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se~~Pimenta 371.13
(Organização)
S!!5r
Textos de:
Edson Nascimento Campos
4. ecÀ,
Luiz Fernando Klein
Maria de Fátima Barbosa Abdalla
Maria Ornélia da Silveira Marques
Marlene de Oliveira Lobo Faleiro
Regina Maria Pereira Lopes
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) SandraAzzi
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Selma Garrido Pimenta

Saberes pedagógicos e atividade docente / textos de Edson


Nascimento Campos ... [et. al.] ; Selma Garrido Pimenta
(organização) - 4. ed. - São Paulo: Cortez, 2005. - Saberes da
docência)

ISBN 85-249-0711-8 Saberes pedagógicos


1. Educação - Finalidades e objetivos 2. Educação como
profissão 3. Pedagogia 4. Pesquisa educacional 5. Prática de
e atividade docente
ensino 6. Professores - formação profissional L Campos, Edson
Nascimento. 11.Pimenta, Selma Garrido. Ill. Série

99-1640 CDD-371.1

índices para catálogo sistemático:


L Atividade docente e pedagogia: Educação 371.1
4ª edição
2. Professores: Prática docente: Ciências pedagógicas:
Educação 371.1

Oisciplínal~~~~~--~·,1i
Professor's:,',u.I~~~~~~1
Curso ' Cf'
IN° Cópias r::::x?
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~eDIToR~
Juventude, escola
e .sociabilidade *
______ MARIA ORNÉLlA DA SILVEIRAMARQUES"

Introdução

Garantir o acesso e a permanência na escola ainda é um


direito a ser conquistado pelos filhos das classes trabalhadoras. 1
É indiscutível que a oferta de vagas no nosso sistema escolar
aumentou consideravelmente. Entretanto, se observarmos os
dados dos últimos estudos sobre nossa situação educacional,
veremos que este crescimento não corresponde às reais neces-
'''1
·



sidades. Segundo estudos do IBGE,2 em 1980 tínhamos uma
:..J população de 20% de crianças entre 11 e 14 anos que não
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'" sabia ler nem escrever. Em 1991, esse percentual cai para
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:!!: 16%; porém, em alguns municípios do Amazonas esse percentual
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,a chega a ser de 85%.
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* Este texto faz parte das reflexões contidas em nossa tese de doutorado
intitulada Os jovens na escola noturna: uma nova presença, defendida na Faculdade
de Educação da Universidade de São Paulo, em 1995, sob orientação da Profa.
Dra, Selma Garrido Pimenta.
** Profa. Dra. da Universidade Federal da Bahia.
I. Para efeito de análise, tomamos emprestado de Alba Zaluar o conceito
de classes trabalhadoras como sendo aqueles trabalhadores pobres incluídos nas
faixas de renda mais baixas (até 5 salários mínimos) ou os que exercem atividades
mais mal remuneradas da economia nacional. A autora, porém, adverte que isso
não permite tratá-los como classes populares, o que implica tratá-tos como ator
político dotado de uma certa autonomia no campo das disputas políticas. Neste
estudo, portanto, esses trabalhadores pobres serão chamados de classe trabalhadora.
(A máquina e a revolta. São Paulo, Brasiliense, 1994: 87)
2. Os dados apresentados foram publicados pelo jornal Folha de S. Paulo,
cad. 3, em 13.8.94.

83
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As análises forneci das pelo UNICEF (Fundo das Nações atende às exigências e desafios do mercado de trabalho, da
Unidas para a Infância) no relatório O progresso das nações I vida em sociedade. Mais do que nunca, é imprescindível que
(1994), quando caracterizam a situação educacional no mundo, 1 a escola brasileira assuma sua função básica, que é ensinar,
concluem que o Brasil, pelo seu potencial econômico, deveria lidar com o conhecimento e habilidades necessárias para uma
ter, ao menos, 88% de suas crianças matriculadas no primeiro I vida cidadã, o que inclui entender a escola como um lugar de
grau, com escolaridade mínima de 5a série. Porém, com dados práticas sociais democráticas. Exige-se que a escola prepare as
fornecidos pelo próprio Ministério da Educação, o relatório \ novas gerações. com conhecimentos e habilidades cognitivas
conclui que apenas 39% dessas crianças terminam a 5a série, que lhes possibilitem entender e interpretar toda a gama de
e que somente cerca de 22% desses alunos completam a 8a valores e informações que lhes são transmitidas no cotidiano,
série. Mais alarmante ainda é que apenas 5% dessas crianças nas suas práticas sociais, nas suas relações com o mundo,
conseguem completar o primeiro grau sem passar pelo processo habilitando-as para uma participação mais ativa e crítica da
de repetência. Comprovou-se que a média de permanência na vida social e política. Só assim entendemos os vínculos estreitos
escola de um aluno que completa a 8a série é de aproximadamente entre educação, democracia e qualidade do ensino, porquanto
12 anos. só se pode viver democraticamente quando se é respeitado nos
\
\.
I Citando pesquisa publicada pelo jornal Folha de S. Paulo seus direitos, direitos estes que não se restringem ao acesso à
(1994), Franco (1995) apresenta as péssimas condições físicas escola de qualidade, mas possibilite a tomada de consciência
de 192 mil estabelecimentos de ensino do país: escolas sem de tantos outros e, conseqüentemente, a luta para conquistá-Ios.
água, sem banheiros, sem luz elétrica e mesmo sem )Jlobiliário Concordamos com Demo (1986) quando nos diz que a relação
escolar. Porém, uma das suas observações mais pertinentes diz entre educação e democracia não é mecânica e automática,
respeito ao próprio conceito de escola. Ao analisar a situação pois a democracia depende fundamentalmente de seu ator
de insegurança que ronda as escolas públicas dos bairros insubstituível: o cidadão organizado. E para a formação desse
periféricos das grandes cidades e a situação das escolas do cidadão organizado, a educação significa uma ferramenta im-
meio rural do Norte e Nordeste, com classes multisseriadas, portante.
professores sem habilitação e fazendo de suas casas salas de
aula, a autora questiona se essas podem ser chamadas de escola.
Nesse quadro fica claro que um dos grandes desafios da A qualidade da escola noturna
educação brasileira hoje é não somente garantir o acesso da
grande maioria das crianças e jovens à escola, mas também Para fazer, pois, da educação uma ferramenta importante
permitir a sua permanência numa escola feita para eles, que para o processo de democratização da sociedade, toma-se
atenda as suas reais necessidades e aspirações. Todos os que necessário que a escola pública se torne um espaço relevante
se debruçam sobre essas questões são unânimes em afirmar a de aprendizagem onde se possa viver e construir cidadania.
necessidade de uma escola de qualidade, que forme cidadãos
A discussão sobre a democratização e a qualidade da
capazes de participar da vida política, social e econômica de
educação brasileira, necessariamente, nos leva à compreensão
uma sociedade moderna. Em síntese, uma escola cidadã, como
a chama Saviani (1986).3 O simples ler e escrever já não
mente e, extensivamente, da vida da sociedade ... Ser cidadão significa, portanto,
participar ativamente da vida da sociedade moderna, isto é, da sociedade cujo
3. Para Saviani, "ser cidadão significa ser sujeito de direitos e deveres. centro de gravitação é a cidade." (Escola e Democracia. São Paulo, Cortez, 1986,
Cidadão é, pois, aquele que está capacitado a participar da vida da cidade literal- p. 73)

