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GIOVANNI SARTORI
)
1 FUNDAÇÃO UNIVERSlDADE DE BRASÍLIA
CONSELHO DIRETOR
)
) 1 Abllio Machado Filho
Amadeu Cury
)
)
1 Aristides Azevedo Pacheco Leão
Isaac Kersrenerzky PARTIDOS E
)
) '1 j osé Carlos de Almeida Azevedo
José Carlos Vieira de Figueiredo
josé Ephim Mindlin
josé Vieira de Vasconcellos
SISTEMAS
)
) Reitor: josé Carlos de Almeida Azevedo
PARTIDÃRIOS
Vice- Rátor: Luiz Otávio Moraes de Sousa Carmo

't
_)
Prefácio do Autor à Edição Brasileira
) I; EDITORA lJNiVERSIDADE DE BRAS!L!A
. ) r CONSELHO EDITORIAL
Apresentação de
) Afonso Arinos de Melo Franco !\ DAVID FLEISCHER
) Arnaldo Machado Carnargo Filho
do Departamento de Ciencias Sociais,
Cândido Mendes de Almeida..•
' ) Universidade de Brasília
Carlos Castello Branco '
")
f'»
1 !'
Geraldo Severo de Souza Ávila
Heitor Aquino Ferreira
Tradução:
Hélio jaguaribe •
r) Waltensír Outra
josaphat Marinho
() José Francisco Paes Landim Revisão Técnica:
José Honório Rodrigues Antonio Monteiro Guimarães
r ) l Pr ofessor do Departamento de
Luiz Viana Filho',,
. Sociologia e Políti~. PUC-RJ
' ) Miguel Reale &-
Octaciano Nogueira~
r )
Tércio Sampaio Ferraz júnior
' )

f Vamireh Chacon de Al b uquerque Nascimento

"")
r)
! Vicente de Paulo Barretto

Pr,·wf,·ntr Ca rlos ti ennque Card1m . _


ZAHAR EDITORES
RIO DE JANEIRO
'") EDITORA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
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(J
Copyright© l 976 by Cambridge Universi ty Press e
(NDiCE
Cl
~ \G(b~ .
Todos os direitos reservados.
A re produção não-autorizada
desta publicação, no todo ou em parte,
constitui violação do copyright. (Lei 5.988)
••
1982
Direitos para a língua portuguesa adquiridos por
ZAHAR EDITORES S.A.
.
••
Caixa Postal 207 (ZC-00) Rio de Janeiro
que se reservam a propriedade desta versão
Impresso no Brasil
Quadros e figuras 8
Apresentação à edição brasileira 11
Prefácio à edição brasileira 17
• ••
Abreviaturas 20
Capa: ~rico
Composição: Zahar Editores S.A.
Parte 1 ••
••
ARA T/ONALE: POR QUE PART I DOS?
21
1. O Partido como Parte
23
l. l Da facção ao partido 23

CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ .
1.2 Pluralismo 33
1.3 Governo responsável e governo sensível 39
1.4 Uma racionalização 45
••
••
Notas 51
Sartori, Giovanni, 1924 - 2. O Partido como um Todo
S26p Partidos e sistemas partidários / Giovanni Sartori; tradução 60
2.1 Ausência de partidos l'ersus partido único 60
de Waltensir Outra; apresentação à edição brasileira do P~of.
David Fleischer. - Ed. Brasileira rev. e ampl. - Rio de Janeuo:
2.2 O sistema do partido de Estado 64
2.3 Pluralismo unipartidário 69 ••
Zahar; Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 1982.
3.
Notas 74
O Quadro Preliminar
78 .
Tradução de: Parties and party systems, vol. I. . .
"Tradução autorizada da terceira reimpressão da p_nme~ra
edição inglesa, publicada em 1979 pel~ Cambridge Umvers1ty
3.1 Canalização, comunicação, expressão 78
3.2 A definição mínima 81
3.3 Uma visão geral. 86
Notas 90
••
•."
Press, de Cambridge, Inglaterra." 4.
Inclui referências bibliográficas O Partido Visto de Dentro
93
4.1 Frações, facções e tendências 93
4.2 Um esquema de análise 97
l. Partidos políticos 1. i ítulo

••
4.3 Política sulista: "facções" sem partidos? 104
4.4 Itália e Japão: frações dentro de partidos Ili
COO - 329.02 4.5 A estrutura <le oportunidades 116


82-0322 CDU-329 4.6 Do partido t\ facção 128
Notas 131

ti
~~.1n:... -~ ..-4'd. ....... . . ...

••
6 /NDICE
INDICE 7
Parte li
10.5 O_critério da distância e a democracia funcional:
OS SISTEMAS PA RTIDÂR IOS 141 1 pos-escnto 383
] 5. O Critério Numérico 143 1 NotJS 398
i
t 5.1 O problema 143 't
! 5.2 Regras de contagem 145 ! !'nuice analítico 404
t \
e 5.3 Um mapeamento bidimensional J 49
~
r Notas 154
d
s 6. Sistemas Competitivos
e 6.1 Pluralismo polarizado 156
i
i r: 6.2 Testando os casos 170
f r 6.3 Pluralismo moderado e sociedades segmentadas 201
2 6.4 Sistemas bipartidários 2 J3
6.5 Sistemas de partido predominante 221
f rc
n Notas 231
~
t P' 7. Sistemas Não-Competitivos .
o
' Sl
7.1 Onde termina a competição 245
7.2 O partido único 249
se
1 te sã
7.3 Partido hegemônico 258
Notas 267
f
1 pc 8. Formações Políticas Fluidas e Ouase·Partidos 273
t
t tit 8.1 Advertências metodológicas 273
pc
I de
8.2 O labirinto africano 277
8.3 Categorização ad hoc 284
f
• A
8.4 O efeito de bumerangue 293
r Notas 296
!
\
ric
r me 9. O Quadro Analítico Geral 301
'
t da
cs~
9.1 Mudanças, contínuo e descontinuidades do sistema 301
'' 9.2 Função mapeadora e capacidade de explicação 311
f 1Íli 9.3 Da classificação à medida 323
;
ria 9.4 Medindo a relevância 329
;iin 9.5 Números e tamanhos: o índice de fracionarização 334
lll'i
9.6 Combioação dos caminhos nominal e matemático 345
um Notas 350
:\
10. Competição Espacial 354
rt·:i
10.1 Reexame da teoria de Downs 354
11 ;'I(
1O.2 Questões, identificação, imagens e posições 358
111,1:
l 0.3 Espaço multidimensional, unidimensional 1
e ideológico 365
10.4 A direção da competição 374 l
1
1

1
1íil
~

0(.JADROS E FIGURAS 9
e
~
QUADRO 26 P:midos dominantes e sistemas predominantes .. . .. . 227 e
QUADROS E FIGURAS
QUADR027 Car:icterísticas dos Estados unipanidários
por tipos e critérios . . . . . ... ... ..... . . . . . . . . 256 e
QU.-\DR028
QUADRO 29
México: ele!ções !958-1973 (Câmara Baixa) ... ... . 261
Golpes na Africa (<la independencia até 1975) . .... . 279
e
J?a fluidez i1 cristalização (correspondência~) .... .. . 289
QU.-\DRO 30 ~
QUADRO 31 Africa independente:
seqüencias de padrões políticos em 39 países .... . . . 290
QUADRO 32 Turquia: percentagens e cadeiras
••
••
..•
na Assembléia Nacional 1946-1977 . . . . . . . . . . . . . 306
QUADRO 33 Tipologia das formações partidárias ... .. . . . . . . . . 312
QUADRO Do governo responsável ao governo partid~ri? ...... . 41 QUADRO 34 Esquema estrutural simplificado . .. . .... .. .... . 315
104
QUADRO 2 Decomposição e tipologia das frações par udanas QUADRO 35 O quadro analítico geral ... . ... . . . . . . . . ..... . 316
QUADRO 3 Padrões, classes e tipos de multip:irtidarismo
FIGURA -4 Países díspostos pela díspersão de poder
. · · . · · · 151

dos sistemas partidários . . . . . . . . . . · · · · · · · · · · · 153


QUADRO 5 Holanda: resultados ele itorais 1946-1977 ...... . .. .
173
FIGURA 36 O modelo simplificado . . . . . . . . . . . . . .. ..... . . 322
QUADRO 37 Fragmentação de coatizões governamentais em
18 países (médias sistêmicas correspondentes
ao período 1946-1974 aproximadamente) .... ... . . 333
.
.•
..
Dinamarca: resulta dos eleitorais 194 5-1977 ... . .. · · 174 QUADR038 Percentagens cumulativas de países escolhidos ..... . 335
QUADRO 6
178
QUADRO 7 Israel: resultados eleitorais globais 1949-1977 . · · · · · QUADR039 Votação média e cadeiras dos dois primeiros partidos
182
QUADRO 8 República de Weimar: resultados eleitorai.s (Reichs_cag) . (percentagens) em 24 democracias 1945-1973 . .... . 336

...
183
QUADRO 9 Itália: resultados eleitorais 1946-1979 (Camara Baixa) · FIGURA40 Desempenho quadrático do índice F
França: resultados eleitorais 1945-1978 (Câmara Baixa) 185
QUADRO 10 e possível correção . • . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 338
187
QUADRO 11 Chile: resultados eleitorais 1945-1973 (Congresso) . · · QUADR041 Fracionarização partidária (mundial)
QUADRO 12 Finlândia: resultados eleitorais 1945-1979 . ...... · ·
190 comparada com taxonomia .... . . .. . . . . . . . . . . . 340
QUADRO 13 República Espanhola: 1931-1936 (distribuição agregada QUADR042 F racionarização parti d ária de 25 democracias ·
de cadeiras da esquerda para a direita) ..... · · · · · · 191


(média e mediana) 1945-1973 ... .. . . . . . . . . . . . . 342
QUADRO 14 Tendências lineares (coeficientes de regressão) de QUADR043 Comparação da tipologia e dos índíces (médios)
resultados eleitorais agregados de sete formações
políticas polarizadas . . . . . . . . .. . . . . . . . . · · · . · 192
de fracionarização de 25 democracias .. _ ... ... .. . 344
FIGURA44 Um espaço multidimensional .. .. . . . . . . . ..... . 368
••
FIGURA 15 Tendências na República de Weimar .... · · · · · · · · · 194
FIGURA !6a Tendências na Itália . . . . . . . . . . . . · · · · · · · · · · · 195
FIGURA 16b Itália, centrifugação para a esquerda . ... · · · · · · · · · 196
FIGURA 16c Itália, centrifugação para a direita . . . . . . . · · · · · · · 196
FIGURA 17 a França, resultados eleitorais agregados, 1945-1973
FIG URA 17 b Tendências na Françt, 1945- l 973 · . · · · · · · · · · · · ·
FIGURA 18 Tendências no Chile ' . . . . . . . . . · ... · · · · · · · · · · 198
197
197
FIGURA 45 Variações de um espaço partidário bidimensional
de acordo com a centralidade . . . . . . . . . . . . . . . . . 370
FIGURA46 Esquemas de competição centrípeta . . . . . . . . . . . . . 377
f !GURA47 Competição centrífuga . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . 381
QUADR048 Autolocalização dos eleitores no contínuo
esquerda-direita em onze democracias,
e preferência partidária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 384
-

"'•
FIGURA 19 Tendências na Finlândia ..... · · · · · · · · · · · · · · · ·
FIGURA 20 Espanha, 1931-1936 (distribuições eleitorais agregadas) 200
QUADRO 21 Noruega: resultados e cadeiras 1945-1977 (Stortmg) · · 202
199 FIGURA49 Distãncias ideológicas (esquerda-direita)
entre seguidores de partidos em onze democracias .... 387 ••
.
QUADRO 50 Superposição esquerda-<lireita entre
QUADRO 22 Suécia: resultados eleitorais e cadeiras 1948-1979 · .. · 204 pares de partidários, por país . . . . . . . . . . . . . . . . . 390
QUADRO 23 Bélgica: resultados eleitorais 1894-1977 (Câmara .Baixa) 211 81
QUADRO 24 Bélgica:. coalizões governamentais 1946-1 977 .... · · · 212
QUADR025 Países com partidos dominan tes
(percentagens de resultados e leitorais) . . . . . . · · · · · 223

-·-to·.... .,... . . .
-
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~
)

_,.)
APRESENTAÇÃO À EDIÇÃO BRASILEIRA
~
J
)
) Prof. David V. Fleischer
Departamento de Ciências Sociais, Universidade de Brasi'lia
)
)
)
Os trabalhos e a pessoa do eminente cientista político italiano, Giovanni
) Sartori, não são totalmente desconhecidos aos cientistas sociais brasilei"
) ros, pois seu primeiro trabalho chegou aos ri ossos meios acadêmicos em

,
i.
ç 1962 numa tradução entitulada A Teoria da Representação. no Estado
) Representatii>o Moderno, p11blicada na série monográfica da RBEP, o"rgani-
tf. zada pelo Professor Orlando Carvalho, da UFMG. Em 1965, o Fundo da
Cultura publicou sua Teoria Democrática, que foi muito usada como texto
t
) em cursos universitários. No ano seguinte, esteve presente num Seminário
) sobre o Desenvolvimento Político realizado em Belo Horizonte, organizado
pela UFMG e a Harvard University. Em plena vigência do Al-2, Profes-
~ sor Sartori apresentou um trabalho sobre a "engenharia política" neste
''l ,. seminário; um tema muito apropriado para aquela conjuntura. Em 1968,
est~ trabalho foi publicado no compendium Public Policy, organizado por
f-
1 Montegomery e Hirschman (Harvard University Press). Em 1975, a Revista
de Ciência Política, editada pelo saudoso Ministro Themístocles Brandão
..
''
"1
Cavalcanti, da Fundação Getúlio Vargas, nos trouxe a tradução de um
artigo de Sartori publicado na American Political Science Review (64: 4,
1970), "Problemas metodológicos na política comparada".
Embora ex.istam estes exemplos dos seus trabalhos no Brasil, a vasta

',.,
maioria da sua produção intelectual publicada na Europa e nos Estados
Unidos é até hoje inédita no Brasil. Por esta razão , é de suma importância
:1 r
que a Editora Zahar, em co-edição com a Editora da Fundação Uiliversida·
de de Brasília, faça chegar ao público brasileiro a tradução de seu recente
<l
trabalho sobre p~tidos políticos e sistemas partidários, visto pela crítica
n
internacional como a sua maior obra. B, além disso, a melhor contribuição
u
:1 ,1
ao estudo do fenômeno partidário desde a obra então clássica de M. Du-
verger publicada há mais de 30 anos, traduzida no Brasil em 1970 pela
:1
,., í( Editora Zahar e reeditada em colaboração com a Editora da FUB em 1980.

. n.
11:
Nascido em Florença~ Sartori recebeu o título de doutor aos 22 anos
pela Universidade desta mesma cidade e, três anos mais tarde, esta pre-

,--,
.'1
-, cocidade intelectual começou a ser reconhecida quando foi escolhido
"Research Fellow" da Viking Fund. Sua carreira docente começou na sua

Jl
!
--, 1

--, !
12 APRESENTAÇÃO
APRESENTAÇÃO 13 s
••
própria alma mater como professor assis.iente de t:_ístór~a da .filosofia mo·
titica! Theory (1973) e Rivista Italiana di Scienza Pol(tica (1971). Sartori
ainda é o Editor Responsável da RISP. •
derna (1950-57), e depois professor adjunto (19.)7·6)) e tJt~lar (~965·
78) de ciência política, professor titular de sociologia (l 962-6:>), e direto r A última tentativa de elaborar uma abordagem abrangente para

<lo Instituto de Ciências Política-s (1966-76).
Ao longo desta destacada carreira, Sartori também foi professor visi·
:lllalisar sistemas partidários foi a de Duverger, em 1951. A autoridade e
:i utilidade desta obra têm diminuído ao longo destes últimos 30 anos por
:liversas razões: (1) críticas conceituais contundentes; (2) mudanças nos
••

tante nas universidades norte-americanas de maior renome - Harvard, Yale sistemas partidários na Europa Oriental; (3) certas evoluções nos sistemas
e Stanford. Foi durante seu primeiro estágio em Yale (1966-67) que Sarto· na Europa Ocidental, não previstas; (4) a emergência de sistemas novos
ri elaborou a primeira versão desce livro que ora apresentamos. Porém, foi
em Stanford ( 1971 ·72) que modificou e ampliou o manuscrito em sua
forma definitiva, que foi publicado em 1976.
na África e na Ásia; e (5) a dispo nibilidade de material novo sobre sistemas
mais antigos, notadamente na América Latina. A maior parte dos trabalhos
sobre partidos políticos que apareceram durante esses 30 anos n[o foi do
••
Após seu retomo em 1972, foi agraciado com uma Medalha de Ouro
de Mérito Cultural pelo lvfinistério da Educação da Itália. Porém, em 1976
resolveu deixar a sua te rra natal de vez, fixando residência definitiva nos
tipo cumulativo, como por exemplo as obras dos autores americanos,
paroquialmente voltados apenas para seu sistema partidário. Por outro
lado, quando se editavam estudos sobre sistemas partidários, abrangendo
••
Estados Unidos; irúcialmente em Stanford, e a partir de 1979 passou a
ocupar a Cadeira "Albert Schweitzer" de Humanidades na Columbia Uni·
versity, em Nova York.
vários países, eram sempre feitos de uma maneira descritiva. Por todas
estas razões, a teoria política estava cada vez mais necessitada de uma abor·
dagem nova e abrangente sobre os partidos e sistemas partidários.
••
Seus primeiros trabalhos ainda na década de 1950 versavam sobre
a vida e contribuição filosófica de Benedetto Croce. Logo depois, começou
Neste primeiro volume temos. uma análise cuidadosa e penetrante
dos sistemas partidários, após vários capítulos iniciais preocupados com •
'•
urna linha de pesquisas na área da teoria política, que seria a mais longa e uma rigorosa definição dos conceitos a serem usados ao longo do trabalho.
produtiva. Ao mesmo tempo, interessou-se pelos proble~as de for~a~ão Como Sartori nos promete, o segundo volume nos apresentará uma análise
de conceitos e de metodologia nas ciências sociais. Teve, ainda, uma rap1da
incursão na área dos estudos sobre legislativos. Porém, o que mais o des·
tacou internacionalmente foi a linha de pesquisas e publicações sobre a
sociologia dos partidos políticos, na qual tem seguido as idéias de Mosca
de funções, organização e tipos de partidos, além de tentar relacionar o
fenômeno ''partido" com outras variáveis e com o sistema político em si.
A maior contribuição deste primeiro volume se revela no estudo do nú-
••

mero, do posicionamento ideológico e das relações competitivas dos par-
(elites políticas) e Michels (elites e organização. panidária). Como uma se· tidos políticos no mundo contemporâneo.
qüência lógica, estas pesquisas o levaram para o campo da representação Na sua preocupação com o que chama de "um contínuo de sistemas

••'
e participação política, cidadania e sistemas ideológicos. Quase como uma partidários", Sartori reconhece a fluidez dos sistemas, quer dizer, a sua
despedida à sua terra natal, em 1978 publicou ~ estudo de cas~ sobre o tendência de sofrer mudanças bruscas, especialmente nos países novos na
eurocomurúsmo italiano, em parceria com Austm Ranney (Amencan En- África e na Ásia. Para ele, a África é um labirinto e os países do Terceiro
terprise Institute).

••
Mundo não podem fornecer categorias úteis para a análise de situações oci·
Professor Sartori sempre foi muito ativo nas ramificações interna- dentais. O que estes Estados podem fornecer, pelo contrário, é uma sit~a·
cionais da ciência política. Em 1960, a Associação Internacional de Soci~­ çio ,quase de "laboratório" onde a evolução de novas modalidades pode
logia (ISA) estabeleceu um Comitê de Sociologia Política Comparad~, li:


ser observada. Na terminologia desta abordagem estruturalista, estes Esta-
derado por Seymor Lipset, Stein Rokkan e Mattei Dogan, e Sarto~1 foi dos ainda estão se institucionalizando. Sartori nos lembra que os modelos
o representante italiano. Mais tarde, um comitê similar foi orgamzad~ ocidentais de competição partidária se basearam nas crenças de que (1) o
dentro da IPSA (Associação Internacional de Ciência Política), onde Sarton pluralismo político era desejável, e (2) este pluralismo não poderia prospe·
f
foi muito atuante. Entre 1967 e 1976 foi membro da Comissão Executiva rar onde esta idéia não fosse aceita. f
da IPSA. Neste volume, Sartori pode concentrar a sua experiência européia
Quando foi reeditada a monumental Enciclopédia Internacional das numa área longamente dominada pela ciência política norte-americana e
f
Ciências Sociais, em 1968, Sartori foi reconhecido com~ especialista in· rnvigorar certas idéias européias, como a da escolha racional do eleitorado ~
ternacional com um convite para escrever as ementas sobre "Democracia entre alternativas ideológicas, há muito tempo submersas por estudos dos
e Sistemas de Representação". Também teve uma atuação importante na
fundação de três revistas novas: Government and Opposition (1966), Po-
amorfos partidos norte·americanos. Neste particular, Sartori concorda com
'
f
~
f
-----;.
APRESENTAÇÃO 15 •
J4 APRESENTAÇÃO
um tipo de "dialé tica romântica" (iniciada pela Escola de Frankfurt) esteja
á
Downs ern que "modelos devem ser testados principalmente pela acuidade ganhando terreno nas ciências sociais ocidentais? Seria possível haver um o
das suas previsões, ao invés da realidade dos ·seus pressupostos". . Eurocomunismo que afinne não querer participar da fusão Estado-partido,
Como nos seus trabalhos anteriores, Sartori trata os parndos es-
C1
mesmo que continue crescendo seu a_i>oio popular em países importantes,
sencialmente como variáveis independentes. Mui tas vezes, ele considera e ainda desempenhe de vez em quando um papel explícito de "manu- o
1 0 número de partidos ou o sistema partidário também como variáveis
independentes. Como ele mesmo disse, "da perspectiva de uma ciência
política - na sua diferença de uma explicação sociológica ou a de redu-
tenção do sistema"? O que podem sugerir estes e outros acontecimentos,
inclusive o "liberalismo descrente" muito em voga hoje em dia entre in-
telectuais ocidentais, quanto aos problemas de legitimidade nas economias
Q
~
ção política - a questão é exatamente como a superestrutura reage sobre ·políticas de capitalismo avançado? Porém, esta linha de pensamento nos e
••
as subestruturas". leva ao precipício da tal "lógica processual", contra a qual Sartori nos
Para o leitor brasileiro, este volume sobre partidos e a evolução de adverte ao longo deste trabalho.
sistemas partidários se faz publicar pela Editora Zahar, em co-edição com Talvez o leitor venha a concordar com Sartori que a análise taxonô·

••
a Editora da Universidade de Brasília, numa época muito propícia. Neste mica tem um lugar indispensável neste campo científico. Porém, o uso

.
momento, o sistema partidário brasileiro caminha numa transição de um maciço àesta taxonomia específica, no caso de Sartori, pode servir muito
sistema com dois partidos (artificialmente criados e mantidos), cada um bem a certos objetivos políticos. Neste sentido, é possível que estas "ló-
dos quais com várias facções intrapartidárias, para um sistema pluripar- gicas processuais" de vários tipos tenham conseguido adeptos recente-
tidário, atualmente com cinco ou seis partidos. Ou seja, na terminologia mente na ciência política simplesmente porque as teorias antigas perderam

••
...
de Sartori, passou de um sistema de partido "predominante" a um sistema seu poder de persuasão. Se isto for o caso, realmente, esta perda talvez
aparentemente de pluralismo moderado. . . tenha ocorrido porque os problemas intelectuais que os estudiosos da
Ao mesmo tempo, suas idéias abrem um campo mmto fértil para política enfrentam hoje em dia não podem ser resolvidos dentro de uma
uma reinterpretação da primeira experiência pluripartidária no Brasil e~tre
1945 e 196$ (reinterpretações, aliás, já iniciadas por cientistas políticos
epistemologia classíficatória estática (como a de Duverger, no caso dos
partidos, por exemplo). Aqui, a observação do Professor Carl Friedrich,
,.
brasileiros), em termos do critério numérico, do conceito de pluralismo
(moderado e extremo), e da questão de polarizações e de distâncias ideo-
lógicas entre os diversos partidos àa época.
Não menos importante seria uma interpretação (e extrapolação)
feita em 1963, ainda é bastante relevante: "uma dúvida numa tipologia
é uma dúvida sobre a estrutura da realidade abordada".
Albany, Nova York,
fevereiro de 1982 ......
......
das previsões contidas neste primeiro volume (no capítulo 9) quanto aos
caminhos alternativos de evolução do sistema partidário brasileiro, dado
os fatores de super e subestruturas, a viabilidade de "engenharias políti-
cas" (como os "Pacotes" de abril de 1977 e de novembro de 1981) e a
interação entre os sistemas partidário e eleitoral.

......
O cientista político brasileiro naturalmente lamentará um razoável
número de "lacunas" e espaços vazios com relação ao Brasil neste trabalho.
Embora o Brasil, e também a América Latina, receba um tratamento muito
mais amplo do que no trabalho clássico de Duverger, Sartori, escrevendo
no início dos anos 70, não teve acesso a vários trabalhos feitos posterior-
mente sobre o sistema partidário brasileiro (e latino-americano), cuja in-
clusão esperamo~ no próximo volume, onde o autor promete "testar" mais
exaustivamente seus pressupostos iniciais. Esperamos a próxima vinda de
Sartori ao Brasil para haver uma interação frutífera com cientistas políti- ...•
.--.
cos locais quanto à relevância àas suas teorias, interpretações e previsões
em relação ã nossa realidade.
Finalmente, o estilo um tanto polêrrúco ea "agenda" política deste
trabalho podem nos deixar com outros tipos de dúvidas. E verdade que

9El
PREFÁCIO À EDIÇÃO BRASILEIRA

SO'\~)

A edição brasileira deste livro representa, na realidade, uma edicão revista


e atualizada e não apenas uma simples tradução do volume publicado ori-
"iinalmente em 1976. Mais exatamente, os dados foram modernizados até
princípios de 1980. Além disso, ela inclui, ao final do último capítulo,
uma nova seção que defende, ao que me parece, uma das principais teses
deste trabalho, ou seja, a de que a variável isolada ma.is decisiva para o
entendimento da política de massas de nossos dias é o grau de polarização
- isto é, de distância e heterogeneidade ideológicas - entre as pessoas de
qualquer sistema político. Ao atualizar os dados e as provas empíricas para
esta edição, surpreendeu-me agradavelmente o fato de que minhas novas
evidências pouco afetavam a interpretação e, em especial, as previsões
feitas anteriormente. Não estou pretendendo virtudes proféticas, mas sim-
plesmente observar, em geral, que os trabalhos teóricos tendem a ser resis-
tentes ao tempo. Isso porque meu trabalho - tenho de reconhecê-lo - vol-
ta-se para a teoria.
Minha intenção era, originalmente. a de realizar uma obra que fosse ,
acima de tudo, uma investigação empírica de proporções mundiais, interes-
sada em avaliações comparativas e em generalizações. Durante a execução
do plano, porém, a ênfase teórica acabou tendo procedência, a contragos-
to, sobre a empírica. Não é difícil compreender a razão disso. As com-
parações pressupõem medidas comuns - e portanto a inclusão de uma ter-
minologia comum - que mal existem no estado atual da literatura sobre
o assunto. 'Temos hoje grande volume de dados e também excelentes estu-
dos sobre nações, e até mesmo sobre áreas isoladas; mas todos eles são
demasiado condicionados aos seus próprios objetivos, seus conceitos e ca-
tegorias são demasiado imprecisos e, em conseqüência, é quase impossível
;ijuntá-los de qualquer maneira cumulativa para fins de formulação de hi-
póteses, comprovação e avanço de. nossa percepção geral do processo po·
lítico. Fui obrigado, portanto, a construir uma estrutura teórica a partir
da qual derivei categorias descritivas comuns de análise - maneiras de
separar o que é semelhante e, inversamente, o que é diferente - e, em
última instância, conceitos explica.tivos e/ou variáveis.

17
/
)
18 INTRODUÇÃO

INTRODUÇÃO 19
i A América Latina é a área menos abordada neste volume. À parte
)
)
f
f
o Chile e o México, dos quais me ocupei mais detalhadamente, a maioria
dos outros países latino-americanos são tratados apenas de passagem. Isso
de fluxo. Continuo po t 1 ·
temático adotado n~ste ~o~:;~ i1capaz di~e examiná-lo sob ~ enfoque sis·
acontece por ser este apenas o primeiro volume de uma obra em dois . · pesar sso, espero que o lellor brasileiro
) :nc~~tre na perspectiva comparativa deste trabalho critérios de orientação
rr tomos, e porque nele tratei de sistemas partidários, e não de partidos iso· .am em para os rumos que seu país vem seguindo.
) ;. !ada.mente, não de partidos per se. A tipologia e o mapeamento dos par-
) í tidos como tal foram adiados para o próximo volume. Ora, com umas pou·
cas exceções, a maior ia dos países sul-americanos têm longa experiência ~ ; u:>-
de partidos, mas o sistema que daí resultou (o sistema partiêlário rigorosa- \)7'
G.S.
CoJumbia Universi ty,
) f· janeiro de 1982
mente definido) raramente teve uma co11solidação estrutural. lsso se ex-
'
)
ri plica pelo fato de terem os sistemas partidários sul-americanos, em geral,
sido intcmútentes, partidos que desaparecem e voltam a existir, que são
)
r congelados e depois voltam a atuar. Parece-me, portanto, que a unidade
crucial de análise, nessa área, é o partido e não o sistema partidário. E
essa, pois, a principal e única razão que me leva a adiar um exame mais
detalhado do continente latino-americano para o segundo volume, isto é,
) deixar para fazê-lo ·com referência a movirnen tos específicos e ao nível
) 1 partidário de análise.
Embora a intermitência cíclica do sistema partidário venha sendo,
há muito, a característica mais freqüente em toda a América do Sul, cabe-
) me reconhecer imediatamente que o Brasil representa, desde 1964, o aban·
dono mais destacado e significativo desse padrão. Já" não é o caso, no
) Brasil, da tomada àe poder por uma junta com um entendimento tácito
de que no àevido iempo o status quo anrea civil será restabelecido. Em
)
notável contraste com o ciclo de internútência, as autoridades militares
brasileiras mantiveram um Congresso baseado nos partidos, ao mesmo
tempo em que se empenhavam, em vão, numa engenharia constitucional,
)
eleitoral e partidária, e jsso com a disposição de chegar a uma reestrutura·
) ~ ção fundamental do sistema político. Tenho consciência, portanto, da
1· natureza inovadora e sem precedentes da experiência que se faz no Brasil.
) 1
i Não obstante, do ponto de -vista deste livro, perdura a conclusão de que
) ! o sistema partidário brasileiro (e, concretamente, sua seqüência de sis·
temas) não revela uma consolidação estrutural , e isso por duas razões
·-
i conjuntas: os partidos brasileiros não podem ser quabficados como um
i subsistema autônomo e, segundo, eles não tiveram um desenvolvimento
f espontâneo. Assim serrdo, o observador só pode registrar um estado de
) l
coisas volátil, que não pode ser incluído (por motivos descritos em detalhe
) no capítulo 8) nas categorias que se aplicam aos sistemas partidários estru·
turados. O Brasil tem partidos que realmente mobilízam eleitorados, que
) realmen te estabelecem elos importantes, que realmente desempenham
) funções expressivas e legítimas e que realmente representam (embora sob
rótulos e recombinações variáveis) tradições políticas antigas e arraigadas.
} Não obstante, seu sistema partidário, C'Omo sistema, permanece em estado
)
)
)
)
ABREVIATURAS

)
)•
)

J
)S
)
f, a seguinte a lista de abreviaturas das publicações citadas com freqüência
Parte I
so neste livro:
.)
AP Acta Politica
) A RA T/ONALE: POR QUE PARTIDW
te- AJPS American Journal of Política! Science
. } AJS American lournal of Sociology
'1 APSR American Política! Science Review
ua
) CJPS Canadian Joumal of Política! Science
CP Compara tive Policies
J"J
l...ll, CPS Compara tive Political Studies
) EJPR European Journal of Política/ Research
) ISSJ International Socwl Science Joumal
>rK, JP Journal of Politics
~ Governmenc and Opposition
GO
MJPS Midwest Journal of Poliiical Science
PQ Política/ Quarterly
PS Political Studies
PSQ Political Science Quarterly
PT · Political Theory
RFSP Revue Française de Science Politique
RIS Rassegna Italiana di Sociologia
R!SP Rivista Italiana di Scienza Politica
SPS Scandinavian Política/ Studies
WP World Politics
WPQ Western Political Quarterly

20 21
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O PARTIDO COMO PARTE

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Lt.. '-· t . .. -e ~-"?

1.1 Da facção ao partido


(
1
t O termo "partido" entrou em uso, substituindo gradualmente a expressão
i
~
depreciativa ..facção", com a aceitação da idéia de que um. 2artido 1'l'ão ~
~
~
~

.
:
n_~ariamente uma facçªq, .quç n~o. é necessariamente um mal e q~
t P\:Etur~a 11~G.e,s~anameP:te o .bonu~mmune, o bem-es~ar comuI,l'l. A tra~
f,
siç~o-.de: f,a~~ª·~.1'3!~• .P_ªrt_l~~~J~ •. Qª~:V;rdade 1 .lenta e tortuosa, tanto no~
~ domínio das. i5!~ias .,c.<;>mq n_o .dõdatos: :A/segunda metade do século xvrq

~ mal havia começado quando Voltaire escreveu concisamente na EncyClo·


pédie : \'A.-H:a.lavra partido .n~o é, ém si, repulsiyá; a palavrà facção sem:p!e
~

.. ~ Com o seu versátil gênio para a síntese, Voltaire resumiu nessa frase
•,; ·um debate iniciado por Bolingbroke em 1732 e que se desenrolaria ainda
por cerca de um século. 2
) 11 A afirmação de que a palavra facção era repulsiva não ex.igia, desde

• )
•~ os tempos romanos até o século XIX, provas. ~m toda a tradição do pensa·
mento político ocidental dificilmente haverá um auror que não tenha ado-
• ) f t!do a mesma op1mão~ A parte intêressante da frase e, portãi:lt'o, aque-

•)
rr la em que Y.Q!.taire ' adµúte · que'. Qs partidos podem ser diferentes, .$!.e:_~
palavra partido n~o, tem ne ces_sarfamenle m;na-cónótação negativ.JY. Não se

t.
~

) í pode, porem, da·i a volta!fe o crédito ae ter sustentado essa diferença. A


l

)
t
1
facção , escreveu ele, é "un parti séditieux dans un état" ("um J>artido se-
dicioso num Estado" A palavra partido parece, assim, aplicável às facções
• )
t

,,t
y
que nao são se 1ciosas. Mas Voltaire continuou, explicando, em lugar dis·
so, que uma fac_Ç'ão' ~ "~m partido.seÇicjoso quando ainda fraco, quando/
',> ~ não E.~~li91P.\l [partage] ae :t<rdo Ol Estacfo". Assim, "a facção de César tor-
nou-se logo um partido dominante que engoliu a República". E a distinção
)
fica ainda mais enfraquecida, se não' destrnída, pela observação de Voltaire
,' )
)
1
de que {' um chefe de um artido é sem pre um chefe de fac ão".
Trata-se então de uma 1stmçao que não tem base em uina di feren-
ça? Seria injusto fazer tal crítica ·a Voltajre, que. apenas .reflete as·a·mbigili-
,'\ 1
~
dade.s e perplexidades dt todo o século XVIIll Justificar-se-ia, nesse caso ,

, \
I;
levan tar essa questão em r elação a t odos os autores que se ocuparam do

,) f 23

,> f! !
) i
)

PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS O PARTIDO COMO PARTE 25

~roblema: Bolingbroke, Hume, l3u rke ..: os protagonistas <las R~voluç0es tl1Hinguiu os dois concei.tos. Auid:i assim, toJos os nossos autores - e
.trancesa e Americ:ina. Primeiro, porém. devemos compreender-lhes a 11otatlamente Bolingbroke e Huml - lutaram. num dado momento, com
ll!lll distinção que cncerrav:i uma diforença. Se :io lc!rmos seus trabalhos
:,erminol_ogio.. . . "f _ ,, " t"d ,, _ • ••
E_t1molog1ca e sf'._man~~n~ acçao _e_ par 1 o nao 1em o mes- pres tarmos atenção 3 escolha das palavr;is, :is duas não são usadas indife.
.tno sign ificãdo. ·F'acção, gu~.J...UOliLiala vra-bem m:us antiga ~_E.onsolidada .! rc!ntemente:J!_c~ã? aplica-se a um grupo concrcto1!-o pass_Q_q u~partidô"
Y!!~-d-o verbo ta.~in? jàcere {f~zer, agir) e factio 1 ~-~o ~assou !Ll~dicar. PªlJ. i: muito mais uma divüão ufiântieã,Um cônstrut.~ue urd\l
:iu.toresque escreviam eru laum, um gr~o- poliuco_ emRÇnJlª-do em uml :ntidade con.'Oreta. E isso explica por que a distinção se perde rapidamente
fÚcere pêrturoãOor e õanosó:-f md ire doings' ( a!;.b_s_terriveis). ,\_ssím_,_Q.JJ.gg;. e não se mamem. §e facção é o grup.Q_ conç_r_~to e Qartido o agrupamentoJ
•1fücadÕ primordial transmitido pela raiz latio.aLumã:::rãe1a...de.11ubds,.ck :ibstrato, a referênciaã'õnnmcto. real toma os dois indistlng u-íve~. -
çomportarnento excessivo,J f!lP-ie.ctoso e, portan_tQ,A~nho.l . . .. · -i:ssaSô6servações tambem -noSãfenaf;"pa;ãõ falõ de qu;-õs autores
) "Partido" também vem do latim, do verbo parnre, que s1grufica dtyt- que falavam de "partes" m:is não usavam a palavra '·partido" não estavam
~- .Màs n:ro faz parte, de nenhuma maneira expressiva, do vocabulário ., re:ilmente enfrentando o problema. I: o que ocorre especialmente com
pol ítico até o século XVII. - o que significa que n:io en.tra no discurso po· 'i ~.taquiave» 1e t'lontesquie~ 01yito citados como precursores da idé!E_ .M
lítico diretamente do latim. Sua predecessora mais antiga, com uma cono· ~plrtTê1õiíüm sentido favorávj4. Más eles não usar~ a paiavraa O trecho
tação etimológica muito parecida, é "seit~'\ p alavra vinda do latim s~c~re, Je Maquiavel relevante nesse contexto diz que os "distúrbios entre pa-
que significa separar, co~tar e, com isso, dividi!{ Co~10 "seita" já existia e trícios e plebeus ( ... ) foram uma das principais causas que mantiveram
)t!Stava consolidada como transmissora do significado preciso de parrlre, Roma livre", com a observação complementar de que em toda república
"parcid'o " prestou-se a..um uso mais impreciso e obscuro. '.'fartído" tra11~-J .:ncontram-se ·'dois temperamentos [umori] diferentes, um do povo e ou-
)mi tia, então, basicamente a idéia dy- par;ce . e parte não é, em si. uma pala,:: tro dos poderosos [grandi] " , de modo que ''todas as leis feitas em favor da
l ~ra depreciativa: é um cõiisfiuto an~lít_icQl ~ certo que a so_ciedade _culta liberdade resultam de sua desunião" . Mas M:iquiavel deixou bem claro ime-
dos tempos antigos - quer falasse 1tahano, espanhol, frances, alemao ou diatamente em seguida, que não se inclinava a aplicar essa generalização
inglês - compreendia a terminologia que usava através do latim (e grego). j sua própria época, e nem mesmo, na verdade e segundo suas palavras,
Portanto, a derivação etimológica de partido de partire, isto é, separação, aos " partidários dos quais nascem as partes da cidade", pois essas "partes"
1
não passou despercebida dos autores dos séculos XVII e XVIII. Não obstan- levam a cidade à sua "ruína". 3 ~a repüdad~, quando Maquiavel se reie~
J te, "parte" havia há muito perdido sua conotação original. A palavra " parte" a Jl'R grupo concreto, subscreveu aZfur.osa.m~nte a condeô~ão das seitas f
está no verbo francês partager, que significa partilhar, tal como entra no e do facciosismo, i
inglês parraking (participação, partilha) (para não falarmos de partnership Montesquieujoi, prima facie, um pouco mais longe do que Maqui'a-
) [associação] e participation [participação]). vc:l. j.m suas considérations sobre as causas da grandeza e da decadência
Üjla,ido "parte" se torna...:R~~tido" temos~t~~· u~a _ p~avra sui dos romanos, escreveu:
jeita a duas influências semânticas: a ~erivação de partlfe, â1V1d1r, de ~l'lJ O que se chama de união do corpo político é algo muito amb lguo: a verdadeira união
J l~do, e a associação com tomar_ paE_te, ~P.-9.~ coi:n .eai:icip~ão, ~! é uma união de harmonia, em co nseqüê ncia da qual todas as partes ( toutes les par-
outr~ Esta última é, na verdade, mais forte do que a pnme1ra Cienvaçao. tltsf, mesmo que pareçam opor-se, concorrem para o bem geral da sociedade, tal
~mos observar, porém, uma complicação. Enquanto "partido" ent rav~ como algumas dissonànc1as na música concorrem para a harmo nia geral( . . . ) J: co mo
no vocabulário da política, "seita" dele saía! Durante o século XVII , a nas partes deste universo, eternamente ligadas pelas suas ações e reações. 4
expressão passou a ligar-se à religião, e especialmente ao sectarismo pro-
testante. :eor esse caminho, a palavra partido ad~riu também, pelo menos Ora, esse argumento é altamente abstrato, e as imagens - harmonia
em parte, o significado antes transmitido - n:i~poljti_~ª-= pe~mo musical e cosmológica - muito antigas. Se Montesquieu parece ter ido um
-~il.aJLi~~(orçou a I ig~~ªº otlgina! d~~partido"~EJ a i~fü. de seear~.­ passo além de Maquiavel, é porque estava disposto a estender aos ingleses
ção e divisão~ Je sua época a aplicação da observação feita pelo italiano sobre os roma·
O que dissemos acima contribui muito para explicar por que "parti· nos. 5 Não obstante, é preciso ler toda a obra de Montesquieu para encon·
do" teve, desde o início, uma conotação menos negativa do que "facção'" trar umas poucas indicações alusivas a'. um · entendim~nto favorável ga,s
e, não obstante, continuou sendo um sinónimo próximo desta. Não hâ "pa~tes" de uma repúbli<dl. não sendo possível registrar q ualq uer referênç@
dúvidas de que nenhum autor do século ·XVIII, Burke à parté, realmente · a. partidos no capítulo funcrãinental de L 'esprit des tais em que Montes-

)
)
)
O PARTIDO COMO PARTE 27
) 26 PARTIDOS E SISTE!yfAS PARTIDARIOS

) tuição contra sua usurpação pela facção cortesã} (que é reaiménte uma
uieu delineia a constituição inglesa. 6 E não há dúvida, por out~o lado,.; "facção"). Assim, o partiào do país não ·é um partido entre outros (em
de a
que Monfesquieu estava plenamente de acordo com condenaçao ger<fi nosso sentido) mas - como palavras de Bolingbroke deixam implícito -
das "facções".'"\ 1 , . , o país contra a corte, os súditos contra um soberano que agiu errado para
\~ ~squ.i~ã? e?tr~,ram r~~ent.~ no.pr?;blema por~ com eles. Se o rei não age erradamente, se governa no Parlamento como
e 0 passo crucial - riã1ransição de Ra.r.te para partido - estav.~~ determina a constituição, então o país não tem razão para se tornar um
•)Tm conceber o pa~o ~mo um termo ob;.§]..Q.jgo é, como u1'.1 ~~~..... • ;jf-' partido. T!!!).9~ í_ a _E.~_ç!o do :ea1:tido ~ão -eartido, isto é, de um partid'ê3_
\ · · tiVõ concretõ ue 1.11dicassé ümà - ·u.d.ru:!.e O\l ~gfu1da~e1. ( g1s.t10g~ ive-1 ~ Çj!.le deve acabar com todos os partidos.~ E esse; na VeTcraae, o objetivo dt)l
1f~ · ma. ac - 0 . Essa abe(tura só ocorreu com Burkef quase meio seculo BõTíngÕrõK;-Na dedicatona que serve de introdüÇaoã D1ssertat1on upon
d:p~is de Montesquieu'. Ê, -paia nos darmos conta da distância que teve de
1

Pames issertação sobre os Purtidos), elf apresenta seu trabalho como a
erta antes àe se chegar a Burke, devemos começar com Bohngbrokeq "tentativa de extinguir as animosidades, e mesmo os nomes dos partidÕs
ser Cob orárreo de Monte_squieu, que foi. na ver dade o pnme1ro . .
au t or
) o con terop .. 'd s quedmdiram a na!;<ãO, por tanto te!}2.PO, de mãiiê!rãTãOfâtat-a-princ1EiÔ,
importan.te~'qú.e, a~ esc;i:eY._e!, este~9eu-s~ sobr7 partt. os. i .. . .e tão tola,_ _eor fim ." Em suma,_a in~~s:ão de BolingbroJCeê''re~r
) A ·pcisiç~o_-,ieJ!3.?lii:s~roke 1é .a_de qu~ ·e:, goveq10 P,elo"par~1aq;:~ .), os partidos e abolir dLtl.i.!1ç;ões oàiosaL,,~
deve terminar sem re no. ovem_ . ma facça ,; ..) O_part1d?,e,um pê): · ·- Será justo concluir, portanto, que,Ü1olingbroke era antipattLdtl,,, ~
politicô, e a úcção·(9"pior-de .todos ospart1doà .9 Pod~na pare,cer que mo o governo pelo partido acaba se~re e~governo pela fac~ão, e como
Bolin obroke só estabelece, aqm, uma diferença de grau --~mbora a fac- o~cem da aixão e do interesse, e não da razão e da eqüidade,
ção s~ja Y-ior do ue o artido am?o~ ~ . , . , - s r~ as .. :~ª_ ro.esm~ fam_fbia. ·se~ue-se que os E_artid..QLJ.J:Ú.üLq__uecem e co ocam em perigo o ·governo p~~
Mas ele deixa claro que a àiferença e tambem Ele espécie, pois os parti os co.~s:~u~o. E o go~:rno con stituc.ional_era o prererido de Bolingbrok.!?-:; 1!
dÍvidem um povo "segundo os rincí ios" .10 A;>sim, de acord~ com B?l· cu.10 1 eal era o de uruaade e harmonia. ~stante, ele estabeleceu~
iug ro e, a umã_ erénçajeall e não no~~n.al, entre os "p,ªrtl~os .n~c10- d9_~quer outro antes-. uma distinção entre facções e partidos. E sua
nais" do século XYII,_q!;!e refletiam uma d1fe:~nç~ real ~e onnc1p1o~_e apaixonada e prolongada aná.tise, repetida em numerosos escritos,sol_QfQu
desígnios" , e as divisões de sua época, na ~~-b.a.Y.i.ª_J2re?cupaçao os partidos em p_:im~irO_P.lanQ_e_fotÇ.QlL.s~us....c9tÍtem.p9râ_n~2s e SU.f.~~
c'cmiÕs'\nteresses nacionais", que ,passavam a "subord1..lli!!:ie aos interesses res a enfrentar o problema. 17 Prova disso é o fato de Hume ter se ocupado
pe~is" sendo essa "a verdadeira. canillti:ti~a d~ facção''. 1 , Bolmg- do assunto pouco depois; foi , aliás, o primeiro entre os grandes filósofos a
brok~tamoém uso.JJ, sem ~úvid a, ~art1do e fac~ªº. md1.erentemente, com~ fazê-lo. ...--
se fossem sinônimos . Mas isso esta, com freguencia, de a~orà.o ,com seu ar \!:Jume4colocou-se a meio caminho entre Bolingbroke e Burke, embo- H L.:~t·
gurnento de g,ue a deg,tlitlac;1o...dQs_partidos em facções é meVItavel, e. q~­ ra estivesse mais próximo do primeiro do que do segundo - tanto no que
do as duas coisas se fundem , as duas palavras também se dev~m fund ir.. diz respeito às idéias como em termos cronológicos. Os primeiros Essays·
- Uevemos reconhecer, porém, que a noção que Bohngbro!Ce unha (Ensa ios) de lfome sobre os partidos surgiram menos de dez anos depois
de partido é um tanto. ambivalente, depende~d<: d~ s.e ~st_ar ele re!enndo da Dissertarion de Bolingbroke, ao passo que Burke ocupou-se do assunto
aos partidos .da Grande ·Rebeliãi! que levou a Const1tu1çao de 1688 f ou em 1770, cerca de 30 anos depois. Hume é, como seria de esperar, menos
ao "partido do país" de sua época, isto é, o partido que era o seu. Sua po· vibrante em suas definições do que Bolingbroke. ~com relaxão às fa~ç~s
sição com 'felação a este último é muito interessante. De um lado, ele s~ é ue ele mostra a mesma veemência, pois as "facções subvertem o gover-
aproxima muito de sua legitirnaç.ão, pois afirma que "um partido .do .pais ~Q, tornam impotentes as eis e geram as mais acesas animosidades entre
deve ser autorizado pela voz. do país. Deve .ser formado sobre pnnc1p1os h.9__mens da mesma nacão". 1 ~ànto aos partidos, Hume é mais toler<l!!·
do interesse comum". Por outro lado, Bo!ingbroke apressa-se a acrescen- }~á, na verdade: um· ime_~rtan/e ,Eass2 além de Bolingbroke, pois aàrní1f
tar oue o partido do país é "impropriamente chamado de partido. f a que "abolir, todjl.s~ <is. d_istinÇões. de partido pode não ser praticável, t;ilve~
nação' falando e agindo no discurso e na conduta de alguns h ome~1s" : 13 iYem desejável num governo livre". Nao óbstante, o ideal de Hume coniÍ·
) Não obstante , o partido do país é, m~smo que apenas para emergencias, ~~ muito{rnlh.an~~ de Bolingbroke: o fim das .distin.ç_Qes arti-
uma necessidade, uma necessi.dade para uma boa causa~J.l!!s.~~4 f1..931s e odiosas. J!.l sua epoca Hurne percebia "um dese10 universal de
i..x._gue há panidos que "pr~~~filD_oi ter"; 14 rn~s ?s. p ~r t.11 aboli r essas distinções de tmtido", isto é, aqu..tleQue mantinham opiniõlfs
d.a~~izão de partido~~a.usa..c~m~rn COJllf,,íL.QL!.IlliDl~S.J opostas em · relação ao que é essencial no governo'~ Deu a esse desejo o
da constituição~ E esse o caso do partido do pa1s,i,,que defende a const1· .

)
)
)
)
28 PARTIDOS E SISTEM,J,S PARTIDARIOS O PARTIDO COMO PARTE 29 4
nomç de\"tendência ,à cbaJizão" 1e viu, nessa coalescência . "a mais agrada- ' pios políticos, a questão pode ser explicada mais facilrnente".n E esse 4
)
Yef perspcctivãOê feliéldade futur~· . 19 Embora admic1ndo que· os partidos entendimento diferente e mais tranqüilo resulta, bem claramente, do ensaio
) <la Grande Rebelião eram "partidos de princípio", não via a mesma ten-
dência nos ·'partidos uovos" surgidos subseqüentemente sob a denomina-
que se segue, Of Parries in Grea: Britain (Dos Partidos na Grã-Bretan/UJ ).
t'!.° essencial.' ~ume aceitou os partidos como uma c_onseqüencia de-

4
)
ção de J\/hig e Tory, *pois. quanto a eles ''cst3mos des orientados para di - sagrad~~el, r:1as ~cil mente c<?1::º uma condição, do g9v~rno livr\! . .E há , f
) zer da natureza. das pretensões e dqs ~cipios das diferentes facções". 2 º sem d~da,. u..m ~~i:isJo d~ ~i fe.li:i19~ ent r~ cgn~id~rar~e,arridos comC!
A pnncipal contribuição de Hum~ foi a tipologia que delineou no de fato mevitave1s 24 _e a v1s:io burke@fli!....l:!Lque os partidos são ao mesmo 4
ens:iio de 1742, Of Parties in General (Dos Partidos em Geral). O leitor te~o _i::_~pe1tav<:1~Üm in~rument<L.QQ_governo livre. Não obstãn~:
fica um tanto confuso, nesse e em outros ensaios, pelo uso indifere nte Hu~e for~eceu parte do material.com que Burke construiria ~ua argumen-t
,que faz Hume de "partido" e "facção" 21 , pois ele foi, sem dúvida, menos taçao. 1\ tipologia de Rume não só permitiu um entendimento mais analí-
) '.:~ -
coerente do que Bolingbroke no uso dessas duas pa!:Jvras. Devemos ter tico do assunto como também proporcionou - como faz. qualquer clas-
) :-',/ presente, portanto, que Hume estava fazendo uma classificação, e que a sificação, pela sua própria natureza - elementos estáveis que servem de
,:~.: distinção entre partido e facção, tal como Bolingbroke a havia estabele- fundamento a novos raciocínios. Como autor político, Hume não foi pro-
' .,. cido, era insuficiente para sustentar essa ciassificação. Se o partido também f~tico, de. mo~o algum. ~~a classe de "facções de ~..QÍÍLic.:.~iÍ
>. :.... acaba em facção, pareceu a Hume -'- presumivelmente - que sua tipologia a1~a. m.wto distante daQuikLqii.ê.:ilimar~mos de partjdos ideológicos, mas
;::: tinha de ser de qualquer e de todos os agrupamentos políticos. Digamos, ~onstttw uma ponte através da qual o partido será visto e concebido como
) . ~\ então, que ~e estabelece u~a E,e.olofila de partidarismo que come~a ~rupo concretO.-~tiêlos 'ult!apassam as facçdes porgue se basernm nãà
)e f:pm urna_di.Slin.çãa_bá~a entre TD_gru eos_pg,l'JQg:(Le_(fü_grupos reais - ª-?ena_s e!ll)nteresses, e nã'o- ~enas em afetós(~··..are!Ç°Tu" de_Humef ri.ias
ta.~em,.~e e~·inciealmente, em~~<U~rnuns: Isso é Burke,~as Hume
\.':-
r-
se.n.do os últimos as facções_!/ou os partidos "baseados em alguma diferença
~
r~al de sent1mento_ou_in.EL~~sL._22 Enquanto os partidos "raramente se ~bnu o calllJJl~o. mostrando que as facções baseadas em princípios eram
)
encontram puros e sem mistura", Hume diz gue "as facções pessoais" são uma _n~va : nudade n~ c~n~ política e que os princípios políticos deviam
típicas das_gf:_q.uenaw.e.p.úblicas e, ~m geral, do passado, ao passo que as s.er d1stmguidos dos pnnc1p1os religiosos.2s - -
..-~~ea~s" ?ão típicas do múi10oli1õãerno. P.or~anto, a análise dê A definição de Burke, muito citada embora pouco compreendida é: .f> .i L' i-. · "~
)
Hume concentra-se nas--..'fãêÇões" reais, ~e estão subdivididas em três "O .J2..~~id? é um ~rupo de ho~ens unidos par!!~º· pelo s~ esÍ.sJ:-
J
)
cl~ fogões de (i)jnt~-~ {ji) principio e (iii) afeição. ço con unto do interesse nacional com base em algum grincípio comJ2
) · ~ juízo de 1-lu~e, as façsQ.es de in teres~.§~<l. '°asmais ra~i9n~~. e qual todo.~ conconJ.a~"· Os 1~s exigem ~eios , e ~p~rtidos sã".Q_ _~_.':mel>~
) as mais desCllrpav'ê'is" , e, embora "freqüentemente não apa~eçam" e!!'.~­ a~equado que pew~us.s.~mW-'.l~pl~nos comuns à E!l-
vemos despóticos, "nem por isso são menos reais, ou antes, são mais reais t~~ª· com todo o p~_der e autondade do Estado .;f 6 EVIdentemente~ Q par:
) e mais perniciosas_p?r ..=~ma razã...Q.''. E Hume continua (observe-se o ~!tlo de _Bcuke n~o .e ap_en~!!!ll meio_ respeitável: é um partido com todas
uso âe "partido"}: " ~ partidos de gn·nç t'pío. particularmente princípio as ~ferenças q_u~ um par.tido_ tefll_<!_e uma part~, !sto é, uma agência con-:·
especulativo abstrato, só são conhecidos nas é2ocas modernas e talvez. se- ~:,e~a, algo t~ ~eal como ~~ facções. Ao mesmo tempõ-; facçÕ~§...!tp_ãrtldos
J~ nã? ~~ s.er confundidos ;_J9rn_ara~:se diferentes por definiçio. sê-.
)
)
ja m o fenómeno mais extraordinário e inexplicável já sufgído nas questões
hu.!lliill.itS". Esse novo fenõÍneno é muito menos justificável. MãSHumeesta-
belece neste ponto, embora como ilustração, um:i distinção crucial entre
t
gun~o a.:_ P!ºP~1as_ palavras de B~r~e. ·~essa generosa ltiia pelo poder
p~1dõ] ( ...) sera facilmente füstinta .d~Juta mesguinh.J!-~tere.ssa
•e
) pr(ncípios "políticos" e ''religi ~E_stes @lm.m - são a metª...Jeãl.J_e eor ·Cargo:_e_er:i~I~mentQ,~" - ~~~do_~S!a última~E,:la_ e~c~lente !~~!_~­
)
1juffie:nl'l9s ~.!IlP<>.S mod~no~. o_s_p_afli_dos religiosos são mais_!:.uri~~ e d~~prop~as l~:çoes. 27 Q_ê!"g_umento já não é o ae que o parti~o ter- •e
rr.ãílos 4<Lque as mais _sruéis fa~ões jamais surgidas a _partir do lnteres~ mm~ !~mt?re na facção, m_!!_O_ge_s_~e, ness~_<:~. o_p_artiaon:fo ~ Ürn parti-
) e _da_ afll9lçªo". Os primeiros, os partidos de princípio político, recebe.f!l d?· ~uáhdo ·Bu~e ;quer dizer facção. ele diz. ~~o· ~ndo qÜeráíZer ,
)
um tratamento diferente: "Onde princípios diferentes geraram uma con-
trariedade de comportamento, como é o caso de todos os diferentes princí-
..P~rt1do2 diz. partido#
As últimas frases não são ocasionais. Burke tratou detalhadamente
g •
) da questão. Tinha um alvo bem definido: os· homens do rei.tE os homens •
do rei argumentavam que o "partido deveria ser totalmente eliminado, •
)
• De moJo geral, Liberal e Conservador. rcspect1vamente.(N. do T.) com todos os malc!s que causa". Os Thoughts (Pensamentos) de Burke são
•4
) f.
(

(
) JO PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS
O PARTIDO COMO PARTE 31

uma refutação meticulosa desse argumei~to,.que _o denu~cia como elabora-


) Em essência, portanto, com Burke o eixo da argumentação deu uma
c.Jo por "uma facção que governa pel3 10chnaçao part1~ul:lr de un;,ª c~r­
te" .28 Os homens do rei estavam propagando a doutrma de que todas volta. Bol_\!!g_t:roke tu:_tificar~ o "partido" ~pe~as como a4 .P.osição _(q~..an~­
do necessária) do pais ao sooerano mconstttuc1onal~\Burke ,1 em lugar d1ssp,
as ligações políticas são, pela sua própria natureza, ra:ciosas". llurke obser-
cÕlocou o "partido" ãenGõC!oãii}bito 90 governo, reconcebendp-0 como
vou que era essa a receita propagada em todas as epocas. pelos. q~e se~-
urna divisão que já não se fazia entre ·dito 11J!!U:!1trDQbe>
viam a fins '·inconstitucionais". pois é somente "numa ligação ', isto e,
ranos. • . avia, em sua época. um consenso sobre a constituição, mas pou-
quando se ligam entre si, q~e ~s home_ns "~de~ fá:il e rapidamente dar
co entenâimento é consenso ainda menor ·quanto à manéira pela qual o
0 alarme em relação a des1grnos maleficos . L1gaçao era, na verdade, a
ooverno constitucional deVía ser conduzido, e por quem. Burke propôs que
palavra-chave de Burk~ "As ligações em polítiCj", argumentou ;te~ s~?
) fsso poderia caber aos partidos, desde que se tomassem partidos.murke}
"essencialmente necessárias ao pleno desempenho de nosso dever pubhoo . ~;
propunhã--=--rpois concebeu o ••partido" ant~ qu.e este_yiesse a eXJs~ir ~
Embora essas ligações sejam "acidentalmente passíveis de degenerarem em )-
na v~rda<le, Jançoil a Idéia ue a udou os artidos a superarem as facçõeif
)

)
facção" , ainda assim "os melhores pat~otas na maior comu~~ade sei;:ipre
elogiaram e promoveram tais ligações .2 9 Os homens, adnut1a ele, que
pensam livremente pensarão, em certos ~~sos, _de. maneira dif~ren~e". Ma_s
°"''
~f

~
com o ·correr do .tempo. Muitas décadas, porém, haveriam de transcor-
rer antes que sua visão fosse perfeitamente compreendida.
Não se passara muito tempo desde a abertura intelectual de Burke,
isso não é um argumento para se iançar um od10 contra as hgaçoes poli- ~
e o continente europeu foi varrido pela Revolução Francesa. Os girondi-
ticas", pois, se o ~or:iem q\Je se ocupa das coisas públicas "não .c~ncordaj nos, jacobinos e outros grupos -políticos que, na realidade, movimentaram
0
) com esses princípios, ger~is"em. que_se baseia ~ par~ido ( ...), deveria •. ~~.sdf _ ~ os acontecimentos de 1789-1 794 bem poderiam t~r usado Burke para legi-
o início, ter escolj1id_o alguma õutra Ç!~Upaçao ...,' E Burk~ conclui. P3t1 ~ timar suas ligações e seus princípios, isto é, sua existência. Não o fizeram.
) rece-me totalmente. incompreensível , qu~ º? homeps ·possam passar seq.) Quase todos os pontos de vista políticos foram apresentados durante o
) qualquer HgaçiO".lº - . ~ ..
· Como ;á se argumentou de maneira convincente, o governo de parti· 4/ vóúJce daqueles memoráveis cinco anos. Sob um aspecto apenas os revolu-
cionários franceses dão mostras de um mesmo ânimo e falam com a mes-
)
do na Grã-Bretanha não foi criado pelos gràndes partidos do século XVII. i ma voz: foram unânimes e persistentes em sua condenação dos partidos.
Tal governo pressupunha a disso:ução do~ grandes pa~idos _e foi, na :eali- t Em todas as suas batalhas verbais, e ~nalmente mort~is, a acusação.rec_í-\7
dade, criado pelos pequenos partidos do seculo XVIll. Bohngbr?ke tden- 1
proca mais séria era a de chef de parti, chefe de partJdo, o que equ1vãl1a J
)
tificou algo de distintivo (em relação à facç.ão) nos grandes partidos. Mas a dizer chefe dê uma fac -o. 34 .,
) o problema era localizar esse algo de distintivo do "partido" nos pequenos ·- fl órce.t fo aconselhar os girondinos sobre seu projeto consti-
partidos que tomavam forma na Câmara dos Comuns do século XVIII. E 1ucional, argume~tou - contra os partidos ingleses - que "uma das ne_ces-
) foi essa a :ibertura de Burke. As circunstâncias não foram, de forma algu- sida<les primordiais da república francesa é não ter nenhum" l Dantot!.\de- _
) ma, irrelevantes para essa realização. A vantagem de Burke foi escre:er clarou: .. Se nos fôssemos exasperar mutuamente, acabaríamos formando
quase que um século depois dos anos de 1688-1689, isto é, quando a cnse partidos; ao passo que necessitamos de apenas um, o da razão" .~
) religiosa e a crise constitucional haviam sido totalmente resolvidas. Bol- e_ierre (.afirmou ser o ''interesse pessoal" que provoca uma pluralidade de
) ingbroke e Hume ainda tinham de argumentar em favor. de ~m consen.so !'.>ãiliaàs. e que ' 'em tnda..a.....12arte onde vejo ambição, intriga, esperteza e
quanto aos aspectos fundamentais, e com isso eram a_ntipart1do em pn~- m~uiavelismo, ali reconheço uma facção · e a natureza de todas as fa~ ões
) cipio e anti facção em essência. Na época de Burke, porem, ef3 b:i s tante _ev~­ C:: sacrificar o interesse geraJ'1'Sãmt-Just foi ainda mais drásticg_;_"Todo
) dente que os grandes partidos que lutavam a favor ou contra a constmu- partido é criínin9s.o...(.. .. ) Toda acç o portanto çtimirtQs.a....f ..) Toda fac-
ção haviam desaparecido e que as facções do longo reinado de Jorge III ç:ÍÕ procura enfraquecer a soberania do povo_:•. E ainda mais concisamente,
) apenas lu tavam pelos despojos do governo. Bolingbroke e Hume viram que ô1sse: ··.~divipi r um f!Ovo 13s facções su6Stituem a liberdade pela fúria dQ,.
)
a ameaça amiconstit ucional vinha da fórmula divide et impera, de os ho- parndarismQ.m;
mens do rei se aproveitarem de um Parlamento assolado por facções, de-
) Três razões são apresen tadas geralmente para explicar esse coro unâ -
sunido e. com isso, impoten te. Burke çompreendiu - e nisso foi genial -
nime: primeiro, os revolucion.ários de J 789 estavam sob o fascínio de
que, como o Parlamento não podia ser mono! í.ticof e~taria em. muito ~~
) Rousseau; segundo, seu deu.s e r:i La Raisqn, a Razão; }erceiro, estavam im-
lhor posição de resistir à coroa se seus membros estivessem ligados, 1st6'
buídos de uma filosofia irldivid úalista, se não to talmente atomista. 36 Todas
) (organizados cm "ligações honrosas"~
essas razões são bastante vá1id2s , mas não devemos esquecer uma premissa

)
) l'Aí? TIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS
O PAR TIDO COMO PAR TE JJ

dos poderiam m:illter vivo o espirice da libc:rJade". pouco mais está :idmi -
) 1 ~.tl 1111
dura realidade e a viru lência do facciosismo. As facções
port:rnti=: a
1111do do qu~ Hume. 4 º Isso porque J ~nfose <le Washington rec:ii claramen-
t'or. 1111 r.11 nbt!m wndenaàas por pressupostos totalmente dit'eren tes. Os re- te na a<lve rtenc::i contra o espirita <lo partido .
.. olw.;1llldrios franceses declaravam-se ·•patriotas". Para eles, partidos e O c:iso de Jeffemme ainJa mais intere~sante . Se a moderna i<lda do
;· 11.\·1lt.:~ .:ram o mesmo que para Halifax, o Oportunista. um século antes,
} partido foi primeiro identificada por 13urke. o primeiro partido moderno
um:.i ··conspiw,:ão con tra a nação". E talvez a principal lição a ser apren -
torno.u-.se realidade. aind:i que par:.i desintegrar-se pouco depois, nos Esta-
) d1dJ 1.ksse salto de volta ao estado de espírilt> inglês do século anterior
dos Urndos sob a li?eran-ra de Jefferson. Ele organizou ""lig:ições", e levou
.: a de que os eartidos. pressupõem - ~la sua acei~o~ seu func_ionamen-.
) o programa do Partido Republicano à v1tóna com seu apelo ao país como
!º adeguado - a P.ªZ sob um governo constirucionaj_,_e não uma guerra ~
um todo, passando por cima dos federalistas. Ainda assim sena um erro
) it1te rna que "íilVeSté, entre outras coisas: contra o pró,.e.rio estabelecimerlt9
supor que, com o partido Je J.:;itúson, a mensagem de Bur!<e havia. final-
J.e uma constituição.
) '.11ente, l'.rnçado..raizes. Por_ mai~ para~oxal que pareça'. Jefferson concebe~
Se não é de surpreender~5 revolucionários franceses não pudes· )eu partido_ma1.:; ou m~no~ ~orno IJoltngbroke concebia o partido do p~s:
) sem aceitar ou compreenderfBurke, poderíamos esperar que tal não acon- como um part1d~ que deveria pôr fim à legitimidade do partidaris~.
tecesse com os Founding Fathers dos Estados Unidos. Mas, em 1787-1788, ou pelo menos enfraquecê-la. quando os '· princípios republicanos" houveG-
Madisoa,.ainda falava muito de "facçõe(, e muito no sentido clássico , de- sem siJo postos em ação e estivessem perfeitamente consolida<lEils.4 •
preciativo, da palavra, embora num c9ntexto diferente e majs amplo. Sua Enquanto isso. as idéias e os acontecimentos não se movimentavam
definição era a seguinte: mais depressa, e sim ma.is devagar, no continente europeu. Foram neces-
)
~or u r,na ~acção, entendo um certo ;)ÚI!le~~ .d e cidadãos, quer sejam uma maioria ou sários mais de 30 anos para que se fechassem as feridas da Revoluçao Fran-
) 1m1a min.ori:i do .. todo, upidos-e â tivados por um impulso comum de po.lx:io: ·ou de cesa. O "espírito do partido" de Washington foi, no mesmo ano do seu
!n~en::ssc ~} dvcrso aos direitos- ~~ Ôljlros~cid!!dios o.li aos interesses perinãneniCSe- discurso. objeto de um a denúncia apaixonada de Madame de Stae!.4 i Só
) gloGãís da cõmunidãcfe. - - · · cm 1815 o grande pensador constitucional francês~~~1i~.Constan{ l
·E prerendia que a União ajudaria a "dominar e controlar a violênci~ rs,conheceu ~.impossibilidade de "esperar excluir as facções deu ma orga.:
~P-olrnca onde as vantagens da liberdade costumam ser greserva·
) da facção", que havia sido, e continuava sendo, o "vício perigoso" dos go.
vemos populares. 37 A novidade está em ser o problema visto constitucio- ~a~ Mas acr:scentou ime.di~tamen~e: "Devemos eortanto empenha;õõs
) nalmente e no contexto de como uma grande "república" está melhor ade- · vm tornar ~s tacções o mais_ inofensivas possível. " 43 Constant estava ape-
quada a controlar os efeitos - e não remover as causas das facções . O]lui· nas se atualizando com Mad1son , E mesmo essas palavras eram demasiado
) avançadas para a Restauração, que deveria durar até 1830. Burke é, evi-
13urke deixou às inten_Çõ~s nobres, Madison enfrentou em·termos de eng•-
) nharia constitucion~ . Quanto ao resto, não há dúvidas de que Madison dentemente, o ponto crucial na hisLória intelectual. Mas o rumo dos acon-
usou o termo facção num sentido negativo e que facção e partido eram tecimentos é outra questão. Somente cerca de 50 anos depois de seu Dis-
) course é que os partidos, tais como ele os havia definido, suplantaram as
ainda considerados como equivalentes, ou quase.38
) Madison não foi o único a condenar o que Burke havia louvado. No facções e ~omeçaram a existir no mundo de língua inglesa.
)
discurso de despedida de Washington, de 1796 - baseado num rascunho de
Hamilton - lê-se: 1.2 Pluralismo ·
)
A libérdadc (...) pouco mlis é na realidade do que um nome, quando o governo é
demasiado fr:ico para suportar as iniciativas da facção(. .. ) Permttam-mc ( ...) uma :id- Quanê:!o Burke chegou a ver que os partidos tinham um uso positivo e ne·
ve rtênc1u solene · sobre os efeitos prejudiciais do espírito de partido (...) Há uma ces~ário, não havia nenhuma teoria para apoiar sua opinião. Mas o terreno
opinião de que os pa.rtidos nos países livres são controles úteis( ...) e servem para l~.~~1a sido preparado . A tr::i1.1siç:Io d~ facç:ro ao partido baseia-s~-~~!l' ero·
muntcr vivo o 1:s pírito da li berdade. ( ... ) Isso é provavelmente verd ade , dentro de ~v~s? 12aral.elo.: a trans1çtto at11d_f! IJ)fil len ta. mais enganosa e mais tortuosa,
certos Imutes( ... ) Mas em governos puramente eletivos é um espírito qu e não deve d~ l!]t9 lc~P-'!!"iLª-.!.9Lê rànc.la_1 ~es t~_ para~<lissl!nsão, e da cfJ~sensãÕ
se r es tim ulado. 39 ·
Pª~9'~Q.Ç-ª-Jl~div~!JLd::g)e . 44 O.s par~ id oL_nir2.._se~a ram rese_eitáveis
P~5~~1!fke a~1m..Jcnh::i _qeclarat!Q,_ Chegaram a ser aceitos - subcõíls·
O texto está realmente muito distante dos escritos dos revolucioná-
C~e_!.'t~JJ.,lCl1te ,_e_11i.esm_o_ aS,Si(l1...,Ç.QJJ1.J!l11a fonnldáVelrCÍÜT:fncfa- - ~~~diante
~ios franceses, mas está igualmente longe de Burke. As fa cções continuam
iguais ao "espírito do partido", e, onde ~Washington a~te que os parti - ª com~ree!!sào de que a _diversidade_.,;--:i ___dissensão não são necessariamente
- --------·
J-1 f"Ali //{.)US E SISTEMAS PARTIDA RIOS

... O PARTIDO COMO PARTE 35


i_~compH íve is E.<?~11 a OJQ.~.m. J>.P l.íJi_c..!!_,_Q.~!!:i_ !]_~cessariamen ie
a perturb:irn.
Nesse sentido ide:il, o~_ parti<!_.q_s _são ~orr~la toscô1 n a Wclta11schaw í11g do com freqüéncia, enganosa. 0 pluralismo é unrn hlnter!ãndia, um elemento
J i beral i~ r~ o, e del:J depend_efl.1. SãQ inconcebíveis na vjsão que H_ obbes ou Je b111.:kground, e sua ligação coni o pluralismo partidário dificilmente será
Spinoza tinham da .po l íticª '--~ 11ão_?ãq_~d_!}1i~Ld_os_ na cisiade de Ro usseau. 45 direta. N29._obs~,..Q p]Qralism_Q. pa rtid ~~o fo!.i_EO_!!~oda..-ª_C~ r!~g uma
Só s~__lQ rn'!l..l!_i;:o_!!.Ç$Qi.Yeis,J!. foran!_c_qiJ~!?.!Q.C?~na prática, quando o " hor- exportação dõs p ~nos ql!filU?. pluraJismo f9i implantado em primeiro
.. ) \.. rur d:i .~ suniã~' ~-~ub~.!.~!..l!..íd<?_ps;ia crenç}.~_gu~un~_mundômonõérõmã­ fügá'r -!Tiã.is os p_a.filLpLQ.~.il~LQQ_~~ da _Coq_t..@;J~.e fÕrina. E é .
t ico mlg_ é A _ún_icq_ J:iase- possÍ\1el cl..a__f_g.!r!l!!Çi!2-Pºlltica. E isso equivale ii b3stante claro que o pluralismo_p_artiçlârio_não_ te..Y...C.JJl.11 bom d ~sem12eníW::­
~ ií.er__q uc,_.i.d ealnlen ~s_p~ni dos ~ o .eluralismÕ sé· o rigir1ãli1Jõ"n1esino nern profongado - com pouquíssimas exceções - além da área impre gnada
sistc)nª-il..c_cr_~nççs_~.~Q. roc.smQ atoJTfé:_:_- - - - - - -------- • -- · por uma Welra11schauu11g phualista.51 ~ão é coisa simples operar ~
Surge imediatamente a questão de o que entendemos por plurâ· tema QOlítico no gual muiros partidos não venham a desorganizar uma
!ismo. V:11nos , primeiro, fazer uma pausa para observar que o pluralismo f~põ" política. Esta dificuldade foi sempre sÚbestimãda pelos estud io'"'.
p_artidário foi precedido ~ lu ralism o _fQfilJit uêlõnãr<l.~.YSJ~ µffllYlõ sos ocidentai5, como também pelos elaboradores de políticas que queriam
nJ9 aõrlu o caminho para o primeiro. O constitucionalisnio havia louvado cxpon ar a democracia. f , portanto, essencial que tal dificu ldade seja com-
~· b~SJ - desdê~1stITTeles{- ~governo misto, não o governo partidá- preendida à luz de seu substrato. · :i
rio. Em part icular , o pluralismo constituciõríi:)~a..d.iY.isão-d.o_po,d_~ r e a... Permanece a indagaç:Io [2_gue entendemos por pluralismo? palavra r.
dõU trina do controie e do equilfbr!.Q.J!.L p,.Q.d,.eres - antecedeu de mu ito é. sem dúvida, uma abreviatura para uma grande riqueza de conotaçõe~
o pluralismo partidário e foi construído. se m 0?_122.rtiàos~_ contra eles. riqueza que se transformou num pântano desde que adotamos a opinião
C.Q).1Stitucionalmente falando, um corpo político não só podia como devia de que "~9.Q.a~~ociedades _::.Ql_grande escala são, ioevitav..elrn.e.ntç_,_p_U!ralis;,
s;:i' separado em partes; inas a analogia, ou o princípio, n'1o [o i levado _@.L~.l certo_gra.U.::52 De acordo com essa generalização, Q,, pluralismo
à~~s parles CU!l:....fil_~tidos".~6 Â teoria do governo constitucional 'ª
nasce de e_,__~rarul~I?.arte. coincide com d ivi~ão do trabalho e a ~
não teve acoihida de Locke 11 Coke, de 13iackstone a Montesquieu , do 1:cnciação estrutu..@l...._que são. 12or sua vez. as comp-ª1!.b.eiras inevitáveis da
FeJeralist a Constant, e certamente não lhes era necessária. Quando os modernizaÇ.ãO. O argumento torna-se assim quase tautológico, sua conclu-
juristas constitucionalistas começaram a se ocupar da teoria consti tucio· são é verdadeira por definição, 53 e o "pluralismo" é facilmente estendido
nal, os partidos foram mantidos, a.inda mais, no limbo : só adquiriram de- a cenários africanos e, na verdade, à maior parte do mundo. 54 Na minha
finição legai depois da Segunda Guerra Mundial, e mesmo assim em pou- opinião, este é um exemplo típico de aplicaçl!o forçada e imperfeita de um
cas constituições. 4 ? conceito. Se nos agrada, podemos amontoar o pluralismo ocidental moder-
Possivelmente a <!_ificuidade de estender aos partidos a We!tanschau- no, o sistema de status hierárquico medieval, o sistema hindu de castas e
ung .do con~titucionalismo !J~eral foi dupla. ~LQ~Qfil!idos não erafilG) um.i fragmentaçrro tribal do tipo africano , e ch amar tudo isso de plurali-
) P'!rudos e sim facções, isto e, p.artes CQJJ.ll:.ª-.Q.....J.QQQ,_~ão P-artes do todo. dade, ou de um a sociedade p lura/. Mas nll'o confundamos esse bazar com
) /{? A,3 gund a dificuld~~i2.i...O postulado acentuadamente individualista do o " pluralismo" e com o que estamos tentando dizer quando as sociedades
\..:: ' l~min1smo. [Tal~2.J.L'v'los lembra que "a_~o que é hoje considerado como o~i dc n ta is s:Io chamadas de plu ralistas.

' ) concomilanté essencial da democracia, ou seja, a diversidade de opiniões :~ _6,...!X..P~~Q...'..:E!ural i~~I?.~~ce ituada em três 13!.veis: (i)
e:mteresses, est:mi Jg..nge de ser considerado essencial pelos pais da dé- c~iral , (ii) socictal e iii olítico. No prim~s falaJ:..9e _
)
,~~acia do século ){VIII. cujos ROSt~ll~s originais eram a unidade e a uma cultura plur11 ista na mesma atitude de significado que as noç~ef,~,
4rmnrn11dade". 4 u Nilo é de surpíeender que isso acontecesse com os pais p:.iralelas da cultura secularizada e de cult ura !1oiiiogênea. Uma cultura pi~~ /
da democracia do século :>..'Vlll, que t illham como refcrê;1cia :.i Mmocracia ral!Sfãií1ostra uma visão do ·mundo baseada, cm essência, na convicção
antiga - e não a democracia' libe ral - e mais os espartanos e os romanos de que a diferença, e n:ro a semelhança, a dissensão e nao a unanurna?il!~
do que os a tenie nses.~9 O que é me11os óbvio é por que o mesmo se aplica mud::l!lca e nrro a imutab ilidade, levam a uma vida melhor. Pode-se dizer
)
nos pensadores liberais dos sécu los XVII e XVIII l.!Jr.l!l..~l icaçã.Q.. llllP..Ql· (LÚC isso ~..J:!L!l.. J2lU r~li~!2!.QJllüsófico t..2U ~ teoria fil9~_9..fi9:1~QQ_[>luralismo,..
t,:.inte est:i no seu i..ndi vidu;r!is mo~~Q'-que atendeu à necessidade S$_ cm _suo diferenç a da realidad~ do plural isn~~ss Mesmo assim , dev~-se en-
) l.1 bertar su:i época dos l:iços medievais, de urn3 estrutura de corporação tender que, q uando os filósofos se ocuparam dos assuntos do m~rido prá·
(ech.itl:i e i mócl~ tico - como o fizeram em sua teorização política - , estavam ao 1i1csmo
J Evidentemente a re! ação entre o pluralismo e os partidos é sutil e. tempo interpretando e dan<lg_ forma ao curso do mundo .rc:al. Assim, o
que tem o rigem como a teoria do pluralismo re fle te-se posteriormente.

1

.
í
)
) J6 . PARTIDOS E SISTEM~S PARTIDA RIOS O PARTIDO COMO PARTE 37

) ainda que ap1rnas em parte e imperfeitamente, na realid~1dc do pluralismo. em diferentes níveis c..lc convicçües e comportamer1to. As J~ti n<,:ões impor-
Eu uiria, então, que, mesmo quanJo chegarmos u usar u pluralismo como rantes, no caso, foz.em-se en tre ( i) nível comuniturio c'"rl1\·cl govcrnamental-
tt:nno descritivo (e na:o normativo), não poJemos ignorar o foto de que ele fµolíticas) e/ou entre (ii) qucs toes fui!damcnt:lis c quest~es de momento :·
) 111d1ca estruturas socictais e pollticas que n:iscem de um~a o rien.!_aç~ de·- .\lêsmo havendo consemo em nível i:omuait:!rio e sobre questões funda -
) ·~:iior-;-<le-uma crenç~alor_es. 56 -O pluralJsmo, cal como agora permeia mentais - e cm particubr sobre as reg~as p::.ra a soluiyão de conflitos -
as sociedades ocidentais, deixaria de exisur se deixássemos de acreditar ~ possível o conflito quanto a polüicas. Isso porque o consenso quanto
) ,, ...-. em seu valor. aos µontos fundamentais µropor ciona a autocontcnça-o que torna o con-
) Com rclaçrro ao segundo nível, o.eturalis1110 socieral úeve ser distin· tlito algo menos Ju que um conj?ito, como interminavelmente, embora
1 •
g~ido da di/ertmdação svc1e1al. Ambos são estruturas societais ou, mais quase sempre demasiado tarde. redescobrimos sempre que enfrentamos
) exa t:i mente. princípios estruturais q-üeresijõ1~n1éõr111gu r<,!ÇõêSSõ~ uma realidade em que as balas se cruzam de um lado a outro. O confli·
) rruturais. M:is, <lo lato de que toda socíêOade complexa se revela "dife· to quanto às quest&:s fundamentais mTo é uma base possível para :i de-
renci:ida:._Jl.:{,Q se ~egue de rnoJo algum que~a~ soci~dades s~l_an~ mocracia nem, na realidade, para qualquer formação política: esse confüto,
dl'i'erenciac..las "pluralisticamente':. Como eu disse antes, uma sociedp~ isto é, o conflito real, demanda uma guerra interna e a secessão como sua
)
pfú7:iTfiã'o é uma sociedade pluralista, P.OiS J:.~la última é ap~nas um dos únic:i solução. 60
muitos tipos possíveis de diferenciaç<Io sociecal. Por outro lado, o consenso nã'o deve ser concebido como um parente
) Com rdaç:Io ao terceiro nmd, pode-se dizer que o pluralismo poli'· µróximo da unanimidade. A diferença pode ser descrita da seguinte manei·
......... -
rico indica uma "diversificaç!lo do poder" e, mais precisàrnente, a existén· ra: o consenso é uma "unanimidade pluralista". N:ro consiste de uma visão
) - J

da de uma "pluralidade de grupos que são ao n~s~po independente~ úJ~°àP9st11Jªci_a pela !n1e~_p~~a~ mon_o~:_on_:ática_~.~-m~n~o. ~ntes ev9.;Sª
) e. não-inclusivos". 57 Já fiz mençllo a como esse pluralismo se estende às um erocesso interminável de ajuste dê muitos es~.ntos (e 111teresses) d1s·
) partes que silo partidos. Mas há vários pontos ad hoc que merecem, agora, cordaíltes em semere transformadas "coalizões" flexíveis de pe.E_SuáSãõ'
um descnvolvimen to. r..:cípruca. 61 Isso equivale a dizer tam6em que, enquanto o "dissenso é o
) O primeiro relaciona-se com a situaç:to do ponto de vista pluralista estado entrópico ~t natureza societal, o consenso mlo existe naturalmente,
c111 relaçcio uo consenso e ao conflito. Entediados com demasiado consenso n.ias deve ser produzido" .61 E a importância do consenso - assim con·
e ante tanto conflito, estamos atualmente ressaltando que a 1'ase da de- cebido - para nosso mundo atual é comprovada pelo fato de provavelmen·
) ª
mocracia ncio é o consenso, mas na verdade o conflito.5 Isso me surpre· te não .'cr coincidência que os sistemas partidários do Ocidente nrro tenham
endc como um -uso descuiêfado de tennmologia, que coioca a base pluralis- tiJo nenhum papel na criação do Estado-nação, só se tornando operativos
) ta das democracias Liberais singularmente fora de foco. Pois a palavra~ quando a crise de legitimidade - isto é, a aceitaç:Io do governo constitu·
) melhor transmite a visão pluralista é dissensão. Lorde Ba.lfour fez uso da cional - foi resolvida. 63 Talvez a estrutura polltica deva existir primeiro,
linguagem moderada dos britânicos aó escrever que, na Inglaterra, "a má· talvez a unificaçao tenha cie anteceaer a "divisãõ":""ã''part1ç~~'.::. e.~l<? p~
)
quina política pressupõe um povo tão fundamentalmente unânime que tido, e talvez seja essa condiçao que faça dos partidos uma subdivisão com-
) ' aqueles que dde fazem parte podem, com toda a segurança, permitir-se 1hfivcl com a umâãJ·e-, e nao uma füv1sao que a aesorganiza. lssoé~
altercar." Mas estamos indo demasiado longe na direção do exagero, quan· mado pela experiência da maioria das soc1e<lãdesemaesenvolVlmento
) do afirmamos que a democracia postula o conflito. Foi o conflito que enipenfíadas na criaçrro de uma identidade e . de urna integração nacionais,
) kvou Hobbes a ansiar pela paz sob o governo despótico de seu Leviatã, e •ue recorreram sem demora ao p_artilii.q_único ou, ao govemo_!IlíITt:u:.....~
foi também o qut! fez 13olingbroke e Hume e Madison e Washington bus- ..:m :imbos os casos, · proi içJo e.ia dissens5o organizada~isto é, d_~eos ies.
) qarcm urna ''coalizcio de partidos". Sempre que o conílito significa o que · Um segundo ponto refere-se à maneira pela qual o pluralismo pplí· .
) de fato ~ignifo.:a, os partidos perdem em reputação. Ressaltemos, portanto, tico rêlaciona-se com a regra* da maioria - qúe'não é igüal ao princ1íJio
que o que é central para a ll'clt11nschauu11g pluralista não é o consenso nem
) o conllito, mas a dissensão e o louvor da dissensão. Caracteristicamen te • Tal como fa.r:í adian te (p. 39) um jogo fonético com respomihie ~ responsii•e
) - o que é muito revelador - a dissensão nrro foi nunca compreendida govcmme111 (gowrno r.:spo nsávd é govl!rno ,,:nsívd ou "governo n:sponsivo"). o
como o oposto do consenso. A dissensão tem tanto do consenso como do :rntor io!la, aqui, com a polhs.:m il de rufe, ao mesmo icmpo "regra", " n:gulam.:nto",
) "pr~ci:ito", l! "gowrno"; e de ruling, "ato Jc governar" e "domínio". A~sim, "regra"
conllito, scn1 coincidir com nenhum deles.s9 - - trufe) poJ.: s.:r entendida como preceito e, ao mesmo tempo, governo; e "domínio"
) O consenso bem pode estar rétacionado com o conflito, mas somente tnili11g), como o ato Jc úominJr e o d.: gov.:rnar. (N. do T.) ·

)
)
)
JS PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS
O PARTIDO COMO PARTE 3~
Pode o "pluralismo" ser operacional? Ou, fonn ulando uma pergu ta \
da maioria. Se a regra majoritária é entendida como Madison, Tocqu_evil!e mais respondível e precisa, quais as mdicações de uma estrutura sacie
....e.j 0 11;1-Stüà rt Mill a entenderam - ou seja, como a ameaça de uma tirania pluralista? Segundo J anda, o pluralismo pode ser definido, operacional-
da maioria, de um governo ou "domínio" da maioria concreta no sentido mente, como "a presença de cortes transversais" (e não, ressalte-se, de
literal e forte da expressão - então pode-se dizer que o pluralismo é con- pressões transversais). Trata-se, certamente, de uma operacionafü.aça:o
trário à regra m:ijoritária. Iss~ na:o equi"..~e a dizer que o pluralismo r~jeit~ adequada, pois basta para colocar de lado todas as sociedades cuja arti-
o principio da maioria con'io um prÍ.JlCÍP.ÍO regulador, isto ~SQ.!!1-Q..!!.filê._ culação gira principalmente em forno de tribo, raça, casta, religião, e gru-
têêfüca ae tomada de decisão. 64 ~claro que isso na:o ocorre. ~ão obstante . _ pos locais fechados e consuetudmários. J a.nd~ observa também que o mais
0 -pltmrfr~rrrocõntinüãSenclOOilielh erreno no çiual o princí12io major.i.: importante para esses cortes ou separações é que sejam transversais, dia-
tário 1m1ta o - o de que os componentes da mai.QTla_dev~m res~iJar .Q~ gonais - pois com isso se neutralizam, em lugar de se reforçarem - quando
direitos êlãrríin'6na - pode ser mantido e legitimaQ.2;65 os indivíduos fêm afiliações múltiplas, ou mesmo fidelidades múltipias.
· .. Um terceiro ponto merece igualmente atenção. O pluralismo} um~ Por outro lado, devemos deixar claro que as definições operacionais são
conseqüência e uma superação das guerras e das persegülçõêSrelígiosas - mais adequadas ao elemento esrrutural do que ao elemento de convicção
cõmo 15em se pode perceber através dos debates que levaram ao princínio ou de crença do pluralismo. Sob esse aspecto, impõe-se a advertência de
d~tõlerãnc1a - e não se pode dizer ~e exista enquanto o remo de Deus e qu~ o contexto de valor do pluralismo na:o deve ser esquecido e que muitos
o reino de César egh'..e.r..em -div.ididgs.~~ Isso significa, em primeiro lugar, pressupostos anteriores (e causais) ficam implícitos no nívei operacional
que nem o bispo nem o príncipe têm qualquer direito sob~e as al_m~ d~ de definição.?O
seus súditos. Mas_s~ também que nenhuma 12.retensao a d1re1to e É certo, portanto, falar em pluralismo partidário. A expressão tem
leaítima. Com o passar do tempo, e com a crescente diferenciaça:o estru- na realidade mais profundidade de significado do que llie atribuímos ge-
t~~al e especialização, chega-se a uma etapa na qual as vicissitudes políti- ralmente. Tomado por seu valor aparente, o pluralismo partidário indica
cas de um homem já não colocam em risco a sua vida e seu bem-estar pri- simplesmente a existência de mais de um partido; mas a conotaça:o é a de
vado. É a essa altura que a secularização alimenta o pluralismo. O ponto que os partidos no plural são o produto do "pluralismo". Mas o fato de que
substantivo é, portanto, que nenhuma alternaç:ro no poder é concebível a legitimação e o funcionamento normal do pluralismo partidário se ba-
t
l
como regra vigente do jogo até que o bem-estar público esteja separado seiam na aceitaçao do pluralismo rout court, sem adjetivos, continua sendo
t do bem-estar privado. Sem uma separação suficiente das várias esferas de um fator secundário. Não contribui para explicar, entre outras coisas,
l
vida - religHio, política, riqueza - e uma proteção suficiente do indivíduo por que os sistemas partidários se desenvolveram de uma determinada
! como tal, haverá na controvérsia política algo demasiado importante para
que os políticos abram mão de seu poder como determinam as regras de
maneira, nem o papel que o sistema partidário chegou a desempenhar
dentro do sistema político geral.
um sistema partidário competitivo.
Em quarto lugar, e voltando ao esteio estrutural do conceito, deve-se 1.3 Gover~o responsável e governo sensível
entender claramente que oe~~ na:o_ CO!~Siste Si~plesn_;;~t~ d~ ass~­
~iaçõe~ llJ~ltiplas. Est as_ d!~lll. ser, em. pnm~~1!.gar, voluntan!!! /'-e ~
Até aqui, demos ênfase ao curso das idéias. Na verdade, essas idéias respon-
;itributivas ~.!fl2.. se&undo, na:o exclus1v~ isto e ,J?fil>e-ª.c!.ªJ...~111 ªil!J!!.çJ!.!;s
deram a acontecimentos no mundo real, embora Burke, quando definiu
múltipl~s -- -- ~~nq2 ~!'~~ o__!.raço mar~nte cruci~~ ~m_2 eS!QJtur~ç_!o
o partido, tenha-o feito à frente da história. A partir de Burke, porém, os
plurâi~; A pr~~ença de um pande número de grupos identificáveis ~ fatos assumem a liderança. Copiando Oakeshott, "grandes realizações são
'çomp!~· ~ · n~_Qd2._ ~gu~1,_..!1 ~istê.nciã -d ç__pJ~r.âJ.fs;rrro-;--m~ apma~ ~~ levadas a cabo em meio à névoa mental da experiência prálica".71 Foi o
estado desenvolvido çl~ ;irticulaça-o e/ou fragmentaça-o ;_ /}s sociedades que realmente ocorreu com a maneira pela qual os partidos ingressaram
n~uJt°igrupc:is são ·~pluralistas" s~eapeílaS"se:QSgrupos forem associati- na esfera de governo e nela se tornaram operativos. Para que servem os par-
vos (e n:lo consuetudinários ')U in stit uc ion ais~Q....g!Le..Lmais.,...s.ó_q11MdQ 1idos, isto é, quais as suas funções, posiçao e peso no sistema político -
~e puder constat_ar que as :issociaçõeL~desg_nvclruam naturalmente,
não foram questões fixadas por uma teoria, mas uma decorrência de acon·
que nao são "i!1:lQQg'ªs" 68 _Isso exclui notadamente o chamado plura· tecimentos concorrentes. Por exemplo, a expressão "a oposiçao a Sua
iismo africanu,,que na reiilidaJe gira sobre grupos comunais consuetudi· Majestade" foi cunhada apenas em 1821, de um:i só vez, e na-o em con-
rnirios t resu lt;i em uma cristalização fragmentada. Exclui igualmente o seqüência de uma complicada e elaborada discussão sobre uma alternaçrro
sistema de esir:nifica,_:l!o por C?Stas. 69 normal no poder de dois partidos. Mas não foi uma realização sem impor-
)

) ( j ,,,,M/OOS E "STEMAS PART!OARIOS


O PARTIDO COMO PART€ ·H
)
· : 11ç1 .1 C,r..indc parti: do que se s-:guiu Jcont;:ccu sem ser antes comprecn·
!.. l\1, .,: 1:1cno) a11:da Jcsepllo illlt!llcionaimente. ~:_sso de representação como inimigos dele. O representantt! de 13urke não

) l)uv1:-sc.: uizer com freqüência que, no sl!culo XVIII, os ingles..:s co- t:ra · t.in1 déícg3tlo atado pdas íns1ruções de seus cli:i tort!s. 1 s Pela mesma
m ..:~· 1r,11n J colo.::ir em prática o governo partidário. 72 Mas "'governo í?ª~.!: razao, 13urke se teíia horroriZJ<lO com as inmuções e a disciplina partidárias.
) Por outro lado, o par tido de Burke organizava ''ligacões" no oarlamen-
d.t lll>" é urna t:'.press:lo ambígua. Pode ser usada P'tr:i signifíéar "partiqo
,, !.. ~v..:1110"'. õu ~!É!..que-os~aTfldõS e_nc_i:_am na esfora do governo como co. N:io organizava, n~m cr~ essa a sua _:ncenção, os ;.l!;nbros fo~a do par-
)
.1 111 .lc.: seus elementos componentes de relevo. !sso j:í ê um grande passõ lamento. Isso o~orrena mais tarde, e nao foi prev1sio nem defendido por
) ·, lt..:Í1te. pois os partidos podem ser Jpenas efos emre um povo e um go· 13urke. Na termmologia de Tocquevilh::, o partido de Burke era ainda um
\..:mo - como foram por muiw tempo na Alemanha Imperial - sem qua!- partido "aristocrático", e não "democrático". A diferença é importante.
)
4uc.:r acesso real .Is tomadas de decisão governamentais. De qualquer modv, Como Tocquevil!e observou, com sensibilidade: "É natural, nos países..
) 1> partido nu govemo, como acima definido, está muito longe do governo <lemocráticos, que os membros das assernbléi:is se preocupem (songenr)
p:irtidá:10 literalmen te entendido, isto é, com o significado de que o parti· mais com seus eleitores do que com o partido, ao passo que nas aristocra-
) cias preocupam-se mais com o partido do que com seus eleitores." 76 Cor·
J0 gunm1a, de que a função de governo é, na prática, tomada e monopo·
) liLada pelo partido vitorioso ou por uma coaliz:ío de partidos. respondentemente, esta a pergunta que pode ser formulada da seguinte
Vamos distinguir entre (i} o partido que continua fora da esfera de maneira: como passamos do partido aristocrático, fechado no grupo, par-
) lamentar, para o partido eleitoral, voltado para fora do grupo e, em últi·
governo e sem envolver-se nela, o partido-embaixador, por assim dizer;
) (ii) o partido que opera no àrnb !to do governo, mas não governa; e (iii) ma análise, orientado para a democracia?
o partido que realmente governa, que assume a função govern:imental. 73 Levando-se na devida conta a maneira tortuosa-e desigual pela qual
) essa transição ocorreu historicamente, de forma lógica a seqüência pode
Observemos também que h:í muitas fónnulas in termediárias nao só entre
ser reconstituída com clare~a. De maneira geral, o governo responsável an-
~ esses três casos como dentro de cada um deles; e especialmente que adis·
) ~ .
tància entre partido 110 governo, e govemo partidário é na verdade muito
longa. E certo que nada semelhante ao governo partidário ocorreu real-
. te as Câmaras também se torna, a longo prazo. um governo responsável
po:rante o povo e, com isso, um governo sensú•el, atento à voz do povo e
mente, na Inglaterra ou em outros países, no século XVIll. E é passivei por ela influenciado. Mas essa descrição é demasiaélo ampla. Como e por
de dúvida se, durante o longo reinado de Jorge III, os ingleses realmente que ocorreram tais fatos é o que devemos ver com maiores detalhes e
) cruzar:im a linha entre o partido-emba~xador e o partido com um lugar no isso pode ser representado como diagrama do Quadro 1 (entendendo-se que
governo. 13urke não chegou a ver, durante sua vida, o partido que havia as setas indicam apenas os principais vetores causais).
)
definido. Se assim é, o "governo partidário" n[o se aplica, nem mesmo em
seu sentido mais amplo, por falta de exemplos. - Quadro l.
) O que os ingleses começaram a colocar em prática no século XVIII Do governo responsável ao governo partidário
~:ro i_oi, _Q_Ort~o, o goy_e!_no parti~á!!.~·- mas o g~vemo respon.sáyel. ESW--
) Governo responsável-- - -- Partido no Parlamento
:in tecede no tem o overno artidário, que é dele uma conseqüência.
(orientado in ternamente)
~.!oveEno responsável consiste da responsabi idãdedo.s. lll!illSCfüs_p-ª_ra com
º-~me~ Isso pode ser chamado, num sentido muito amplo e, nova:-
) mente, ambíguo, de sistema parlamentar, isco é, um sistema baseado no
Primeiro direito de voto - - - - - P:utilio eleitoral (granjeador de votos)
) apoio _parlamentar do governo. Mas nada nesse tipo de arranJO implica, por

~"''"' ~
necess1<lade. um sistema de governo baseaao em partidos. [sso é muito cla-
) ro em ílurke. Sua posição era: "A virtuue. espírito e essência de uma Câ·
) mara (k>s Comuns consiste em ser a imagem expres:>a dos sentimentos da Gomno
~iução . N<io foi institu ida para ser um controle sobre o povo. ( ... ) Foi plane-
)
jada como um contro_le_para o ?ovo." 74 ~as par,a o pov2. não if!!.plíca !?!!.!º Governo partidário ..-- -- -- - Soliditicação partiliári:i
) - ~oyo. Q_parla11_1en_to fo~_con_~-º.!5!.9. p9r Q~ rke _C.Q.1:!1~ ~m _qrg<!'Q.~prcsc12_ú!".' l Sistem:.i p:Ulid:írio
llv~, mas uepresen taç~o. ~e_ 9.~~ er~-~~0_~o ~ai~"virtual' ~J!..Q...q!!.e
) e~. Segun~~ ess~ op1n1:io, os partidos não só eram estranhos ao pro-
Direito de voco generalizado - - - - P:utido de massa (orientado externamente.>
)

