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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

CAPÍTULO 5 – ATIVIDADES E OPERAÇÕES INSALUBRES – NR15

15.1 São consideradas atividades ou operações insalubres as que se desenvolvem:


15.1.1 Acima dos limites de tolerância previstos nos Anexos n.ºs 1, 2, 3, 5, 11 e 12;
15.1.2 Revogado pela Portaria nº 3.751, de 23-11-1990 (DOU 26-11-90)
15.1.3 Nas atividades mencionadas nos Anexos n.ºs 6, 13 e 14;
15.1.4 Comprovadas através de laudo de inspeção do local de trabalho, constantes dos
Anexos nºs 7, 8, 9 e 10.
15.1.5 Entende-se por "Limite de Tolerância", para os fins desta Norma, a concentração
ou intensidades máximas ou mínimas, relacionadas com a natureza e o tempo de
exposição ao agente, que não causará dano à saúde do trabalhador, durante a sua vida
laboral.

15.2 O exercício de trabalho em condições de insalubridade, de acordo com os subitens


do item anterior, assegura ao trabalhador a percepção de adicional, incidente sobre o
salário mínimo da região, equivalente a: (115.001-4/ I1)
15.2.1 40% (quarenta por cento), para insalubridade de grau máximo;
15.2.2 20% (vinte por cento), para insalubridade de grau médio;
15.2.3 10% (dez por cento), para insalubridade de grau mínimo;

15.3 No caso de incidência de mais de um fator de insalubridade, será apenas


considerado o de grau mais elevado, para efeito de acréscimo salarial, sendo vedada a
percepção cumulativa.

15.4 A eliminação ou neutralização da insalubridade determinará a cessação do


pagamento do adicional respectivo.
15.4.1 A eliminação ou neutralização da insalubridade deverá ocorrer:
a) com a adoção de medidas de ordem geral que conservem o ambiente de trabalho
dentro dos limites de tolerância; (115.002-2 / I4)
b) com a utilização de equipamento de proteção individual.
15.4.1.1 Cabe à autoridade regional competente em matéria de segurança e saúde do
trabalhador, comprovada a insalubridade por laudo técnico de engenheiro de segurança
do trabalho ou médico do trabalho, devidamente habilitado, fixar adicional devido aos

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empregados expostos à insalubridade quando impraticável sua eliminação ou


neutralização.
15.4.1.2 A eliminação ou neutralização da insalubridade ficará caracterizada através de
avaliação pericial por órgão competente, que comprove a inexistência de risco à saúde
do trabalhador.

15.5 É facultado às empresas e aos sindicatos das categorias profissionais interessadas


requererem ao Ministério do Trabalho, através das DRTs, a realização de perícia em
estabelecimento ou setor deste, com o objetivo de caracterizar e classificar ou
determinar atividade insalubre.
15.5.1 Nas perícias requeridas às Delegacias Regionais do Trabalho, desde que
comprovada a insalubridade, o perito do Ministério do Trabalho indicará o adicional
devido.

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CAPÍTULO 6 – RISCOS FÍSICOS: RUÍDO

6.1. INTRODUÇÃO
O conjunto de riscos físicos existentes nas atividades laborais é contemplado nos anexos
de 1 a 10 da NR-15, que como discutido nos capítulos anteriores, trata de atividades e
operações insalubres. O risco físico ruído está descrito nos Anexos 1 (ruído contínuo ou
intermitente) e 2 (ruído de impacto).

Ruído
Radiação
não Frio
ionizante

Radiação Riscos Calor

Físicos
ionizantes

Pressões Umidade

Vibração

Na antiguidade as principais fontes de ruído eram as forças da natureza, as chuvas, os


ventos, os trovões, as erupções de vulcões, etc. Hoje, o ruído atinge níveis muitas vezes
insuportáveis, gerado pela tecnologia criada pelo próprio homem assim como pelo seu
estilo de vida. Apesar da grande e rápida evolução no conhecimento técnico, a
adaptação do nosso organismo às novas condições é muito lenta e não acompanha o
ritmo do avanço tecnológico.

Embora, as fontes de ruído tenham se modificado com o passar dos anos, a reação
orgânica do homem moderno ao ouvir o barulho de uma buzina ou de uma motocicleta,
é semelhante àquela do homem das cavernas, ao ouvir um trovão ou o rugido de um
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leão. O ruído torna as pessoas alertas, tensas, em atitude de prontidão, e isso explica
muito dos seus efeitos negativos sobre a saúde e a qualidade de vida.

Quando se fala em som ou ruído, trata-se do mesmo fenômeno físico caracterizado por
uma vibração mecânica que se propaga através de um meio (gás, líquido ou sólido) em
um movimento ondulatório, como aquele produzido quando se atira uma pedra em um
lago tranquilo. Quando essa vibração estimula o aparelho auditivo, ela é chamada de
vibração sonora. Assim, o som é definido como um conjunto de vibrações ou ondas
mecânicas que podem ser ouvidas. O ruído é definido como uma mistura de sons.

Quando duas pessoas estão conversando, aquela que fala provoca uma vibração de suas
cordas vocais transmitida ao ar existente dentro da boca, produzindo variações da
pressão atmosférica, que se propaga até atingir o ouvido da outra.

Dependendo da intensidade e da frequência das variações de pressão, estas poderão ser


interpretadas como som. O som, com predominância de ondas de altas frequências, é
percebido como um som agudo (canto de passarinho, sons do violino), enquanto que o
de baixa frequência é percebido como grave (ruído de compressores, sapo).

A classificação da onda sonora em som ou ruído depende da sensação que ela provoca
em quem a ouve. Como abordado, chama-se de ruído o som que nos é desagradável,
indesejado ou que nos incomoda. Assim, alguns sons, como por exemplo, um show de
rock, podem ser agradáveis para alguns e extremamente incômodos para outros.
Independente da agradabilidade ou não do som, ele pode ser capaz de provocar danos à
saúde das pessoas, dependendo do tempo de exposição e do “volume”. Aquilo que se
conhece como “volume” do som, refere-se ao nível de pressão sonora (NPS) ou nível de
ruído e é medido na escala decibel (dB). Quanto maior o volume, ou seja, quanto maior
o nível de pressão sonora, maior o risco de dano auditivo, para o mesmo tempo de
exposição.

O ouvido humano não é igualmente sensível a todas as frequências, é mais sensível para
o ruído de frequência na faixa de 2 kHz a 5 kHz. Para compensar esta diferença na
sensibilidade humana, as medições do nível de ruído são feitas com um equipamento,
conhecido como decibelímetro, que tem um circuito de compensação eletrônico que

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tenta simular a resposta do ouvido e os resultados são lidos em dB (A). Para a Higiene
Industrial costuma-se denominar barulho como todo som que é indesejável. O ruído e o
barulho são interpretações subjetivas e desagradáveis do som. Para que uma vibração
seja considerada sonora é necessário que atenda às seguintes condições:

a) Possuir valores específicos de frequência, isto é, a frequência deve situar-se


entre 16 e 20.000Hz;
b) A variação de pressão deve possuir um valor mínimo para atingir o limiar de
audibilidade. Essa variação é a diferença instantânea entre a pressão atmosférica
na presença e ausência do som, em um mesmo ponto. Através de pesquisas
realizadas com pessoas jovens, sem problemas auditivos, foi revelado que o
limiar de audibilidade é de 2 x 10-5 N/m2. Desse modo, convencionou-se esse
valor como sendo 0 (zero) dB. Quando a pressão sonora atinge 200 N/m2, a
pessoa exposta começa a sentir dor no ouvido (limiar da dor), que corresponde a
140 dB. Portanto, a faixa audível é entre 0 e 140 dB.

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Através de estudos percebeu-se que a sensação sonora crescia com o logaritmo do


estímulo, sendo o nível de pressão sonora (NPS) obtido por meio da seguinte equação:

P2
NPS  10 log 2
P0

Onde: P0 = pressão de referência que corresponde ao limiar da audibilidade (2 x 10-5


N/m2)

Tal equacionamento ainda não é a melhor aproximação à resposta do ouvido humano,


pois não leva em conta a frequência do som. A equação do NPS também pode ser
expressa da seguinte forma:

2
P2 P P 
NPS  10 log 2
 10 log   20 log 
P0  P0   P0 

Como P0 = 2 x 10-5 N/m2

P
NPS  20 log   20 log P  20 log P0  20 log P  94dB
 P0 
Você sabia que:
10 dB é 10 vezes mais que 1 dB
20 dB é 100 vezes mais que 1 dB
30 dB é 1000 vezes mais que 1 dB?

6.2. INSTRUMENTOS DE MEDIÇÃO


Existem dois tipos de levantamento de ruído:
1) Ambiental: levantamento ponto a ponto com medições importantes para
conhecimento do perfil do ruído na área, que pode ser obtido unindo-se os
pontos de mesmo nível de ruído;
2) Pessoal: através de dosimetria de ruído para avaliação de funções, sendo
geralmente feito por meio de audiodosímetros.

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Estudos mostraram que o ouvido humano responde de maneira diferente nas diversas
frequências. Para simular tal comportamento, foram estabelecidas as curvas de
compensação A, B, C e D, as quais são descritas a seguir:
 A  Aproxima-se das curvas de audibilidade para baixos valores de NPS
 B  Médios valores de NPS
 C  Altos valores de NPS
 D  Padronizada para medições em aeroportos

As normas internacionais e o Ministério do Trabalho adotaram a curva de compensação


A, para medições de níveis de ruído contínuo e intermitente (Anexo 1), devido a sua
maior reposta do ouvido humano. Para ruídos de impacto (Anexo 2) pode-se adotar a
curva de compensação C. Os circuitos de respostas destes instrumentos podem ser do
tipo: Fast (rápido) e Slow (lento).

Os instrumentos mais utilizados nas avaliações de ruído são:

a) Medidores de nível de pressão sonora (NPS) ou decibelímetros:


 São instrumentos utilizados para medir o NPS instantâneo.
 Podem possuir um ou mais circuitos de compensação (A, B, C e D).
 Necessita-se registrar o tempo de exposição para o cálculo da dose (D) de ruído.
 São usados principalmente para trabalhadores que não se deslocam (NPS aprox.
constante), caso contrário, tem-se que avaliar os diferentes níveis de ruído ou
dose de ruído.

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b) Audiodosímetros:
 São instrumentos muito importantes para a caracterização da exposição
ocupacional ao ruído.
 Constituído de aparelho e microfone.
 Pode ser obtida a dose de ruído ou efeito combinado (D), e o nível
equivalente de ruído (LEQ) sem a necessidade do registro dos vários NPS e
tempo de exposição  integração dos NPS.
 Ex. Trabalhador que se desloca para vários locais em uma fábrica sob
diferentes níveis de ruído.

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6.3. PARÂMETROS UTILIZADOS NAS AVALIAÇÕES DE RUÍDO


6.3.1. ADIÇÃO DE NPS
Quando se utiliza a escala em dB, a soma de NPS não pode ser feita algebricamente. Na
realidade, quando se deseja conhecer o valor total da combinação de dois ou mais NPS,
é preciso transformá-los em pressão sonora (Pa), somá-los e novamente retornar ao NPS
em dB, através da relação logarítmica.

O nível resultante é igual ao NPS maior mais o incremento ΔL que é função da


diferença dos NPS que se pretendem somar. O gráfico que se apresenta é a função que
relaciona ΔL com a diferença dos NPS: Lp1 (maior) e Lp2 (menor).

Algumas regras são importantes:

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 O NPS resultante é sempre um pouco superior ao mais alto dos NPS em estudo.
 O acréscimo a ser feito tem o valor máximo de 3 dB (A), quando os dois NPS
parciais são iguais.
 A avaliação deve ser feita aos pares.
 O acréscimo tende a zero à medida em que se acentua a diferença entre os NPS
parciais.
 Para problemas práticos, interessa levar em conta o acréscimo quando a
diferença entre os dois NPS parciais é inferior a 16 dB. Fora desse caso, pode-se
admitir que o NPS resultante é praticamente igual ao NPS mais alto dos níveis
dados.

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EXERCÍCIO 1. Se para uma máquina, que é responsável por 90 dB (A) de NPS em


determinado local de trabalho, adicionarmos outra máquina que sozinha produz 88 dB
(A) de NPS, qual será o NPS resultante?

EXERCÍCIO 2. Em um canteiro de obras, existem três máquinas, denominadas M1,


M2 e M3. Avaliando-se o nível de ruído produzido, isoladamente, por cada máquina, o
Técnico de Segurança no Trabalho obteve as seguintes leituras num dado ponto: M1 –
86 dB (A); M2 – 90 dB (A); M3 – 94 dB (A). Considerando a pior situação exposta do
trabalhador, quando funcionam as três máquinas simultaneamente, calcule o valor do
nível de ruído produzido no mesmo ponto de leitura.

EXERCÍCIO 3. Imagine que as fontes A, B, C, D e E produzam isoladamente, no


ponto O os NPS mostrados abaixo, calcule o NPS resultante no ponto O para todas as
máquinas trabalhando simultaneamente.

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EXERCÍCIO 4. Em uma determinada empresa, existem num ambiente de trabalho, três


máquinas da mesma marca e tempo de uso que, individualmente, produzem o mesmo
ruído X dB (A). Considerando-se uma situação hipotética onde as três máquinas
funcionam num mesmo ambiente de trabalho, e avaliando o nível de ruído em um ponto
equidistante de todas as máquinas, o TST obteve como leitura do decibelímetro 96 dB
(A). Nessa situação, calcule o NPS produzido em cada máquina, ou seja, o valor de X.

6.3.2. SUBTRAÇÃO DE NPS


O gráfico que se apresenta é a função que relaciona ΔL com a diferença dos níveis Lp e
Lp2. A subtração de níveis de ruído é particularmente importante nos problemas de
ruído de fundo. De fato, quando se efetuam medições de ruído deve-se considerar a
influência do ruído de fundo. Deve ser analisada a diferença de leituras com a máquina
funcionando Lpt (ruído total = máquina + ruído de fundo), e sem a máquina
funcionando, e sem a máquina funcionando para medir exclusivamente o ruído de fundo
Lpf.

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EXERCÍCIO 5. Supondo que o ruído total produzido em um ponto próximo a uma


betoneira funcionando é 60 dB (A) e que o ruído de fundo da betoneira desligada é 53
dB (A), calcular o ruído produzido pela betoneira.

EXERCÍCIO 6. Uma lixadeira pneumática está colocada no meio de outras máquinas.


O NPS, quando todas estão funcionando é de 100 dB (A). Desligando-se somente a
lixadeira, o NPS reduz-se a 90 dB (A). Determine o NPS produzido isoladamente pela
lixadeira no ponto de medição.

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6.4. EFEITOS DO RUÍDO NA SAÚDE


O ouvido é o órgão da audição e do equilíbrio, sendo dividido em: externo, médio e
interno:

1. Ouvido externo – formado pelo pavilhão auricular e pelo conduto auditivo, por onde
algumas vezes, erradamente, são introduzidos grampos, canetas e outros apetrechos.
Tem como função conduzir o som (que é uma vibração mecânica), até a membrana
timpânica, uma pequena e frágil membrana vibratória.

2. Ouvido médio – contém um conjunto de três ossinhos (martelo, bigorna e estribo),


que estão ligados um ao outro e são os responsáveis pela transformação da onda sonora
em estímulo mecânico. Estão alojados em uma cavidade ligada à via respiratória através
de um pequeno conduto, a trompa de Eustáquio, responsável pelo equilíbrio da pressão
no interior do ouvido.

3. Ouvido interno – onde existem duas estruturas principais, o labirinto, cujos canais
semicirculares, dispostos nos planos vertical, horizontal e posterior, são responsáveis
pela percepção da posição no espaço e pelo equilíbrio do nosso corpo. E o caracol ou
cóclea, onde a informação recebida através da janela oval é transformada em um sinal
elétrico, transmitido através do nervo auditivo até o cérebro.

O movimento vibratório das moléculas (som) propaga-se pelo ar até o ouvido. Penetra
pelo conduto auditivo e vai até a membrana timpânica que começa a vibrar, como se
fosse um couro de tamborim, transmitindo seus movimentos para os três pequeninos
ossos, o martelo, a bigorna e o estribo.

O estribo, por sua vez, movimentando-se como se fosse uma vara de cuíca, como um
pistão, comprime a janela oval e, por conseguinte, o líquido que está no interior do
ouvido interno, a linfa. Formam-se ondas na linfa (semelhantes àquelas ondas da pedra
no lago), que provocam movimentos nos cílios das células de Corti, dentro da cóclea ou
caracol. As células ciliadas da cóclea transformam essa energia em estímulo nervoso. O
nervo auditivo capta esta informação e a transporta, ao cérebro que “entende” e faz a
tradução: música, barulho de trem, voz humana, etc.

A diminuição das células ciliadas provoca uma redução progressiva e irreversível da


capacidade auditiva. Este processo natural de diminuição da audição pelo
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envelhecimento denomina-se Presbiacusia. Na infância, e até a adolescência são muitas


as células ciliadas, que porém começam a diminuir na fase adulta, e vão ficando cada
vez mais rarefeitas à medida que se envelhece.

1. Pavilhão auricular
2. Concavidade da Concha
3. Meato acústico externo
cartilaginoso
4. Meato acústico externo ósseo
5. Membrana timpânica
6. Trompa de Eustáquio
7. Cóclea
8. Martelo
9. Bigorna
10. Estribo
11. Cavidade timpânica (ouvido
médio)
12. Canais semicirculares

Fig. 1 - Diagrama esquemático das estruturas auriculares

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Algumas substâncias químicas, dentre elas alguns medicamentos, podem causar danos
às preciosas células ciliadas, mas a pior e mais comum ameaça no ambiente de trabalho
é o excesso de ruído. Contudo, o efeito vai depender, não somente da intensidade, mas
também de outros fatores, principalmente da frequência do som e do tempo de
exposição ao ruído.

Além de danificar a célula ciliada do ouvido, o ruído pode provocar outros efeitos no
organismo, tais como: cansaço, irritabilidade, insônia, estado de alerta por período
prolongado, alterações da pressão arterial e sensação de zumbido. Ruídos muito
intensos (acima de 130 dB) podem causar dor nos ouvidos, e, se for de impacto, tipo
explosão, pode até provocar ruptura de tímpano, desarticulação da cadeia de ossículos e
sangramento (reveja o diagrama do ouvido).

Assim, o Ruído provoca efeitos auditivos e não auditivos causando problemas na saúde
e no desempenho e produtividade no trabalho, além de contribuir para os acidentes de
trabalho e doenças profissionais. Alguns efeitos primários são:
 Taquicardia
 Dores de cabeça
 Aumento da pressão arterial
 Perda total ou Diminuição da audição – PAIR
 Infarto do miocárdio
 Problemas sexuais
 Problemas digestivos
 Ansiedade
 Depressão
 Estresse
 Etc.

Os principais efeitos secundários são:


 Efeitos secundários:
 Cansaço
 Irritação
 Mau entendimento de instruções
 Eventual dificuldade de escutar os avisos de alarme

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 Aumento do número de acidentes

Os principais efeitos fisiológicos extra-auditivos causados pelo ruído são:

Sistema nervoso Psíquicos Sistema vestibular


central - irritabilidade. - vertigens.
- alterações do - agravamentos de estados de depressão e - perda do
sono. ansiedade. equilíbrio.
- diminuição da
memória de
retenção.
Cardiovasculares Órgão da visão
- constrição dos - diminuição da
vasos sanguíneos. discriminação das
- possível aumento cores.
da tensão arterial e - diminuição da
da frequência visão na
cardíaca. obscuridade.
Aparelho - diminuição da
digestivo sensação de relevo
- aumento da dos objetos.
secreção gástrica.
- transtornos
digestivos.
- hipermotilidade
gástrica e
intestinal.

Pele e músculos Hormonais e metabólicos Outros


- vasoconstrição. - alteração da
- piloereção. diurese.
- aumento da - retenção de sódio
tensão muscular. e perda de potássio.

Portanto, o ruído pode levar a: perturbação na comunicação, diminuição do rendimento


no trabalho, moléstia considerável no ambiente familiar, social e cultural, falta de
vigilância e atenção, perda da capacidade de concentração, cansaço, etc., o que aumenta
o risco de acidente.

Em relação às perdas auditivas, as mesmas podem ser classificadas como trauma


acústico, perda auditiva temporária e perda auditiva permanente, as quais serão descritas
a seguir:

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Trauma acústico: consiste numa perda auditiva de instalação súbita, provocada por
ruído repentino e de grande intensidade (exemplo, explosão ou detonação). Pode haver a
recuperação total ou parcial a depender do tipo de dano normalmente com a utilização
de anti-inflamatórios ou intervenções cirúrgicas, quando existe ruptura da membrana
timpânica e/ou desarticulação da cadeia ossicular.
Perda auditiva temporária: se dá após a exposição a ruído intenso, por um curto
período de tempo. Entretanto, um ruído capaz de provocar uma perda temporária será
capaz de provocar uma perda permanente, após longa exposição.

Perda auditiva permanente: se dá normalmente pela exposição prolongada a níveis


elevados de ruído, sendo conhecida como Perda Auditiva Induzida pelo Ruído (PAIR)
ou Disacusia, Hipoacusia ou Surdez Ocupacional. A PAIR é indolor, gradual e seus
sinais são quase imperceptíveis (zumbidos no ouvido durante ou após a exposição a
níveis altos de ruído, dificuldade de manter uma conversação normal, sensação dos sons
estarem abafados). A PAIR é devido à destruição das células ciliadas da cóclea, o que
faz com que a orelha interna perca a capacidade de transformar as ondas sonoras em
impulsos nervosos. Infelizmente, não se conhece ainda a cura para células ciliadas
destruídas. Assim, a PAIR é:
 É causada por danos à cóclea.
 É irreversível;
 Influenciada pelas: características físicas do ruído (tipo, espectro e nível de
pressão sonora), tempo de exposição e susceptibilidade individual.

Em um estudo realizado em SP na construção civil dos 777 trabalhadores avaliados,


79,4% referiram escutar bem. As queixas auditivas mais relatadas foram intolerância a
sons intensos (24,3%) e a presença de zumbido (16,5%). Outras queixas referidas foram
dor de cabeça durante o trabalho (41,3%) e sensação de tontura e perda de equilíbrio
(43,2%). A exposição a ruído anterior à empresa atual foi relatada por 82,2% e 96,7%
considerava que o ambiente de trabalho apresentava ruído.

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Ruído – Ameaça antes mesmo do Nascimento


No último trimestre da gravidez, o futuro bebê já está formado, inclusive seu aparelho
auditivo. A Natureza protege o feto das agressões do meio ambiente, através de um
“escudo protetor” formado pela parede do abdômen e do útero, pela placenta e pelo
líquido amniótico no qual “flutua” o feto. Este conjunto pode atenuar os ruídos mais
agudos (nas frequências maiores que 500 Hz) em 20 a 30 dB. Portanto, na gravidez,
principalmente durante os últimos meses, o feto é mais sensível aos ruídos graves
(aqueles com frequência menor que 500 Hz). Estudos realizados em vários países
consideraram como segura a exposição aos níveis de 80 dB por 8 horas. Estes níveis

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foram incluídos nas leis trabalhistas como limites de exposição ao ruído, para mulheres
grávidas, nos ambientes de trabalho.
****Contudo, durante a gravidez, devem ser evitadas exposições a ruídos em níveis
superiores a 80 dB
Alguns médicos recomendam que o recém- nascido permaneça em ambientes calmos e
silenciosos, mesmo depois de sair da maternidade, porque seu ouvido é muito sensível.

Audiometria – Avaliando a Atuação das Células Ciliadas


A audiometria é uma avaliação da capacidade auditiva das pessoas e seu resultado é
registrado num gráfico chamado audiograma. Pelo audiograma, pode-se saber como está
a audição, inclusive o funcionamento das células ciliadas. O exame consiste na emissão,
por um aparelho chamado audiômetro, de diferentes sons de frequência e intensidade
padronizadas. A pessoa que está sendo avaliada deve informar o momento exato em que
o som é percebido, e o resultado é registrado em um gráfico, o audiograma.

São várias as técnicas empregadas para se fazer um bom audiograma, usando-se


inclusive métodos que corrigem as alterações da percepção individual dos sons. Antes
de realizar a audiometria, a pessoa deve evitar exposição a ruídos intensos, durante, pelo
menos, 14 horas. Esta orientação deve-se ao fato de a célula ciliada entrar em “fadiga”
temporária quando submetida a ruídos intensos, o que mascara o resultado do exame.

Este “cansaço” temporário chama-se “Desvio Temporário do Limiar de audição”


(DTL), que se manifesta por uma diminuição temporária da audição nas altas
frequências (sons agudos) e sensação de zumbidos.

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6.5. CLASSIFICAÇÃO E AVALIAÇÃO DE RUÍDO


Os ruídos existentes nos locais de trabalho podem ser classificados como: contínuo,
intermitente e de impacto, os quais são descritos abaixo, conforme os anexos 1 e 2 da
NR-15.

 Ruído contínuo e intermitente (Anexo 1):


o É aquele não classificado como de impacto.
o Devem ser medidos em decibéis (dB), na curva de compensação "A" e
circuito de resposta lenta (SLOW).
o As leituras devem ser feitas próximas ao ouvido do trabalhador.
o As atividades ou operações que exponham os trabalhadores a níveis de
ruído, contínuo ou intermitente, superiores a 115 dB(A), sem proteção
adequada, oferecerão risco grave e iminente.

 Ruído de impacto (Anexo 2):


o São picos de energia acústica de duração inferior a 1 segundo, a intervalos
superiores a 1 segundo.
o Nos intervalos entre os picos, o ruído existente deverá ser avaliado como
ruído contínuo.
o Em caso de não se dispor de medidor de nível de pressão sonora com
circuito de resposta para impacto, será válida a leitura feita no circuito de
resposta rápida (FAST) e circuito de compensação "C". Neste caso, o limite
de tolerância será de 120 dB(C).

O critério de avaliação de ruído para caracterização de insalubridade se dá pelo cálculo


da Dose de ruído (D) ou efeito combinado, ou seja, quando a exposição ao ruído é
composta de dois ou mais períodos de exposição de deferentes níveis, devem ser
combinados seus efeitos combinados, em vez dos efeitos individuais.

O Anexo 1 da NR-15 fornece a seguinte equação:


C1 C 2 C3 C
   ...  n  1
T1 T2 T3 Tn
Sendo:
Cn = tempo total da exposição a um nível específico

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Tn = duração total permitida nesse nível, conforme limites estabelecidos a


seguir.

Nível de Ruído dB (A) Máxima Exposição


Diária Permissível
85 8 horas
86 7 horas
87 6 horas
88 5 horas
89 4 horas e 30 minutos
90 4 horas
91 3 horas e 30 minutos
92 3 horas
93 2 horas e 40 minutos
94 2 horas e 15 minutos
95 2 horas
96 1 hora e 45 minutos
98 1 hora e 15 minutos
100 1 hora
102 45 minutos
104 35 minutos
105 30 minutos
106 25 minutos
108 20 minutos
110 15 minutos
112 10 minutos
114 8 minutos
115 7 minutos

Os efeitos combinados podem ser obtidos com maior precisão utilizando-se o


audiodosímetro, ou através de um decibelímetro. Neste último caso, é necessário
estimar ou cronometrar com exatidão os tempos de exposição a cada nível.

