Vous êtes sur la page 1sur 8

RELIGIÃO E DIVERSIDADE SEXUAL: (IM)POSSIBILIDADES DE DIÁLOGO

Raimundo Márcio Mota de Castro


Doutor em Educação / Pós-doutorado em Educação Escolar e Religião
Universidade Estadual de Goiás (UEG) – Programa de Pós-Graduação Interdisciplina em
Educação Linguagem e Tecnologias (PPG-IELT)
prof.marcas.posgrad@gmail.com
ST 22 - Educação, religião e direitos humanos: diálogos interdisciplinares sobre a diversidade
sexual e de gênero
Agência Financiadora: FAPEG

Resumo
O presente artigo apresenta-se como primeiras anotações de uma pesquisa em curso na qual se
busca compreender as práticas e discursos religiosos ligados ao tema da diversidade sexual a
partir de (auto)biografias de sujeitos LGBT. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, descritiva e
teórica que pretende, por meio da revisão bibliográfica, elucidar termos que possibilitem
entender as (im)possibilidades dialogais entre essas categorias. Percebe-se inicialmente que a
religião é definidora de formar de vida, de discursos e práticas que podem conduzir a
libertação ou opressão, a tolerância ou a intolerância, ao entendimento ou preconceito no que
se refere a diversidade sexual. Por fim, compreende-se que seja necessário empenho e
abertura para o diálogo no qual se busque compreender as dimensões da vida, seja sexual, seja
religiosa, como partes que compõem o todo do ser humano.

Palavras-chave: diversidade; religião; conceitos; iniciativas religiosas; discursos.

Introdução
Nestas duas primeiras décadas do século XXI, tem despontado no Brasil, intensos e
relevantes debates sobre a temática da diversidade sexual. Localizamos tais discussões como
reverberação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada após a segunda
guerra mundial, em 1948, que entre suas finalidades promoveu o reconhecimento da
diversidade em toda a sua amplitude. Ainda que o texto da Declaração não fale explicitamente
da diversidade sexual, coloca todos os seres humanos em situação de igualdade, devendo-lhes
ser repeitados independentemente de suas condições e/ou situações contingenciadas pelas
mais diversas situações socioculturais.
Apesar da ampla discussão em diversos seguimentos sociais, sobre as temáticas
relacionadas a diversidade sexual, verifica-se enorme resistência em considerar a realidade,
principalmente por seguimentos mais reacionários que por força de suas crenças rechaçam
qualquer possibilidade de promover políticas públicas que atendam grupos minoritários, como
os LGBTs. A Constituição Federal de 1988, não declara tacitamente o princípio da laicidade
do Estado, no entanto ao defender o direito a igualdade e a liberdade religiosa, a Carta Magna,
garante a neutralidade do Estado em matéria religiosa e a não profissão de uma religião oficial
como se observava na Constituição do Império, que explicitava o Catolicismo romano como
religião oficial, deixa evidente esse princípio.
O modelo de laicidade do estado brasileiro garante que toda e qualquer pessoa, possa
professar sua crença tendo tal prerrogativa garantida e protegida pelo Estado. Mas apesar do
princípio da laicidade, entendido pela maioria dos juristas brasileiros, tem-se observado a
constante aproximação entre religião e Estado (VITAL; LOPES, 2012). Ao que nos parece
trata-se de uma relação construída historicamente, posto que apesar da separação entre Igreja
Católica e Estado Brasileiro ocorrida, oficialmente com a proclamação da república, percebe-
se que as relações entre essas esferas permaneceram oficiosas em todo o período republicano.
Atualmente, existe um grande movimento de igrejas cristãs que elegem seus representantes
para o parlamento a fim de que os mesmos defendam suas ideologias e pensamentos
religiosos, não se preocupando com os demais grupos religiosos e sociais.
O presente artigo, esboço teórico da pesquisa em andamento, intitulada “Diversidade,
Educação e Religião: narrativas e (auto)biografias”, em curso no Programa de Pós-graduação
Interdisciplina em Educação Linguagem e Tecnologias (PPG-IELT), da Universidade
Estadual de Goiás, tem por finalidade refletir sobre as (im)possibilidades em travar um
diálogo entre a religião (principalmente cristã) e a diversidade sexual, haja vista a resistência
em acolher tal debate de forma aberta e sem preconceitos. Trata-se de uma pesquisa
qualitativa, descritiva, teórica e de revisão de literatura apoiada em autores que contribuem
para compreender conceitos importantes na constituição do corpus teórico, que se encontra
aberto e em fase de aprofundamento.