)
)
...
)
..rr-
,.. ) L O PARTIDO COMO PARTE 43
f
.,) ~ 42 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDARIOS
t; Dois feedbacks estão, portanto, implícitos quando as eleições se tor-
,. l
~ Em si, e por si, o governo responsável significa ai:~n<l_s q.~:_o~ n_:i~ni;­ nam reais. Um deles é a solidificação do partido, significando isso que em
1
• r- tros devem obter recursos do parlamento, a cujas críticas estão sujeitos. determinados momentos os partidos mantêm-se unidos não só pelos "prin-
t Mas os deputáaos podem continuar atomizados, isto é, sem as ligaçõêSdo cípios" ma~ também pelas vantagens eleitorais de se estabilizarem, ou de
... 1 t ripo partíd-4_d_o_ d~fenatd.as -p.Qr Burke. Urn~ vez qu-e este expliêõü-po: que se tornarem mais estáveis. Muita oscilação, divisão ou mudança de nome
~
.) era vantajoso para os membros da Câmara dos Comuns unirem-se em linha; acaba tornando-se negativa. É a essa altura que o~ protopartidos, ou as
}
~ partidárias, já então esse._primeiro passo pode ser considerado como dado. "partes" que eram antes divisões do círculo interno (e superior), se tornam

1
e
~
Não obstante, isso nos dei)5.a com um "Evem~ dos c~v_al_hei!os" cO[!~!_Í_tu­ partidos em nosso sentido, isto é, divisões dcvpaís em geral. É isso o que
cional, para o povo.· As coisas ficam mais ou menos como Burke tena de- Duverger quer dizer quando afirma - corretamente - que "os verdadeiros
~
l!O'

) sejado:· ã menose- àté que o eleitorado adquira significação, tanto em ta- partidos têm apenas um século de idade". 7 9
li>
E manho como em qualidade, ou em ambos. Não é necessário examinar as O segundo feedback é o que leva do governo responsável ao governo
) múltiplas forças que levaram à primeira ampliação do sufrágio e, na Ingla-· sensível - ou pelo menos a uma combinaçao dos dois. Um governo res-
1" Jf. terra, à Lei da Reforma de 1832. Houve, sem dúvida, uma crescente pres- ponsável não precisa responder além de sua resgonsabilidade tée<!!!S.L!&.4.
~' são de baixo par a cima. Como diz Daalder: "O moderno partido político de.ver é com ortar-se de maneira responsável e com tente. Um....governÕ
lo.
} ( .. .) pode ser descrito, sem grande exagero, como flllio da Revolução In- sensível é, em lugar isso, um governo que tem de ser flexível às exigên:"
dustrial" .77 Não obstante, o processo ~.de início, provocado de cima. ~fll1hj-pelo-c011ípôttamento competente e tecnicamente respon-
~' Provavelmente os deputados acharam que sua voz ganharia peso se sua re-
presentatividade fosse menos presuntiva e mais eleitoral. Acima de tudo,
s~vel, l1lfi governo sensíVe1 bem pode ser declarado "mesponsavel";Eto
é, como tendo abdicado de sua própria responsabilidade independente.
lo>)
porém, o eleitorado foi envolvido em conseqüência da concorrência entre As duas é01sas são portanto muito diferentes, e seu equilíbrio, difícil. Nãõ
.) o parlamento e o governo. Um governo que enfrentasse um parlamento obstante, só se pode falar de um P,artido democrático - significando com
intratável recorreria, passando por cima dele, ao voto do eleitorado, como a
isso uma orientação para fora, de~uanêfó ~!lfase, se desloca da
fez William Pitt. E o parlamento pode retaliar no mesmo terreno. O pro· responsabilidade para a sensibilidade política. · ·
h •

J
cesso foi provocado, portanto, pelo desenvolvimento endógeno, pela dia- , ____ LOgicamenfo-; parecena que-~-go\iêffio' sensível é o que existe no go-
""
) lética interna entre o pa;·1 1mento e o gabinete, mas ganhou impulso e foi v_e mo part1dáao...ia.I GOmêDl'~ves-~r.6=parti'd o-difitilfiiei'rtepõcíerilaTenoer
subseqüentemente determinado por forças exógenas. às reivindica ões através das quais luta por votos se não puder governar -
) À parte os Estados Unidos, as primeiras ondas de ampliação do su- d_!!.,__K.Q~~no p.a ttidário., Historicamente, porém, a seqüência em poaeria

) frágio ficaram muito aquém do sufrágio masculino universal. 18 Mesmo ser invertida, pois muitas circunstâncias pesam sobre tal evolução. Pode-
assim, a ampliação do sufrágio se destaca, qualquer que sejam os números mos afastar a questão dizendo que o governo sensível e o governo parti-
envolvidos, como um ponto crucial e importante. Foi a redistribuição em dário são contérminos. Também poderíamos dizer, com mais cautela ain-

- ) ..
~
'
1

li
distritos dos "burgos podres"* e a entrada de eleitores que não podiam
ser subornados, ou já não obedeciam às instruções de seus superiores, que
àa, que não há razão premente para um governo de partidos até que os par-
tidos realmente tenham de "produzir" resultados eleitorais.
l~
) ,.>;_
) . fizeram o partido progredir do ponto onde Burke o colocara. Quanto mais
os membros do parlamento precisavam de votos, mais o partido-no-par-
Quando todas essas tendências convergem, temos não só o partido
moderno, como também o sistema partiddrio como uma exigência estru-
?· lamento, isto é, o partido aristocrático, tinha de ampliar o alcance dos tural do sistema político e pQr1anto como um de seus subsistemas. Embo-
seus tentáculos, ou seja, ma.is o partido parlamentar precisaria, ainda que ra os partidos se tivessem tornado partidos na esteira da primeira amplia-
apenas nas épocas de eleição, de um partido eleitoral, um instrumento co- ção do sufrágio - ou seja, em condições de uma participação muito redu-
letor de votos e, em última análise, angariador de votos . O partido coletor z.ida e de direito muito limitado de voto - o mesmo não ocorreu com o
de votos pode não representar grande diíerença, mas o partido angaria- estabelecimento do sistema partidário. .b_ estruturação d_aA rmação yo-
)
dor de votos, sim. Se os votos devem ser angariados, é necessário atender ~tica ~mo sistema _p,artidário só surg~_guando o diill!.2 de v~o ~ outiãS
às queixas, e as reivindicações devem, até certo ponto, serem satisfeitas. c~atingem uma "massa crítica" e envolvem uma garcela substan -
) cial da comunidade. T.e mos de ser vagõS.:_gY.cmlQ~· es.sa ·e~ncia detama-
• Rouen boroughs, as cucunscriçõcs eleitorais mglesas que, antes da refonna de '0°2 Cievido à súa grande variação no t~mpq CJ:1º ;it.!!10_:_Nãoo5stante,é
1832, embora tivessem um número ínfimo de eleitores, continuavam envinndo re- claro que o sufrágio uníversãl ;-oú quase universal, não é Ürna condição ne-
prescntan1es ao Parl r,nien10 . (N. óo T )
•.
PARTIDOS E SISTêlVIAS PARTIDÁRIOS O PARTIDO COMO PARTE
)
) 1.:essária para que os partidos se tornem um subsistema do sistema político: ~.ir di! gramles diforenças, :imb_os_~e preocu pavam - e se consternavam -

••
) 3 Ingl:iterra é um exemplo tlest:.tcado disso.· O sufrágio universal traz os ,·om J natureza nio-democr:llica e oligárquica dos partidos. e não com a
partidos de massa e o partido "criado externamente".ªº Modifica, gort:iry- 1naneir:i pela qual os partidos se situ.lv;1m - corno um subsistem:i - na teo-
to, o sistcm:i parridário, ma.s não é necessário ao seu aparecimento. Quan- ria e na prática da democracia. O problema desses autores em a democra:
1.:!a sem parridos ou denrrQ dos partiáos_, ~n:Io a democracia como sistema
\
)

)
L-o <Í scqúênc1::1, o registro histórico não indica uma progressão clara ou uni-
forme para todas as fases lembradas no Quadro 1, mas parece existir uma
ordem nào-reversivt!I para três fatos principais: (i) ~over_!.1.Q re~ponsá.!_eL
poli1ico q_u_e_é resultado dos _p~~!l<!_o_Le 11e/es~base1a.-r;lichei descrevéu
~eu livro corno uma ·'sociologia: · dos partidos. N:ro obstante, o fundador
J J sociologia dos partidos. rigorosamente falando, não foi Michels, m:is
••
••
( ii) a .. realidade" das efe ições, (!ii) o estabelecimento dos partidos como
) ~lax Weber. 87 Foi 'Weber 'J:iuem chamou .i atenção - com muito mais su-
~n su~~ª· .Essa sequência é não- reversível~ veiiue as eleições e
) a particiQação apenas. ls to é, se1~governo constituêional e responsável, tikZJ do que Marx""e- Engels - para as bases s~a polít1c~_g~al e
não conduzcm.nec~ssaQ.a.!!le~a...!lma formação poht1ca baseada no par- qo~ puü.dos_em ~ partkulªr, e_ª-s obs~_r_y_ações que faz quanto a isso são tão
)
)
utio - a um s1srema_e!lrtidáno.
Vistos retrospectivamente, !Odos esses fatos parecem bastante óbvios.
p~netra~lteL_<l-º._anto aumerosas. Com relação aos aspectos aqui examina-
dos. porém. Weber foi em grande parte responsável pela sugestão de uma
perspectiva histórica enganosa. Sua inclinação sociológica levou-o a afir-
••
)
)
Mas não foram óbvios, nem percebidos, qumdo estavam acontecendo.
Ç,?ns~duamos eviden~or si mesmo que, se uma sociedade é consultad~,
e._guanto mais amplamente isso ocorre, mais a expressao e a articulação
111ar. por exemplo, que "também os p:irtidos da Antiguidade ou da ldade
Média podem ser designados por esse nome", 88 perpetuando dessa forma
a confusão entre facções e/ou antigas "partes" (como os guelfos e os gibe-
••
1
)
de suas exiiências exigem elos intermediários e correias de transmissão:
Mas que esses elos tomariam a forma e gannar1arri a nat urêia ae
trutura do tipo partido não só não foi previsto, como também em grande
umaes- linos) e os partidos modernos. O fato de que os partidos são _pa,rlict~ .QOr-
(~- fazem E?art~ de ur;1a co11srr~ã0po1ítif..q-rnfa1m-ente nova ·~ si~2r
:;.,:ia ve1.eor ela modelados, não foi percebido por Weber, como não o ÍOi
••
)

)
medida não foi uma possibilidade bem compreen.dida. Todos os fatos que
descrevemos ocorreram - repetimos - em meio à névoa mental da expe-
riencia prática, produto muito mais da força dos fatos do que da previsão
p~los seus antecessores e contemporaneos-. - · -

·-. Podeinos re petir, portanto , que a expressão "partido" se torna mar·


-- ~,...._,.,.
••

das idéias, e muito menos de seu desígnio. 'ªn te e"ãclg_uir~u ma....c.o.ru>..ta.Ção_po.siti.va. pQ(q_ue indica_\!)Tla entidaqe.nQva.
) Ao voltar dos Estados Unidos, onde viu os primeiros partidos mo- O~iferente porque a coisa é diferente. Mansfield introduz, de 'ma-
)

)
dernos que na~ciam e functonavam sob condições democráticas, o comen-
tário geral de[ Tocquevi!_le_foi o de que "os partidos são um mal inerente
a.P..t..g~!J:IOS livres".~ 1 Não estava dizendo muito mais do que Wãsfüngton
neira eloqüente, a novidade do caso: ·· ~mos avaliar a guase-ubiqüiJade
do governo E?artidário, hoje, à luz de sua total ausência no passado''-.-:IYtas
devemos fazer restrições a sua explicação subseqüence: "Dc ªcoêao com
••
)
)
havia dito. E embora Tocqueville percebesse a diferença entre partidos
aristocráticos e democráticos, sua ênfase recaía claramente em outro aspec-
to, ou seja, na distinção qualitativa (não quantitativa) entre partidos "gran-
esse il!_dício, parece necessário distinguir os partidos do governo partidario'
(. :)Porquearaz:ao- do partidarismo êtfusimples e forte~ a respeitabilidâ-
Je, e não a eXJstência, do Qarti<i_o é a marca caraêterística do governopãr-
••
)
)
des" e "pequenos", os primeiros baseados em princípios e idéias gerais e
os segundos não diferindo, em nenhum aspecto, das "facções perigosas". 81
Não só o interesse de Tocqueville pel os partidos era muito periférico , co-
ti<.Íário."89 É muito certo que as razões do partidarismo são simples e foi-
tes,mãs não geraram, no decorrer dos milênios, os partidos: produziram
"facções". Portanto, é a existência do partido, não a sua respeitabilidade,
••
)
)
mo também sua preocupação era mais ou menos igual à de todos os seus
predecessores: os partidos não deviam ser facções.83 Em 1888, James
13ryce fez. em seu American CommonwetJlth (A Comunidade Americana)
que é necessáiiO explicar.
••
)
)
uma ampla descrição de como as máquinas partidárias funcionavam nos
Estados Unidos; sua contribuição teórica não foi, porém, muito além da
afirmação (em 1921) de que ''os partidos são inevitáveis. Nenhum país
1.4 Uma racionalização
Podemos fo rmular, então. a seguinte pergunta: que relevância têm hoje os ••
)
grande e livre passou sem eles. Ninguém mostrou como o governo repre-
sentativo potll!ria funciona r sem eles".8 4
. Até a Primeira Guerra Mundial, os <lois autores que se ocuparam es-
antecedentes? Por que remontar às origens? A resposta é que o passado
constitui o mapa original, a planta das fundações. Com o decorrei do tem-
po o edifício cresce, e as fundações ficam encobertas . .b por isso que, de ••
)
pecificamente da questão do partido foram O~rogroskiss e Michels.86 Apc- tempos em tempos, é bom voltar o oUiar para a planta original. Entre ou-
••
)
)
••
) ti
-A
) 46 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS
) O PARTIDO COMO PARTE 47
wis razões, acabamos por nos envolver de tal modo com sutilezas que per-
demos de vista os aspectos fundamentais . Raramente perguntamos: por n:is parte d.e si mes.!11ª· .b claro que os partidos podem ser disfuncionais
qué? Qual o propósito de um sistema partidário? Os partidos surgiram r"azão pela q~al também são passíveis de forte crític:a, m_3$ .!J!O daquel~-
porque havia necessidade deles, porque atendiam a um propósito. Ainda quc se aplica às facções - a falta de justificativa funcional.9 3 -
servem a esse propósito1 Se não, ou se estão sendo usados com outros Se -os partidos nao são facções, seria errado esquecer,por outro lado,
objetivos, devemos deixar isso claro, pois não está claro. Viajamos cada que f~am, por longo tempo, precedidos pelas facções e que a razão da
vez mais pela sempre crescente selva das estruturas partidárias sem saber fa_~çao -_::~<: do part ~do - ~ser simples e vigoro~a. A advei tênciaque- isso
realmente onde começamos, e muito menos para onde vamos. .,, rep~se~a e_a de que os parndos bem podem recair em algo que se asseme-
Há cerca de 150 anos, os partidos se comportaram e se desenvolve- 11~ a um~_fac!_ãº: Nesse sentido, o faccios!sm ~é a- sempre_p!_esente ierrta..:·
ram muito mais como uma prática do que como uma teoria. Por isso, entre t º a~ ~rganizaçao R.artidá ria e para uma _?eg«:._neraçª~_çmp.r~p_o~íveL
outras coisas, a mensagem tende a se perder. E pr:_tendo que taJ mensagem ontribui para explicar não só por que os sistemas partidários falh~
possa ser recapturada e a justificativa da era do partido reconstituída :: .. e desmoronam, mas também por que o velho tema do horror ao faccio-
sismo pode, de tempos em tempos, ser revivido na censura ou mesmo na
embora apenas em seu arcabouço - ~ base das três premissas seguintes:
) 1. Os partidos não são facções. --- ~ rejeição aos partidos. 94 Contribui igualmente para justificar a repetida
exigência de uma democracia sem partidos, direta. 95 A distinçao real entre
·\ 2. Um partido é parte-de-um-todo. partido e facçao pode, na verdade, tornar-se sutil, mas precisamente por
. 3. Os partidos são canais de expressão. isso deve ser mantida conceitualmente firme. Quanto mais os p artidos se
(i. ; gs partidos_ não são facçõe~, i~!S>_é, s.e .o partido 11.ão for_diferent.e co~portarem como ac ões mais impO[l:.ênte seráêõmpieêncferqueno$$;
d,a facÇao, n~~erá_ ~m partid9-Ji:n~_lLll)_ª_Jaç_ç_ão). Ess_a gi,stinçao é con- êfítlcã"e 1rigida menos contra é),_jdéia_ dQ .I?EJ}do_do que contra sua õe-
.&cneraç~o em facxões. -- - ·
servada aj,!1_9_a E.<:!ª_f!l_a!oria d~s l íngua~-~~~.m._dúv i d.a_ ~eu uso é comu.!!1. 90 Os
2artidos são critica_dost ~m freqüência, mas não são um mal por definiç'ãõ.- ~Um partido é par~~.!!1 todoj §emanticamente, "partido"
A facção tem sem~pelo meiiOSíiaTinuaêffiTomum uma-sígn°ifieãÇjõ transmite ..::.-taeve lransm1f1r - a idéia de parte. Essa associação cfiama
pejQtati\~a,_e_asJacç.ne.s....são um mal..._O~J?artidos - diz-se com reqüêll9l1 i;ossa atenção para uma hgaçao sutú entre um.JLP-arte e seu~ O todo
- são uma necessidade. As facções nao são uma n~essipa_de, simplesmente p~de ser concebido monoliticamente, ou organicament~ isto é, comõriiõ'
exis~ç_m. Ao que tudo indica, a palavra "facçao" na-o perdeu, na Jingua~ sendo com12osto <;!~ partes. Isso, porém, significa apenas que nao temos
habitual '. sua cono~açãa....ori~u seja, a de que é apenas a expressão ~azão para nos preocuparmos com as partes (e partidos). &1as se nos ocupa-
de confhtos pessoais, de um comeortamento auto-referido e q~ignora o mos daquelas partes gue são partidos, a il!!Qlicaçã'o é a ae que estamos exa-
p~ Nas palavras de Burke, a luta facciona! representa apenas uma luta minando um rodo pluralista. E, se a formaçao política é concebida como
m~squi~a e interessada por cargos é-erriolumentos.9. - - -----~ l!m todo pluralista, então o necessário é um todo feito de partes no plural :
t certo gue os membros dQS...p.a.ól9oj nao~ão altruístas, e a existén- um todo-de-partes, resultante na verâaóeCfo JOgo mútuo de suas pa~tes.
~ia ~e -~~!J.QQi.nã~nüna, de mo?~ ªlgurn., as.motivações egoJsta.§._~­ Isso equivale a dizer gue o todo nao pode ser idenHficado com apenas uma
~;ueulõsas. As motivações dos pohhcos Pl!:.ª a busca do poder continuam patl.e.._Nesse caso, uma parte não é uma ,E!rt~m tQdo...nML.é um tod-o.
cons_tantCJ_. O gue varia são o 2rocess~l!_tqj_~~_lirrii~açoe~ im?ostas a tais . S._: ~errac!_o ~eg.!!._genciar ~ssoc~o ~ ~ ~e_e o p-ªJtid-9.i_!~
mottvaç~es. Me~m~que o político Q<!.Gidário s~a motivado pelo-interesse be_i_:i,_ sena b~:tan ~ - errado, por outro lado_,_c..QD_sjd._eJjlr o partido corrto
pesso~ a penas, seu comportamento deve disfa!:_çar:. se as rest ~9efaõsis- um-ª...parte~m relaçao com o to d.2·-~~-yanido n~~~_parte :3P~
te~a L~.re ~ ~~rati_yas - taJ...m9tivaç:to. A difere,!:!ç~ está, então, em que Ql' gpVJ!J!!ar e_m_J~n_çãO dó todo , iStO é, tendo êrrÍ vista 0 interes_se g~raj,
'
" ,. • ) ~S partidos S:lO instru~~l]tOS _ das vantage_!1S COietivas, de umfim que_nfo, enta-o não dife~<L de umafacÇã~ Embor_ã um partido- sÓrepresente uma
-~ , e apenas a vantagem pnvada.QQi.COmpe!idQI_e~. Os.partidos lig~ ~povo a part!, ~~~parte ~~veadotâr Ú~bordage m-não-pard'ãrdõ tod~ ·-
l. ~n:_ gover~lO~façções _12,?p. Os 1?..artidos estimulam uma série·« possib! Reconhecemos que "servir aõlõdo" { vãgõ-:-genérico. Mas a genera-
,, hdad.es 9~-~~~~~~ as f!cç.Q.e2_l)ã9_._ Em suma, os partidos são instrumentos lidade de um imperativo pode igualmente fo rtalecer sua aplica.bilidade ge-
fu_11c!~ na1s, -:..~rve~1 a obje~ivos e d~~emp~_ri,ha.ai p_ape!s- - ~s::S.ill~s ral , enquanto o imperativo for significativo ou puder ser especincado de
nao.. E 1~s~ , emuTfima analise, porque um partido .é parte de um todo maneira significativa. Também se pode admitir que o interesse geral, o in~­
q~e procura s~r a~~_'.:ropós_it~s desse..To~o-;- ao .PasSõ que a facÇa'o é ápe- resse púb,lico,_ o bem comum, e símbolos normativos semelhantes não.-
tenham padrões objetivos.9 6 Mas não se segue a conclusão de que sejam
) 1'Hfl TIDOS E S/STéMAS PAR TI DÁ RIOS O PAfiTIOO COMO PARTE 49
).
..·:ipk, p.:ç:1s Je r<'tóri<.:a ou que ind iquem apenas qu:J.l pos:.a st:r o objcti•:u te, suas princip:.iis ativi<l:lues pudem sa mencionad;is como uma função
g·:r.ú Jlls puliti;;o,. 97 O fato de os pa<lrões serem rel:rnvos e subjetivos não re;resent:Jtiva e uma funç:fo expressiva. 100 ~las m1nh;i 1infase recai sobre
) : r qiii~..1 su..1 1ne~istência . 98 r\dm1tindo-se a existência de muitos públicos a última. '
_. d.: muuos interesses pú blicos, cuda un ueles pode ser dis1ingu1co dos :\ noç:fo de representação enfrent:i, ..:om rela.;io :.ios partidos, duas
i 11 1eres...:s p:irc:..:ularistas e privados, e a tles contraposto. :i qualquer mo- <lificuid:ides importantes. Em pri meim lugar. o ..:oncc1to recebeu muito de-
r:ti.:r11 •J. O que: ..:ons<itui o interesse ger;il é sempre discutivel, especi:ilmente senvolvimenco té.:n1co, e estaria for:i Je propoíções, bem como sena exigir
porqu:.: t.hscutunos o que é mais <lo interesse geral e de qual públiêo. ~l a) Jema.is do ieicor. relacionar essas complic;ições com o tópico tlo partido.
) pmk·se dcmonscr:ir sempre, fora de qualquer dúvida, que algumas coisos Embora n:io exista expressão sem algum:i capad<ladt! de representação,
) 1: :o cu111ribuem para o máximo bem-esrar coletivo de nenhum público. mesmo 1mprt!cisa m~nte concebida, é bastance comrovers:i a possibiiid;ide
que ndu são do interesse gc::ral (qu:tlqucr que:: seja a delin1ção deste). Isso ue que OS partidos representem OS S;!US eleitores (e não Os .;,,;us membros).
) porque co<la quescão tem soluções que s_ó beneficiam :l uns poucos. quancl?i Em segundo iugar. e o que é ;iinda mais importante. a repr..::.t:ntação é pt:r-
} não a uma úni..:a pessoa. em detrimento de muitos. Os benefícios colcti· feitamente concebível e possível sem parcidos. Na verdade, a teoria da
vos não surgem gratuitamente e por si mesmos, mas os não-benefícios cole· representação não se sa i bem quando precisa alojar os. p:.irtidos. 101 Por am;
) tivos. os danos coletivos, estão sempre nas imediações. O bem comum, o bas as razões,__p_O!tan_t9. a funçã<l representativa dos partidos_d~flciln!ente
interesse público e símbolos deonrológ1cos semdhanres só podem ser rcjei- pode ser destacatla como a úialUi1Ção principal~ ca_racteristica. -
\ Outra possibíllclade seria ;i- de fálar -de "função de voz· ' e considerar
t:.idos se, e apenas se, pudermos demonstrar que não têm peso na motiva-
) ção hum:!Ila, que lhes falta uma realidade de comportamento. Enquanto os partidos como c;inais de voz. A sugestão é fe ita no brilhante tratamento
isso 11:.ro for feito, devemos ter presente que as possibilidades de uma co11· analítico que Hirschman dá à expressffo. 102 Não obstante, "voz" é dema-
core.lia cliscors, de um ~quil ibrio en tre u1úão e separação. giram em torno siauo amplo para nossos objetivos, pois também se pode :iplicar. entre ou-
l da eficiéncia do imperativo que exige que a "parte" vencedora seja .. im- tras coisas, a manifestações, motins e uutras maneiras de fazer-se ouvir. Os
p:irciaL:', que governe para todos e não apenas para si mesma. partidos pouem ser considerados, portanco, como 11111a das numerosas, e
> ~ O~_rtidos s~o, canais de express~to é, P._ettencem, em prim~i­ muito diversas, maneiras e mouos de expressar uma "voz.".
) ro _l!Jgar e principalmente aos meios dflêflr.ese.n.tação~~o, -~ ud os artidos são instrumentos de ex ressão ue dcsem-
otÚ:!!lliL.agência,..de re,presemação do povo, exp_ressanda s_ua:u.cill.indica.- pçnham uma função expressiva. r~cura-se 1zer. com jss_o..,..q.u.~s partidos
) ç~9 Ao se desenvolverem, os partidos não o fizeram - durante todo o podem ser melhor vistos como n1eios de comunicação - e talvez sob au~i­
) século XL'< e até boa parte do século XX - para transmitir ao povo os c!os cibernéticos. M~ha ~.Q_da Cunção e»<pressiYa, porém, na.o yig__ª~ ­
desejos das autoridades, mas antes para transmitir às autoridades os desejos nas ao sentido literal de que os partidos são correias transmissoras, no sen-
) do povo. Isso não é afirmar que todos os partidos expressam e representam tj~o-~c~nden~e. das pretensões...e rei./iilciicaç.Qe~. São maiS do_q_ue isro.Je
) sempre. Estou dizendo apenas que os partidos que são panes lno plural) os p~ como instrumentos de exe_ressã<?_, se lin1ita~~m a "tra~1smitir
encontraram sua razao de ser essencial e seu papel insubstituível na imple- informações", seguir-se-ia entã_g _ql,!e_sua época passou. Eles bem poderiam
) ment.iç:i'o do governo representativo e sensível. g importante ter presente s~0ub5tiwíaoSpõrpê~ de opinião.levanta_mentos ~-~~nio a ~e_cno::­
) que essa evolução foi em grande parte natura!, ou não planificada. Os par- lqg~ jâ ~rmit.;:_- eel~s _e~ei:!_o~~ãos, s'enta~o~ em seus termin~-~
ti2.?s tO_!:.ll~·Se os_meios de eX!U~juntamente COm O processo aa~ computa<lor~s ~ datl!Q.gratando, para o exan· ~ process~9 pela máquina,
) democratização da poi ítiC_J . Ao mesmo tempo, o governo responsávertor- s~:1s 21efcr~pçi_as._e...p~1.samç_nJ.o~spõl íticõs. M~ os (?Urtidos oferecem algo
) nou-se '"sensivél" prer.:is;irnente pÕr-qüe os partiJus ofereceram os~s _que nenhllifla _màqu.in;L.Qu_ ~q_uis-ª-.de opini:io pode oferêcer: tr~ · !iíltem
para -a ·ãrtículãÇão,CõmunicitÇ~o e T01 pJL' ll\~ tação dàscfe~na"°iidas dos gÕver- P\ !c.ivi~cfícãções apoiar.las por pres!iij_~~. _9 pa_r.t ~do t~nça sêü própn1>pcSõ
) n~ifo~ Foi'. ~ncãu. ã_p~qgu.:ssào cumulatLv<:Le_auto ~ u_steotada _da f11..:Çã2 nas reivin<lkações ague se sL·nte obl:_iga~ faze r eco. E 0!nha noção~
para 0 parudo, do govEls..1.10 responsável para g go_veroo s~nsível, e do p~rti · )~~ção :xprcssiva deve ser compree11u1da com essa observ;ição. Corno disse .
j
<l~ p:s_rl :lii1..:nt~ P.;ica o partido cl~ilorfil;glie illabc~-~-~_u a fur!ç:T9_ fu!!_d~- ~:l.~ ··os pãrtidospol"mccs<Jõ ínsTifUi ões basicas para ã fiãaução das .e!..:-
) 111..:11L;d!. o_papel funci_oQSll ~ a ~l_u~ç_;IQ_~ i H~ r!}_
á cLça _g9~- partiu os :- cn.1 sum.:i. º
_ IlQ ltlc:AL.12ill;iliQ S". 1 3 Da mesma forma, um ·1utor
!~1~ias .a m:is..fil_ÇJTl
atfü.il ~ ~l_!ll~!J.~~ servem os P!trtidos,. . muito diferente. Sçjgtbchneider, L' ·L·larou que "o C:!li <!.Qli.E..~!gani~- .
)
rah!1, ate agora, de partidos, mais ou menos indiforcn,emente, como ç_~o3~poue trªduzir ..:m fato a ~t!_~govCJ!lQ...!]!!joritário_é -~~~
J (i) agências representativas e (ii) instri1me11to.- t'.xpressivos. Correlativamcn ·
---- .-
político·· .1o4 Ambos pen~:.ivam, ao que me parece, na função expressiva.
----
.. ) 50 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS
,. )
J)izendo isso com outras palavras, minlrn função expressiva é um rótulo -
.. )
a melhor abreviatura que pude encontrar - para aquilo qu·e eles pensavam . NOTAS
.) Perdura a objeção de que minha reconstituição ilumina apenas meta-
) de do quadro. O,t partido~ ~ão ~~~res~tlm_!penas, eles também canalizam.
• Nas palavras de Neumann, o~ partidos "~ganizam a caótica vontade públi-
.. ) ca". 'ºs Também agregam, selecionam e, em certos casos, desviam e defor-
- mam. lssÕ realmen 1é Õcorre~Eao.bjeÇãÕ pode ser reforçada afirmando-se
) que mais do que expressãfê refletir a opinião pública, os partidos a mode-
.. ) lam ê, õã verdãde-: manipulam. Tãnibémsepode admitir isso~ com exceÇãô
'cto .. mais'~ Eu aceitaria !l_P~as _que os·parti<:!os_rªm9,ém fÇ).[JTlam e_ ma!'!_ip~­
.. lam _a_~jjõ';_-Os dois lados da moeda J expressão\r~pulação difi- .f
. ) cilmente podem ser tratados como equivifentes. A,9miti~_<U!,e_fil_p-ª!:.
J. O artigo de Voltaire é sobre "Facç5o" (Edição de Genebra de 1778 da Encyclo-
pédie, vol. Xlll, p. 7·65). Mas o artigo sobre "Vartido" diz: "partido é uma fac·

.. }
.ti dos~ja~n.:! canal_d_e._c.om.Jluka.ç-ªº-1.los dois sentidos, disso não se segue
que sej2m um canal de transmissão descendente na mesma memdãein'Cfue
cprntTtuem uma_cQueiLlransmissora ascendente . Há manip.ylª-.Ç!2__e mani-
ção, int eresse ou poder (puissance] considerado oposto a outra"; e um dos
exemplos dados é o de que a "Itália foi dividida, durante séculos, entre os parti-
dos dos guclfos e dos gibelinos". t um círculo vicioso. As citações também se
..) encontram no Dictionnaire philosophique de Volta.ire.
pÜlação: e enquanto· os partidos_f_~arteúruLpl.J.u:all., um sistemãpãf-
. )
'!'
tidáriÕpresta-se à expressão vinda de....baix.o m1iit0 mais_dQ._gue à manipula-·
çã'o feita de cima....J3em pode ocorrer que o povo não tenha opiniões próprias,
2. Ver , em geral, Sergio Co tta, "La nasci ta dell'idea di partito nel secolo XVIII",
em A1ti Facoltd di Giurisprudenza Universitd Perugia , LXI , Cedam, J 960; Erwin
Faul, "Verfemung, Du ld ung und Anerkennung des Parteiwesens in der Geschi-
"" oú que suas opiniões sejam em grande parte formadas pelos que influen· chte dcs Polit ischen Denkens", Politísche Veirteljahereschrift, março de 1964,

~
J
ciam a opinião pública. Essa circunstância, porém, apenas confirma as pro- pp. 60-80; Mario A. Cattaneo, li Partito Polirico nel Pensiero dell'Illuminismo e
""" porções nas quais um impacto manipulador multicentrado e entrecruzado, de/la Rivoluzione Francese , Giuffrc, 1964; Harvey C. Mansfield Jr., Statesmon-
ship and Party Governmenr: a Study of Burke and Bolingbroke, The University
difere de um tipo de manipulação unicentrada e auto-reforçadora, indican- of Chicago Prcss, 1965 . Cotta é particu la rmen te relevante para Maquiavel, Mon-
do com isso que a verdadeira manipul~ção, ou a "manipulação repressiva", tesquieu e Bolingbroke ; Cattaneo focaliza ' os protagonistas da Revolução Fran-
surge precisa mente quando o pluralismo partidário desaparece. cesa ; Mansfield concen tra-se, apesar de se u título , em Burke. Também me pare-
J !: um paradoxo perturbador o de que nossa crescente busca de preci- ceu muito útil, para o ambiente constitucional geral do debate sobre o partido,
Marie Galiz.ia, Carat tere dei Regime Parlamentare Inglese dei Settecento, Giuffé,
.,) são e de medjda tenha paralelo em uma crescente indiferença pelo peso das 1969.
) palavras e em uma imprecisão crescente na sua escollia. Isso toma ainda 3. Machiavelli, Discorsi sopra la Prima Deca di Tito Livio, 1, 4 e 7. A diferença é
- mais necessário começar do que é fundamental, ou a ele voltar. Dizer que que os romanos tratavam os "temperamentos" pelos "meios ordinários", en-
_) um sistema partidário é um sistema pluralista de "partes" que "expressa" quanto facções e sei tas evidenciam um recurso a "caminhos extraordinários".
4. Considerations sur les causes de la grandeur des romoins et de leur décodence,
) vigorosamente a opinião dos governados deixa muita coisa por ser dita - cap. 9. ·
../
admitimos. Mas é a premissa que dá perspectiva e proporção às muitas coi- 5 . Ver l 'esprir des lois, XIX, 27 (ed. Garnier, 1949, t. 1, p. 16). O trecho signi-
_,1 sas que ficam por ser ditas. ficativo quanto a isso está, porém, em Lettres Persanes, CXXXVl, onde Mon-
tesquieu observa que, na Inglaterra, "vê-se a liberdade surgir incessantemen-
_) te das chama s da dissensão e da sedição". Mas não há nenhuma referência a

_) 1
;
partidos.
6. Livro X l, cap. 6.
7. Ver, por exemplo, Pensées, l 802: "Dando a liberdade, com freqüên cia, o rigem
J ti
·; a duas facções, a facção superior é 1mp1cdosa na explotaÇão de s uas van1agens.
J "''' Uma facção que dom ma não é menos terrível do que um prín cipe em fúria ...
Ver ta m bém Pensées 63 1, 1816; e L 'esprit des fois , 111;:3.'
) 8. Autor importante, pois j á em 1701 John Toland ha.via. pubücado sua Art of
Governing by Partys (observe-se a ortognifia) . Sua posição ena seguinte: " As
) divisões devem ser cuidadosamente evitadas em todos ·o~ bons governos e um Rei
jamais poderá rebaixar-se mais do que c hefiand o um Partido; pois com isso ele
) se toma apenas o Re i de uma facção e d e ixa de ser um pai comum de seu povo"
i
)
51
)
)
)

)
) 52 PARTIDOS E SISTEMA S PARTIDÁRIOS
NOTAS 53
)
l µ. -+. 1 l. Par:: o~ prune1ros <?>e ritos. e os m•:non:s. \<!r C'a rol111e Robll1ns. ··om:orJ ·
) ant ,>ar11cs: a Siudy of the Accep tant:c: of Party by rll e Enghsh me n'' PSQ <.J ·- 22. O/ µarries in gmeral, cm JVorks. 111, 58.
zcn1bro t.k ! 953. pp. 505-529. ' ' "' 23. /bid.. pp. 59-65. Grifos no ongma!.
) Q. Tite iciea o/ .i_P:itr1ot l::i115 (li J:i). em Tl:e h'orks oi Lord BolÍ'lgbroke louc •ll~· 24. Por exemplo: ··se o governo bn t:lnit:o fosse proposto como objeto de especula-
remo~ co~10 •l'or\sJ, C-Jicy e flan.-+ vcb., l"ila<ldf:J, IS-! 1. vol. 11, :i . iu1. To- ção. veríamos nele, 1mcd1at:ime n1e. uma fonte de tlivtSào e parudo, que lhe seria
) d:.i, a s rclc rcnc1as ;:Io a css:i ed 1t;ão. Ver tJmbém em 1b11i., p . .J01: "Os pamd o~ . qua~c 1m pos~ível (... l eV!tar" (Of tlie pareies in Great Brituin, em IVorks, p. 6 7.
mesmo ant.:s de dege nerarem cm foc.;õi.:~ absolutas. au1da são números de ho· grifo meu).
) mens J >\OC1 atl os para ... erros obj.:uvo~. e certos 111tercsscs. yuc não ~Jo ( .. .J o~ 25. Como John Plamcnarz n:ssalta. <1<.:ertadame11te, ··como íilósoro. como cp1s1emÓ·
d~ c~mun1dade com Oulros. Um m1eres.c m:us privado ou pessoal su rge scmpr~ logo. Humc rc.:i:beu o q ue lhe era devido. (. ..) Como teónco social e potlttco,
) dt.:n1a s1ado cedo 1. .. ) e se roma n~!es prcdomman te ( ... l mas esse partido ji não lhe foi fc1t:i justiça" (Man and Society, McGraw-Hill. 1963. 1, p . 299>. Em
se torn ou cn tão uma facção." sua críuça da teoria dos parudos de: Hurne, por~m. Plamenatz pratica certa mjus·
) tiça contra o autor que analisa (ver espec ialm ente pp. 320-324) ao não perceber
10. A f?issertarion upon Parties ( 1733-17 3-H (daqui por diante eirado co mo Disser-
ta1io11 ) C:u:ta V, cm l\lorks. v_ol. li , p. 50. Ver também Cana XIX, p. 168, onde que ele falava, na realidade, de facções, e não dos partidos :1 base dos quais Pia·
) menatz faz ~eu julgamento.
Uolmgbr~kc obse rva que a d1tcn:nça entre partidos só é •·real" e njo ··nominal" .
quanJ o e uma "difcrenç :i de prin cípios". ' ' 26. Thoughts in tire cause o/ the presenr discoments ( l 770), em The JVorks o/
)
11. Dissertation. dedicarion, em Jllcrks. vol. li, p. L l. Edmund Burke, Boston, Little. Brown, 1839 (cm 9 volumes). 1, pp. 425-426. Os
) 12. Scgundo suas palavrJs. "os dois part idos se h:iviam tr:u1sformado em facções números das p:íginas referem-se a essa edição.
no scnudo rigoro~o da palavra". (Of the srate o[ parties ar tire accession of King 27. lbid., p. 426.
) Ccorg the Firsr. cm IVorks, vol. li , p. 433). 28. lbid., p. 430. Ver também p. 387 : "O partido da corte reduz o todo a facção";
13. Disserratio11. Cam 1V. cm hlorks, vo!. li , p. 48. Observe-se rnmbcm a semellwn- e p. 421: "!Os homens do ReL estão ] mais in teressados nos emolumentos do
) F' corn llurke em rebçfo à famo5:i definição que este deu da representação cm que nos deveres do cargo".
seu Aúdress de Unst o l (infra , nota 75). . 29. lbid., pp. 421, -'24, e passim.
) 14. Disserratio11, C:u:ta XIX, em Works. li. p. 167. 30. lbid., p. 428.
15. h>o lem bra o argumento de Hob bes cm favor do Levia tã mas tam bém a ditadu - Jl. Harvcy ~tansticld Jr.: •·P:u:ty gO\'Crnmcnt and thc settlcment of 1688", APSR,
) r:i tio prokr aria~o <lc Marx: o prolctariatlo toma o poder para a~abar com o po- dezembro de l 964, pp. 937, 945. Sobre os partidos ingleses do século XVIII ,
der. e toma o 1-.stado para .. ac..ihar com o Estado. Nas palavr:is de Bohn.,brok • Lewis B. Namicr é a fonte fundamental. Ver especialmente Tite Strucrure of
) 1 d .. •
um paruuo o pais e ··o ultuno partido", o partido cujo interesse é "destruir
o e,
Politics at tire Accession of George Ili. 2~ cd., St. Martin 's Press. 1957, e tam·
) 100,a dcsculpa futura para o parudo" Cem Gali21a, op. cit.. p. 31). A diferença bém seu Monarchy and tire Party Sysrem, Oxford Univcrs1ty Press, 1952.
esta, naturalmente, em que o partido do país de Bolingbroke era um instrumcn· 32. Note-se que não estou deixando implícito ter llurke, na realidade. concebido um
to defensivo, e n;fo ofensivo. governo pelo partido. Sob esse .ispecto. discordo da tese principal de Statesma11-
J 16. lvorks, li, pp. 11..:? 1. ship and Party Government, de .Mansfield, op. cit.
) 17. Alé~1 d~ dois e;cntos princip:us (A Disstrtarion 11po11 P!lrries e Tire idea of a 33. Como este capítulo mostra. não h:í maior uulidadc. e pode induzir a erro, falar
patr~ot k111g), que cobrem o período 1733-l 738, e do ensaio Of tire state of a sério de "partidos" gregos e romanos, ou dar esse nome aos guelfos e g1bclmos,
) pomes ar the acc~ssion of King George rhe First (cit. anteriormente), devem ser e mesmo aos Level/ers. • Os partidos do século XVl!I eram, na melh or das hipó·
cons_ultados tarnbem .The Craftsman (Caleb d'Anvcrs, cd., a part ir de 1726), teses. protopart1àos. Regredinà o ainda mais. encontramos os ancestrais dos an·
) parncularmcnte os numeros 17 e 40 (17?7) e as Remarks o/ the History oi cestms. Enlre os porta-vozes destacados da opinião contrária, cf. George H.
England ( 17 30). partt culanncn te Cartas VIII, XI. XIV e XXII!. Sabme, A History of Politica/ Theory (Holt, Rinchart and Winston, 1951, cap. 24)
) 18. Parte ~·Ensaio VIII: "Of pa.rtics in general", p. 58. Os éssays, Moral, Polirica/ e Leslic Lipson, Tire Democratic Civilization <Oxford Un1vemty Press, 1964,
and LuerarY_. ~e ~fome, ~stâo divididos c:n Paite l (1742) e Pane li (1752). pp. J07, J 17). Ver também infra. 1.J, Max Weber e nota 8 7.
To<l~s as rctcrenc1as a paginas são do vol IIl de The Philosophica/ Jlforks of H. Isso é bem documentado por Cattaneo, /l partito politico nel pensiero de/l'llu·
David Hume (citado como IVorks), ed. de Edimburgo, de 1826. em 4 vols. minism·o e della Rivoluzione Francese, op. cit. Embora se ocupe de um proble·
19. º!~~e ~o~lition parties, Part li, Ensaio XIV, cm IVork~, III, 358. A diferença ma diferente, encontra-se abundante documentação sobre lSso em J.B. Talmon,
) parçcc es tar cm q ue Hume abandona a quimera do "Rei patriota", versão com- The Rise of Totalitarúin Demccracy (Bcacon Press, 195 2). Ver também Yves
~.11uc1oi:al..dc Hohngbroke do déspot:i esclarct:1do e dá ênfase a uma soluç:lo d~ Lcvy, "Lcs pa.rtis ct la démocratie", le Contrai Social, 1959; n<? 2 (pp. 79-86)
) coa~1zao • n~ ~ahdade de co:ilcscência, entre p:irtidos. A d1f~renc;a. porém. é e n<? 4 (pp. 21 7-221 ); e "Police and policy", GO, julho·setembro de 1966, par-
so b~~tudo de cnfase. pois Bolingbroke também defendeu uma "coahz:io de parti- ticularmente pp. 490-496. Levy exagera, porém, o impacto de Rous)eau, que
) dos (ver IVorks. li, 48, 438}. simplesmente rcafümou, cm sua condenai;-ão dos p:i.rtidos, a opinião estabelecida.
20.
21 Of~
tlze parries ofGrear . Britain • Parte 1• Ensaio IX • em h'orks• Ili • 7 -' ·73 . 35. Todas as citações são extraída s de Cattaneo, op. cit., pp. 84. 86, 89, 95-96.
) · o que oc~rre _µarticularmente cm Of pareies irr general (Pane I. En<:iio V II!) e Alguns autores falam de um "mO<!elo jacobino". Por exemplo, C.B. Macpherson,
)
?I ~Jre ~ar11es 111 Creat Britain ! Parte 1, Ensaio IX ). mas tamb~m no~ c:ns:110,
anteriores li.a ~art.: 1, Thar policies may be reduced to a science (Ensa io III}, O[
the fvs'. pr'.nciples of govemmenr (Ensaio IV) e 0/ the independence of Porfia . • Ratlica l que , na Inglaterra do século XVJ!, defendia reformas constitucionais
) 111en1 <l~nsa 10 VI}, onde a crítica é dirigida aos "homens do partido". e económicas profundas. hb.:rdade de culto e separação entre a Igreja e o Estado.
tN. Jo T .l
)
54 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS
NOTAS 55
.:m ~ua obra Democracy in Alberta (University of Toronto Press, 195 3 , pp. 241-
242). diz que, de acordo com os j:icobmos. deve haver "'um único partido de 50. Portanto, o argumento de Talmon de que os pais da democracia do século XVlll
m~sa que, abarcando todos os verdadeiros democratas, transcenda o p:utido". postulavam um mundo que levaria ao que ele chamou de '"democracia totalitá·
Isso parece ser uma leitura defeituosa. Não se trata de nenhum "partido de na" é um argumento reconstituído. Se levarmos em con ta a motivação real dos
m:bsa", e Robespierre apenas repetia Bolingbroke, embora sem o saber. Cf. essa pais da democracia, não havia objetivo totalitário em seu espúito. Etan1, tam-
declaração em Le Défenseur de la Consrirution (nC? 3, maio de 1792): "Restam bém el~s . 1nd1v1dualistas que se revoltavam con tra a Idade Média.
apcn:is dois p:utidos na República: o dos bons cidadãos e o dos maus cidadãos, 51. Implicitamen te, minha argumentação é análoga :1 experiência mental de Max
isto é, o do povo francês e o dos indivíduos ambiciosos e ávidos". A idéia de um Weber em relação à ética protestante. We ber mos trou que os "fatores materiais
modelo jucobino. é desenv.~lvida p_o( Feliz Gross em "Beginnings of major que poderiam ter causado ·o capitalismo também e xistiam na fodia e na China.
pat1erns, of potiu~al p~.rt1e: (// Pol1t1co , 3, 1965, pp. 586-592), mas seu argu- enquanto que a Wirtschaftsethik não. Da mesma forma, n:io é a diferenciação
mento e uma rac1onahzaçao ex post. Durante o século XIX, a Europa conti- estrutu1al como um processo endógeno e material que pode explicar o sistema
nen t;i l voltava-se p:ua o modelo britânico; e,_ se o resultado foi com freqüência de crenças plurahsta. Para Weber, ver Gesammelre Aufsarze sur Religionssozio-
b:istante diferente, isso d1ftc1lmente se deve a influência de modelos intelectuais logie, 3 vols., Tubingen, 1922.
allern:itivos.
52. Edward A. Shils, .The Torment ofSecrecy, Heine mann, 1956, p.1 53.
36. Ver Catt:meo, op. cir., pp. 75-77. 53. Frcderic J. Fleron, Jr., mostra isso muito bem:" ... a conexão entre moderni-
37. The Federalisr, n'? l O. zação, desenvolvimento, diferenciação, divisão do trabalho, inâustrializaç:io,
38. Sobre o contexto geral, ver a brilhante análise de R.A. Dahl, "Madisonian demo- democracia e pluralismo" tende a ..estabelecer-se mais em termos de dcfmiç:io
cracy", A Preface to Democracy Theory, The University ofChicago Press, 1956, do que empiricamente", isto é, em termos mútuos e não como "conexões regi-
pp. 4-33. das por leis entre o s processos denotados pelos conceitos" ("Toward a Recon-
39. O Farewel/ Address (Discurso de desped ida) de Washington é datado de 17 de ceptualization of Political Change in the Soviet Union", CP, janeiro de 1969,
setembro de 1796. Ver em Documents of American History, 5':1 ed., Appleton, p. 234. )
1949, 1, p. 172. Os grifos são meus. 54. O auge dessa extensão confusa pode ser encontrado em Leo Kuper e M.G.
40. Supra, n'? 19. Smith, orgs., Pluralism in Africa, University of California Press, 1969. Trata-se
4 l. A sem~lhança entre Jefferson e Bolingbroke é notada por Mansfield Jr. Stares- de um asp ecto do efeito boomerang discutido na seção 8 .4 . . .
m~nsh1p and Party Gove'Tl'!'enr, op. cír., pp. 113, 196. Mais geralmente, ver 55. Para uma visão geral , ver John W. Chapman, "Voluntary assoc1at1on and the
William N. Charnbers, Pol1t1cal Parties in a New Nation: The American Experi- political theory of pluralism", in J.R. Pennock e J .W. Chapman, or~:· Vo_lu~­
ence 1776-1809, Oxford Universi ty Press, 1963, parsim, e, com referência a tary Associarion, Atherton Press, 1969, pp. 87-118. Para uma analise histo·
Jefferson, particularmente pp. 6, 92-93, 106-112 e 181-183. rica de como o pluralismo político deitou raízes e evoluiu no Ocidente nos
4 2. De l'influence dts passions sur /e bonheur des individus er des nations lausanne séculos XlX e X.X, ver Gian .Paolo Prandstràller, Valori e libtrtà: contributo ad
1796, cap. 7 . ' ' uno sociologia dei pluralismo político occidenrale, Comunità, 1966.
4 3. PrinciP_es de politique, cap. VII, em Oeuvres, Pléiade, Paris, 195 7, p. l.15 8. 56. Considero isso uma afirmação desciitiva, e n ão normativa, por não expressar
44. l_sso nao representa concordância com a opinião de que a tolerância da oposição os valores do observador, mas do observado .
e p~oduto sec~lar da tolerância religiosa e de que os partidos são seitas e congre- 57. A primeira citação é de Robert A. Nisbet, Community and Power, Oxford
gaçoes secu lanzadas. Não existe ligação direta, e a ligação que estabeleço é entre University Press, 1962, p. 265; a segunda, de William Kornhauser, The Politics
tolerância e o pluralismo. o[ Mass Society, Free Press, 1959, p. 81. Kornhauscr é também muito relevante
~5. v;r particularmente Contrat Social, Livro 11, cap. 3; Livro IV, cap. l; e supra para a que stão de como o phualismo se relaciona com os grupps intcrmediáI!os
n. 34. (particularmente pp. 76-84, 131-141), preocupação destacada em Tocquev1Ue
46. Como obser~amos anteriormente, 1.1 e nota 6, Montesquieu não reservou lugar e Durkheim. · ·
para os partidos ao delinear a constituição inglesa. Bolingbroke é ainda mais 58. Para ênfase sobre o conflito, ver Ralph Datuendorf, "Out of Utopia : tow:ud a
interessan te _sob esse aspecto, pois sua posição antipartido era tão explíci ta rcorientation of sociological analysis'', AJS, setembro de 1958. Ver também
quanto sua enfase na separação d as "partes" da constituição. Em Remarks on D.A.·Rustow, "Agreemcnt, dissent and democratic fundamentals", in Kurt von
~!1e H1story of ~~gland citou, com aprovação, e defendeu a afirmação de que Beyme, o rg., Theory and Politics , Nijhoff, 1971. Num outro espírito, Bernard
numa const11u1çac~ coi:no a nossa a segurança do todo depende do equilíbrio Cnck, "The strange death of the American theory of consensus", 1:Q, janei_ro·
das partes, e o equilíbno das partes, de sua independência mútua" (Carta Vil maio de 1972. Em geral, ver Lewis A. Coser, 171e Funcrions of Socuzl Con[lrcr,
Wo~ks, l, p. 331). E Bolingb roke interpretou-a de modo a inferir que: "as reso'. Free Prcss, 1954, e Conrinu iries i11 the Study of Social Conflicr, Free Press,
~uço:s de cada parte (.. . ) devem ser tomadas independentemente e sem qualquer 1967. Uma bibliografia maciça (até 1954) encontra-se em Jessie Bemaid et ai.,
m~ucnc1a.' dueta ou indireta, das outras" (p. 333). Th e Nature o[ Conflic't, UNESCO, 1957, pp. 225-310. DeYemos compree nd er
47. A111da hoJe , na maioria dos pa íses, os p:u1idos continuam, juridicamente, asso· bem que o texto refere-se a "conflito" rour court e não a "conflito de interes·
cia~_õe~ .pnv_:idas sem reconhecimento consti tu cional. Entre as poucas exceções ses", e ainda menos a conflitos "latentes".
notave~s esta o a L~1 F_undamental de Bonn e a Constituição Francesa de J 958. 59. A fr:ise de Balfour encontra-se em sua "Introdução" (1927) a Bageho t, 77ie
48. The R1se of Totaluanan Democracy, op. cir., p. 44 . English Consri:urion, p. xiv. Sobre o conceito de dissensão, ver as distinções de
49. Ver G. Sartori, Democraric Theory, Praeger, 1967, caps. 12, J 3, 15 e especial· Edward l:l. McLean, "Límits of dissent in a democracy", li Polirico, setembro
mente pp. 26 1-268, 293-298, 358-359, 377-378. de 1970, pp. 443-456, entre (i) inovação, (ii) discordância, (iii) desvio e (iv)
desobediência.
. ...
~ _,.. .~ .
&

So PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDA RIOS


NOTAS Si ••
)
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vo lun tán.t" 1111u 1to cr. 1be r.1 ,, n:"d:ncn 10 na -:J , ,J .:0111t11 uc '" nJo u m;i "con·
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c;1.~t:t' tilll t:1no ~ "cnUllllc lll.: a1nhutiv.1 ', qu~ uma "<.:l n;1>c1J,i llllll~a <.:a,ta,
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.
) J{o,.;. Co:·ern111g 11'iti10111 Cunse11ws: , l n lrish Perspecrii•e, Lka.:011 Pr..:,), !9 71 .

)
.·\ J0:::H.l..1 úc v10 l ~111.u na Co!õ111bia, cntn.: ! 948·1958. é outro bom i:x..:mnlo.
t/J:jra. cap. 6. nota 8-1.)
61. l rna 1h.-1raçJo cona..:u dcs'~ .:on1.-.:p,·Ju ::ncontra-,c . por .:~~mplo. c!ll H.A.
·
nÍ!l!;H,: rll "t,•111 111c1os J" 1uud;ir a t(kiltJ,b J..: >úO.:tJI", e qu.: .1 ho1110gi:nekl.1tlc
cultural e ,o.:1al d•h mc111hro' J:i .:J,l:J "rc".;it..1 num ,cn t1mcn to tlc cxdu:.ivi-
d:i<lc" 1pp. 25!-253>. •
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P;iri;c, l'mJc1.·t". ~h111ogr;;ph Serie,, :--iu rt hwc, tern V1uvers1(}'. r\ ob":rva.;;io
ti i'~J1;1. c 1;1 t.:ri1 1Ch ;,.:c1a i,, µ,ir K.lfl Dcuh..:il . JO <l 1lcr que o "modt:!u do plura· •
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J..:v1tlo .i, "µrc"0'·' cru u da,". 1s10 l:. ao t';tto J ..: qu..: as po,içõ..:s tl.: cont1ito~ .;ão
<oi'n:p•>,t.h ~. p11 rtanto . 11.io ,.: rcforç;111L 1".\lulcipolJr Pº''cr ,y, t..: ms anel i11 1cr-
na1rvn:1I i11,1.1h1llt~" l.:.)rn J .D. Sini;.:rl. h'P. :ilml Jc 1':16-l. pp. 393-394.) P.1t:i
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l
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H. T11ougltrs u11 1/tt• C.wse of ria· Prt·si:m Discunte111s, cm Works, op. ci1.. p. 395.
Grifo, 110 1e,10. \ '.:r 1;im1Jém p. J79: "Si.:mpre ( ... )se afirmou que o primeiro
t
timid:iJc cm p:u11cular, ver o capítulo ti.: Luctan W. Pyc i11 LeonarJ Umtlcr er th:'''' do p;irl,1mc11to .: recusar-se a ppoiar o goremo atê que o govcmo estivesse
ai.. Crises and Sr:q11 e11cer in Pulitica/ Develop111enr, Prinwton Univcr~ity Prc" . 11as 111ãm ele p1tnoas q1tt! fu.~sem aceità1•eis para o P.vrn 0 11 .:n:1uant~ pre.~o-
1971. 111i11anc111 na t·orte j'ricções 11as quais a naçaà 11ão fl v.:sse conj:ança : lGn tos

.
64. A confusão cntrc um "domí nio" \rr1/i11g) sub, tantivo e uma "rq:rJ" [ou govcr· no origin;1i.t
no 1 formal (rufe) c.\.is tc cm inglJs. Pa.ra o ) igmfic:ad o c.lc "pnm:t'pio n:gu laJo r" 75. A !coriJ dc cqire,cn ta~·ào d..: lhuk c foi for111ulada no Bristol Adúress ui.:. l 774
a palavra francna é rêgle e a italiana, rego/a. · <.: foi tão 1t1 ;tJ cnlc11ditJa. quanto a \U:! id..!ia UO pa.rt1JO. ÍaJ ~OffiO O pa.rtlUO de
6.5. D.: u111 .in:;ulo uni pouco diference, a rdação entre o plwalismo e a teoria do llurk1.• ata,t:1va·\C lia fac~·io. \Ua reprc)cnta1;:!0 deu inicio :i c~a m0Jcrn;1 rom-

)
governo Ja rna.ioriJ é IJ..:m percebida por Lcon B. Epst.:in, Pulitical Part ies 111
11/esrem Democracies, Praeger, 1967, pp. l 5-18, 357-358. O que dis)emos acima
não nega que o pnnct'pio da maioria tamb~m cnconua seus lim1t1.:s e suo. limita-
ç;io na in tcn~idade di:sigual das prcfc:r~ndas (ver G. Sartori, "Tc1.:nichc Jc cisio-
nal i e sistema Jci comitati". RISP, l , 1974, e "Will democracy kill dcrnocracy'!
Dc1.·is 1on-rnaki11g by m;ij o ritics and by comrnittccs", GO, primavera de 1975).
pendo com .1 no<;Jo mctl i.:val de maaJa. to. V.:r meu am:;o "Rep~es.:nt~tional
w~icnb", pu1Jhc:;1tlo na f111ema1io11al E11cyclopedia of riu: Social Sc1enc.cs,
.\la,;mill:rn e Frce l'rc-;;, 1968 , XIII. pu:icularmcnte pp. 466-~68. Cf. Hcmz
Eul;1u t!I ai.. 'Th..: role of th.: r..:prc; •:ntativc : ,o mc cmpirical olJ~ervations o n thc
thcory ot' 1:. llurkc ", A.PSR . dczcmlJrn de 1959. pp. 7-12-7 56.
76. De la t!émuaatie e11 Améri<111e, vol. ll , 1, 2. l (p. 9·1 na cJiç;fo de Galli rn<ud,
tJ
..
,.•
66. A import:im:1a da to ler:incia - •jllé me inc lino a considerar como u base sobre a 1961). O 1<.:xto 1.k Tocqu.:ville parcc..: J iz.:r quc, nas a.mto..:raciJs, os membros
q u;tl o resto do edifício se levanta - é b~rn ressaltada por Plamenatz cm Mali do parlamento prco.:upam.,,c pri11dpail11 cn1..: ~om sua "p<Utc", ou lado. e nJo
ª'"' Society 1op. d1., vol. 1, cap. 2, "' Libcrty of conscicncc"). Ver taml.J~m seu com o~ ele 11ores.
) ..:apt'llllo cm Ury,011 el ui.. orgs., Arp, c:rs o{ ffu111a11 Equaliry, l larpcr, 1956. 77.111 LaP.i.lomba ra c Weini.:r lorgs.), Polirical Parrier anel Political Develop111e11t,
67. Ver Kornhau!><:r. Tlle Polirics of Mass Society. op. cit., pp. 80-81. Dav!c.l Tru- op. cir.. p. 52.
) rnan. The Guvi:mmenta/ Process, Knopi, 195 1, é, cr11 geral, relevante cm rela1;ão 78. A~ e.\lcn"3c~ do _,ufr:il!iO rorarn dctalh:iJimcn!c :rnalis:1das por Stcin Rokk:rn cm 8
a c "a que~1Jo . Ci1iz<:m, 1.;·1e~·1iu11s, Pa~ties. op. cll., P;utc li . pp. 145-247. .
) 68. Ver .lt:an BlonJd, Ali lntroúucrion to Co111para1ive Gm•emme11t. Prac:;cr, 1969, 79. Mauricc Duv~ rgcr , Les partis pulitiqut•s. 2~ .:J. rcv., Colin . 19.54, p . !. O livro ti)
pp . 7-1-75. Ulo11Jc l desenvolve a distinçJo entre o desé11volvimc r110 imposto e o foi publi..:ado pd;t primeira vez em 195 1. As referên cias ,Jo a cc.l.tçiú ~ranccs•t
)

)
)
11 ... ur;il na~ páginas 79-ll·I e, com refcn}ncias espec ificas aos par tidos. nas pá·
~ill:l) 103-111.
69. Sobre o pluralismo africano. ver supra, nota 54; sobre o plurah)mO tll como
C\cmplilicado p.:la l°ndia atualmente, ver L.l. e Susan Rutlolph, '"Th.: poliucal
de 195-1 . A iraJuçío inglesa (~lcthu.:n e Wilcy, 1954) n~m semp re.: prcc1.sa: _
8U. Ba.,icamc111..: b~o ~.: refere aos partidos sol'ialistas c c:itólieo). P3.!a a tll\tmçao
entre par11Jo "c ri;iJo in ternamente" e partido ··çri:ic.lo externamente"._ ver Du-
v.:rgcr. Les partis politiques, op. ât. , pp. 8-16. O partido de mas~as s..:ra estuda·
--
8
8
role of lnc.lia's c:l)tc associa1ions", in Erie /\. NorJinglcs, org., Polincs a1i.I do no s..:gunJo volume desta obra.
)
Society, Prc1111cc-llall, 1970. Embor.i o enfoque Jus Ru<lolphs seja ,ob re a
ma11<.:ir3 pela qual a aS)OciaçJo dc CJ~!:i "poJe as,c111dh.u·)C a uma a~sociaçJo
81. Démocracie e11 ;t mériq11e. op. dt., vol. 1, ll. 2 (p. 178 ). 8
1 81
8
. .iL
r
+
58 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS
) NOTAS 59

) 82.Jbid., p. 79; e Voyages en Sicile er aux Êrars U11is, 1957, pp. 196, 19·7-198.
260-261. a;1da participante. l\t:is basta ler Ostrogorski e Simone Weii para compreender
) 83. Ver em geral a detalhada análise de Nicola Mattcucci, "li problcmJ dei partllo sua relação.
político nelle riflessioni d'Alexis de Tocquevillc", li Pensiero Poliricu, 1, 1968. % . fasas noçôc> se sup~rpõc~ ~as .n5o são sinõni~as. Por exemplo, o interesse
) 84. Modern Democrocies, Macmillan, 1921, vol. 1, p. J 19. geral pode ser definido d1 stnbu uva mente, tsto e, em relação aos in teresscs de
85. M. Ostrogorski, Democrocy and rhe Organizarion of Political Par1ies ltrad. de cada membro da coletividade em apreço; o bem comum tem, em lugar disso
) F. O:uke), Macmillan, 190~. 2 vols. lO volume 1 é sobre a Inglaterra, o volu- uma cono'tação. mais objeti~a e indivisível, ao passo que o in teresse populars~
1
me li sobre os Estados Unidos.) O melhor, sobre Ostrogorski, é a introdução volta para um ideal regulauvo. Grande pane da bibliografia e da controvérsia
) de Seymour Martin Lipset, "Osuogorski and the analy1ic approach to the enc~ntra·se em Carl J. Fricdrich, org., The Public lnterest, A therton Press, 1962,
1 pasmn.
comparative study of political panies", à sua edição condensada (num volume)
) 97. Cf.• enue os críticos, Glcndon Shubert, The Public Jmerest : A Cririque of rhe
~
dJ obra acima citada, Quadrangle Books, 1964, pp. ix-lxv. Ostrogorski defen-
deu, de um ponto do: vista individualista, o remédio de substituir os partidos Theory o[ a Pulitical Concept. Free Press, 1961; Frank J. Sorauf, "Thc public
)
•) por ligas de eleitores relativamente descompromissados, isto é, não institucio·
nalizadas, que se dissolveriam enue as eleições. A mesma idéiJ teve precedentes
·i-il mterest reconsidcrcd", JP, novembro de 1967 (os dois autores também cola·
boram no volume de Frieclrich citado acima); e Kenneth J. Arrow, "Public and
em Charles C. P. Clark, The ..Machine Abolished" and rhe People Restored to ·-, private valucs". in Sidney Hook, org., Huma11 Values 011d Economic Policy
1
) Power, Putnam's, 1900. J New York Univcrsity Press. 1967. Ver, contra, Anthony Downs, "The publi~

•a )
86. Roberto Michcls, Political Parties: A Socio/ogical Study of the Oligarchica/
T_endencies of Moder~ Democrac~, Free Press, 1962. O título de Michels, po-
int erest: its meaning in a democracy", Social Research, prim avera de 1962, e
especialmen te Felix Oppentaeim, "Self·interest and public interest", PT, agosto
de 19.75. Sobre _o uso da razão no esclarecimento da noção de interesse públi co,
re m, era Zt" Soc10/ogie úes Partenvesens in der modernen Demokratie, e o livro
) foi publicado pela primeira vez em alemão em 1911, e em italiano em 19J2. Seu ver Richard E. Flathman, The Public lnrerest, 011 Essay Concerning the Norma-
1 estudo focalizava o part ido socialista ale mlro, e seu ponto de vista era o de um ti1•e Discourse of Politics , Wiley, 1966.
)
socialis ta. decepcionado. O melhor, sobre Mi chcls, é a introdução de Juan Linz 98. Argumentei, em outro luga.z, que s.i trata de um ramo altamen te irrealista do
• ) à nova ed ição italiana do seu livro acima citado, li Mulino, J 965. Ver também "realismo" (Democratic Tlreory, op. cit., cap. 3, particularmente pp. 31-35).
99. Pelo que sei, "expressão" e "função expressiva" foram usados pela primeira vez
• )
G. Sar tori, "Democra:z.ia, burocrazia e oligarchia nei partiti", RIS, julho-setem·
bro de 1960.

;:
por Walter Bagchot, The Erig/ish Conrriru tion ( 186 7), Oxford University Pres~.,
1968, p. 117 . Sig nificativamente, Bagchot aplicou a noção à C âm:ua dos Co-

.
87. As reflexões de Max Weber sobre os partidos estão dispersas em Wirrschafr und
.) Gesellschoft, 4~ cd., Tubinge n. 1956, 1, pp. 167-169 e particularmente II,
muns e não ao papel dos partidos.

• )
pp. 675-678, 845-858, 865-876. O núcleo principal foi escrito entre 1917 e
1919 .
88. Apud Giordan? Sivini. org., Sociologia dei partiti politici, li Mulino, 1971,
100. Mi nha lista não inclui as funções de Almond, de "articulação" e "agregação"
de interesses, por solr prema! uro entrar em muitos detalhes.
10 1. Ver, novamente, mo!u artigo "Representational systems", publicado na lnrer-
) p. 16. Ver, porem, infra, cap. 2, nota 8 . notiono/ Encyclopedio of the Social Sciences, loc. cit. Sobre o papel dos partidos

• )
89. S1aresma11ship and Party Governmenr. op. cit., p. 2.
110 processo de representação, ver Austin kanney, The Doc1ri11e of Responsible
Porty Govemmenr, Univcrsity of Illinois Press, 1956.

.
90. Isso é paTa excluiI apenas o uso recente de "facção" na ciência política norte· 101. Albert O. Hirschman, Exit. Voice and Loyalry, Harvard University Press, 1970.

..
.)
)
amc~ica~a, a ser ?iscutido infra, 4.1. Parece-me, na verdade, que o uso comum,
em mgles, tambem conserva a conotação histórica, negativa, da palavra, pois
nunc:i se ouve um político norte-americano ou bn tânico dizer "minha facção".
91. Supro, 1.1 e nota 27, anteriormente .
103. ~.O. Key Jr., Public Opinion and American Democracy, Knopf, 1961. p . 433.
104. E.E. Scha11schne1der, The Struggle for Party Governme111, Univcrsity of Mary·
land, 1948, p. 10.
105. ln Sigmund Neumann (org.), Modem Political Parties, The University of Chicago
) 92. Função deve ser entendida aqui em seu significado inocente de senso comum Press, 1956, p. 397. A função canalizadora dos partidos é analisada infra, 2.1

:) no qual os historiadores também a usam. As complexidades técnicas do conceitd


serão examinadas no segundo volume desta obra.
93. Isso tamb~m distingue a facção do grupo de interesse. As facções não desem -
e 3.1.

) penham, segundo essa interpretação, a "função de articulação de interesses"

~•.
como Almond pretendia. Mesmo assim, ver infra, cap. 4. '
9<l. Em 191 '.!, Benedetto Croce, que uma década depois se tomaria o símbolo da
opo~íção liberal ao fascismo, defendeu, muito no espírito de Bobngbrokc e
!lume, ~m~ ~o:ilizão de partidos e um partido acima dos partidos. ("li panito
.) como i;iudmo e co me pregiudizio", in Culluro e viro mora/e, Latcrz.a, 1955,
PP· 191- 198.} ~?go depo is da Segunda Guerra Mundial, Simone \\'eil escreveu.
) no m\~smo esp1nto de Ostrngorski, q ue " a abolição dos partidos represen tar ia
• )
q~ a.~c q.u~ ~m ~e m absolu to " ("Appunti sulla soppressione dei partlt i poli ti ci",
lomunita, Jane u o-fevcrciro de 1951, p. 5 }.
• 95. Em1 lii;ação já não ocupa. o prim eiro plano ·das atua.is exigências de uma demo·

.. )

.,
llf

)
l
) ~

) O PARTIDO COMO UM TODO 61

)
)
IJ

O PARTIDO COMO UM TODO


nham :i existência, ou re_ss_urgimento: d.e um ~ísl:_ni!! de ~re~ças ~o~ocro­
mácico ba~eado no pnnnp10 d:i unarum1<lade e 110 horror a d1ssensao.
Pôr outro lado. e inversamente, embora um todo seja sempre mawr
'•
) ~
do que uma parte, sem~u~ê- ~pr~entaQQ ~en'!L,POr_llm parti~~ dei~
) x:.irá de ser um todõTmparcial. um todo acima de suas p:irte~. Enquanto
~n1 t9~º &uiá!~ia é'OiülTit!.ter;I~ µ~ tõêlo n!_onista_é unilat:ral. ~
) uma parte sem conuapartida é uma pseudopartc, como tambem um todo * -4
) qi:;e não encerre partes _(no plural) c:ire.ce da tota.lidade de u~ toco real
_ é um todo ··parc1af,,.-em ambos os senlldos: exclui e toma p~rt1dos. •
) - Es~es ajustes não negam, portanto, o~e ~e a ranonale ~o _p~u-_
ralismo p:.irtidário não ode abrigar a ratio11ale do monismo parttdano.

)
QU:- é, ent5'o, a justificativa o parti o único? A questão pode ~er exami- •
) 2.1 Ausência de partidos versus partido único nada com proveico à luz e.la segui.nte pergunta:U?,or que um parw.io em lu-
oar da ausência rotai de artitlos'? tvidentemente, na medida em que o •
) Até agora, "partido" significou partidos - "partido" indicava um plural. ~ je tivo do partido único é ·eliminar "mwtos partidos", a dife.rença ~ão •
) O~?dos de partido único só surgiram de pois da Primeira Gu~\lun·
dial, e, até então, a exeressão ''siste.m ni · 'o" arecia ser um:i con-
seria muito grande: a proibição, pura e s1mpl<:s, de qualquer parttdo le na a
mesma função. •

) trndi'çuo nos t~rmos. Não tinha mais sentido do que dizer "q uadrúpe e
se m membros . Na verdade, pode-se pegar um quadrúpede e cortar-lhe as
A .Q9ÇãO da a~encia total d.e pafildos encerra, porém, dois C.?sos ~
fe.wues.: .(i) os Estados sem garrcdos e, em gr_ande parte, ?S _Estados pre-
•4
pernas. Mas poderemos esperar que caminhe? Será ainda um quadrúpede? partidos (como Arábia Saudita, lêmen, Jordarna, Afe?~tstao, Nep~l) e
) \ De awrdo com u ra1io11ale do luralisrno artidário, se um a · o 1ã fo r
4
(ii) os Estados antipartid9s, ou seja, ~s ~egime~ qu~ supnm1ram_ os parudos
.~/ ) µ~parte , um pseudopartido; e_se o ·todo se i entificar com apenas um preexistentes, que adotam uma pos1ç:io ant1part1<lo_ ou_ pro1essam .uma t
)·'f< \ P,.ê!!'tido, é um pseudo todo. Enfrentamos a$un, mevitavelmente , a nature- doutrina antipartido. 3 O primeir() grupo é de_ r.eduz1do .1~ter~sse, pois ?s t
za mi generis do partido único. Os chamados sistemas uni partidários ex.is· G_stados sem partido são apenas estru t~ras go1tt1cas _tr~d1ct.2!l_.?.~U~~­
tem. Terão, porém, alguma coisa em comum com os sistemas pluripartidá-
rios? Isto é, em comum com os sistemas nos quais os parti9os são ''partes"
tiram ou fugiram, ate ag~a, à mod_e~aça9_. /!. ma10_na dos estados ~nt1- _
pªrtTdos são. por outro lado, regimes mili_t~res. em soc1~dades s'!l>de_senv~l­

) e o todo é o produto de uma influência mútua entre mais de um partido?
Na verdade, o_s Rªrtidos únicos diferem muito ent(e si, como iremos
vidas ou em desenvoIVImento e, com treguenc1a, se atr buem uma 1tuaçao
pr~a em contingência de em.ergéncia:4 Como di~ Huntingt?~ "~­

4
) ver. No momento, porém, estamos tratando do conceito de partido único. tado sem partidos é o Estado na tural para uma sociedade tra ~c1onal. A 4
) (sso equivale também a dizer que a no\:ão de uni partidarismo é tomada em medida que a sociedade se mõderrnza, orem, o Estado sem arttdo t~rna­
)
seu sentido escrito, com referência aos precursores, isto é , à primeir<.i onda se, ca a vez mais, o Estado antipartidos". 5 Qque se deve acrescentar e que 4
de Esiados unipa~tidários do período de In0-1 940: os tipos de uniparti-
darismo soviético, nazista e fascista.! ~jesmo assim, a afir ~ão de çiue o
arti<lo úníco se identifica com o todo precisa de ressalvas, pois é bas1-ª.f!1e
qu:uno mais modernizada e/ou desenvolvida asociedad.,:. mais o ant1part1da-
nsmo cede ao umpartidarismo _ pelo menos no senudo de que a segund~
~luçao revela-se mwto ménos.. frdgil e muito ~ais eficiente do que a p~1-

t
óbvio gue esse earti o e menor o ui!\Jrõâo - na vérdade é com fre- ~a. O.Estado unipartidário _é, em outras pal~vras, a. s~luçao finã~e,
-~ - - qiiênci::i um Qll.C.l.WQJ!a_e ll_e com limitado núme.JJlile..membrus_, um...parti<lo 4
g,uando o pluralismo pa rtidári~f!, caract~nza as soc!edades poht1ca-
\K'-'·· ~'- 'de vanguarda ~~rve de precursor do todo. Não obstante ... o Qartido ún\- mente desenvolvidas. E minha pergunta relaciona-se precisamente com as 4
, ·'....-./ co não é uma "p:irte'1eilí nenhum dos sentidos nos quais o são os pa rtido~
. --.,........,--,.
) ". .·,' ') º plgçal. A_pane ~ ~~ste ...9.i~nJ_Í..Q.Dª I, o partido .único evidencia as car~.;: -
·razões disso.
Resumindo a perspectiva histórica, isto é, o enfoq ue sobre os fun-
t

)
)
t~r íst icas do liõTISií10J ou de totali<lade _ a.o. rejeitar integralmente a 1de1a
d~m coilo resufi.ante. dê. uma infl uência m~a entre as par-
tes. ~Jesmo dentro do gârtRlo único. qualquer tipo de d1visao mtr,.;rnarti-
dadores uos Estados uni.part id ários por excelência, entre as duas guerras,
:.1 primeira coisa a observar é que o uni partidarismo foi o úl timo a .nascer
•4
e que isso não fo i, de modo algum, u·n simples aci?_ent.e. Não su~g1u ape-
Jaria fora1.Uil«l&lLi.e,~ ibida: é uma heresia, um ãesvío intqleráv~l. Assim. rias como uma reação ao fracasso e às rn postas defic1encias do plunpar11da· 4
) o con1unismo, o 11:1Lísmo e (com menor intensidade) o fa scismo, t..:stemu·
)
4
)
60 t
4
O PARTIDO COMO UM TODO 63
62 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDARIOS

nJe~o de participantes, mai_or a necessidade de um sistema regufarizado de


rismo como na It ália e na Alemanha, ou em conseqüência de um começo 1rãnsito.
muit; frágil e inseguro, como ocorreu com Kerensk.i na Rússia. }dealmen- CÕm o sufrágio universal, então, o sistema partidário adquire uma
te. o panido único dificilmente pode ser concebid o se".1 que se perceb ~ nova propriedade . Enquanto a sociedade politizada permanece como um~
a··êxistência de um vaz.io, de um espaço partidário, um Parteiraum. que sqciedade de elite relativamente pequena, o sistema partidário pode conii-
precisa ser ocupado. Praticamente, além disso, quanto mais complexo o nuar nui:n estado impreciso. M~quand~a ~ociedade ~m_geral_~~.9!!1ª p0 : .
inst rumento, maior o lempo necessário para forjá -lo, e sem dúvida um par- r-
tido entre outros partidos (uma associação voluntária com o objetivo de r

1
liti~ª-~· a~_regras ~ trânsito gue con~ctam a_sociedade c_O[l _o f:stago, e ;
vice-ve~~ão estabelecidas pe~ m!_lleira segundo a qual o~~a!ti ~;
buscar eleitores) é um instrumen to mais simples do que um partido que ! d â_rl~~trl!!.U@:...,A essa altura , o~ partidos se transformam em agências
subs titui todos os outros (e com isso visa ao controle total). Era preciso cânalizad1nas, e o sistema partidáriõ;-iiõSíSfêma de canalização pollri~
aprender, primeiro, alguma coisa com a experiência dos partidos (no plu- da sociedade. -
ral), e era necessário o aparecimento de novas circunstâncias. -:irfacfJ ve ~gora, por que os Estados unipartidários surgem num, da-
Com relação ao pluralismo partidário,_a principal <:l_rcunstãncia fo! do momento. e. explicar por que a alternativa mais viável e mais· durável para
a ampliação do sufrágio~ - ~ !!'..lação ao unip~r_tida_rísmo, o antec_eden!e .. muitos partidós" é o "partido Úf\ico" - e não um vazio partid~rio (quer
decisivo Tôi o aP-arecimento de uma sociedade politizada. Se estabelecer- seja sem partidos ou antipartidos). A ausência total de partjdos l ~a~ !!m..!_
mos· umadistfnç<Ío -_ -como-se óeVe faze r =-entreôõeSenvolvimento poli· sociedade fora do alcance, fora de controle, e neiillüm regime mode_rnizado
tico da formação poli'rica e o desenvolvimento político da sociedade, este P?~de_, ~_lo_ngo P!ªZº ~ ad~ar essa soluç_SÕ m§l!g~lª e imprt?_dutly~. Ym~
último compreende o despertar político e a mobilização da população e!Jl ciedade pós-tradicional pode ser libertada ou tem de ser controlada; mas
geral. Em conseqüência, e ao fim, ~a SQ.C~~_!d~pol i tizada é _ag_uela q:se quan-tÕ mais se moderniza. menos p~d~.if~~r ~,;tregue a sr me5ma ou me--
ao mesmo tempo participa das operações do sistema político e é necessá- nós se pode espetãt.ql!.LJOn.tinue adormecida. Sej-ª_is~_o um bem ou um mal,
ria aõdeSeinpenho ma.is_ efiqen te- do sisteffiã. 6 ~smo onde ~s partid~s n°uma sociedade p.olitiF<!a a solução da ausência de parÜdÕsé, em perspec--
n<Í~~U!!Jl_p_er..mitidos, ou_~am _0}ª1}tidQs_l.QI) tutela ,_coE.lpreend~e aos tiva, efêmera. O partido como canal de .expres.sãopode ter vida Cürta,-mas
poucos gue a população em geral 1! não podia ser p~t~ <!_e ~d.o! ignoraãa_ o_partido como cànarroÜrcvurr _nas.êêüpãfã'fi~'!!· E iíãõ-i'mpõrta o guê.
cÓrno uma entidade irrelevante . ~Ç.Q_nsciência pura e simples dessetato4 ~1~~-p91~a o partido único ser_•.~e I~~~~~ncía can!ll!zadora.:..
representa uií'I mõfnTntõ importante ~ OJ...cuie estª-vªm fo ra .Qi.pol~a ~el_! E essa, na verdade, a ponte com a qual os partidos que são partes abriram
in~ressam, ou a e la devem ser le~dQ$. "As massas" não só já não podem o caminho a 'u m sucessor, o partido se m contrapartida.
fica r_de tora · 1ndeíinld~omo tamõérileútilenVolv~-lãs:~esua _ i!ll· A razão de. ser do partido único _ par~..c~ estar. _P.Ortanto, no fato de
~~ade é perig_~s~ sua indiferença constitui um desperdício. Os partido~ que uma sociedade moderna n ão pode llcar sem canais. Mas nao se trata
(no plural) podem ser reprimidos, mas os problemas criados. pe~­ simplesmen1e do fat o de que os Estados unipartidários herdam uma SO·
ç~o- cõiitlii uam_a C.xiStir. E._uma fÕrmaç[o política apartidária não pode c1eãa1:trpullttz:ITT!a, ou promovem essa socieaade.fiãtã-se mais do que isso:
enfrentar uma soçiedadê..politi.zada. - tlõTãTOde--que necessitam de uma sociedade geralmente politizada, ~u.J.!o_
QJLamlp_o pa rt i~ único foj concebido_e/Q!lj!I)Jll~nt.ad ~~~~~­ n~s do que as formações polibcas pl~ralista~. p partido t!_i:Jico pretend.e
cias ocidentais haviam chegado a uma fase de desenvolv1men10 caracten· excl usividade, e portanto enfrenta âe forma aguda um problema de auto-
i~_aã~ <i) pelo Sürrasio arnpfo~embora ~ramenté universa1._e Tfff pe.10 ãpà~ J~s tiftót iva e de _au}C?_:a. fümação. Quer· os Estados uniparüciáilõs surjam
r~cim_c:nto d~~t_~..rn~ ~artid_os estrutur~~~ b~~eados nos p~rndõs- ~e ou não de uma situação revolucionária e por meios revolucionários, são
7
111a~s~, Ambas as características estão intimamente relacionadas~~ considerados como regimes ex cepcionais. "especiais" - não apenas como
partidos_adguirem vi(or orgânico e se consolidam em resposta à ampliação regimes .. novos". Portanto,.as estruturas políticas monistas não podem as-
do su frágio . A verdade pura e simples é que a entrada n:i pol í1ica de pú- pirar à legilimidade simplesmente com o passar do tempo - elas devem
bÍicos de m:iss:i cria um novo problema:fl. c911Q{(~açã~.l. G.. dizer que um sis- most rnr que podem fazer mais , melhor e mais depressa, do que os sistemas
tema partid :írio se tor!ia_estruturado eq u ival~ a dizer que atingiu uma fa se pi uralistas. Se ess:l afirmação não for comprovada pelos fa tos , terá de ser
de C0!1tQ!i<.lação na qual - pode desempenhar, e na verdade desempenha, mJ ntida, com mais razão ainda, pelas palavras. De qualquer modo,i!. socie-
urna função canalizadora. A necessidade de um sistema de_çan:iliz,.ª-.QQ.. es· lb<le deve ser mobilizada, persuadida, e dela se_-éievc exigir _!!ma dedic:ição
t;sbifue.Q..o aa vém. e~ -pàrt~danatu~os.públicos de massa ._!11~1asc~ êoTffíãnte, senão_ incondrcional. Todas essas tarefas eX!gen~- un~po~~roso
ba:,icamente do fato puro e Siffiprescresua magnitude. Quanto maior o nú-
/

O PARTIDO COMO UM TODO 63


62 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIOÂ RIOS

n1ero de participantes, mai_or a necessidade de ~m sistema regularizado de


rismo, como na Itália e na Alemanha, ou em conseqüência de um começo trânsito.
muito frágil e inseguro, como ocorreu com Kerensk.i na Rússia. _Idealmen- CÕm o s1:1frágio universal, c:ntão, o sistema partidário adquire uma
te, o panido único dificilmente pode ser concebido sem que se perceba 1iova propriedade. Enquan~o a_sociedade politizada permanece como um~
a··existência de um vazio, de um ~spaço partidário,· um-Parteirawn, quê sqciedade de elite r~Jaciyamente pequei:ia,. o sistema partidário pode conti-
precisa ser ocupado. Praticamente, além disso, quanto mais complexo o nuar n ui:n estaçlq LTI.lprççjso. tvl~quando a sociedade em geral se_!_o_!'na pó-" ,
instrumentõ, ma.iôr o tempo necessário para forjá-lo , e sem dúvida um par- Jitiza<la,_?s regras de trânsito gue co~~tam a so.ci.eda,de_çQ.rn..9 Estado, e , ;"1::~
tido entre outros partidos (urna associação voluntária com o objetivo de vi.c~~são estabelecidas pela maneira segundq_!_g_t!_&_Q~~S.!.~!11ª _paÍ't!.'1
buscar eleitores) é um instrumento mais simples do que um partido que d~riQ_~strutu~A essa altura, os partidos se transformam em agências
subst itui todos os outros (e com isso visa ao controle total) . Era preciso càrializadoras, e o sistema parti~á~~stema de canaliza;q_o poTTif'Cq
aprender, primeiro, alguma coisa com a experiência dos partidos (no plu- da sociedade. -·
ral), e era necessário o aparecimento de novas circunstâncias. --i::-racil ver~gora, por que os Estados uni partidários surgem num da-
Com ~elação ao pluralismo parti_9ário,_a princip~ circunstância !:_oj do rnomento..e_ explicar por que a alternativa mais viável e mais· durável para
a ampliação dô sufrágio. C~m r~!.~S!~~~ lJilipqrJi_d~riâ_mo, o a~t~c~den!e
deeETvofOlo ã~.Qrr1ento de uma sociedade politizada. Se estabelecer-
..

"muitos partidos" é o "partido úrlico" - e rião um vazio partid~rio (quer
seja sem partidos ou antipartidos). ~Esência total de parti~a· a UiQ.~
~os uma distinção - como se aeve fazer - entre õaesenvolvimento polí- i.
f sociedade.(ora_do alcance, fora de controle, e neíiliurrifêgíri1e modernizado
tico da formação polz'tica e o desenvolvimento político da sociedade, este ~
iJ?(Je,!~~iong<?_E;ãz-õ, a~õtaii~s.a sà1üÇ,i'.QJn~g\iia é 1niPi:.o..91;1tJ~~- yin_a~
último compreende o despertar político e a mobílização da população er,n c!~_d!_d!..__pós-tr~dicior:~~~~~:_r ~tad~~~- t~rrLd..~. ser -~ontrolada; mas
geral. Em conseqüência, e ao fim, ~a sociedade pQliti~E.u~e.Ja ~: qu~to ~ais se moderniza, ll}enO?.__EOae ficar entregue _a _:;i mesma ou me--
ao mesmo tempo partic~pa das operações do sistema pol ítico e é necessá- n.ós_s.c .po.de_~sper.a.Lq.Y.e...C..P.11.tinJ..Je ad9rmecid11daj-ª..l~<?._um
bem ou um mal, ~
riaao_de.s.emp.enfío. mruS:.~fiCienteClo sistemã. 6-}!!smo~d~ _22.J>arti~Õs nu~a s,ocied.a_d_e p_qlitiza_cj_a_a sol!!ÇàOÊ;~~~~~ncia ~.:..Ear~idÕSé, ~m :p~rspec-­
nffQ_lli!!1-~Lmltido_s , ou ~rª4TI mantidõs__sotJ tutela,- C~!?P!:.:.~cte~~e a~s tiva, efêm~JJ~ - O p;iI!J.2.o como canal .de expressão pode ter vida curta,'mas
P?UCOs que a população err:i ger~:U.! n~o podia ser pos~a de lado_~ J_gnorada o_pgU.qo como canal rout court n~para ficar. E' nãOimpõrta o~.
como uma entidade irrelevante . U,onsciência pura e simples desse fã10 ~l-~~-P.OSSa O partido_único ser,!k_~m dúvida uma agrncla Cal)~iZJ~Ofa.:...
represenéa um momento importante;O..t.w.~favam fô1<! dà P?lítica _!'l~~ E essa, na verdade, a ponte com a qual os partidos que são partes abriram
ingressam, ou a ela devem s~_l-~yt1Jl9.? . "As massas" não só já nã~podem o caminho a um sucessor, o partido sem contrapartida.
ficârõefõraTnc1efíriíd_a-merÍt~.,_çomo tamõ~rií é-útil envoJY.flas. Se sua_i.l}l- A razão de. ser do partido único pare~ estar~ortanto, no fato de
inizade é perigosa, sua indiferença constitui um desperdício. Os partidos que uma sociedade moderna não pode hcãr sem canais . Mas não se trata
(noylura1) po.dern ser reprim idos, mas os problemas criados . pelã.poriíTia. simplesmente do fato de que os Estados uni partidários herdam urna so:
çã'o ê0!1tmuam_i·e_ii~tir:...L\l.ma fÕrmaÇã'o política apartfdária não pode cicãm:te-pcrlíTJ'Tcrâa, ou promovem essa sociêãaêfê:-'tratá-=5einais dÕgue isso;
enfrentar uma soçiedade_p.olitizada. l@""'f~nece ssitam de uma sociedade geralmente ~.!! t i zada, Il)Uiti_
Q.u...and_Q.QJ2.artido .fi!:lico J.oi..conce.bido.~Lou impl~ntado , as de~:::_~­ 1~s do que as formações poht1cas plural~stas. p part!do úi:iico pretend_e
cias ocidentais haviam chegado a uma fase de desenvolvimento caracteri- <'.!Xcl usividade, e portanto enfrenta de!o rma aguda um problema de au!O-
~da (i) pelo sufragÍÕ arr_:ip!°o~ e~bOrãrarament~ Unive!Sal, e (iifperô~~ jÜsüficativa e-oé -aulõ-afirmaçãO.-Quer ·as-fShdos ünipãrt'idários surja m
r:;~~~~ sistemas ~ -l?~~tid_~s_estr~-t~!~_os_b~seado~ _n~s~ par_tiao_s ~e oú nãOdeun1 asituaÇ~o-~evolucionária e por meios revolucionários, são
111ajg, 7 Arri_ba_Ll~ çan1cterís tLc_as e_stão intimament~Je] a_ç!or:i~as~~~ considerados como regimes excepcionais, "especiais" - não apenas corno
Q;Jrti dos ai,lg_tÜI.<;!Jl1 vigor orgànico e se consolidam em resposta_ ~ amp~ia_ção regimes "novos". Portanto,-as estruturas políticas monistas não podem as-
do sufrágio. A verdade pura e simples ê que a entrada na política de pú- pirar :i Jegitirnid<.1de simplesmen te com o passar do tempo - elas devem
biico'SdC m:issa cria um novo problema:Í:JL,cg1iq_{_i}açãP..\~dizer que um sis- mosirar que podem fazer mais, melhor e mais depressa , do que os sistemas
tema paitidári.Q_S!'!_tor[!a _estrutura.do equivale a dizer q_ue atingiu uma fase plur:ilistas. Se essa afirmação não for comprov:ida pelos fatos, terá de ser
de consoJi<l;i~ção ..D.? q_t!al pode desempenhar, e na verdade desempenha. mantida, com mais razão ainda, pelas palavras. De qua.lgu~~odo,jl soeis_
urna função canalizadora. A neceJ>.sidade de um si st~a,_d_e __ça..n;iJj za_ç[Q_es­ thde deve ser mobilizada, persuadida, e dela se_-d~ e_~igi!. ~~,~~~dicação_
t~b.fliijf!Q..advém,~-~é::_-~atuITTãaôs públ[co_s ?e mas~a,_!!]~S !.1ª~~ corTfíãí11e, se.nao incondíêiõnàCíodas- essas "iãrefas exigem um poderoso
..- --- - - ··- - _,_- . -- ----- -~- --· -- ----
ba~icamente do ~~~~~é simple~e s~a magnitu~e . Quanto maior o nú-
)

)
64 PAR TID OS E SISTEMAS PARTIDARIOS
) O PARTI DO COMO UM TODO 65

) ~i sc c ma <le irrig:iç:io , por a~si rn dizer, e o instrumento n:itura! para a !l\ubilt· que leva a um sério erro de concepção . Co rno pode um p:irtido únü.:o pro-
) · Lação tle uma socicdadt:! é, precis;i 01e11te, o__f!artj d9 únir.:r:. _Pon :lll lO. a so- duzir, sozinho, um sistema? Um s istema de quê? Sem dúvida, não de parti-
ciedJ<le moderna nJo µreci sa apenas ser can:i.liz_ad:i. A lógica da fórmu!J dos. Portanto , o ij<lrtido úrüco não pode produzir um sistema partidári~-. -~:
) un ipar1 id:1r1a leva mais longe: a uma socied:ide que deve ser ··encadeada''. O_teJ UJQ_~1,ísteJjia~ if!l_p<?rtante, porgue introduz um importante
) t só f'<!IJ arregimentação compulsiva e peia doutnnaç:io monopolista, nJ ínstrumen to anal ítíco. É certo que sua sofisticação técnica varia conside-
ver1.bde. que o Estado unipanidário substitui o pluralismo dos partidos e r:lvelmen-te segundo as disciplinas 1 2 e que, mesmo dentro de cada discipli-
pode a:r êxito onde uma fo rmação pol ítica pluraiisra pode falhJr. n:.i. há considerável oscilação entre um sentido rigoroso , estrito, e um sen-
) tido mais vago, menos preciso.' 3 Pode-se falar, em particular, do sistema
2.2 O sistema do partido de Estado partidário sem atender a todas as exigências da análise de sistemas propria-
) mente dita. 14 Ainda assim, e no mínimo, o conceiro de sistema não tem
> As seguintes questões podem ser agora examinadas com i:_roveito: (i) cm sentido - para os objetivos da indagaçio científica - a menos que (i) evi-
que sentido um partido único é um "partido" e deve ser assim chamado, d~ncie prooriedadfil-que não se apresentam guan~ examina seu'Sefê-'
) e ( ii) se há sentido em se falar do Estado unipartidário como sendo um m~nros componenteue.parada.mente, e (iil_E~ulte de interações padroÔi-
) "sistema partidário''. z'!flas de suas partes componentes, ~.Qefil_c_orrs i s!a,Ji&nitl cando isscut.1!9
Apesar dl! sua conccpç:To bas lante aberta, Max Weber observou que tais interaç~eterminam os limites ou. pe.!2-!!l~nos, as Jjm@ç..Q.eui.9.....lli.;
) os guelfos deixaram de ser um partido quando deixaram de funcionar atra- t~ma. 15 F_ica evidente, desde logo, ~-~ch?mado s~ste_ma _~ni~tidª1!2
) vés da freie 1Vc:rbw1g - a livre soli citação no mercado político. 8 E ames- r:~ tenae a nenhuma dessas exifil_TJ_Çias. Col'll r~açã!> ª.Y~~~~ a descri- \
ma observaçJo foi feita com vigor por Sigmund Neumann, entre outros, ça<?.._ O:iuOiããc!e(o partido único) coincide com a dc;iscr~ção do siste~ )
) com refrrência ao partido nazista: "Chamar essa organizaçfo ditatorial de
'partido' é uma inadequação e. com freqüência, um erro consciente de con-
C m rela ão à e · interações padronizada~-<Ui~_Q,Ç_Orrem nãQ...Q....fu.:
~em · entro, mas através dos limites indicados pela palavra partido.
!
)
c::!pção", pois o •·monopólio do pnrtido ditatorial, que impede a livre for- Portanto, os partidos só constituem um "sistema" gua.ndo ·sâo ~-)
) mação e expressão de opinião, é a antítese precisa do sistcmJ partidário" .9 tes (no plural); e um sist~ma partidário é p!!fiSa_rriente O sige,!JIG_ de_ it:lf~·
)
Devemos admitir, ao .que me parece, que a força lógica do argumento difi-- rações resultante aacõ'fi1Petição interpartidária.J~o é,_:>~sterr:~r:r' ques- 1 . \ ....
cilmente pode ser questionada. Não o foi por contra-argumentos mais ela- tão apoia-se na relação que os partidos mantêm_~ntre_?t, QLma!!_eira peía
j borados no mesmo plano, mas por uma argumentação desenvolvida num qual cada partido é um:i füilÇãO@entido matemático) dos outros parti· /
plano diferente, segundo a quaJ ela não se enquadraria no estudo (ou nas dos e a eles reage competitivamente ou não.
)
evidéncias) das áreas em desenvolvi memo. 10 Um granae motivo de confusão é possivelmente o fato de que, em-
) Em relação à minha primeira questão, pode-se dizer com razoável bora nãoºse possa dizer gue um partido único produz um "siscema de par- \
segurança: seria vantajoso que, por amor da clareza, o partido sem contra- ti? os,'';'" pode-se afirmar que cada partido pode ser visto (de dentro, ou es- )
)
parciJa fosse terminologicamente distinguido do partido que é parte. Mas tudado isoladamente) como um "sistema", significando isso que todo 1
) ao que tudo indica não temos uma rotulação alternativa, e o esp.!cialista partido é, em si, um microcosmo e na realidade um sistema político em
)
deve, com freqüência, inclinar-se, nessas circunstâncias, às convenções lin- mmiatura. Nesse último caso, porém, o objeto de investigação não e o sis:
güísticas que receber:irn aceitação universal. Além disso, como já vimos, tema pa.rtidário, ~5!._P_!!rtidQ-..cQwo sistema. Assim expressa, a diferença
) há uma ligação genético. entre os partidos no plural e o partido no singular. poderia parecer ligeira. Não obstante, confundindo as duas coisas, somos
Em particular, o que sofre uma transformação real e radical na passagem vítimas de um erro sério: a falácia da mudança de unidade. Estamos, na
1 do pluralismo partidário para o uni partidarismo é a natureza do sistema: verdade,-confundindo um nível de análise com outro. especificamente o
) ma:; o partido único, como tal. mantém as técnicas e a estrutura orgânica nível no qual a unidade de análise é o sistema e um nível no qual a unidade
)
de que dispunha antes'.\.Q_gartido ún~noder mata os outros par~. de análise é o partido.
mas continua sendo uma arma de organização semelhanle ao artido. As- Somos, assim, levados a corrigir a questão. Se um partidu não pode,
) sim. <les e que as ra1io11ales dos dois tipos estejam claramente discrimina· sozinho, produzir um sistema próprio (isto é, um sistema partidário), onde
<.las, h;,í u111 Cl!rto sent ido em se !"alar de ··partido único". 11 está o sistema'? A questão é, portanto, ~_QeJ_a_qu~ur.iiç/ad~,?111 ic12_p~­
) O c:.iso se toma muilo d iferente quando passamos a folar de ··~ma _ -~ce o partido únicg_. Dado o fato de que ele não interage com ~utros
) uni parlidário" - pois se trata na verdade de uma designação inadequada,. partidos. qual é a área de suas interdependências limitadas, padronizadas
)"
}
)
66 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS
O PARTIDO COMO UM TODO 67
!>
e au tonrnntenedoras?~.~J ocaJi.iação do sistema é sugerida, adequad:.imi:ntc L . ,
pelos ;.iutores que .usam a expressão sisrema de parrido de Estado.. O rótúlo · .j siue se. apóiam mutuamente e ~e reforçam reciprocam~i:i te . Q~~r seja 0 Es-
é '1rnGi1ualme.n te aplicado aos Estados comunistas, 16 mas é também ude- -E t!<lo que ~erve ª.ºpartido ou ~. l~Versai,nente , o p~rtido gu~_ser\'.e ao Est_âào',
qu:.ido ao nazismo, ao fascismo italiano e a todos os que se inspiram nesses qualquer que se1a o predominante e o vetor principal de interação con·
protótipos. Na 1inguagern abstrata de uma racionalização, o argumen ~o é t ié~-i~ send~ ·certõ que as fqrrnaÇões pÔlítiças unipartidári~s (cqnsolidad.;s)
carecem nitidamente de um sistema partidário precis!Jmen1e por serem sis ~
o <lt? qu~ ~:~g-1:'..:.t~t<: ~~!~!.~º~ qu~ sãq P!!.n~s qãQ pqgem, por !:S ~ _r~q<?.. ternas de PârtidÕs· de Estado. .E as implicações disso têm )o~go alca~cê ~ .. •·
m~sn~~~ent1fic:ir-se com o Estado~artis!Q. .f..QI!l.<?..Jl.r.J]_CO<j9_ só .~.L2Q&e.,
id:,i1ti fi car - idealmente - com o-Estado. Dois todos não podem coexistir . ~ -Q-ua~1do os e_arti~iino p!ura1)..J.D.te..n1ge_m entre si, temos u~!'
çffo na-quãíõPefam um sistema próprio , isto é, um subsistema inde~1 :
Jie n;tQ__~~e m a comCiãfr~ tiao";"podrreãiZefêjüeõjfaffício ·~
único é uma duelicação ,do Estado._17 N_ão i mp~a se é o partido que ·ten- · dente . Nlã1s tec111camente, as interações interpa.rtidTr1âSão mesmo tempo
de a absorver o EstadQ.....Q\l vice-versa, se é o EstãdOqüêTeõde a absorvefQ. t' 1~·~;;;;-à autonomia do subsisté/;w e dela resuTiãffi.Contrariamerite. a carac-
j te;:Tsiica marca.nfFC!ewnsiSTemã"ãepãrffdOãe. Estado é que tal s istemã'
pa ::.~o, em amb ~~QLPm..~till111ª...QLP-il1.ido de Estado é lJ.ffi "siste-
ma de unita rismo", como disse Ernest Barker.18 J' 1w-=o permité essa autonomia. Não só o partido único não leva a um subsis-
temamdependente, como também a própria razão de ser da sua e ~~s1ê11cia
. '
Para que a_simplificação não seja exagerada, são oportunas certas res- ·· "~ é impedir a autonomia do suosistema . Se assim não fosse , por que ter um

,
t
salvas. Mesmo no mais totalitário dos Estados, a "unidade monolítica só
se realiza imperfeitamente." 19 Num sistema de partido de Estado, o cargo <~!
p_úblico é, em geral, um subprodü'to.do cargo partit:Í,áiiQ.Jsso não significá,
porém, que todos os funcionários tenham de ser membros'dopartido. Isso·
4
.~
pãft1do em lügãrõê'"uma ausenc1a total de partidos? Se rejeitarmos o plu-
ralismo partidário, sua alternativa com relação ao estímulo a outros tipos
de autonomia de subgrupos é a solução da ausencia de partidos, e não da
fusão dos partidos.
1 depê~muito, entre outras coisas, de ser restritiva ou não a põrítlcâcfê" 1 Embora a noção de autonomia do subsistema seja crucial,21 • ela
ad~'.ssão de membros d~ gartido único. ~m .§§gundq_IJ!gl!I.,...Y.ro sj~J~ma ou- . ~l' parece algumas vezes demasiado estreita e, outras vezes, demasiado ampla.
f r~~r:rrtcol5ãse<JdQJJ..Q..mento pode muito bem co~;$.is~ir COlD....t.!.!IL.~ili..ffia ~-r Devemos distinguir entre os dois .usos, o que se pode fazer facilmente , ao
de._gs;,.Çjj:g_p!!rtidária ,_E enquanto o partido controlar a burocracia, essa ,.,.f, que me parece, dizendo-se autonomia do subsistema com referência ao sen-
solução : apresentará, sem dúvida, maior eficiência. Er:n terceiro Ium,_o D' tido rigoroso dessa expressão e autonomia do subgrupo quando se preten-
panido tem de recorrer, para as tarefas técnicas, aos~t.Qs técni.cQ.s : E ! de aludir ao significado mais amplo. Há muitas vantagens na conotação
_então o monólito está sujeito ~~ suas principais rachaduras, pois a relaÇãO ;. mais ampla. 22 Entre outras coisas, ela coloca de lado a perturbadora ques·
·êif!Je õS'~l1tic~s ªº.~tido e a intelectualidade té~rucapóae_tQt.11.íü·se· --;-~ t:ro de ser o grupo analítico em causa um sistema ou não. O problema
µma questao m~to d1f1c1l._:.!='..rn ~arto lugar, e acima de tudo, no aparelho ~ · sistêmico não só poderia ser pouco importante como também podería-
e.~tat~l. wmo diz l onesc~•. ha vanos "aparelhos" e a m.an.e.i[a_!ltlª-g.u~­ mos não ter decidido claramente se a entidade é um sistema de dentro
c~momam entre s1 íifo~c:alrn~n!~Lrnaneira pela qual a polícia política (por exemplo. o partido-com o-sistema), ou de fora (por exemplo, o siste-
e .2, e:~ rcüo s~ r.el:l.ciçinam com a máq.u,ina partiaam[f realmente uma ma interpartidário). Sob qual aspecto é o judiciário, ou a burocraci:I , ou
que.Sl.4.0._c.Qrnplt.!.:rutL..._CJ.ill!_percorre toda uma variada gama·de possibi!idãde o exército, Ulll sistema, por exemplo? Sení em relação à unidade judiciá-
e variações. 2 ~ - ~ rio, exército , burocracia , ou em relação à unidade sistema? Tais perguntas
nfo nos devem preocupar se dissennos subgrupo em Jugar de subsistema.
Em suma, o ~~álgama ~stado-partido nãQ é nunca perfeito, e sua Além disso, quando fazemos referências a subgrupos em gernl, deve-se cn·
~btenção se faz de muitas maneiras e em muitas proporções diferen tes.
tende r que a significução dessa autonomia pode ser muito diferente. Um
En ten<la·:_~--~~1~9~~- _g~ dizer que sempre que há apenas um c\êrcito que cons1 il ui u n1 subgrupo de grande autonomia indica, muito
~~OT1;,iver~ .~ a mbém...lH.D...?J.~~~~ ~ partiffo áê-Eslã.].'~J1êllãrg\1mênto µrovavelmente , que a auton0111ia de um governo civil é dúbiu, ou que corre
e, pelo contra no, o de que temos esse tipo de sistema, ou então nenhum
r i ~co . Da mesma forma, se a burocracia for um subgrupo de grande autono-
sistema significativo. E j~~? eq~1ivª'1~ -~d ize_r,_ :_spec ificamen~:_que os con-
mia , :.i indicação é, presumivelmente, de que temos um governo burocrá ti-
~J OS ~ t.! Se aplicam às formações políticas esfrufUr'ãcG$e diferenci:iõa's
n:ro. P ?~em ser tr:insfe~~1no tal, a formações políticas difiJSãSeeJi1.
co. Por outro lado, a independência do judiciário é uma conquista há mui-
to perseguida e pela qual muito se lutou, pois a autonomia desse subgrupo
.QJ}.QD~lli.S.,.-T:ndo presentes as ressalvas acima , continua sendo certo que_Q_ __
r1:píesenla a pedra fundamen tal de nossos liberdades civis e indica que o
p:.n1Jl) e o Estado siio - em relação à populaç:Jo em geral - duas agências
·- -··--·-- ------------- ------ domínio arbiidrio está sob controle.
) ~

) 68 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS O PARTIDO COMO UM TODO 69 ~

) Não se pode dizer, portanto, que toda equalquer autonomia de sub- º!Sª a valid:ide ~a ~issensã.? e impede a oposição:. Os partidos no plyral •
) 1lrupo é "funcional'', ou que é testemunho do grau de independência-li-
berdade, poliarquia eiou pluralismo de uma sociedade. Isso se pode dizer,
s:.ío instrumcncos de expressão ; o partido no singular é um instrumento de -
extração.' E-elnbora possamos dizer que a sociedade modela o sistemã pã~­ •
)
)
porém, em relação à conotação estrita. Se a noção de autonomia do sub·
sis1ema for usada restritivamente, isto é, somente quando a unidade é ela·
tidário, nao se pode dizer que a ~ociedade modela um sistema de pártido
de
Estado. Bem ao c~_i:_Hr!ri<?.. é o ~istema de partido de Estado que modela
•4
ramente o subsistema - como ocorre evidentemente com o subsistema a sociedade. Sob wdos os as~CJQS.~a...lógi.i:a de unu1.uema_é_OJ_ev~rso da
) partidário, o subsistema sindical e o subsistema do grupo de pressão - se· lógica do outro. - · 4
)
)
gue-se en tão que a autonomia do subsistema é um excelente índice ·tanto
da poliarquia como das proporções em que a sociedade é livre com relação \
Com respeito ao uso da palavra partido, a ele somos forçados pela
nossa carência de palavra.s, e não haverá grande dano se o termo for tam-
ao Estado. Pode·s~firmar com segurança, em particular,_q.~poder ® lf,:f"::.:P> bém aplicado a uma não-parte, a uma parte que pretende ser o todo. Com
•t
uma sociedaélesõOre o Estado depende, em grande pane e nnc1palmente, 1 .1 relaçio à palavra "sistema", seu uso impróprio não tem justificativa numa t
)
da au onom1a o subsistema arti ario. l~o o_corre porque a autOJ!.Q.JD.ͪ J /. ." _ dcficiéncia léxica e, na verdade, é prova do desperdício de um importante
t
) d§$outros subgrupos po e muito em oertar a sociedade do Estado,. mas. ~, ~ ~··~ instrumento analítico, bem como da violação desnecessária da regra áurea
não consegue torni-la livre para influenciar o Estado.
· -A questao pode ser levada mais longe observando-se que, dentro da
"casa de força"2 3 u~ sistema ?artidário .represent~ °.~ caso limite de in-
_...\,b--\;~ de que coisas diferentes devem receber nomes diferentes.
1 ••
••
) , . . 2.3 Pluralismo unipartidário
) dependéncia do subsistem~, pois_o...plura!Jsmo part1dano _opera seg~nd~
princípio de gue os partidos saodi.ganmç.o_es vo[un~anas, or~~es ~\...... ~~
º.'\ ,\ .
;tt.>L'l..-- -
Discutimos, nas últimas- décadas, se uma democracia é concebível ou pos-
) criadas sem coação, como qu_aJ uer out:a em _resa nvada, . p~r c1d::_dao~ ;i.J.,1.t· sível sem mais de um partido.24 Até a década de 1950, a questão era abor-
)
e.ríVrrd_Qs:- .. - o a part1c1_p~~ao nos partidos nao é compulso~a, : nao ~o
º ·cidadão tem um? poss1,bil1dade de ~scolha entre as organizaçoes e.Xl_s-
tentes, como lambem o sistema erm1te - apesa.r dos custos - 2 cnaçao /
~ • dada em termos de branco ou preto. Na década de 1960, e nos primeiros
anos da década seguince, o caso· passou a ser discuti<lo, cada vez mais, co- ••
••
) mo uma questão de nuances. A resposta era, antigamente, uma negativa
võ untaria de novas or aniza ões oi' ·e . Nesse sentido, um sistema par- clara. Hoje , tende a ser afirmativa. Uma das muitas razões para essa modifi-
) tidano. não é apenas um subsist~ma independe~te, mas tamoem a erro.. ·~ µ:t.,_,\., cação é que os referentes mudaram, que observamos um mundo mais am-
Inversament~, um sistema de parti.do ~e Estado .n.ao pode nem mesmo co~:~\ 1 J'fl<·-:..-
••
) pio e muito diversificado, e que - em conseqüência disso, muitos autores
ceber o ,Parudo como u':1a orgaruzaçao vc:_luntana, e a f~ta de a~tonon:iaj \."' falam agora de ->partido único" num sentido muito impreciso, com refe-
) do subsistema torna o sistema em uestao ecJwdo. SeJa ou nao restnta 1 , réncia à hegemonia, dominância ou predominância de um partido sobre
a a rrussão ao parti o único de ual uer modo o stStema não rmite a outros.
)
)
criação vo untana e or aniza ões olítícas nem uma escolha entre or ani-1
~es políticas ternativas.
Disso decorre que a avaliação d os dados eoncretos deve esperar um
exame da questão da classificação. 25 Enquanto um autor citar exemplos ••
••
) Evidentemente. quer os partidos possam ou não operar como subsis- de partido único que, para outro autor, não pertencem à mesma classe
temas independentes, a diferença não é crucial. Por isso não é um jogo de e nem mesmo ao unipartidarismo, estaremos entabulando um diálogo de

,
) palavra terminológico dizer que só os sistemas políticos caracterizados surdos e provavelmente acabaremos com uma µetitio principii, provando

•..
pelas interações partidárias, e portanto por um "sistema dessas interações", por definição. e nesse caso por classificação indevida, o que ainda não foi

.,.
devem ser chamados de sistemas partidários. Isso chama atenção para o provado. Mas ainda podemos enfrentar a.questão teórica no entendimento
fato de que, nas formações políticas monocêntricas, as propriedades assi- de que nos estamos referindo apenas aos sistemas políticos nos quais .só
miláveis às propriedades de sistema residem nas interações do partido de um partido é legalmente permitido, e realmente existe. Nessa situação !