84 I 85
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do papel da escola noturna, tanto no âmbito da oferta de vagas,
No entanto, temos clareza de que as respostas às qUeStt>_
quanto da qualidade dos seus cursos, pois é nessa escola de envolvem dimensões relativas à qualidade do ensino ~_
terceiro ou quarto turno que se encontra a maioria dos jovens
esgotam no plano pedagógico, pois uma discussão mera~en
estudantes que tentam conciliar a necessidade de sobrevivência técnica do problema qualitativo escamoteia seus aspectos p~~
e os estudos. Em alguns estados do Nordeste, a escola noturna líticos, na medida em que não se analisa a qualidade do ensino
representa mais de 80% da matrícula do segundo grau. Seria no âmbito das questões relativas aos grupos sociais que estão
possível uma avaliação crítica do -ensino básico brasileiro e, ten-do acesso ou não à atividade pedagógica, à cultura siste-
como conseqüência, uma proposta de reformulação que não matizada.
incorporasse uma análise séria dos cursos noturnos, bem como
uma política que oriente o seu funcionamento? Este estudo pretende, pois, contribuir para o conhecimento
da realidade da escola noturna do ensino fundamental (ys a
Segundo dados de matrícula de 1993 para todo o Estado 8as séries) a partir de um de seus atores - o aluno. É possível
da Bahia, fornecidos por técnicos da Secretaria de Educação que na luta cotidiana desses pequenos atores, na luta por um
do Estado, mais de SO% da matrícula de sas a 8as séries do espaço de sociabilização," na busca do poder da escola como
1 grau está concentrada no noturno. Há regiões do interior
0
forma de sobrevivência, na conciliação entre escola e trabalho,
no Estado em que este percentual chega a ser de 78% nas poderá ser gestada uma nova identidade coletiva. Acreditamos,
8as séries. Em Salvador, os maiores percentuais estão nas escolas também, que ao tentarmos decifrar suas angústias, esperanças
da periferia da cidade. Será essa presença significativa da escola e sonhos, podemos estar contribuindo para que esses jovens
noturna uma forma de democratização do ensino? S~ desti- sejam portadores de uma nova utopia, construtora de um novo
natários são todos trabalhadores? projeto pedagógico para a escola brasileira, em particular para
A abertura dos cursos noturnos tem sido um dos artifícios a escola noturna.
utilizados pelos sistemas estaduais de ensino para responder às
pressões sociais, ampliando a rede sem grandes investimentos.
Discutir, pois, a democratização e a qualidade do ensino básico A visibilidade da juventude
exige um olhar especial para a escola noturna, lugar por
excelência onde os jovens trabalhadores buscam não só a Fazer uma nova leitura da escola noturna, a partir dos
qualificação para o trabalho, uma ocupação mais digna, o saber alunos, constitui-se em um de nossos objetivos. Nova porque,
para a sobrevivência, mas também um espaço de sociabilidade ao colocar a centralidade nos alunos - seus anseias, suas
e de troca de experiências que ultrapassam as dimensões do angústias, suas esperanças -, possibilita ver o fenômeno de
processo instrucional. Qualquer diretriz democratizadora da es- outros ângulos, diferentes daqueles tradicionalmente oferecidos
cola pública deve resgatar a discussão político-pedagógica da pelas análises pautadas na central idade do trabalho. Embora
qualidade do ensino noturno na direção de um novo projeto, importantes para explicar a presença dos jovens na escola
para este curso que não signifique, a exemplo do que vem noturna, essas análises não são suficientes. Estamos convictos,
ocorrendo em alguns programas de educação básica para jovens
e adultos, o aligeiramento ou a banalização das finalidades
4. Estamos entendendo por sociabilidade e/ou sociabilização uma forma lúdica
básicas do ensino de 1 grau. Um modelo próprio para os
0
da associação, e sua principal característica é não estar presa a necessidades e
cursos noturnos só será construído a partir de uma avaliação interesses específicos, ou seja, a sociabilidade tem um fim em si mesma. Sociabilidade
mais densa, sistemática e objetiva da sua prática e das repre- entendida como valorização da amizade, das reuniões, das conversas, das festas,
dos encontros e dos diálogos, despidos de um caráter mais instrumental. (Velho,
sentações dos seus principais atores: os professores e alunos.
1986)
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87
também, de que a essa escola se reserva uma outra função mercado de trabalho, "atenuando" a crise do desemprego no
social. Para isso, construímos nosso referencial teórico em país.
autores que centram seus estudos da sociedade em paradigmas Nas sociedades industriais modernas, o tema da juventude
mais amplos, limitando a influência da classe social e a se transforma em um dos problemas da modernidade. Melucci
central idade do trabalho nas determinações da sociedade. Suas (1991) vê no estudo da juventude a possibilidade de compreensão
análises tentam recuperar a perspectiva do ator, seu ponto de do agir coletivo das sociedades contemporâneas. O interesse
vista, sua identidade. Identificam novos sujeitos, penetram na sociológico pelo estudo da juventude estaria no fato mesmo
esfera do cotidiano. Ampliam, portanto, as possibilidades de de os jovens se constituírem como atores de conflito.
explicação das formas de organização da ação e de mobilização
Ariês (1981) procurou reconstituir a formação do senti-
nas sociedades contemporâneas, afastando-se dos paradigmas
mento moderno de infância e afirma que a juventude, como
clássicos da sociologia marxista da luta de classes. Buscam
uma fase socialmente distinta, foi-se constituindo no desenvol-
construir uma nova teoria do social, dos processos que levam
vimento da sociedade ocidental, por meio da progressiva ins-
à produção e reprodução da sociedade.
tituição de um espaço separado de preparação para a vida
O confronto da teoria com o empírico evidencia a ne- adulta. Segundo ele, no período medieval não havia separação
cessidade de se construir um conceito de juventude como entre o mundo infantil e o mu~do do adulto. Ambos conviviam
categoria social? Entender a juventude como um conceito no mesmo espaço. Também não havia a separação entre o
cultural e histórico obriga-nos a contextualizar a sua visibilidade universo familiar e o universo social mais amplo. Enfim,
como categoria social na sociedade brasileira e procurar com- categorias como público x privado, infância x juventude não
preender os diversos processos de construção da sua identidade. existiam na sociedade medieval, quando se tratava das relações
Porém, não se trata de uma juventude brasileira de forma sociais. A constituição do indivíduo era feita sem grandes
genérica, trata-se da juventude composta de jovens filhos da rupturas. Nessa sociedade, a farrulia não era o núcleo básico
classe trabalhadora que estudam em escolas noturnas. Sua da socialização, pois esta era feita no espaço coleti vo.
condição de jovens exige uma aproximação com outros estudos
que tratam das suas relações com a cultura, com o consumo, Porém, a transformação da farrulia, a partir do século
com o lazer, com o trabalho, com a farrulia. Portanto, trata-se XVII, altera as relações de sociabilidade, em particular entre
de compreender as diversas formas de socialização e sociabi- as gerações, passando a retrair-se na vida privada e delegando
lidade dos jovens filhos da classe trabalhadora, que moram à escola o papel de socializar suas crianças. Assim, a criança
nos bairros periféricos das grandes cidades brasileiras e que perde dois espaços importantes para a sua socialização: o
estudam em escola noturna. convívio com o adulto, com a comunidade mais ampla, e em
seguida perde o convívio com a farrulia. Com a extensão da
Nas sociedades modernas, a educação escolar do jovem escola, do tempo de preparo para a vida adulta, a fase de
tem um papel muito importante, pois atua como o "tempo da transição entre a infância e o mundo do adulto vai adquirindo
espera", o tempo de preparação do jovem para a saída da visibilidade, constituindo-se a adolescência e a juventude. No
infância para a idade adulta. François Dubet (1991) analisa entanto, é somente a partir de meados do século XX que a
essa situação na sociedade francesa e conclui que o prolonga- juventude passa a constituir-se em um problema para a sociedade,
mento da juventude operária francesa, via prolongamento do com o surgimento, na Europa, através dos movimentos de
tempo da escola, tem como objetivo deixar o jovem fora do jovens delinqüentes, contestadores e excêntricos que se reve-
lavam contra a ordem estabelecida, seja por meio da música,
5. Ver lanni, Mannheim e Foracchi. da arte e atitude de niilismo diante da vida (Abramo, 1994).

88 89
Nas classes populares, o movimento de oposiçao dos jovens
se deu sob a forma de delinqüência e criminalidade.
r
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I com as condições materiais da existência, isto é, ele é histórico,


socialmente determinado.
I
Na América Latina, a juventude toma-se visível somente Sem negar a importância atribuída à família, a exemplo
I!
a partir da década de 60, com a crise do modelo econômico de Eisenstadt, porém com outra conotação, o autor explica que
excludente, que atinge a maioria dos jovens filhos de traba- outros mecanismos operam nas relações entre as gerações, entre
lhadores. Segundo Octavio lanni (1968: 159): esses, a grande importância atribuída pelos adultos aos jovens
na sua capacidade de preservar e renovar, seguindo os sistemas
"a história do capitalismo tem sido a história do advento de valores, instituições e ideais coerentes com o status quo
político da juventude. Para instaurar-se ou durante o seu (Ianni, 1968). No seio da família apenas se inicia o processo
desenvolvimento o capitalismo transforma de forma tão de estranhamento do jovem com os valores da sociedade, mas
drástica as condições de vida de grupos humanos, que a
é no grupo mais amplo dos amigos, da escola, que ele vai
juventude se torna rapidamente um elemento decisivo dos
movimentos sociais". perceber as contradições do sistema sociocultural e econômico
desigual das sociedades capitalistas. Instaura-se, assim, a relação
Entre as décadas de 60-70, os estudiosos da sociologia de negatividade com o .prêsente, daí o seu comportamento
radical.
da juventude brasileira (Ianni, 1968, Foracchi, 1972) centram
suas análises no comportamento político da juventude, tendo Foracchi (1972), ao analisar os movimentos estudantis da
como certo sua capacidade de desenvolver uma postura crítica década de 60, conclui que estes se afirmam como um "poder
e transformadora da sociedade. A condição juvenil era identi- jovem, potência nova que, desconhecendo sua força, recria na
ficada com os jovens universitários filhos das classes médias. imaginação e na utopia, a práxis de um mundo que apenas se
A grande maioria da juventude brasileira não era visível. Os esboça". Segundo a autora, a juventude representa a categoria
estudos sobre esta juventude ou tratavam da sua marginalidade social sobre a qual se manifestam de forma mais visível as
ou das suas relações com o trabalho/desemprego. crises do sistema. Para ela, a noção de juventude se impõe
Ao analisar o comportamento radical (de direita ou de como categoria histórica e social, no momento em que se
esquerda) do jovem, lanni discorda das explicações da emer- afirma como produto histórico, como movimento de juventude.
gência dos conflitos da juventude como uma crise _específica
de uma idade social das pessoas, pois, segundo ele, o que
A busca de uma identidade jovem
gera a crise é a própria natureza do sistema social criado com
a sociedade industrial. "O inconformismo juvenil é um produto
Toda identidade é um conjunto de representações que a
possível do modo pelo qual a pessoa globaliza a situação
social." sociedade e os indivíduos têm sobre aquilo que dá unidade a
uma experiência humana que, por definição, é múltipla e
lanni retoma também as análises feitas por Mannheim facetada, tanto no plano psíquico como no plano social. Essas
(1982) quando esse afirma que o problema da adolescência representações, evidentemente, são construídas de forma dife-
em nossa sociedade está no conflito entre o desejo de autonomia rente segundo os diversos tipos de sociedade, segundo o lugar
do jovem e a insistência paterna em manter a dependência. social que o indivíduo ocupa na sociedade e os conjuntos de
Contestando essa tese, lanni afirma que ela não explica o valores, de idéias e normas, que pautam o código de leitura,
comportamento do jovem em sociedades urbanas industriais, por meio do qual ele interpreta a sua visão de mundo. É a
pois seu comportamento radical está estreitamente vinculado partir desses referenciais que o indivíduo organiza a sua
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li!
percepção da realidade. Portanto, toda identidade é socialmente socialização dos jovens moradores dos bairros periféricos das
construída no plano simbólico da cultura. Ela é um conjunto grandes cidades brasileiras exigem a busca de novos referenciais,
de relações e de representações. de novas interpretações.

