vazia, e as trevas estavam sobre a face do abismo". O homem está morto em si
mesmo - no entanto foi criado por Deus tendo os céus e a terra nele. Isto é, ainda que morrido,
tem a possibilidade de desenvolvimento, primeiro em relação à "terra" e depois aos "céus". O
lado exterior de um homem é a terra, e o lado interior é o céu. Para que um homem "morto"
mude, sua terra deve ser desenvolvida e plantada, mas primeiro é necessário que se lhe dê luz.
Assim prossegue e diz: "E disse Deus: Haja a luz". Este é o primeiro estágio dos mortos que estão
começando a estar vivos. O homem que acorda o homem que se levanta entre os mortos, o
homem que procura alcançar seu próprio céu através da luz que é diferente da escuridão - e é
necessário compreender aqui, pela escuridão, a vida dos sentidos e a inteligência que se baseia
neles, aquele homem que acorda pode se tornar uma imagem de Deus. No sexto dia "Deus criou
o homem à sua imagem, à imagem de Deus, ele o criou".
Tudo o que precede refere-se ao Homem que se levanta dentre os "mortos" e aos estágios
que levam à sua transformação na "imagem de Deus". Repetimos. Diz-se do homem no seu nível
mais baixo e mais escuro: "E a terra estava desordenada e vazia, e a escuridão estava sobre a
face do abismo, e o espírito de Deus se movia sobre a face das águas. "Este é o início do
despertar, depois, dia após dia - isto é, estágio após estágio, na linguagem antiga das parábolas-
a "terra" do homem é plantada e, finalmente, o homem é criado à "imagem de Deus" no sexto
dia. "E Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus, o criou". Agora, no sétimo dia,
aparentemente criou outro homem (ver Capítulo II). Naquele homem, diz-se que "Deus respirou
nas narinas o sopro da vida, e o homem foi um ser vivo". Temos aqui um homem em contato
com Deus. Não é já meramente uma imitação ou imagem de Deus, mas, na realidade, um ser
vivente em contato com o alento ou espírito de Deus.
Compreendamos simplesmente que nesses dois capítulos iniciais do Génesis se fala de 3
classes de homens - o Homem morto, o Homem à imagem de Deus e o Homem que na verdade
chegou a ser um homem vivente. A modo de comentário relacionarei esses 3 homens com os 3
choques expostos no triângulo do Eneagrama. Já tenho falado do Homem morto - isto é, o
Homem em quem só ocorre o primeiro choque. (Repito novamente que estou comentando o
Eneagrama). É evidente que pode haver um segundo Homem, um homem em quem funciona
tanto o primeiro quanto o segundo choque. Consideraremos a esse Homem como o Homem
feito à imagem de Deus. E então vamos levar o Homem em quem os 3 choques funcionam como
o Homem criado no sétimo dia, que é um "ser vivo" - isto é, não uma imagem de Deus, mas
alguém diretamente relacionado de alguma forma ao mais alto nível possível de compreensão
formado aqui como a inspiração do espírito ou do ar de Deus. Este Homem, no Trabalho, é
chamado de Homem Nº 7 - e representa a categoria superior do Homem.
No homem nº 7, tanto o conhecimento quanto o ser alcançam um nível mais elevado e,
portanto, seus atos também refletem esse nível. Isso significa, entre outras coisas, que de tudo
o que ele conhece, não há nada que ele não possa fazer. Esta unidade de conhecimento, ser e
compreensão pertencem apenas ao homem No. 7 e em consequência, diz-se que todos os
homens pertencentes à categoria nº 7 se compreendem uns aos outros e falam uma linguagem
comum. Em contraste, devemos refletir sobre a ordem das coisas pertencentes ao nosso nível,
e no mundo em geral, onde ninguém compreende ao outro e não há linguagem comum mesmo
entre aqueles que falam a mesma língua em um sentido literal. Essa única reflexão, que é
compreensível, nos permite apreender algo do nível do Homem nº 7, contrastando com o nosso
nível. Vemos imediatamente que esse homem deve pertencer, psicologicamente, a outro
mundo. Nosso mundo vive no Círculo de Babel, na confusão de línguas - não apenas em
linguagem literal, mas na confusão de conceitos falsos do nosso nível. Aqui, neste Trabalho,
tentamos aprender uma linguagem comum como um primeiro passo, para que possamos nos
entender melhor e dialogar de maneira mais verdadeira. Concordarão comigo, no entanto, que
ainda não chegamos a dar esse passo, embora haja possibilidade de dá-lo, e é um passo
compreensível. Agora, se estivéssemos todos em contato com a mesma coisa e a sentíssemos
da mesma forma, teríamos uma compreensão comum. O homem no. 7 está em contato com os
centros superiores. Em Gênesis, o homem que foi criado por último e que é um "ser vivo" está
em contato com Deus.
No que nos diz respeito, temos que imitar um estado superior. Temos que ser imagens de
Deus. Isso pode parecer fantástico, mas não é o que eu quis dizer. Refiro-me ao homem que
deseja dar-se o segundo choque a si mesmo. É comparável ao Homem "criado à imagem de
Deus". Ele é uma imagem: ele não está em contato direto. Ele não está morto, nem é um "ser
vivo", mas ele está na metade do caminho. Não vou me estender sobre este particular.
Voltemos ao segundo choque - isto é, ao primeiro dos choques que não são necessários
para a vida. Este choque é desnecessário para a vida, mas é essencial para acordar do sono.
Lembre-se que, no início, o homem foi criado com uma terra e um céu e que, de outra forma,
não poderia haver nenhum ensinamento esotérico, uma vez que este se baseia no homem que
alcança um nível superior de si mesmo, chamado "céu". Se esse estado superior governasse seu
estado inferior, ou a terra, o que pedimos na Oração do Senhor que a vontade dos céus seja
feita na terra, seria cumprida. Agora, primeiro o espírito de Deus se move sobre o abismo e
depois a luz é feita. Para começar a acordar, um homem deve ir ao encontro do esoterismo ,de
sua força, suas ideias e seus pontos de vista. Esta é a luz. Depois o homem deve aprender a
observar a si mesmo de tal forma que ele possa separar-se de si mesmo (no meu caso devo
separar-me de Nicoll) e também separar-se de estados de animo inúteis, de pensamentos e
sentimentos que também são inúteis, de todos os tipos de identificação, de estados de sono e
negatividade, etc. Este é o significado dessas palavras:
“E disse Deus: que haja luz, e houve luz; e Deus viu que a luz era boa, e Deus separou
a luz das trevas, e Deus chamou a luz de Dia, e a escuridão chamou Noite. E foi a tarde
e a manhã, dia um ".
(Gênesis I 3-5)
Este é chamado o dia um - isto é, a primeira etapa do despertar, um dia na criação do
Homem Desperto. Alguns acham que algo está em movimento, alguns veem uma pequena luz.
Na prática, todo o trabalho consiste em produzir em nós o segundo choque. A ação do Trabalho
sobre um homem visto como um todo começa com o segundo choque. Observe-se, perceba o
que está acontecendo em si mesmo, separe-se do estado inútil e veja as imagens que produz,
lembre-se dos seus próprios fins, lute contra a identificação com cada humor e pensamentos,
tudo isso pertence ao segundo choque, cujo objetivo é aumentar a luz da consciência até
chegarmos a ser totalmente conscientes de nós mesmos.
Vamos reformular o que dissemos acima como um comentário no Eneagrama. O homem
nasce capaz de desenvolvimento interior. Isso é o que ensina o Trabalho. Por isso, o homem tem
nele a terra e os céus. Se tivesse somente a terra, seria incapaz de desenvolvimento interior. Ao
ser criado como um organismo capaz de autodesenvolvimento, ele deve aprender que, pela
criação, ele tem a possibilidade de alcançar um estado superior. Por exemplo, Um ovo nasce
com a possibilidade de se tornar um pássaro. Portanto, tem a terra e os céus contidos no seu
início. Uma semente, uma bolota, etc., estão na mesma posição. O homem pode permanecer
terra, caso em que serve à natureza. Mas repetindo as palavras do primeiro versículo de Gênesis:
"No princípio, Deus criou os céus e a terra". Se imaginam que Gênesis é sobre a criação do
mundo, do sistema solar, cometem um grande erro. A literatura esotérica invariavelmente lida
com o próprio homem e suas possibilidades.
A ciência esotérica lida com o próprio homem e com o homem em si mesmo e com o que
ele pode se tornar, e seu significado. Gênesis é um livro esotérico, não um livro científico, e,
como o esoterismo lida com o homem e suas possibilidades, quando diz que "no princípio Deus
criou os céus e a terra" refere-se ao Homem, refere-se ao ovo, a bolota, a semente, que foram
criados com a possibilidade de alcançar um nível de desenvolvimento maior. O nível inferior é
chamado terra, o nível superior é chamado de céu, uma bolota tomada por si só está no nível
da terra, mas quando, por etapas sucessivas, morre para si mesmo e, eventualmente, se torna
um carvalho, ele chega ao céu - ou seja, o desenvolvimento superior de si mesmo. Mas, no início,
a bolota foi criada com a sua terra e seu céu, com seu nível mais baixo e seu nível superior. Agora
entenderão por que a terra de um homem deve estar cheia de pensamentos, ideias, emoções,
afetos, conceitos, antes que ele possa alcançar um nível superior de si mesmo. Todas essas
coisas são representadas por objetos físicos - por exemplo, o homem pode chegar ao estágio de
seu desenvolvimento interior referido no versículo 11, no qual a terra produz grama verde e a
árvore frutífera dá frutos. Isto se refere a diferentes etapas de compreensão e conhecimento.
Finalmente, o homem é criado à imagem de Deus. Do ponto de vista do esoterismo, um
homem não é simplesmente seu corpo físico, sua força, sua violência, seus instintos primitivos.
Um homem é sua compreensão, do ponto de vista esotérico, e desse ponto de vista os homens
são muito raros. Todo o esoterismo tenta superar a violência, aumentar a consciência, primeiro
em si mesmo e depois nos outros. O super homem não é uma réplica gigante do homem comum:
o super homem é uma classe de homem completamente diferente. Um homem mecânico
comum - ou seja, um homem que é mais ou menos igual ao que ainda somos - recebe o primeiro
choque, mas o princípio de "um novo tipo de homem começa a partir do ponto - citando Gênesis
"o Espírito de Deus moveu-se na face das águas”. Como é sabido, a água refere-se à verdade, na
linguagem das parábolas. Quando um homem tem um centro magnético em si mesmo, embora
sua terra esteja "desordenada e vazia" e em uma escuridão espessa, sentirá que deve haver algo
mais do que o mundo externo dos sentidos em que se encontra. E, assim, algo se move em sua
mente, que é o lugar da sua compreensão da verdade. Nessa direção, se ele sente que a
realidade é apenas o mundo dos sentidos e seu caleidoscópio de confusão sempre em mudança,
então o espírito de esoterismo não habitará nele e Deus isto é, o esoterismo - será incapaz de
criar luz. Deixe-nos terminar este comentário dizendo que o conhecimento esotérico é leve. É
leve para aqueles que já se comoveram. E o choque de esoterismo ocorre no ponto 6 do
Eneagrama.

O triângulo, sobre o qual falaremos mais, tem três vértices marcados com os números 3,
6, 9. Nós tocamos somente os pontos 3 e 6. No trabalho, esses pontos são chamados de "Pontos
de Choque". No ponto 3, ocorre o choque mecânico do ar que entra nos pulmões e é recebido
pelo sangue . O ponto 6 é chamado, às vezes, o ponto do primeiro choque consciente, porque
ele é dado a nós mecanicamente. Por esta razão, o ponto 6, às vezes, é chamado de Primeiro
Choque Consciente e o ponto 9 o Segundo Choque Consciente. Esta nomenclatura baseia-se nos
conceitos de mecânico e de consciente. Mas também, é possível se referir aos choques como
primeiro segundo e terceiro. Na próxima vez, falaremos sobre o triângulo à luz do que é o
Espírito Santo, para usar a linguagem esotérica dos Evangelhos, e também como a respiração
entrante e extrovertida no ponto 3 corresponde a algo semelhante no ponto 6.

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Observação: sobre citação de Hasnamus.


Devido à qualidade do seu ser o homem pode estar mais próximo ou mais afastado de um
conhecimento verdadeiro.
A esse respeito, fala-se em quatro categorias de homens.
Primeiro há o que se chama de "Chefe-de-Família" ou "Obyvatel" (em russo). Trata-se de
pessoas com um bom grau de disciplina e de valores necessários para uma vida comum e
fundamentais no Trabalho.
São pessoas práticas e sustentáculo de praticamente toda a vida organizada que existe.
Todo aspirante deve desejar possuir as qualidades do obyvatel.
Há uma segunda categoria chamada de "Vagabundo".
Não se tratando aqui de pessoas pobres ou que não têm emprego, mas de certa atitude em
relação à vida caracterizada principalmente pela falta de disciplina.
A terceira categoria é pior do que a segunda e é chamada de "Lunático".
Trata essa categoria de pessoas com senso de valor equivocado. Podem ser bastante
disciplinadas, mas supervalorizam o supérfluo e desvalorizam o que é útil.
Há ainda uma quarta categoria que não tem valor prático para nós. Essa categoria tem um
nome especial no Sistema. Trata-se do "Hasnamuss", nome derivado de duas palavras turcas e
que está ligada ao crime, à violência e ao terror. Comprazem-se com o sofrimento alheio,
podendo ser pessoas ricas, poderosas, famosas ou não.
Das três categorias, o obyvatel é a única que pode galgar a escada que leva ao caminho do ser,
mas para que isso aconteça tem de se tornar práticos também em relação às escolas.
O que essa nova divisão propõe é a luta contra o "vagabundo" e o "lunático" que habita cada
um de nós, para que nos tornemos aptos para o caminho.

