Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
Fernanda Moi 1
1. CONCEITO
1 Enunciado 194 do CJF – Art. 966: Os profissionais liberais não são considerados empresários, salvo se a organização
dos fatores da produção for mais importante que a atividade pessoal desenvolvida.
Enunciado 195 do CJF – Art. 966: A expressão “elemento de empresa” demanda interpretação econômica, devendo ser
analisada sob a égide da absorção da atividade intelectual, de natureza científica, literária ou artística, como um dos
fatores da organização empresarial.
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 2
2. ELEMENTOS
✓ Elementos Gerais: art. 104, CC - livre manifestação de vontade, objeto lícito
possível e determinado, ou pelo menos determinável (vide art. 35, I, Lei n. 8934/1994) e forma
prescrita ou não defesa em lei.
✓ Elementos Específicos: são tais elementos que dão tom societário ao ato jurídico.
São eles: contribuição para a formação do capital social (arts. 1004 e 1005, CC), participação
nos lucros e perdas (arts. 1007 e 1008, CC) e affectio societatis (Rizzardo entende que não há
que se falar em affectio societatis nas sociedades anônimas, em especial nas abertas). Para
alguns autores, a pluralidade de sócios também é elemento essencial a pluralidade de sócio, a
exemplo de Rubens Requião. Em regra, no ordenamento jurídico brasileiro, exige-se, pelo
menos, duas pessoas para constituição das sociedades, havendo, todavia, exceções legais (art.
1033, IV, CC; art. 251, Lei n. 6404/1976; Lei n. 13.247/2016 - sociedade unipessoal de
advocacia).
De acordo com art. 997, CC, a sociedade pode constituir-se mediante contrato escrito,
particular ou público, que, além das cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará nome, domicílio,
capital social, cotas de cada sócio, objeto social, forma de administração, prazo de existência e
processo de liquidação. Tal ato constitutivo, para fins de aquisição de personalidade jurídica
própria, deve ser registrado no órgão competente (Junta Comercial ou Cartório de Registro de
Pessoas Jurídicas - e OAB, em caso de escritório de advocacia), no prazo de 30 dias (art. 1.151, §
1º, do CC, combinado com o art. 36 da Lei nº 8.934/1994).
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 3
3.1 TEORIAS:
✓ Anticontratualista: não sendo possível adequar o ato constitutivo das sociedades
aos contratos bilaterais, alguns autores desvinculam-se da teoria contratualista, entendendo a
natureza jurídica do ato constitutivo como ato unilateral. A partir disso, desenvolveram teorias
do ato coletivo e do ato complexo. Para a teoria do ato coletivo, o ato constitutivo da sociedade
é ato unilateral formado pela união de várias vontades parciais que formariam o ato constitutivo,
sendo que tais vontades parciais continuam individuais. Para a teoria do ato complexo, o ato
constitutivo da sociedade seria um ato unilateral formado pela união de vontades para a
consecução de um objetivo comum, sendo que tais vontades se fundem e perdem sua
individualidade. Fortemente criticadas, sobretudo no que se refere ao fato de que a vontade dos
sócios não são paralelas e pelo fato de que existe uma finalidade comum; todavia, o
antagonismo se encontra presente em toda a vida da sociedade.
✓ Contratualista: mérito de Tullio Ascarelli a revitalização da teoria contratualista ao
demonstrar a existência dos contratos plurilaterais, onde várias partes coexistem e se dirigem a
um objetivo comum, sendo que tais atos constituivos se caracterizam como contratos de
organização, apresentando função instrumental, “não terminando com o cumprimento das
obrigações básicas das partes, antes constituindo estas a premissa de uma atividade ulterior”. A
doutrina do contrato plurilateral é, hoje, a doutrina majoritária.
✓ Ato corporativo, ato de fundação ou ato de união: as declarações dos sócios não
têm validade, se consideradas individualmente, pois constituem uma antecipação da
manifestação de vontade do novo ente que vai surgir, não representando a vontade dos sócios.
✓ Institucional: teoria adotada pela Lei n. 6404/1976, art. 116, parágrafo único, para o
qual “o acionista controlador deve usar o poder com o fim de fazer a companhia realizar o seu
objeto e cumprir sua função social, e tem deveres e responsabilidades para com os demais
acionistas da empresa que nela trabalham e para com a continuidade em que atua, cujos direitos
e interesses devem lealmente respeitar e atender”.
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 4
4. PERSONALIDADE JURÍDICA
A sociedade, simples ou empresária, adquire personalidade jurídica ao se registrar no
órgão competente. De acordo com Caio Mário apud Tomazzete (2016, pág. 231), personalidade
jurídica é a aptidão genérica para adquirir direitos e contrair obrigações.
A DESCONSIDERAÇÃO DA
PERSONALIDADE JURÍDICA
NÃO IMPLICA NA NULIDADE
DE SEU ATO CONSTITUTIVO,
TAMPOUCO NA DISSOLUÇÃO
Referida teoria foi aplicada, pela primeira vez, na Inglaterra, no final do séc. XIX, com
o leading case Caso Salomon × Salomon Co. em 1897, na Inglaterra. Aaron Salomon era um
próspero comerciante individual na área de calçados que, após mais de 30 anos, resolveu constituir
uma limited company (similar a uma sociedade anônima fechada brasileira), transferindo seu fundo
de comércio a tal sociedade. Em tal companhia, Aaron Salomon tinha 20 mil ações, e outros seis
sócios, membros de sua família, apenas uma cada um. Além das ações, ele recebeu várias
obrigações e garantias, assumindo a condição de credor privilegiado da companhia. Em um ano, a
companhia mostrou-se inviável, entrando em liquidação, na qual os credores sem garantia restaram
insatisfeitos. A fim de proteger os interesses de tais credores, o liquidante pretendeu uma
indenização pessoal de Aaron Salomon, uma vez que a companhia era ainda a sua atividade pessoal,
pois os demais sócios eram fictícios. O juízo de primeiro grau e a Corte de Apelação
desconsideraram a personalidade da companhia, impondo a Salomon a responsabilidade pelos
débitos da sociedade. Tal decisão foi reformada pela Casa dos Lordes, que prestigiou a autonomia
2 Enunciado 51 do CJF: A teoria da desconsideração da personalidade jurídica – disregard doctrine – fica positivada
no novo Código Civil, mantidos os parâmetros existentes nos microssistemas legais e na construção jurídica sobre o
tema.
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 6
Para a teoria maior, não basta descumprimento de obrigação por parte da pessoa
jurídica. É necessário que tal descumprimento decorra de desvio de sua função, quando o seu uso se
afaste dos fins para os quais tal pessoa jurídica foi criada. No entanto, em vista da gravidade de sua
aplicação, a desconsideração da personalidade jurídica, para ser aplicada, deve observar
determinados parâmetros. No entanto, existe discussão doutrinária no sentido de quais seriam tais
parâmetros, ou fundamentos, para a aplicação da teoria maior da desconsideração da personalidade
jurídica. Assim,
!
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 7
3Vide REsp 279.273 - “a teoria menor da desconsideração, acolhida em nosso ordenamento jurídico excepcionalmente
no Direito do Consumidor e no Direito Ambiental, incide com a mera prova de insolvência da pessoa jurídica para o
pagamento de suas obrigações, independentemente da existência de desvio de finalidade ou de confusão patrimonial.
Para a teoria menor, o risco empresarial normal às atividades econômicas não pode ser suportado pelo terceiro que
contratou com a pessoa jurídica, mas pelos sócios e/ou administradores desta, ainda que estes demonstrem conduta
administrativa proba, isto é, mesmo que não exista qualquer prova capaz de identificar conduta culposa ou dolosa por
parte dos sócios e/ou administradores da pessoa jurídica”
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 8
Criticado pela doutrina pois o legislador não fez as devidas distinções entre hipóteses de
aplicação da desconsideração da personalidade jurídica e imputação direta de responsabilidade
decorrente da prática de atos ilícitos. Nesse sentido,
A responsabilidade do administrador sob a Lei 6.024/74 não se confunde a
desconsideração da personalidade jurídica. A desconsideração exige
benefício daquele que será chamado a responder. A responsabilidade, ao
contrário, não exige este benefício, mas culpa. Desta forma, o administrador
que tenha contribuído culposamente, de forma ilícita, para lesar a
coletividade de credores de uma instituição financeira, sem auferir benefício
pessoal, sujeita-se à ação do art. 46 Lei 6.024/74, mas não pode ser atingido
propriamente pela desconsideração da personalidade jurídica. Recurso
Especial provido (REsp 1.036.398/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3.ª
Turma, j. 16.12.2008, DJe 03.02.2009).
4 O art. 50 do Código Civil é a regra básica sobre a desconsideração da personalidade jurídica no direito brasileiro,
sendo de aplicação obrigatória, portanto, a todos os casos de desconsideração da personalidade jurídica, exceto para as
situações regidas por leis especiais. Nesse sentido, dispõe o Enunciado 51 do CJF: “a teoria da desconsideração da
personalidade jurídica – disregard doctrine – fica positivada no novo Código Civil, mantidos os parâmetros existentes
nos microssistemas legais e na construção jurídica sobre o tema”
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 9
• Lei de Crimes Ambientais (Lei n. 9605, art. 4º) e Lei Anti-Truste (Lei n. 12.529,
art. 34): as críticas feitas pela doutrina são no mesmo sentido das feitas ao disposto no Código
de Defesa do Consumidor.
• Para STJ, não é necessária a citação do sócio, sendo suficiente a sua intimação,
sobretudo quando o processo encontra-se na fase de cumprimento de sentença (Informativo 501);
• (Des)Necessidade de se demonstrar a insolvência: para Enunciado 218, CJF; para STJ
(Resp 1.141.447-SP);
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 11
5 No Brasil, é comum que as sociedades anônimas fechadas assumam feição personalista, por meio de regras
estatutárias, como as que impõem a limitação de circulação de ações nominativas (art. 36 da LSA) ou por meio de
acordos de acionistas (art. 118 da LSA), sendo que a jurisprudência consolidada do STJ, a partir do EREsp 111.294/PR,
relatado pelo Ministro Castro Filho, e do EREsp 419.174/SP, relatado pelo Ministro Aldir Passarinho Junior, está em
consonância com a doutrina atual, que há tempos não adota mais a tese segundo a qual toda sociedade anônima é
necessariamente uma sociedade de capital. Assim, em cada caso devem-se analisar os aspectos estatutários e contratuais
para aferir se a sociedade anônima fechada ostenta feição capitalista (vínculo intuitu pecuniae) ou feição personalista
(vínculo intuitu personae). Da mesma forma, deve-se analisar atentamente o contrato social da sociedade limitada para
aferir se ela ostenta feição capitalista (vínculo intuitu pecuniae) ou feição personalista (vínculo intuitu personae).