Se queremos pensar a identidade dos jovens diante dos Até meados da década de 80, a maioria dessas interpre-
outros com os quais eles se relacionam, se confrontam na tações tem como ponto de referência a comparação com os
família, na escola, no trabalho, no espaço da rua, entre outros, movimentos juvenis dos anos 60, em relação aos quais os
temos que' pensar qual é a rede de significados que a vida - movimentos espetaculares da década de 80 apareciam como
social constrói no plano simbólico da cultura e que é movida significativos de uma juventude carente de idealismo e de
pela própria dinâmica da sociedade. Rede de significados diante e~p~nho transfo~ador, sem nenhum interesse pelas questões
da qual os jovens estão dizendo quem são, se aceitam ou não pubhcas ou coletivas (Abramo, 1994) Nessas análises, os jovens
as identificações que lhes são atribuídas pelos adultos, se são considerados como incapazes de formular propostas de
estabelecem campos de negociação com os outros atores, com transformação social, permanecendo no seu individualismo e
os quais se confrontam, se transformam ou manipulam as pragmatismo, muito identificados como os novos consumidores
representações que os outros fazem de si. Pois ninguém pode da indústria cultural.
construir sua identidade independentemente das relações com Mais recentemente, o agravamento da crise social, com
os outros. Toda identidade exige um opositor, exige uma a retração ou diminuição do poder de mobilização dos movi-
relação. mentos populares, impõe a busca de outros referenciais para
Em graus diversos de complexidade, podemos pertencer a compreensão das novas ações coletivas que se gestam em
a várias identidades: a identidade pessoal, a identidade de meio à crise dos modelos da modernidade. Nesse panorama,
pertencer a uma família, uma identidade social etc. O que as questões da juventude alcançam outras dimensões. Os es-
muda é o sistema de relações ao qual nos referimos e a respeito tudiosos estão mais preocupados em perceber as formas de um
do qual temos nosso reconhecimento. Assim, o jovem tem uma agir coletivo entre os jovens e os diversos processos de sua
identidade na família, na escola, "no pedaço", no trabalho. A socialização nos espaços da cidade, da rua, do trabalho, da
capacidade de se reconhecer e de se fazer reconhecido nessas escola. Procuram dirigir suas análises para o reconhecimento
diversas situações consiste no que Melucci chama de afirmação de que os jovens, em particular os filhos da classe trabalhadora,
da identidade. são atores sociais portadores de novas identidades coletivas
(Sposito, 1994).
No quadro desta complexidade da sociedade moderna
tentamos compreender como os alunos da escola noturna de Nessas análises, a escola não é mais vista somente como
1 grau, vivendo no seu cotidiano diversos papéis, estabelecendo
0 o espaço onde se reproduz a força de trabalho, mas também
relações pautadas por diversas lógicas, estão construindo suas como um espaço de socialização, de afirmação da identidade
identidades individual e coletiva. do jovem, como espaço de práticas sociais libertadoras.

No campo da sociologia da juventude, os estudiosos . Entretanto, no Brasil, a maioria dos estudos dedicados
retomam as discussões sobre a importância dos jovens como aos jovens tem voltado a atenção para as relações entre trabalho
atores políticos, não mais puramente identificados como estu- e educação. Nesses estudos, os jovens são identificados como
dantes universitários pertencentes às camadas mais privilegiadas trabalhadores e a escola como instituição a serviço do capital.
da sociedade, mas como jovens da classe trabalhadora que Assim, o tratamento da juventude é, geralmente, subordinado
sofrem o processo da exclusão social. Os novos processos de à ótica das questões maiores referentes às formas de exploração

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I il
pesquisas em educação, deixando assim de contribuir par
e de reprodução da força de trabalho, ou dos problemas gerais a superação de alguns de seus ímpasses" (1994: 35).
que a estrutura educacional do país coloca em termos de
qualificação e aproveitamento escolar. Ou seja, mesmo nos Repensar as possibilidades da escolarização dos jovens
estudos que tomam o jovem como tema, poucos são aqueles filhos da classe trabalhadora diante da crise que perpassa toda
que enfocam as significações que essas experiências têm para a sociedade brasileira, neste final de século, é uma tarefa
eles (Telles & Abramo, 1985, apud Abramo, 1994: 53). complexa e, ao mesmo tempo, um desafio. Porém, os momentos
- . - -
Falar das questões juvenis é ampliar as análises para além de crise são sempre portadores do novo. E é a busca desse
das relações com o trabalho e a escola. Cada vez mais a novo que se coloca como um desafio para a escola brasileira.
juventude se apresenta como uma problemática cultural e Desafio que nos estimula a buscar novas alternativas que
política. Suas novas formas de ação, seus modos espetaculares possam viabilizar os projetos dos jovens. Desafio que provoca
de existir por meio da música, dança, vestuário etc., indicam um repensar da educação para uma sociedade sem modelo e
que esses jovens, paradoxalmente, buscam a integração, mesmo em crise com seus velhos paradigrnas.
que essa integração se faça pela inserção no mundo do consumo, Sabemos todos que a escola pública brasileira vive mo-
da produção de imagens, símbolos etc. O apelo ao consumo, mentos de crise e de desafios que não podéin- ser reduzidos
estimulado pela indústria cultural, colabora para que esses unicamente à situação de empobrecimento social e ausência de
jovens entrem precocemente no mundo do trabalho, e, algumas políticas consistentes do Estado. As possibilidades de acesso
vezes, no mundo da droga e da criminalidade. Todos esses à escolarização das crianças e jovens filhos das classes traba-
espaços por onde o jovem vai construindo e/ou afirmando a
lhadoras e, principalmente, a garantia da permanência constituem
sua identidade são importantes como potencialidades de gestar
aspectos indissociáveis de um mesmo processo excludente que
novas identidades coletivas. Porém, é urgente que se conheçam
necessita de soluções que não se circunscrevam apenas às
jovens e seus espaços, os processos de afirmação de sua
políticas educacionais.
identidade, suas características essenciais para que se possa
pensar em políticas públicas especialmente destinada a essa Da perspectiva de seus atores, os jovens, sujeitos do
parcela da população. processo educacional, a experiência da escola vem marcada
por cont1itos entre os diversos tempos que pautam sua vida.
À linearidade do projeto escolar se junta a linearidade do
A escola como espaço de sociabilidade processo de trabalho mercantilizado diante dos ritmos e ciclos
da vida cotidiana, gerando profundas insatisfações.
A educação dos jovens trabalhadores, sua exclusão da As necessidades dos jovens são mais amplas do que a
escola em razão de várias repetências, da ausência de um freqüência à escola. Os jovens buscam na escola um espaço
projeto pedagógico que atenda a sua dupla condição de jovem de sociabilidade e de troca de experiências que ultrapassam as
e de trabalhador e seu retorno à escola mediante cursos noturnos, dimensões da simples, porém importante, busca da instrução.
não têm merecido muita atenção dos estudiosos. Segundo Daí a sua capacidade de inverter, até pela própria incapacidade
Sposito: da escola, as funções para as quais ela foi criada. Os jovens
conseguem transformar espaços estruturados por horários e
na inexistência de uma política específica para os cursos atividades rígidas em espaços de descontração, criando redes
noturnos caminhou ao lado da escassez de pesquisas sobre de relações sociais que ampliam a sua sociabilidade. A função
o tema. Ausente das políticas educacionais do Estado, o
inculcadora e disciplinadora da escola vem perdendo sua ca-
curso noturno também não se constituiu num tema de
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..1;
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pacidade de influenciar esses jovens - que reinventam outra regularmente. Apesar da importante contribuição desses autores,
função socializadora para ela. reconhecemos a necessidade de novas formas de compreensão
da questão em estudo.
Porém, isso não ocorre sem conflitos. Em que medida a
escola, por não cumprir uma de suas funções que é a de Nossa pesquisa encontrou 'um grupo de jovens, na sua
socializar um saber escolar requisitado pelo conjunto da socie- maioria entre 14-17 anos, que deve sua entrada na escola
dade, e por não preparar os jovens para uma inserção no noturna nem tanto ao trabalho precoce, mas, muito mais, às
mundo do trabalho, não estaria criando novos problemas para sucessivas repetências e evasão da escola. O trabalho para eles
a própria sociabilidade desses jovens no mundo do trabalho, veio em conseqüência do estudo. Por outro lado, nosso estudo
da família, da cultura? Quais relações significativas a escola evidenciou que é o próprio trabalho que garante a freqüência
está deixando de estabelecer com os jovens que a procuram? desses jovens à escola. O trabalho é visto por eles como uma
forma de garantir a sobrevivência, mas, também, como processo
Sabemos que os jovens têm uma trajetória de vida mul- capaz de ampliar suas redes de relações sociais e sua entrada
tifacetada, pois a transitoriedade, urna de suas características no mundo de uma cultura simbólica que lhes dá não o status
marcantes, envolve projetos e caminhos diversos: a vida pessoal, de trabalhadores, mas a possibilidade de identificarem-se como
o lazer, a sexualidade, conflitos e perspectivas de vida em uma categoria social - a juventude.
farru1ia, alternativas para a participação e presença na vida
pública. Todas essas questões constituem fortes desafios para Como bem salienta Bourdieu (1983: 115):
um repensar a escola. Infelizmente, porém, essas questões, e
"Ainda hoje, uma das razões pelas quais os adolescentes
tantas outras, não fazem parte das reflexões e discussões das
das classes populares querem abandonar a escola e começar
propostas pedagógicas das escolas públicas dirigidas aos jovens. a trabalhar muito cedo, é o desejo de aceder o mais
No caso da escola noturna, essas questões são bem mais rapidamente possível ao estatuto de adulto e às capacidades
presentes, o que toma mais visíveis os seus problemas e levanta econômicas que lhes são associadas: ter dinheiro é muito
uma série de indagações sobre qual projeto pedagógico seria importante para se afirmar em relação aos colegas, em
capaz e necessário para atender às reais necessidades dos relação às meninas, para poder sair com os colegas e com
as meninas, portanto, para ser reconhecido e se reconhecer
jovens.
como um homem. Este é um dos fatores do mal-estar
Pensamos que qualquer proposta para a escola noturna que a escolaridade prolongada suscita nos filhos das classes
só poderá tomar-se viável na medida em que tenha como populares."
pressuposto básico a dupla condição de jovem e de trabalhador
do seu aluno. Por outro lado, seria necessário admitir como Também Alba Zaluar verificou processo semelhante entre
ponto de partida, que é preciso realmente conhecer esse jovem as jovens de um bairro popular do Rio de Janeiro. Segundo
na sua condição de trabalhador, decifrar suas angústias, espe- ela, um dos motivos destas buscarem o trabalho precoce é o
,i desejo de comprar roupas que as identifiquem como jovens no
ranças, expectativas e sonhos.
seu grupo.
Foi essa a nossa intenção ao tentarmos conhecer um
grupo de jovens estudantes da escola noturna de um bairro do A comprovação de nossa tese inicial de que o aluno da
subúrbio de Salvador. Esse esforço permitiu-nos questionar Escola Noturna de 1 grau, particularmente de 5 a 8 séries,
0 05 05