.•
Estado e, port:into, para o foto de que tais sistemas caracterizam-se pela bem Jcfinic..la. o ponto de interesse está, evidentemente, nos processos
) falta de autonomia do subsistema. "Sistemas uni partidários" não existem, in crapartid:írios.
) e não deveriam ser assim chamados:...· pó1s, nesse caso, o referente reàl é .E1!L~r<!L.._~ações políticas monocên~as, a.t..9.ivi?9~_ ir~_Lr~-
u~tema estatal" n_Q ciual a cªnalie_ção partidária a[ef1de aos prqpósi- partjdjriauão _wo i bid-ªs_,Js(p~~7 IJ.klQ...J?õêleniSer-institucionalizadas ou far-
tos do Estado. e não aos da sociedade.lJmsiSfema- partidário reconhece- malizadas. Não obstante, a dia.lé tica da vid~Õ sódãpõlítica - é a ue·

)
--- -
a dissensão-ê institucionaliza a oposiç<fo; üfü.sistemâ 'de partido de EstaciÕ'
--
-
que qüalquer µosi(<:_q_p~ç_!L.!l!l~ G/posifâo.- isto é, Ui11a contraposíção.
- ~ - --- - ---
- -

fl!'
)

l 70 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDARIOS O PARTIDO COMO UM TODO

i:ompetição int ~rpartidária. E_como pouca importância te!11 _o controle de


71

~
A despeito do est_at~to p~r_tidá'.io. perdura o fato de que os grupos maiores
sé_d_Lvidem _çm grupo~1eno~es e que os processos informais intrapartidáriqs r 11'il1-·parilêfo sem seguiélores, á face da moeda que tem maior valor é a com-
pctíção interp~~a~ria~ A essência do pluralismo partidár1oe;-põ_rtãnto~à _:
são como deveriam ser: plenos de discordância, rivalidade manobras e ba- - t
1:iThas.; ~ 6 Q.L_r_arQs .fJJSE~ no13u~~ partido único tolera.' oÜ mesmo pe_r- - cfrqtié(}sfíileres ~o E_artido se enfrentam i11dir!_!ame11~: ~les rivaliz~m
n~i'lc, _e~~SU~S fi_leiras a_ ~rganizaç_ã~ d~ Sl_!_b_uniQ_ades_e um certo t~e entre s1 com os olhos voltados para os eleitores - e isso tem conse~ncias
1 OJ?_os1 ~·~c: !o_rn1aJ1zada sao, sem duVJda , muito relevantes com relação aQ ~;
lf~lOrlgo alcance. -- ·- - - - - · ---- - -- -
"pluralismo unipaniilãnõ"; mas a argumentãção 1:ão _precisa limitar-se a ! Nos sistemas de partido de Estado, o _;stado e o partido ~fQrça~~
e~scs ~~~s êspc~ííieõS.?~--~_q!!_~1ão surge-Õenhuniã"organi~~ e JuplÍcam:se mutuamente, ao p~so que nos sistemas pluralistas,_Estado i
suóü!~nj.l_e_a_m t~lcranc1a ou me~~ dissensão_é bem imposto _çle al!Q partido se dividem e se separam . A jmplic!lç~ é a de que no caso monista
a ~~~º· os homens lutam entre s1, e g_uanto maipr_o prêmio da vitória, , ~ a pc:_r~ccíiva do __parti~o é .ª perspectiva do Esta_9o . Estã~os localiza-
1 ma~s acerba a luta.. E o fato de que o conílito individual e/ou grupal é . f c.\os no nível altimétrico do ·~quem goverpé!_'_' ~ . ne~~~~tido, é o ponto de
~b1quo_, de que existe em todo e qualquer sistema político, nos coloca . i viSía do Esta~? que abSQ~e ºponto de ~~sta_42 p~rtido.~o ca~o do p~Ür.:i_~
trent: a questão de ser ou não o conflito e a dissensão intrapartidários um . ~ li~mo part1dano, os partidos, ao contrario, lo~aJ1~am-s~ a..: m~!.~~1nno
substituto, um crsur=, da competição interpartidária. .' f. c11trc gõVema<fõ.s e góvernant~s. ~e-n.~o a~_pôLf!ic_a_LÇonsideffida}_~~­
. Os estudiosos que falam do "pluralismo unipartidário" inclinam-se d altimétrico do "quem é governado" as que tendem a se tornarem as polí-
evidentemente a responder pela afirmativa, o que sem dúvida é o caso J t~s-dõ Es~: Isso equivale~ dizer que - ~m ·~f~d~-c!i'sila__rrõprfâ-me=: .
quando ouvimos falar de "democracia unipartidári:J''. O argumento é for- -1. c;?nica - a form~Ç-~9j~~-iJ_(.ffca _l,!rJipartidária tOUl<LQ...Qoc!_erJ!.!!tO~ráti~~ ·X
mulado por\Q.uv~!J2e1\da seguinte maneira: "n!!....!!1~_cm que as facções ; pj_~Õ -quc-Üii1 ~sistema pJuripartidár.!9. _d~mocratiza o P..9l!eL Quando há
sç de~nv_?l~~_!!1 _!!_Yre'Il~IJ!.e...Q.entr_9 dum partido únicq ( .. ) õpluralísmo cornpetiç:ro entre mais de um partido, up1 partido governa na mecríclãênl
re~sc.:._dentro do pa~tidQ.:.~~~li ge~penhar o mesmo pap~l ( ..1 E ~ que--é sensível aos governac.IõSetõma o seu partido ao passo que o partido
co11ceJ!í.Y~LJlQrtanto, ~~nuilrtido único possa coincidi.Ll.Ç>m~lgumã - l único governa permanentemeilte, e daí seu problema ser quem governará
fqrma ele democracia p<?lítica." 18 Não houve maiores modificações oÜ t o próprio partido. - · -
acréscimos a essa formulação nos ::?5 anos decorridos desde que foi feita. ·-reiiCfõtudÕisso presente, nada contribui para mostrar como e por
Mas para termos certeza de que não estamos discutindo por uma palavra, que a rivalidade interpartidária pode ser um substituto da competiç:ro
vamos colocar de lado o termo •·pluralismo" e focalizar a expressão "pode interpartidária, ou a ela assimilada. A dissensão intrapartid_ária_ile_e11as_
desempenhar o mesmo papel". A questão é: há suficientes similaridades expressa - e instiga - uma luta muito~tMTS•'priva<iâ" do~ "funcional".
entre, de um lado, um partido único que permite, ainda que apenas de fa. 0'1ú'gumentõ-de que a rivalidadee o conflito C'xistem sémpre na política,
to, as subdivisões internas, e, de outro, um sistema com mais de um parti- qualquer que seja a forma pela qual são processados, é falho e nao percebe
do para confirmar a tese de que existe alguma forma de eq11i1>alé11cia fim· nada do sentido da engenharia política. Importa, e muito, a forma pela
,. dona/entre ambos? qual o conflito é canalizado - na verdade, o rocessamento é ué faz tod:t
a diferença. 1stoncamentc isso e confirmado pelo fato de ue o _c_onfl.ito
.. A primeira observação é, como disse bem um autor, que mesmo ·•nas
i!1tcrno de grupo entre políticos - na vera:ãc _o_;u1tecessor e e~_ale..nte
• ~orm.as-:1:iniL~.X!J.e.1!!...as d~ autocracia !'.~e l~ave~ma ~terlE rivalidãêie
co111pet1t1va, amda gue seja apenas_Etl;!_mfluéncia sobre e o favor do auto- d<l_!ivalid;ide intrapa_!:.tiêfária-produziu, scmpr~e ~nas,_Ê.~5~<'.~ (no
c~ , Mas, se ampliássemos o significãdõdas palavras "cÕmpetiÇão" ·e sentido histórico). Assim, embora a pluralidãcfe- das fac~Oes tenha existido
"co~1.J?<! tili Y.Q" para "abranger a intriga dos corredores pafoéiaiiõs é dbs desde _gue a vid_iLpÔlitic:t na~_ç~.!!.i .2_pi~iSITTõêle"mÇ>crático só ex"ís!il!~
con11tes partidários, estaríamos cegando o fio de nossa ferramenta analí- nlÍmcro relativamente pequeno de países e n!.!1!! p_e._ríodo r_çla~1entc
l ~c~"·
29
Essa obscrvução merece ser desenvolvida em detalhe. A compe- cuí!O:-Eiíl1)ãítTêúGí. não h:í friaíéios, nÕ dcc_~>rrer_d_oué.c_uLos.. dc_c!lie"'o
t ~ir:io c!1tre _o~l íder~ dent ro do partido único é uma luta entre dé1ei11orC.s
um a demo..:racia.
m
!'ac~-<!~~1.i~~~-~-§._~1:flLt ~~r~~~[e ~i-ten ~iã~_jamai~@e rto cami nl!Q. P~Q.
00 pog,cr qu..e_?..~.,Ç_n_l.!l!ntam clíiéTã//1-enre. Ternos ent:To principalmente, se
n:i_o~ ~cl~j~e, um ~.>1..@2. de lí1.Ic'r a líder, uma luta frciiTeT fíCníC - -~1aís TéCnical1iênte, a tese de Duverger não explica a diferença de uni·
cntr~. ~?v_::_i1ante::~ujo resul!ado n:lo tem ae ser s~bmeÍi~à_prt?VCL~ dade, incluindo-se portanto na lista das falácias da "mudança de unidade".
,\s formações políticas monistas tém apenas uma unidade: o partid<?·CO·
compet_1çao ~~~1~e9 elcitor-ª1,. ~1m sistema partid_ário, em lugar disso, ·
a competição intrapartidária é apenas uma face da moeda sendo
- -·-- - ·------ ) -
. a outrã'a--
~íiõ;s1$.iema. Ãs formãções políticas pluralistas encerram duas úíiid:icfos :'osº
- - - . . - -. - -- .
.. )
- )
l

) 72 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS


O PAR TIDO COMO UM TODO 73
)
p:.irt1dos tomados um a um, m<il.s o .~!~em_'!_ interpartidcirio;. Isso equivo..le :.i. forç:.l, ou do poder, é ha bi tada por altruístas formidáveis . Isso bem poderia
) Jlz\!r que, 110 primeiro casó: temos, no máximo, ap_enas um p_rm:esso (i1:· ocorrer com indivíduos particulares e, no global . com a primeira geraçao
) cerno) eleicorakompetitivo, enquanto no segundo caso tem2s dois pro- revolucionária . Tais circur.stâncias. porém, nrro s3'o freqüentes, nem dura-
~c-ssos (J_nccrno_ ~ ex_terno):.. Onde: encão-:êiij .ª substiruição'! Mesmo que douras; e nenhuma formaçao política pode ser construida, de fo rma per-
) :.idmitamos n:ais <loque se deve~isto é, que aquilo que ocorre 111ternamen1c manente e rotinc:ira . à base do desejo de que ela assim fosse. Se previsões
no partido único possa- ser chamado, adequadamente, de _compeuça-~. ? devem ser apoiadas cm argumentos - e a idéia do pluralismo unipartidário
) mesmo tem lugar dentro de cada um dos partidos de um sistema part1d:i- é for:nu!ada :!m ger:tl como uma previsão e uma esper:inça -, entlro a pre-
) rio. Portanto, o partido único_ não_oJerece_.ê!gu_!!la coisa_en1 t~oc:i dagui!o ·1is~o é frágil.
) gue Jlie (a_Jta. E~.º partido úni_co _.:ar~ meci™nte_j~qujlç -:-q~ __torpa
·'democrática'! a_poliarquia: a competiçro eleitoral e as eleições livres.
) Ã cÕmpetiça-Õ- interpartídàfiaíOlsüomefiaa, nos úlilmos ten'i'pos, a
um tratamen to rigoroso. De um.lado, há a acusação de que os partidos -
) especialmente no bipartidarismo - não oferecem uma "escolha real" e
qu~ o seu comportamento competitivo 1esuita, em últim_a análise, na emas-
cul:.içlo, no comportamento conspiratório, e no desvio da atençíio dos
) aspectos fundamentais para as trivialidades. Em suma, a competiç:Io pode
) ser cõmoda para o monopólio.JO Por outro lado os partidos - especialmen-
)1 te o multipartidarismo ex tremo - são retratados como tenden tes a exaspe-
rar conflitos e divisões, como criadores de "casos artificiais". como propo-
nentes de grandes opções totalmente irrealistas. Desse ângulo, a competi-
' ) 1
ção aquece o mercado, fomenta as promessas excessivas e a polarização e
cria problemas incontroláveis que estão além de qualquer soluç:ro. Em
ambos os casos, os bens ou benefícios coletivos resultantes dos mecanis-
mos de competiçao estão sempre aquém do padrão ótimo por motivos que
foram bem explicados. 3 i Grande parte dessa crítica é, sob um aspecto ou
outro, correta. Não pretendemos aqui nenhum quadro róseo da competi-
çlo. Mas como sempre, nosso problema é (enquanto aguardamos medidas)
o do peso. São as deficiências iguais, ou mesmo superiores. às vantagens?
No caso específico, pesarão as deficiências da competiçao interpartidária
mais do que seus efeitos secundários positivos - tal como expostos na
teoria competitiva da democracia, delineada por Schumpeter,32 implemen-
tada por Friedrich, 33 e desenvolvida por Daltl'!"' .
A afirmaça:o de que a "democracia liberal n:Io é, por definiçao, afas-
tada pela presença de um sistema unipartidário" 35 bem poderia representar
o estado de espírito hoje predominante na disciplina.3ó N:!o posso, lamen-
J tavelmente, encontrar argumentos de apoio à tese de que sempre que a
) compe tição interpartidária (entre diversos partidos) é reprimida, ela pode
ser substitu1'<la pelo conflito intrapartidário (dentro do partido único).
) Não estamos interessados. atinai de contas, no conflito per se, mas em suas
) .i conseqüências. Portanto, a tese presume, e nos deixa com essa suposiç:lo.
que homens que lutam pela sua própria sobrevivência - e nem sempre
) :. 1111!taforica111\!11tc - num contex to do tipo lei da selva podem oferecer.
) e oforecerão, bene fícios coletivos. A su~osição é, então, a de que a casa dt:
)
) .
)
)

.. )) NOTAS 15
.. ) f[
., .!
. ' 8. Max Weber, h'irrschaft und Gesellschafr. Winckclman, 1956, 1, Parte 1, 111,
s<'çío 18. ··con.:dro e essência dos partidos" .
.. ) t·t
NOTAS
.~ 9. Modem Polirica/ Parries. op. dr., p. 370, e "A one·p:uty system is a contradic·
1ion in itscll"' (p. 395). No mesmo espírito, Erncst Barke r, escreveu cm Rejlec·
.. )
r
r
1io11Y 011 Governmelll (Oxforu University Press, 1942): "Quando o Estado ( . .. )
abole lodo~ os partidos exceto o partido único ( .. . ) na realidade revoga a essên·
çia do partido" (p. 39). Gabriel Almond assim diz, coneisam1:ntc : "A esuu tura

.,." tt
.
tiu.: chama11ios de ponido no si~tema totalitário não é abso lutamente um par·
lido" ("Comparative political systcms'', JP, agosto de 1956, p. 397). Leslic
Lipson afirma: " .. . um partido é, por definição, uma parte do todo. Como tal.
... ) t . ;'
e signific;i a cxisténcia de outras partes, isto é, a coexistênci:1 dos partidos. Falar
) de um sistema unip:utidário é, portanto, empregar uma contradição nos termos "

"'..) '~. ( The Democratic Civilizarion, op. dr., p. 311 ). Ver também Charles :E. Mcrri:11n
t
J
1. Isso exclui notadamcnte os chamados Estados unipartidários do,; Estados Uni·
dos e os efêmeros partidos únicos africanos, cm grande parte n!lo·cslruturados . ; e Harold F. Gosnell, The American Party Sysrem , 4~ ed., Macmillan, 1949,
p. 8; e Harold D. Lasswcll e Abraham Kaplan, Power anú Sociery, Yale Univcr·
t

.)
.,)

... )
r•
f
As razões para essas exclusões são dadas infra, 4.3 e no cap. 8.
2. A principal diferença, sob es,;c aspecto, entre Lenin, de um lado, e lilll~r e
Mussolini, do outro, é que o s dois últimos declararam~e ~b~rtamentc ant1dc·
mocr:íticos, enqu:in10 Lenin n:Io teorizou nunca o unan11111smo. De fato, a
partir de 1917 até o X Congresso do P:utido BolcheV!quc, dc_ mar,·o.dc .192!,
_ si1y Pn:ss, 1950, p. 171.
l O. Esse aspecto é bem analisado por A ustin R:inney, "Thc concept of 'party"', in
Oliver Garccau, org., Polirical Research and Polirical Theory, Harvard University
Pr.:ss, 1968, particularmente pp. 148-151. O contra-argumento é apresentado ,
por exemplo, por T. Hodgkin, African Política/ Parties, Penguin Books, 1961,
o debate foi livre, e por vezes violento, dcnuo do partido. Lcntn, porcm, 1mpos pp. 15-16; por Gwendolcn Carter, in C:irter, org., African One·Party Stares,
. ) um controle sobre a oposição em 1921, e isso significou o controk sob~c a

'
Crondl University Press, 1964, pp. 1·2; e por David E. Apter, Tlie Politics o/
dissensão interna; os pa.rtidos da oposição, e especificamente os dois ~ar!1d~s
.) 1 socialista~. haviam sido combatidos desde o início com uma fr:iude e v10!.:n~1a
M0Jemizatio11 , Thc Univcrsity of Chicago Press, 1965, pp. 181-185. Regisue·
se. c·o11rra. a cautelosa abordagem de Coleman e Rosberg: "Por definição, um
... ) r que ficaram pouco aquém da proibição formal. Ver Leonard Schaµiro, "Puttmi;
the lid on leninism", GO, janeÍJo·abril de 1967, particularmente PP· 181·191.
partido é uma 'parte' ; tanto a competiçã'o como o conceito de sistema implicam
t Para 0 gcral, ver L. Sehapiro, Tire Com111u11isr Party of tht ~ovitt U11io11, Ran·
a .:xistência de mais de uma parte (. .. ) não procuraremos solucionar essas amb i·
... 1
f dom Housc, 1959; p1ra detalhes, ver a obra monumental de Edg:ud Hallctt Carr,
güidades conceituais, reconhecidamente sérias. A questão imediata é observar
qu..:, com poucas exceções, os partidos políticos africanos surgiram inicialmente
....
) ~ Hiswry of So1•ier RussUi, Macmillan (7 vols.) 1951 -1964, vols. 1-111, The Boi· através da competição eleitoral" (in James S. Coleman e Carl J. Rosberg, orgs.,
1 she1•ik Revolution . Polirica/ Parries aml Nationar lntegrario11 in Tropical Africa, University of Cal·
._. ) 1 3. A distinç:!o estabelecida por Samuel P. Huntington, Política/ OrJer in Clia11gi11g ifornia Press, 1964, p. 3, nota 4). Ver, porém, infra, c:ip. 8.
f Societíes Yale Univcrsity Prcss, 1968, particularmente pp. 403-408. 11. Essa concc~s5o nos deixa - como iremos ver - algumas dificuldades n:ro solu·
) 1
.... 4. Os rcgin;cs müitarcs concenuam-ic atualmente na Amé.rica ?o . Sul (cm 1974: cionada>. Como Domenico Fisichclla observa corretamente, o partido único é
1 Uolívia, UrJsil, Chile, Equador, Paraguai, Peru e Uruguai)~ Afnca. Embora eu um "partido" cm termos estrutur.ús e t:imbém em termos genéticos (histórico·
.... l 1
concorde com a distinção de Hunt ington entre sem partido e ;mtipartido, deve
ficar claro que a maioria dos regimes latino-americanos são antipartido pro
genéticos); mas a assimila.ç:io não é v:ílidJ em termos funcion ais. (Parriri e gruppí
di pressione, li Mulino, 1972, "Introdução", pp. 26·31.)
.... tempore, e não por princípio. O caso poderia ser diferente.' a longo prazo, nos 12. Uma dbtinção importante, que ultrapassa os limites entre JS disciplinas, é a que
.) novos Estado s africanos, pois nessa área os militares poderiam desenvolver uma
doutrina antipartido completa, sem problemas com a legitimidade. Os regimes
se faz entre (il sistema social, (ii) sistema cultural e (iii ) sistcm:i de pcrsonalida ·
de. Esses sis1em:1s podem distinguir-se pelas suas unidades de an álise, respectiva·
militares africanos são enumewdos infra, no c:ip. 8, particularmente nos Qua· mcn1e li) p:ipfo, (ii) orienta ç:io de valor e crenças, (iii) motivações, impulsos
!lo- dros 29 e 31. e necessidades-disposições. Nio visamos aqui a nenhum desses sistemas.
5. Op. cí1., p. 407. . _ . 13. Na ciência p olítica, por exemplo, o sistema eleitoral é muito menos um "siste·
~
6. Embora a minha ,ociedad1: politilada e stej a bastante próxima da noç;io ord1· ma" do que o sistema político ou o s su bsistemas do partido e do grupo de
nana da >ociedack de massas, a ênfa,~ recai, no caso, apen:1s sobre um de seus prcs~ão.
!Ir
muitos a spectos. Mm ha sociedade p oli tizada u mbém está pró:--.ima daqu ilo que
1~. Sobre a aplicaç:io da :111áli~e de sistemas à ciência política o autor dcst;icado é
... a maioria do> aulorc> chamam, hoje, de uma sociedade mob il izada. Usarei, po·
r~m. o l<!rm o mobiliz:ic,-ão cm seu sentido mah limitado, original.
David Easton. Ver, em particular, A Framework for Political A1111/ysis, Prcnt ice·
Hall, 1965, e A System Analy sis of Polirico/ Life, Wilcy , 1965.
7. O partido leni nbla se enquadra ne~>ª generalização, poi> Le nin o conc.;beu no
"" exílio e no amplo contexto oi.:iJcnt:1l. O fato tk 1i:-r sitio t.:orizado como um par· 15. ~fais dc1alhad:1mcn te, o quc :-.e disse acima significa: (i) que deve haver. uma ta 1
tido d<) aipo d..: · ·va ng uarda" dcVl'·SC 1.11110 :i douu:na marx ista t:omo :i ~i1uaç:io interdcpcndO::ncia de partes ou variáveis qur: as relações resultantes tem um:i
!>-
tussa ..:m 1917 . A~ noções dc partido dc m:i.-sas e de sistema parti<l:i riú estru lu· .. orJc111", de modo que nem tudo pode ocorrer; (ii) que cs~a ordem deve tender
~ au10111anu1cn..;ão: ( iii) que a auto111anutcnção cm quc~tão indui·a manutcn·
..... rado ~er:io examimdas no volume li. P:1ra uma aprcs~n1a ç:io prdiminar, ver
\~lo do, hmue~ e das "relaçõe~ características das p:irt c~ do- ,is1.:m:i dentro do
infra . 8.1.

74
~}
·--,
NOTAS 77
l ••
••
76 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIOÃRIOS 1
var que su:i gcneralização constirni uma r.:ntat1va.: qu.: o exemplo o::m qu.:s tãu
limite" {T:tkoll Pano n' é Edward A. Shils. orgs .. foward a Gmeral Tlreory o/
J .i Tutqui:i, com referência à nvalid:iJc entn: lnon u e Bayar dentro do Partido
1
••
Acrio11 , lfarvan.1 Univer>ity PrC>>. 195 2, pp. l 07 · i 0&). R~publ icano Popula.r quando /\:.:mal Ataturk ainda cq.lv.a \1VO. ,\ Turquia é
i6. Por c.\emµlv. J an F .. Tnska, org .. Co11.1n11111isr_ Part~·~.1ares, Bobb~- :..krrill, 1969. examinada infra , 9.1. ~

-.
Poucmo~ u:.ar tambcm, certam.:nt.:, tormaço.:s po11t1cas unipart1d:ma>. ump:u· l9. Willi.im H. Morris-Jones, "Dom!flane<~ and dissent''. GO. ago~to de 1966, p. 454.
1idarismo e c:.pre»ÕC> $emelhantc>. O que i mportl é cviur a dicção .:nganosa JO. Ver Hirschman, Exic, Voice, and loyaity, op. d r.. p::irucularmentc cap. 5. f. esta
17. l"o contrana a sugt::.tão, que me parece enga.noSJ, de Sigmund Ncumann. d.: tamb.!m a te se implícira de C. Wright Mills (Tlte Po -..er Elite, Oxford University
que o n:msmo foi um ''Estado du:il" tloc. cir., p. 414). o ...dua;,1smo:· ~ in~: Press, 1956) e de Henry S. Kariel i The Decl111e o/ ..t mencan Pluralism. Staniord 1
1rumcntal a um >1stema auto-reforçador. Por outro lado, mmha duphL-:iç:Io
não >ignitica que o partido único ~ necessariamente um "órg:i'o cxccuuvo",
co mo C. W. C:issinclli llirma ( "Thc toralitarian pa!ly", JP, fevereiro de 1962.
pp. 111-141).
31.
Umvcrs1ty Prcss, l 961 ).
Ver especialmente Mancur Olson, Jr., Tiie logic oí Collectfre Acrion - Public
Goods and tlze Theory of Groups, Harvard Uni\ersity Prcss. 1965, passim.

)
18.
l9.
Re/leccions on Governme11t, op. cic.. p. 288.
Mcrle Fainsod, How Russia is Ruled, nova ed., Harvard University Press, 1963,
p. 387, e, para uma ilu;tração ampla, Partes Ili t! IV. Ver ra.mbém Frcdcric.k
32.

33.
Joseph A. Schumpetcr, Copitalism, Sociolism cnd Democracy, H:upcr and
Bro1hcrs, 1942, cap. 22, particularmente p. 269.
Especil1c:11nentc a sua ''regra das reações previs! as", mcU1or formulada cm
Carl J. l'fiedrich, Consrirutional Govemment a11d Politics, 2? ed., Ginn. 194 1,
••
••
C. llarghoorn, Po/irics i11 rhe USSR, Little Brown, 1966. As f1ssurJs no mono- cap. 25, particula.rmcntc pp. 589-591. Ver também Man and His Government:
) lito foram ;JJ1:1fü3das, e um tanto cnfatizad3s, por Robert C- Tucker, "Thc A11 Empirical Tlreory of Politics, de Fricdri.c h (McGraw-HiU, 1963, c;1p. 11).
contlict modcl", Problems of Communism, no,embro-dei:embro de 1963; A m:tior parte da obra de Dahl, a começar com o livro em co-autoria com C.E.
) Sydney Ploss, Conflicr and Decision-Making in Sovier Russia, Princeton Uni- Lindblom, Polirics, Economics and Wtdjàre, Ha.rpcr, 1953, está centrada sobre

20.
vi.:rsity Press. 1965; Carl A. Lindcn, Khrushclrev and tire Soviet Leaderslzip
l 95 7-196-1. Johns Hopkins Press, 1966.
Ver Ghita loncst:u, The Politics of rlze European Comnwnisr Srares, Praegcr,
as condições de funcionamento da democracia, como mostra Domcnico Fisichcl-
la, Temi e metodi in scienza poli rica, Sansoni, 197 t, cup. 6. Ver, mais recente-
mente, Dahl, Poliarchy. op. cit.; também minh:i l>emocratic Theory, op. cir.,
••
21.
196 7, csp. pp. 227-269.
V~r especialmente Robert A. Dahl, Modem Political Analysis. Prcnticc-Hall,
1963, pp. 35ss. Continuando esse caminho, Gabrid A. Almond e G. Bingham
35.
cap. 6 e particularmente pp. 124-128.
Blondd, An introducrion to comporative govemmenr, op. cir., p. 151. Note-se
t
_.
que Blondcl vai ao ponto de cspeciíicar "democracia liberal", ao pas.s o que a maio-
)
Powell combinam a autonomia de subsistemas (intensa, limitada e baixa) com
o critério cultural (Compararive Pofitics: A Developmental Approach, Little
Brown, 1966, particularmente pp. 259-272).
36.
ria dos autores, e certamente Duverger, reforem-se a um tipo vago de dcmocrada.
Duas ~firmações, convergindo de pontos de vista muito dist:rntes, par.:cem parti-
cularmente pertinentes, no caso. Segundo Jerzy W iatr, "o plurali~mo político
"•
22.

23.
24.
Ver S~muel E. Finer, Comparative Governmenr, AUen Lane Penguin Prcss, 1970,
pp. 48-49;575-586.
b~a imagem é de Max Weber.
A quest:ío alternativa é se a democracia poderia n:ío só ser possível, como real-
(...) não precisa tomar a forma de uma difcreneiaçã o externa entre vários parti-
dos e grupos, mas pode também desenvolver-se na vida interna do partido g~ver­
namental", que é, na realidade, o Partido dos Trab;i!hadorcs Polonc;es Umdos
(em Cleovages, ideologies ond parry sysrems, op. cit., p. '.!86). E Fred W. Riggs
••
)
mente preforível, sem partidos. É a questão da democracia direta, que n:ro
examinaremos aqui. Cf. minha Democratic Tlreory, op. cit., cap. 12. Admitin-
do-se a possibilidade de uma democracia sem partidos direta (com as r~salvas
apn:sentadas supra, 2.1) o que resta mostrar é que isso faria a democracia fun-
corrobora: "No caso de um sistema unipartidtirio (...) a assembléia eleita é na
realidade dominada pelo partido governamental e não pode assegurar os direitos
de oposição a partidos minoriciírios. Mas um equivalente funcional pode ser pro-
••
••
porcionado dentro do partido governante pelo seu i;>róprio congresso eleito. Se
cionar melhor (ver infra, 4.3, as dúvidas de Key sobre a questão). (...) bastante poderoso, ele poderia ser capai: de pro tcger os direitos das facções
25. Essa precaução aplica-se não só às formações polític:is fluidas, em dcsenvolvi- de oposição dentro do p:mido" (Administra tive refe>rm and polirical responsive-
m~nto, mas também, e em particular, aos chamados Estados norte-americanos ness: a theory of dynomic balancing, Sage, 1970, p. 58 3). Os grifos são meus, e

,•
de p:utido único. À parte a qucst:i'o abena de sua classificação (infra, 4.3 e 6.5), indicam o quanto pode ser vaga a idéia do partido único.
os Estados membros de um Estado federal são, evidentemente, um caso em si.
devido à sua menor autonomia com rel:iç:to às áreas sujeitas ao controle federal.
26. Supro , 2.2, e nota 19, acima.
27. A experiência interessante, quanto a isso, é a de União Nacional Africana de
Tanganica, de Nyerl!re, que permite a dois membros do part ido disputarem cada
cadeira eleitoral. Mas a Tanzânia só se tornou independente em 1961. Nycrcre
tem 95% dos votos, sendo difícil, e muito cedo, para se avaliar a significação
desse processo, e muito menos as suas perspectivas de sobrevivência (infra, 8.2
••
) e nota 23). Madagascar é citado juntamente com a Tanzânia, mas as restrições
são ali ainda maiores. O único exemplo vigoroso é, na verdade, o México, que
''

será examinado i11j;a, 7 .3.
28. Les partis polir iques, op. cit., p. 31 O. Embora Duverger mencione, inadcq uada-
menlc, também o exemplo da chamada polítiL"a sulis ta (infra, 4.3), é justo obscr-

)
''
)
) •
O QUADRO PRELIMINAR 79
)
111 os sistemas políticos, sem cxcc ça:o, têm uma comunicaçrro política. _b_ ~a­
naliza~á'o vem ~m ..seguida. É ig uaJmenle uma Catl!gOria ba~~~lt_e abraflg~n :.
) O QUADRO PRELIMINAR
1 ~1nas seu âmbito n:ro é tão amplo, pois nenhuma canalização significativa
) o~orrênasformaçÕespolíticas sem p~ti_9o. Assim ; a expressãõ é-únenos
:ibrãngeõfe <l:iStrês câtegoíiãs, po~~ ãplica a todas as fórma~õês -
) pc~partidarias, mas apen-as àg_uelas _sue contam co~ .autonon~ia do
subsistema partidário. Em suma, todas _as fonnyç_oi:_s _pol~t1cas par11U1am
tfa pr~eaade de co~unlêaça:o~ t~das as formaço~s poli~i:~s_partid:i_ria_s
pãrlilha_J]l da pro~rieda?e de canahzaçrro, mas ap~nas: os ~1stemas_P-arttda·_
,' ) 3.1 Canalização, comunicação, expressão
rios _pJrtilham _?a~~~dad~_de expre~~º~ ~ p~1!n~~1~re~ça entre as_
trJs funções é. portanto, a de que pertencem a diferentes mve1s de abstra-
,) No decorrer de nossa análise, destacaram-se duas funções ou dois principais
~ :i:,m P1.r1Jcular, a..f2.!!1~icaç:r~ e !fl~Ís geêãl; a expre~~~ é mais espec_íQ.·_
c:i . E ainda, a comunicaçao trons1ta alem da area partidana. ao p~so qµe
~ } papéis sistêmicos dos partidos: q_express:ro e a can'alizaç:ro. Uma terceira ;~Íiza.yaoe~- êxpressrro pressupõem a existência de partidos. Até aqui,
} funçao - a de comunicaç..[p - deve ser examinada, para que a argumenta· tudo bem. MáSa-c-Ôntrovérsia surge quando esses conceitos sa:o empregados
~
çrro se torne completa. Entre outras coisas, a funç3'o expressiva implica a na avaliaç:ro da proximidade ou da distância entre. os sistemas polític~s.
~ cçimunicaçª.Q. e bem poderia ser considerada como parte integrante da fun- Como regra, quanto mais geral, isto é, quanto mais abstrata a categona,
,> ção de comunicação. Devo, por isso, explicar por que digo "expressão" e ·mais ela neutraliza as diferenças e faz com que as coisas pareçam seme·
, )
n:lo "comunicaçao" e, ao mesmo tempo, como as duas se relacipnam. Em
segundo lug:ir, pode-se argumentar que a funçao de canalizaçáo envolve
lhant~s'. Ao nos elevarmos na escala da abstraçao temos, então, um ponto
no qu.al as similaridades menores podem contrabalançar as diforenças maio-
,) também a comunicação. Isso não se pode negar, pois a comunicaç:ro é o
requisito básico de tudo.
res. 6 É ent:ro que surge o problema. Por exemplo, um h?mem e um ave~­
truz são iguais - isto é, pertencem à mesma classe - pois ambos s:ro am·
)
!t Dada essa . naturezal'da comunicaç:ro, uma opçiro seria adotar uma mais de duas pernas. Mas será isso uma assimilaça:o significativa?
, l abordagem cibernética geral, COíl,10 a desenvolvida de maneira convincente
por\ Deutsch. 1 De acordo com essa opçao, o Eartido é considerado como
No exemplo em questão é correto dizer-se que tanto os sistemas par-
tidáriÕs como os sisten1as de partido de Estado deS~J!U>e~ham urna_ "fun-
.. "a rede de comunicações que se espe.çialili.luncionalmente-na-agregaçao__ ção c~~ali~adora" e ciie um aspecto import;!.nt.:: des~a ~nal!zaçã9 está no
das comunicações políticas (is10 é, as comunicações relativas à distribuiça:o fat_o d..!: 'll!~~mb2~J>~las of~ecem cana1~ de co!l!!!111ca~o. MJls o arg~~
.. ) f .autorizada de valores) para uma formação política".2 A opç:ro alternat iva mento _ nâ'o_ ~od~, ~manec!r nesse elevado n1vel_de ab~traçao. Se ~e~mane·
.) é a ãdo1ada por A fmond_, ou seja, especificar uma "funÇ!_o_de comunicaça:o
.) l po_!_itica" j'!ntame nte com as outras funções sistêmicas. 3 ~ assim que en-
tendl!mos, aqui, essa noçao. -
cesse então as similaridades de superficie e, na verdade, superfic1a1s pesa·
riam' mais do que as diferenças profundas. A COJ"!l~~c_ação e~ si c:onsi_sle
de um fluxo bidirecional , ist o é, inclui t!nl_o mensagens vindas de l!a1xo
. A r:iz:ro de termos deixado àe lado, até agora, a funçao de comuni- (dl!mãndasfcomo meiiSãgens vindas de cima (ordens,__ou dis_!ribuicr?c:.s au-
"" r
1
cação é que ela não tem suficieníe força discriminatória. Como se deve toritári:is)~Ã qüeSfao-é: quem fala, e quem ouv_e? Quem controla () lado
!1-
lcmbra.r, a,...fynç:r~~aracteriza o e!_uralj~Q...12.artidáriQ,jsto é, de input do funil? Haverá sel"npre alguns feeclbacks, é certo, .mas. a comu-,
IY
o par!!.do gue pertence a um sistema partidário. A fu~o canalizadora nicação política não é um di :ilogo entre iguais que bu~atl]._ d1str~n-se com
1 surge numa fase pQsterior, a da consoliâaç:ro estrÚtural das entidades po- a conversação . A c;inalização tem uma direção, e é esta que es!ª~.el_:ce co-
.. ) l 1íTICãSfiartidárias. e parece serap.licivefõaõ ~ aoui~JlllrtidáriÔs mas mo a circulação é manobrad<J. Isso equivale a diz_er _que um~ def~~11ç~~ s11!}·
.. 1 tambl!m aos sisternas~do Estado partidário.;; li:_, essa altura, a funç3o de ÇQ--
1t1u_DiCllÇ1.0. pol1!_1ca pode ser proveitosamente incorporada à análise - con]_
ciente da comuni~ação política deve especificar que tipo ~ co~11~~11~aça~
de q'í1en1 e pàra quem. A incapacidade de separar a c~mun1caçao expres-
J
"' 1
1
a ressalva de qul! kmos um problema de en_qu.adr-a( categ.,Q.rias hisH1ri<21· siva" da comunicação "autoritária" obscurece o pon to cruciaL _
.,,,
1
men te denvaoasnumaclasse 12ur~!nen~_a1Ullítica __ Um subsistema de nartidos {no P.~~!l_pc;u!.!lte a comunicaçao expres-
- com relaç:io à inclusividade, a comunicaç:ro. é sem dúvida urna ca- ·-- _.._____ · E t do lnversa-
s1va isto é nermite aos cidadãos se comun1ç_aJ_e_!Tl com o s a -~· ·--- -----
,,. 11 tl!goria que tudo indui e talvez a Ç_atwria uni"..ersal por excelência. Todos . ' •- i::.:-- - - - - -- · - d d
111cnt~. unuistema,J:le partid..o de. Estado oferece....um~-~con~
caç:io
-
11
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l 78
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1
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~
)

PARTIDOS E SISTEMAS PARTIOARIOS O QUADRO PREL I MINAR 81


\
i;'.tanej_ad:? para a comunicação com :l soc1ed.Hle . Não se trata simplesmente 3.2 A d efinição mínima
) i":.ito c.le que um sistema partidário permite uma opção en tre canais, ao
nasso que um sistema de partido de Estado oferece um canal sem escolha . t interessante observar que. na obra d:íssi..::i de Duvcrgcr. a pergunta "o
..1. deme11to crítico está - bem o sabemos - na aut\,-nomiâ do subsistema. que entendemos ao us:ir a palavr:i partido?" jam.HS ê formul ada . ~ Njo obs-
.~fn si, e por si, a escolha entre canais poderia aproximar-se de uma opção tante, os grupos eçilíticos emperLliados na luta pelo podu e:<lstr;am sem:
entre cadeias. A questão é se a rede de comunicações políticas está modela· !?rê: Er:iffi, antês."'chamados de fà~çõ~;i1oje.~tem o.nome de part~dcs. Qual
! no nível de subsistema, independentemente do sistema estat:il. Se assim ·a ' cÍilêre'ií'Ç'à? Puramente nominai? Apenas uma dtfercnç:i de grandeza? A
"v. então um subsistema partidário liga um povo a um governo propÔrcio- menos que estejamos prontos a responder que um partido é apenas uma
nando_um síst~ma de comunicações e~p ressi vo~e _man té m o Estado sob macrofacção, temos a necessidade lógica de começar definindo o partido
cm relação :i facção. Como diz Friedrich, de maneira concisa: ··se uma

......~
brltrole. Inversãiliêi1te, a identiflcaçãq_J::st~d._9..:Partido liga -o govern o ao
~pvo ~pe la cri3çãõ0e um_s~.tem a de comunicação autorílafio q uemantém definição não distingue um partido de uma facção, devemos considerar os
us cidadãos sob contro~_Por isso um s1stema_partid:íri_Sl pode ser defiilld'o dois como idénticos de fato, ou modificar a definição para que estabeleça
5mo um s1~e ma ae cana_!ização livre (au~ônoma) no qual a expressão 12.r?..dQ· a diferença entre ambos". 9 Foi esse, com efeito, o problema de Ourke: o
"'\ ina, em todo o sistema pqlítico, sobre_ il ~QreS$ão, ao passo çiue um sis: objetivo de sua definição foi precisamente estabelecer a lin ha entre facções

........
tema de partido de Estado pode ser definido como um sistema de canaliza- e ligações honrosas. 10 Hoje, Burke não goza de boa reputação. A maioria
a
)o _co~pu!~ó:fj~ (monopolista) 'ria qual represslio preãõmiíí"i'ãô longo de dos autores considera sua definição como normativa (o que não é) e pouco
' ?d~~ linh_a., ~ob~~J?.:es~~· - ,- -- realista (o q\{!'._ é uma outra uestão). A opinião realista crua é bem exem-
plificada por\)chatsschneide "Um partido .E9J.[tico _é,~rp Q.rimeiro lugar,
} Minha preferência pela f~nça-o expreSSÍVJLJelaciona-se, portanto, com uma tentativa organizada de conseguir o oderLJ:8_14.rk!;.lobscureceu essa
" nível de abstraçào no qual a generalizac;ão conserva suficiente especiíl- qüeSfáo... mas 1 ua mente justo dizer ue os partidos são mantidos

-......
idade. Assim, no meu enfoque, a "comunic<!ç_ão" é reduzida e absorvida unidos pela 'força coesiva proporcionada pela ~sjb ih a e de aproveitar-
ocla "expressão", e não o inversõ:--üütra diferença deve serressãltada. po- se .]õPõcler público"':-n-O padrão, porém, foi fixado por ~chumpeter: \
.êrõ. Minnacretinição da fl!f!ÉO expreSSlvãsobrepõe-s-ea ~noçiio de comÜ. "Um part!do não é ( ...) um grupo de homens que er etendam eromover o
j~ção, m:ls apenas em parte. No principâl, a funçao e_iE_ressivaestá.Jigada bem-estar público 'à ba.se de um princi2_iosQ.m...Q q_ua.l todos concordan]
à corrente de força, ou de poder. t por isso que o seu antônimo é - no (.~' Um_paruClo é um grupo cu1os membros _Ereten~m agir!!!! con5~to_

....
xo-que faço dessas éxpressões - repressão, e são quase sinônimos seus : n~a ~pe titiva pelo pode!_e,olí!_ico.'' 12 __
-perção, extração e me!los diretamente, ordens, comandos e distribuições Embora tanto Schattschneider quanto Schumpeter tenham delibera-
autoritárias. A exp~ã~ é vista apenas como UJ!la .!!_~ão d.:_ men - damente apresentado suas definições em contradição com Ourke, pergun-
_..l!.g.;..us. ~ ~ probl ~ e.!a o de m3!1terem-se as autoridades inf_o_r_madas tamos se se trata de uma ancítese necessária. Tome-se, por exemplo, a defi-
l~_to _aos sentimentos_do~ cidad'!9s, errtão ek_ poderia ser resolvido~ nição seguinte: "O~ . partidos políticos ( ... ) são organizações sociais que
ms.ituc1onãhzaçao de pesquisas de opinião. Mas o problema é ao contrário P.tOcuram influenéiar ( 1) a seleção e o mandato do pessoal do governá.
~!r~n~~-~ ~s''-dorcidadàos n~ mt!~:ifüsmÕde reta[ia~~_ imp_osl: apresentando c:l!ldidatos aos cargos eletivos; (2) as oi íticas do gQ_yerno de p
·-~ . Para contmuarmos coin as imagens de Hirschrnan, as vozes devem ter
d. opção da saída - de passarem a outra firma. 7 Se não há mercado partidá-
acordo com princ1pios geraJS ou ten enc1as com os quais concordam a p
mã.iofiãdITei.Js membros ... ' 13 Lendo-se entre as fiõhãs escm muito esfor-
·'º·e portanto nenhuma outra saída em termos de partido, então a "voz" ço de imaginação, podemos perceber aqui, em (1), uma fu são aten uada de p
?. impotente ou pode ser faci lmente silenciada. E tudo isso.! facilmente
0bscureci<lo, ou ignorado, no foco da comunicação.
Schattschneider e Schumpeter, e, em (2), um eco de Ourke . Com efeito, a p
relação en tre as posições de Burke e Schumpeter poderia ser interpretada
)

J.~desse
Como conclusão, tanto os sistemas partidários como os sistemas de
~~d~~-ê.ilillLQ_1w.rec_,c_~ma.wgênéia d_gs modernos sistemas e.2,!í·
~~os,_QQL.q~ of~J!!!L.\!m sistema . de c~alização _Pªra a sociedac!_e. tvfà~
;ponto _d:._ sem el!1a~5~.~ c1am·SLrn.u1to. Se o argumento e
j~ xado nesse nível ~êãbstração, ou de generalidade, ficamos com algo
demasiado parecido a um 1>ácuo.
)
do seguinte modo: p r.!!1cfp~_L~~~nismos são a mb.os_nec~ss_ários, em,
cqnjun~~.>. eara faz~e um_P.l].~tido U!l'~- P"ª"i:.te. do tod..o. Não é seguro dei·
xar a questão - como Burke teve de faze r - a cargo das intenções nobres,
mas é insuficiente deixá-la apenas aosfeedbacks da competição partidária.
Se a intenção é identificar o partido por oposição às facções, e com isso
neutralizar a degeneração facciosa, então Burke não foi superado. Se a in ten-
..
p
p

p
p
) p
) @
)
82 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDA.RIOS
O OUADRO PRELIMINAR 83
)
) ir:Io é ressaltar a mecânica pela qual os p.irtidos são transform;idos em ins: da<lc operacional. Eu acrescenta ria uma razao ainda mais forté: a revo-
) trurnentos da democracia, ou do voto popular. então Schumpe1er nos tla lução <los computadores. Quer a persuas:ro behaPioral tenh:i ou não mu-
a chave. Por outro lado, se tanto Burke como Schumpcter forem postos dado, na política, a sua perspectiva com respeito às definiçoes, o fato é
) de \ado. então o .. realismo" de Schattschneider - e grande parte de nossa que os computadores n:ro podem ser alimentados e os bancos de d:idos
atual descrença - torna os partidos indistinguíveis não só Jas facções, mas se transformam numa empresa insana se for mantida a suposiçao de que
)
também, em todo o mundo, de um espantoso labirinto de grupos que bus- 0 conhecimento pessoal e a compreensão intuitiva compensam o que as

cam o poder. 14 definicões inadequadas ou inexistentes deixam indefinido. Eu diria, por-


tanto.' que a precis:ro das definições se tomará ainda mais importante à
Antes de prosseguirmos no tema, duas perguntas mostram-se opor- medida que compreendermos que o computador já está entrando em sua
tunas. A primeira é: qual o objetivo das definições? E a segunda: qual a sua quarta geraç:ro e, com isso, que nos estamos atrasando muito em relaç:ro
importância? As definições servem a muitos propósitos, e sua natureza às necessidades e às exigências da revoluçlro tecnológica no conhecimento.
varia de acordo com esses propósitos. As definições simples declaram sim- De qualquer modo e por qualquer razão, a verdade é que a mais recente
plesmente - e deixam claro - o significado de um termo. As definiçoes literatura sobre os partidos trabalha, em maiores detalhes e com maior
complexas slio uma questão bem mais complexa, pois espera-se que enu- consciência do que nunca, com o problema da definiçll'o. 17
merem os atributos ou propriedades de um conceito, e isso pressupoc, por Vários autores propõem definiçoes bastante longas, que nem por
sua vez, uma regra de composição. Visamos, aqui, apenas às definições sim- isso se tornam uma sinopse de uma descriç:ro.1 8 Não será necessário dizer
ples. Mesmo assim, para os objetivos de uma pesquisa sobre os partidos, a que as definições complexas sa'o ex tensas por dcfiniç:ro. Deve-se compre-
dcfiniçao simples . nao pode ser demasiado simples. Não pode consistir ender que as classificaçoes e tipologias também definem a classe "partido"
apenas de urna afirmação do que é a interprctaç:ro do autor; deve enfrentar com relaçao a uma ou mais de suas propriedades. (Isso ocorre particular-
o problem:i de tornar a noç:ro distintiva. Deve, portanto, enfrentar, cm pri· mente com as tipologias históricas.) Em ger~t. .Q!.p~rtídos são definid~s cm
meiro e principal lugar, a pergunta: os partidos são diferentes de <111e'! Há t«.vno.s..de..(i)_atole.S,_(ii)....açJ;)es (atividades).lili) conseg._üê!l.ci as (pr_q~to:Ü
muitas variedades de grupos e agrupamentos políticos. Uma definiçao de e_(iy) camp_o....19 Mas os partidos também podem ser definidos com respeito
partido deve excluir os não-partidos. Mas é mais fácil dizer do que fazer apenas à sua funçãO, ou ã sua esfrüfüra, -ou a ªfll~àluz do esquema
isso. Evidencia-se que, de fato, "partido" está limitado por muitas frontei- iiijlrit-output, e ainda de muitas outras maneiras~- -
ras e que a maioria das defmiçoes traça certos limites enquanto esquece
Para reduzirmos esse labirinto, du:is restrições podem ser feitas. Pri-
outros. meira, alguns autores têm mais consciência da definição do que outros, e
De qualquer modo, que importância tem a definiçao? Importará, serve aos meus propósitos presentes focalizar aqueles que se ocuparam cla-
realmente? Duverger não nos apresenta nenhuma. Epstein, em seu volume ramente da seguinte questão: ele que, e à base de quais elementos discri-
um tanto mais limitado, mas ainda assim comparável ao de Duvagcr, tam- minadores, devem os partidos se distinguir? Essa não é a única pergunta a
bém nao se mostra muito entusiasta das definições, pois observa: "Quase que uma definição responde. Por exemplo, poderíamos indagar também:
tudo o que é chamado de partido em qualquer naç:ro democrática ociden- em relação a que os partidos desempenham seu papel? Esta é, porém,
tal poderá ser considerado como tal." 15 Mas isso só é válido na situaçao uma questão complementar, porque pressupõe terem-se os partidos ident!·
de "nações democráticas ocidentais". Se tal rcstriçao e delimitaçao nao ficado com relação a certas t:aracteristicas discriminadoras. Assim, a pn-
for feita, teremos problemas se nao deixarmos claro o que o nosso univer- meira tarefa, embora não-exaustiva, do definidor, é delimitar. 20 Um partido .
so inclui e exclui. Com efeito, até mesino Epstein termina com uma defi- não difere apenas de uma facçio, mas também de um "movimenlõpõfi':::"'-
nição sintética, e não muito seletiva, de partido : "qualquer grupo que tiêO'' e ainda mais, oe umà slmpfes "ãSsoCTã ã~olític:f'. Os ru..ciY.imen~s,
busque votos sob um rótulo reconhecido." 16 E o fato é que as definições e "associa.ções po 1t1cos po em tornar-se partidos, mas como meros mov1-
estão voltando - depois de terem caído em desgraça por cerca de 20 anos mc_ntos e associaçoes ainda n:fo se_con~tit~ .~omo tal. 21 .Po.r~outro ladQ.,
- à ciência política de hoje. os pãmoOs devem ser distintos dos grupos de P!essão ou d~ interesse_. ~
Isso ocorre em grande parte porque a expansão global comparativa ailH.la não é tudo . Suponhamos termos aceito a definição segumt~e: ~.~rli- l J
da disciplina nos coloca frente a um mundo muito impreciso. Além disso. dossTIO'grupos po!Tt1Cõsquevlsãii1ãêonquis1ãr e m~~te~ o contro!e .ã oS.
e ao mesmo tempo, quanto mais avançamos no caminho operacional, mais inst~~nentõs Oc1overno. Essa definição permite que sindicatos, ~xerc1tos
nos temos de haver com definições precisas - mesmo que apenas da varie- (públicos ou privados) e igrejas possam ser considerados como partidos.
..J1 ----..
~

) ::!4 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS O QUADRO PRELIMINAR 85 ••


)
.\ segunda restric:io, particularmcn te afin;ida com a pesquisa empíri·
ca. t! a re~;nç:io d:1 cieÍi'11ição mi'nima. n Uma c.iefiniç:io é mínima quando
cão de Riggs como signifi cando que o pa.rti<lo único n:Io estó incluído, em-
bor:i Riggs especifique que e~tá. 17
••
)
)
todas as propriedades ou c:iractcrísric:is de uma entidade não indispensá-
veis à ~ua tdcntiíicação s:io apresentadas como propriedades variáveis . hipo-
1e1i.:as - ·~ não como propriedades de definição. Isso equivale a dizer que
A definiç:io de \J:inda é a seguinte: os_p~rtidos saQ "orgallizações 9!:!Ê.
têm o objetivo de coÍoc~eus reprcscn tantcs de_:~a ra~os em _l?osiç~~s g~:
,,e-rn:rmenrnrs"'.:~de e que , nessa ôeTinição, as eleições Jª nao
••
)
)
tud o o que va1 além de uma c:iracterizaç:Io mínima é passivei de verifica-
ção. 11Jo é considerado como verdadeiro por definição. A regra , como tal, é
ã simplicidade mesma. Não obstante, vale a pena nos determos na maneira
consumemüm critério crucial de distinção. Janda explica que sua formu-
IJção destina-se expressamente a i~_sluir tan to o proces~o- el.eitor~I (~u~
para ele significa, como para Lasswell e Kaplan. a competiça~ 1nterpart1~a;
••
)
)
pela qual funcion:i. E as definições mínimas propostas por Lasswell ê Ka-
plan. Riggs e Janda oferecem uma excelente ilustração disso.
No clássico Framework for Política! E11quiry de\J.asswelL1e ,Kae!Jn;
,
ria) e a oct!,p.aç~posições governamentaii "por um ato direto de d_es.1g-
n:ição", isto é, quando não ocorre nenhuma competição eleitoral_. A log1c~
de an a po ena ser interpreta a a seguuite maneira: se eseJarmos dei-
••
)
lemos: "Um partido l12a.lú.i.c.o1 é um grupo que formula questões amplas
e que apresenta candidatos a elei ões". De acordo com os autores, essa
dÇITii1çao 1sttngue o eartido dos segmcn tos não-organizados e inativoSCfã
xar claro que tanto os partidos no plural como os partidos no singular est[o
incluídos nessa definição, será uma imprecisão. ou ambigüidade, intro-
duzirmos a cláusula eleitoral . Pode-se argumentar, portanto, que a defi-
••
)
)
opinião pública porque - dizem eles - um grupo r'envõlve org;mâação".
Da mesma forma. a Oefinição exclui os g~os que buscam influir nas de·
ci~~elo uso da violência, bem como os grupos de pressão. lsso porque
os partidos apenas '"obtem e exercem o poder através da coordenação for.'
nição de Janda tem o mé~ito de afastar a ambigüidade e;ustente n~s de-
finições anteriores. Por outro lado, ao abandonar a clausula elettoral,
perdemos seu vigoroso, e múl~i~lo, poder ?e discrim~ação. Assim, a defi-
••
)
)
màra·os votos '":"':tt:lem oisso, os autores indicam que a definição distingue,
os partidos das facções (gue não apresentam cuiestões ampks) e ressal-
nição de Janda é quase subm1n1ma. Poderia, em parucular, falhar quanto
à distinção dos partidos dos grupos de pressão, ou mesmo das organizações
militares e religiosas.19
••
)
tám que ela exclui, igualmente, os sistemas unipartidários (aos quais se
recusam a dar esse nome.1~3
·- A definição de l~s é 'sualguer organização que indique candidatos
·

~ç_:i;º-J;ruil....Wl'.ª _assetr....~.lfila_e(çila!.:/4 Riggs rêssáltá que' suã definiÇão-é


Evidentemente todos os autores citados adotam uma estratégia de
definição mínima. o' maior número poss íve! de atributos .ºu propriedades
são afastados da definição, no entendimento de que atnbutos que antes
••
)
P!lli!.IDente estruturll (!}áQ....f!,IJ)CÍOllJ!.lLd~vido_à impar.tante proposição ml!·
to~gica segundo ~ qual deveria~~~ fazer d~s "critério~rutura,is...\[s_
surgiam como propriedades de definição são reapre~ent~d?s como pro-
priedades flipotericas ou Pariái-eis. As vantagens, em s1mphc1dade de de~­
nição, e em relação à se paração caneta entn~ ~uest~es ~e fato a sere~ ven- \
••
••
bases para a classificação" e, em _seguid~, usar "variáveis foncionais em
ficadas empiricamente e questões de de.finiçao, nao sao pequenas. Mas
) qI~~e..s". Riggs admite que a definição não pode, nem pretende, ressaltar
uma regra é sempre mais simples do que sua aplicação ..Não só os no~s~s
as características mais importantes dos partidos, pois "apenas especifica
) autores divergem, como se poderia esperar, como tambem cada defimçao
\.
••
uma maneira de decidir o que incluir e o que excluir da categoria em consi- tem, evidentemente, seus pontos fracos. Lembrando a anáfüe anterior, pro-
deração". Pareceria, prima facie, que a declaração exclui o partido único,
ponho o seguinte:
ou pelo menos o partido totalitário. Mas Riggs diz que essa exclusão não é
Um partido é qualquer grupo P~.0-!.~~- ide~fica,;!~~ ~!!Ué!.U!?

••
intencionaJ, sendo obtida - se o desejarmos - com a inserção da cláusula
de que os candidatos têm de enfrentar "competição".25 Vale notar que oficial ue a2resente em_~1çoes, e feja ~a~a~ co_lo~aves ~e elei- 1
Rigg~ ao contrá-fofo de Lasswell e Kaplan, abandona "questões amplas", ções livres ou não), candidatos a cargos_p.U.b.11cos_,__
Essa d;finição conserva a propriedade que não pode ser a~ando~a~~
presumivelmente porque isso não constitui um critério estrutural, ao preço,
porém, de enfrac{tlecer O' discrimen entre partidos e facções, que constitui - o critério eleitoral de discriminação - sem pagar seu preço a amb1gu1-
••
uma preocupação para Lasswell e Kaplan. 26 Por outro lado, a suposição
desses autores de que o grupo exige organização é um tanto gratuita, e
Riggs deixa claro esse ponto substituindo "grupo" por "organização". O
dade. O partido único é incluído explicitamente, e isso po~ duas razões.
Em primeiro lugar, se os partidos únicos forem comparados, 1soladament~,
aos partidos que têm contrapartida, as duas classes não precisam ser co~s1- .
aspecto mais interessante da comparação vem, porém, da palavra "eleição".
Com base no argumento de Riggs, a definição de Lasswell e Kaplan não
constitui um critério de exclusão - como pretendem - do partido único.
deradas hetero<:>êneas, ainda que seja apenas pelo fato de que um partido
ditatorial também pode agir num ambiente pluralista. O urúpartidari~mo e
o pluralismo partidário separam-se não ao nível do partido como urud~de.
••
(nversamen1e, Lasswell e Kaplan interpretariam provavelmente a defini- mas ao níxel da unidade sistêmica, e o defi11iendum, no caso, é o pam<lo.

-
-,.- ... -~--~-

J
,
..,)

..) ~1
86 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDARIOS

não o sistema. · Em segundo lugar, o partido único também "canaliza" _


O QUADRO PRELIMINAR 87

seja como fachada , ou por motivos mais profundos - a população nas elei- rorn1os claros quanto a para que servem, em essência , os partidos. Partidos
.) í
1
ções. J: cernr-que no unipartidarismo a~ eleiç.ões não são livres. Podem !•
e sistemas partidários poderiaflA. até mesmo existir apenas porque existem,
além disso, ser uma farsa, dada a fªcilidade com que as urnas podem se; F 1s10 é. sem qualquer outro objetivo senão a autoperpetuação. Mas não
.) 1 1
Jcvcmos postular uma lei de Parkinson dos partidos simplesmente deixan-
Y1ola<las e os resultados adulterados. Não obstante, eleições não-livres são 1
!

.) eleições, para o que importa aqui, ou seja, que uma ocorrência eleitoral Jo de indagar - de uma maneira hiperfatual - para que s:lo os partidos:-t
(a <lesix:ito de sua s~bstância) basta para distinguir o partido único dos gru- conveniente, portanto, começarmos das bases, isto é, das razões que leva-
) pos pol 1t1cos que nao recorrem ao ritual eleitoral (ou legitimação, manipula- ram ao nascimento dos partidos e daquilo que nasceu sob esse nome.
J ção, coerção, fraude ou qualquer que possa ser a palavra adequada).32 O...part~do, como sabemos, é um nome novo para uma coisa nova, e
As eleições livres, por outro lado, parecem exigir a cláusula "é capaz o nome é novo porque aCõísã é nov"i A palavra não foi usada em sentido
) de coloc_:ir atravé~ d e eleiç~e_s". A razão evidente dessa cláusula é permitir p{~I itico ateo sécúlõ-XV1, e sõ- com fio!ingbroke a qüest5'o se tornou visí:
) a excl~sao - ~u1~0 nectssana - dos partidos que são apenas "rótulos". 33 v~L DuralüC:"to~<!_ osêcülo- XV!ff; os parti<lõS=:ifüda-eram cons!!lerados, dê
Tambem cont.nbu1 para restabelecer a distinção entre os partidos e os seus um_modo ger_al, com grande desconfiança, não só por aimi:l estarem concel~
) subgrupos, pois, embora as frações possam a presentar candidatos, é o parti· tualmente ~Sturados _com as faCÇQeS, COll}~.Jªll)Q~jTI porqu~-- era difícil
) do ~u~ c~nsegue a sua eltição. Minha principal intenção, porém, é substituir distingui-los na p!Atj_ca concreta. Foi no século XIX que essa diÚinç;1o sê
a ex1genc1a d_: organização - que diz coisas demais ou torna "organização" a
·afirmou Eºm cl:ire~, e os partidos passaram sêr geralmente aceitos cômô -~
) uma exp~essao evanescente - pela exigência de que o grupo em questão instrume1~_tQS JegitimQ§..Ulecess:i!_ios d~go_~rnQ livr~. 1_-iá, ~~n~ebi~clme;.
) S~JJ suficientemente efic~ente e coeso (ainda que apenas em bases espon- te, várias maneiras de examinarmgs a rationale da era do partido.-Durante
taneas, carentes de orga~1zação e articuladas de eleição a eleição) para ele- t0Jas as vicissitudes política~ da hu,manidade, porém, um tema imp~
) ger a~guns de seu~ ~n.~1 dat~s. E o aspecto de coesão desse quadro nos é se~uu: c9mo conciliar a existência privada e a coexistência pública, à
) sugendo pela restnçao 1dent1ficado por um rótulo oficial". Dentro do for- an~quia, e a orden:i.,...as..diíe~ençau..JL.barm.QDiil....Não imeorta se a unidade
mato de uma definição mínima, essa qualificação talvez seja redundante. ini. 'ai é o indivíduo o ru o rimário ou secundário, ou uma comunfdacte
) Pela mesma ra~o, p~rém, a parcimônia poderia prejudicar a especificação na_cional, em cada nível ó ~roblema fina é: çomo a unidade menor se rela-
~
de qu_e :anto ele1~ões livres _como não-livres estão incluídas na definição. Uma ci!2!1a e se integra com ~ unida~e m~gr] : uando os partidos nasceram, isto __v
)
defi~~çao resumida podma ser a seguinte: un!..JlJUtida_é_qual~ é, cjuanclõãSêHvísões_e_difer.eaças políticas se inslltucion tzaram - a ques; ~
...... tã~tou a ser, e de forma majs premente, como fazer mir:tqu_e_uma p.arte
) polz t1co ue a resente em eleições, e seja ciijíáz de colocar através de elet-
ções~candidatos a cargos~· não coloque em risco a unidade, e como pode uma parte ser usada em
"") A d7fimção mínima cumpre seu propósito quando basta para identi· befléfícío âOiõdo? - -- - -- - ..
~
) ficar _o ObJ~to. ~ér:' desse propósito, porém, não constitui uma definição ---~ e~.!l!IUE_J>arte-todo faz ressaltar claramente a rationale do plU@·
P" s~fi_c1ente, i_st.o e, nao .pode atender a outros objetivos. A definição mínima lismo partidário, que é ãseguinte :se o partidOé uma- parte, segµ_e-se que o
)
soe necessana para eliminar a indefinição, indicando o que deve ser incluí- 10dô não_poje se~represeniajfõoli" cônstitu[do apenãs pÕr um partjdo,]~
~
) do ~u excluído de determinada classe. Assim, as definições mínimas de bo!a dis~o se ~gª que cada partid9 deva comportar-se comojlma parte
.... parudos não têm capacidade de explicação nem de previsão. Não é de mo- em si, co~o uma_p'!!'te.não relacion_?da CO!J1 .oJodo. ~strutura parte-to-
.... d~ algum seguro que tais definições focalizem o que é mais importante (é <l<;> aplic<tse- também, reversL"".amen1e,_à rationa/e do_pllJtido Y..i:iico, <?.~ ~.?
e~1deme que a. q~e foi proposta por mim não o faz), e é certo que não sistema de partido de Estado. <la maneira seguinte: se o partido é uma par-
,.. ' transmi te~ a s1gruficação e a razão de ser das entidades assim definidas. te. é u_m par~~do ~~~1.C: se_o..J.QSl_o não cõincide com_a sua parte b°?a, ~ "11!
Pa_ra este ultimo objetivo, precisamos de um quadro, de um esquema con- todo "falso". -
,,.
ce1tual, ao qual volto agora para alguns comentários finais. A ~lura parte-todo também nos per'mite compreender como
/"- p~d~ 5t~ frã~il-ê pre.cária uma expenê~cTa ~m ~S!~~!!lª p_;ir_fíd~no-:-Q.s
pa~t1dos poacm tkSYJar-se. d~_scu cu(sp_em do1s_sent1do~ : De um lado, este
3.3 Uma visão geral
j>.
c_u_!:.so ~st~_lill1eaçado E_e!Q..Rartidarismo_e~~o_&~~~!...!..ecaída
ll()_[a_çci9~i.s1110: os partidos sobrepõem-se ao todo._D.o. la..do..Qposto,~a.:.
,.. ) Argumentam?s. ~ão ser possível construir uma teoria dos partidos e dos
sistemas part1darios sem estabelecermos o que não é um partido, e se não Ç!JdS! r_e l ~m~n.QpQl_iQ~~~ uniJ.iri.smo: o todo sob!epõe-se_!s par;es.
'" ) Com o decorrer do tempo; portanto. o~ de um sistema de part1 00s_
,..
)

) --..
e;
)
PARTIDOS E SISTEMAS PA R TIOÃRIOS
O QUADRO PR':L/.1-l !NAR 89 e:
) ~
tem pro..:edc!nc1a sob re o primordi:il. Por isso. :i tarefa de reunir ;:ssas ver·
) r;:su!LJ num:i diiú:ii_!ja media enlrt! o Sila ili <lesinreern.::io (o todo sedes- ienres diversas tndutivamente, isto é. a parcir das evidências empínc:is, pa- e:
)
)
morona) e o_$ari~de -~?. u_~_a!:imismo t2s p'rr"ies- são-~ngolid:is pelo todo)
Q~ .P.ª.!:.~.Jos so rnante_m cyrn $egurança __~- ~e u_ ~~ quando conseguem
eq~:b ra~~y2mdan.smo com~ ~v~rno imp<ircid, a t1dt:lic.lnde :io p<Htiuo
rei.'.:! hoje impraudvel. Fica-nos, assim. a esper:.inç~1 de que a tare·fa de coru-
truir uma teori:i possa s.:r re::ilizada d:i outra m:.rneira, ou seja , partindo dos
di:mentos tundamen tais para cltegar aos particu!Jres. Pelo menos. retor-
••
)
)
e .1 l 1~ 1 ~a~e-~a_o Esrndp,p_in t_~ rcss_e_..do parti'!º e j J:n ce resse geral.
r\lt!m disso. a estrutura parte -todo permite distinguií- nitidamente a
q~e s t~o de para qi~e existem os partidos. isto é, qual é seu objetivo primor-
• nando :i metáfora in icial. o p n~sen te trabalho ~e fundamenta na suposiçiio
de que dos eixos possamos chegar :is junÇ'ões.
Um:t obs~ rva ção fin:tl é necessária. ~ão só o quadro preliminar aqui
••
)
)
d:al e1ou sua funçao. Q~~do os partidos são "panes" (no plural) eviden-
ao
cia-se_o fa t ~ de a_ue constttue~- ó r~ão de expressão, isto é, que serve m
ob e11vo nmordi:il de transmtllr vi orosamente :is autoridades as deman-
resumido não é completo - corno é óbvio - como também lhe falta -
rei.:onhc:ddamente - ·prova adequada, pois o ônus da prova recaiu em gran-
de parte, até agora, sobre a forçn dJ lógica ; e a lógica não pode substituir
••
)
)
das do público como um tod? . .Evidencia-se como fato porque 0 paru 0
coerêi11vo nao se pode matenahzar na mecamca de um sistema de lufa-
ltsmo par i ano_. ~versamente , quando o ''partido bom" representa 0
"toJo real" permane~e, então, um mistério como o_s.istema unipartidário
as evidências. Se estas são adequadas, ou se o argumento empírico fica ver-
dadeiramente favorecido pelo nosso quadro preliminar, é o que resta ver.
Não obstante. há, na lógica, umu certa força que não devemos rejeitar sem
•• •
maior ponderação. A argumentação racional ::fota o comportamento huma-
) se~, ou podena_ s~r~1r, ~o mesmo pro,pósito~ Todas as possibilidades, para~

)
) ~:.i.P l$f!!l2~ d~ evide~,i1.Q...9.!Ull!CL.<U?.ªrtid_9-m_oJ1Qp:nllita. exliâitU!.,Õ
t <?~~ pub l ~co como um todo Lo ql,!e é desejado pela " parte" (o partido
s~m contrapartida). Em suma, os partidos que são partes são instrumentos
no, e os homens reagem a uma "lógica" .
••
)

)
~e J?OVe rno de ~m .t_odôpiürãlista: pressupõem a diversidade e instituciona-l
h~·ª.m a d1scordanc1a. O.partid~ qu~ n~o é p.arte nega, inversamen te, o pni'!-r-?}(
c1pio mesmo da diversidade e 111sttt uc1onaJ1za a repressão da discordância.
••
)
)
Admitimos qut! as observações anteriores são ãltamente abstràtas e
~eprcsenta!" apenas um mapeaf!1&rltO dos fundamentos . É por isso, e den-
<rO desse amb1to, que a oposição entre sistemas partidários de um lado e
••
)
)
s:stema.s de partido de Estado, de outro, tem característic~s nítidas. Em
termos de rationale é sim-ou-não . O mais ou menos virá em termos de evi-
dência empírica. Até agora, meu enfoque recaiu principalmente sobre os
••
)
)
pilares , os eixos. Mas é claro que também devemos buscar as junções.
Em princípio, .º po~t~ de _partida 1.1ão devia fazer muita diferença.
Quer passemos dos. eixos as J~nçoes ou, vice-versa, das junções aos pilares,
••
? ordem de procedimento da investigação pouco deveria importar. Se am-
••
.•
)
oos os elementos forem examinados, no fim os dois caminhos se encontra-
) rão. Na P'.ática, porém, faz diferença partir dos fundamentos ou partir dos
dados._ A JUigar pela evolução do que nos últimos 20 anos se escreveu sobre
º.partido, .com base no impulso que o estudo dos partidos recebeu da teo-
na geral pioneira de Duverger, o mais notável é como foram poucos os que
)
lhe deram prossegu~mento, is~o é, como foi pouco o que se prodyziu em
••
-
te rmos d~ c~struçao de teon~ abrangente. Hoje a bibliografia é, pelo me-
) nos, maciça . . Mas _quanto mais sabemos sobre os partidos, mais enfrenta-
mos uma proltferaçao de tendências e vertentes de análise e somos cada vez
menos c:ipaz:s de reuni-las n~~ todo. Talvez isso ocorra principalmen te
••
)
) por termos. tantos dados emptrtcos a examinar. Qualquer que seja a razão,
a verdade e que as sombras obscurecem as cores, o detalhe, o secundário


)
)

)
)

) NOTAS 91 ·1
) 1
)
; xa que seja a sua orga~ização •• que busque eleger pessoas para cargos governa·
mcn1a1s sol> um ~e.te:m.~ado rotulo l · ..) e mio uma organização, é o elemento
NOTAS ~ auc1al pura a dchniçao.
i
) Isso. é tcstemu~!1a~o ~ela valiosa análise geral de. William J. Crotty, "'Political
i
l
17.
parucs r.:sca1ch , /11 Michael H.aas e! Henry S. K:111el torgs.). Approaches 10 the
) Stu_dy ofPoliti~al Scienc~, Chandl~r. 1970, pa~sim, mas particularmente pp. 290-
)
2?=>· Ver também o cª.P! tulo escrito por ~usu~ Ranney, in Graceau (org.), Poli-
trcal Research and Polwca/ Theory, op. Cll., e hed 'Y· Riggs, citado adiante, no-
) 1as 19 e 24.
18. Eis uma ilustração: "Um partido político é um grupo organizado formalmente
) que desempenha as. fonções de educar o público (. ..) que recruta e promove pes·
soa~ para cargos pubh~os,. e que desempenha uma ampla função de ligação entre
) 1. Ver cspecifi~amente ~~utsch, The Nerves of Gol•ernmenr, op. cir. Em geral, .~ o pubhco e os responsavess pelas decisões governamentais. Distingue-se de outros
Richard R. l·agen, Po/1t1csa11d Communication, Little, Brown, 1966.
: grupos pelo seu empenho em influir em ampla escala na elaboração de pollticas
de preferência controlando o governo, e pela sua aceitação de regras institucio'.
2. Samud .H. Bames. Parry Democracy: The Jntemal Politics of an Jtalian Socia/ist nulizadas de conduta eleitoral - mais cspecificamen te, conquistando os cargos
F~Jera~1on, Yale Unive1sity Prcss, 1967, p. 241. Embora Almond e Easion Iam· públicos por meios pac(ficos". (Crotty, "Political parties research", loc. cir.,
bem S~J:.im usado~. :1 definição de Barnes ress::ilta corno o enfoque da comunicação p. 294. Os grifos são meus.)
se aplica aos partidos.
3. Ver particul:irmen te Almond e Binglwm Powell, Comparative Politics ·A Develop- í 19. Ver rred W. Riggs, Partiesand Legislatures:Some Definitiona/ Exercises (mimeo),
trabalho apresentado ao Congresso do IPSA em Montreal, 1973, pp. 3-9.
mental Approach, op. cit., cap. 7. · 20. A importância teórica do problema de "delimitação" é bem ressalt;ida, entre ou-
4. Supra, 1.4 e 2.1. tros, por Harry Eckstein em sua "Introdução" a Internai War, Free Press, t 964,
5. Deve ser cla.ro qu.e cms três funções são escolhid:is para o esboço prelimirwr pp. 8·16. Como observa, "pode-se definir um conceito cm termos de sua delimi-
porque, e na med sda cm que, se relacionam com elementos essenciais. Serão de- tação{...) (eJ ao início de uma pesquisa pode-se ter mais de uma definição para
talh~das no vol. 11, onde é apresentada toda a relação das funções atribuídas aos servir como delimitação de um assunto" tp. 9).
partidos. 21. Para a distinção entre associações, movimentos e partidos políticos, ver David E.
6. Esse! a~pecto inetodológjco
é examinado em seu ..Conccpt misformation in Apter. "A comparative mcthod for the study of politics", AJS, novembro de
compara tive politics", APSR. dezembro de 1970. 1958, p. 227. Se os movimentos se transfonnam cm partidos, desenvolvem-se
7. Hihd•.m?n• Exit, Voice and loyalty, op. cit. e wpra, 1.4. habitualmente cm partidos "e:xternos" (criados externamente}, ao passo que as
8. No .~ax1mo, pod~·se encontrar uma definição incidental na p. 218 de les partis associações ou clubes políticos foram com freqüência o nascedouro de partidos
poltt1ques, op. clt. Du1erger no exame do problema cm suas conferências de "internos"'. Especificamente sobre a noção de associação, ver Robin Williams,
1953-1954 obs~rva qu~ a ~cfinição se modifica com o tempo (isto é, assim como A:merican Society. Knopf, 1951, pp. 450-455 . P~ra os movimentos em geral
mudam os pamd~s~ e md1ca q~e há 50 anos a definição adequada era ideológica; (mclusive form:iç:io de seitas, revoluções religiosas e políticas, movimentos na·
qu~ :s ª.tua! dcfimç;io p~edom.m~nte baseia-se na classe social, e que a definição cionalistas e carismáticos), ver Neil J. Smelser, Theory of Collective Behavior,
orgamzac1onal ~os partid os soe importante para certos tipos, cspecialmcnli! os Free Prcss, 1962, cap. l O, "The value-oriented movement".
part~dos .~º!"u~s~t~s. Ver M. Duverger, ''Classe social.:, ideologia e organizzacionc 22. Sobre as definições mínimas, bem como sobre as complexas, ver G . Sartori, F.W.
parttu.ca : m SIVlm ( org.), Sociologi4 dei partiti politici, op. cit. , pp. 109-114. Riggs, Henry Tcune, Tower of Babel: On the Definition and Analisysof Concepts
9. Const1tut1onal Governmenr and Democracy, Ginn, 1950, p. 420. in the Social Sciences, Occasional Paper of thc lnternational Studies Association,
l O. Supra, l. l.
Pittsburgh, 1975, pp. 32-35 e passim.
11. E.E. Schattschncider, Party GoPernment , Holt, Rinehart & Winston. 1942, 23. Power and Society: A Framework for Politica/ Enquiry, op. cit., pp. l 69, 170-71.
PP· 35-4 7. 24. F.W. R1ggs, Administrative Reform and Political Respomis>e11ess:A Theory of
12. Capitalism, Socialism and Democracy, op. cit., p. 283. Dy11amic Balancing, op. cit., p. 580. 1:: a formulação mais recente. Para uma
13. Bernard Henncssy, "On the study of party organization", in William J. C'rottr variante, ver adiante, nota 27.
Cori;. ), A proache:; to the Study of Parry Organization, Allyn and Bacon, 196&, 25. As citações s5o de "Compara tive politics and the study of political parties", in
p.1. Crotty torg.l, Approaches to the Study of Parry Organiration, op. cit., pp. 50·
l 4. ~ ~c~~o que Scha ttschneider faz uma ressa lva à sua afirmação de que "os parti· S 1. Esse é, m rea lidade, o principal texto de Riggs sobre o assunto; ver toda a
os sao .d~r;'.11dos em termo~ de s~a busca de poder" (Party Covern111c111, op. cit. , sua resenha e sua valiosa análi:;c, pp. 46-72.
P·. 361 acrcsce~ t and~ que. 'o ~1cto.do partid:íno ( ... ) I! um método pacifico " 26. Afinal de ..:ontas, as facções podem ser poderosamente organizadas e podem
(p 37.1: h.s? n~o esta, pore1~1 , 1m~l1c1to em sua definiçJo (embora estcj;1 implÍ· indicar cand ida tos a eleições, no sen tid o muito real de ser o partido apenas o
cito_ nas dc1 1n1~.õ~s qu.: se rcl<!rern a .:ompcti\·ào eleitoral). recipiente passivo das indicações decididas den tro dos ~ubgrupos foeciosos. e por 1

15. L. .1·. pstcin, Pv/111ca/ Parries in h1estern Democracies op cit p 9


16. lb1d p 11 Vc · ' . ., . . 27.
eles. Es~a ohscrvação é dcse1wolvid:i infra, cap. 4.
A impressão é fortalecida por essa variante da definição de R1ggs: " .. . qualquer
"
·• · · r, t>m lll:LJOres detalhes, p. 9: " .. . qualquer grupo, por 111;11, frou·
organização que indil·ar cand1da1os à e lc1çiio a uma legislatura .. ("Comparative

90
) - ~ -
)

92 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS


)
[V
pohCJc:s Jnd 1hc s luJy of pollllc:il pa.rCJ.:;", loc. cu . . p. :i 1; gnfos meus.) Ou )Cja,
) J ?alavrJ "leg1sla1ura" 1cm forte> a;,oc1:i.çõcs com o governo constlluciorol ba·
,~JJO no plu ral1>mo p:u ud:íno. O PARTIDO VISTO DE DENTRO
) 28. Kcnnc t h Janda, ...t Co11cept11al Fram<?work for tl:e Compararive ...tnalysis of Puli·
11cal Pareies. Sage . 1970. p. l:SJ. Es,e S.ige paper condensa ICPP rarial>/es aml
)
l·odi11g 111011110/, ti.: J JnJJ. op. cit.. que é :i ionl~ a consultH para uma melhor
comprcen>âO e uma Jprec1aç:io completa. f 1mporta1He acrescentar que a deli·
n1ção dc Janc.b é cond1c1onatla por ,,:u projeto de pesqu1Sa, que abrange tam b~m
º' "pa.rutlos 1kgab". Pode-se p.:rguni:u, porêm, sc essa mclusào n:io deve ser
procu r:ida atravé> de uma cláu, ula tle espcc1fic:ição.
) 29. Em ger.il, o inconveniente parece ser o de que enquanto a primeira parte da ddi·
n u;:io de Ja11dJ é mu110 1mprec1sa e abc:ria, a dóusula final é de>nece>sanamcn·
) te rc>tnuva. E se o par11do não uver como meu - por ser muito pequeno. ou Frações, facções e tendências

---
4.1
por >Cr Jnárqu1co·revoluciontlrio com o objetivo dedarado de restabelecer a de·
) moo.:rac1a cJ1reta. ou amda por outr:J.> razões - .:oloc:!r seus representantes cm
"po>11,·ões de gov<:rno '"! Não deverá se r considerldo um partido, apesar de parti·
Ao estudarmos os partidos, admitimos implicitamente que o partido é uma
) cipar cJc cleiçõc, idcnttt'icado por um rótu lo partidário? urúdade signific:itiva de análise. Não obstante, lidamos com uma unidade
30. Potlc11Me ver melhor os frutos disso nas vánas obras de Riggs, que adotou a estra· mais abrangente que o partido , pois estudamos também o sistema parti-

--
tégia da clcfint\àO mi'n1mu de maneira mais consciente e sistem:ít ka do que a dário. Pela mesma razão, podemos ficar aquém do partido como unidade
) ma1ooa dos outros a.u !Ores. e estudar, portanto, as subunidades partidárias. Mesmo que o partido seja
31. Po1k:mos notar, com ruzão, que o que foi dito anteriormente se aplica b.:m ao
m undo d<: pÓs· l 9~5. mas não historic:rntcntc. Enquanto o regime fascista ita· a principal unidade de análise, essa análise é incompleta se .não examinar
)
tia no realmente realizou duas eleições com listas únicas e m l 924 e l 934, o regi- como tais subunidades entram no partido e o alter:i.m. Como Eldersveld diz
) me n:.rnsta não considerou necessária a legitimação eleitoral. Assim, pela minha bem, em si e por si o partido é "uma miniatura d o sistema pol ítico. Tem ~
clcti niçiio mínima, o partido nazista não seria um "partido". Isso explica por que uma estrutura de autoridade ( ...) Possui um processo representativo, um
)
)
32.
au!Ort!s anteriores se recusaram a chama.r de partido o partido único tsupra,
o.:ap. 2. nota 9). e mostrJ as diliculdatlcs não solucionadas dessa assimilação (su·
pra , cap. 1, nota 11 ).
Notc->e que a definição propos ta pcrnute igualmente (apesar da caractcnza\:iO
clc11oral) a mdus:io dos partido~ revolucionários. na medida cm que paruc1pem
sistema eleitoral e sub recessos para recrutamento de líderes, definição de
~et:is e so ução de conflitos do sistema mterno. cima ãe tudo, o. parltê1º'
é um sistema de tomar áec1soes... 1 Como isso sugere, há muitas maneiras
de estudar os partidós de dentro - quase tantas quanto de estudar os pró-
f!O
...
~

---
de d isputas i:leitor:m - qualqu.:r que sejam suas metas finais ou sua 1deolog1a. prios sistemas políticos. Duas linhas de investigação, porém, receberam a
) i: e~s;.s a caracterizaç:ro su blinhada por Ep~lem (anteriormente, nota 161. Se tO·
)
33.
mada a s.;rio. uma mera "d.:tiniç:io d.: fachada" implica que todos os rótulos
devem ser levados em conta: e isso leva a algo semelhante a uma quadrup!Jcação
Jos números em questão. A s1mplt:s contagem dos nomes de pa.ctidos nos levana.
maior atenção: a C!!-1.estão da democracia intrapamdária e a .abordagem
organizacional. )
A primeira remonta ("lei de ferro da oligarquia", d~ichels, e cons- \S
C?-
cm muitos países, a entre 15 e 30 dessas organiz.ac;ões. tiluiu, com efeito, o principal enfoque e preocupação do estudo dos pro-
) J.!. Ver, datada de 1964, a bibliografia sele ta e disposta a;ialiucamente na obra ori;a·

-
cessos intrapartidários. 2 Embora não se espere ~ -Qtpartifios totalitários
miada por La P:!lombara e Weiner: Political Parties and Polirical Development,
op. cir., pp. 439-464; e subseqüen temente, Jean Charlot, "Nouvelles études de e autoritários pratiguem ã democracia_eJILSuas fileirA tal como..!}§.Q..a pJa: p
)
partis poliuqucs", RFSP, agos to de 1970, pp. 818-821. O ritmo das pubhcaçõcs ticam na condução e na gestão da formação política, aind~inLQ_p.llrtido
dc,d<:! 1964 miensificuu-~e. Ver também os doi, valiosos artigos de Joseph A. ú'l!_c9 _pretende com freqüência, hoje, ser internamente democrático. De-
Sd1l<!smger (sobre "Unidades pa.ctid:ínas ") e de Ha:ry Eckstcm (sobie "S1ste· vemos decidir, portanto, pnmetro se uma determi nada formal demÔcr:iti- p
ma> par111.lfoos") na !ntematíonal Encyclopedia of rhe Social Sciences, op. cir..
vul. XI. Um r.:c(!nte exame geral foi ic::ito por Crotty, em .. Political parties ca e, segundo, se a forma corresponde à substância da democracia. Dada a p

--
rcs~ard1". public:tdo no volume de !\.anel Haas (Op. cir.). Ver também a avalia· variedade de medidas pelas quais se pode avaliar "democracia", o problema
i;ão jud 1.:1osa do estado da mu i~rrn por Derck IV. Urwin, "Political panics, socic· levantado por Miche!s prov:ivelmente continuará <J ser interminavelmente p
) ues <i11d r~g1mcs in Eu rup.:: some reílccttons o n the literature", EJPR. I. 1973. debatido. M:is se os processos in trapartidários são realmente tlemocráticos .--
) não constitui preocupação minha aqui. ?
( .•
)
~ abordagem organiz:icional é mais recente : foi estimulada por ~ ..,........
)
v,crgeu l_:va o esLU,!o dos i:>artidQ:i à árc.!_geral da teoria da organi~a
verdade, o est~do da _:strutura organizacional tem relação com a questão
,:a
)
e:a
93 p
)
P'
)
94 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS O PARTIDO VISTO DE DENTRO 95