(RAMOS: 2017, pág. 268)
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 14
Morte ou incapacidade dos sócios pode A morte ou incapacidade dos sócios não influi
gerar a dissolução total ou parcial da na vida da sociedade
sociedade
Não admite a participação de incapazes Admite a participação de incapazes
Admite a exclusão de sócios pela Não admite exclusão pela simples quebra da
quebra da affectio societatis affectio societatis
Que tenha como objeto a subscrição para revenda e a distribuição de títulos ou valores
mobiliários (art. 3, III, Lei 4728);
Corretora de título financeiro (art. 3, II, Lei 472), etc.
1098, I, CC). As controladas indiretas, por sua vez, são aquelas cujo controle se encontra nas
mãos de outra(s) sociedade(s) controlada(s) por uma terceira (art. 1098, II, CC).
• Filiada é a sociedade cujo capital (10% ou mais) pertence a outra que, no entanto,
não a controla (art. 1099, CC).
• Simples participação: quando outra sociedade possui menos de 10% de capital
com direito a voto (art. 1100, CC).
"
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 19
1. DA SOCIEDADE EM COMUM
Referência Legislativa: arts. 986 a 990 (CC).
Para Arnaldo Rizzardo são aquelas que ainda estão em seu processo de constituição, não
tendo, ainda, levado seu registro ao órgão competente, não possuindo, desde modo, personalidade
jurídica própria.
Art. 986: aplica-se subsidiariamente os dispositivos da sociedade simples no
que couber, enquanto não registrada.
Art. 989: bens respondem pelos atos praticados pelos sócios, salvo se
expressa a limitação, tendo eficácia somente perante terceiros.
A partir do momento em que os sócios decidem constituir uma sociedade, esta já existe,
embora ainda não tenha personalidade jurídica própria. Deste modo, não há que se confundir
sociedade em comum com sociedade irregular e sociedade de fato pois, na sociedade de fato,
referida sociedade não tem contrato escrito; na sociedade irregular, a sociedade possui contrato e
registro, atuando normalmente; no entanto, apresenta irregularidades; a sociedade em comum, por
fim, é sociedade contratual em formação, ou seja, possui contrato escrito que ainda será levado a
registro no órgão competente. Observe-se que não há impedimento para que se utilizem as normas
da sociedade em comum às sociedades de fato e irregulares por analogia, sendo este o teor do
Enunciado n. 383, CJF: “a falta de registro do contrato social (irregularidade originária -art. 998)
ou de alteração contratual versando sobre matéria referida no art. 997 (irregularidade superveniente
- art. 999, parágrafo único) conduzem à aplicação das regras da sociedade em comum (art. 986)”.
Para se provar a existência da sociedade há que se observar a regra do art. 987, ou
seja, terceiros podem provar sua existência por qualquer meio de prova admitido em Direito; os
sócios, por sua vez, somente por escrito.
No que se refere à responsabilidade dos sócios em relação às obrigações sociais, em
regra, observa-se a regra contida no art 1024, segundo o qual: “os bens particulares dos sócios não
serão executados por dívidas da sociedade, senão depois de executados os bens sociais”. No
entanto, referida regra exige que a pessoa jurídica possua personalidade jurídica própria, o que,
conforme visto, só se adquire com registro dos atos constitutivos no órgão competente. Deste modo,
em razão da ausência de personalidade jurídica própria, a responsabilidade dos sócios, pelas
obrigações contraídas, será ilimitada e subsidiária, para os sócios em geral; e, ilimitada e direta para
o sócio que contratou pela sociedade (art. 990). Quando se fala em solidariedade pelas obrigações
sociais, fala-se que os sócios responderão, eventualmente, com seu patrimônio pessoal. Já, entre
sócios e sociedade, a responsabilidade é subsidiária, ou seja, primeiro os bens que integram o
patrimônio especial serão executados, ou seja, aqueles bens que foram afetados para a exploração
da atividade. Neste sentido, tem-se o Enunciado 210 das Jornadas de Direito Civil do CJF, para
o qual “o patrimônio especial a que se refere o art. 988 é aquele afetado ao exercício da atividade,
garantidor de terceiro, e de titularidade dos sócios em comum, em face da ausência de
personalidade jurídica”. No mesmo sentido, Enunciado 212 das Jornadas de Direito Civil do
CJF: “embora a sociedade em comum não tenha personalidade jurídica, o sócio que tem seus bens
constritos por dívida contraída em favor da sociedade, e não participou do ato por meio do qual foi
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 21
contraída a obrigação, tem o direito de indicar os bens afetados às atividades empresariais para
substituir a constrição”.
Para resguardar terceiros, o patrimônio especial, como visto, responde pelos atos de
gestão, desde que praticados dentro dos poderes que lhes foram atribuídos, ou seja, em relação aos
atos que extrapolam os poderes atribuídos, só haverá vinculação no caso de terceiro de boa-fé, isto
é, se o terceiro não conhecia nem devia conhecer a limitação de poderes (art. 989).
Ainda que não tenha personalidade jurídica, não gozando, assim, de determinados
benefícios legais, tem capacidade processual e se sujeita à falência.
Art. 984. A sociedade que tenha por objeto o exercício de atividade própria
de empresário rural e seja constituída, ou transformada, de acordo com um
dos tipos de sociedade empresária, pode, com as formalidades do art. 968,
requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da sua sede,
caso em que, depois de inscrita, ficará equiparada, para todos os efeitos, à
sociedade empresária.
Parágrafo único. Embora já constituída a sociedade segundo um daqueles
tipos, o pedido de inscrição se subordinará, no que for aplicável, às normas
que regem a transformação.
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 24
1. SOCIEDADE SIMPLES
REFERÊNCIA LEGISLATIVA: CC – arts. 997 a 1038
Nasceu com o Código Civil italiano com dupla finalidade, quais sejam, distinguir-se das
sociedades empresárias e servir de referência legislativa para os demais tipos societários, exceto
para as sociedades por ações.
Como já visto, é a sociedade que tem como objeto a exploração de atividade econômica
não organizada, que presta serviço específico, de caráter artístico, científico ou literário (parágrafo
único, art. 966). São exemplos as sociedades uniprofissionais e a sociedade cujo objeto constitui
atividade econômica rural, onde seus sócios optaram pelo registro no Cartório e não na Junta
Comercial (art. 984). A sociedade simples, por força do art. 983, pode adotar qualquer tipo
societário admitido em lei, exceto das sociedades por ações. Caso não adote nenhum tipo societário
autorizado por lei, se subordinará às normas que lhe são próprias, a chamada sociedade simples
pura7.
Esse rol elenca as cláusulas essenciais, mas não se configura como sendo um rol
taxativo, de acordo com entendimento do Enunciado n. 214, III Jornada de Direito Civil do CJF:
"As indicações contidas no art. 997 não são exaustivas, aplicando-se outras exigências contidas na
legislação pertinente, para fins de registro”.
O contrato social deve ser escrito e levado a registro no prazo de 30 dias (arts. 998 e
1150).
Art. 998. Nos trinta dias subseqüentes à sua constituição, a sociedade deverá
requerer a inscrição do contrato social no Registro Civil das Pessoas Jurídicas do
local de sua sede.
De acordo com I, art. 997, o contrato social deve qualificar os sócios que, para parte da
doutrina, podem ser tanto pessoas naturais quanto jurídicas. Para outros autores, por sua vez, em
vista das especificidades de tal sociedade (sociedade simples pura / de pessoas), somente pessoas
naturais podem integrar o quadro societário da sociedade simples.
Após a devida qualificação, deve-se observar se existem impedimentos para a
participação na sociedade, devendo o contrato qualificar, posteriormente, a própria sociedade
(sociedade simples adota denominação, de acordo com art. 1155, parágrafo único). Neste sentido,
tem-se o Enunciado 213, Jornadas de Direito Civil do CJF: “o art. 997, inciso II, não exclui a
possibilidade de sociedades simples utilizar firma ou razão social”. Para André Luiz Santa Cruz
Ramos, a sociedade simples pura pode usar denominação ou firma social (neste caso, usando o
nome civil dos sócios).
A sociedade simples, como visto, presta serviço específico, onde não se tem a
organização dos fatores de produção (parágrafo único, art. 966), sendo que sua sede definirá o
Cartório onde ela será registrada e o prazo definirá o período de duração da sociedade, se de prazo
determinado ou indeterminado.
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 26
• Deveres:
Com a assinatura do contrato social os sócios assumem direitos e deveres perante a
sociedade e os próprios sócios. Em regra, tais obrigações se iniciam com a assinatura do contrato,
salvo se for designada, em contrato, outra data; tais direitos e deveres perdurarão até a liquidação da
referida sociedade (art. 1001).
Como visto, uma das principais obrigações dos sócios é a integralização das cotas
subscritas, contribuindo, assim, para a formação do capital social, participando, assim, nos lucros e
nas perdas na proporção de suas cotas. Ressalte-se que é considerada nula a cláusula contratual que
exclua sócio de participação nos lucros ou nas perdas (arts. 1007 e 1008).
Além do dever de contribuir com a formação do capital social, deve o sócio agir de
acordo com os interesses sociais, não concorrendo com a sociedade da qual faz parte. Ademais, a
sociedade simples, como visto, se caracteriza como sendo uma sociedade de pessoas, onde é forte a
questão da affectio societatis, sendo que o vinculo formado entre os sócios é intuito personae. Deste
modo, o art. 1002 dispõe que o sócio não pode ser substituído no exercício de suas funções, sem o
consentimento dos demais sócios. Na mesma linha, de acordo com art. 1003, eventual cessão de
cotas, total ou parcial, sem a correspondente alteração contratual e sem o consentimento dos demais
sócios, não terá eficácia.
Por fim, o sócio que se retira da saciedade continua solidariamente responsável perante
terceiros e perante a própria sociedade por até dois anos depois de averbada a modificação do
contrato, sendo esse o teor do disposto no art. 1032, para o qual: “a retirada, exclusão ou morte do
sócio, não o exime, ou a seus herdeiros, da responsabilidade pelas obrigações sociais anteriores, até
dois anos após averbada a resolução da sociedade; nem nos dois primeiros casos, pelas posteriores e
em igual prazo, enquanto não se requerer a averbação”.
• Direitos
Os direitos dos sócios, com a integralização das cotas, são de ordem pessoal e
patrimonial. Os direitos de cunho patrimônio são os eventuais direitos de crédito contra a sociedade,
seja na participação dos lucros ou no acervo social em caso de liquidação. É direito eventual pois
subordina-se às outros fatores, como a realização de lucros, por exemplo.
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 28
Além dos direitos de ordem patrimonial, os sócios também possuem direitos de ordem
pessoal, como a fiscalização dos atos de administração, a administração da sociedade, o direito de
se examinar os livros e documentos em qualquer tempo, direito de voto (arts. 1020 e 1021).
8 STJ – 3a Turma – Resp 221.625/SP, Relatora Ministra Fátima Nancy Andrighi, DJ de 7/5/2001.
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 29
quotas penhoradas for muito alto (superar os lucros e reservas) ou puder colocar em risco a
estabilidade financeira da sociedade.