Religião e diversidade sexual: construindo conceitos


Para iniciar este diálogo, achamos pertinente começar pelo entendimento de dois
conceitos essenciais: religião e diversidade sexual. No que se refere a diversidade sexual, não
encontramos grande problemas, mas reconhecemos as dificuldades em elaborar um conceito
que possa dar a totalidade do que seja religião. Em sua etimologia, a palavra religião origina-
se do latim e poder ser entendida sobre a tríade: religar, reler ou reeleger. O prefixo re das três
significações possibilitar pensar em instaurar uma segunda vez, ligar novamente, ler de novo.
È importante mencionar que nas três possibilidades, encontra-se a relação humanidade versus
divindade. Para Durkheim (1989, p. 49), a religião “é um sistema unificado de crenças e de
práticas relativo a coisas sagradas […] que unem os seus aderentes numa comunidade moral
única denominada igreja”. Esta mesma ideia é corroborada por Houtart (1982, p. 7) ao afirmar
que se trata de “uma formalização influenciada pela cultura de uma sociedade, uma
instrumentalização do vinculo em causa (ritos e sacramentos) e uma organização enquanto
Igreja”.
Ao analisar a religião conceitualmente, Coutinho (2012) aponta haver grande
dificuldade em se estabelecer um consenso e apresenta uma lista de cientistas sociais que se
debruçaram sobre o fenômeno religioso e buscaram conceituar religião. No entanto todos
esbarraram no entendimento do que objeto a ser tratado, ou seja, da forma de relação que o ser
humano estabelece com a divindade, sobressaindo o sentido de algo que está além da
realidade humana. No entanto, o autor chama atenção para o fato de que o contexto cultural é
determinante para entender a definição de religião.

Nas sociedades ocidentais, onde se associa a religião à relação com algo


transcendente, ela é sistema mediador entre o homem e entidades superiores.
O Ocidente, altamente marcado pela cultura judaico-cristã, releva o Deus
único e transcendente. Nas sociedades orientais, budistas e hinduístas, a
transcendência não está presente, mas antes o panteísmo, um deus em tudo.
Assim, a religião não é ligação a algo superior e transcendente, mas à própria
natureza, a todos os seres vivos (COUTINHO, 2012, p.176).

É importante notar que a religião possui um caráter formativo no individuo posto que
ao ser um sistema, torna-se um dispositivo que promove uma forma coletiva de viver. Assim,
a religião, torna-se “dispositivo ideológico, prático e simbólico pelo qual é constituído,
mantido, desenvolvido e controlado o sentido individual e colectivo da pertença a uma
linhagem crente particular” (HERVIEU-LÉGER, 2005, p. 31). Tal pensamento vem ao
encontro do pensamento de Durkheim (1989), que nos possibilita entender que as religiões
enquanto instituições sociais definem papéis que condicionam o comportamento individual.
Ao que nos parece, esse entendimento nos é esclarecedor para perceber como grupos
religiosos e os indivíduos ligados a esses grupos, elaboram suas ideologias e discursos em
torno da temática da diversidade sexual. Por ideologias entendemos os sistemas de ideias,
doutrinas e visões de mundo, tornando-se instrumento de domínio e mudança (COUTINHO,
2012).
O segundo conceito a ser pensado por nós, neste trabalho, é o de diversidade sexual.
No entanto para compreender tal conceito se faz necessário o entendimento de três outros
correlacionados, a saber: sexo biológico, identidade de gênero e orientação sexual.
Inicialmente, compreendermos por sexo biológico os aspectos constituídos por características
fenotípicas como é o caso dos órgãos genitais externos, órgãos reprodutores internos, etc. e
genotípicas (genes masculinos ou femininos) presentes nos corpos. Deste modo, a
combinação de cromossomos X e Y são capazes de produzir naturalmente dois sexos: macho
(pela combinação dos cromossomos XY) e fêmea (pela combinação do cromossomo XX),
mas não desconhecemos que alterações nessa combinação pode produzir outra via como é o
caso de pessoas que nascem com os dois órgãos genitais (intersexuais ou hermafroditas).
Logo, todos nós, estaremos condicionados a essas combinações cromossômicas.
Para Barreto; Araújo; Pereira (2009, p. 43), identidade de gênero “diz respeito à
percepção subjetiva de ser masculino ou feminino, conforme os atributos, os comportamentos
e os papéis convencionalmente estabelecidos para homens e mulheres”. Ainda segundo essas
autoras,