algumas das afirmações sustentadas por um grupo de educadores, é o jovem que tenta conciliar o estudo com o trabalho,
segundo os quais a escola noturna é freqüentada por adultos permitiu-nos identificar algumas categorias de análise que nor-
trabalhadores e que o trabalho os impede de freqüentar a escola tearam todo o desenvolvimento do estudo.

96 97
A escola tem um papel importante na socialização se- perdendo seu status de primeira agência SOCializa
cundária dos jovens. No seu espaço, em contato com pessoas
crianças e dos jovens coloca algumas questões impona~~es
de uma mesma geração, os jovens constróem suas identid~d~s
a compreensão do papel socializador da escola. AnalisanJ'~ a
pessoal e coletiva, estabelecem redes significativas de SOCIabI-
"cultura da rua" e o papel da escola para as crianças pobres,
lidade.
Paiva (1992: 87) conclui que:
Sem desconhecer os problemas estruturais da soci~dade
brasileira e que refletem na escola, propomos anaiisar a escola ( "O- único caminho capaz de facilitar a aprendizagem é o
noturna a partir da ótica de seus atores: no nosso caso, ~lu~~s da identificação com os personagens do mundo escolar,
jovens, percebendo na sua prática possibilidades de soclabl~l- mas isso significa para o aluno pobre a necessidade de
zação e de construção da identidade de seus atores. Nao negar seu mundo fora da escola em favor de um modelo
desconhecer a condição de trabalhadores ou futuros trabalhado~es alternativo à rua e até certo ponto à família".
desses jovens, mas queremos chamar atenção para o sent1~o
da escola para esses jovens e não apenas na ótica da relaçao Portanto, para os filhos das classes trabalhadoras, a escola,
capital e trabalho. além do seu papel específico de lidar com a cultura, com os
conhecimentos socialmente produzidos e com habilidades mí-
As análises mais freqüentes sobre o processo de escola-
nimas de uma sociedade letrada, tem também a função de criar
rização dos jovens filhos de trabalhadores evidenciam que a
necessidade de trabalhar obriga esses jovens a abandonar a redes significati vas de socialização e de sociabilidade, necessárias
escola ou impede o seu acesso. Porém, as estatísticas vêm à construção de suas identidades individuais e coletivas. A
demonstrando que uma parcela cada vez maior de adolescentes função sociabilizadora é aqui entendida como um conjunto de
tem acesso à escola de 1 e 2 graus, exatamente porque estão
0 0 relações significativas, porém sem necessidades e interesses
exercendo uma atividade remunerada. A necessidade de ajudar específicos. Para os jovens, a escola pode constituir-se num
a fanu1ia, aliada à pressão do consumo, além de outros fatores, espaço diferente. Entre o cansaço do trabalho e os problemas
impulsiona os jovens a procurar trabalho. Por outro lado, as com a fanu1ia, eles preferem a escola, mesmo que sua freqüência
afirmações de que o aluno da escola notu~a a procura .por se restrinja, muitas vezes, aos espaços dos corredores e do
motivo de trabalho nem sempre revelam a reahdade. Em.mUltos pátio. Marcados por um cotidiano denso de relações conflituosas
casos o trabalho vem como conseqüência da freqüência à com o trabalho, com a fanu1ia, esses jovens transformam o
escola noturna. Há um medo generalizado entre as fanu1ias ambiente da escola em espaços agradáveis, onde há lugar para
pobres sobre os perigos da rua e uma alternativa viável para o namoro, a brincadeira, o encontro com os amigos. Esses
minimizar esse medo é manter o jovem sempre ocupado. Entre espaços são recriados nos interstícios da organização escolar,
a casa e a escola sobra muito pouco tempo para a rua, para entre uma aula e outra, nas ausências dos professores ...
o ócio. A rua deixou de ser uma das referências tradicionais
da socialização do jovem e tomou-se o "espaço do peri~o'-" "Eu fico o dia. todo tornando conta de meus irmãos,
Também a fanu1ia, tradicionalmente responsável pela SOCIalI- lavando, cozinhando, arrumando meus irmãos pra ir pra
zação primária dos filhos, vem perdendo sua força co~o agência escola, e fico doida que chegue de noite pra eu vir pra
socializadora. Premidas pelas necessidades de garantir a sobre- escola e ficar com minhas amigas. Eu já disse pra minha
mãe que quando eu acabar a 8" série, eu vou arranjar
vivência do grupo familiar, as mães se inserem no mercado
um emprego. Aqui na escola a gente conversa com os
de trabalho e passam a delegar à escola e ao trabalho a função
professores, arranja alguma paquera, eu estou até namo-
de socializar seus filhos. A constatação de que a farru1ia está rando um colega da sala" (aluna da 7" série).
98
99
Essa fala levanta questões pouco abordadas nas anális~s Nas falas dos alunos, a escola é sempre apresentada como
sobre a escolaridade dos alunos trabalhadores. Para esses, CUJO a principal saída para uma vida mais digna, onde as dificuldades
cotidiano é tomado por responsabilidades, a escola passa a ter econômicas são reduzidas e as oportunidades de um futuro
uma importância como espaço do encontro e encontro com melhor ampliadas. Porém, na prática, uma das leituras que eles
pessoas com as quais mantêm uma relação diferente daquela fazem da escola noturna pouco se aproxima do objetivo que
na farru1ia e no trabalho. A rua para alguns e a escola para lhe foi reservado oficialmente, ou seja, a escolarização de
todos é o lugar privilegiado para estabelecerem relações sociais trabalhadores. (Carvalho, 1989)
mais amplas, o que pode contribuir na formação da sua
identidade. A maioria dos alunos fala da presença marcante Aqui pra mim é o paraíso, apesar da desorganização da
11