Busca-se, assim, exercício do direito de preferencia dos demais sócios, adquirindo as
cotas penhoradas; caso isso não ocorra, a própria sociedade pode adquirir tais cotas; não podendo
ou não querendo a sociedade adquiri-las, deve-se proceder à sua liquidação, excluindo-se o sócio de
pleno direito e realizando-se o pagamento de sua apuração de haveres em juízo, devendo, para
tanto, ser apresentado balanço especial. Tomazzete posiciona-se no sentido de que ainda é possível
uma espécie de usufruto das cotas, com depósito dos lucros em juízo.
estranhas aos negócios da sociedade; (d) não se aplica o art. 1.015 às sociedades por ações, em
virtude da existência de regra especial de responsabilidade dos administradores (art. 158, II, Lei n.
6.404/76)”.
Já, caso o administrador aja com culpa no desempenho de suas funções, eles
responderão solidariamente perante a sociedade e terceiros prejudicados, de acordo com art. 1016.
Ainda no que se refere aos administradores, estes deverão prestar contas de sua
administração e apresentar inventário anula, balanço patrimonial e resultado econômico
• morte do sócio: a ação poderá ser proposta pelo espólio ou por seus sucessores,
sendo que a própria sociedade poderá ajuizar ação para obter o ingresso do espolio ou dos
herdeiros na sociedade, desde que haja autorização contratual nesse sentido.
• direito de retirada: próprio sócio terá legitimidade para propor ação, bem como
para reconhecimento de vínculo e apuração de haveres. Para obter a dissolução parcial, o sócio
só poderá ajuizar a ação se a alteração contratual consensual formalizando o seu desligamento,
não foi formalizada depois de transcorridos 10 (dez) dias do exercício do direito. Com ou sem
tal formalização, a ação poderá ser ajuizada para buscar a apuração de haveres. O cônjuge ou
companheiro do sócio cujo casamento, união estável ou convivência terminou poderá requerer a
apuração de seus haveres na sociedade, que serão pagos à conta da quota social titulada por este
sócio.
• exclusão: ação poderá ser proposta pelo sócio excluído para discutir sua exclusão ou
buscar a apuração de haveres, sendo que a própria sociedade poderá ajuizar referida acho para
obter a exclusão quando não for possível a exclusão extrajudicial. Quando a sociedade dor
autora, a ação será ajuizada em face do sócio excluido, sendo possível litisconsórcio ativo com
os demais sócios.
sociedade perde a sua personalidade jurídica. Vale destacar: a falência não enseja a extinção das
sociedades, mas sim a dissolução de pleno direito. Com a aprovação das contas, encerra-se a
liquidação e extingue-se a sociedade, averbando-se a ata da assembleia no registro próprio. Feito
isso, a sociedade perde a sua personalidade jurídica. Importante destacar que a falência não enseja a
extinção das sociedades, mas sim a dissolução de pleno direito.
(GUSMÃO, Mônica. Lições de Direito Empresarial, 12ª edição. Forense, 06/2015. VitalBook file).
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 37
CONCEITO: art. 1045: sócio comanditado sempre pessoa física. Duas espécies de
sócios: comanditado/responsabilidade ilimitada e comanditário/responsabilidade limitada.
Art. 1046: sempre que compatíveis as normas da sociedade em nome coletivo se aplica
à sociedade em comandita simples.
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 39
(CESPE – TJDFT – Juiz – 2016) Assinale a opção correta acerca das sociedades
personificadas, de acordo com o Código Civil.
(A) Na sociedade em nome coletivo, o uso da firma é privativo, nos limites do contrato, dos que
tenham os necessários poderes para usá-la; na sociedade em comandita simples, não pode o nome
do sócio comanditário constar na firma social, sob pena de ficar sujeito às mesmas
responsabilidades de sócio comanditado.
(B) Assim como o sócio comanditário na sociedade em comandita simples, o sócio pessoa física da
sociedade em nome coletivo, como regra geral, responde solidária e ilimitadamente pelas
obrigações sociais.
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 40
(C) Na sociedade simples, não constitui causa de dissolução de pleno direito da sociedade a não
reconstituição, no prazo de cento e oitenta dias, da pluralidade de sócios, ao contrário do que
acontece no regime da sociedade limitada.
(D) A sociedade simples constitui-se mediante contrato escrito, na forma pública ou particular. A
sociedade limitada, porém, constitui-se apenas com observância de forma pública.
(E) É obrigatório constar a firma social nos contratos da sociedade simples.
(RAMOS, André Luiz Cruz. Direito Empresarial, 7ª edição. Método, 03/2017. VitalBook file).
"
(RAMOS, André Luiz Cruz. Direito Empresarial, 7ª edição. Método, 03/2017. VitalBook file).
5. SOCIEDADE COOPERATIVA
REFERÊNCIA LEGISLATIVA: arts. 1093 a 1096, CC e Lei n. 5764/1971
11 Direito econômico. Livre concorrência. (…). UNIMED. Cooperativa de saúde. Submissão irrestrita às normas
jurídicas que regulam a atividade econômica. Cláusula de exclusividade para médicos cooperados. Impossibilidade
tanto sob o aspecto individual quanto sob o aspecto difuso. Inaplicabilidade ao profissional liberal do § 4.º do artigo 29
da Lei n. 5.764/71, que exige exclusividade. Causa de pedir remota vinculada a limitações à concorrência. Violação,
pelo Tribunal de origem, do art. 20, incisos I, II e IV; do art. 21, incisos IV e V, ambos da Lei n. 8.884/94, e do art. 18,
inciso III, da Lei n. 9.656/98. Infrações ao princípio da livre concorrência pelo agente econômico configuradas. (…) 2.
A Constituição Federal de 1988, ao tratar do regime diferenciado das cooperativas não as excepcionou da observância
do princípio da livre concorrência estabelecido pelo inciso IV do art. 170. 3. A causa de pedir remota nas lides relativas
à cláusula de exclusividade travadas entre o cooperado e a cooperativa é diversa da causa de pedir remota nas lides
relativas a direito de concorrência. No primeiro caso, percebe-se a proteção de suposto direito ou interesse individual;
no segundo, a guarda de direito ou interesse difuso. Portanto, inaplicáveis os precedentes desta Corte pautados em
suposto direito ou interesse individual. 4. Ao médico cooperado que exerce seu labor como profissional liberal, não se
aplica a exigência de exclusividade do § 4.º do art. 29 da Lei n. 5.764/71, salvo quando se tratar de agente de comércio
ou empresário. 5. A cláusula de exclusividade em tela é vedada pelo inciso III do art. 18 da Lei n. 9.656/98, mas, ainda
que fosse permitida individualmente a sua utilização para evitar a livre concorrência, através da cooptação de parte
significativa da mão de obra, encontraria óbice nas normas jurídicas do art. 20, I, II e IV, e do art. 21, IV e V, ambos da
Lei n. 8.884/94. Portanto, violados pelo acórdão de origem todos aqueles preceitos. 6. Ainda que a cláusula de
exclusividade não fosse vedada, a solução minimalista de reputar lícita para todo o sistema de cláusula contratual,
somente por seus efeitos individuais serem válidos, viola a evolução conquistada com a criação da Ação Civil Pública,
com a promulgação da Constituição Cidadã de 1988, com o fortalecimento do Ministério Público, com a criação do
Código de Defesa do Consumidor, com a revogação do Código Civil individualista de 1916, com a elaboração de um
futuro Código de Processos Coletivos e com diversos outros estatutos que celebram o interesse público primário.
Recurso especial provido (REsp 1.172.603/RS, Rel. Min. Humberto Martins, 2.ª Turma, j. 04.03.2010, DJe 12.03.2010).
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 43
7. SOCIEDADE LIMITADA
REFERÊNCIA LEGISLATIVA: arts. 1052 a 1087, CC
terceiro estranho ao quadro societário, tal sociedade será personalista. Em contrapartida, caso haja
previsão para a livre cessão de cotas, independentemente da anuência dos demais, referida
sociedade terá feição capitalista. Caso o contrato social seja omisso, observe-se o disposto nos arts.
1057 e 1028, em específico o art. 1057, o qual dispõe: “na omissão do contrato, o sócio pode ceder
sua quota, total ou parcialmente, a quem seja sócio, independentemente de audiência dos outros, ou
a estranho, se não houver oposição de titulares de mais de um quarto do capital social”. Por sua vez,
o art. 1.028 dispõe que “no caso de morte de sócio, liquidar-se-á sua quota, salvo: I – se o contrato
dispuser diferentemente” 12.
O art. 1028, que disciplina a resolução da sociedade simples em caso de falecimento de
sócio e que se aplica subsidiariamente às sociedades limitadas, prevê que, na omissão do contrato, a
morte de sócio acarretará a dissolução parcial da sociedade, com a liquidação da quota pertencente
ao de cujus, ou seja, referido artigo confere natureza personalista à sociedade limitada.
No entanto, em princípio, compete aos sócios definir a natureza jurídica da sociedade
limitada. Em termos práticos, quando os sócios desejam dar uma feição mais capitalista à
sociedade limitada, eles, por exemplo, adotam a LSA como diploma de regência supletiva (art.
1053), optam pela denominação social como espécie de nome empresarial (art. 1155) e preveem a
livre negociação das quotas sociais (art. 1057); já quando desejam conferir à sociedade uma feição
mais personalista, os quotistas preferem a regência subsidiária das normas da sociedade simples,
utilizam a firma social como nome empresarial e conferem maior estabilidade ao quadro societário,
condicionando a entrada de estranhos no quadro social à prévia manifestação dos sócios.
12 Nesse sentido, vide REsp 1.309.188/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, 4.ª Turma, j. 24.04.2014, DJe 15.08.2014).
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 45
Enunciado nº 392 do CJF: “Nas hipóteses do art. 1.077 do Código Civil, cabe aos
sócios delimitarem seus contornos para compatibilizá-los com os princípios da preservação e função
social da empresa, aplicando-se, supletiva (art. 1.053, parágrafo único) ou analogicamente (art. 4º
da LICC), o art. 137, § 3º, da Lei das Sociedades por Ações, para permitir a reconsideração da
deliberação que autorizou a retirada do sócio dissidente”.
Por força do disposto no art. 1053, os sócios poderão definir se a sociedade limitada
será regida, nas omissões de seu capítulo, subsidiariamente pelas normas da sociedade simples ou
supletivamente pelas normas da Lei n. 6404/1976 (LSA)
GUSMÃO, Mônica. Lições de Direito Empresarial, 12ª edição. Forense, 06/2015. VitalBook file.
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 47
Pessoas Liquidação das Necessidade da penhora de quotas a) Adjudicação das quotas pelo próprio
Socieda quotas do sócio para viabilizar a liquidação das credor, com consenso unânime dos
de executado com quotas pela sociedade e garantir sócios.
simples pagamento, em eventual efeito suspensivo aos b) Arrematação por terceiro com
dinheiro, em até embargos opostos pelo executado. consenso unânime dos sócios.
pura noventa dias, ao
credor, pela
sociedade.