O conceito de gênero foi elaborado para evidenciar que o sexo anatômico


não é o elemento definidor das condutas da espécie humana. As culturas
criam padrões que estão associados a corpos que se distinguem por seu
aparato genital e que, através do contato sexual, podem gerar outros seres:
isto é a reprodução humana. [...] Ter um corpo feminino não significa que a
mulher deseje realizar-se como mãe. Corpos designados como masculinos
podem expressar gestos tidos como femininos em determinado contexto
social, e podem também ter contatos sexuais com outros corpos sinalizando
uma sexualidade que contraria a expectativa dominante de que o “normal” é
o encontro sexual entre homem e mulher (BARRETO; ARAÚJO;
PEREIRA, 2009, p. 42).

A ABGTL (2010, p. 10 apud JUNQUEIRA; KLUCK; SCHLÖGL, 2015, p. 63)


entendem que:

Orientação sexual é um termo e refere-se á capacidade de cada pessoa ter


uma profunda atração emocional, afetiva ou sexual por indivíduos de
gêneros diferentes, do mesmo gênero ou de mais de um gênero, assim como
ter relações íntimas e sexuais com essas pessoas.

Xs autorxs, apesar de apresentarem tipos preponderantes de orientação sexual:


heterossexual, bissexual e homossexual, reconhecem haver outras tantas possibilidades de
orientação sexual. Ao compreender essas distintas orientações, Kamel (2008, p. 20) define
diversidade sexual como “um termo utilizado para definir as múltiplas expressões da
sexualidade. Como o próprio nome diz, não existe um padrão que possibilite definir o
envolvimento afetivo e sexual de um indivíduo em relação ao outro”.
Neste sentido, se faz necessário compreender que se trata de uma íntima manifestação
da pessoa, e deste modo deve ser respeitada como um direito inalienável, posto que todos e
cada um possam relacionar-se, erótica e/ou afetivamente, livre de qualquer constrangimento,
com qualquer outra pessoa.
Tais entendimentos são necessários para a construção de um diálogo possível entre as
religiões e a diversidade sexual.

Religião e diversidade sexual: ponto e contraponto


Compreendermos que cada religião possui seus sistemas doutrinários próprios e que
alguns desses sistemas mostram-se mais tolerantes e acolhedores do que outros. Deste modo,
compreendemos as (im)possibilidades de dialogar com as diferenças. Inclusive percebemos
que as diversidades tem sido promotora de intolerâncias que vão desde a questão étnico-
racial, passam pela crença (ou não crença) e culminam nas questões referentes a sexualidade.
Reconhecemos que a constituição dos povos, em particular do povo brasileiro,
apresenta-se como amalgama de culturas, religiosidades, religiões, etnias que forjaram a
formar de lermos o mundo, vivermos em sociedade, compreendermo-nos diante das inúmeras
possibilidades de convivência. Muitas dessas possibilidades, centradas em visões, discursos e
ideias de grupos que em vez de operar e instaurar processos libertadores ocupa-se em
reproduzir formas de opressão, alienação e dependência. Martini (1995, p. 35) chama tal
fenômeno de dogmatismo ou domestificação do sagrado, entendendo que por essas atitudes
“indivíduos e grupos se projetem numa ilusória infinitude ao pretenderem realizar em si
próprios a totalidade”, fato que conduz a uma postura de fechamento, exclusão e preconceito.
Neste sentido, percebe-se multiplicar discursos que incitam a intolerância religiosa e sexual,
colocando esta ultima como perversão da normalidade. Estabelecer um diálogo entre o
“normal” e o “diverso”, tem apresentado-se como a maior impossibilidade de promoção de
diálogos que seja capaz de apontar caminhos salutares para situações sempre presentes na
vida da sociedade, apesar dos silenciamentos impostos.
Ao passo que alguns grupos tornam-se mais fechados, temos percebido iniciativas
plurais em relação a religião e diversidade sexual, seja dentro da própria denominação
religiosa, seja por denominações distintas. No que se refere às denominações de matriz cristã,
ainda que se perceba um recrudescimento da maioria, percebe-se um movimento no interior
dos próprios grupos que, contrariando a normatividade, flexibilizam e possibilitam pensar a
situação da diversidade sexual (NATIVIDADE; OLIVEIRA, 2007). Ao passo que as
instituições tradicionais não conseguem dialogar com os grupos de “minorias sexuais” vemos
iniciativas que incorporam novas hermenêuticas.