) p<)•ll"~ duralnhd:ide e ncnh~m:1 cstru lur~. S~o. ti.p1t·amen 1c, as projc_çô~s d~ ambições
du democracia, pois _1:1m processo democrático exige cenas estruturas, e
) nro- ºutras. P2r outr~ado, !I teoria da organização ocupa-se de problemas 111.dl\1clua1, . I. ..) lnformaçocs de que h:i na C'orc1:1 42 partidos, ou 29 no Viein'iido
Sul, ou 18 no l':iquisl:i'O ~:ro, :iparent~mente, falsas. Esses agrupamentos são na reali-
de organização, e não com a den:iqcracia, ainda mais porque uma estrutura d.1d.: facÇÕC$, e se assemelham muito aos conventilhos, grupelhos, facções e gru os
) p~dê ser ~emocráticã e os processos práticos podem ser oligárquicos 04 fJmiliarcs que dominaram a política d o século XVIII na Europa e na América. s P
) pseudodc:mocráticos. O.enfoque organizacional visa, portanto, às suas P-CÓ·
prias~JHJ..tSl~. E também não é essaã investigação que pretendemosaesta . _Podemos acre~cent~r que isso se aplica não só a grande parte do
) alt um. 3 t 1 crcc1ro Mundo - mclumdo portanto a maioria dos Estados africanos _
f
) - · ,, tv}inh a ~ão J?ªra di7:!!...subl!.!!J!:!..ades partíiárias é precisamente a de ~ como também, e igualmente bem, à maioria dos países latino-americanos.
estar o enfogue sobre a unidade seguinte, isto é, sobre ôdesdõlnanieilto-· 1 S.: h:í uma palavra que se repete várias vezes na descrição da política suJ.
ni~s importnnte e mais significativo imediatamente abaixo do nível d~r- ·1 :m1cricana,t:i_p:_rso11ulis11101 bom equivalente de facção, em espanhol, tal
tido como unidade. Q.ualquer que seja ãalSj?õsTÇãõõijãnizacional - formal t como entendida desde ãCpocãõos romãiios até Maquiavel e Tocqueville.
)
é.~ - um .E_:l!!ido é um a~~e eessoas que formam co~stel!· E!1! Qrimeiro lugar, portanto, é fato seguro que as facções antigas, ou do
) _ções de grupos fiva1s. Um p_ar..tLd_o_podunesm.o....s~r. quando observado ~­ ti1)0 antigo, amãa estlio bem _vivas ~ go~~~ de~oa saúde na maior parte
d~mro, uma confederação mal estruturada de sub partidos. No outro extre- ti.o mundo de j}Qjc. g m se undo lugar, e voltando às formações po!J'ucas
)
mo, o partido totalitário também encerra uma estrutura grupãITrlfõffiiãi, desenvolvidas, uma coisa é dizer - como 1zemos - que os partidos substi·
) cp.m- fre uenc1a caracterizada por intensa luta de gru~. E sssas divisões tl!cm_E facções~~ unidade nova~ ampla, e outra muito dlfe·
) internas do partido, J.Untamen e com o tipo de interações dela resultantes, r.:ntc entender que as facç2es não Sõbreviveln, Õu nao"podemser reviVidãS,
constitueuL poui....J!lfill.A.rea de p.reocuPê_~ão diit1n_1ª..,e mcial A questão r:.~m~ariíJõs, ou sCJã,Cõmo ~u Q.yií1âãdfuartidáriãs."' r5eixei
) ~ portanto, como a unidade "partido" é articulada, ou desarticuiâda, pelas' implícito, cm toda a minha exposiçao, que as facções do tipo trádicional
·suãS"Sul>unidades. Como dissemos anteriorm'en1e, õpropê10 partído'"'é ...::ae- ; não foram substituídas de fato, nem estão obsoletas em seu significado
) próprio também nas formações políticas partidárias ocidentais.
~ro - um sistema. Portanto, podemos dizer que estamos agora focali· !
) _zando o partido-como-sistema - um sistema cujas partes são as subii'i1fciã:' Tenho, portanto, pelo menos três dúvidas quanto ao uso "especial"
des partidárias. d.: facção pela ciência política de hoje. Primeiro, se precisarmos de um
) termo amplo, neutro, para as subunidades partidárias em geral, facção é
A primeira dificuldade em nosso caminho é que nos falta uma termi-
) nologia consolidada para c1~g~ar as subu.JlJdades partidárias. Os italianos uma má escolha, uma palavra altamente inadequada ao propósito, pois
lhes dão ? n~me de "c~rreJ!~S;, (!;Qrre1!Ji): os -ªlem~es falam geralmente cie conse_rva.' de maneira comprovada pela experiência, na maioria dos países, ,
) um s1gmficado de valor profundamente arraigado: transmite a sugestão, t-,:.X '2\-·~·
alas e te~~nc!a (Ric/lt!!_ng_!f_Qu FliigeQ~ os autores franceses e ingleses são
pclo~os para o Eúblico geral de ue a matéria, o estofo da olítica é ·.
igualmente imprecisos e metafóricos quanto à questão. _Por outr_o lado, os
ií'füénié_men.1~ · suio e_maligno. Minha segunda úv1 a é a de que esse signi'.:'
cientist~s.yotíticos norte-~me~ican?s se. decidiram por 't~cçãe':l- na mi-
nha opmiao, uma escoHla mfeliz. H1stoncamente, '!§facções são agyll__g_que. ficado "especial" contraria a regra de que o vocabulário da ciência deve
os partidos não são; atualmente elas têm a aparência de constituirem._a diminuir, e não aumentar ou criar, a ambigüidade: as facções de que falam
11_1g_t~rio i~~er~a-:-irit;~nseca-:Oõspãfiidos. Nô'üSõéõíúum, a racç"fu é a~al~_:- Kcy ou Richard Rose, 6 por e.>;,emplo, não são, evidentemente, as facções
11va; na c1enc1a pol111ca, pelo que nos dizem, é neutra.~ de duvidar se esta de que faJ a Huntington. O resultado é que criamos na disciplina um equí-
maneira é adequada ao trato da questão da Wertfreiheit. 4 .I:. ainda mais voco comparativo capaz de provocar muita confusão, e que estamos mis·
duvidoso supor que haja qualquer razão, ou sabedoria. em rejeitar a cono- turnndo medidas paroquiais com medidas mundiais. Minha terceira des·
tação histórica. Na verdade, estamos sempre atribuindo novos significados confiança relaciona-se com a rejeição da conotação histórica. Essa rejeiç:ro
a velhas palavras, e quanto mais tr_ouxermos de volta à vida palavras eco- tende, entre outras coisas, a tornar menos visível a preocupaç:ro com o
11otaç?es_ obsoletas, melhor para a riqueza da l ingua. A questão é, portanto , pa!>sado e as lições fundamentais que ele contém, corno se a modernidade
l tvc~se exorcizado, de uma vez por todas, a degeneração iacciosa, os riscos
se o significado clássico de facção é obsoleto. E isso não parece acontecer.
l' i:ustos oriundos de grupos que são apenas projeções de ambições indivi-
E~11 primeiro lugar, tudo indica que aqueles que pesquisam sobre os
novos Est.a~os ~ão inevitavelmente levndos a usar "facção" com as associa· JuJ1:.. E se é de fato isso que acontece, então estamos perdendo grande
pa!ll'. embora não tudo, do que constilui a matéria da política. Em suma,
çõ.:s ~ rad1c1ona1s da palavra. Assim, l Hu11tington . fala de facciosismo com
relaçao a agrupamentos que têm precisamos de um nome amplo, neutro, que ainda não foi encontrado: cria-
.....:.... -
-· - ••
••
.
% PARTIDOS é SISTéMAS PARTJ0,;5,R/CS O PAR TIDO VISTO OE DENTRO 97

mos uma ambiguidade desnecessj n:i \! perdemos, ou .:nfraquecemos, uma 1~ que ~ãE p~dc haver focciosism~ ~ n:ienos que um grupo políci<;_?_esteja
espccifi<.:aç:lo de qu.; precisamos. org:inizado de 1~1aneira _<::oercnte•. Parece-me, em lugar dissõ, qu~e o facc io-

••
Tcndo apresenta do minhas razões para con ünu:ir usando "facc:io" sismo individual é pufeicamente concebível e que uma tendéncia pod.e
par;,i designar um 11po especifico de grupo polícico, compete-me indicar organizar-se sem perder _sua_!latureza1 isto é, concmuando como Rose a

...
outra J.:sign:ido para a 1ocali<lad.: da classe de subunidades partidáiias. define, "uma sériees1áve! de atitudes". Assim. eu conservo remlê11cia para
indicar as subunidades partidárias mais difusas, em contrapo.siçtro às mais·
Por exemplo, S\! ''núcleo" e)! ivesse disponlvel, poJeria ser usado com esse
oojc!lvL>. !\las núcleos partidários são geralme111e entendidos como as uni-
ú:iJ..:s bási1.:as, mlnim:is e locais. Com referencia aos núcleos partidários,
tcnd.:mos a investig:H os processos intrapa.rtidários de baixo para cima , e
dcfimitadãs- e- Visíveis -=-cõmoãs- tendé11ci:is partídáriasde esquerd:i e'êk
·direita. - - -- - --
·- Tendo ido tão longe quanto permite o vocabulário disponível, ainda
- •
crn sua <lifu são nacion::il, periféric:i. Meu enfoque recai, em lugar disso,
sobr.: ns grandes subunidades partidárias - gr:rndes no sentido de que são
as prirneir:is encontradas ao descermos a um nível inferior ao do partido
corno unid3dt:, e no sentido de agregarem as unidades inferiores, como
precisamos de uma divisão mais analítica. Há muitos tiQos de fraço!!i..
O\J~B.2 m_undo das subunidades partidárias e ~1uito diversificado.~
variedade é da maior importància, pois diferen~es subunigpd§_prod_uzem
unidades diforcnt~:,Q_u, numa formulação mais completa, diferentes tipos
d~ fra~ões incidemlQ_Job.re o grau de coesa:o e, inversamente, de fragmeo-
...
......
os núcleos, oa ctípula do partido, e em torno dela. Em outras palavras,
o n lvel de anál ise do núcleo inclui os militantes e me_mbros do partido, ao rnção de um partido, e (ii)'~obre as maneiras e meios das interações e di·
passo que estou interessado nos níveis superiores, nas camadas superiores nãm1ca 111trapartidáriasYor ambas as razões, e. 1_!1~ expressivo dizer
do partido. q~e a ~eza de~~_12artid.o JillJLD.ª-D_!ll_ureza d~_s_l:!.!!_S .fü.ções; Os parti·
T.ensJo_t~ presente, escolhi a palavra )tf:ar~'Há, sem dúvida , Jos de _ideologia e estrutura qrganizacional semelhantes - por exemplo,

..
a.lgun~\ nconven1entes também nessa escolha . Primeiro, "fração" tem um
os partidos católicos ou os· socialistas - podem se.r muito diferentes em
todo o mundo por serem diferentes as suas frações. Mas ingressamos, aqui,·
s1•1:1~1 '· especial no vocabulário marxista, em particular na tradiç!Io
numa terra de ninguém. Hume investigou a natureza das facções. Nós, em
l.:n11mca. Se undo, o alema-o Fraktion indica a re rcsenta ã'o do artido
lugar disso, operamos na suposição de que são todas iguais ou, de qualquer
no_parlamcnto na verdade, uma denominaçã'o pré-marxista, pois remonta
modo, que suas diferenças não são dignas de exame em detalhe: todas as
ao Parlamento de Frankfurt de 1848). Apesar desses inconvenientes, não
pude encontrar nada melhor, e as desvantagens parecem menores do que frações são frações, ponto. Inversamente , minha impressão é a de que se
as v~tagens. Adotando um novo tamo geral, a primeira vantagem é poder nllo nos detivermos na anatomia dos partidos, nosso entendimento da polí- ~
tica será sempre prcjudjcado por uma importante variável ausente.
usar !acção novamenic sem ambigüidade em seu sentido específico. Em
segundo lugar, "fração" é sem dúvida uma palavra mais neutra e menos
comprometida do qu.: "facção", pelo menos na medida em que tem uma
llistória mais breve e ancestrais menos eminentes do que a segunda. Além
4.2 Um esquema de análise
Até agora livemos uma tríplice articulação terminológica V.!E~ão .)~
""
fia
disso, podemos habituar-nos facilmente a dizer fração, dado o fato de já
fab(m~s de fracionamento e fracionaJjzação. Sob esse aspecto, "fração"
transmi te a sugestão de que um índice de fracionalização 113'.o precisa li·
mitar-se aos sistemas p:irtidários 7 e que pode funcionar igualmente bem
goria...geral L não especificada)(Jàc~ulcgr~_i:>o de poder específl.ca.) ~ te11dêt!.;_
cici'.(série configurada de atitudes). Nessa divisão, uma facç:ro pura e uma
t~ndência e_ura r~P.rcsentam os extremos opostos ãe um contíõüà. Um par-

~
para os sistemas partidários e para as frações partidárias. tido formado de facções puras seria um par~ ~
O principal prob lema continua sendo o de que a anatomia interna pe~nos um partido cujãsêfivisões internas são altamente evidentes~
@li
do partido não pode ser exp lor:ida de maneira adequada sem a ajuda dt: d_s~tae1.1..c.1~s. f{~utr~ ~~~-um partido formado apenas de tendências
/é;, / uma _estrntura mais arcicul:tJa. Rose sugere uma distinçrro entre facçcro e sena um partido cujas divisõesinternaj_fillQ_pJ>u_Ço ~viden tes e pouco sali· ·4'
;Y wndc11c1a. Tal como dclinc esses termos, uma fu%_rro é "um corpo Offi!!· ~'~~ portanto:Ué"âcordo com no~ni_ç{o, um ~rtido com poucô
. • 1~1Gado . ...conutn~cc.na medic.la..dc coes:io e a disclplJ.~c!.issó-resu ltante". tacc1os1smo . 81
. .'~>'-';-··~n~~u~nto' a t.e~1ue1:~.~1 ~·~uiu uiri~ ~st á_vd ~e ati~udes, e não um g~o -- Q~ Ps>~Lbilid~icionais e residuais devem ser pre~ a pri- ~
y l:.st,tv~l de pol1uco:s . ~mbora a d1strnçao sep valiosa, uma variável orga· ~11eira é a d9.§.f!!!rFicldrios 11ãv-ali11lzaclos, o~. mcmb~~n~CE!!)..4.mte...s q~ ~
fll
1Hzar.:1~11a! ~alvez ~:r~. Seja uma .característica marcante adequada.J>egue-s~ 1~entific'!.m_ COJl!2.__P~aforma part13ária, _com__'..'posiço~ ap,oiadas_ p~I~
. que, S<:: uma tendenc1a ~e organiza, uansfonna-se .~c.ç.lo; .lh,inversamen· totalidade do Pi!rtido _elcitor~l, e não com fac~~s ou tendências".9 A

"
)
1 98 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÃRIOS
O PARTIDO VISTO DE DENTRO 99
"
)
f Sl'S~!..t!!! _é o partido urumi::aclv, o p:in ido fragmentado entre vários l i'dercs, 11
)
g
ç~r'~·1l1g1•1rcu11pt~s nn11ucintolbrpocsqudeonos elm tornto dAe cafda um desses Ji'deres que s:io t f.
_< ... .e. par amen o . .l .rações são, com freqücncia, ·
"~c~s~i~hzadãSr, '!1as a s1tuaç~o imaginada aqui é a de personalização aio- f
,i grupos quase se>bcranos: ~ina.lmcnte. a variável orga,niza-
p:.lflitlo 1.:01110
l.'lü llal tem priorid'aJc por constituir, com toda probabilidad!.i._9 mais con-
rn:to. indic:1dor para a ·avaliação <la fracionalizaçS'o dentro d ~ partido . Por
'
) 1~11~a<.b. Ambas as t.ormas - fláo-alinh:ida ou ~o 1!1izada _delimitam á peri- i°HH rO JáUO ~ a dilllCllSâO Organi~aCiOnaJ pode variar ind ep~nt~tTICll t C.
ll!r~ d<? nosso tópico. ls_so e3_u1vale a dizer:__que o nível sÚbpariidário de ,\ ·principal razão disso é o contágio: organizaç?o prO!)lOve o~ga..!lifaç:l'_2.
) a~ahsc e, em ambos os casos, de pouca signifiêaçao. Um pãrtidõ que é SI.!· algull_l.as frações s~ O_!'ganizam ,_outras até entã? n~o-0~g:niza~1 de
) 1~~:1l111c111e composto de "maependentes'':Qlié totalmente- "atomizado '', • : at:'óillpanhá-las. aindil: que apenas para poder compet1r efc t1vam~e E_Ontra
llaO lClll UO~a art1culâÇtfOfrac1onãJ que VU aJé~o valor aparente dessas ús _grue_os_organiza d ~s. Orga~l~:.inp?·se,. ~12~ré~....fil!lªJ!?ct..:ro não p_r~s~~a
1
1
) catJClcrrz:içoes. - - - - '"" - - - 1 11 ~ccssari amentc perder stiãliaturcza tal como determinada p<:.!_a ~u tras
-~nte, por o~tro lado, que a maioria dos partidos são - ao 111'.v~ 1 ..=-- --
Jj 1111!1\SÕCS.
- - · . ., . -:- -.-- - -. .. ..
)
d:g; subu111da~es··· amalgamas, comõrnaçoes ~difertrnTes propürÇõCSUe .1 · (f;'T
~ ;time~ 111oriJ1ac~o1gl é ~_sue in_y_<:s_!![?'!_ m~~ dire~a.mentc . o
) facçõ?s· tendencias, ~grupamen tos maependentes e/ou atomizados. Sob "f~-=-~~~10" l?_l'Opnam~~tc Uttp .~U_!ll~~~tªE_e!e~eu,'-:q~an~o a l~S~, a d~·
) esse angulo, por.tanto, os agrupamentõs fesiduaiStambém devem ser leva- tiiiç3o entre facçoes ãc mtcressc e. facçoes_d~nnc~p10. E~ mais de do1~
dos e~1 c~n t~, uin.da que apenas pelo fato de a sua presença modificar a ~fculos, nenhuma outra classificação meJilõr foi feilã. O_:intercssc" de
) c?~1b111aç~o, .ISI.º. e, º- pes? relativo de cada elemento do amálgama. Além \ lluniepç_a..:r~a ~~:css?-;~º:, v:ú1t!!gc~1-e ·s!~õn~osjf~xi~?.~~: c~'.:10
) d:S_s~, o part1d:mo n.ao-almhado e/ou a área atomizada podem funêlõiiãr "Ütilidade", "co11ve111enc:1a , oportumsmo e exped1en~ . Mas m-