Socieda Pessoas Liquidação das Necessidade da penhora de quotas a) Adjudicação das quotas pelo próprio
quotas do sócio para viabilizar a liquidação das credor.
de executado com quotas pela sociedade e garantir b) Arrematação por terceiro com
limitada pagamento, em eventual efeito suspensivo aos consenso unânime dos sócios.
dinheiro, em até embargos opostos pelo executado.
simples noventa dias, ao
credor, pela
sociedade.
Capital Possibilidade da Livre penhora de quotas em razão da Livre ingresso do credor (adjudicação)
Socieda penhora de natureza da sociedade – sociedade de ou do arrematante na sociedade,
de quotas de capital. independentemente de anuência dos
limitada sociedade sócios.
empresária.
empresá
ria
Socieda Pessoas Possibilidade da Livre penhora de quotas em razão da a) Adjudicação das quotas pelo próprio
penhora de natureza da espécie sociedade – credor.
de quotas de empresária, com restrições em b) Arrematação por terceiro com
limitada sociedade relação ao ingresso do terceiro a fim consenso unânime dos sócios.
empresária. de manter a natureza da sociedade – OBS.: Caso a sociedade não exerça o
empresá pessoas. Para se evitar esse ingresso, direito à remição ou preferência e não
ria confere-se à sociedade/sócios os haja consenso quanto à adjudicação,
seguintes direitos: poderá o arrematante das quotas pedir
a) remição sua liquidação para recebimento do
b) preferência valor apurado, com a consequente
resolução da sociedade em relação ao
sócio devedor.
preencher os requisitos dos arts. 104 e 997, Código Civil. Ademais, a Instrução Normativa n.
10/2013, DREI elenca quais são as cláusulas que obrigatoriamente devem estar presentes no
contrato social.
Capital social é a contribuição dos sócios para a sociedade, limitando seus direitos e
deveres, devendo ser expresso em moeda corrente e podendo ser através de quaisquer bens
sucetíveis de avaliação pecuniária, sendo vedado, na sociedade limitada, a contribuição com
serviços.
Referido capital social pode ser aumentado ou reduzido, sendo que o aumento só é
possível quando todo o capital já encontrar-se totalmente integralizado, sendo que os sócios têm
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 50
direito de preferencia para participarem desse aumento. No que se refere à redução do capital social,
tem-se as regras dos arts. 1082 a 1084.
Enunciado nº 391 do CJF: “A sociedade limitada pode adquirir suas próprias quotas,
observadas as condições estabelecidas na Lei das Sociedades por Ações”.
Enunciado nº 225 do CJF: “Instrumento de cessão de quotas. Na omissão do contrato
social, a cessão de quotas sociais de uma sociedade limitada pode ser feita por instrumento próprio,
averbado junto ao registro da sociedade, independentemente de alteração contratual, nos termos do
art. 1.057 e parágrafo único do Código Civil”.
Enunciado nº 16 da I Jornada de Direito Comercial do CJF: “O adquirente de cotas
ou ações adere ao contrato social ou estatuto no que se refere à cláusula compromissória (cláusula
de arbitragem) nele existente; assim, estará vinculado à previsão da opção da jurisdição arbitral,
independentemente de assinatura e/ou manifestação específica a esse respeito”.
As cotas podem ser iguais ou desiguais, cabendo uma ou diversas a cada sócio (art.
1055), sendo que não se estipula valor predeterminado para as cotas, não se consagra a exigência de
integralização inicial de um certo percentual do capital total; não fixa prazos para a sua
integralização e não exige capital social mínimo para a constituição da sociedade. contribuindo para
a formação do capital social, ainda que essa contribuição seja ínfima. Efetivar a contribuição
prometida no tempo e na forma previstos no contrato social é o principal dever de qualquer sócio.
No que se refere à situação do sócio remisso (art. 1004), o art. 1058 dispõe que “não
integralizada a quota de sócio remisso, os outros sócios podem, sem prejuízo do disposto no art.
1.004 e seu parágrafo único, tomá-la para si ou transferi-la a terceiros, excluindo o primitivo titular
e devolvendo-lhe o que houver pago, deduzidos os juros da mora, as prestações estabelecidas no
contrato mais as despesas”. Neste caso, além da possibilidade de se buscar a indenização pelo dano
causado pela mora ou reduzir a sua participação na sociedade ao montante efetivamente
integralizado, pode-se falar na exclusão do sócio remisso, restituindo-se o que já foi pago,
deduzidos os prejuízos causados. Para tanto, exige-se quorum de maioria absoluta.
GUSMÃO, Mônica. Lições de Direito Empresarial, 12ª edição. Forense, 06/2015. VitalBook file.
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 51
(GUSMÃO, Mônica. Lições de Direito Empresarial, 12ª edição. Forense, 06/2015. VitalBook file.)
Por fim,
Súmula 392 do STJ: “A Fazenda Pública pode substituir a certidão de dívida ativa
(CDA) até a prolação da sentença de embargos, quando se tratar de correção de erro material ou
formal, vedada a modificação do sujeito passivo da execução”.
Súmula 430 do STJ: “O inadimplemento da obrigação tributária pela sociedade não
gera, por si só, a responsabilidade solidária do sócio-gerente”.
"
(RAMOS, André Luiz Cruz. Direito Empresarial, 7ª edição. Método, 03/2017. VitalBook file).
(GUSMÃO, Mônica. Lições de Direito Empresarial, 12ª edição. Forense, 06/2015. VitalBook file).
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 54
Na administração da limitada, assim como o que ocorre com a sociedade simples pura,
tem-se que os administradores presentam a sociedade (adoção da teoria orgânica), sendo vedada a
administração por pessoa jurídica (item 3.2.16 do anexo II da Instrução Normativa 10/2013 do
DREI), bem como não podem administrá-las os impedidos de exercerem atividade empresarial em
nome próprio.
Ainda, a atividade exercida pelo administrador tem natureza jurídica personalíssima,
não podendo delegar a terceiros suas atribuições (art. 1060 e art. 1064), sendo permitido, todavia,
com base no art. 1018, “ao administrador é vedado fazer-se substituir no exercício de suas funções,
sendo-lhe facultado, nos limites de seus poderes, constituir mandatários da sociedade, especificados
no instrumento os atos e operações que poderão praticar”.
A sociedade limitada pode ser administrada por terceiro estranho ao quadro societário,
mas, para tanto, há que se observar o quórum exigido por lei, com base no art. 1.061 que enquanto o
capital social não estiver integralizado, a eleição de não sócios para o cargo de administrador da
sociedade limitada depende da aprovação de todos os sócios. Por outro lado, se o capital social já
estiver integralizado, a eleição dependerá de aprovação de 2/3 dos sócios, no mínimo.
Por fim, aplicam-se aos administradores das sociedades limitadas as regras sobre a
responsabilidade dos administradores na sociedade simples, observadas as adaptações pertinentes.
• Responsabilidade do administrador:
O contrato social deve, além de designar o administrador, delimitar seus poderes e
atribuições. Caso o contrato social seja omisso nesse sentido, o próprio Código Civil traz as regras
pertinentes. Como visto, a administração pode competir separada (art. 1013) ou conjuntamente (art.
1014) aos sócios, respondendo por perdas e danos aquele que realizar operações, sabendo ou
devendo saber que estava agindo em desacordo com a maioria”.
Também há autorização para que se nomeie administrador em ato separado, sendo que,
para tanto, deve haver a averbação junto ao órgão competente (art. 1012) e se observar os quóruns
exigidos (arts. 1061 e 1062), sendo que a principal diferença entre administrador nomeado em
contrato social ou em ato separado diz respeito ao fato de que, com base no art. 1.063, “O exercício
do cargo de administrador cessa pela destituição, em qualquer tempo, do titular, ou pelo término do
prazo se, fixado no contrato ou em ato separado, não houver recondução - § 1o Tratando-se de sócio
nomeado administrador no contrato, sua destituição somente se opera pela aprovação de titulares de
quotas correspondentes, no mínimo, a dois terços do capital social, salvo disposição contratual
diversa”, nos mesmo moldes do art. 1019.
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 55
Ainda no que diz respeito ao silêncio do contrato social da limitada no que se refere aos
poderes e atribuições do administrador, aplica-se a regra do art. 1015, ou seja, os administradores
podem praticar todos e quaisquer atos pertinentes à gestão da sociedade, salvo oneração ou
alienação de bens imóveis, o que só poderão fazer se tais atos constituírem o próprio objeto da
sociedade.
Parte da doutrina entende que, caso a sociedade limitada adote, supletivamente, a
regência da LSA, aplica-se a teoria da aparência e não a teoria ultra vires. Em contrapartida, parte
da doutrina entende que não há que se falar em tal hipótese em virtude do contratualidade da
sociedade limitada, sendo que, deste modo, só se aplicaria a regência supletiva da LSA em omissão
do contrato e naquilo que for devidamente autorizado. Enunciado 219 das Jornadas de Direito
Civil do CJF, entendendo-se que o art. 1.015, parágrafo único, inciso III, do CC realmente adotou a
teoria ultra vires, mas com as seguintes ressalvas: “a) o ato ultra vires não produz efeito apenas em
relação à sociedade; b) sem embargo, a sociedade poderá, por meio de seu órgão deliberativo,
ratificá-lo; c) o Código Civil amenizou o rigor da teoria ultra vires, admitindo os poderes implícitos
dos administradores para realizar negócios acessórios ou conexos ao objeto social, os quais não
constituem operações evidentemente estranhas aos negócios da sociedade; d) não se aplica o art.
1.015 às sociedades por ações, em virtude da existência de regra especial de responsabilidade dos
administradores (art. 158, II, Lei n. 6.404/1976)”.
Assim, pode-se concluir que, em regra, a limitada responde pelos atos praticados pelos
seus administradores, ainda que tenham extrapolado os poderes conferidos. De forma excepcional, a
sociedade não responderá pela prática de tais atos, de acordo com art. 1015, parágrafo único, I
(limitação de poderes registrada junto ao registro da sociedade), II (limitação de poderes que a
sociedade provou ser de conhecimento de terceiro) e III (teoria ultra vires). Em tais casos, o terceiro
deve ingressar diretamente contra o administrador, sendo que, como dito no parágrafo anterior, há
quem entenda que o credor de boa-fé pode ingressar contra a sociedade, com base na teoria da
aparência. Neste sentido, Enunciado 11 da I Jornada de Direito Comercial do CJF: “A regra do
art. 1.015, parágrafo único, do Código Civil deve ser aplicada à luz da teoria da aparência e do
primado da boa-fé objetiva, de modo a prestigiar a segurança do tráfego negocial. As sociedades se
obrigam perante terceiros de boa-fé”.
