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All content following this page was uploaded by C. S. M. Bandini on 26 May 2014.
Introdução
1
Elaboração do trabalho financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo -
FAPESP, processo 0309928-4.
2
Departamento de Filosofia e Metodologia das Ciências da Universidade Federal de São Carlos. E-mail
para contato: cbandini@superig.com.br. Auxílio financeiro: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
de São Paulo – FAPESP.
3
Departamento de Psicologia da Universidade Federal de São Carlos. E-mail para contato:
juliocderose@yahoo.com.br
porque salienta que os pressupostos basais desta tecnologia advêm dos resultados obtidos
dentro do escopo de uma ciência que tem como principais características a determinação e a
possibilidade de previsão e controle de seu objeto, o comportamento.
Para entendermos a proposta tecnológica skinneriana, então, devemos voltar
nossa atenção para algumas noções resultantes do estudo do comportamento, sendo a
principal delas, para nossos objetivos neste texto, a noção de condicionamento operante. Isso
porque é da noção de condicionamento operante que podemos extrair três princípios básicos
da tecnologia educacional skinneriana, a saber, 1) as conseqüências de um comportamento
interferem na probabilidade de emissão futura de comportamentos de uma mesma classe, 2)
comportamentos desejados e devidamente reforçados podem ser favorecidos e
comportamentos indesejadas podem ser eliminados de acordo com as leis do reforço e 3) os
diferentes esquemas de reforço podem tornar um comportamento forte ou fraco no repertório
do indivíduo.
Mais que isso, como a tecnologia é vislumbrada dentro da perspectiva do
condicionamento operante, devemos entender que a aprendizagem somente pode ser
compreendida dentro das relações estabelecidas em uma contingência de reforço. Dito de
outra forma, é necessário levar em conta a ocasião em que uma resposta ocorre, a própria
resposta e as conseqüências desta resposta, ou seja, as relações estabelecidas entre um
estímulo discriminativo e a resposta e entre a resposta e sua conseqüência. É a manipulação
destas relações que permite o desenvolvimento das técnicas sugeridas por Skinner e que
serão aqui analisadas.
Para Skinner (1968), o ensino é definido como sendo o arranjo de contingências
de reforço. Em contato com o ambiente, um indivíduo aprende sem ser ensinado; porém se
falamos de ensino devemos falar de arranjos programados de contingências que geram as
respostas desejadas. Levando-se em consideração o condicionamento operante, segundo
nosso autor, contingências podem ser planejadas para que: 1) operantes que não apareceriam
naturalmente no repertório do indivíduo, pelo menos não imediatamente, possam ser emitidos
(estabelecimento de um repertório), 2) as propriedades temporais ou de intensidade de um
operante sejam alteradas, 3) operantes possam ser colocados sob controle de determinados
estímulos e, por fim, 4) para a manutenção do repertório adquirido (depois que um operante foi
estabelecido, ele pode se manter forte mesmo quando a freqüência de reforçamento é
gradualmente reduzida).
A tecnologia daí derivada é, então, o planejamento das contingências de reforço
que estabeleçam repertórios comportamentais, que no caso a ser abordado neste texto, devem
ser repertórios educacionais. Neste plano, podemos destacar duas formas tecnológicas
diferentes apresentadas por Skinner (1968), porém que se completam: as máquinas de ensinar
e a instrução programada.
Para Skinner (1968), uma máquina de ensinar é um dispositivo que implementa
a instrução programada. Nas palavras do próprio autor, uma máquina de ensinar é “qualquer
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artefato que disponha contingências de reforço” (p. 65) . Existem diferentes formas de
aparatos, assim como existem diferentes formas de contingências a serem planejadas para os
diferentes tipos de material a ser ensinado. Contudo, algumas características fundamentais
são necessárias e devem ser asseguradas pelas contingências planejadas. A primeira delas é
a de que o material deve fornecer oportunidades para que o aprendiz responda e deve
propiciar o reforço imediato da resposta correta. Em seguida, considera-se que tal material
deve ser planejado de forma que as respostas a serem dadas pelo aluno dependam das
respostas dadas anteriormente, ou seja, deve ser estabelecida uma modelagem da resposta
complexa final. Esta característica é importante em um ensino eficaz porque a aquisição de
comportamentos complexos envolve passos de considerável extensão e sendo assim, os
passos a serem dados devem ser pequenos para que possam ser dados com esforço mínimo e
com menores chances de erros ao mesmo tempo em que devem encaminhar o comportamento
do aluno à aquisição do comportamento complexo final. Por fim, o material, caso não seja
naturalmente reforçador, deve permitir o uso de reforços suplementares.
