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Psico-USF, v. 9, n. 1, p. 109-110, Jan./Jun.

2004 109

Velhice bem-sucedida: aspectos afetivos e cognitivos

Marina Liberalesso Neri1

Neri, A. L. & Yassuda, M. S. (Orgs.). (2004). Velhice bem-sucedida: aspectos afetivos e cognitivos. Campinas:
Papirus, 224 p.

O declínio da crença de que uma velhice bem- da Terceira Idade, a partir de 1960, em países como
sucedida associa-se a eventos sobrenaturais, à sorte, ou França, Bélgica, Suíça, entre outros, e a partir de 1980
ao coroamento de uma vida virtuosa coincidiu com a no Brasil. Mencionam dois estudos brasileiros que
ampliação da crença na ciência como a fonte mais comprovam a utilidade desse modelo de educação não-
confiável de compreensão dos fatos naturais. Assim, o formal, mas alertam para a necessidade de formação de
ser humano passou a conviver com cada vez mais profissionais especializados.
informações sobre fatores que conduzem a uma velhice No 3o capítulo, Andréa Cristina Garofe Fortes
bem ou malsucedida. É dado científico que a velhice e Anita L. Neri discutem os eventos de vida (esperados
caracteriza-se pelo declínio das funções biológicas, da ou inesperados) na construção da trajetória individual,
resiliência e da plasticidade. Ainda que ocorram de forma considerando as influências positivas e negativas e a
diferenciada entre pessoas, as perdas que caracterizam a medida em que o ser humano controla tais eventos. São
velhice provocam o aumento da dependência dos apresentadas definições, com base em autores distintos,
indivíduos em relação aos elementos da cultura e da e formas de tratá-los, de acordo com o interesse
sociedade. Por outro lado, e ao contrário do que se metodológico e o paradigma que sustenta o conceito.
pensa, é possível a preservação e ganhos evolutivos em O capítulo 4 veicula dados de uma pesquisa
determinados domínios do funcionamento, como o brasileira (Capitanini e Neri) sobre solidão e bem-estar na
intelectual e o afetivo, sendo este último capaz de atuar velhice, a qual teve como objetivos descrever as relações
de maneira compensatória sobre as limitações cognitivas. entre condições de vida, características das relações sociais
Este livro apresenta conceitos e dados empíricos e sentimentos de isolamento e solidão, bem como o
sobre o funcionamento normal e patológico dos prin- bem-estar subjetivo em mulheres idosas que vivem sós.
cipais processos intelectuais, afetivos e motivacionais na Os resultados mostram que, para 75% delas, essa
velhice e sugere soluções para que indivíduo e ambiente condição não as faz se descreverem como isoladas, e
possam contribuir para a continuidade e ganhos nesses atribuem o bem-estar na velhice à capacidade de recorrer
aspectos, o que se traduz em velhice bem-sucedida. a mecanismos compensatórios como trabalho e envol-
Escrito por professores e alunos de Pós-Graduação em vimento em atividades sociais. No geral, os dados vão
Gerontologia da Unicamp, visa veicular conhecimentos ao encontro de pesquisas nacionais e internacionais, que
científicos sobre como envelhecer bem e contribuir rejeitam o estigma de que o idoso é infeliz, só,
para a melhoria da qualidade dos serviços e das políticas abandonado e doente e sugerem que experiências de
sociais para os idosos no Brasil. bem-estar são fortemente influenciadas pelas qualidades
No 1o capítulo, Anita Liberalesso Neri focaliza do self e por variáveis sociocognitivas.
as principais contribuições de diversas áreas da As autoras Samila Sathler Tavares, Anita L.
psicologia, básicas e de aplicação, para o estudo e Neri e Ana Paula Cupertino citam, no 5o capítulo, uma
intervenção no campo do envelhecimento no Brasil. revisão de trabalhos empíricos e teóricos, nacionais e
Ressalta que não se deve considerar a velhice de forma internacionais, sobre aposentadoria, depressão e velhice
preconceituosa e sugere linhas de intervenção, visando à bem-sucedida. Hoje, com o aumento da expectativa de
qualidade de vida na velhice. vida e com a possibilidade de um período maior na
No capítulo 2, Meire Cachioni e Anita L. Neri condição de aposentado, espera-se que o indivíduo faça
tratam de programas educacionais em universidades desta um período de desenvolvimento e não de ajuste a
como facilitadores do envelhecimento bem-sucedido, uma nova condição. Depressão não é a única condição
destacando a necessidade do idoso de compreender um emocional possível na velhice, dizem as autoras, já que
mundo em transformação, incrementar conhecimentos perdas decorrentes do aumento da idade não necessaria-
teóricos e práticos, satisfazer preocupações de ordem mente geram declínio nos aspectos psicoemocionais.
cultural, ampliar suas relações sociais e participar Surpreendem noticiando que a aposentadoria não causa
autônoma e ativamente na sociedade. Apresentam um depressão na velhice, podendo ser enfrentada sem
histórico dos modelos de programas de Universidades grandes implicações emocionais, quando vivenciada