O Nível Equivalente de Ruído (LEQ) representa a exposição ocupacional do ruído


durante o período de medição e representa a integração dos diversos níveis instantâneos
de ruído ocorridos nesse período, ou seja, a partir da estimativa da dose de ruído pode-
se determinar o LEQ pela seguinte equação.
log D  5,117
LEQ 
0,06
LEQ = nível equivalente de ruído
D = dose equivalente de ruído

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Embora não citada, explicitamente, na NR 15 - Anexo 1, a interpretação feita, neste


item, baseia-se na interpretação da NR 9 (PPRA), que permite recorrer à ACGIH para a
determinação dos LT não citados nas NR. Desta forma, para se determinar os LT para
jornadas acima de 8 h, deve ser aplicada a fórmula ou o gráfico apresentados a seguir:

Onde: LT = limite de tolerância para uma determinada jornada de trabalho - dB(A) e T


= tempo da jornada requerida para o caso em questão - Horas (h)

EXERCÍCIO 7. Um trabalhador executa sua atividade num local cujo NPS = 90 dB


(A) durante 1 hora. Após certo tempo, o NPS cai para 86 dB, e ele permanece ali
durante 4 horas. No restante da jornada, o trabalhador permanece em um local onde o
NPS é de 88 dB (A). O limite de tolerância foi ultrapassado?

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

EXERCÍCIO 8. Um trabalhador executa sua atividade num local cujo NPS = 88 dB


(A) durante 1 hora. Após certo tempo, o NPS cai para 84 dB, e ele permanece ali
durante 6 horas. No restante da jornada, o trabalhador permanece em um local onde o
NPS é de 89 dB (A). O limite de tolerância foi ultrapassado?

6.6. MEDIDAS DE CONTROLE


As medidas de controle do ruído podem ser consideradas basicamente de três maneiras
distintas: na fonte, na trajetória e no homem. As medidas na fonte e na trajetória
deverão ser prioritárias quando viáveis tecnicamente.

6.6.1. Controle na fonte


É o método mais recomendado quando há viabilidade técnica. No entanto, a fase de
planejamento das instalações é o momento mais apropriado para a adoção dessa medida,
pois se podem escolher equipamentos que produzam menores níveis de ruído e
organizar o lay-out. São exemplos:

 Substituir o equipamento por outro mais silencioso;


 Balancear e equilibrar partes móveis;
 Lubrificar eficazmente rolamentos, mancais, etc.;
 Reduzir impactos na medida do possível;
 Alterar o processo (substituir sistema pneumático por hidráulico);
 Programar as operações de forma que permaneça o menor número de máquinas
funcionando simultaneamente;
 Aplicar material de modo a atenuar as vibrações;
 Regular os motores;
 Re-apertar as estruturas;
 Substituir engrenagens metálicas por outras de plástico;
 Diminuir a velocidade de escapamento dos fluidos;

25
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

 Reduzir as rotações das máquinas, embora essa medida possa reduzir a


capacidade produtiva;
 Instalar abafador (silencioso) nos escapamentos.

6.6.2. Controle na trajetória


Não sendo possível controle na fonte, o segundo passo é a verificação de possíveis
medidas aplicadas na trajetória. Essas medidas consistem:
1) Isolamento da fonte  barreiras revestidas internamente com material absorvente de
som (cortiça, lã de vidro, etc.) e a face externa com material isolante de som
(paredes de alvenaria).
2) Tratamento acústico
3) Isolamento do receptor  cabines especiais.

6.6.3. Controle no homem


Não sendo possível o controle do ruído na fonte e na trajetória, deve-se, como último
recurso, adotar medidas de controle no trabalhador, como complemento às medidas
anteriores, ou quando não forem elas suficientes para corrigir o problema. O uso não
implica a eliminação do risco de o trabalhador vir a sofrer diminuição da capacidade
auditiva. Além do fornecimento deve-se proceder o uso correto e se garantir a qualidade
do protetor por meio do Certificado de aprovação (CA). Como abordado adiante a

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

atenuação do ruído é expressa em NRR (noise reduction rate) a qual é função de cada
tipo de protetor

Protetor auricular do tipo concha:


Formado por um arco plástico ligado a duas conchas plásticas revestidas internamente
por espuma, que ficam sobre as orelhas. Possuem as almofadas externas para ajuste
confortável da concha ao rosto do usuário, ao redor da orelha. Podem ser do tipo
“acopláveis à capacetes”, não apresentando, neste caso, a haste de interligação das
conchas.

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

As principais vantagens do protetor auricular do tipo concha são:


 Único tamanho - serve para todos os tamanhos de cabeça
 Utilização simples / Colocação rápida
 Pode ser utilizado mesmo por pessoas com infecções mínimas no canal auditivo
 Atenuação uniforme nas duas conchas
 Partes substituíveis: possuem várias peças de reposição
 Higiênicos – podem ser utilizados em canais auditivos doentes, desde que
permitido pelo médico responsável.

As principais desvantagens são:


 Desconforto em áreas quentes
 Dificuldade em carregar e guardar devido ao seu tamanho
 Pode interferir com outros equipamentos de proteção como óculos, capacetes,
etc.
 Pode restringir movimentos da cabeça
 Pressão das conchas pode ser desconfortável para 8 horas de jornada de trabalho
 Cabelos longos, barba, uso de óculos, cavidades profundas na região entre o
maxilar e o pescoço em muito prejudicarão a atenuação

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Protetor Tipo Inserção de Espuma de Expansão ou moldáveis:


Feitos em espuma moldável, com superfície lisa que evita irritações no conduto
auditivo. Contornam-se ao canal auditivo do usuário, independentemente do tamanho
ou formato do canal. Suas principais vantagens são:
 Espuma macia, não machucam o ouvido
 Podem ser utilizados por pessoas com cabelos longos, barba e cicatrizes, sem
interferência na vedação

Protetor Tipo Inserção de Espuma de Expansão:

As principais vantagens do protetor auricular do tipo Espuma de Expansão são:


 Se ajustam bem a todos os tamanhos de canais auditivos
 Compatíveis com outros equipamentos como capacetes, óculos, respiradores, etc

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

 Descartáveis e de baixo custo


 Pequenos e facilmente transportados e guardados
 Relativamente confortáveis em ambiente quente
 Não restringem movimentos em áreas muito pequenas
 Quando colocados corretamente, proporcionam excelente vedação no canal
auditivo

As principais desvantagens são:


 Movimentos (fala e mastigação) podem deslocar o protetor, prejudicando a
atenuação
 Necessidade de treinamento específico para colocação
 Bons níveis de atenuação dependem da boa colocação
 Não é recomendado o manuseio se o usuário estiver com as mãos sujas
 Só podem ser utilizados em canais auditivos saudáveis
 Fáceis de perder

Protetor de Inserção Rígido ou Pré-moldado


São aqueles cujo formato é definido, por exemplo, três flanges ou protetores não-
roletáveis. Podem ser de diferentes materiais: borracha, silicone, PVC. Suas principais
vantagens são:
 Diversos modelos
 Compatíveis com outros equipamentos, como capacetes, óculos, respiradores,
etc
 Reutilizáveis ou descartáveis
 Pequenos e facilmente transportados e guardados
 Relativamente confortáveis em ambiente quente
 Não restringem movimentos em áreas muito pequenas
 Podem ser utilizados por pessoas com cabelos longos, barba e cicatrizes, sem
interferência na vedação

As principais desvantagens são:


 Movimentos (fala, mastigação) podem deslocar o protetor, prejudicando a
atenuação
 Necessidade de treinamento específico

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

 Bons níveis de atenuação dependem da boa colocação


 Só pode ser utilizado em canais auditivos saudáveis
 Fáceis de perder
 Menor durabilidade

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

Em um estudo realizado em SP na construção civil dos 777 trabalhadores avaliados a


maior parte (75,7%) declarou considerar necessário utilizar protetor auditivo durante o
trabalho e 84,6% afirmaram tê-lo recebido. A maioria (77,0%) relatou ter recebido
treinamento para a utilização dos protetores. Segundo as declarações, o protetor auditivo
mais utilizado é o tipo plug/silicone, seguido pelo tipo concha, tendo sido comum o
relato, feito pelos usuários do tipo concha, de que o protetor era utilizado de forma
coletiva pelos trabalhadores e não de forma privativa.

Estudos comprovavam que os valores de atenuação (NRR) constantes das embalagens e


folhas de informações técnicas sobre desempenho destes produtos estavam muito
distantes dos valores reais obtidos na prática, já que nos testes tinha-se pessoas treinadas
para o uso do EPI, o que era bem distante da maioria das realidades encontradas nos
ambientes laborais. Assim, o NIOSH ainda recomenda que se faça uma correção de 7
dB nos casos em que o nível de ruído representativo da exposição do trabalhador tenha
sido medido utilizando-se a curva de compensação “A” . Valores de atenuação
constantes (NRR) das embalagens e dados técnicos sobre o desempenho do produto
fossem reduzidos de acordo com o seguinte critério:
Protetor tipo concha: subtrair 25% do valor do NRR
Protetor tipo espuma moldável: subtrair 50% do valor do NRR
Protetor tipo pré-moldado: subtrair 75% do valor do NRR

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NPSc = Nível de pressão sonora no ouvido do trabalhador, com protetor, em dB (A)


NPSa = Nível de pressão sonora no ambiente, em dB (A)
NRR = Nível de redução de ruído do protetor (informado pelo fabricante)
F= Fator de correção conforme o tipo de EPI abaixo:

F = 0,75 para protetores auditivos tipo concha


F = 0,5 para protetores de espuma moldável
F = 0,25 para protetores pré-moldados

NPSc = NPSa – (NRR x F – 7 )

EXERCÍCIO 9.

Existe uma diferença entre os termos Eficiência dos protetores e sua Eficácia. A
Eficiência de atenuação está relacionada à capacidade que os protetores têm de
amenizar os ruídos externos, ou seja, poder de redução ou nível de redução do ruído, a
qual é determinada em laboratório. Atualmente, no Brasil, são seguidos os critérios da
ANSI S12.6/1997 – método B, cujo resultado é denominado NRRsf (nível de redução
de ruído – “subject fit”), cujo resultado está explícito no certificado de aprovação
(C.A.), emitido pelo Ministério do Trabalho. No entanto, a Eficácia do protetor depende
de alguns fatores, que são os elementos da proteção efetiva:
 Colocação e uso corretos
 Qualidade da vedação no canal auditivo
 Porcentagem do tempo de uso

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

 Atenuação oferecida

Portanto, a seleção do protetor auditivo precisa ser realizada a partir de um trabalho


individual, no qual sejam considerados todos os elementos da proteção efetiva, além das
características pessoais do usuário (formato da cabeça e rosto, tamanho do conduto
auditivo, tipo de atividade, compatibilidade com outros EPI’s) e conforto proporcionado
ao usuário pelo protetor, lembrando que o aspecto conforto é extremamente subjetivo,
ou seja, o protetor não deve incomodar quem o utiliza.

Para aplicar corretamente o valor de atenuação NRRsf, basta subtraí-lo do valor da


exposição individual medida em dB(A), como a seguir, lembrando que não se deve
fazer nenhum tipo de redução em seu valor antes de aplicá-lo, pois estas “salvaguardas”
já foram consideradas durante a obtenção do NRRsf :

dB(A) = dB(A)’ - NRRsf

dB(A) = ruído entrando no ouvido protegido


dB(A)’ = nível equivalente de ruído (LEQ) medido na escala A
NRRsf = atenuação do protetor

EXERCÍCIO 10. Fazer a avaliação do Exercício 1 considerando o fornecimento de um


protetor auricular pré-moldado com NRRsf de 15 dB (A).

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CAPÍTULO 7 – RISCOS FÍSICOS: VIBRAÇÕES

7.1. Introdução

Em alguns setores da atividade humana o corpo humano está permanentemente exposto


a vibrações mecânicas com maior ou menor perturbação do bem estar, que podem
provocar lesões irreversíveis e incapacidades nas pessoas expostas, configurando-se
como doença profissional já reconhecida em muitos países do mundo e constante do
Índice Nacional Codificado de Doenças Profissionais.

Tal como o ruído, as vibrações podem ser indesejáveis e perigosas, e estão presentes
nos locais de trabalho, nos transportes e até em casa.

Quando não eficazmente controlada, a vibração é um fenômeno difícil de evitar. A


produção de vibração está normalmente associada a desequilíbrios, tolerâncias, folgas
das diferentes partes constituintes de cada máquina, ou ao efeito de forças
desequilibradas em peças com movimentos alternativos ou rotativos, e podendo ainda
resultar do contato da máquina vibrante com a estrutura.

Se as vibrações assim produzidas, mesmo as de pequena amplitude, podem excitar as


frequências de ressonância de outras partes de equipamentos ou de materiais, dando
deste modo origem a importantes fontes produtoras de vibrações de maior amplitude e
igualmente ruído.

Pelos efeitos nefastos deste agente físico sobre o homem, equipamentos e estruturas das
construções, há todo o interesse em desenvolver técnicas e equipamentos que possam
medi-las segundo determinados parâmetros a fim de avaliar riscos e proceder ao seu
controle.

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

Ao contrário de muitos agentes ambientais, a vibração somente será problema quando


houver efetivo contato físico entre um indivíduo e a fonte, o que auxilia no
reconhecimento da exposição.

7.2. Classificação das vibrações

1. Corpo inteiro: São vibrações transmitidas ao corpo como um todo, geralmente


através da superfície de suporte, tal como pé, costa, nádegas de uma pessoa
sentada ou na área de suporte de uma pessoa reclinada. São transmitidas
simultaneamente à superfície de todo o corpo ou a uma grande parte deste;
transmitidas ao corpo pela superfície de sustentação: os pés na posição
ortostática; nádegas se sentado e qualquer área de suporte que apoia um
indivíduo.

2. Localizadas: atingem certas partes de um corpo, principalmente mãos, braços e


outros.

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

7.3. Descrição das vibrações - Conceitos básicos e magnitudes

Quando um corpo exibe um movimento oscilatório em torno de uma posição de


referência diz-se que está a vibrar. O movimento oscilatório assim produzido determina
a passagem periódica de pontos do corpo oscilante pela sua posição de equilíbrio. A
energia produzida na ocasião é igual à força produzida por 2 grandezas: a amplitude e a
frequência.

 Amplitude do deslocamento - indica o afastamento máximo de um corpo do seu


ponto de equilíbrio, medida em micrômetros ou milímetros.

 Frequência de vibração f - O número de vezes que, durante o intervalo de um


segundo, aquele corpo executa uma oscilação completa, é medida em Hz.

Ao inverso da frequência dá-se o nome de período de vibração T, e mede-se em


segundos (s), (f=1/T).

De uma forma geral, a análise em frequência das vibrações geradas por determinada
máquina produz um espectro com frequências de maior amplitude denominadas
componentes predominantes. Estas estão normalmente diretamente relacionadas com os
movimentos fundamentais das partes que compõem a máquina em análise, pelo que de
imediato é possível concluir qual ou quais os constituintes são os responsáveis pelas
vibrações encontradas.

Propagando-se transversal e longitudinalmente ou em diversas direções ao mesmo


tempo, as vibrações podem transmitir-se ao corpo todo ou a qualquer das suas partes, de
modo particular às pernas, braços, bacia, cabeça, pés, mãos, etc...., provindo das mais
variadas fontes.

7.4. Resultados das medições e Instrumentos para a medição e análise de vibrações

Os resultados das medições podem ser apresentados em duas escalas distintas - em


escala linear, representando a aceleração por m/s2 ou em escala logarítmica em que a
unidade é o decibel.

A utilização de acelerômetros como transdutores de vibrações, permitindo a conversão


do movimento vibratório em sinal elétrico, e a respectiva medição e análise com
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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

analisadores de sinal convenientemente escolhidos, tornam a análise de vibrações e a


eventual posterior redução numa tarefa fácil, precisa e eficaz. A precisão das medições
depende essencialmente da qualidade do equipamento de medida utilizado e do
transdutor selecionado.

O transdutor de vibração que melhor traduz a medição de vibrações no corpo humano é


o acelerômetro piezoelétrico. Além da grande estabilidade, apresenta uma resposta
linear em toda a gama de frequências de interesse.

7.5. Efeito da ação direta das vibrações sobre o organismo

O ser humano apercebe-se das vibrações numa gama de frequências que vai dos 0,1 aos
1000 Hz. Os efeitos são graduais em função da sua intensidade, isto é, as vibrações de
fraca intensidade afetam o bem-estar e o conforto das pessoas expostas e à medida que o
seu nível aumenta, provocam diminuição nas capacidades humanas, prejudicando a
execução de tarefas e, em consequência a segurança; as vibrações de forte intensidade,
em curto ou longo prazo, podem originar lesões fisiológicas e patologias graves. As
vibrações originam efeitos biomecânicos e fisiopatológicos distintos, conforme a banda
de frequência da estimulação vibratória.

A exposição à vibração de corpo inteiro pode causar danos físicos permanentes ou


distúrbios no sistema nervoso. Podem resultar em danos na região espinhal, no sistema
circulatório e/ou urológico, além do sistema nervoso central. Em condições mais
severas pode causar problemas na região dorsal e lombar, problemas de discos
intervertebrais, degeneração da coluna vertebral.

O efeito mais frequente e mais estudado da vibração é a Síndrome de Raynaud, de


origem profissional, também chamado de Dedo Branco, induzido por vibrações, que
tem sua origem em alterações vasculares. Os primeiros sintomas da síndrome são:
formigamentos ou adormecimentos leves, sendo, intermitente ou ambos, que são
usualmente ignorados por não interferirem no trabalho e outras atividades. Mais tarde, o
trabalhador pode experimentar ataques de branqueamento de dedos, primeiramente às
pontas. Entretanto, com a continuidade da exposição, os ataques podem se estender à
base do dedo (doença do Dedo Branco). O tato e a sensibilidade à temperatura ficam
comprometidos. Há perda de destreza e incapacidade para a realização de trabalhos

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

finos. Prosseguindo a exposição, o número de ataques de branqueamento reduz, sendo


substituído por uma aparência cianótica dos dedos (coloração azulada). O estágio final
da síndrome da vibração de mãos e braços sempre força os trabalhadores a deixarem sua
ocupação e alguns, face à ameaça de gangrena nos dedos, resultado da perda do
suprimento de sangue, com possibilidade de amputação do membro.

Outros problemas advindos da exposição à vibração são: cansaço, irritação, dores nos
membros, dores na coluna, artrite, problemas digestivos, lesões ósseas, lesões dos
tecidos moles, risco de infarto agudo do miocárdio etc.

VIBRAÇÕES NO CORPO INTEIRO VIBRAÇÕES LOCALIZADAS


Danos Físicos Irreversíveis: Síndrome dos dedos brancos:
Lombago isquémico Falta de sensibilidade e controlo
Sistema Circulatório Tremura dos dedos
Sistema Urológico Perda de tacto
Destruição das artérias e nervos das mãos
Distúrbios no SNC: Danos nos tendões e músculos entre o
Fadiga pulso e o cotovelo
Insônia
Dor de Cabeça
Tremedeiras

39
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

Origem da
Vibração:
Frequência de vibração Máquinas, Efeito sobre o organismo
ferramentas ou
veículos tipo
- Estimulam o labirinto do ouvido
Vibrações de muito Transportes: aviões, esquerdo.
baixa frequência (< 1 comboios, barcos, - Perturbam o Sistema Nervoso Central
Hz) automóveis. (SNC). "mal dos transportes".
- Podem produzir náuseas e vómitos.
- Veículos de
- Patologias diversas ao nível da coluna
transporte de
vertebral, lombargias lombociáticas,
Vibrações de baixa mercadorias e
hérnias.
frequência (1 a 20 Hz) passageiros.
- Agravam lesões raquidianas menores e
- Veículos
incidem sobre perturbações devidas a
industriais.
más posturas.
- Tratores e
- Sintomas neurológicos: variação de
máquinas agrícolas.
ritmo cerebral, dificuldade de equilíbrio,
- Maquinaria e
inibição de reflexos.
veículos de obras
- Perturbações na visão: diminuição da
públicas.
acuidade visual.

- Perturbações osteoarticulares
observáveis radiologicamente tais como:
Ferramentas artroses, lesões de pulso.
manuais rotativas - Perturbações tendinosas
alternativas ou - Afecções angioneurológicas da mão
Vibrações de alta
percutoras, tais que acompanham perturbações na
frequência (20 a 1000
como polidoras, sensibilidade. A sua expressão vascular
Hz)
lixadoras, manifesta-se por crises do tipo de "dedo
motoserras, martelos branco" chamada síndrome de Raynaud.
pneumáticos, etc. - Aumento da incidência de afecções do
aparelho digestivo (hemorroidas, dores
abdominais, etc.)

A nocividade dos efeitos apresentados dependerá do tipo de exposição (partes ou


totalidade do corpo), da sua duração e frequência, bem como da intensidade das
acelerações. A exposição excessiva a vibrações pode determinar acidentes a curto prazo
ou danos físicos irreversíveis a longo prazo. A exposição prolongada a vibrações de
modo especial quando combinada com outros fatores nocivos (ruído, frio, ...) pode
inclusivamente dar lugar à doença das vibrações.

40
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

Cada uma das partes do corpo quando submetida ao efeito das vibrações não se
comporta da mesma forma. Tudo se passa como se a cabeça, o tórax e a bacia tivessem
a sua própria massa autônoma. Os efeitos são mais fortes quando a frequência das
vibrações se situa em valores próximos da frequência de ressonância. As vibrações de
frequências entre 20-30 Hz geralmente são atenuadas pelos tecidos moles. As
articulações podem constituir filtros.

Quanto à prevenção para além da necessária vigilância médica, há que proceder em


cada caso ou situação a medições e à consequente implementação de medidas
adequadas que previnam ou minorem o mais possível os riscos das vibrações.

1. Vibração de Corpo Inteiro:


 Assento com suspensão a ar
 Assento com almofadas
 Cabines com suspensão
 Calibração adequada dos pneus

2. Vibração Localizada:
 Usar ferramentas com características antivibratórias
 Utilizar luvas antivibração

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

Medidas gerais de prevenção

TIPOS DE ACÇÃO MEDIDAS A ADOPTAR


Atuando sobre as forças Vigilância do estado da máquina.
ativadoras.
Dessintonizando as vibrações Modificação da frequência de ressonância, alterando
a massa ou a rigidez do elemento afetado.
Atenuando a sua transmissão ao - Interposição de materiais isolantes.
homem. - Interposição de materiais absorventes.

Medidas Técnicas de Prevenção

ORIGEM MEDIDAS A ADOPTAR


Ferramentas vibratórias - Concepção ergonômica da ferramenta de modo a que
portáteis. o seu peso, forma e dimensões se adaptem
especificamente ao trabalho.
- Emprego de dispositivos técnicos antivibratórios que
reduzam a intensidade das vibrações criadas ou
transmitidas ao homem.
Maquinaria agrícola ou de - Redução das vibrações próprias do veículo,
obras públicas. estabelecendo suspensões adequadas.
- Isolamento do condutor: por suspensão do assento ou
por suspensão da cabine relativamente ao veículo.

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

7.6. Avaliação para caracterização de insalubridade (Anexo 8 da NR-15)


1. As atividades e operações que exponham os trabalhadores, sem a proteção adequada,
às vibrações localizadas ou de corpo inteiro, serão caracterizadas como insalubres,
através de perícia realizada no local de trabalho.

2. A perícia, visando à comprovação ou não da exposição, deve tomar por base os


limites de tolerância definidos pela Organização Internacional para a Normalização -
ISO, em suas normas ISO 2631 e ISO/DIS 5349 ou suas substitutas.

2.1. Constarão obrigatoriamente do laudo da perícia:


 o critério adotado;
 o instrumental utilizado;
 a metodologia de avaliação;
 a descrição das condições de trabalho e o tempo de exposição às vibrações;
 o resultado da avaliação quantitativa;
 as medidas para eliminação e/ou neutralização da insalubridade, quando houver.

3. A insalubridade, quando constatada, será de grau médio.

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

CAPÍTULO 8 – RISCOS FÍSICOS: CALOR EXCESSIVO

8.1. INTRODUÇÃO
O Ambiente Térmico desempenha um papel importante no melhoramento das condições
de trabalho. Conforto térmico pode ser definido como "o estado de espírito em que o
indivíduo expressa satisfação em relação ao ambiente térmico". Este estado é obtido
quando um indivíduo está numa condição de equilíbrio com o ambiente que o rodeia, o
que significa que é possível a manutenção da temperatura dos tecidos constituintes do
corpo, num domínio de variação estrito, sem que haja um esforço sensível.

Esta é a situação ideal, que corresponde a um ambiente neutro ou confortável. Fora


deste ambiente pode haver alterações fisiológicas no ser humano. Em condições
normais de saúde e conforto, a temperatura do corpo humano mantém-se
aproximadamente constante e próxima de 37 +/- 0,8 ºC, graças a um equilíbrio entre a
produção interna de calor devida ao metabolismo e à perda de calor para o meio
ambiente. Tal característica é conhecida como homeotermia.

Esta perda de calor efetua-se segundo as leis da física de troca de calor (por condução,
por convecção, por radiação), e fisiologicamente pela evaporação/condensação e pela
respiração. A temperatura do ambiente é importante porque determina a velocidade com
que o calor do corpo pode ser transferido para o ambiente e, assim, a facilidade com que
o corpo pode regular e manter uma temperatura adequada.

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

Uma vez que os mecanismos de termoregulação do organismo têm como finalidade


essencial a manutenção de uma temperatura interna constante, é evidente que tem de
existir um equilíbrio entre a quantidade de calor gerado no corpo e sua transmissão ao
meio ambiente.

Atualmente a competição entre as empresas cresce a cada dia, a produtividade de seus


funcionários é um diferencial e, um dos fatores que influenciam esta produtividade diz
respeito às condições ambientais a que eles estão sujeitos. As temperaturas excessivas
são um desses fatores ambientais que possibilitam oferecer melhores condições de
trabalho e aumento de produtividade.

O calor é um agente presente em diversos ambientes de trabalho tais como: Fundições,


usinas, fábricas, fábricas de vidro, indústrias de papel, olarias, indústrias metalúrgicas,
siderúrgicas e, em certas situações, até mesmo ao ar livre podem ocorrer exposições
superiores ao limite, dependendo das condições climáticas da região e do tipo de
atividade desenvolvida.

Fundições

Etc. Usinas

Ar livre Padarias

Calor
Excessivo Fábricas de
Siderúrgicas
vidro

Indústrias Indústrias
metalúrgicas de papel
Olarias

Além do aspecto de melhoria na produção outro aspecto que deve ser tomado em conta
é que, se o ambiente estiver acima do limite de tolerância estabelecido pelo Ministério
do Trabalho o ambiente será considerado insalubre, portanto, gerará mais custos à

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

empresa que terá que pagar a insalubridade aos funcionários e uma taxa maior à
Previdência. Além disso, o afastamento de funcionários devido a doenças ocupacionais
será maior.

No que diz respeito à temperatura existem diversas alternativas de mercado para


acondicionamento térmico: sistema de ventilação e exaustão, sistema de insuflamento,
sistema eólico, revestimento de teto, resfriadores evaporativos, etc. Uns de maior custo
que outros, e, cada um se apresentando como a melhor solução. Para saber ao certo qual
a melhor solução é necessário a análise e o conhecimento sobre o calor e como ele atua
nas pessoas e como os sistemas de ventilação influenciam esta relação.

Doenças ocupacionais podem ocorrer em decorrência de temperaturas excessivas. A


NR-15 trata de calor excessivo no anexo 3 e de frio excessivo no anexo 9. Devido às
situações de calor serem mais frequentes elas terão um tratamento mais detalhado.