No entanto, quando o administrador agir com culpa ou dolo no desempenho de suas
funções aplica-se a regra do art. 1016, que dispõe: “os administradores respondem solidariamente
perante a sociedade e os terceiros prejudicados, por culpa no desempenho de suas funções”. Assim,
nessas situações, poderão os terceiros cobrar a obrigação diretamente do administrador. Caso,
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 56
porém, os terceiros cobrem a obrigação da sociedade, ela poderá agir em regresso contra o
administrador faltoso.
"
(RAMOS, André Luiz Cruz. Direito Empresarial, 7ª edição. Método, 03/2017. VitalBook file).
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 57
RESOLUÇÃO PREVISÃO PROCEDIMENTO RESPONSABILIDA DIREITO DO SÓCIO
D A LEGAL DE DO SÓCIO
SOCIEDADE
EM RELAÇÃO
A UM SÓCIO
FALECIMENT Art. 1.028 Resolução da A morte do sócio não No caso de retirada do sócio este terá
O DO SÓCIO sociedade em exime os herdeiros direito à liquidação de suas quotas,
relação ao sócio da responsabilidade considerada pelo montante efetivamente
falecido, com a pelas obrigações realizado, com base na situação
respectiva liquidação sociais anteriores. patrimonial da sociedade à data da
das quotas e E s s a resolução, verificada em balanço
pagamento aos responsabilidade especialmente levantado. É
herdeiros. persiste por até dois entendimento majoritário que o cálculo
anos a contar da deve ser realizado com base em critério
averbação da real, ou seja, levando-se em conta os
resolução da bens tangíveis e intangíveis da empresa.
sociedade por esse
evento.
(GUSMÃO, Mônica. Lições de Direito Empresarial, 12ª edição. Forense, 06/2015. VitalBook file).
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 58
Destituição de sócio administrador designado Mais da metade do capital social Art. 1.071,
em ato separado de sociedade limitada III, e art.
1.076, II
Voto em separado para eleição de um dos Sócios que representem, no Art. 1.066,
membros do Conselho Fiscal mínimo, 1/5 do capital social § 2º
Aprovação das contas da administração Maioria dos votos presentes, salvo Art. 1.071,
maioria mais elevada prevista em I, e art.
lei ou no contrato 1.076, III
Remuneração dos administradores Mais da metade do capital social, Art. 1.071,
salvo cláusula contratual em IV, e art.
contrário 1.076, III
Modificação do contrato social ¾, no mínimo, do capital social Art. 1.071,
V, e art.
1.076, I
Incorporação, fusão, dissolução da sociedade ¾, no mínimo, do capital social Art. 1.071,
ou estado de liquidação VI, e art.
1.076, I
Nomeação e destituição dos liquidantes e Maioria dos votos presentes, salvo Art. 1.071,
julgamento de suas contas maioria mais elevada prevista em VII, e art.
lei ou no contrato 1.076, III
Pedido de recuperação Mais da metade do capital social Art. 1.071,
VIII, e art.
1.076, II
Pedido de recuperação em caso de urgência Autorização de titulares de mais da Art. 1.072,
metade do capital social § 4º
Pedido de convocação de assembleia ou Titulares de mais de um quinto do Art. 1.073, I
reunião, quando não requerido por capital
administrador em sessenta dias
Instalação de Assembleia Mínimo de ¾ do capital social, em Art. 1.074
primeira convocação, e, em
segunda, com qualquer número
Prática de atos do liquidante sem autorização Maioria dos sócios Art. 1.105,
contratual expressa parágrafo
único
Transformação das sociedades regidas pelo Unanimidade, salvo previsão no Art. 1.114
Código Civil ato constitutivo
(GUSMÃO, Mônica. Lições de Direito Empresarial, 12ª edição. Forense, 06/2015. VitalBook file).
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 61
"
"
(RAMOS, André Luiz Cruz. Direito Empresarial, 7ª edição. Método, 03/2017. VitalBook file).
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 62
RESUMO:
Conceito: sociedade limitada é aquela em que os sócios assumem, para com a
sociedade, a obrigação fundamental de contribuir com o valor da cota-parte para a formação do
capital social. Contudo, todos têm responsabilidade solidária pelo total do capital social, de acordo
com art. 1052.
Características: a sociedade limitada caracteriza-se como uma sociedade híbrida –
proveniente da sociedade de pessoas e da de capital – possui a simplicidade das primeiras com as
vantagens da segunda.
Constitui-se por simples contrato, tendo como traço relevante a relação entre os sócios
(sociedade de pessoas), sendo atribuída responsabilidade limitada aos sócios, prevendo aplicação
supletiva da LSA (sociedade de capitais).
Espécies de sócios: possui apenas uma espécie de sócio: o sócio de responsabilidade
limitada.
Responsabilidade: perante os respectivos sócios: todos os sócios assumem uns com os
outros o dever de lealdade, que consiste em contribuir para o desenvolvimento dos negócios,
tornando possível a sobrevivência da empresa.
• Perante a sociedade: é obrigação dos sócios contribuir para a formação do capital
social, com dinheiro ou bens suscetíveis de avaliação pecuniária (na limitada é vedada a
contribuição em serviços – art. 1055, §2). O sócio obriga-se pelo valor de suas cotas, mas
responde solidariamente pela integralização do capital social.
• Pelas obrigações sociais: devido ao princípio da autonomia patrimonial, os sócios,
em princípio, não respondem pelas obrigações sociais. No entanto, o art. 1066 traz a exceção a
esta regra. Também não será observado o princípio da autonomia patrimonial quando ocorrer
violação da lei ou do contrato social, tornando os administradores solidários e ilimitadamente
responsáveis pelas obrigações sociais – teoria da desconsideração da personalidade jurídica (art.
50).
• Por débitos tributários: art. 135, CTN.
• Por débitos trabalhistas.
Capital social: na limitada o capital social é dividido em cotas, que é a porção fixa e
determinada de alguma coisa. Representa, no âmbito mercantil, parcela de um sócio na sociedade
de que faça parte. É o contingente com o qual o sócio contribui para a formação do capital social.
Nome empresarial: é a firma ou denominação adotada pelo empresário para o exercício
da atividade econômica (art. 1155). A limitada pode adotar tanto firma quanto denominação.
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 64
A firma constitui-se com o nome de um ou mais sócios, seguido do aditivo Ltda. Ex.:
Moi & Cia. Ltda.
A denominação pode adotar um nome fantasia (Girafa Ltda.) ou o nome do fundador ou
benemérito (S. Ferreira Construtora Ltda.).
A designação deve sempre designar o objeto (atividade), como por exemplo: comércio,
indústria, negócios imobiliários, etc. A palavra limitada sempre deve estar presente, por extenso ou
de forma abreviada, sob pena de responsabilidade solidária e ilimitada dos administradores.
Administração: todos os sócios têm condições de administrar ou gerir os negócios,
sendo que um ou mais sócios podem ser designados administradores. A designação de sócio não
administrador dependerá de unanimidade dos sócios, quando não integralizado o capital social, e de
2/3 quando este já estiver integralizado. O uso da firma ou denominação é exclusivo dos
administradores.
Deliberações sociais (assembléia, reunião ou documento escrito): três são as formas
pelas quais os sócios podem deliberar sobre as questões relacionadas à sociedade: assembléia,
reunião ou documento escrito.
Assembléia: obrigatória quando o número de sócios é superior a 10 (art. 1072, §1). Sua
convocação e instalação devem observar as formalidades do art. 1152, §3.
Ao menos uma vez por ano deve ser realizada assembléia de sócios para tomar as contas
dos administradores e deliberar sobre o balanço patrimonial e de resultado econômico.
A reunião substitui a assembléia nas sociedades com menos de 11 sócios. Deve ser
convocada na forma estabelecida no contrato social e isenta do formalismo da assembléia.
O documento escrito substitui a assembléia e reunião, devendo ser firmado por todos os
sócios (art. 1072, §3).
Em todos os casos, cópia da ata da assembléia, da reunião e documento escrito deve ser
levada a arquivamento no Registro Público de Empresas Mercantis, de responsabilidade da Junta
Comercial.
Quórum de deliberações: varia segundo a importância do assunto.
Conselho Fiscal: órgão encarregado de examinar livros e papéis da sociedade, exarar
perceber sobre os negócios, denunciar erros ou fraudes, em suma, fiscalizar a administração. É
facultativo na limitada – art. 1066.
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 65
8. A SOCIEDADE ANÔNIMA
REFERÊNCIA LEGISLATIVA: Lei n. 6404/1976 (LSA)
8.1 HISTÓRICO
Parte da doutrina entende que a origem das sociedades anônimas foi na Idade Média,
sendo citado como exemplo a Casa de São Jorge (Officium Procuratorum Sancti Georgio),
instituição financeira nascida em Gênova entre os séculos XV e XIX. Para doutrina majoritária, por
sua vez, as sociedades anônimas tiveram origem com as Companhias das Índias, durante a Idade
Moderna.
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 66
Resta claro que, desde a sua origem (qualquer que seja a corrente doutrinaria adotada),
as sociedades anônimas sempre foram voltadas para atividades de grande porte, sendo assim até os
dias atuais.
e ético, que regulam os deveres de cuidado, diligência, lealdade, informação e não intervir em
qualquer operação em que houver interesse conflitante com o da sociedade; o exercício das funções,
atribuições e poderes dos membros do conselho de administração, da diretoria executiva, do
conselho fiscal e dos auditores externos, e o seu relacionamento entre si e com a própria sociedade,
seus acionistas e o mercado em geral”. Como bem observa o citado autor, “ Com a finalidade de
aumentar a transparência de dados e informações das sociedades anônimas abertas, de impor
práticas contábeis de padrão internacional, de aperfeiçoar as regras de governança corporativa, de
estimular o interesse dos investidores do mercado de capitais, de assegurar a ampliação dos direitos
societários dos acionistas minoritários e de propiciar a valorização dos papéis das companhias
abertas, a Bolsa de Valores de São Paulo – BOVESPA, em dezembro de 2000, criou “Níveis
Diferenciados de Governança Corporativa – Nível 1 e Nível 2” e o “Novo Mercado” (GUSMÃO,
Mônica. Lições de Direito Empresarial, 12ª edição. Forense, 06/2015. VitalBook file).
De acordo com cartilha da CVM, conceitua-se governança corporativa como conjunto
de práticas que tem por finalidade otimizar o desempenho de uma companhia ao proteger todas as
partes interessadas, tais como investidores, empregados e credores, facilitando o acesso ao capital.
A análise das práticas de governança corporativa aplicada ao mercado de capitais envolve,
principalmente: transparência, equidade de tratamento dos acionistas e prestação de contas. Entendo
que é a harmonização dos interesses privado e social, de forma que uma companhia
necessariamente satisfaça aos interesses dos sócios controladores e dos minoritários, bem como aos
da sociedade em geral, tais como empregados e consumidores, sendo que a analise das práticas de
governança corporativa envolve, sobretudo, transparência, igualdade no tratamento entre acionistas
e efetiva prestação de contas.