Birdlip, 27 de fevereiro de 1944.


O ENEAGRAMA V
Como temos visto, o Homem Mecânico recebe o primeiro choque no ponto 3. Isto lhe
permite viver uma existência física. Mas não se dá a si mesmo o choque no ponto 6 ou o choque
no ponto 9. (Falamos outra vez do triângulo dentro do Eneagrama.) Quando começa a estudar
a natureza do choque no ponto 6 e tenta se dar a si mesmo este choque, adianta um passo na
direção da consciência e da evolução interior. Uma das razões pelas quais as coisas estão indo
no mundo é que o homem não está devidamente consciente, embora ele pretenda ser. Um dos
objetos desta obra é aumentar a consciência. Primeiro é necessário tornar-se mais consciente
de si mesmo. Paradoxalmente, é necessário tomar consciência do fato de que não se é
consciente. Um estudo direto de nós mesmos nos permite compreender que gastamos grande
parte de nossa própria existência em um estado de sono. No entanto, nesse estado, o choque
no ponto 3 é dado e recebido regularmente. Se a nossa respiração dependesse de nossa atenção
consciente, não ficaríamos vivos por muito tempo.
De certo ângulo, o estudo do choque no ponto 6 é o estudo de como aumentar a
consciência. É chamado com o termo Lembrança de Si, mas toda a aplicação do Trabalho
também recai nesse ponto. O trabalho deve ser dirigido para impressões que vêm de fora. Isso
não pode ser feito a menos que se esteja em um estado de consciência ao qual não está
habituado, um estado que difere do comum. Entre o segundo estado de consciência e o terceiro
há muitas gradações. Examinemos o diagrama dos 4 estados de consciência. Podemos apontar
uma diferença de grau entre o chamado estado de vigília e o estado de Lembrança de Si.
Suponhamos que você tenha o objetivo de não ser negativo com uma determinada
pessoa. É necessário manter-se acordado o tempo todo para o que se propõe e para o próprio
estado interior. Este é um tipo de Lembrança de Si. Quando se lembra de si mesmo, deve
lembrar-se desse propósito. Infelizmente, não podemos viver muito nesse estado de consciência
aumentada porque toda a energia disponível para esse estado se esgota. A consciência, como
todas as outras coisas, é pesada e medida. Existe apenas certa quantidade de consciência.
Depois de um tempo, aumentamos nossa consciência gradualmente, e depois, em vez de cair
em um sono profundo, depois de nossas tentativas de ser mais conscientes, como muitas vezes
acontece, conservamos alguma percepção ou memória de nós mesmos, alguma continuidade
em nossa vida interior. Mas nosso desejo de dormir é muito forte, então a tentativa de nos dar
o choque no ponto 6 muitas vezes nos esgota momentaneamente. Sentimos como se
tivéssemos trabalhado demais. Agora bem, não custa nada dormir porque o Trabalho não é
necessário para a vida. Se soubéssemos que detendo um minuto a "lembrança de si" nós
morreríamos, então seria muito difícil cair no sono. Mas felizmente, ou infelizmente, uma
pessoa costuma identificar-se desde o momento em que se levanta pela manhã, com sua fala
interior, e fica dormindo o dia todo. Quando se surpreende nesse estado de sono, entende o
que significa dar-se o choque no ponto 6. Quero dizer, que vê a diferença entre um estado
mecânico de sono e um estado de maior consciência. A Lembrança de Si não pode ser explicada
com palavras porque é uma experiência, de maior ou menor intensidade. Não é possível explicar
uma experiência, mas há uma descrição fundamental do que significa Lembrança de Si, e agora
vou me referir a ela e compará-la com o choque de respiração.
O choque de respiração consiste em um movimento para fora e um movimento para
dentro, ou se você preferir, um movimento para dentro e um movimento para fora. Há
inspiração e expiração, e o ciclo completo de respiração ou respiração inclui ambos. Mas não há
contradição nos movimentos opostos porque juntos formam um ciclo completo. Fazemos cerca
de 20 ciclos por minuto. Você lembrará que na Tabela do Tempo do diferentes Cosmos, onde é
dito que "Tempo é Respiração", calcula-se o tempo de respiração do Homem em 3 segundos.
Peço que você reflita nessas duas direções - para dentro e para fora. Como isso corresponde ao
ato psíquico de lembrança de si? Você não se lembra do diagrama com as duas setas apontando
em direções diferentes?
Este é, por assim dizer, o diagrama de Lembrança de Si, e você verá, aparentemente, uma
direção dupla ou contraditória.
Vamos agora representar o primeiro choque de respiração por meio de duas setas:

(inspiração)
(expiração)

Estas direções representam a respiração para dentro e a respiração para fora. Agora, o
triângulo no centro do Eneagrama tem três pontos, numericamente chamados 3, 6 e 9, e cada
ponto representa um lugar de choque. O choque no ponto 3 é o da respiração. Eu me pergunto
se alguns de vocês pensaram que o segundo choque em 6 tem alguma correspondência com o
primeiro, ou seja, que de alguma forma se verifica "dentro e fora" e "fora e dentro". É fácil de
ver, examinando o diagrama de lembrança de si que primeiro vai a uma direção e em seguida
para outra, dentro e fora, fora e dentro, da mesma forma que a respiração faz. Para aqueles que
desejam refletir sobre este ensinamento e ter uma confirmação intelectual disso, chamarei a
atenção para o triângulo extraordinário localizado no meio do Eneagrama e depois para a
natureza do primeiro choque de Ar. Isto é, o movimento para dentro e para fora da respiração.
Então eu vou perguntar-lhes: "Vocês acham que o segundo choque no ponto 6 (o primeiro
choque que é dado conscientemente) não está relacionado pelo seu caráter ao primeiro choque
que ocorre mecanicamente no ponto 3?" O diagrama de Lembrança de Si nos demonstra que
está relacionado.
Quero que reflitam sobre essas duas direções ou movimentos psíquicos relacionados à
Lembrança de Si, que são diferentes das duas direções físicas ou movimentos da respiração. Na
lembrança de si, um homem deve olhar para fora e para dentro ao mesmo tempo. Quando uma
pessoa está fazendo isso, basta olhar nos olhos dela para não ter dúvidas, porque a expressão
dos olhos muda. Para lembrar-se de si, você deve olhar para dentro e para fora. Deve ver o
exterior e ver a si mesmo com relação ao exterior. Mas, na realidade, ninguém pode ver dentro
e fora ao mesmo tempo, da mesma maneira que uma pessoa não pode inspirar e expirar o ar ao
mesmo tempo. A atenção de uma pessoa deve ir para dentro e para fora, alternadamente, e se
compararmos com a respiração, pode-se dizer que o ato de se lembrar de si mesmo é um
movimento para o interior e para o exterior, não um movimento interior ou um movimento
exterior. O ato de lembrança de si é um duplo movimento como o ato de respirar. E para que
possamos pensar na Lembrança de Si como se fosse um movimento de vai e vem, psicológico
por sua natureza, deve ser realizado conscientemente. Isto é, com certa pressão da atenção que
é produzida pelo propósito e pelo sentimento do trabalho. Por exemplo, percebo uma pessoa
e, em seguida, minha reação à luz do meu propósito, então, para fora, novamente na pessoa,
em seguida dentro, em minha reação, e assim sucessivamente. Desse modo a identificação é
impossível.
Voltaremos mais tarde a estudar o choque no ponto 6, mas vou acrescentar o seguinte. A
menos que seja entendido que o Trabalho, e toda psicologia esotérica se ocupa dos estados
interiores e trata com as reações aos outros que agem sobre si mesmo, tudo parecerá vago,
fantástico e desnecessário. A observação de Si, o ponto de partida deste Trabalho, baseia-se em
tomar consciência dos estados internos. A evolução é uma evolução dos estados interiores. O
desenvolvimento de si é um desenvolvimento de estados internos. Apenas cada um pode
conhecer seus próprios estados internos: apenas cada um pode se separar de estados inúteis,
negativos ou prejudiciais. Repito que é impossível tornar-se mais consciente, impossível de ser
atingido no ponto 6, a menos que perceba o tipo de coisas que tem dentro de si mesmo e o que
acontece em si, e para isso acontecer, antes de mais nada, é necessário que a atenção seja
internalizada e observe as próprias reações para o exterior, mas ao mesmo tempo devemos ter
em conta o exterior. É necessário descobrir o que o externo e o interno significam e qual é o
sentido desse movimento de dentro para fora e de fora para dentro, porque estar apenas no
interior ou apenas no exterior é um equívoco. Existe eu e há o mundo exterior, que me é
transmitido pelos sentidos. Há o mundo e há as próprias reações ante ele. Se a distinção entre
si mesmo e o mundo externo não pode ser feita, o Primeiro Choque Consciente não pode ser
aplicado. Logo me ocuparei mais extensamente deste tema.
Birdlip, 4 de março de 1944.
O ENEAGRAMA VI
Prosseguiremos falando do choque que é dado no ponto 6 do Eneagrama. Recordar-lhes-
ei brevemente que este é o Primeiro Choque Consciente, chamado em geral o Choque da
Lembrança de Si, e este choque não acontece mecanicamente no Homem. Repito essas noções
porque é importante compreendê-las. Toda a ideia da Psicologia Esotérica e o que mais a
distingue da Psicologia Ocidental reside no fato de que não considera o homem como se
estivesse consciente.
A psicologia esotérica vê o homem como estando em um estado de sono em que tudo
lhe acontece, um estado em que ele se imagina consciente, no qual ele imagina que tem
vontade, que tem um Ego permanente e que pode fazer. A Psicologia Esotérica nos ensina que
tudo isso é ilusão e que o Homem atribui a si próprio o que não possui. O primeiro passo
necessário para possuir esses atributos pertence ao choque no ponto 6 ao qual nos referimos
em diferentes ângulos.
Algumas pessoas acreditam que um choque é apenas uma experiência súbita e
desagradável. Por sinal, alguns acidentes são desse tipo e muitas vezes são úteis. Mas é preciso
ter um conceito muito mais amplo do choque no ponto 6. Aqui é onde se apresenta uma
mudança completa de perspectiva, uma mudança completa de mentalidade.
É preciso compreender o que significa ver que as coisas não são o que parecem ser. Nós
devemos realmente entender que nós e os outros estamos dormindo, e que não podemos fazer
nem ter a Vontade verdadeira, nem um Ego permanente. Chegar a entender isso produz um
choque, um choque lento e, às vezes, um choque súbito. Já ouviram em uma fase preliminar do
ensinamento uma definição de lembrança de si em que se define como uma compreensão de
nossa mecanicidade.
Quando começamos a entender que não somos nós que fazemos, mas é Ele quem faz,
nós começamos a sentir certo tipo de lembrança de si. Mas precisam entender que, se não
puderem separar-se de si mesmos, nunca entenderão o que significa dar-se conta da sua própria
mecanicidade. Dirão a todos 'eu', e este é um dos maiores pecados que podem ser cometidos
contra si mesmo e contra os outros. Na verdade, somos uma legião de "eus" e nos consideramos
como se fôssemos um "eu" único e nos comportamos em relação a outras pessoas como se cada
um fosse um "eu" único.
Quando alguém se observa imparcial e sinceramente por um período, Entende até que
ponto é mecânico e percebe que não tem o direito de dizer "Fui eu quem fez isso", mas é preciso
dizer "Ele é quem fez isso". E percebe-se que a pessoa cede a Ele e, por assim dizer, chama-se
"eu", embora isso não seja um processo consciente, mas um tipo de auto justificação que
funciona em segundo plano.
Assim, por exemplo, um homem acredita que sua fala interior é ele mesmo e, na
realidade, são os "eus" que estão falando e as coisas que dizem as dizem em seu próprio nome,
embora acredite que é ele mesmo. Então, de repente, um 'eu', um 'eu' mais consciente, um “eu”
de Trabalho, geralmente nos diz: Por que você não está no trabalho? E então tudo muda
completamente, a conversa para e todos os 'eus' que estavam falando fogem e se escondem.
Agora, não poderão dar o choque no ponto 6 se sempre fizerem o que gostam ou tratam
de sair a sua própria maneira. Sair à sua maneira é sempre o equivalente a permanecer
dormindo, a permanecer mecânico, a ser nada mais que uma máquina. Quando uma pessoa sai
à sua maneira, quando as coisas parecem andar sobre os trilhos, não vai contra si mesma e não
é consciente. Quando duas coisas se cruzam, conseguimos um ligeiro momento de consciência.
Despertamos um pouco, por um momento. Se nunca opomos o Trabalho à vida, não haverá luta
alguma, em amplo sentido, porque o Trabalho e a vida seguem direções diferentes, e esta luta
não pode se comparar com as pequenas lutas da vida cotidiana. Uma vez que essa luta começa
a formar-se num homem, permanece e se sente o tempo todo. É sabido que não se pode fazer
o que se quer, às vezes mais distintamente e às vezes menos distintamente, mas se sabe sempre
que se as coisas parecem fáceis é impossível se enganar supondo que isto é o que se queria.
A realidade do trabalho torna-se uma realidade mais importante que as realidades da
vida. Quando as coisas são fáceis na vida, quando as relações que se tem com a vida são
momentaneamente boas, isso não impede que a presença do Trabalho permaneça sempre por
trás. A vida pode nos dar satisfações e o trabalho também, mas eles são diferentes por causa do
sabor. Tudo isso se refere ao que eu disse sobre o Primeiro Choque Consciente, no sentido de
que devemos saber a diferença entre estar adormecido e estar acordado por causa de seu sabor
interior, mesmo antes de saber como nos daremos o choque.
Devem entender que se estão identificados com a Vida, estão na vida. Só respondem às
influências A. Estão em todos os sentimentos que a vida produz, em todas as suas ansiedades.
Mas estão muito longe do Trabalho. O trabalho lhes parece um sonho. Estarão muito longe da
possibilidade do choque no ponto 6.
Quero que todos entendam que é necessário reinterpretar a vida e vê-la à luz do Trabalho.
Mas enquanto estão completamente imersos nos 'eus' da vida e absorvidos nos problemas,
ansiedades, fricções e ambições da vida, como podem esperar interpretar a vida de uma
maneira diferente? Somente os "eus" do Trabalho podem fazê-lo. Os "eus" da vida conhecem
apenas uma língua, a da vida, mas os "eus" do Trabalho conhecem duas linguagens, a da vida e
a do Trabalho. Se não fosse assim, que esperança teríamos de evitar servir a maquinaria da Vida
Orgânica? Como poderíamos nos separar de nós mesmos se não houvesse nada diferente de
nós mesmos? Como, se você pensa que é um, você pode se separar de si mesmo? Esse é outro
aspecto do choque no ponto 6. Consiste em sempre valorizar os "eus" do Trabalho nos períodos
difíceis.
É necessário obedecer ao que o Trabalho diz em determinada situação. Refletir sobre
como trabalhar de acordo com as diretrizes do Trabalho e tentar obedecer àquilo que é
percebido e visualizar-se a si mesmo ao fazê-lo. Por essa razão, é tão importante conhecer o
Trabalho, fazer um esforço real para entender seu ensinamento, mantê-lo vivo em sua própria
mente descobrir novas conexões.
Agora desejo retornar à primeira definição de lembrança de si e à compreensão da própria
mecanicidade. Quando nos achamos falando de um modo característico nos damos conta de
que falamos de uma atitude parecida com um ou dois discos de um toca discos. É sabido que
não custa muito ver as gravações nas demais pessoas quando alguém nos aponta. É muito mais
difícil ver os nossos discos gravados e surpreendê-los quando estão trabalhando. Pode ser
reconhecido mais tarde por certo gosto e também por um sentimento interior de perda de força.
Toda vez que pensamos mecanicamente ou sentimos mecanicamente, tendemos a perder força.
Quando você consegue perceber algumas gravações da classe que se expressa
externamente por meio da palavra falada como a da classe que trabalha internamente dentro
de si, já começa a entender que tipo de mecanicidade se tem dentro de si. É claro que você não
entende se você se justificar - isto é, se você encontrar razões que explicam o que é dito
externamente ou internamente enquanto você está falando. Toda vez que as mesmas coisas são
ditas repetidas vezes, isso é mecanicidade. Quando você chega a perceber esse tipo de
mecanicidade, a ilusão sobre si mesmo é destruída. Então há uma luta muito interessante que
eu não tentarei descrever porque é uma experiência que todos devem sofrer e que cada um
inevitavelmente enfrentará em um certo estágio do trabalho em si mesmo. Agora, essa ilusão
de si mesmo deve ser destruída antes que o choque possa realmente ocorrer no ponto 6. Se
você tentar se dar esse choque enquanto estiver cheio da ilusão de si mesmo que sempre teve,
você não chegará a ficar mais consciente, mas, pelo contrário, tenderá a cair num sono mais
profundo. Precisamos perceber nossa posição.
Você se lembra da história da corda e do precipício? Um homem não avisa nenhum dos
dois. Então ele vê o penhasco, e percebe sua verdadeira posição, e então ele vê a corda
pendurada acima de sua cabeça. Você entende o que isso significa? Um homem não pensa em
segurar a corda enquanto não vê o perigo, e não vê o perigo enquanto está dominado pela ilusão
de que está tudo bem. Da mesma forma, uma pessoa com a ilusão de si mesmo, uma pessoa em
quem algo não foi revelado, não fará um esforço correto de Lembrança de Si, uma vez que ele
não vê o precipício e, portanto, não vê a corda. Agora, a corda é o trabalho. A corda é o
esoterismo que está acima de nós, mas em um nível mais elevado. As influências curativas do
Esoterismo podem nos alcançar no 3º Estado de Consciência, mas não no 2º Estado. O Primeiro
Choque Consciente é elevar à Consciência as formas do Despertar, esse tipo de Luz, que
pertencem ao 3º Estado.
Agora você entenderá porque se diz que dar-se conta da própria mecanicidade é uma
forma de Lembrança de si, significa que começamos a perceber o perigo em que corremos
quando percebemos que aquilo que tomamos como garantido em nós mesmos é uma ilusão e
que não existimos. E uma vez que essa ilusão de si desaparece, é possível sentir que as
influências do Trabalho não apenas nos alcançam, mas também nos ensinam. Por outro lado, se
você tem a convicção de que o modelo de si mesmo está correto, naturalmente custa muito
trabalhar sobre si mesmo, porque não há razão alguma que o motive a fazê-lo. Se você não sente
uma falta, por que você deveria trabalhar? Se sente que conhece tudo, por que aprender? Se
você se sente fundamentalmente satisfeito consigo mesmo, por que mudar?