Ao contrário de outros agentes ambientais, na avaliação do calor, diversos fatores


ambientais devem ser considerados. Por esta razão, vários índices de avaliação de calor
foram desenvolvidos correlacionando esses fatores.

8.2. TROCAS TÉRMICAS ENTRE O ORGANISMO E O AMBIENTE


Os mecanismos de termorregulação do organismo têm como finalidade manter a
temperatura interna do corpo constante, e é evidente que há um equilíbrio entre a
quantidade de calor gerado no corpo e sua transmissão para o meio ambiente. Quando o

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

trabalhador está exposto junto a uma ou várias fontes de calor, ocorrem as trocas
térmicas entre o ambiente e o organismo, as quais são mostradas abaixo.

C E

R M

Fonte de Calor

A equação que descreve o estado de equilíbrio se denomina balanço térmico ou do


equilíbrio homeotérmico:

S=M±C±R-E

Onde:
M – calor produzido pelo metabolismo
C - Calor ganho ou perdido por condução/convecção
R – Calor ganho ou perdido por radiação
E – Calor perdido por evaporação
S – Calor acumulado no organismo (sobrecarga térmica)
Quando o valor de S for igual a zero significa que o corpo se encontrará em equilíbrio
térmico ou homeotérmico.

8.3. MECANISMOS DE TROCAS TÉRMICAS


Condução (C): É o processo de transferência de calor que ocorre quando dois corpos
sólidos ou fluidos, que não estão em movimento e se encontram em diferentes
temperaturas, são colocados em contato. O corpo de maior temperatura transfere o calor
para o corpo de menor temperatura até que se estabeleça um equilíbrio térmico entre
eles, isto é, até a temperatura dos corpos se igualarem. Exemplo: aquecimento de uma
barra de ferro

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

Convecção (C): É idêntico ao anterior, com exceção de que as trocas energéticas se dão
através de um fluido em movimento. Desse modo, quando o trabalhador se encontra
próximo a uma fonte de calor, pelo mecanismo de condução/convecção esse calor é
transferido para o corpo do indivíduo.

Radiação (R): Quando a transferência de calor ocorre sem qualquer suporte material. A
energia radiante passa por meio do ar sem aquecê-lo apreciavelmente, aquecendo
somente a superfície atingida. Consiste na transmissão de energia por meio de ondas
eletromagnéticas. Exemplo: radiação emitida pelo sol.

Metabolismo (M): É o calor gerado pelo metabolismo basal resultante da atividade


física do trabalhador. Quanto mais intensa for a atividade física, maior será o calor
produzido pelo metabolismo.

Evaporação (E): É o processo de passagem de um líquido, a uma determinada


temperatura, para a fase gasosa, dispersando vapor para o meio ambiente. Não é
necessária diferença de temperatura para o desenvolvimento do processo. O calor
transferido dessa forma é chamado de calor latente, diferenciando-se daquele que se
transmite através da variação de temperatura, que é chamado de calor sensível. É o
mecanismo mais importante do equilíbrio térmico (homeotérmico). Exemplo: suor
emanado após uma atividade física.

8.4. FATORES QUE INFLUEM NAS TROCAS TÉRMICAS ENTRE O


AMBIENTE E O ORGANISMO
1. Temperatura do ar  dependerá da temperatura positiva ou negativa entre a Tar e
Tpele
2. Umidade relativa do ar  quanto maior a umidade relativa (maior saturação de água
no ar), menor será a perda de calor por evaporação
3. Velocidade do ar  pode alterar as trocas, tanto na condução e convecção como na
evaporação.
4. Calor radiante  quando um indivíduo se encontra em presença de fontes
apreciáveis de calor radiante, o organismo absorve calor pelo mecanismo de
radiação. Caso não haja calor radiante ou se estas são controladas, o organismo
humano poderá perder calor pelo mesmo mecanismo.

48
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

5. Tipo de atividade  quanto mais intensa for a atividade física exercida pelo
trabalhador, maior será o calor produzido pelo metabolismo, constituindo, portanto,
parte do calor total ganho pelo organismo.

8.5. EQUILÍBRIO HOMEOTÉRMICO

8.6. EFEITOS DO CALOR NO ORGANISMO


Quando o calor cedido pelo organismo ao meio ambiente é inferior ao recebido ou
produzido pelo metabolismo total (Mbasal + Mtrab), o organismo tende a aumentar sua
temperatura. Para evitar essa hipertermia (aumento da T interna do corpo), são
colocados em ação alguns mecanismos de defesa, quais sejam:

1. Vasodilatação periférica  permitir maior troca de calor entre o organismo e o


ambiente
2. Ativação das glândulas sudoríparas  aumento do intercâmbio de calor através
da transformação do suor de estado líquido em vapor

Consequências da Hipertermia
Caso a vasodilatação periférica e a sudorese não sejam suficientes para manter a
temperatura do corpo em torno de 37º C, haverá conseqüências para o organismo que
podem se manifestar das seguintes formas:

 Exaustão de calor  com a dilatação dos vasos sanguíneos em resposta ao calor, há


uma insuficiência do suprimento de sangue do córtex cerebral, resultando em queda
da pressão arterial.
 Prostração térmica  quando a água eliminada por sudorese não é reposta através
do consumo de líquidos, fazendo aumentar a pulsação e temperatura do corpo.
 Desidratação  provoca a redução do volume de sangue, promovendo a exaustão
de calor.
 Câimbras de calor  na sudorese há perda de água e sais minerais, principalmente
NaCl. Com a redução desta substância no organismo, poderão ocorrer câimbras.
 Choque térmico.

49
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

A incidência e gravidade da sobrecarga térmica irão variar amplamente de pessoa para


pessoa, mesmo sob condições idênticas de sobrecarga térmica. Entretanto, o padrão
global de efeitos é em geral similar.
Deve ser eliminada a sudorese prolongada e intensa para tarefas rotineiras de longo
termo. Ela pode produzir desidratação e perdas de eletrólitos do corpo, e pode levar à
exaustão ou câimbras. Também pode perturbar as funções cardiovasculares normais.
Este efeito, em situações nos quais a evaporação de suor é suficientemente restrita, por
exemplo, devido a trajes encapsulados, pode causar rapidamente uma queda no fluxo
sanguíneo para o sistema nervoso central, levando a redução na coordenação motora e a
desmaio, antes que o aumento da temperatura do núcleo do corpo ou da frequência
cardíaca atinja níveis inaceitáveis. Apesar de o pronto restabelecimento das condições
de sobrecarga térmica resultar geralmente numa recuperação plena, a possibilidade de
acidentes e danos associados devem ser considerados.

Aumentos prolongados na temperatura central do corpo podem também estar associado


à infertilidade temporária em ambos o sexo e, durante o primeiro trimestre de gravidez
podem por o feto em perigo.

8.7. INSTRUMENTOS DE MEDIÇÃO


1. Termômetro de bulbo seco (Tbs): temperatura obtida ao colocar o bulbo seco do
termômetro em contato com uma mistura de ar úmido
2. Termômetro de globo (Tg): mede o calor por radiação

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

3. Termômetro de bulbo úmido natural


(Tbn): o termômetro de mercúrio ou
sensor deve ser montado na posição
vertical, revestido com uma camisa
pavio de algodão branca que deverá
envolver totalmente o bulbo do
mercúrio. O pavio do Tbn deve ser
mantido em água destilada, por no
mínimo meia hora antes de se fazer a
leitura da temperatura.

4. Psicrômetro: mede a umidade relativa do ar e é constituído de dois termômetros


idênticos colocados paralelamente. Após a estabilização: Tbs e Tbu  entra nas
cartas psicrométricas.

5. Anemômetro: mede a velocidade do ar

8.8. ÍNDICES DE AVALIAÇÃO DE CONFORTO E SOBRECARGA TÉRMICA


O objetivo da medição do calor é verificar se a temperatura do núcleo do corpo vai
ultrapassar 37º C. Torna-se, portanto, simular a situação de exposição do homem ao
calor, medindo os fatores ambientais.

Existem diversos índices que correlacionam as variáveis que influem nas trocas
térmicas entre o indivíduo e o meio e, dessa forma, permitem quantificar a severidade
da exposição ao calor. Entre esses índices, os mais conhecidos são:

O Índice de Exposição ao Calor, que determina os índices máximos de exposição ao


calor, pode ser classificado em:
 Índice de conforto térmico e
 Índice de sobrecarga térmica,

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

Calor
Conforto Sobrecarga
térmico Térmica

Ergonomia (NR- Calor ou frio


17) excessivo NR-15

Índice de conforto térmico


Os índices de conforto térmico foram obtidos de forma empírica, decorrente de
observações práticas no ambiente de trabalho e experiências subjetivas realizadas com
trabalhadores expostos a diferentes condições ambientais. Dentre estes índices destaca-
se:

- Temperatura Efetiva (TE): leva em consideração


 Temperatura;
 Umidade;
 Velocidade do ar.
É adotado como parâmetro na determinação do conforto térmico. Calculado por meio de
ábacos, com três variáveis plotadas (temperatura de bulbo seco, temperatura de bulbo
úmido, velocidade do ar. Segundo a NR-17 o índice de temperatura efetiva deve se
situar entre 20ºC e 23ºC, velocidade não superior a 0,75m/s e umidade relativa do ar não
inferior a 40%.

- Temperatura Efetiva Corrigida (TEC) considera a:


 Temperatura;
 Umidade;
 Velocidade do ar;
 Calor radiante.

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

Índice de sobrecarga térmica


Os índices de sobrecarga térmica partem de aspectos técnicos bem definidos, uma vez
que a natureza humana é a mesma em qualquer parte do mundo. São os mais
importantes do ponto de vista da Higiene Ocupacional.

A sobrecarga térmica é a quantidade de energia que o organismo precisa dissipar para


atingir o equilíbrio térmico. O organismo também gera calor interno, chamado de calor
metabólico, por causa da atividade celular. Essa energia interna é a combinação do calor
gerado pelo metabolismo e o calor resultante da atividade física. Dentre os índices pode-
se citar:

- Índice de sobrecarga térmica (IST): leva em consideração:


 Temperatura;
 Umidade;
 Velocidade do ar;
 Calor radiante;
 Metabolismo da atividade.

- Índice de Bulbo Úmido e Termômetro de Globo (IBUTG): leva em consideração:


 Temperatura;
 Umidade;
 Calor radiante;
 Metabolismo da atividade.

O IBUTG foi instituído pela Portaria nº 3.214/78, NR-15, anexo 3, foi adotado como
Índice de Avaliação das condições de insalubridade.

8.9. AVALIAÇÃO DE CALOR


O IBUTG é o método mais simples para avaliar os fatores ambientais que influenciam
na sobrecarga térmica, o qual leva em consideração todos os fatores ambientais e
fisiológicos do equilíbrio homeotérmico. Segundo o anexo 3, os valores do IBUTG são
calculados da seguinte forma:

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

Ambientes externos com carga solar:


IBUTG = 0,7 Tbn + 0,2 Tg + 0,1 Tbs

Ambientes internos ou externos sem carga solar:


IBUTG = 0,7 Tbn + 0,3 Tg

Sendo:
IBUTG – índice de bulbo úmido termômetro de globo
Tbn – temperatura de bulbo úmido natural
Tbs – temperatura de bulbo seco
Tg – Temperatura do globo

Instrumentos de medição
Para medição do IBUTG são necessários os seguintes termômetros: Tbn, Tg e Tbs.
Esses parâmetros podem ser obtidos através de uma “Árvore de Termômetros” ou de
medidores eletrônicos conhecidos como de Estresse Térmico. No último caso, o
equipamento pode fornecer diretamente o valor do IBUTG.

8.10. LIMITES DE TOLERÂNCIA


Conforme consta no Anexo 3 da NR 15:

2. Os aparelhos que devem ser usados nesta avaliação são: termômetro de bulbo úmido
natural, termômetro de globo e termômetro de mercúrio comum.(115.007-3/ I4)
3. As medições devem ser efetuadas no local onde permanece o trabalhador, à altura da
região do corpo mais atingida. (115.008-1/I4)

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

Limites de Tolerância para exposição ao calor, em regime de trabalho intermitente com


períodos de descanso no próprio local de prestação de serviço.
1. Em função do índice obtido, o regime de trabalho intermitente será definido no
Quadro n º 1.

Quadro 1
REGIME DE TRABALHO TIPO DE ATIVIDADE
INTERMITENTE COM
DESCANSO NO PRÓPRIO LEVE MODERADA PESADA
LOCAL DE TRABALHO
Trabalho contínuo Até 30,0 Até 26,7 Até 25,0
45 minutos trabalho
30,1 à 30,6 26,8 à 28,0 25,1 à 25,9
15 minutos descanso
30 minutos trabalho
30,7 à 31,4 28,1 à 29,4 26,0 à 27,9
30 minutos descanso
15 minutos trabalho
31,5 à 32,2 29,5 à 31,1 28,0 à 30,0
45 minutos descanso
Não é permitido o trabalho
sem adoção de medidas Acima de 32,2 Acima de 31,1 Acima de 30,0
adequadas de controle

2. Os períodos de descanso serão considerados tempo de serviço para todos os efeitos


legais.

3. A determinação do tipo de atividade (Leve, Moderada ou Pesada) é feita consultando-


se o Quadro nº 3.

Limites de Tolerância para exposição ao calor, em regime de trabalho intermitente com


período de descanso em outro local (local de descanso).
1. Para os fins deste item, considera-se como local de descanso ambiente termicamente
mais ameno, com o trabalhador em repouso ou exercendo atividade leve.

2. Os limites de tolerância são dados segundo o Quadro nº 2.

Quadro 2
M (Kcal/h) MÁXIMO IBUTG
175 30,5
200 30,0
250 28,5
300 27,5
350 26,5
400 26,0
450 25,5
500 25,0

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

Onde: M é a taxa de metabolismo média ponderada para uma hora, determinada pela
seguinte fórmula:

M t Tt  M d Td
M 
60

Sendo:
Mt - taxa de metabolismo no local de trabalho.
Tt - soma dos tempos, em minutos, em que se permanece no local de trabalho.
Md - taxa de metabolismo no local de descanso.
Td - soma dos tempos, em minutos, em que se permanece no local de descanso.

IBUTG é o valor IBUTG médio ponderado para uma hora, determinado pela seguinte
fórmula:

IBUTGt Tt  IBUTGd Td
IBUTG 
60

Sendo:
IBUTGt = valor do IBUTG no local de trabalho.
IBUTGd = valor do IBUTG no local de descanso.
Tt e Td = como anteriormente definidos.
Os tempos Tt e Td devem ser tomados no período mais desfavorável do ciclo de
trabalho, sendo Tt + Td = 60 minutos corridos.

3. As taxas de metabolismo Mt e Md serão obtidas consultando-se o Quadro n º 3.

4. Os períodos de descanso serão considerados tempo de serviço para todos os efeitos


legais.

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

Quadro 3
TIPO DE ATIVIDADE Kcal/h
SENTADO OU REPOUSO 100
TRABALHO LEVE
Sentado, movimentos moderados com braços e tronco (ex.: 125
datilografia)
Sentado, movimentos moderados com braços e pernas (ex.: dirigir) 150
De pé, trabalho leve, em máquina ou bancada, principalmente com
braços 150
TRABALHO MODERADO
Sentado movimentos vigorosos com braços e pernas 180
De pé, trabalho leve em máquina ou bancada, com alguma
movimentação 175
De pé, trabalho moderado em máquina ou bancada, com alguma
movimentação 220
Em movimento, trabalho moderado de levantar ou empurrar
300
TRABALHO PESADO
Trabalho intermitente de levantar, empurrar ou arrastar pesos 440
Trabalho fatigante 550

EXERCÍCIO 1. Um trabalhador fica exposto continuamente a um forno (sem local de


descanso) durante 2 horas. Feita a avaliação de calor no local, obteve-se os seguintes
dados:
 Tbn de 25º C
 Tg de 45º C
 Ambiente interno sem carga solar
 Tipo de atividade: remoção com pá

Verifique se o ambiente é insalubre ou não.

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

EXERCÍCIO 2. Um trabalhador desenvolve as suas atividades em um local e descansa


em outro conforme descrito a seguir.

1. Local de trabalho
 Atividade: carregamento de forno  taxa de metabolismo de 440 kcal/h
(Quadro 3)
 IBUTGt de 31º C
 Tempo de trabalho (Tt) de 20 minutos

2. Local de descanso
 Trabalho: sentado fazendo anotações
 IBUTGd de 23º C
 Tempo de descanso (Td) de 40 minutos
 Taxa de metabolismo igual a 150 kcal/h (Quadro 3)

Verifique se o ambiente é insalubre ou não.

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

Eliminação/Neutralização da insalubridade
A insalubridade por calor só poderá ser eliminada através de medidas no ambiente ou
reduzindo-se o tempo de permanência nas fontes de calor, de forma que a taxa de
metabolismo fique compatível com o IBUTG. A neutralização por meio de EPI não
ocorre, pois não é possível determinar se estes reduzem a intensidade de calor a níveis
abaixo dos limites de tolerância. Os EPIs (blusões de manga) muitas vezes podem até
prejudicar as trocas entre o organismo e o ambiente. Entretanto, os EPIs devem ser
sempre utilizados, uma vez que protegem os empregados dos riscos de acidentes de
doenças ocupacionais.

8.11. MEDIDAS DE CONTROLE


Medidas relativas ao ambiente: tem por finalidade reduzir a quantidade de calor que o
organismo produz ou recebe e busca aumentar a possibilidade de dissipá-lo. Pode-se
conseguir modificando os parâmetros que influem no equilíbrio homeotérmico:

 Metabolismo  minimizar o esforço físico do trabalhador.

 Convecção  controle adequado da velocidade, umidade e temperatura do ar no


intuito de diminuir a sobrecarga térmica.

 Radiação  de grande importância para a diminuição da sobrecarga térmica.


Para reduzir o calor radiante, a medida mais eficiente é a utilização de barreiras
que reflitam os raios infravermelhos. Tais barreiras devem ser localizadas entre
o trabalhador e a fonte de calor e nunca posicionadas atrás do trabalhador,
mesmo que vise a proteção de outros indivíduos.

 Evaporação  devem ser criadas condições que favoreçam a evaporação do


suor e também auxiliem na manutenção do equilíbrio térmico (existem
limitações fisiológicas). As condições ambientais podem ser modificadas
favorecendo o fenômeno da evaporação através da redução da umidade relativa
do ar e aumento da movimentação do ar.

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

Medidas relativas ao homem


Na solução de um problema de higiene ocupacional, devem ser consideradas, em
primeiro ligar, as medidas relativas ao ambiente que geralmente são complementadas
pelas medidas relativas ao pessoal. Em determinados casos, por razões de ordem
técnica, as únicas medidas aplicáveis são relativas ao pessoal, que podem ser bastante
eficazes. São elas:

1. Aclimatização  adaptação fisiológica do organismo a um ambiente quente.


2. Limitação do tempo de exposição
3. Exames médicos  detecção de problemas cardiovasculares, deficiências
glandulares (principalmente glândulas sudoríparas), problemas de pele,
hipertensão, etc.
4. Equipamentos de proteção individual  vestimentas de tecido leve e cor clara,
por exemplo.
5. Educação e treinamento.

Quando possível, deverão reservar-se os trabalhos em ambientes mais quentes para os


últimos dias da semana, pois provocam desadaptação que poderá ser reparada com o
repouso do fim de semana.

O limite da perda por sudação é de 4 litros nas 8 horas de trabalho, ou seja, meio litro
por hora, devendo a reposição ser feita regularmente ao longo do dia de trabalho, com
bebidas frescas (12 a 13 ºC) ou mornas (chá ou café muito fracos), não sendo permitidas
as bebidas alcoólicas e limitando a ingestão de sucos de frutas e leite a 1 litro.
As refeições destes trabalhadores devem ser ligeiras e pobres em lipídeos.
Devem-se afastar dos postos de trabalho em que existe exposição excessiva ao calor, os
indivíduos com afecções cardiovasculares, respiratórias, renais e os obesos.

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

Construtivas - uso de ventilação geral e climatização;


- uso de exaustores em postos de elevada libertação de calor, com
renovação de 30 m3/hora por pessoa;
- a instalação de refrigeradores para o ar renovado;
- a utilização de ventoinhas (estas devem ser colocadas de forma a
não interferir com a eficiência de qualquer sistema de controlo de
qualquer contaminante existente);
- a utilização de écrans protetores contra energia radiante (ex: diante
dos fornos);
- o isolamento, recolocação ou substituição de equipamento produtor
de calor;
- a utilização de equipamento (tais como ferramentas) que permita
reduzir a carga de calor metabólico;
- uso de chaminés (hottes) aspiradoras, evacuando o ar quente por
convecção natural;
- proteção de paredes opacas (tetos em particular);
- proteção das superfícies envidraçadas;
- colocação de telas metálicas.
Organizacionais - a introdução de períodos de climatização;
- a introdução de períodos de descanso;
- a distribuição do trabalho ao longo do tempo;
- a realização do trabalho mais quente nos períodos mais frescos do
dia;
- o fornecimento de água em quantidades apropriadas aos
trabalhadores.
Proteção - vestuário de proteção - deve apresentar determinadas características,
individual tais como: boa ventilação, flexibilidade e elevada grau de reflexão;
- óculos e viseiras de proteção com vidro refletor.

A experiência mostra que um trabalhador que vai trabalhar em ambiente de temperatura


elevada deve, primeiro, habituar-se ao calor (climatizar-se). Essa aclimatização consiste
numa adaptação do organismo.

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

CAPÍTULO 9 – RISCOS QUÍMICOS

9.1. Lista de Definições:

Ácido: são substâncias, constituídas de hidrogênio e um ou mais elementos, que, em


presença de alguns solventes como a água, reage, com a produção de íons hidrogênio
(H+).

Agentes Oxidantes: são agentes químicos que desprendem oxigênio e favorecem a


combustão em refinarias.

Barreiras Químicas: são dispositivos ou sistemas que protegem o trabalhador do


contato com substâncias químicas irritantes, nocivas, tóxicas, corrosivas, líquidos
inflamáveis, substâncias produtoras de fogo, agentes oxidantes e substâncias explosivas.

Bases: são substâncias capazes de liberar íons hidroxila (OH–), quando em reação com
meios aquosos.

Equipamentos de Proteção Individual – EPI: são equipamentos, de uso estritamente


pessoal, tais como, botas, luvas, protetores faciais, etc., utilizados para prevenir e/ou
minimizar acidentes. Seu uso é regulamentado pela Portaria 3.214-NR-6 do Ministério
do Trabalho de 08/06/78, que prevê a distribuição gratuita desses equipamentos,
competindo ao trabalhador usá-los e conservá-los.

Equipamentos de Proteção Coletiva – EPC: são equipamentos de uso coletivo,


extintores de incêndio, lava-olhos, etc., utilizados para prevenir e/ou minimizar
acidentes.

Líquidos Inflamáveis: são agentes químicos que, em temperatura igual ou inferior a


93ºC, desprendem vapores inflamáveis.

Ponto de Auto-Ignição: é a temperatura mínima em que ocorre uma combustão,


independente de uma fonte de calor.

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

Ponto de Combustão: é a menor temperatura em que vapores de um líquido, após


inflamarem-se pela passagem de uma chama piloto, continuam a arder por 5 segundos,
no mínimo.

Ponto de Fulgor: é a menor temperatura em que um líquido libera suficiente


quantidade de vapor para formar uma mistura com o ar passível de inflamação, pela
passagem de uma chama piloto. A chama dura no máximo 1 segundo.

Substâncias Corrosivas: são agentes químicos que causam destruição de tecidos vivos
e/ou materiais inertes.

Substâncias Explosivas: são agentes químicos que pela ação de choque, percussão,
fricção, produzem centelhas ou calor suficiente para iniciar um processo destrutivo
através de violenta liberação de energia.

Substâncias Irritantes: são agentes químicos que podem produzir ação irritante sobre a
pele, olhos e trato respiratório.

Substâncias Nocivas: são agentes químicos que, por inalação, absorção ou ingestão,
produzem efeitos de menor gravidade.

Substâncias Tóxicas: são agentes químicos que, ao serem introduzidos no organismo


por inalação, absorção ou ingestão, podem causar efeitos graves e/ou mortais.

Substâncias Produtoras de Fogo: são agentes químicos sólidos, não explosivos,


facilmente combustíveis, que causam ou contribuem para a produção de incêndios.

Substância Química: é todo o agente que contém uma atividade potencial intrínseca,
capaz de interferir em um sistema biológico levando a um dano, lesão ou injúria,
quando absorvido pelas diversas vias de penetração.

Poeiras: são partículas sólidas, com diâmetro maior que 0,5 micras, que podem
apresentar-se em suspensão no ar, geradas de materiais orgânicos ou inorgânicos, como
rochas, minérios, metais, carvão, madeira, produzidos por desintegração, trituração,

63
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

pulverização e impacto. Não se difundem no ar, sedimentam-se sob a influência da


gravidade.

Fumos: são partículas sólidas (de diâmetro menor que 0,5 micras) geradas pela
condensação de compostos metálicos, geralmente após volatilização de metais fundidos.
Exemplo: óxidos metálicos (ZnO, CuO, FeO).

Fumaças: partículas de carvão e fuligem.

Névoa: gotículas (de diâmetro maior que 0,5 micras) resultantes da dispersão de
líquidos, por ação mecânica.

Neblina: são partículas líquidas em suspensão no ar, formadas pela passagem rápida do
ar nos líquidos ou pela condensação de umidade atmosférica formando moléculas de
gases ou vapores. As neblinas difundem-se em maior extensão que os fumos. As
partículas que constituem uma neblina apresentam diâmetro inferior a 0,5 micras.

Vapores: são formas gasosas das substâncias que estão normalmente no estado sólido
ou líquido, em possível equilíbrio com sua fase líquida, e que podem voltar para seu
estado natural por aumento ou diminuição da temperatura.

Aerossol: partícula sólida ou líquida dispersa por um longo período de tempo no ar.

Exposição: é o contato do organismo com uma determinada substância tóxica. Estão


relacionadas à exposição: as diversas vias de penetração das substâncias, a frequência, a
duração e a dose.

9.2. Introdução
No século XIII, já se sabia que qualquer substância é tóxica, dependendo da dose. No
entanto, muitas vezes utilizam-se substâncias químicas, como detergente, aguarrás,
querosene, sem que se perceba o risco que elas representam. Isto acontece
frequentemente por se desconhecer que aquela substância é tóxica.

64
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

As pessoas que trabalham com agentes químicos acostumam-se a trabalhar com esses
produtos e não sentem mais alguns sintomas, como ardência e cheiro desagradáveis.
Entretanto, isso não significa que elas não estejam atuando no organismo já que o risco
de danos para a saúde é crescente e os efeitos, muitas vezes, demoram anos para se
manifestar, podendo até se tornar irreversíveis.

Segundo o CAS (Chemical Abstracts Service), cerca de 66 milhões de compostos


receberam, até agora, um número CAS. Atualmente existem mais de 60.000 produtos
químicos de uso industrial. Destes apenas uma pequena porcentagem possui catalogados
os efeitos ao organismo humano, bem como os limites de tolerância (LT). A NR-15
apresenta LT de pouco mais de 150 substâncias. No entanto, ainda existem muitos
agentes químicos correntemente utilizados na indústria cujos efeitos ao organismo
humano e LT ainda são desconhecidos.