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Da maneira como foi definida, uma máquina de ensinar pode assumir diferentes formas. Por exemplo,
um livro que contenha material programado de ensino ou um computador que exiba um programa
também de instrução programada, podem ser, desta perspectiva, uma máquina de ensinar. Não
necessariamente, portanto, uma máquina de ensinar precisa se aproximar em seu aspecto físico das
máquinas descritas por Skinner em seu livro Tecnologia do Ensino (1968) ou de qualquer outra de suas
publicações.
Algumas vantagens de um ensino assim delineado, quando comparado ao
ensino tradicional das salas de aula, são apontadas por Skinner (1968). Em primeiro lugar,
tem-se que, se programada da maneira descrita, uma máquina de ensinar mantém um aluno
em atividade contínua, pois o intercâmbio entre o programa e o estudante não termina.
Consideramos que assim minimizam-se as situações em que, por um motivo ou por outro, o
aluno fica sem qualquer tarefa em sala de aula, podendo-se assim otimizar o tempo de estudo:
o aluno poderia dispensar menos horas em sala e, ao mesmo tempo, permanecer na escola
para outras atividades como as de recreação, de convívio social etc. Outra vantagem da
instrução programada é que o uso da máquina permite que um dado ponto seja completamente
entendido, para que o aluno possa prosseguir. A progressão pode ser feita, por exemplo,
5
quadro a quadro , onde o aluno não avança para o quadro seguinte caso não tenha respondido
corretamente o quadro atual ou em séries de respostas, onde o aluno volta a responder as
questões que respondeu de forma incorreta após responder todo um bloco de quadros. Mais
que isso, a máquina somente apresenta ao aluno material didático para o qual ele está
preparado e, sendo assim, o aluno somente dá o passo no momento em que tem uma ampla
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gama de condições de dá-lo, minimizando os erros do estudante . Por fim, a máquina permite
reforço imediato que modela e mantém fortes as respostas desejadas.
Com todos estes requisitos, o aluno avança de acordo com seu próprio ritmo,
não ficando exposta às conseqüências aversivas de “ficar para trás” quando não acompanha o
ritmo dos demais alunos. Ao mesmo tempo, diferente do que acontece em uma sala de aula
comum, a máquina é capaz não somente de apresentar um número ótimo de contingências
para o ensino de um determinado assunto, número este que segundo Skinner (1968) supera
em muito o número que uma professora pode planejar em um ambiente educacional
tradicional, como também pode reforçar todas as respostas emitidas pelo aluno. Neste último
caso, o ensino assim apresentado propicia não somente o estabelecimento do repertório
desejado por meio de reforçamento por aproximações sucessivas, mas permite manter as
respostas dadas anteriormente com alguma força no repertório do estudante.
Outra vantagem apontada por Skinner (1968) é a de que o aluno é a autoridade
final do programa. Como o acompanhamento pode ser feito passo a passo, é possível
identificar quais são os passos que eventualmente provocam erros constantes e quais as
seqüências de respostas exigidas que necessitem ser ampliadas. Isso significa dizer que, de
fato, uma situação como essa permite um ensino realmente individualizado, que supera em
muito as possibilidades de ensino individualizado conseguidas por uma professora.
Contudo, a esta altura de nossa apresentação uma pergunta torna-se pertinente:
uma tecnologia que facilita tanto as tarefas dos alunos não estaria contribuindo para criar
alunos incapazes de pensar? Uma “máquina de ensinar” poderia ensinar um aluno a pensar
ou, mais que isso, poderia gerar alunos criativos? Essas perguntas podem ser analisadas
quando consideramos o pensar e o criar na concepção skinneriana.
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Usualmente o material programado é disposto em uma máquina de ensinar na forma de “quadros”.
Cada quadro corresponde à apresentação de material (informações, diagramas, figuras, etc.) que requer
um tipo de resposta do aluno. Dependendo do tipo de máquina utilizada, a resposta pode ser oral, escrita,
de apontar, etc. Um computador é, portanto, um tipo de máquina de ensinar bastante interessante porque
facilmente pode dispor o material programado na forma de quadros.