Birdlip, 11 de março de 1944.


O ENEAGRAMA VII

Continuaremos falando sobre o Primeiro Choque Consciente. Se eu insisto nesse ponto, é


porque todo o trabalho repousa sobre ele. Em cada dissertação falamos sobre o choque no
ponto 6 do Eneagrama voltando para ele de um modo diferente. Até o momento não
coloquei ordem em minhas dissertações. Na última vez falamos sobre o momento em que
a mecanicidade é vista como uma forma de choque.

Nós tomamos como certo o que somos. Nós assumimos o fato de falar, pensar, mover-se,
ver ou ouvir. Nós não percebemos que somos incapazes de explicar coisa alguma e que
simplesmente não sabemos nada. Conseguir perceber isso nos faz sentir assombro e
impotência. Na verdade, não há pessoa que possa dizer, por mais que o negue que tenha
criado a si mesmo e que saiba exatamente o que é e como funciona o pensamento, o
sentimento, etc. Basta refletir um instante para perceber que não se sabe nada.

Deram-nos máquinas muito complicadas, chamadas corpos, e vivemos em outra máquina


muito complicada chamada mundo. Quando tudo isso é entendido emocionalmente, tudo
é dado como certo, e esse é um grau do Primeiro Choque Consciente. Meditando sobre a
inexplicabilidade de tudo, incluindo a si mesmo, pode-se alcançar um estado de
compreensão muito diferente daquele da compreensão comum.

Na palestra anterior, o tópico da compreensão de nossa mecanicidade foi examinado,


sobretudo à luz da observação pessoal e da verificação de como Ele faz. Vou relembrar aqui
a importância da Observação de Si em relação à observação da Personalidade. Todas as
manhãs os mesmos pensamentos se apresentam, a mesma maneira de conduzir as coisas,
os mesmos sentimentos, as mesmas preocupações.

A máquina da Personalidade à qual cada pessoa está vinculada trabalha mecanicamente.


Basta colocar uma moeda na máquina e tudo funciona na rotina. Todos sabem que isso não
é "a si mesmo", que isso não é o que temos que observar, mas sim a própria Personalidade.
O Sr. Smith tem que observar o Sr. Smith, não "ele mesmo". Eu acho que nunca é repetido
o suficiente que a Observação de Si, conforme ensinada pelo Trabalho, é completamente
diferente do que comumente pensamos como observação de si mesmo. Este é um dos
lugares onde se adormece mais facilmente, no significado do Trabalho, e onde é necessário
acordar constantemente. O Sr. Smith vem me ver e fala sobre suas dificuldades na Obra e
diz que tenta se observar, mas não sabe o que isso significa. Então é feita a pergunta a ele:
"Você já tentou observar o Sr. Smith?" Ele fica muito surpreso. Talvez vocês entendam o
que isso significa. É claro que é inútil observar a si mesmo se tudo é si mesmo. O homem
está ligado a uma máquina muito complicada que cria grande parte de sua história. No
entanto, o homem não é essa máquina, porque há algo nele que pode libertá-lo dela. Se não
fosse assim, a Observação do Si seria pura perda de tempo. Vamos ver nossa conexão com
a máquina, digamos, por um dia. O que se propõe fazer? O que estava dizendo? Onde
estava? O que queria? Você gosta dela? A Justiça? Estamos mais livres disso se fizermos algo
com atenção? Neste momento basta observar-se dessa forma.

Quando entendemos que a máquina da Personalidade nos leva de um lado para outro e
toma conta de nós o tempo todo, temos vislumbres do que significa perceber nossa
mecanicidade. Começamos a entender por que tal concepção é definida como uma forma
de Lembrança de Si. Percebemos que um homem não pode ir além de seus limites se ele
toma tudo em si mesmo como sendo "ele mesmo". Como poderá atravessar a corrente com
todas as suas posses? Como poderá sair da prisão se insistir em levar tudo consigo? É
necessário evitar a si mesmo. É preciso ser paciente consigo até que o barulho da
Personalidade tenha se acalmado e finalmente esteja "consigo mesmo".

Há uma frase que é muito usada no Trabalho, e também em outros escritos esotéricos
antigos, no sentido de que o Homem está em uma prisão. G. costumava dizer que ninguém
está ciente de sua situação. "Todos vocês", disse ele, "estão presos e, se forem pessoas
sensatas, a única coisa que devem querer é fugir dessa prisão" Ninguém, porém, pode
escapar sem a ajuda daqueles que escaparam antes. Somente eles podem te mostrar como
é possível escapar. “Houve uma época em que sua afirmação favorita era que, se um homem
na prisão tivesse alguma chance de escapar, ele deveria primeiro perceber que estava na
prisão. Enquanto ele não for capaz de perceber, enquanto continuar acreditando que é livre,
ele não tem possibilidade alguma. Se não nos damos conta de nossa mecanicidade,
continuaremos a imaginar que somos livres. Nós imaginamos que fazemos tudo por nós
mesmos, por nosso livre arbítrio. A prisão da qual G. falou tantas vezes é, antes de tudo,
nossa Personalidade. No caso do Sr. Smith, sua prisão é o Sr. Smith, a quem ele não observa
de forma alguma e a quem ele toma como ele mesmo. O que tem que fazer? Ele tem que
se dividir em "eu" e o Sr. Smith. Ele está com o Sr. Smith durante todo o dia e tem muitas
oportunidades de observá-lo e é em vão que ele diz que não pode entrar em contato com o
Sr. Smith por telefone, porque ele está tantas vezes ao lado do Sr. Smith que ele le nem
percebe que o Sr. Smith o faz fazer tudo. Você vai entender por que, quando se encontra
com o Sr. Smith, você não deve simplesmente dizer: "Como você está?” mas acrescente:
"Como está o Sr. Smith?” e o Sr. Smith tem que responder: "Oh, o Sr. Smith está em perfeita
saúde, mas eu não me sinto muito bem”.

Agora, é impossível ajudar esse homem a se separar do Sr. Smith através da persuasão.

Talvez ele diga que não acredita na existência dessa pessoa chamada Sr. Smith, porque este
é apenas um homem, e ele discutirá e exigirá provas. Claro, isso é impossível, porque ele é
o único que pode libertar a si mesmo. É preciso que veja por si mesmo o que significa a
própria mecanicidade. Deve perceber que, enquanto imagina que sempre se deu bem com
isso, na verdade é o Sr. Smith quem se deu bem, e precisa sentir sua própria impotência na
presença do Sr. Smith. É claro que isso deve ser um processo gradual e intermitente que se
estende por anos de estudo de si. Mas uma vez que tenha começado, uma vez que perceba
por um momento a presença do Sr. Smith, sua eventual libertação já é uma possibilidade.
Em vez de se opor à ideia de observação, ele começa a usá-la inteligentemente e então sua
vida é dividida em duas correntes: uma será a vida do Sr. Smith e a outra será a história e
reflexões do "eu" que observa o Sr. Smith. Então, por muito tempo, ele levará uma vida
dupla, que muitas vezes é dolorosa. Mas se não se permitir ser negativo, irá gradualmente
perceber que novos significados entram em sua compreensão. Algo acontece nela. E essa
mudança, por menor que seja, é devida ao choque que ocorre no ponto 6 através das novas
influências que atingem o homem.