Um caso privilegiado dessas vertentes minoritárias pode ser identificado na


recente emergência de um movimento de “igrejas inclusivas”, liderado por
pastores que se identificam como gays e lésbicas. Noticiados pela mídia
como “igrejas gays”, esses grupos formulam uma teologia que reinterpreta a
proibição da homossexualidade, considerando esta “orientação sexual” uma
“criação de Deus”, uma bênção divina, e não mais um “pecado” (Natividade,
2008). Como exemplos, poderíamos citar a Igreja da Comunidade
Metropolitana do Brasil, aComunidade Cristã Nova Esperança, a Igreja
Cristã Evangelho para Todos, a Comunidade Betel do Rio de Janeiro e a
Igreja Cristã Contemporânea, sediadas nas cidades do Rio de Janeiro e São
Paulo. Há registros de igrejas, missões, grupos e células localizados em
diversas outras unidades da federação, como Belo Horizonte, Rio Grande do
Sul, Salvador, Vitória, Brasília, Fortaleza e Paraná (NATIVIDADE;
OLIVEIRA, 2009, on-line).

Não desconhecemos que essas iniciativas tentem a discursos heteronormativos ao


defenderem práticas monogâmicas e colocarem-se como combatentes a promiscuidade, mas
reconhecemos que no que diz respeito a aproximação e aceitação de grupos de minorias
sexuais, já apresenta-se como certo avanço.

Considerações finais
Percebemos que a religião encontra-se presente nas mais diversas sociedades, como
instituição definidora de discursos e práticas. No entanto, a atualização desses discursos e
praticas, aos poucos tem sido pensadas e atualizadas. Um exemplo, que podemos citar é a
situação dos exercícios exéquiais para suicidas. Há alguns anos passados, compreendia-se o
suicídio como maldição; o suicida não tinha direito, sequer, a ser enterrado em cemitério
comum. Tal prática fora modificada graças aos avanços dos estudos de outras ciências que
contribuíram sobremaneira com as interpretações teológicas permitindo novas possibilidades.
Esperamos também que iniciativas que debatam a questão da diversidade sexual
possam ser incorporadas nas agendas das religiões, principalmente aquelas de matriz cristã,
que congregam grande parte da população brasileira, deste modo, poderíamos ver debates
amadurecidos construído de forma inteligente e tolerante.

Referências
BARRETO, Andreia; ARAÚJO, Leila; PEREIRA, Maria Elisabete. Gênero e diversidade na
escola: formação de professoras/es em Gênero, Orientação Sexual e Relações Étnico-Raciais.
Livro de conteúdo. Versão 2009. Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília:SPM, 2009.

COUTINHO, José Pereira. Religião e outros conceitos Sociologia, Revista da Faculdade de


Letras da Universidade do Porto, Vol. XXIV, 2012, p. 171-193.

DURKHEIM, Émile. As formas elementares da vida religiosa. São Paulo: Edições


Paulinas, 1989.

HOUTART, François. Religião e modos de produção pré-capitalistas. São Paulo: Edições


Paulinas, 1982.

JUNQUEIRA, Sérgio Rogério de Azevedo; KLUCK, Claudia Regina; SCHLÖGL, Emerli.


Amor sacralizado e amor bandido: gênero, orientação sexual e espiritualidade. Curitiba:
Editora CRV,2015.

KAMEL, Luciana. Diversidade sexual nas escolas: o que os profissionais de educação


precisam saber. Rio de Janeiro: ABIA, 2008.

MARTINI, Antonio et al. O humano, lugar do sagrado. 2 ed. São Paulo, SP: Editora Olho
d’Água, 1995.

NATIVIDADE, Marcelo; OLIVEIRA, Leandro de. Religião e Intolerância à


Homossexualidade: tendências contemporâneas no Brasil”. In: SILVA, Vagner
Gonçalves.Impactos do neopentecostalismo no campo religioso afro-brasileiro. São Paulo:
Edusp, 2007.

________. Sexualidades Ameaçadoras: religião e homofobia(s) em discursos evangélicos


conservadores. Sexualidad, Salud y Sociedad - Revista Latinoamericana, Norteamérica, 0,
ago. 2009. Disponivel em: <http://www.e-
publicacoes.uerj.br/index.php/SexualidadSaludySociedad/article/view/32/445>. Acesso: 5 jul.
2016.

VITAL, C.; LOPES, P. V. L. Religião e política: uma análise da atuação de parlamentares


evangélicos sobre direitos das mulheres e de LGBTs no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação
Heinrich Böll, 2012.

Vous aimerez peut-être aussi