Os mais diversos agentes químicos capazes de contaminar o ambiente de trabalho e


ingressar no organismo do trabalhador podem apresentar uma ação localizada ou serem
distribuídos em diferentes órgãos ou tecidos, carreados por fluidos internos,
especialmente o sangue, produzindo uma ação generalizada.

Há uma tendência no trabalho com produtos químicos de achar desnecessário se


proteger, mesmo durante as operações em que há risco de contato. Este contato diário
com produtos químicos causa problemas que, ao longo do tempo, poderão influir no
bem-estar e na saúde. Evitar esse contato com substâncias tóxicas é um direito que
depende, em parte, de cada pessoa.

A toxicidade é a capacidade latente, inerente, que uma substância química possui,


sendo a medida do potencial tóxico de uma substância. Como abordado, não existem
substâncias químicas atóxicas (sem toxicidade) assim como não existem substâncias
químicas seguras, que não tenham efeitos lesivos ao organismo. Por outro lado, também
é verdade que não existe substância química que não possa ser utilizada com segurança,
pela limitação da dose e da exposição ao organismo humano. Os maiores fatores que
influenciam na toxicidade de uma substância são: frequência da exposição, duração
da exposição e via de administração.

65
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

Existe uma relação direta entre a frequência e a duração da exposição na toxicidade dos
agentes tóxicos. A toxicidade de uma substância pode ser classificada de acordo com os
seguintes critérios:

1. Segundo o tempo de resposta


a) aguda: é aquela em que os efeitos tóxicos em animais são produzidos por uma
única ou por múltiplas exposições a uma substância, por qualquer via, por um
curto período, inferior a um dia. Geralmente, as manifestações ocorrem
rapidamente.

b) subcrônica: é aquela em que os efeitos tóxicos em animais, produzidos por


exposições diárias repetidas a uma substância, por qualquer via, aparecem em
um período de aproximadamente 10% do tempo de vida de exposição do animal
ou em alguns meses.

c) crônica: é aquela em que os efeitos tóxicos ocorrem depois de repetidas


exposições, por um período longo de tempo, geralmente durante toda a vida do
animal ou aproximadamente 80% do tempo de vida.

2. Segundo a severidade
a) leve: é aquela em que os distúrbios produzidos no corpo humano são
rapidamente reversíveis e desaparecem com o término da exposição ou sem
intervenção médica.
b) moderada: é aquela em que os distúrbios produzidos no organismo são
reversíveis e não são suficientes para provocar danos físicos sérios ou prejuízos
à saúde.
c) severa: é aquela em que ocorrem mudanças irreversíveis no organismo humano,
suficientemente severas para produzirem lesões graves ou a morte.

O uso crescente de substâncias químicas nas diversas atividades pelo homem aumenta a
possibilidade da interação de efeitos dos agentes tóxicos. A interação química pode ser
classificada nos seguintes tipos:
a) sinergismo: quando o efeito combinado de dois agentes químicos é maior do que
a soma de cada agente dado isoladamente. Quando as ações tóxicas são mais que

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

aditivas: Efeito de (A + B) > efeito A + efeito B. Por exemplo: o tetracloreto de


carbono e o etanol (álcool etílico) são hepatotóxicos (tóxicos ao fígado), porém,
quando combinados, provocam lesão hepática muito maior do que se forem
somadas as lesões individuais de cada substância.
b) potencialização: quando uma substância que não tem efeito tóxico sobre um
órgão ou um sistema é adicionada a uma substância que tenha efeito tóxico
sobre esse órgão, e então surge um efeito muito maior.
c) adição: quando o efeito combinado de duas substâncias químicas é igual à soma
dos efeitos de cada agente isoladamente: Efeito de (A + B) = efeito A + efeito B.
d) antagonismo: quando duas substâncias são administradas juntas, uma
interferindo na ação da outra, e vice-versa. Efeito de (A + B) < efeito A + efeito
B. Este efeito, desejado em toxicologia, é a base para a formação de antídotos.
e) Independentes: A – Efeito A ; B – Efeito B

A substância tóxica pode causar mal, mas isto só acontece quando ela entra em contato
com o corpo. A probabilidade de ela penetrar no organismo chama-se risco tóxico. O
risco depende de tudo o que contribui para que a substância entre em contato com o
organismo:
 a temperatura (quanto mais alta, maior o risco);
 propriedades físico-químicas da substância
 o estado da substância (em geral, os gases representam risco maior do que os
líquidos);
 vias de exposição
 propriedades metabólicas
 a forma de embalar e transportar a substância.

Em linhas gerais, o risco não depende da toxicidade. Por exemplo, o tolueno que está
dentro de um tambor fechado representa um risco potencial de intoxicação, que só vai
ocorrer se houver vazamento. O risco para o operador durante uma operação de
carregamento é ainda maior. E se não for utilizado o procedimento correto durante uma
limpeza de tanque com trapos embebidos em tolueno, o confinamento do ambiente irá
contribuir para que o organismo absorva o produto pelos pulmões e pele. É o mesmo
tolueno, a mesma toxicidade, mas são três graduações de risco tóxico diferentes.

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Portanto, o risco depende, em grande parte, da forma de lidar com as substâncias.


Num navio, o risco químico é mais percebido pelo pessoal do convés, que lida com
grandes quantidades de produtos químicos nas operações de carga e descarga. O pessoal
de máquinas pode estar exposto a quantidades significativas de substâncias tóxicas em
suas atividades diárias.

No local onde a substância entra em contato, pele, olhos, nariz, pode causar irritação,
ardência, ressecamento ou outras reações, são os chamados efeitos locais. Por exemplo,
os ácidos causam queimaduras, dependendo da concentração. Mas algumas reações
acontecem longe do local de contato, são os efeitos sistêmicos. Exemplo: o dano que o
tetracloreto de carbono e o álcool etílico causam ao fígado é um efeito sistêmico.

Dicas Importantes
1. A substância química somente irá causar algum dano se houver contato com o
organismo. Por isso, a proteção é tão importante.
2. Substâncias hidrossolúveis (solúveis em água) têm uma probabilidade maior de
causar efeitos locais. É o caso da soda cáustica e dos ácidos.
3. Algumas substâncias atravessam a pele ou outras barreiras do organismo chegando ao
sangue. São substâncias lipossolúveis, ou seja, solúveis em gorduras. Todos os
solventes derivados do petróleo são lipossolúveis.
4. A mesma substância pode causar efeitos diferentes, dependendo da quantidade.
5. Pode-se trabalhar com uma substância muito tóxica e o risco ser pequeno, como o
caso da substância no tambor, que só vai causar intoxicação se houver vazamento.
6. Pode-se trabalhar com uma substância pouco tóxica e o risco de intoxicação ser alto.
É o caso de limpeza de locais sem ventilação adequada com nafta ou outros solventes.
7. Ao entrar em contato com o organismo, se a substância conseguir atravessar a pele ou
outras barreiras, ela entra no caminho da toxicocinética, abordado a seguir.

Toxicocinética
É a peregrinação ou distribuição das substâncias químicas no organismo.

Sendo “T” uma substância tóxica que não pertence ao organismo. Se ela estiver no
ambiente, pode entrar em contato com o corpo através de:
– via respiratória – quando “T” apresenta-se como gás ou vapor;

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– via digestiva – quando “T” é um líquido ou sólido ingerido;


– pele – quando “T” está em contato com o corpo, seja pelas mãos ou mesmo pelas
roupas molhadas.

Quando “T” consegue entrar no organismo e chegar até o sangue, diz-se que foi
absorvida. É o processo de Absorção.
Após absorção, “T” é levado pelo sangue para todos os lugares do organismo. É o
processo de Transporte e Distribuição.
Quando “T” encontra um local pelo qual tem afinidade, fica armazenada. É o caso do
solvente que fica armazenado na gordura. Este processo chama-se Armazenamento.
No fígado, “T” é transformado. É o processo de Biotransformação.
E, finalmente, os rins eliminam “T” do organismo. É o processo de Eliminação.

Dicas Importantes
1. As substâncias podem ser absorvidas, principalmente, por via respiratória, digestiva e
através da pele.
2. As substâncias, depois de absorvidas, são distribuídas pelo sangue.
3. O fígado é o principal local de transformação das substâncias.
4. Algumas substâncias ficam armazenadas em alguns locais do organismo.
5. As substâncias podem ser eliminadas pelo ar exalado, pela urina e todas as outras
secreções do organismo – lágrimas, suor, saliva, etc.
6. Durante esta permanência no organismo, as substâncias podem ou não provocar
efeitos tóxicos, que serão estudados na toxicodinâmica.

Toxicodinâmica
É o estudo das modificações que “T” provoca no organismo.

Os efeitos que podem acontecer nas primeiras 24 horas após o contato são os chamados
efeitos imediatos. É o caso da queimadura pelo fenol, que se manifesta na hora do
contato.

Outros efeitos ocorrem com mais de 24 horas após o contato são os chamados efeitos
tardios. Entre estes estão o câncer e as doenças do sistema nervoso. Levam, às vezes,
anos para se manifestarem e por isso é mais difícil descobrir qual o agente causador.

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9.3. Ar respirável e os riscos químicos


O ar respirável é uma composição que o homem possa respirar por um tempo
prolongado sem sofrer danos ou sem sentir incômodos. A deficiência de oxigênio no
ambiente, a inalação de produtos prejudiciais à saúde, bem como, um estado fisiológico
impróprio do ar atmosférico, como por exemplo, pressão, temperatura e outros, podem
causar prejuízos ao organismo.

O ar respirável deve ter como características:

 Conter uma concentração mínima de oxigênio (a legislação brasileira prevê um


mínimo de 18% em volume);
 Estar livre de produtos prejudiciais à saúde, que através da respiração possa
provocar distúrbios ao organismo;
 Deve se encontrar no estado apropriado para respiração, ter pressão e
temperaturas normais;
 Não deve ter qualquer substância que o torne desagradável, como por exemplo:
odores.

Os riscos químicos presentes nos locais de trabalho são encontrados na forma sólida,
líquida e gasosa. Classificam-se em: poeiras, fumos, névoas, gases, vapores, neblinas e
substâncias, compostos e produtos químicos em geral. Aerodispersóides são formados
pela poeira, fumo, névoa e neblina, podendo está na forma sólida ou líquida.

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9.4. Efeitos na Saúde


a) Problemas respiratórios: pneumonia, bronquite, asma, tosse, falta de ar, desmaios.
O enrijecimento dos alvéolos pulmonares é conhecido como fibrose pulmonar ou
peneumoconiose, sendo as principais:
 Silicose  causada pela poeira da Sílica
 Asbestose  causada pela poeira do Asbesto
 Bissinose  causada pela fibra do Algodão
 Siderose  causada pela poeira do Ferro
 Etc.

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b) Toxicidade: pode causar enfermidade tanto por inalação quanto pela pele ou
ingestão. Ex.: metais como chumbo (tintas que contém chumbo, baterias de automóveis,
pilhas, soldas, e emissões industriais), mercúrio, arsênico, cádmio, manganês, cromo,
etc.

c) Alergias e dermatoses ocupacionais: muitas substâncias químicas conhecidas


causam irritação, entre elas, os ácidos e as bases. No lugar de contato, estas substâncias
provocam reações que vão desde a coceira, vermelhidão, inchação, até ulcerações e
sangramento. É o caso da amônia, que causa tosse, espirro, lacrimejamento e
sangramento quando inalada. Outros exemplos: poeira de resina epóxi e algumas
poeiras de madeira.

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d) Asfixia: é causada por gases chamados asfixiantes que fazem diminuir a


concentração de falta de oxigênio na célula, provocando falência em suas funções,
podendo levar à morte. Os gases asfixiantes são divididos em simples e químicos.

1. Gases Asfixiantes Simples – provocam asfixia ocupando o lugar do oxigênio no


ambiente. São, portanto, mais perigosos em ambientes confinados. As frações
gasosas do petróleo, como metano, etano, propano e butano são asfixiantes
simples.

2. Gases Asfixiantes Químicos – provocam asfixia independente do local ser


confinado ou não. São gases letais. Os mais comuns são: H2S (gás sulfídrico);
HCN (gás cianídrico); CO (monóxido de carbono).

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e) Efeitos sobre o Sistema Nervoso: ocorrem quando a substância tem afinidade pelo
sistema nervoso e afetam tanto o cérebro quanto os nervos situados em outros lugares
do corpo. O sistema nervoso é altamente sensível aos solventes industriais porque é
formado, em grande parte, por gordura. Assim, todos os solventes industriais, sejam
éter, tolueno, xileno, hexano, fenol e outros, causam uma sensação de euforia em
pequenas doses. Em doses maiores causam sensação de embriaguez, diminuição da
coordenação motora, sonolência, podendo chegar ao coma e à morte. Pequenas doses
diárias podem causar insônia, irritabilidade, alterações de humor, dificuldade de
concentração e mesmo sensação de dormência e formigamento. As alterações no
sistema nervoso são, muitas vezes, as que primeiro se manifestam. Podem, também,
provocar mudanças no comportamento ou uma tendência maior a acidentes.

f) Câncer: a célula muda sua forma e função e passa a se reproduzir de modo


descontrolado, originando tumores e invadindo outros tecidos. Pode ser causado por
substâncias químicas, vírus, raios-x. Por exemplo, câncer de fígado causado pelo
tetracloreto de carbono, câncer de pulmão causado pelo fumo. O período de incubação
pode durar dez, vinte, trinta anos.

g) Mutagênese: é uma modificação na célula, que fica com a forma e/ou função
alteradas. Podem ocorrer diversos fenômenos, entre eles, a formação de tumores
benignos ou malignos (câncer). Estes podem demorar a aparecer, ou se manifestar em
outras gerações (filhos, netos, bisnetos, etc.).

h) Teratogênese: efeito provocado no feto quando a mulher grávida expõe-se a tóxicos.


Mulheres dependentes de álcool e que bebem durante a gravidez podem provocar
alterações na criança, tais como baixo peso e alterações cerebrais. Outro exemplo é o
das mulheres que tomaram talidomida durante a gravidez e os filhos nasceram com
defeitos nos braços. Neste caso, os efeitos vão depender da dose e da época da gravidez
em que a mulher teve contato com a substância tóxica.

i) Outros efeitos: existem substâncias que provocam danos em determinados pontos do


corpo, como ossos, órgãos formadores de sangue, olhos, etc. Frequentemente, as
substâncias causam danos ao fígado, porque é o órgão onde elas são transformadas, e
aos rins e bexiga, porque se concentram na urina.

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AGENTE OCORRÊNCIA EM OPERAÇÕES E/ OU EFEITOS CRÍTICOS


QUÍMICO PROCESSO INDUSTRIAIS NO ORGANISMO

Ácido clorídrico Laboratório, decapagem química, produção de Irritação, corrosão


fertilizantes, corantes e extração de petróleo
Ácido acético Revelação fotográfica, laboratório, produção de Irritação
plásticos, tingimentos
Ácido nítrico Laboratório, fabricação de explosivos, fabricação de Irritação, corrosão, edema
tintas e corantes farmacêuticos pulmonar
Ácido sulfúrico Laboratório, decapagem química, produção e Irritação, câncer (pulmão)
recuperação de baterias
Anilina Corantes sintéticos, produtos farmacêuticos Anoxia
Benzeno Combustível, reativo químico, solvente Câncer
Ácido pícrico Explosivos Dermatite, irritação ocular,
sensibilização
Hidróxido de sódio Produção de algodão, sabão, papel. explosivos e Irritação
tintas, limpeza de metais
Amônia Produção de fertilizantes, gás refrigerante, Irritação
laboratório
Dióxido de enxofre Produção de ácido sulfúrico, pasta de papel, agente Irritação
branqueador, preservante na indústria vinícola
Hexano Indústria de calçados, cola NeNeuropatia, SNC, irritação
Cloro Indústria têxtil, de papel de corante Irritação

Clorofórmio Laboratório SVC, fígado, rins, SNC,


reprodutivo
Dióxido de Processo de soldagem Irritação, edema pulmonar
nitrogênio
Estireno Fabricação de resinas, polímeros Neurotoxidade, irritação,
SNC
Fenol Fabricação de explosivos, fertilizantes, negro de Irritação, SNC, sangue
fumo, pintura e perfumes
Formaldeído Indústria fotográfica, fabricação de corantes,
borracha, explosivos, cosméticos e perfumes Irritação, câncer nasal
Metilisobutil cetona Solventes, produção de explosivos, cosméticos e Irritação, narcose, fígado,
perfumes rins
Tolueno Fabricação de espuma Irritação, sensibilização
diisocianato (TDI)
Monóxido de Siderurgia, soldagem, processo de combustão Anóxia, SVC, NC,
carbono reprodutivo
Mercúrio Anti-sépticos, germicidas, fungicidas, herbicidas SNC, rin neuropatia, visão,
reprodutivo, GI
Ozona Processo de soldagem Função pulmonar, irritação
Tricloroetileno Solvente, desengraxante, limpeza de roupas a seco SNC, dores de cabeça,
fígado
Tolueno Solvente, produção de substância Função pulmonar,
irritação, sensibilização
Xileno Solvente, indústria elétrica, pintura Irritação,

SNC- Sistema Nervoso Central


SCV- Sistema Cardiovascular
GI- Gastrointestinal

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9.5. Vias de ingresso


Os diversos agentes químicos que podem poluir um local de trabalho e entrar em
contato com o organismo dos trabalhadores, podem apresentar uma ação localizada ou
serem distribuídos aos diferentes órgãos e tecidos, levados pelos fluidos internos
(sangue e outros) produzindo uma ação generalizada. Por esse motivo as vias de
ingresso destas substâncias ao organismo são:
 Inalação
 Absorção cutânea
 Ingestão

Inalação: Constitui a principal via de ingresso de tóxicos, já que a superfície dos


alvéolos pulmonares representa ao homem adulto, uma superfície equivalente de 80 a
90 m2. Esta grande superfície facilita a absorção de gases e vapores, os quais podem
passar ao sangue, para serem distribuídos a outras regiões do organismo.
Alguns sólidos e líquidos ficam retidos nesses tecidos, podendo produzir uma
ação localizada ou dissolvem-se para serem distribuídos através do aparelho
circulatório. Partículas respiráveis são aquelas menores que 10µm, as quais conseguem
penetrar na zona de troca do pulmão, cuja entrada é função do diâmetro.

Tamanho da Partícula (m) Percentual que chega ao Pulmão (%)


0 100
1 97
5 30
10 1

Pele: Quando uma substância de uso industrial entra em contato com a pele, podem
acontecer as seguintes situações:

 A pele e a gordura protetora atuarem como uma barreira protetora efetiva;


 O agente pode agir na superfície da pele, provocando uma irritação primária;
 A substância química pode combinar-se com as proteínas da pele e provocar a
sensibilização;
 O agente pode penetrar através da pele, atingir o sangue e atuar como um tóxico
generalizado; assim, por exemplo, o ácido cianídrico, mercúrio, chumbo, etc.

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Ingestão: Representa apenas uma via secundária de ingresso de tóxicos no organismo, já


que nenhum trabalhador ingere, conscientemente, produtos tóxicos.

9.6. Gases e vapores:


9.6.1. Introdução

Dentre os riscos ambientais gerados em um processo industrial, ocupam lugar de grande


importância os agentes químicos, uma vez que qualquer tipo de produção envolve
transformações físicas (operações unitárias) e/ou químicas (processos unitários ou
conversão químicas), sendo que, em ambos os casos, dependendo de diversos fatores,
poderá haver emanação dos referidos agentes para o ambiente.

Gases: Denominação dada às substâncias que, em condições normais de temperatura e


pressão (25°C e 760 mm Hg), estão no estado gasoso. São fluidos amorfos que podem
mudar de estado físico unicamente por uma combinação de pressão e temperatura.
Exemplo: hidrogênio, oxigênio e nitrogênio.

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Vapores: Fase gasosa de uma substância que, a 25°C e 760 mm Hg, torna-se líquida ou
sólida. O vapor pode passar para o estado líquido ou sólido atuando-se sobre a pressão
ou sobre sua temperatura. Exemplo: vapores de água, vapores de gasolina.

Portanto, a principal diferença entre gases e vapores é a concentração que pode existir
no ambiente. Como para a Higiene Industrial as concentrações que interessam são
pequenas, normalmente situando-se abaixo das concentrações de saturação, não se torna
necessário distinguir os gases dos vapores, sendo ambos estudados em conjunto.

Comparando-se com os aerodispersóides é importante destacar que os gases não


sedimentam, nem se aglomeram, chegando a sua divisão ao nível molecular,
permanecendo, portanto, misturados com o ar sem se separarem por si mesmos.

9.6.2. Classificação
Os gases e vapores podem ser classificados como combustíveis, tóxicos e asfixiantes.

Os Gases Inflamáveis ou Combustíveis são aqueles que podem inflamar ou explodir.


Como exemplos podemos citar: Metano (CH4), Hidrogênio (H2), Acetileno, Gasolina,
GLP, etc. Para a ignição de um gás combustível, são necessárias três condições:
1. A presença de gás em quantidade suficiente
2. A presença de ar em quantidade suficiente
3. A presença de uma fonte de ignição

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Já os gases tóxicos podem causar vários efeitos prejudiciais à saúde humana, sendo
estes diretamente dependentes da concentração ao tempo de exposição. Como exemplos
dessa categoria podem ser citados o monóxido de carbono (CO), gás sulfídrico (H2S),
gás cianídrico (ganhou destaque após o incêndio de Santa Maria), etc. Vários gases
tóxicos possuem limites de tolerância, os quais são dependentes do tipo de composto e
do subsequente mal que podem fazer se inalado.

Por fim os gases asfixiantes são definidos como aqueles que fazem diminuir a
concentração de oxigênio na célula, provocando a sua falência e podendo levar à morte.
Como abordado anteriormente os gases asfixiantes são divididos em simples (mais
perigosos em ambientes confinados como N2, gases anestésicos, etc.) e químicos
(provocam asfixia independente do local ser confinado ou não).

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9.6.3. Espaço Confinado (NR-33)

a) Objetivo e Definição: a NR-33 tem como objetivo estabelecer os requisitos mínimos


para identificação de espaços confinados e o reconhecimento, avaliação, monitoramento
e controle dos riscos existentes, de forma a garantir permanentemente a segurança e
saúde dos trabalhadores que interagem direta ou indiretamente nestes espaços.

b) Espaço Confinado: é qualquer área ou ambiente não projetado para ocupação


humana contínua, que possua meios limitados de entrada e saída, cuja ventilação
existente é insuficiente para remover contaminantes ou onde possa existir a deficiência
ou enriquecimento de oxigênio.

Para a realização de trabalho em espaço confinado é obrigatória a expedição da


Permissão de Entrada e Trabalho (PET), que se constitui em um documento escrito
contendo o conjunto de medidas de controle visando à entrada e desenvolvimento de
trabalho seguro, além de medidas de emergência e resgate em espaços confinados. A
permissão é fornecida pelo Supervisor de Entrada, sendo este uma pessoa capacitada
para operar a permissão de entrada com responsabilidade para preencher e assinar a
PET para o desenvolvimento de entrada e trabalho seguro no interior de espaços
confinados. Nenhum trabalhador pode realizar trabalho em espaço confinado sozinho,
sendo requerido a presença de um vigia, definido como um trabalhador designado para
permanecer fora do espaço confinado e que é responsável pelo acompanhamento,
comunicação e ordem de abandono para os trabalhadores.

É importante notar que a Permissão de Entrada e Trabalho (PET) é válida somente para
cada entrada.

São exemplos de atividades com a presença de espaços confinados:


 Indústria de Papel e Celulose

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 Indústria Gráfica
 Indústria Alimentícia
 Indústria da Borracha
 Couro e Têxtil
 Indústria Naval e operações Marítimas
 Indústrias Químicas e Petroquímicas
 Serviços de gás
 Serviços de águas e esgoto
 Serviços de eletricidade
 Serviços de telefonia
 Construção civil
 Beneficiamento de minérios
 Siderúrgicas e metalúrgicas
 Agricultura
 Agroindústria

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

Como exemplos de trabalhos em espaços


confinados podem ser citados as obras da
construção civil, operações de salvamento
e resgate e manutenção, reparos, limpeza
ou inspeção de equipamentos ou
reservatórios.

Os principais riscos associados aos espaços confinados são:


 Falta ou excesso de oxigênio
 Incêndio ou explosão, pela presença de vapores e gases inflamáveis
 Intoxicações por substâncias químicas
 Infecções por agentes biológicos
 Afogamentos
 Soterramentos
 Quedas
 Choques elétricos

Obs.: Todos estes riscos podem levar a mortes ou doenças.

c) Das Responsabilidades
Cabe ao Empregador:
a) indicar formalmente o responsável técnico pelo cumprimento da NR-33;
b) identificar os espaços confinados existentes no estabelecimento;
c) identificar os riscos específicos de cada espaço confinado;
d) implementar a gestão em segurança e saúde no trabalho em espaços confinados,
por medidas técnicas de prevenção, administrativas, pessoais e de emergência e
salvamento, de forma a garantir permanentemente ambientes com condições
adequadas de trabalho;
e) garantir a capacitação continuada dos trabalhadores sobre os riscos, as medidas
de controle, de emergência e salvamento em espaços confinados;

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

f) garantir que o acesso ao espaço confinado somente ocorra após a emissão, por
escrito, da Permissão de Entrada e Trabalho, conforme modelo constante no
anexo II da NR-33;
g) fornecer às empresas contratadas informações sobre os riscos nas áreas onde
desenvolverão suas atividades e exigir a capacitação de seus trabalhadores;
h) acompanhar a implementação das medidas de segurança e saúde dos
trabalhadores das empresas contratadas provendo os meios e condições para que
eles possam atuar em conformidade com a NR-33;
i) interromper todo e qualquer tipo de trabalho em caso de suspeição de condição
de risco grave e iminente, procedendo ao imediato abandono do local; e
j) garantir informações atualizadas sobre os riscos e medidas de controle antes de
cada acesso aos espaços confinados.

Cabe aos Trabalhadores:


a) colaborar com a empresa no cumprimento da NR-33;
b) utilizar adequadamente os meios e equipamentos fornecidos pela empresa;
c) comunicar ao Vigia e ao Supervisor de Entrada as situações de risco para sua
segurança e saúde ou de terceiros, que sejam do seu conhecimento; e
d) cumprir os procedimentos e orientações recebidos nos treinamentos com relação
aos espaços confinados.

d) Gestão de segurança e saúde nos trabalhos em espaços confinados


A gestão de segurança e saúde deve ser planejada, programada, implementada e
avaliada, incluindo medidas técnicas de prevenção, medidas administrativas e medidas
pessoais e capacitação para trabalho em espaços confinados.

Medidas técnicas de prevenção:


a) identificar, isolar e sinalizar os espaços confinados para evitar a entrada de
pessoas não autorizadas;
b) antecipar e reconhecer os riscos nos espaços confinados;
c) proceder à avaliação e controle dos riscos físicos, químicos, biológicos,
ergonômicos e mecânicos;
d) prever a implantação de travas, bloqueios, alívio, lacre e etiquetagem;

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

e) implementar medidas necessárias para eliminação ou controle dos riscos


atmosféricos em espaços confinados;
f) avaliar a atmosfera nos espaços confinados, antes da entrada de trabalhadores,
para verificar se o seu interior é seguro;
g) manter condições atmosféricas aceitáveis na entrada e durante toda a realização
dos trabalhos, monitorando, ventilando, purgando, lavando ou inertizando o
espaço confinado;
h) monitorar continuamente a atmosfera nos espaços confinados nas áreas onde os
trabalhadores autorizados estiverem desempenhando as suas tarefas, para
verificar se as condições de acesso e permanência são seguras;
i) proibir a ventilação com oxigênio puro;
j) testar os equipamentos de medição antes de cada utilização; e
k) utilizar equipamento de leitura direta, intrinsecamente seguro, provido de
alarme, calibrado e protegido contra emissões eletromagnéticas ou interferências
de radio frequência.