Existe uma forma de Yoga que se baseia na meditação sobre o que é e o que pode ser
chamado de "eu". Neste Trabalho, devemos nos perguntar quando digo "eu": "Qual 'eu'?"
Entendendo que o termo 'eu' é usado de maneira completamente equivocada, o trabalho
prático sobre si é iniciado. Pertence ao choque no ponto 6 porque pode aumentar a
consciência- aumentar a própria percepção de si mesmo. Tente um relacionamento
completamente novo com você mesmo. Basta dizer a si mesmo em um momento de ação:
"Qual 'eu'?”.
Agora vou dar um exemplo referindo-me a uma pessoa que começou a perceber a
mecanicidade. Ser mecânico significa reagir, reagindo às coisas como sempre faz. Vocês
precisam refletir sobre essa observação pessoal do que significa ser mecânico.

Sempre me lembrarei da grande e alegre sensação de liberdade que senti quando, de


repente, numa reunião, entendi o que a frase “Você não deveria reagir” significava para
mim e para minha vida.

A vida pode ser transformada. Eu não estava mais à mercê da vida. Eu encontrei uma
maneira de tratar a vida. Eu não precisei mais reagir. Ninguém ou nada poderia me
machucar ou me tocar se eu pudesse encontrar força suficiente para não reagir. A solução
para essa dificuldade estava em mim. Eu tinha o poder, se soubesse como usá-lo, para fazer
a vida não me prejudicar. A vida não era o amo. Podia superar as dificuldades e infortúnios
da vida sendo passivo, não reagindo contra eles.

Birdlip, 18 de março, 1944.


O ENEAGRAMA VIII
Nós falamos no sábado sobre o Tempo e a Recorrência. Como esta questão tem a ver com
o Primeiro Choque Consciente, eu lhes darei um resumo do que foi dito.
Todas as ideias do trabalho podem funcionar como choques. As ideias são muito
poderosas - muito mais poderosas do que qualquer coisa visível e material. As ideias podem
dominar todas as nações. Nós não podemos ver uma idéia, mas sentimos seus efeitos.
Ouspensky comparava as ideias com máquinas muito poderosas que, se mal usadas,
costumavam ser muito perigosas. Sentir todas as ideias do Trabalho é transformar nossa
compreensão. Por exemplo, a ideia de que não somos um, mas diferentes "eus" pode
transformar o próprio entendimento e o de outras pessoas. Da mesma forma, a ideia sobre o
tempo pode mudar nossa perspectiva.
Tomemos as ideias de recorrência. É impossível entender essa ideia a menos que a 4ª
Dimensão do Tempo seja entendida. O que é a quarta dimensão? Estamos em três dimensões
do espaço: comprimento, largura e profundidade. Vamos considerar essas dimensões por um
momento. O movimento de um ponto que não tem dimensão gera uma linha: uma linha é
monodimensional. Se vivêssemos nessa linha, seria impossível conceber a possibilidade de
qualquer movimento perpendicular a essa linha. O movimento de uma linha gera uma superfície
plana: é bidimensional. O movimento de uma superfície plana gera um sólido: este é
tridimensional.
Agora, não podemos conceber que movimento um sólido deve fazer para gerar uma
figura de si mesmo com outras dimensões. Tomemos nossas vidas como se fossem linhas, na 4ª
Dimensão. Segundo a ideia de Recorrência, o momento da morte é o momento do nascimento.
Verão que é necessário dobrar a linha para formar um círculo de modo que os dois pontos,
nascimento e morte, praticamente se encontram. Aqui, um triângulo é geralmente desenhado
para indicar que algo acontece entre a morte e o nascimento. Uma pessoa nasce no mesmo
ponto de tempo uma vez e outra vez.. É impossível entender isso a menos que a realidade da 4ª
(e 5ª) Dimensão seja concebida. O tempo vive. Nós vivemos em um tempo vivente, e cada uma
das nossas vidas é fixada em alguma parte do tempo vivente, e essa parte é o nosso tempo. Se
não mudarmos nada em nós mesmos, tudo será o mesmo, novamente. Se a Essência
permanecer sem mudança, eu nascerei de novo na mesma parte do Tempo e mais uma vez
atrairei a mesma vida e me cercarei da mesma Personalidade. A Essência é a nossa parte
indestrutível. Sabemos que o crescimento interior significa um novo crescimento da Essência, e
sabemos que a Essência não pode crescer a menos que a Personalidade se torne passiva -
particularmente certas partes da Personalidade, certas imagens. O esoterismo é capaz de mudar
as relações da Personalidade e da Essência. A vida mantém a personalidade ativa. O efeito
gradual do Esoterismo está em tornar a Personalidade passiva. É por isso que um homem deve
trabalhar sobre si mesmo. Se você sacrifica alguns aspectos de sua Personalidade, se você extrair
força deles é possível que a Essência comece a crescer.
Se a Essência cresce, quando renascer, não atrairá a mesma vida. A mudança de Ser
significa necessariamente uma mudança na vida porque o nosso Ser atrai a nossa própria vida.
Se houver um desenvolvimento da Essência, não só haverá uma mudança na vida, mas a
memória também ocorrerá. Uma pessoa pode lembrar o que fazer em um momento difícil; pode
lembrar que cometeu um erro.
Já que nosso Ser é composto de diferentes partes, das quais algumas estão mais despertas
e outras mais adormecidas, é possível entender que podemos representar nossa vida como
várias linhas paralelas similares aos fios telegráficos. Se assumirmos que somos negativos,
estamos em um segmento baixo. Através da lembrança de si, nos elevamos a um nível mais alto.
Tomando tudo da maneira mais pesada possível, nós nos movemos ao longo do fio mais baixo
(o pior), por assim dizer. Pela não identificação e a lembrança de si nós ascendemos a um fio
superior (o melhor). E apesar de todos esses segmentos serem, por assim dizer, próximos uns
dos outros, existem diferenças entre eles. Você pode encontrar em um deles algo que não está
nos outros. Por exemplo, você pode encontrar o trabalho em uma dessas linhas e não encontrá-
lo em outra que esteja em um nível inferior. Nem todos os nossos 'eus' estão no mesmo nível e
não podemos encontrar alguns deles, no nível inferior, porque eles não moram lá.
Temos diferentes tipos de memória, e cada “eu” tem sua própria memória. A memória é
o que nos coloca em relação com a 4ª dimensão que se estende tanto no futuro como no
passado. Um homem é capaz de lembrar o futuro. Isso não é nada extraordinário se
entendermos que já vivemos antes. O trabalho enfatiza a importância de lembrar. Devemos
lembrar os momentos de compreensão que tivemos. Lembrar que estamos no Trabalho e
mantermos nosso objetivo em mente. E devemos nos lembrar de nós mesmos. Lembrar que
devemos nos isolar internamente da vida e não permitir que os eventos nos dominem - isto é,
devemos lembrar que é necessário praticar a não identificação, quando sentimos que estamos
identificados. Existe a possibilidade de alguma mudança ocorrer se não nos identificarmos muito
ou continuamente. Lembrando que é necessário observar a identificação em si mesmo e
praticando a não identificação, a pessoa é colocada sob novas influências; O objetivo é alcançar
essas influências, que podem nos curar e nos dar uma nova vida. Se não houvesse outras
influências, se a vida visível na Terra fosse tudo o que existe, se não houvesse o Raio da Criação,
não poderia haver o Trabalho, nem o Ensino Esotérico, nem qualquer esperança. Tudo seria fixo
e mecânico e ninguém poderia mudar.
NOTA
O Dr. Nicoll nesta dissertação e nas seguintes refere-se às ideias de Tempo e Recorrência
que foram discutidas pelo Sr. Ouspensky em "Um Novo Modelo do Universo", Capítulo XI.

Birdlip, 25 de março, 1944.


O ENEAGRAMA IX - NOVAS NOTAS SOBRE A IDEIA DE RECORRÊNCIA
Muitas pessoas parecem ter grande dificuldade em compreender o que é o choque no
ponto 6, e continuam fazendo perguntas sobre sua natureza embora em cada dissertação tenha
sido explicado que esse choque é de um tipo diferente e que, num sentido geral, as ideias do
Trabalho e sua prática produzem esse choque. Por exemplo, na discussão que ocorreu na
semana passada, foi perguntado: "É possível considerar este choque de tempo no ponto 6 em
relação ao choque em que se vê a própria mecanicidade?" A ideia de recorrência é um choque
quando é percebida emocionalmente. Isso muda nossas relações com o presente e com o
passado. Isso nos faz ver a nossa vida de uma nova maneira. Agora, se você pode ver a vida de
uma maneira nova, isso é um choque. É um choque contrário ao modo como a vida foi tomada
antes. Se tomamos a vida da mesma maneira como sempre fizemos, nós sempre cristalizamos.
Para desligar-se, é necessário um choque.
Sabe-se como é difícil mudar as ideias das pessoas e que é um sinal de inteligência poder
captar novas ideias. O trabalho se propõe a nos fazer pensar. Todas as ideias do Trabalho podem
funcionar como choques se pensarmos sobre nós mesmos. As ideias nos elevarão a um nível
diferente. Elas nos sacudirão do peso e estupidez dos pequenos "eus" que sempre direcionam
nossa vida. É compreensível que uma visão possa ser sentida como um choque. Um homem tem
uma nova visão. Vê a luz onde antes não via. Vê tudo em uma nova perspectiva. Através de sua
visão, ele tem um choque. É um choque para a velha maneira de ver as coisas. Ele é sacudido de
si mesmo e se for sacudido de si mesmo, um choque é recebido. Um choque deve nos despertar
do sono profundo em que vivemos nossas vidas.
Adormecemos assim que nos levantamos e nosso sono é mais profundo do que o que
temos quando estamos na cama. As ideias do Trabalho não apenas provocam um choque
quando são compreendidas e mentalmente assimiladas, mas podem nos transformar. O choque
de ser despertado é acompanhado pela transformação de si mesmo; o choque da primavera em
uma semente a desperta para uma nova vida que ao mesmo tempo a transforma. A semente é
sacudida para fora de si mesma. Não lhes ocorreu alguma vez ser sacudido fora de si mesmos,
fora dos fundamentos nos quais descansavam? Se isso aconteceu com você, você já entende o
que é um choque. Mas um choque não é necessariamente uma coisa repentina: pode operar
durante muito tempo como um fermento que transforma lentamente a uva em vinho. A
resposta à pergunta de se a ideia de Tempo pode ligar-se com o choque no ponto 6, é “Sim”. Foi
dito expressamente na dissertação. Mas só será um choque se você tentar entender o que isso
significa, e você pensa muitas vezes sobre Recorrência e como você andará em círculos em sua
própria vida a menos que mude a si mesmo. O que devemos fazer, então, para mudar a nós
mesmos? O Trabalho nos ensina o que devemos fazer todos os dias e todos os minutos.
Cada centro e cada parte de um centro têm sua própria memória. A memória não é uma
coisa simples. Já dissemos que a memória é a nossa relação com a 4ª Dimensão, é a nossa
relação com o nosso tempo. Podemos nos mover na memória do passado sem nos levantarmos
de nossa cadeira. Por certo, essa relação com o passado é muito deficiente. Subjacente à nossa
memória pessoal está uma memória mais profunda à qual raramente temos acesso, se é que
alguma vez a temos. Nessa memória profunda, tudo é presente - tudo o que dissemos, vimos ou
experimentamos. Este é o livro da nossa vida que está aberto no momento da morte. Nós temos
memória na Essência. Na morte, a Personalidade é destruída, mas a Essência retorna. Neste
momento, nos é oferecida a oportunidade de lembrar apenas se a Essência registrou algo. Tudo
o que fazemos genuinamente toca a Essência, e a Essência lembrará ao retornar. Esta é uma das
razões pelas quais o gênio se faz presente desde muito jovem. Na Recorrência tudo aparece
cedo, isto é, tudo que foi feito de uma maneira genuína. Alguns músicos e outros homens de
gênio começaram a se lembrar com idade muito precoce.
A memória verdadeira não está conectada da mesma maneira que a memória pessoal.
Por exemplo, todos os momentos de compreensão genuína no Trabalho estão relacionados
entre si. Eles não serão misturados com outras memórias em ordem de sucessão nem com
datas. Memórias da mesma qualidade emocional tendem a relacionar-se entre si. Essa memória
do passado, dia após dia, é diferente da memória emocional. Em outras palavras, nossa relação
com a 4ª Dimensão é muito diferente. Uma pessoa pode ter uma memória defeituosa para a
ordem de sucessão no tempo e, ao mesmo tempo, uma boa memória emocional e vice-versa.
Foi levantada a questão: Como podemos renascer na mesma parte do Tempo se nossos
pais não estarão mais lá? Esta é uma maneira errada de pensar. Nossos pais estão no nosso
tempo. Tudo está no tempo e tudo retorna no tempo. A dificuldade está em conceber com a
nossa mente, com base nos sentidos, como são as dimensões superiores. De fato, é impossível.
Pensamos no Tempo como se fosse uma linha, mas na realidade há 3 dimensões no Tempo de
modo que essa linha se converte num plano e esse plano se converte num sólido. Nesse tempo
sólido, tudo existe e tudo gira sobre rodas, grandes e pequenas. Ao mesmo tempo, algumas
mudanças gerais ocorrem ao longo do Sólido Tempo. Para dizer em linguagem comum, algumas
coisas ascendem, outras descem e outras permanecem estacionárias. Ao aceitar a ideia de
Recorrência, temos que escolher. Talvez nós escolhamos uma roda da máquina para nossa
compreensão e, de alguma forma, devemos conceber que essa roda é feita de uma substância
elástica capaz de se estender ou ser comprimida.
Com relação à questão de saber se podemos escolher pais diferentes, é claro que não é
possível fazê-lo se estivermos sob as Leis de Recorrência. Nascemos na mesma parte do Tempo
que antes e nossos pais estão lá. Esta questão só surge quando se fala de reencarnação. A
reencarnação é muito diferente da Recorrência. Na Recorrência, nasce na mesma parte do
Tempo através dos mesmos pais; na Reencarnação não nasce na mesma parte do Tempo. Mas
não vamos discutir reencarnação aqui. Para isso, é necessário um desenvolvimento superior.
Um homem deve ter chegado ao fim de sua vida e dentro dele tudo deve ser unido de certa
forma pela fusão antes que ele possa passar para outra parte do Tempo.
Se nos colocamos sob a influência da ideia de Recorrência, nossa concepção do passado
muda. Diz-se que no mundo haverá uma amarga luta entre pessoas religiosas que acreditam em
uma vida futura e cientistas que só acreditam nesta vida. Verão como a ideia de Recorrência dá
a razão para ambos os lados. Quando se vê que o passado está diante de nós, então todos os
pensamentos que se tem sobre o passado se tornam úteis.