)
)
1 c.01110-g~pos ãe apoio e, na ver<lade,_eodem tornar-se os trunfos mais va-
IJ~s?s do jOg~ , po1S podem f~zer_ pen~e.i:_a balança e ntre a maioriá e a mi-
llüJ'J.!!. dO-{!Jrljdõ. - --
tcr~sse" é bastântc claro ..·Seguiref. -portanto, a terminologia de Hume,
c11tcndendo-sc que as E.sç.Q_cs_ de intÇI~S~E:Jprec n~e~i__ dois ~,;!!~­
ciais dist~guív~ is: as [a5ões_ de puder, pura e simp~sn~ent(@_poder eElg
. . . ~ bas:_~ ~assifi~ção preliminar feita acima, a anatomia subpar· pod~r), de um la~o. e asjàcções orie11taclas para cargos e prove11tvs* (ml;!S
)
)
1 t~dana ~e _ser pro~c1tosa~nente ex2lorada-ªo longo de quatro dimensoes:
(1[o~g~1!~ac19n;!L. (11) ~~ouvacional, (iii) ideológica, (Tv) esqÚerJa-..:-direita.
voltadas para ~~tagens do_que_par~~oder) do outro. ~acç~de
rrinci2_ÍO, de Hurne, apresentam erobl..:ma idêntico, em?_~ra talvez mais
E cv1dcn h! qu..: essas dimensões se tocam e se confundem mas não sabe- sério. O t..:rmo princípio é facilmente associado , hoje~ à 1Cli!Olog~o~-
) mos e.xatament..: como. Enquanto esperamos que uma pesquisa adequada r"rliícCpiõÇ iOcolõgJcõs:l)eve:Sc .êinender. portanto, que minhas ~~çccs
)
cstabcl..:ç.a suas .~o rre laçõ~s e interdependências, é útil seguirmos um esque- <lc,#piliJ&ipfo_ilJclY.ciiuilli!~~~iç_d_'!fkr g':.!1eos~e'!.!.<!gi~~~ .~. t~mbCiii
ma o '~~ais unalittco poss1vel. pura e simplesmente grupos de idéi.i, OU grupos Ue Opll\130, !SlO e,~
) . • 1~ ~_!)imensão u~g~11izacio11a/ vem em primeiro lugar por várias ra- pos·cujas idéias e ideais não parti~1 ~~~ -outras caracfc~a~ dos grupos
1 zões:. _rni~1almente, a d~nção entre partido e facção foi estabelecida com ideológicos. S2b certos aspectô~~a d1sunçao e desnecessana. S~b~?~·
frct~l.!11C~- ~? _passado, <:_~re fÍÕfiãs OrgaJ!12açionãls, na suposiçao de que <:,tão imrzortante guanto a distinç~o - de que a~eratu~~e_éia f!llllto
0
~~~:?º e~po organizado, e a facção, o nao-organizado. 1º Sabemos ~\!ocupou - entre os partidos d e ideologia eos particfos ae opm1ão.
1 ::~1.~~~o ,so que as suõüiU(Jades par.tid:irias eodem. ser vigorosamente õr~ Grupos oricntudos ~ra_ 9 poder_ç/ou_p_~~ ~rgos uroventos i!1d!·
J • • 1.:01110 tãílil5em q ue o part ido pode até mesmo ser em compãra- i;;rm o que gcraiii1e11te -se entende por '§ª2 " :são as facçõefp_Qr e~c~­
ç:Jo com as suas subunidades, a entidade menos org!!J)izacti. 11 Essa reti· l~nciã.'"'Os grupos-de -op-inião e/ou idcelógicos são~ntrário,·dcsin1cres­
s~dos, isto é, seu prlnclpàl in te ressê esta na promoç:Io de idéias e id_cais
flcaç:lo torna a vari:ível educacional mais imp-ºIlaille... As fraçÓes seguem
unlã . . duss1fica ç·ão que vai· dcsde a autonomia · máxima até a- autonQ.IDiJ.I - . -- -- -- -- -- - - -- - --- -
n11111mu
. . . .. , dos sub •ru s f · ·d· d · ·
~ p~.. ace a um a e do partido. I ~o_ proporciona ime-
1
)
Ji.i~:im~ill\: um l !l~~or que pod..: nos apontar qual o nível de an;ílis<: • Lm ingl~'· SfllJ/IY /occio11s.. Na líni:ua ingk,a. o subs1an1ivo spoil, us:ido no plural,
11
!!1.~ r..: ~v;i i~te - .s.~...°. do ~.!ldu, o~o do subganidq. E, evidc11tcmcntc. :1p1t·~ i1ta " ,1i:111 fit·;alo t'>pl'clfi.:<> J.:: "cmpr.:gos o u rar!!O' pu\Jhros e seu' .:m0lu ·
• l ~p. rn u1 t~ _ '.rnpm.~~1nc 1a s~, e conforme_ o grau CQ.1._guc, o PªI tid<L~ cons~ 111.-11lth "º'''11d1dll, ,·orno prop rk.ladl' t•xdusiva d.: 11111 p:111idu nu 1)1.)Jcr que ~n ·
1·,·,k ,·m prnvl'ilo pró prio" 1h'd>~11·r's Co//cgiare Dicrio 1111.iry, ~l.:rriarn Publi, hc'.'•
t 11t11 1Jo d~ sub u11 1daJl!s que op..:ram uma rcd, d- t' 'fu d · · ·· 1·
1~1111 coí1-;r:ss · 1·v· . · - - · · . - -~~ ~~-
. __ p_ u~, ~ 1.: .anta111 Ju1H.l~s_ para s1 mesmas (não oara o partido),ª ~s. Qf2PíJihJ..ca .1:.. Sprm!!i'ic·IJ, ~l:i" .. 19-IHJ. N:1 at1-...:·11t'ia dl' cxpn•s,~io .:orrc.;pomll'nl•' cm ponu~1.:,,
np1.11;10, pc·l:1 11.1J11ç:io ;1l'i111a - "c:1rgo' "· JH1lwn1os" -. :1 qual >l' voltará toda'ª'
t •~111 sua 11nprcns:.r e seus port· ' e -~,._ .- to·· _-
· .,:._.ç.,
._ __ _ _ _a_-voz..:s no_<;:~un • ·
r_c;bc1onar~-~
• •
,,.ll'' que• aparct·cr.:m no ll':\ 10 :.t.s C'Pl'l'~'õcs spoils ou spoils focli<.>ll, que n:io \i'iú
t P<"'-'ª'· ct\. ll.1 l.d. lira>.)
)

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)

) fP
) 100 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÃRIOS o PARTIDO VISTO DE o=,yrqo I UI flP
)
(~e levam. é certo. a uma política correspondente). A forma extrema
fFl
çJo pr:i.gmátka po~e sei:_~otivada po_r carg~s i:_p,ro'{enws _ou sei total·
) ~3- fraç:lo de grir1cípio é o grupq de testemu~ho, qué defende uma mensa- riiente desinteressada (por exemplo, dcit!ndendo a h:)nestidade na política, ~
gem de vulor e meta. Assim, enquanto as facções de interesse são motiv;:i.
)
1.füs p~l:Js n:êompensas concretas e imediatas~-ãs- frações de princ lpio silo.
oÜa competência técnica). IP

--.,,,
Na verdade, o que foi dito acima levanta alguns problemas intrigan·
) aCima de tudb,gmp(Js piumocionais. -- · · tes. Como observamos, a ideolEgia con_st.~~uL~ no mundo de hoje - uma ~
-A prirn:lpâld it'ic-uldade a propósito da dimensão motivacional é a camuflagem 111uitc útil e eficiente. E. encontramos, com freqüênci:i, fr:i-
)
camutlugem. Urria facção de interesse não se declara como tal,_não se con- ~Gc:s que-pouem ser classificaúàsao mesmo tempo como frações idt!ológi-
) fessa como apenas um gfuP9onentado para 'l poder ou que rfüiifüõi'ãen\ cas e como facções voltadas par:i c:irgos e proventos. Ora, o fator causal

.....-.
busca de cargos e emolumentos. Pode buscar un:)..Q.ig:ifc_e sob a bandeira _da e o fato de se rem essas frações mais interessadas na distribuição de car-
)
eficiência ou do realismo técnico, mas pode igualmente disfarçar-se com gos e proventos do que motivadas ideologicamente ou vice-versa, é um pro-
) ioupagt:!ns ideológicas. Por outro lado, a ideologia pode ser uma_çamuíla- blema de pesquisa empírica, e só esta pode esclarecer se a ideologia é ape-
gem muito eficiente, tanto no sentidg de que legitima um grupo em busca nas uma coruna de fumaça legitimadora. Essas complexidades mostram,
de poder na percepção de seus próprios atores quanto no sentido de que portanto, a importância de se manter a dimensão ideologia-pragmatismo
) as reais motivações do grupo não podem ser facilmente identific:idas 2elo à parte da dimensão desinteresse-egoísmo.

•-
qbservador. Há muitas maneiras de obscurecer as motTVãÇões reais. i:.rãt;a· A dimensão ideológica é distintiva, e deve ser distinguida ainda por
se, portanto, de uma dimensão em que truques e ardi's têm lugar destacado. uma outra razão. Quando falamos de mais·ou-menos ideologia, e, inversa-
) Uma das primeiras indicações poderia ser o fato de t.e.L~ fraçãg mente, de mais-ou-menos pragmatismo, a implicação não será necessaria-
uma bas~_d.t,.~Jien.tela. Os~gos e proventos são importantes para as fac- mente motivacional., pois poderia ser cultural. Isto é, a dimem;~oJ.9_eoló·
) ções de interesse, porque conferem poder e porque atraem seguidores. Por- gica difere de todas as outras por indicar um fator cultural, a têmpera (e
) tanto, as facções de interesses tendem a ser grupos de clientela, a ter um a têm~ratura) geral de um determ!n_ado me~ ~hlente c11ffurat. _
--
......
modo de operaçao voltado ara a clientela e uma rede constituída de clien- · - (±_. ..A rlimensa~o esquer_rla-direita é, a última na minha enumeraç.~o por
) t~:..: nversarnente, as frações de princ1eig__p.ruie.m....ser identl readas me- ser a que, a meu ver,menos confiança merece. O que nos leva a utilizar a f/IJJ
) lho.E_pelo menos prima facie, por Utes faltar uma base de clientela, pelo identificação esquerda-direita é uin:i razão ponderável, ou seja, a de ser f!S
fato de que sua força de auto-sustentaçao e de recrutamento vem, mais do a maneira mais evidente e constante pela qual não só o público <le massa
) que de qualquer outro fator 1soladõ,Oe sua atração intelectuãl ou de seu como também as elites vêem a política. Uma outra razão é a de que o posi-
prõSeEt1smo ae crença. Mas isso é apenas urna indicação in icial, e de modo cionamento esquerda-direita é, com freqüência, o que menos violenta a
algum decisiva. Por exemploiJL_presen a ou ausência de uma estrutura de identificação das tendências, das posições não-alinhadas, e das configura·
ções atomizadas. Na verdade, o exemplo ma.is adequado do que entende·


cllcntela poderia dc:pender de estar ou não o grupo no po er. om6éffi"Se
relaciona com estilos culturais gerais. A expficação da dimensão motiva- mos por "tendência" é oferecido em termos de esquerda-direita.
)
cional exige uma bateria de indicadores, observações feitas no decorrer do Não obstante, permanecem as desvar>tagc!ns. Quando an:;lisamos a
tt!mpo ...e o método reputacional. . dirnç_nsã"o esguerda-direita, descobrimos logo que se trata <le uma dimen· IP
(J. A dimensão iúeológica ·confunde·se certamente com a dimensão
motivaclonãL f'.ntre Õutras' êo1sa$7 a ideologia é umà poderosa força moti·
Por
são irremediavelmente multidimensional: é o "índice" de politicado leigo,
por assim dizer. Sendo um índice. de leigo, revela-se uma imensa sim_Iilifi-
F
,,.
-
vadorã. outro lado, toda Urriãsérie de motivações nada têm a ver com cação, marcadamente excessiva e resultante de uma combinação de crité-
a íd~ologia. ~Órfãrlf~.!....Õ~OLS COnt~UO~i!_eve~iam ser~S!P.aradÕ$."°Q C2~: riosvagos.1 4 O estudioso poderia ser tentado, porcanto, a classificar essa p
)

)
tf'..1._uo mot~acion_~_yai_ d_9 desi!!.teresse p~t!.f~ação do testemunho) ao
s1!!).ple~g_oísmo (a _ facção orientada par;i_c.arg~ QrõYeiltõs).. o. cont1·
nuo ideológico vai do extremo do fanatismo ideológico e do Pl!!.1.c'.!..Pio
~entau,o , para o futuro a0...2!2H_!e11].Q_Q.EOSto ·do praticã.lismo e· do prag:
d1mensao na retórica, e.xclu:ndo-a com i:;so da ciência , da política. Mas
talvez esta também seja uma solução demasiado drástica. A abordagem su-
gerida aqui é a de que o contínuo esquerda-direita poderá !>er examinado
melhor se soubermos, primeiro, até onde podemos ir sem ele . A sugestão é,
,,,..
) matismo pur~s. 13 Se os dois continues íorem constrÚidos dessa maneira,. portanto, a <le que ~!a~de IJ<!!le ~o q_uq_relln~do r'.a in terpretaç~o e~que~­
segue-se que as du;is dimensões varium independentemente. Uma fr:ição da-direit:i da polít!ca 29de ser redistribu1da pc1as dimensões mot1vac1ona~s p
)
idegJ.ógica be~1 pode _ser um grupo de testemunho, como pode"ser també~ e" ideológiêas. E o"r.esulta.do fln:il bem poderia consistir de uma noção mais
) um grupo orientado para cargos e proventos. Da mesma forma, uma fra- '2
,.,.
limpa, menos carregada emocionalrnente, ou n1áis desencantada, de es-
f2
)
)

)
102 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS
O PARTIDO VISTO DE DENTRO tü.3
-
liziio viwriosa ~Jo. tipo grupo g~ prn_gramas), tal ~OI]lO ~ma co~lLz~ .Y.i.to-
~rd~-~-dJ rei t~Jsto ~, poderíamos acabar tra1_1sl:or111ando o índice de po- rios~ pode per.d~!:.:_.?SS urniIJdO ~ºll!. i~-º- p:i pel. de umª coalizão de obstrü:
Iiticã do homem··comum em algo que o especialista pode usar, com con- ç:io. 1 ~ -Por outro l3do, esses padrões po~m cris~al i z:i. i:_:se_e_p~rsis!.[~ ~o Iém-
) fiança , com o índice. po·. E o objetivo oesfas distinções é precisamen te fixar a extensão da 11uidez
) Como quer que seja, se a dimensão esquerda-direita for vista de acor· e .~~~f~l!nc i~d_OS .Q;lJ2.lli..i.I1.JlJ!. p..arIIdáuos:=- -- - ---- .
Jo com esta última sugestão, a primei ra vantagem é a Je que poderia ser Finalmente, distinções clássicas, como as que se fazem entre estra-
U$:.J(fo re:siúualme11re, isto é, significando a única coisa certa que represen- tégia e tát ica se apl icam, a frações , também, ou tanto quanto, à política
ta: uma percepção. Sol'._~ indicação "di~j t a-e~~~:da_ tal como_p!rce~da'~, cm geral. Assim . \I.a.u_cJ.Lcodifica as subunidades rartidárias como sendo
será útil e correto identifícàr partidos e subunidades pártidlfrias como es·- estrategicas ou tdlicas. 17 Tainoéml1ão sera necessário- dizer que outras va-
querdisu:is, ce11trTStas o~ (ffreiiistas._É útiC porque é uinã -clãssíffcação já ríáv~~~ relevantes .~uamanho de cada fração (tal - ~omo expresso E_eJã
p·roi"lta;'"síinples -(embora constitua, com efeito, uma classificação ao mes- pçircental!em de votos eíou cadeiras cont.roladas en1 cada órgão - no parti-
mo tempo espacial e avaliativa). E correta porque estamos simplesmente ~º· no .P?rlamento e no gabinete ministe"ríal) e especialmente a duraÇ,ão
deixando que os partidos e as subunidades partidárias sejam vistos como temporal. Jnfelizmented _sse último indi_çad.QL_ õae ser mmto traiçoeiro,
tal. Portanto, com a r_ç_~al~a "tal.,.S.9.JJlÇLp,er.;ebida2z a identificação esque!:.:_ pois uma fração pode~ia simQl~smente mudar de nQme ou recom íiiãr
ct_i~~de ser acei~~~o pelo seu valor aparente - e não se esp.e· (através de fusões e diVisõesLd.Lve..rs..QS...gIJ.lP-º.s.Ln:liLQra mantendo o seu' no-
rará dela que possa explicar ma.is ão que explica. W.~ O importante, portanto, é se há estabilidade e continuidade substãrí-"
· - f'\. segunããVãi1tagem resulfãnfo do uso residual é a de que agora te· ciais - e isso é sobretudo urna questão de julgamento impressionista, em·
mos, áRienternente, ae permitir que essa dimensão vãne em conjunto bora informado. Pé.lo menos para comparações amplas, eu preferiria falar,
coliJ::lfüisrnãepCri'ãentemeõTê de - as outras: Apesar do:: arraigados ta- portanto, de e.stabilidade-durabifidade, dividida, de modo geral, em baixa .
bus de valores, o "esquerdismo" pode se combinar com uma motivação (isto é, tipos passageiros dé frações), média e alta. Se a duração cronológica
exclusivamente orientada para o poder e/ou para a distribuição de cargos e apenas indica uma alta estabilidade, tanto melhor. Mas se a contagem do
proventos, tal como o "direitismo" pode coincidir com um grupo since- tempo indicar, em lugar disso, a transitoriedade, então será prudente exa-
ramente motivado por uma idéia. Além disso, o esquerdismo pode ser alta- minar o grau de organização, de coesão ideológica, o tipo de motivação e
mente pragmático, e o direitismo, altamente ideológico. Essas associações sobretudo a significação da unidade de medida, isto é, a permanência do
talvez se tenham tornado pouco freqüentes, mas isso não pode ser deter· rótulo.
minado a priori ou por definição. Os desdobramentos principais do esquema aqui delineado, e a tipo-
Como se pode ver, o esquema de análise acima é experimental, em- logia resultante, podem ser resunUdos numa relação de itens a serem con·
briônico e está longe de ser exaustivo. Entre os critérios que teriam de ser feridos, como no Quadro 2.
acrescentados na busca de um suporte mais analítico, a teoria dos jogos e O quadro tem o mérito de exigir que o pesquisador verifique, inde-
a teoria da coalizão parecem oferecer, embora de modo impreciso, as su- pendentemente, todos os itens. Embora seja possível acrescentar novos
ges tões mais pronússoras. Sob esse aspecto, uma distinção preliminar e re- itens ~se uma fração é estrâtégica ou tática, orientada para visões ou ques-
levante é a que se faz entre a fraç_q-Q_.p_ersonalfy_f.3 . _gue serve e ª~lEª-WV tões etc. - o perigo é o de que uma relação maior de categorias ainda im-
º.s s u~e~sos e ins_uce_sso~ ~~1:1 chefe in'E,_scutido,15 e aguilo a_que se ro~e­ precisas possa ser conferida por implicação e não à base de informação. O
na <:;han~ar de fraç_qo ª!:. co.alm!.Q,_O!l_ç_q_~lf~~-i:ª-tiv<L)Sl? é,_o_gfupo do hJ~º tamanho não foi incluído (frações máximas, médias ou mínimas) de modo
ali~S~·~g~e-~ão J..em__1:1...rn_g~l:!K'!l- !!niç.o.,_m_as_ rn llito5_ç_o,.LQD~is -~mªJ~I~: E a evitar a aprest:ntação do óbvio. A estabilidade-durabilidade e a importân-
t:~n~~m, CQm base_ ~}11 .l!.ma ab9rd~gem complementar, as frações são difê-'' cia relativa de cada fração não são registradas, por outro lado, porque sus-
rent~s , PQ~que ? seu..~i!!Jel, é. o désemeenh-o de~. ~per,·sfo-cfífe~~~~ citam problemas de avaliação e codificação que exigem exame à parte;
So? ess~ aspecto, encontram_Q~-º~~~P.~ de apoi9. jsço ~, (r;ições_doJip_tj constituem, porém, é claro, itens importantes. Se forem percebidas forte
e~n cfmqj/{~ -.~1~:~: . ansi_o~_por ad~rireE.1 '!Q.._~encedo:_.,;_q~e se coo tentam intensidade ou significativa freqüência, podem ser indicadas por dois (ou
co:'.1 .vantage~s .f!1a.rgina~; ~ g.f!.!IZ~s de veio_•. fr~ões CUJO objeti ~o prins1J'a1 mesmo três) sinais positivos. Se os sinais de menos forem demasiado fre-
e ~,ul.'~ es~!._a;_eg~~ e a obstruçao; ~~_p_os ele programas, isto é, fra~ qüentes - em relação a várias frações em vários países - então o esquema
ql!e·-:·busc<!_~ gsi~ern_ar e J.~ por se~~e.!:2_g!:_~m~_p_ol_íticas . Cj!11o_i_11dica ~ é pobre. Um alto número de pon tos de interrogação evidencia, porém, a
~:_o na da c9<l.!.1_zao,_:_sses__!!pos p_c;~~ m seT_~a~a_n~e ITui,do·s, pois uma coali· pobreza de nossa informação. Na "erdade, o quadro nos oferece apenas um
zao para a obstruçao (ou grupos de veto) poâ<! vir a se tomar uma coa-
..... , , ~...,~ r. .,,., / <:M..q.) l'AFl7'1DARIOS
O PARTIDO VISTO DE DENTRC 105

Qu:1dro 2 .
O<!composição e tipologil das frações partidánas Jados com ênfase deliberada nas subunidades partidárias: os chamados es·
' . (lista para verificação)* iados unipartidários. dQS Estados Unidos, _.fl)táli~ e o Japão. 18 A literatura
)
s'Qbre _o~ P.artidós !~ tin ~m_e ricanos fala _constantemente ·de facciosisnfo,
) Estru tura Organizad:i personalismo etc. Mas essa literatura tem pouca relação com a .nossa aná·
Si:rn organ ização Üse porque- se refere a partidos que são anteriores aos partidos de massa.
) Meio a mt:io'"* Estados Unidos, Itália e Japão, porém, pertencem à fase da consolidação
) Grupos de espólios e poder partidária na qual o partido como unidade adquire significado. As três in-
Grupo de promoção de idéias vestigações não foram, porém, realizadas na suposição de que as subdivi-
) Ambos(+). Nenhum deles (-)h
sões dos partidos sejam ocoriéncia normal, merecendo ser estudadas por
) Atitude Ideológica ser o nível da subunidade um nível de análise significativo. Foram motiva-
Pragm:ítica
Am bas t +). Nenhu ma( - )*"
das, em lugar disso, pela suposição de que os casos em pauta representavam
) padrões patológicos, talvez exemplos de teratologja política. Por outro la·
Po~ici;.>namc nto Esquerdista do, não houve qualquer tentatjva de formular questões semelhantes, ou
) Centrista
Direitista tratar pelo menos dois desses casos de alguma forma paralela e menos ain·
) Vago** da de fazê-lo dentro de um marco conceituai comum. Também não houve
) Composição Personalista nenhuma tentativa _de comparar os respectivos resultados.
De coalizão Na verdade, esse tratamento rigorosamente contextual tem suajusti·
) Me!o a meio•• ficativa . O "facciosismo" norte -americano - como querem_os estudiosos.
Papel formulação de poli'ticas e programas norte·americanos - é estudado porque o sistema partidário norte-america-
) Apoio no está atrofiado. Com relação ao que se conhece - desde que Key escre-
) Veto veu seu livro clássico sobre o assunto - como "política sulista'', a questão
Fluido ou outro(-)
) é : o que acontece sem o rodízio, isto é, quando o mesmo partido perma·
• Afalta de indicação use sinais+. nece indefinidamente no poder? Com relação ã Itália, a pergunta seria :
•• Se dl.'sconhecido ou inverificável, use pontos de interrogação.
) como é possível que, e o que acontece quando, um sistema estruturado
de seis a sete partidos duplica, e na realidade multiplica, essa variedade no
1 ) instrumento preliminar de trabalho - fração por fração, num ponto único nível subpartidário? Por isso , as "correntes" - como são eufemislica-
) do tempo. Se a verificação fo r repetida em outros momentos, porém, a se- mente chamadas - italianas são estudadas pela sua contribuição à hiper·
qüéncia das imagens provavelmente oferecerá uma informação dinâmica trofia do partidarismo. Quanto ao Japão , o que sobre ele se escreve parece
) interessante, em especial quanto às dimensões de motivação, posiciona· considerar o seu "multifacciosismo" como natural, com pouca especula-
) mento e papel. Além disso, se for coberto um número suficiente de países, ção ou interrogação a propósito.
talvez seja possive~ estabelecer um quadro de grupos significativos e com Dificilmente poderíamos encontrar, portanto, evidências mais recal-
' ) caracteristi..:as semelhantes. Por exemplo, poderíamos encontrar uma cor· citrantes, pelo menos para finalidades comparativas e teóricas. Não obstan·
) relação ac~ntuada entre a organização e apenas os pontos extremos does· te, e apesar de as diferentes questões sobre sis te mas totalmente diferentes
pectro esquerda·dire ita ; ou entre facções personalistas e posicionamento nos deixarem em terreno bastante inseguro, procurarei coloca·r a análise sob
) instável; ou entre centrismo e papel dos grupos de programas - e assim por um enfoque convergente. lsso ex.ige, em primeiro lugar, uma reavaliação do
) diante. t, porém, mui to cedo para afirmarmos isso. contexto teórico no qual os resultados norte-americanos foram colocados.
Qualquer que seja o valor da classe da "democracia un.ipartid:íria" ,19
é estranho que os Estados Unidos tenham sido envolvidos nessa questã'o.
4.3 Polít ica sulista: "facções" sem partidos? Com relação ã "democracia" - entendida como um governo constitucio·
)
A suposição de que, na maioria dos países, as subdivisões partidárias pro·
na! que protege os direitos inalienáveis dos cidadãos - os Estados d:i União
vavelmente existirão, serão significativas e influirão no código operacional não são soberanos. A proporção na qual se afastam cios padrões estabeleci·
Jo partido é apenas uma conjectura, porque apenas três países foram estu- dos pela Constituição Federal, pela Suprema Corte dos cUA e pela presidên·
ci:i pode ser significativa e. se vista de perto, perturbadora. Mas isso não
)

) 1
)
)
O PAR TIDO VISTO DE DENTRO 107
....
IOó PARTIDOS E SISff,\,IAS PARTIDÁRIOS 4Ji

)
)
diminui o fato Je que - com relaçJo lOS princípios e aspectos fundamentais
Ja LlcrnocrJ.:i:! norte-americana os Estados unipartidários di~põcm apenas
é inadequada e enganosa. O que eles estão r~alfTlerue descrevendo é uma
s1t.uJç~o n_a qu~I Jois partidos (1dent1()Ç!!dO_? Q_elo crité ~10 numérico <l~
cl~ss11 rcaça.o) n:_o ::onseguen~ _p~oduzir a_!!!ecánica do bip:m ic.larismo, ou
••
)
)
de urnJ autonomia subordinada e limitada. flórida, Louisiana, Mississipi
ou qualqu<!r oucru desses Estados não são Estados no sentido em que o
,vt..! -:ico e :i Tanz:in ia o são. ~ 0 Defron tomo-nos novamente com a fa lácia
St!J U, u.1~1a sttuaç.~? na qual dois p~ rtt~~s ~ão.~~~te c9mpetitivos p:ira
prod\Jm o rod1 ~w. n_<!J~~dl:!r. Es~e .P_!ldrao e totalmente diferente do sis1e:
ma uniparti<ldrio. Pertence - como iremos ver em detalhe mâis adi.an te-.:.
~o tipo de sis~m.E_ p~r!i_êIJrio do par~ido préuõmmalife.2 7 queéõnstnui,
••
) Lia mu<la114a Jo:: unidutk um subestaJo, isto é, um membro de um Estado
••
)

)
)
)
fclle ral, torna-se igual a um Estado soberano. A primeira coisa a notar,
;:11 tão, é que a política sulista pouco tem a ver com a estabiliznção ou a
tle sestabiliz:.iç:Io de. uma democracia. 21
A questão que se segue imediatamente é a de saber em que sentido
ce rca de metade dos Estados nmericanos podem ser chamados de " unipar-
tidários" . Key e grande parte dos que escreveram sobre o assunto são nota-
P.Or sua ~ez,_J!QJ_t!.çis QO~s í ".e~es~1dosnõrmãiSãe'lim jôrmato b ipâr tídJ:
rio. E o f:itQ..dLqJJe o cham<!_do uqjparl!Ôarlsino norte-amerCcano não é na
ii:alid~Je um. unipartid!lrismo - mas umãC!assificação en~õSã -::.- deve·
ser v1gorosa111ente _r_eiterado_com base em fundamentos compar:ifiVõS,
transnacion:iis. -- -
Se quisermos que exista uma ciência política, devemos curvar-nos
---
. ••
velmente imprecisos qu:lnto a essa questão. Por outro lado, e apesar de à necessid:ide óbvia de rejeitar um vocabulário duplo, um para consumo
)
)
algumas queixas, 22 o chamado Solid Sowh* (mais o republicano Estado
de Vermont) ê, ou foi por muito tempo, considerado corno uma área uni-
paniJária. Por outro lado, a principal observação ct\Key foi a de que "o
interno e outro para consumo m1.1J1dial. Mesmo para uma ciência árida, é
absurdamente anticientífico colocar fatos diferentes numa mesma classe
sob a suposição críptica de que, embora a categoria seja idêntica, seus uni~
••
)
)
ui não tem realmente partido~". 23 As duas afirmaçoes são, em princípio, ..
contra ífõrías.'i4 Tei:n_os_y_!lla.2_Ít~ão unipartidária, ou de não-e.artidos? 25
Presumidamente, a ºresposta poderfaser a de que a alternativa não se aplica.
mais são diferentes. Na verdade, nos estudos de caso as coisas são vistas
muito de perto e, portanto, ampliadas, ao passo que nos estudos compara-
tivos são vistas a distância e, portanto, têm seu tamanho reduz.ido. Esses
••
)
)
Mesmo assim, a resposta teria de ser nenhuma, ou ambas. A complicação,
ou melhor, a complexidade da questão vem do fato de que os Estados Uni-
dos devem à sua estrutura federal um sistema partiddrio de duas camadas,
ajustes inevitáveis e intuitivos que não podem ser expressos pelo nosso vo-
cabulário são sempre necessários quando passamos do próximo e concreto
para o distante e abstrato. Não obstante, qualquer classificação decente
••
) urna tle âmbito estadual e a outra de âmbito nacional. Segue-se que cada
nível é, em si, incompleto e/ou reflete o outro nível. Com relação à "de-
mocracia", por exemplo, o nível estadual tem uma jurisdição totalmente
deve acomodar tanto os dados monográficos, ou produzidos pelo estudo
de cada nação, como também as evidências transnacionais. No caso em
questão, além do mais, isso não constitui problema, pois o cenário mundial
••
)

)
subordinada (um exemplo claro de imperfeição). Com relação à questão
cm pauta, a conseqüência de um sistema partidário de duas camadas é a
existêndu de dois partidos em quase toda parte - isto é, também em nível
sugere urna categoria para a acomodação tlo padrão norte-americano: a
classe dos sistemas do partido 'predominante - definida como os sistemas
nos quais o mesmo partido obtém, repetidas vezes, a maioria absoluta. As·
••
) estadual - embora, nos chamados Estados unipartidários, o partido menor
Jeva sua existência e características ao sistema de âmbito nacional, adqui-
rindo com isso relevância sobretudo com relação às eleições presidenciais
sim, a persistência, durante décadas, do equívoco, capaz de levar a erros,
de se falar do Sul ··unipartidário" evidencia um paroquialismo muito sur-
preendente. Examinemos, agora, embora de maneira generalizada, os fatos.
••
)
e à concessão de patronagem, oriunda do centro federal. Poderíamos dizer,
portanto, que a existência de dois partidos - o que não significa a mesma
Segundo os critérios {não a terminologia) d~bs Estados
da União demonstraram, no per iodo 1870-1950, dois adrões fundamen- •
••'
) coisa que um sistema bipartidárío2 6 - continua sendo a forma vigente t~S: 1 competitivo bí · e stados ou ciclicamente com eti-
)
nos Estados Unidos, embora apenas em termos exógenos e incompletos, tivo ( 12 Estados); (ii) predomínio de um partido (27 Estados .2 ª
isto~. devitlo à supcrimposição do sistema bipartidário nacional. s ois grupos constituem, na ver a e, grupos nústos. O primeiro
) O que foi dito acima significa que, quando os estudiosos norte- grupo de 21 Estados assimila a competitividade ~leva ao reIJetido rod í-
americanos falam <las áreas "unipartidárias" de seu país, a classificação zio no pod~o_qu.e_pod~@ser chamado de con1pctitivida<le real, isto
)
é, _à eap!1cidade do partid9_!!.1i11oí@r1õ de s-e c~nstituir numa ;.imeaça com-
t
)
)
• Lii..:rJl111i:111c, 511/ Sólido. Os E~tado~ Jo Sul nort.:-am..:ricano, 110> qua i,, ,·nu.:
1~7'} a l 949 aprox11n aJa111cntc, os de1110crrn1s venceram sempre todas as clt:1~·õc, .
pe1itiva _sub._?Jan~i~ _e consistcnte .29 A medic!_a _de _.$._cl\Tesinga, no caso, é
_ a_cap~cidade ~ ~e~o _Qa~ido _ n;inoritário de conseg~!r ,aintl:.i. qu~ cicJ.!:
camen te, pelo menos <luas vitórias consecwiv:ls.- o segundo padrão - do
••
)
~:io de' V1rgini..1, Carolina do Norte, Carolma do Sul, Geórgia, Flóri<la. ,\):1 1>;;111:1,
\l1""~1p1. Luu1~1ana, Texas e Arbn\a ~. (N. do T.)
••
4
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)

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) 108 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS O PARTIDO VISTO DE DENTRO 109
i
) partido predomina~ te - inclui um grupo de Estados sem.icompctitivos l (,f~ão ~o_esos e conJinu~m sendo a unidade de análi~e ~~ifiC2t!va_f10 gu~
) (o partido minoritário obtém o~asionalmente uma vitória isolada, mas por 1 se relaciona com a conquista de votos. Isso equivale a dizer que o partido
omissão do pãrtidõ-predominante, e não pela sua própria força) e um gru- eleitoral(não o partido como indicador ou proponente de candidatos)
) pÔ claramente subcompetitivo de 11 Estados (o Solid Sourh, Oklahoma constitui o ponto de vista ótimo para o seu exame como unidade indivisí-
1
)

)
e Vermont )noqual o partido minoritário jamais conquistou um governo
estadual e tem uma atuação quando muito precária nas eleições. 30 A dis-
tribuição se modifica, na verdade, com as modificações dos períodos tem-
!
1
1
vel. Se, porém, um partido consegue - por quaisquer razões - uma situa-
ção eleitoralmente segura; a unidade partidária e o partido como unidade
tenderão a dar lugar à desunião subpartidária. Nessas condições, portanto,
porais e/ou dos critérios. Assim, Ranney e Kendall constatam, de 1914
i as unidades reais são as frações , e q~anto mais subcompetitiva a situação
)
a 1952, a existência de 26 Estados bipartidários e 22 estados unipartidá- .1 interpartidária", mais elevado· o fracionamento intrapartidário.
rios e de "unipartidarismo modificado''. 31 Mas as discrepâncias na dis.tri- Se essa conclusão for confrontada com os 11 Estados sulistas, seria
) buição não têm importância na minha argumentação. 32 Como disse, cerca de esperar (i) que o grupo semicompetitivo tenda a ser bifaccionário e
de metade dos sistemas partidários estaduais norte-americanos não dispu- (ii) que o grupo subcompetitivo dê lugar ao multifaccionarismo. A pri·
) nha, pelo menos até a década de 1960, de uma mecânica bipartidária, em- meira hipótese é confirmada ·pelos dados. Os dois Estados sulistas semi-
)
bora tivessem, em geral, um formato bipartidário. Ficamos, assim, com competitivos - Carolina do Norte e Tennessee - também são bifaccioná-
22 a 27 Estados do tipo de sistema de partido predominante. rios. 37 A segunda hipótese sai-se menos bem. Uma maioria dos Estados
) A estimativa pode ser questionada por outras razões, ainda. No Mfa- subcompetitivos são multifaccionários (Alabama, Arkansas, Flórida, Mis-
sissipi e na Carolina do Sul, por exemplo, a maioria das eleições não são sissippi, Carolina do Sul, Texas), mas três Estados (Geórgia, Louisiana e
) nem mesmo disputadas. Pode-se, portanto, argumentar que esses dois Es- Virgínia) são bifaccionários. As explicações de Key basearam-se, no caso
) tados pertencem - juntamente com alguns cantões suíços - ao que Girod da Virgínia, no fato de que a "oposição republicana contribui para ~
chama de padrão do "partido solítário''. 33 Minnesota e Nebraska também criação de uma facção democrática bem organizada", e, no caso da Geór-
) elegem suas legislaturas estaduais em bases não-partidárias, isto é, sem le- gia e da Louisiana, na importância das "personalidades" (bem como no
) gendas de partidos. Seria possível dizer que se trata de casos autênticos sistema de cédulas da Louisiana). 38 Resumindo, podemos concluir que
de política sem partidos.34 Apesar dessas complexidades adicionais, o mais tanto a primeira grande hipótese como as duas hipóteses subseqüentes não
) importante - dentro do padrão geral de predomínio de um partido - é são refutadas, e bem poderiam ser confirmadas se melhor ressalvadas por
) que cerca de 11 Estados ficam, por qualquer critério, abaixo de qualquer condições adicionais. Mas nada do que foi dito acima parece válido para o
padrão da competitividade até mesmo potencial: são, claramente, subcom· padrão italiano. De acordo com a maioria dos critérios, o sistema partidá-
petitivos. Isso constitui, em todo o mWldo, um caso excepcional. E é por rio italiano é adequadamente competitivo. É também altamente estrutura-
) isso que a chamada política sulista norte-americana exige um exame ã par- do e muitos interpretariam isso como significando que os pa'rtidos italianos
te do e no nível subpartidário. No caso, as "facções" (no sentido norte- são coesos. Não obstante, o sistema caracteriza-se pelo "multifaccionaris-
) americano do termo) parecem mais importantes do que os partidos. mo", ou seja, na minha terminologia, por um elevado grau de fracionismo
) Key encontrou uma grande variedade de disposições diversas. Mas intrapartidário.
dois padrões distintos surgem claramente de sua exposição (i) o multi· Não há muito sentido, nessa fase de nossa ignorância , em tentar re·
facciosismo (do qual a Flórida é o caso extremo) e (ü) o bifacciosismo formular a relação entre a competitividade do sistema partidário e o fra-
(Geórgia, Louisiana, Carolina do Norte, Tennessee, Virgínia). A situação cionamento subpartidário. A advertência é, claramente, a de que os estu-
do bifacciosismo pode, por sua vez, ser equilibrada (as duas facções não diosos da política sulista são vítimas de auto-adaptação excessiva. Quanto
) são muito desiguais) ou desequilibrada (Virgínia, Carolina do Norte e Ten- aos remédios, uma primeira sugestão é a de que nossas generalizações de-
ncssce tem, cada um deles, uma coesa facção majoritária e uma facção vem ser condicionadas pelo tipo de sistema partidário a que se aplicam (ou
) minoritária relativamente fraca). 35 Esses resultados sugerem várias inda- não aplicam). Isso, por sua vez, significa que a categorização imprecisa re -
) gações interessantes. presenta uma de nossas principais fraquezas . Em segundo lugar, o sistema
Supõe-se com freqüência que "a coesão partidária é funç:ío direta eleitoral - em todos os seus muitos aspectos - poderia muito bem ser uma
)
do grau de competição entre os parti.dos -pÕlíticos". 36 Portanto, quanto variável importante e negligenciada. Por exemplo, é a competitividade
) menor a comp~ tiçrro , maio rofacclõSismo interpartidário. A hipótese pode igu al (ou é vista da mesma maneira) nos sistemas eleitorais de pluralidade e
se r reformulada, num contexto, mais amplo, da seguinte forma;-: qs parti- nos sistemas proporcionais? Uma terceira possibilidade é a de que a ideo-
)
· 'j
...
) -~;: Cl
) ••
)
)
l 10 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁR IOS

logi:i também seja relevante. no senti<.lu Je que :is gener:;lilações válidas


O PARTIDO VISTO DE DENTRO J 1l
.
)
)
para a polít i.:a pragm:icica podem não ser válidas para a •oolícica idt!olóoica
o
e vice-versa. Finalmente, e sem dúvida, precisamos mclhor:.ir a ··anáirse das
conJi._;ê>cs" . pois h:i acent ua<la dcscon fiança de que nossa incapacid:iJe de
.
t:ri1os e. porunto. do faw de que a indicação dos candidatos à eleição não
~ fochaJa. não é uma questão interna imp\:ne1rável, mas com freqüência
uma questão de eleição prelimina r. 40 Uma eleição preliminar que - na
••
)
)
generalizar .:stcja relacionada, em grande paíle, com as condições aimla
não descritas e ::iinda não identificadas. Entre essas, os c:iminhos constitu·
cionais são, com demasiada freqüência, esquecidos.
maioria dos seus aspectos - é a eleição real repres.:nt:1 uma característica
ext.:epcional que exige um tratamento comparativo cuidadoso. Por outro
lado, sena leviandade, dizer, em geral. que os argumentos primordiais de·
••
)
Outra série de indagações relaciona-se com a possibilidade de ser o safiam a comparabilidade transnacional. De um ponto de vista adequado, o
caso da política suiista oferece - como procur<!i' mostrar - um importante •
bifraciunansmo um substituto imperfeito do bipartidarismo, e em que sen-
tido . pela mesma raz.ão, poJeríamos indagar se o multifracionarismo será
um sucedâneo do multipartidarismo. As respostas dependem muito do
campo de trabalho comparativo. Vou procurar ver agora se os padrões de
fradonismo italiano e japonês também podem se r examinados comparati·
vamente, isto é, se os argumentos isolados que vêm de experiências distan-
••
)
contexto em que essas perguntas são feitas. Se o forem num contexto de
unipartiJarismo le, o que é pior, de democracia unipartidária), o problema
est:ir:i mal formulado. Estaria Key certo, então, ao afirmar que o Sul dos
tes podem, de alguma forma, ser reunidos.
••
)
)
Estatlos Unidos ..não tem realmente partidos"? Sim e não, ouso dizer: sim
no sentido de que ele chegou ao ponto fundamental do problema; e não . no
sentido de que o Sul não é realmente um exemplo de política sem partidos,
4.4 Itália e Japão: frações dentro de partidos
/\ situação italiana representa um caso extremo de hipertrofia partidária. ••
)
mas untes - numa perspectiva comparativa - de atrofia do sistema parti·
dário. Essa atrofia resulta de condições históricas, mas resulta também d:i
estruturação em dois níveis da política partid:iria norte-americana que per-
No nível de partido, a Itália corresponde - na minha taxonomia - aos sis·
temas de multi partidarismo extremo e polarizado.4 1 Desde fins da década
de 19.+0. os estudiosos da política italiana vêm considerando o interplay
••
\
)
mite! às dl!liciências de um nível serem compensadas (e sob certos aspectos
projetadas) no outro n ivel. Dessa forma, dizer que o Sul não tem partidos
só é ex:Ho no sentido de que as unidades importantes são as subpartid:írias.
De acordo com essa perspectiva, as conclusões de Key e de grande parte da
de seis ou sete partidos "relevantes". e tentando explic:í-lo. 42 Além disso,
desde fins da década de 1950, tiveram de se ocupar de um fracionismo in-
trapartidário cada vez maior. 43 .Em princípios da década de 1970, houve
um momento no qual a contagem precisa indicava a existência ativa, abai· •• •
bibliografia que a ele se seguiu podem ser. ao que me parece. generalizadas xo da superfície do espectro partjdário geral. de nada menos de 25 "cor·

••
)
com segurança. Key verificou que a "desorganização política" - o que rentes", ou frações e facções. 44 Mas para evitar a complicação excessiva,
) equivale a dizer o facciosismo "caótico" e "descontínuo" - é vantajosa podemos limitar-nos aqui aos dois casos mais relevantes e interessantes: o
para os ricos e desvantajosa para os pobres, "confw1de o eleitorado" e tor· Partido Democrata Cristão (Denzocrazia Cristiana, ou DC) e o principal
)
)
na um governo •·particularmente suscetível às pre~ões individuais e espe·
ci:ilmen te inclinado ao favoritismo" de tal modo que lhe "falta O·poder de
partido socialista.
Sendo o partido italiano dominante, o Partido Democrata Cristão •
)

)
realizar programas de ação continuados". 39 Se os críticos dos partidos -
ao iongo da linha Ostrogorski - e os defensores de uma democracia direta
sem partidos realmente desejam desenvolver seus argumentos, eles devem
atraiu, compreensivelmente. maior atenção. Em fins de 1971 sua anatomia
reveiava nove ..correntes" - oito das quais sem dúvida relevantes - todas
elas partilhando da distribuição dos vários cargos e proventos, e todas ofi·
'
1
)
levar em conta esses resultados e conclusões.
Numa visão geral, as evidências norte-americanas não se relacionam
cialmente organizadas, expressando, em sua maioria, seus pontos de vista
independentes, dissonantes, sobre todas as questões cotidianas.45 Isso
equivale a dizer que as frações da Democracia Cristã italiana são se mi-so·
••
)
)
com as frações sem partidos mas sim com as frações acima dos partidos.
Da mesma forma, não constit uem uma variante do tmipartidarismo, mas
~i 111 um grupo importante de sistemas de partido predominante. Essas Juas
beranas, exigem em geral a lealdade primordial de seus membros (dividindo
o partido desde a cúpula até as bases) e empregam a maior parte de seu
tempo e capaciJade em manobras incessantes para conseguir uma parcela
••
)

)
reti0cações sugerem que os dados norte-americanos ainda estão por ser
d.cvu.Jarnente explorados nos aspectos comparativo e teórico. O principal
nsco comparativo, ou limitação, inerente à experiência norte-americana.
maior de membros.
Sob vários aspectos, o· desenvolvimento das frações no principal par·
tido socialista. o PSI (Parti to Socialista Italiano). é ainda mais interessan-
••
)
)
resul ta do fato de estarem o Partido Republicano e o Partido Democrata
entre os poucos partidos de massa ocidentais que não têm membros. ins· te.46 Em 196 1, o encào discutido líde r socialista Pietro Nenni disse expli-
dtamente no congr<!sso do partido: .. O frat.:ionismo foi, nos últimos quatro ••
)
) •
)
)
112 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS O PARTIDO VISTO DE DENTRO 113

)
anos, a princípio disfarçadamente (do congresso de Veneza ao de Nápo- Essa suposição evidencia, mais do que qualquer outra coisa, a pers-
les), e desde então abertamente, a doença interna do partido. A partir do pectiva <.:omparativa deformada ou inadequada resultante de se usar como
congresso de Nápoles, o fato mais impressionante e atemorizador foi a ri- rn~dida um único país. Uma terceira suposição, mais plausível e menos pa-
) gidez das correntes, que as transformou em frações". 4 7 Nenni foi profé- roquial, gira sobre o pri ncípio do tamanho. No caso , a explicação é a de
) tico. Dez anos de pois, em 1971, o PSI pouco tinha a invejar , ou a a prender, que as subdivisões partidárias são conseqüência inevitável . do grande nú-
cm termos de luta interna de frações, do Partido Democrata Cristão. O mero de membros dos partidos de massa : quanto maior o partido, menos
) Partido Socialista Italiano dividiu-se profundamente em 1971, em quatro pode ser controlado ou mais tenderá a reorganizar-se, informalmente, à
) ou cinco frações. Se a isso acrescentarmos que existiam também dois ou- base de unidades menores e mais flexíveis. 49 Embora dificilmente se possa
tros partidos socialistas naquela época e que ambos vinham de uma seces- -- ~' negar que o tamanho é sempre significativo nessas questões, trata-se de
) são (representando assim, com relação a um partido idealmente unido, uma variável muito frustrante quando tentamos fixar-lhe os limites. Tal
) outra série de quatro frações, duas reformistas e duas acentuadamente de como está, o argumento parece demasiado abstrato, e o princípio do ta·
esquerda), a área socialista geral será tão fragmentada - no nível subpar. manho tomado isolad'amente parece constituir um princípio de explicação
) tidário - quanto a área da Democracia Cristã. insuficiente. A igualdade de taman110 não parece provocar fracionamento
) O caso ·d.o partido socialista é particularmente . interessante não só igual. Além disso, não é clara a razão pela qual a divisão interna dos par-
porque seria de se esperar que um partido confessional de várias classes tidos de grande tamanho toma uma forma - o tipo de estruturação fracio-
sociais, coino a Democracia Cristã, fosse mais heterogêneo e estivesse nária - e não outra. Por exemplo, por que deve essa forma ser fracionária,
) mais sujeito à fragmentação interna do que um partido socialista, mas tam- e não "estratificária"?
bém porque a Democracia Cristã Italiana vem sendo mais "corrompida" Em lugar de procurar aperfeiçoar as especulações acirr.a, voltemos às
) cvidéncias · de que dispomos. Como já sabemos, as explicações dadas para
pelas.. tentações do poder, sem interrupções, desde 1948, enquanto o PSI
há muito a acusa de colonizar o país e manchar a "pureza" da classe ope- o caso da chamada política sulista não se aplicam bem ao caso italiano. O
)
rária, sem falarmos no fato de que foi somente em 1963 que os socialis- sistema partidário italiano é, quase sempre, bem estruturado; seus partidos
tas conquistaram acesso ao poder governamental, com algumas interrup- menores não sao, apesar de seu tamanho, partidos fantasmas, e as lutas
ções subseqüentes: eleitorais são muito disputadas. Lembremos, quanto a isso, que o Parti·
do Comunista Italiano conirolava em 1975, mais de 33% dos votos, e
Como explicar tal situação? Em princípio, ou por motivos lógicos, que as maiorias democráticas que suste_ntaram os governos foram, todas
ela não era de se esperar e colheu muitos observadores de surpresa. O ar- elas, muito reduzidas. Não se pode, portanto, dizer que nas disputas elei-
) gumento racional poderia ser o de que o multipartidarismo permite ampla tornis italianas pouco importa quem vence. Não só os partidos italianos são
margem para acomodações, como partido, das diferenças e divergências competitivos, como também sua competição tem um aspecto vital, de
)
que os sis temas bipartidários só podem admitir no nível subpartidário. fli.s.:: sobrevivência.
) so se _p_~eri~cluir, ~ue tud_o indiq,_que, quanto mais numerosos os. Se o fracionismo italiano não pode ser explicado à 1uz da experiência
P~r!~d os, maior a homogeneidade d~c.ªif_a _p_~rtid_o e menor ~ecessi_dade de norte.americana, nossa busca de explicações volta-se para um caso mais pa·
) fr~nismo-intraparffaario. Inversamente, quanto menos partidos, mãl"ór recido, como o do Japão.s 0 Na verdade, com relação à "política faccioná-
) '! probabilidaêle-de"JiêterogeriêiêíaCíepartidária e, portanto, de fraciorÍismô ria'' a semelhança entre Itália e Japão parece impressionante, a ponto de
sÜbpariTllTriO.-D:rctas as- circunstâncias, -;s53fa-C1õnalizaÇão ãpenas confri:: aproximar-se de identidade. Os dois principais partidos japoneses - o Libe-
) bui parúxplTCar por que os observadores só a custo se deram conta do que ral Democrata, predominante, e o Social ista - são descri tos como uma "fe.
) estava fervendo no cadinho italiano. deração" ou uma "coalizlio" de subpartidos. As mesmas palavras são usadas
) Outra suposição - embora menos plausível desde o início - foi a pela maioria dos observadores do cenário italiano . A questão formulada
de •!li>!: por Scala pino e Masumi é: "Representam os liberal-democratas um par-
Em .:011 1ras1c com os p artidos no~ Estado~ · L:niJ o,;, o probkma das foc~·õcs parece
tido. ou são uma federnç:i'o de partidos''" E sua resposta é a de que a pol Í·
) tt:r , ,,Jo r~,olviu o na Europa l l l por causa da organiz:iç5o mais cfidentc e lucr:írqui- tk a japonesa se caracteriz:i por um '"primado" constitutivo "da facção sobre
..:a Ju, partido~ d~ 1nas~a europeus, ( 2) deHdo ao seu grau ev1dcn1cmentc supe rior o p:.irtido".. s 1 De maneira notave lnicnte semelhante, a pergunta formulada
) de homogeneidade prop~má tica, e ( 3) graças à maior centrahza~·ão insu1uciona.l por um observador italiano (que era, na época , deputado) é se a Democra·
)
ºº' sbtcma> políticos curopcus.48 eia Cristã lt:iliana é um partido "com correntes ou de correntes" .s2

) ~-
:
)
) O PARTIDO VISTO DE DENTRO 115
1 11 PAR TIDOS E SISTEMAS PARTIDÁ R I OS
)
düvid:.1, :is ali:inç:is entre frações que se firmam por cima das linhas par-
) Cm tndhor exame inJii:a, como era Jc se esperar, que a i!rmai;õc5 udüri:is são. n:i i e.ilia, parte do jogo geral das coalizões.
) :;cmc!han ccs S\! poJem aplic:.ir :i fenômenos diferences. Se focalizarmo:>. por Em suma é como se o grau :igreg:ido de iracionismo na Itália e no Ja-
exen1plo. o comporr;irnenco eleitora! dos panidos, a Itália não evidencia o pJo continuasse, apesar das diferenças, notavelmente próximo e, esses dois
rnc~mo gnu de frac ionismo do Japão. Em épocas de eleição, os partidos paÍSl!S proporcionassem - no nív..:I subpartid:írio - uma boa correspon-
) it:tl1<.111os co mportam-se co mo purtidos: são coesos, e os candidatos devem dência comparativa. Em notável contraste com o padrão norte-americano,
suu c k i ~ão - e subem disso - à legenda parcidária.53 Porrnnto, pelo menos cm ambos os puíses um subsistema de frações solidamente en trincheirado
) para as finalidades eleitorais, o parti<lo é, na Itália, a verdadei ra unidade. opera de11rro dos partidos. Quer seja mais importante a unidade ou o nível,
l Co n1r:iri:!mente, no Japão as eleições não são disputadas pelos ramos locais n~o se pode dizer que as frações substituem o partido, pois as unidades
) tios partidos, mas essencialmente pelas associações fracíonistas locais. N1 partidárias estão longe de ser atrofiadas ou irrelevantes.
) verdade. cm ambos os i:asos (e poderíamos acrescentar com segurança que A principal diferença entre a Itália e o Japão ocorre no nível sistémi-
na maioria dos casos, ou talvez na totalidade) os candidatos do partido lu- co. Dada uma hipertrofia semelhante do fracionismo, suas conseqüências
) tam violentamen tt: entre si. Mas, no Japão, a atividade eleitoral do panido podem ser diferentes em diferentes sistemas partidários. O sistema parti-
) é íl::nqueada por organizações dos candidatos que são exteriores ao partido dário italiano exige governos de coalizão. Além disso, dada a extensão do
te esses próprios candidatos podem ser indivíduos que não são membros espectro ideológico total, as coalizões governamentais italianas são muito
) inscritos do partido, mas que têm condições de a ele se impor) ao passo heterogêneas e resultam, por isso, em governos ineficientes e pouco efeti-
) que na Itália os candidatos lutam pela eleição através dos ramos locais do vos. Nos últimos 20 anos, o Jap~o foi, em lugar disso, um sistema de parti-
punido, e lucam entre si no in tervaJo das eleições, precisamente pelo con- do predominante c:iracterizado por governos unipartidários liberal-demo-
trole dos ramos do partido. cratas. Essa principal diferença sistêmica significa que, enquanto as frações
Por outro lado, se passarmos do comportamento eleitoral do partido italianas passam por sobre as linhas dos partidos, as japonesas operam den-
- como unidade grangeadora de votos - para o partido enquanto elabora- tro de seus partidos. Em ambos os casos, os governos têm vida efêmera,
) mas a sua eficiência é muito menos prejudicada no Japão do que na Itália.
dor de programas e de políticas, e, em especial, focalizarmos nossa atenção
) na maneira pela qual as frações lutam pelo controle de seu partido, então o Isso porque, entre outras razões, o jogo fracionário italiano enfraquece, em
argumento poderia perfeitamente ser invertido, isto é, a Democracia Cristã grandt.! parte, .as divisões de papéis entre governo e oposição, ao passo que
) italiana poderia parecer muito mais fracionada do que os liberal-democra- o fracionismo japonês não tem essa conseqüência (enquanto o sistema é do
) tas japoneses. No Japão, não há cruzamentos de linhas partidárias. Mas as tipo partido predominante).
frai;ões italianas influenciam a orientação partidária e até mesmo chanta- Com tudo isso, quando chegamos à questão causal - como a hiper-
) geiarn seu partido em evidente sintonia com frações de outros partidos. trofia fracionária italiana e japonesa podem ser explicadas? - a compara-
) Isso ocorreu particularmente, durante boa parte das décadas de 1960 e bilidade dos dois casos de pouco nos serve. O atual padr:ro japonês resulta
de 1970, com as frações de esquerda da Democracia Cristã, cujo peso e in- de uma "fusão", em 1955, de partidos antes distintos. Além disso, e o que
) fluencia cm seu próprio partido dependeu, antes de mais nada, de mano- é mais importante, as unidades anteriores e primordiais da política japone-
bras relacionadas com frações de outros partidos. Da me$ma maneira, o sa eram o que são as frações de hoje. Portanto, a gênese do atual sistema
)
Partido Socialista Italiano foi mais à esquerda do que Nenni e o afastou, partidário pode ser descrita como urna dupla camada de superposições,
) em grande parte com a ajuda indircu das frações de esquerda da Demo- ou como um processo confederativo de duas etapas, originário das unida-
cracia Cristã. Isso não equivale a dizer que a política italiana se processa des que continuam sendo - ::ipesar de sua coalescência - os verdadeiros
) em dois níveis - o do partido e o do subpartido - e que, sob certos aspec- protagonistas do jogo. Inversa.mente, o padrão italiano vigente resulta de
) tos importantes, as coalizões governament1is contam menos do que as um processo de "fissão". A genética italiana do caso é a de que os parti-
alianças fracionárias que se estabelecem por sobre as fronteiras dos parti - dos vieram primeiro, e seu fra.cionismo cresceu e consolidou-se depois. O
) dos. >4 Isso seria ir longe demais, porque inter alia as aJianças fracionárias caso italiano é, por isso, muito mais intrigante , e a experiência de um dos
) celebrad:is por cima das fronteiras partidárias não são alianças completas casos niio nos mostra quais os fatores causais que poderiam explicar o de-
e concertadas em sua plenitude: resultam de um entendimento tácito e, senvolvimento do outro.
)
quan to mais disfarçada e inJirc ta é a maneira pda qual as fraçõe s rci:t.!bem Presumiv..:lm..:ntc. se os dados existe ntes permitissem a comparação
) sustentação externa, maior é a efic i~n cia de tais alianças. Assim, u jogo da de maior número de países, alguns esclarecimentos poderiam surgi r dessas
cualizão não pode ter o mesmo peso em cada um dos dois nívi:is. Mas, sem

)
)
J
) 116 PARTIDOS E SISTEMAS PAR TIDÁRI OS O PARTIDO VISTO DE DENTRO 11 7

)
comparações a um só tempo mais amplas e mais detalhadas. No momento, um candidato. Portanto, o voto dado à lista partidária tem precedência e
) por~m. só podemos admitir a derrota. Isto é, nossos três casos - Estados não de.ve ser posto em risco pelas lutas intralistas pelo maior número de
Unidos, Japão e Irália - não indicam, pelo que posso perceber, nenhuma
"raz:io profunda" comum e fundamental ·para sua posição um tanto extre-
.
.-.
preferências. s7 Concebivelmente, a luta pela preferência poderia ser pra-
ticada na Itália tal como a luta eleitoral se processa no Japão, isto é, atra-
) mada quanto ao desempenho fracionário e faccionário. Parece que fica- vés de organizações colaterais d os candidatos. Mas temos no caso wn se-
mos, portanto , com o tipo habitual de explicação histórica específica - gundo elemento: o fator dos recursos e especificamente a variável do <.li-
)
com o impacto do passado sobre o presente. Há, certamente, ampla evidên- nheiro político.
) cia nesse sentido. Mas como poderia o presente não ter impacto sobre o O Partido Liberal Democrata japonês resulta de fusões sucessivas,
passado? Com o devido respeito pelo que a história pode explicar e expli- mas a distribuição dos recursos não foi "fundid a": eles ainda vão para as
)
ca, ainda há uma maneira de buscar o tipo científico de explicação, ou se- unidades componentes originais e não para o pa,rtido como um todo. Isso
) ja, sugerir que nos voltemos para a ciência aplicada e, especificamente, ao ocorre ainda mais no Partido Socialista Japonés, que recebe seu maior
que chamo de engenharia política. 55 apoio dos sindic:itos, altamente fragmentados e descentralizados, isto é,
) Em relação à abordagem de qualquer ciência aplicada, a medicina é que giram em torno do nível de empresa e de fábrica. Em suma, os recur-
) a analogia óbvia. Os médicos não sabem a causa de muitas disfunções e en- sos de financiamento político no Japão fluem de maneira muito semelhan·
fermidades e mio obstante as curam. Admitindo-se que a cura mais segura te ao padrão geral da estrutura social japonesa, que se baseia em "ligações
) é a que elimina a causa, a terapia n:ro precisa reconstituir e trilhar o cami· pessoais" (kankei) de fami1ia, d e ocupação e de organizaça:o, que criam
) nho da gênese . Qualquer que seja a causa da dor de cabeça, tomamos uma conjuntos fortemente compartimentalizados. 58
aspirina. Qualquer que seja a razão do apendicite, temos recurso a uma O padrão de financiamento do partido italiano é totalmente diferen-
) apendicetomia. De acord·o com essa perspectiva - na realidade, a pers· te. Provavelmente a descontinuidade entre os partidos pré-fascistas e pós-
) pectiva de uma ciência apHcada que está em seus primórdios - , podemos fascistas foi maior do que a descontinuidade entre os partidos japoneses de
ser indiferentes aos fatores causais fmais e nos concentramos no como po·

..
antes e depois da guerra. Qualquer que seja a razão, os partidos italianos
) demos intervir, e onde, com suficiente êxito. Com isso, provavelmente só são os principais recipientes e coletores do dinheiro político. Parte destes
) atingiremos os fatores causais intervenientes ou mais superficiais. Não obs- vai, sem dúvida, diretamente para as frações;59 mas não em quantidade su-

.

)
)

)
tante, não só na prática, más também na teoria, tal realização n:ro seria des-
prezível. No caso em questão, minha sugestão é, portanto, a de que nos
voltemos para a estrutura de oportunidades, isto é, para o contexto geral
das recompensas e perdas, de vantagens e sanções, no qual os homens de
partido vivem e operam.
ficiente para custear organizações eleitorais dos candidatos que sejam exte-
riores ao partido. Nem as disposições eleitorais italianas justificam esse
tipo de política de investimento.
Seja como for, o tema de que estou tratando n~o é como a estrutura
de oportunidades dá forma ao sistema partidário, mas como modela os
. ) processos subpartidários. E um esclarecimento preliminar é necessário, em
• )
4.5 A estrutura de oportunidades relação à maneira pela qual a estrutura de oportunidades se relaciona com
a base dos recursos. Apesar de tanto as oportunidades como os recursos,
. ) A estrutura de oportunidades é importante, primeiro, para a forma do pró· em si, já constituírem categorias muito amplas, que indicam grandes grupos
prio sistema partidário. Como já vimos, os "partidos eleitorais" japoneses de variáveis, proponho-me are duzir o primeiro grupo a apenas uma "variá·
. ) são mais fracionados do que os italianos. Isso nao deve constituírSurpre: vel de oportunidade": o sistema eleitoral intrapartidário. Além disso -
~ sa· se examinarmos as respecúvas disposições eleitorais e financeiras. O sis· como meu subtítulo sugere - sujeitarei os recursos (especificamente, o di·
~
tema eleitoral japonês não é um sistema de distritos que elegem um repre· nheiro político) às oportunidades e formularei a suposição de que tais re-
) sentante apenas, nem um sistema de representação proporcional. É, desde cursos existem, embora em quantidades desconhecidas. A primeira redu-
.) 1947, um sistema distrital de muitos membros, caracterizado por pequenos ção, ou rour de force, será explicada ao longo desta seça:o. Mas devo expli·

•. ) colégios eleitorais que elegem de três a cinco representantes. S 6 O sistema


eleitoral italiano para a Câmara de Deputados é, cm lugar disso , um siste·
ma de lista, de representação altamente proporcional (dadas as proporções
car. agora, por que condiciono os recursos às oportunidades.
O desenvolvimento da política faz dela uma profissão de tempo in te·
gral (com salários) operando à base de agências especializadas em grande
)
•..)
:'
consideráveis dos colégios eleitorais), no quil o eleitor expressa ao mesmo
tempo uma preferência partidária e, dentro do partido, a preferência por
escala (com custos). A primeira vista, parece seguir·se que o dinheiro poli·
tico - que não é dinheiro para a "corrupção", mas simplesmente o neces·

ri
.; )


)
J• •••

l l~ fART/00$ E SISTEMAS PAR TI DÁRIOS


) O PARTIDO VISTO OE DENTRO !l9
s;írio p3ra cobrir os custos da: política - tem hoje uma prcdomin5nc1a
) m:iior do que n0 passado. Não obstante, gr:indes somas são investidas em No nivei do partido - tal como é expressl pt?b competição eleilO·
) emprcs3rios e empresas políticas que fracassam, e recursos escassos provo- r:tl interoartidária - temos a polfric:a vist"vel. Em nível subparti<lârio, te-
cam grandes acon1cc1mentos políticos. Embora o dinheiro político seja um mos a p~li'1ica inrisfrcl - relativamente falando. é claro. Segue-se que vá-
) segrcuo bem guardado, há uma conclusão constante em todos os estudos rios dos fatores que condicion:m1 o comportamt?nto visível, público, dos
) de grupos de interesse no mundo ocidental, ou seja, a de que o poder eco- políticos deixam de ser operativos quando passamos ao comportamentO
nômico e financeiro tem de se acomodar, de bom ou mau grado, à forma· intrapart idá rio_
) ção polltic::i que encontra. O dinheiro politico tem de haver-se com ce rt os Em primeiro lugar, a esfera visível da política caract~riza-se. en~~ora
)~ elementos que lhe são "dados" - os ambientes em que a iníluéncia pode em graus diferentes, pelo excesso de promessas. o que ~eL:a os pol n1cos
1 ocorrer (por exemplo, parlamento, burocracia, partidos) - e procur:ir ante os sérios e acrobáticos problemas de salvar as aparencias e manter a
) "acesso". Em suma, o dinheiro alimenta, e com isso influencia, uma deter- coerência. A política visível é profundamente condicionada, além disso.
minada estrutura de oportunidades. Mas o dinheiro raramente faz dessa pelas previsões das reações do eleitorado. Mas 3 política invisível se pode
)
estrutura o que ela é . Um melhor exame do assunto mostra, portanto, que processar sem pagar muito tributo a essas pre~cupações.. ~m seg~ndo lugar,
o crescimento da política de massas e da democracia provoca um decrés· os estatutos e as limit:ições legais têm, na estera da pollt1ca v1s1vel, um pe·
cimo, e não um aumento, do poqer do dinheiro. Acrescentemos que o so que desaparece quando a política se toma invisível. Como os partidos
)
político ocidental rnramente é, hoje em dia, alguém que usa a política se impõem regras em que tanto os seus ebboradores como aqueles a que
) como meio de conseguir riqueza. Não só ele é muito mais motivado pelo elas se destinam são em grande parte os mesmos, raramente os estatutos
poder do que pela riqueza, como também compreende que a propriedade partidários são respeitados além da medida em. qu~ is.~o inter~ssa ªº! p~r­
j não é poder e, mais precisamente, que seu poder não depende de sua rique· tidos interessados. Se a constituição de um pais dtz: Os partidos nao sao
') za. Além disso, o dinheiro de que o político precisa tem com freqüência permitidos", é difícil contorna.r essa deteimin::ição. Mas se o estatuto de
um baixo custo (para ele) pois perdeu sua raridade pré-industrial. Já n::ro é um partido diz "As facções são proibidas", es.~~ cl~usula pode ~ermanecer
o soberano que procura o dinheiro, mas este que busca o soberano . como um /laws voeis - palavras sem consequcnc1a. Em terceiro lugar, o
) Voltando ao nosso ponto, as finanças do partido não explicam por pressuposto de racionalidade não se equaciona bem com .ºs públicos de
que os sistemas partidários são corno são, nem sua variação no mundo. E só massa, isto é, com a arena visível da política, embora não seja absurdo pen-
J posso imaginar uma boa razão para que o dinheiro político seja dado às sub- sar-se que os políticos são "r3cionais", ou bastante racionais, no desempe·
) unidades parcidárias e não ao partido como uma unidade, qual seja, a de nho de seu próprio jogo invisível da política. .. . . .
que este último seja um investimento mais lucrativo do que as primeiras. Comparada com a política vis ível, portanto, a polttica mtraparuda-
ria é a polt"tica pura - sob dois aspec~os: é. mais sim?les e é mai~ ~ut.êntica.
~
Se as frações estiverem sob controle do partido, então não há muito a lu·
crar em se deixar de lado o controlador. A questão depende, portanto, da ~ mais simples no sentido de que mwtos fatores ex.ogenos e vanavets des~­
maneira pela qual o partido perde ou, inversamente, conquista o controle quilibradoras podem ser postos de lado: a política pura é feita de - e~ph·
) de suas frações. õO E isso me leva de volta à estrutura de oportunidades e, cada por - menos variáveis. É mais autêntica no sentido em que. Maquiavel
) especificamente. às disposições eleitorais intrapartidárias. O fato de que os descreveu a política: a política é apenas política. E essas premissas ~brem
sistemas eleitorais têm um impacto foi demonstrado vigorosamente por caminho à minha conclusão, ou seja, de que a estrutura de oportunidades
Duverger. A essência de suas conhecidas "leis" é a de que o sistema distrí· relacionada com o fracionismo pode ser reduzida a duas variáveis: estrutura
tal que só elege um representante reduz o número de partidos, ao passo organizacional e sistema eleitoral - e, em últim:i análise: ao segundo. . .
)
que a representação proporcional os multiplica. As leis de Duverger foram Os estatuto~~tid~io~contê~ grosso ma<10, yes e~m~l}~Os Q~tnc.!::_
) muito questionadas. 61 Admitindo-se que elas, tal como foram formuladas, pais: uma sé_rie de proibições, a e~trut_u~~ <::g~n.12ac1onal e. ?J d1spos1çõ:_s
não se aplicam ao sistema partidário e ao eleitorado em geral, ninguém in· · eleitorais. As proibições -p-odém -Ser iaciTamente ignoradas, a base da lup<:>:
) 'CriSiã'reeíprõca, e sua efêtTVidade é bastante incerta. A estrutura orgar:1~~­
dagou jamais se poderia aplicar-se aos pequenos eleitorados (como o dos
mc?.1bros do _partido) que operem cm arenas mais simples e menos "agita· c1orlãléü'meremento fümc, mas só se ocupa efetivamente do fracioni~!!l.?
<l:is . Prcsum1d:imentc, essa questão não foi levantada ·porque nã"o dedica· emumcaso, eesse- mesriiõ extremo: o "centralismo democrático", como
)' mos muita atenção às diferenças en tre os níveis de política do partido e Lenin-disse óc n1aneira amena. A organização do tipo comunista é, na ~r·
}. do subpartido. <lâdc unia ~strulura de centralismo 1•ertical. S,eu segredo é córtar as comu·
nicaç,ões horizontais, conservar apenas linhas de cornunic::ição ascendcnfcs
--- --- - -
. .· .. . - -
" . .~ ·-·· ~' ·; :~ ... ....
~

~ O PARTIDO VISTO OE DENTRO 121


~ 120 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS

~ J.:: decisão do seu voto , e tudo isso culmina, para o vencedor, em recom-
~ tlesccn<lcntes, especialmente as últimas. Nenhum partido democrático pensas concret:is e imediatas. . . . .
.J Não h~í exagero, portanto, em se afirmar que as d1spos1çoes ele1tora1s

,
foi capaz, ou mostrou desejo, de chegar a talponto. 62 Por outro lado, ou-
tros remédios organizacionais contra a proliferação de frações não são fá· intrapartidárias constituem, para o político que visa a uma ca~reira, oca·
J ccis J.: encontrar. Em última análise, ficamos com o sistema eleitoral. Apa· 1 /tu para c:ltegar aos cargos, ou o caminho para o sucesso. Afinal de con-
111 11
rcnt.:mente, não ficamos com muita coisa. Mas se a política invisível é feita t:is, a mancirn pela qual os vot-os s:lo contados e pesa~~s decide. quem ve~­
de rnc11os vuri:ivcis do que a política visível, isso significa que uma mesma c..: quem. IS§~ si12.nific~, cm prime iro lugar, .que a va.n~vel d-0 sistema ele1-
J vari:ívd não precisa ter - e na verd:ide é improvável que tenha - a mes- toral é muito mais poderosa nas questões intrapart1danas do que em ou-_
J ma impurtânda no nivel de partido e de subpartido. Isso é particularmente trás. Também significa que o sistema eleítoral é a parte mais viva da "cons-
certo cm relação às disposições de votação e eleitorais. .tjtüição viva" do partido: qua11do s~ trata de votar, os jog~s já e~~ão --~eitos
..J Vamos avaliar primeiro quais meios de votação e como as eleições e todos- os atores têm um interesse vital em que as regras sejam respe1~adas.
'~ são \'isto) pelo cidadão médio de uma formação política democrática. Em T~do isso equivale a dizer que o sistema eleitoral é, na. realidade, ~~ntral
circun!>tâncias nonnais, rotineiras, o cidadao médio n:ro dedica muito tem- à estruwm das oportunidades - tal como esta é percebida pelo rruhtante
.J po nem muita atenção às eleições. Não pode ser culpado por isso, já que o _ pois encerra recompensas ponderáveis (se bem explorado) e perdas seve-
.) eleitor normal tem apenas um voto eleitora/, e na-o decisório. Sua escolha ras (se mal explorado ou ignorado). .
nas urnas rcpresen ta apenas - e numa porção quase infinitesimal - a deci- Numa exposiçâ'o completa, a tese é a seguinte: ~cmpre que ~tido .
., ) ~ importante, ou seja, sempr.!. q_ue as ca::reiras políticas se de~em fazer atra-
s:Io tle quem na realidade tomará decisões para ele, ou em seu nome. Para o
~esoosistel1fâ' decarrêírãs do partido, então a variável cruc!al - em tod9s
r1 cidadão médio, portanto, o ato de votar, e a maneira pela qual ele é levado
a votar, é uma circunstância muito marginal. Se seu candidato é eleito e ospartidos de;nocráticos e independentemente dos países particulare~ -
J seu partido vence, sua satisfação principal é simbólica. Sem dúvida ele tam- ª·
é tlisposTÇão eleitoral interna..'._e~~:~e yorque a eleiçrro~representa._
.) bém pode esperar, da politica, vantagens materiais. Mas só um eleitor mui- dg põnto- dê Vista õõs ocupant~ de c~r~o~, o elemento centr:U_de sua estru.:
to ingênuo espera que a política ofereça "recompensas" rápidas e pessoal- tura de ~portunidades. Estãõ imPfícitas,_com iss~, d~as prev1~o~s ou expec-
)
mente, isto é, diretamente ao seu bolso. Por outro lado, e de qualquer mo- tãttvas@que_o,..g>m@rtamen to das ehtes part1d~na~ ~-=~ .u~a estra~
) do, se seu voto nã'o tiver resultado ou seu partido perder, isso dificilmente tégia dê~xploraçao máxim~ d?_si~tcmàeTelt~ral, ~~ ~uc_ ~1~a~­
constituirá uma tragédia para o cidadão médio, e pouco provavelmente pcnsatórias de rnaxünização de votos se mod1ficarãb com as mod1ficaçoes
) do~sisfema elêíiOrãl: - - - · --
afetará os problemas de sua vida cotidiana.
) Se nos voltarmos agora para o militante, para quem uma carreira po- Cóiif fclaÇão ao que já se conhece sobre os ef~i.tos (e n~o efeitos) dos
lítica é uma cscoU'l.a de vida, o caso será, evidentemente, muito diferente. sistemas eleitorais sobre o número de partidos, analise ao n1vel do su~par­
)
Em primeiro lugar, ele tem à sua disposição dois tipos de votos: o voto elei- tido leva à seguinte modifi.cação: ~~~te~el~~toraj_rr_a~_exp.l~qu~,
l toral e um voto decisório, um voto que na realidade contribui pâradeter- por si. a variaçtro entre dois e, d1~mos, entre dez _p_~r~1~os .: _nao se~a, em
) m~·r ãs decisõesrelãê'ionadaSCÕm progrãmãSeâi,retrizes. Atém disso, seus partiCU)ar. CaUS3 SUllCiente cJ.a_JID.llti_plÍCa_Ç1fO_g_e p::trtlO~Lele.Se tOTO:l ~:nª ...
votos eleitoral e decisório se reforçam mutuamente e pÔdem ser trocados ~Tente dil TIJllltiplicação de frações. ~.eva ressaltar qu.e nã"o digo
) entre si. Em segundo lugar, na vida pariidária a votação é muito freqüente. suficiente e necessária. Nem d:igo a causa Süflc1ente. Isso permite que ou-
Ou melhor, a atmosfera de votação - que inclui negociações sobre futuras tros fatores causais sejam igualmente importantes. Parece-me, na verdade,
) trocas de votos - constitui parte da vida cotidiana de um político de desta- que a ideologia também pode ser uma causa suficiente. Da me~ma forma,
. ') que. Em terceiro lugar, e finalmente, as satisfações resultantes desse conti· já indiquei que as disposiçoes eleitorais intrapartidárias só constituem un.rn
nuado processo de votação não são apenas simbólicas: são, para o vence- variável decisiva quando o politico não pode, como regra, contornar_o sis-
.'l dor, muito substanciais. Todas essas diferenças - com reiação à experiên- tPma de carreira do part ido. É claro que outras explic::ições causais sao li~·
) cia eleitoral do cidada:o comum - convergem para indicar que, para o mi- ccssárius para as for mações políticas menos estrutur::idas c m bases de parti·
litante que visa a urna carreira, o sistema eleitoral, isto é, a maneira pela th A ilustração óbvia, no caso, é o "facciosismo" norte-amencano, ~ue
) qual ele tem de votar e pela qual os votos são contados, é parte integrante se destaca como um caso cm ~i precisamente porque se fundamenta mullo
) do sistema de carreira: sua carreira depende, acima de tudo, de quantos m;iis n:is eleições prim:írias do que num rnrsus lw11or11111 dentro. do pa:·
votos partidários ele pode obter e controlar. Os votos que recebe determi· titlo. 63 Vou reformular, portanto, minha hipótese geral para torna-la mais
) nam seu poder; quanto maior esse poder, maior será o valor de mercado e
-~
")
~~
)
,,~'ã
)
""""
t;;
).
122 PARTIDOS E SISTEMAS PAR TIOÁR!OS
~
O PARTIDO VISTO OE DENTRO t 2J ~
) con1plda: embora os sistc111;c; deitor.ais sejam, cm si, uma causa suficiente Cl
do fracio~mo l11!rapq,rtidário, não êonstituem 0 fator causal único nem
)

)
n~:.:.cssàrio. Simples e praticamente. as leis de Duverger pod.:m estar erra·
d~s para os partidos e corretas para as fral(ões. M:is isso exige uma refor-
mul:1.,::ro ad Jtv,-. à qual passo agora.
Por outro lado, as frações estão em condições de c:ilcular suas forças: as
informações são, quanto a isso, quase perfeitas. Não é diflcil, portanto,
estabelecer alianças bem calculadas, p:ira fazer com q:.ie o prêmio mJJ1te-
nha a todos vivos e de forma dccence. Na verdade, esse processo pode tor-
••
)
)
fltiJ<)tc:.H! J. Um sistema eleitoral do tipo .. tudo ao vencedor", isto
é. um sistema ele: maioria, conterá e/ou reduzirá o número de frações, is-
nar-se ainda mais rigoroso. Por exe mpio, dois terços das cadeiras vau para
a chapa que obteve a maioria relativa, e o restante terço, para o segundo
colocado.6 s Mas, sob essa norma tão estrita, um sistema de pluralidade
••
)
)
to é, e.;rubili:ard ou estimulará a fusão. Supondo-se um contexto ideoló-
gico, .são prováveis as maxifraçõcs. Supondo-se um contexto n:Io-ideológi-
co (prngmático), um jogo mútuo dual entre maioria-minoria é provável.
é preferível por todas as razões. E, com rclaçao aos efeitos do sistema
de prêmio à maioria, n!Io é posslvel nenhuma lúpótese (previsão).
A cláusula da exclusão, ou Sperrk/1111sel, consiste em se estabelecer
••
)

)
fliµórese :!. Um tipo de sistema eleitoral altamente proporcíonal
(:i qu.:: tÍ\ilinilr6°rr1os de PR puro) permitirá um elevado grau de fracionismo,
isto tE, l.!stimular:í e produzirá a fragmentação. A despeito do contexto -
um limite mínimo à admissão à representaç:Io. Assim, enquanto o prêmio
à maioria visa estimular as maxifrações e recompensar a fraç!Io maior, a ••
••
cláusula de exclusão visa à eliminar as minifrações. Apesar dessa diferen-
seja iueológico ou pragmático - as maxifrações são improváveis e prováveis
) as frac,:ões de tamanho médio e as minifrações. ça, seria possível argumentar que se, o processo de prêmio pode ser facil-
ment'e contornado, o mesmo acontece com o de limite mínimo. No pri-
) As hipóteses 1 e 2 são, em grande parte, auto-explicativas pdo me·

••
meiro caso, é uma questão de estabelecer alianças eleitorais de tal modo
) nos a esta altura da argumentação. Elas prevêem casos extremos, e isso as que a aliança vitoriosa obtenha apenas um prêmio mínimo. No segundo,
coloca num terreno muito favorável ao seu bom sucesso . Mas muitas situa- basta que as minifrações se unam, mesmo passageiramente, na medida ne-
) ções do mundo real podcrã'o situar-se entre os sistemas de pluralidade e

•..
cessária à ultrapassagem do limite mínimo . Mas o paralelismo é enganoso.
) PR puro. Quantas dessas possibilidades intermediárias devemos focalizar? Entre outras coisas, a punição é muito diferente. No sistema de prêmio,
A pergunta n:Io é retórica, pois as possibilidades de cada caso elevam-se :i o preço pago pelos perdedores (e pelos erros de cálculo) é a sub-represen-
) números impression:intes. 64 Se lembrarmos, porém, que estamos obser· tação. No sistema de cláusula de exclusão, a penalidade é a n:ro-repre-
)
v:i.ndo a política pura, e especificamente e tipo de •·política autêntica"
imortaliLado pela descrição que Maquiavel faz da esperteza do político.
então nossa exploração nao exige grande detalhe. A conselho de Maquiavel
sentação - algo muito próximo da extinção. E isso <lá origem a todas as
outras diferenças.
A cláusula de exclusão cria, 1pso facto, duas classes de frações: as
••
poderíamos mesmo encerrar a questao dizendo que qualquer sistema que
fique aquém da solução do tipo tudo-ao-vencedor pode ser neutralizado e
contornado - na selva subpartidária - sem muita dificuldade. Mas isso
minifraçoes (definidas pelo nível de exclusão, isto é, as que ficam abaixo
dele) e as frações suficientes, definidas como as que não correm riscos
com o limite mínimo. Essas duas classes são acentuadamente desiguais.
••
seria uma exclusão demasiado ampla. Vamos imaginar, portanto, duas dis·
posições intermediárias - o premio à rn~ioria e a cláusula de exclusão.
O premio ã maioria consiste em dar um prêmio cm cadeiras ã lista
As minifrações só podem sobreviver encontrando aliados dispostos a sal-
vá-las. As frações suficientes n:ro sofrem dessa necessidade. Podem dis-
por-se a salvar as rninifrações, mas a negociação se deve fazer de acordo
••
(nesse caso, a fr:ição) que obteve maior votação. Nas questões intra par· com suas conveniências, n!Io havendo nenhuma razcro "racional" para que

..'
tídárias, porém, esse recurso evidencia uma grande debilidade: estimula uma fração suficiente salve uma rninifração, se esta n:ro pagar um preço
as alianças ncutrali7.auoras, contrabalançadoras. Ou seja, se o prêmio à e/ou reduzir suas exigências. Ao fim, portanto, as minifraçoes deixam de
maioria visa a punir, e com isso reduzir, a proliferação de frações, seu pro- ser compensadoras: seu tamanho n:ro traz vUJ1tagcns. Concebivclrnente,

)
pósito pode ser frustrado pelas alianças inte rfracionárias passageiras, que
deixam a fragmentação - tffo logo tcrmiJ1a a eleição do congresso do parti·
do -· exatamente como era. ~também fáci l compreender por que esse dis·
o fracionamento pode ser tal que nenhuma ali:inça desigual se torne ne-
cessária, no sentido de que as mini frações podem passar o limite mínimo
simplesmente unindo suas forças. Essa é, porém, apenas uma das muitas •.
pusit ivo estimula uma estra t~gia de alianças. Isso ocorre porque uma agre·
g:1~1i0 dcitorul mai0r do que o prêmio penalizaria, d.:: fato, o·vcnccdor.
Por c:-...:11\plo, si: :1 maioria de 51 <,~ dos votos tem direito a 65% d:is cadci·
distribuições possíveis. E a diferença no que está cm jogo também pode,
sob esse aspecto, ser importante. Se tomarmos um p:i<lrão altamen te fra-
cionário que é, ou pretende ser, motivado ideologicamente, então o jogo •.
ra-;, um result;1do de 75% para uma chapa daria um prêmio às minorias. de alianças deve levar em conta a aritmética d:i ideologia, is10 é, a conti-
güidade i.: a consonância ideológicas. Se está em jogo a super ou a sub-rc·
••

124 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS O PARTIDO VISTO DE DENTRO 12S

prescntaç::io - como no caso do prêmfo à maioria - até mesmo as alianças de sua força, nennuma fraçã-0 tem negado o acesso aos cargos e proventos.
pouco recomendáveis podem ser toleradas, em nome do interesse mútuo. O apetite aumenta com a comida, e novos bolos têm de ser criados ou to-
Mas se estiver em jogo a extinção do inimigo ideológico,.então essas alian- mados, sem cessar. Não há um fim previsível, portanto, no caminho da
ças seriam uma estupidez. Tomemos o exemplo de um limite mínimo de proliferação e da voracidade das frações do momento em que o processo
exclusão de 15%, oito frações, e a seguinte distribuição (da esquerda para ganha impulso.
a direita): 4, 8, 22, 20, 30, 6, 5 e 5. Na aritmética, as duas minifracões da O problema existe. Mas teremos realmente encontrado uma terapia
esquerda poderiam aliar-se às minifrações da direita . Na aritmética Íd.eoló- adequada? ~ claro que a chave da minha explicação - a de que o fracionis-
gica isso é difícil de realizar, mesmo em nível subpartidário, sendo mais mo responde a uma estrutura de oportunidades e é por ela causado - tem
provável que as três frações de direita corram juntas o risco de na-o atingir uma limitaçao inerente, fundamental: não se aplica por àefiniça-o a facçoes
1'
o limite mlnimo; isto é, numa coaliz.ão apenas suficiente para isso. Assim, do princípio de Hume, isto é., nem aos grupos de ideais nem - muito me-
não concordarei, nesse caso, com a advertência inspirada por Maquiavel e
correrei o risco de apresentar uma hipótese.
l nos, às frações ideológicas. Como esses grupos não são motivados pelo in-

Hipótese 3. Se PR for corrigido por uma cláusula de exclusão, o


l
!
teresse, são em grande parte iasensíveis às seduções e à falta de incenti-
vos. Por outro lado, esse hiato só representa uma limitação severa em
i
sistema fracionário provavelmente se estabilizará em frações de tamanho i
' relação às frações que são frações puras de princípio. A pureza é muito im-
médio, sendQ esse tamanho estabelecido pelo limite de suficiência. Por portante, pois qualquer "impureza" eventual se enquadra najurisdiç:l'o de
outro lado, é improvável que a cláusula de exclusão seja eficiente com li- f meu enfoque (como sugere implicitamente a Hipótese 1). Segue-se que a
~
mites abaixo do nível de 20%. 6 6 r
1 medida na qual a análise da estrutura de oportunidades se enquadra nas
A questão poderia ser - já que três de minhas hipóteses relacionam- ! evidências constitui um bom indicador das proporções em que princípios
se com a contenção ou a redução do fracionismo - se o número de fraçoes '
e ideologia constituem uma camuflagem, ou estão muito combinados com
realmente é importante. Sem entrarmos num debate, a ser realizado quan· conveniências e interesses. Observe-se, quanto a isso, que nao estamos lon-
do a mesma pergunta for levantada com relação ao número de partidos,67 ge das condições de experimentação com pequenos grupos. Os líderes par-
observarei simplesmente que o "jogo do veto" exige o multifracionisrno, tidários constituem um grupo pequeno e são, em geral, bastante estáveis.
ao passo que o bifracionismo conduz, geralmente, a um sistema de lideran- Não é raro, portanto, encontrar o mesmo núcleo de líderes operando em
ça e, por fim, à alternação da liderança. A diferença n<ro é pequena, es.pe· diferentes momentos em diferentes disposições eleitorrus, E isso nos su-
cialmentc se consideram1os que, uma ve7. iniciado, o jogo do veto tende a gere que as lúpóteses formuladas neste capítulo podem ser submetidas a
ir além dos limites máximos de segurança. Ainda assim, é razoável indagar testes adequados, embora imperfeitos. Como quer que seja, a limitação da
se valerá a pena impedir um processo de fissão que acabará por encontrar chave de minha explicação deve ser reconhecida. Uma maneira de levá-la
um ponto de parada fisiológico. A questão interessante é, então, até que em conta - mas também de submetê-la à prova - é sugerida na Hipótese 4.
ponto o fracionismo partidário pode chegar sozinho, sem peias. Hipótese 4. O número- de frações ideológicas está inversamente rela-
A suposição de que o fracionismo deve encontrar um fim natural cionado com o número de partidos; o número de frações de interesse não
pressupõe um jogo de soma constante. Mas o jogo parece ser de uma soma tem relação com o número de partidos.
variável. Se o bolo consistisse apenas de posições no ministério, poder-se-ia
então supor a existência de um teto - embora maleável. 6 8 O grande bolo A rar ionale da hipótese acima é a seguinte: dado que as fraçoes de
consiste, porém, das áreas sob "colonização" do partido, e, corno n:ro há princípio , especialmente as de ideologia, são - se puras - bastante insen-
nenhuma fronteira preestabelecida para o processo de coloniz:ição o·u a síveis às vantagens e desvantagens materiais, seu número provavelmente
fértil imaginação do homem para inventar cargos e proventos a serem con- será, num dado espectro ideológico, relativamente constante. Portanto, se
quist::idos ulteriorn1ente,a soma é realmente variável. O critério distributivo há partidos suf.icientes para acomodá-las, a divisão fracionária tenderá a
também é muito relevante na questão. Um sistema distributivo pode ser coincidir com a divisão partidfria: no limite, cada fraç:ro torna-se um par-
proporcional, isto é, os cargos e proventos são divididos em proporç:ro ao tillo. lnvers;imente. quanto maior a discrepância entre numerosas frações
tamanho e à força (incluindo com isso a posição de valor) das fraçoes. ideológicas e menos numerosos QS partidos, mais teremos partidos divididos
Esse limite pode, porém, ser supcr:ido por um crité rio llistributivo pC'r por frações. Vamos supor que n:ro há dados cm apoio à primeira parte da
capira: cargos e proventos são divididos nJo só em proporça-o, mas também hipótese . Assim, é a segunda parte da hipótese que se aplica. A dedução
per l'apira (nesse caso, por fração). Na prática isso significa que, a despeito é ;i seguinte: sempre que um padrão de n1ult ipartidarismo extremo é su-
O PARTI DO VISTO O E DENTRO 127
126 PARTIDOS E SISTEMAS PAR TIDÃRIOS
Lim primeiro indicado; poderi:i ser chamado o t'ndice de inconstân-
µ k me_n ~a clo emy ~vel s~bpart idário, pelo extremo f!aciona1!_1c11_!.o, a cred_i· cia. Pode mos con t:.lr quu.n tas vezes o l ider de um a fraç~ro mudou de posi-
Gilwa<lc <lo fracionismo rcteô!ógico diminui com o aumento do n.úmero u~ çao ao longo do espe.:: tro ideológico interno de seu partido. Na ve rdade,
fr;cõcs. Po; exe1riplõ.· os nún1eros italianos foram, em certo momento, urn político pode mudar de princ ípios e demonstrnr, com isso, grande lrn·
j ;;- ~>-it-o partidos com cerca de ~5 frações. 1: difícil acreditar, e mais difícil bil idade. Mas com que frequência, e com que coerência? Um alto índice de
Jt:mOHStrar, que h:i número suficiente de ideologias para manter esse total. manobras e contramanobras da d. ireita para a esquerda, e subseqüentemen·
Além disso. se examinarmos a distribuição real, cerca de 14 frações esta- te da esquerda para a direita, evidencia que tática prevalece sobre a ideolo-
vam lo..:alizadas em apenas dois partidos, que são os principais partidos go- gia e os princípios. Esse teste se pode repetir em relação aos membros de
\'crna111cs no perioJo pós-! 964: nove no Partido Democrata Cristão e cinco cada fração . Nesse caso teríamos um índice de longevidade - por oposição
no Partido Socialista. AinJa mais revelador, o crescendo fracionário socia- à friabilid ade - dos agrupamentos subpartidários. Além disso, uma distin-
lista coincidi!, em grande parte, com o acesso do partido aos cargos e pro- ção satisfatória entre estratégia e tática , aplicada, no decorrer do tempo, a
vc;itos do governo - tal como prevê a regra que se aplica às frações de uma sdeção adequada de questões poderia também proporcionar resul-
intc rcsse. tados significativos. 69 Finalment e, devemos considerar a divisão, de àmbi·
Pelo menos uma conclusão part:cc bastante razoável: nem todas as to nacional ou concentrada em uns poucos bolsões regionais ou locais (ba-
fraçõ.::s em questão devem sua existencia a um "credo". Se assim afirmam, sicamente onde reside seu chefo), de cada fração . A indicação é, no caso,
não se lhes pode tlar crédito. Por outro lado, isso na-o autoriza a conclusão que as frações de área única dificilmenw podem ser creditadas como de
de que todas as frações em questão se tornaram "corruptas" e portanto natureza ideológica. E embora as revelações de um único indicador possam
que devem ser todas reclassificadas como frações de interesse. Esse proble- ser questionadas, uma bateria d~ indicadores que indicam a mesma conclu·
ma pode ser evitado se a Hipótese 4 for desenvolvida e transformada na são representa uma prova adequada.
Hipótese 5. Vamos recapitular. Primeiro, nrro estou apresentando uma explicaçro
Jlipúrese 5. Se a estrutura de oportunidades recompensa as minifra- unicausal. Como minha argumentaç<Io aplica-se às frações de interesse ou
ções, o grau de fracionismo provavelmente será elevado, a despeito de se- suficientemente marcadas por in teresses, é claro que pelo menos um out ro
fator causal - princípios e ideologia - é pressuposto. Assim, o meu pro-
rem as frações ideológicas ou não.
blema é, implicitamente, até que ponto o fracionamento dos partidos per·
Não há nenhuma segunda intenção nessa hipótese. Sua rationale é tence ao processo de ideologização da política e até que ponto continua
simplesmente a de que, dado um número constante de frações ideológicas, sendo coisa muito antiga - as facções dos clássicos - e pertence, portanto,
uma estrutura de oportunidades que recompensa até mesmo as frações pelo menos em parte, às falhas da engenharia política.
muito pequenas aumentará, ou produzirá, um número excedente de fra- Segundo, minha argumen cação não pretende ser genética, no senti·
çfü:s d.; i11l.::resse. Por o utro lado, se não houver fracionismo ideológico, a do de que mro pretende alcançar, ou elimirn1r, as causas finais ou os deter·
regrn, isto é, o incentivo suposto, aplica-se igualmente bem. Isso nos coloca minantes profu ndos do fra.;ion ismo. Supõe-se com freqüência, que os de-
muito próximos da Hipótese 2, como se notará. A diferença é sobretudo terminantes profundos são descobertos por uma compreensão e exploraç<Io
de generalidade. Isso equivale a dizer que, enquanto a Hipótese 2 especifica sociolÓgicas da política. Com rdaç<Io ao fracionismo partidário, porém, a
a estrutura de oportunidade (PR), a Hipótese 5 deixa o sistema de incen- abordagem sócio-econômica não conseguiu, até agora, estabelecer nenhu-
tivos aberto a especificações futuras, que acabarão sendo feitas. ma correlação relevante, significativa, entre a origem social, as condições
Mas a distinção entre frações de princípio e de interesse deve s~r me· econômicas e ambientais, de um lado, e a configuraçrro real do mundo sub-
lhor desenvolvida. Teoricamente , e la é bastante clara, mas ficamos com o partidário, do outro. 70 Isso não é Je surpreender se adotarmos a opinião
problema de sua operacionalizaçao. Em especial qua11do se trat;i <le casos de que a poli'tica intra partidiria aproxima-se da polltica "pura". 71 De
mistos, a ques tão é, na verdade. se certas frações são ig11al111e111e, meio a qualquer modo, o problema é abordado aqui - como uissemos na premissa
meio, ao mesmo tempo de princípio e de interesse, ou mais de princípio - <lo ponto de vista da aplicaçrro, e precisamente da engenharia política.
do tiuc de interesse e vice-versa. Seria <lema:;iado ambicioso formular. com Essa abordagem bem nos pode deixar com uma ..:ausação aproximada e
relação a coisa tão mal definida como ideologia , uma pergunta direta. mesmo, talvez, superficial. Rejeita-se, porém, a regressão do tipo ovo-1.!-ga·
"quanto", ou s.::ja, desejarmos um a medida. Se, po rém, nus s:.itisfizermos linha. Além disso, oforccc um t.::stc cla ro : se uma intervenção proporciona
com 1m·1·a/ê11l'ius. então a in vestig::ição pode ser levada a<lia1'i te além dos ou n:To a reação prevista no comportamento.
sin tom:is mencionados até agora, com a ajuda de indi..:adore'i.
)

)
128 PARTIDOS E SIS7EMAS PARTIDÁRIOS
) O PARTIDO VISTO DE DENTRO 129
) Terceiro, embora eu reduza a estrutura de oportunidades ao sistema de enfrentar, ~credito, os problemas oriundos do interior sombrio da poli·
) (carreira) eleitoral, essa redução ·é compensada, ao que se espera, por uma ~ - sob uma condição essencial: que isso constitua -urna preocupaça:o,
ampliaç:Jo correspondente. A variável que tenho é podcros:i. A suposiç:ro e que mantenhamos um olhar vigilante sobre o ciclo interminável da ex-
) implícita é a de que a política visível e a política invisível são coisas bem tinção e renascimento das facções propriamente ditas.
) diferentes e. portanto, que nosso entendimcn10 muito ter:i a lucrar se os Na verdade, os partidos não podem, nem devem, ser monólitos. Tam-
níveis <lo partido e do subparti<lo forem analisados separadamente. O ar- ~ém se pode con~~d_ar ~m que _oJ:racionismo poss~ .!l..!!l~~tivCJ.
) gumento de que a política intra partidária já ni!'o é condicionada e compli- Sua aefesa-:-porém, quando adequada, deve-ser bem justificada. lsso dificí1-
) cada pelos fatores postos em jogo pela visibilidade poderia ser objeto de mcnte ocorre com o argumento de que o fracionismo é testemunho da
suspeiçITo, por ser demasiado propício ao meu objetivo, que é - reconheço vitalidade e da autenticidade da "democracia" intrapartidária.73 A demo-
) - chegar a uma variável bem identificável, fidedigna e bem adequada à cracia terá um futuro sombrio se a palavra for forçada e violentada a esse
comparação entre partidos em todo o mundo. Se for esse o caso, o pecado ponto. A~ocracia intrapartidária relacio_!l~com '!._maneira pela qual
)
11Jo ~ intencional e eu teria de reconhecer minha culpa. Não subscrevo a os membros se situam em funçaoãas elites partidárias. A mâgíca de ümã
) opinião de que nossos problemas devem ser definidos pelos dados básicos palavra dificiJmente pode regenerar a dura realidade do facciosismo - se
)
e dessa forma a eles confinados. se puder mostrar que isso é tudo.
Deixando de lado a retórica da democracia e as violências a ela feitas,
4.6 Do partido à facção há apenas uma justificativa que, pelo menos no caso italiano, parece plau-
} sível. Sua essência é a de que, dado um tipo imobilista de sistema partidá-
Estamos de volta ao ponto de partida. Tendo começado com as facções rio que leva a governos de coalizão imóveis, a "mudança" é buscada, e só
) pré-panido , chegamos, depois de uma longa viagem, às frações e facções pode ser obtida, por meio da dinâmica sub partidária e fracionista, passan-
) dentro do partido. É conveniente, a esta altura, avaliar a importância do pro- do por cima das linhas partidárias. 74 Por outro lado, o argumento pode
blema. A maioria das avaliações do fracionismo intrapartidário - pelo me- ser invertido, sem qualquer perda de plausibilidade, da seguinte maneira: os
nos nos três países nos quais ele é mais visível e melhor estudado - são gabinetes italianos estão paralisados não só pela dissonância, ou distância,
altamente críticas, em especial quando o observador é também participan· ideológica, entre os participantes da coalizão, mas também pelo agravante
)
te. O julgamento de Key sobre a política faccion:íria foi duro. O mesmo se de que cada partido está paralisado internamente pelo jogo de veto entre
) aplica à maioria dos obseNadores japoneses e italianos. Os próprios atores, suas facções. Evidentemente, a questão depende de se as evidências mos-
os políticos, subscrevem com freqüência <!._condel}ação áesüãs lutas iJlter· tram um jogo de veto "faccionai" ou uma dinâmica inovadora "fracioná-
) nas, o -que se confÍrniapdofãíO-de que os principais p_artidos, tanto ita- ria". Enquanto esperamos esse exame, voltamos ao ponto preliminar de
) li:mos cõiliõjaponeses, sofrem VIgorosapre;5ão de scys_associados iai:_a que que pouco podemos compreender e discutir enquanto perdurar a suposição

,'
sejam i:.e:íliiãdas reformas para reduztr a virulência faccionária. 72 Por outro de que o mundo dos partidos é todo igual, todo feito de uma mesma maté-
) ! lãdÕ, não é raro encontrar estudiosos que rejeitam o -problema, num espí· ria. O primeiro passo, portanto, é identificar a natu~eza diversa das frações
~
) rito de "é como deveria ser". Mas há um caminho entre o vitupério e a em relação aos seus estilos "conaturais" de comportamento.
i aquiescência - isto é, entre duas cegueiras. Como ocorre com os icebergs, só uma pequena parte da polfüca é
) f Em todo o registro da história, as fa~s surgem como o desespero visível acima da linha d'água. Minha argumentação se fundamenta, reco-
1
da política - pelo.inênos, dã polltícã "republicana":-Ecstranho, portanto, nheço, em muita obscuridade e em uns poucos icebergs. t possível, entre
) '
1
1 que quanto- mã.is exigimos da j)õliitca que prõporciõOe uma vida condigna, outras coisas, que ela seja exagerada, pois minhas generalizações são extraí-
) menos parecemos enfrentar sua eterna st,umbling block. Os_partidos, disse das de casos extremos e, acima de tudo, da experiência italiana. Por outro
) cu no início, superam as facções e são partidos precisamente na med.ida lado, é sabido que a política latino-americana é muito facciona!, havendo
cm que diferem dâs facçocs. Como eu põdcriâ-dizer-agora, os partidos de- boas razões para se supor que isso também ocorre com a maioria dos novos
) . vem à sua vj~ Lbilidad~-~~!jl!iYE~l imi~!_?cS_-9.l!Ç...Q.Llf)rnaiii ~fe~n .tes Estados. Quando outros icebergs se tomarem visíveis ou forem explorados,
} da_s_facções_. N_!? obstante, eles s~_ao~_fei_!.as de_subunidaje_s;_t_as poderemos descobrir, talvez, que as facções são mais relevantes do que
subunidades são em grande parte invisíveis. Mas se a civilizaçã'o ocidental suspeitamos até agora, também em muitos países insuspeitados .75 Quando
c.011sc&Qilíüii1a s~ao constitucional para-coiltcr o govemo aróitrârio do Duverger iniciou o estudo dos partidos, as primeiras palavras de seu prefá-
h~mcm sobre o homem, a engcnharíãpõll'ika também pode ter esperanças C'io reconheciam uma "contradição básica" e, na verdade, um círculo mais
)
)
)
)
lt
)

)
\ 3() PARTIDOS E SISTEMAS PART/DARIOS
>
)
ou menos vicioso: uma teoria gerai dos partidos exige informações prelimi-
) nares que, por sua vez, não podem ser obtidas, "enquanto não ho~er
um:i teoria geral". 76 O nível de análise subpartidá1io deve enfrentar, e atra- NOTAS
} vessar o mesmo círculo vicioso.

J
)
)
) 1. Samuel J. Eldersveld, Political Paníes: a Belraviorrzl Analysis, Rand McNally,
1964, p. 1. Embora seja o estudo de um exemplo individual da área metropo-
) litana de Detroit, tem grande valor teórico.
2. O próprio Eldersveld se ocupa extensivamente da reformulação da questão de
J Michels.
3. O 'enfoque organizacional é examinado no volume II.
) 4. Sobre minhas opiniões quanto à "liberdade em relaçã'o a valores", G. Sartori,
"Philosophy theory and science of politics", Politica/ Tl1eory, Il, 1974, pp. 151·
) 154. No caso em foco, "facção" dificilmente se pode tomar neutro pelofurt da
definição.
) 5. Huntington, Political Order in Cltanging Societies, op. cft., pp. 412-413.
6. Ver infra, notas 8 e 23, e 4.3.
7. Referimo-nos, em particular, ao índice de fracionamento desenvolvido por Dou-
glas Rae, a ser examinado infra, 9.5.
8. Richard Rose, "Parties, factioru and tendencies in Brit3.in", PS, fevereiro de
) 1964. p. 37.
9. lbid., p. 38.
) 10. Um exemplo geralmente vilido é C.J. Fricdrich, Constitutional Government
and Democracy, op. cit., p. 421, onde o autor encontra a característica mar·
) cante de um partido na "exigência de org:inização estável".
l L O exemplo exuemo parece ser o do Uruguai onde um (dúbio) sistema biparti-
dário é (ou era, até junho de 1972) apenas uma fachada eleitoral em relação 30$
fatores reais, isto é, os lemas e subl<!mas dos partidos Blanco e Colorado. Nesse
) caso, a realidade partidária é uma confederação, mais do que uma federação,
de suas frações. Ver, porém, infra, 4.4., l t:ilia e Japão.
) 12. As idéias de grupo de clientela e de estrutura <le clientela foi reforçada por vá-
rios estudos. Como aplicações específicas a certos países, vejam-se obras como:
) Joseph LaPalombara, lnterest Group:r in ltalian Politic:r, Princeton Univenity
) Press, 1964 (o título italiano é muito mais revelador: Clientela e Parentela,
Communità, 1967); Sidney Tarrow, Peasant Communism in Southern ltaty.
Yale University Press, 1967, particularmente pp. 68-8 l e passim; Keith R. Legg,
Politics in 1Worlern Greece, Stanford University Press, 1969; e Nobutaka lke,
) Japonese Politics, Patron-Ctient Democracy, Knopf, l 972. Não há razão pan
se limitar a política de clientela à fase de transíção do processo de moderniza-
) ção. Os laços en tre patrono e cliente se encontram, embora sob nome dife-
rente, nas "máquinas" dos Estados Unidos e no caciquismo espanhol e latino·
) amo.:ricano. Em geral, ver Eric Wolf, "Kinship, friendship and patron-client
rclations in complex societies", in The SocÍlll Anthropology of Complex Socie-
) ties, A.S.A. Monographs 4, Tavistock, 1966, pp. 1-22; Alex Weingrod, "Patrom,
)
111
)
)
132 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS NOTAS 133

patronage and política! parties", Compararive Srudies i11 Society and History, ju- cularmentc pp. 145·1 60; R.obert J. Jackson, Rebe/s and Whips: an Analysis _
lho de 1968 ·James C. Scott, ··corruption, machine politics and political changc", Dissension Discipline and Cohesion in British Política! Parties, St. Martin 's,
ÁPSR, dez.:~bro de 1969; John D. Powell, "Peasant society :rnd clientelist poli- 1968; P. Seycd, "Factionalism within the Conservative Party: the Monday Club"
t ic~". APSR, junho de 1970; James C. Scott, "Patron-clicnt politics and political GO, Outono de 1972.
cha ngc in Southeast Asia", APSR, março de 1972; R. Lcmarchand , K. Legg, 19. Supra, 2.3.
"PoliticaJ clientelism and development", CP, janeiro de 1972; Carl H. Landé, 20. O acréscimo mais recente a essa classificação imprópria foi feito por Michael
"Ne1works and groups in Southcast Asia: some observations on the group Leiserson, " Factions and coali tions in one-party Japan: an interpretation based
thcory o f polilics", APSR, março de 1973; Robert Kem (org.) , The Caciques, on the theory of games", ASPR, setembro de 1968. Embora o artigo na reali·
Unsvt:rsity of New Mexico Press, 1973 ; Luigi Graz1ano, "Patron-client relation- dade trate da teoria dos jogos, seu título é um exemplo ulterior e representativo
ships in Southern ltaly", E/PR, abril de 1973, e L Graziano (org.). Cliente/ismo da falta de signific:u;ão a que chegou a classe do unipartidarismo.
e Muramento Po/flico, Angcli, 1974. Essa crescente bibliografia é muito promis- 21. Isso aplica-se, na verdade, à democracia constitucional - uma condição preli-
sora, mas s,ua utilidade para meus objetivos é difícil de precisar, Em particular, minar, porém, de qualquer outr:i coisa que se entenda corno ""democracia subs-
"clientela" e "patronagem" devem ser distinguidos , part icularmente com respei- tantiva". Sobre essa opinião, ver meu artigo "Democracy", em lnternationa/
to ao tipo de partido que funciona reconendo à patronagem. Encyc/opedia of the Social Sciences, op. cit. Esse ponto pode ser reforçado cm
13. Minhas razões para construir um cóntínuo que vai da ideologia até o pragmatis- termos culturais. Dt: acordo com Da.niel J. Elazar, A merican Federalism: a View
mo são apresentadas em "ldeology, politics and bclicf systems", APSR, junho from rhe States, Crowcll, 1966, pp. 79-140, embora a tendência subcultura! do
de 1969. Ver também infra, 5.3. Essa dimensão é construída operacionalmente Sul seja, entre os brancos, .. tradicionalista", trata-se de uma subcultura política
por Kcnneth Janda, como "faccionarismo ideológico" versus "faccionarismo lock eana-li beral.
cm relação a questões concretas" (JCPP Variables and Coding Manual, op. cit., 22. Por exemplo. A R:inney e W. Kendall observam que "o sistema partidário do
pp. 159-161 a). Embora minha idéia de pragmatismo implique uma orientação Mississippi não é do mesmo tipo do sistema partidário soviético.. e comentam
voltada pa;a as questões· objetivas, - e com isso se aproxime da definição ope- que o uso do mesmo termo - unipartidarismo - para ambos "inevitavelmente
racional de Janda - prefiro, conceitualmente, abordar essa dimensão com tende (. ..) a identificar essas cois:l6 no espírito dos alunos" ( ..The Amcrican
referência ao seu pano-de-fundo cultural. party systcm' ', APSR, junho de 1964, p. 4 79). O argurnento é ainda mais forte
14. Ver G. Sartori, "From the sociology of politics to the political sociology", in hoje cm dia, com os bancos de dados e o processamento computarizado. Nunca
S.M. Lipset (org.) , Politics and the Social Sciences, Oxford University Prcss, 1 conseguiremos dar sentido à classe do partido único, se tivermos cerca de 25
1969, pp. 78-79. Ver também a análise feita infra, 10.3. l Estados da União misturados nessa categoria. Por outro lado, mesmo Ranncy e
IS. Meu ..faccionarismo personalista" é muito próximo do "faccionarismo de lide- i Kendall não levam sua observaçà.o à conclusão lógica, pois também eles acabam
rança" de Janda (Joc cit. pp. 161-163). A rotulação mais tradicional não signi- deixando dez Estados sob a rubrica unipartidária (p. 484).
fica que a capacidade de liderança esteja, na realidade, e~ causa. _ 23. Southem Politics in State and Nation, Knopf, 1960, p. 299. A análise de Key
16. Como a negociação, ou ·barganha, transforma uma coalizão de obstruçao numa 1 foi reapresentada de maneira concisa cm American State Politics: an /ntroduc-
coalizão vencedora é mostrado por Brian Barry, Political Argument, Routledge 1 tion, Knopf, 1956.
& Kegan Paul, 1965, pp. 245-249. Sobre as noções de coalizões de obstrução 24. Não depõe contra Key a observação de que sua compreensão teórica é inferior
e coalizôes vencedoras ver William H. Riker, The Theory of Política/ Coalitions, aos seus outros talentos. Seu principal problema de comparação - a compara·
Yale Universit y Press, 1962, pp. 103-104 e pasrim. Rikcr considera também a 1 çio dos sistemas norte-americanos unipartidário e bipartidário - é liquidado em
"C'oalizão perdedora", que pode ser assimilada aos grupos de pressão. duas linhas: "O problema a ssim formulado pressupõe que os sistemas uniparti -
17. !CCP Coding Manual, op. cit. p. 163. dá.rios são semelhantes, mas isso não acontece; e que os sistemas bipartidários
J8. A ordem das entradas reflete a magnitude dos dados disponíveis. Na realida- são se melhantes, mas não o são" (ibid.). A resposta poderia ser a de que as m :ís
de, a documentação sobre o terceiro país, o Japão, é insuficiente (pelo menos
para os que não falam japonês) e terei de referir-me a esse caso de maneira muito
1l cla~sificaçõcs precbam ser melhoradas.

1
25. A diferença é ressaltada supra, 2. 1. A questão é geralmente evitada em toda a
conjetural (adiante, nota 50). Depois do Japão , a índia seria o cand idato mais bibliografia, a começar (ma.is ou menos nas mesmas linhas de Key) com Alcxan-
prom issor na minha agendá, exceto pelo fato de que somente os começos do siste- dcr Heard, A Two-party Soi.Jth?, Uruvcrsity of North Carolina Press, 1952.
m a partidário indiano foram sistematicamente explicados ao nível de análise das 26. f. essa a diferença entre "formato" e .. mecânica" do bipartidarismo exposta
frações (Myron \Vciner, Party Policies in lndio - The De1•elopme11t of a Multi- infr.a, 6.4.
party System. Princeton Univers ity Press, 195 7). O resto dos dados são di:masiado 27. Infra, 6.5.
fragmentários (ver, por exemplo, Paul Brass, .. fac tionalism and lhe Congress 28. Ver Joseph A. Schlcsinger. "A tw o-dimens1ona l scheme for classifying States
Party in Uttar Pradesh", Asian.Survey, setembro de 1964; e Mary C. Garra,, accord ing to degree of mter·party compctition", APSR, dezembro de 1955 .
"Congrcss factionalism in Maharashua: a case studr", Asia Survey, ma io de Essa distril>Ui\·ão basei:1-se n o controle dos governos es taduais.
l 970l. No contexto europeu, ã parte a 1t:í lia, apenas a literatura sobre a ln- 29. A razão para :i ampliação da classe do bipart1darismo de molde a compreender
glat..:rrn permite, embora indiretamente, a exploraç5o do n ível subpartid:írio a compctitivilfade digna de crédito será clara, por motivos comparativos (infra,
cm suficiente detalhe. Ver (além de Rose, "Part ies, fr;ict ions an d tendencics in 6.4). Uma dcfiniç:io demasiado estre ita da competi tivitl adc (como a oferecida
Britain" loc. cit. ), S.E. finer, H.B. IJerrin gton e D.J. Bartholomew, Backbench pel;1 primeira classe de Schlesingcr) e liminaria, para começar, os Est ados Unido~
Opinion in the House ofCommons 1955-1959, Pcrgamon, J 961; P.G. Ric hards, lem n ível fede ra l) como um a formaç:io política bipartidária.
Honorable Members - a Study of British Backbenchers, Faber, 1963, parti· 30. Essa dist ribuiçílo é cxtr~ída dJ classilicaç5'o ele Schlesi ngc r, loc cit. Suas de·

,..
)
)
) lJ.t PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÃRIOS NOTAS 135

) composições são as segum tcs: (iJ Esiados compc1it1vos l 9), (n} ciclicamente in Loui,iana..._APSR, s~tembr o de 1~55. Deveriamos ressalt:u que iodas as mi-
c:ompet1t1vos (4), (iii) unip:i.ctidarismo cíclico (8). (ivJ predomu1ânc1a do um- nlu> Ob'.><!rvaçoc:s >C aph1:am J esd<? a cpoca cm que Key escreveu at.; meados da
) ~a!lldansmo ( 16), (v) uni partidarismo ( 11). Fundi as três primeiras e as du:i.~ d.!r.::ida.dc .1.96_?. Desde: <!ntJo. surg1ram novos padrões. Mas é hoje bastante claro
ulum:.c. ela.ses. Outra combmação possível daria os três padrões seguintes: (1) que o :Sul Ja nao const1tu1 uma reserva segur:i dos democratas: a competido está
.:omp~1i11vo, ( 13 falados), (ii) ciclicamente comp~tiuvos ou sen11comp.:1it1vo, surgmdo em csp..:c1al n:is eleições prcs1denc1:11s ( 1968 e 1972 bem se pode falar
<24 Estados); (1uJ predommância do unipamdammo (11 Estados). A raz:io de um "republicanismo pre~1denc1al" sulista).
) Golomb1ewski, loc. cit., p. 50!.
para a fu);io adotada no texto é a de enquad.r:u-se à defuuç:lo geral dos mtcmas 36.
) d.: parudo predom iz1an1e. 37. Lem bremos ~~e a ~mha classe "sem1compe11tiva" corresponde ao "uniparu-
31. .. 1'11e Amerit.:an party syscem", foc. cit., particularmente pp. 482-484. Os auto- dansmo mod111c;ido de Rann.:y e Kcndall, e ao "predomínio de um partido"
l res combinam os resultados eleitorais p:ua a presidência. para os governos esta- de Schle~mger. Key não tenta nenhuma generahzação, mas observa que ''tant~
duais e p:ua o Sepado, o que inev11avelmente tom:i sua estimativa diferente d:i na Cuohna do None como no Tennessee as facções d.:mocratas majoritárias
) esumativa de Schlesinger. Outras dúerenças devem-se. porém, aos esquemas de se unem em conseqüência da opos1ç:io dos republicanos" e que "l coesão da
class1ti1:ação e d\!finições c orrdatas. Co m relação aos l l Estados subcompetiti- facção majoritária nesses Estt1.dos indica a influência extraordinária até mesmo
vos, a únic:i discrepância é Oa.klahoma, que é "unipamdário modificado" para de um pequeno partido d.: oposição" (op. cit., p. JOO) .
Ranncy e KendalJ, e claramente "unipartidário" para Schlesinger. Califórnia, 38. So11thern Polítics, op. cir.. pp. 300-301.
llltnois, Michigan, Wisconsin, Montana, Missouri e Maryland são bipartidários 39. lbid. , pp. 302-3 l O. Um sumiiio dos r.:sultados, quanto a isso, encontra-se em
d.: at.:ordo com os cnténos de Ranney e Kendall, e com pn:domínio de um Fred 1. Greenste1n, The A nzerican Party System and the American People,
pa.rudo, cm Schlesmger. Como este último admite que suas classes de parti- Prcntice-Hall, 1963, pp. 57-<íO. Dawson e Robinson observam que o grau de
do predominante e de uni partidarismo cíclico sào "semelhantes" em termos da competição interpartidária não possui uma "significativa influência intervenien-
"d1mens:io geral da compet içào" tloc. cit., p. l. 125), mesmo no caso a tliscre- te entre os fatores sócio-econômicos e os progr:imas liberais de bem- estar social''
páncia substan ti va é de pouca importância. Mas as diferenças são muito subs- (loc. cit. ,. p. 289, nota 32). i\las essa não era a essênc ia real do arg umento de
tandais com relação à taxonomia proposta por R.T. Golombiewski, "A taxo- Ko::y. O mesmo apli1:a-sc ;ios resultados Je Thomas R. Oye, Politics, Economics
nom1c approach to State política! party strenght", WPQ, setembro de 1958, que a11d tire P11blic, Rand Mt:Nally, 1966, que são c m s i mesmos muito intcres~an­
dá 19 Estados b ipartidários, 13 "Estados com partidos minoritários fracos", e tes, mas não avaliam o pon to cen tra l de Kcy. O argumento é avaliado em geral,
14 Estados unipartidários (p. 501). Por outro lado, Avery Leiserson obtém exa- infra, 6.l.
t;imcntc a mesma distribuição de Ranncy e Kendall para o período 1933-1952: 40. P:ua uma :inálise geral das várias disposições de eleições primárias e seu impac-
26 Estados bipartidários competitivos ou ciclicamente competitivos e 22 Esta- to, ver Sara Volt erra, Sistemi Elettorali e Partiti in America, Giuffre, t 963,
dos com um partido predominante (Parties and Politics, Knopf, 1958, Apênd i- pp. 157-219.
CI! IV, p. 377). As decomposições de Leiserson são as seguintes: 10 Estados com- 41. Infra, 6.1, 6.2.
petitivos. 16 ciclicamente competitivos (8 para cada partido), 14 com predomi- 42. Para uma introdução, ver meu capítulo .. European política! parties: the case of
nância democra ta e 8 com predominância republicana. Com relação a Ranney e polarized pluralism", in LaPal ombara e Weincr (orgs.), Political Pareies and Po-
Kendall, a p nncipal diferença é que Leiserson combina as classes umpa.rt1dár1a litical Development. op. cit., parucularmcnte pp. 140-153 e, mais geralmente,
mod ificada e uni partidária no que ele chama de padrão dominante. Dante Gcrmir.o e Stefano PtUsigli, Govtrnmt:nt and Polirics of Contemporary
Para um exame das várias medidas da competição partidária, ver R.E. D:iwson e ltaly, Harper & Row. 1968, rop. 4 . Ver, porém, infra cap. 6 nota 45.
J.A. Robinson, " ln ter-pa.rty competition: economic vanables e Welfare poltc1es 43. A primeira exposição importante, em mglês, dessa evolução encontra-se em dois
in the American S tates", JP, II, 1963, particularmente pp. 270-278. Ver porém, artigos de Raphael Zariski, " T he 1talían Socialist Party: a case study in factional
com mais detalhes, infra, cap. 7, nota 3. confüct", A PSR, junho de 1 962, e " lntra-party conflict in a dominant party:
O partido solitário difere do unipartidarismo como uma evolução espontàne:i di- the .:xpericnce of ltalian Clu:isti:m Democncy", JP, l , 1965. Entre os estudos
fere de uma evolução imposta. Infra, cap. 6, nota 131. mais recentes em inglês, ver também A.J. S tem, S. Tarrow e M.F. Williams,
A ressalva é a de que uma aparência não-partidária pode apenas disfarçar um ali- "Factions and opinion groups in European mass pa.rties", CP, julho de 1971,
nl.1~men to que, na realid:ide, é partidário. De qualquer modo, a política aparu-
que, apesar de seu tí tulo, é exclusivamente sobre a Itália. Ver também Alan
dana é real, e está crescendo, em nível municipal, onde se m dúvida merece aten - Zuckerman, "Social structure and política! competition: the ltalian case", Tl'P,
ção especial. Ver a esse respeito particularmente Charles R. Adrian, "Some abnl de 1972, particularmente pp. 429432.
general cha.ractcristics o f nonpartisan elections", in O.P. Williams e C. Press 44. Essa contagem exclui o Partid o Co munista Italiano (PCIJ, cuja dinâmica intra-
(orgs.), Democracy in Urban America - Readings, Rand McNally, 1961. Ver pa.rtidária é, em grande parte, invisível, e não pode ser assimilada aos padrões
tamb~m ~.R. Adrian, "A ty pology for nonpartisan elections", WPQ, j unho de do> partidos não-comunistas. Sobre a fo rma pela qual a estrutura organizacional
l 959; e Eugcnc C. Lee, The Politics of Nonpartisanship, University of Ca!ifornia <lo PC! ini1u i so bre sua coesão, ver Giat.:o mo Sani, "Lc s trutt urc organizzativc
dei PC!", in VY.AA., L 'organizzazione partitica dei PC/ e dei/a DC, li Mulino,
Press, 1960. Sobre o Calio específico de Nebraska, ver Richard D. Marvel, "The
non.purt.mm ~c.b raska . unicameral", in Sam uel C. P.a tterso n (org.), Midwest 1968, particularmente pp. 167-l 96. ~ claro, também, que o termo italiano cor-
Leg1slartve Pol111 cs, lnst1tutc of Publíc Affairs, University of Iowa, 196 7. re111i é usado d.: maneira tão indiscriminada quanto os estud iosos norte-america-
Ver especialmen te o sumário de Key, no cap. 14 : "N:iture and conscqucnces of nos usam "facç:io". Os políticos italianos falam de suas frações como "correntes"
one-party . fact1onalism", pp. 293-31 1. Ver também o estudo monogr:ífico de precisamente para evitar as conotações negati vas, que são muito fortes em ita-
Al lan P. Smdler, "Btfactional riva!Iy as an alternative to two-party competition liano, da palavra "facção".
.,
...-- ~ : .

...• 136 PARTIDOS f SISTEMAS PARTIDÀRIOS


NOTAS 137

......
1 1
1
1

1
45. A da t;i de 1971 ê signifü:ativa, pois nesse :mo a DC rl!formou ~eu~ e~t:itutos com
a finalidade de cl;irada de reduzir o fracionismo interno. As nove frações em ques-
tão eram (11 lnizüirh'll Popolare (Rumor, Piccoli), 20·:: (1i) lmpegno Democra.
tico (Colombo, Andreotti), 15?!; (iil) Nuo1·e Cronache tFanfani, for13ni), 17%;
(ivl Tavia11ei (T:ivi:ini), 1 O'fr.; (v) Morotei (Moro), l 3'A·; \VI) Base (De Mi ta, Misasi),
olutio11 case'_', Asian .~ur:'ey, março ~e 1970; Michael Leiserson, "Coalition
govcrnmcnt m Japan , 111 S . Grocnnings, W.W.Kelley e M. Lciserson (orgs)
Th~ S111cly o/ Coaliriv11 Behavior, Holt, 1970. Sobre o fator cultural, que.
?'u1to .rckv;intc, ver .R.E. Ward, "Japan: the continuity of modernization"
111 Luc1en W. _Pye e Sidney Verba (orgs.), Pv/11ical Culture and Politica/ Dei•el:
J

......
1
i 11 7' ; (V11I Forze Nuove (Donat Ca11in), 7%; (viii) Forze libere (Sc:ilfaro), 4%; opment, Princeton University Prcss. 1965 ; Scott C. flanagan, 'The Japane~c
11xJ Nuova Sinistra (Sullo), 2%. As pcrcent:igens referem-se ao congresso da DC. 1
J
1 party syst~m in transi tion", <:_!'_. j:ineiso de 1971, pp. 238-24 7 (a teoria kankei)
Toda~ css:is ··correntes" estavam representadas no diretório do partido. e todas
• (exceto a última) tinham cargos no gabinete, no governo Colombo. A partir de .1 e B.M. R1chard~on, The Pol111cal Culture o/ Japan, University of C:tlifomia
Press, 1973. Ver também infra, eap. 6, nota 134.
1971. o número d~ frações da DC diminuiu, mas uma desintegração e multipli- 51. Parties and Politics in Ctmtcmporary Japan, op. cit. , PP- 94, 85. M. Leiserson
ca~·ão "pcrsonalist~" vem :iumentando. 1
~

......
l~va e~~ co~clusã_? mais. longe, a julgarmos pelo fato de que torna o multifac-
46. Com o passar dos.anos, o socialismo italiano sofreu muitas cisões e fusões, que

l
c1onar1smo pponcs equivalente a um sistema multipartidário (como se não
tomam difícil acompanhar as várias dcnomui:ições. O padrão geral foi, em subs- houvesse nisso um salto de unidade).
t5nci~. o de dois partidos socialistas: o PSI, cujo líder destacado foi Nenni e que 1 52. Luigi D'Amato, Correnti di partito o partito di correnti, op. cit., passim. Num
fala uma linguagem bastante marxista, representa a tradição socialista italiana trabalho subseqüente, L 'equilibro di un sistema di 'partiti di correnti' (Scienze
em geral e recolhe quase duas vezes mais votos do que o Partido Social Demo- Sociali, 1966), D'Amato deixa bem cl:iro que o partido é "feito de" correntes

......
crata; e o PartiJo Social Democrata (atualmente rebatízado de PSD!), que repre- e baseia suas conclusões muito rigorosas no primado das frações sobre o partido.
1 senta a tendência reformista. Pode-se dizer igualmente, porém, que o socialismo
it<1liano tem três espíritos: reformista, "rnaximalista" e revolucioná.rio. Durante
53. Isso .é confi~m~d~ pela experiência com a divisão de partidos, que (à parte o
dualismo fistolog1co entre um partido social-marxista e outro, social-democráti-
o período 1964-1972 esses três espíritos foram representados na prática por três
co) reri: um.a longa e pcrsist: nte história de fracassos. A importância eleitoral
partidos, sendo o terceiro o pró-comunista PSIUP (P:irtido Socialista l tali:mo da
do part1d<: e bem compreendida pelos membros da DC, a julgar pelo fato de que
Unidade Proletária), que chegou em 1968 a um máximo de quase 5% da votação
;..
'
n~sse parlldo nun.ca _h~uve uma cisão, apesar de sua ampla variedade de colora-
total, mas ent.rou ein colapso (e dissolveu-se pouco depois) nas eleições gerais de
çocs da esquerda a direita, e c.Je sua heterogeneidade. .
197 2. A principal fonte sobre o PSI é Antonio Landolfi, "Partíto Socialista
Italiano: strutture.organi dirigcnti, corrcnti", Tempi Moderni, V, 1968. 54. Essa intcrp:etaçã'o mais extrema foi apresentada, de maneira plaus{vel porém,
por Antonio Lombardo, "Dai proporzionalismo intra-partitico a1 frazionismo
47. Apucl Antonio Lmdolfi, //socialismo italiano, Lerici, 1968, p. 119. Como o etcrodirctto", RISP, 11 , 1972.
~ uso de "fração" por Nenni é marxista, essa afirmação siJ!nifica que as antigas 55. Ver, por exemplo, meu "Política! dev~lopment :ind política! engineering", ín
~
correntes se haviam transformado em algo inaceitável. Sobre o crescimento John D. Montgomery e Albert O. H.irschman (orgs.), Public Policy, XVlll,
do fracionismo, no PSI, ver particularmente Franco Cazzola, Carisma e demo- Harvard University Press, 1968, particularmente pp. 262-276.'
~ crazia nel socialismo italiano, Instituto Sturzo, 1967. Ver também Stern, Tarrow
e Williams, artigo citado supra (nota 43), que é principalmente sobre o Partido
56. O Japão partilha, com a Irlanda, a característica de ter os menores distritos elei·
t~rais de v.írios representantes, com a menor variação. O tamanho médio irlan-
~ Socialista.
48. Stern et ai., "Factions and opinion groups in Ewopean mass partics", toe. cit., 57.
des é de 3,7 representantes; o japonês, é de 4.
A impor.t~ncia do tamanho do distrito eleitoral é demonstrada por Douglas Rae,
~
........a p. 529. D.:ve ser claro que os autores menciona·m uma suposição da qual não
participam .
49. Ver Michclc Semini, Le co"enti nel partito, lst. Ed. Cisalpino, 1966, p. 47;
e Luigi D' Amato, Correnti di parlito o partito di correnti, Giuffre, 1964, p. 191.
The Polmcat. ~o~se~uenc~s of Elecroral Laws, Yale University Press, 1967 (e
1971 ). A media 1tahana e de 20 representantes por disuito, com alta variação
enue os distritos eleitorais. T ambém se deve notar que apenas 30% dos eleitores
dão voto prcfe1encial (principalmente no Sul, variando o percentual do Norte

....
~
50. Minhas fontes sobre o fracionismo no Japão são: Robert A. Scala pino e J. Masu-
mi, Parties and Polirics in Conremporary Japan , University of California Press,
1962, pp. 79-101, 169-174; Hans H. B:ierwald, "Faction:tl politics in Japan",
C11rrent Hisrory, abril de 1964; Lee W. Fansworth, "Challenges to factionalism
58.
entre 10 e 20%). Ver Luigi D' Amato,// voto di pre/erenza degli italiani (1946-
1963), Giuffre, 1964.
Ver Scalapino e Masumi, Parties and Politics in Japan, op. cit., pp. 86-101, e
particularmentt.: a teoria kankei de Fla.nagan (supra , nota 50).
on fopan ' s Liberal Democratic Party", Asian Survey, setembro de 1966; G.O .
...... Tottcn e T. Kaw:ikami, "The functions of factionalism in Japanese politics",
59. f interessante notar que isso ocorreu sobretudo com a fraçfa de esquerda "de
base" da DC, financiada pela empresa petrolffcra estatal de Mattci, como meio

..... Pacific Affairs, 1966, pp. 109-122; L.W. Farnsworth, "Social and political de conseguis uma polúica externa pro-árabe . Alguns dos deta lhes encontram-se

.......... r sourccs of political frugmentation in Japan", JP, li, 1967; S.D. Johnston, "A
comp;irotiv..: study of intraparty factionalism in lsrnc l and Jap:u1", JllPQ, li .
1967; A.J. Heidcnheimer e F.C. LangJon, Busi11ess Associarions and the Fina11·
ci11g of Polirical Parties: A Compararive $t11dy o[ the Evo/11tion of Pracrices in
Germa11y. Norway, a11d Japan , Nijhoff, 1968; Nathaniel B. Thaycr, How rhe
60.
cm Giorgio Galli e Paolo Facchi, lo sinistra democristiana, Feltrinelli, 1962.
Ver, contra, Giovanna Zinconc, "Accesso autonomo alie risore: Je detcrminanti
d~I frazionismo", RISP, I, 1972, cuja conclusão é a de que os caminhos e fa.
c1hdades de financiamento são o principal fa tor isolado. Embora minha pers-
pectiva..seja diferente, nllo se poderá negar que o dinheiro é uma condiçJo
..... Cons~ri·arives Rufe Japan, Princcton University Prcss, 1969, e seu artigo "Thc
clcc11on of a Japanesc prime minister", Asia11 Survey, julho de 1969; Chac-Gin
necc ss::u 1~.
61. As leis de Duvcrgcr e a qucshio geral são examinadas cm dl!lalhc no voL li.
...... Lcc, "F:1ction:il politics in the Japan Socialist P:irty: thc Chincsc Cultural Rcv· 62. Vale notar, qu;into a isso, que o partido ncofoscist:i italiano, o MSl , solucionou

......
......
\38 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIOAR I OS NOTAS IJ9

~u a lut:.i in terna imitanJo, sob virios a spe ctos, a org:in izaç:fo de tipo com un "ca. corre nte> são... um " ins trumen
. to _d e democraci a ". Esse res u ltado e v·d ·
1 enc1a, m:us
·
A s co i-il> se mo1.h ficaram desde que Du wrger teorizou {corre tame n te. :i .!poca d º . que q u:uq ucr o utta co1:,a, o ia t~ de qul! o p art ido está fragmentado em toda
c m q ue C>Crcvc u ) uma estrutura o rg:u u z acional d e tipo fascista carau~rís t ica. a lin ha . Ev1dc:nte me n1e. o s q ue pra11cam o fracion ismo devem ·ustifº ·-1
ó3. Isso qualilica .i minha afirmação (supra, 4.3) de que a~ " facções " sulhta s s..: 74. Ste ra no P:m1.g li • " Propo rzron
. ahsmo,
. 1 tca º·p · ? "
fraz ionismo e cri~• dei p ar titi · quid 0
si t uJrn aci ma d o partid o : aci ma, porque .:ento rnam :is lim1t:ições à c:urc1ra RJSP, 1972, .P: 1 3~. Ver, porém , p anicularmen te C.:rmino e Pa~sigli, J~v;; : 11
pa..rud áril; e :io mesmo te mpo, e las não es tão iora. nem prescindem do par t ido. ment a11J Polu!cs OJ Conremporary l taly, op. cit., pp . 127· I 32.
porq ue o eleitorado em ge r31 se identifica co m o rót ulo partidário. 15. ~u tras .:x•en~oes p oss íveis d ~ an álise .r~?cio n :ii são sugerid~ por Ralph w. Ni-
J 64. ls">o se pode concluu facilmente de qualquer exposição sobre a variedade de sis· 1.:ho las, Fact1ons: a comparat1ve a n alysts . Poluical Systems and tlte distribution
) te rnas c k i1orai> ex iste ntes {para não falarmos d os imaginados e pro pos tos). of po~ver, A.S.A. Mo n~graphs 2. Tavis tock , 1965. O auto r, porém, aborda a
Um bo m exame geral é o de W.J.M. Mackenz ie, Free Elections, Allen & Unwin , ~ues ta? d.o p onto de mta d a antropologia social. Norman K. Nicholson, em
19 58. T he 1ac 11onal model and the srudy of polit ics" (CPS outubro de 1972) _
fi · . • , con
65 . Eü..: sis tema é conhecido na Argentina, ond( predominou até 1963 como s iste· ':"~a, na mm 1ia lettui:a, que embora a te oria geral seja mwto procwada, ela
ma Saenz Pena, e geralmente é classificado como um "sistema de lista incomple· d1hc1.lme~te_ pode surgu de um atoleiro conceitua.! reforçado por um ecletismo
ta". Em es>~ncia, é um sistema de duplo prêmio que degola, num padrão multi· mult1d1sc1phnar. É digno de nota que Nicholson identific:i três modelo · e·t _
) · {f · · s s ru
p:irt id:irio, todos os terceiros partidos. tur~s acc.~onar~sm.? de aldeia, policomunal .e ~ierárquico), nenhum dos quais
66. A análise no texto é puramente especulativa. A DC italiana usou primeiro ore· expLica as ~acçoes tal .como !!atadas na bibliografia histórica (supra, 1.1) e
) co~o subunidade especifica de qualquer partido toda e qualquer formação
ct:rso do prêmio, depois o PR (adotado em setembro de 1964), e ainda (cm
S<; (c.: mbro de 1971), a Sperrk/ausel {mas apenas com um limite de 10/ 15%), que poht1ca.
1 76. Political Parties, op. cit. (trad. North), p. xiii.
foi abandonada um ano depois. Para alguns dos detalhes concretos, ver G. Sa.rto-
1 ri, "Proporzionalismo, frazionismo e crisi dei partiti", RISP, III, 1971, parti·
r:u :: umc~c pp. 646·65 l.
) 67. ir .. >·1, cap·•. 5. Embora a questão não seja a mesma nos dois nlveis, ainda ass im os
t: :!nO~ dó debate sobre o número de pa.rcidos pode ser adaptado também ao
) ::i ··•!I fr:.idonirio .
ó i. • ' ';ovemos italianos atingiram o tamanho respeitável de cerca d.: 25 ministros.
rn · i; cerca de 60 subsecretários de Estado. Significativamente, e apesar dos cs-
(, ,, ;os em conu:írio, os gabinetes monopartidários italianos continuam igual·
ni.:11tc pictóricos. ·
69. E·;::n sugéstão relaciona-se com a codificação de fanda, supra, nota 13.
) 70. Ver Alberto Spre:úico e Franco Cazzola, "Correnti di partito e proccssi di idcn·
tifo.:;izionc", II Politico, IV, 1970; e especialmente o prosseguimento dado a esse

•'
J es t •J do por Stern, Tarrow e Williams, "Factions and opinion groups in Euro pe:m
) m;,:;;s parties", loc. cit., que é basicamente uma pesquisa sobre o PSI, dest inada

)
)
a explical' suas frações segundo linhas sócio~conômicas. Embora os dados dessa
pesq uisa •não possam ser considendos suficientes - relacionam~e com um parti·
tido. cm apenas um país - ainda assim são altamente indic:1tivos, pois o Putido
Socialistitl lt:lliano representa, do pônto de vista de uma sociologia da política,
••
um caso ótimo.
) 71. Isso não significa que a sociologia da política disponha de um alto poder de ex·
plicação ao nível de análise de partidos. Argumento no sentido contrário em '
)
)
"From the sociology of politics to political sociology", in Lipset (org.). Politics
anc.J t lte Social Sciences. op. cit.
l
l '•
••
72. Em 1963 um relatório do Partido Liberal Democrático japonês rc'comendou um
t
) conjunto de provisões para acabar com as frações (ver Baerwatd, "Factional

)
poli t ics in Jap::in ", loc. cit., pp. 226-227; e Famswonh, "Chall<!nges to faction·
aLism on Jap:uú Liberal Democratic Pa.rty", loc. cit., pp. 502-505). Não houve l
)
)
ma.ior..:s conseqüências. Na Itália, porém, a DC adotou em 197 1 uma cláusu la
ele exclu são, embora os interesses existentes conseguissem, em 1972, a sua rcvo·
gaç:Io (supra, nota 66).
73. t uma justificativa muito freqüente, e Samuel H. Barnes (Parry Democracy : 1
••
Politics in a11 ltalia11 Socialist Federation, op. cit., p. 181) relata que mais de
90'.:~ de seu grupo de membros do PSI concordou com a afirmação de que a.~

J ••
)
)
)
I
-•
11
1
l'

Parte II

OS SISTEMAS PARTIDÁRIOS
V
O CRITÉRIO NUMÉR ICO*

5.1 O problema

Há .mais de 100 Estados que apresentam, pelo menos no papel, alguma


forma de estruturaça:o partidária. 1 A variedade dessas estruturaçoes é t3:o
impressionante quanto seu número. Como colocar ordem nesse labirinto?
D~l)J_fLl1!uit~ ~mpo os sistemas partidários foram classificad~3!J.g9- 4
s~~~~~artidqs - ~m.,_do~ ou fT13.lS de duir.Hõje, porém, há
uma concoidáncía quase unânime quanto a que a dístinça:o entre sistemas 4
unipartidário, bipartidário e multipartidário é muito inadequada. E até t
J mesmo quanto a que "um critério baseado no número de grandes partidos
) ( ...) obscurece mais do que esclarece" .1
Uma reação à abordagem que conta os partidos é simplesmente

) t
~l

)
deixar de lado a base numérica, precisamente "na suposiça:o de que a dis-
tinção tradicional entre os padroes bipartidários e multipartidários na:o
levou a descobertas suficientemente. significativas". Assim~ LaPalombara. ••
,.

e. Weiner!propõem - para os sistemas partidários competitivos - a seguinte
) tiQõlOgia em quatro it~O:Ríeõfógico-hegemomco, (üJ prãgmáticQ-h~- ·
)
gemônico, (fíi}de roãfüo ideológico, (lv}derooíZ.io~ragmático.3 O es:
qüema êall1lrmmteSügeshvo, mas ãemasiado amplo. Outra reação é a de •
)

)
)
)
deixar que os dados - em especial os resultados eleitorais - determinem

por exemplo, de Blondel.4 Uma terceira reaçao é indagar se precisamos


.e
as classes, isto é, os diferentes grupos de sistemas partidários . a sugestão,

realmente de classes, isto é, se há qualquer utilidade em classificar os sis-


temas partidários. o argumento é, no caso, o de que nosso universo é con-
...,..,
i. .

)
tínuo e, portanto, tudo aquilo de que precisamos é um índice de fragmenta-
,.,,
,-_.
rfll/i:
• Partes dos capítulos 5, 6 e 7 foram publicadas com o título "Typology. of party
) systems - proposals for improvement", in Stein Rokkan, Erik Allardt (orgs.), Mass
Po/itics: Studies in Po/itical SocioJogy, Free Ptess, 1970. A diferença enue a forma
) anterior, resumida, e a atual, é também de substância. Os capítulos 5 e 6 bcnefi\~·
ram-se muito dos conselhos de Hans Daalder. Embora eu seja o responsável pelos

---
) meus próprios erros, devo-lhe muitos aperfeiçoamentos.
·~
143

}
)
PAR.TIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS O CRITÉRIO NUMÉRICO 145

çJo, ou de fracionarização, ou de dispersão linear etc. Essas sugestões sera:o isso, damos um pulo para o infinito, isto é, abrimos miro totalmente da
examinadas no devido momento. 5 Presentemente, vamos apenas notar que contagem. Tendo sido incapazes de determinar quando dois é dois, cobri-
quase todos os autores apresentam um esquema próprio.6 São hoje nume- mos todo o resto, exaustos, dizendo apenas mais-de-dois. Não é de es-
rosas as classificações e tipologias dos sistemas partidários, e "a confusão pantar, portanto, que a abordagem pelo número de partidos leve à frustra-
e profusão de termos parece ser a norma" .7 çao. Não só essas três classes são insuficientes, como, tal como se situam,
Ao que tudo indica, portanto, estamos entrando num círculo vicio- não distinguem os casos.
so. De um lado, estamos na iminência de nos afogarmos num embarras As coisas estão, portanto, no seguinte pé: rejeitamos o critério nu-
de ncltesse. Do outro, essa proliferação mostra que o universo dos sistemas mérico de classificação antes de termos aprendido como usá-lo. E há mui-
partidários precisa, muito e cada vez mais, de ser mapeado. Isso, porém, tas razões, acredito, para lhe darmos uma nova oportunidade. Entre outras
parece exigir novos acréscimos à "profusão e confus:ro". O mal menor coisas, o número de partidos é um elemento altamente visível, que propor-
talvez seja voltarmos atrás e examinarmos a questão desde o início. Terá ciona pontos de corte "naturais" e reflete os termos da política do mundo
havido alguma coisa de fundamentalmente errada com o início, ou nos real. Assim - a despeito dos indicadores que escolhamos - os políticos e
teremos perdido nalgum ponto do caminho? Não é claro, na verdade, onde· os eleitores vao, do mesmo jeíto, continuar a lutar por, e a discutir sobre,
estamos, nessa questão. Estaremos dizendo que o número de partidos n:ro um maior ou menor número de partidos, e se o número dos partidos deve
é importante? Ou, em lugar disso, que nossas classificaçoes deixam de dis- ser aumentado ou reduzido . Por outro lado, na'o nos esqueçamos de que
tinguir e organizar esses números? os partidos são o coagulante, ou as unidades de coagulaç:ro, de todas as
À primeira pergunta eu responderia que o número de partidos é im- nossas medidas. Afinal de contas, o núm ero de votos e de cadeiras que
portante. Entre outras coisas, esse número indica, imediatamente, embora cada partido conquista nas eleições sa-o os nossos melhores e mais seguros
imperfeit.ainente, um aspecto importante do sistema político: as propor- dados básicos.
ções em que o poder político é fragmentado ou ngo, disperso ou concen- À luz disso, proponho-me a começar a trabalhar sobre as regras de
trado. Da mesma forma, simplesmente sabendo-se quantos partidos há, contagem e explorar, com a sua ajuda, a quilometragem proporcionada por
somos alertados para o número de possíveis "correntes de interação" em uma classificaçiio baseada no número de partidos. Como se. verá, o critério
questão. Como Gunnar Sjõblom observa, dois partidos pennitem apenas numérico pode ser usado com eficiência. Por outro lado, também se verá
uma corrente de interaç:ro recíproca, três partidos permitem três dessas que esse uso eficiente n:ro se faz sem assistência. De início, e por algum
correntes, quatro partidos possibilitam seis, cinco partidos dez, seis parti- tempo, será justo dizer que embora nao sendo a única, o critério numérico
dos, IS, e sete partidos, 21.8 Como todas essas correntes de interaçao continua sendo a variável primária. Chega-se, porém, a um ponto em que a
possíveis ocorrem em múltiplos níveis - eleitoral, parlamentar e governa- contagem pura e simples já nos falha.
mental - a indicaçao clara é a de que, quanto maior o número de partidos
(que têm influência), maior a complexidade e, provavelmente, a complica-
ção do sistema. Por exemplo, do ponto de vista dos eleitores, uma com- 5.2 Regras de contagem
paração dos programas de dois partidos representa, para oito partidos,
28 comparações, p~ra nove partidos, 36 comparações, e, para dez partidos, Em resumo, o problema é: qJJ~ os partidos relevantes? Não podemos
45 comparações. Além disso, e em particular, a tática da competiç:ro e de contar todos os partidos pela sua aparência. Nem podemos solucionar o
oposição partidárias parece relacionar-se com o número de partidos, o que, problema contando-os em ordem de força decrescente. É certo que o nú-
por sua vez, tem importante influência sobre a maneira pela qual as coa- mero tem relaçao com a força. '*- questão continua sendo qual a força.
lizões governamentais são formadas e capazes de agir. gu~ torna um partido relevante, e ·qual a fraqueza que o torna llrelevanfê·i
Em suma, a questão real não é se o número de partidos é impor- A• falta de uma melhor soluç:ro, estabelecemos geralmente umlimite abai-
tante - ele é - mas se o critério numérico de classificação nos permite xo do qual o partido deixa de ser levado em conta. Mas isso n:ro constitui
deitar mão no que realmente importa. Até agora, a resposta é, claramente, soluçiro, pois n:ro há nenhum metro absoluto para avaliar a relevãncia do
não. E a razão preliminar é igualmente clara: nenhum sistema contábil tamanho. Se esse limite é estabelecido - como ocorre com freqüência -
pode operar sem regras de contagem. Se recorrermos à contagem, devemos ao nível de 5%, leva a omissões sérias.9 Por.outro lado, quanto mais baixo
saber como contar. Mas somos incapazes até mesmo de decidir quando um for tal limite, maiores as possibi !idades de serem incluídos partidos irrele-
"é um e quando dois é dois - se um sistema é ou na-o bipartidário. Com · vantes. A relevância de um partido é um a funçao n:ro só da distribuiçao

t~· &..~~~
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146
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P.4RTIOOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS O CRITêRIO NUMtRICO 147
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_;.t!ativa_ do pod_er ~m~ .! ?b~o :::-!.1:1ªs_rambém, e especialmen te, de seu. l!m. p3 rtido menor pode ser exclu (do como irrelevan-
'
)
valor de posição, isto é, de seu IJOSicioname nto ao longo da dimensão te sempre que continua, no decorrer do tempo, sendo supérfluo, no sen-

r.,~._o-.
) se
~Ücr(fa'=<Ii!eic~.._Assim, um partidÕ qU°e sicua no nivêl de 10% pode ser Tido d~ não ser nunca necessário a ou integrado em qualquer coalizãg
bem menos importante do que outro, que obcenha apenas um nível de "majoritária passivei. Inversamente, um partido menor deve ser levado ..

....
3%. Um c:iso extremo, mas eloqüente, é o Partido Republicano It:iliano, ·e@ con~a, por menor que seja, se,.~stiver em posição de determinar,;;~ ~~

o tempo e em cerfo- momento, ~fo m-enos umãõasmãíoriãs governamen·


~
) cujos rcsult:idos eleitorais estiveram, por cerca de 25 anos, em torno de
) 2%. Não obstante, ele é sem dúvida relevante, pois fez pender a balança, -t:iis posSTveis. -- - - - tra
em todo aquele período, de várias maiorias governamem:iis. - Essa regra tem uma limitaçã'o, pois só se aplica aos partidos que

.•..
Evidentemente, se o problema tem soluçao, esta está na fixaça:o de buscam o governo e, ainda mais, que sejam ideologicamente aceitáveis para
l regras de acordo com as quais o partido deve ser incluído ou na:o. Na ver· os outros participantes da coalizã'o . Isso pode deLxar de fora alguns parti-
d:idc o que precisamos é estabelecer um critério de irrelevância em relaç:ro dos relativamente grandes, de oposição permanente, tais como os partidos
) contrários ao sistema. Portanto, nosso critério de irrelevância deve ser
:ios p:l.Itidos menores. Mas como a grandeza ou a pequenez de um partido
é medida pela sua força, vamos examinar primeiro essa noça:o. suplementado - residualmente, ou em circunstâncias particulares - por

..
um "critério de relevância". A pergunta pode ser refonnulada da seguinte
ê força de um partido é, em primeiro lug'!!,, a sua forç_a eleitoral. . maneira: que tamanho, ou grandeza, toma um partido relevante, a despeito
Há outros :i.spectos, mas enquanto adotannos o critério numérico, a base
de seu potencial de coalizão? Na Itália e na França vemos, por exemplo,
nos é dada por essa medida. Mas os votos. são traduzidos em cadeiras, e

...
partidos comunistas que obtêm um quarto, e mesmo até um terço, do
) i~~~~~ à força do partido no parlamento. Pãra evitar complicações total de votos, mas cujo potencial de coalizã'o governamental foi, nos últi-
de$necess~nas, podemos fixar-nos em sua "força em cadeiras" no parla-
) mos 25 anos, praticamente zero . Não obstante , seria um absurdo excluí-:
n1'l\\O ~-que é, em última análise, o que realmente importa, uma vez ter·

...
los. Somos, assim, levados a formular uma segunda regra de contagem sub·
) mi 1iadaNts eleir;ões. E, ainda para simplificar, maS também por causa da
sidiária, baseada no poder de intimidação, ou mais exatamente, no poten·
comparabilidade - será suficiente referirmo·nos, nos sistemas de duas casas
eia/ de cha agem 1L dos partidos voltados para a oposição.
e\, cong,resso, às cadeiras na câmara baixa, desde que a outra câmara na'o

....
i ~:1ha màiotiás diferentes . ~ possível, então, começar com a medida seguin- Regra 2. • Um partido tem condições de relevância sempre que sua
t.:: :\ f9rça ~ partido no parlamento, tal como indicada pela sua percenta- ~xistênc1a, ou aPãrênc1a, reflete a tática da competiça-o partidária e parti:
) - g~: n de cadeiras na câmara Oãi:Xa:. cularmente quando mOdifica a direção da competição - determlnando

..,.
"!!!!ª transterência da competição c~íEStª-P&ª a centrífuga, seja para
) A etapa seguinte é transferir a a tenção para o partido como instru· a esquerda, para a d1Ieita, ou em ambas as direções - óospã{t1dõSvoltados
m'!nto de--govemo. Essa transferência tem pouco interesse no que se rela· para o governo. -- ; , - - - -·
ciona com os sistemas bipartidários, mas quanto mais numerosos os par·
tidos, mais ®vemos indagar quanto ao potencial de governo, ou potencial Em suma _podemos excluir os partidos que não tên(@EQtencial de
de coalizão, -de cada partido. O que realmente pesa na balança do multi· coalizão, ou (ii)'.J?otencial de chantagem. Inversamente, devemos incluir
partidarismo é a proporçao em que um partido pode ser necessário para
uma coalizio, para uma ou mais das possíveis maiorias governamentais.
todos os part'tfü5s que tenham relevância governamental na arena da for-
mação de coalizões, ou relevância competitiva na arena da oposição.
,.,.
..
Um partido pode ser pequeno, mas ter um forte potencial de negociação Essas regras podem parecer desnecessariamente complicadas e, de
numa coalitZo. Inversamente, ele pode ser forte e não dispor dessa ca· qualquer modo, difíceis de serem operacionalizadas. Suas bases operado·
)
pacidade. A questão, então, é se uma estimativa realista do potencial de nais serão examinadas mais adiante. 12 No momento, basta-nos observar,

..
coalizão de cada partido pode ser feita exclusivamente à base de sua força. para começar, que ambos os critérios são usados como uma pós·visão, pois
) Evidentemente, a resposta é não, pois esse critério nos levaria a considerar não há utilidade em usá·los como uma previsão. Com relação à Regra 1,
todas as maiorias numéricas possíveis, quando estamos interessados nas isso significa que as "coalizões exeqüíveis", e, portanto, os partidos que
)
coalizões euqiic"veis, quer dizer, apenas nas coalizões que slio ideologica· têm um potencial de coalizão, coincidem na prática com os partidos que
mente coerente·s e permissíveis. 10 Portanto, a regra para se decidir - numa de fato participaram, em algum momento, em governos de coalizão e/ou


situaçlio multipillrtidária - quando um partido-deve, ou não, ser levado em deram a certos govemo.s o apoio de que estes n-ecessitavam para assumir
)
conta, é a stguinte: · o poder, para ou nele permanecerem. Na maioria dos casos, portanto, a
)
~
)
) •
~
J.j 8 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS O CRtTi:R10 NUMfR/CO 149

regra é facilmente aplicável, desde que, é claro, disponJrn mos da informa- sozinho e por muito tempo, da maioria absoluta (de cadeiras). Isto é, a
ção muito simples que ela exige. contagem inteligente é tudo o que precisamos para separar - apenas ven-
Quanto à Regra 2, a objeção poderia ser a de que a direção da com- do - a distribuição na qual um partido " conta mais" do que todos os ou-
petição não é fácil de ser avaliada. Teoricamen te, isso pode ser verdade - tros j untos: a classe dos sistemas do partido predominante. A vantagem de
t e será visto no fim. Mas na prática a noção do partido de chantagem rela- separar esse sistema não está apenas em serem quatro classes melhores do
) que três (unipartidarismo, bipartidarismo e multipartidarismo) , mas tam-
» ciona-se principal mente com a noção do partido anti-sistema, e tanto are-
) levância como a natureza anti-sistema de um partido podem ser estabeleci- bém porque temos agora uma noção clara de fragmentação. É evidente
•J das, por sua vez, por uma série de indicadores ulteriores . Se minha regra ,
coloca em primeiro plano o partido de chantagem de {lrithony Down"§l é
que um sistema de partido predominante pode resultar de um excesso de
fragmentação de todos os outros partidos, como na Índia. Se decidirmos,
t porém, que a característica saliente do sistema partidário indiano é a de
) porque a competição partidária é muito importante para minha argumen-
•) tação geral. Não obstante, como 2-.Partido de chantagem coincide geral-
mente com um partido anti-sistema (pois se assim não fosse ele estaria
que o Partido do Congresso governa sozinho, então a "fragmentação" terá
uma definição clara: um sistema partidário só é considerado fragmentado

' ) compreendido, com toda probabili~ade, pela Regra 1), a avaliação bem
pode ser realizada na arena parlamentar. Isto é, o potencial de chantagew
quando tem muitos partidos, nenhum dos quais se aproxjma do ponto da
maioria absoluta.
' ,.20 partido eleitoral encontra seu equivalente no ootencial de veto. ou na Há ainda outra classe que a contagem inteligente pode distinguir. Se

•,'
l verdade, no poder de veto, do artido lamento com rela ão à a ro- deixarmos a área dos sistemas partidários competitivos e passarmos aos
va~ão de leis. Se ouver qualquer dúvida se um partido de chantagem deve não-competitivos, ainda poderemos encontrar formações políticas (por
)
ser incluído ou exclu ído, a questão pode ser estudada e verificada sob esse exemplo, a Polônia e, melhor ainda, o México) com mais de um partid.o,

,) aspecto.
Resumindo, parece-me que a dificuldade de minhas regras está no
no qual os "partidos secundãrios" não podem ser excluídos totalmente,
como fachadas pura e simplesmente. Por outro lado, esses partidos secun-
,} fato de que os estudiosos acham mais fácil ocupar-se de política compa- dários, periféricos, contam menos: são, por assim dizer, permitidos e só
podem existir como partidos subordinados. São esses os sistemas a que
l rada sem qualquer conhecimento substantivo dos países que abrangem ou
chamo hegemónicos. E eles podem ser percebidos pela contagem inteligen-
', ) no fato de que minhas regras exigem dados que raramente são recolhidos
de forma sistemática. Receio não haver solução para a primeira dificuldade. te, o que significa, nesse caso, a contagem do partido hegemônico primeiro
Quanto à segunda, se é mais fácil formular do que aplicar as minhas regras, e dos partidos subordinados, em separado.
,) isso ocorre porque nunca temos a informação de que necessitamos antes A esta altura, as possibilidades do critério numérico parecem bastan·
,) de pedi·la. Acrescentemos que não há nada de "menos concreto" nas in- te esgotadas. Estabelecerei sem demora a distinção entre o pluralismo limi-
l formações por elas exigidas do que em mtútos dos dados nos quais o cien- tado (moderado) e extremado (polarizado). Essas classes, porém, não po-
tista social coloca, atualmente, uma confiança sem reservas. Por outro la· dem ser identificadas e sustentadas apenas em bases numéricas. É a esta
do, simplesmente não é verdade - como iremos ver13 - que dispomos de altura que a variável número-de-partidos se toma secundária e a variável
f melhores medidas para a mesma coisa: a contagem do número de partidos
. )
"relevantes" com relação a seu "valor de posição". Dispomos realmente
ideologia adquire precedência.

.. de melhores medidas, mas para outras coisas, não para isto.


5.3 Um mapeamento bidimensional
Até aqui, sabemos quando três & três, quando quatro é quatro, e

." ) 1 assim por diante; ou seja, podemos separar os casos. A pergunta seguinte Uma classificação é uma ordenação baseada em classes mutuamente exclu-
~ é: o critério numérico também permite a separação de novas classes? Até sivas que são estabelecidas pelo princípio, ou critério, escolhido para essa
) 1 agora nos preocupamos com a contagem (segundo as regras). A nova per- classificação. Uma tipologia é uma questão mais complexa: é um ordena-
• !

.. gunta suscita, por assim dizer, um problema de contagem inteligente. Co-


!11º regra rática, oucos partidos denotam baixa fragmentação , ao P-ªsso
~e .muitos partidos indicam alta ragmentaç_ão_. ~o contarmÔSos -parti-
mento de "compostos atributivos" , isto é, um ordenamento resultante de
mais de um critério.1 4 De acordo com essa distinçáo, até agora examina·
mos uma classificação, não uma tipologia, isto é, identificamos classes,
.)
dos porém, podemos explicar-lhes a força. E há uma distribuiçãõq\iese não tipos, de sistemas partidários. -E o critério numérico pode proporcio-
,,,.) destaca ostensivamente como um caso em si: quando um partido dispõe, nar, ao que me parece, sete classes, indicadas a seguir:
)
,,)
)
-~ .....
150 PA R TIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS
-=C4

•••
) O CRITêRIO N UM~R ICO 151
) . 1. partido único
,. • 2. partido hegemónico pode identificar e que, não obstante, é essencial. Isso equivale a dizer que
) ternos, necessariamente , de passar da classificação para a tipologia e, com
3. partido predominante
isso. com plementar o critério numérico tomando a ideologia como critério.
4. dois partidos
.r5, pluralismo limitado
9. pluralismo extremado
O leitor lembrar-se-á de que já falei de um contínuo ideologia-prag-
matismo.17 Nessa referencia, o sig nificado da palavra ideologia é especifi-
cado pelo seu oposro, isto é, o pragmatismo. Mas a conotação pretendid:i
••
•••
7. atomizada.
no presente con texto é mais anaiítica. A palavra é usada aqui primeiro pa·
. . Com relaçã? ã trad.icion~ classificação tríplice, duas inovações são ra indicar distância ideológica, ou seja , a difusão geral do espectro ideo-
imediatamente evtdentes. Pnme1ro, decomponho em três categorias o tra- lógico de qualquer formação polltica, e, segundo, para indicar intensidade
dicional '\&rupo unipartjdáciÕ'2 que reúne a m<tis incongruente variedade ideológica, ou seja, a temperatura ot: a tendência de um determinado am-
d_e fenõmen~s hete:~gêneos, permitindo com isso a reclassificação de vá-
nas formaçoes poli t1cas erroneamente definidas como uni partidárias na
classe do partido hegemônico, ou na classe do partido predominante.' Se-
gundo, decomponho o t:adicionaJ ~upo millfipart1dârio) na suposição
biente ideológico. Mais precisamente, a idéia de distância ideológica faz
parte do âmbito dos sistemas <le mais-de-um-partido, ao passo que a noção
de intensidade ideológica é essencial ao âmbito das formações políticas ••
de que o tratamento conjunto dos sistemas de mais de dois partidos só de-
monstra a pobreza de nossas regras de contagem.
. Quant~ à ~a última categoria, o padrão "atomizado" não exige
uni partidárias.
Enquanto esperamos por uma taxonomia completa que surgirá ao
final da investigação, as considerações acima levam a um mapeamento pre- ••
~~o;es exphcaçoes: entr_a na_ classi~cação como uma classe residual para
md1car o ponto em ue á nao recisamos de uma conta em recisa isto
liminar bidimensional que poderia. ser chamado de classificação modifica-
da. Essa classificação visa a solucionar o problema que a classificação nu-
mérica deixa por resolver: como dispor a "segmentação". 18 A solução está ••
••
é, um limite ém do qual o número de artidos - se'a 10, 20 ou m;us - em fazer com que as formações políticas segmentadas sejam testadas pela
)
º!º az mw a erença. s sistemas e parti os atomizados podem ser de- variável ideologia. Se forem fragmentadas, mas não polarizadas, serão atri-
buídas ao tipo de pluralismo moderado (ideologicamen te). Se forem frag-
hmdos da mesma maneira que a competição atomista em economia isto
é, c~mo "a situação na qual uma firma não tem nenhuma influência' per- mentadas e polarizadas, pertencem claramente ao tipo de pluralismo pola-
}

)
cept1.v~l em. nenhu~a outr~ firma" .1 s Isso indica também que o critério (
numenco so se aplica a sistemas partidários que e"ntraram na fase de
rizado (ideologicamente). A classificação modificada só difere, portanto,
da numérica em relação às classes de pluralismo limitado e extremo, que
são substituídas pelos tipos que chamo de pluralismo moderado e polariza-
••
consolidação estruturaJ.16
~pesar do avan~o geral em termos de análises, a primeira categoria
é, mmto claramente, inadequada. Um é apenas um, e dentro do critério
do. As correspondências previstas são ilustradas no esquema de conversão
do Quadro 3. ••
n~~érico as variedades e diferenças entre as formações políticas uniparti·
d_anas e~capa~ totalmente à identificação. No outro extremo, e o que é
amda pior, nao está claro como as classes de pluralismo limitado e extre-
Tendo trabalhado no mapeamento, podemos indagar se o exercício
é compensador. Proporciona resultados a classificação modificada? Pode-
••
~o ~e ~evern dividir. O pressuposto de sE;nso comum subjacente a essa dis-
t_inçao e ~ de que u".1 sistema de três-a-cinco partidos, ou seja, o plura-
lis_mo l_1m1tado, tem interações muito diferentes do que um sistema de
Quadro 3.
Padrões, classes e tipos de multipartidarismo ••
se1s-a-01to partidos, ou seja, o pluralismo extremado. Mas nem as nossas
regras_ de contagem, nem a contagem inteligente podem realmente separar
os dois padrões. A razão disso está em que, quando entramos na área da
Padrão Classe Tipo
Baixa fragmentação - -- - - - Pluralismo limitado - - - - . . - Pluralismo
••
)
fragme~taçã~ -:- .digamos, a partir de cinco partidos -, esta pode resultar
de uma mult1phc1dade de fatores causais e só pode ser precisada ã luz desses
f~tore_~- Em suma, a fr~gmentação· do sistema partidário pode. refletir uma
(até 5 partidos)

Segm entação - - - -- --
~ moderado

.. . _ . . . ..... . ••
si_tu~ça? de :e?"1entaçao, ou uma situação de polarização, isto é, de dis-
tancia 1deolog1ca. ~ evidente, portanto, que há algo que a contagem não
Alta írogmentnção - - - --
(acima de 5 partidos)
Pluralismo extremado· _ _ __..,.. Pluralismo
polarizado ••
)
) ••
O CR/Tt:RIO NUMtRICO 153
152 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS
enire formato e mecamca. Isso equivale a dizer - à luz de minha dístin-
ríamos dizer, por exemplo, que o critério numérico proporciona uma indi· ·:ío entre a classificação e a tipologia dos sistemas partidários - que ire-
cação, m-esmo que muitõ imperfeita, da distribuiça-o Ço poder .Polític9 . A ~os explorar como a classe, que denota o formato, se relaciona com o ripo,
distribuição é, ·porém, difícil de avaliar. Eu prefiro dizer, portanto, que o que indica as propriedades .
mapeamento proporciona uma indicação bastante boa da dispersão - seja
segmentada ou polarizada - do poder.
Para começar, tal como agora o vemos, o caso do urupartidarismo.é
M"lâ.isia
claro: o .Poder político é monopolizado por um partido apenaS:--nõ sentiqo • •• •• • •• ••••u ••• • • ,.• •• ••• ••••••••••• •• ••••"' ' ''''º' ' ' ' ' '' '''''"''' ' ' '''''''"''''"'''''º ' 'º'''' ''''' '''''' '''''

p~eciso de que ne_nh um 91!_tro pãrfido pode existir. Temos, em seguida, o r'õbJl.tlÇáO (
..altJ lra~cnt2çio
Chile taté 197 3J
caso em que um partido "conta mais" do que todos os outros - mas de lt;iba
duas m:llle!ras bem diferentes. De um lado temos o partido hegemôruco .................. ..................................... .................................. l'inl:india

q~ só p~r.rnit,LL~xist§!lcia de outros partidos como "satélites" ou2 ~e Jiola.nda


lho.3
qualquer m_odo, como partidos subordinados , ou sela, .ª hege~oniaj~Pª!.: fr:agmcntaçâo
tido no poder não pode ser-q1re·st1onad'a-:-Do outro lado , temos o sistema .. ....... ............................... .... .. .............. .. .... \ R.f . Alr m:i'
qo partido predominante7'1stõ e,-umà configuração de poder na_gü!J up1 .. Concentra;lo
1gu;lt
P!Etíd_2...gõver_na ~~-· sem eslãfSüjCífÕããlternaç!_o no_pow_._enquantç_ \ com ohe:rnação)
continuél a conquistar, eleitoralmente, ~!!!.!!_maioria ab~olut_!l:.. Q.s~s
b.ipa~tiêláljÕ(nã_o Cl_ferecem problemas, já que su!:_~figu_!~_?"o de j)Oder Concentração
tJnimodal
é simples: d9!_s _E.artidos com.~tem por uma maioria_absolut ~~ está ao_ (;;.:m al!emaç:io)
aJc:.~~.-~rdê_ ambos. I.sso nos deixa com a confígúraçã'o de poder do mu!!J.
i partidarismo em geral, q~~?d~ ser decomposta da se~~aneiraúi!) 1l1erarqul3
nenhum partiao tem prob9~ilidade de alcançar, ou pelo...menos de mante·r, trnonopólio
nwn..>'i r1g;sJu1
uma maioríaaosoluta, e (ií)iã força (ou de.bilidade) relativa dos P.artidÕs
pOdeserclãSSTffêãaaae atordo- com sua res~ctLva faafspenSâlilli.dade (oÜ·
j ~~ensabiJiaade) Eara uma coalizão e/ou r@_)\te acordo com seu potên-
cia! fin~l de intimidaçao (chantagem).
~lonopóho
Total
. s estruturas de poder acima odem ser identificadas da maneira Con«ntraçio Cmp3ltnl:ísio Hegcmõmco Prcdom1. 81parnd:ino Plurafümo Pluralismo A 1om1uç:io
que se segue: (i)p1onopó 10, ii 1ierarquia (ou monop 10 re axado), (iii) nant< modcr•do pobriuJo
concenrrafão uni1~/ (isto (predomínio sém aítemação), (iv)_c.onc{n-
0!.ç~uilibrada (o~t ração bi olar (v)baixafragmentação e/ou Figur:i 4 . Países dispostos pela dispers:io de poder dos sistemas partidários.
segmevraçQo _df!!_polarizada, vi a~entação C<]J!!_po_larização. Se
essas configuraçõesâe- poder e seus correspondentes sistemas partidários
forem delineados com relação à maneira pela qual as várias formações po-
líticas são identificadas, ternos a disposição ilustrada na Figura 4.
Já argumentei que o número de partidos tem importância. O que não
expliquei é precisamente sob que aspecto isso importa. Quando os siste·
mas partidários são classificados de acordo com o critério numérico, essa
classificação se faz à base de seu formar o - quantos partidos encerram.
M:is o fo rmato só é interessante na medida em que afeta a mecânica -
como o sistema funciona. Em outras palavras , o formato é interessante na
medida em que contém predisposições mecânicas, em que contribui para
de terminar uma série de propriedades fun cionais, em primeiro lugar, do
.sistema partidário e do sistema político geral como conseqüência. Por isso ,
minha investigação subseqüente se fundamentará na distinção e na relação
)
)
NOTAS l55
)
) (PS, setembro de 1970. p. 290.) Nem mesmo essa solução, porém. conseguiria
revelar o caso do Parudo Republica.no italiano, lembrado no texto, e muitos
)OTAS outros ( por exemplo, :"forueg:i e Suéc1:t, infra, cap. 6, nota 62). Alter.nativamen-
te. Ro'>e faz a seguinte sugestão: "As técnicas de levantamento oierecem uma
) trllneir:i <le estab<!lecer o número de partidos num sistema" (Go~erning l\lithour
Consenms. op. cit., p. 221). l~so se aplica bem à Irlanda do Norte, mas, em for-
) mações poliucas mais comple.ns. o público geul não percebe, entre outns coi-
sas. as suulezas do valor da posição dos partidos. Abram de Swaan (Coalition
) TJwories and Cabinet Formations, l::tsevier, 1973) reduz o limite mi'nimo para
2,5% (mas o eleva para 3,5% no caso da Dinamarca); mesmo assim, esse limite
) não abarca, no caso da lt:ília, não só os republicanos, como também os liberais,
quando na realidade ocupavam cargos no gabinete.
) lO. O abismo que separa as coalizões matematicamente possíveis das ideologicamen-
j- O "Projeto internacional COl)lparativo dos partidos políticos" enumera cerca de te exeqüíveis é ressaltado pelo princípio de que as.coalizões gove mamentais de-
vem ser "conexas". Ver Robert Axelrod, Conflicr of !nterest, M:ltkham, 1970,
90 países e 250 partidos políti~os, número que inclui apenas os partidos que ui·
trapassam o limite de cadeiras de 5%. Ver Janda, "Retrieving informatlon for a cap. 8. Coalizões conexas, ou adjacentes, são chamadas de "fechadas" por
compara tive study of pohucal parties'', in Crotty ( org.),Approaches to the Swdy Swaan, Coa/irion Theories and Cabinet Formation, op. cit.
of Party Organization, op. cit., apcndice B. Por outro lado, Blondel conta 107 sis- 11. O rótulo não apenas é extraído de, mas também está relacionado co m o parti-
temas unipa.rudários e de mais de um p:irtido (An lntroducrion to Comparative do de chantagem de Anthony Downs (An Economic Theory of Democracy,
S Government, op. cit., p. 140).
12.
Harper& Row, 1957, pp. 13 1-132). Yerin/ra,cap. 10.
lnfrç, 9.4.
-· Crotty, "Política! parues research ", in Approaches to the Study of Political
) Science, op. cit. , p. 282. 13. Infra, 9.5 e 9.6.
3. Polirical Parties and Political Developmenr, op. cit., pp. 34, 36. 14. Essa é a definição de P.A. Lazarsfeld e Allen H. Barton: " ... por 'tipo' entende·
1. Ver particul:i.rmente Jean Blondel, "Party systems and patterns of govemmcnt in se um componente atributivo especítico" ("Qualitative measurement in the
\Vestem democracies", CJPS, junho de 1968; e sua Inrroduction to Comparative socialsciences", in D. Lerner, H.D. Lasswell (org.), ThePolicySciences,Stanford
) Government, op. cit.. pp. 155-160. Mas ver também KennethJanda,/nformation Universi ty Press. 195 1, p. 169). Sempre que é desnecessário distinguir a classifi-
Retrieval, Applications to Political Science, Bobbs-Merrill, I 968, pp. 147-148. cação da hpologia, usarei a palavra taxonomia. Rigorosamente falando, uma
). Mais particularmente infra, 9.3, 9.5 e 9.6. taxonomia é uma ordenação i.ntermediária entre as ordenações class1ficatória e
j· Um exame recente é o de James Jupp, Political Parties, Routledge & Kegan Paul, tipológica (tipo mJtriz}. Mas todos esses detalhes são desncccmírios aos meus
objetivos.
1968, cujas classes são: (i) b1pa111d:irio indistinto (por exemplo, os Estados Uni-
) dos, o Brasil, a Turquia, a Coréia do Sul, o lral; (ü) bipartidáno distinto (por IS. M. Olson, Tire Logic of Col/ective Action, op. cit., p. 49.
exemplo, a Grã-Bretanha, o Jap:io, a Dinamarca, a Noruega); (üi) multipartidário 16. Para a idéia de consolidação estrutural, ver infra, 8.1.
17. Supra, 4.2 e cap. 4,nota 13.
(por exemplo, a 1tália, a Bélgica, a Islândia); (lv) de partido dominante (por
exem~lo, a índia, o México); (v) umpartidá.rio amplo (por exemplo, a Espanha, 18. O conceito de segmentaç.ã o é analisado infra, 6.3.
a Polonia, a Iugoslávia, o Quênia); (vi) urupart1dá.rio estreito (por exemplo , o
Egito, Portugal); (Vii) totalit:íno; (viii) não-partidário. (Ver cap. 1 e Apêndice,
pp. ! 11-112.) Como os exemplos mosu:am, a maioria das classes contêm grupos
estranhos.
). Roy C. .\.lacridis, "Introdução" à sua coletânea Political Parties: Contemporary
) TrencJs_ an.d ldeas, l_larper & Row, 1967, p. 20. Mas Macridis propõe em seguida
sua propna upol?gia (p. ~2). Para a bibliografia em geral, supra, cap. 3, nota 3~.
~- ~~7: Strategies 1n a Multtparty System, Lund, Studentlitceratur, 1968, pp. 174-
)- E o que ocorre, por exemplo, com o projeto internacional comparativo dos par-
tidos de Janda (supra, not:i l). Tendo sido estabelecido um limite de 5%, a l tália
aparece como tendo três partidos: o Democrata Cristão o Comurústa e o Socia-
lista. Ocorr.c que, no período compree ndido pelo Ieva~tamen t o de Janda, três
outros par.tidos, que passam despercelndos, focam necessários ao estabelecimen-
to de co:il1zões majantárias (ao passo que o Partido Co munis ta não teve relevân·
c1:i. governa".1ent:ll depois d~ 194 7). _Uma solução mais tlexível foi a adotada por
R1d1ard Ros: e D_crek \:Jrwm, ou seja, incluir os partidos que participaram pelo
menos de tres ele ições e alcançaram a marca dos 5% em pelo menos uma delas.

1
l.)-t
)

)
,..
)

)
SISTEMAS COMPETITIVOS 157

VI que permanecem após a exclusão de partidos aos quais falta o "potencial


)
para coalizão", a menos que seu "poder de intimidação" influa na tática
) SISTEMAS COMPETITIVOS da competição interpartidária. Reconheço que minha regra de contagem
ainda deixa margem dt! dúvidas quanto à inclusão de um partido pequeno e
marginal e pode colocar o classificador diante de alguns casos intermediá·
) rios. Mas isso não chega a constituir uma tragédia. Em primeiro lugar, não
_J há nenhuma mágica nos números cinco e seis, isto é, sua mágica é apenas
) ' um artefato operacional. Em termos de conhecimento substantivo, o limite
'-J
)
)
,J pode - e na verdade, deve - ser expresso de maneira mais flexível, dizen-
l ," ~
do-se que as interações entre mais-de-cinco partidos tendem a produzir
( i ....., uma mecânica diferente da interação entre cinco-ou-menos partidos. 4 Em
) ! ·-r- J
6.1 Pluralismo polarizado suma, a linha divisória não se situa em cinco (ou em seis), mas em torno de
l ·J -- cinco (ou seis). 5 Em segundo l ugar e de qualquer modo, temos uma variá-
1 vel de controle: a distância ideológica. Assim sendo, embora as cliscrepân-
Nossa compreensão dos sistemas partidários é muito desigual. Em geral, os
r.
,; sistemas ~e foram estudados de maneira mais adequada são oS''sistemas cias de contagem possam perturbar a classificação, não afetarão a tipologia.
.J_,
)

b.~' ,OS1519.art1âãri1>s~é seg~~ uma lógica ~~al~ta s~~e~~n: Pretendo examinar, na seção seguinte, quais os países que fazem parte
r :
}
_le.iJsto é, os sistemas que chamo de plurajismo moderado. O pluralismo da classe (e, em especial, do ti po) do pluralismo extremado e polarizado.
e~tremado e polarizado nos confronta_G.Ó.nLuma_categoija_cujaj_dentidaJk_ Basta, para uma orientação preliminar, dizer que a análise desenvolvida
) r:- 1 ~ rr,- tem esca ado à atenção. Há duas razões para isso. A primeira é o uso dos nesta seção vale-se, basicamente, da experiên cia da República alemã de
) 'r 1r • J Weimar, na década de 1920, d a Quarta República francesa , do Chile (até
1\!!.!_0l~s dualistas, isto é, a tendência a explicar todo e qualquer sistema
)
_,;,.r-
· - 1, j '......
parTíãário pela extrapolação do modelo bipartidário. Esses antolhos dualis· setembro de 1973) e do caso a tual da Itália. De qualquer modo, com rela-
tas foram propostos por Duverger como uma "lei natural", ou quase, da ção a um sistema partidário que permaneceu em grande meclida sem ser
) política: · - - • --- - identificado, a tarefa preliminar é a de analisar in viuo suas característi·
cas marcantes e propriedades sistêmkas. No que segue, tais características
) Nem sempre encontramos urna dualidade de partidos, mas comprovamos quase sempre serão~resentadas em ordem d.e visibilidade e não de importância.
) úiili!üãliSn\o de tenõêriClas(~). lssoeqüivale 3 dizer que o centro não existe cm j5olí· , 1. 'A_ prj~ira_caracJeríst ic_?....QQ_p~ralismo polarizado é a presença de
tica: podemos ter um partido de centro, ln-as não uma tendência de centro(. ..). Nãq pa_rtidOs ami-sisrema relevantes. O. sistema é caracterjzado..por-Urna....Q.P-Q·
) há centros verdadeiros quenio OS qUea_P-arecem comoum cr;;-z;m-;nto de duaJismos. 1
. - - -- - - - - - - sição anti-sistema, particularmente
--
do tipo comunista
-
ou fascista
também de outras variedad~. Contudo, uma vez que a noção de partidQ
_
mas
:::..:.::.z..___

) Argumentei, contrariamente, que, quando não temos um partido de anti-sistema tem sido motivo de debate, e também de consideráveis mal·
centro, provavelmente teremos uma tendência de centro. Basta observar, no entendi dos, vários asp.e.ctou1e..'le.IIL.Se.ueaY.alia dos.
momento, que os antolhos dualistas àe Duverger o levam - como a evolu-
ção subseqüente tão bem confirmou - a surpreendentes erros de percepção, ·- E útil distinguir, inicialmente, entre ~definição ampla e outra,
1) rigorosa, de "anti-sistema". O grau e a intensidade de uma "atitude anti"
tais como o de afirmar que a Alemanha e a Itália são os dois países euro-
1) peus que "evidenciam uma acentuada tendência" para o "biparti darismo". 2 variam com o tempo. Além disso, nem todos os partidos anti-sistema o são
no riíésmo sentido: a negação cobre, ou pode cobrir um~ ampla gama de
~ ) A segunda razão já conhecemos bem, ou seja, a de que o caso do plu·
atitudes diferentes, indo da "alienação" e da rejeição total ao "protesto" .
ralismo extremado dificilmente pode ser determinado e identificado, se
~ ) nã"o soubermos como os partidos devem ser contados. Até hoje, quando já Ora, evidentemente a alienação e o protesto são diferentes em espécie e
se contou até dois, o que vem depois é "polipartidarismo". Mas, tão logo não apenas em grau. 6 Não obstante, a dminção não pode ser aplicada facil·
~ ) 111.:nte em termos empíricos, porque os grandes eleitorados cobrem todos
venhamos a estabelecer um sistema de contagem, poderemos ter maior
~ ) êxito. esses sentimentos, ou atitudes. Os eleito res podem ser protestadores en-
Como precisamos de uma dem:ircação operacional, vamos estabele· quanto os ativistas partidários podcn1 ser alienados. Da mesma forma, a
~ -) cer que o ponto decisivo se situa entre cinco e seis partidos. 3 I: convenien· liderança partidária pode ser motivada ideologicamente, ao passo que as

.
~) te repetir que os partidos em questão devem ser relel'fmtes, isto é, aqueles fi leiras cto partido podem simplesnienre·
. . carecerdê pão. Por outro lado, ao
~ )
156
)
~ )
--..
) ~
) SISTEMAS COMPETITIVOS 159
~
153 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIOARIOS
) $11
nível do sistema político, as consequências da alienação e/ou do protesto "i mpJcto deslegitimador", ficamos com uma demarcação nítida entre par-
) tido anti-sistema e partido revolucioná rio. fli
nJo são muito diferentes: qualquer que seja a narnreza, na origem, da atitu-
) de anti, o governo enfrenta as mesmas dificuldades cotidianas. Também deve ficar claro que as variações da tática e estratégia não Oi
)
)
Há, então, pelo menos duas razões para se conceber de man~eira am-
pla o que é "mti-sistema": as variações no tempo e as variedades de na tu~
têm importância para o meu conceito. Em particular, nunca igualei anti-sis-
tema a "fora do sistema". 7 Um partido anti -sistema pode o~rar de de..n.tro,
o~ de fora, pela infütração diScreta ou pel'!._obsiíução cÕnspiéü~. O fato de ....
fi

....
reza. Essas vanações e variedades encontram seu denominador comum est5rem os -pifücípais- partidos comunistas do Ocidente agindo dentro do
) num impacto deslegitimador comum. Ou seja, todos os partidos que se sistema, e de acordo com a maioria de suas regras, não modifica o teste,
situam no espectro que vai da rejeição ao protesto - desde uma oposiçao visem eles (e consigam), ou não, um impacto deslegnimador. s t sob essa
) extraparlamentar a um tipo de oposiç3o de Poujade, ou do Homem Co- perspectiva que a chamada integraçfo do comunismo ocidental pode ser
mum - têm em comum a propriedade de questionarem um regime e de melhr;:avaliada e medida, como iremos ver.
)
)
enfraquecerem sua base de apoio. Assim sendo, um partido pode ser defini-
do como sendo anti-sistema sempre que enfraquece a legitimidade do regi-
me a que se opõe. Na verdade, os partidos de protesto podem ser partidos
estána
1 2-:-À segunda característica específica do pluraJismo polarizado
existência de oposições bilaterais. Quando ã oposição é unilateral,
iÚo eToêã}izada toda de um Iãaõêffirelàç°ao ao governo, não importando.
••
•..
)
passageiros, e seguramente são menos anti e menos duráveis, do que os par- tos arftâosirelrse-opõem;-estes-podem-unir forç::rr~se apresent'l_r

..
) tidos que expressam uma ideologia estranha ou alienada. Apesar dessa dife· orno um governo temamo. N~ormações políticas polarizadas encon-
rença, a todo momento no tempo o sistema político enfrenta uma "crise tramos, em ugar isso, üãSõ2osições mutuamente exclusivas: não poaêm
)
de legitimidade". E enquanto persiste a atitude ou o feedback de protesto unir-se. De fato, os dois grupos o ostos es~§o mais próximos dos partidos

•..
) - mesmo que sob diferentes bandeiras - a formação política enfrenta uma 'gõvêfnamêilfãin _que entre si. O ~istema tem, portantõ,Cluas oposições.\
carência de apoio que dá forças à oposição ideológica. IJ..º sentido de que são contra-oposições g~e, em termos construtivos~o.
)
· Por outro lado, a diferença entre oposição ideológica e oposição de
protesto deve ser levada em conta - no decorrer do tempo, se não em
determinados momentos. Isso equivale a dizer que a definição ampla encer-
incompat1ve1s.
' As duas características anteriores são as mais visíveis e já bastam para
identificar a categoria. Se hã mais de cinco partidos, se o sistema evidencia ..
••
)
ra uma conotação mais estrita, mais específica. Uma primeira aproximaç:ro contra-oposições bilaterais (no plural) que incluem partidos que se opõem
) dessa conotação mais específica indica o fato de que um partido anti-sis- ao próprio sistema político, então esse tipo está, claramente, bem distante
tema não modificaria - se pudesse - o governo, mas o próprio sistema de do multipartidarismo caracterizado por uma oposição unilateral e pela
)
)
governo. Sua oposição não se faz a "problemas" (tanto assim que se pode
permitir a barganha em relação a estes) mas "em princípio". Assim, a essên- ·\
eia do conceito é destacada observando-se que uma opo~ção E!!i-sistem:t.
ausência de partidos anti-sistema relevantes. Na realidade, esses traços
característicos são de percepção tão fácil que é surpreendente o fato de te-
rem escapado à atenção; na verdade, isso constitui uma prova da propor-
••
••
) séglieúrrniSiêma de convicçõesque nao partilhntos valoresoa ordem den; ção em que fomos vítimas de uma cegueira dualista. Várias características

)
tro- da quãl õpêfã.De acordo com êssa oeflliiÇ'f<)'Õgõrosa, portanto, os p~ - (
tidosanti:-sistema r~prese-rifarri uma icg-~Jã estranh~ -::- in_di~ando com is-
so uma formação polltica às voltas com uma distància ideológica máxima.
.------- - --"·-
ºque dissemos anteriormente significa, em primeiro lugar, que anti·
~~te!!lª.-~!2~ a mesm~ coisa gue, o_u_equivalente a, "revolucionáric1'._se-
adicionais são menos visíveis, conquanto não menos importantes, e podem
ser explicadas como conseqüências ou rarrúficações, embora deva ser claro
que ~ta.,mos analisando uma síndrome.
U)Se indagarmos como passamos das oposições unilaterais para as
bilaterais, nossa atenção é imediatamente despertada para a terceira carac-
.•
)

)
o ~artido realmente se dedicasse a atividaaes revolucionárias e à preparação
da revolução, e ntão deveria ser chamãcfo- aerevõlucionánO.-Ta! p~rtidoe
terística: os sistemas de pluralismo polarizado são marcados pela localiza-
01
ç!o,J!Q _c~epfi.o,-de üffiPãrtiêlõ(lfá~i~2 de um g~o de pãrudõS(França,
Weimar). Embora se deva reconhecer que faz diferença o fato de o centro
••
••
certamente 'anti-sistema, mas a recíproca nãõ e veroãcleira: um partido anti:-
ser unificado ou fragmentado, todos os nossos casos têm ou tiveram - até

.
si~em~ n-ãÕ preçLsa ser õe.f~.~a!.i::iml[n~e-:-_~m nenhum-sentlàõCOrié~!2J.
muito menos na prática, revolucionário. Se a distinção se apaga com fre- seu desmoronamento - um traço fundamental em comum: ao longo do
quência, isso acontece porque "revÕlucionário" pode aplicar-se a metas espectro esquerda-direita, o centro métrico do sistema é ocupado . Isso sig·
a longo prazo (com pequena impletnentação a curto prazo) e em parti· nifica que já não lidamos com interações bipolares, mas, no mínimo, com
~fã'Ções Tiiãiiglilãres:-0 sistema-é multipolar pOrqüe sua mecânica compe·
cular a metas verbais. Mas como o elemento verbal é classificado sob o meu
••
.
"'?'
)
f.
)
160 PARTIDOS E SIS TEMAS PARTIDÁRIOS SISTEMAS COMPETITIVOS 161

ti tiva gin em wrno d e um centro qu<! tem de enfre11ta ~ tanto uma esquer. ,! 1, 1.incia entre eles cobre uma diferença má;<lma de opinião. 10 I~so equiva.
)
d:i como uma dire ita. Enquanto a mecânica do pluralismo moderado é • '" J dizer que as clivagens2 ã2 provavelmente muito profunda ~ue o con·
) bip?la~ p_!ECÍSa~ente porque_o s!Slerflã nao St!_biscia- no Ccnt_;O, ~ J!.leS:ânica St.füO r certam éiúen-lüito baixo e que a legitimi_dãd~ do sistema poITtico r
)
do pluralismo polarizado é multipolar e não se pode explicar, portanto, ; 1n1p!~ ques1ion11..ôa. E.,rr1 resumo, te'!los polariiàção quando tem?s
por um modelo~uaJist~,. --- - - ~- . - .J1:;tá11cia ideológica (em contraposição à proximidade ideológica).
) · - t importante ressahar que, quando se fala de um sistema baseado no ., · N-ª v~rQ_ade, o- sistema~ baseado no centro pr<:_cisamente por ser po~-
centro, a preocupação é apenas com um posicionamemo de cemro e não 11zado. Se assim não fosse, não haveria uma área central bastante grande
) com doutrinas, ideologias e opiniões de centro, quaisquer que possam ser. 9 ~,1:ífãSe r ocupada, nem seria com pensador o posicionamento central, pois
) A ocupação física do centro é, em si e por si, de grandes conseqüências, v~ partidos do centro capitalizam o medo do extremismo. Não obstante,
pois significa que a área central do sistema político está fora decomperiç~o ido devemos deixar de notar que se trata de um círculo vicioso. A longo
) (n:i dimensão em que a competiçfü ocorre) .•E!!1 outra;._p4avr~~ró~na ~razo, o posicionamento ao cen tro não é apenas uma conseqüência , mas
existência de um partido (ou partidos} de centro dcs_:.stimu ~ ~trã11da:. ian'ib'ém uma causa , da ROlarização, pois o simpresTato de que a área cen-
dé", isto é, os iinpulsosêentrípetos do sis ~ema político ..t es~ im~ulsos ir<íl- esrãõcupaaa alimenta o sistema com tendências de afastamento do
srnprecisamente os mõõeradores. E por isso gue ~sse t1p~: .cent: 1fugo, centr_g..e êfeSêsffm~~ a comp<;t~iã~ C~!!Í~t~ - - . - 1'
) prÕVõca o alastamen to do cemro,levando dessa forma a~a.s 1mode- --( 5~~-A quinta característica do pluralismo polarizado já foi mencio- 1
(~~1rnrnislª-~· __ . . .. nada:-É, o .predomíni~ provável_d as rendê!}_cias _c~tnfugas Jll!}_!elªçªo àt
. A existência de partidos localizados no centro também suscita vanas <X'D..lÜP.~tas. A~ndência característica do sistema é o enf!:fill~!ltO)~
) questões intrigantes com relação à sua capacidade programática. Há ~lg~ns d~, que soTrelirna E._eraa p~~e votfilRªra um dos extremos /
anos sugeri que o ~!:ltro é constituído basicamente de r~o~ções, .s1grufi- (ou mesmo para ambos). 11 Talvez. essa hemorragia do centro possa ser con-
cando isso que os partidos do centro tendem a_~e!. mwto mrus passivos ão [lda; ainda assim, as tensões centrifugas parecem neutralizar com êxito
qyi).!2fil_Q.tQres...e msugado~~ Fui.• com isso'. levado a r~ssal~ar. O''.JmQQ!- qualquer modificação decisiva da tendência. Os casos mais eloqüentes,
ljsmo" de uma posição central. Ainda acredito ness~ d1ag??st1co, ~~ a quanto a isso, foram a República de Weimar e o Chile. Mas a Quarta Repú·
) recente experiência chilena - caracterizada por uma mstab1l.1dade. ~romca 1 blica francesa também eviderrciou uma tendência de afastamento do cen-
dos partidos intermediários - justifica uma interpretaçã~ rnai~ ~os1t1va. Eu lro. Até outubro de 1947, os comunistas participaram de vários governos
) diria o seguinte: embora os partidos do centro tendam~ ~o~~hzar-s2 con· _~I Jo pós-guerra, e, no outro extremo, não surgiu nenhum movimento con-
) tinuam sendo un1ãl'orça equillõrãdo1a que desempenh~ um papel meaíâ-/1 lr:í rio na arena eleitoral. Em 195 1, porém, a reação gaulista (expressiva·
dor'' :E a meâiação não e o mesmo que o imob~o:. . A?mitido esse ponto, 1 mente intitulada RPF, Rassemblement du Peuple Français) varreu o país,
) ãpressÕ-me a acrescentar quêUii'fa- põSiÇão Cle centro condena, a . arente· 1 ,. os qu:itro "partidos constitucionais" situados entre os extremos comunis·
) mente a um programa de mé iação, no sentido de que um papel diferente ta e gaulista, que haviam conquistado, em junho de 1946, nada menos de
)
r~v~t~ sob~ .ª- l'osição_do I>artido sem oferecerêõmpensações em ª!Sen:: 73 .5% dos votos, caíram para apenas 51 %, tendo os democrata-cristãos,
J?t:nho ou realizaç~ie~. Ul11_ partido ~- ~~tr~~~e !'fOC~re .s~pera~ ~S parU· um dos dois partidos mais importantes do centro, sofrido as maiores per-
) 1 dos localizados à sua esquerda ou a sua d1re1ta contnbu1rá, mrus_d_s:i que.
t~0~3 um cré'SceíidÕda escafãda e da e-xtrenuzaçãõ.. - -·
uas (de 28,l para 12,5). Na eleição seguinte, e última, de 1956, a tendência
i:tmrífuga pareceu diminuir em termos de resultados eleitorais, mas o mo- -
) - r·cse Üm sistema põríflcõêvldencia oposições biÍaterais ant i~sistema \'llnento gaulista foi substituído, embora apenas em parte, pelo movimento
1
e desestimula - pelo simples fato de estar o seu centro ocupado fis1carnen·
)
j
.[ te - a competição centripeta, essas características sornam-se num sistema
l'oujadc, que deve ser de finid o como um protesto anti-sistema de direita,
qu;iisquer que sejam os critérios utilizados para julgá-lo .
polarizado. A polarização pode <!ssim ser revista em maior detalhe como A ten dência italiana é, embora com um ritmo mais lento, iguaJmen-
) uma quarta câract erísticá, sintética. Nos casos ital ia no e chileno, a "atra· 1~ ccnt ri fuga . Em 194 8, o Partido Democrata Cristão aproximou~se muito
ção" é '(era) mais para á esqueràa; no caso da República de Weimar, tor· dJ m:irca àe 50%, mas, desde ent ão , sua média foi inferio r a 40%. Da mes·
) nou-sc mais forte, na década de 1930, para a direita; no caso da Quarta 111 :1 forma, e de mane ira mais signj fica tiva, em 1948 os partidos italianos da

) República distribuiu-se mais igualmente entre as duas tendências .. O fato coalizão central (DC, social-democratas, republicanos e liberais) obtiveram
é que, cm todos... os casos, o espectro da opinião política está altamente 11111 lOtal de 62%; <!m 1953, a vornção total dos quatro partidos já havia
) polariza9o: . seus pólos laterais são, literalmente, dois pólos extremos,~ t"-::i -.;:ido da marca de 50%. O destino do grupo de centro-esquerda, isto é,
) 1
l .,
) f
)
•SRJM'f' '

) ~
) 162 PARTIDOS é SISTEMAS PARTIDÁRIOS SISTEMAS COMPETITIVOS 163 .,:.;

)
) da "abertura para a esquerda'', não foi diferente. Em !963, a nova maioría
Je centro-esquerda representava 60% da votação total; nas eleições de
com argumentos ideol~~cos e competem entre si em ter12"1_os..d~Jl!.e.ntal isJ.a­
tleideofógica. O padrão ideológico congenit0 das formações oolíticas pola-
••
)
)
1968, havia caído para 56%; e longos períodos de excomunhão recíproca
entre os socialistas (PSI) e os social-democratas reduziram, com freqüên~ia.
essa maioria a proporções muito frágeis. Mas um dos extremos te\c um n':rõtfãilSforma, por s1 mesmT,uma - memalidade ideológica em mentali-
.\iem-
rizadãS não- devê ser confllndido, portã]i!Q_, Ç..Qm a febre ideolór;ica . .
r..i:!ratura 1!a" pol íticãpocfefesfri:lr-se, m~ u~eduyã'o da pai'XãOldeológ~
••
)
)
desempenho notavelmente bom. De 1946 a 1976, o Partido Comunista
Italiano aumentou constantemente (com uma única paralisação em 1958)
de 19% para mais de 34% da votação total. Se essa progressão não tivesse
~de _e~mfüca~ ~ - - ---- - -
E claro que uma formação política é ideológica porque a sociedade
é ideologizada. Até mesmo o Doutor Pangl~ss teria percebido isso. Mas se
-


•...
.....
sido interrompida pelo revés de 1979, o PCJ teria, com toda probabilidade, devemos entrar numa era pós-panglossiana de sociologia política, devemos


) participado, naquela época, do governo como um importante, talvez o dedicar a devida atenção ao fato de que a própria configuração do sistema
maior, partido da coalizão. Quanto ao outro extremo, o MSI neofascista, partidário sustenta e mantém a padronização ideológica da sociedade. Divi-
conservou-se a um nível médio de 5-6%, isto é, com força suficiente para sões sócio-econõnticas objetivas podem já não justificar a compartimentali-
) dificultar as manobras de coalizão e, por vezes, para determinar resultados- zação ideológica, e ainda assim partidos sectários, marxistas e nacionalistas

..
chaves nas eleições. Assim, embora o MSl tenha se mantido, seus vizinhos podem conservar sua atração e influenciar a sociedade de acordo com seus
) da centro-direita desapareceram (os monarquistas) ou reduziram-se drama- credos i<leológicos.tg\!..ando um .sistema partidário se crL5taliza, superando
) ticamente. Talvez a eleição de 1979 aponte uma reversão de tendências. a fase da atomização, os partidos passam a fãzer parte integrante, tornam-

)
Não obstante, a Itália patina. no momento, sobre gelo muito fino, como o ;;;-c, sistema "nãTurâl" de canãhzação da soc1eêlãaqfolifica. E_g,uandofiá
m odrl<>- previa. 12 váílõspfilfiôos integrados, consohããdos, o si~tema passa a ter interesse
r .§) A _.se;ta car:icteristica do ~~ali~o polarizado é seu padraõ i<leo- em fomentar um tipo ideológico de canalização, pelo menõspõrdõísmo-

,."'
)
lQgjJ;:o. Quan o encontramos um gran e espaço ideológico, segue-se que a .tivos. frimeiro, para_que tantos partidos seJam Vistos élUStificados como"'
)
)
formação política contém partidos que discordam não só quanto a progra-
mas, mas também, e o que é mais importante, quanto a princípios e aspec-
tos fundamentais. Somos levados, assim, a um significado mais substantivo
P.artidosCfilerentes,_ !ião podem eV!denciar urna eragJ?ática ausência ~e
características distintivas. Segundo, numa situação âe plUrãfismo extremo
â maioria dos partidos são grüpõSrelativamente pequenos cuja sobrevivên- ..
)
)
da ideologia. Como já dissemos, "i~eo los.!a~· pode significar Q2_participação
avamente emotiva na eclítica, eJ.!D uma mentalidade particularJ. ~ma/oc­
'!'ª...lllW1is. ~ formações pofíflcas monistas, a ênfase recairá sobre o pri-
cii!J. melfíor assegurada se seus seguidores lõrêlnaõütfinados como ·~­
tes". E a lei do contagio explica por
res) provavelmente fará o mesmo.
que o parti<io maior (ou partidos maio-
.
)
)
~eiro elemento, sobre o "a uecimento ideoló 'co". Mas, nos sistemas plu-
ra 1stas, a ênfase deve recair sobre o se undo, sobre a "mentalidade" isto
é, ·so re ai· eo og1a entendida como urna maneira de ver e conceber a ~olí­
lica e delm1da, portanto, como uma modalidade claramente doutrinária,
Essa dedução pode parecer discutível. Embora o interesse dos peque-
nos partidos na canalização ideológica seja claro, é menos evidente a razão
pela qual o maior ou os dois maiores partidos não devem seguir uma tática
de "pegar todos", como disse Otto Kirchheimer. 14 A idéia de partidos que
..
fl

,-,
baseada em princípios e superior, de focalizar as questões políticas. Essa " pegam todos" veio dos sistemas bipartidários, de três partidos e de parti-
)
abordag_em ideológica, e n_!J~r~~rma mentis, nasce das E!.Qprias r~ Jo predominante. Pode, porém, ser aplicada de forma ·plausível às organi-
) óe . uma cultura (não aE.:_nas da cultura política} e reflete, tipicamente, a · zações políticas poli partidárias. Pode-se argumentar perfeitamente que o

•-
mentalidade do racionalismo, em oposição ã mentalidade empírica e prag-· Partido Democrata Cristão italiano, por exemplo; é apenas um partido de
~tica. 13 Isso não é dizer que, dada uma cultu ra racionalista,segue-se ne-' "pegar todos". Sim e não. Entre outras coisas. a DC (Dcmocrazia Cristiana)
) cessariarnente o ideologismo. Quero dizer simplesmente que uma cultura tinha uma plataforma mais pragmática sob a liderança de De Gasperi, em
racionalista é o solo mais favoráveipãrãOcu!tlvõããpõfifieaicteulógica,at> princípios da década de 1950, do que com a geração subseqüente.1 5 Além
) Pa,~_gue urnã cl!Jtur~mpjrica é um terreno menos propício a que UJlla disso, as fr:ições de esquerda da JJC, que muito condicionaram o partido
abordagem ideológica ali venha a deitar raTzê'S:- - -- - - nos últimos 15 anos, realizam, muito claramente, um jogo ideológico. 16 Da
fl
)
-S~jã como for,nos sistemas em exame Õs partidos de "crentes entu·

.,''
mesma forma, a tradicional doutrina da "não-reversibilidade" da coalizão
J siastas" situam-se lado a lado com os partidos de "crentés frios", isto ê, a de centro-esquerda parece absurda por motivos pragmáticos. Finalmente,
temperatura ideológica dos vários partidos pode ser muito diferente. A a ardorosa participação da DC no ·referendo sobre a lei do divórcio, em
característica comum é, portanto, a de que 1odos os partidos lutam eniresl" ~ 1974, dificilmente pode ser interpretada corno uma posição de "pegar to-

''
)
J64 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS
) SISTEMAS COMPETIÚVOS j 65
) dos". Tendo tudo isso em vista, se a medida paroquial, pa ís por país, for ~ r tidos e~tr~!11:J·d_os, qi.:..e se_?~êiem ao sistema. ~ ? papel desempenhado
) substituída por uma medida comparativa, comum, será impossível não por un1a
, $-.ifíO,
opos1çao mesponsável nos leva à caracte rística final. J 'I
perceber as proporções nas quais o padrão ideológico de uma formação po- r • .§...:.'.'.' cara~t.erística fin_al do pluraiismo polarizado é 'L_medida na qual
) lítica _aolarizada limita o jogo de "pegar todos". a IO~E~ pol1t1ca evidencia um padrão a que chamo de poii'tica do dar
) (Í7·_.)A sétima característica do pluralismo polarizado é a presença das n'Tá_!:~_e prometer demais, muito difeferíteãõ que é sigr)iilcaiwanienteê.J1-à-
oposiÇ-õ~$ irrespç;ri.zív.~iJ.. Esse aspecto relãciÕnà-sede- perto com a mecâni:- mado de política competitiva. Esta consiste nrro só d°ã 'Competitividade -
) ·ca peculiar do rodízio governamental das fo rmações políticas baseadas no isto7,do grau de cômpetit1v1dade entrn os partidos; consiste ·também da;
centro. De um lado, o partido centrista (ou principal partido do centro) regras de competição. A idéia da política competitiva vem da economia,
não está sujeito à alternação: sendo a base e a espinha dorsal de qualquer e, quando recorremos a analogias, devemos ter cuidado para que a analogia
) passivei maioria governamental , seu destino é governar indefinidamente. n::ro se perca no camin110. A cornpetiçtro económica se tomou possívei por
) Por outro lado, os partidos extremados, os partidos que se opõem ao sis- duas condiçoes: primeira, porque o mercado foge ao controle monopolista;
tema, são excluídos quase que por definição do rodízio no poder: em cir- segunda, e lão importante quanto a primeira, porque as mercadoíias são
) cunstâncias normais, não estão destinados a governar. Nessas condições aquilo que apregoam ser. Na economia, essa últirna·condíçao é assegurada
não temos, portanto, coalizões alternativas, o oscilar do pêndulo de um pelo controle !egal. Se a fraude não fosse punida e se os produtores pu-
grupo de partidos para outro. Temos, em lugar disso, um rod(zio periié- dessem vender facilmente um produto como se fosse outro - vidro por
rico - periférico porque o governo está limitado apenas aos partidos de diamantes, tinta amarela por ouro, água por remédio - o mercado com-
centro-esquerda e/ou cen.tro-direita. Em outras palavras, as coalizões alter- petitivo desabaria imediatamente.
nativas pressupõem um sistema no qual todos os partidos relevantes orien- Condições semelhantes, embora menos rigorosas, aplicam-se à com-
) tam-se para o governo e são aceitáveis como partidos governantes . Contra- petição política. A política competitiva é conclicionada não só pela presen-
riamente, o rQ..QíE_Q_pe_rifért_cQ_ consiste de partidos que governam de forma ça de mais de um partido, como também por um mínimo de equanimi:
) dade na competição (e de confiança mútua), abaixo do qual um mercado
permanente, simplesmente mudando de aliados nas suas vizinhanças.
) polífico dificilmente pode funcionar como mercado competitivo. Reco-
O aci:ssQ p~ri_férico e :_e~t_rito _!9_gçx,erno__c_QrnJ:Lb_11!.Jl.il~? exQ!L~_:, por: nhecidamente, na pol ftica devemos ser menos rigorosos, e a fraude políti-
tanto, por que o plurallsrr!o pola!}~do não tem uma oposição i:esPQPSá'!'.el ca é mais difícil de ser percebida e controlada do que a fraude econômica.
significativa e se_~arãêteriZa por umaoi)õSiÇâõsê.nu-resPõns'áV'cl -; po~na Não obstante, a distinção entre oposiça-o responsável e oposição irrespon-
oposiÇ:lõ" tipi~~J!~n~~ _ir_:esponsável. Uma opo~JS~~e_ort~~e de modo_ sável permite uma distinção equivalente entre competição política eqüi-
res-põrisavel se esperar ter aê "respôrfder'";JSfo é, realizar o q_ue pro meteu_:_~ t:itiva e desigual. Se ~.~ode Erometcr sempre, levianamente, o.
lriversamenie, uma oposiçiopi~~_velmente 'será menos responsávêJqÜ~to c§_u na terra sem ter nunca de "tesponder" pelas suas promessas, esse com--:-
ínenor- for ·a suã expectativa de _g_2v~!:.DF õrã~ nas -formações políiic;s p_ortamento se situa, claramente, abai>:_o de qual.queua<lrrro de com~;
poTarizadas, õ'"fodíi.io ·ãe· poss-ívefs aliados do pririciEàl parti~ 9~~!1.!r2..é~ çãõeqüi'fãt~ acredito que, nessas condic,:ões, a express5.o "política
imposto prínciPafmente pelãS-lürutações ideológicas. AJ.érn~ciiss_o,_os__par: competitiva" é uma escolha vocabular inadequada que traduz umãVlsio-
) 1.t1C?.L Qf~~en tTõ.:esquei-oã-;: de.f§frn~rurei tL_p rovavel~:_nte p~r:!!l.h~rã?. !1
i n-1~-rd·orta__tos:-Nrverdatl e;-o jogo poIThco é-disputado em termos 1
) a~enas _d~ _u~~~ponsab il id~~ ~overnamen taj_~~dária.Jlll_almen te, de compétiçITo dêsiguatcãractéffiãêlá-pêTã-êsCãlãàaincesSãnE"E·ã- polí-
1 inslãDTlidade go~amental e coalizões oscilantes ou maÇ_cª-das po.r.di_m_,o- ticaaITr"õmeféTieSúTtãdõS-=--'pã:ia-vofiãrin:5s-à 1naJogia "êconÕni:ca.::.
1
1

l
) sõêsJ)GScureéén1 a próp~}_J~c~P?"§9,e _guem é tes2on~vel, e 12eJo q_uJ_. as~e-~nelha-se muito ao desequil i"briu-[,i/!ãéfr)iiàffõ:liffia.::Stfü:içJsLQª qual . 1

) "' - P,Qr todos es~~s-~otivos, até mesmo os partidos do sistema orienta- os compería·ó-rés i'JuTãin pãiaã!ranc3r p'lfi'tiãanó'Sêlos outros, recorrendo 1

dos para_Q_governo não são motivaa9s a desel!!.I?~nhar õpãpITTê"'oposiçao :i ~ei0s mais :itraentes e a maJorêS rfroiimsas " , (l~;?íôdõ quc·a competiç!o '
t
t
r~-sponsável_: eles P.2.9.~t!!_ ~ .~eJJ1i·rç_~pp11sá)'eis. E o_i_e!i!tidos anil-Sistema pda oferta existente aumenta, mas a oferta, n_ã'ç;_ .r~
~- --- o- que se d isse ·acirn_ a _é:por!:.into~ a síndrome do plurafümo extrc·
1
i
sáo motivados a serem irresponsáPeis: constituem uma oposição permanen-
te~que se recúSããSffiàent!fiCãê!:lcõni o sistema pofftíco cujãS prorneSsãs mí!.qo c]'õ1á!Jzi<lõ.JJma tentátiva de-explicnção ~,e sua etiõfogia estaÍítl
li
t n~Q:!erão-de- ser cümJiidas . Po rt anto~9 pfüraTismo'R.Qfariza·ao caracteriza- i\na de ordem neste contcx to. O objetivo é moslrar que a tradicional ca· 1

s~ poruli1:1 oposTÇTciSemi-respÓrÍsTvê1 com relação aos partidos locaiíZádós tcgoria do mult ioartida.rismo confundiu de maneira séria dois casos radical- 1

11-à periferia do centro,- ê: por- oposiÇão-:-u responsável ·com referêriclaâôs m<! ntc diferen te~ e que os sistem:is de rn:l.is de um partido nao podem S.:!r :·
..
~

166 PARTIOOS E SISTEMAS PARTIOARIOS SISTE1WAS COMPETITIVOS


''
reunidos numa mesma classificação. É importante perguntar, não obstan·
te, quais as possibilidades de sobre·ti':ência d~s forma_ções ~olíticas pO·
lt:ili;i, os vc rd:ideiros baluartes da manutenção do sistema constituciunaJ.
Cum relação a essa última afinnaça-o, a história pode, dentro em pouco
o

larizadas. Sem dúvida essa 'lariedade de muit1part1dammo e um estado
de coisas pouco salutar para um corpo políti_co. l!m sisten:a poiitico ca-
dizer a úitima palavra. Enquanto isso, é conveniente examinarmos arou'.
mente geral, ou seja, o <le que os partidos comunistas ocidentais pa;ti- ''
r:icterizado por tendências centrífugas, oposição mespon.s~':el_ e compe·
tição desigual dificilmente será um sistema viável. ;\ poltt1ca 1mo~:ra~_a
e ii.eológi9 conduz à paral~sia pu~_: si~le~:nent~, o~a_::.ma segucncia
c1param de governos de coaliz1o burgueses e que, na realidade, nenJrnm
resultado funesto seguiu·se disso.
No fm:il da década de 1930, o Chile, e, logo depois da Segunda Guer-
••
ctésordenada de refQrrnas maf calculadas que tef!I11!1ªm em fracas~ Isso
não significa necessariamente que as formações políticas polarizadas este·
jam destinadas à impotência e, em última análise, à a~todestruiç~o. Di·
ra Mundial, muitos países europeus (e, novamente, o Chile, de 1946 a
1948) conheceram amplas coalizões de "frente nacional" com participa·
ç:To comunista. Mais significativamente, desde fins da década de 1960 os
••
fici lmente, porém, estariam em posição de enfre ntar cnses explosivas ou
exógenas. ..
As possibilidades de sobrevivência das formações pohttcas polan·
.
partidos comunistas participaram de governos de coalizão no Ocidente em
três países: Finlândia (entre 1966 e 1971), Chile (de 1970 a 1973) e Is-
lândia (de 1971 a 1974). Mas a Islândia - com uma populaçao eleitoral de
••
zadas nos levam a reconsiderar os partidos anti-sistema. A questão é se o
sistema conseguirá sobreviver o suficiente para absorver tais partidos na
ordem política existente. O historiador descobrirá inevitavelmente que,
apenas cerca de 100.000 votantes - não constitui, sob esse clSpecto e soh
outros, um caso expressivo. No Chile, os comunistas tiveram uma represen-
tação parlamentar relativamente fraca (6 em 50 senadores e 22 em 150
••
a longo prazo, os partidos revolucionários perdem seu ímpeto orig0:il
e se acomodam aos regimes que foram incapazes de derrubar. Mas o cien-
tista político bem pode ter de descobrir que o "longo prazo" fo~ dema·
deputados). AJlende não tinha maioria no congresso e o curso natural da
experiência foi brutalmente interrompido pelo golpe militar. Ficamos,
assim, com apenas um caso relevante: a Finlândia. Mas até agora o Partido
••
siado para os atores vivos - e para o sistema político. Em geral, foi neces-
sário meio século para que os socialistas marxistas se integrassem - e. sua
integração não ocorreu sem perdas, em muitos países, para os partidos
Comunista Finlandês participou de três governos de coalizão em grande
parte como uma concessão à pressão soviética e niio como um aliado neces-
sário à base da aritmética parlamentar. O principal cargo com que contou ••
comunistas. Enquanto isso, enquanto os socialistas hesitavam, a democra·
eia desmoronava no período entre as guerras, na Itália, na Alemanha e na
Espanha. Além disso, o problema da absorção do comunismo é de outr_a
foi, em 1971, o ministério da Justiça, e isso destaca o fato de que ele
nunca recebeu postos de influência, como os ministérios do Interior ou da
Defesa. Por outro lado, sua ascensão ao governo redundou num sério de- ••
ordem. Se nos lembrarmos das condições das classes trabalhadoras no se·
culo x;tX e nas primeiras décadas do século XX, veremos que o sociali~mo
revolucionário foi realmente uma "política do desespero". Mas os partidos
clínio dos seus resultados eleitorais. Possivelmente por isso, mas também
devido à intensa luta interna entre uma tendência "liberal" e outra staJi·
nista, o Partido Comunista Finlandês n:ro voltou a participar, de 1971 a ••
•,,
comunistas de hoje na França, na Itália, ou mesmo na Finlândia, já n:Io 1975, de nenhum governo de coalizão .
refletem condições de desespero. Em termos relativos, refletem o bem· Evidencia.se, então, que os dados existentes são em granàe parte
estar. Por outro lado, enquanto o socialismo foi e continua sendo, interna- ~m importância para a essência da questão, e isso porque ela depende da i
cionalmente um movimento de contornos imprecisos e, nacionalmente d1feren!a muit~rucial entre@um governo de coalizão com participação j
bastante es~ontãneo, caracterizado com freqüência por uma atitude anti: con111.msta e @um governo âe coa!izão controlado pelos comunistas, ·-....,1 ~
máquina, o comunismo entra na arena apoiado por uma "figura paterna' isto e, _um governo de coalizão no qual o partido comunista assume um, !
~


concreta e como um movimento de organização poderosa, firmemen te ou mais, dos postos ministeriais chaves. E os fatos mostrarn..que ainda
entrincheirado em uma formidável rede organizacional. 19 não_ temos o caso de um partido comunista que detenha as alavancas, ou
Se as analogias entre socialismo e comunismo na:o suportam. um posições de controle, do governo central e se submet:i, no devido tempo, f!)
~ u?"' v_eredito eleitoral livre resultante de uma compctiçifo pluralista sem

--
exame sério, examinemos a chamada integraç:io dos principais partidos
comunistas ocidentais, em suas bases tiío peculiares e sui generis. . .inataçoes. Temos apenas, em todo o mundo abundante evidência em I!)
A tese da "integração" do comunismo tem sido exposta em muitas
versões. A mais ousada delas é a de que, hoje, os principais partidos co~iu·
nistas europeus estão "integrados positivamente", entendendo-se por isso
contrário.

1

'
_H~, uma grande diferença entre "integraça:o positiva" e "in!egraçao
~c.g~t1~a • q,~e se pode observar melhor com relação ao caso concreto do
.,
-"'
que são os verdadeiros- partidos reformistas e/ou que sa:o, pelo menos n:.t l't: 1tahano. • Tal como descrita pelos seus proponentes, a integraç:ro po·
16:1 PARTILJOS E SISiEMAS PARTIDÁRIOS SISTEMAS COMPETITIVOS J 69

si<iv:! do PC! equivale a tmrn "opos1ção .__onstrutiv:.i": segue-se, logicamente, clientela e negócios escusos. Esse é, sem dúvida, um componente crucial
que o partido se compurta rnmo qu1lquer oposição normal, leaJ .21 Essa Ja política invislvel, mas a sua variação nlro tem correlaçao com as variá·
interpre1açao tem sua melhor comprovação22 no fato inquestionável de veis que examinamos. Passamos, assim, a uma terceira maneira de separar
que "quase três quartos da legishição italiana entre 1948 e 1968 teve 3 a parte visível da parte invisível da política, de acordo com a qual a primei·
aprovaçllo dos comunistas" e que, desde então, nenhum projeto de lei nem ra corresponde às palavras e promessas destinadas aos meios de comunica-
mesmo é apresentado ao parlamento sem o nihil obstai do PCI e sem ser ção de massa, enquanto a segunda corresponde às transações e palavras
previamente negociado com ele.23 Mas é fato igualmente inquestionável para consumo reservado. f essa a distinção que interessa à nossa análise.
que a maior pane dessa legislação se relaciona com minúcias triviais e que Como regr:i prática, quanto menor a inclinaçao ideológica, menos
as questões cruciais raramente são decididas, se é que cheg:im a sé-lo ."4 Ou irresponsável a oposiyáo, e, quanto menores os exageros nas promessas,
seja, a integração positiva surge rapidamente como "negativa" tão logo as maiores a proximidade (relatjva) e a conversibilidade entre retórica e pos-
decisões são contrapostas às 11ão.<fecisões. Sob essa última perspcctiv&, a sibilidade de realização, entre a venda de uma imagem e os atos. Inversa-
interpretaçao sóbria é a de que os governos e parlamentos italianos foram mente, quanto mais uma formaçã"o política se entrega a uma corrida de
cada vez mais paralisados pelo poder de veto do PCI e, o que é mais, os promessas exageradas, à oposiç:ro irresponsável e à fixaç~o ideológica de
custos secundários de qualquer àccisão tomada foram, no global, demasia- metas, maiores são a não-<:onversibilidade e a distância entre a política
do altos. visível, isto é, o que é dito em público, e a política invisível, isto é, o que
Como não posso entrar em maio1es detalhes, a observação geral e é feito em particular.
decisiva parece ser a de que a tese da "integração positiva" desmorona A distinção entre política visível e invisível ajuda a corrigir, em pri-
quando tem de explicar por que a I tália é, politicamente , o homem doente meiro lugar, a afirmação errônea de ci. ue nenhuma formação política oci-
da Europa Ocidental. Se a resposta for - como ocorre geralmente - que dental é "realmente" ideológica.26 Eu diria, em lugar disso, que - dada
a deterioração deve ser atribuída ao Partido Democrata Crista:o, isto é, ao uma ampla difusão da ideologia - a negociação pragmática só é possível
partido que dominou todos os governos de coalizão durante quase 30 anos, sob a capa da invisibilidade, ao passo que o jogo visível da política deve
então a inevitável pergunta seguinte é por que a LJC não foi afastada do continuar a ser disputado, na verdade ultradisputado, ideo1ogicamente.
poder. E essa pergunta nos leva de volta às propriedades sistêmicas do plu- E a não-<:onversibilidade entre política invisível e visível que caracteriza
ralismo polarizado ,·, acima de tudo, ao fato de que a DC deve seu poder e as formações políticas polarizadas contribui para explicar, em segundo
sua p~rmanéncia no governo precisamente à presença de partidos anti· lugar. por que meu enfoque se faz sobre o partido como instrumento de
sistema. Em suma, a interpretação falha precisamente na explicação do coleta de votos e não sobre o partido tal como se representa no parlamen-
desempenho sistémico geral da formação política italiana. Sistemicamente to, e afoda menos sobre suas elites do poder. Se as tendencias centrífugas
falando, sua.capacidade explicativa é quase nula. do pluralismo polarizado são avaliadas em nível eleitoral e com relaçao ao
Tendo estabelecido a diferença entre uma integraçao positiva e uma partido como instrumento eleitoral, isso não se deve a que, a esse nível, eu
integração negativa, e também, creio, a maior plausibilidade da interpreta- disponho de uma medida de centrifugaçao, ao passo que as medidas, no
çao sóbria, podemos agora tentar examinar as perspectivas futuras. O teste nível invisível. ou em níveis menos visíveis, cedem às especulações. Meu
crucial es.tá - à luz de nossa definição dos partidos anti-sistema - nos pro- argumento é que, quando a política visível e a política invisível se separam,
cessos de d~slegirimaçãc e, L'1vcrsamente, de relegitimação. Ng-o se pode acabamos num círculo vicioso: os líderes se emaranham em suas próprias
duvidar, creio, que, até a décaàa de 1970, os primeiros proc<!ssos predo· redes ideológicas, a ponto de se tornarem, a longo prazo, prisioneiros de
minaram, na Itália, sobre os segundos.25 Pode-se argumentar, no encanto, sua própria venda de imagem. E esta última observaç:ro me leva de volta
que a teu<lêucia está hoje invertida. Ess::i questão torna-se, porém, r::ipiJa. à questão em apreço.
mente incontrolável, se não examinarmos primeiro a diferença, e em segui- A pergunta ~'!l pa_rt.~q2 an ti:~st~121~~e in~egra_ no s\stema~" >
da a intluér1ci a mútua entre pol(rica vis1°11el e pohrica inl'út'Pel. versa - em última análise - sobre a substituiçno, ou não, dos processos
Num primeiro e desin te ressnnte sentià o, uma gránde parte do pro· anteriores de deslegitimação pelos processos recíprocos de relegitimação.
cc:Sso político escapa à visibilidade por ser demasiado pequeno e porque Digo recíprocos porque a integraç!!o postula que uma política de relegiti-
não podemos atentar para todos os seus aspectos. Num segundo sen tido, mação é adotada por. e a partir de. am b t'S os c:;mpos (se adotado a pen.as
a política invislvcl é deliberadamente oculta e consiste de sua parte desa· por um dele?, o resultado nao é integraç::ro, mas tomada). E a pergunta pre-
grad:1vcl e corrupta: dinheiro político , uistribuiçao de cargos e pro' en tos. cisa é: com que rapidez. e em que nível, parlem décadas de deslegitimaç:io
..
e
)
170 PARTIDOS E SIS TEMAS PA R TI OA RIOS SIS TEMAS COMPETITIVOS e:
••
171

) ref~rênc ias passageiras a paíse.s ~~e confirmam a análise , ocupei-me d~libe­

.,
rt!cíproca ser compensad as por um programa de re legi timaçao·! Os in telec-
) tuais e as d ites mud:un mu itO mais fac ilmente de posições do que os públi· radamen te de um tipo . Isso s1g;11uca q ue não se deve esperar que nenh
· ·d · , um
cos d e massa. E a distinção emre pol ítica invis ível e vis ível significa que sistema concreto ev1 encie, pe10 menos com o mesmo destaque rod
· · d · \ , as
)
)
u ma rek gitimação que pe rmanece lim.itada às áre:is de baixa visibilidade
bem pode deixar as expectativas do e leitorado an ti-sistema insatisfoitas .n
O teste cst:i. portanto , em levarem as eliti!S, ou não, de fato, as suas inten-
:is c:irncterrsucas o tipo. olas a pergunta preliminar é : a que aenero d
"tip~" pemnce o meu ~ipo'? E um tipo ideal, um protótipo, um Upo puro~
um tipo extremo, u m tipo polar.• ou alguma outra coisa ainda? Dada a im-
••
•••
) ções de relegitimação até as massas e ao nível dos meios de ccmur.icaçao preci:ilo _metodológica existente na tipologia dos tipos - e em especial com
)
em massa. E, embora os lev:mtamen t os possam perfe itamente detectar e r~la~ao a noção do ldea~~YP_US - va~~s distinguir simplesmente entre (i)
medir o ritmo e as proporções nas quais uma relegitimação recíproca oco r- tipo:. puros ou polares e (11) tipos empmcos ou deduzidos.ia
) re ao nível de massa, os projetos de pesquisa atuais são pouco im aginativos Os tipos polares são aqueles que representam os extremos de um
)
e as questões mais import:intes são as menos investigadas. Assim, as possi- c~n00õ'üoêüii1ãõro~-5ó marcam os Íimites externeis
bilidades de sobrevivência. das formações políticas polarizadas não podem dentro dos quais os casos reais variam, como também e inem a dimensãÕ

•"
) ser devidamente avaliadas. Sua fragilidade "externa" e sua suscetibilidade aõlõí'igõda g@~Stabêlece -o ~nuo. Osripos purõs,- por sua vez.-
às crises exógenas - como a inflação em Weimar, na Argélia e na França - são os que reeresentam os pa(!_rões, paiâmefros·ou mo e os com os quai s -
) não podem ser motivo de dúvidas e continuam sendo uma constante. Mas <?S exemplos concretos podem ser comparado~ em iefmosdemaior ou ·
••
)

)
)
a superação de suas debilidades "internas" com relaçrro aos partidos (e
at itudes) anti-sistema continua sendo, até hoje, um risco na-o calculado,
co nfiado em grande parte às boas intenções. No momento, tudo o que
sabemos ao certo é que mais votos significam mais poder. É simplesmente
is:;o o que acontece, e é isso que minha medida de centrifugação revela.
f .!
~nor Rr9..~.!rlidacrr-osao1s gêneros -v'õ lar €Wo estão muito _eróx.i-
mos, por _serem ambos ~stru1 CfõS à_ .! se da possibilidade de concêoer
ulliãõC'.9irên~ia empírica, e n!lo de sua freqüência ou probabilidade.-Tam:
bém podemos dizer que os tipos polar e E_uro são essencialm-ente corist;'ü:
~~_!:eurfstico_s. Inversamente, os· tipos empíricos ciü deduildos estão rela-
.•
)
)
Resumindo, a analogia que leva à previsi!o de que os partidos comu·
n i~taSi seguirão a evolução dos partidos socialistas desconhece diferenças
.; rn dais;~Entre outras coisas, os partidos são influenciados pela sua história,
c1o~ados com a freqüê~cia ou probabilidade de ocorrencia empírica e têm
ma.ts uma função de nichos do que urna função heurística. Na verdade,
um tipo empírico é também ..ideal" num certo sentido da palavra, e pode
•.
) ist1) é, pelos processos de socializaçll'o de seus líderes e quadros. Além
dL>:-;o, eJem particular, o que resta saber é - em termos da integração ou
coalescência comunista - o nível em que ela ocorre. O que sabemos ao
ser tão abstrato como um tipo puro. A diferença é que o tipo empírico
tende a ser "deduzido" da evidência morfológica ou idiogr:ifica, ã base de
recorrência ou de médias. Em particular, enquanto os tipos polares são
••
)