Medidas administrativas:
a) manter cadastro atualizado de todos os espaços confinados, inclusive dos
desativados, e respectivos riscos;
b) definir medidas para isolar, sinalizar, controlar ou eliminar os riscos do espaço
confinado;
c) manter sinalização permanente junto à entrada do espaço confinado, conforme o
Anexo I da NR-33;
d) implementar procedimento para trabalho em espaço confinado;
e) adaptar o modelo de Permissão de Entrada e Trabalho, previsto no Anexo II
desta NR, às peculiaridades da empresa e dos seus espaços confinados;
f) preencher, assinar e datar, em três vias, a Permissão de Entrada e Trabalho antes
do ingresso de trabalhadores em espaços confinados;
g) possuir um sistema de controle que permita a rastreabilidade da Permissão de
Entrada e Trabalho;
h) entregar para um dos trabalhadores autorizados e ao Vigia cópia da Permissão de
Entrada e Trabalho;

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i) encerrar a Permissão de Entrada e Trabalho quando as operações forem


completadas, quando ocorrer uma condição não prevista ou quando houver
pausa ou interrupção dos trabalhos;
j) manter arquivados os procedimentos e Permissões de Entrada e Trabalho por
cinco anos;
k) disponibilizar os procedimentos e Permissão de Entrada e Trabalho para o
conhecimento dos trabalhadores autorizados, seus representantes e fiscalização
do trabalho;
l) designar as pessoas que participarão das operações de entrada, identificando os
deveres de cada trabalhador e providenciando a capacitação requerida;
m) estabelecer procedimentos de supervisão dos trabalhos no exterior e no interior
dos espaços confinados;
n) assegurar que o acesso ao espaço confinado somente seja iniciado com
acompanhamento e autorização de supervisão capacitada;
o) garantir que todos os trabalhadores sejam informados dos riscos e medidas de
controle existentes no local de trabalho; e
p) implementar um Programa de Proteção Respiratória de acordo com a análise de
risco, considerando o local, a complexidade e o tipo de trabalho a ser
desenvolvido.

Providências da empresa:

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Direito dos trabalhadores:

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Medidas de Segurança:

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9.7. Aerodispersóides

São formados por uma dispersão de partículas sólidas ou líquidas no ar, de tamanho
reduzido, que pode variar entre um limite superior, não bem definido e que pode-se
fixar entre 100 e 200 micra, até um limite inferior da ordem de 0,5 micro, no caso de
poeiras. Em aerossóis formados por condensação (fumos), o tamanho da partícula varia
comumente entre 0,5 e 0,001 mícron. Os aerodispersóides podem ser divididos em:

Poeiras: são partículas sólidas de tamanho muito variado, produzidas por ruptura
mecânica de sólidos e geradas no manuseio de sólidos a granel (como grãos), na
britagem ou moagem de minérios, na detonação para desmonte de rochas; no lixamento
de madeiras ou concretos, ou peneiramento de material orgânico ou inorgânico. Ex:
Poeira de sílica, asbesto e carvão.

As poeiras têm partículas visíveis ou invisíveis ao olho humano, sendo diversos os


riscos ocupacionais associados a elas. Quando ocorre a detonação de uma rocha na
escavação de um poço, algumas partículas maiores são vistas no ar. Entretanto, tais

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partículas, depois de algum tempo não serão mais vistas, podendo existir ainda
partículas em suspensão menores não visíveis ao olho nu.

Costuma-se associar a doença ao tipo de poeira, tais como:


 asbestose (asbesto)
 silicose (sílica)
 bissinose (algodão)
 antracose (carvão)
 berilose (berílio)
 bagaçose (bagaço de cana), etc.

Algumas atividades da construção civil que têm a geração de poeiras são:


 Terraplenagem
 Controle de entrada e saída de materiais do canteiro
 Lixamento de concreto de fachada, com utilização de lixadeira elétrica
 Escavação e transporte manual de solo
 Preparação de argamassa com uso de betoneira sem carregador
 Preparação de argamassa com uso de betoneira com carregador
 Transporte de saco de cimento
 Quebra de elemento estrutural de concreto com uso de martelete
 Corte de granito com uso de máquina de corte (“maquita”)
 Apicoamento de parede de concreto com uso de marreta e ponteira, etc.

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Fumos: são partículas sólidas, produzidas por condensação ou oxidação de vapores de


substâncias que são sólidas a temperatura normal, geralmente após a volatilização de
metais fundidos. Ex.: Fumos de Pb - ponteamento de arames; Fumos de Zn –
galvanoplastia.

A principal doença provocada apelos fumos é a febre dos fundidores. Esta doença tem
caráter benigno, mas provoca um absenteísmo grande na indústria, trazendo prejuízos.
Além desta, outros óxidos provocam intoxicações violentas e mortais, como, por
exemplo, os de chumbo, berílio, cádmio, etc.

Depois das poeiras de sílica, podemos considerar como o risco mais comum existente
nos ambientes de trabalho os fumos metálicos. E destes os que mais doenças
profissionais têm causado são o de chumbo e seus compostos, por serem os mais
comuns na indústria e dos mais tóxicos.
O principal método de controle empregado para fumos é evitar-se que ele se forme ou
pelo menos que se espalhe no ambiente. Podemos também, em casos externos, diminuir
o tempo de exposição dos trabalhadores aos fumos.

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Névoas: são partículas líquidas, produzidas por ruptura mecânica de líquidos, tais como
nebulização, borbulhamento, spray, respingo. Como exemplos podemos citar as névoas
de ácidos em geral oriundos dos processos de eletrólise, de solventes na pintura à
revolver, etc. A pulverização de agrotóxicos produz névoas. Uma doença ocupacional
associada a este tipo de atividade é o câncer. Atualização de tintas em spray utilizada
solventes os mais diversos um deles é o chumbo que já teve seus efeitos sobre o
organismo citado anteriormente.

Neblinas: são partículas líquidas, produzidas por condensação de vapores de substâncias


que são líquidas a temperatura normal. As neblinas não ocorrem no processo industrial,
eis que a condensação do vapor somente pode ocorrer quando há saturação pelo vapor
do líquido. Exemplos: neblina de gasolina.

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9.8. Ficha de informações de segurança de produtos químicos (FISPQ)


A ficha de informações de segurança de produtos químicos (FISPQ) é um documento
normalizado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) conforme norma,
ABNT-NBR 14725 – Parte 4.

Ela fornece informações sobre vários aspectos de produtos químicos (substâncias ou


misturas) quanto à proteção, à segurança, à saúde e ao meio ambiente. A FISPQ
fornece, para esses aspectos, conhecimentos básicos sobre os produtos químicos,
recomendações sobre medidas de proteção e ações em situação de emergência. Em
alguns países, essa ficha é chamada safety data sheet (SDS). A FISPQ também pode ser
conhecida com Ficha de/com Dados de Segurança (FDS).

A FISPQ é um meio de o fornecedor transferir informações essenciais sobre os perigos


de um produto químico (incluindo informações sobre o transporte, manuseio,
armazenagem e ações de emergência) ao usuário deste, possibilitando a ele tomar as
medidas necessárias relativas à segurança, saúde e meio ambiente. A FISPQ também
pode ser usada para transferir essas informações para trabalhadores, empregadores,
profissionais da saúde e segurança, pessoal de emergência, agências governamentais,
assim como membros da comunidade, instituições, serviços e outras partes envolvidas
com o produto químico.

A elaboração da NBR 14725 foi embasada pelas seguintes premissas básicas do


Globally Harmonized System of Classification and Labelling of Chemicals (GHS):
 a necessidade de fornecer informações sobre produtos químicos perigosos
relativas à segurança, à saúde e ao meio ambiente;
 o direito do público-alvo de conhecer e de identificar os produtos químicos
perigosos que utilizam e os perigos que eles oferecem;
 a utilização de um sistema simples de identificação, de fácil entendimento e
aplicação, nos diferentes locais onde os produtos químicos perigosos são
utilizados;
 a necessidade de compatibilização deste sistema com o critério de classificação
para todos os perigos previstos pelo GHS;
 a necessidade de facilitar acordos internacionais e de proteger o segredo
industrial e as informações confidenciais;

97
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

 a capacitação e o treinamento dos trabalhadores; e


 a educação e a conscientização dos consumidores.

Uma FISPQ deve ser aplicada a um produto químico como um todo. A informação a ser
fornecida em uma FISPQ não pode ser confidencial. As informações referentes ao(s)
perigo(s) de substância(s) ou mistura(s) consideradas confidenciais devem ser
fornecidas, para não comprometer a saúde e a segurança dos usuários. Não é necessário
informar a composição completa. As condições adotadas para a proteção do segredo
industrial não podem comprometer a saúde e a segurança dos trabalhadores ou
consumidores, e a proteção do meio ambiente. Por este motivo, os perigos associados a
produtos químicos perigosos protegidos por estes critérios devem ser divulgados na
FISPQ, ainda que as informações relativas à composição do produto químico perigoso
não sejam completamente fornecidas.

O fornecedor deve tornar disponível ao receptor/usuário uma FISPQ completa, na qual


estão relatadas informações relevantes quanto à segurança, saúde e meio ambiente. O
fornecedor tem o dever de manter a FISPQ sempre atualizada e tornar disponível ao
usuário/receptor a edição mais recente. No caso de alterações na composição do produto
químico que impliquem alteração na sua classificação de perigo, porém com
manutenção do nome comercial, o fornecedor deve disponibilizar as diversas versões da
FISPQ, assegurando a correta utilização do produto químico correlacionado com a sua
respectiva FISPQ.

O usuário da FISPQ é responsável por agir de acordo com uma avaliação de riscos,
tendo em vista as condições de uso do produto, por tomar as medidas de precaução
necessárias numa dada situação de trabalho e por manter os trabalhadores informados
quanto aos perigos relevantes no seu local de trabalho.

O usuário da FISPQ é responsável por escolher a melhor maneira de informar e treinar


os trabalhadores, quanto a, no mínimo, identificação do produto, composição,
identificação dos perigos, medidas de primeiros-socorros, medidas de combate a
incêndio, medidas de controle para derramamento ou vazamento, instruções para
manuseio e armazenamento, medidas de controle de exposição e proteção individual, as

98
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

informações sobre estabilidade e reatividade, as informações toxicológicas e as


considerações sobre tratamento e disposição.

Quando formular as instruções específicas para o local de trabalho, o receptor deve


levar em consideração as recomendações relevantes da FISPQ de cada produto. As
informações quantitativas contidas na FISPQ devem ser expressas pelo Sistema
Internacional de Unidades (SI).

Uma FISPQ deve fornecer as informações sobre o produto químico nas seções abaixo,
cujos títulos, numeração e sequência não podem ser alterados:
1. Identificação do produto e da empresa
2. Identificação de perigos
3. Composição e informações sobre os ingredientes
4. Medidas de primeiros-socorros
5. Medidas de combate a incêndio
6. Medidas de controle para derramamento ou vazamento
7. Manuseio e armazenamento
8. Controle de exposição e proteção individual
9. Propriedades físicas e químicas
10. Reatividade e estabilidade
11. Informações toxicológicas
12. Informações ecotoxicológicas
13. Considerações sobre tratamento e disposição
14. Informações sobre transporte
15. Regulamentações
16. Outras informações

De acordo com o Decreto nº 2657/98 e a Portaria nº 229/11(Ministério do Trabalho e


Emprego - MTE), todo produto químico classificado como perigoso de acordo com o
GHS (Sistema Globalmente Harmonizado de Classificação e Rotulagem de Produtos
Químicos), deve possuir FISPQ. A FISPQ também será exigida para produto químico
não classificado como perigoso, mas cujos usos previstos ou recomendados derem
origem a riscos a segurança e saúde dos trabalhadores, como materiais diversos que ao

99
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

serem manipulados e cortados gerem poeiras ou voláteis passíveis de serem inspirados


ou substâncias adsorvidas pela pele.

Podem ser citados alguns exemplos de produtos que exigem FISPQ para materiais de
construção, sólidos ou líquidos, tais como:
 materiais particulados (filler e adições minerais, como sílica ativa, metacaulim,
cinzas, escória, etc.)
 argamassas, grouts e concretos ensacadas
 cal hidratada
 cimentos e outros ligantes
 espumas de vedação
 fibras sintéticas e minerais
 gesso
 pigmentos
 aditivos de concreto
 agentes de cura de concreto
 selantes e vedantes
 desmoldantes
 hidrofugantes
 impermeabilizantes
 combustíveis (diesel, querosene,etc.)
 biocidas em geral, tais como isotiazolona, carbendazina, carbamatos, CCA
(cromo, cobre, arsênio) ou CCB (cromo, cobre, boro), bem como materiais
tratados
 solventes, removedores e limpadores em geral como: limpadores de placas
cerâmicas, ácido clorídrico, etc.
 resinas
 tintas
 vernizes

Estes exemplos gerais são citados devido à composição prevista apresentar produtos
químicos reconhecidamente perigosos, no entanto, uma avaliação deve ser feita caso a
caso, com cada produto, levando em consideração a composição química (concentração
de cada ingrediente) e a forma de apresentação do produto.

100
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

Em relação aos agentes responsáveis pela elaboração e utilização das informações


presentes em uma FISPQ, tem-se o que o fabricante ou, no caso de importação, o
fornecedor do produto químico no mercado nacional deve elaborar e tornar disponível a
FISPQ aos seus clientes/usuários dos produtos. Por outro lado, o usuário do produto
químico é responsável por agir de acordo com uma avaliação de riscos, tendo em vista
as condições de uso do produto, assegurar o acesso dos trabalhadores às FISPQ e por
manter os trabalhadores informados quanto aos perigos relevantes nos seu local
individual de trabalho.

9.9. AVALIAÇÃO DOS RISCOS AMBIENTAIS


A presença de substâncias agressivas no ambiente de trabalho pode constituir um risco
para a saúde dos trabalhadores. Isto não significa que todo o pessoal exposto irá contrair
uma doença profissional. Sua ocorrência dependerá, fundamentalmente, de fatores
como:
 Concentração do contaminante no ambiente de trabalho;
 Tempo de exposição;
 Características físico-químicas do contaminante
 Susceptibilidade pessoal.

Portanto, para avaliar o risco de exposição a um agente químico em um


ambiente de trabalho, deverá se determinar, da forma mais correta possível, a
concentração do contaminante no ambiente, cuidando para que as medições sejam
efetuadas com aparelhagem adequada, e que sejam as mais representativas possíveis da
exposição real a que estão submetidos os trabalhadores. O tempo de exposição deve ser
estabelecido através de uma análise da tarefa do trabalhador. Esta incluirá todos os
movimentos efetuados durante as operações normais e considerará o tempo de descanso
e a movimentação do trabalhador fora do local de trabalho.

9.9.1. Tipos de amostragem


De uma forma geral, são dois tipos de amostragens feitas com o fim de avaliar a
exposição a um agente químico.

Amostragem instantânea: são realizadas em um curto espaço de tempo e os resultados


correspondem à concentração existente nesse intervalo medido. Ela é utilizada na

101
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

avaliação de gases e vapores, normalmente por meio de detectores de gases e vapores


juntamente com tubos colorimétricos ou reagentes, além de sensores eletroquímicos.
Por meio da amostragem instantânea registram-se as concentrações mais altas e mais
baixas durante a jornada de trabalho, o que permite o cálculo da concentração média e
se saber se o valor máximo permitido foi ultrapassado, situação considerada de risco
grave e iminente.

Amostragem contínua: são efetuadas utilizando-se amostrador gravimétrico juntamente


com o meio de coleta adequado como filtros, tubos de carvão ativado, tubos de sílica-
gel, etc. Normalmente utilizada para particulados (aerodispersóides), mas pode também
ser usado para gases e vapores quando a determinação não pode ser realizada no local
de trabalho e sim em laboratório especializado. Para cada tipo de contaminante devem-
se consultar os métodos que fornecem a metodologia de amostragem de campo (vazão,
tempo de coleta, tipo de meio de retenção) e análise laboratorial (cromatografia,
espectrofotometria, absorção atômica, etc.).

Os dois tipos de amostragem são de grande importância na pesquisa da presença de


agentes químicos em local de trabalho. Dependerá do bom senso e da experiência do
perito, determinar a amostragem mais apropriada para cada caso, visando coletar
resultados representativos da exposição dos trabalhadores aos agentes químicos
presentes naquele local de trabalho.

102
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

103
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

9.10. AVALIAÇÃO OCUPACIONAL DE POLUENTES QUÍMICOS

 NR 15 – ANEXO 11 – AGENTES QUÍMICOS CUJA INSALUBRIDADE É


CARACTERIZADA POR LIMITE DE TOLERÂNCIA E INSPEÇÃO NO LOCAL
DE TRABALHO.
 NR 15 – ANEXO 12 – LIMITES PARA POEIRAS MINERAIS
 NR 15 – ANEXO 13 – AGENTES QUÍMICOS – Relação das atividades
consideradas insalubres em decorrência de inspeções realizada no local de trabalho,
excluídos os agentes químicos constantes dos Anexos 11 e 12.

9.10.1. CRITÉRIO QUANTITATIVO NR-15 - ANEXO 11


Agentes químicos cuja insalubridade é caracterizada por limite de tolerância e
inspeção no local de trabalho
1. Nas atividades ou operações nas quais os trabalhadores ficam expostos a agentes
químicos, a caracterização de insalubridade ocorrerá quando forem ultrapassados
os limites de tolerância constantes no Quadro 1 deste Anexo.
2. Todos os valores fixados no Quadro 1 - Tabela de Limites de Tolerância - são
válidos para absorção apenas por via respiratória.

104
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

3. Todos os valores fixados no Quadro 1 como "Asfixiantes Simples" determinam


que nos ambientes de trabalho, em presença destas substâncias a concentração
mínima de oxigênio deverá ser dezoito por cento em volume. As situações nas
quais a concentração de oxigênio estiver abaixo deste valor serão consideradas de
risco grave e iminente.
4. Na coluna "VALOR TETO" estão assinalados os agentes químicos cujos limites
de tolerância não podem ser ultrapassados em momento algum da jornada de
trabalho.
5. Na coluna "ABSORÇÃO TAMBÉM PELA PELE" estão assinalados os agentes
químicos que podem ser absorvidos, por via cutânea, e, portanto exigindo na sua
manipulação, o uso de luvas adequadas, além do EPI necessário à proteção de
outras partes do corpo.
6. A avaliação das concentrações dos agentes químicos através de método de
amostragem instantânea, de leitura direta ou não deverá ser feita pelo menos em
10 (dez) amostragens, para cada ponto ao nível respiratório do trabalhador. Entre
cada uma das amostragens deverá haver um intervalo de, no mínimo, 20 (vinte)
minutos.
7. Cada uma das concentrações obtidas nas referidas amostragens não deverá
ultrapassar os valores obtidos na equação que segue, sob pena de ser considerada
situação de risco grave e iminente.
Valor máximo = L.T. x F.D.

Onde: L.T. = Limite de tolerância para o agente químico, segundo o Quadro 1. F.D. =
Fator de desvio, segundo definido no Quadro 2.

8. O limite de tolerância será considerado excedido quando a média aritmética das


concentrações ultrapassar os valores fixados no Quadro 1.
9. Para os agentes químicos que tenham "VALOR TETO" assinalado no Quadro 1
(TABELA DE LIMITES DE TOLERÂNCIA) considerar-se-á excedido o limite
de tolerância quando qualquer uma das concentrações obtidas nas amostragens
ultrapassar os valores fixados no mesmo Quadro.
10. Os limites de tolerância fixados no Quadro 1 são válidos para jornadas de
trabalho de até 48 horas por semana, inclusive.
10.1. Para jornadas de trabalho que excedam as 48 horas semanais dever-se-á

105
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

cumprir o disposto no art. 60 da CLT.

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QUADRO 2

107
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

EXERCÍCIO 1. Um trabalhador é exposto ao agente químico amônia no seu ambiente


laboral. Foram realizadas avaliações no local de trabalho conforme mostrado nas
situações 1 e 2 a seguir. Assumindo-se que o limite de tolerância para a amônia é de 20
ppm, verifique se o ambiente é insalubre ou de risco grave e iminente.

Situação 1:

35

30
Concentração (ppm)

25

20

15

10

0
0 2 4 6 8 10
Tempo (horas)

109
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

Situação 2:

110
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

EXERCÍCIO 2. Um trabalhador é exposto ao agente químico amônia no seu ambiente


laboral. Foram realizadas avaliações no local de trabalho conforme mostrado na tabela a
seguir. Assumindo-se que o limite de tolerância para a amônia é de 20 ppm, verifique se
o ambiente é insalubre ou de risco grave e iminente.
AMOSTRAGEM CONCENTRAÇOES (ppm)
1 10
2 20
3 25
4 20
5 15
6 10
7 20
8 10
9 20
10 25

111
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

Algumas substâncias que possuem limite de tolerância podem também ter no Quadro 1
a coluna de “absorção também pela pele” marcada. Ou seja, tais compostos possuem
ação generalizada sobre o organismo, podendo, também, ser absorvidos por via cutânea.
Em termos de avaliação de insalubridade faz-se exatamente como explicado
anteriormente, mas o trabalhador é obrigado a utilizar EPI para evitar o ingresso no
organismo pela pele intacta, membranas, mucosas ou olhos. São exemplos de
substâncias pertencentes a esse grupo a anilina, tolueno, fenol, etc.

EXERCÍCIO 3. Um trabalhador é exposto ao agente químico tolueno no seu ambiente


laboral. Foram realizadas avaliações no local de trabalho conforme mostrado na tabela a
seguir. Assumindo-se que o limite de tolerância para o tolueno é de 78 ppm, verifique se
o ambiente é insalubre ou de risco grave e iminente.
AMOSTRAGEM CONCENTRAÇÕES (ppm)
1 50,0
2 50,0
3 60,0
4 80,0
5 90,0
6 100,0
7 100,0
8 100,0
9 50,0
10 90,0

112
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

Outras substâncias possuem efeito extremamente rápido no organismo, motivo que a


norma não permite que o LT seja excedido em momento algum da jornada de trabalho,
devendo o próprio limite fixado ser considerado como valor máximo permitido. São
exemplos de compostos o ácido clorídrico, cloreto de vinila, dióxido de nitrogênio. As
substâncias pertencentes a esse grupo possuem a coluna “valor teto” assinalada,
significando que o valor estabelecido como limite de tolerância é a concentração
máxima, que não poderá ser ultrapassada em momento algum da jornada. Ou seja, VM
= LT

113
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

EXERCÍCIO 4. Um trabalhador é exposto ao agente químico ácido clorídrico no seu


ambiente laboral. Foram realizadas avaliações no local de trabalho conforme mostrado
na tabela a seguir. Assumindo-se que o limite de tolerância do composto é de 4,0 ppm,
verifique se o ambiente é insalubre ou de risco grave e iminente.
AMOSTRAGEM CONCENTRAÇÕES (ppm)
1 2,0
2 3,0
3 4,0
4 6,0
5 3,0
6 5,0
7 4,0
8 6,0
9 3,0
10 5,0

Por fim, existe um grupo de substâncias que possuem efeito extremamente rápido no
organismo e que tem no Quadro 1 a coluna de “absorção também pela pele” marcada.
Ou seja, tais compostos possuem rápida ação generalizada sobre o organismo, podendo,
também, ser absorvidas por via cutânea. Em termos de avaliação de insalubridade faz-se
exatamente como explicado anteriormente quando a coluna de “valor teto” está
marcada, mas o trabalhador é obrigado a utilizar EPI para evitar o ingresso no
organismo pela pele intacta, membranas, mucosas ou olhos. Nesse caso também não é
aplicado o fator de desvio, sendo VM = LT. São exemplos desta categoria de
substâncias o sulfato de metila, álcool n-butílico, etc.

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

EXERCÍCIO 5. Um trabalhador é exposto ao agente químico n-butilamina no seu


ambiente laboral. Foram realizadas avaliações no local de trabalho conforme mostrado
na tabela a seguir. Assumindo-se que o limite de tolerância do composto é de 40,0 ppm,
verifique se o ambiente é insalubre ou de risco grave e iminente.
AMOSTRAGEM CONCENTRAÇÕES (ppm)
1 20,0
2 30,0
3 40,0
4 10,0
5 40,0
6 20,0
7 15,0
8 35,0
9 40,0
10 20,0

115
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

Alguns gases e vapores, em altas concentrações no ar, atuam como asfixiantes simples,
isto é, deslocam o oxigênio do ar, sem provocar outros efeitos fisiológicos
significativos. Não possuem LT, pois o fator limitante é o oxigênio disponível, devendo
ser avaliada a quantidade de oxigênio no ar, sendo de 18% o valor mínimo permissível.
Ou seja, os gases asfixiantes não conferem ao trabalhar direito a adicional de
insalubridade, mas podem caracterizar uma situação de risco grave e iminente. São
exemplos desses gases o acetileno, argônio, etano, etc.

EXERCÍCIO 6. Em um ambiente contaminado com acetileno, obteve-se concentração


de 15% de oxigênio no local de trabalho. Verificar se atividades neste local são
permitidas, ou seja, se não representam uma situação de risco grave e iminente.

116
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

9.10.2. CRITÉRIO QUANTITATIVO NR-15 - ANEXO 12


A NR estabelece limites de tolerância para poeiras como:
 Asbestos
 Manganês e seus compostos
 Sílica livre cristalizada

A avaliação para os referidos agentes químicos é do tipo quantitativa, conforme


equações disponíveis no anexo. Quando a insalubridade for caracterizada ela será
considerada de grau máximo.

9.10.3. CRITÉRIO QUANTITATIVO NR-15 - ANEXO 13


Trata de atividades consideradas insalubres em decorrência de inspeções realizada no
local de trabalho, excluídos os agentes químicos constantes dos Anexos 11 e 12. A NR
cita alguns agentes químicos e classificação em insalubridade de grau mínimo, médio e
máximo, conforme o tipo de atividade. A insalubridade é caracterizada por meio de uma
avaliação qualitativa com inspeção no local de trabalho.

Por exemplo, para o composto arsênico:


 Extração e manipulação de arsênico e preparação de seus compostos. Fabricação
de tintas à base de arsênico  considerada insalubridade de grau máximo (40%)
 Descoloração de vidros e cristais à base de compostos de arsênico 
considerada insalubridade de grau médio (20%)
 Pintura a pistola ou manual com pigmentos de compostos de arsênico ao ar livre
 considerada insalubridade de grau mínimo (10%)

Ou seja, para o mesmo agente químico, a insalubridade dependerá do tipo de atividade.


Outros compostos que o anexo aborda são: carvão, chumbo, cromo, fósforo,
hidrocarbonetos e outros compostos de carbono, mercúrio, silicatos, substâncias
cancerígenas, etc.