Birdlip, 1º de abril, 1944.


O ENEAGRAMA X – INÍCIO DO CHOQUE NO PONTO 6
Observação e Separação de "Si"

Após um intervalo, voltaremos à ideia fundamental do Trabalho, ou seja, que para mudar
é necessário observar a si mesmo e perceber com que se assemelha neste exato momento.
Em que parte de si está o homem neste momento? Está em todos os rolos dos centros,
estabelecido pela ação determinada da vida em dito homem.
O que isso significa? Significa que aquele homem desde a infância estabeleceu nele
associações peculiares que são representadas em seus centros e que funcionam
mecanicamente. Aqui tudo foi estabelecido nos centros deste homem ou mulher, isto é, em seus
pontos de vista peculiares ou maneiras de extrair as coisas dos centros oriundos, da mãe, do pai,
da enfermeira, de todas as pessoas que o cercaram.
Nós todos tomamos essa coisa pré-estabelecida como se fosse nós mesmos. No entanto,
é apenas um mero modelo de todos os possíveis "nós mesmos". Isso é bastante difícil de
entender. Todo o material associativo depositado nos centros desde os primeiros anos de vida
faz do homem certa classe ou modelo de pessoa. Aqui me permitirei dizer, não é estranho que
ninguém perceba que, em certo sentido, é uma pessoa petrificada, um tipo particular de pessoa
- uma pessoa que sempre se comporta de uma forma ou de outra?
É interessante porque cada pessoa tem a ideia de que é completamente livre e pode se
comportar, falar, agir, entender, etc. como quiser. Isso é uma ilusão. A Personalidade, construída
a partir da mãe, pai, enfermeira, escola, etc. é muito poderosa. Está sempre trabalhando para si
própria. No entanto, temos a visão, o sentimento, a ideia de que somos livres e que nada nos
predispõe ou nos fixa ou nos faz máquinas.
Eu disse que isso era uma ilusão. Mas, ao mesmo tempo, não é uma ilusão, no sentido de
que é possível dissolver a máquina da personalidade e libertar-se. Para isso, é necessário pagar
e pagar por muito tempo. O trabalho faz com que esse pagamento seja justo. Começa com a
Observação de Si.
O que significa a Observação de Si? Significa observar o que somos como reagimos, o que
nos faz negativos. O Trabalho nos ensina especificamente a observar certos aspectos de si
mesmo sem um espírito crítico- isto é, sem que alguém se justifique de uma forma ou de outra.
Ver o que se toma como si mesmo, a máquina das respostas, a máquina do
comportamento, dos pensamentos, dos preconceitos, dos sentimentos - esse é o propósito
perseguido pela observação de si.
Estarão de acordo comigo que uma pessoa não pode mudar a menos que seja capaz de
ver a si mesma. Mas as pessoas geralmente fazem as tentativas mais fantásticas e ineficazes
para se verem. Geralmente acreditam que devem fumar ou comer menos ou levantar-se mais
cedo ou trabalhar mais duro no emprego que lhes permite ganhar a vida.
Entretanto, este trabalho não começa com isso. Tem seu início no campo psicológico. É
necessário observar esse aspecto primeiro. É aí que está o que é aceito como si.
Primeiro, é necessário que haja uma mudança mental, na forma de considerar a si, no
sentir de si mesmo.
Como é sabido, todo homem é identificado consigo mesmo, toda mulher consigo mesma.
Todos esperam começar a partir de si mesmos, como são. O trabalho baseia-se em tornar esse
"você mesmo" - esse "si mesmo" - mais passivo. Quem é você? O que é você? É aquela coisa
pré-fabricada que não o serve em nada ou que o ajuda muito pouco.
Entretanto a pessoa é escrava do que considera natural - "ele mesmo", é esse "si mesmo".
O Trabalho está em mudar a base em que repousa aquela concordância cega, aquela coisa em
si que nunca foi discutida e que não foi vista dessa maneira.
A vida implantou em nós, especialmente através da imitação dos outros, milhares de
atitudes, de interrupções, de imagens, de registros de gramofone, enfim, milhares de modelos
associativos. Sentimos desconforto se não os seguirmos. É nossa própria edição.
O Trabalho busca pôr fim a essa identificação, consigo mesmo, formada pela ação da vida
e que se apoia na personalidade estabelecida. Certamente, é uma questão muito difícil e que
não está ao alcance dos insipientes. Orientar-se por uma nova maneira não é algo fácil. É
necessário chegar ao fundo de "si mesmo".
O Trabalho não pode fazer nada por nós se partir de "si mesmo" - ou "você mesmo" - isto
é, se partir da personalidade.
São muitos os que se equivocam sem conseguir entender o alcance do Trabalho. Todos
têm um sentimento sagrado em relação si mesmo, tais como são. Este está no lugar errado - na
Personalidade.
Personalidade, por si só, não é algo sagrado. Os sentimentos mais profundos de si mesmo
sempre possuem a qualidade milagrosa da santidade, de conceder felicidade. Entretanto, nós
tomamos essa coisa, o "si mesmo", como se fosse sagrada - e, desse modo, o sentimento está
no lugar errado - isto é, está na autoestima, na convicção de que estamos certos; no passado
relevante; na educação.
É necessário remover esse sentimento. Ir além dele. Renová-lo. Atribuir a si mesmo, a
ideia de algo tão profundo e cheio de significado, como denota a palavra "sagrado", é cometer
um crime contra si mesmo.
Talvez alguns de vocês se lembrem de que nas lendas do Santo Graal, o jovem cavaleiro
que sai para encontrar a escola ou o castelo místico, não deve obedecer a sua mãe.
Isso pode ser interpretado de uma maneira muito rude. Mas o que isso realmente
significa? A mãe é a fonte de nossas ações, sentimentos e pensamentos.
É necessário desobedecer a personalidade. Neste Trabalho, o que devemos observar? As
coisas que tomamos como garantidas e às quais dizemos o dia todo "Eu". Mas não é "Eu". Não
é o verdadeiro "Eu".
São muitos "Eus" adquiridos. É uma máquina de 'Eus' adquiridos. Si mesmo está
intimamente ligado a ela (máquina de Eus). Ele é obedecido em todos os pontos. Ele (Si mesmo)
diz alguma coisa e crê que ele que disse isso. Ele faz alguma coisa e pensa que ele o faz. Ele sente
algo e pensa que ele que sente isso. É um modelo (maneira) encontrado nas amplas áreas
associativas ou silenciosas do cérebro. É o seu modelo, é o que tem registrado suas tentativas
de dar forma a si mesmo. É um pequeno instrumento de conexões elétricas, entre milhares de
milhões, devido as que se comunica sempre com as mesmas áreas e obtém os mesmos
resultados. É uma máquina em cada um.
G. disse uma vez, "é possível fazer com que as impressões sejam recebidas em novos
lugares nos centros? Esta é minha tarefa". No início, ele forçou as pessoas a fazer novos
movimentos, e também fazer coisas com as quais não estavam acostumadas. "A verdade", disse
ele, “é que tudo se torna mecânico depois de um tempo”. Como é possível fazer com que as
coisas se tornem novas? Tudo se torna mecânico... O que vocês acham? Vocês conduziram este
dia de uma maneira completamente mecânica? Já encararam seus problemas domésticos como
sempre fazem, ou tentaram mudar levando as coisas de uma maneira nova? É difícil, mas
possível.
Este é o objetivo maior do Trabalho - livrar-se da maneira mecânica adquirida de conduzir
tudo conforme um molde, a uma série de associações, como a ideia do que deve ser justo ou
injusto.
O foco do Trabalho é si mesmo. Si e si mesmo não são a mesma coisa, mas são tomados
como se fossem. As pessoas se identificam consigo mesmo. E desta maneira, o Si (Eu) se
identifica consigo mesmo e se torna Si mesmo (Muitos Eus).
No entanto, O Si é muito mais velho que Si mesmo. Mas como não conhecemos a nós
mesmos, ignoramos que haja algo diferente em nós fora de nós mesmos e o Eu Exterior se funde
com o Eu Interior e não há separação.
A observação de Si dá início a uma separação. Começa por se separar de Si mesmo. Mas
no começo esse Si é meramente o Eu Observador. No entanto, a partir do Eu Observador, surge
o Mordomo Substituto, que encaminha ao Mordomo, o que dá acesso ao Eu Real. Este é o Si. E
esse Si é inatingível enquanto se continue olhando Si um como Si Mesmo.
Deixar-se para trás a Si mesmo não é o que as pessoas enfocam. Muitas vezes as pessoas
acreditam que ignoram a Si mesmas e realmente o que elas fazem é identificar-se mais ainda.
O Trabalho nos ensina muitas coisas interessantes sobre o que deve ser observado e o
que deve ser desprezado. No entanto, as pessoas tendem a pensar que já conhecem e
estabelecem restrições ou limitações, por exemplo, com a comida ou com cigarros, ou então,
recusam roupas decentes ou viajar de ônibus, quando na realidade, não têm necessidade de
proceder dessa maneira.
É preciso observar esses "Eus" e separar-se deles. Eles tendem a constituir um poderoso
sistema tirânico que controla a pessoa. Eles (esses Eus) se originam nas primeiras associações
como pessoa. Esta pode ser escrava delas ao longo de toda a vida. É uma escravidão mórbida
que não leva a parte alguma.
Assim, com a observação de si, começa-se a perceber onde e a que se está preso. O que
está de acordo com o senso do Trabalho, pois este nos faz ver a vida e seus efeitos em nós.
O Trabalho é uma negação às ações da vida. A vida criou "Eus" que convivem conosco e
até chegam a nos devorar. Esses "Eus" são de todos os tipos.
Suponhamos que se permita às influências do Trabalho varrer tudo e expulsarem aqueles
“Eus”; provavelmente nos surpreenderia muito ver o que o Trabalho considerou inútil.
O primeiro passo que deve ser dado no Trabalho é libertar-se de Si mesmo. O Trabalho
não acrescenta nada a Si mesmo, removendo-o de Si, apenas procura eliminar o que é inútil para
o próprio desenvolvimento.
Birdlip, Páscoa, 9 de abril, 1944.
O ENEAGRAMA XI – O ESTUDO DO CHOQUE NO PONTO 6.

A ideia do Tempo, da Recorrência e das Ocorrências.