certo ~ , que, se uma formaç:ro política é centrífuga em todos os níveis -
eleitoral, parlamentar e de liderança partidária -, então está condenada:
só pode: terminar numa deflagração rápida. Foi o que aconteceu nos três
construídos de maneira dicotômica (como opostos), os tipos empíricos
representam qualquer número de contigüidades distinguíveis.
A resposta à pergunta preliminar é, portanto, claramente a de que o
••
) últimos anos da República de Weimar e durante a presidência de Allende pluralismo polarizado é um tipo polar e/ou um tipo puro. Essa caracteri-
••
..
no Chile. Isso equivale a dizer, portanto, que um sistema de pluralismo zaça~ _n:ro reduz em nada a importància desse tipo. Na verdade, os tipos
) poiarizàdo só pode aurar se as tahcas centrífugas da cõinpetiçã'Oêiêlton{ empm~os pressupõem a ideaçrro dos tipos polares e são por ela ajudados.
) rQNm reduzidas, ou, QOrtiõ1,neütrãlizadas nas outras arenas. Ê esse, sem As soc1~da.des concretas foram melhor analisadas e compreendidas depois
d~. o "CãSõ itãlianõ. Assim:ã·convergenêiacentrípeta que se pode êõi'i: que Tõnrues estabeleceu sua dicotomia de Gemebischaft-Gesellschaft.
siderar como existente entre os líderes partidários comunistas e burgueses, Os ldealtypen de Weber podem ser ambíguos, e não obstante voltamos in·

)
no nível invisível, contribui para explicar como a estrutura política italiana
apresenta a mais longa história de sobrevivência desse tipo. Deixa porém.
e até hoje, as suas características sistêmicas tal como foram descritas.
terminavelmente a Weber. O mesmo ocorre, para citarmos outro exemplo,
no caso_ da solidariedade mecânica contraposta à solidariedade orgânica, de
Durkhe1m. E o estudo dos partidos é prejudicado precisamente por termos
••
6.2 T estando os casos
de tratar com um contínuo "interminável", isto é, um contínuo limitado
ape~as ~uma das extremidades - a totalitária.29 A idéia de que os sistemas
part1dános podem ir de um até um número infinito de partidos revela
••
A exposição acimã apresenta toda a gama de possibilidades e propriedades
oferecidas por um sistema de pluralismo polarizado. Embora eu tenha feito
apen~ uma falta de compreensão teórica. B certo que, numá configuração
pulverizada ou atomizada, o número de partidos pode ser muito alto - ••

lf!;
172 PARTIDOS E: SIST/::MAS PAR T IDÁRIOS SISTEMAS COMPETITIVOS 173

e isso precisamente porque esses partidos são pré-partidos, ou partidos Quadro 5.


embrionários (e, nesse sentido, irrelevantes). Mas, num padrão estrutu- Holanda: resultados eleitorais 1946-1977
rado, há um limite ao número de partidos relevantes - imposto precisa-
mente pela natureza terminal do meu tipo. Devemos entender claramente, 1946 1948 1952 1956 1959 1963 1967 1971 1972 1977
portanto, que a análise dos sistemas competitivos desenvolvida neste ca- Com unista 10,6 7,7 6,J 4,8 2,4 2,8 3,6 3,9 4,5 1,7
)
pítulo começa com um tipo polar, subseqüentemente implementada e Socia!ist:i
seguida de três tipos deduzidos ou empíricos. Tendo presente essa premis- Pacifista 1,8 3,0 2,9 1,4 1,5 0,9
) sa metodológica, passemos ao teste decisivo: a classificaça-o e a prova dos Democratas '66 4,5 6,8 4,2 5,4
casos concretos. Socialist~
)
De acord o com minhas regras de contagem, ap~esento a seguir uma (Pvd A)* 28,3 25,6 29,0 32,7 30,4 28,0 23,6 24,6 27,4 33,8
) lista, que, embora ampla, não é exaustiva, dos países "fragmentados" Socialistas De-
que estão nas vizinhanças ou na área do multipartidarismo extremado e moc ratas '70 5,3 4,1 0,7
polarizado: Radical (PPR) 1,8 4,8 J,7
Popular Cató-
Chile (1961-1973) 5-7 partidos lico (KVP)* 30,8 31,0 28,7 31,7 31,6 31",9 26,S 21,9 17,7
) Dinamarca ( 1947 -197 l) 4-5 partidos Anti-Revolucio-
Finlândia (1951 -1979) 6 partidos nário (ARPJ* 12,9 13,2 11,3 9,9 9,4 8,7 9,9 8,6 8,8 31,9
) França (Quarta República) 6 partidos His tórico Cris-
França (Quinta República) 4-5 partidos tão (CHU)" 7 ,8 9 ,2 8,9 8,4 8, 1 8,6 8,1 6,3 4 ,8
Israel (1949-1973) 5-7 partidos Partido da
Itália (1948-1979) Reforma Po-
6-7 partidos lítica (SGP) 2,1 2,4 2,4 2,3 2,2 2,3 2,0 2,4 2,2 2,1
Holanda (até 1967) 5 partidos Liberai (VVD)* 6,4 7,9 8,8 8,8 12,2 10,3 10,7 10,3 14,4 17,9
Noruega (J 945-1977) 5 partidos C:imponês
Suíça (desde 1919) 4-5 partidos (t ipo Po ujadcJ 2,1 4,8 1,1 1,9 0,7
República de Weimar (1920-1933) 5-6 partidos Outros 1.0 2,9 4,7 1,5 1 ,9 2,3 3,4 5,6 3,7 3,2
)
Fica imediatamente claro que a área de cinco a seis partidos é con- * Partidos relevantes em todo o período.
)
gestionada. Isso equivale a dizer que temos um certo número de casos
limfüofes pairando entre as élasses de pluralismo moderado e extremado. to. 34 Mas a situação parece ter-se modificado. Os acontecimentos recentes
Essa constataçao não é particularmente perturbadora, já que sa_bemos parecem indicar - em ambos os países - um "descongelamento" de seus
desde o início 30 que, nos extremos do espectro, o critério numérico não sistemas partidários.
) pode ser usado isoladamente, isto é, sein a ajuda da variável ideologia . Esse descongelamento é menos evidente, ou mais duvidoso, na Ho-
Antes, porém, de incluirmos essa variável de controle, há dois casos - Ho- landa, onde já temos urna tendência de dez anos mostrando que a cres-
landa e Dinamarca - que oferecem um interesse particular e merecem cente fragmentação do sistema partidário coincide em grande parte com a
exame (Quadros 5 e 6). ascensão e queda dos partidos transitórios. As últimas evidências existen-
C~niando-se todos os part!dos representados no parlamento, a Dina- tes, relativas ãs eleições de 1977, mostram os Liberais num avanço conti-
marca tmha, em 1973, dez pa.rtidos, 31 e a Holanda tinha em 1971, nada nuado e acentuado , os socialistas recuperando e na verdade ultrapassando
menos de 14 partidos. fato notável para um país com uma população a sua força original, enquant() todos os novos partidos, exceto um, os De-
eleitoral de cerca de oito milhões de pessoas.3 2 Apesâr disso eu indi- mocratas de 66, entraram em colapso.
1 q~ei que o formato real do sistema partidário dina~arquês foi '_ no pe-
riodo 19~7-1971 - de quatro a cinco partidos. 33 Do mesmo modo, pelo
Os acontecimentos na .Holanda mostram a controversa relação entre
classificações e mudança. Uma classificação dos sistemas partidários basea·
menos ate 1967., o_sistema partidário holandês foi de cinco partidos , com da no número de partidos mostra seu grau de fragmen tação. Mas se isso
dois grandes (socialistas e católicos), dois protestantes (anti-revolucionários fosse }udo, não precisaríamos realmente de "classes". Embora os cas"os
•) e cristãos históricos) e um partido conservador (Liberal) em crescimen- possam ser transferidos de urna classe para outra, uma classificação supõe

1
1
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)
174 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIOÃR IOS SISTEMAS COMPETITIVOS 175
••
••
pt!rm:inência e delimitação. Se tal suposição não se justifica, então uma or-
) <lenaçJó muthel e índices mais sensíveis estariam mais de acordo com 0
) mundo rca!. Por outro l.a<lo. a parábola holandt!sa confirma a extraordiná-
\Q
ria resiliência dos formatos de partidos no decorrer do tempo. Assim, uma
)
) o
.; 1
M"I

q
•n 1
contagem e recontagem interminável dos partidos holandeses faz ressaltar,
ou teria fe ito ressaltar, uma dinàmica espúria. 35 A parábola holandesa. pa-
rece confirmar, portanto. que as classificações não são apenas um recurso
••
)
) 1 :·
o
c-i l 10
N
de mapeamento, mas também mostram, quando bem feitas, propriedades
sistêmicas. É claro que o formato pode permanecer estável precisamente
porque o comportamen to dos partidos se modifica. No caso holandês, os
••
)
)
º·
N 1
q
V)


V) novos partidos transitórios receberam um apoio desproporcional dos gru-
pos etários mais jovens (que estão também radicalizando muitos dos parti- ••
...
dos tradicionais na maioria dos países ocidentais). Mas o congelamento dos
)

) ......
ô00 o·
-
sistemas partidários ocidentais observado por Lipset e Rok.kan não signifi-
ca que os partidos sejam imutáveis.
A Dinamarca é interessante, por outro lado, pelas proporções e pela
surpresa sem precedentes de seu terremoto eleitoral de 1973. Em 1971,

)

.....
N N

apenas cinco partidos passaram o limite de 2% e se faziam representar no


) . 00
1 .,.;
.... Folketing; em l 973, mais cinco partidos haviam surgido, conseguindo mais

)
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de um terço do total de votos. Dois novos partidos, em particular, criados
pouco antes do dia das eleições, conseguiram quase um quarto do total de
votos. Os marcantes resultados de 1973 foram, sob todos os aspectos, sem ....
)
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1 1
precedentes. Uma contagem do número de votos perdidos ou ganhos por
cada partido revela uma modificação de 60%. As eleições de 1975 e de
1977 foram, porém, um tanto normalizadoras, com uma única exceção im-
portante: a manutenção da força do Partido do Progresso. Como os social-
democratas reconquistaram, em 1977, seu tradicional nível de apoio, o
...
••
N..,.

) N
terremoto eleitoral de 1973 atinge e limita-se atualmente à área não-socia-
)
1 00 1 1 1 ó""' ô lista (dos liberais radicais para a direita). E como se pode deduzir facilmen-


"O
o te do Quadro 6, o que está em jogo na década de 1980 são os 15% dos
) o .,p.
·;:: "votos de protesto", dados, desde 1973, ao Partido do Progresso. Se este

••
l ô 1 1
.... o desaparecesse, seus 15% poderiam voltar aos dois grandes derrotados de
o hoje, ou seja, o Venstre e os conservadores. De qualquer modo, se a Dina-
"O
) 1 1 1 ~ B marca tivesse de ser reclassificada, momentaneamente, como um sistema

'O ~
o "'
..
"' e
>
.,e
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......
de pluralismo extremado, o problema seria determinar se ela se está tam-
bém transformando num sistema de pluralismo polarizado. Naturalmente,
os dois fatos não precisam ser simultâneos. Por outro lado, como o exame
da Finlàndia mostra, um sistema pode ser extremado em termos de nú·
@•
~ E
~ .5
<l
....
mero de partidos e ainda assim continuar semipolarizado. Problemas ou fl
QIQ perguntas semelhantes surgem - embora em menores proporções - com ~
relação à Noruega. Nas eleições de 1973, o Partido Trabalhista Norueguês
sofreu a sua pior derrota em 25 anos - recebeu apenas 35% da votação fJ
total, com apenas 40% das cadeiras - de modo que a Noruega deixou de ~
) fJ
~
) @
176 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS SISTEMAS COo/IPETITIVOS ] 77

ser, aparentemente, um sistema de part ido predominante . 36 Além disso , microcosmo de todas as complexidades concebíveis. A. superfície - isto é
as eleições de 1973 trouxeram para o primeiro plano uma sexta uníd3dc, se seguirmos as intermináveis divisões, novas denominações e recombina'.
indubitavelmente relevante, no parlamento; a Aliança Eleitoral Socialista , ções de seus partidos - o sistema partidário israelense pode parecer, até
resultante da união de forças dos partidos Comunista e Socialista Popul:ir hoje, muito íluido. Por outro lado, se ignorarmos os nomes dos partidos e
(ambos não representados no parlamento de 1969), ma.is um grupo díssi- combinarmos os resultados eleitorais em três grupos principais - esquerda,
dente de esquerda do Partido Trabalhista. Finalmente, mesmo na Noruega centro-direita, e religioso - verificaremos , no período J 949-J 973, uma no-
um novo partido de protesto - o partido de Anders Lange (reivindicando tável estabilidade. O grupo dos partidos de esquerda (cujos principais com-
um3 redução drástica na tributação e na intervenção pública), obteve em ponentes são o Jifapai, atualmente, Avodah, isto é, o Partido Tra balhista
J 973, 5% dos votos. As eleições de 1977, porém, restabeleceram em gran- dominante, e o f'l'fapam, ma.is próximo do socialismo marxista) evidencia-
de parte os partidos tradicionais. E certo que o desempenho dos liberais ram, antes da eleição de 1973, variações da ordem de dois pontos percen-
do Venstre continuou sendo precário, enquanto os ganhos dos conser- tuais acima ou abaixo do lim iie de 50%. O grupo de partidos que vão do
vadores foram espetaculares. Não obstante, a eleição de 1977 reinstalou centro até a direita - cujo elemento básico é o Herut, um partido de di-
o padrão de equilíbrio dos dois blocos (socialistas versus não-socialistas) do reita - foi um pouco mais instável , embora osci.lzndo (antes de 1973) em
passado. 37 torno da marca dos 25%. E a estabilitjade dos resultados do grupo de par-
Embora seja prematuro, como. sabemos pela experiência holandesa, tidos religiosos é espantosa, especialmente se levarmos em conta que os
reclassificar e tirar conclusões a partir de uma eleição apenas, o exame pre- eleitores ma.is do que t riplicaram (440.000 em 1949 e mais de l .5 milhão
liminar de nossa lista de países revela que os sistemas partidários congela- em 1973). .
dos estão sendo questionados. Como quer que seja , no momento o pro- Mas a agregação de resuJtados simplifica, em grande parte, a questão.
J blema é decidir se os países limítrofes (para a elas si ficação) pertencem, Os resultados agregados redund:im de uma coleção de partidos extrema-
-) ou não, ao tipo de pluralísmo polarizado. mente fragmentados, com tendência à proliferação e à divisão, altamente
Apliquemos imediatamente a variável de controle; a distância ideoló- heterogêneos entre si e ainda altamente fracionarizados no nível de subpar-
) gica. Sob esse critério, evidencia-se desde logo que a Suíça pertence, sem tido (com um forte componente de pro tecionismo e clientela). T?memos,
) dúvida, ao tipo do pluralismo moderado. O mesmo ocorre, embora em por exemplo, o grupo religioso. Dentro de uma mesma religião, o principal
proporções decrescentes, com a Holanda_ A fragmentação partidária dos partido religioso (Mizrachi) participa da maioria das coalizões (e se tornou,
) dois países reflete segmentação, e não polarização. Em particular a Suíça depois das eleições de 1973, () aliado mais cortejado para coalizões entre
parece ser o país mais despolitizado de todo o grupo, presumidamente por- o Alinhamento e o Likud), ao passo que o Agudat Israel tem uma origem
que os cantões continuam sendo o cen tro de gravidade da política suíça. anti-sionista e recusa-se, desde 1952, a partilhar das responsabilidades de
Do ponto de vista nacional, o sistema partidário suíço é extremamente governo (mesmo no governo de unidade nacional de 1967 que deílagrou a
) frouxo e descentralizado; os "administradores" federais centrais deixam Guerra dos Seis Dias). Como uma primeira aproximação, podemos diz.er que
o debate da matéria política e as respectivas decisões à periferia. 38 Quanto Israel combina a fragmentação e o multisectarismo d:l Holanda com a po-
) à Dinamarca e à Noruega, bem se podem estar voltando para uma maior lietnicidade da Suíça. Mas esta é apenas uma primeira aproximação. Os
) radicalização; o fato é que, até o fim da década de 1970, em nenhum des- partidos protestante e católico da Holanda podem ser incluídos no con·
tes dois países havia partidos anti-sistema de importância. A extrema es- tínuo esquerda-direita, ao passo que os partidos religiosos judeus represen-
querda dinamarquesa (Partido Comunista, Partido Socialista de Esquerda. tam um dos poucos casos de multidimensionalidade irredutível, pois seu
e Partido Socialista Popular) nunca ultrapassou o nível de J 2%. Uma extre- objetivo predominante é ampliar a esfera dos controles religiosos. Devemos
ma esquerda norueguesa que surgiu nas eleições de 1973 sob o rótulo de :icrescentar que a religião tem, na política israelense, um papel contradi-
"Aliança Eleitoral Socialista" teve vida efêmera. Ponderados todos esses tório ou, pelo menos, ambíguo_ De um lado , durante dois mil anos de Diás-
aspectos, Holanda, Dinamarca e Noruega n:fo pertencem ao tipo polari- pora, os judeus mantiveram sua identidad.e em bases religios:is. Por outro
zado, nem dele parecem estar-se aproximando de maneira significativa. lado, a presença de partidos realmente religiosos contraria a natureza mo-
Os casos duvidosos pelo critério numérico deixam de sé-lo pelo critério derniz.adora do novo Estado e representa, pelo menos potencialmente, a
,_ ideológico. cJ iv~ge m ma.is divisiva na sociedade israelense. 3 9
Há ainda um outro país que merece uma atenção prelin1in:ir e. n:i Se nos voltarmos para a outra comp.aração, evidencia-se Jpgo que
1 ?
verdade, especial: Israel. um caso intrigante - à parte o fato de se r um l~rael é, com efeito, muito mais poliétnico do que a Suíça. É certo que os


. )
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Quadro 7 .
Israel: resultados eleitorais globais no período 1949-1977
1959 1961 1965 1969 197J l<J77 -o
1949 1951 1955 h
:n
P~r tidodos Trabalhadores Unidos: :.!
o
Mapam o
V)
Paxtido Trabalhista: Mapai rr1
(A vodah desde 1968) V>
Unidade do Trabalho: Achdut A vodah 39,6 36,2
e;;
49,8 47,6 51,3 48,8 51,2 46,2 -1
(l ~55-1961) 50,4
Chapa dos Trabalhadorcs:Raji
"'$:
h
V)
(1965) 1
'\)
Coaliziio Al inhamento-1Haarah ):.

(1969 e 1973)2 li
::!
Movimento Democrático pela Cl
):..
Mudança (1977) :xi
Chapas Árabes Filiadas ã
(/)
Liberais Independentes
(desde 1965) 3 - - - - - 3,8 3,2 3,6 1,2

Partido Progressista (até 1959)


Sionistas Gerais (até 1959)
Partido Liberal (1961 )4 33,4
26,0 27,2 24,2 27,4 21,3 26,0 30,2
Chapa Esta tal (1969)5 20,8
Centro Livre (1969)6
Partido da Liberdade: Herur
(194 9-1961)
Coalizão Gahal (1965 e 1969)7

Quadro 7 (cont.)

1949 1951 1955 1959 1961 1965 1969 1973 . 1977

Frente de Coalizão : Likud


(1973, 1977)8
Partido Religioso Nacional: Mizracl11'9
Religião Ortodoxa: Agudat Israel
(desde 1961) 12,2 11,9 13,8 13,6 15,4 14,0 l ·l ,7 12 ,5 14 ,0
Trabalhadores Ortodoxos:
Poalei Agudat (desde 1961)
Frente Torah (até 1959) 1º
Partido Comunistall 3,5 4,0 4,5 2,8 4,2 3,4 3,9 4,8 4,6
Outros 13, 1 8,3 6,9 8,1 4,2 6,3 6,0 9, 3 10,6
1 Cisão do Mapai liderada por Ben Gurion. 8 Gallal, Centro livre, Chapa Estatal e, desde 1973, Prent<:
V)
2 Mapam, Mapai, Achdut Avodah, Rafi. de Begin.
ili
3 Partido do Centro que não fez parte do Gahal nem do 9 Desde 195 l , atualmente Mafdal, recebe dois terços dos
Likud, sucessor do Partido .Progressista.
4 Fusão dos Progressistas e Sionistas Gerais.
s Cisão do Rafi, isto é, segunda cisão dos partid:írios de Bcn
votos que vão para os partidos religiosos e incluí um scgmen·
to trabalhista, fia Poe/ HaMizrachi.
10 Torah compreendia, em 1949, todos os partidos r.:liglosos
~
V)

~
Curion. e, nas três eleições subseqüentes, os dois partidos ortodoxos.
6 Cisão do Herut. l 1 Dividido em dois desde 1965: Maki (Mokeú i11 1973). que
7 Bloco reunindo o f/erut e o Partido Liberal. é pró-Israel, e Rakach, o novo Partido Comunista, pró·árab<:.
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1\.
)
) 180 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÃRIOS SISTEMAS COMPETITIVOS 181
)
suíços falam três línguas ao passo que Israel adotou o hebraico (embora deiíOs, embora potenciais, partidos oscilan ces dos sistemas - os partidos
) respeitando o árabe) como sua língua nacional unificadora. Mas, hoje em que podem passar de uma coalizão de orientação de esquerda para outra, de
) dia, as "nações" suíças estão ma.is acomodadas entre si do que as "tribos.. orientação de direita, desempenhando com isso um "papel de centro" -
judoic::is. E isso, compreensivelmente, porque Israel é um Estado novo, de são os partidos religiosos (em especial, o Mizrachi). Mas essa explicação
imigrames. Mas o cadinho israelense não foi tão eficiente quanto se espe- dificilmente seria suficiente.
) rava. A população do pais é composta de dois grupos étnicos e culturais Até 1973, os resultados eleitorais israelenses não sugeriam qualquer
principais: os asquenazes (originalmente alemães). que compreendem os tendência definida: o sistema político parecia, apesar de sua fle.x.ibilidade
) judeus de origem européia, russa e norte-americana, e os sefardi11s (origi- aparente e de suas manobras, congelado num estado de equilíbrio único.
) nalmente, os espan11óis), em grande parte fundidos com os orientais, A Guerra do Yom Kipur foi um choque e reforçou, sem dúvida, as razões
originários dos países mediterrâneos, do Iraque e do Irã. Essas "tribos" em favor da coalescência , contra as pressões de segmentação. Mas, ante a
) não só pertencem a culturas diferentes como também a um momento ltis- surpresa e as ilusões de outubro, o aspecto mais significativo das eleições
tórico diferente; são, por assim dizer, assincrônicas. E não se estão fun- de dezembro de 1973 não foi o enfraquecimento do Alinhamento liderado
)
dindo. Uma subcultura parece estar em processo de consolidação, em opo- ~la primeira-ministra Golda Me ir, mas o fato de que o bloco oposicionista
) sição, ou pelo menos em contradistinção, à cultura ocidentalizante. 40 do Likud tenha melhorado apenas de 26 para 30,2%. O Likud finalmente
Diante das razões acima, seria surpreendente não encontrar uma so- teve ê.x.ito, e Begin tornou-se primeiro-ministro em 1977. Poderíamos di-
) ciedade dividida e um sistema partidário muito fragmentado. Indubitavel- zer. assim, que os resultados eleitorais de 1977 indicam o aparecimento de
) mente, portanto, Israel pertence à classe do pluralismo extremado. Mas uma ponderável oposição e, portanto, de uma possível tendência para um
não revela as propriedades desse tipo: não é polarizado, embora as ten- sistema baseado em coalizões alternativas. Mas minha suposição é a de que
1 sões e condições de um desenvolv1mento polarizado façam parte do qua- essa tendência teria de esperar acontecimentos novos e ainda mais traumá·
) dro. Há, porém, o outro lado da moeda: Israel é um pais pequeno, cercado, ticos. Nem mesmo a Guerra do Yom Kippur libertou Israel de sua condi·
lutando pela sobreYivência e sujeito a sérias ameaças externas. Sob esse ção de prisioneiro de seu passado ju,daico, distante e recente. O paradoxo
) aspecto, pode ser aproximado da Finiândia, exceto pelo fato de que os fin- de Israel é ser um Estado novo (i) baseado em lembranças imemoriais, e
landeses acreditam ter estabelecido um modus vivendi com a União Sovié- (ii) anterior ao seu estabelecimento formal em 1948. A Organiiação Sio-
tica, ao passo que os israelenses têm uma crescente consciência d~ sua vul- nista Mundial e a Agência Judaica para a P;, cstina conformaram o futuro
nerabilidade. Nessas condições, a solidariedade e a coalescênc1a são de Estado de Israel durante o mandato britânico, a partir da década de 1920.
rigor. E isso pode ser suficiente para explicar por que Israel constitui, apesar O Mapai é o partido dominante de Israel porque foi dominante na organi-
de sua fragmentação, um tipo de formação política "moderada" (isto é, zação siorusta, e não é mistério que o fluxo de recursos financeiros e
não-polarizada ou apenas sernipolarizada). Mesmo assim, Israel é mais sui humanos da Diáspora para a Palestina foi altamente seletivo e, na reali-
generis ainda. dade, discrirrúnatório contra os grupos políticos clissidentes.42 A chave
O argumento de que o número de partidos afeta a mecânica do sis- principal para se entender o caso de Israel está, portanto, nas forças exóge-
) tema partidário supõe um jogo político endógeno, isto é, um grau suficien- nas que, primeiro , criaram o novo Estado e, subseqüentemente, influen·
te de autonomia internacional em assuntos internos. Isso não ocorre em ciaram a auto-orientação da formação política. Se Israel constitui um caso
lsr.ael, razão pela qual não devemos esperar que se apliquem as rrúnh.as surpreendente, é porque não pode ser explicado denrro de Israel. O novo
"predisposições mecânicas". A verdade é que continua sendo difícil clas- Estado resulta de uma convergência fantasticamente complicada de pres-
sificar Israel em qualquer tipo. Se não é polarizado, pode-se igualmente sões entrecruzadas, históricas e externas, e foi por elas influenciado. Quan-
observar que, só em 1977, apareceu em Israel uma coaliz.ío alternativa (is· do nasceu, as "proporções" já haviam sido fixadas; e mecanismos muito
10 é, um dos aspectos que caracterizam as formações políticas moderadas); complexos de proporz pressionam em favor de sua manutenção. Além dis-
nem é um sistema de partido predominante (o Mapai nunca superou a so, Israel depende, mais do que nunca, de recursos e de apoio de fora, e é
marca dos 40%). Assim, o aspecto mais intrigante do padrão israelense é a ameaça externa que contrabalança não só sua Diáspora interna, resisten·
que, apesar de seus numerosos partidos, falta-lhe um pólo central, em c~n­ te , mas também as sementes de uma Kulturkampf religiosa-secular. E se as-
}
tradistinção a \Jm pólo de esquerda 41 (pois os liberais. independentes d~fi­ sim for, não há sentido em se procurar enquadrar Israel num dos padrões
cilrnente se qualificam de, e dificilmente po~em ser VJStos como, um polo que se desenvolvem r.ias formações políticas autônomas. Israel é, muito
) de centro). Uma e:-.plicação para essa estranha lacuna é a de que os verda- claramente, um caso à parte e como tal deve ser entendido. 43
)
)
) ~
) 182 PARTIDOS E SISTEMAS PART!DÁRIOS SISTEMAS COMPETITIVOS 183 ~
)
)
)
Ficamos, assim. com seis casos, isto é, com seis países a serem inves-
rig:idos como formações pol iticas polarizadas. Esses países esi:Io dispostos
de acordo com sua maior ou menor proxinúdade com o tipo "puro". As·
sim, Weimar, Itália e França (com referencia específica à IV República) são
os primeiros. O. Chile é o quarto, por suas peculiaridades. A Finlândia é
z:i-se por um partido de centro muito mJ..is coerente do que os da Repúbli·
c:i de Wt>imar, da França e particularmente do Chile, como iremos ver den·
tro em pouco. E se um partido de centro unificado e predominank é um
indicador de soiidariedade e estabilidade sistêmicas, pode-se dizer então
que os democrac1s cristãos italianos representam, ou represencaram duran-
~

~ -•
---
)
o seguinte, como o caso menos próximo. Quanto :i Espanha ( 1931-1936), te quase 30 anos, o feedback de maior êxito entre os sistemas polariz:idos.

-..••
) só é incluída como ilustração adicional, sob a ressalva de que a experiência Com relação à França (Quadro 10) a quest3'o intrigante é até que
espanhola fõi caótica e demasiado breve. ponto a variaç:i'o se pode explicar pela variável intermédia constitucional
A experiência de Weimar (Quadro 8) evidencia duas características que separa a IV e a V Repúblicas. isto é, pela transformação de um sistema
) principais: primeiro, e durante todo o seu curso, um extraordinário grau de parlamentar num sistema presidencial e, principalmente, pela eleição direta
flutuação dos votos partidários (com a única exceção do Zemrum cató- do Presidente. Outra questão correlata e em aberto são as proporções nas

..•
lico); e segundo, uma esmagadora orientação de esquerda em 19 19-1 920 quais a mudança do sistema eleitoral (a IV República usou várias formas de
) que foi modificada pela arrancada direitista em 1932-1933. As tendên- PR , enquanto a V República restabeleceu o sistema de um segundo escru·
cias de afastamento do centro são muito evidentes durante todo o perío- tínio com os dois candidatos mais votados no primeiro, caso não se registre
) do, do declínio dos progressistas de centro-esquerda (DDP) e de sua con· maioria absoluta) afetou o comportamento do eleitorado. ~ fora de dúvi-
trapartida de centro-direita, o Partido Popular (DVP), ambos em desa- da que o duplo escru tínio reflete mal, invariavelmente, os extremos;46 isso

)
)
parecimento.44

Quadro 8.
República de Weimar: resultados eleitorais (Reichstag)
também contribui para explicar o desaparecimento virtual de uma extrema
direita (do tipo Poujade) desde a última eleição PR (a de 1956). A modifi-
cação do sistema eleitoral significa igualmente que uma comparação entre
os resultados eleitorais da IV e V Repúblicas só é possível à base da primei·
ra votação (isto é, não seria possível à base do segundo escrutínio, ou da
distribuição de cadeiras). Uma última ressalva é a de que a França, em todo
-.-.
)
)
Socialista lnd. 7,6 18,0
Maio
191 9 1920 1924
Dez. Julho Nov.
1924 1928 1930 1932 1932 1933
o período de 1945-1978, passou por intermináveis transferências e recom-
binações de unidades eleitorais. 47 Em conseqüência disso, as fontes de
dados globais não concordam nunca entre si - e meu Quadro 1Onão cons-
••

••-
Comunista 2,0 12,6 9,0 10,6 13,l 14,6 16,9 12,3 titui uma exceção dessa regra.
) Social-Democrata' 37.9 21,6 20,5 26,0 29,8 24,5 21 ,6 20,4 18,3
Partido Democratal 18,6 8,4 5,7 6,3 4,9 3,8 1,0 1,0 0,9 Quadro 9.
Centro (Católico) 19,7 13,6 13,4 13.6 12,1 11,8 12,5 11.9 11 ,2
Partido Popular3 Itália: resultados eleitorais 1946-1979 (Câmara Baixa)
4,4 14,0 9,2 10,l 8,7 4,5 1,2 1,9 1,1
) Popular Nacion:U 4 10,3 15,l 19,5 20.5 14,2 7,0 5,9 8,8 8.0
1946 1948 1953 1958 1963 1 968 1972 1976 1979


) Nacional Socialistas 6,6 3,0 2,6 18,3 37,4 33,l 43,9
Outros
1 SPD.
l,5 7,3 12, l 11,5 17 ,l 17,0 5,8 6,0 4,3 Comunista
(PC!)
Socialista
18.9
l
31,0 f
22,6 22,7

14,2
25,3

f
26,9 27,2 34,4 30,4

9,8 pi

••
l
DDP. 20,7 12 ,7 9.6
3
lJ ,8 19,6
DVP. 14,5
4 DNVP.
) s Partido nazist:i.
Social-Democrat:i - 7,1 4,5 4.5 6,1 5,1 J,4 3,8
3,0
Republicano 4,4 2.5 L.6 1.4 l ,4 2,0 2,9 3,1
)
)

)
A itália (Quadro 9)já foi examinada em detalhe. 45 Apenas dois pon-
tos nos parecem dignos de menção. Primeiro, em contraste com a Repúbli·
Democrata Cris-
tão (DC)
liberal
Monarquista
35.2
6,8
2,8
48,5
3,8
2,8
40,l
3,0
6,9
42.4
3,5
4 ,8
38,3
7,0
1,8
39,J
5,8
1,3
38,8
3,9
38,7
1,3
38.3
1,9 •
ti=
ca de Weimar, as flutuações eleitorais italianas são bastante reduzidas, ao Neofascistas ~
passo que a tendência é constante. Pelo menos até 1976, o ritmo italiano (MSI) 2,0 5,8 4,8 5,1 4,5 . 8,7 6.1 5,3
foi lento, mas seu curso foi bastante constante. Segundo, a Itália caracteri· Outros L1.2 2,3 2,8 1,7 1,2 5,9 3,8 3,4 7.5 ~
)
~
'
1
~
,,:;
)
) 18·1 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIOARIOS SISTEMAS COMPETITIVOS 185

)
Para o argumento cm análise. o problema é colocudo especialmente
) pelos gaulistas. Em minha análise da J V República, o movimento gaultsta V') :::() - "°
O ' Oôv-i~
é considerado como anti-sistema porque o espaço esquerda-direita (orde-
.) nução) implícito em meu conceito baseia-se não em posições sócio-econô-
) micas. mas em posições de programa '·constitucional", e De G:1111le o pós-se
e rejeitou sempre a IV República como um regime parlamentar incapaz de 1 1 1 '° °' OC> ' •
,.;éc
) funcionar. !\lesmo assim, poder-se-ia objetar que, em junho de 1953, o
) RPI· (Rassemblemem úu Peuple Français) foi incorporado ao sistema, pois
parncipou do governo de coalizão de laniel e novamente, em 1954, da
)
gr:rnde coalizão nacional de Mendes-France (também apoiada pelos comu-
) rústas) que estava destinada a pór fim à guerra da Ind ochina. Mas, em maio ....
Vt'l""\-t'--f'O
de J953, De Gaulle havia liberado os deputados do RPr de qualquer fide- ó~ oÔ ("":v;-~
f"'t("""lt"'f"lVNN
lid~de para com ele , e o movimento participou das coaliz.ões Laniel, Mayer
e Mendes-France com a intenção principaJ de torpedear a Comunidade de

. )
Defesa Européia e, com ela, os partidos da "terceira força" pró-Europa,
que se identificavam com a IV República. t justo dizer, portanto , que os
gaulisl:ls só traíram De Gaulle e se incorporaram ao sistema quando parti-
.. ) ciparam (sob uma nova denominação, RS, ou seja Républicains Sociaux) MOOOOOr'"1 --.oo- -r"> "'
.. ) do gabinete Faure , em 1955. Seja como for, ressaltei sempre que minha ar-
MN " ; ...;.V"~ ,.,
N~M~--ó

. )
gumentação se baseia no partido como instrumento eleitoral e nos resulta-

. )
dos eleitorais, e que a distinção entre o partido eleitoral (visível) e o par·
tido no parlamento (com fieqüência invisível) é de grande importância .
~
~ - vi~ON

. )
Assim, a •·confusão gaulista" reforça minha posição. No meu entender, o ~ ----
i5.._...:,...;ó.,.;
l 11
.) gaulismo teve uma identidade e desempenhou seu papel relevante durante ::,.

a IV República mas apenas corno um partido eleitoral visto pelos eleitores


tal como De Gaulle o concebia. Daí o fato de os deputados do RPF terem 0-. - ,-, V\ - -:~
) .qoõ...õN-
gradualmente voltado (primeiro na secessão da ARS, em 1952, e finalmen- NN,....,,_ -
-oo
111
) te sob a bandeira dos RS em 1955), no parlamento, às suas práticas e alian-
ças tradicionais não alterar a realidade de que a votação gaulista pretendia
~ ) ser urna votação anti-sistema - o que se confirma perfeitamente pelo que
.) aconteceu aos membros do parlamento representantes do RPF, da ARS,
da URAS, e dos RS nas eleições de 1956: dizimação drástica (de 2 1,7%
' ) 1 para 4,0%). ..,
(,) oc -
~_:~..,;..,..
C"lN-- -
C"\ v-. rJ r-~c-v-.coc
..,.; M oé "5 d v;
----NN
Pelo que foi dito acima , a principal razão que torna difícil a compa- .., ...,
f"I """° r'-1 0
ração entre a IV e a V Repúblicas é o fato de serem os gaulistas anti-siste- _: ~;,...; -çf
ma na IV República, mas representarem o novo sistema, isto é, a V Repú·
blica, pelo menos, até as eleições presidenciais de J 974. M:is o caso em ..
exame é a IV República, e, quanto a ela, o Quadro 1O mostra, em 1951, ~ ~ - r""1 \O
-á -ó ~ o.é
r- °'
v-:
(~ i-....,. o 'V°'
~_:,....;o _:o
( ) urna tendência centrífuga muito evidente e, em 1956, a afirmação de um C""t N r'-IM r"i -NNC"'l f'"'-le"'i
::1 "'
t) padrão polarizado. É certo que a IV República desmoronou sob a ameaça o:.!:
de um exército pretoriano e o impacto de uma c~isc exógena de descolo- V')\C\0-\C

1 nização. Não obstante, em 195_] e em 195 6 a oposição de protesto e :1


oposição <1Jienada haviam reunido juntas 48% e 44% do total dos votos: na '
- ..,. ..,. '"r ir. V',
0'-0-C>'>O>O-

~ )
~ )
~
)
186 PAJlTIOOS E SISTEMAS PARTIDARIOS ~
) SISTEMAS COMPETITIVOS 187
~
) ·/erJaJe, uma indicação elo qüente d e urr.a crise de !egi limid;.ide generaliza- Quadro 11.
J'.l e pe rsis teme. Chile: resu! ta dos eleitornis 1945-1973 (Congresso)
4
)
O Chii.e, cujos result:idos ele itorais são rnostíados no Quadro 11 , e
apresen ta, em proporções ainda maiores, o mesmo problema da França: até
que pon to o fato r cunstitucion:i.1 constitui uma explicação? A.llende fo i le-
vado ao poci:!r pelas convenções da constituição, não po r uma maioria elei-
Comunista
(PCChJ
Sociaiisra
(PS)
Radical
f PR}
Democrata
Cristaõ
(PDC)
Ubera! . Conservador
(PL) PCU) ••
)
toral :ibsoluta. 48 E também a eleição do presidente pelo sufrágio universal
impõe ali::mças que - num sistema polarizado - criam fortes tensões den-
tro do grup.o dos partidos de centro e levam a saltos ideológicos acrobáti-
1945
1949
1953
1957
10.3 12,8
9.J
14,1
10,7
20.0
21.7
13,3
21,5
2,6 .
3,9
2,8
9,4
18,0
18,0
1t ·º
15,4
23 ,6
22,7
10,l
13,8 4

cos ao longo da dimensão esquerda-direita. Assim, os radicais (PR) alia -
ram-se aos conservadores (isto é, a direita dos democratas cristãos, ou PDC)
PCCh PS PDC PR PL PCU

''
no inicio da campanha eleitoral pela presidência em 1964, ganha por Frei; 1961 11,8 11 , l 15,9 22.2 16,6 14,8
contribuíram para a votação de Allen de e participaram de seu governo em 1965 12,8 10,6 43,6 13.7 7,5 5,3
1970; e uniram-se à aliança anti-AJlende (CODE) em 1973. Ou seja, duran- PS PCCh PR POC PN

)
)
te todo esse período os radicais e os democratas cristãos estiveram todo
o tempo invertendo suas posições e se flanqueando mutuamente. Note-se
que essas mmobras não eram novas. O caso extremo foi a eleição presi-
dencial ,de Vid:ela (PR) em 1946, que resultou de uma aliança pouco santa
1969
PS
MAPU
15,l

lzq. Crist.
16,6

PCCh
API
13,4

PR
31,l

PDC
Rad.
Dem.
lzq. Rad.
20,9

PN t
''
)
)
que ia desde a esquerda marxista aos liberais. Isso significa que, se um po-
sicionamento de centro pede um "papel de mediador", esse papel não foi
nunca desempenhado de maneira adequada pelos radicais ou, subseqüen-
Março
i97 3
18,7
1,3
16,7
1,3
3,3 33,3 1,3
0,7
22.7
••
••
0,7
) teni~n te, 1Jelo I'DC. O centro que mantinha de pé a formação política chi-
len:1 era produzido, com efeito, pela presidencia. Desde 1938, apenas um Fontes (até 1969): R. H. McDonald, Parry Systems and Elections in latin America,
) pre$ide~t@í{Alessandri em 1958) foi eleito pela direita, e apenas um (Allen- Markharn, 197 1, p. 134: Em 1973, a Frente de Unidade Popular - PS, MAPU, PCCh,
API - obteve 42,1 % (um aumento de seus cadeiras na Câmara e duas no Senado), e a
) de em 1970) ~a de esquerda, e, em ambas as ocasiões, suas eleições resul-
taram de erro de cálculo dos outros grupos. A diferença foi que Alessandri
pôde aproximar-se do centro ao passo que A11ende não teve condições para
oposição (CODE). 56,2% da votação. As porcentagens de L9_73 são comp.utadas da
distribuição de cadeiras. Os resultados de 1949, 1953 e 1957 sao altamente mcomplc·
tos (em 1953, até 48, 7% da votação são considerados residuais), mas sigo McOonald
••
)

)
isso. A evoluf.fo da presidencia de Allende caracterizou-se, em proporções
crescentes, pelo "vazio do centro" , o que constitui, num sistema polariza-
do, o prelúdie de seu colapso.
para ter uma comparabilidade longitudinal (a eleição de 1953 produziu uma pe~tur­
badora e efêmera maioria ibanista). Os maiores partidos não considerados no peuodo
1949-1957 são o PAL (P:i..rtido Agrário Llborista) e PSP (Partido Socialista Popular).
PS: Partido Socialista; MAPU : Movimento de Ação Popular Unida (cisão do PDC};
••
)

)
NessaHandições, pergunta-se se a variante chilena do pluralismo po-
larizado realmente tinha - em termos de partidos - um centro, ou se seu
centro equivaia, em substância, a um "trânsito" da esquerda para a direi-
lzq. Crist.: Esqui.:rda Cristã; PCCh: Partido Comunista Chileno;AP!:Ação Popular ln-
dcoendente: PR: Partido Radical ; PDC: Partido Democrata Cristão (desde 1957, antes
Faiange Nacional); lzq. Rad. : Esquerda Radical; Rad. Dem.: Radicais Democratas; ••
••
ta, e vice-vena. Na verdade, se a noção de centro é puramente relativa e PN: Partido Nacional (fusão PL/PCU); .PL: Partido Liberal: PCU: Partido Conservador.
)
contingente à existência de outros partidos (mais à esquerda e mais à direi·
) ta), então é certo, por definição, que o Chile e qualquer sistema de plura-
)

)
lismo polarizad<0 tem um centro. Mas a relatividade da noção não impede
uma avaliaçãe dle sua densidade substantiva. Sob esse último ângulo, a prin-
cipal lição a ser extraída da experiência chilena é a de que a combinação
estabilizar e solidificar - na sua estruturação partidária - um feedback
do centro.
Uma variável ulterior, em que não me preciso demorar, é a militar.
••
)
)
de uma eleiçã> presidencial direta com um padrão de polarização e centri·
fugação impaje a sol idificação de um pólo central, criando com isso ava-
riante mais fraca e indefensáv~l de um sistema inerentemente frágil. O Chi-
A tradição (desde 193 1) de não-intervenção havia criado a i~agem de u1:1
exército que se colocava em segundo plano como o gua~~tao da const1·
tuição - uma idéia que facilitou, psicologicamente, a e~e1ção. ~e Allend~
••
)
le estava pa1fü:ularmente a descoberto precisamente porque nunca pôde pelo Congresso. De um lado, a existência de um guardião militar cond1·
••
-
)
)
)
188 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDARIOS SISTEMAS COMPETITIVOS 139

cionou, posteriormente, o desempenho do presidente. Isso não quer su- n:inte de centro-esquerda - o PDC - indicava a mais salutar distribuição
gerir que o "legêilismo" de Allende tenha sido imposto, mas sim obscr· possível de um sistema de pluralismo polarizado. Mas as eleições de 1969
var que o MIR (o Movimento da Esquerda Revolucionária de inspiração demonstraram que essa distribuição era apenas transitória. Em 1969, era
guevaris1a) e o seu próprio partido lhe faziam exigências impossíveis. Não evidente que as pressões do sistema eram esmagadoramente centrífugas,
se pode, porém, generalizar sobre o "caminho constitucional" para um tendo a extrema esquerda cresci do em 32% e a direita (então urúda no PN)
Estado marxista, a partir da experiência clúlena. À parte a maneira pela reconquistado 21%, ambos às expensas do sonho de curta duração do
)
PDC. E as eleições de 1973 confirmaram que a polarização havia destruído
qual terminou, toda a evolução dessa experiência foi "penurbada" por
um exércllo ao qual os dois lados recorriam, de acordo com as circunstân- qualquer coisa que pudesse ter sido antes considerada como uma área de
cias e com interpretações opostas. como o árbitro, depositário ou saivador centro, com o PR reduzido a apenas 3% e o PDC reconquistando certa for-
ça (mas não as perdas dos radicais) eomo líder da Frente anti-AJ1ende.
constitucional. 49
Apesar de todas as variáveis intermédias acima, os resultados eleito· Essa rápida sucessão de reviravoltas dramáticas não pode ser atribuí-
rais são, em si mesmos, muito reveladores. O Quadro 11 está subdividido da a um sistema partidário ainda não solidificado. Não só o Ch.ile tinha a
em quatro p:irtcs que explicam os diferentes equilíbrios dos períodos as- melhor história de governo constitucional e de eleições livre de qualquer
sim demarcados, e também procura explicar - embora de maneira geral - país importante da América Latina, como também dispunha do sistema
as trocas de posicionamento ideológico entre radicais e democratas cris· partidário mais altamente estruturado do continente. Num período mais
tãos, e entre comunistas e socialistas. O quadro também mostra que o es- longo, o u seja, a partir da década de 1930, o Chile se compara melhor à
pectro ideológico sofreu, ao fim do processo, considerável extensã"o. Não Jll e à IV Repúblicas francesas. Na década de 1960, porém, ele se havia
só os socialistas se colocaram claramente, pouco antes da vitória de AJlen· tornado mais parecido com a Itália. Primeiro, os dois países encont raram o
de e sob a liderança de Altamirano, à esquerda do Partido Comunista {leal seu partido básico na democracia cristã de centro inclinada para a esquer-
à URSS e insensível à sedução de Castro), como também os comunistas da, com doutrinas e inspiração intelectual semelhantes. Segundo, o Partido
foram igualmente flanqueados à sua esquerda pelo MAPU e pela !zquierda Comunista Chileno nada tinha a aprender com "o caminho italiano para o
) Cristiana. dois grupos extremistas que se separaram do PDC. t certo que socialismo", de Togliatti: como o PC!, o PCCh há muito se inspirava na
) esses grupos (e também a API, a cisão esquerdista dos radicais) tiveram doutrina da conquista eleitoral do poder e na conseqüente estratégia de
mau desempenho nas urnas, mas ocupavam postos no gabinete e eram, unidade de ação com os socialistas e de incorporação da classe média. Ter·
) sem dúvida, relevantes. Embora não att1asse como partido eleitoral, o MIR ceiro, os socialistas chilenos representavam uma versão extremada da
era ainda mais relevante. E o mesmo se aplica, mais tarde, à sua contra par· "retórica ma.ximalista" que também desde sempre aíligjra o socialismo
tida de extrema direita, a orgarúz.ação paramilitar Pátria y Libertad. italiano. Embora o socialismo no Ocidente tenha sido, com freqüencia,
) Voltando às subdivisões do Quadro 11, o período 1945-1961 não é cismático e dividido entre muitas seitas, os partidos socialistas tradicionais
) muito significativo por três razões: (i) a proibição, entre 1948 e 1958, do do Chile e da Itália tinham em comum uma característica impermeabilida-
Partido Comunista; (ii) o aparecimento, em 1952,de uma estranha maioria de à "corrupção" social-democrata.
) ibanista antipartido; (iii) o fato de estarem os soci"alistas divididos, até l
Ainda vamos debater por muito tempo as inúmeras razões que leva- 1
) 1959, em dois grandes panidos, o PS e o PSP (Partiào Socialista Popular).
ram o Chile ao golpe de 1973. De acordo com a análise acima, uma das
Por todas essas razões, a dinâmica~ endógena do sistema foi em grande parte r:izões, e não das menores, foi ter o sistema político atingido uma fase de
) obstruída. Foi portanto em l 961 que as premissas que vinham am:idure· não-funcionalidade. Com base apenas na aceleração de sua polarização I;
) cendo desde a Frente Popular de 1938 se tornaram operativas em ritmo centrífuga, era fáci l prever que todas as condições de governo democrático
muito rápido. O primeiro choque foi , em 1961, a ameaça que o PJ)( passou 1:
) des:iparcciam rapidamente. 50 E. o fato de ter esse aspecto óbvio escapado
a representar para os radicais, seguida em 1965 pela su3 esmagadora vitória
à atenção não só dos atores. mas também dos observadores, representa
) sobre o até en tão (desde 1938) partido básico do si5tema. J:.m 1%5. est:wa
um sintomu pressago.51 A tragédia chilena não é apenas uma tragédia em
igualmente claro que todo o espectro havia deslizC:Jdo maciçamente para a
) si, mas também ind ica um colossal fracasso de análise política. 52 Estamos
esquerda: não só o presidente Frei levava suas reformas, realizadas sob o vivendo, aparentemente - inclusive os cientistas políticos - muito acima
) slogan "revolução com liberdade", além de limites jamais alc::inçados pelos
de nosso i111elligere poli'tico , isto é, de nossa cap::icidade de compreender
radic:iis, como a votação da direita reduziu-se de 31 'lé para apenas 13ç;.,
·e controlar os impossiveis e os i nevitáwis da política.
Estruturalmente falando, porém, o aparecimento de um parrido predom.i·

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190 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS SISTEMAS COMPETITIVOS l9t
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) Ao passo que o Chile se caracteriza pelo <leílagr::i.r da din3mica do ~
) pluralismo polarizado, a Finlândia (Quadro 12) represen ta o melhor exem-
plo de como as propensões mecànicas do tipo podem ser neutralizadas com
)
)
êxito. Apesar de ter o terceiro maior partido comunista do Ocidente, e
apesar de seu baixo grau de autonomia internacional em relação à URSS
impor a participação dos comunistas no govemo ,53 a finlândia destaca-se
••
)
)
como o caso mais esperançoso e bem-sucedido de polarização controlada.
Não obstante, o exame do Quadro l2 mostra que as tensões centrífugas
se fazem sentir. Embora os comunistas tenham sofrido perdas severas de
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1970 em diante, e embora os social-democratas tenham reconquistado -
depois de sua queda em 1962 - a força média de um quarto do total de
votos, ainda assim o aparecimento pro tempore de um novo partido rural
de protesto, a força menor do Partido Agrário do centro e o crescimento •••
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dos conservadores estão de acordo com as previsões do modelo. A Fin·
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lãndia representa o caso menos próximo, ou mais distante, do tipo puro.

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Mas ela se toma um caso muito interessante precisamente porque seu


sistema político atua no emaranhado da se mi polarização. 54
j O Quadro 13, sobre a Espanha, mostra apenas, como diz Linz, que
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) ('I "nas eleições de 1933 a Espanha tomou-se mais um exemplo ( ...) qe sis-

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Quadro 13.
República Espanhola, 1931-1936 ...
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Fonre: Juan Linz, "The party systcm in Spain"', in Lipset e Rokkan (orgs.), Party
Systems anel Vo1er Alignments, Free Prcss, 1967, pp. 260-263. Quadro 22. Os núme-
-o '"' ros para a Assembléia Constituinte foram ac rescentados por Linz.
) ~ ""2 1
Comunistas e maximal istas.
OÜ: PSOE.
3 Ação Republicana, Esqucrra Catalana, Jsq. Republicana, Unión Republicana.

)
- ... 4 Partido Radic.:al.
5 Oposição à Constituição de 1931.
6 Pró-monarquia. ••
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) SISTEMAS COMPETITIVOS 193
192 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS
)
blica, 1957 para o Chile, 1958 para a Finlândia) representa um valor O,
) tema multipartid:irio polarizado, centrífugo" .55 Um::i razão adicional p;:i . 1
à base do qual as medidas do Quadro 14 representam os coeficientes angu-
incluirmos o caso da República Espanhola , porém, é que a EspJnha poJe
) lares de cada agregação, entendidos como o quantum médio (não a ta:xa
ser sempre tentada a reverter - ap.:sar de um começo relativamente bom
média) de awnento, ou decréscimo, com relação ao resultado total. 57 Só a
) nas eleições de 1977 e 1979 - ao padrão ou caminho que havia trilhado
IV República não foi passível desse tratamento, pela razifo óbvia de que,
na década de J 930.
)
com três eleições condensadas num ano, a suposiçao de que os intervalos
Há muitas maneiras de representar as tendências das forças partidá- entre eleições são iguais é insustentável. Portanto, no caso da IV Repúbli-
) - rias. Uma forma segura é traçar wna linha de regressão anual, sendo a ca, o tempo foi considerado corno uma variável contínua (embora o valor
tendência cumulativa simplesmente a multiplicação da taxa de modificaçao aparente do coeficiente de regressão tenha sido adaptado para tomá-lo
) anual pela duração eleitoral do partido. 56 No Quadro 13, porém, e nos comparável). Não é necessário que nos demoremos nas imperfeições da
números assim resultantes (Figuras 15 a 20), é empregada uma técnica medida e, especialmente, na arbitrariedade inevitável das agregações. t
diferente sempre que possível. O Quadro 14 calcula os coeficientes de claro que, para um único país, os coeficientes podem ser calculados parti·
regressão ou, mais exatamente, as tendências lineares das formações..,polí- do por partido, e as agregações podem ser feitas ad hoc. 58 Para as fina·
)
ticas em apreço com r<!laçao a três conjuntos de agregação: (i) extrema lidades comparativas, porém, os agregados devem ter em conta a compa· .
esquerda, centro-esquerda, centro, centro-direita, extrema direita, na parte rabilidade. Assim, nas figuras seguintes os 1dados são adaptados ao leito de
) superior do quadro; (ii) esquerda, centro, direita, na parte média, e (iii) a Procusto da djvisâo tríplice, esquerda-centro-direita, exceto para o Chile
sorna dos coeficientes dos dois extremos, na parte inferior. e a França. 59
)
As medidas baseiam-se nos resultados eleitorais nos países, pelos Três países exigem alguns comentários rápidos. Em primeiro lugar,
) números dos países apresentados nos Quadros 8 a 13; abrangem o mesmo a Itália está representada por três números para mostrar as proporções em
espaço de tempo (até 1973), e sua explicaçao é a seguinte : o ano central da que diferentes agregações produzem quadros diferentes. Assim, na Figu-
)
distribuição ( 1928 para Weimar, 19.58 para a Itália, 1967 para a V Repú- ra I 6a as tendências não são marcantes. Mas se o grupo de esquerda for
) separado (Figura 16b) percebemos imediatamente a raz!o, ou seja, o avan-
) ço comunista é neutralizado pelas pe~das dos dois outros partidos de es-
Quadro 14. querda. Da mesma forma, se o grupo de direita é posto de lado (Fi_gu-
) Tendências lineares (coeficientes de regressão) de resultados ra 16c) vemos que as perdas da direita moderada obscurecem os ganhos
eleitora.is agregados de sete formações políticas polarizadas da extrema direita.
)
Ern segundo lugar, a França não é passível de uma agregação tríplice,
) Weimar Itália França IV França V Chile Finlândia Espanha em especial porque a transição da IV para a V República significa que os
) EL 1 +2,93 +l ,3 1 -0,22 +0,78 +3,1 l +0,53 + 7,3
gaulistas se transformaram de anti-regime em novo regime. Segue-se que
CL 2 -2,50 -0,84 - 1,49 - 1,34 +3,85 -0,18 - 8,9
a V República - que examinaremos na última seção - já não tem uma
) cJ extrema direita. Assim, as Figuras 17a e l 7b seguem a agregação quín·
-3,65 - 0,34 -3,32 - 3,29 -0.47 - 7,3
) CR 4 - 1,15 +0,0 1 +0,67 +3,65 -2,82 +0.~8
tupla, isto é, a primeira série de coeficientes do Quadro 14, sendo a repre-
sentação dividida em duas - resultados e tendências eleitorais - pa'.ra
ER 5 +6,56 +0,51 ·4,04 + 8,1
) melhor clareza visual.
Esquerda -1 ,06 +0,33 - 1,70 - 0,56 +6,96 +0,21 + 1.5 Em terceiro lugar, com relação à Finlândia , duas coisas são dignas de
Centro - 3,65 -0,34 - 3,32 -3 ,29 -0.47 - 7.3 nota : o intervalo quase igual nos resultados dos três grupos (em contraste
Direita +4,71 +0,48 +4.49 +3,65 -2.82 +0,28 + 8,6 com a Itália, onde esquerda e centro estão muito próximos, e a direita vem
Ext remos 6 +6,16 +l ,85 +3,82 +0.78 +3,1 1 +0,53 +15 ,9 bem atrás) e o fato revelador de que uma parábola de segundo grau adapta-
)
se melhor, para o agregado doce ntro, do que a linha reta. .. _ .
1 Ex trema esquerda.
) Centro-esquerda.
A eloqüência visual das figuras encerra ~ como toda eloquenc1a -
3 Centro. certa distorção. Mas as distorções podem ser reparadilS exami~and_o-se os
4 Cenuo-di.rena. resultados eleitorais partido por partido. Devemos ressaltar tambem que
5 Extrema d1rc11a. o que, na verdade, importa é a maneira pela qual os partidos localizados
6 Soma dos coeficientes dJ exrrcma esqu.:rda e da e:1.1rem:i dirc!la.

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194 PARTIDOS E SISTEMAS PAR TIDÂR ! OS
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1946 1 94~ l'l53 l %:i
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Figura J 5. Tendências na Repúblicl de Weimar. Figura 16(a). Tendências na Itália.
) Esquerda (- 1,06): Com unistas, Socialistas Independentes, Social.Democratas; Cen- Esquerda (+ 0,33): Comunistas. Socialistas (PSI e PSD!), Republicanos; Centro:
) tro (- 3,65): Democratas, Centro, Partido Popular; Direita:(+ 4,7 1) : Partido Pop ul ar (- 0,34): Democratas Cristãos; Direita (+ 0,48): Liberais, Mo narquistas e MSl (Nco·
Nacional, Nacional-Socialistas. foscista).

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Figura J 7(aj. franç.a. resultados eleitorais agregados, l 945 ·1973. Figural 7(b). Tendê ncias na França, 1945- 1973.

fV Repríhlica: EE (Extrema esquerda): comunistas: CE (Centro-esquerda) : socialistas; C (Centro) : democrata~ cristãos (MRP),
radicais; CD (Centro.direita): conservadores ; ED (Extrema direita): gaulistas, poujadistas.
V Repií/)/ica: EE (Extrema esquerda) : comu nistas, socialistas de esquerda (PSU); CL (Centro.esquerda): socialistas, radicais de
esq uerda; C (Centro): democratas cristãos (MRP), conservadores (Raynaud, Pinay, Monnerville); CD (Centro-direita): gaulistas,
pró·gaulistas, conscrvatlorcs (R 1).
N a~ figuras l 7<a) e l 7(b}, a dimensão temporal é contínua com referência à IV República, ao passo que as eleições s:io tratadas
corno igualment e espaçadas na V República. Os coeficientes são os do Quadro 14.

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) 1945 1948 195 1 1954 l<J5:l 1962 1%6 1970 1972

)
)
Figura J 9. Tendências na Finlândia.
J::squerda (+0,21): comun istas, Partido Rural, soc ial·dcmocrl tls; Centro (-0,47):
''
) Figura 18. TcndEncias no Chile.
Extrema Esq11mla: (+ 3, 11 ): comunistas, >ocialistas, MAPU, API; Cenrro-Esquerda
agr:írios, libcrab, Partitio Sueco; Direita (+0,28) : conscrVlldori::s. (Apesar da parábola
do agregado do centro, o coeficiente continua tal como cal cu lado, isto é. um cocfici·
ente angu!Jr.) ''
l + J,85 ~: rad icais . th.:mocra tas cristãos; Celllro·Direira (- 2 ,82l: liberais, conservado·
res, PN. •
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) PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS


20Ó
S/STéMAS COMPETITIVOS 201
)
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60 \
, Esquerda !
i.
n:is extremidades do espectro ideológico se comportam em relaç:ro aos
partidos situados centralmente, entre os extremos. O que é realmente
) /
\ m1 porta!lte, portar1w, é a medida da centrifugação, tal como sugerida ao
\ / pr do Quadro 14: a soma dos coeficientes dos dois extremos. E aqui que
) \ /
50 está a chave.
) \ I
\ Pode-se objetar que só longitudinalmente, no decorrer do tempo,
/
) \ <'SSe tipo obtém um número suficiente de casos. Mas assim deve ser, pois
/
\ est amos tratando, afinal de contas, com o extremo do espectro. Além
) 40 disso. o número de casos deve relacionar-se com sua importância, e com-
/
) prova-se que a experiência do pluralismo extremado e polarizado afetou -
/
/
nos últimos 50 anos - todos os quatro malores países do continente eu-
) 30 \ Direita ropeu : a Alemanha de Weimar, a Espanha, a França e a ltália. Por outro
/
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- ..- .\- •&... ·-1.,
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l:Jdo , se o Chile não é um dos maiores palses da América Latina em po-
pulação , era o mais significativo em termos de tradição democrática e con-
solidaçil'o estrutural do sistema partidário.
) ' A questão fundamental continua sendo, portanto, se os dados elei-
'' torais bastam para sustentar todas as implicações sistêmicas delineadas na
-J
)
10 ' ..... Centro
seção anterior. Mas isso depende, em primeiro lugar, de ser a leitu ra . dos
J:idos eleitorais uma leitura normal, ou de ter ela uma orientação teórica.
E continuo achando, em princípio , que fomos demasiado longe na redução
) da importância da política "visível" em contraste com a " invisível".60 Iro-
) nicamente, quanto mais encontramos nosso caminho no escuro, mais nos
1931 1933 1936 esquecemos da luz solar, ou a ela nos tornamos cegos. Essa deformaçã'o
) se pode justificar no contexto das formações políticas pragmáticas, ou pelo
Figura 20. Espanha, 1931-1936 (distribuições eleitorais agregadas). menos ideológicas. Em particular, os sistemas bipartidários dificilmente
)
serão interessantes se não os examinarmos por trás das cortinas. Mas a si-
Esquerda: comunistas, socialistas, esquerda b~gu_esa ;~!reira : centr.o-d11ei ta à extrema
) direit:i. (Os coeficientes são calculados mas nao sa~ uulizados na Figura.) tuaçao é outra quando passamos às formações políticas ideológicas. Nesse
caso, as palavras são armas e wn tom inflamado desempenha um papel
)
importante como instrumento de influência no curso dos sistemas polari-
) zados. Quando a sociedade é alimentada por credos ideológicos, a política
invisível bem se pode transfonnar no fator contrabalançador Ja pol ítica
visível. Mesmo nesse caso , o peso do que é prometido delimita de manei-
ra visível, e condiciona de maneira vigorosa, aquilo que pode ser íeito de
form a invisível.

6.3 Pluralismo mod erado


e sociedades segmentadas

O pluralismo limitado e moderado é demarcado, num limite, pelos. sisternªs


l51pãrflclanos -e, no outrõ, pelo plü rafismo extremndo e polarizado. A classe
c~_i:eende:-ê!1tão, bàSicamente·: de três a ch1co partidos relevantés: é_J:>_Ór
isso que-ô chnmo· de p luralismo "limitad9" (em d istinç:ro ~ ~':t r~mado}.:
) 201 PARTIDOS E SISTEMAS PAR T/DARIOS
SISTEMAS COMPETITIVOS 203
••
••
) Quadro 21. (cont.)
Quadro 21 .
)
Norueg3: resultados e cadeiras 1945-1977 (Storting)

••
196! 1965 1 969 1973 1977
> 1945 ; 9-19 195] 195 7
Voros Cadeiras Voros Cadeiras Voros Cadeiras Vo ros Cadeiras Voros Cadeiras
) Voros Cadeiras Voros Cadeiras Votos Cadeiras Votos Cadeiras
1,9 !,-+ 1.0 0.4

••
) Com u ni>t:Js l l,9 7,3 5,8 5,1 2,0 3,4 0,7
Ali ~nça Elei to ral 11,2 10,j
\
Sod:ilista 1

••
) Parcido Socialist a 2,4 1,3 6,0 1,3 3,4 4,1 1,3
Popul:lI
Partido 46,8 49,3 43 ,2 45,J 46,S 49,4 35,3 40,0 42,4 49,0
45,7 46 ,7 51,3 48,3 52,0

••
Traba lhis ta* 41.0 50.7 56.7
Libera is \ Vemrre) 7 ,2 9,3 10,2 12,0 9,4 8,7 ?~,.)
~
1,3 3,2 1,3
d~ Esquerda• 13,8 !3,2 12,4 14,0 10,0 10,0 9.6 10.0
P:litido Popular 9,3 10,0 7,8 8,7 7,8 9,3 11,9 12,9 12,l 14,2

)
Cristão*
Partido de
C<!nUo Agrário
7,9 5,3 8,4 6,0 10,5 9,3 10,2 8,0

6,8 10,7 9,4 12,0 9,0 13,3 11,0 13,5 8,6 7,7 ••
••
) (desde 1959) 8,0 6,6 4,9 8,0 8,8 9,3 8,6 10,0
P:utido 19,3 l 9,3 20,2 20,7 18,8 19,3 17,2 18,7 24,7 26,4
) Conservador 17,0 16,6 15,9 15,3 18,4 18,0 16,8 19,3
2,7 1,9

••
Pa1t ido d e A mlers 5 ,0
) Llllge ( 1973)2 5,3 1,8 4,() 6,1 2,6
) Outros 0,3 6,8 0.5 3,1

••
1 Aliança en tre os Partidos Comunista, Socialista Popular e uma c isão trabalhista.
) • Partidos relevantes.
'2 Partid o de pro testo. Resultados e cadeiras são em porcentagens: o número de ca· Se a relação não parece totalmente convincente, isso não se deve ao
)
deiras no Sroriing foi de 150 até 1969 e foi aumentado para 155 em 1973. O sistema fato de que possamos discordar qu.anto à relevância/irrelevância de um par-

)
) eltitoral foi mod ificado de d' Hont para Saint-Lague, em 1952, reduzindo com isso a
super-representação do Partido Trabalhista. O Storting é, na prática, um sistema
unicameral.
tido menor, mas a que podemos ter dúvidas quanto a que os países em
questão tenham realmente as mesmas propriedades sistêmicas. Esta per-
plexidade diz respeito a três países: de um lado, a Bélgica, à qual voltare- ••
)
Limitando os exemplos aos países ocidentais, os que se enquadram
nessa classe são a Reoública Federal Alemã, a Bélgica, a Irlanda (formato
mos no fim; e, de outro, a Suécia e a Noruega, os dois países escandinavos
há muito governados - com interrupções relativamente pequenas - pelos
seus respectivos partidos social-democratas. É lugar-comum dizer, hoje, f •
)
) tripartidário), a Sué~ia, a Islândia e o Luxemburgo (formato quadripar-
tidário), a Dinamarca (quatro até a década de 1950 e quatro-cinco na dé-
cada de 1960), a Su(ça, a Holanda e a Noruega (cinco partidos). Esses for-
que ambos são sistemas multipartidários. A questão, porém, é se a No-
ruega e a Suécia não devem ser classificadas como sistemas de partido
predominante . Por isso, os Quadros 21 e 22 indicam as porcentagens dos ••
) matos não são constantes. Como sabemos, os sistemas partidários dina-
marquês e norueguês contam atualmente com mais de cinco partidos, e,
embora a Holanda possa estar retornando ao seu formato mais tradicional,
resultados eleitorais e das cadeiras no parlamento.
Como mostra o Quadro 21, o Partido Trabalhista norueguês manteve
a maioria absoluta de cadeiras até 1961, perdeu-a por ínfima margem em ••
a Suécia bem pode ser considerada como uma formação de cinco partidos.
Mas os formatos indicados acima foram os existentes, ou predominantes
em grande parte de um quarto de século , e foi notável, até fins da década
1961, 1969 e· 1977, só tendo sofrido portanto duas derrotas claras: em
1965 e, por diferença ainda mai<>r, em 1973. Mas, se ignorarmos dois rápi·
dos períodos de perda do poder (quatro semanas em 1963 e em 1972· ••
)
)
de 1970, a sua resiliência. Temos cerca de dez países, portanto, que se
situam na classe do pluralismo limitado.
1973), o Partido Trabalhista sofreu um afastamento importante do poder
••
')
••
)
SISTEMAS COMPETITIVOS 205
) 204 PA RTIDOS E SIS TE:MAS PARTíDÁRIOS

) Quadro 22. (cont.)


' QU<Jdro 22.
) Suéci2: resultados eleitorais e cadeiras 1948-1979
) 1960 J 964 1968 1970 1973
1948 1952 1956 1958
Voros Cadeiras Votos Cadeiras Votos Cadeiras Voros Cadeiras Votos Cadeiras
) Voros Cadeiras Votos Cadeiras Voros Cadeiras Voros Cadeiras
4,5 2,2 5,2 3,4 3,0 1,3 4,8 4,9 5,3 5,4
) Comunistas 6,3 3,5 4,3 2,2 5,0 2,6 3,4 2,2
) Partid o Sociai- 47,8 49,l 47,3 48,5 50,1 53,7 45,3 46,6 43,6 44,6
Democrata 46,l 48,7 46, J 47,8 44,6 45,9 46,2 48,0
) Par tido Agrário
de Centro 13,6 14,7 13,2 14,2 15,7 15,8 19,9 20,3 25,2 25,7
J (desde 1957) 12,4 13,0 10,7 11,3 9,4 8,2 12,7 13,9
Liberais-Parti d o 17,S 17,2 17,0 18,0 14,3 13,7 16,2 16,6 9,4 9,7
Popular 22,8 24,8 24,4 25,2 23,8 25,l 18,2 16,4
J. Partido 16,5 16,8 13,7 13,7 12,9 12,4 11,5 11,6 14.3 14,6
Conservador 12,3 10,0 14,4 13,4 17,l 18,2 19,5 19,5 3,6 4,1 2,3 2,2
0,1
) Outros 0,1 0,1 Otl
) De 1948 a 1968, os resultad os e as cadeiras referem~e à Segunda Câmara; a partir de
1970, o Riksdag rorno u-se unicameral.
7 As eleições de l976 e 1979 provocaram, aparentemen te, o fim do sistema sueco de grande parte, em governos minoritários, mantidos porém por. un:1ª conti-
partido predominante (o governo social-democrata foi substituído por uma coalizão nuada maioria social-democrá.tica na Primeira Câmara, o que s1gmfica, em
) dos partidos do Centro, Liberal e Conservador), mas numa base de quase igualdade essência, maioria de governo em questões financeiras. A trajetória da _so-
entre os dois blocos (em 1979, maioria de uma cadeira). A única modificação impor· cial-democracia sueca também é mais descontínua. Ao passo que o Partido
) tante das eleições de 1979 foi o crescimento dos conservadores (até 20%) às expensas Trabalhista norueguês foi afastado do poder, mas nunca governou em
do Partido do Centro (menos até 18%). ·
) coalizão (exceto no exilio), os social-democratas suecos uniram suas forças
com os agrários · em 1936-1939 e, novamente, em 1951-~ 957_. 65_ _Além
)
disso, quando os social-Oemocratas voltaram ao governo umpartidano ~m
) apenas entre 1965 e 1971. A grande derrota trabalhista de 1973 não reco- 1957 sua maioria dependeu do apoio indireto ou de facto do Partido
)
locou no poder a coalizão anti-socialista: apenas criou um governo traba- Com~nista (cinco cadeiras). E isso vem ocorrendo com maior intensidade
lhista minoritário, apoiado ex ternamente pela Aliança Socialista. 61 E as até 1976 (com exceção da legislatura de 1968). 66 Entre 1945 e 1976,
eleições de 1977 levaram ao poder novamente um governo trabalhista. Por- portanto, os social-democratas governaram com maioria absoluta_ durante
tanto, se colocarmos de lado o governo de Coalizão Nacional no exi1io, cerca de J 4 anos apenas, todos interrompidos por longos per1odos de
) sediado em Londres de 1940 a 1945, e se lembrarmos que o Partido Tra- governo minoritário. · , . .
) balhista norueguês começou a governar sozinho em 1935, o quadro geral é, Não seria a nossa lista mais exata se a Noruega e a Suecia fossert! clas-
definidamente, de predomínio trabalhista (com apenas uma interrupção sificadas como sistemas de partido predominante? Isso é possível se, por
importan te). Mas esse predomínio vem sendo, há muito, bastante frágil. sua vez o limite de 51 % estabelecido pela definição operacional do sistema
» No Storring de 1961 , e novamente no de 1977, a maioria absoluta depen-
dia das duas cadeiras do Partido Socialista Popular; 62 e durante a legisla-
de partldo predominante for abandonado devido ao princípio e à pr!tica
dos governos minoritários. 61 É essa, com efeito, a minha opça-o; nao só
) tura de 1973-1977 o governo trabalhista foi mL'1oritário, mantendo-se no porque ..governar sozinho" é uma característica sistêm~ca muito marcante
governo , evidentemente, graças às 16 cadeiras dà Aliança Eleitoral Socia-
'> lista. Portan to, o padrão de predominância da Noruega vem aparentando,
e de longo alcance, mas também porque essa categonzaçS'o nos_ propor·
ciona um ganho significativo de perspectiva. Num período_ n:ais long~,
incessantemente, uma regressão. 63 digamos desde a Primeira Guerra Mundial, a Noruega e a Suec1a se qu~1-
~
Ao nos voltarmos para a Suécia 64 (Quadro 22), é interessante notar ficam, em geral, como casos de pluralismo moàerado (~m~ora com tensoes
)
que, neste .país, a história da predominância social-democrata é mais antiga acentuadas, durante a década de 1920 e princípios da decada de 1930, e
• do que na Noruega . Começou em 1932; baseando-se, não obstante, em
_.
)
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)
~)
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)
)
c::a
l
206 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS
SISTEMAS COMPETITIVOS 207 c::a
) com repc!tidos indícios de polarização) caracterizados por coalizões alter· c;a
nativas de dois blocos. Durante cerca de 40 anos, porém, um partido pre· no Bundestag foi de 49,9% (1953), 54,3% (1957), 48,5% (1961), 49,4%
) dominante controlou, desradicalizou e estabilizou a fonnação política em
C:;il
(l965), 48,8% (1969), 45.4% (1972) e 49,0% (1976): na verdade, um de-
)
bases <le bem~star social avançado. Esse padrão está, aparentemente, che- sempenho melhor do que os dos social-democratas suecos. Não obstante,
....
~

-...
gando ao seu ponto de exaustão . Se assim fo r, o destino da Noruega e da os governos de coaliz<Io tiveram início em Bonn tã'o logo o CDU perdeu
) Suécia será adotar a fórmula predominante em bases centrífugas (isto é, sua maioria absoluta: CDU e liberais (FDP) em 1961, CDU e social-demo-
dependendo cada vez mais da extrema esquerda) ao custo de voltar a um cratas (SPD) na "grande coaiizão" de 1966-1969; e social-democratas e
) caminho de polarizaçlfo, ou retornar a um sistema bipolar de coalizões liber:iis, depois de 1969. Note-se - sempre em comparação com a Suécia
alternativas que contribuiria para restabele,cer a competição centrípeta. - que os democratas cristãos mantiveram a maioria relativa no Bundestag
. ,a

.....-.
)
Como quer que seja, a observação geral é que a ana1ise da Finlândia mesmo nas eleições de 1969 (48,8% contra 45,2% do SPD) e só a perderam
) e da Dinamarca (na seção anterior) e, agora, da Noruega e da Suécia, des- por uma margem ínfuna em 1972 {45,4% para o CDU contra 46,4% para
trói a imagem superficial de um grupo escandinavo homogêneo de países o SPD). 10 Por que então a Suécia funciona de maneira tão diferente da
com a propriedade de terem sistemas multipartidários funcionais. Eles bem Alemanha? A melhor resposta parece ser a d e que apenas a mecânica desta
podem ser "funcionais", mas dificilmente pelas mesmas razões e com os última é definidamente bipolar - em suma, que os sistemas são diferentes.
) mesmos mecanismos. A Finlândia, apesar de se ter de inclinar por vezes Assim, a fórmula do pluralismo moderado não é governos alternati·

.-.....
a inclusões, motivadas pelo desejo de boa vizinhança, do Partido Comu- vos, mas o governo de coalizão dentro da perspectiva de coalizões alter·
) nista em suas coalizCles, funciona basicamente como um sistema baseado nativas (o que não significa necessariamente uma alternaç:ro, na prática,
no centro, com elevada instabilidade governamental. A Dinamarca vem de coalizões). À parte essa importante diferença, sob a maioria dos outros
constituindo, ao contrário, wn sistema bipolar, de dois blocos, de coali- aspectos a mecànica do pluralismo moderado tende a assemelhar-se a e a
imitar - embora com um maior grau de complexidade - a mecânica do

....
zões, ao passo que a Noruega e a Suécia vêm funcionando como sistemas
predominantes de governos estáveis de um só partido.63 bipartidarismo . Em particular, a estrutura do pluralismo moderado con-
Estando reduzidos os países da classe de pluralismo limitado à Re- tinua sendo bipolar. Em lugar de apenas dois partidos , encontramos em
) pública Federal da Alemanha e Bélgica, Islândia, Luxemburgo, Dinamarca, geral alinhamentos bipolares de coalizõe!; alternativas. Essa diferença,
Suíça e Holanda, a questão agora se volta para a mecânica do tipo. Evi· porém, não reduz a importância do fato de que a competiç:ro continua

...-.
) dentemente, o pluralismo moderado tem direito a reconhecimento à parte, centrípeta e, portanto, do fato de que a mecânica do pluralismo moderado
) na medida em que suas propriedades sistémicas não são as do bipartidaris· ainda possa levar à poll"tica moderada.
mo nem as do pluralismo polarizado. Embora as características marcantes d o pluralismo moderado possam
) Face às propriedades do bipartidarismo, o principal traço marcante não parecer impressionantes em relação aos sistemas bipartidários, elas se

-.._.
) do pluralismo moderado é o governo de coalizão. Essa característica resul· destacam claramente em relação aos sistemas de pluralismo polarizado.
ta do fato de que os partidos relevantes são pelo menos três, que nenhum Primeiro, faltam ao pluralismo moderado partidos anti-sistema relevantes
) partido alcança, geralmente, a maioria absoluta, e que parece absurdo per- e/ou grandes. 71 Segundo, e correlativamente, faltam-lhe oposições bila·
) mitir que o partido maior ou dominante governe sozinho quando pode ser terais. Colocando na afirmativa: num sistema de pluralismo moderado
obrigado a dividir o poder. Assim, surgem os governos minoritários de um todos os partidos orientam-se para o governo, isto é, estão disponíveis pa-
) só partido, mas isso em conseqüência de uma queda de braços mal cal· ra coalizões ministeriais. Assim, todos os partidos n:ro-governamentais po- p
culada, ou à base de um cálculo preciso (como o abandono se.necessário, dem coalescer, qua oposições, e isso significa que a oposiçlfo será ''unilate·

..
)
de programas e políticas impopulares), ou então como coalizões disfarça- ral" - toda de um lado, seja à esquerda ou à direita. Basicamente, portan-
) das e governos transitórios, de mudança. De qualquer modo, os governos to, o pluralismo moderado é não-polarizatio. Isso equivale a dizer que, se ·
minoritários de um só partido s.ão - no contexto do pluralismo limitado usarmos a mesma medida, a comparaç:ro entre pluralismo moderado e pola- . trai
)
e moderado - governos ."frac9s", embora possam não ter vida curta. 69 rizado revela que suas respectivas amplitudes ideológicas são diferentes,.
) Supõe-se em geral, embora de maneira. implícita, que a República de maneira significativa e, na verdade, crítica.
Em síntese, um sistema de pluralismo moderado caracteriza-se por
p
)
Federal da Alemanha não funciona tão bem como a Suécia. Não obstante,
ante os resultados eleitorais, a diferença permanece inexplicável. A partir (i) uma distância ideológica relativamente pequena entre seus partidos re· p
) de 1953, a força percentual do Partido Democrata Crist~o (CDU e csu) levantes, (ii) uma configuraça:o de <!oalizâ'o bipolar, e (iii) competiç:ro p
centrípeta. 72
eiiil
p
P'
)
208 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS SISTEMAS COMPETITIVOS 209
)
) Seria redun dante especificar quantas conseqüências não se seguem: tamos assim à minha pergunta inicial, ou seja, se as formações políticas
é simplesmente uma questão de colocar o sinal negativo onde o pluralismo segmentad.as dev~m ser reunidas, em minha tipologia, como um subgrupo
) polarizado recebe o sinal positivo. Vale lembrar, ainda, que as caracterís- bem definido. EVJdentemente, essa questão se relaciona com todos os meus
) ticas do tipo também podem ser usadas como indícadores de controle, tipos. Poderá ser melhor examirtada, porém, no caso do pluralismo mode-
isto é, para verificar se uma fragmentação crescente do sistema partidário rado, entre outras razões porque a multidimensionaljdade e/ou segmenta-
) corresponde a uma distância ideológica. Sempre que a questão versar sobre ção tendem a ser obscurecidas por tensões ideológicas fortes, por exemplo,
) a fidedignidade do critério numérico como indicador, pode-se realizar nas formações políticas polarizadas ao passo que adquirem destaque pre-
uma verificação rápida comprovando-se se um sistema partidário com mais cisamente nos sistemas nao-polarizados.
) de dois partidos contém partidos anti-sistema e oposições bilaterais. Se Vamos começar com a defmiçlfo. Nas palavras de Lorwin, o plura-
) isso não ocorrer, temos definidamente um caso de pluralismo moderado. lismo segmentado é "a organização dos movimentos sociais, sistemas de
Esse aspecto pode ser generalizado da maneira seguinte: se o número de
partidos aumenta e embora todos os partidos ainda pertençam ao "mes-
educaçao e comunicação, associações voluntárias e partidos políticos ao
longo das linhas das. separações religio~as e ideológicas". Assim, o plura-
j
'l
mo mundo" - isto é, aceitam a legitimidade do sistema político e se- lismo segmentado é "12luralista pelo seu reconhecimento da diversidade '
guem suas regras - então a fragmentação do sistema não pode ser atri- ( ...); é~~ei:_t_ado' ~~ su~inst_ituc1~nãli~aÇaõ"~74 ~ ev!dente, desde Íogo,
buída à polarizaçao ideológica. Nesse caso, a fragmentação está, presumi- que essa noção indica, primeiro, um estado da sõciedade, e só de maneira
damente, relacionada corn uma configuração multidimensional: wna so- indireta o estado da formaç:ro política. Em outras palavras, o pluralismo
)
ciedade segmentada, poliétnica e/ou multirreligiosa. Inversamente, quando segmentado é, principalmente, um construto estrutural da variedade socio-
) o número de partidos excede o linúte crítico e realmente encontramos par- cultural. É justo - e também ea chegarei à sociologia da política. 75 Mas,
tidos anti-sistema e oposições bilaterais, então é pos:;ível supor, com se- se não identificarmos primeiro as estruturas políticas - e em particula~·
)
gurança, que uma situação com mais de cinco partidos reflete um grau de a estruturação partidária - provavelmente não chegaremos à questão cru-
) divergências ideológicas que toma impossível a mecânica bipolar. cial: como explic(lr que estruturas sócio-econômicas semelhantes não se
Se a pergunta fosse "é um pluralismo moderado um tipo caracterís- traduzam em sistemas partidários semelhantes? No caso em pauta - asso-
) tico?" e "é possível identificar os casos?", a minha resposta seria sim. A ciedades segmentadas estudadas por Lorwin - , a Áustria tem, claramente,
) questão seguinte poderia versar sobre a conveniência de distinguir, dentro um formato bipartidário e evidenciou também, recentemente, uma mecâ-
desse tipo, um subgrupo "segmentado". E o problema final, oriundo da nica bipartidária; 76 a Bélgica possui seguramente um formato tripartidário
) bibliografia sobre as democracias segmentadas e de tipo "consociational'', (e uma mecânica) há cerca de 80 anos; a Suíça e a Holanda, por sua vez,
) relaciona-se com a inclusão, ou não, de todos os países assim classificados apresentam um sistema polipartidário. Ao que parece, portanto, a seg-
numa categoria própria. 13 mentação desses países é urna palavra com muitos significados, ou uma
) Até agora, os países reunidos sob a rubrica de pluralismo segmentado · estrutura sem conseqüência necessária sobre o sistema partidário.
) - seguindo Vai Lorwin - são especialmente a Holanda, a Bélgica, o Lu- Duas advertências devem ser acrescentadas. O diagnóstico conso-
xemburgo, a Suíça, a Áustria, e ainda o Ltbano. Mas a relação poderia ser ciational só é revelador se não for exageradamente ampliado e diluído.
) facilmente ampliada, para incluir a maioria, senão todas, as sociedades Grande parte dos afuais escritos sobre a democracia consociational sim-
plesmente colocam uma palavra nova, e em moda, no lugar do que antes 1
identificadas como poliétnicas, multirreligiosas e/ ou multidimensionais.
} l
Sem dúvida Israel poderia ser incluído, sendo a Índia um candidato bastan- se chamava de barganha ou negociação, compromisso pragmático, adapta- 1,
) te plausível. Além disso, se a Bélgica for incluída, será difícil, sob o critério ção ou ajuste. E, na medida em q ue assim é, estamos simplesmente embo- 1 1
de segmentação, excluir o Canadá. No fim, se a sugesta-o for aceita em geral, tando o fio do instrumento analítico. Em segundo lugar e correlativamen-
será difícil estabelecer a linha entre as sociedades segmentadas e as socie- te, "segmentação" não é, ou não devia ser, mais limitado e mais preciso
) dades já caracterizadas como "culturalmente heterogêneas". Mesmo, po- do que "heterogeneidade cultural". Só sob essa condição pode-se evitar
rém, que estejamos satisfeitos com Holanda e Sufça, Israel e fodia, Be1- a extensão indevida, ou inútil, do conceito de segmentaça-o a todos os
) gica, Canadá e Áustria, teremos reunido todos os sistemas competitivos países descritos como poliétnicos e multirreligiosos. Em particular, como

~f
concebíveis. Não importa quais os outros. aspectos que possa identificar, a segmentação é, básicamente, um construto sociocultural que representa
mas o cri tério de Lorwin, Lljphart e Lernbruch nao identifica o sistema um es.tado sui generis da sociedade, segue-se que o construto é útil e sig-
partidário . E apresso-me a esclarecer que ele não tem essa pretens:ro. Vol- nificativo na medida em que "segmentado" não se mistura com "diferen-

;r
)t
)
)
) !10 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIOARI OS
SISTEMAS COMPETITIVOS 211 :a
Quadro 23. ~
) cia<lo". Urna diferença bem observada por T:tlcott Parsons, como segue: Bélgiça : res ultados eleitorais 1894-1 977 (Câmara Baixa)
) dois subsistemas diferenciados não fazem a mesma coisa, isto é, eles têm Oi
funções diferentes que sao complementares, ao passo que º'dois subsiste- Nacio11a/isras Partidos fjii
)


mas são segmentos quando são unidades estruturalmente distintas, desem- Católico Socialista Liberal flamengos francófo11os Outros1
)
)
penhando ambas essencialmente as mesmas funções". 77 Um aguçamento
concorrente da noção de segmentaç;to é feito por Oi Palma, ou seja, o de
que as sociedades dedicadas a pr:iticas comociationais caracterizam-se por
1894
1896-3
1900
5 l.6
50,7
48,5
17.4
2.3,6
20,S
28,5
22,2
24,3
1,3
1,6 o
..
..
1902-4 1,7
) clivagens "pré-industriais" e "comunais", e portanto pela sobrevivência 49,8 20,6 25,3
1906-8 2,1
dos partidos de tipo pré-industrial, que limitam, por sua vez. o estabeleci- 48,6 21,5 26,7
1912 51,0 l.9
1
me nto de clivagens industriais e ideológicas. 7s 22,0 25,1
' 1919 0,3
36,0 36,6 17,6 2, 6
Como sugere o que foi dito anteriormente, o exame das sociedades 1921 37,0
6,5
34,8 18 ,8 3,0
segmentadas implementa, mas não justifica, uma modificação da tipologia 1925 7.4
36, l 39,3 14,6

••
) 3,9 5,9
até agora delineada. Por outro lado, há muitas lições a serem aprendidas , 1929 35,4 36,0 16.6 6,3 5,7
)
especialmente com a análise de Lijphart. Esse autor destaca a importància, 1932 38,6 37,1 14,3 5,9
1936 4,1

..•
numa sociedade segmentada, da liderança e das atitudes e orientações da 27.7 32,I 12,4 7,1 20,8
) el ite. Para que minha ênfase sobre as propensões mecânicas dos formatos 1939 32,7 30,2 17,2 8,3
1946 11,6
partidários não seja mal-entendida, direi que, se a "democracia consocia- 42,5 32,4 9,6
) 1949 15,4
tional" resulta da "cooperação dominadora ao nível da elite com o objetivo 43,6 29,8 15,3 2,1

.,.
9,4
1950 47,7 35,5 12,l
) deliberado de neutralizar .as tendências desintegradoras no sistema" ,79 e 4,8
1954 41,l 38,5 13,l 2,2
se a Holanda em particular ê um sistema criado, e dependente, da neutra- 1958 5,1
) 46,5 37,0 12,0 2,0
lização de suas "tendências desintegradoras" pela elite, então minha afir- 2,6
1961 41,5 36,7

.
11,l 3,5· 6,0
mação de que cinco-ou-seis partidos representam um formato crítico fica 1965 34,5 28,3 21,6 6,8 2,4 6,4
bastante reforçada. No meu quadro referencial, se o pluralismo moderado 1968 31,8 28,0 20,9 9.8
) 6,0 5 ,5
da Holanda depende das condições descritas por Lijphart,80 então as pre- 1971 30,0 27,3 15,l 11,l 13,0 3,5

,."
) disposições mecânicas dos formatos partidários são realmente fortes, pois 1974 32,3 26,7 15,2 10,2 11,0 4,6
um pais recorre a práticas consociationa/ precisamente quando, e porque, 1977 36,9 26,4

..
15,4 10,0 7,0 5,3
)
se aproxima de um formato perigoso. t~;~e: Keith Hill, "Belgium'', em R. Rose (org.). Elecrora/ Behavior Free Press
) Antes de concluir, voltemos à nossa relação de países. A República 101.. Para 1971, 1974 e 19?7, Keestng'sArchives.
• P· ' '
~m 1~36. comunistas, 6,1; Rex1stas, 11,5. Em 1946: comunistas 12,7 (decaíram
1

,..
Federal da Alemanha foi examinada, como o foram também a Holanda, a
desde entao, para um nível de 3-4%). '
Dinamarca e, embora de passagem apenas, a Suíça e a Islândia. Ficamos
) com Luxemburgo, que dificilmente podefia.ser posto em dúvida (apesar de

.
um ponderável, mas irrelevante, Partido Comunista) como caso de plura- média, para cada) ao passo que, a partir de 1946, os çatólicos (rebatizados
) lismo limitado e moderado e, por fim, a Bélgica. Já esta não pode ser incluí- de Partido Social Crist~o em 1945) voltaram a ser o partido dominante,

--
) da no grupo sem discussão. embora com fortes oscilações: da maioria absoluta de cadeiras em 1950
Isso porque, há pelo menos 70 anos, isto é, até 1965, não pode ha- (_qu:is~ reconquistada em 1958) para apenas 30% em 1971. Quanto aos
ver dúvida quanto à classificação do sistema partidário belga: como o Qua- hb~ra1s, continuaram, entre 1950 e 1965, ao nível de 12%, progrediram
) dro 23 mostra, é o exemplo mais durável e claro de um fo rmato triparti-
dário. De 1894 até a Primeira Guerra Mundial, os católicos dominaram a
muito em 1965 e 1968 e mantiveram-se, na década de 1970 no nível está-
vel de 15%. '
,,,
-•
) cena, com os liberais em segundo lugar e os socialistas (que desde o início O padrão se toma ~ais complicado, porém, a partir de 1965. E certo
) foram um partido constitucional, pró-sistema) num terceiro lugar bem pró- que o grupo flamengo, de língua holandesa, já existia em 1939, mas só na
ximo do segundo. A partir de 1919. os liberais passaram a ser o terceiro segund~ metade da década de 1960 a divisão étnica e a crise lingüística
) partido. Mas, durante o período entre as duas guerras (1919-1939), os explodiu a arena política. A partir de 1968, os nacionalistas flamengos
) católicos e os socialistas revelaram forças quase igu:lls (cerca de 36% em
@]
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)
-
.)
J

) 212 PARTIDOS E SISrEMAS PARTIDÁRIOS SISTEMAS COMPETITIVOS 213

( Vo/ksunie) surgiram como partido de imponância, como também uma de um único panido só pode existir quando apoiado numa maioria absolu-
) reação francófona (valões e em Bruxelas) passou a integrar o q~~dro, co.!11 ta (pelo menos numa das cá maras), como ocorreu. na Bélgica, em 1950-
vigor quase igual. Estaremos testemunhand?, então'. um~ transiçao d_o f?r· 1954. Afora isso, a norma vigente é a troca de aliados. Com três partidos,
mato de três partidos para o de cinco partidos? Alem disso, frente a c~se três coaJizões alternativas são possíveis e na realidade se alternam: católi-
) étnico-lingüística e às tensões separatistas dela resultantes, pode a Bél~1ca cos e socialistas, católicos e liberais, socialistas e liberais. Vale notar, quan-
ser mantida num tipo chamado de pluralismo moderado? Essa den~n:una­ to a isso, que a única coalizão de todos os três partidos surgida na Bélgica,
)
ção poderá parecer irônica. Mas a ve~dade é que~ até. 1978, os catohcos, em 1973, foi provocada pelas necessidades da reforma constitucional e
) socialistas e liberais continuaram a partilhar entre s1 do JOgo governamental. teve vida curta. Quanto à coalizão tripartidária de 1946 com os comunis-
Desde 1919 até 1978, a Bélgica foi governada quase que exclusivamente tas (11,5 meses ao todo), simplesmente reflete o clima do pós-guerra, co-
por coalizões bipartidárias alternativas. O Quadro 24 nos proporciona deta- mum então à maior parte da Europa.
lhes sobre o período posterior à Segunda Guerra Mundial. Est~ quadro é Não estou prevendo, com isso, que a formação política belga perdu-
interessante não só em relação à Bélgica, mas também como ilustração da rará, ou poderá perdurar, tal como existe. A coalizão minoritária de libe-
) fórmula que caracteriza os sistemas de três a cinco partidos (em distinção rais e católicos de 1974 representa, com efeito, uma anomalia. Assim como
e oposição tanto ao bipartidarismo como ao rodízio periférico de forma- os social-democratas suecos se apegaram à sua predominância cada vez
ções políticas baseadas no centro). mais frágil, também os partidos belgas tradicionais se estão apegando às
)
regras sistémicas que vêm praticando há tanto tempo. Até ago ra, o conflito
) lingüístico e a crescente e inevitável ascendência da população flamenga
Quadro 24 . provocaram uma reestruturação bicéfala dos três partidos tradicionais e
:-> Bélgica: coalizões governamentais 1946-1977 uma acomodação das tendências divisivas dentro da organização polítiq
) Maioria na Majoritário . Duração (meses existente, à base de um sistema de proporz, de divisão em dois (ou multi-
~ ) Legislaturas Câmara Baixa Composição Minoritário arredondadosj plicação por dois) daqui!~ que até então não era dividido. t difícil prever
se tais disposições serão mantidas, se uma solução federal se revelará ine-
1946-1949 34,2 ·Socialista min. ~
) 54,0 Soe. + Lib. + Com. maj. 4 vitável, e/ou se um sistema partidáóo mais fragmentado acabará rompendo
... -, idem Soe. + Lib. + Com.
Socialista + Católico
maj.
maj.
7l/i
29
o padrão tripartidário. Nã'o obstante, o fato mais significativo - do ponto
de vista do cientista político - são as proporções em que o sistema parti-
-
80,0
1949 63,2 Católico+ Liberal maj. 10 dário belga conseguiu, até hoje, prolongar sua existência ante as crescentes
l
195(}-1954 51,0 Católico maj. 2 tensões provocadas por uma sociedade cada vez mais compartimentaliza-
r- ) idem Católico maj. 16 da. s 1 Quaisquer que sejam as observações possíveis, no caso, o fa to cons-
idem Católico rnaj. 27
""') tante é a "pressão moderadora" da formação política sobre a sociedade . E
1954-1958 52,4 Socialista + Liberal maj. 51
tanto assim é que a Bélgica pode ser considerada atualmente como mais
,... ) 1958-1961 49,l Católico quase maj. 4
empenhada num esforço consociational do que a Holanda. 82
59,0 Católico + Liberal maj. 30
""'>
~
1961-1965 84,9
66,5
Católico +Socialista
Católico +Socialista
maj.
maj.
51 .
8
1965-1968
58,9 Católico + Liberal maj. 23 6.4 Sistemas bipartidários
,... 1968-1971 59,8 Católico + Socialista maj. 41
)
1971-1974 57,3 Católico + Socialista maj. 10 O sistema bipartidário é, sem dúvida, a categoria mais conhecida. Isso por·
"'"» 74,0 Cat. + Soe.+ Lib.
Católico + Liberal
maj.
min.
12
37
que se trata de um sistema relativamente simples, porque os países que o
praticam são importantes e porque representam o caso paradigmático . Mes-
,... ) 1974 -1 977 47,5
mo assim, temos logo uma dificuldade com uma primeira indagação: quan-
,.. ) tos sistemas bipartidários existem? De acordo com Banks e Textor , 11 dos
Como se vê no Quadro 24, na mecânica típica do pluralismo modera-
... ) do os governos minoritários são possíveis apeoas como governos de transi-
l l 5 países abrangidos por sua pesquisa se enquadram na rubrica bipartidá-
ria. 83 Mas o número é ser11 dúvida exagerado, pois inclui um país como a
"") ção e de vida curta ( 4,S meses ao todo em 1946 e em 1958), e o governo Colômbia, que dificilmente poderá ser considerado como um sistema par-
~)

,..)
"' )
r
) 214 PAl/J.TIOOS é SISTEMAS PARTIDÁR I OS ••
)
)
tidàrio. ª* Dahl red uz esse número 3 oito, incluindo o Panamá, as Filipin:is
e o Urugu.:ll.ss Blondel indica - embora com várias ressalvas - nada mt!nos l~:três"
SISTEMAS COMPETITIVOS 2!5

sempre que os terceiros partidos. não afetam. a longo prazo e em


••
)

)
de 21 EstadJ.s bipartidários.d6 Como cada especialis ta tem uma lista dife-
rente , digamos que a opinião popular considera geralmente a Inglaterra , os
Estados Unifos, a Nova Zelândia, a Austr:ilia e o Canadá como os sistemas
qive l nacional, a alternação no poder dos dois principais partidos. Mas. p:i:
r.;i_ e virarmos ficar se~n exemplos, !'.em a cláusula da '·alternação", n~m a
Je "governar sozinho", é aplicável com rigidez.
••
)
)
bipartidários .. clássicos". St; incluirmos a Áustria - uma aquisição recente
- temos seis países. Mas a Austria praticou, até 1966, "granàes coalizões",
e, portanto, seu sistema bipartidário de governo dificilmente poderá se r
- Alternação deve ser compreendida de forma ampla como significan-
do niãis a e.xpecrarTv<d.!t.._gue a ocorrência real de rodízio governamental.
,\.atternação significa.JJ~oas, então, que ã m-argein en t~ os dois maiore~ ••
piftidos é ~quem, ou que há ~~~dibilidade suficiente para_a expectativa

considerado, :itualmente, como já consolidado. Por outro lado, a Austrália
) tem, na realidade, três partidos relevan tes e o Canadá poderia ser conside- d~o_partido na opo~~ão tenha possibilidade '!: su~tit u~r o partido no

)
rado como itinda mais anômalo do que a Austrália. Adotando critérios
rigorosos (qite incluem uma dur:iç:io suficienie) ficamos assim com apenas
três países: Inglaterra, Estados Unidos e Nova Zelândia. E o golpe de mise-
g~erno. Em outras palavras, a noção d~t~rnação se confunde com ~
no~ ~e- competitiviclaâe. Numa interpretação diferente'. mai~ rigoros~,
os Estados Unidos - que, na verdade, são, de longe, a mais antiga e mais
••
) ricórd ia é desferido pelo argumento de que os bipartidarismos inglês e norte-
americano são tão diferentes que não há sentido em classificá-los juntos. 87
Aprox:llnamo-nos, aparentemente, do paradoxo de não ter exemplos
continuada formação política bipartidária - ofereceriam frágeis creden-
ciais para a inclusão na categoria, pois o padrão norte-americano tem sido,
desde 1861, cíclico, com longos períodos de superioridade de um partido.
••
••
.
) para o mais crlebrado tipo de sistema partidário. O paradoxo surge porque Se examinarmos as eleições presidenciais, a partir de Lincoln (1861) até
- a«1ui co~oem outras situações - enfrentamos dois problemas diferentes Franklin D. Roosevelt, os republicanos conquistaram 14 presidências e os
_) democratas·apenas cinco. Posteriormente, de 1933 a 1953, a presidência foi
cuj:"l rnluÇ;ão i geralmente tentada de urna só vez. Um desses problemas
) é d ; .-:cmh:iarquando um país pertence à classe bipartidária, o que depen- democrata, e, se atribuirmos asduasvitórias(l 952e 19S6)de Eisenhower

••
de ih:> regras de contagem. O outro problema é determinar se temos um a uma candidatura acima dos partidos, então os republicanos perderam to-
) tip ) "1ipattidário de sistema. das as eleições presidenciais que disputaram apenas com suas próprias for-
ças de 1933 até a vitória de Nixon em 1968. O quadro no Congresso é um
) A primeira pergunta - quando um terceiro partido ou mesmo te"r-

••
pouco mais variado. Desde o início do século, porém, e até a Grande De-
) cei < , ~ par-ridos devem ser descartados? - a resposta pode ser direta:~ pressão, a maioria do povo norte-americano votou nos republicanos (ex·
um / Jrmato bipartidário sempre que a existência de terceiros partid ~s não ceto um desvio em 19 10-1914), e a maioria votou nos democratas (com
) imç .:ça os-'dois maiores de overnarem sozinhos, isto é sempre que as coa: dois desvios em 1942 e 1946 e dois empates em 1950 e 19 52) de 1932 até
)

)
lizoes orem esnecessáriah88 A resposta significa que o formato ao b1par-
tidarismo deve ser avaliado em terniõScteeãdeiras, e não de resultados elei-
t~A razio óbvia d1ssõ é- que os governos- são formados, e agem, com
a data em que este livro é escrito. A generalização poderia ser a de que, e m
nosso século, a maioria das eleições feder ais norte-americanas foram "man- ••
••
tenedoras" (ou desviadoras e restabelecedoras) com apenas um realinha-

....
) b'!_S~ ems~ rorça no parlamento. A razao ~dicional é que quase todas as mento importante que afetou o Congresso e a presidência: o provocado
formações p.11líticas em exame (exceto a Austria, que é um país de PR) pelo grande colapso financeiro de 1929 e pelo New Deal de Roosevelt. 90
) adotam o sht.ema de um representante por distrito que - como bem se
Com relação à alternação, a Austrália não se sâi melhor. Em dez. elei-
sabe - transforma maiorias relativas em maiorias absolutas e mesmo faz
) ções, ela proporcionou, de 1946 a 1972, apenas uma vitória clara (em
de uma maio.lia eleitoral uma minoria parlamentar.89
1946) e um empate (em 1961) ao Partido Trabalhista. Assim, o Partido
) O argUiflento é mais complexo, porém, tão logo perguntamos: qu.iis

••
..•
Trabalhista australiano foi recolocado no poder em 1972 depois de 23 anos
) as propriedad.es que caracterizam o tipo bipartidário de sistema? Se a pril}: na oposição - o que não se pode dizer que constitua uma alternação das
cipal caractedstica do bipartidarismo é a de que um partido governa sozi- mais freqüentes.9 1 Mesmo porque foi novamente derrubado nas eleições
) nho, deveme&- acrescêntai imealatamente : sozinho, mãs- não indefinidamen- de 1975. A Austrália evidencia, portanto, um padrão de domínio conserva-
_t-Lf~Jg.uenpre o mesmo partido que fica no poder~eÍeição ápós eleição, dor (Liberal mais Partido do País). Quanto ã Nova Zelândia, seu rodízio é
temos um ~~~-ema de partido predorriiiian"te, e nãÕ um sistemã bipartidário. salvo pela vitória trabalhista de 1957 , em meio a uma seqüência de sete
) . L~..Q__ç__q~aJc_ :a dizer que a alternaçao no poder é a característica mãrcãnte derrotas . M~is precisamente, em dez eleições, o Partido Trabalhista neoze-
)f-
)
da mecânica 610 bipartidarismo. Poêiemos d_!z:_r também que "dois" difore landês ganhou a primeira (em 1946), a quinta (em 1957) e depois teve de
esperar, como o australiano, até 1972, enquanto o Partido Nacional gover- ••
)

~
)
)
) SISTEMAS COMPETITIVOS 217
216 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS
) governar sozmho prefira não fazê-lo (assim, a Áustria tem condição para
nou durante 20 anos com uma única interrupção e reconquistou o poder inclusãQ de~de. 1946). Por outro lado, em termos de formato, a Austrália
) a partir de 1975. A Nova Zelândia caracteriza-se, dessa forma, pelo domí- devia ser incluída, e o Canadá, excluído. Se, porém, nos referimos à mecá·
) nio do Partido Nacional. Como o Canadá é um caso discutível, cabe-nos .iic3 do bipartidarismo, veremos que as propriedades essenciais do biparti·
conclui r que só um país - a Inglaterra - teve um desempenho notável, Jorismo podem ser ajustadas ao formato tripartidário. Assim, se concor-
) desde 1945, no que se relaciona com a oscilação do pêndulo: trabalhistas Jannos em que a exigência do governo por um partido se pode aplicar a
) cm 1945 e 1950; conservadores em 1951, 1955 e 1959 ; trabalhistas em apenas um dos partidos (sendo o outro uma coalescência de dois em um), a
1964 e 1966; conservadores em 1970; uaba.lh.istas em fevereiro e outubro Austrália volta a ser incluída ; e se o governo de um partido não forneces-
) de 1974; conservadores em 1979. '"namente um governo majoritário, também o Canadá é aprovado.
) Quanto à cláusula governar sozinho, a questão está sujeita a uma fle- fase último aspecto exige, porém, uma explicação. Apesar dos resul-
xibilidade de interpretação ainda maior. Isto é, devemos ser muito toleran- t:idos esmagadores da eleição canadense d e 1958, que deu ao Partido Con-
)
tes com relação à exigência de que ambos os partidos devam estar em posi- mv;:idor 53,6% do total dos votos, baixando os liberais para 33,6%, o
ção de conquistar, sozinhos, uma maioria absoluta e, com isso, governar cartiJ0 mais forte é evidentemente o segundo, com oito vitórias eleitorais
sozinhos. O problema é suscitado especialmente pela Austrália, onde a êrn l 1 pleitos ( 194 5-1974 ). Mas a peculia:ridade do sistema canadense está
) alternação no governo se faz entre o Partido Trabalhista, de um lado, e a :!O renascimento cíclico e na persistência de dois partidos menores: (i) o
aliança dos Partidos Liberal e do País, do outro. Aparentemente, trata-se CCF, hoje (desde J 962) NPD, o Partido N codemocrata, à esquerda dos li-
de um formato tripartidário, e a solução simples seria reclassificar a Aus- berais , e (ii) o Partido do Crédito Social. A existência de dois terceiros par-
trália como tal, colocando-a com a Bélgica e Alemanha Ocidental. 92 Mas tidos pode ser explicada, de maneira sucinta , observando-se que "o sistema
tão logo reunimos esses três países, somos alertados para suas diferentes bipartidário foi mais fraco nas áreas onde as proporções da origem britâ-
mecânicas. Entre outras coisas, os alemães fizeram algo impensável na lógi- nica foram menores". 96 E a anomalia está no fato de que a existência de
) ca do bipartidarismo: optaram, em 1965, por uma grande coalizão entre os dois partidos menores consegue, com freqüência, impedir que qualquer
) dois principais partidos. Além disso, e o que é mais importante, os liberais dos maiores obtenha uma maioria absoluta na Câmara dos Comuns.97 Des-
alemães e belgas têm liberdade de mudar, e mudam, de aliados na coali- sa forma, o Canadá não consegue satisfazer a exigência de um governo
) zão.93 Nada disso ocorre na Austrália. Em particular, a aliança permanen- majoritário de um único partido: ele é, muitas vezes, governado (depois de
)
te entre os Partidos Liberal e do País é tal que eles não competem, nas apenas uma breve e traumática experiência de coalizão em 1917) por go-
diversas seções eleitorais, entre si. São, por assim dizer, simbióticos. Evi- vernos minoritários de um só partido. Mas essa configuração atesta, mais
) dentemente, a Alemanha e a Bélgica não funcionam de acordo com as do que qualquer outra coisa, a força da lógica sistêmica interna do biparti· 1 1 :1
regras do bipartidarismo, ao passo que a Austrália, sim. 9~ Temos, portanto, darismo. Poderíamos dizer também - com relação às "convenções" da
}
uma justificativa para relaxar a cláusula do "governar sozinho" tal como se constituição - que os canadenses são mais britânicos do que os próprios
) segue: o rodízio pode ser de um versus dois, desde que "dois" não seja uma britânicos.98
mera coalizão, mais uma coalescência. 95 A distinção entre formato e mecânica também nos proporciona uma
)
As condições Oexíveis._para UJ!l _sistema q~unciona de acordo com classificação dos países que pretendem um status bipartidário con.f~r~e
) as re'gras do bipartidarismo seriam as seguintes@ dÕis p~dos estão em- sausfayam ou não, e até que ponto, a ambos ou a apenas um dos cntenos
Coí)dições de compelir pela maioria ab~oluta de cadeiras(_Qip U..!!Ld.QLdois êUlleriormente mencionados. Com relação ao período posterior à Segunda
) Gu~rra Mundial , a Inglaterra correspondeu à sua reputação: é o sistema
part1do~~nsegue, na prática, conqui_star uma maiori~rlamen_.!.ar sufi- .
) ciente ;~~se partido dispõe-se_ª-gQ_vernE_r sozinho ;~À alternação_.nu n1partidário "perfeito" porque evidencia - apesar dos liberais e dos outros
rotatividade no poder continua sendo uma expectati-:a posslvel. terceiros partidos em surgimento - tanto o formato como todo o conjunto
) Je propriedades do bipartidarismo. Sem dúvida, o Parüdo Liberal britânico
-COmpreffidemÕs- agora por que cada autor produz uma lista diferente
) paird, arncaçaàoramente, no horizonte. Nas eleições de fevereiro de 1974 ,
dos países bipartidários. Com relação ao formato bipartidário, a exigência
os liberais conquistaram 14 cadeiras na Câmara dos Comuns e - o que é
de alternação no poder não é importante. Podemos portanto incluir tam- muito mais importante - tornaram-se imprescindíveis· par:i a formação da
bém na lista os sistemas de partido predominante nos quais a oposição está, maioria.99 Não aceitaram, porém, uma coa1izão com os conservadores, e
) ou foi, representada apenas por um partido (por exemplo, o Uruguai e 1.) governo minoritário trnbalh1sta foi confirmado em outubro de 1974, em·
) mesmo as Filipinas). Além disso, é irrelevante que um partido que pode

)
)
..
ó
218 PARTIOOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS
~
l
SISTEMAS COMPETITIVOS 219 · ~
) bor:i com uma ins1gnifican te m:liori::i dt: cadeiras. :-.Ja verdade. o Reino t;ni.
do está enfrentando - também por causa do n:icionalisrno cre$cente na ti dárias únicJs. E essas propriedades pouco rêm a ver com a existéncia, ou fi
)
Escócia e no País de Gales - o dilema de seguir o padrão canadense de inexistência, de "rneios partidos" avaliados de maneira impressionista. (i;
) governos minont:irios de um só partido (nas eleições tanto de fevereiro Duas falhas estão implícitas no atual tratamento - ou destratamenw o·
,.
) como outubro de 1974 os dois maiores partidos não conseguiram reunir - do bipartidarismo. Uma delas é a nossa incapacidade de e/ou reluc:incia
mais do que 40% dos votos cada um) ou de recorrer às coalizões. Nessa em enfrentar o problema da relevância dos partidos. A outra é a frequente o
) última hipótese, não só a Grã-Bretanha deixaria de ser o sistema bipartidá- confusão do nível de dis trito eleitoral com o n ível na,;ional ou sist~mico .
rio "perfeito" que foi desde a Segunda Guerra Mundial, como também Na verdade, "se um sistema bipartidário é definido como aquele em que
)
deixaria de ser sistema bipartidário, perfeito ou não. E isso tem mais chan- apenas candidatos de dois partidos disputam eleições, então a Grã-Bretanha c:i
) ce ainda de acon(ecer se as pressões divisivas que se estão fo rtalecendo na nunca teve um sistema bipartidário" .1º7 Sim - nem a Grã-Bretanha, nem

•.
Escócia e no Pais de Gales forem acomodadas com recursos 30 PR. 1oo Em a quase totalidade dos países aos qulis é geralmente atribuído o sistema fJ
)
todo o caso, a eleição de 1979, que reconduziu os conservadores ao gover- bipartidário. Em lugar deles, a Colômbia, o Uruguai, o Irã e 2s Filipinas
no com 43,9% da votação e 53,6% das cadeiras, mostrou que a crise do revelariam, ou revelaram. credenciais quase perfeitas. A questão é, de qual-
bipartidarismo inglês prevista por vários observadores ainda não ocorreu. quer modo, que aquilo que iden tificamos e medimos em nível de circuns-

...
1 Na verdade, a eleição de 1979 restabeleceu todas as características de um crição eleitoral é a competitividade interpartidária. 108 Ninguém nega que li
) sistema bipartidário relativamente perfeito. a estrutura e o grau de competitividade são de grande importância sob vá-
rios aspectos . Mas eu negaria, realmente, que o dese mpenho sistêmico que

...
) Depois da Inglaterra, vêm os Estados Unidos e a Nova Zelândia : o torna o bipartidarismo tão diferente dos sistemas de partido predominante
formato bipa,rtidário é tão claro quanto possível, 101 mas a oscilação do e do muJtipartidarismo em geral possa ser, de qualquer modo, deduzido do
pend11!0 nãcY.e o que deveria ser. O terceiro lugar cabe ao Canadá, com um fato de as eleições distritais serem disputadas, ou não, por dois ou por três
l forrn:1 to dúo~ mas uma mecânica satisfatória. A Austrália vem em quarto : partidos, e da proximidade dos resultados dos diferentes candidatos. Mais
seu t'or mat e:~ questionável e sua alternação, insatisfatória. Final mente

.
precisamente, as condições sob as quais os candidatos ingressam no parla-
) ter:i i; a Áustria de 1945 a 1966: um formato bipartidário perfeito, ma~ mento são realmente muito diferentes de distrito a distrito e, no conjunto,
) exibindo• vii:f~ anos de grande coalizão e de proporz, a própria negação entre as formações políticas bipartidárias ;109 essas diferenças, porém, não
<lo ''t!s p iri to*-i:!o bipartidarismo. 102 afetam as propriedades sistêmicas definidas pela minha análise .
)
Admiti, desde o começo, que as quatro condições em que se baseia

••
Recentemente, vários autores parecem ter encontrado um atalho em
) meio às complexidades descritas anteriormente, falando de sistema de um- a minha definição de bipartidarismo são flexíveis, e apliquei-as da maneira

......
) e-meio, dois e dois-e-meio partidos. Assim, o Japão seria um-e-meio; 1º3 a mais flexível poss ível. Mesmo assim, está evidente que os sistemas biparti-
Austrália, um-e-dois-meios (e os Estados Unidos poderiam ser incluídos dários são raros. Isso é particularmente evidente numa perspectiva longit u-
) nessa categoria se os democratas do Sul forem isolados dos democratas do dinal: a Áustria é, até agora, o único país ocidental que ingressou recen- ~
) Norte); a Alemanha, dois-e-meio; 1 ~ o Canadá, presumivelmente dois-e- temente na categoria, e ainda é um pouco cedo para se dizer se o padrão
dois-mcios . Acontece que o Japão também ê classificado como de um iniciado em 1966 deitará raízes duráveis e se irá qualificar-se no que diz
) partido, bipartidário e multipartidário ;105 que a Alemanha se torna, à base respeito à alternação (dur:inte a década de 1970, os socialistas venceram

..•..
dos meios, igual à Inglaterra (o que é errado); e que a última palavra sobre todas as eleições). Também devemos lembrar, quanto a isso, que a longe-
a Austrália passa a ser uma condição de "quatro partidos estáveis" 1º6 (co- vidade do bipartidarismo inglês é, em grande parte, um mito. Só a partir
) mo a Dina marca e/ou os Estados Unidos, na interpretação de Burns). de 1885 é que se pode falar de um sistema britânico bipartidário nacional,
Quanto ao Canadá, dois-mais-dois-meios é quase que considerá-lo como e desde então, o Reino Unido mostrou três padrões diferentes. 110 Entre
multipartidário (mas o período de 1935-1957 também é descrito como de 1885 e 1910, quando os principais partidos eram o Conservador e o Libe-
"pre_dom!nio . de um partido"). Como mos tram as ilust rações, o recurso à ral, seis em oito eleições gerais não resultaram em governos de um só parti- ~
fraçao nao diminui, mas sim aumeqta, e muito, a confusão resultante da do: os conservadores tiveram necessidade do apoio dos sindicalistas liberais
fa_lta ~e regr_as ~e contagem. O que perdemos, ao jogar com mecades e fra- (a cisão liberal de Joseph Chamberlain) enquanto os liberais recorreram
ç_oes, e a propna natureza da questão - se os chamados sistemas bipartidá- aos nacionalistas irlandeses. Durante o período entre as duas guerras mun- ~

-..
rios merece m reconhecimento à parte, isto é , se revelam propriedades bipar- diais (entre 1918 e 1935), os trabalhistas tornaram-se o segundo maior par-
tido, mas os liberais sobreviveram como um terceiro partido relevan te, e ~

)
-- --
)

) 220 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS SISTEMAS COMPETITIVOS 2:!1


)
todo o período foi caracterizado pel:l instabilidade e por coal1zões. Eviden- conflitos revela-se claramente não só pela porcentagem bastante alta dos
) cia-se, portanto, que os britânicos só vêm seguindo as regras clássicas do não-eleitores norte-americanos, mas também, e particularmente, por se-
bipartidarismo a partir da Segunda Guerra Mundial. rem não-eleitores de baixas camadas. A exigência de inscrição nos registros
)
A raridade de exemplos sugere que os sistemas bipartidários são "di- eleitorais dificilmente constituiria impedimento se a política tivesse rele-
) fíceis". Mas a enfase recai principalmente na opinião de que tais sistemas vância para as camadas não-votantes - relevância que evidentemente não
representam um paradigma, uma solução ótima. Até restrições recentes, tem.112
)
pretendeu-se que os sistemas bipartidários trazem resultados benéficos para Há uma lógica sistêmica em tudo isso. O bipartidarismo gira em tor-
) a formação política como um todo. Mais precisamente , a idéia é a de que no, se não de um rodízio real, pelo menos da expectativa de alternação no
) os sistemas bipartidários sempre "funcionam", ao passo que, quanto mais governo. Ora, o fato de dois pamdos terem quase que a mesma força difl·
partidos há, mais encontramos "soluções menos funcionais" e, por fim, sis- cilmente pode ser considerado "natural" ou acidental. Evidentemente, o
) temas inviáveis. Tal suposição tem suas razões, mas não pode ser justifica- tipo de equilíbrio e oscilação entre os dois partidos é obtido e mantido
)
da apontando-se os piiíses nos quais o bii:;artidarismo funciona . Na verdade, através da tática da competição partidária. No bipaniàarismo, os partidos
esses países são tfo pouco numerosos que bem poderíamos argumentar devem ser agências agregativas que mantêm sua quase igualdade competiti-
) que todos os sistemas de mais-de-dois partidos existem precisamente porque va pela fusão do maior número possível de grupos, interesses e reivindica-
a solução bipartidária não foi duradoura ou, se o foi, mostrou-se inviável. ções. Não devemos aceitar sem exame, portanto, a afirmação de que o
A resposta poderia ser, então, que o bipartidarismo, em geral, falha ou fa. bipartidarismo pressupõe um conjunto de condições favoráveis tais como
) lharia se tentado. homogeneidade cultural, consenso sobre aspectos fundamentais etc. Se
1 De modo geral, os sistemas bipartidários são explicados dentro das li- examinarmos o desenvolvimento dos países bipartidários, historicamente,
}
nhas formalizadas pelo modelo de Downs para a competição partidária. A veremos que o bipartidarismo alimentou e moldou, em grande parte, essas
1
questão é, simplesmente: sob que condições o bipartidarismo funciona condições favoráveis.
,J Em um dado momento, porém, toma-se claro que quanto menor a
) como previsto pelo modelo? O modelo prevê que, em ta1 sistema, os parti-
dos competirão de maneira centrípeta, procurando minorar as separações , difusão da opinião, mais suave o funcionamento do bipartidarismo. Inver-
•J ) e disputando o jogo da política com moderação responsável. Isso acontece, samente, quanto maior a distância ideológica, mais disfuncional é o formato
porém, porque a competição centrípeta é compensadora. Por quê? Presu- bipartidário. ~ um erro, portanto, afirmar que os sistemas bipartidários
.> mivelmente porque os eleitores indecisos são moderados, isto é, localizados funcionam sempre. Pelo contrário, tais sistemas só representam uma solu-
ção ótima quando funcionam, isto é, sempre que pressupõem e/ou produ-
entre os dois partidos, mais ou menos em torno do centro do espectro de
,> opirúões. Se o grupo principal de eleitores oscilantes fosse de extremistas rmuma sociedade política com elevado consenso caracterizada por um
) não-identificados, isto é, extremistas inclinados a passar da extrema esquer- e$pectro ideológico mínimo. Portanto, sempre que o .fo~n:ato ~ipartl_d~ri~
da para a extre!Tia direita e vice-versa, a competição centrípeta já não seria nâo funciona como quer o modêiõOêlJowns, devemos ~perar que~ part_i-
:>) compensadora. lê_m suma, o bipartidarismo "funciona" quando a difusão do~ v~nham j_tornar-se mais ~e dois e outro tipo de sistemã partidário. 11
3

J
de opinião é pequena e suaCllsTrioulção- se êõncentra num ponto máximo
, )
)
uruco. - - -
- Isso não equivale a dizer que o bipartidarismo pressupõe um Cl)nsen-
6.5 Sistemas de partido predominante
so de opinião, pois é igualmente certo que a sua mec:inica centrípeta cria Devo repetir que meu sistema de partido predominame não coincide, e,
t
) o consenso. Tornando mais modesta a pretensão, digar.ios que a mecânica na verdade, pouco tem em comum, co111 o partido àominant:! de que fa.
t competitiv:i do sistema abre caminho ao consenso pela sua tendência à l~m vários auwres. A categoria de partido dominante foi sugerida, mais

1
1

)
r minirnizaçã0 do coníli to. O exemplo macroscópico disso são os Estados
Unidos. O potencial de conílilo nil sociedade not te -americana é enorme,
ou menos ao mesmo tempo, por Duvergcr e Almond. Os ext:mplos do pri·
meiro foram os radicais francese s, os partidos social-democratas escaJ1di·
1 mas não se n:ílete ao nível do sistema partidário. O fa to de serem os Esta· navos e o Partido do Congresso india:10. 114 Provavelmente na esteira da

' dos Unidos a única si)ciedade industrial que não produziu um partido de classificação de Almond, Blanksten menciona um "partido dominante não-
l 1
f.
' 1• classe operária deve-se, em grande pane, a um conjunto de circunstâncias ditatorial" e oferece como exemplos claros da categoria, o Solid Sourh nos
fl históricas peculiares, ml!S também à natureza do bipanidarismo nor1e-ame- Estados Unidos, o l'rlêx1co, r:, como possíveis exemplos, o Uruguai e o Para-
' ) ric:tno. 111 E :i proporção na qwl o sistema partidário é miriimiz.1dor de guai.115 Com o passu do tempo. :i hsrn cresceu. e com ela a confusão. 116
't )
I
)
l
)
J
.,..
) e:.
)
SISTEMAS C01WPEilTIVOS 223
'111
) 222 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS e:-

....•
) Quadro 25. ~
O criténo pelo qu:U um partido é declarado domin:rnte raramente é Países com partidos dominantes
) operacionaliz:ido, mas a idéia geral é bastante clara: sempre que encontra· (percentagens de resultados eleicorais) i-
m~ numa form:iç:Io política, um panido que supe?ade longe todos os
) oucros, esse partido é dominante, por ser signiflcatívameme mais force do P..:ises Primeiro partido Segundo partido Intervalo {porttos i>)
)
)
)
que os outros. 117 Vamos, portanto , estabelecer urna re!ação de países que
:itendém a esse critério geral. Supondo-se que cerca de 10 pontos porcen-
tuais de diferença entre o partido mais forte e os outros partidos seja condi-
ção suficienre para quahficá-lo como dominante, cerca de 20 países podem
lr:i(l97l) 1
:">hix1co ( 1970)
Filipinas (1969) 1
OolíV1a ( 1966)• 1
86
83
82
80
IJ
14
1-1
19
73
69
68
61 ....•
......
ser assim classificados com base no intervalo entre seu partido dominante P.uaguai ( 1968) 71 22 49
e o que vem em seguida, como no Quadro 25. El Salvador (1970) 60 '27 33
Aproximadamente ao fmal da década de 1960 e no início àa década fodia ( l967) 4l 9 32
) c:ule (1965) .. 3 H 1<t 38
de 1970, havia um número considerável de países que contavam, pelo cri-
JJpâo ( 1969) 49 2L 28
) té1i1 an teriormente mencionado, com um partido dorrúnante. 11 ª Um rápi-

.......
Noru..:ga ( 1969) 46 20 26
do .;xame, porém, basta para mostrar que esses nossos 21 países são, para í-'rança (1968>* 1-'2-3 46 2L 25
l
di2: rmos o mínimo, companheiros bem díspares. Pode-se, por isso, pensar, Suécia ( 1970) 45 20 25
) to:s1J de saída, em purificar a lista. E há, em princípio, uma razão muito Israel (1969) 46 n 24
) b1 ;1 para isso. Os resultados eleitorais são dignos de fé (por motivos intui- Áfrka do Sul (1966)* 59 37 22

......
ti " '.>) quando produzem coalizões e governos alternativos; mas dificilmen- Din:i.m:i.rca (1971) 37 17 20
) t: ,:·>rlem ser aceitos pelo seu valor aparente quando produzem "domi- Turqui:i (1969) 46 27 19
n.1·· ~i:\". Por exemplo, o Irã, o México, as Filipinas, a Bolívia e o Paraguai Coréia do Sul (1967) 51 n 18
) Irlanda (1965) 48 34 14
si; .;i-:$sificam no alto da lista: cada qual tem, por assim dizer, um partido
) hi ,, :c•lorhinante. Será esse o veredito verdadeiro das umas? Qual a margem lt:ília (1972) 39 27 12
ll

.......
Jslindia ( 1971) 37 26
d.: :,<,erdade das eleições? Como sabemos que as urnas não são violadas e Uruguai ( 1966) 49 40 9
) o~; ·10 tos adulterados? Infelizmente a maioria dos estudiosos dos países
so?J suspeição são ingênuos ou extremamente cautelosos quanto a essa • Números de Keesing.
Cadeiras uaduzidas em percentagens de votos.
q•.• ~Hão. ~ certo que é difícil provar a fraude eleitoral. Mas um elemento
l
1 Segundo escrutínio.
) de in formação essencial pode ser obtido com facilidade e com facilidade

......
J Forte elasticidade eleitoral, não indicativa.
) int'.!rpretado, ou seja, se a contagem dos votos é ou não controlada, ou de Exceto se especificado por •a fonte é o State Department Annual Reports ("World
qualquer modo, controlável. Mesmo essa informação elementar, porém, strength of the communist party organization"). preferível aos Keesing's Archiv~s
) raramente ·é apresentada com clareza, e isso nos deixa, novamente, com por serem estes menos coerentes nas percentagens de votos. Cada fonte oferece nu·
meros diferentes, mas essas discrepâncias não têm teiev-.inda para meus objetivos.
) dados supostamente concretos de validade altamente suspeica. 119 Sempre que a eleiçiio escolhida não é a mais recente, isso se deve ao foto de parecer

.......
No caso em foco, digamos, à falta de melhor definição, que todos os m:l.is representatiV'.i.
) países relacionados no Quadro 25 depois de El Salvador estão fora de sus-
) peição ou, se suspeitos (o caso da Coréia do Sul, por exemplo), são admis-
síveis por não afetarem a substância da argumentação. Poderíamos desejar, dias são desapontadorarnente enganosas sempre que um país sofre grandes
) porém, reduzir a lista aos casos mais importantes e mais significativos. As- flutuações eleitorais - é esse o caso não só do Chile e da França, mas tam-

)
sim, ficamos com os 13 países seguintes: (ndia, Chile (até 1973), Japão,
Noruega, FranÇâ (V República), Suécia, Israel, Dinamarca, Turquia, Irlan-
da, Itália, Islândia e Uruguai (até 1973). Mesmo assim, são companheiros
bastante estranhos. Continuam companheiros porque, pelo critério da dis-
bém da fodia e da Turquia. 12 º De qualquer modo, mesmo as médias, que
testei devidamente, nos deixam sem pontos de corte. Isso significa que, se
a categoria (partido dominante, ou "dominância") é significativa, deve
dizer-nos o que nossos 21 ou 13 países têm em comum. A questão é: a ..-..
....
tância .entre o primeiro partido e os demais, o Quadro 25 não sugere ne- existência de um partido dominante caracteriza de qualquer modo ( co-
nhum outro corte. Pode-se argumentar que o quad.Io devia ser construído mum) os sistemas partidários ou os sistemas políticos em questão?
com base em médias e não a partir de uma eleição "normal". Mas as mé-
)
)

)
224 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS S!STE:MAS COMPE:TITIVOS 225

Pelo ç ue p osso ver, a questão está destinada a continuar - como ,(., 1111pu t:id:i. razoavelmente, a desonestidade conspícua ou a fraude das
conunuou até hoje - sem resposta. Tal como está, a categoria apenas obs- 111 nas. Em outras palavras, podemos fechar um olho às irregularidades elei-
1tH:iis enquanto se puder ~upor, razoavelmente, que, numa situação de
curece as propriedades sistémicas dos países que engloba. E a razão disso
não é remota: o partido dominante é uma categoria que confunde partido c«1111pci ição honesta, o partido predominante continuaria a conquistar a
(isoladamente) com sistema partidário. A passagem de um para outro é, 111aiori:1 absoluta de cadeiras. 122 A definição é, portanto, a seguinte: um sis-
na m:iioria dos autores, verbal. Seu enfoque recai, na verdade, no partido 11·ma ~ partido predominante existe na medida em que, e enquanto, seu
principal, mas eles passam para a palavra sistema, e com isso são feitas < principal partido é apoiado de maneira constante por uma maioria ven-
deduções injustificadas, a partir do partido principal, sobre a natureza do ' êéllora (a maioria absoluta de cadeiras) dos eleitores....Segue-se que o par-
sistema. Na verdade, a Democracia Cristã italiana, o Mapai israelense ou os 1iJo predominante pode deixar, a qualquer momento, de ser predÕmfuan~
~ando isso ocorre, o padrão é logo restabelecido ou entãÕ -o sistema
soci::J-democ1atas dinamarqueses são partidos dominantes: não se segue 1
disso, porém. que ltália, Israel e Dinamarca tenham "sistemas" de partidos · 1~~ua _ natureza modificada, isto é, deix:i de ser um sistema de partido
dõminantes. Em suma, a noção de partido dorrúnante não estabelece uma· prctlominan te.
l'!a:se ou um ripo de sistema partidário. B certo e revelador dizer que cer.' ·- --A definição acima tem um mérito que a enfraquece e uma fraqueza
tos partidos sã·o "dominantes". Mas não se mostrou que essa classificação quç lhe aumenta as virtudes: é d emasiado precisa com relação ao limite, e
merece a situação de categoria. O que resta ver é se a noção de partido Jc masiado vaga sobre a duração. Tal como está , uma maioria que é quase
) ah~oluta, mas fica aquém dos 50%, não é condição bastante de "predo-
dominante pode ser utilizada como uma categoria taxonómica, em conjun-
) to com outros critérios e, especificamente, se pertence à definição de sis- mi11ãncia ", no que se relaciona com a qualificação do sistema partidário.
lss1) é certo em tem10s operacionais, mas, ao mesmo tempo, é o ponto
temas de partido predominante.
fraco da maior parte (ou de todas) das definições operacionais relaciónadas
Encontramos, pela primeira vez, o tipo de sistema partidário que mm limites e medidas precisas. 123 Meu limite é estabelecido na marca dos
) chamo de predominante ao discutirmos o caso dos Estados chamados de S0% na suposição de que o governo constitucional opera geralmente à base
uni partidários nos Estados Unidos. 121 E agora há uma razão para falarmos do principio da maioria absoluta. Na verdade, porém, na Noruega, na Sué-
de predominância que é evidente por si mesma, ou seja, a de que a domi- cia e na Dinamarca, por exemplo, as "convenções" da constituiç:ro são
) nância não era um termo disponível e que foi em grande parte mal-usado. difcrrntes, como se evidencia pelos tradicionais desempenhos, nesses países,
) Parece-me, porém, que "predominância" - que é menos forte , semantica- dl' governos minoritários. ti 4 Nessas circunstãncias, minha opção é sacrifi-
mente. do que "dominância" - é a palavra mais adequada para o tipo de r;11 a claridade da precisão operacional. 125 Assim, a cláusula da maioria de
) sistema partidário em questão; e isso também pela razão adicional de que 50·;;. será relaxada, como segue: U1!!Jistema de partido predominante é em
) "predominância" é usada aqui em contraposição a "hegemonia". ~t:1:il condicionado pela obtenção, pelo seu partido principal, da maioria
~ primeira observação a s~r feita com relação aos sistemas de partido . ·t~olu_ta de cadeiras, com exceçlfo dos países que seguem indubitavelmente
) predominante é que pertenç_em, fgra de _dúvid_a, à áreâ do pluralismo_pal;. o pr!!2<:Ipio de maioria não-absolu ta. 126 Nesses casos, o limite pode ser bai-
) t~io. Outros partidos além do principal não só têm permissão para_exi_s· \:1Jo para o ponto no qual os governos minoritários de um partido conti-
~ir como realmente existem enquanto competidores lega.is e legítimos, eJ!I· 11u;1m sendo a prática vigente e eficiente.
) ~ora não necessaname~te eficientes, ào partido predorrúnante.eo e~e A primeira emenda à definiç:ro deveria diminuir seu excesso de pre-
) a oízer que os partidos rrtenores são antagonistas realmente independentes n~:io. Ficamos, porém, com um excesso de imprecisão, ou seja: dj!;an.!_e
do_partído-predom.i.nante. Portanto, o sistema de pa_rtid9 predominante é, qu:in to tempo um partido deve ser predominante para que o sistema evi-
) ~ ~alidade, um sistema de _pais_.fle_uin partido, n..Q_q!!al a rotação não ,'.. ,~1c1i: essa característicà? Presumivelmente, uma resposta sensata seria:
«11 1 menos durante quatro legislaturas consecutivas. Essa resposta poderia
11
o~orre na realidade. Acon_tece simplesmente que o mesmo partido conse·
gue sempre uma maioria absoluta de cadeiras (não necessariamente de vo· ll>!• >t:Jr em risco a situação de vários sistemas bipartidários, mas não se
toS}Tio ·parlamento. ;>,1dl!. considerar isso uma desvantagem . Afinal de contas, quanto mais
'.:nsrn::J é a tipologia às variações, e quanto menos aprisione seus exemplos,
Evidentemente, a condição crucial é a autenticidade dessas vitórias. ;ii~s terá um valor dinâmico (além de seu valor estático). O que é pertur-
) Agu:ird:rndo uma atitude e uma inspeção mais críticas para com as estatís- h;i11ur nessa maneira de tratar o problema é, porém, a sua arbitrariedade
tlC3S eleitorais, vamos apresentar essa condição como segue : a permanência
) ~·:;it~n~1 . Por que quatro, e não três ou cinco legislaturas? E é nessa altura
mcnopolist<: no poder do mesmo partido, eleição após eleiÇão, não pode
) -·-
)
\
., .

) C:!I
) (;!li
226 PARTIDOS é SISTE:MAS PAR TIDA RIOS SISTEMAS COMPETITIVOS 2~7
) êl
que ::i noç:Io de partido dominante - e m:us ex:ltamente sua medida de
) t3I
intervalo - podc ser usada de maneira positiva.
) Voltemos ao Ql!adro 25 e :ios países mais significativos dotados de o
)
·'partidos dominantes", de acordo com a defin ição de domin:incia: fodia, = o
••
Chile, Japão, Noruega, Suécia, França, Israel, Dinamarca, Turquia. Irlanda,
) l táli:l, Islândia, Urugu:ii . Agora o critério passa a ser difere nte, é claro : em

......
que margem, acima ou abaixo da marca dos 50%, os partidos domin:wtes
) se situam. O Quadro 26 nos traz info rrn:ições adicionais: se os países em
)
)
questão recorreram a governos de co:ilizão (que incluem. sefl\ dúvida, o
partido dominante) e o período de gove rno Je um partido só, isto é, de
pr~dorninância - se houver. Devemos notar que, agora. as percentagens

) dos dois primeiros partidos são dadas em cadeiras, tal como exige a defini-
ção de um sistema predominante. Assim. uma comparação entre os dois
quadros indic:i também como os votos são traduzidos em cadeiras, isto é ,

••
)
)
)
a influência do sistema eleitoral - se houver.
O Quauro 26 fala bem alto sob re um aspecto: mostra claramente que
o gru po do "partido dominante" não é um grupo. A Índia, o Japão, o Uru-
gu :i i e a Turquia têm, ou seguramente tiveram, sistemas de partido predo-
,g
::::
E
·;;; ....
•..
minante.127 A Noruega e a Suécia estão na linha limítrofe, mas sua história
) longitudin:i.l é de predominância. A Irlanda tem desempenho inferior aos
)
)
)
c'.0is países escandinavos em te rmos de continuidade - o sistema irlandés
'üi de partido predominante entre 1933 -1 948 e 1957-1973, com uma
~;~•-~ rl'ilpção importante de dez anos - mas seu desempenho128
-.; :mos àe igualar ou ultrapassar o limite da maioria absoluta.
é melhor em

Quanto à V República francesa, os três "instantâneos" do Qua-


t:1·0 2@ sugerem a persistência e a coexistência de tendências opostas: adis-
..•
) t ri hui~ão tradicional de votos da IV Re pública, em contraposição às res-
••
•.
t. :çõeS' da constit uiçao gaulista. Se acrescentarmos que o rótulo "gaulista"
) in..:lui;.geralmente uma variedade de aliados, evidencia-se que sua única
)
)
)
rn::lioria , esmagadora e própria na Assembléia Nacional foi a de 1968 (de·
pois da "Revolução" de Maio em Paris). Em 1958, a UNR obteve apenas
40%; em 1962, os gaulistas deveram sua maioria de 56,6% aos republica-
nos independentes de Giscard d'Estaing (que concorreu com chapa à parte ......
......
e conseguiu 33 cadeiras); em 1973, estavam de volta ao seu nível de 195 8;
) e, em 1978, o número de cadeiras dos gaulistas caiu para 31 %. Assim,
embora as cinco eleições ( 1958-1973) realizadas sob a Constituiç:ro da
)
V Re pública proporcionem um período de tempo adequado, as caracterls-
) ticas de um sistema de partido predominante não se impuseram, pelo con-
) trário, estão desaparecendo.
Por outro lado , o Clúle, Israel, a Dinamarca, a Itália e a Islândia não
se qualificam, claramente, como sistemas de partido predominante: o par-
tido dominante em cada um deles deve governar em coalizão com outros ,
os membros da coalizão variam, e - acrescentemos - os governos têm vida
......
)
'9
)
.,

228 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS


SISTEMAS COMPETITIVOS
229
geralmente curta. Além disso, como sabemos, a Dinamarca apresenta as ..::bO lt111• ítrofc do Soiid South norte-americano) ou de um 1r 0, rma to amp1a-
propriedades sisiémicas do plur~ismo mod~rado. ao passo que o Chl.le era. rnen 1<' uagmentado, como é particularmente o caso do Par.ido do Con-
e a Itália é, um sistema de pluralismo polarizado. Confirma-se plenamente, gresso indiano (apesar de sua divisão, que se refleúu oassageiramente n
portanto, que a noção de partido dominante não chega a constituir uma ~lc1.;:io de 1~77). rn ~penas com o objetivo de se estab~lecer um continu~
classe, nem um tipo. p~iJc-~e c~ns1derJr o sistema de partido predominante como a va:ia•He C:o
Uma questão permanece, ou seja, se a medida expressa pelos pontos h1part1dar1sm.o n~ qual n~o ocorre nenhuma alternaçao (de fato) no oor!e:·
percentuais de intervalo entre o primeiro e o segundo partido podem ser J~-~3.nte cons1deravel penado d~ tempo. 131 Para todos os outros chjetivos,
incluídos, significativamente, na definição dos sistemas de partido predo- uc >1.; 1~os ter pre.sente que o sistema de partido predominante pode ser
minante. Mas o Quadro 26 não oferece indicação clara. Eu diria que a tarnbem uma vanante de qualquer multipartidarismo.
medida de intervalo só é indicativa quando o eleitorado está razoavelmente . Com o_s. sistemas de partido predominante situamo-nos no limite da
estabilizado (e esse não é, ou não era, o caso no Chile, na França e na Tur· ;irea .compe!it1va, tanto assim que alguns desses sistemas são erroMamente
quia). Quando isso ocorre, a variedade ampla de intervalos muito contribui classJ.ficados de unipartidários . Portanto, antes de passar à árna não-com-
para ex.plicar os casos da Noruega e da Suécia e, em geral , de uma predomi- 1~et1t1va, devemos ress~tar. que o sistef!la do partido predominante é um
nância que na-o se baseia, necessariamente , na maioria absoluta. Além ~~o_9e pluralisrrip p_art1dá~10 nq ql!ãT,emQora J!â? ocorra nenhuma altema-
disso se o eleitorado estiver estabilizado e o intervalo for amplo, pode-se çao n.o_Eoder n~J?~'.!~c~~ a .alt~naç_ão J!ãO foi proi)?ida , e o sistema político
preve'r com pouco risco que uma determinada formação política perdu- ofêfe~e amplas oportunidades para a discordância abertaeeíefiva isto é
rará como tipo de sistema de partido predominante. E essas observações J~a__~põslç~~ ~ predominância do partido nogoV°erno:- Na n1'aíã;"""n~
levam a uma enfatização da exigência temporal. J apao: º.º trrugua1, ~a Noruega e na Suécia~ a oposiçao política, existe,
Quanto tempo leva um partido predominante· para estabelecer um ou .existiu, e o partido predominante tem ou teve - dentro de margens·
sistema de partido predominante? A esta altura da argumentação, estou mais ou menos apertadas - de competir pelo poder. A competiç:ro é tão
preparado para estabelecer o critério seguinte : três maio.rias absolutas r:al que a N?ruega, a Suécia e a Irlanda bem podem estar no final de sua
consecutivas podem ser indicação suficiente, desde que o eleitorado pareça rnla como sistemas de partido predominante. 132 As tendências no Japao
estabilizado , que o limite da maioria absoluta seja claramente superado sugerem, igualmente, que seu partido predominante, o Partido Liberal
e/ou que o intervalo seja amplo. Inversamente, na medida em que uma Democrata (PLD) - que vem perdendo terreno constantemente - talvez
ou mais dessas condições nao se apresentem, o julgamento terá de esperar esteja em declínio. t digno de nota que, se esse partido perder a maioria
que transcorra maior tempo. Sem dúvida, isso torna bastante imprecisa absoluta de cadeiras, o Japão poderá facilmente ser incluído entre os sis-
a exigência de duração. Mas assim deve ser. Em qualquer momento um temas polarizados. Em 1972, os partidos relevantes eram cinco, com a
sistema de partido predominante pode deixar de sê-lo, exatamente como s~guint~ distrib~ição de força eleitoral: PLD, 46 ,9%; socialistas, 21,9%;
pode ocorrer com um sistema bipanidário . Isso não é dizer, obviamente , conrnmstas, 10,:>%; Komeito (partido budista, cujo nome significa "par-
que os outros sistemas partidários não são também passíveis de mudança, tido para a política limpa"), 8 ,5%; soi;iaJ-democratas, 7 ,0%. O Par!iôo
mas apenas que os sistemas de partido predominante e bipartidário têm ~~h·dista Democrático está, na verdade, muito próximo do PLD. ,•r.quur.to
em comum uma fragilidade peculiar: pequenas diferenças nos resultados l' Purtido Socialista j~ponês tende a ser extremista. Como dificilmente se
eleitorais, ou simples modificações do sistema eleitoral podem, mais facil- PO~i! c~perar que o Komei se torne um pólo central impor!ante de coag11-
mente, transformar-lhes a natureza. 129 Por outro lado, a perspectiva aleri1 1 ::~· ;:t.i, e provável que um paárão pós-predorninan1e reforce um<J cresceme
do tempo pode ser diferente da perspectiva no tempo. Não há contradiç:Jo p,.:arizac.;"o em àois blocos. 111
em se dizer que um determinado país não funciona , hic et nunc, como tipo
predornin m 1e de sistema, e não obstante demonstra uma história sis1êmica
geral de predominâ.ncia.
Por outro lad0, novas inclusões poàcrn estar à vista: o Paouistão
• •'P;n u r.1 grande ponto de in terro6ação, Bangfade~h (mas os si1;tt1mas
•~/> i C forn m, desde o início, pressago~). Na sua primeua eleição por su-
11
! - . '
.. -.- . . .
Um esclarecimento adicional talvez seja redundante mas não total· :1;,)?10 umversal pré-secessão, em l 970, dois NJ.rtidos se distanciaram de 1:
mente supérfluo. O siste_ma de._p::irtido predominan te é um ripo. não uma _1:1J o: os outros: a Liga Awami (Rahman), qu~ tem suas ba~es n·~ Paquis·
classe Isso lembra qUe'o critério, aqui, nrro é o número de partidos, mas t.: ·' Oricll tal, com a maioria absoluta, e o Partido Popu lar (Bhutto) , ba· "i
lã -·· . • 1

~stribu içõo particular de poder entre eles. Assim, um sistema de ~~:,~lo ~10_ Paquist~o Ocidentai. Em consc.:iüência da separnção de 1972,
pJrt1do prcdomman te pode nascer de um formato bipartidário (como no 1 :1c.ju1st3o deveria ter um Partido Popubr com 59%do eleitorado e Dan-

)
) «;3
) f;I
) 230 PARTIDOS E S!S TE1VfAS PAR'TIDÃRIOS eµ
) t;:1
giadesh seria totalmente da Liga Awami. Como as eleições no Paquistão
) foram, no passado, competitivas e razoavelmente livres. em circ~nstàncias NOTAS
IP
) normalizadas o seu padrão poderia vir a assemelhar-se ao da India . Por CJ
outro lado, Bangladesh vem, desde sua criação, distanciando-se c:ida vez

)
)

)
mais da normalizaçao. Rahman pendia cl:irameme par:i o governo dica-
toria! quando fo i morto, em agosto de 1975, durante uma revolta. E nin-
guém sabe, a esta altura, para onde irá o país e como sua populnç:ro sobre-
viverá. Não mencionei, até agora, a Irlan da do Norte, e isso porque, apesar ......•
CJ

....
) do restabelecimento de seu parlamento, não é um Estado independente.
Mas não se pode duvidar que - se pacificada e independente - a Irlanda
) do Norte poderia ser considerada como uma fo rmação política do tipo de
partido predominante, pois os unionistas ganharam todas as eleições, desde 1. ~uvergcr, ~es partis f.Oliri.ques, op. cit., p. 245 e passim, pp. 239-246, 25 1, 261-
J a pr im~ira em 1921, até a realizada em 1969. ~65. A 1de1a de ~~ duahsrno nat:Jr.~! " foi t:oriz:ida em J926 po r Herbert Sul-
t:líl. Para u:11ª cr1 t1ca devastadora a 1mpressJO eminentemente supcrsticiosa de
) Como conclusão, o fato de os sistemas de parti_9o predomin.2nJ_e que os hfenomenos ocorrem cm pares", de Du\·eroer ver A •ron B. \V'ld· .k
"A d 1 . . . . ,, • ~ 1 ns y,

•.
evidenciarem, principalmente, uma ai ta taxa de inclusões e exclusões, met o o 0~1cal cr~c:que of Duverger's political p:i.rt1es", JP, J 959, pp. 303-
confirm a qµe eles são sistemas competitivos em relação aos quais se pode J 18. Ver tarnbem a cn t1ca de 1-lans Daalder, "Par ties and poli rics in the Ne chcr·
dizer que, na linha de tãrgãcla: todos os i;t..artidos têm op~rtu~s i&_~, lands" , PS, fevereiro de 1955, p p.12-13.
Na verdade, a igualdade de oportunidade é sempre relativa,_QQ,i_s nlngl!éf!! 2. lbi~., pp. 241, 269. Esse erro de apreensão da mecânica totalmente distinta dos

,.
)
)
'13àlmen.t~)gual na linha_de largada. Além disso, !&u~<!!~~Pp.Q.r~r'!l.­
du· l<: não é.f,P mesmo que igualdade de recursos, e, nos sistemas de parti~o
p7;19J1Wiâhtê=_ã- disparidq_de de recursos entre o partido no poder e _os
d.o~s sis~emas foi mantido até hoje. Ver particul3.rmente Giorgio GaUi Jl bipar·
11t1smo rmperferro, ll Mulino, 1966. '
3. Com .referência ao ~eu. ensaio an terior, "Europe:in political parties: the case of
po lar.1zcd pluralJ:.m , m la Pa lo mbara e Weiner ( orgs.), Poiitical Parril~s and
..
)
)
)
partidolõ fotcl do e,od~~rá provavelmente maior <!_o que e~ _outros siste_-
na~l!!.ral!~tas. Mesmo quando foda5-essas distinções sutis são levadas em
corúa, o fato destacado é que os partidos de um sistema de partido er~do ­
rnina.nte· desfrutam de uma igualdade de oportumdãd-és aesconhecida pelos
Poli.t1cal Developmenr, º.P· cir., pp. ~ 37-176), Lijp hart observa que "S:utori não
traça coerentemente a lmha entre sistemas multipartidários moderado e extre-
mado no mesmo p~nto" C."Typologíes of democratic systems", CPS, op. cit.,
P'. 16) . .Ele tem raz.ao. Na epo~, eu .não perc~bia claramente corno os partidos
dc~ern ser contados., o qu_e explica ~mhns osctlaçõ.is. Deve ficJr claro, portan to,
.•
•.
pãifídos menores âõssistemas hegemônicos. - - - q~c traç.o a hnha d ivisona, hoie. nao entre q uatro e cinco, mas entre cinco e
) seis partidos.

.
4. Como a exigência central é ''interação", a contagem é simples se os partidos
) cornpet~m no mesmo espaço, mas menos simples ( como se verá infra, cap. 10),
) ~a .med1~a em que sup.usermos um espaço de compe tição b idimensionn.J ou mul-
t~d11nens1onal. Presum1vclmente, a regra de mais-do-que-cinco se torna menos
ngor?sa quanto menos os partidos interagem por estarem colocados em diferen-
tes a1mensões competitivas.
5. Est~ .capítulo e, em particular, esta seção, supõem uma percepção espacial da
P0!1t1ca. Portanto, seus conceitos cen trais - como distància ideológica _são
...
..
)
)
)
ret erçado~. no cap. 10 infra. ao qu al são fe itas re ferências implícitas durante
toda a analise dos sistemas competitivos.
6. .Uma análise relacionada com esses conceitos encontra-se ~m Erik Al{ardt

~~
Typ~s of protest and alicnation", in Rokkan e Allardt (oro•.) Mass Politics

7 · Esta éª. intcrpret.aç:io de Sidney T arrow; "Sarto ri conclui que o PCI está total·
0

'
..•
••
)
mente fora do sistema" ("Polit ical dualism and l talian communism" APSR
) m11Iço_ de 1967, p. 40). Ver também seu Peasanr Communism irz Sourhe~n /taty,'
op. cu., particularmente pp. l 10·111. Como Tarrow constrói seu caso com


--
) base no argumento de· que o Partido Comunista Italiano não é um "partido
de.votado º:1 de combate", que ro deixar claro que natla disso está implícito em
) rrunh a noçao de partid o anti·sistema. Esses tlois mal-entendidos são infelizes.

)
)
...
)
J ri
)
232 PA RTIDOS E SISTEMAS PARTIOÂRIOS !
) J
NOTAS 233
8. Para isso, o mêicadcr mais J1gnc üC ié e mais negligenciado é proporcionado por
)
u:na :inálisc de conteúdo da imprensa diária. Es~e indiczdor n3o pode ser reje i-
tado como ~endo relacionado simpiesmcn 1e com o compon am ento verbal. Entre
ção neg:mva é de Guenther Roth, The Social Democrats in Imperial
Bedmtnster Press, 1963. ermany,
e
)
o utras coisas, é tão verba l quanto as entrevista> (às quais é, porém, atribulda 21. P~a. a grnnde varie~adc. de oposi.ç~cs e as opiniões delas re sultantes, ver Rodney
a condição dê evidência fidedigna e importance). Alé m disso, a polít ica visível B:irker (org.), St!:: d1es in Oppostt1011, Macrnillan St. Martin's Press, 1971. Em
de ma,,,,a gua, como ressaltart:i, sobre o comportamento verbal. ~~ha colaboraçao, procuro reforçar a noçio da o posição constitucional {pp. 33.
) 9. A lese de Duverger de que "o cenu o nunca existe na política" (Ler par/is pO·
litiques, op. cir., p. 245 ) confunde os vános aspectos do problema e deve ser 22. ~igo 3 me_lhor_evidência porque consid ero muito suspeitas as entrevistas com os
) In vert ida: uma "tendência" dr centro existe sempre; o que pode não cxistü i lideres. Nao. so a e~ trc vista_ é muito se nsível às expectativas uo enuevistador
um partido de centro. Ve r , porém , infra , 10.4. como ~mbcm os l~deres utiliZiU!l entrevistas para projetar sua imagem pública
) 1O. Oevt-se notai que enquanto eu mantenho que um sistem;: político pod.: ser bi- e/ou a i:nh; do partido. Esse ponto relaciona-se com a nota 8 deste capi"tulo.
rolar e não polarizado, Du,·erger identifica (ou confunde) polarização com 23. A cttaçao e de Franco Cazzola, "Consenso e opposizione nel p•·lam t ' t l'
· iJ 1 d 1 PC!" RI - en o 1 a 1a-
"bipolaridade" {ver Les parris politiques, p. 279). Scot t C. Flanagan criou um no . ruo~ ~ . · SP, 1, 1 972, p. 92. Devemos ressaltar que a maior parte
"índice de polarização" (in Almond , Flan:igan e Robert J. /lfondt {orgs.), Crisis. da leg1slaçao italiana é aprovada diretamente pelas comissões permanentes do
d1oice and changc, Littlc Brown , 1973, pp. 86-89, 682·684 J. Sua medida inclui parlamento , CUJOS trabalhos são fechados e totalmente invisíveis. o comporta-
) mais elementos do que minha conceituação e ainda não foi testada empiricamen- mento comunista, quando os projetos de lei chegam a plenár io é muito menos
te, mas estamos, sem dúvida, tratando do mesmo problema. coalescente. '
) JJ . O g.rifo ressalta que minha competição ce nuífuga é medida pelos resultados 24. Ver Al~no Predieri, " la produzione legislativa", in G. Sartori {o rg.). Jl parla-
elci1orais. txpli co a1 adequaçf.o desse indicador no meu artigo "Rivisitand o il mento rta/IQno 1948-1963, Edizioni Scientifiche lta!iane 1963 s b . . .
) pluralismo polarizzato", in r:ab io Luca Cavazza e Stephcn R. Grauba rd (orgs.), temente, Predieri dirigiu uma grande pesquisa sobre 0 pr~cesso e. au soedque.'.'
1 ,1 . . li l pr uçao
li caso italiano, Farzanti, pp. 20 2-204, 210-211. Esse aspecto será também dis- eg1s ativos Jta anos, 1 processo legislativo nel parlamento italiano (Giuffre,
) cutido mah adiante. 197~·1?75, em 5 vols.), onde se podem recolher dados numerosos. Uma con-
12. Os dados completos estão nos Quadros 9 {Itália) e 10 {França) na seção seguinte. clusao 1mport~te do vol. 11 <:ranca Cantelli, Vittorio Mortara, Giovanna Movia,
) Come lavara 1/ par/amemo) e a de que "a atividade legislativa ( ) é · " - 1•
13. Supra, 4.1, e cap. 4, nota 13. Ver também meu Democratic Theory, op. cir., m t d . t t' .. { O) . .•. pnnc1p...
cap. l 1. en e ª. n11~1s .r~ iv~ p. 11 , e qu.e "sobre as.principais questões relacionadas
) com a Vl?a soc1a. ate mesmo as cc;ializões governamentais, com sua maioria pre-
14 . Ver especialmente seu capítulo "Germany: the \'lln ishing opposition", in Dahl,
Política/ Oppositions in IYestern Democracies, op. cir. estabelecida, encontram grandes dificuldades em conseguir a aprovação do parla-
) mento {.... ) ~e 85 proj.ctos desse tipo apenas sete foram aprovados" (p. 156).
I S. A obsenação é feita. entre outros, por J. LaPalomba.ra, "Decline of ideology:
) a dissen t and intcrpretation", APSR, março de 1966, pp. 15-16. Uma ~ vahaçao perceptiva do . ~ue representa essa produção legislativa foi feita
16. Pode-se questionar sua natureza ideológica (supra, 4.4) mas dLficilme nte sua em G.1useppe D1 Palma, Dec1S1on and Representation: Parliament Parties and
) tá tiC<l e atração ideôlógica. Con!fic'. ft~anagemenr in ltaly , especialmente os c.apítulos 2 e 5. Ampliand o

)
17. Embora a dimensão responsabilidade-irrc:sponsabilidadc seja, na minha opinião, u": 1_nd1ce 1~~1~ado p or !ean lllond~ l, Di P~lma verüica que, enquanto a "im-
po. tanc1a media dos projetos de lei no Remo Unido é de 3,2, na Itália é de
j1
a principal c:iracter í stica da oposição nos sistemas polarizados, vários outros 0,99 (Quadro 13).
elementos confirmadores podem ser colhidos nos capítu los finais de Dahl.
) J'olitical Oppositions in Western Democracies, op. cit. Mencionarei apenas que 25. Ver, .~u an to a isso, os "ponto~ da ilegitimidade", e as "grandezas de ilegitimi·
o âmbito d:i competição vari3 . e aum en ta muito, ao passarmos da pequena p3.1'3 d.de ger:us, calculados por Ted Robert Gurr e Muriel McCleUand Political
) a ~randc distância ideológica. P~rformance: a Twelve-Nation Srudy, Sage, 1971 , p. 41, onde a Itália: em apro- J'
) 18. li.V. Wiseman, Poiit1ca/ Systems, Praegcr, 1966, p. l 15. Wi sem:in recorre a ximad~":('~I 195 7-196~, é considerada como tendo o m ais elevado sentimento
Harry C. Brederneier e R.M. Stephenson, The .4na~vsis of Social Sysrems. Holt, de Jle~111m1dade ~o p:ri odo: (~er pp. 3(>-48 e especialmente Quadros 9 e 1 O.)
) 1962. 26. Que essa conclusao nao .se 1ust1ficava - pe lo menos cm relação à Itália _ foi
19. Ressaltei esse aspecto. a conde nsação organiz:icion:i.l, i11 LaPal ombara e Weiner, demonstrado , .'.la pesquisa de Robert D. Putnam , The Beliefs of Policicians -
) l'olirica! Parties and Political DE.1·1'/npme111, op. cit., pp 144-147. Ílíc!}fº·'-' . Co1111:ct ·z:1d D_emocracy in Brilain and ltaly, Yale Univcrs ity Press,
20. As discussões e pcsquis:i.• sct.re o c0munismo ira!fano são nu;nero~a~. UmJ 1i ~il~· 19 i .> , CUJa vcnllcaçao prmcipal é 3 de que "nenhum fato se destaca mais dessa
) gcrJl da b1bllog1:úia itahuna recente encJntra-~e em Arturo Colombo. "La d1- pesq~'.sa do que o contraste ent.Ie os políticos das duas nações. Em quase todos
mmi..:a dei ~omuni smo ita.li~n0", i:; Lul·rnno Civalli (org.), .Hatcria!i s-Jl/ 'fr:ihc os :-anos componen tes das numerosas dimen sões de 'ideoiógico' ( ...) os italianos
) i11 1rasjorn:azio11e, ll Mulino, !9i3. Mas ver especialmente: Gbcomo S:ini. "LJ rcgistr:iram ~o.n:os ac~nt~adamente maiore s do que os britânicos. ( ...) Qualquer
stratcgia dei PCI e l'elettor:ito italian o " , R!SP, Ili, 1973;Jua."l Lmz, " L" dcmo- que ~CJ ~ º.~nterio, os 1tahanos são poli'ticos mais id eológicos" (p. 78).
crazia italiana di fronte ai futuro'', in Cavau.~ e Grambard torgs.l, li caso 11alia- 2i. G. Sarn, Mass perceptions of anti-system partic~: tlle case of ltaly" British
no. op. c11.; e -0 número especial "li compromesso storico", Bih!1oteca dei/a Journal of Politica/ Scie11ce, outubro de 1975, ressalta - com ba~e em' dois le-
) Liberrà, setembro de 1974. Ver t:mbém Donald l.llackmer. U11i1y in D1versiry: van:a'.11cntos de 19.68 e,-1972 - ?S li~itações impostas à reconversão da desle~i ­
) ltalian Communism and thc Commw1isr World, MIT Pr~ ss, J 968; e Arrigo Levi, llrnação cm releg111maçao pela e lite. 1,.,se aspo;cto pode ser melhor descnvolvid<'.
PC/ - La lunra m:;rcia rerso i! ;;01 crc. E1J~ Kornp3SS. J 97 l. A 1Mi:1 da in tcgra· parece-me, exam in ando-se o que os ele itores dos partidos anti-sistema "csp<'·
ra m" de ~ U3 vi tória.
)
)

)
)
234 PAHTIOOS E SISTE.ltlAS PARTIDÁ.=1/0S NOTAS 235
••
)
)
28. John C. McKuinc:y . CcJmuu crive Typolo:,'Y and Social Thc?ory , Apple ton·Centu -
ry..('rofts, 1966. uml l:1ilis..: muito úttl dl iipologi:i de 1ipos. R.!colhi ncl3 o
Fc?dera/ Covernmen t of Swit=erland, Houghton ~hfílin, l 96 l. ainda oferece uma
visão geral útil.
••
)
)
29.
co nceito do tipo deduz.ido (par ticul:umente pp . 23-25 ).
Par:i sim pufic:u l :u~umen t:iç:fo, suponho que pelo menos o ttpo tOtllJtário
1en ha sido entendido ~orno um tipo pol:ir, e não empínco. Que isso esd longe
de S<!r o cl~O comprov.Me pell atual conuo•':!rsia sobre o totalitarismo. A ques·
39. Note-se que os result:idos não medem a import:incia da religião. Os praticantes
de religião constituem, aproximadamente, 2 0% da populaç:io, e a. :iuação das
lembranças e do simbolismo religiosos continua forte pelo menos para :i metade
do povo israelense. Ver particularmente Gutmlnn, adiante. nota 43.
••
)
30.
.31.
tão ~ foclliz:ida infra , 7. 2.
Supra , 5.3.
Sobre a Dinamarca, ver ..\lastlir H. Thomas, Parliamentary Pareies in Denmark,
"º· Deixo de lado a população ir:ibe, q ue representa cerca de um sex to da pop ula·
ção total (ce;c:i de 500.000 árabes para uês mtl!1ões de judeus). porque o yoco
árabe é dividido. Assim, as chamadas Listas Arabes (que recolhem cerc:i da
metade do total da votaçüo árabe) apoiaram sempre as coaliz.ões lideradas pelo
••
)
)
/ 9-15-1971. Occasionll Papcr 13, G lasgow, University of Suatchclyde, 1973;
e Erik Damgaard, "Stability in the Danish p:iny systcm over half a century",
SPS, IX, 1974 . Mogen Pederscn, "Consensus and confüct in ihe Danish Folke·
ting 1945-1965", SPS, li, 1967, e Damgaud, 'The parliamen iary basis o(
Mapai. O ouuo grande bloco de votos árabes vai para os comunistas. Ver Jacob
Landau, The Arabs in fsrael. A Política/ Study, Oxford University Press, 1969.
lsso não subestima, .porém, a relevância futu r:i da população árabe, cuja taxa de
••
\ 32.
DJ.!1isll govcrnments: lhe patterns of coalition formation", SPS , lV, 1969, cons·
tltucm também estudos muito interessantes.
Uma c.'(celente cobertura da Holanda é o capítulo de A. Lijphart na co let:inea
41.
42.
crescimento é maior - dentro das fronteiras existentes - do que a taxa de cres-
cimento da população judaica.
Isso é confümado pelo modelo da competiç:!o espacial, infra, 10.4 (e nota 71).
Ver Dan Horowitz e Moshe Lissak, "Authority without sovereignty: the case
••
••
de Richard Rose (org.), E/ectoral Behavior: A Compara tive Handbook, Free of thc National Centre of the Jewish Comrnunity in Pa lcstine", CO, inverno
) Prcss, 1974. Mas ver também Lijphart, The Polítics of Accomodation: Pluralism de 1973.
and Democracy in the Netherlands, University of California Press, 1968; e os 43. Sobre Israel, ver Benjamin Akzin, "The role of parties ln Israeli democracy",
) ~scritos de Daalder indicados adiante, nas notas 34 e 73.
JP, novembro de 1955; Amitai Etzioni, "Alternative ways to democracy: lhe
)

)
JJ. À parte o crescim ... nto do Partido do Progresso, em 1973, indico de quauo :i
cinco p:utidos porque na década de 196 O - m:is não em todo o período - o Par-
tido da Justiça fez parte de duas coaUzões. Basicamente, porém, no período
1920-1971 a Dinamarca foi um sistema de quauo partidos, embora a força e lei·
example of Israel", PSQ, junho de 1959; Emmanuel E. Gutmann, "Some obser·
vations on politics and parties in Israel", f11dia Quarterly, janeiro·m;i,.rço de
1961; Scott D. Johnston, "Major party politics in a multiparty system", li
Político, II, 1965 : S.N. Eísenstadt, /srae/i soe iery, Weidenfeld & Nicolson, 1967;
••
) H.
toral combinada dos quatro partidos tradicionais tenha declinado de 96,9 para
81 % (Dangaard, acima, nota 31; SPS, 1974, pp. 103-107).
''Tradicionllmente, cinco partidos políticos dominaram o sistema político ho·
Leonard J. Fein, Politics in Israel, Little Brown, 1967 ; Martin Seliger, "Positions
and dispositions in lsraeli politics", GO, outono de 1968; S. Clement Leslie,
The ri/r in Israel: Religious Authority and Secular Democracy, Rotlcdge &
••
••
l:mdês. Três partidos religiosos( ...) disputaram o poder ou dele partilharam com Kegan Pilul, 1971 ;·E. Gutman, "Religion in lsraeli politics", in Jacob M. Lan·
) do is partidos não-religiosos ... " (H. Daalder e J.G. Rusk, "Perceptions of party dau (org.). Man State and Society in the Contemporary Middle East, Ptaeger,
in the Dutch p3Iliament", in Samuel C Patterson e John C. Wahlke (orgs.), 1972; Khayyam z. P:lltiel, "The Israeli coalition system" , GO, outono de 1975.
) Co mparative legislat1ve Behavior, Wiley, 1972, p. 147). Quero agradecer ao professor Landau pelos seus conselhos e por ter verificado

)
)
35. De acordo com minhas regras de contagem, porém, a Holanda teve um for-
mato de seis partidos na legislatura de 1971-1972 (sendo o sexto partido o
DS'70, que participou de um gabinete de pouca duração). Só em 1973, o 0'66
e o PPR (mas não o DS'70) participaram de um:i coalizão governamental, au-
44.
meus dados.
Os clássicos sobre a República Weimar são Karl D. Br.icher, Die Aufloerung der
Weimarer Republic, Ring Verlag, 1960, 3~ ed., e Erich Eyck, Geschichte der Wei·
maTer Republic, Erlenbach, 1962, 3!1 ed., 2 vols. O sistema de Weimar é clara
••
mentando com isso o formato da legislatura para sete partidos. embora rapidamente analisado em perspectiva por Gerhard Loewemberg, "The t
)

••
36. Jnf·a, 6.3,Quadto 21, e 6.5. rema.1<ing of the Germw party system", Poliry, l, 1968; e, na atualidade, no
) 37. Sobre a Noruega, ver o capítulo de Stein Rokkan in Dahl, Polirical Oppositio11s capítulo de Derek Unwin, in Rose (org.), Electoral Behavior, op. cit., pp. 118·
in l\lestern Democracies, op. cit.; sua colaboração - com Henry Valcn - pata 126. Ver também Charles E. Frye, "Partics and pressure groups in Weimar and
a colctinca de Rose, Electoral Behavior, op. cit.; e Valen e D. Katz, Poli:ical Bonn", WP, IV, 1965. Os resultados eleitorais encontram-se em E. Faul (erg.),

)
Parries in Norway, Tavistok, 1964. Hany Eckstein, Division a11d Cohesion in
Democracy: 11 Smdy o[ Norway, Princeton University Prcss, 1966, continua
sendo um estudo de c:iso de grande valor teórico.
Whalen und Wiihler in Westdeutschland, Ring Verlag, 1960. Em Gurre McClel·
land, op. cit. (nota 25 deste capítulo), a Alemanha (1923-1932) consegue uma
grandeza total de ilegitimidade de 19,3, superada apenas pela Espanha (1932-
1936) com 22,0 (p. 40). .
••
••
38. A Suíça fo1 analisada do. me lhor maneira, em trabalhos recentes, sob o tem:i da
Jem ocracio. co11socia1ional (infra, 6.3, e notas 73. 82). Para uma visão geral, ver 45. Supra , 6.1. Pata outras interpretações amplas, ver Galli, 11 bipartitismo imper/et·
l cap. 9 de E11ropea11 Parries: A Handbook, org., por Stanley Henig, Pracgcr, 1969 . to, op. cil., e// difficile governo, li Mulino. 1972; Germino, Passigli, The Cov·
1\.!clhor ainda, ver Rogcr Girod, "Geography of thc Swiss party system", in ernment and Politics o/ Contemporary ltaly. op. cit.; O.A. Allum, ltaly, Repub·
)

)
Allardt e Liltunen, Cleav11ges ldeologies and Party Sysrems. op. cir., pp. 132·
l 6 1; e se u artigo "Le systeme dcs partis en S uisse", RFSP, dezembro de 1964.
Ver também J,urg Steincr, 'íypologiesierung des Scheweizerischen Parteien·
sysccms". Schweizerischen Jahrbuch fur Polirische Wissenschafr, 1969, pp. 2l · 46.
fie wíthout Government?, Weidenfeld & Nicolson, 1973; C:ivazza e Graubard
(orgs.), II caso iraliano, op. cit. Ver também o Livro de Oi Palma, .Decision and
Represe11rarion, oarticularmente cap. 6. .
Para uma avaliação geral dos efeitos do duplo escrutínio, ver Fisichella, Sviluppo
••
)
)
-10; e E. Grune, Oi<! Partein i11 der SC'h wei!z, Fro.nckc. l 969. G.A. Codding, The democratico e sistemi eletrorali, op. cit., pp. 195-221.
••

- )
)
1

236 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDARIOS NOTAS 237


)
47. A bibliografia sobre a França é extensa, mas ra.ramente satisfatória do pont o de si1 y Pre\s. J 97 L Uma anal iSE' geral e a de I'" tt1 hsonen , "Party suppon in a
- ) vista teó ri co. Não obstante, ver N. Leites, On the Game of Politics in Fronce. ír?.gmented )yste m", in Rose (org.), J::lecruro/ Behc1·ior, op. cir.
Stanford University Press, 1959; Jacques Flauvct, La IV République, Fayard, 5.:>. '1' ne pan y systcm of Spa in: p ast an d fu turc", in Sey:nour M. Lipset e Stein
') 1959; D. Pickles, The Fourrh French Republic, Methuen, 1958, n ed., e The lfokkan (orgs.), Party Systems and Vot.:r .A lignmenrs, Free Press, 196 7, pp. 200-
Fzfth French Republic, Methuen, J 965, 3~ ed.; M. Duverger, La Cinquiéme 201
) Répub/ique, Presses 'Universitaires, 1968, 4~ cd., e La Vi République et /e ré- 5ó. As t~cnicas para med!f as tendência.se f!utuaçõcs de força partidária são delinea-

-,-, ) gime présidentiel, Fayard, 1960; Roy C. Macridis, "France ", in Macridis e R.E.
Ward (orgs.), Modem Political Systems - Europe, Prentice-Hall, 1963; DU1lcan
MacRae, Parliamenr Parries and Society in France 1946-1958, S1. Martin's Press,
1967; P.M. Williams, The French Parliament 1958·196 7, Allen & Unwin, 1968;
57.
dns por R. ~ose e D.W. Urwin. "Persistcnce and change in Western party systcms
since 1945 ,PS, 1970, pp. 287-3 19.
Os coeficientes foram sugeridos e calculados por Alherto Marradi, meu cola·
borador na Universidade de Florença. Agradeço-lhe também por ter preparado
S. Elumann, Polirics in Fronce, Little Brown, 1969. Sobre os gaulistas, a princi- as figu ~as.

.,
·1 pal fonte isolada é Jean Charlot, L'V.N.R., Colin, 1967, e Le phénoménegaul-
liste, Faya..rd, 1970. Do meu ponto de vista, MacRae é, para a IV República, o
texto mais útil. Um tubalho atualizado é Vincent Wright, The Government and
Politics of Fra11ce, Nova York. 1978.
48. Nas eleições presidenciais de 1970, Allende conseguiu 36,3% dos votos, seguido
SS.

59.
So bre a Itália (1 946-1972), deveriam ser os seguintes: comunistas, + 1,32 · so-
ci2listas e republicanos, - 0,84; democratas cristãos, - 0,34; neofascistas, +'1 ,1.
Para maiores detalhes, ver Sartori, "Rivisitando il pluralismo polarizzato" , in
Cavazza e Graubard, li caso italiano, op. cit. , esp. pp. 203-209.
N~ Figura 18. sobre o Chile, a tr íplice divisão se faz entre extrema esquerda.
)
de perto (34,9%, isto é, menos de 40.000 votos de diferença) por Alessandri, o cent.ro-e~q~e:da e cent.ro-di.re11a. dado o característico vazio do centro na poli'·
'
,.i
1 candidato co nservador, com Tornic (democrata cristão de orientação de es- uca par11dar1a chilena. A inaplicabilidade dessa divisão tríplice à França é expli-
querda) cm terceiro, com apenas 28%. Note-se que AUende já se havia aproxi- cada em vários pontos.
~) mado muito da vitória na disputa entre três concorrentes em 1958, e que sua 60. Supra, 6.l.
., porcentagem em 1964, na disputa com Frei, foi maior (38,6%) do que ao con· 61. Devemos notar que também o governo trabalhista de 1935-1940 foi minoritá1io.
:s
} quistar a presidência em 1970. Quanto às convenções da constituição, não havia Não obstante, na Noruega os governos minoritários fornm antes uma cxce1:ão
precedente de o Congresso negar eleição ao primeiro colocado nas urnas. do que uma regra.
) 49. Vale notar que, a 22 de agosto de 1973, o Congresso aprovou uma moção de 62. Isso levanta a questão de se um partido com duas cadeiras deve ser considerado
"ilegalidade" do governo de Allende, que resultou na renúncia dos militares que relevante. Eu diria que i>so sem dúvida ocorreu na legislatura de 1961. Mas o
) faziam parte do gabinete e contribuiu, sem dúvida, para legitimar o golpe mili- Partido Popular Socialista não desempenhou nenhum papel na legislatura de
tar de 11 de setembro. 1965 (na quaJ os partidos de oposição tinham urna maioria de 53 ,4% das cadei-
)
-
50. Entre as condições não-políticas eu citaria, primeiro, o fato menos ressaltado ras) e não esteve representado no Srorring de 1969. Por isso mantive, para a No-
ruega, o formato de cinco partidos. Mas o problema volta a ser suscitado peL·~

-
pela maioria dos in térpretes posteriores ao golpe, ou seja, o fato de que, em
fins de 1972, a inflação havia ultrapassado a taxa de 160% e que, antes do gol- eleições de 1973 e de 1977. Como esse exemplo aj uda a confirmar, qualquer
\
pe, havia duplicado, chegando ao nível catastrófico de cerca de 325%. Embo- limite convencional de irrelevância pode ser muito enganoso. Ver 5.2 supra ,
ra a inflação seja um indicad or de muitos fatores causais, e deles resulte, aJém com referên cia ao Partido Republicano italiano.
do ponto atingido no Chile em 1972 ela pode ser tratada como um a variável 63. A bibliografia sobre a Noruega foi indicada na nota 37 deste capítulo.
'""") independente. 64. Sobre a Suécia, ver Nils Stjemquist, "Sweden. Stability of deadlock?", in Dahl.
) ,. Sl. Em 1971, por exemplo, McDonald classüicou o Chile como um "sistema multi· Political Opposirion in 11/estern Democrocies, op. cir.; Bo Sarlvik, "Polit ical
' partidário dominante", interpretou a eleição de 1969 como urna "contração" stability and change in the Swedish electorate", SPS, l , 1966; M.D. Hancock,
} J
! do sistema partidário e deu ao seu capi'tulo o título pouco perceptivo de "The Sweden: A Mulriparty System in Transirion?, University of Denver Prcss, 1968.
..... politics of orderly change" {"A política da mudança dentro da ordem"] (Ro- 65. Pode-se acrescenta.r o govemo nacional de 1939-1945, formado por todos os
quatro partidos, mas essa coalizão foi evidentemente imposta pela situação da
nald H. McDonald, Parry Systems and Elections in Latin America, Markham,
1971, pp. l l 6ss.). Em geral, e como informação complemen!aI à minha rápida Segunda Guerra Mundial.
"'"' apresentação, ver especialmente F.G. Gil, 7 he Political Syscem of Chile, Hough- 6ó. A dedução é de que o governo de um só partido atribui, agora, relevância ao
... ton Mifflin, 1966. Uma avaliação anterior à queda é o número de GO, verão de
67.
Partido Comunista Sueco, e nos report a à nota 62 deste capítulo.
A análise dos sistemas de partido predominante tem continuação infra, 6.5 .
1972, "Clúlean's Chile", que também compua o Chile com a França e a lcília
,... (pp. 389-408 ). 68. Co mparar, em Nils Andrén , Goi•trnment and Po/uics in the Nordic Counrries,
;o..
> 52. Ao qul! sei, a única exceção a essa afirmaç5o (até fins de 1974) é o excelente Almquist &. Wi cksell, 1964, com os Quadros 3 e 4 sobre a Dinamarca, 9 sobre
) artigo sobre o Chile escrito por Anuro Valcnzuela na coletânea de J. Linz e a Noruega, 11 sobre a Suécia e Apêndice 2 sobre a Finlândia, que relacionam
Alfrcd Stepan torgs.), Breakdowns ond Crises of Democraric Regimes (a ser o~ respectivos governos .
..._
) publicado). 69. Sobre a prática dos governos minoritários, ver em Hans Daalder, "Cabinets and
;..
53. Supra , 6.J. Para out.ra.s considerações, ver Erik Allardt, "Social sources of Finn- p:uty systcms in ten European dernocracies", AP, julho de 1971, p. 288, o Qua·
ish co mm w1ism: lraditional and emcrgi ng rad1calism", internar ional Journal d ro 3, que indic::i que, entte 1918 e 1969, dentre os 250 gabinetes abrangidos
of Comparar iw? Sociology , março de 1964 ; e. mais geralmente, J ohn H. Hodgson, pelo estu do. 74 não contaram com uma maioria parlamentar formal. O número
"" Communisn1 in Finland , Prince ton University Press, 1967.
54. E m geral, ver JaaJJ\o Nousiainen, The Finnish Polirical Sy stem, Harvard Uniwr·
e um "cuco suroree ndenie, 3pesar do fato de de C'Obrir uma grande variedade
de circunstân cias e razões diferen tes. Urna e \ posição muito útil e pertinen te
jlo.

;..

ii-
j ~

) s:-
)
2J8 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS
tP
) NOTAS 239 p
) sob re a natureZ3 das vár ias co:ilizões - lncl\zsive as menos-do-que-m(nimas na
Alemanha de We1m:ir, F rança, lt..ili:i, Hol:ind3, lsrad, Fin lândil. S uéci:i. Dina- vol ume li. Quero d eixar claro que, em todo este capi'tulo. exc lu i dehbcrada-
IP
) marca e Noruega, encontra-se em de Swaan. Coalirion Tizeories and Cab111et
Formatíon, op. cit., pp. 160-28 3.
m>!n te, como fatores independentes, a:; variáveis nlo-polít?cas, entre outras
rnões, parl verifica.e até onde se pode ir ~melas.
IP
) 70. Da numerosa bibliografia sobre a R epública Federal. ve r. em geral, Arnold J.
Ht:idt:nheimc::r, The Governnunt ol Germany, ed. rev., CroweU, 1966; e Lewis
76. fllfra, 6 -L
]7 . Structure and Process í11 Modem Soczeríes. Free Prt::ss, 1960. p. 26 3.
9D
) EJinger, Germany, Little Brown, 1968. Mais específico e mais recente é Derek ;s. D1 P:i.Ima, Decision and Represen1ac1on , op. cit. , cop. 6. A 1mpllC3Çio ia de que llP

-......
Urwin. "Germ311y", in Rose (org.), Electoral Behaviour. o p. cll. Pa!l interpre· l Holanda e a Suíça tê m mwtos partidos, mas não multas ideolo;;ias: não há um
) tações antenores e significativ1s, ver K. Deu1sch, in .\facridis, Ward, MoJern congemonamen10 e extremização do espaço ideológico. IP
Polirical Sysrems, op: cit.; e Kirchhe imer, in Dalll, Política/ Oppositions 111 79. "Typologies oi democratic systems", CPS, op. cir., p. 21. Ver, porém, para
) l\lestern Democracier. op. cit. maiores detalhes, seu Politics o/ ri ccomodarion, op. cit.
71. A blfutdia ~ uma exceção, t:ilvez, a essa c:iracterização. Será, porém, uma exce- 80. O comportamenro potencial exigido de uma elite d ata consociariona/ é consti-
)
ção muito pequen1 e peculiar (supra, 6.1). Como nenhum país está condenado tuído, nada menos, do que dos segu intes pontos: (i) ca pac idade de reconhecer
) J imutabilidade, só o tempo dirá se a Islândia é realmente um caso excepcional. os perigos inerentes a um sistema fragmentado: (ii) dedicaç:io à manutenção do
Se o for, s.:r:í incluído cm outro tipo. Quanto à crescente relevância dos peque-

---
sistema, (iii) capacidade de transcender às divisões cultur:iis ao nível de elite,
) nos partidos comunistas norueguês e sueco, ela resulta da tentativa de rnan te r (iv) capacidade de criar soluções adequadas às exigências das subculturas ("Ty-
um sistema predominante com força insuficiente. pologies of Democratic systems", op. cir., pp. 22-23). ~. na verdade, como na-
) 72. A Holanda não seguiu o padrão de coatizões alternativas de dois blocos devido dar con tra a correnteza. Por outro lado, cf. a crítica de Daalder, part icularmente
ao posicionamento central de seus partidos re ligiosos especialmente dos católi- ~m "The Co nsociational Democracy Theme", op. cit.
) cos. Mas o decllnio do K VP (Quadro 5) está levan do a Holanda a uma mecinica 81. Sobre a Bélgica, ver especialmente o artigo de Lorw in i11 Dahl, Política/ Oppo-

--
competitiva de dois blocos. sirions in Western Democracies, op. cit.; D. W. Urwin, "Social clcavages and
) 73. Sobre a terminologia, Lijphart prefere "democracia consociational"; Lcmbruch po litical parties in Bclgium: problems of ins titutionalization", PS, setembro de
fala de Konkordanzdemokratie (e de um sistema de amícabilis composítio); e 1970; e o artigo de Keith Hill, "Belgium: political change in a segmented soci-
Lorwin diz "pluralismo segmentado" (em holandês: verzuiling). As palavras cty", in Rose , Electora/ Belzavior, op. cit. J. Meynaud, J. Ladriere e F. Perin, La
) "ghcttoization", Lagermentalitat e "compartimentalização" também são ade· Décision Politique en Belgique, Coli, 1965, ressaltam acertadamente o papel
4uadas e u_,,adas com freqüência no caso austríaco. Mencionamos os seguintes

--
de "solução de conflito" desempenhado pelo sistema partidário.
) trabalhos: Hans Daalder, "The Netherlands: opposition in a segmente d society ", 82. Isso não contradiz a observação de que o "sistema consocÍl1tion.al tradicional ~
in Dahl, Política/ Oppositíons in !Vestem Democracies. op. cít.; Lijphart, The (... ) está em processo de desintegração sob o impacto de uma súbita modifica-
) Politícs of Accomodation, op. cir., e seu artigo, "Typologies of democratic çiio na hierarquia das clivagens sociais" (James A. Dunn, Jr., "Consociational
systc111s", CPS, op. cit.; Gerhard Lembruch, Proporzdemokratie: Politischec democracy and language conflict - a comparison of the Belgian and Swiss
) Sysrem un Politísche Kultur in der ScJ1weíz und in Oeste"eich. Mohr, 1967 , experiences", CPS, abril de 1972, p. 27). Como Dunn observa, a política d ita

)
e seu uabalho do IPSA de 1967, "A noncompetitive pattem of conflict man-
agement l.ll liberal democracies: the case of Switzerland, Austria, Lebanon"
consociational funciona melhot quando a hierarquia das clivagens ~ (i) reli-
giosa, (ii) econômica, e (iü) lingüísuca. Ver também as advenênCias pertinentes, as
(mimeografado); Jürg Steiner, "Conílict resolution and democratic stability ia quanto ao conceito de clivagem, por Eric A. Nordlinger, Conjlict Regu!ation
) subcalturally segmented political systems", Res Publica, IV, 1969; Val Lorwin, ín Divided Societíes, Occasional Paper N? 29, Center of lnternttional Affairs, ~
)
"Segmented pluralism: ideological cleavages and political cohesion in the smaller
Ewopean democracies", CP, janeiro de 1971; Hans Daalder, "On bu1lding
consoc1ational nations: the case of Netherlands and Switzerland". ISSJ, 111,
1971, pp. 355-370, e "The consociational democracy theme", WP, julho de
Harvard University, 1972; e o último capítulo acrescentado por Lijphart a Po/i-
rics of Accommodation, 2\led., 197 5, op. cit.
8J . .4 Cross Policy Survey, MIT Press, 1963.
8-t. D..:pois de dez anos de luta violenta (l 948-1958), o acordo de Sitges, ratificado
•tlrE!
)
1974; Jürg Steiner, Amicable Agreement versus Majority Rule, University of por um plebiscito, estabeleceu (até 1974) um sistema pelo qual os partidos Libe- tilc:l
North Carolina Press, 1974. Um simpósio útil é o que está registrado na coletâ- ral e Conservador se alternam na presidência e recebem - quaisquer que sejam
) nea de Kenncth D. McRae (org.), Consociational Democracy: Political Accom· os resultados eleitorais - um número igual de cadeiras (parida'd) em ambas as tlilCl
modation in Segmented Societíes, McClelland e Stuart, 1974. Depois da Ho-
landa, o país mais explorado sob o enfoque consociational é a Áusuia. Ver G.
câmaras. A so lução colombiana exige que os candidatos disputem eleições, mas

.,
a:i

-
J representa, sob todos os outros aspectos, apenas um exemplo da fertilidade da
.Bingham Powell, Social Fragmentation and Política/ Hostility, Stanford Univer- imaginação humana.
) sity Press, 1970; Kurt Steiner, Polirics in A ustria, Litt!e Brown, 197 l ; e Rodney 85. Polirical Opposírions in Wesrern Democracies, op. cit., p. 333. O Panamá está
P. Stielbold, "Scgmented plwalism and consociational democracy in Austria: sujeito a golpes. O Urug uai (abaixo, nota 127) e as Filipinas (nas eleições de
) proble ms of political stability and cha.nge", in Mar tin O. Heisler (org.), Politics 1969, o Partido Nacionalista obteve 90 cadeiras e o Partido Libera l, 15, num
) 74.
in Europe, McKay, 1974. to tal de 111 cadeiras) são, o u eram, caracterizados pela predominância de um ~
"Segmented Pluralism", CP. op. cit., p.' 141. Selecionei Lorwin porque se•i bri- partido. t curioso que, embora dois sisteruas de partido predominante seja m
lhante artigo representa o tratamento mais gera l. Os outros escritos (acima. incluídos, a índia fique excluída "devido à dominância de um panido". ~ -
) nota 73) tratam em geral de um ou dois países apenas. 86. lntroduction to Comparacive Government, op. cit., pp. 165-167.
) 75. Este é, com efeito, o assunto do capítulo sobre classes sociais e clivagens no 87. Uma sugestão recente, quanto a isso, é d istinguir entre "sistema bipartidário im- '1t:
preciso" (EUA), e "sistema bipartidáno claro" (Inglaterra). Ver Jupp, Policícal
lt::
-=
)

)
)

)
) 2~0 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIOJ..RIOS
NOTAS 241
) Porttes, op. cit., pp. 8·13. Por outro laào, segundo Jam es MacGregor Bwns, The 97. f?c 1!111. ~~J 97~ isso foi o que ocorreu cm oito dentre. 17 parlamentos; e, a par-
Deodlock of Democracy, Prentice-Hall, 1967, "o padrão da política nacional !ir de l ~·~ 1, 'J> partidos canadenses no governo não ttveram maioria em 195 7
) 1EUA) é essencialmente o de quauo par1idos'' (p. ?S 7 e ~ssim)._ . 1962, l 965 e 1972. '
) 88. Isso se :iplica aos sistemas parlamentares ~de gabinete, nao ao s1stern:i pres1den- 'il!. A bibliografia sobre o Canad:J. é extensa. Ver especialmente Leon D. Epstein,
ci'1l do tipo nor1e-americano. Com n:Jaçâo a esse último, o argumento de\•e ser .. A cornpar..t1vP. study of Canadian partief', APSR, março de 1964; G.A. Ke!Jy,
) reescrito e ajustado. Assim, "governar sozinho'', isto é, o governo de um partido: "Bic:ii1uralism and party systems in Belgium and Canada", Public Po/icy, J 967 ·
é sub$tituído por "governo presidencial'', cuja correspondência parlamentar e Hugh G. Thorburn (org.), Porty Po/itics in Canada, Prentice-Hall, 1967, possin:
) uma maioria absoluta de cadeiras que alterna entre dois panidos (embora não ~e pa-:iicularmente o art~go de ~eisel~ ''.R:ccent c~anges in Canadian panies", que
necessariamente em sincronia com a presidência). "Desnecess~rio" significa sim- 1dcnt1fica uma evoluç:io muJt1par11dana do sistema canadense); Howard A.
) plesmente que as coalizões, na prática, não ocorrem. _ ~cano ,\•, '' Pattcrns of voter turnout in Canada", in John C. Counncy (org.) Vot-
89. Na Grã-Bretanha, por exemplo, nenhum partido vencedor (na Camara dt's Ço- i11g in Co11ado, Prcn tice-Hall of Canada, J 96 7; Maurice Pinard, "One·party domi-
) muns) conseguiu, desde 1935, uma parcela de 50% da votação popular. Alem nance and third panie~". Canadion Journal of Economics ond Po/irical Science,
disso cm 1951 os trabalhistas ganharam a eleição com uma vantagem de 0,8% agosto de 1967 (examinado por Graham White, "The Pinard tlieory recon-
) sobr~ os come;vadores, enquanto estes conquistavam uma confortável m:iioria sidered", CJPS, setembro de 1973); John Meiscl, Working Popers on Ccnadian
de cadeiras (321 contra 295}. Por outro lado, em 1964 o Partido Trabalhista Politics, eci ampliada, McGiU-Queens Uruversity Press, 1973, e seu Cleavages,
passou de 2S 8 para 3 J 7 cadeiras, com u:TI aumen1o na votação de apenas, 0,3%. Porries and Values in Canada, Sage, 1974; e .M.A. Schwartz (nota 96 deste
) 90. Ver especialmen te Charles Sellcrs, "The equilibrium cycle i~ two·p~ty politics", capítulo).
Pub lic Opinion Quanerly, primavera de J 965, q ue reconst1tu1 o ciclo até 1789. 99. Na verd~de, o Pan ido Libera l já havia por duas vezes conquistado 12 cadeiras,
) Para os resultados presidenciais e do Congresso, de 1876 a 1968, ver Walter D. em 1945 e novamente em 1966. Mas o parlamento de l 974 foi o único, depois
Burnham, in Rose, Electoral Behovior, op. cit., pp. 676..Q77, Quadro 7 (mas da Segunda Guerra Mundial, no qual os liberais conseguiram privar o partido
) também Quadro 4: "Typology of American presidential elections 1844-1968"). vencedor de ter uma maioria (oi: trabalhistos conquistaram 301 cadeiras, ou seja,
As análises do comportamento eleitoral norte-americano são discutid~s infr~, 15 abaixo da maioria absoluta). Os governos trabalhistas minoritários começa-
) cap. 10. Sobre o sistema par1idário norte-americano e1~ ~era!, u~a análise mui· ram em 1924 e 1929·1 931. ·
to boa encontra-se em Robert A. Goldwin (org.), Pol111cal Parttes, USA Rand 100. Mesmo uma bibliografia bastante seletiva sobre :i Grã-Bretanha seria maciça. Va-
) McNally, 1961. Ver também William N. Chambers e W.D. Burnham (orgs.), The mos lembrar sin1plesmente o trabalho mais recente de Richard Rose, seu artigo
American Party Sysrem, Oxford University Press, 1967. Quanto :io debate so· cm Electorol Behovior, op. cit.; e David B utler e Donald Stokes, Polirical Change
) bre a reforma do sistema panidário, ver EVIon M. Kirkpatrick, "Toward a more in Britam, .Macmillan, 1969. Para os dados, ver F. W.S. Craig, British Parliomen-
responsible two-party system: political sci~nce, polic~ s~ience or_rscu~o-~cience", rory Election Results 1918-1 949 (1969) e Brirúh Por/iamenrary E/ecrion Statis-
APSR dezembro de 1971. Com relação as caracte~1s11cas do b1part1darumo em tics 1918·1970 (1971), ambos de Polit..ical Reference Publicalions. Entre as
geral, a n:itureza descarnada, difusa ou resultante de coalizõcs dos partidos nor- obras ma.is antigas, ver particularmente Roben T. McKenzie, British Political
te-americanos (examinada no vol. II) não afeta minhas observações. Porties, Heinemann, 1955; e Samuel H. Bcer, Modem British Polirics: o Srudy
91. Os trabalhistas voltaram a vencer as eleições australianas de 1974 obtendo •. na of Porries and Pressure Groups, Faber & F'aber, 1965.
) câm:ua baixa do parlamento federal, 66 cadóas contn 61; perderam, porem, 101. Pocleria haver uma exceçáo, com relação ao terceiro partido, o do Crédi10
) a primeira eleição de 1975. • . . Social. l\las sua única conquista foi a de uma cadeira em 1966 e uma cadeira
92. f. interess:inte que os liberais belgas e o Partido do P~1s australiano se situem na em 1978: o pie: desempenho entre todc;s os terceiros partidos dos sistemas
) classe dos 16?'<>. Assim, a comparação se aplica tambern em termos do tamanho bipartidários.
relativo dos terceiros partidos. l 02. Sobre a Áustria, vc. os livros de G. Bmgham Powell e K. Steincr (nota 73 deste
) 93. Supro, 6.3, e paniculannente t' Quadzo 24 sobre a Bél~1.:a . capítulo). O sistema de proporz austríaco, que foi o consoliiador e o resultado
94. Sobre a Austrália, ver L.C. Webb, "The Australian party ~ystcm", in The Aus- da aliança governamental de vinte anos entre os Partidos Socialista e Católico,
) rrolion Poliricol Party System, Angus e Robertson, 1954; J.D.B. Miller, Ausrra- é bem ilustrado por FC. Engclmann , "Austria : .he pooling o:- opposition ", i11
lilm Goi•ern~enr and Politics, Duckwonh, 1964 ; J:lmes Jupp, A ustroluzn Porry Dahl. Politicol 'Jpposirhns in ll'e-srern Democrocies, op. cit. Como o sistema de
) Polirics, Melbournc University Press, 1968; H. Mayer e H. Nelson (orgs.). Aus- propor;: austríacc é, em essêncb, um sistema de divisão meticulosa (e de du·
)
rralio11 Polirics, Chcshire, 1973. plicação} dos cargos e provl!,llOS tl!n;.o dúvidas de qu e, sob esse aspecto, a Áus- · I"
95. Sob essa cláusula , a Irlanda n:io pode, de 1948 a 1957, ~cr assimilada à Au~trá­ tria realmente mereça os clogfos pertinentes à idéia de democracia consocioriona!. ~ 1
) tia e nfo teve nunca, pona1110, um sistem~ bipartid:írio. Durante aqueles dez De qualquer modo. é im po1. ant~ ncn .. r q ur os dois p:1rtidos austríacos ficam,
anos, o governo de Dublin alternou entre Fianna Fa!·1 (o partido dom inante) e ambos, pouco aq uém da maioria absoluta. Não é rle su.preender, portan'"• que
) !
um "governo in1erpart1dirio" de coaiizão, que se dissolveu cm 957. ~ c~pc· tenham preferido governar juntos (ato? 1966) com uma m:iioria de 95%, em lu·
riência irlandesa reforça, portanto, a observação de que a mera ahan~a ;iao e su· gar de governar sozinhos, qlJase que sem maioriLl.
) Cicicntc para estabelecer um padrão bip:midário. Sobre a Irlanda, ver m;ro, 6.~. 1e:~ . Essa é. de fato, a opção de Scallpino e Masumi, Porties ond Politics in Japon, op.
96. Mildrcd A. Schwa.rtz., "Canádian voting behavior", in Rost". Elec:orol Behr.•·10;·. de. . P?· 79·&1. Os autores admitem, porém, que o Japão também pode ser cl:is-
) op. cir., p. 552. Lembrar, quanto a isso, que tamb ém no Canadá há um co~flito sificado como bipartidário e multiJJartidár1 o. Eu, porém, coloco o Japão en cre os
ctno·lingüístico e que um dos baluartes dos Crédirisres é o Qucbcc. Ver adiante, sistema~ de partido prcdommancc (infra, 6.5).
) conl udo, a nota 12 J. 104. Pdo que sei, ~ Alcmmha foi o pnme1ro país qualificado como sistema pam·
)

)
e
) NOTAS 2-IJ
e
2U PARTIDOS E SISTE.~fl~S PARTIDA RIOS CI
) ~·

) Jirio uois·e·Pwio (por c:xcmplo. C.J. Friedrid1, Constiwriona! Go vemmenr a~d


O<!mocracy. Ginn, 1950, p. -1 l-lJ. E Bh>nJd 1.-!11 _EmroJucnon. m Comparar:1·e
Goremmenr. op. cic., pp. l57-153J diz que a BdgicJ, Can:i.J:i e Ei:e tambcm
n<? 26, julhO·JCO>IO de l 97-I, Jbrlngendo 153 pJises. Para um:i análi$C dos vi-
cio> critério~ d~ avaliação, vér Leonardo :\ !orlino, '·Misu re di demo.:rni:i e d i
libert:l" , RIS!', 1, 1975.
l ZO. Como os rc~ultados eleaows co mpl;;:tos ~o b r~ J 'loruega. a Suécia, e a Dinamar·
•4

)
ooJcm \.::r co:lsiJer:idos como t:il. ca sio dado; 5upra (6. 2). o leito r pode ver por s1 mesmo os m~ri:os e desvamJ-
) 1os. b Japão e rnnqJer:id o unire1 rtiJirio p o r ~hch:id L..:íserson Jr. lsuprc. c1p. -l, gens de cal cular-se a :n~d1:1 d~sscs países. Quanco à Turquia, ver infra, 9 . l .!
:iou ~0). Quadro 32. t
) 106. A.i1k111 e lül1un in Rose, Efecrvral Behavior. op. cir. p. -lH. T:.trnbém Jupp. 121. Supra 4.3. Um caso compadvcl ~a 1irmc predominfocia, hd 36 anos, do Partido

•'
Polirical ?arries, op. cir.. obscr vu qu.:: a Austdlia "tt:m 1ido class iric:ida como do Créd ito Social em Alberta, no C.rnad:í, d~sde l 93:i - qurndo superou a até
) um )lstcma bip;umlário, Je dois p:inidos e mdo, e de quatro partidos" (p. 6). .:ntão predominante (desde l 9 21) linião tios Fuendciros - :ué 197 l. Por isso,
107. Ró><!, Eleccoral Beha~·ior. op. crr.. p. 487. Democracy in .-liberta, de .\lacpherson, cem o subtítulo: "The theory and prac-
) nce of a quas1-pany systern" - sem dúvid;:i um avanço cm relação aos rótulos
108. fn/ra, 1.1. , . .. .

••'
..
109. Por exemplo, J.A...\. Lov111k pergunta ·t, Canad1ln poh11cs too comp.:t111~e 1. norte-americanos.
) iCJPS, setembro c.Je t 973) e observa que a competitiv1d:ide dos_ Esta.dos Unidos 122. O caso em foco é especialmente :i Ííldi:l, cuj1s e le ições não são um modelo de re-
e I ng lutcrra - quando m~dida em t.::m1os das cadeiras seguras - e multo menor. gularidade (cumpreensivelmente, dado o camanho e natureza do eleitorado).
)
l l O. Vc.r Ros~. Elecroral Behavior, op. cit., p. 484. Quadro. . . .. . Não obstante, os vereditos que d:io vantagem esr:rngadora ao Par1ido do Congres·
t l l. Isso ~ b.:m <!Xplic.ido no c:apículo d<.; Dahl, "The Ammcan ?ppos1t1ons , ln

••
) so em relação aos seus concorrcnics podem re:1.::ti.r, no tod o, o desejo do elei·
Dahl (Or!:-J. Polirical Oppositions i11 lt/esrern Democracres, op. crt. . torado. Se esse continuará sendo o caso no futuro é, desde 1975, uma questão
l 12. Sobre o impedunemo JO reghtro, ver Scanlcy Kc!lcy er ai., "Rc::g1strat1on :_nd inquietante.
·10 tmg: put ting fim t111ni:s lirsc", APSR, junho de _1 ?67. s.obrc o 40-60 milhocs t 23. O exemplo mais recente dessa d.:svant:igem é McDonald, Parry System and
)
)
de não·el~itores, ver Walter Dcan Burnham ... A pohncll sc1ent1S t and the votm~­
rights litig;11ion'', l>'ashingron University f, aw Quanerly, 19? l: pp. 335-358 . ..
l l J. Pa..ra outros aspectos do bipaniJarismo que ex.cedem aos lmuccs de uma an al~se
taxonômica, ver Lipson, The Democrar_ic Civiliz~rion, OP:, cir., ca~. 11 ; e ~pste!n•
Elecrions in Latin America. op. cit., que afirma simplesmente: "Por definição,
um sistema de partido dominante é aq uele 110 qual um m ínimo de 60% das ca-
deiras (...) s:io controlad:is por um partido po lítico" (p. 220). De acordo com
essa definiç:io, o México (hegemônico, no meu entendimento) fica ao lado de
••
)
)
Political !arries in Wesrern Democrac1es, op. cu., cap. .>e pass1m. 'i1 er tambem
V. O. Kelly, Polirics. Pareies and Pressure Groups, Crowell, 19.58, pp. 225-231; e,
pan umJ e'lplicação anterior a Duverger do bipanid:uismo a base do ~epresen­
El Salvador e da Nicarágua (na realidade, sistemas de partido intermitente),
enquanco o Uruguai, o mais prolong:ido caso de predominânia, fica ao lado da
Colômbia (acima. nota 84) como sistema biputidário. Por essa mesma medida, ••
••
t:im.: único por distrito, ver Schattschneider. Parcy Governmenr. op. c1t. O mo- o Japão, a Noruega, a Suécia e a Ir landa seriam excluídas.
) de lo downsiano é analisado infra, cap. l O. 124. O caso limi te~ a Dinamarca: diante do impasse da revolução eleitoral de 1973
t 14. Maurice Duverger, "La sociologie dcs partis polítiques", in G. Gunitch (org.!, (Quadro 6). -:m janeiro de 1974 um governo liberal de um só partido, tomou
) Traité de Sociologie, Presses Uniwrsi tair.:s, 1960, vol li, p. 44 ; Almond , ln o poder com 22 votos num total de 179.

••
) Almond e Colcman (orgs.), The Politics of rhe Developi11g Areas, op. cit., PP· 125. O ponto é discucido, com referência à Noruega e à Suécia, supra 6.2.
40--42. 126. O qualificativo "indubitavelmente.. relaciona-se com as conscat:ições de Daal-
) 115. ln Almond e Coleman (orgs.), ibid., p. 480. Coleman, no. mesmo ,v~lume, ta~­ der (not:i 69 deste capítulo) e é introduzido para eliminar os casos nos quais go-
bém encontra partidos "dominantes" na índia, na Turquia, no Mex1co, e mats, vernos minoritários são simples governos de tJ:"ansição.
) na Argé lia, em Niasalândia, em Gana, na Tunísia, na Malaia e cm Mali. 127. O Uruguai é um caso d uvidoso, não quanto à sua história de predominância do

)
)
116. Slondel (lntroduccion ro Compararive Polirics, op. cit., pp. 157, 166) acrescenta
à categori:i de "partido domiMntc não-ditatorial" de Bl~ksten. a dassc d.o
•·multipartido dominante .. : Dinamarca, Su~cia, Norueg:i, ltah~, lslan_d1a, e mais
Chile Israe l índia Venezuela Colômbia. A confusão não foi rec.Juz1c.Ja pela ex-
pressão mai~ rece;te, pivoral parry (partido eixo) que é ainda mais ambígua (o
Pa1t ido Colorado sobre o Partido Blanco (qu:isc um século), m:l.5 quanto à ques-
tão de ali existir, na verdade, um disfarce bipartidário de uma federação multi-
faccionai de sub -lemas. A questão é, ponanto, se seus partidos (lemas) são uni-
dades significativas. Desde 1973, o Uruguai é uma form:ição política dual,
'•..
••
militar e civil, sob governo militu indireto.Sobre a Turquia, ver infra 9.1.
) que 6 confirmado, segundo minha leit ura, por Dominiquc Rémy, "Thc pivotal 128. Sobre a Irlanda, ver Basil Chubb, The Govemment and Pofitics of !reland, Scan·
pany: ddinition a nd mcasurcmenc'', EJPR, Ili, 1975 ). fo rd Un iversity Press, 1970; J.F. S. Ross, "lreland", in S. Rokkan e J . .Meyriat
) 11 7. Ou 1ros critérios podem esta r em jogo. Duverger, por exemplo. trata como "do- (orgs.), !nternatio11al Cuide to Elecroral Scatiscics, Mouton, 1969; e o artigo de
)
)
minante)" os radicais franceses (nas 111 e IV Repúblicas) devido ao valor Je sua
posição, embor:i não o perceba. Em su.a !trrroduction à la Polirique, Gallim:ud,
196-l, ele novamente só se ocupa do partido dominante para observar que a
"noç5o é(. ..) t1uida ( .... )e oscila. na prática, entre dois pólos...
J.H. \l(hyte, "lreland: politics without social bases", in Rose, Elecroral Behavior,
op. cit. Ver também nota 95 deste capítulo. A eleição de 1973 provocou uma
coalizão majoric:íria entre Fine Gael e os trabalhistas, que sucedeu ao Fia11ruz
Foi/ após 16 anos de governo.
••
)
)
l 18. A lisia pode ria ser ampliad:i incluindo-se a área afric:ina e o Sudeste du Ásia.
Minhas razões para não fazer cal inclusão encon tram-se infra, cap. 8 .
119. A melhor fonte, embora indiieta, para verificar a fidedignidade dos resulcados
129. Outra maneira de relacion ar o bipartidarismo com a predominância é observar
que cada partido, num sistema bipanidário, pode ser visto como uma aliança,
em nível nacional, dos partidos de distritos, que são, nos seus distritos seguros, ••
eleitorais é proporcionada pelas avaliações periódicas da "Freedom Housc" na

••
"predominances·:. Em outras palavras, um padrão do tipo partido predominante
) revista Freedom at hsue. A mais recente é "Compara tive survey of Freedom 1V",
)
)
) •
\.
..)
~ 244 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS

J é _ em nível de distrito - um rcsullado freqüente de um sistema de pluralidade


J VII
de d istrito~ com um único represen tante.
130. Sobr~ 0 Partido do Congresso, ver especialmente Myron Weine r, Parry Building
J in a new Narion: The lndian National Congress, University of Chicago Prcss, SISTEMAS NÃ~COMPETITIVOS
i 967; e Rajni Kot hari. Politics in lndia, Little Brown ~970. En:i gc:r~ l. ~cr W.H.
~ Morris-Jone), Go1•crn111enr and Po/i1ics i11 Jndw, Hutchmwn Umvc~slty _u brary,
1964. Como K othari sugere adequadamente, quando o intervllv e muno gran-
J de, os partidos menores podem )Cr considerados "partidos de pressão". ("The
congress system ÍJl Jndia", Asian Survey , dezembro de 1964, reproduzido em
"..) Kothari et ai.. Party System and Election Studies, Allied Publishers. 1967).
j 131. o posicionamento é justificado também.pelo caso limítro fe do partido "solitá·
rio" como diz R. Girod (em Allardt e Ltt tunen, Cleavages, ldeologies a~d Parry
J Sysr~ms, op. cit., pp. 13 7-138). Girod apli~ essa no!ão a um ~an tiio su1ço, mas
_ como observamos supra, 4.3 - ele tambem podena ser aphcado aos Estados
~ sulistas norte-americanos· nos quais os Republicanos nem mesmo ~i~puta~ ~s
eleições. O padrão do partido ~oiitário é a situação na qual a opostçao esta SI·
7.1 Onde termina a competição
J tuaàa em nível subcompetitivo.
O capítulo anterior trata dos sistemas competitivos. Vamos entrar agora na
.) 132. Supra, Quadros 21 e 22 (Sobre a Noruega e a Suécia) .
área dos sistemas não-competitivos. Como a competição constitui ostensi-
vamente a principal demarcação, apesar de conhecido o conceito merece
1$..1 elucidação. Em geral, uprn formação política obedec; ~s regr~~ d~ :o~pe- .
.,..) tição quando, em êpoca de eleição, a maioria das cadeiras (ou lodas) são
ciisi:.~uiadas?_em câdicllsfntoeieitoral, por dõis ou mais candida~os_. Um dos
~..J
primeiros temas de investigação focaliza o que poderia ser a "competição.
,.J ótima" em comparação com insuficiência ou excesso de competição. 1 A
. .J competição excessiva pode superaquecer o mercado e· aproximar-se muito
da competição desigual.2 Mas, a esta altura, a pergunta ·âdequada é: até que
_) ponto a competição pode ser mínima e continuar sendo significativa?
') Como observamos em relação aos sistemas de partido predominan-
te, os pequenos partidos devem ser antagonistas realmente independentes
) do partido maior. Se as cadeiras são disputadas - isto é, se os candidatos do
) partido predomil}ante sofrem a concorrência, sem medo e com "direitos
iguais" - então a competição é significativa, a despeito dos resultados, e
J o significado de "antagonistas realmente inaependentes" é bastante claro.
) Suponhamos, porém, que as cadeiras não são disputadas; disso não se se-
-gue que, nesse caso, o sistema seja não-competitivo: pode ser subcompeti-
,. )
livo. A distinção entre uma situação subcompetitiva e uma situação não-
}) competitiva, pode parecer frágil, não obstante, a diferença é crucial.
Uma situação su1!.!:ompetitiva supõe que não há oi-Js ;ão a um can-
) ~aJ_Q.Jl!!1plesmente Eorg_ue não vale a-gena -ÕE_or-se a ele: Se assim for, o
representante de um distrito controlado com segurança continua sujeito
l às regras da competição e isso significa, na prática, que pode surgir sem·
) pr'e um adversário e que um distrito seguro pode tornar-se , se for negligen-
ciado ou não forem atendidas as suas reivindicações, um distrito duvidoso.
)
Um fenômeno desse tipo está acontecendo atualmente no outrora So/id
,) South dos Estados Unidos. Portanto, uma situação não-competitiva não
pode ser identificada apenas porque um candidato vence sem oposição .
.l
:l
---- 74.~

.l
.,...,.,,,vv.> e: .>t~A:> l'AHrtDARIOS
) SISTéMAS NÃO·COMPETI TIVOS 247
U ··stema é não-competitivo se, e apenas se, não permite eleições d.ispu-
) m SI
iadas. O importante, é cl:irÕ, é a situaç:i~ real, e ~ã~ a JUn i.ca. QuaJ quer
· 'dº
sistemas mais competitivos no munào. Os autores fazem um esforço para
) que seja esta, a competiç:fo _cermina ~a nao-compett?3o ~omeça sempre que mostrar que tudo isso é ·'perfeitamente racional"; mas em nenhum mo-
0 candidatos e os opositores são privados de d1re1tos 1gua1s, sofre02 obs- mento procuram explicar como pode haver competição sob um monopó·
)
t:UCões, sSo atemÕrizados e por fim purúdos por ousaren: manifestar-se_. . lio e sem um mercado. Essa omissão é tio surpreendente que só pode ser
) - · õ- qu;..Joi dito .acima ~~ta que .e~t.a,mos na realtdad~ _:isa~do dois J.:sculpada observando-se que uma seqüência de erros desvia os dois auto-
conceitos:· (i) competição, ~11) }ompet1t1V1oadc. A c_?_mpetu;_ao e u_mf!._ !S· res totalmente do caminho. O primeiro erro é, evidentemente, o de falarem
) \l: !/ -........:.--:-- ,.. '-"-- • ~.d d . d . la
rnaura, ou uma regra ao JOg . A ~mQef;_t1v1 a e e um esta o parflf.!! r_ .: m "competição" quando querem dizer "competitividade". Uma vez, po-
) do/ogo. As.sim, a competição_compreende:__~ "não-competitividade". Por rém, iniciada a busca de uma medida, eles formulam uma conc~pç3o iguaJ.
exemplo, um sistema de partido preaom.üiante segue as regra: da co~~.: 111ente errônea da competitividade e acabam medindo um terceiro elemen-
) ticao rnãs e~dencia umã baixa êompetitfvídade, ou mesmo se aproxima to muito diferente , ou seja, a mobilização. Na verdade, a União Soviética
) d~ niõ.ê0mpetiti~idade. No outro- extremo, a competição é"competitiva:· dassifica-se muito bem em mobilização, mas isso nada tem a ver quer com
quando. dois ou mais partiqos éõns~guem {es.!Jltados,.~!eitorafs-pró~mo!.:e a competição quer com a competitividade.
) vencem por reduzida margem. V.Ela form~ção-:'po!~hca ta~~m. e C~f2Sl· ~ comp~i~e - cüzia eu - é .um estado 2.!!...2I.Oll:!edaQ.~ da com·
) cl~rada competitiE-quan~~ as di~utas ele1torrus nao sofrel!l hrrut~çges3 petição. Isso sigrúfica que a~uas coisas es.®?_ ~~ti.mamente lig~das, ~as
são arduamente travadas. Nesse último caso, porém, o conceito e com- não soluciona a qu_~stao de ~.er ou ~o a c~eet1tmdade um a~nbut.o un-_
} pe.liÇ'ã'.:o.~Uffialuta eleitoral feroz demonstra, sem dúvida, que as regr~ da portante, na verdade o.....a.Wbuto cen traLda competição_, .A ~esqu1sa existen-
) competição estão em pleno funcionamento, mas só. os res~tados _eleito· te ocupa-se de questões como a correlação da ~~mpetit1v1dade - me~1da
rais ,de_monstram as proporções em que um detenrunado sistema e com- pela proximidade dos resultados e/ou p.ela frequenc1a com que. os partidos
) o~ titiv0, no sentido de aproximar-se de uma distribuição quase igual de for· se substituem no poder - com certos tipos de produto de poltt1cas, comq
~:l e1Hi;e seus principais partidos. por exemplo as despesas com o bem-estar social. 5 As constatações são
)
A distinção pode ser identificada como segue: c2mo a competição causalmente inconclusivas, porque outras variáveis são àe controle muito
) i.n clui ~r competitividade como um potencial, a competição é igual à com· difícil. O que devemos notar, porém, é a estreiteza das questõe~·'inves­
) pe/iNvidade potencial, e como tãl pode ier dermida.:.. lnversamente, a tigadas. Suponhamos que a alta competitividade realmente se tra~uz e1:1
maiores despesas de bem-estar social. Pela mesma razão, a questao. ma.ts
•t
compe.tit1vidade pressupõe a compefíÇão (como estr].!Era) e deve ser_~e;
) àida pelos resultados.,...!. õaSe~esüã efetividãae'.3 _Assim, a competitividade ampla seria a possibilidade de que maiores despesas de bem-estar social le-
) é uma das Eropriedades ou at!}6utos da compehçao.
A importância de uma distinção clara entre competição e compet.1·
. vassem, por sua vez, à bancarrota. Outra hipótese podia ser a de. ~u~ a
competividade elevada alimenta o clientelismo e a colonização partl~ano~,

4
)
)
tividade é justificada pela possibilidade de desorientação quando os dois
conceitos são confundidos. A sugestão de conceituação e medição da com-
ou que fomenta uma escalada. demagógica de excesso de promessas, isto e,
um desequilíbrio inflacionário. De qualquer modo, a questão é que a pes·
quisa existente pouca informação nos presta, se é que presta alguma,

)
petição, feita por Przeworski e Sprague, como o "esforço de mobilização"
dos partidos em relação â "possibilidade de contato" com o cidadão ilus- sobre a relevância da competitividade como propriedade ou variável da '
••'
tra bem esse ponto. De acordo com essa sugestão, "a interpretação empí· competição.
)
rica da competição sistêmica é uma batida à porta por um eleitor do par- Sejamos simples e honestos. A competição, ou seja, uma estrutura
tido". Esta é uma maneira delicada de colocar as coisas; mas se os cidadãos competitiva do tipo de mercado, é importante como meio de proteção

••
forem levados às urnas pela força e a intimidação e obrigados a votar aber- I! como uma vantagem para o consumidor - tanto o consumidor econômi-
)
tamente no candidato escollúdo, o sistema de medição em questcio ainda co como o político. A pergunta crucial é: qual o elemento ou o fator pro-
) evidenciaria uma competição máxima e, na verdade, perfeita. E os autores tetor da competição? E a competitividade? Creio que não. Pelo menos na
arena da política, os benefícios protetores essenciais de uma est~utura
••
se aproximam muito dessa conclusão, pois admitem que "a competiti-
vidade do sistema partidário nos Estados Urúdos situa-se num ponto inter· competitiva nascem, principalmente, do princípio de "reações previstas",
mediário entre a da Venezuela e a da Urúão Soviética". 4 De acordo com da previsão de que consumidor reagirá, ou poderá reagir. Esse mecanismo

••
Przeworski e Sprague, faz perfeitamente sentido, portanto, falar de compe- - o potencial de retaliação de uma estrutura competitiva - pode ser obs-
)
tição num sistema uni partidário e declarar que a Urúão Sovié~ica é um dos truído ou deformado por publicidade, campanha eleitoral, cabala de vo~os,
) e mobilização, mas existe independentemente dessas variáveis intervenien-
)
) ••
~)~,
~; ;7~*
; ....o ..;~::-~::~::::::::-:·~~---::~·:~~~:à:·~~-::·-·:-~-:.....:- :~~~·:·~~~·~~-·:::·-:~~~~..::·-:~~~~-:-:-:~::~:=/:~::~-~-=·::~~:.-~;:;~;.~:~;;:;~;-;~:::::·
E - -·----
- :·:·:·:.::·:::::::::
-- ....~......~..~~--.;...-..iii11i11
)

)
SISTEMAS NÃO-COMPETITIVOS 249
248 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDARIOS

) formulam10s - em princípio, ou em geral - uma queixa e um pedido. A


ces. Assim, uma formação política pode ser competitiva sem uma única queixa é a de que estamos sob a influência de um operacionalismo grossei-
) batida à porta, simplesmente porque oferece condições de mercado. B ro que rejeita "o possível" (o que poderia ser de outro modo) e, com isso,
certo que há os "custos de entrada", e um sistema de mercado pode aca- deixa de apreciar as alternativas. A perda de perspectiva e a apreensão errô-
bar num monopólio; mas o monopólio no mercado está ainda muito dis- nea disso resultantes podem ser enormes. Segue-se - e é esse o pedido -
) tante de um monopólio sem mercado - pelo menos em política. que necessitamos muito daquilo que chamo de analise de potencial, ou
A ressalva "pelo menos em política" nos lembra importantes diferen- 5eja. de um entendimento colocado no contexto de alternativas e de uma
)
ças entre um mercado econômico e um mercado político, e entre o consu- compreensão do princípio e da realidade das reações previstas. Nessa pers-
) midor económico e o consumidor político. Entre outras coisas, o mercado pectiva, o elemento decisivo não é a competição real , e ainda menos a alta
econômico é infinitamente mais sensível, e o consumidor econômico está competitividade, mas _ê_possibilidade dç competição. ~ssim. _o sistema per-
em posição muito melhor para avaliar o que lhe é vantajoso e de se defen- manece com12etitivo - estruturalmente .:.:. enquanto as políticas são inf-!_uel!.:
der. Não estou querendo dizer, com isso, que a competição é um constru- ci~.~..Jzela ~nsçi~rrcia _Ee que um novo competidor poderia ingressa! no.
to teórico que deve ser inventado de novo pelos cientistas políticos. As mercado e que grand~arte do público poderia transferir para ele a sua
diferenças não invalidam o fato de que, tanto no domínio da economia p~ei'erência. Sem dúvida , em muitos pontos desse espectro amplo, õ equi-
como no da política, uma estrutura competitiva defende o público. Indi- llbrioentr"e uma estrutura competitiva e a competitividade real é subótima
cam, porém, que o interesse do público pode ser atendido, em cada contex- e infeliz. E o mesmo ocorre - a:presso-me a acrescentar - com o espectro
to, por uma diferente combinação de mecanismos. Assim, a competitividade não-competitivo. Se os sistemas competitivos diferem muito entre si, o
) é mais importante e mais certamente benéfica à competição económica do mesmo ocorre com as formações políticas não-competitivas.
que à competição política. Da mesma forma, um economista poderia di- \ Segundo o quadro analítico de ~f:!m~.~ tiJ!!!l.a_ estru~ura co122~
zer que um sistema partidário só é competitivo quando há um mercado elei-

~
J.tiva o eleitor_d_e~_t_çr tantg as opções de voz (faze_!-se ~yVlf) cogio__j_e
toral nl) quaJ as ações de uma firma influenciam as ações de outras firmas e aida (isto é, de _!!o_car de partido), e~~ condição mínima, inalienável, é a

....

~)
)
são contrabalançadas por elas; ao passo que o cientista po~ítico deve tornar
menos rígidas essas condições e admitir que, mesmo quando um partido
nã'o infl:uencia na prática i m outro partido, a simples justaposição dos dois,
çissit>jl.i_dad~ jr~estrita de saída. Contrariamente, ~2racterística 'de uma i:.s- 74\
\ rutura não-~ompetitjv,? Ç, !lª melhor dás hipóteses, a de que apenas u_~f!.
dess--ªs opções é possível, e nung_plenamente. No~ caso~~mon~p01_0
ou a mera possibilidade de que outro partido possa surgir, tem peso e é in- to_talitário nem _a_voz_,_neQ1 a ~ ída constituem opções realizáveis.~~ :_
) corporada ao comportamento real dos políticos. E até mesmo o economis- t~ ç~os,__Qorém..!. a ~aída ou saída parcial (dei~_ o _partido, embo~-n~o
.....
ta concordará em que num mercado (também num mercado monopolizado) trocá-lo por outro) pode ser urna opção que não acarreta ônus, O\I então
J a libf'rdade de entrada significa que uma firma deve manter seus preçc~ poj!ejta_\/êrin1PJ ~margçm de voz em lugar de saída. Essas diferenças, e
l
..... tão baixos quan.0 necessário para desestimular novas entradas. Tudo isso º!:ltr2s, _são pr~c:i~ame!!_te o que procuraremos mostrar nas seções que se
é mais fácil de intui- do que de documentar e medir. Mas o que pode ser seguem.
•nedido - a competitividade - não nos deve cegar para o que é realizado
) pelo potencial de uma estrutura comp..:titiva.
7.2 O partido único
Quando Brian ;arry escreve que mesmo "se h ,.., uvesse apenas um par-
)
tido nã'o seria compensador para ele tomar posições impopulares porque Corno a área competitiva foi analisada a partir de seu extremo, é necessário
) isso estimularia os empresários políticos a entrarem no mercado" , ele está começar a análise da área não-competitiva também pelo seu extremo.
influenciado pela ambigüidade existente na noção de "uni;>artidarismo". Em minha classificação não h á lugar para erro quando unipartidaris-
)
Co,no a c:xistência de apenas um partidc significa a inexistência de merca- rno é unipartidarismo.e. Um partido significa, literalmente, isso: ap~nas um
.) do, a afirmação é contraditória e empiricamente faJ -J. Mas Barry tem razão pmido existe e tem permlSsnoõe eXis1ir. .é_assim é po~ql!~ es_se partid_9
) quando observa que, quando há dois partidos de tamanho desigual, o maior yrra- tarno de jfire como de facto , qualquer tipo de plJ.lralismo pcrr~~~rio. 9
tem boas razões p~ra "comportar-se competitivamente , já que, a certa altu- ~o co~ss; definição rigorosa, a classe do monopartidarismo difiéil-
) ra, a inércia do ele'torado poderia ser quebrada". Portanto, "tanto a não- mente correrá o risco de ficai sem exemplos. Entre 1962e1968, cerca de
votação de fato como o domínio por um partido não prod uzcm necessa- 33 Estados realizaram eleições que resultaram na distri~uição de todas as
)
riamente efeitos muito diicrentes da votação universal ou de uma divisão <.: ::!dciras d3 legislatura a um rnC'smo partido. A relação inclui Albânia, Bul-
t igual do apoio eleitoral entre os partidos". 6 E a es :a altura é conveniente


J
)
~1
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eJil
) SI

250 PA RTI DOS E SISTEMAS PAR TI D AR /OS
SISTEMAS NÃO-COMPETITIVOS 25 l -
)
') gana , China, Tcheco-Eslováq uia, Ale maMa Orient:i.l , Hungria. Libéri:i , tico" está longe de se ter consolidado, embora LaPalombara e Weiner iden· tJii
••
....
Vietnã do Norte. Portugal, Romênia, União So viética, Esp:rnh a, Tuni'sia,
) Ufiquem , em sua taxonomia, uma terceira variedade, q ue chamam de "uni-
Re pública Ar:ibe Un iJ a e Iugoslávia. 1° Com o iremos ver, a composição de partidarísmo pluralista". 15 Aceito a sugestão, mas ~om duas emendas. Em
) um.a le gislatura n ão é o único in dj c;ado r, e as disposições e!eitor:iis tamb':im primeiro lugar, faço objeções à denomurnção. 16 A parte o fato de que
são relevantes, nessa questão. No momento, porém, a enumeração anterior "pluralismo" não deve ser usado em demasia1 no caso em foco a expressão
) serve ao o bje tivo de fa zer ressaltar a na tureza variada da classe do uniparti- deve ser atribuída - se for aplicável às formações ·partidárias hegernônicas,

......
) darismo China e Tun ísia, Portugal (até 1974) e União So viética, Espanha mas não ao urupartidarismo rigoroso. A segunda emenda é de substància.
'1
)
(até l 9 75) e Albânia podem ser (o u fo ram) igualmente Estados uni partidá-
rios; e não obstante são, evidentemen te, diferentes sob a maioria dos outros
as pecto s. E m particular, os Estados urupartidários são mais ou menos opres-
sivos, rnais ou menos difusos, mais ou menos intolerantes, mais ou menos
Na taxonomia de LaPalombara e Weiner, encontramos uma assimetria
curiosa: enquanto os sistemas competitivos são classificados ao longo da
dimensão pragmatismo-ideologia, essa dimensão desaparece quando ingres.

samos na arena não-competitiva. Para rrúm, porém, a dimensão pragmatis-
) extorsivos. Isso equivale a d izer que as forma ções políticas unipanidárias mo-ideologia aplica-se perfeitamente a .todo o espectro. 17 Evidentemente,
variam de intensidade de repressão, de controle coercitivo. E é precisamen- com apenas um partido,. não há sentido' em se falar de distância ideológica
)
)
te devido a umà ordem de intensidade decrescente de coerção, ou de re-
pres.são1 que os três padrões seguintes podem ser isolados significativamente:
\ l. unipartidarismo totalitário
~ 2 . unipartida rismo autoritário
(entre partidos). Mas cada partido, tomado um a um, caracteriza-se por
uma diferente "intensidade ideológica" e/ou por uma abordagem não-ideo-
lógica (pragmática). Nesse último sentid~,, portanto, o critério pragmatis-
mo·ideologia não apenas é aplicável às formações políticas unipartidárias

••
) / 3 . unipartidarismo pragmático.

••
não-competitivas, como sua aplicação a elas é realmente indispensável.
') Quando chegamos ao unipartidarismo, o critério numérico não nos leva
Os dois primeiros subtipos estão bem descritos na bibliografia, e suas muito longe, pois "um" identifica apenas um padrão de poder altamente
) ·!it'erelnçíts . foram, desde há muito, analisadas sob a rubrica "dHadura" . 11

••
concentrado, monopolista. Portanto, as variedades do unipartidarismo só
.)si~tn&o~ estudo dos partidos passou ao primeiro plano não contribuiu podem ser isoladas e analisadas se, e apenas se, houver também outro cri-
)

...
;;: ,[ td p'ãra o que já havia sido discutido em termos de ditaduras totalitá- tério. E se selecionarmos, para esse objetivo, o critério do pragmatismo-
J ' : ::~ í o &autoritárias.
12 13
Um ponto apenas necessita ser esclarecido desde o


ideologia, cabe-nos então, ao escolhermos nossos rótulos, dar-lhe destaque.
i :H~iOI --#fpois está longe de ser claro - na bibliografia existente. O mono- Dando ao meu terceiro tipo o nome de urúpartidarismo pragmático,
)
partid!Mismo totalitário representa - exatamente como o pluralismo pola- declaro, com efeito, minha suposição implícita, ou seja, a de que o fator
) rizado .....;; um dos extremos do espectro partidário. Segue-se, como argu- causal isolado mais poderoso para a determinação (e a escalonagem) da
mc ntei'«~ntes , que deve ser visto como um.tipo pol~i:_pur~, e na-o como capacidade de extorsão e repressão dos Estados unipartidários é o fator
um tip<J.'empírico. ideológico. Mais precisamente, as _fQI.maçQ.es. polítiças) otalitárias e autori·

•..
) A parte essa mise au point, quanto ao resto basta lembra r aqui que tárias · devem---rêílêtir- diferentes intensidag_es _Ldeolqgjcas_;i:._ enquanto a
)
o uni partlQ..arismo to talitário repr_~~~nrn_o m_ais ~to grau de di~ão, mobi:.. formaçã~TIT1ca uni partidária ~ática reEresenta o extremo do contí-
lizaçao e C.Q.QJrole _m~n~poli~t~ d~. .P~rti,go sobre ª~ª~E~!~~i~ vit~_J~t~l nuo no ~-uipã1!lent!J1_aaãe tdeõlõgica dá lugar a uma ment?]idad~_ pra~~­
) . dos cidadãos. PoLJ.LeJ iniç.[Q, ..9 partido _toJ.ª1i1ário é.fürt~mente ideológico. mática. Pode-se igualmente dizer que totalHarismo e autoritarismo Sl_!rgem.
,.
)

)
i
)
j ~
Tamoem por -definição , o _partido totalitário é forte. Um bom~
dessa força são "as van tagensãrriouidas à participaçãg Q9_par~do": quan·
to mais.. poderoso é este, mais tende a limitar a participação e -aexpUJ.Sãr
seus membros, ou a realizar expurgos cíclicos em massa. 14 Em coptr.<1.Stç ;
~~~~_ime ,a_uto ritário uma id~_Q,]_ogia forte e uma capaci~'!de ~~ .!Ilº?i~
liz..a.Ç-ª1Lf2!!!parayel, e seu co ntrole não se estende, em geral, multo alem
dos instr_umentos n; rmâISdo pode r - ind uindo-se-e~trêêTês·: :püié~. o
· ~iferentespõntos de urria~scala ideológica cujo ponto mais baixo é
cha'inãão pragmatismo. ~- --
~ff êiiteriõàõ prãgmatisrrr9:!.<Je_qJ9gia não é totalmente novo. Assim,
na classificação de(~~ncontramos o t ipo ideol~gic9 (orien~a.do para
os _~-2.~~o!\!tQ.s) de partidõ .eoritEa.Stado com um tipo pragmático (ne-
gociador). Essa distinçãõ, porém; ·não é desenvolvida. 19 Por outro lado, a
distir;°ção pragmatismo-ideologia é melhor que a distinção mais tradicional
-••.
••
) judiciário. · ·--~ -- - - - - - ~ ·----- - -·
entre partidos "baseados em doutrina" e partidos "não-doutrinários", 20
) --E~1éluanto os dois primeiros tipos fo ram objeto de uma considerável que parece insuficiente. À base dessa última distinção, podemos argumen-
bibliografia, o terceiro caso, isto é, meu subtipo " uni partidarismo pragmá· tar - como faz McDonald - que os partidos rel igiosos não têm doutrina
t
)
)
)
·••
.a
152 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÃRIOS SISTEMAS NÃO-COMPETITIVOS 253