9.11. MEDIDAS DE CONTROLE

9.11.1. Introdução
As medidas de controle para poluentes químcos (gases e vapores e aerodispersóides)

117
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

deverão ser adotadas de forma a eliminar ou reduzir a concentração dos contaminantes


no ambiente de trabalho a níveis considerados adequados pela higiene industrial. Essas
medidas poderão ser adotadas na fonte de geração do contaminante ou no seu meio de
difusão - medidas relativas ao ambiente, ou no receptor - medidas relativas ao homem.
É importante salientar que deverão ser priorizadas as medidas relativas ao ambiente,
sendo que as relativas ao homem só deverão ser colocadas em prática quando for
considerada inviável a adoção das primeiras.

Se tudo é tóxico, e se as substâncias químicas estão em todo o lugar, como se proteger


delas? As substâncias muito tóxicas podem ser utilizadas de maneira segura,
dependendo de alguns fatores:
1) processo – condições favoráveis à expansão das substâncias podem aumentar o
risco tóxico, por isso o enclausuramento representa maior segurança. Altas
temperaturas e pressões, por outro lado, significam maior risco. Substâncias
mais voláteis também representam mais risco. É importante pensar sempre em
substituir substâncias mais tóxicas por outras menos tóxicas, como, por
exemplo, os aromáticos por solventes de cadeia aberta.
2) ambiente – ventilação, exaustão, presença de anteparos e outras condições no
local, podem diminuir o contato do homem com as substâncias.
3) organização do trabalho – a forma como o trabalho é organizado pode implicar
em um número menor de pessoas envolvidas em operações de maior risco ou
maior proximidade da fonte tóxica.
4) procedimentos – a maneira de realizar determinadas ações representa maior ou
menor risco, e esta é uma das bases do procedimento seguro.
5) equipamentos – a manutenção dos equipamentos é importante no controle de
risco, uma vez que contribui para a prevenção de acidentes que envolvam
vazamentos e outros eventos de risco.
6) uso de E.P.I – o equipamento de proteção individual impede o contato entre o
agente tóxico e o organismo humano e assim reduz o risco tóxico.
7) armazenamento – as condições de armazenagem devem obedecer às instruções
contidas nas fichas de informação das substâncias para evitar o risco de
intoxicação. O mesmo vale para o transporte.

118
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

9.11.2. Medidas Relativas ao Ambiente


A) Substituição do produto tóxico ou nocivo: é a maneira mais segura de se
eliminar ou minimizar o risco da exposição, mas de difícil implementação. No
caso de substituição de solventes orgânicos por outros de menor risco, deve-se
ter o cuidado com relação à inflamabilidade ou reatividade química do produto
substituto, pois poderá, em muitos casos, criar-se uma situação de maior risco

119
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

que o anteriormente existente.

B) Mudanças ou alteração do processo ou operação: Consiste na alteração do


processo produtivo, sem modificar o produto final, como, por exemplo:
Utilização de pintura por imersão ou com pincel em vez de pintura a pistola;
Mecanização e automatização de processos.

C) Encerramento ou enclausuramento da operação: Consiste no confinamento da


operação, objetivando-se, assim, impedir a dispersão do contaminante para todo
o ambiente de trabalho. O confinamento pode ou não incluir o trabalhador.
Quando houver processos produtivos que gerem grandes quantidades de con-
taminantes e o trabalhador estiver inserido no enclausuramento, a ele deverá ser
obrigatoriamente fornecido equipamento adequado de proteção pessoal,
independentemente de haver ou não sistema de exaustão.

D) Segregação da operação ou processo: Consiste, basicamente, no isolamento da


operação limitando seu espaço físico fora da área de produção. A segregação
pode ser feita no ESPAÇO ou no TEMPO.

 Segregação no espaço consiste em isolar o processo a distância.

 Segregação no tempo significa executar uma tarefa fora do horário normal,


reduzindo igualmente o número de trabalhadores expostos.
Como exemplo, temos: pintura a pistola e limpeza de peças fora da área
produtiva - segregação no espaço; serviços de manutenção e reparo de alto risco
realizados fora da jornada de trabalho convencional - segregação no tempo.

E) Sistemas de alarme: A instalação de medidores de contaminantes, assim como a


conexão a sistemas de alarme, em caso de que se superem determinados níveis
de concentração, pode ser de grande utilidade nas zonas próximas à fonte
geradora.

F) Ventilação geral diluidora: A ventilação geral diluidora consiste na insuflação e


exaustão de ar em um ambiente de trabalho, de forma a promover a redução de
concentrações de poluentes nocivos. Tal redução ocorre, uma vez que, ao se

120
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

introduzir grandes volumes de ar puro em um ambiente contendo certa massa de


determinado poluente, dar-se-á dispersão ou diluição dessa massa, reduzindo-se
assim a concentração dos poluentes. A observação a ser feita é a de que esse
método de ventilação não impede a emissão de poluentes para o ambiente de
trabalho, mas simplesmente os dilui. Para o correto aproveitamento dessa
medida é necessário observar as seguintes condições:
 o poluente gerado não deve estar presente em quantidade excedente à
que pode ser diluída com adequado volume de ar;
 a distância entre os trabalhadores e os pontos de geração do poluente
deve ser suficiente para assegurar a não-exposição dos trabalhadores a
concentrações superiores aos limites de tolerância;
 a toxicidade do poluente deve ser baixa (deve ter alto LT, isto é, LT >
500 ppm);
 o poluente deve ser gerado numa quantidade razoavelmente uniforme.
A vantagem desse tipo de ventilação é que ela não interfere nas
operações e processos industriais, além de ter custo de instalação muito baixo.

G) Ventilação local exaustora: A ventilação local exaustora consiste na captação


dos poluentes de uma fonte, antes que eles se dispersem no ar do ambiente de
trabalho e atinjam a zona de respiração do trabalhador. Também no que se refere
ao controle da poluição do ar da comunidade, a ventilação local exaustora têm
papel importante. Para que os poluentes emitidos por uma fonte possam ser
tratados em um equipamento de controle de poluentes (filtros lavadores, etc.),
estes têm de ser captados e conduzidos a esses equipamentos, o que, na maioria
dos casos, é realizado por um sistema de ventilação local exaustora. Tal tipo de
ventilação possui várias vantagens em relação à geral diluidora, dentre elas:
captura e controle completo do contaminante; vazões requeridas mais baixas; os
contaminantes são recolhidos em um menor volume de ar capturado, reduzindo-
se também os custos.

H) Ordem, limpeza e conservação: A ordem, a limpeza e a conservação dos locais,


máquinas e equipamentos constituem a base geral indispensável ao rendimento
eficiente dos métodos descritos, e a prática tem demonstrado que dão, na maioria
das indústrias, um bom índice ao programa de higiene do trabalho. Uma boa

121
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

ordem, limpeza e conservação significa limpeza dos pisos, das máquinas e de


quaisquer superfícies horizontais, previsão de depósitos para materiais nocivos e
de métodos adequados a seu transporte e emprego, disposição das operações de
modo a limitar o número de operários expostos ao risco, etc.

122
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

123
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

9.11.3. Medidas Relativas ao Homem


Limitação do tempo de exposição: A redução dos períodos de trabalho é importante
medida de controle, onde todas as outras medidas possíveis forem impraticáveis ou
insuficientes no controle de um agente. Assim, a limitação da exposição ao risco, dentro
de critérios técnicos bem definidos, pode tornar-se solução efetiva e econômica.

Educação e treinamento: A conscientização do trabalhador quanto aos riscos inerentes


às operações, riscos ambientais e formas operacionais adequadas que garantam a
efetividade das medidas de controle adotadas, além do treinamento em procedimentos
de emergência e noções de primeiros socorros, deverá ter lugar sempre,
independentemente da utilização de outras medidas de controle, servindo-lhes como
importante complemento.

Equipamentos de proteção individual: Os equipamentos de proteção individual devem


ser sempre considerados como segunda linha de defesa, após criteriosas considerações
sobre todas as possíveis medidas de controle relativas ao ambiente que possam ser

124
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

tomadas e aplicadas prioritariamente.

Controle médico: Os exames médicos pré-admissionais e periódicos devem ser feitos


como forma de controle da saúde geral dos trabalhadores, de detecção de fatores
predisponentes a doenças profissionais, assim como para avaliação da efetividade dos
métodos de controle empregados.

125
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

126
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

CAPÍTULO 10 – RISCOS BIOLÓGICOS

Em relação aos riscos biológicos, vários tipos de profissionais estão expostos a micro-
organismos nos locais de trabalho, os quais podem adentrar no organismo do
trabalhador por meio de várias rotas como:
 Via respiratória (nariz, boca e pulmões);
 Percutânea (pele);
 Digestiva (boca e tubo digestivo);
 Parenteral (feridas, corte e arranhões).

São exemplos de atividades que podem dar direito ao adicional de insalubridade:


 Pacientes em isolamento por doenças infecto-contagiosas, bem como objetos de
seu uso, não previamente esterilizados;
 Esgotos (galerias e tanques);
 Lixo urbano(coleta e industrialização)
 Etc.

Bactérias

Etc. Vírus

Riscos
Biológicos
Fungos Protozoários

Bacilos

127
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Grupo 4 Grupo 5


Verde Vermelho Marrom Amarelo Azul
Riscos Riscos Riscos Riscos Riscos de Acidentes
Físicos Químicos Biológicos Ergonômicos
Ruídos Poeiras Vírus Esforço físico Arranjo físico
intenso inadequado
Vibrações Fumos Bactérias Levantamento e Máquinas e
transporte equipamentos sem
manual de peso proteção
Radiações Névoas Protozoári Exigência de Ferramentas
ionizantes os postura inadequadas ou
inadequada defeituosas
Radiações Neblinas Fungos Controle rígido Iluminação
não de produtividade inadequada
ionizantes
Frio Gases Parasitas Imposição de Eletricidade
ritmos
excessivos
Calor Vapores Bacilos Trabalho em Probabilidade de
turno noturno incêndio ou explosão
Pressões Substâncias - Jornada de Armazenamento
anormais , compostos trabalho inadequado
ou produtos
químicos
em geral
Umidade - - Animais
peçonhentos
Outras situações de
risco que poderão
contribuir para a
ocorrência de
acidentes

A relação das atividades que envolvem agentes biológicos, cuja insalubridade é


caracterizada pela avaliação qualitativa é apresentada a seguir, sendo possível a
obtenção de insalubridade de grau médio ou máximo.

128
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

INSALUBRIDADE DE GRAU MÁXIMO


Trabalhos ou operações, em contato permanente, com:
 pacientes em isolamento por doenças infectocontagiosas, bem como objetos de
seu uso, não previamente esterilizados).
 carnes, glândulas, vísceras, sangue, ossos, couros, pelos e dejeções de animais
portadores de doenças infectocontagiosas (carbunculose, brucelose,
tuberculose);
 esgotos (galerias e tanques); e
 lixo urbano (coleta e industrialização).

INSALUBRIDADE DE GRAU MÉDIO


Trabalhos ou operações, em contato permanente com pacientes, animais ou com
material infecto-contagiante, em:
 hospitais, serviços de emergência, enfermarias, ambulatórios, postos de
vacinação e outros estabelecimentos destinados aos cuidados da saúde humana
(aplica-se unicamente ao pessoal que tenha contato com os pacientes, bem como
aos que manuseiam objetos de uso desses pacientes, não previamente
esterilizados);
 hospitais, ambulatórios, postos de vacinação e outros estabelecimentos
destinados ao atendimento e tratamento de animais (aplica-se apenas ao pessoal
que tenha contato com tais animais);
 contato em laboratórios, com animais destinados ao preparo de soro, vacinas e
outros produtos;
 laboratórios de análise clínica e histopatologia (aplica-se tão-só ao pessoal
técnico);
 gabinetes de autópsias, de anatomia e histoanatomopatologia (aplica-se somente
ao pessoal técnico);
 cemitérios (exumação de corpos);
 estábulos e cavalariças; e
 resíduos de animais deteriorados.

129
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

130
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

CAPÍTULO 11 - PROTEÇÃO CONTRA INCÊNDIOS

11.1. Introdução
Um dos grandes marcos da história da civilização humana foi o domínio do fogo pelo
homem. A partir daí, foi possível aquecer líquidos, preparar alimentos, fundir metais
para fabricação de utensílios e máquinas, etc. Essa conquista possibilitou o
desenvolvimento e progresso da sociedade, ainda que associado a essa descoberta tenha
surgido o risco de incêndio. Podem ser citados como exemplos de incêndios ocorridos
no Brasil:
 15/12/1961 - Incêndio no Gran Circus Norte-Americano que estreou em Niterói
com 503 mortos;
 24/02/1972 - Incêndio no Edifício Andraus em São Paulo (Brasil) com 16
mortos;
 30/03/1972 - Incêndio na Refinaria Duque de Caxias, Rio de Janeiro (Brasil)
com 38 mortos;
 01/02/1974 - Incêndio no Edifício Joelma, São Paulo (Brasil), 179 mortos;
 25/02/1984 - Explosão de gasoduto em Cubatão, Santos (Brasil) com 93 mortos,
 17/02/1986 - Incêndio no Edifício Andorinhas, Rio de Janeiro (Brasil) com 20
mortos;
 27/01/2013 – Incêndio na Boate Kiss, Santa Maria (Brasil) com 242 mortos;

131
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

Segundo a NR-23 que trata de proteção contra incêndios:

23.1 Todos os empregadores devem adotar medidas de prevenção de incêndios, em


conformidade com a legislação estadual e as normas técnicas aplicáveis.
23.1.1 O empregador deve providenciar para todos os trabalhadores informações sobre:
a) utilização dos equipamentos de combate ao incêndio;
b) procedimentos para evacuação dos locais de trabalho com segurança;
c) dispositivos de alarme existentes.

23.2 Os locais de trabalho deverão dispor de saídas, em número suficiente e dispostas


de modo que aqueles que se encontrem nesses locais possam abandoná-los com rapidez
e segurança, em caso de emergência.

23.3 As aberturas, saídas e vias de passagem devem ser claramente assinaladas por meio
de placas ou sinais luminosos, indicando a direção da saída.

23.4 Nenhuma saída de emergência deverá ser fechada à chave ou presa durante a
jornada de trabalho.

23.5 As saídas de emergência podem ser equipadas com dispositivos de travamento que
permitam fácil abertura do interior do estabelecimento.

132
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

Quanto mais eficiente se tornar a prevenção, menores serão as probabilidades da


ocorrência de incêndio e, consequentemente, menores serão as oportunidades de o fogo
causar danos às pessoas e ao patrimônio.

A Brigada de Incêndio possui regulamentação na norma NBR 14.276/2006 da ABNT


(composição, atribuição, organização), nas quais descrevem definições e características
que envolvem a natureza da atividade exercida pelos brigadistas. São normas
importantes na área de proteção contra incêndios:

 Lei nº 9.269, de 21 de julho de 2009;


 ABNT NBR 14.276/2006 - Brigada de Incêndio: Requisitos (ABNT);
 ABNT NBR 14.277/2005 - Instalações e equipamentos para treinamento de
combate a incêndios: Requisitos (ABNT);
 ABNT NBR 14.608/2007 - Bombeiro Profissional Civil (ABNT);
 ABNT NBR 14787/2001 - Espaço confinado: Prevenção de acidentes,
procedimentos e medidas de proteção (ABNT);
 ABNT NBR 15219/2005 - Plano de emergência contra incêndios: Requisitos
(ABNT).

Segundo a NBR 14.276/2006, Brigada de Incêndio é definido como um grupo


organizado de pessoas preferencialmente voluntárias ou indicadas, treinadas e
capacitadas para atuar na prevenção e no combate ao princípio de incêndio, abandono
de área e primeiros socorros, dentro de uma área pré-estabelecida na planta.

Após a capacitação dos funcionários, cabe ao profissional da área de segurança do


trabalho ou da CIPA (Comissão interna de Prevenção de Acidentes) da organização,
estruturar a brigada de incêndio.

Apenas possuir brigadistas em seu quadro de funcionários, não caracteriza que a


organização ou edificação possui brigada de incêndio. Para se considerar uma brigada,
os brigadistas deverão pertencer a um grupo ORGANIZADO, com funções e ações pré-
estabelecidas.

Entre as ações de prevenção dos brigadistas destacam-se:

133
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

 Conhecer o plano de emergência contra incêndio da planta;


 Conhecer todos os setores e instalações da edificação;
 Avaliar os riscos existentes;
 Inspecionar os sistemas de proteção contra incêndio e pânico da edificação
(extintores, hidrantes, sinalizações de escape, luzes de emergência, outros);
 Inspecionar o livre acesso às rotas de fuga e às escadas de emergência;
 Elaborar o relatório de irregularidades e encaminhá-lo ao setor responsável;
 Orientar a população fixa quanto ao procedimento em caso de abandono de área;
 Participar dos exercícios simulados.

Entre as ações de emergência dos brigadistas destacam-se:


 Atender com presteza ao brado do alarme de incêndio, deslocando-se para o
local de reunião;
 Sempre que acionado, investigar possíveis sinais de princípio de incêndio;
 Combater o fogo no seu início, usando os recursos apropriados (extintores ou
hidrantes de parede);
 Retirar as pessoas rapidamente da edificação, quando em caso de incêndio ou
pânico;
 Prestar ações de primeiros socorros aos necessitados (vítimas de casos
traumáticos ou clínicos);
 Relatar imediatamente as irregularidades e os riscos encontrados nas inspeções;
 Acionar o Corpo de Bombeiros quando necessário e prestar todo apoio.

Os brigadistas devem repassar algumas informações importantes para o Corpo de


Bombeiros, entre elas:
 Se existe alguém confinado ou preso em algum compartimento do local;
 Onde se desliga a energia parcial ou total da edificação;
 Qual a capacidade da Reserva Técnica de Incêndio – RTI, e onde se localiza;
 Onde se localiza o hidrante urbano mais próximo;
 Se a edificação possui instalação de Gás Liquefeito de Petróleo – GLP, Gás
Natural – GN ou produtos químicos armazenados; e
 Relação de telefones que devem ser acionados em caso de emergência.

134
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

Os brigadistas devem executar procedimentos diversos nos locais de trabalho, entre os


quais:
 Utilizar constantemente em local visível uma identificação que o indique como
membro da brigada de incêndio;
 Realizarem reuniões ordinárias, extraordinárias e exercícios simulados pelos
membros da brigada de incêndio;
 Definirem os sistemas de comunicação entre os brigadistas para facilitar a
atuação nas emergências.

11.2. Princípios Básicos do Fogo


Deve-se conhecer os dois aspectos básicos da Proteção Contra Incêndio, para própria
segurança. O primeiro aspecto é o da prevenção de incêndios, isto é, evitar que ocorra
fogo, utilizando-se certas medidas básicas, que envolvem a necessidade de se conhecer,
entre outros itens:
a) características do fogo;
b) propriedades de riscos de materiais;
c) causas de incêndios;
d) estudo dos combustíveis.

Quando, apesar da prevenção, ocorre um princípio de incêndio, é importante que ele


seja combatido de forma eficiente, para que sejam minimizadas suas consequências.
Para tanto, é necessário:
a) conhecer os agentes extintores;
b) saber utilizar os equipamentos de combate a incêndios;
c) saber avaliar as características do incêndio, o que determinará a melhor atitude a
ser tomada.

Pode-se definir o fogo como consequência de uma reação química denominada


combustão, que produz calor ou calor e luz. Para que ocorra essa reação química, dever-
se-á, ter no mínimo dois reagentes que, a partir da existência de uma circunstância
favorável, poderão combinar-se. Várias definições de fogo podem ser encontradas, tais
como:

135
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

 Brasil - NBR 13.860: Processo de combustão caracterizado pela emissão de


calor e luz.
 Internacional - ISO 8.421-1: Processo de combustão caracterizado pela emissão
de calor acompanhado de fumaça, chama ou ambos.

Fogo é sinal visível de um certo tipo de reação química, e pode ser definido como sendo
a combustão de um ou mais materiais, com liberação de energia. Por outro lado,
incêndio é uma reação de combustão fortemente exotérmica e que se desenvolve,
geralmente, de uma forma descontrolada quer no tempo, quer no espaço.

Os elementos que compõem o fogo são:


1. Combustível  material que se oxida (agente redutor)
2. Comburente  material que se reduz (agente oxidante), normalmente o O2
(oxigênio)
3. Fonte de calor ou ignição
4. Reação em cadeia

Ao ser o combustível submetido a uma fonte de calor, quer seja proveniente de uma
chama, atrito, eletricidade, reação química, são liberados vapores do combustível, e
estes combinam-se com o oxigênio do ar atmosférico, após seu craqueamento – quebra
das moléculas em menores partes. Consequentemente, o processo dará lugar a uma série
de reações químicas que caracterizarão a Reação em Cadeia liberando quantidades cada
vez maiores de calor, e esta por sua vez realimentará todo o processo de combustão.

Tal reação em cadeia vai formar o quadrado ou tetraedro do fogo, substituindo o antigo
triângulo do fogo. Elas são reações intermédias que conduzem à formação de produtos
intermédios, ou também denominados de radicais livres, os quais vão reagindo com
outras moléculas presentes na chama até se formarem os produtos finais da combustão:
 CO2
 H2O
 Óxidos de nitrogênio (NOx)
 Óxidos de enxofre (SO2 e SO3) e outros.

136
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

137
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

Lembrar que a existência de um combustível e comburente não significa que uma


reação de combustão irá ocorrer. O material combustível necessita primeiramente ser
aquecido a partir de uma fonte de calor até a sua temperatura de ignição.

11.2.1 Combustível
Combustível é todo material, substância que possui a propriedade de queimar, ou seja,
de entrar em combustão. Os combustíveis podem apresentar-se em três estados físicos:
 sólido (madeira, papel, tecidos, etc.);
 líquido (álcool, éter, gasolina, etc.);
 gasoso (acetileno, butano, propano, etc.).

Em relação à volatilidade os combustíveis podem ser divididos em:


 Voláteis: Não necessitam de aquecimento para desprenderem vapores
inflamáveis. Exemplo: gasolina, éter, etc.
 Não Voláteis: Precisam de aquecimento para desprenderem vapores
inflamáveis. Exemplo: madeira, tecido, etc.

Assim, todo material possui certas propriedades que o diferem de outros, em relação ao
nível de combustibilidade. Por exemplo, pode-se incendiar a gasolina com a chama de
um isqueiro, não ocorrendo o mesmo em relação ao carvão coque. Isso porque o calor

138
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

gerado pela chama do isqueiro não seria suficiente para levar o carvão coque à
temperatura necessária para que ele liberasse vapores combustíveis.

Cada material, dependendo da temperatura a que estiver submetido, liberará maior ou


menor quantidade de vapores. Para melhor compreensão do fenômeno, definem-se
algumas variáveis, denominadas:
1. ponto de fulgor;
2. ponto de combustão;
3. temperatura de ignição.

Ponto de Fulgor
É a temperatura mínima em que um combustível começa a desprender vapores que, se
entrarem em contato com alguma fonte de calor, incendeiam-se. Só que as chamas não
se mantêm, não se sustentam, por não existirem vapores suficientes.
Se pedaços de madeira forem aquecidos, dentro de um tubo de vidro de laboratório, a
uma certa temperatura a madeira desprenderá vapor de água. Este vapor não pega fogo.
Aumentando-se a temperatura, num certo ponto, começarão a sair gases pela boca do
tubo. Aproximando-se um fósforo aceso, esses gases transformar-se-ão em chamas. Por
aí, nota-se que um combustível sólido (a madeira), numa certa temperatura, desprende
gases que se misturam ao oxigênio (comburente) e inflamam em contato com a chama
do fósforo aceso. O fogo não continua porque os gases são insuficientes, formam-se em
pequena quantidade. O fenômeno observado indica o “ponto de fulgor” da madeira
(combustível sólido), que é de 150ºC. O ponto de fulgor varia de combustível para
combustível:

Ponto de Combustão
Na experiência da madeira, se o aquecimento prosseguir, os gases continuarão a sair
pelo tubo e, entrando em contato com o calor da chama do fósforo aceso, incendiar-se-

139
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

ão e manter-se-ão. Agora a queima não irá parar. Foi atingido o “ponto de combustão”,
isto é, a temperatura mínima em que esse combustível sólido, a madeira, sendo
aquecido, desprende gases que em contato com fonte externa de calor incendeiam-se,
mantendo-se as chamas. No ponto de combustão, portanto, acontece um fato diferente,
ou seja, as chamas continuam.

Temperatura de Ignição
Continuando-se o aquecimento da madeira, os gases, naturalmente, continuarão a se
desprender. Num certo ponto, ao saírem do tubo, entrando em contato com o oxigênio
(comburente), eles pegarão fogo sem necessidade de chama do fósforo. Não há mais
necessidade da fonte externa de calor.

Os gases desprendidos do combustível, só pelo contato com o comburente, pegam fogo


e, evidentemente, mantêm-se em chamas. Foi atingida a “temperatura de ignição”, que é
a temperatura mínima em que gases desprendidos de um combustível inflamam-se, pelo
simples contato com o oxigênio do ar.

O éter atinge sua temperatura de ignição a 180ºC e o enxofre a 232ºC. Uma substância
só queima quando atinge pelo menos o ponto de combustão. Quando ela alcança a
temperatura de ignição, bastará que seus gases entrem em contato com o oxigênio para
pegar fogo, não havendo necessidade de fonte de calor para provocar as chamas.
Convém lembrar que, mesmo que o combustível esteja no ponto de combustão, se não
houver chama ou outra fonte de calor, não se verificará o fogo.

Grande parte dos materiais sólidos orgânicos, líquidos e gases combustíveis contêm
grandes quantidades de carbono e/ou de hidrogênio. Como exemplo pode ser citado o
gás propano, cujas porcentagens em peso são aproximadamente 82% de Carbono e 18%
de Hidrogênio. O tetracloreto de carbono, considerado não combustível, tem
aproximadamente, em peso, 8% de Carbono e 92% de Cloro.

11.2.2 Comburente
Normalmente, o oxigênio combina-se com o material combustível, dando início à
combustão. O ar atmosférico contém, em sua composição, cerca de 21% de oxigênio.
Com maioria dos combustíveis, não haverá combustão se o percentual na mistura

140
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

gasosa contiver menos que 16% de oxigênio. O carvão é uma das exceções, queima com
9% de oxigênio. Em compostos químicos como o NaNO3 e o KClO2 o oxigênio
existente na sua composição é facilmente liberado. Outros gases comburentes são o
cloro e o peróxido de cloro.

11.2.3 Fonte de calor ou de ignição


A fonte de calor ou ignição é o elemento que fornece a energia de ativação necessária
para iniciar a reação entre o combustível e o comburente, mantendo e propagando a
reação, a qual pode ser elétrica, química e mecânica. A energia de ativação é a energia
mínima necessária para que a combustão se inicie, podendo ser produzida por choque,
fricção, pressão, faísca, por um ponto quente ou uma chama. As fontes de calor em um
ambiente podem ser as mais variadas:
 a chama de um fósforo;
 a brasa de um cigarro aceso;
 uma lâmpada;
 a chama de um maçarico, etc.
A própria temperatura do ambiente já pode vaporizar um material combustível; é o caso
da gasolina, cujo ponto de fulgor é aproximadamente de –40ºC. Considerando-se que o
ponto de combustão é superior em apenas alguns graus, a uma temperatura ambiente de
20ºC, já ocorre a vaporização. O calor pode atingir uma determinada área por condução,
radiação ou convecção, os quais serão descritos abaixo.