Nós falaremos novamente sobre o Tempo e a Recorrência. Como os cientistas modernos
nos dizem, o tempo é circular e é constituído de ocorrências. Isso já foi dito há muito tempo,
não apenas por poetas e filósofos, mas por mestres esotéricos. Do que é constituído o dia? Ele
é uma sequência de eventos, alguns, na verdade, em escala menor, como no caso de perda da
carteira, de um curto-circuito num aquecedor elétrico ou o recebimento de uma carta ou de um
cartão postal, como por exemplo, o que recebi esta manhã de uma empresa médica em que me
perguntaram se eu poderia fornecer alguns esqueletos, crânios ou partes de esqueletos que eu
não usava neste momento, e oferecendo um bom preço por eles. Esta é uma ocorrência singular.
Além disso, me custou acender o fogo: já, uma ocorrência bastante comum.
Às vezes os eventos são semelhantes: chamamos isso de coincidência. Mas até agora não
vejo conexão entre a posse de esqueletos e um incêndio que não incendeia. Quais eventos você
vai ignorar e com quais eventos você se identificará? Isto é o que importa, uma vez que você
enxergue que a vida são eventos. Os eventos são agrupados ao longo da linha do dia - a linha de
extensão no tempo que chamamos de dia. Em que prestaremos atenção e do que nos
separaremos em relação a esse conjunto de ocorrências? Eu estarei negativo o dia todo porque
meu fogo não acendeu? Perder sua carteira deixará esse evento se espalhar ao longo do dia,
com suas queixas, confrontos e suspeitas (como "Quem me roubou?"). Um único evento
desagradável geralmente se estende facilmente e preenche o dia todo. Isso é o que as pessoas
gostam de fazer quando escolhem os aspectos negativos - às vezes elas estendem uma
ocorrência desagradável até ocupar sua vida inteira. Isso significa que, como o Tempo é marcado
por uma série de eventos, um dos eventos pode ocupar todo o nosso tempo. Nossa vida é nosso
tempo. O tempo dos outros não é nosso. Você pode compartilhar algumas coisas. Mas você está
no seu próprio tempo. O tempo é uma série de ocorrências e você tem seus próprios eventos e
alguns outros são compartilhados. As três Dimensões superiores compõe o Tempo, a
Recorrência e a Eternidade. Se apenas a 4ª Dimensão é tomada como uma linha chamada Tempo
que segue uma direção perpendicular às outras três Dimensões Espaciais, (O espaço formado
pelas três dimensões espaciais, varia e se movimenta ao longo da linha do tempo, perpendicular
a esse espaço) percebemos que ela (linha do tempo) flui através de cada pessoa como uma série
de eventos. Perdemos nossa carteira, que é um evento pessoal, ou entramos na guerra, que é
um evento compartilhado. É necessário entender que (o tempo) não é o relógio, mas as
ocorrências. Tomando-se o tempo como um relógio artificial – que indica dez e meia, ou 1944.
Não, esta indicação não é o tempo. Com que ocorrências se identifica neste momento no tempo
chamado (artificialmente) dez e meia ou 1944? Você pode imaginar que, para os antigos gregos,
não havia nada chamado de dez e meia ou 1944? O tempo não são datas marcadas no relógio,
mas sim evento. "Todo o tempo" se está em algum evento. Se está negativo devido a algum
evento,bem, você está nesse estado e nesse evento. O evento sequente, que nos arrasta, se
apossa de nós. Ao dizer: "Esta situação é intolerável". O evento apoderou-se de si. Assim, é
incapaz de se observar em relação a esse acontecimento em particular, ou lembrar-se de si
mesmo em sua ocorrência- isto é, deixar de se identificar com ele. O tempo compreendido
psicologicamente é um modelo de evento, um tabuleiro de xadrez de quadrados pretos e
brancos. É necessário estender as melhores ocorrências e contrair as piores. Agora você percebe
que o tempo é elástico - não é o tempo do relógio. Não se recordam que uma vez um homem
de ciência comparou o Tempo com um molusco? É nisso que Ouspensky tem o enfoque de
Einstein. O molusco é um animal de corpo mole que não tem um esqueleto interno e, portanto,
é uma criatura que pode contrair ou expandir diferentes partes de seu corpo à vontade.
Um vertebrado não pode fazê-lo porque tem uma estrutura de ossos. Temos que nos
tornar semelhantes aos moluscos em nossa relação com o dia e seus eventos. A ideia de que é
possível demorar muito nas coisas é, naturalmente, familiar. Pode-se ficar parado em um evento
que aconteceu há muito tempo. Mas não se compreende o significado disso. Goza do poder de
entrar em contato ou não com a série de eventos que compõem o dia. Pode se expandir dentro
de um evento ou sair dele. Você terá observado os caracóis e notado como seus chifres sentem
uma coisa e se expandem ou se contraem. De certa forma, é o mesmo. Tudo o que é físico, tudo
o que é discernível, visível, é o modelo de algo psicológico em si mesmo. Basta ir ao zoológico
para perceber isso. Cada animal, cada forma criada de ódio e defesa, é representado
psicologicamente em si mesmo. De fato, o homem é geralmente muito mais horrível e cruel do
que qualquer representação animal. O mundo exterior está dentro de nós. O Cosmos está no
Homem. O homem é o microcosmo. Tudo quanto ele vê exteriormente está, de alguma maneira
nele, a vespa, rato, cobra, mosca, porco, raposa, tigre, camaleão, gafanhoto, toupeira, pássaro,
besouro, peixe, cegonha, etc. Vocês, por acaso, tem observado os “eus vespas” dentro de vocês,
ou os “eus raposas”? Acaso não viram os “eus” camaleões que mudam de cor de acordo com
a situação e como os políticos que, de acordo com as circunstâncias, dizem sim ou não? Não
conhecem a serpente e especialmente os peixes que têm dentro de si? O que o seu mar esconde,
além das costas visíveis? Eles estão todos lá - a toupeira laboriosa e cega, a ave nervosa e
superficial, o besouro fedorento e de casca dura, o gafanhoto sempre recorrente, a mosca
zumbindo e tola, que se joga ao acaso em tudo que vê, o selvagem e tolo tigre, o rato escondido,
a cegonha solene e imbecil. Eles estão todos no Homem, tanto os bons animais quanto os
estúpidos. No que diz respeito aos eventos, com quais deles você se relacionará?
Quando você começa a ver que, psicologicamente, não há tempo de relógio, e na verdade
não há tempo algum, nem mesmo de acordo com o grande relógio devido à rotação da Terra
que produz dia e noite, ou o relógio ainda maior causado pela revolução da Terra em sua órbita
ao redor do Sol que produz as estações, o que faz com que a Terra seja verde e depois marrom
e depois branca e verde novamente - então se começa a entender que o tempo são os eventos
e assim é a atitude em relação a eles e, finalmente, os próprios estados internos. Então está
capacitado de refletir sobre Recorrência. Pensar que o passado está à nossa frente. Em que
estados nós vivemos constantemente? Nos estados que pertencem a uma toupeira, ou a um
pássaro, ou a quê? De que maneira se tem tomado os eventos pelos quais se tem passado?
Assim como se trata um evento, o mesmo acontece com o próprio estado. Como já foi
dito, é possível contrair um evento ou expandi-lo. Isso depende de como se considera esse
evento.
É possível separar um evento de si mesmo? Como eu disse, uma pessoa pode deter-se em
um evento que ocorreu há muito tempo e, por assim dizer, sempre usar luto e andar pela vida
como uma criatura sombria e morta, acreditando, sem dúvida, que seu comportamento é
meritório.
Agora, como o Tempo pode ser expandido e contraído em termos de eventos, fica claro
que se pode escolher um evento hoje e expandi-lo. Não percebem que há uma tendência geral
de expandir um evento que é desagradável para nós e contrair todos os outros?
Acaso pode uma pessoa esquecer que alguém a tratou rudemente, como se ela fosse uma
pessoa sem importância? Este é um evento que pode acontecer a qualquer um. É um evento
que enunciamos da seguinte forma: "Ninguém me trata adequadamente".
Quando o Homem foi finalmente criado depois de muitos experimentos, todos os eventos
possíveis que poderiam acontecer com ele também foram criados. É inútil criar uma coisa viva
sem os eventos necessários para que ela possa ter uma vida de experiência.

Se o Tempo não fosse o "molusco" capaz de se contrair e expandir, aquele corpo macio e
musculoso, todo ele seria rígido como uma régua de madeira. Mas O Tempo, isto é, os eventos
- não é desse espécie. Pode e deve ser acompanhado por um método seletivo, um método para
escolher e descartar, prestar atenção ou não aos incidentes ou eventos ou situações que
inevitavelmente acompanham sua aparente passagem através de nossa consciência limitada. O
"tempo" está todo lá - como um campo. Mas chegamos a ele pouco a pouco e passamos por ele
de acordo com nosso estado. Se somarmos um estado consciente ao estado mecânico ou a
reação cega diante dos eventos, estaremos então em um nível superior de ser, e percebemos
que alguns eventos precisam ser contraídos - espremidos e descartados - outros devem ser
deixados como estão e alguns precisam ser estendidos com todos os nossos poderes de trabalho
interior e de lembrança de si.

Birdlip, 15 de abril, 1944.


O ENEAGRAMA XII – OS HIDROGÊNIOS E O ENEAGRAMA

Na parte exterior do Eneagrama podem-se inscrever vários Hidrogênios em série,


começando pelo Hidrogênio 384: Por que o Hidrogênio 384 começa a série marcada na
circunferência? Porque o Alimento humano, o Hidrogênio 768, não está no Homem.
Considera-se que a substância geral chamada "Alimento para o Homem" - 768 – está no
estômago. Mas a não ser que o digira não está nele. A primeira ação da digestão é converter o
alimento em algo que possa penetrar em nós, isto é, na forma de Hidrogênio 384. O alimento
relacionado com 768 é externo a nós. É possível extrai-lo com uma bomba estomacal uma vez
que o comeu. Mas assim que se transforma em Hidrogênio 384, chamado "água", não pode ser
extraído, porque faz parte do organismo físico, de nosso sangue e nossa linfa. Assim se vê por
que o Hidrogênio 384 começa a série de transformações no Eneagrama.
Se alguém engole um botão de metal, passa, o esperamos, através do cano digestivo. Um
botão não é alimento para o Homem. Não é 768, nem sequer o Hidrogênio 1536, que é inferior
e um alimento para o gado - pasto, vegetais crus, coisas fibrosas, etc., coisas todas que o Homem
não pode comer.. O Homem não pode comer o pasto que pertence à classe de matérias
chamadas 1536. Precisa um transformador externo. Este pode ser uma vaca, por exemplo. A
carne, o pasto e o Homem a comem e bebem. Esta é a transformação externa do Hidrogênio
1536 em 768.
Mas o Homem assim mesmo é capaz de transformação interior, que começa em 768 e
passa a 384. Começa-se com o pasto, digamos. É transformado ou cozido pelas vacas. Logo o
Homem come a vaca e bebe seu leite. Os dois são cozidos no Homem e transformam-se em
outra coisa e assim sucessivamente. Toda a vida é uma contínua transformação de uma coisa
em outra A digestão é transformar algo em outra coisa superior, Quando um bife é digerido pela
ação dos carbonos já presentes no corpo – isto é, as enzimas ou fermentos que existem no suco
gástrico ácido e nas secreções alcalinas do fígado e do pâncreas no intestino delgado (porque a
digestão do alimento é dupla, primeiro ácida e depois alcalina, e assim fica sob duas tríades)-
então o bife deixa de ser um bife e não só é dissolvido como transformado em matérias mais
finas, na escala do Universo, que passam ao sangue.
Na primeira etapa 768 chega a ser 384. o bife está em alguém e circula pelo seu corpo
pela linfa e o sistema sanguíneo, não como um bife, mas como uma coleção de matérias mais
finas, chamadas 384. Depois 384 é transformado em 192, e assim sucessivamente. Tudo isso se
produz em nós por meio da arte e da química do Centro Instintivo que governa o trabalho
interior do organismo. Tudo o que tem a ver com os Hidrogênios inferiores, mais densos, é feito
para nós. Mas cabe a nós a tarefa de usar ou não os hidrogênios superiores.
O homem, diz o Trabalho, é criado como um organismo capaz de se autodesenvolver. Mas
no início é criado já feito - isto é, com um número incalculável de fábricas de interiores. De
química interior, de transformações interiores, de maquinaria interior. Basta observar as
transformações. A comida como 768 vai para o nível superior, 384; 384 vai para 192; 192 passa
a 96; 96 vai para 48 (48 é a energia usada para pensar - o bife agora foi transformado em
pensamento); 48 passa a 24; 24 passa para 12.
Todas essas transformações são feitas para nós pelas fábricas químicas. Esta é a Oitava
Alimentar, que acontece mecanicamente e nos possibilita a existência. Porque, antes de tudo é
necessário criar um ser capaz de existir, em princípio, não se cogita desse ser se desenvolver em
algo diferente. Então, todos nós começamos com os materiais dados pela Oitava da
Transformação chamada Oitava de Aumento.
Mas o Trabalho trata do que não é dado. Refere-se à fabricação de mais materiais, de
mais Hidrogênios, que os que nos dá a Oitava de Alimento. Isto só começa quando se dá o
Primeiro Choque Consciente-isto é, o choque no ponto 6 do Eneagrama. Nesse ponto começa o
Trabalho, sempre que valorizemos suas ideias, estudemo-las e apliquemo-las a nossa vida. Isto
requer certo processo interior. Se começamos a vivê-las, começa uma nova oitava, que se inicia
no Hidrogênio 48. Penetra-nos desde o andar superior e desce até o inferior. Isto é, seu efeito
sentir-se-á gradualmente na cada parte da máquina humana.
É preciso compreender que o começo de uma nova oitava não é produzido pela natureza.
Deve ser criado. É adicional. Só pode ser criado por um choque dado na parte mental de si
mesmo, já que a natureza não produz este choque, então o Homem mesmo deve produzi-lo, é
chamado choque consciente. Tem muitos aspectos, muitas formas. Neste sentido é diferente do
choque mecânico da respiração que a natureza dá, na oitava de Alimento. É muito importante
compreender tudo isso na forma mais clara possível. O diagrama acima mostra um homem que
trabalha sobre si mesmo, lembrando-se de si mesmo, como resultado disso ele cria um novo
Hidrogênio 24 e um novo Hidrogênio12. Desta maneira seu Ser começa a mudar.
Diagrama da Nova Oitava à qual o Primeiro Choque Consciente dá início.