da escola como espaço de novas relações. Magnani (1984) escola e da chatice do professor ... que fica pegando no
afirma que: "Curiosamente, a escola, pela sua desorganização pé da gente e não deixa a gente ficar na escola quando
não tem aula... Eu gosto de vir para a escola. Aqui a
interna e pela falta constante dos professores, toma-se um
gente combina o show do Doce Obsessão" (aluno da 6"
'pedaço' bastante freqüentado pelos jovens". série).
A escola toma-se, assim, um espaço intermediário entre
í ',j
o privado (a casa) e o público (a rua), onde se desenvolve Também Guimarães (1992: 61), em estudo sobre a escola
. ,I. " uma sociabilidade básica, mais ampla que a fundada nos laços noturna, observou que os alunos são capazes de:
: ~
"111
~: familiares, porém mais densa, significativa e estável que as
: --i"
relações formais e individualizadas impostas pela sociedade. "(...) metamorfosear o ambiente de trabalho e a própria
'II;1~ escola em espaços agradáveis, onde há lugar para a
Esse espaço da escola adquire um valor imenso quando ob-
brincadeira, o encontro com o amigo confidente. (...) Esses
servamos as relações instáveis que os jovens estabelecem com
momentos de reconstrução cotidiana se dão nas situações
o trabalho: mais diversas, assumindo formas tão surpreendentes, quan-
to gratificantes".
"Já mudei de trabalho muitas vezes. Da última vez eu
me chateei com um colega e pedi as contas". (aluno da Acreditamos que uma das saídas possivers para que a
8" série)
escola se transforme num espaço de sociabilidade entre os
"Eu já trabalhei em muito lugar. O patrão acha porque jovens seja justamente essa capacidade de subverter o conven-
a gente é de menor pode dispensar a gente de qualquer cional, buscar outros objetivos para a escola. Acreditamos,
jeito" (aluno da 5" série).
também, que o modo como os jovens reconstroem o próprio
cotidiano da escola, aliviando o tempo de trabalho, repensando
Por outro lado, essas relações transitórias e instáveis diante
a escola para além da simples transmissão do conhecimento,
do trabalho, aliadas a outras instabilidades no meio da família,
é uma forma efetiva de lutar por uma nova sociedade (Guimarães,
nos processos de migração de um bairro a outro etc., dificultam
~ 1992). Queremos crer que esses jovens estão sendo portadores
a criação de laços mais perenes entre os jovens, tomando a
de novas identidades coletivas que, se reconhecidas e trabalhadas
I., escola um dos espaços possíveis para uma vinculação mais
pela escola, poderão gestar novos atores sociais conscientes e
duradoura com os amigos, com os colegas.
,I Cabe agora uma indagação. Como a escola pode se
comprometidos com a mudança, com os projetos de uma nova
"
i sociedade. E para gestar esses novos atores coletivos é importante
transformar em um "pedaço" capaz de ampliar essa rede de que a escola não seja vista somente como um passaporte para
sociabilidade do jovem? se conseguir um emprego melhor, a mobilidade social, mas

100 101
'n"-.....,.

seja vivida pelos jovens como uma forma de buscar o conhe- era concebida como possibilidade transformad
romper as d esigu . ald ades SOCIaIS,
. . econômicas e polític
Ora
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cimento para o crescimento pessoal e social. É preciso que a
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d a d a socie a e. ssas ana ises tiveram entre seus mé't as à" "
escola seja uma ferramenta para o jovem conhecer melhor a ri Os O
própria comunidade e a sociedade para poder participar efeti- romper com as ilusões do liberalismo e do econo"";c' lSmo
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vamente como protagonista da sua história. educativo representadas pela Teoria do Capital Humano.
Ao insistir. no caráter reprodutor da educação, as análises
reprodutivistas acabaram por, implicitamente, negar aos setores
o trabalho - uma categoria necessária populares as possibilidades de formular demandas educativas
de acordo com seus interesses e necessidades. Entre as teses
Também o trabalho foi outra categoria que, aliada à centrais defendidas pelos teóricos da reprodução está o relativo
categoria de estudante, nos permitiu compreender os processos papel da educação na determinação da estrutura da força de
de uma sociabilidade mais ampla do jovem no conjunto da trabalho. Sua hipótese central consiste em afirmar que o sistema
sociedade. Nosso interesse foi compreender nem tanto a razão educativo atua como elemento diferenciador da força de trabalho,
instrumental do trabalho e da escola, mas perceber de que oferecendo ao mercado um conjunto já estratificado em virtude
forma o trabalho e a escola estão contribuindo no processo de da seleção escolar: "As diferenças sociais seriam encobertas
subjetivação e de individualização do jovem diante da frag- como se fossem diferenças educativas",
mentação da sociedade contemporânea. Partimos do princípio
Nos anos 90, novos estudos começam a questionar as
que o trabalho, embora presente na vida da maioria dos jovens reflexões que têm o trabalho como categoria central na análise
pesquisados, não é uma categoria central capaz de estruturar da sociedade. Estes questionamentos perpassam as discussões
sua vida.
presentes sobre a função da educação diante do rápido processo
A compreensão da presença dos jovens na Escola Noturna de desenvolvimento da sociedade, do avanço científico e tec-
nos coloca a necessidade de perceber como esses jovens vêem nológico e seus impactos na força de trabalho, na educação
o trabalho e de que maneira este pode constituir-se como escolar e na formação de mão-de-obra. A crise da sociedade
afirmação de suas identidades. Os estudos que abordam a do trabalho tem sido debatida por meio de um conjunto de
relação entre educação e trabalho, na sua maioria, têm como reflexão que, em linhas gerais, é constituído por duas grandes
eixo estruturador o caráter reprodutor da escola nas relações vertentes de análise: uma que analisa os indicadores dessa
entre capital e trabalho. Nosso estudo pretendeu fazer uma crise, seus impactos na vida social e as perspectivas abertas
breve reflexão sobre essas relações, identificando teorias que por esse novo momento no mundo do trabalho, outra, teóri-
tratam ora da central idade do trabalho, ora da crise do trabalho co-metodológica, que privilegia uma abordagem conceitual de
na construção do social. categorias sociológicas que explicam a central idade do trabalho
nas sociedades modernas, tomando como referência as principais
Na década de 70, no bojo das discussões sobre o caráter
transformações históricas em curso.
reprodutor da escola, as análises sobre a escolarização dos
jovens filhos da classe trabalhadora refletem uma estreita relação A primeira aponta para a crise e não o fim da sociedade
entre o trabalho e a escola como forma de "educar" o futuro do trabalho, e tem como principal representante Baethge. A
trabalhador. São os chamados teóricos da reprodução, que, .segunda diagnostica o fim da sociedade do trabalho, e seu
principal articulador é Clauss Offe.
baseados em estudos de Bourdieu, Establet, Passeron, Althusser
etc., ao denunciarem o caráter reprodutor da escola brasueira, Os autores que falam da "crise da sociedade do trabalho"
romperam com a tradição liberal segundo a qual a ação educativa negam que este esteja perdendo centralidade na explicação da

102 103
sociedade, e continuam afirmando que as "chances de partici- principalmente como um projeto de família em melhorar de
pação social, política e cultural dos indivíduos ainda são vida, o que significa encontrar possibilidades de fugir da
determinadas, em parte, por sua posição no sistema produtivo. pobreza. A freqüência à escola faz parte desse projeto entre
Estes autores, geralmente, problematizam questões tais como os trabalhadores, daí o grande 'esforço que as famílias fazem
o fenômeno da globalização da economia, da crise do fordismo para manter seus filhos na escola, inclusive com um redimen-
e do pós-fordismo, dos novos problemas tecnológicos e orga- sionamento dos parcos orçamentos domésticos e a inserção
nizacionais que configuram o novo contexto do processo de precoce de alguns filhos no mercado de trabalho.-
terceirização nas sociedades modernas.
Porém, ao lado da importância atribuída à escola, os
No momento, as análises em tomo da crise da sociedade jovens, ao tentarem conciliar o tempo da escola com o tempo
do trabalho e a sua tradução no discurso pedagógico por meio
do trabalho, fazem-no a partir da lógica de um projeto coletivo
da relação trabalho e educação estão sendo pautadas por
que inclui obrigação entre os membros da farru1ia e que se
discussões calorosas sobre a "qualidade total da escola", que,
traduz na vontade coletiva de melhorar de vida. É essa lógica
em linhas gerais, pretende transferir para a escola os mesmos
que motiva suas existências e que os mantêm "iguais" em
critérios de qualidade utilizados nas empresas. Mais uma vez,
relação a seu grupo de referência. Lógica que transcende a
o discurso das relações entre capital e trabalho na educação
razão prática (Sarti, 1994: 129). Portanto, o trabalho para os
se reveste de uma nova roupagem.
jovens filhos da classe trabalhadora tem uma outra lógica que
Diante destas observações, questionamo-nos sobre quais vai além da razão instrumental. Sua concepção de trabalho
seriam os campos de possibilidades do trabalho para a socia- envolve outras referências diversas das que constituem a lógica
lização dos jovens e em que medida as análises sobre a relação mercantil do mundo capitalista.
entre educação e trabalho não estariam sendo pautadas em uma
relação de um trabalhador abstrato com as máquinas e tecno- Toda essa reflexão retoma a discussão sobre a centralidade
logias de última geração. O que dizer dos milhares de jovens do trabalho como categoria de análise do social. Segundo Offe
desempregados e subempregados engajados na força de trabalho (1989), na elaboração do moderno pensamento social, de Marx
do mercado de trabalho informal? a que essas análises teriam a Durkheim, a categoria trabalho é fundamental, porque, então,
para lhes dizer quando estes afirmam que querem estudar para o mundo do trabalho era o universo inclusivo onde se inseriam
conseguir um emprego melhor, que, em síntese, significa escapar os atores sociais. A tradição clássica concebia a sociedade
da pobreza? É possível falar hoje da centralidade do trabalho moderna e sua dinâmica como uma "sociedade de trabalho".
para a análise do social diante de tantos desempregados? Quais Porém hoje, com o desenvolvimento, o essencial da existência
conteúdos podem ser significativos para jovens que trabalham dos atores se desenrola para além do mundo do trabalho.
de 8 a 10 horas por dia e à noite vão à escola na esperança Entretanto, o autor chama a atenção da importância do
de que essa lhes possibilite melhorar de vida? Como tomar o papel específico que o trabalho, a divisão de trabalho, as classes
saber sobre o trabalho um conteúdo significativo diante da trabalhadoras, as normas de trabalho, a organização do trabalho
diversidade das atividades dos alunos numa sala de aula? a e seu correspondente conceito de racional idade desempenham
que dizer sobre o trabalho para jovens que não se sentem na sociologia clássica. Hoje, porém, Offe questiona esse poder
trabalhadores que estudam mas estudantes que trabalham, in- do trabalho assalariado como elemento determinante na expli-
clusive para manter os estudos? cação do social.
O trabalho para esses jovens funciona quase como um Perseguindo o raciocínio do autor, poderíamos dizer, numa
rito de passagem do mundo infantil para o mundo adulto, mas primeira aproximação com a questão, que a racionalidade que
104
105
também, perceber formas de socialização que exr
foi capaz de compreender a dinâmica do mundo moderno já determinações de classe e estão vinculadas a u~?~~
não basta para apreender a dinâmica da sociedade contempo- relações significativas para a constituição de sua identi~ad
rânea. A dialética do trabalho, embora importante, se não Para os jovens pesquisados, o trabalho não significa apenas ea
combinada com a dialética de outras relações sociais, toma-se garantia da sobrevivência do núcleo familiar e a capacidade
inoperante para explicar o nosso tempo. de consumo. Ao deixar o espaço do bairro onde mora para ir
O autor justifica sua descrença. na capacidade de o trabalho trabalhar em outros locais, o jovem amplia suas possibilidades
assalariado estruturar as relações sociais a partir da evidência de sociabilidade por meio de laços de amizade, de coleguismo,
de uma série de pesquisas sociológicas em que o trabalho e de solidariedade etc. A fala desses jovens revela uma outra
a posição dos trabalhadores no processo de produção não são razão, revela necessidades diversas, outras referências, vai muito
tratados como o princípio de organização das estruturas sociais; além da razão prática ou da lógica mercantil do mundo capi-
que a dinâmica do desenvolvimento social não é concebida talista.
como emergente dos conflitos a respeito de quem controla a Apesar de reconhecermos que os jovens transfiguram suas
empresa industrial etc. Nas sociedades industriais contemporâ- necessidades em virtudes, não podemos desconhecer que o
neas, o uso de tecnologias avançadas transformam o "trabalho trabalho é um campo de possibilidades de estruturação de suas
vivo" em "trabalho morto", abstrato e parcializado, aumentando identidades. Neste sentido, concordamos com Gilberto Velho
as' suas diferenciações internas e, por conseguinte, diminuindo que, ao privilegiar a subjetividade e a sociabilidade nas relações
o seu poder de determinar o social.
sociais, sugere o retomo e a valorização da amizade, dos
O que dizer da sociedade brasileira, na qual, com exceção encontros, das reuniões, despidos de um caráter mais instru-
de um pequeno segmento de mão-de-obra mais qualificada e mental, como forma de garantir a constituição de sujeitos
mais valorizada e, conseqüentemente, com maior garantia de plenos, integrados. Segundo ele, esses espaços de sociabilidade
emprego, uma ampla maioria de trabalhadores tem uma trajetória permitem a construção de identidades sociais num contínuo
de trabalho regida pela insegurança, pela instabilidade, pela processo de interação entre seus atores.
precariedade nos vínculos que estabelecem com o trabalho? Também Lapeyronnie, ao analisar as relações dos jovens
Portanto, é preciso rever o poder do trabalho na deter- na sociedade contemporânea, fala da necessidade da busca
minação das relações sociais mais amplas, em particular na legítima do individualismo, trazendo a dimensão pessoal da
socialização do jovem, na construção de sua identidade, mesmo existência, da realização pessoal, do resgate da dignidade.
porque estamos diante de unia situação nada promissora, em Segundo o autor, a construção da identidade individual não
que o desemprego já é uma experiência normal da população passa mais pelo trabalho.
brasileira. Apesar de os jovens apresentarem um maior índice
de escolaridade que seus pais, o que de certa forma lhes "Procura-se, eventualmente, um emprego para poder sa-
protegeria mais do desemprego, esta é uma realidade na vida tisfazer paixões. pessoais. As idéias de uma relação neces-
deles. sária entre o progresso social e a valorização do trabalho
desapareceram" (Lapeyronnie, 1992: 22).