1 Endereço para correspondência:


E-mail: marinalbn@lexxa.com.br
Revista Psico-USF, v. 8, n. 2, p. 103-114, Jul./Dez. 2003
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como um acontecimento esperado. demenciais. Utilizado concomitantemente a outros ins-


Mônica Sanches Yassuda apresenta, no capítulo trumentos de avaliação das funções neuropsiquiátricas,
6, uma integração de resultados de pesquisas que procu- dizem os autores, o teste é sensível para captar alterações
raram investigar a influência do controle percebido nas funções dos lobos frontal, parietal e temporal (funções
sobre a memória e o desempenho, tema pouco visuoespacial, mnemônica, lingüística e executiva). Os
pesquisado no Brasil, que demanda mais estudos que resultados podem ser obtidos por meio de uma entre as
precisem efetivamente esta influência nesta população. 15 escalas validadas, entretanto, os autores apontam que
Traz a definição e a teoria subjacente aos conceitos-base esta vasta possibilidade de interpretação de um simples
para o estudo da relação mencionada: auto-eficácia, teste de triagem indica que talvez sua análise não seja tão
metamemória, foco de controle e teoria de atribuição. simples e que não haja consenso quanto ao melhor método
Mostra que a auto-eficácia para memória é mais baixa em de interpretação, sendo essas as maiores desvantagens
idosos; quanto maior ela for, melhor o desempenho de relacionadas ao uso do Teste do Desenho do Relógio.
memória; que a metamemória também se correlaciona Por fim, Flávia Rodrigues Brandão e Paulo
positivamente, porém de forma mais modesta, com o Dalgalarrondo apresentam, no último capítulo, 12
desempenho de memória; e que o idoso apresenta um instrumentos de avaliação que diagnosticam quadros de
padrão de atribuição menos adaptativo que o de pessoas delirium. Os instrumentos possibilitam uma complemen-
mais jovens, o que pode influenciar negativamente seu tação de uma anamnese, haja vista que o diagnóstico
desempenho de memória. No capítulo 7, Roosevelt Leão desse quadro demanda uma avaliação clínica criteriosa
Júnior e Marineia Crosara de Resende também trazem em virtude das implicações etiológicas e terapêuticas da
teorias e pesquisas sobre auto-eficácia no entendimento do síndrome. O quadro caracteriza-se basicamente por
desempenho de memória do idoso e ressaltam a neces- distúrbios das funções cognitivas e da consciência; em sua
sidade de estudos sobre a relação auto-eficácia e memória. etiologia multifatorial são apontados os fatores predis-
Elisandra Villela Gasparetto Sé, Nelma Caíres posição (doenças clínicas graves, distúrbios cognitivos ou
Queiroz e Mônica S. Yassuda analisam, no capítulo 8, sensoriais) e os precipitantes ou agentes agressivos (uso
aspectos do funcionamento normal e patológico da de medicações, álcool, drogas, abstinência destas
memória e as modificações morfológicas e funcionais substâncias, procedimentos cirúrgicos de grande porte,
do cérebro no idoso, associadas ou não a disfunções privação de sono). Segundo, os autores, com um
cognitivas. Apresentam definições, causas e conseqüências diagnóstico correto a causa orgânica poderá ser tratada
das demências mais freqüentes em idosos, como a e os riscos de morbidade e mortalidade e o tempo de
Doença de Alzheimer, a de Parkinson, entre outras. internação poderão ser diminuídos. Os instrumentos
No capítulo 9, Paulo Renato Canineu, Maria podem ser de rastreamento, seleção dos subtipos de
Cibele Silva e Benito Pereira Damasceno discutem a delirium, para a realização diagnóstica ou aqueles que
hospitalização psiquiátrica, a incidência e as implicações permitem a análise da evolução do quadro.
das demências mais freqüentes no contexto em questão, Considero que o livro fornece de forma clara e
em diversos países, incluindo o Brasil. Enfatizam a abrangente, inclusive para leigos no assunto, um pano-
necessidade do diagnóstico correto e precoce, com o rama sobre conceitos, teorias e estudos relacionados à
objetivo de possibilitar um envelhecimento digno e velhice, bem como traz soluções para que indivíduo e
evitar que se confunda um quadro de demência com ambiente possam ter a possibilidade, cada vez maior, de
envelhecimento malsucedido. uma velhice bem-sucedida.
No capítulo 10, José Eduardo Martinelli e Ivan
Aprahamian apresentam o Teste do Desenho do Relógio, Recebido em maio de 2004
ferramenta de triagem em casos de suspeita de quadros Aprovado em junho de 2004

Sobre a autora:
Marina Liberalesso Neri é psicóloga e mestranda pelo Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia da
Universidade São Francisco.

Psico-USF, v. 9, n. 1, p. 109-110, Jan./Jun. 2004

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