Condução
O calor se propaga de molécula a molécula através de um método direto, ou seja, há
necessidade de um meio material. Como exemplo deste fato poderemos ter a situação de
uma barra de ferro ao ser aquecida em uma extremidade após algum tempo encontrar-
se-á aquecida em outra extremidade por condução. Em um incêndio o superaquecimento
dos pontos superiores de um andar transmitirá por intermédio do piso calor suficiente
para reiniciar um incêndio em um outro pavimento imediatamente ao lado ou acima do
ambiente incendiado.

141
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

Radiação
Uma fonte de elevada energia termoluminosa ao longo do tempo emitindo pacotes de
energia aquecerá outros materiais sem que haja qualquer conta físico entre ambos. Um
bom exemplo deste fato foram os incêndios secundários gerados em edifícios próximos
ao incêndio do edifício Andraus em São Paulo em 1972. Vários incêndios se iniciam
pelo uso de lâmpadas do tipo Spot Light deixadas por longo tempo acesas em vitrines,
as quais transmitem calor por radiação.

Convecção
É uma forma de transmissão de calor a partir de um fluido em movimento. Pelo
aquecimento, as moléculas expandem-se e tendem a se elevar, criando correntes
ascendentes às moléculas mais frias. É um fenômeno bastante comum em edifícios, pois
através de aberturas, como janelas, poços de elevadores, vãos de escadas, podem ser
atingidos andares superiores.

Em virtude dos gases superaquecidos serem mais leves que o ar eles sobem propagando
o incêndio para pontos mais altos do ambiente. No caso de edifícios eles causam o
"Efeito Chaminé" que é a propagação de incêndios para os andares superiores via poços
de elevadores, dutos de escadas e de ar condicionados.

142
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

11.2.4 Fases de um incêndio e propagação do fogo


Como abordado, incêndio é uma reação de combustão fortemente exotérmica e que se
desenvolve, geralmente, de uma forma descontrolada quer no tempo, quer no espaço.
Um incêndio é constituído das seguintes fases:
1. Eclosão: corresponde à sua fase inicial. Depende da qualidade e quantidade do
combustível presente.
2. Propagação: corresponde à fase em que o fenômeno se ativa rapidamente
transmitindo-se aos corpos vizinhos.
3. Combustão contínua: por efeito do calor, a energia libertada é suficiente para
provocar a combustão de todos os materiais em uma forma contínua. O calor
libertado pelo incêndio é equivalente à energia dissipada.
4. Declive das chamas: verifica-se após a inflamação generalizada e resulta da
carência de combustível, ou da dissipação de energia se tornar superior à sua
produção, provocando o abaixamento da temperatura até ao regresso à
temperatura ambiente.

143
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

Para se ter uma ideia melhor, o calor gerado pela combustão acumula-se nas partes
superiores do recinto, e ao longo do tempo e de acordo com a densidade da fumaça, a
mesma vem descendo em direção ao piso de forma estratificada. É importante notar que
há duas correntes associadas ao processo de combustão: Endofocal (corrente de ar que
alimenta a combustão) e Exofocal (corrente que sai do foco do incêndio, ou seja, a
corrente de convecção).

Em um dado ambiente pode-se considerar um Plano Neutro (P.N.) que é exatamente a


metade da altura do compartimento. Acima deste ponto a tendência da fumaça é sair,
devido a uma diferença de pressão entre o ambiente do incêndio e o ambiente exterior
criando uma pressão negativa, logo uma sucção. Abaixo deste ponto neutro há uma
alimentação do fogo em virtude do gradiente positivo gerado. A compreensão deste
fenômeno é imprescindível para conhecer-se o mecanismo de propagação dos
incêndios.

Em um edifício, diversos são os meios de propagação de um incêndio, podendo


inclusive se incluir a queda de material em combustão, fato ocorrido no incêndio do
edifício da Companhia Vale do Rio Doce em 11 de dezembro de 1981 o que fez com
que o mesmo se propagasse de cima para baixo ao contrário da maioria dos incêndios.

Um aspecto a ser levado em conta e que é intimamente ligado ao problema de escape


das vítimas é o efeito chaminé quando a fumaça e o calor sobem aos pontos mais altos
do edifício. Um exemplo desse fenômeno foi o incêndio do edifício Andorinhas, no Rio
144
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

de Janeiro, em fevereiro de 1986, em que cerca de quinze pessoas morreram nos últimos
pavimentos quando a porta de acesso ao terraço encontrava-se trancada.

11.2.5 Causas de um incêndio e cuidados para prevenção do fogo


Estas são algumas das várias causas de incêndios:
 fumar em locais não apropriados;
 trapos embebidos em óleo ou graxa deixados em locais aquecidos;
 serviços de solda elétrica e oxi-acetileno;
 uso de ferramentas manuais ou elétricas em tanques não devidamente
desgaseificados;
 acúmulo de gordura nas telas e dutos;
 descuidos com lâmpadas desprotegidas;
 recipientes com líquidos inflamáveis voláteis destampados;

145
Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

 vazamentos em redes de óleo combustível ou lubrificante;


 equipamentos elétricos, mal instalados ou com sobrecarga;
 material inflamável armazenado indevidamente, etc.

Armazenagem de material
É um fato comum nas empresas usar, movimentar material inflamável. Exemplo: seção
de pintura, seção de corte e oxicorte, trabalhos com solventes, depósitos de papel,
madeira, etc. Algumas providências simples e práticas podem evitar a ocorrência do
fogo:
 manter sempre, se possível, a substância inflamável longe de fonte de calor e de
comburente, como no caso de operações de solda e oxicorte.
 a operação de solda e a fábrica estarão muito mais seguras, se os tubos de
acetileno estiverem separados ou isolados dos tubos de oxigênio. Armazenagem
em locais separados contribui muito para aumentar a segurança.
 manter sempre, no local de trabalho, a mínima quantidade de inflamável para
uso, como no caso, por exemplo, de operações de pintura, nas quais o solvente
armazenado deve ser apenas o suficiente para um dia de trabalho.
 possuir um depósito com boas condições de ventilação para armazenagem de
inflamáveis e, o mais longe possível da área de trabalho, de operações.
 proibição de fumar nas áreas onde existam combustíveis ou inflamáveis
estocados. Não se deve esquecer que todo fumante é um incendiário em
potencial (ele conduz um dos elementos essenciais do fogo: o calor). Uma ponta
de cigarro acesa poderá causar incêndio de graves proporções.

Manutenção adequada
Além da preparação com combustível e comburente, é preciso saber como se pode
evitar a presença do terceiro elemento essencial do fogo: o calor. Como evitar sua ação?
 Instalação elétrica em condições precárias: fios expostos ou descascados podem
ocasionar curtos-circuitos, que serão origem de focos de incêndio, se
encontrarem condições favoráveis à formação de chamas.
 Instalações elétricas mal projetadas: poderão provocar aquecimento nos fios e
ser origem de incêndios. Exemplo trágico ocorreu em São Paulo, em sinistro que
roubou mais de uma centena de vidas preciosas. A carga excessiva em circuitos
elétricos pode e deve ser evitada.

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

 Pisos anti-faísca: em locais onde há estoque de líquidos ou gases inflamáveis, os


pisos devem ser anti-faísca, porque um simples prego no sapato poderá
ocasionar um incêndio. Pela mesma razão, chaves elétricas a óleo oferecem
maior proteção que chaves de faca.
 Instalação mecânica: falta de manutenção e lubrificação em equipamentos
mecânicos pode ocasionar aquecimento por atrito em partes móveis, criando
perigosa fonte de calor.

Ordem e Limpeza
Corredores obstruídos com móveis e estantes cheias de papeis e outros materiais
combustíveis podem fazer com que o fogo de origine e se propague rapidamente, o que
pode tornar mais difícil sua extinção. Isto é especialmente importante no caso de
escadas, porque aí as consequências podem ser mais graves. Atenção especial deve ser
dada também para a utilização de carpetes, forros, acúmulo de poeira em dutos e etc.

Instalação de para-raios
Os incêndios causados por raios são muito comuns. Daí, a instalação de para-raios ser
uma proteção importantíssima.

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

11.3. Efeito do incêndio na saúde

O processo de combustão é uma situação de risco para os seres humanos, tanto


material quanto de perda da própria vida. Estes riscos estão associados:
 A chama pode provocar por sua incandescência cegueira;
 O calor é o responsável fisiológico pelas queimaduras, desidratação e
edema;
 Alguns gases provenientes da combustão podem produzir asfixia por sua
maior afinidade com as hemoglobinas, sendo outros tóxicos;
 Os fumos são partículas sólidas e líquidas que são arrastadas pelos gases no
processo de combustão, podem ocasionar doenças respiratórias e irritação e
lesões nos ouvidos.

A insuficiência do oxigênio a combustão consome oxigênio alterando sua concentração


no ar; quando a concentração torna-se inferior a 21% temos anoxia, fadiga e colapso.

Gases Tóxicos:

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

 Libertados consoante os materiais em combustão;


 CO (impede o O2 de atingir o cérebro: 17% de O2 causa pouca clareza de
raciocínio, levando ao pânico; 6% de O2 causa morte cerebral);
 CO2 (aceleração na respiração facilitando a absorção de outros gases tóxicos);
 Ácido sulfídrico (atua sobre SNC - Sistema Nervoso Central);
 NO2 (paralisia da garganta);
 HCN (gás cianídrico), etc.

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

11.4. Mecanismos e métodos de extinção do fogo


Como foi visto, o fogo é um tipo de queima, de combustão, de oxidação. É um
fenômeno químico, uma reação química que provoca alterações profundas na substância
que se queima. Um pedaço de papel ou madeira que se inflama transforma-se em uma
substância muito diferente. O mesmo acontece com o óleo, gasolina ou um gás que pega
fogo.

A palavra oxidação significa também queima. A oxidação pode ser lenta, como no caso
da ferrugem. Trata-se de uma queima muito lenta, sem chamas. Já na combustão de um
papel, há chamas, ou seja, é uma oxidação mais rápida. Na explosão da dinamite a
queima (oxidação) é instantânea e violenta.

Como abordado, a combustão é resultante de uma reação química que conta com a
participação de um combustível, comburente e uma fonte de calor. Eliminado um desses
elementos, terminará a combustão. Tem-se, aí, uma indicação muito importante de
como é possível acabar com o fogo.

Pode-se eliminar a substância que está sendo queimada (esta é uma solução nem sempre
possível). Pode-se eliminar o calor, por meio de resfriamento no ponto em que ocorre a
combustão. Pode-se, ainda, eliminar ou afastar o comburente (oxigênio) do lugar da
queima, por abafamento, e introdução de outro gás que não seja comburente.

O triângulo do fogo é um tripé. Eliminando-se uma das pernas, acaba a sustentação, ou


seja, o fogo extingue-se. De tudo isso, conclui-se que, ao impedir a ligação dos pontos
do triângulo, elementos essenciais, indispensáveis para o fogo, este não surgirá ou
deixará de existir, se já tiver começado.

Quando em um poço de petróleo que está em chamas, provoca-se uma explosão para
combate a incêndio, o que se deseja é afastar, momentaneamente, o oxigênio, o
comburente, um dos elementos do triângulo do fogo, para que o incêndio acabe.

Quando em um lugar onde existe material combustível e oxigênio, lê-se um aviso em


que se proíbe fumar, o que se pretende é evitar a formação do triângulo do fogo, isto é,

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

combustível, comburente e calor. O calor, neste caso, é a brasa do cigarro. Sem este
calor, o combustível e o comburente não poderão transformar-se em fogo.

O tipo de queima que interessa a este estudo é o que apresenta chamas, sendo os
principais mecanismos de extinção do fogo mostrados a seguir:

Abafamento
O abafamento ocorre pela supressão do comburente, ou seja, pela retirada do oxigênio.
Tal processo pode ocorrer pelo emprego de agentes extintores tipo espuma, pó químico
seco (P.Q.S.), dióxido de carbono (CO2) ou água sob a forma de neblina.

Isolamento
O isolamento ocorre pela retirada do combustível ou do seu afastamento da fonte de
calor.

Resfriamento
O resfriamento ocorre pela redução da temperatura do processo da combustão até níveis
que se torna impossível mantê-la. Agentes extintores tais como a água, o dióxido de
carbono e a espuma atuam principalmente desta forma.

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

Extinção Química
Ocorre quando interrompemos a reação em cadeia. Este método consiste no seguinte: o
combustível, sob ação do calor, gera gases ou vapores que, ao se combinarem com o
comburente, formam uma mistura inflamável. Quando lançamos determinados agentes
extintores ao fogo, suas moléculas se dissociam pela ação do calor e se combinam com
a mistura inflamável (gás ou vapor mais comburente), formando outra mistura não-
inflamável.

11.5. Classes de Incêndio


Os incêndios, em seu início, são muito mais fáceis de controlar e de extinguir. Quanto
mais rápido o ataque às chamas, maiores serão as possibilidades de reduzi-las, e de
eliminá-las. A principal preocupação, no ataque, consiste em desfazer ou romper o
triângulo do fogo. Mas que tipo de ataque é feito ao fogo em seu início? Que solução
deve ser tentada? Como os incêndios são de diversos tipos, as soluções serão diferentes
e os equipamentos de combate também.

É preciso conhecer, identificar bem o incêndio que se vai combater, para escolher o
equipamento correto. Um erro na escolha de um extintor pode tornar inútil o esforço de
combater as chamas ou pode piorar a situação, aumentando as chamas, espalhando-as
ou criando novas causas de fogo (curtos-circuitos).

Os incêndios são divididos em quatro classes:

Classe A – Fogo em materiais de fácil combustão, como: tecidos, madeira, papel, fibras
etc., com propriedade de queimarem em sua superfície e profundidade, e que deixam
resíduos (cinzas).

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

Classe B – São considerados inflamáveis, os produtos que queimam somente em sua


superfície não deixando resíduos. Essa classe de incêndio caracteriza-se pela liberação
de energia térmica em altas quantidades quando comparadas ao mesmo volume de um
produto CLASSE "A", como exemplo desta classe temos Gasolina, Gás Liquefeito de
Petróleo, Álcool, Querosene, Diesel etc.,

Classe C – Fogo em equipamentos elétricos energizados, como motores,


transformadores, quadros de distribuição, fios, etc., sob tensão. Entretanto ao remover-
se a energia elétrica ele passa a ser da classe do elemento combustível predominante,
geralmente "A". Nesta classe deve-se evitar o uso de água para a sua extinção sob risco
de graves acidentes.

Classe D – Fogo em elementos pirofóricos, compostos pela classe dos metais


combustíveis os quais queimam a altíssimas temperaturas produzindo uma chama de cor
azul-esbranquiçada. Como exemplo desta classe tem-se os seguintes metais: Sódio,

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Alumínio, Tungstênio, Molibdênio, Magnésio etc. Deve-se evitar o uso de água para a
sua extinção sob risco de graves acidentes.

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11.6. Principais sistemas de proteção contra incêndio e pânico (SPCIP)


Os sistemas de proteção contra incêndio e pânico são dispositivos instalados e/ou
construídos em uma edificação para evitar o surgimento do fogo descontrolado ou pelo
menos retardar a sua propagação, como também facilitar a evacuação de pessoas destas
edificações em caso de algum sinistro. Os principais SPCIP são:
1. Sistema de proteção por extintores
2. Sistema hidráulico preventivo (SHP)
3. Saídas de emergência
4. Iluminação de emergência
5. Sistema de proteção contra descargas atmosféricas (SPDA)
6. Sistema de detecção e alarme
7. Sistema de sprinklers.

Sistema de proteção por extintores


Destinam-se ao combate imediato e rápido de pequenos focos de incêndios, não
devendo ser considerados como substitutos aos sistemas de extinção mais complexos,
mas sim como equipamentos adicionais. Os agentes extintores podem ser de várias
composições, sendo os principais:
 Água
 Espuma
 Dióxido de Carbono (CO2)
 Pó Químico Seco

O êxito no emprego dos extintores dependerá da:


 Fabricação de acordo com as normas técnicas (ABNT);
 Distribuição apropriada dos aparelhos;
 Inspeção periódica da área a proteger;
 Manutenção adequada e eficiente;
 Pessoal habilitado, ou seja, que saiba ESCOLHER o extintor adequado,
conhecendo a sua LOCALIZAÇÃO e tenha condições de MANUSEÁ-LO.

Podem ser sugeridas como recomendações para localização dos extintores:


 Instalar o extintor em local visível e sinalizado;
 O extintor não deverá ser instalado em escadas, portas e rotas de fuga;

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

 Os locais onde estão instalados os extintores, não devem ser obstruídos;


 O extintor deverá ser instalado na parede ou colocado em suportes de piso;
 O lacre não poderá estar rompido;
 O manômetro dos extintores de AP (água pressurizada) e PQS (pó químico seco)
deverá indicar a carga.

De uma forma geral os extintores portáteis são dispositivos cilíndricos capazes de


resistir determinadas pressões e contém agentes extintores específicos necessários a
extinção. Subdividem-se em três tipos principais:

1. De inversão: em desuso atualmente, por intermédio de sua inversão os agentes


químicos, entram em ação produzindo espuma.

2. De pressurização interna: contém misturados ao agente extintor um gás propelente


que pode ser ar comprimido, nitrogênio ou dióxido de carbono. Caracterizam-se pela
existência de um manômetro indicativo da pressão interna.

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3. De pressurização externa: contém uma ampola externa com gás propelente


(nitrogênio ou dióxido de carbono) que pode ser ar comprimido. Caracterizam-se pela
presença de uma ampola externa para a liberação do gás.

Água
A água é a substância mais difundida na natureza, sendo o agente extintor mais
utilizado. A água pode se apresentar sob os três estados físicos da matéria: sólido,
líquido ou gasoso; seja qual for seu estado físico sua constituição química é invariável,
sendo sua fórmula H2O.

Em um combate a incêndio o volume de vapor resultante de sua vaporização é de 1 para


1600, e este próprio vapor por possuir uma temperatura consideravelmente inferior
(cerca de 150ºC ) a temperatura do incêndio cerca de 950ºC, pode ser utilizado como
elemento de resfriamento e abafamento em incêndio em ambientes fechados.

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

A água quimicamente pura não conduz energia elétrica, entretanto a presença de


diversos sais em sua composição, principalmente os metálicos do tipo Ferro, tornam-na
altamente condutora de energia oferecendo potencial risco para aqueles que combatem
um incêndio.

Este risco é inversamente proporcional à distância, ou seja quanto mais perto maior o
risco e à seção contínua do jato d'água, uma vez que a água sob forma de neblina tem
uma condutibilidade elétrica menor.

Para efeitos de extinção de incêndios pode a água se apresentar:

A água tem sua melhor indicação sob a forma de jato compacto para incêndios classe
"A" e sob a forma de jatos de neblina ou pulverizados para incêndios classe "B".

ATENÇÃO:
Nunca use água em fogo das classes C e D.
Nunca use jato direto na classe B.

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

Espuma
A rigor a espuma seria uma das formas de aplicação de água, pois ela se constitui de um
aglomerado de bolhas de ar ou gás (CO2) formadas de películas de água. Para que se
formem as películas, é necessário a mistura de um agente espumante. O objetivo da
formação desta espuma é tornar a água mais leve, gasificando-a, que desta maneira
poderá flutuar sobre os líquidos mais pesados que a água.

A espuma como agente extintor apaga o fogo por abafamento, mas devido a presença de
água que a compõe tem também uma ação secundária por resfriamento. A sua
aplicabilidade é mais indicada para incêndios do tipo classe "B", podendo também ser
utilizada em fogos classe A. É importante lembrar que a espuma por ser um composto

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

aquoso não deve ser aplicado em incêndios da classe "C" sob risco de eletrocussão do
usuário do extintor ou classe D. Há duas formas principais de produção de espuma:

1) Química - hoje em desuso, consiste de duas substâncias químicas Bicarbonato


de Sódio e Sulfato de Alumínio sob a forma de soluções, que quando o extintor
é invertido de sua posição as duas misturam-se na presença de um outro
elemento estabilizador.

2) Mecânica - consiste na passagem de água em alta velocidade por um dispositivo


com o formato de asa de avião (Venturi). Neste processo é criada uma pressão
negativa e o agente espumígeno é arrastado por um tubo (Pitot) e misturado à
água. Este composto ao ser lançado sobre uma tela produz e espuma mecânica.

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Dióxido de Carbono
Este é um gás mais pesado que o ar, sem cor, sem cheiro e inerte à eletricidade. Quando
comprimido a cerca de 60 atmosferas se liquefaz e é então armazenado em cilindros.
Quando aliviado desta compressão, o líquido se vaporiza e sua rápida expansão abaixa
violentamente a temperatura que alcança -70ºC. Parte do gás se solidifica em pequenas
partículas, formando uma neve carbônica, conhecida como "gelo seco".

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O CO2, não é um gás venenoso, mas do mesmo modo que não suporta a combustão,
também não suporta a vida humana, sendo sufocante. Devido a sua alta densidade ocupa
as partes mais baixas do recinto prejudicando a visão. O CO2 é um extintor que deve ser
aplicado nos seguintes tipos de incêndios:
a) materiais inflamáveis, líquidos e gasosos;
b) equipamentos elétricos;
c) motores ou máquinas que utilizam gasolina ou outros combustíveis,
d) diversos produtos químicos perigosos;
e) auxilia a extinção de combustíveis comuns, tais como papel, madeira, tecidos
etc. este caso é bastante efetivo quando usado em inundação de compartimentos
fechados.

O CO2 não deve ser usado na extinção dos seguintes tipos de incêndios:
a) Produtos químicos que contenham seu próprio suprimento de oxigênio (agentes
oxidantes, celulose),
b) Classe "D": Sódio, Potássio, Magnésio, Titânio, Zircônio etc.
c) Hidratos metálicos.

Pó Químico Seco (P.Q.S.)


Os Pós Químicos Secos são substâncias constituídas de bicarbonato de sódio,
bicarbonato de potássio ou cloreto de potássio, que, pulverizadas, formam uma nuvem

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

de pó sobre o fogo, extinguindo-o por quebra da reação em cadeia e por abafamento. O


pó deve receber um tratamento anti-higroscópico para não umedecer, evitando assim a
solidificação no interior do extintor.

Os pós são classificados conforme a sua correspondência com as classes de incêndios, a


que se destinam a combater, conforme as seguintes categorias:
1. Pó ABC – composto a base de fosfato de amônio ou fosfatomonoamônico, sendo
chamado de triclássico, pois atua nas classes A, B e C.
2. Pó BC – Nesta categoria está o tipo de pó mais comum e conhecido, o PQS ou
Pó Químico Seco. Os extintores de PQS para classe B e C utilizam os agentes
extintores bicarbonato de sódio, bicarbonato de potássio, cloreto de potássio,
tratados com um estearato a fim de torná-los antihigroscópios e de fácil
descarga.
3. Pó D – usado especificamente na classe D de incêndio, sendo a sua composição
variada, pois cada metal pirofórico terá um agente específico, tendo por base a
grafita misturada com cloretos e carbonetos. São também denominados de Pós
Químicos Especiais ou PQEs.

A sua ação sobre o incêndio se baseia principalmente no abafamento que é reforçada


pela produção de CO2 e vapor d'água resultantes da queima do bicarbonato tendo uma
ação secundária de resfriamento. É de extrema importância ter-se em conta que o P.Q.S.
não deve ser aplicado sob equipamentos elétricos, eletrônicos de pequenos componentes
como, por exemplo, computadores nem em motores mecânicos, principalmente em
carburadores onde sua penetrabilidade associada ao alto poder corrosivo do Bicarbonato
de Sódio tornarão o equipamento definitivamente inoperante.

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GRAU DE EFICIÊNCIA DO USO DOS AGENTES EXTINTORES

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AO UTILIZAR UM AGENTE EXTINTOR OBSERVE O SEGUINTE:


 Pegue-o e transporte com cuidado evitando acidentes;
 Evite que durante o transporte a mangueira e o difusor fiquem na frente de suas
pernas o que poderá ocasionar-lhe quedas;
 Não esqueça de tirar o pino de segurança antes de utilizar o extintor;
 Antes de dar a descarga do agente extintor verifique se todas conexões estão
bem rosqueadas o que com a liberação da pressão poderá ocasionar grave
acidente;
 Em extintores de inversão (Espuma Química), mantenha-o longe do
prolongamento do rosto para evitar acidentes decorrentes de entupimentos;
 Observe a direção do vento antes de aplicar o agente extintor;
 Não dirija o jato com alta pressão para o foco do fogo principalmente se for
líquido inflamável o que poderá ocasionar-lhe acidentes;
 Mesmo com extintor de dióxido de carbono é prudente manter-se uma distância
de fontes de alta voltagem, pela formação de arcos voltaicos em função da
umidade relativa do ar que pode causar eletrocussão.

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Sistema Preventivo Predial


Os sistemas preventivos prediais consistem de uma canalização de ferro galvanizado de
1 1/2" ligadas na parte inferior a um hidrante conhecido como "hidrante de fachada" que
permite o acoplamento dos mangotes das Auto-Bombas do Corpo de Bombeiros.

Na parte superior estão ligadas às caixas d´água do edifício as quais devem possuir 1/3
de sua capacidade como Reserva Técnica de Incêndio (R.T.I.) para qualquer
eventualidade. A pressão dos últimos andares é assegurada por duas bombas elétricas de
pequena potência.

Em cada andar são dispostas Caixas de Incêndio com mangueiras de comprimento


variável de 15 a 30 metros e do esguicho, cuja finalidade é dar consistência e direção ao
jato d'água.

Hidrantes
São dispositivos existentes em redes hidráulicas que possibilitam a captação de água
para emprego nos serviços de bombeiros, principalmente no combate a incêndio. Esse

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

tipo de material hidráulico depende da presença do homem para utilização final da água
no combate ao fogo. É a principal instalação fixa de água tendo funcionamento manual.

Hidrante de Coluna Urbano – Tipo “Barbará”


Esse tipo de hidrante é encontrado comumente nas ruas e avenidas. Sua abertura é feita
através de um registro de gaveta, cujo comando é colocado ao lado do hidrante, tendo
como fonte de água a tubulação da companhia de saneamento que passa na rua.

Hidrante Industrial
É um dispositivo existente em redes hidráulicas no interior de indústrias. Esse tipo de
hidrante é utilizado com água da Reserva Técnica de Incêndio (RTI) do Sistema
Hidráulico Preventivo (SHP) da empresa.

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

Hidrante de Parede - HP
Dispositivo que integra o Sistema Hidráulico Preventivo (SHP) das edificações.
Localizado no interior das caixas de incêndio ou abrigos, poderá ser utilizado nas
operações de combate a incêndio pelo Corpo de Bombeiros, brigada de incêndio e
ocupantes da edificação que possuam treinamento específico. Obrigatoriamente, as
caixas de incêndio deverão possuir: 01 esguicho, 01 chave de mangueira e mangueiras
de incêndio, conforme o projeto da edificação.

Mangueiras
São condutores flexíveis, utilizados para conduzir a água sob pressão da fonte de
suprimento ao lugar onde deve ser lançada. As mangueiras podem ser de 1 ½” ou 38
milímetros, e de 2 ½” ou de 63 milímetros, de acordo com a especificação no projeto
contra incêndio e pânico. São constituídas de fibra de tecido vegetal (algodão, linho,
etc.) ou de tecido sintético (poliéster), dependendo da natureza de ocupação da
edificação. Possuem um revestimento interno de borracha, a fim de suportar as pressões
hidrostáticas e hidrodinâmicas oferecidas pelo SHP.

Esguichos
São peças metálicas, conectadas nas extremidades das mangueiras, destinadas a dirigir e
dar forma ao jato d’água.