Concordamos com Lapeyronnie quando diz que a vida


E os jovens, como pensam o trabalho?
social não é mais estruturada em tomo da produção, pelo
conflito no interior de um mesmo espaço, O espaço da fábrica
Nosso contato com os jovens da escola noturna permite-nos não constitui apenas relações conflituosas de trabalho versus
buscar outras abordagens para essas relações. Permite-nos,
107
106
II ~
I'
produção. No seu espaço, nos seus interstícios, uma rede de etapas importantes para o seu desenvolvimento. Se a situação
relações significativas vai sendo construída. São relações pau- de pobreza os impele para o mundo do adulto por meio do
tadas pelo cansaço, pela solidariedade, pelo desejo de mudar trabalho, a escola deveria ser o espaço de experiências demo-
a vida. E é nesse sentido que compreendemos a fala da jovem cráticas, de construção de identidades coletivas.
que anseia encontrar um emprego:

"Há mais de um ano que estou desempregada e não Trabalho e família: .uma relação delicada
agüento mais ficar parada em casa. Já consegui um para
trabalhar em casa de família, mas eu quero ver gente, Esses jovens, educados pelas farrulias na ética do trabalho,
quero ter colegas, me arrumar, me produzir para ir tra-
estabelecem com esse uma relação contraditória. Ao mesmo
balhar" (aluna da 6 série).
4

tempo em que vêem na sua ocupação presente um momento


de aprendizagem para um trabalho futuro, falam com orgulho
Em relação à inserção dos jovens no mercado de trabalho,
partimos do princípio que é muito limitado tentar compreender da autonomia que têm em relação à farrulia, principalmente
as causas dessa inserção precoce no mundo do trabalho somente com as mães. Suas falas deixam bem clara essa situação:
por meio da sua situação de marginalidade e pobreza. Não
"Um dia meu pai quis me bater porque eu estava namo-
consideramos que a necessidade de trabalho seja unicamente
rando um colega e estava chegando tarde em casa todo
uma realidade imposta pelas condições de pobreza das farrulias, dia. Daí eu disse pra ele que eu sou dona da minha vida,
mas que essa necessidade se constrói no próprio processo de que já posso comer e beber sem depender dele. Na minha
socialização do jovem, na afirmação da sua identidade. Trabalhar, casa a conta da luz fica por minha conta" (aluna da r
receber algum salário para quem tem uma autonomia relativa, série).
mas está procurando aumentar seu grau de autonomia, só pode
significar liberdade (Madeira, 1986). Alguns estudos brasileiros, Essa relação contraditória entre ser menor dependente e
entre eles os de Gouveia (1983), Madeira (1986) e Spindell ser trabalhador termina por influenciar as formas de socialização
(1985) falam com muita procedência do significado de liberdade dos jovens tanto na farrulia como na escola. Segundo Zaluar
contido na decisão de trabalhar por parte dos jovens. Para eles, (1992), o conflito dos jovens com seus pais, principalmente
ser livres significa ter liberdade para tomar decisões sobre a coto as mães, aparece como resultado dos novos padrões de
própria vida; é ter autonomia em fazer uso do seu dinheiro, consumo que lançam os jovens no mercado do vestuário e das
de comprar, de consumir os bens culturais que os identifiquem atividades de lazer variadas, muitas vezes incompatíveis com
como jovens. a economia doméstica e a sua hierarquia de consumo. Entre
-,
Enfim, não podemos compreender as relações que os esses jovens, o trabalho, ao mesmo tempo em que os coloca
jovens estabelecem com o trabalho sem reconhecer a importância numa situação de explorados, possibilita a afirmação de sua
da sua condição juvenil que se expressa, freqüentemente, na identidade. Ao contrário do discurso moralizante de seus pais
necessidade de ostentar marcas visíveis de pertencer à categoria sobre a necessidade do trabalho para transformá-los em pessoas

I
jovem, principalmente àquelas transmitidas pelos meios de responsáveis, eles vêem no trabalho seu caráter de provedor.
comunicação. É na farrulia, pois, que se elabora um' sentido de dignidade
li Ver na escola noturna somente o trabalhador que estuda que compensa moralmente as adversidades impostas pelos sa-
1,'I
tira desses jovens o direito de viver uma fase importante de lários baixos pela instabilidade no emprego e mesmo pelo
~ sua vida. A entrada precoce no mundo do adulto, pode queimar desemprego. Os jovens demonstram que é na farrulia que se