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 67
8.3 CARACTERÍSTICAS
• natureza capitalista:
Enunciado nº 57 do CJF: “A opção pelo tipo empresarial não afasta a natureza de
simples da sociedade”.
Livre ingresso de terceiros; estatuto fixa número de ações sem identificar os acionistas,
sendo que transferencia não necessita de alteração do ato constitutivo; livre penhora das ações; no
entanto, nas S/A fechadas é comum a limitação de circulação das ações nominativas por
determinação estatutária ou por acordo de acionistas (arts. 36 e 118).
• essência empresarial:
Art. 982, parágrafo único, CC.
"
"
8.4 CLASSIFICAÇÃO
De acordo com art. 4º, LSA, as sociedades anônimas podem ser abertas ou fechadas,
dependendo da possibilidade de se emitirem, ou não, seus valores mobiliários no mercado de
capitais. Tal autorização é conferida pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários, Lei n.
6385/1976), sendo que o papel da CVM é de extrema importância pois, de acordo com art. 4.º, §§
1.° e 2.º, “somente os valores mobiliários de emissão de companhia registrada na Comissão de
Valores Mobiliários podem ser negociados no mercado de valores mobiliários”, e que “nenhuma
distribuição pública de valores mobiliários será efetivada no mercado sem prévio registro na
Comissão de Valores Mobiliários”.
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 70
"
RAMOS, André Luiz Cruz. Direito Empresarial, 7ª edição. Método, 03/2017. VitalBook file.
Mercado de Capitais se conceitua como sendo o local onde são realizadas as operações
para a negociação dos valores mobiliários emitidos pela S/A aberta.
A abertura de capital de uma S/A é de extrema importância para a captação de recursos
pois, capitaliza-se buscando recursos junto ao mercado de capitais, muito mais interessante do que
capitalizar-se buscando recursos junto ao mercado financeiro.
Trabalhar com mercado de capitais é trabalhar com o risco. Deste modo, pode ocorrer
que uma S/A tenha que fechar seu capital, situação essa disciplinada pelo §4º, art. 4º, LSA, para o
qual: “O registro de companhia aberta para negociação de ações no mercado somente poderá ser
cancelado se a companhia emissora de ações, o acionista controlador ou a sociedade que a controle,
direta ou indiretamente, formular oferta pública para adquirir a totalidade das ações em circulação
no mercado, por preço justo, ao menos igual ao valor de avaliação da companhia, apurado com base
nos critérios, adotados de forma isolada ou combinada, de patrimônio líquido contábil, de
patrimônio líquido avaliado a preço de mercado, de fluxo de caixa descontado, de comparação por
múltiplos, de cotação das ações no mercado de valores mobiliários, ou com base em outro critério
aceito pela Comissão de Valores Mobiliários, assegurada a revisão do valor da oferta, em
o
conformidade com o disposto no art. 4 -A”. Referido dispositivo tem como finalidade a proteção
se, desse modo, uma espécie de resgate compulsório (squezee out), pois, ao passo que o § 4.º visa a
proteção dos acionistas minoritários, o § 5.º busca respeitar a vontade da maioria que, ao aceitar a
oferta do § 4.º e vender suas ações, concordou com o fechamento do capital e não pode, pois, ficar a
mercê da vontade de uma minoria inferior a 5%.
Autarquia federal de natureza especial, com natureza de agência reguladora (art. 5º,
LCVM), vinculada ao Ministério da Fazenda, com personalidade jurídica e patrimônio próprios,
sendo suas principais atividades a disciplina e fiscalização do mercado de capitais e S/A abertas, de
acordo com art. 1º:
I – a emissão e distribuição de valores mobiliários no mercado; II – a
negociação e intermediação no mercado de valores mobiliários; III – a
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 72
• Bolsa de Valores:
Até 2007, constituíam-se como associação civil sem fins lucrativos, associação privada
formada pela reunião das sociedades corretoras e que prestava serviço de interesse público, ou seja,
manutenção de local adequado para a negociação (compra e venda) de valores mobiliários. Hoje, no
Brasil, somente a Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA) tem autorização para negociar valores
mobiliários.
Atualmente se caracterizam como sendo sociedades anônimas, sendo que a BOVESPA
se fundiu com a Bolsa de Mercadorias e Futuros (BMF), criando a BMF BOVESPA S/A.
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 73
• Mercado de Balcão:
Local onde se realizam quaisquer operações envolvendo valores mobiliários fora da
bolsa de valores, sendo que atuam no mercado de balcão as sociedades corretoras e as instituições
financeiras, desde que devidamente autorizadas pelas CVM.
O mercado de balcão pode ser organizado ou não-organizado, sendo que, neste caso, as
operações são realizadas por corretoras e instituições que não integram a Sociedade Operadora de
Mercado de Acesso (SOMA), companhia cuja finalidade é a manutenção de sistema que torne
viável as operações de compra e venda dos valores mobiliários.
"
RAMOS, André Luiz Cruz. Direito Empresarial, 7ª edição. Método, 03/2017. VitalBook file.
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 74
• Requisitos Preliminares:
Art. 80: Art. 80. A constituição da companhia depende do cumprimento dos
seguintes requisitos preliminares:
I - subscrição, pelo menos por 2 (duas) pessoas, de todas as ações em
que se divide o capital social fixado no estatuto;
II - realização, como entrada, de 10% (dez por cento), no mínimo, do
preço de emissão das ações subscritas em dinheiro;
III - depósito, no Banco do Brasil S/A., ou em outro estabelecimento
bancário autorizado pela Comissão de Valores Mobiliários, da parte do
capital realizado em dinheiro.
Parágrafo único. O disposto no número II não se aplica às companhias
para as quais a lei exige realização inicial de parte maior do capital
social.
III - art. 81: "“o depósito referido no número III do artigo 80 deverá ser feito pelo
fundador, no prazo de 5 (cinco) dias contados do recebimento das quantias, em nome do subscritor
e a favor da sociedade em organização, que só poderá levantá-lo após haver adquirido
personalidade jurídica”, sendo que a aquisição de personalidade jurídica própria se adquire com
registro no órgão competente. Deste modo, somente após o respeito registro é que a S/A poderá
levantar os valores inicialmente depositados. No entanto, caso o registro não se efetive, no prazo de
seis meses, o banco restituirá as quantias depositadas diretamente aos subscritores (parágrafo único,
art. 81).
Tendo sido o capital social subscrito, deve-se realizar a assembléia de fundação, com
base no disposto no art. 86, com quorum previsto no art. 87, qual seja, em primeira convocação,
subscritores que representem no mínimo metade do capital social; em segunda convocação, com
qualquer número. Nesta assembleia pode ocorrer alteração do estatuto, desde que tal alteração seja
totalmente necessária, dependendo, para tanto, de aprovação unânime. Por fim, se procederá a
eleição dos administradores (§3º) e a ata, lavrada em duplicata e assinada por todos os subscritores,
levada a registro, no prazo de 30 dias (§4º, art. 87 combinado com art. 36, Lei n. 8934).
No entanto, algumas regras gerais devem ser observadas, tanto pelas S/A abertas
quanto fechadas, quais sejam, as dispostas nos arts. 89 a 93.
Obs.: “ Caso, entretanto, a companhia tenha sido constituída por meio da lavratura de
escritura pública em cartório, o que só pode ocorrer, frise-se, com as companhias fechadas, a
LSA determina que basta o arquivamento da certidão expedida pelo cartório no qual foi lavrada a
escritura. É que dispõe o seu art. 96: “se a companhia tiver sido constituída por escritura pública,
bastará o arquivamento de certidão do instrumento” (RAMOS: 2017, págs. 347-349).
8.9 AÇÕES
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 79
"
"
(RAMOS, André Luiz Cruz. Direito Empresarial, 7ª edição. Método, 03/2017. VitalBook file).
(RAMOS, André Luiz Cruz. Direito Empresarial, 7ª edição. Método, 03/2017. VitalBook file).
13 Art. 109. Nem o estatuto social nem a assembléia-geral poderão privar o acionista dos direitos de:
I - participar dos lucros sociais;
II - participar do acervo da companhia, em caso de liquidação;
III - fiscalizar, na forma prevista nesta Lei, a gestão dos negócios sociais;
IV - preferência para a subscrição de ações, partes beneficiárias conversíveis em ações, debêntures conversíveis em
ações e bônus de subscrição, observado o disposto nos artigos 171 e 172; (Vide Lei nº 12.838, de 2013)
V - retirar-se da sociedade nos casos previstos nesta Lei.
§ 1º As ações de cada classe conferirão iguais direitos aos seus titulares.
§ 2º Os meios, processos ou ações que a lei confere ao acionista para assegurar os seus direitos não podem ser elididos
pelo estatuto ou pela assembléia-geral.
§ 3o O estatuto da sociedade pode estabelecer que as divergências entre os acionistas e a companhia, ou entre os
acionistas controladores e os acionistas minoritários, poderão ser solucionadas mediante arbitragem, nos termos em que
especificar.
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 81
escriturais: art. 34
Mantidas em contas de depósito junto a instituições financeiras designadas pela própria
S/A. Tais ações não possuem certificado e não exigem solenidade para sua transferência (art. 35,
§1º), sendo que sua propriedade se comprova pela exibição do extrato da conta de depósito.
"
(RAMOS, André Luiz Cruz. Direito Empresarial, 7ª edição. Método, 03/2017. VitalBook file).
Suas ações podem vir divididas em classes, de acordo com as letras do alfabeto, cada
qual conferindo direitos e deveres a seus titulares. Tal divisão em classes tem como finalidade atrair
investidores.
Para exemplificar, vejamos exemplo trazido por André Luiz Santa Cruz Ramos (2017,
pág. 358): "imagine-se que uma determinada companhia, por exemplo, atue no ramo industrial de
alimentos e tenha seu capital dividido em ações ordinárias – cujos acionistas, como visto, possuem
direito de voto – e ações preferenciais sem direito a voto, estas divididas nas classes A, cujos
titulares possuem direito ao recebimento e dividendo fixo, e B, cujos titulares possuem direito à
prioridade no reembolso de capital. Essa companhia conseguirá atrair investidores interessados nas
ações ordinárias – provavelmente um grupo econômico ligado ao ramo industrial de alimentos que
deseja o controle da sociedade –, investidores interessados nas ações preferenciais da classe A –
provavelmente especuladores do mercado de capitais, que viram naquela S/A uma possibilidade
segura para aplicação para seus recursos, dada a garantia de dividendo fixo oferecida pelas suas
ações – e investidores interessados nas ações preferenciais da classe C – possivelmente um fundo de
pensão, por exemplo”.
Importante é a regra contida no §1º, art. 15, que determina que somente as companhias
fechadas podem dividir as ações ordinárias em classes.
diferença se chama ágio e serve para formação de reserva de capital. O valor de emissão pode ser
maior que o nominal. A diferença chama-se ágio e destina-se a formar reserva de capital.