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

Sistema de Detecção e Alarme


São equipamentos que tem por objetivo detectar e avisar a todos os ocupantes da
edificação, da ocorrência de um incêndio ou de uma situação que possa ocasionar
pânico. O alarme deve ser audível em todos os setores da edificação, abrangidos pelo
sistema de segurança. O acionamento do alarme pode ser manual ou automático.
Quando for automático, o mesmo estará conectado a detectores de fumaça ou de calor.
A edificação deve contar com um plano de abandono de área, a fim de aperfeiçoar a
utilização do alarme de incêndio.

Sistema de Iluminação de Emergência


O Sistema de Iluminação de Emergência é o conjunto de componentes que, em
funcionamento, proporciona a iluminação suficiente e adequada para permitir a saída
fácil e segura do público para o exterior, no caso de interrupção da alimentação normal,
como também proporciona a execução das manobras de interesse da segurança e
intervenção de socorro.

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

Esse sistema é obrigatório nas áreas comuns das edificações, sendo elas: corredores,
escadas, elevadores, saídas de emergência etc. Os principais tipos de sistemas, de
acordo com a fonte de energia, são: conjunto de blocos autônomos, sistema centralizado
com baterias e sistema centralizado com grupo moto gerador.

Saídas de Emergência
São caminhos contínuos, devidamente protegidos, a serem percorridos pelo usuário, em
caso de sinistro, de qualquer ponto da edificação até atingir a via pública ou espaço
aberto protegido do incêndio, permitindo ainda fácil acesso de auxílio externo para o
combate ao fogo e a retirada da população. As Saídas de Emergência em Edificações
são dimensionadas para o abandono seguro da população, em caso de incêndio ou
pânico e permitir o acesso de guarnições de bombeiros para o combate ao fogo ou
retirada de pessoas.

Componentes das saídas de emergências


A saída de emergência compreende o seguinte:
a) acesso ou rotas de saídas horizontais, isto é, acessos às escadas, quando houver,
e respectivas portas ou ao espaço livre exterior, nas edificações térreas;
b) escadas ou rampas;
c) descarga.

Toda saída de emergência, corredores, balcões, terraços, mezaninos, galerias,


patamares, escadas, rampas e outros, devem ser protegidas de ambos os lados por
paredes ou guardas (guarda-corpos) contínuas, sempre que houver qualquer desnível
maior de 19 cm, para evitar quedas.

Porta Corta-fogo (PCF)


As portas corta-fogo são próprias para o isolamento e proteção das vias de fuga,
retardando a propagação do incêndio e da fumaça na edificação. Elas devem resistir ao
calor no mínimo por 60 min, devem abrir sempre no sentido de fuga (saída das pessoas),
o fechamento deve ser completo, não poderão estar trancadas por cadeados, não deverão
estar calçadas com nenhum dispositivo que possam mantê-las abertas e deverão ter o
dispositivo de fechamento sempre manutenidos (dobradiça por gravidade ou por molas).

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

Abandono da Área
Ninguém espera o acontecimento de um incêndio. Baseado nesta afirmação é preciso ter
um plano de abandono, para ser utilizado em caso de sinistro, pois o incêndio poderá
ocorrer em qualquer lugar. É importante falar que todo incêndio começa pequeno, e se
não for controlado no início, pode atingir proporções que o próprio Corpo de Bombeiros
terá dificuldade em combatê-lo. Portanto, se faz necessário observar se a edificação
possui todos os recursos destinados a prevenção e combate a incêndio e pânico, de
acordo com a legislação vigente.

A seguir, veremos uma série de orientações que, se seguidas, darão condições aos
ocupantes da edificação, para que possam sair em segurança.
 Tenha um plano de abandono da edificação;
 Acione o alarme, e chame o Corpo de Bombeiros;
 Pratique a fuga da edificação, pelo menos a cada seis meses;
 Procure conhecer a localização da escada de emergência, dos extintores e do
SHP;
 Tenha cautela ao colocar trancas nas portas e janelas, pois os mais prejudicados
são as crianças e os idosos;
 Estabeleça um ponto de reunião, para saber se todos conseguiram deixar a
edificação;
 Caminhe rapidamente e não corra, evitando o pânico;
 Ao encontrar uma porta, toque a mesma com o dorso da mão, estando quente,
não abra;
 Não use o elevador, e sim as escadas de emergência;
 Se estiver em um local enfumaçado, procure respirar o mais próximo do solo,
colocando um pano úmido nas narinas e na boca;
 Se estiver preso em uma sala enfumaçada, procure abrir a janela, para que a
fumaça possa sair na parte de cima e você possa respirar na parte de baixo;
 Não tente passar por um local com fogo, procure uma alternativa segura de
saída;
 Caso encontre situação de pânico em alguma via de fuga, tenha calma e tente
acalmar outros;
 Não pule da edificação, tenha calma, o socorro pode chegar em minutos; e

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

 Conseguindo sair da edificação, procure um local seguro e não tente adentrar


novamente.

Equipamentos de Proteção Individual – EPI


Considera-se Equipamento de Proteção Individual (EPI), todo material de uso
individual, com o objetivo de proteger a integridade física do brigadista, sendo
obrigação da empresa fornecer o EPI, de acordo com a NR-06 do Ministério do
Trabalho. Os materiais utilizados como EPI possuem formatos diferentes, pois precisam
proteger as mais variadas partes do corpo, como por exemplo: a cabeça, o tronco e os
membros.

Cabeça
Os EPI’s precisam proteger o crânio, os olhos, a face e a nuca das lesões que podem ser
ocasionadas por impactos de materiais, partículas, respingos ou vapores de produtos
químicos e de radiações luminosas.

Tronco e extensão dos membros


Os EPI’s destinados a proteção do tronco e extensão dos membros, visam proteger o
brigadista contra objetos escoriantes, abrasivos, cortantes ou perfurantes, além de
proteger também do calor excessivo, irradiado pelas chamas.

Mãos e pés
Os EPI’s das mãos visam proteger contra a ação de objetos cortantes, abrasivos,
corrosivos, alergênicos, além de produtos graxos e derivados de petróleo. Já os dos pés
visam proteger contra lesões ocasionadas de origem mecânica (quedas de materiais),
agentes químicos, térmicos e objetos perfurantes ou cortantes.

Equipamento de Proteção Respiratória – EPR


Estes equipamentos requerem atenção especial, pois serão eles que permitiram ao
brigadista trabalhar em locais saturados com fumaça, com baixa concentração de O2 e
muitas vezes com temperaturas elevadas. É importante ressaltar que a não utilização
destes aparelhos pode ter consequências sérias e até mesmo levar a morte. Os aparelhos
de proteção respiratória buscam anular o comportamento do ambiente sobre o sistema

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

respiratório, mediante proteção limitada (quando utilizados aparelhos filtrantes ou


autônomos de pressão negativa).

Máscara contra gases (aparelho filtrante)


Consiste em uma máscara de borracha adaptável ao rosto, contendo um filtro que
elimina os agentes nocivos. Vale lembrar que as máscaras possuem especificações que
precisam ser atendidas, para que a saúde do brigadista esteja de fato protegida.

Aparelho de respiração com linha de ar


Equipamento composto de peças facial de borracha, adaptável ao rosto, que recebe ar
fresco de fora do ambiente, através de uma mangueira. Este aparelho permite
permanecer mais tempo no ambiente, mas dificulta a movimentação, por causa da
mangueira que pode vir a ficar presa nos escombros, entre máquinas etc.

Equipamento de proteção respiratória autônoma


As máscaras autônomas são respiradores independentes que fornecem ar respirável para
o usuário através de cilindros de ar.

11.7. Prevenção de incêndio


Cuidados Necessários
 Respeitar as proibições de fumar no ambiente de trabalho;
 Não acender fósforos, nem isqueiros ou ligar aparelhos celulares em locais
sinalizados;
 Manter o local de trabalho em ordem e limpo;
 Evite o acúmulo de lixo em locais não apropriados;
 Colocar os materiais de limpeza em recipientes próprios e identificados;
 Manter desobstruídas as áreas de escape e não deixar, mesmo que
provisoriamente, materiais nas escadas e corredores;
 Não deixar os equipamentos elétricos ligados após sua utilização. Desligue-os da
tomada;
 Não improvisar instalações elétricas, nem efetuar consertos em tomadas e
interruptores, sem que esteja familiarizado;
 Não sobrecarregar as instalações elétricas com a utilização do PLUG T,
lembrando que o mesmo oferece riscos de curto-circuito e outros;

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

 Verificar antes da saída do trabalho, se não há nenhum equipamento elétrico


ligado;
 Observar as normas de segurança ao manipular produtos inflamáveis ou
explosivos;
 Manter os materiais inflamáveis em local resguardado e à prova de fogo;
 Não cobrir fios elétricos com o tapete;
 Ao utilizar materiais inflamáveis, faça-o em quantidades mínimas,
armazenando-os sempre na posição vertical e na embalagem;
 Não utilizar chama ou aparelho de solda perto de materiais inflamáveis.

11.8. Ocorrência de incêndio


Instruções gerais em caso de emergências
 Manter a calma, evitando o pânico, correrias e gritarias;
 Acionar o Corpo de Bombeiros no telefone 193;
 Usar extintores ou os meios disponíveis para apagar o fogo;
 Acionar o botão de alarme mais próximo, ou telefonar para o ramal de
emergência, quando não se conseguir a extinção do fogo;
 Fechar portas e janelas, confinando o local do sinistro;
 Isolar os materiais combustíveis e proteger os equipamentos, desligando o
quadro de luz ou o equipamento da tomada;
 Comunicar o fato à chefia da área envolvida ou ao responsável do mesmo
prédio;
 Armar as mangueiras para a extinção do fogo, se for o caso;
 Existindo muita fumaça no ambiente ou local atingido, usar um lenço como
máscara (se possível molhado), cobrindo o nariz e a boca;
 Para se proteger do calor irradiado pelo fogo, sempre que possível, manter
molhadas as roupas, cabelos, sapatos ou botas.

Em caso de confinamento pelo fogo recomenda-se:


 Procure sair dos lugares onde haja muita fumaça;
 Mantenha-se agachado, bem próximo ao chão, onde o calor é menor e ainda
existe oxigênio;

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

 No caso de ter que atravessar uma barreira de fogo, molhe todo o corpo, roupas e
sapatos, encharque uma cortina e enrole-se nela, molhe um lenço e amarre-o
junto à boca e ao nariz e atravesse o mais rápido que puder.

Em caso de abandono de local, recomenda -se:


 Seja qual for a emergência, nunca utilizar os elevadores;
 Ao abandonar um compartimento, fechar a porta atrás de si (sem trancar) e não
voltar ao local;
 Ande, não corra;
 Facilitar a operação dos membros da Equipe de Emergência para o abandono,
seguindo à risca as suas orientações;
 Ajudar o pessoal incapacitado a sair, dispensando especial atenção àqueles que,
por qualquer motivo, não estiverem em condições de acompanhar o ritmo de
saída (deficientes físicos, mulheres grávidas e outros);
 Levar junto com você visitantes;
 Sair da frente de grupos em pânico, quando não puder controlá-los.

Outras recomendações:
 Não suba, procure sempre descer pelas escadas;
 Não respire pela boca, somente pelo nariz;
 Não corra nem salte, evitando quedas, que podem ser fatais. Com queimaduras
ou asfixias, o homem ainda pode salvar–se;
 Não tire as roupas, pois elas protegem seu corpo e retardam a desidratação. Tire
apenas a gravata ou roupas de nylon;
 Se suas roupas se incendiarem, jogue–se no chão e role lentamente. Elas se
apagarão por abafamento;
 Ao descer escadarias, retire sapatos de salto alto e meias escorregadias.

Deveres e Obrigações
 Procure conhecer todas as saídas que existem no seu local de trabalho, inclusive
as rotas de fuga;
 Participe ativamente dos treinamentos teóricos, práticos e reciclagens que lhe
forem ministrados;

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

 Conheça e pratique as Normas de Proteção e Combate ao Princípio de Incêndio,


quando necessário e possível, adotadas na Empresa;
 Comunique imediatamente aos membros da Equipe de Emergência, qualquer
tipo de irregularidade.

Condutas de Emergência
1. Evite abrir qualquer porta que esteja saindo fumaça pelas frestas e/ou a maçaneta
encontre-se superaquecida;

2. Ao ser surpreendido pela fumaça procure uma saída mantendo-se abaixado sob a
fumaça com um lenço sobre as vias respiratórias;

3. Se localizar alguém em meio à fumaça arraste para um local ventilado e procure


reanimá-lo por meio de ventilação ou insuflação boca-a-boca Em um incêndio em
edifício evite subir, procure sempre descer;

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

4. Em um incêndio em um edifício nunca pegue os elevadores, desça pela escada -


sempre pelo lado direito;

5. Caso não consiga sair do local tente ir para a janela chamar a atenção para o resgate;

6. Lembre-se que nos cantos extremos inferiores das salas há ainda quantidades
residuais de ar no caso de um incêndio;

7. Se tiver que atravessar pequenas extensão de fogo, molhe totalmente suas vestes ou
proteja-se com um cobertor molhado;

8. Se tiver um saco plástico transparente de tamanho de 50 cm a 1 metro, obtenha ar


fresco não contaminado pela fumaça e tente escapar agachado, pois terá uma reserva de
ar satisfatória durante alguns minutos;

9. Se presenciar alguém com as roupas em chamas, derrube-a e role-a, se possível


abafando-a com um cobertor; procure evitar a propagação do incêndio, evitando abrir
janelas desnecessariamente;

10. No trânsito dê passagem ao socorro do Corpo de Bombeiros;

11. Informe aos bombeiros a existência de outras vítimas e a sua localização,


especialmente se forem portadoras de deficiências físicas.

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

11.9. O Incêndio da Boate Kiss em Santa Maria/RS

O incêndio na boate Kiss foi um evento não intencional que matou 242 pessoas e feriu
116 outras em uma discoteca da cidade de Santa Maria, no estado brasileiro do Rio
Grande do Sul. O incêndio ocorreu na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013 e foi
causado pelo acendimento de um sinalizador por um integrante de uma banda que se
apresentava na casa noturna. A imprudência e as más condições de segurança
ocasionaram a morte de mais de duas centenas de pessoas.

O sinistro foi considerado a segunda maior tragédia no Brasil em número de vítimas em


um incêndio, sendo superado apenas pela tragédia do Gran Circus Norte-Americano,
ocorrida em 1961, em Niterói, que vitimou 503 pessoas, e teve características
semelhantes às do incêndio ocorrido na Argentina, em 2004, na discoteca República
Cromañón. Classificou-se também como a quinta maior tragédia da história do Brasil, a
maior do Rio Grande do Sul, a de maior número de mortos nos últimos cinquenta anos
no Brasil e o terceiro maior desastre em casas noturnas no mundo.

Procedeu-se a uma investigação para a apuração das responsabilidades dos envolvidos,


dentre eles os integrantes da banda, os donos da casa noturna e o poder público. O
incêndio iniciou um debate no Brasil sobre a segurança e o uso de efeitos pirotécnicos
em ambientes fechados com grande quantidade de pessoas. A responsabilidade da
fiscalização dos locais também foi debatida na mídia. Houve manifestações em toda a
imprensa nacional e mundial, que variaram de mensagens de solidariedade a críticas
sobre as condições das boates no país e a omissão das autoridades.

11.9.1. O incêndio
Por volta das 2h30min de 27 de janeiro, durante a apresentação da banda Gurizada
Fandangueira, a segunda banda a se apresentar na noite, um sinalizador de uso externo
foi utilizado pelo vocalista da banda. O sinalizador soltou faíscas que atingiram o teto
da boate, incendiando a espuma de isolamento acústico, que não tinha proteção contra
fogo. Os integrantes da banda e um segurança tentaram apagar as chamas com água e
extintores, mas não obtiveram sucesso. Em cerca de três minutos, a fumaça espessa se
espalhou por toda a boate.

No início do incêndio, não houve comunicação entre os seguranças que estavam no


palco e os seguranças que estavam na saída da boate. Estes, então, não permitiram
inicialmente que as pessoas saíssem pela única porta do local, por acreditarem tratar-se
de uma briga.

A casa funcionava através do pagamento das comandas de consumo na saída, o que


levou os seguranças a pensarem que as pessoas estavam tentando sair sem pagar. Muitas
vítimas forçaram a entrada pelas portas dos banheiros, confundindo-as com portas de
emergência que dessem para a rua, que de fato não existiam na boate. Em consequência
disso, noventa por cento dos corpos estariam nos banheiros.

11.9.2. Sputnik
O artefato usado pela banda é conhecido como sputnik. Segundo a Associação
Brasileira de Pirotecnia (ABP), deve ser usado em ambiente externo e solta faíscas que
chegam a quatro metros de altura, mais do que a altura do teto da boate. Deve ser
colocado no chão para ser aceso, libera grande quantidade de fumaça e as pessoas

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

devem ficar a pelo menos dez metros do artefato. É proibido usá-lo em locais fechados e
próximo a materiais inflamáveis. Custa cerca de quatro a cinco reais e geralmente se usa
nas festas de fim de ano.

11.9.3. Cianeto
O cianeto, apontado por um laudo técnico como a causa da morte dos estudantes, é uma
substância encontrada na natureza e também é um produto da atividade humana. Dentre
seus usos caseiros e industriais, estão: fumigar navios e edifícios, esterilizar solos,
metalurgia, polimento de prata, inseticidas, venenos para ratos etc. A população está
exposta por causa da fumaça dos automóveis, dos gases liberados pelas incineradoras e,
também, pela fumaça resultante da combustão de materiais contendo cianetos, como os
plásticos. As pessoas mais expostas são metalúrgicos, bombeiros, mineiros, operários de
indústria de plásticos etc.

O organismo consegue neutralizar o cianeto combinando-o com enxofre para formar


tiocianato, que é eliminado na urina. Se a quantidade é demasiada, o cianeto excedente
se une à enzima citocromo oxidase das hemácias, causando privação de oxigênio para as
células. A morte acontece por parada cardíaca e respiratória uma vez que o cérebro e o
coração são órgãos vitais, que dependem de muito oxigênio. O tratamento consiste em
administrar oxigênio a cem por cento e usar antídotos como o nitrito de sódio, o
tiossulfato de sódio, o 4-dimetilaminofenol, compostos de cobalto e a
hidroxocobalamina.

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

11.9.4. A espuma
A espuma usada em isolamento acústico na boate Kiss era moda em Santa Maria. Era
uma espuma de colchão usada em boates, bares, clubes e outras casas com música ao
vivo. Inicialmente, era usada por exigência dos DJs porque evitava o eco de som e
aumentava a nitidez dos sons graves e agudos. Posteriormente, passou a ser usada como
isolamento do som interno, evitando que incomodasse os vizinhos. Elissandro Spohr a
usou com esse propósito, mas a espuma era ineficiente para esse efeito, então foi
retirada quando se implementou um projeto acústico na Kiss. Entretanto, foi recolocada
a pedido dos DJs para evitar o eco de som.

Nenhum órgão de fiscalização notou a presença dessa espuma inadequada. Os


bombeiros apenas examinavam coisas como hidrantes e saídas de emergência. Os
fiscais da prefeitura não eram treinados para reconhecê-la e mesmo o Conselho
Regional de Engenharia e Agronomia do Rio Grande do Sul só tomava conhecimento
desse material se alguém fazia uma denúncia. Após o incêndio, os catadores de lixo da

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

cidade encontravam enormes quantidades de espuma jogada fora pelas demais empresas
que a adotavam. Dois deles disseram que tinham coletado cinquenta sacos para vender
às recicladoras, era um símbolo de morte para o público.

11.9.5. As autoridades
O caso da boate Kiss foi uma grande sequência de erros e omissões dos poderes
públicos:
1. um documento precário emitido pelos bombeiros foi usado como Plano de
Prevenção e Combate a Incêndio (PPCI) em 26 de junho de 2009;
2. apesar das fragilidades desse documento, o primeiro alvará de incêndio foi
concedido pelo Corpo de Bombeiros, em agosto de 2009, com vigência de um
ano;
3. a boate começou a funcionar em 31 de julho de 2009, somente com o alvará de
incêndio, sem o alvará de localização da prefeitura, só emitido em 2010;
4. de agosto de 2010 a agosto de 2011, a Kiss ficou sem o alvará dos bombeiros,
que só foi renovado em 9 de agosto de 2011;
5. na data de incêndio, o alvará estava novamente vencido;
6. a engenheira responsável pelo PPCI disse ter elaborado o plano conforme uma
planta-baixa em 2009, mas não acompanhou a execução das obras;
7. a boate foi notificada para fechar as portas em 1º de agosto de 2009, devido à
falta do alvará de localização;
8. em vez de ser fechada, a boate foi somente multada, pelo menos quatro vezes,
entre agosto e dezembro de 2009;
9. as multas foram aplicadas sucessivamente sem que o alvará fosse expedido e
com a boate continuando a funcionar;
10. o alvará de localização foi finalmente expedido em 14 de abril de 2010, depois
de oito meses de funcionamento;
11. a fiscalização da prefeitura fez uma vistoria em 9 de abril de 2012 e descobriu
que o alvará de incêndio estava prestes a vencer;
12. nenhuma providência foi tomada.

A primeira notificação foi feita em 1º de agosto de 2009, por uma fiscal da prefeitura.
Era uma instrução para fechar as portas, nestes termos: "Cessar as atividades até a
regularização junto ao município e apresentar alvará no prazo de cinco dias a contar da
data da notificação". A empresa continuou funcionando e a mesma fiscal retornou em
agosto, aplicando a primeira multa em 8 de setembro de 2009. Um mês depois, em 7 de
outubro, a boate seguia aberta sem alvará e sem interdição, tendo sido aplicada a
segunda multa. A terceira multa foi aplicada em 27 de novembro de 2009, depois que
fiscais verificaram que a boate continuava em operação no dia 10 do mesmo mês. E a
quarta multa foi aplicada em 11 de dezembro de 2009, devido ao descumprimento da
notificação original, mas a casa noturna não sofreu o lacramento.

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

11.9.6. Resgate e atendimento das vítimas


O incêndio teve ao todo 242 vítimas fatais. Destas, 235 morreram no dia do incêndio, a
maioria asfixiada pela fumaça que tomou conta do ambiente interno, e sete nos meses
seguintes, após atendimento hospitalar. Diversas vítimas fatais, dentre elas oito
militares, participaram do resgate de vítimas inconscientes da boate. Bombeiros
relataram que, ao retirarem os corpos, ouviram os celulares das vítimas tocarem
"ininterruptamente", significando que seus parentes e amigos tentavam se comunicar.

Em 3 de fevereiro, o médico Marcelo Cypel, que morava no Canadá e era diretor do


programa de suporte pulmonar extracorpóreo da Universidade de Toronto, veio ao
Brasil para prestar tratamento especializado aos pacientes internados por pneumonite,
que naquele momento ainda totalizavam 113, dos quais 72 em estado grave. A técnica
de ventilação extracorpórea proposta pelo médico permitia uma regeneração do pulmão
a partir do próprio sangue do paciente e seria viabilizada por um equipamento doado por
uma empresa alemã.

O chefe da unidade de endoscopia respiratória do Hospital de Clínicas de Porto Alegre,


Hugo Goulart de Oliveira, acreditava que os pacientes logo não precisariam mais de
respiradores artificiais. O mais difícil foi lidar com a complexidade da intoxicação por
cianeto, de manejo pouco solucionado entre os médicos. Como se suspeitava, a
hidroxocobalamina, medicamento trazido dos Estados Unidos, não foi eficaz nos
pacientes devido ao início tardio. O tratamento se dividiu em três fases, a primeira foi
dar suporte de respiração ao organismo por causa do monóxido de carbono e do cianeto,
que causam parada respiratória. A segunda fase consistiu em introduzir um endoscópio
nas vias aéreas para remover a fuligem dos pulmões, que causaria grandes
complicações, e a terceira fase foi lidar com as sequelas, como infecções e fibrose
pulmonar.

O maior temor dos médicos era o desenvolvimento de câncer nas vítimas sobreviventes,
o que poderia aumentar muito o número de mortos com a passagem dos anos. Uma
pesquisa conduzida pela Universidade de Cinccinatti mostrou que bombeiros têm risco
ampliado para tumores de testículo e próstata, além de linfomas e mieloma múltiplo.
Além disso, as pneumopatias benignas, como fibrose pulmonar difusa, fibrose
intersticial e enfisema, que foram sequelas pulmonares do incêndio, aumentam a chance
de câncer. A população exposta aos gases tóxicos liberados no incêndio teria que ser
monitorada por vários anos, até mesmo para melhor compreender os efeitos tardios do
cianeto no organismo.

11.9.7. Vistoria de boates e revisão da legislação no Brasil


Especialistas passaram a defender uma legislação única para prevenir eventos
semelhantes. Naquele momento, o poder executivo municipal fiscalizava os aspectos
gerais do projeto arquitetônico e os bombeiros vistoriavam o plano de combate a
incêndios. O acidente da boate denunciou a fragilidade desse sistema tendo em vista que
a legislação municipal, mais flexível, foi utilizada no lugar da legislação estadual contra
incêndios, que exigia, por exemplo, a existência de duas portas em boates. Uma
consequência constrangedora foi o jogo de empurra-empurra entre as autoridades após o
incêndio, cada qual tentando transferir a responsabilidade para as outras.

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11.9.8. Inquérito policial e prisão dos suspeitos


Autoridades afirmaram inicialmente que a maioria das vítimas não morreu em
decorrência de queimaduras, mas sim de asfixia pelo monóxido de carbono presente na
fumaça que tomou conta do ambiente interno; outras foram pisoteadas. A reconstituição
do evento foi feita na tarde de 30 de janeiro. Sobreviventes relataram que o incêndio
começou com o sinalizador, que atingiu o teto e causou uma fumaça negra que
obscureceu o ambiente em poucos minutos, impedindo o público de enxergar a saída.

Muitos viram a luz verde do banheiro e pensaram que fosse a saída, por isso tantos
morreram nesse local. Além disso, confirmou-se que o teto da boate foi rebaixado para
instalar a espuma acústica, inflamável e vedada por lei municipal, depois de
reclamações dos vizinhos contra o barulho da boate. O alvará emitido pelo Corpo de
Bombeiros para o funcionamento da casa estava vencido desde agosto de 2012.

Nota para compreensão do texto: existem dois tipos de alvará, um concedido pelos
bombeiros e outro concedido pela prefeitura, com exigências diferentes.

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Apostila HIST – André Bezerra dos Santos

11.9.9. Principais itens da conclusão


1. O fogo teve início por volta das 3 horas da madrugada do dia 27 de janeiro, no canto
superior esquerdo do palco.

2. Ele foi deflagrado por uma faísca de fogo de artifício empunhado por um integrante
da banda Gurizada Fandangueira.

3. O extintor de incêndio, localizado ao lado do palco da boate, não funcionou no


momento do início do fogo.

4. A boate Kiss apresentava uma série das irregularidades quanto aos alvarás.

5. Havia superlotação: no mínimo 864 pessoas estavam no interior da boate.

6. A espuma utilizada para isolamento acústico era inadequada e irregular, feita de


poliuretano.

7. As grades de contenção existentes na boate atrapalharam e obstruíram a saída de


vítimas.

8. A boate tinha apenas uma porta de entrada e saída.

9. Não havia rotas adequadas e sinalizadas para a saída em casos de emergência.

10. As portas apresentavam unidades de passagem em número inferior ao necessário.

11. Não havia exaustão de ar adequada, pois as janelas estavam obstruídas.

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