I
~
108 109
constrói uma ordem de vida projetada de reciprocidades morais Ao longo das últimas décadas, a escolaridad
da vida privada. É a ética da família tão necessária para os uma credencial da maior importância para as crianç:s t~ .
jovens em fase de desenvolvimento e de construção de sua se inserirem no mercado' de trabalho. As falas dos aluno~():s
personalidade. Se no trabalho eles desenvolvem uma autonomia permeadas de chavões ideológicos que apresentam a esc~:
que lhes garante a passagem para a vida adulta, é na fanulia como a principal saída para uma vida mais digna, que se
que os papéis do adulto começam a delinear-se para os jovens. consubstancia com a sua entrada precoce no mundo do trabalho.
Comó nos fala Berger & Luckmann, na família estão os Várias pesquisas qualitativas entre jovens constataram que
primeiros significativos importantes para a sociabilidade dos para conseguirem concluir o 1 grau, as famílias e os jovens
0

jovens. elaboram uma série de estratégias que envolvem sacrifícios,


Porém, as necessidades de sobrevivência do núcleo familiar cansaço, adiamento da compra de alguns bens de consumo etc.
terminam por mobilizar todos os membros da família para o A conclusão do 1 grau justifica, também, as freqüentes
0

mercado de trabalho. Assim, as identidades dos jovens são voltas à escola, apesar das repetências ou interrupções. O jovem
construídas no interior de uma noção de transitoriedade associada estabelece com a escola e com o trabalho uma relação inter-
à sua condição de idade. Entretanto, mais que a lógica da mitente que o faz oscilar ora no trabalho, ora na escola. A
sobrevivência, para as famílias, o conjunto de valores e escola é vista por ele como uma oportunidade aberta que pode
representações sobre o trabalho pesa muito mais. A valorização ser retomada a qualquer momento e até mesmo pela pressão
do trabalho é construída como um contraponto aos riscos da família. Entretanto, o retorno à escola é sempre desejado,
associados ao tempo livre e à ociosidade, bem como aos perigos e o contato com o trabalho contribui para aumentar o esforço
da rua. Os perigos da rua foram uma tônica nas representações do jovem e de sua família de permanecer na escola. Não
que os alunos fazem sobre a necessidade do trabalho. Os riscos porque o conteúdo da escola seja importante, como bem
da rua aparecem corporificados em suas falas quando dizem observou Paul Willis, mas porque fica cada vez mais claro
que "não querem ser maloqueiros, que na rua se aprende o para o jovem que, na medida em que o sistema escolar foi
que não presta". ampliado, elevaram-se os requisitos no processo de seleção
para admissão de trabalhadores nos vários setores da economia.
Nossas análises nos levam a concluir que o trabalho do Essa situação foi amplamente estudada por SpindeJI com em-
jovem aluno da escola noturna faz parte do cotidiano das presários paulistas,"
fanulias pobres de toda a sociedade brasileira, faz parte das Para os jovens, o trabalho se apresenta, além de uma
obrigações familiares e, na maioria das vezes, possibilita a
necessidade, como a possibilidade de conquistar a autonomia
frequência à escola. Trabalhar, mesmo sendo parte de sua
desejada em relação à família, ao mesmo tempo em que lhe
obrigação de filho, não deixa de significar a afirmação de sua permite consumir bens valorizados na cultura juvenil. Nosso
identidade, ou abrir a possibilidade de conquistar um espaço
de liberdade (Madeira, 1986), na tentativa de ter acesso a bens
t de consumo e a padrões de comportamento que definem as 6. Spindell, em 1985, fez uma pesquisa com empresários paulistas sobre a
[ absorção de mão-de-obra de adolescentes em São Paulo e constatou que o
marcas dos jovens nas grandes cidades, nos centros urbanos: empresariado paulista aponta a escolaridade como o fator mais importante na

II o som, o tênis, a roupa etc (Sarti, 1994). Essa integração no


mercado pela via do consumo nem sempre é valorizada pelos
pais, marcados pela ética do trabalho árduo em seu processo
triagem do adolescente. Ao utilizar a escolaridade no processo de seleção dos
jovens, eles afirmavam que não estavam interessados no conhecimento formal ou
específico obtido do sistema de ensino. As razões da escola prendem-se mais ao
processo de socialização e hábito de obediência a certas normas e padrões de
~, de socialização. comportamento mais ou menos homogêneo (Madeira, 1986: 15-48).
,I 110 111

II I,
estudo permitru-nos compreender que, para muitos jovens, a grupo social se constitui, de um lado, pela dupla referência a
entrada no mercado de trabalho se deu pelas vias do consumo certa ética do trabalho e da produção e, de outro, pela reivin-
e do lazer que caracterizam um grupo de idade. Concordamos dicação de uma maior participação nos produtos do trabalho.
com Vera TeIles quando afirma que, entre os pobres, o trabalho Os conflitos de classe dividiam e integravam, ao mesmo tempo,
e a escola definem o cotidiano dos jovens e estão presentes a sociedade. Eles se opunham às classes, mas se inscreviam
nas representações de suas rotinas. O trabalho é uma forma num espaço único em tomo de um objetivo comum: patrões
cultur.a1 que coletivamente se impõe aos jovens das camadas e operários pertenciam ao mesmo mundo e pensavam categorias
populares a partir da infância. Ele é obrigatório por ser uma idênticas: trabalho, industrialização e progresso social.
prática cotidiana coletiva. Ainda, segundo o autor, nas sociedades industriais a
Mas essa preocupação com a condição de trabalhador do questão social é totalmente definida em tomo do trabalho, o
estudante da escola noturna nos levou a questionar os estudos que trazia sérias implicações políticas. Ser privado do trabalho
que vêem no trabalho do jovem apenas sua razão instrumental significava ser privado de renda e, mais importante ainda, ser
de garantir a sobrevivência da unidade familiar. Nosso interesse privado de identidade, pois essa era estruturada no estatuto do
se voltou para a tentativa de apreender, no processo do trabalho, trabalhador. Assim, o desemprego é doloroso não só pela perda
como os jovens constroem e/ou afirmam suas identidades, criam do salário, mas principalmente pela perda da identidade.
redes de sociabilidades baseadas nos laços de amizade, do Em síntese, o autor identifica quatro traços que caracte-
coleguismo, da solidariedade. rizam a sociedade industrial e tomam visíveis as questões
Segundo Lapeyronnie, até os anos 70, era relativamente sociais. Inicialmente, no centro da vida social se colocam a
fácil definir a questão social, pois ela se estruturava em tomo indústria e o trabalho, e é nessa relação da indústria com o
do trabalho e da empresa, o que gerava um conflito entre capital que se enraíza e se organiza o conflito de classe. Por
operários e patrões. A condição operária era definida pela outro lado, a pobreza e a marginalidade são considerados
exploração que se traduzia em dificuldades particulares para a resíduos que devem ser extintos pelos atos individuais no
vida por causa dos salários, das péssimas condições de trabalho trabalho. O autor ilustra essa organização da sociedade em
e do não respeito da dignidade do operário. As reivindicações tomo do trabalho por meio da compreensão dos bairros operários
operárias se enraizavam nessa experiência particular contra as que caracterizaram os anos 70 em toda a Europa. Segundo
atitudes dos patrões que exploravam sua força de trabalho. ele, hoje esses bairros têm outra configuração e traduzem uma
A sociedade industrial constituía-se, pois, nas relações profunda transformação da vida social. Nas periferias das
entre empresa e trabalho. A sociedade se estruturava num todo grandes cidades são formados bolsões de pobreza marcados
integrado onde o lugar de cada um nas relações de produção pelo desemprego, evasão escolar, delinqüência juvenil, violência,
indicava o seu lugar na sociedade, seus modos de consumo e rupturas familiares, tráfico de drogas etc. Esta é, também, a
suas orientações políticas. O trabalho era o coração da vida realidade dos centros urbanos do Brasil. Hoje, os pobres não
social e pessoal dos indivíduos, pois como afirma o autor: "é formam mais o exército social de reserva, mas constituem uma
população sem emprego e de farrulias progressivamente pau-