Quando todas as ideias do Trabalho são recebidas, assimiladas e colocadas em seu lugar,
e quando se tenta viver de acordo com elas, elas ajudam a dar o choque no compartimento
superior ou mental. Este lugar corresponde no Eneagrama ao ponto 6. A mente deve mudar
antes que o resto do homem mude. Este é o mesmo ensinamento que é dado nos Evangelhos
quando diz que o homem deve primeiro se arrepender, o que em grego, na realidade, significa
mudar a mente. Mudar a própria mente significa pensar de uma maneira nova.
Mas para pensar de uma maneira nova, são necessárias novas ideias e um novo
conhecimento. Por exemplo, se alguém admite a ideia de Tempo e Recorrência, percebe que o
passado está diante dele, de modo que tem novos pensamentos sobre a vida, isto é, ocorre uma
mudança de mentalidade.. Não estou dizendo que isso é feito instantaneamente, mas
gradualmente, ao longo de vários anos. Esses pensamentos desenvolvem uma nova parte da
mente que, de outra forma, permaneceria sem uso.. Este é um exemplo de “choque lento” na
parte mental. É uma transformação gradual da mente em relação com o Tempo, que afeta a
parte emocional, a qual, por sua vez, afeta a parte física.
Todas as ideias do Trabalho, quando a mente as percebe e as reconhece, atuam como
fermentos, como levedura e mudam gradualmente a mente, a maneira de pensar, e em especial
o sentimento do “Eu” Tudo isso tem a ver com o choque na parte mental, ou Primeiro Choque
Consciente, que no Eneagrama é indicado como o choque no ponto 6, e no diagrama do Homem
como uma fábrica de três andares no compartimento superior, atuando em 48.
Se alguém começar a viver este Trabalho e pensar em tudo a partir das ideias que ele
ensina, fazendo esforços para se separar da emoção negativa e das ideias inúteis que tiram a
nossa força, se estivermos caminhando com cuidado no meio dos acontecimentos da vida como
se algo nos protegesse e nos mantivesse de pé, então é dado o Primeiro Choque Consciente e
cria-se os Hidrogênios suplementares 24 e 12 em si mesmo.
Mas é preciso conhecer a si mesmo, o que é uma grande luta interior entre o Sim e o Não
em relação com o Trabalho, porque só o que conta é a própria atitude interior. À medida que
se cria o Hidrogênio suplementar 24 percebe-se que o pensamento muda. Começa a
compreender emocionalmente, a ver a verdade de uma coisa emocionalmente, e em seguida,
se vêm infinitos significados e se compreende que o Trabalho é inesgotável em seus significados
e no que pode oferecer. Porque, pensar a partir do Hidrogênio 48, com o qual começamos se é
comparado com o pensamento do Hidrogênio 24, é uma coisa estéril. Vocês todos já sabem que
um hidrogênio mais alto é mais inteligente que um hidrogênio mais baixo.
Vocês não se lembram da expressão, o ditado, de que uma batata cozida é mais
inteligente que uma batata crua, porque na escala 768 é maior que 1536?
Assim, eles compreenderão que o pensamento da inteligência que pertence ao
Hidrogênio 24 é muito mais cheio de conexões e significados internos do que o pensamento da
inteligência do Hidrogênio 48. Por meio do Hidrogênio 24 é possível ver-se caminhando sobre a
terra, saindo de si mesmo, porque se ergue acima de si mesmo.
Ilustração do Eneagrama intitulado de Ouspensky.
(Elucida o Eneagrama do Alimento descrito por M. Nicoll)

Birdlip, 22 de abril, 1944.


COMENTÁRIO O ENEAGRAMA XIII

A CIRCULAÇÃO INTERNA DO ENEAGRAMA


Na Terra, uma pessoa está em todos os momentos sob uma ou outra das 48 ordens de
leis ou influências que governam este planeta por causa de sua posição no Raio da Criação. As
influências provêm das partes superiores, médias e inferiores da oitava descendente do Raio em
que nossa Terra aparece. As 48 ordens de leis de diferentes níveis na escala das coisas governam
a Terra e todas as Terras nas miríades de Sistemas Solares na Via Láctea, às quais o nosso Sol
pertence. Também é necessário lembrar que existem miríades de Via Lácteas ou Galáxias no
Universo
Portanto, somos muito pequenos, praticamente insignificantes. Se um cometa destruísse
nossa Terra, não teria importância alguma para extensão total das coisas criadas no Universo.
Há planetas destroçados em nosso minúsculo sistema solar que giram em torno do Sol como
pequenos corpos – pode-se contar centenas de planetas que têm apenas alguns quilômetros
de diâmetro. Isto é para examinar o lado visível, físico das coisas conhecidas pela ciência, no que
se refere ao Universo externo, e para nós é geralmente ser tão maravilhoso quanto diminui o
nosso senso de si.
Mas quando examinamos a questão toda de acordo com a psicologia esotérica, o quadro
se transforma. O Trabalho ensina que o ser humano não é meramente uma função do mundo
em que nasceu ou um escravo dele.
O aparato do Universo, em tudo o que diz respeito ao nosso Raio de Criação, foi criado
para o propósito da Evolução. É uma vasta máquina de destilação, que extrai o sutil do mais
grosseiro. Esta é uma imagem antiga maravilhosamente descrita, por exemplo, nos
ensinamentos de Manu.
O que é a evolução individual, no sentido esotérico? Examinar através de um longo
trabalho interno, e depois escolher o sutil e, eventualmente, querer e, finalmente, viver o sutil.
Não se lembram da antiga Tabela de Esmeralda, de Hermes, que começa dizendo que é
necessário "separar o sutil do bruto"? Comece com o trabalho pessoal.
O que significa o sutil? Se você tiver um momento de plena compreensão, discernimento
ou percepção externa por meio do Hidrogênio 24 será mais sutil do que qualquer coisa que
possa ser alcançada por meio da inteligência devida ao Hidrogênio 48.
Você vê centenas de conexões que nunca havia visto antes. Exatamente no mesmo
sentido, uma batata cozida é mais sutil do que uma batata crua. É um hidrogênio superior e
torna-se alimento para o homem e pode penetrar nele. Em vez de ser comido por gado, pode
ser comido pelo homem.
Mas o gado não pode cozinhar batatas. É preciso a inteligência do homem para acender
o fogo, fazer um pote contendo água, etc. Uma batata crua é classificada na Tabela de
Hidrogênios como pertencente à ordem designada com o número 1536.
Este Hidrogênio está localizado muito abaixo na Escala do Ser que deriva do Raio da
Criação. Uma batata cozida é capaz de outro destino exatamente como nós somos se mudarmos
nosso nível de ser mesmo que seja apenas uma fração muito pequena. O ser de uma batata
cozida atrai uma vida diferente do que o ser de uma batata crua. Como ela ascende na Escala
do Ser? Através de algo que age sobre ela - algo superior. Toda a questão de cozinhar as coisas
está na ação de algo superior a algo inferior. Mas deve-se observar que o resultado não alcança
o nível do que está trabalhando nela.
Quando a inteligência do Homem é aplicada na forma de calor e água e vasilhas à batata
crua, isso não significa que o resultado - a batata cozida - seja capaz de cozinhar outras batatas.
Uma força superior que age sobre uma força inferior, ou uma matéria superior atuando sobre
uma matéria inferior, eleva a inferior a um estágio que está além do que era antes, mas não no
nível da força atuante.
A ideia está representada no Trabalho em termos de três forças. Uma força ativa agindo
sobre uma força passiva produz uma força intermediária. Quando o corpo toma o alimento, ele
entra, segundo o ensinamento do Trabalho, como um material que conduz uma força passiva.
Então, atua sobre uma força ativa presente no corpo e disso resulta uma força intermediária.
Assim, 768 recebe a ação de 192 e o resultado é 384, que é uma força intermediária. Toda
matéria que conduz uma força passiva é transformada em um estado superior por meio de uma
matéria que impulsiona uma força ativa, levando em conta uma possibilidade intermediária.
Mas a matéria superior na qual ela é transformada não é nem uma nem outra, mas uma terceira
matéria intermediária entre elas, que conduz uma força neutralizadora, desde que permaneça
dentro da esfera de influência das forças que a originaram.

Assim:

Ou, se dispomos esses números em ordem crescente de sutileza.

Se 192 não estiver presente, o 768 não pode alcançar o próximo estágio de evolução e
passar para 384. Nem o 192, atuando em 768, pode alcançar qualquer coisa que seja igual a ele
mesmo. Só pode criar algo que seja entre si e aquilo sobre o qual está trabalhando. De modo
que a ação superior sobre a inferior só pode transformar a inferior e levá-la a um estágio que
está além de onde estava, mas o nível da superior não é suficiente. E a inferior não pode alcançar
o próximo estágio, exceto pela influência de algo que é superior a ambas. Essa ideia é muito
profunda e não apenas explica muitas coisas que acontecem na vida, mas também muitas coisas
especiais, como a química do corpo.
Também explica, mas apenas em um sentido, o que é o Esoterismo. As idéias esotéricas,
o fogo e a luz que estão por trás delas e que um homem sente quando lhes dá o devido valor,
podem ser consideradas a esse respeito, e somente a esse respeito, como uma força ativa.
Trabalhando no Homem, tomando o Homem como Hidrogênio, cujo centro de gravidade
é 48, essas influências que vêm de um ponto mais alto na Oitava do Sol podem transformá-lo
ou "cozinhá-lo" até o nível 24. Mas, na realidade, as idéias esotéricas devem ser tomadas
primeiro com 12 - ou seja, em um nível mais alto do que o produto ou resultado. Porque quando
o Carbono 12 trabalha sobre a vida, é tomado como 48 e só pode dar origem a 24.
Vamos cuidar agora da área direita do Eneagrama, que está marcada com os números
384, 192 e 96, em séries progressivas na periferia. Muitas outras coisas podem ser organizadas
em torno da circunferência, além dos hidrogênios, mas custará menos discutir o movimento
invertido em termos de hidrogênios. Observe que nas linhas internas 384 é conectado com 96
e, em seguida, com 192. Algo vai para frente e depois para trás, em um movimento invertido.

A linha interna entre 384 e 96 aponta para alguma ação, alguma conexão, entre esses dois
pontos como o primeiro movimento. Em seguida, outra linha vai para a posição 192 como a
segunda direção. A ordem dessas conexões internas difere da ordem da série externa na
circunferência, a saber, 384, 192 e 96. Isto é, a circulação interna no Eneagrama assume uma
forma diferente da externa.
Nós acreditamos, é claro, que 384 tem que se tornar 192 e 96 de maneira regular. Mas
internamente, fora das aparências externas, funciona outro sistema, o que é muito estranho se
pararmos para refletir sobre esse particular.
Se examinarmos a circulação interna do Eneagrama, somos confrontados com o mistério
da vida, enquanto, examinando a série externa de números, vemos, talvez, o que corresponde
ao pensamento poderoso, mas errôneo, chamado pensamento a partir das aparências, dos
sentidos. . Note-se que o superior deve existir antes que o inferior possa sofrer uma
transformação.
Não é difícil de entender, uma vez que é percebido emocionalmente e o significado claro
do Raio da Criação é claramente reconhecido, porque nele o superior forma o inferior para que,
se o inferior busque transformar, o superior esteja esperando por tal transformação.
Essa é uma das razões pelas quais é conveniente parar e refletir com frequência sobre o
Raio no próprio pensamento interior. O raio é uma série de transformações, do mais sutil ao
mais grosseiro, do superior ao inferior.
Sobre o que é o Eneagrama? O Eneagrama descreve uma série de transformações do mais
baixo, do mais grosseiro ao mais sutil. Agora, para que o inferior possa ser transformado no
superior, ele deve ser passivo. Isto é, é necessário deixar trabalhar sobre si a influência superior.
De que outra forma o inferior poderia chegar a ser superior? De que outra forma os
alimentos que ingerimos poderiam ser cozidos e recozidos, transformar-se cada vez em
substâncias mais elevadas, a menos que estivessem submetidos aos seis estágios da digestão?
A digestão é transformação.
E para que as influências superiores do Trabalho atuem sobre um homem, em certo
sentido, é necessário que ele se torne passivo para elas e permita que elas ajam. Ele deve
perceber o que ele não pode fazer, mas também que a Mente Superior existe, caso contrário
ele estaria imerso em confusão.
Se ele não admite que haja algo maior do que ele, ou se acredita de alguma forma que ele
faz a si mesmo, ele não deixa nada trabalhe sobre ele e, portanto, não pode evoluir. Mas se é
passivo - isto é, capaz de ouvir e depois aceitar, no início não deve esperar ir além de seu próximo
estágio. Não pode cumprir todo o Trabalho.
Seria um erro acreditar nisso. Não pode alcançar as forças que o estão transformando. Se
refletir, verá que sempre deve haver algo superior ao homem, seja qual for o estágio em que
esteja, para que a evolução seja possível, da mesma forma que deve haver algo superior que é
inatingível.