ou - como acredito - que qualquer partido pode reagir às necessidades de Ambos os argumentós são sutis e encerram certa verdade, embora a
uma determinada situação, ou ao desafio de seus competidores, munindo- experiência da política ideológica sugira, com vigor, ser a ideologia irredu-
26
se de uma "doutrina". Por exemplo, é perfeitamente sensato argumentar 1 lvel, em ú1 tima análise. De .qualquer modo, o pon to relevante é que os
que o New Deal de Roosevelt e o Fair Deal de Kennedy equivalem à dou- dois argumentos - especialmente o segundo - pertencem a uma explica-
trina do Partido Democrata nos Estados Unidos. Como essas interpretações ção genética e se aplicam com isso ao longo prazo, no decorrer do tempo.
divergentes mostram, as expressões "baseado em doutrina" e não-doutriná- Embora a dinâmica seja importante, um excesso de ênfase na mudança nos
rio limitam-se a um nível superficial, ou demasiado superficial, de diferen- leva a negligenciar o fato de que as decisões são tomadas e os acontecimen-
ciação ao passo que a oposição entre ideologia e pragmatismo nos reporta, 1os ocorrem em pontos isolados no tempo. Portanto, a cada ponto no tem-
em última análise, a uma mentalidade, isto é, a uma fonte de diferenciação po não só devemos levar em conta a diferença entre uma orientação ideo-
que tem raízes profundas. lógica e uma orientação pragmática para a solução de problemas, cmno
Se a distinção entre ideologia e pragmatismo for levada a efeito ao · também que essas diferenças encerram associações muito importantes. Não
longo de todo o especiro partidário, pode nos oferecer uma compreensão iiá dúvida, por exemplo, que a ideologia está altamente correlacionada com
nova do unipartidarismo. Supomos, em geral, q).l~ o partido único não po- a coesão partidária. Da mesma forma, a coerção ideológica difere acentua·
de surgir sem alguma fo_rma .ele legÜimaÇão ideológica,_2 1 A classe do "uili-_ damente - para melhor ou para pior - da "coerção pura e simples". Além
p,_ârtiããrismõ pragm@~o" questiona essa opinião, chamando nossa atenção disso - e é o que importa mais na presente argumentação - um partido
pàrã o êlemen-ro ae canalização. 22 Se essa classe encerrar exemplos, então pragmático conforma-se a um ••desenvolvimento natural", pois não é orien-
evidenciaráo -fa1o- dê que o unipartidarismo pode surgir, ou pelo J!leno_s tado para uma meta, não visa a um estado para a humanidade, ao passo
sq_breviver, sem qualquer tipo pãrticular de apoio ideológic~. Em lugar de que, quanto mais ideológico um partido, mais ele se volta para um "desen-
----·-
;-----,-----· . -- -- -·- . -
diluir o conceito de ideologia a ponto de privá-lo de significação, vamos volvimento imposto" ditado pela visão de um futuro.2 7
enfrentar o fato de que um partido único pode existir pura e simplesmen- Tendo tudo isso presente, a argumentação em favor da adoção do
te por questão de conveniência. Linz indaga, em relação à Espanha: "~ o critério ideologia-pragmatismo é conceitualmente forte. Sua debilidade é
sistema político o mesmo, ou é diferente?" 23 À luz de minha divisão tripar- empírica, e nos leva a buscar critérios e indicadores complementares. Entre
tida, eu responderia que, depois de 1939, a Espanha era uma formação esses eu selecionaria sem dúvida o grau de a:µtonomia do subgrupo e do
política autoritária unipartidária, que foi gradualmente transformada por subsistema. 28 Ao longo desse caminho encontramos, de fato, subgrupos e
franco numa fom1ação política pragmática. Por outro lado, Portugal foi, indicadores manejáveis. Por exemplo, a imprensa pode ser considerada
por muito tempo (até abril de 1974), um caso claro de uni partidarismo como um subgrupo cuja independência em relação às autoridades pclíticas
pragmático. A Libéria que é - ironicamente, se atentarmos para o nome - pode ser medida em termos de pontos de "liberdade de imprensa" - Lendo
o primeiro e mais antigo regime unipartidário, é outro exemplo pertinen- o índice para isso calculado por Taylor e Hudson, verificamos que o máxi-
te.24 E o Neo-Destour tunisino também se qualifica como um caso de uni- mo de falta de liberdade de imprensa, isto é, o menor número de pontos
partidarismo pragmático. 25 possível, é o da Albânia (-3,50), seguida - em minha seleção apressada -
Na verdade, a distinção entre ideologia e pragmatismo também tem pela Romênia, Alemanha Oriental, China, União Soviética, Cuba, Bulgária,
pontos fracos. Pode ser atacada sob a alegação de que o pragmatism~~ Polônia, Tcheco-Eslováquia (-2,50), Hungria (-1,57), Portugal (-1 ,42),
apenas um estado de pouco afeto, de baixa temperaturãêie ideoiogismo; Espanha (-1,02), Paquistão (-0,0 l ), Iugoslávia (0,08), Índia (0,98), Chile
ou Põde ser questionada com uma mudança de perspectiva , isto é, argu- ( l ,19), México (1,46) e Turquia (l ,66) . O mais alto número de pontos,
mentando-se que falamos de pragmatismo quando os membros de uma isco é, a maior liberdade, encontra-se na Noruega e na Suíça (3,06).2 9 Há
comunidade política partilham da mesma ideologia e de ideologismo muitas coisas estranhas nesses números, por exemplo a distância entre a
quando uma com unidade política adere a dife rentes valores. Na primeira Tcheco-Eslováquia e a Hungria, a classificação da Iugoslávia e os números
abordagem, a variá vel é a intensidade de afeto, e o pragmatismo e o ideolo- ba ixos da índia e do Chile, que contrariam a intuição. No momento, se
gismo resultam como pontos extremos de uma escala da temperatura da não nos estamos saindo bem conceitualmente, também não nos estamos
política. Na segunda perspectiva a variável é o consenso, e a dicotomia en- saindo melhor empiricamente_ Mas sem dúvida, outras tentativas nos darão
tre __e_ragmãtfsffiõe- íóeOlôgismo expressá simplesmente a diferença entre medidas mais fidedignas e úteis. 30
üffia. cultura política consensual e outia con flitual , entre um sistema de Reunindo a tipologia da ditadura, o critério ideológico e a medida d a
crenças homogêneo e outro heterogêneo_ independência do subgrupo e do subsistema, as características relevantes