Valor Patrimonial:
É o valor da ação resultante da divisão do patrimônio líquido da companhia pelo
número de ações de que se compõe o capital social. Importância para momentos como os de
liquidação da sociedade. Neste sentido, Súmula 371, STJ, que dispõe: “Nos contratos de
participação financeira para a aquisição de linha telefônica, o Valor Patrimonial da Ação (VPA) é
apurado com base no balancete do mês da integralização”.
Valor de Negociação:
As ações, como visto, são negociadas no mercado de capitais, em regra, na Bolsa de
Valores. Deste modo, o cenário econômico influencia no valor de negociação, sendo esse valor
negociado pelas partes envolvidas. Nas S/A fechadas, as ações possuem valor de negociação
privada; nas S/A abertas, além do valor da negociação privada também têm o valor de mercado, o
que é o mais comum.
Valor Econômico:
Perspectiva de rentabilidade da sociedade.
• Direito de Voto:
Art. 110, portanto não é direito essencial (são aqueles elencados no art. 109).
De acordo com art. 110, “A cada ação ordinária corresponde 1 (um) voto nas
deliberações da assembleia geral”. Como visto, o estatuto pode fixar limitações ao número de votos
de cada acionista, com base no §1º, art. 110. O §2º, por sua vez, dispõe que é vedado atribuir voto
plural a qualquer classe de ações. Deste modo, atribuir voto plural significaria atribuir mais de um
voto a uma mesma ação. Ressalte-se que não há que se confundir voto plural com voto múltiplo,
pois esse é admitido no art. 141, durante a assembleia que elege os membros do conselho de
administração.
15Art. 113. O penhor da ação não impede o acionista de exercer o direito de voto; será lícito, todavia, estabelecer, no
contrato, que o acionista não poderá, sem consentimento do credor pignoratício, votar em certas deliberações.
Parágrafo único. O credor garantido por alienação fiduciária da ação não poderá exercer o direito de voto; o devedor
somente poderá exercê-lo nos termos do contrato.
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 85
Por fim, há que se falar na coibição ao abuso do direito de voto, com base no art. 115.
Referida norma foi trazida pela Lei n. 10.303/2001, a qual trouxe para o nosso sistema o instituto da
governança corporativa, sendo que o §3º dispõe que o acionista responderá pelos danos causados
quando se tiver voto abusivo, ainda que este não tenha prevalecido.
Ainda foi objeto de preocupação por parte do legislador as deliberações com interesses
conflitantes, sendo, em tais casos, vedado o exercício de voto (§1º, art 115). Sendo o voto
conflitante, a decisão é anulável, podendo o acionista responder pelos danos causado. Sobre a
vedação do exercício do direito de voto nos casos em que os interesses da companhia e do acionista
sejam conflitantes, confira-se o Enunciado 14 da I Jornada de Direito Comercial do CJF: “é
vedado aos administradores de sociedades anônimas votarem para aprovação/rejeição de suas
próprias contas, mesmo que o façam por interposta pessoa”.
8.9.6 Acordo de Acionistas: art. 118, com redação alterada pela Lei n. 10.303/2001
Se refere à compra e venda de ações; preferencia para a aquisição de ações; exercício
do direito de voto; exercício do poder de controle da companhia.
Tendo sido referido acordo arquivado na sede da S/A, deverá ser observado e cumprido,
sendo possível, em caso de desrespeito, a execução judicial do acordo, sendo que STJ tem se
posicionado nesse sentido, de acordo com Resp 784.267/RJ, para o qual, “a sociedade também tem
legitimidade passiva para a causa em que se busca o cumprimento de acordo de acionistas, porque
terá que suportar os efeitos da decisão; como na espécie em que o cumprimento do acordo
implicaria na cisão parcial da sociedade” (STJ, REsp 784.267-RJ, Relatora Ministra Nancy
Andrighi, DJ 17.09.2007, p. 256).
As obrigações advindas de tais acordo somente será oponíveis a terceiros se
devidamente averbadas nos livros de registro e certificado de ações, sendo que tais ações não
poderão ser negociadas (§4º, art. 118).
"
RAMOS, André Luiz Cruz. Direito Empresarial, 7ª edição. Método, 03/2017. VitalBook file.
"
RAMOS, André Luiz Cruz. Direito Empresarial, 7ª edição. Método, 03/2017. VitalBook file.
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 88
De acordo com art. 52, debêntures são espécie de valor mobiliário emitido pelas S/A
conferindo ao seu titular direito de crédito contra a sociedade emissora, nos termos do certificado ou
escritura de emissão.
O art. 7874, I, CPC, lhe conferiu natureza jurídica de título executivo extrajudicial.
Para a maioria da doutrina, as debêntures se caracterizam como contrato de mútuo/
empréstimo, estabelecido entre a sociedade e os investidores adquirentes. Deste modo, Ramos
(2017, pág. 375) afirma que “ aquele que subscreve a debênture está emprestando à sociedade
anônima o valor investido na sua subscrição, e esta, a partir do momento em que emite a debênture
para o investidor que a subscreveu, assume o dever de pagar posteriormente a este o valor
respectivo, na forma prescrita no seu certificado ou na escritura de emissão, conforme o caso”.
Caso haja, o certificado de debêntures (ou escritura de emissão), deve detalhar as suas
caracteristicas, com base no art. 61. Se as debêntures não forem chamativas, conferindo ao
investidor termos interessantes, este não as subscreverá pois, como os demais valores mobiliários,
as debêntures são formas de investimento visando, o investidor, lucro.
No que se refere ao art. 54, §1º, a debênture pode conter cláusula de correção monetária,
sendo que o vencimento, com base no art. 55, “a época do vencimento da debênture deverá constar
da escritura de emissão e do certificado, podendo a companhia estipular amortizações parciais de
cada série, criar fundos de amortização e reservar-se o direito de resgate antecipado, parcial ou total,
dos títulos da mesma série”. Ademais, segundo o § 4.º deste artigo, “a companhia poderá emitir
debêntures cujo vencimento somente ocorra nos casos de inadimplemento da obrigação de pagar
juros e dissolução da companhia, ou de outras condições previstas no título”. Vê-se, pois, que há
certa liberdade na hora de criar a debênture, mas é óbvio que a sociedade sempre o fará
observando não apenas os seus interesses, mas também os dos investidores, já que se estes não se
virem atraídos por uma boa alternativa de investimento, não adquirirão a debênture, o que frustrará
a operação de captação de recursos pretendida pela companhia emissora.
Pode haver a conversão das debêntures em ações (art. 57).
O art. 59 estabelece as regras para a emissão das debêntures, sendo de competência, em
princípio da AG. No entanto, não há impedimento para que sua emissão seja deliberada pelo
Conselho de Administração, nos termos do §1º.
O art. 62 estabelece os requisitos formais a serem observados e caso não o sejam os
administradores responderão pelos danos causados (§1º), sendo que, de acordo com §4º, a Junta
mantém livros especiais para a inscrição das emissões das debêntures.
• Espécies: art. 58
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 89
Essa classificação é importante para fins falimentares (art. 83, Lei n. 11.101/2005).
• Agente Fiduciário:
Pessoa natural ou jurídica que tem como finalidade a proteção dos direitos e interesses
dos debenturistas perante a sociedade. Deve ser nomeado e aceitar sua função na escritura de
emissão de debêntures. Tal agente fiduciário não tem poder para acordar na modificação das
cláusulas e condições de emissão. O art. 66, §3º discorre sobre os impedimentos para o exercício do
cargo. Fica a cargo da CVM a fiscalização do exercício da função de agente fiduciário das emissões
distribuídas no mercado, ou de debêntures negociadas em bolsa ou mercado de balcão. O agente
fiduciário tem deveres e atribuições definidos no art. 68 da LSA, entre eles o de notificar os
debenturistas, no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, de qualquer inadimplemento, pela
companhia, de obrigações assumidas na escritura da emissão, sendo que o§ 3º do art. 68 assegura ao
agente fiduciário legitimidade extraordinária para usar de qualquer ação para proteger direitos ou
defender interesses dos debenturistas.
"
RAMOS, André Luiz Cruz. Direito Empresarial, 7ª edição. Método, 03/2017. VitalBook file.
"
RAMOS, André Luiz Cruz. Direito Empresarial, 7ª edição. Método, 03/2017. VitalBook file.
"
RAMOS, André Luiz Cruz. Direito Empresarial, 7ª edição. Método, 03/2017. VitalBook file.
Por fim, tem-se os ensinamentos do Prof. André Luiz Santa Cruz Ramos:
"Destaque-se que pode haver, excepcionalmente, empate em alguma deliberação,
hipótese em que deve ser aplicada a regra do § 2.º do art. 129 da LSA, segundo a
qual “no caso de empate, se o estatuto não estabelecer procedimento de arbitragem
e não contiver norma diversa, a assembleia será convocada, com intervalo mínimo
de 2 (dois) meses, para votar a deliberação; se permanecer o empate e os acionistas
não concordarem em cometer a decisão a um terceiro, caberá ao Poder Judiciário
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 93
• Conselho de Administração:
Também é órgão deliberativo que tem como competência as matérias relacionados à
gestão dos negócios da S/A. Com base no art. 140, o Conselho de Administração é composto por
no mínimo 03 membros, eleitos pela AG e por ela destituíveis a qualquer tempo. Com base no
disposto do art. 146 determina que os membros serão pessoas naturais, devendo os diretores serem
residentes no Brasil. Nas eleições dos membros do conselho de administração, pode-se adotar tanto
o critério majoritário (voto em chapas ou separadamente) quando o critério proporcional (não é
possível a formação de chapas). Pode-se estipular o voto múltiplo, com base no art. 141 (“na eleição
dos conselheiros, é facultado aos acionistas que representem, no mínimo, 0,1 (um décimo) do
capital social com direito a voto, esteja ou não previsto no estatuto, requerer a adoção do processo
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 96
de voto múltiplo, atribuindo-se a cada ação tantos votos quantos sejam os membros do conselho, e
reconhecido ao acionista o direito de cumular os votos num só candidato ou distribuí-los entre
vários”). Vê-se, desde logo, que a modalidade de voto múltiplo é uma faculdade outorgada pela lei
aos acionistas minoritários com direito de voto. Trata-se, enfim, de um modelo especial de votação
proporcional, em que cada ação votante corresponderá a tantos votos quantos forem os membros do
conselho de administração. E mais: cada acionista poderá usar os votos que suas ações lhe conferem
da forma que bem entender, ou seja, pode concentrá-los todos num único candidato ou distribuí-los
em candidatos distintos.