II
pelo trabalho que eles se definiam socialmente, que eles se
inseriam num certo nível social e que construíam uma identidade perizadas. Nesta realidade convivem os jovens que tentam
pessoal. O trabalho era de qualquer forma' a norma de inte- conciliar o trabalho com o estudo para fugirem à marginalidade,
gração ...". diante da qual são continuamente desafiados pela pobreza.
Era, então, pelo trabalho que se definiam as classes sociais A vida social não é mais estruturada unicamente em tomo
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1 ' e, ao mesmo tempo, os grupos entravam em conflito: cada da produção, pelo conflito do trabalho no interior de um mesmo
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portanto, satisfaz a necessidade pela fantasia e o S0rü-\
espaço. Ela se desintegrou e se espacializou. t:-- cidade, .com
mas também o gosto pelo inesperado, pelo resultad~
seus bairros, favelas e invasões, retrata uma sociedade desigual incontrolável e a busca da dificuldade gratuita a fim de
e excludente. Plataforma, bairro onde realizamos o nosso estudo vencê-Ia."
de campo, é o retrato vivo e sem retoques de uma pobre~a
que não contesta o poder econômico, mas busca, pela~ mais Com muita procedência Morin (1990: 67) afirma que:
variadas estratégias, uma integração nesta mesma sociedade
que a exclui dos bens socialmente produzidos. "O tempo de trabalho enquadrado em horários fixos,
No caso dos jovens, em particular, essa integração é permanentes, independentes das estações, se retraiu sob
o impulso do movimento sindical e segundo a lógica de
requerida pelas vias do consumo e da necessidade de afirma:
uma economia que, englobando lentamente os trabalha-
suas identidades pessoal e coletiva. O trabalho, para eles, e
dores em seu mercado, encontra-se obrigada a lhes fornecer
muito mais uma questão de se afirmarem e serem reconheci~os
não mais apenas um tempo de repouso e de recuperação,
como uma categoria social. As identidades pessoal e coletiva mas um tempo de consumo".
não são construídas unicamente pela integração socioeconômica.
Eles reivindicam o reconhecimento de sua condição de jovens. Caldeira (1984: 118), estudando o cotidiano de famílias
Se no início da pesquisa pensávamos que os jovens .da pobres de um bairro periférico de São Paulo, chama a atenção
escola noturna construíam suas identidades pessoal e coletiva sobre o modo como os pobres encaram o lazer:
nas suas relações com a família, a escola e o trabalho, os
dados empíricos, as entrevistas e contatos com esses jovens "Embora freqüentemente desprezada, a vivência do tempo
permitiram-nos perceber o quanto é importante para eles. os livre não é, de modo algum, destituída de importância
momentos de lazer, de descontração. Daí os constantes conflitos nem para as pessoas e os grupos sociais, nem para a
com a família que, educada na ética do trabalho árduo, vê no vida em sociedade. Aí se adquire um nome, uma identidade
ócio dos jovens o perigo da rua. e um papel social, se aprende a vivê-los e se vive de
acordo com eles. Ainda mais: no trabalho, não se é fulano
A aproximação com uma literatura pertinente permitiu-nos
ou sicrano, jovem ou adulto, casado ou solteiro, homem
uma compreensão de que o tempo livre das imposições nor-
ou mulher, mas apenas trabalhador, um empregado. Em-
mativas do trabalho, da escola e da farm1ia, apesar de ocorrer
bora tais identidades - sobre as quais se estrutura em
em situações contraditórias, pode ser o tempo dos jovens grande medida a vida social - possam repercutir na hora
recriarem a liberdade em direção a seus próprios interesses. de vender a força de trabalho, não é nem no mercado,
Entre a dureza do trabalho e a disciplina da escola, há o nem no local de trabalho que elas se constituem e são
espaço da brincadeira, do "gozar a vida". O divertimento e a transmitidas, mas basicamente na família, no bairro, onde
recreação são explicados pelos sociólogos do trabalho como se mora junto aos colegas e vizinhos."
uma ruptura com o trabalho, com a monotonia, com a quebra
da rotina, da disciplina. Para alguns estudiosos, esta função Na relação entre a ética do trabalho e a ética do lazer
pode ser um recurso à vida imaginária, daí a busca do teatro, que impõe um estilo de vida entre os jovens, cria-se uma zona
do cinema, do jogo. Zaluar (1992: 60), ao fazer um estudo de conflito entre estes e seus pais. A indústria cultural 'coloca
sobre a importância do esporte no lazer das classes populares, à disposição do jovem uma série de bens de consumo que,
afirma que: dentro da perspectiva de uma cultura de massa, cria um estilo
de vida jovem. Este estilo de vida cria necessidades de lazer,
"O jogo, por não ser a vida 'real' ou a vida. 'corren.te' é
de consumo, que se incompatibilizam com as necessidades
.: que permite criar, inventar novas formas de VIver. O Jogo,
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imediatas de suas farru1ias, o que gera o conflito, pois são Entre a ajuda no orçamento doméstico e a autonomia e liberdade
formas diferentes de hierarquizar as necessidades. desejadas cria-se um impasse que exige do jovem criatividade
e equilíbrio.
Também Gilberto Velho (1986), em suas análises sobre
a cultura popular e a sociedade de massas, retoma a discussão Em síntese, é o jogo da ética do trabalho pela qual as
sobre as possibilidades de o consumo ampliar, por meio do farru1ias mantêm o controle sobre a vida cotidiana de seus
lazer, as redes de relações sociais e, ao mesmo tempo, garantir filhos. Controle que eles esperam ser compensados pelas virtudes
a individualidade dos sujeitos. Segundo o autor, uma das disciplinadoras do trabalho. À ética do trabalho das faffil1i~s
características marcantes da sociedade contemporânea é o seu os jovens acrescentam uma outra, a ética do lazer que os toma
caráter de massificação advindo do processo de urbanização e reconhecidos enquanto grupo de idade. O lazer é muito im-
desenvolvimento das grandes cidades, dos meios de transporte portante para o desenvolvimento de relações de sociabilidade,
e comunicação, dos avanços tecnológicos etc., que alteraram das buscas e experiências por meio das quais procuram estruturar
os padrões de sociabilidade e interação entre os sujeitos. suas novas referências e identidades individuais.
A análise dos dados empíricos sobre o lazer dos jovens Como afirma Magnani (1984), são poucos os estudos que
sujeitos da pesquisa permite-nos concluir que, apesar das in- tratam do lazer das classes populares. Entre eles temos os de
fluências dos meios de comunicação social, da indústria cultural, Abramo (1994) e o de Caldeira (1984). Segundo Abramo, a
esses jovens recriam, nos limites do bairro e de suas condições diversão é um dos elementos constitutivos da singularidade da
materiais, no seu cotidiano, formas de lazer que garantem a condição juvenil. Caldeira diz que a escola e a diversão tomam
sua identidade jovem. Neste sentido, a música e a dança têm os jovens visíveis enquanto grupo etário distinto, no meio da
uma influência muito grande na conformação de suas identidades. vida cotidiana dos bairros periféricos das grandes cidades.
A ida ao pagode nos fins de semana faz parte do lazer da , .. Concluímos, pois, que a juventude nas classes populares
maioria do grupo, principalmente dos rapazes. Aliada ao pagode, e VIVIdacomo um tempo de liberdade, de viver com intensidade
a música também é um referencial forte entre o grupo. Nas todo o tempo livre, o que sobra entre a escola e o trabalho.
respostas ao questionário, nas conversas informais e nas en- "Aproveitar da vida como ela é", como nos dizia uma aluna.
trevistas pudemos depreender que o aparelho de som ocupa Para o aluno da escola noturna, divertimento e estudo são
um lugar privilegiado nas suas casas. Comprar um aparelho faces de uma mesma moeda, que só pode ser comprada com
de som, para muitos jovens, foi a porta de entrada no mercado o seu trabalho precoce. Trabalho que, na maioria das vezes,
de trabalho. não lhe dá o status de trabalhador, o que o leva a considerar-se
Podemos concluir que todos os espaços ocupados pelo um estudante que está aprendendo a ser trabalhador. Trabalho
jovem para viver. seu tempo livre, de recriar sua liberdade, para esses jovens é coisa de futuro, só depois de estudar e
tomam-se redes de relações que possibilitem a vida associativa. com carteira assinada. O caráter transitório de sua condição
Nos espaços do pagode, da seresta, do jogo de futebol, dos juvenil per;nite o estranhamento das agruras do trabalho e da
grupos de dança, desfruta-se o lazer, trocam-se informações, pobreza. E na complexidade dessas relações entre família,
afirmam-se identidades. A escola e a diversão tomam os jovens escola, trabalho, consumo ~ lazer que eles constróem a sua
visíveis enquanto grupo etário distinto. s~bjeti.vidade, q~e estabelecem redes, de relações sociais, sig-
Essas motivações dos jovens se conflituam com as ex- nificativas, ampliam a sociabilidade. E nessa multiplicidade de
pectativas e necessidades da família, Foram muitos os depoi- .papéis de aluno, filho, trabalhador, colega, amigo etc. que eles
mentos que revelaram essas relações conflituosas com os pais. tentam construir suas identidades.

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Ver no aluno da escola noturna somente o jovem que DUBET, François. Les Lycéens. Paris, Editions du S '1
eU! , 1
trabalha, sem considerar suas características e papéis assumidos, FORACCHI, Marialice Mencarini. A juventude na sociedade
inviabiliza qualquer projeto pedagógico que se queira responder São Paulo, Pioneira, i972. 11lode
às suas necessidades. Nossa pesquisa demonstrou o quanto a
FRANCO, Maria Laura P. B. Qualidade total na formação profissional:
escola está distante desses jovens. Queremos crer que o modo do texto ao contexto. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 92,
como eles reconstróem o próprio cotidiano, aliviando o tempo p. ?3-61, fev. 1995.
de trabalho e repen-sando a escola para além da simples GOUVEIA, Aparecida Joly. O trabalho do menor: necessidade trans-
transmissão do conhecimento, é uma maneira efetiva de tomar figurada em virtude. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 44,
parte em uma luta pela busca de uma nova sociedade. Poderão, p. 55-62, fev. 1983.
assim, tomar-se portadores de uma nova utopia. GUIMARÃEs, Elizabeth da Fonseca. A liberdade recriada. De como
Concordamos com Alberto Melucci (1991) quando diz o aluno trabalhador é capaz de reconstruir o próprio cotidiano.
que os jovens, como categoria social, podem transformar-se Contexto & Educação, Unijuí, v. 7, n. 22, julJset. 1992.
em atores de conflito porque falam a língua do possível. Os IANNI, Octavio. O jovem radical. Sociologia da juventude. Rio de
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geração. Rio de Janeiro, Zahar, 1986. progresso da humanidade é maculado pela injustiça institucio-
ZALUAR, Alba. (org.) Violência e educação. São Paulo, Cortez, nalizada, pela exclusão de maiorias, pela violência crônica,
1992. entre outros fatores negativos, urge uma educação em valores
para que o ser humano, superando um modo de pensar, sentir
e atuar egoísta, reconheça a dignidade inerente a qualquer
pessoa, se capacite e se disponha a contribuir,· mesmo em
microescala, para a reversão deste quadro sombrio.
Após exercer notável influência em dezenas de países
durante 200 anos, a pedagogia jesuítica tem passado por uma
profunda renovação a partir das orientações do Concílio
Ecumênico Vaticano 11 e da Ordem dos Jesuítas, na tentativa
de responder às exigências das atuais gerações. Apresenta hoje

* Este texto baseia-se na nossa tese de doutorado, dirigida pela Profa. Dra.
Selma Garrido Pimenta, aprovada pela Faculdade de Educação da USP em abril
de 1997: O atual paradigma pedagógico jesuliico e a proposta pedagógica de
Pierre Faure: educação personalizada e comunitária, cujo primeiro capítulo foi
publicado pelas Edições Loyola sob o título Atualidade da pedagogia jesuítica.
Os capítulos 11,III e IV, condensados, originaram o livro, Educação personalizada:
I desafios e perspectivas, Loyola, 1998.
** Doutor em Educação pela USP, pesquisador do Centro Pedagógico Pedro
Arrupe, no Rio de Janeiro.

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