Birdlip, 30 de abril, 1944.

O ENEAGRAMA XIV – NOVA NOTA SOBRE OS HIDROGÊNIOS

Muitas perguntas foram feitas sobre a posição dos hidrogênios nas oitavas. Existe, por
exemplo, o Hidrogênio 48 que é criado pela comida que comemos após as sucessivas
transformações que ele sofre dentro do corpo. Este é o Hidrogênio que usamos para o
pensamento comum e que coloca em operação a parte relativamente mecânica do Centro
Intelectual ou Mente. Com esse hidrogênio só podemos pensar em termos de sim ou não e,
assim, vemos que tudo é dividido em opostos irreconciliáveis. Quando pensamos com o
Hidrogênio 24, no entanto, temos uma imagem diferente das coisas, porque através de sua
energia psíquica vemos tudo de um modo mais puro, em uma interconexão muito mais sutil, de
modo que os rígidos opostos desaparecem e tudo parece fundido em uma maravilhosa
harmonia.
Agora, os hidrogênios 48 e 24 estão conectados com as notas Sol e La. O Sol 48 surge da
transformação de Do 768 em Re 384, depois em Mi 192, em Fa 96, em Sol 48, depois em La 24
e finalmente em Si 12. Agora suponhamos que a oitava de impressões seja colocada em
operação por um homem que vive por um curto período de tempo tão conscientemente quanto
possível
Aqui temos Do 48: aqui temos novamente um Hidrogênio de valor 48 mas na nota Do.
Este Hidrogênio por transformação dentro da mente desperta passa para Re 24. Agora há dois
48 e dois 24 - Do 48 e Sun 48 e La 24 e Re 24. Que diferença pode haver neste caso? Vamos
refletir sobre esse particular.
Suponhamos que alguém tenha cem soberanos de ouro e os divida em duas partes. Ele
decide depositar metade dos soberanos de ouro no Banco e usar a outra metade para pagar as
dívidas. Agora, os soberanos de ouro são exatamente os mesmos quando se trata de sua
matéria, mas seu destino e potencialidades são completamente diferentes. O ouro que é
depositado no Banco pode ser acumulado, enquanto o ouro usado para pagar as dívidas
desaparece, e certamente o que se pensa sobre as duas somas é muito diferente.
E creio que você concordará comigo que os sentimentos sobre os 50 soberanos que serão
depositados no Banco são muito mais saudáveis do que aqueles com os quais você pagará sua
dívida. E da mesma forma as emoções que são sentidas através do Re 24 são muito mais
saudáveis do que aquelas que são sentidas através do La 24.
É sabido que todas as coisas capazes de se transformar muitas vezes têm certa qualidade,
frescor e vitalidade, como os brotos, enquanto as coisas que estão quase acabadas, que estão
prestes a completar o curso, são muito diferentes. Re 24 está em uma posição anterior na Oitava
em relação a La 24. Entre Do e Do uma oitava completa é estendida. Na verdade, o novo Do
inicia uma nova Oitava. Desenvolvemos-nos a partir de uma célula que passa para o estado Si.
Nascemos na forma de bebês e começamos um novo Do. A Oitava que abandonamos que havia
começado com a célula fertilizada como Do, é agora completamente estranha para nós. Nós nos
tornamos velhos e depois somos jovens novamente. É por isso que Mi 12 é mais jovem que Si
12 e Re 24 mais jovem que La 24. Em geral, é necessário entender que a mesma matéria pode
estar sob diferentes potencialidades e destinos de acordo com sua relação com as coisas que a
cercam. "No país dos cegos, o homem de um olho é o rei."
Se vocês têm dificuldade em entender os hidrogênios e seus relacionamentos, é suficiente
examinar o mundo exterior e ver como as coisas são de diferentes materialidades, e tem
diferentes destinos, como elas podem ser classificadas pelo seu uso, e como não há nada
independente e tudo está relacionado uns aos outros, como uma coisa depende da outra, e
como sua significância muda de acordo com as circunstâncias, de modo que uma coisa em um
dado momento pode ser muito importante e no momento seguinte é completamente
irrelevante.
Todos vocês sabem que no mundo exterior existem coisas melhores e piores, mais
refinadas e mais grosseiras, mais raras e mais comuns. Sabem a diferença entre coisas de
qualidade superior e aquelas de qualidade inferior.
Todos vocês sabem o que significa refinamento, o que significa a separação. São capazes
de distinguir entre a grande literatura e a literatura comum. Por que, então, é tão difícil entender
quais são os Hidrogênios que trabalham sobre o aparato psíquico do homem, sobre sua mente
e células, sobre seus centros, seja de uma maneira pior, ou de uma maneira melhor?
Eu acho que a dificuldade é que você não tentou entender os diagramas simples e,
portanto, permanece em um estado de confusão, simplesmente por não ter tentado produzir
em você o simples choque de entender o significado geral dos diagramas. Antes de qualquer
coisa, é necessário usar o Hidrogênio 48 - isto é, tentar concentrar-se nesses diagramas com o
centro formatório para que fiquem gravados na mente. Então, uma vez que os diagramas
estejam estabelecidos, ao pensar sobre seu significado e ouvir alguns dos comentários, eles
terão momentos em que verão seu significado mais profundamente e isso significa que o
Hidrogênio 24 começará a agir em sua compreensão. Às vezes isso acontece de repente, como
um lampejo repentino, e a esse respeito vou citar um exemplo que ouvi no outro dia:
O matemático Hamilton, que por muitos anos procurava maneiras de multiplicar duas
grandezas bidimensionais, enquanto caminhava pelo campo de repente viu a solução, que veio
sobre ele "como se de repente um circuito tivesse fechado em sua mente e produzido um
relâmpago brilhante”. Sua surpresa foi tal que, com um canivete, ele esculpiu a fórmula que
acabara de ver nas pedras de uma ponte próxima.
Isto é ver um problema por meio de um hidrogênio superior no Centro Intelectual. Esta
é uma prova definida entre centenas de outros exemplos de que a mente é capaz de trabalhar
em diferentes níveis.
Se vocês entendem, então compreenderão o que significam os diferentes hidrogênios, e
se vocês nunca experimentaram tal coisa em relação aos seus estados e à qualidade de seus
sentimentos ou à compreensão de sua própria mente, isso é porque vocês nem sequer deram o
Primeiro Choque Consciente em um grau mínimo, que permite ao homem alcançar novas
influências.
Tem sido perguntado muitas vezes porque o hidrogênio superior aparece na parte mais
baixa da fábrica de 3 andares. É necessário que todos entendam que esses diferentes andares
não têm, para o homem comum, o significado de inferior ou superior. O homem tal qual é só
usa o Hidrogênio 48 no andar superior, enquanto o Centro Motor e o Centro Instintivo
trabalham com o Hidrogeio 24
Isso significa simplesmente que o trabalho realizado no primeiro andar é infinitamente
mais inteligente do que o trabalho realizado no terceiro andar. Aquele Hidrogênio 12 está na
nota Si, isso significa que ele só pode fazer uma coisa.
O que é esse hidrogênio 12 nesse ponto da Oitava? É o Hidrogênio relacionado à
possibilidade de algo se unir com seu oposto correspondente e, assim, iniciar uma nova oitava.
Este hidrogênio de vida muito elevada contém a possibilidade de produzir um novo Do - isto é,
de iniciar algo completamente novo - uma nova Oitava. O choque entre Si e Do é
particularmente cuidado pelas influências cósmicas que tendem a manter a constante
multiplicação da vida na Terra. Portanto, é de perguntar-se o que significa o Mi12 e que
descendência é capaz de produzir. Lembre-se de que o Mi 12 não é produzido mecanica, natural
e ordinariamente. Se uma pessoa se dá o Primeiro Choque Consciente, o choque da Lembrança
de s-, o choque de todo o Trabalho, começa a transformar seu contato diário com a vida e não
toma as coisas como fazia antes, sente profundamente que sempre faz outra coisa que está
relacionada a algo que gradualmente se torna mais importante, então pode produzir o
Hidrogênio 12 no ponto Mi da Oitava - é Mi 12. Este Mi 12 criará algo como um filho a quem
terá que cuidar com muito cuidado se quiser permanecer no Trabalho. O que é essa criança
criada por Mi 12? É algo completamente novo para essa pessoa. Precisa prestar atenção a essa
coisa recém-nascida que é o começo de um renascimento.
Essa coisa nova, essa criança, pode facilmente morrer se você adormecer. Quando essa
criança existe em um homem ou uma mulher, você tem que dar-lhe a comida adequada e você
tem que cuidar muito dele. Claro, você não pode ver essa criança externamente, e devemos
lembrar que essa criança nascida em si mesmo, na relação que se tem com o Trabalho, essa
criança que tanto um homem quanto uma mulher podem ter, aparece na nota. Mi. Não está em
Si, onde deve se tornar instantaneamente outra coisa. Essa criança invisível está na nota Mi e,
portanto, em um lugar onde falta um semitom, de um modo muito semelhante à criança nascida
em Si 12. Agora, está claro que a criança nascida em Si 12 deve receber um choque. Mas que
tipo de choque é necessário para a criança nascida em Meus 12 ir além do ponto onde um
semitom está faltando?
Quantas vezes as pessoas dão origem a uma criança que elas matam porque não têm nem
a força nem a profundidade do sentimento e do propósito necessários para levar a criança além
do seu nível normal. Quantas sementes de esperma semeiam o trabalho. Quantas vezes as
pessoas tiveram um filho no Trabalho - quero que compreendam que eu me refiro àquelas
crianças invisíveis nascidas na própria compreensão. - e quantas vezes essas crianças, como suas
contrapartes na vida, sofrem de escorbuto, febre tifóide, etc. o que acontece quando as pessoas
se tornam negativas no trabalho.
. O poder da concepção do homem na esfera espiritual - isto é, em pensamento e
sentimento - é muito fraco, especialmente quando um homem ou uma mulher é deixado por
um tempo sem ajuda, sem ser elogiado ou sem prestar atenção.
Neste trabalho, é necessário manter algo invisível em atividade, apesar de todas as
dificuldades externas. Nos Evangelhos chama-se Fé: no Trabalho é o trabalho sobre si mesmo
em relação ao próprio fim. Lembre-se que foi dito que era necessário lutar pelo Trabalho. Em
todos os momentos, os "eus" negativos, fundados na vida sensual, presentes na cena visível,
atacam-na. Se não se tem, dentro de si a capacidade da concepção interior, do pensamento e
do sentimento interior, o Trabalho cairá ao longo do caminho ou em um pedregal, e quando o
calor do sol for muito forte, a pequena coisa que nasceu em você da Semente espermática do
Trabalho, murchará - isto é, as crianças nascidas de Mi 12 continuarão a morrer. Haverá um
período de entusiasmo e, então, quando alguém se sentir agravado, não tendo nenhum poder
de concepção interior real, seus filhos morrerão.
É uma coisa estranha refletir sobre o que significa manter o Trabalho vivo e jovem em nós
mesmos. Por certo, isso não será possível se apenas a evidência dos sentimentos for examinada
e considerada uma prova. Algo fez aquele escritor desconhecido, a quem se sipõe uma mulher,
dissera em Hebreus (XI, 1): "É, portanto, fé a certeza do que é esperado, a convicção do que não
é visto". Agora que você chegou a entender algo e ver sua verdade em sua própria mente, você
quer ter o apoio, a convicção do que você não vê? Você quer que as pessoas concordem com
você ou você é forte o suficiente para passar pelo teste de coisas externas e visíveis? Se você
não é forte o suficiente para conceber uma criança em sua própria mente e mantê-la viva, para
manter aquela coisa recém-nascida em si, então, a essa coisa só resta morrer de fome.
Toda vez que se põe em relação os pensamentos, que vê novos significados, que aplicam
o Trabalho a si mesmo, que observa o que está dizendo, que vê sua própria mecanicidade, que
se separa das emoções negativas, que não se deixa levar pelos "Eus" fracos, tolos ou perigosos
- em suma, cada vez que ocorre o Primeiro Choque Consciente, o Choque deste Trabalho -
alimenta a criança que é o seu novo ser.

Birdlip, 6 de mayo, 1944.

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