• Diretoria:
Órgão incumbido de desempenhar a gestão dos negócios sociais, sendo o responsável
pela condução da gestão da empresa, sendo os diretores os verdadeiros executivos da S/A, sendo os
responsáveis por sua direção e representação legal (art. 138, §1º). De acordo com art. 143, a
diretoria será composta por dois ou mais diretores eleitos pelo Conselho de Administração ou, se
inexistente esse, pela Assembléia Geral. Sua gestão não será superior a três anos, sendo permitida a
reeleição. Os diretores, assim como os membros do Conselho de Administração, não precisam ser
acionistas, apenas pessoas naturais residentes no Brasil, sendo que alguns membros do conselho de
administração podem também ocupar a posição de diretores. É o que prevê o § 1.º do art. 143,
segundo o qual “os membros do conselho de administração, até o máximo de 1/3 (um terço),
poderão ser eleitos para cargos de diretores”.
O art. 145 determina que “as normas relativas a requisitos, impedimentos, investidura,
remuneração, deveres e responsabilidade dos administradores aplicam-se a conselheiros e
diretores”, sendo que, por força do art. 160 “as normas desta Seção [refere-se às normas comuns aos
conselheiros e diretores] aplicam-se aos membros de quaisquer órgãos, criados pelo estatuto, com
funções técnicas ou destinados a aconselhar os administradores”.
Os arts. 149, 151 e 152 cuidam da investidura, substituição e renúncia.
Em relação aos deveres dos administradores, e suas responsabilidades, destacam-se o
dever de diligencia, lealdade e informação, dentre outros.
Atualmente, as S/A têm adotado práticas de governança corporativa e responsabilidade
social, com base no art. 154, §4º “o conselho de administração ou a diretoria podem autorizar a
prática de atos gratuitos razoáveis em benefício dos empregados ou da comunidade de que participe
a empresa, tendo em vista suas responsabilidades sociais”.
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 97
O art. 155 dispõe sobre o deve de lealdade, sendo que a Lei pátria destaca o dever de
sigilo, sobretudo quando se trata de sociedade anônima aberta. Nesse sentido, importante se analisar
a figura do insider trading, ou seja, aquele que, com base no art. 27-D da Lei 6.385/1976: “Utilizar
informação relevante ainda não divulgada ao mercado, de que tenha conhecimento e da qual deva
manter sigilo, capaz de propiciar, para si ou para outrem, vantagem indevida, mediante negociação,
em nome próprio ou de terceiro, com valores mobiliários: Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco)
anos, e multa de até 3 (três) vezes o montante da vantagem ilícita obtida em decorrência do crime”.
Por fim, a LSA cuida de outro dever do administrador, qual seja, o dever de informação,
com base no art. 157.
No que se refere à responsabilidade dos administradores, ha que se relembrar que a S/
A, sociedade personificada, goza de personalidade jurídica própria, ou seja, respondem pelos
direitos e deveres contraídos, em regra. No entanto, as pessoas jurídicas são representadas por seus
administradores, que na S/A são os diretores e conselheiros. Com base no art. 158 “o administrador
não é pessoalmente responsável pelas obrigações que contrair em nome da sociedade e em virtude
de ato regular de gestão; responde, porém, civilmente, pelos prejuízos que causar, quando proceder:
I – dentro de suas atribuições ou poderes, com culpa ou dolo; II – com violação da lei ou do
estatuto”, sendo que um diretor não é responsável pelo ilícito por outro praticado (§1º, art. 158),
sendo que, em princípio um administrador não responde por atos ilícitos de outros
administradores, salvo se agir com conivência ou negligência em relação aos mesmos, quando
deles tiver conhecimento. Se, por outro lado, toma as medidas que lhe cabem, como a cientificação
dos órgãos competentes, exime-se totalmente de qualquer responsabilidade. A situação, em resumo,
é a seguinte: (i) tratando-se de companhia fechada, aplica-se a regra do § 2.º, ou seja, os
administradores são solidariamente responsáveis, ainda que o dever legal descumprido não seja
atribuição específica de algum(ns) deles; (ii) tratando-se de companhia aberta, em princípio só são
responsáveis os administradores cujo dever legal descumprido seja atribuição específica deles; (iii)
ainda em se tratando de companhia aberta, mesmo que um administrador não tivesse atribuição
específica de dar cumprimento ao dever legal descumprido, ele responderá solidariamente se tomou
conhecimento do fato e não o comunicou à assembleia geral (RAMOS: 2017, pág. 357).
Caberá ação de responsabilidade, com base no art. 159, competindo, inclusive ao
acionista a propositura de tal ação, de acordo com §3º do mesmo artigo.
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 98
"
RAMOS, André Luiz Cruz. Direito Empresarial, 7ª edição. Método, 03/2017. VitalBook file.
No que se refere à apuração dos haveres, o juiz deve observar o disposto no contrato
social. Caso não haja previsão contratual, observa-se a regra do art. 606, que dispõe que “em caso
de omissão do contrato social, o juiz definirá, como critério de apuração de haveres, o valor
patrimonial apurado em balanço de determinação, tomando-se por referência a data da resolução e
avaliando-se bens e direitos do ativo, tangíveis e intangíveis, a preço de saída, além do passivo
também a ser apurado de igual forma”.
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 104
"
"
"
Lei n. 12. 529/2011 - referida Lei revoga a Lei n. 8884/1994, estruturando o Sistema
Brasileiro de Defesa da Concorrência (SBDC), disponde sobre a presencia e repressão às infrações
contra a ordem econômica.
As operações supra mencionado podem afetar a economia, de forma positiva ou
negativa, atingindo, direta ou indiretamente, o mercado concorrencial. Para evitar-se ataques à livre
iniciativa e concorrência legal, tem-se atuação de autarquia federal para defesa de tais interesses, ou
seja, o CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).
Deste modo, de acordo com exigências legais (arts. 88 e 90, Lei n. 12.529),
determinadas operações devem passar pelo crivo do CADE, que deverá se manifestar sobre referida
operação.
Coligação de Sociedades
As sociedades consideram-se ligadas quando há participação de uma no capital social
de outra, sendo que podem se colocar como controladas, filiadas o de simples participação (art. 243,
LSA e 1097 a 1100, CC). Considera a participação de uma sociedade no capital social de outra e a
possibilidade de poder decisório.
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 108
Art. 1.098 do Código Civil que é controlada: “I – a sociedade de cujo capital outra
sociedade possua a maioria dos votos nas deliberações dos quotistas ou da assembleia geral e o
poder de eleger a maioria dos administradores; II – a sociedade cujo controle, referido no inciso
antecedente, esteja em poder de outra, mediante ações ou quotas possuídas por sociedade ou
sociedades por esta já controladas”.
I - controle direto
II - controle indireto
Art. 1.099 do Código Civil trata das sociedades coligadas ou filiadas, dispondo: “diz-se
coligada ou filiada a sociedade de cujo capital outra sociedade participa com dez por cento ou mais,
do capital da outra, sem controlá-la”. Até 2009, o art. 243, § 1.º, da LSA tinha regra praticamente
idêntica: “são coligadas as sociedades quando uma participa, com 10% (dez por cento) ou mais, do
capital da outra, sem controlá-la”. No entanto, este dispositivo legal foi alterado, e a LSA passou a
adotar o conceito de influência significativa para definir a sociedade coligada. A nova redação do
dispositivo dispõe que “são coligadas as sociedades nas quais a investidora tenha influência
significativa”. Complementando, os §§ 4.º e 5.º dispõem o seguinte: “§ 4.º Considera-se que há
influência significativa quando a investidora detém ou exerce o poder de participar nas decisões das
políticas financeira ou operacional da investida, sem controlá-la”; “§ 5.º É presumida influência
significativa quando a investidora for titular de 20% (vinte por cento) ou mais do capital votante da
investida, sem controlá-la”.
Art. 1.101 do Código Civil determina que, “salvo disposição especial de lei, a sociedade
não pode participar de outra, que seja sua sócia, por montante superior, segundo o balanço, ao das
próprias reservas, excluída a reserva legal”. Complementando tal regra, o seu parágrafo único
estabelece que “aprovado o balanço em que se verifique ter sido excedido esse limite, a sociedade
não poderá exercer o direito de voto correspondente às ações ou quotas em excesso, as quais devem
ser alienadas nos cento e oitenta dias seguintes àquela aprovação”.
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 109
Grupos Societários
Grupo societário entre sociedades controladoras e controladas (art. 256, LSA). Para que
se constitua o grupo de sociedades é necessária convenção, que disciplina detalhes das relações
entre as sociedades participantes. Observa-se que as sociedades participantes mantém a sua
personalidade jurídica própria, sendo que, com base no art. 269 da LSA, “o grupo de sociedades
será constituído por convenção aprovada pelas sociedades que o componham, a qual deverá conter:
I – a designação do grupo; II – a indicação da sociedade de comando e das filiadas; III – as
condições de participação das diversas sociedades; IV – o prazo de duração, se houver, e as
condições de extinção; V – as condições para admissão de outras sociedades e para a retirada das
que o componham; VI – os órgãos e cargos da administração do grupo, suas atribuições e as
relações entre a estrutura administrativa do grupo e as das sociedades que o componham; VII – a
declaração da nacionalidade do controle do grupo; VIII – as condições para alteração da
convenção”.
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 110
"
Consorcios
Os consórcios se formam para a execução de empreendimentos específicos, de acordo
com art. 278, LSA: “as companhias e quaisquer outras sociedades, sob o mesmo controle ou não,
podem constituir consórcio para executar determinado empreendimento, observado o disposto neste
Capítulo”.
Característica importante do consórcio é que ele não possui personalidade jurídica
própria, sendo que as consorciadas se obrigam nas condições contratualmente previstas. Havendo a
falência de uma das consorciadas, esse fato não se estende às demais, subsistindo o consórcio em
relação às outras consorciadas.
O art. 279 estabelece os termos para a constituição do consórcio, quais sejam: “o
consórcio será constituído mediante contrato aprovado pelo órgão da sociedade competente para
autorizar a alienação de bens do ativo não circulante, do qual constarão: I – a designação do
consórcio se houver; II – o empreendimento que constitua o objeto do consórcio; III – a duração,
endereço e foro; IV – a definição das obrigações e responsabilidade de cada sociedade consorciada,
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 111
Holding
Sociedade que tem por objeto social a participação em outras sociedades, classificando-
se como holding pura (sociedade empresaria que tem por objeto social participar de outras
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 112
sociedades) e holding mista (sociedade empresária que tem por objeto social a participação em
outras sociedades e também a exploração de outras atividades econômicas).
"
Holding patrimonial ou familiar, assim, apresenta-se como um planejamento para o
empresário e sua família, objetivando resguardar interesses e bens. Com a constituição da holding é
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 113
possível que se definam os pontos a serem abordados, sendo que o planejamento não aborda
somente questões sobre o planejamento sucessório e participação dos herdeiros na estrutura social,
mas também a forma de se assumir a administração da sociedade. Outro aspecto relevante é que
haverá proteção contra terceiros. Perceba-se a diferença entre sucessão testamentária sucessão
através de holding familiar.
a) Sucessão testamentária:
Direito Societário - Profa. Dra. Fernanda Moi 114
Joint Venture