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Pesquisas na área de ensino mostram que contingências de reforço podem ser dispostas de forma a
minimizarem os erros dos alunos e que, como resultado, garantem um ensino mais eficiente. O ensino de
discriminação por meio de procedimento de fading in, por exemplo, pode ser considerado um
procedimento deste tipo: o comportamento do aluno de responder a um determinado estímulo é modelado
e, em seguida, um novo estímulo vai sendo introduzido de forma muito gradual (o estímulo pode aparecer
esmaecido e seus contornos podem ir sendo mais bem definidos até que se tornem bem nítidos, por
exemplo). Ao final do processo, o aluno consegue responder corretamente também diante do novo
estímulo. Um estudo clássico que utiliza tal procedimento é de Sidman e Stoddard (1967), inclusive
citado por Skinner (1968), no qual indivíduos com retardo mental foram ensinados a discriminar círculos
de elipses. Inicialmente, o procedimento modelou a resposta dos participantes em responder ao círculo
que aparecia sozinho em uma tela. Depois de modelada esta resposta, oito elipses esmaecidas iam sendo
apresentadas simultaneamente e gradativamente, a cada tentativa, seus contornos iam se tornando nítidos.
Ao final do programa de ensino, os alunos respondiam corretamente pressionando o círculo mesmo diante
das elipses. Para maiores esclarecimentos ver Stoddard e Sidman, 1967; Sidman e Stoddard, 1967;
Skinner, 1968 e Stoddard, de Rose e Mcllvane, 1986.
2 - Desconstruindo os conceitos de pensamento e de criatividade
7
Não queremos com isso, afirmar que exista qualquer forma de indeterminação do comportamento.
Apenas Skinner entende que novos arranjos ambientais podem ocorrer acidentalmente (um vidro de tinta
cair sobre uma tela em branco, formando um desenho) e, podem produzir novas respostas, inclusive
respostas criativas. Dito de outra forma, contingências necessárias podem ser acidentais no sentido de
não serem planejadas. Contudo a determinação do comportamento, ou seja, sua relação com um estímulo
discriminativo e com suas conseqüências, continua preservada.
por Skinner (1968): um aluno que consegue repetir palavra por palavra um texto apresenta o
comportamento que, em geral, é reforçado pelos professores em uma situação tradicional de
ensino. Contudo, o autor comenta que este tipo de comportamento não é, na maioria das
vezes, facilmente generalizável, porque depende de estimulação muito específica. Ao
contrário, o comportamento do aluno que reproduz mal o que leu, porque leu superficialmente,
tende a ser mais generalizável e a produzir maior originalidade. Dois caminhos seriam
interessantes neste caso: 1) o ensino da leitura que habilitasse o aluno a reproduzir o conteúdo
de um texto e, 2) seria interessante que o ensino pudesse também contemplar as relações de
controle estabelecidas quando o aluno lê mal ou superficialmente um texto, ou seja, contemplar
as relações de controle estabelecidas durante uma leitura superficial, e ensinar isto de forma
direta. Não queremos, em (2), dizer que deveríamos ensinar um aluno a ler superficialmente
um texto, mesmo porque, um argumento deste tipo contrariaria o objetivo expresso em (1).
Queremos dizer que, se desejamos um repertório facilmente generalizável, é necessário que
relações de controle como as encontradas em (2) sejam analisadas e, então, ensinadas. O
ensino assim proposto garantiria que o aluno pudesse ler estritamente sob controle do
conteúdo do texto e também que em algumas situações pudesse ler de forma a estabelecer um
controle mais fraco pelo conteúdo do texto, a fim de produzir respostas passíveis de serem
utilizadas em novas situações.
Outra característica importante para uma Educação que busque originalidade é
o encorajamento de produção de quantidade de comportamento. Uma cultura conseguirá
produzir bons compositores, possivelmente, se incentivar muitos de seus membros a compor
ou bons jogadores de xadrez se incentivar que muitos joguem xadrez. Essa quantidade de
comportamento também vale para o comportamento de um indivíduo simplesmente. Se um
pintor deseja um bom quadro, terá maior probabilidade de consegui-lo se produzir muitos
quadros. Uma grande obra de um pintor como Picasso, diz Skinner, é fruto de uma vida inteira
de pinturas (Skinner, 1968). Nestes casos, contudo, poderíamos questionar se este argumento
se aplicaria também a um pintor comum ou medíocre: se ainda assim originalidade (ou a
“genialidade” de Picasso) poderia ser produzida pelo encorajamento da quantidade. Há, por
exemplo, dezenas de pintores, compositores, escritores ou artistas que produziram uma grande
quantidade de materiais que não são, porém, nem interessantes e nem sequer originais.
Todavia, a questão que se coloca aqui não parece ser essa. O que Skinner indica é que
contingências que induzam a quantidade de comportamento podem favorecer o aparecimento
de novas respostas porque podem favorecer novos arranjos ambientais, ou podem favorecer
um repertório controlado por uma gama maior e mais ampla de estímulos, favorecendo assim
generalização e novas combinações de comportamentos. Skinner (1968) com a palavra:
3. Conclusão
4. Referencias