-~
.... ~
, 254 PA R TIDOS E SISTEMAS PA R TIDÁRIOS
SISTEMAS NÃO· COMPET/TIVOS 255

) w1ipartid:irismo autonr:irio é um sistema J;;: controle de menor intensidade


pelas quais o urup:irtidarismo tot:tli t:irio . o uniparridansmo auwnt:irio e o ;J~cilógica, com menor ~cid:ide de exrorsão e mobilização, voltado para
)
un ipartid:irlsmo pr:igmático podem sl!r diferenciados e identificados são p~.iJ0..c::s de exclus:i'o; t\Jiii))o ~i partidarismo pragmático relaxa todos os
as que se seguem. ~kmentos anteriores e pode ser reconhecido pelas políticas '· inclusivistas"
O unip:irt1d:i rismo totalitário caracteriza-se pela sua tentativa de \)U agregativas (em contraposição às políticas de exclusão e destrutivas) em
~
l 1
tuúo ~<!I_g_r, tl!J!mapeuetrªç:Io e polirizª-ção totais. Qu~ _vise ou não ao 1i;[monia cõõlürn desenvolvimento natural. De acordo com o segundo
) _.·.5.,) obj~~cr.!.?r_ um "homem n~vo" , o regimeJ_otalitário empenfi-!l·se não i:õielio -::. relação com os grupos de fora e intermedi:irios - o Eadrão to1a- (
·~·· só em destruir o subsistema como também ~!que r tipo de autononúa litário é totalista e po1tanto impiedosameJ:lte destruidor da autonomia tan_- 4
,} do subgrupo. O-totã11rãl1smo representa, portanto, a invasão final da priva· to do subslStema como do subgrupo; o padrão autoritário impede o sub·
.l ;~t ú cidade. 11 "Se áreas de vigà ED'!'.ªd-ª ainda sob reviv_~~. p_or _!_9kràf!.cia.,, 31 sisleni? mas tolera, peío menos de frzctõ, algüma forma de ãutononúa de 4
\. ,.-.,. j r ~ ~ não se pocíeêstabelecer uma linha entre_as esferas de vida co11;_r~_olad:is
.J" , \....'V ~ l o Estado ê·ãs e'Stei:ísde- vida privadas. Tss·o significa que um regil}l~_tota-
súogrupõ; e o pactrão pragmático podeser bastan te aberfo à autonomia
doSUbgrupo e pode t'.!mbéf!:1 permitir ce rta autonomia do subs!Stem-a per'i- ~~ •
l)) ·~

)<Y'
'V"
Iitárioelrnpostõ có·m mâh facilidade sempre qµe o indivíduo e a pr_ivaci-
dade não sao muito valorizados, isto é, nas sociedades não-ocidentais. Mas
umasOcrCclade é àdeqUãdamen te-considerada corno totalitária se a_?Sim esti-
fé rico (por exemplo, a um subsistemit de grupo de pressaor-~ela_ção à
11 ~za dífãfoçíãl áeSSes regimes, podemos dizer que o ditador t~a!itário
tou oÍigarquia ditatorial) é ilinútado e imprevisível; que o ditad~r ~utoritá­
•e
i! ver modelada pela J>o!ítica. ·ou seja, o conceito é ::ibsur~_Jempre que apli- rioéilimitado mas está confinado, não obstante, ã l1mites previsíveis de

)

) '&'
Cj!do a_uma sociedade do tipo com-unal C:-e-~ · ge~. a um est!c!o da so~ie ­
r dad e modelado culturalmente.
o unipartidarismo a~~oritário, por sua vez, corresponde a um sistema
de conllGleque não ~e_m~poder; nem a ambição, de pen~trar ~.oda a ~~c!e-
arbitrariedade; e que a ditadura pragmática é limitada pela constelação .
deforÇâs com as quais deve negociar. Finalmente, com relação à.Jl_l.!;_'ião ~e
êánafiZação-(e encãdeamento), pode-se dizer que o ÜÕipartldarismo totali-
târio"Cãn*a1iza pêfa supres-são, que o unipartidarismo autoritário canaliza
••
) . · t'
~

zj ·
~ 1 ) , .<lilii~ esse tieQ.. caracteriza-se, então, não pelo "totalismo , mas pelo pe1aeXclus~ ; e que o uniQ_artidarísmo pragmático canaliza pela absorção
~ S "exclusionismo", restringindo as '!_tividades _p<2_líti_cas dos que estão_j<:, fo-
~ _ ~· r a~33°Quando Õ pãifido únic<f~utoritário rec9.rre ! mobilização, o esforç'?
.J":. ~ ry,1obiitzador não_l. profundo: gira sobre o carisma do líder e é geral~nte
;yJ -:~· sntisfei t{)' .por esforços de facha~.'!.:.. i:nanifestações de_rr:rns~ª-'-co_m~ de
(ou pela tentativa <!_e absorv~r).
-as elementos acima podem ser resumidos no Quadro 27, que mos-
tra, ao ser lido verticalmente, que, embora cada critério ou variável não ''
.2
·..(_}
~
mass3' e"':pressao ~.õreamassa para levá-la às umas. Uma "revolução cu~t_u-
ral',:Yo · tipo chinês é, para um regime a~oritá_0~·- i~m~ginável. Por outro
proporcione por si mesmo uma identificação clara, ainda assim cada tipo,
ou subtipo de sistema de partido estatal está bem caracterizado por urna '•
·y:.- la.,9.Q, um=-ctosefeitos margill<tis da po14~e excl~ão é_mantl'..!' _c~jdados'!·
mente fora da política vários subgrupos. Na medida em que isso ocorre,
síndrome peculiar, por um complexo único. Por outro lado, uma leitura ho-
rizontal do quadro nos lembra que os três padrões - totalitário, autoritá·
rio e pragmático - representam subtipos dispostos ao longo de um contí· ••
••
esses grupos @em seguir o seu própno curso. - . -- nuo ideologia-pragmatismo que corresponde mais ou menos à redução da
_... Q~ip_artidarislllo pragm~tico I}_:iOJe.m..a legitimação de uma ideolo- capacidade de coerção. Portanto, não só se supõe que esses tipos se fun·
gia e, em comparação com os outros tipos, tem menor potencial de coer- dem uns aos outros, como também que se transformam uns nos outros.
Ç~2_. ~s9 S!g~!J_ça, pQ.f s_uilez, que ô unipafli.ciarisrno pragmático adequa-
se mal à adoção de políticas de exclusão e é levado, em lugar delas, a tentar
põfftic~ -_de absorçãõ.FaiTa também ao Ú~p~~idarismo pragrriático úoe-
Com o tempo, qualquer estrutura política nos apresenta duas ques-
tões: modificou-se, ou continuou a mesma? A pergunta é respondida com
mais facilidade no contexto dos sistemas competitivos, pois estes têm me- ••
••
são ideolo&!g, Também desse ângulo, portanto, sua relação com os grupos. canismos intrínsecos de mowficação e podem ser modificados simples-
de fora tende a'"refagregahva e não destrutivã:" Além do mais, seu baixo mente pelos vereditos eleitorais. É, ao contrário, um:i pergunta difícil com
&@!! de coesão ideológica interna torna-a organização do partido único relação às formações políticas não-competitivas, pois seus mecanismos não
pragmátfCO bastante frouxa e um- tanto pluralista. 34 - -~-- •

••
prevêem a automudança e sua estrutlua é em grande parte insensível às
Se os vários ingredientes que participam -da identificação das três pressões resultantes da modificação ambiental. Essa dificuldade é inten-
variedades de unipartid:i.rismo forem se parados , de acj)!~O com o critério sificada sempre que a pergunta é dirigida a urna classificação, ou seja, quan-
do temos de decidir se um sistema concreto deve ser transferido de uma
)
de ideologia-coerção, os resultados são os seguintes(@ o pa!'1ido único
t?~tiri.9 é fortemente ideologizado, altamente coerc_i_tivo, espoh.Wyo ,
m~ilizador ~voltado para o desenvolvimento (político) imposto;((i~
classe para outra. Por exemplo, poucas pesso3S negariam que a União So-
••
)
••
256 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÃRIOS
SISTEMAS NÃO-COMPETITIVOS 257
Quadro 27. . ...
Características dos Estados uni partidários por tipos e cntenos 1ante, devemos e~.[i:_entar o fato de que duas exigências contraditóriaµ,stão
~· m jogo, ou seja :f._!J,ter ~lasses suficientes para registrar a mudança e (ü} ter
Uniport idansmo Unipartidarismo Umparridarismo n:cmplos suficientes para cada classe. Evidentemente, cabe-nos encontrar
Cricérios toralirário autoritário pragmár ico um equil íbrio. Isso significa que não devemos nem esperar que uma clas-
Ideologia forte e mais fraca e irre levan te ou sificação seja supersensível à mudança, nem supor que a permanência de
totalizadora não-totalizadora muito fraca urna formação política numa classe significa que ela permanece inalterada .
Coerção, espoliação, Minha ênfase recai sobre as características coercitivas e espoliativas
mobilização alta média inferior dos Estados de partido único também porque muitas das manifestacões
Políticas com re lação at uais de bravura intelectual não transmitem nunca a sensação de que ,
aos grupos de fora destrutiva exclusionária absorvente
quaisquer que sejam suas outras virtudes, os regimes unipartidários sem
Independência de
subgrupos nenhuma limitada :i grupos permitida ou .
dúvida ferem e abusam, para não dizer mais. Mas é evidente que um enten-
não-políticos tolerada dimento mais completo exige que abordemos o unipartidarismo também
Arbiuaricdade ilimi tad a e dentro de limites de outros ángulos. A:>sim, o Estado unipartidário pode ser analisado com (
imprevisível prc visíveis limitada relaç.ro a (i) suas metas , (ii) seu desempenho e suas políticas gerais, (iii) suas ·
origens e etiologia, e (iv) sua base social ou background.
As noções de democracia tutelada, democracia guiada, ditadura pe-
viética foi, sob Stalin, um sistema totalitário; mas continuará sendo_? Uma dagógica e outras relacionam-se em geral com as metas - pelo menos, as
das sugestões atuais é a de que a União Soviéti~a dev~ria :er reclass1.fica_da metas reconhecidas - de vári os Estados unipartidários. O critério da meta
como sistema autoritário. 35 Mas três advertências se_ im?oem. A pnmeira nos deixa em terra pouco firme: promessas não são atos, e o engodo é uma
é· se a União Soviética for reclassificada como autontána, o que ac~n~ece das invariáveis da pol itica. Não obstante, marúfestações verbais de deferên-
a~s outros regimes antes incluídos nessa classificação? ~om referencia ~ cia sâ"o melhores do que não-manifestações, os compromissos com as metas
um esquema de classificação, a medida deve ser co ~parat1va e'.~e.sse senti· têm importância, e os autocratas modernos podem ser, como foram alguns
do, relativa. Se o resultado da reclassificação do s1~tema soVJet1co (e do de seus antecessores, déspotas benévolos. Com referência ao critério de
partido) é tomá-lo igual ao sistema espanhol (e partido) so?
Franc~ , ore· políticas e/ou de desempenho, o unipartidarismo pode ser caracterizado
sultado líquido dessa reclassificação será uma confusão '.1111da maior. A ao longo dessa(s) dimensão(ões) complexa(s) de várias maneiras: como re-
segunda advertência relaciona-se com a natureza das class1fica7ões. ?eve- volucionário e progressista ou como conservador e reacionário; como de·
mos compreender bem que as variações ao _longo_ de u~a ~ 1mens~o de senvolvimentista e ri1odernizador ou como imobilista e tradicionalista; co-
intensidade raramente justificam uma reclass1ficaçao, pois s~o co~s1dera· mo excluidor e destrutivo ou como inclusivista e agregativo etc. É por
das como variações dentro da classe. Finalmente, uma class1ficaçao cen- esse critério que, com freqüência, falamos de. autocracia modernizadora e
trada sobre os partidos não pode registrar variaç~es q_ue afetam _outras de ditadura desenvolv1mentis ta. Com. relação às origens dos sistemas de
estruturas. Quaisquer que sejam as mudanças amb1enta1s, a questao é se partido de Estado, já apresentei meus argumentos. 36 Mas as explicações
uma determinada ''ariação afeta as disposições partidárias. Po'. exempl~, causais examinam a questão com mai or profundidade - e atualmente pai-
a transformação da ditadura de um homem ~uma ditadura colegia~a é m~­ r:im ao largo. Uma abordagem que focaliza as "crises" ao longo de um
to significativa para uma classificação das dit:iduras, mas pode nao ser s1g· caminho de desenvolvimento político explicaria a solução unipartidária
nificante do ponto de vista do partido. . _ como um subproduto de uma carga excessiva de crises criadas pela má se-
De qualquer modo, quanto menos articulada a class i fica~a~, m~nos qüência e pela aceleração excessiva. 31 A maioria das abordagens, porém,
permite a reclassificação. Assim, uma d:is \'amagens ~e uma d!Vlsao. tn~ar­ s5o mais sócio-econômicas porque tendem a explicar a ascensão dos parti·
da em relação a uma divisão bipartida _entre mon?pamd:insmo totahtán~ e dos únicos com referência às condições sociais e estruturas econômicas. f
lll'Sse espírito que Huntington afinna que "os sistemas uni partidários bcm-
autoritário é a de que meu esquema e ma.is sensivel a um:i nrnd.ança n º.s~s ­
tema do que o esquema tradicional. Por outro lado, mes~o nu~h a divisa o ~uccdidos têm suas Origens na bifurcação; o partido é o meio pelo qual os
tríplice não explica mais do que d~s. tr.an~forn:a~ões. A s1~u~ç~o ~-elhora l'wercs de uma força social dominam a outra forçã social". 38 O problema ·
quando minha classificação é estend1aa a d1spos1çao hegemomca. ao obs- com a linha etiológica de pesquisa é que, quanto mais passamos da causa -
,·:Jo pró>Jma para a causação remota, mais imprecisas e vagas ficam as liga·
)
) 258 PARrtOOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS SISTEMAS 1VÀO·COMPETI TIVOS 259
._,!

.•
V"

)
)
ções. 39 Temos então, em quarto lugar, uma sociologia da ditadura que re-
laciona o desempenho e as características dos Estados uni partidários com
c'luido.. co1~0 _tipo, nas taxonomias partidárias. A rauro para utilizar essa
de1101111naçao e simples: não há melhor opçio. A expressão "partido domi-
n:i~He" ~o~~- a essa a ~ n:ra ~~~r'unde in:ipelavetmenre, três ·~s bastante
••
)
)
a classe ou as origens profissionais <las pessoas que ocupam o poder. Por
esse critério, podemos distinguir entre a ditadun política, a ditadura mili-
tar e a ditadura burocrática (ou aparato}: e/ ou entre as dit:iduras proletá-
~;~<!ntes ;_{;), )~_re_9-o:nuuncia '. tal c~~o definida antes, 44®>J..J1 egemo-
~:i (cEm_o d.etmo ad1ance) ~· amda041. qualque r partido importante que
,,: <l1stanc1e Cio~ outros P?mdos em qualquer 1ipo de sistema partidáriÕ.
••
)
)
ria, burguesa, e técnica (ou empresarial). A ressalva, no caso, é que ·o back-
ground social não é urna explicação bast:inte satisfatória <lo comportamen-
to real. 40 ·
Portanto, o mais sensato e usar ··partido domi nante" nesse último e tercei-
ro sentido, o que torna a denominação inadequada a finalidades tipológi-
cas. A predominância e a hegemonia continuam sendo, portanto, os dois
••

Urna observação final relaciona-se com o róruio ·'partido único revo-
)
lucionário". ~. com freqüencia, pouco claro sob qu:i! cnterio essa expres: t•: rmos ainda não desgastados, ou menos desgastados, disponíveis; e, no
)
)
são deve ser entendid:i. "Revolucionário" poderia indicar uma meta isto
é, a tr~sformação final e tõtaideumã sÕcie-~_de ~Úuma política, ou' sej~.
a ~qui~a_ção, física ou não, do injmigo~_ou o fato_j_~ q~e ~ _partido tomou
tu<lo, o segundo transmite a idéia de um grau mais forte de controle hierár-
quico d~-primei!o . 4 5
·- Õ- padrão pode ser descrito como segue. O partido hegemônico não

••
,) o poq~~r meios revolucionários (~foi revolucionário antes de tomar o
P.Oder). _Não há problema quando o significado pretendido- pelo us.uãrio
1~rmite uma competição formal ou de fato peTo poder. Outros partidos
podem existir, mas como de segunda classe, como partidos toleradõs", pois •
)
')
da palavra é especificado por um reverso. Se a revolução se opõe a contra.
revolução e a restauração, a referencia são as grandes tendências históricas.
Se a revolução é contrastada com a ordeme a lealdade, estaremos nos refe.
1110têm autorização p-ara competir com o partido hegemônico em termos
att.lãgõriíêõS<?u ,:.i:n- Dãses 1guãi5:'-Nãb só "it alternação não ocorre na realida~
dc...._s.<2~J!Ede ocorrer Já qué a possibilidade de rotação no poder não
••
)
)
rindo,·a.concepções de vida, ou pelo menos a valores. Se um modo revolu-
cioná1'io. é oposto a um modo conservador ou moderado, estamos falando
de polWcas e estilos de comportamento. Mais freq üentemente, porém, a
:~t~m-m~n_9 prevista: A..E!1_E.licaÇão é a ê:ie que o partido hegemôliico...
c_ontinuará_nQ_gQsJ.~r, quer i~so seja agradável para os demais quer não. Em·
bora o partido predominante continue sujeito às condições de governo res-
••
)
)
palavra~é usada seja num sentido global e confuso, ou em pares simétricos
- como ocorre quando "revolucionário" é oposto a "exclusionário., .41
Seguind·o o destino de todas as palavras que se tornam moda. hoje "parti-
ponsável, nenhuma sanção real o obriga à receptividade nos termos do que
chamamos de 'governo sensível. Qualquer que seja sua política, seu domí·
nio não pode ser questionado.
••
)
)
do re~olucionário" serve mais à retórica do que ao estudo da política. Ao aplicar o rótulo "partido hegemônico" à Polônia de hoje, Wiatr
:ifirma que os partidos poloneses não-comwústas - ou seja, o Partido do
Campesinato Unido, o Partido Democrático e as três associações políticas
••
)
)
7.3 Partido hegemônico

Se a classe do unipartidarismo encerr7i apenas um partido, ficamos com


católicas - "partilham dos cargos governamentais e administrativos em to·
dos os níveis ( ... )/e/ influem sobre a opinião pública(...) mas sem pro·
curar enfraquecer a posição do partido hege mônico" .46 Evidentemente,
••
)
)
uma variedade de disposições ou arranjos centrados em um partido mas
que, apesar disso, apresentam uma periferia de panidos menor\!s secundá-
rios e, na verdade, de "segunda classe". Frente a essa circunstância, ou
não só a alternação, como a própria premissa da competição, estão elirni-
nadas.47 Não posso, portanto, seguir outro autor polonês, Zakrzewiski,
quando esse padrão é por ele interpretado como um "sist!lma multiparti-
••
••
rejeitamos os partidos subordinados como álibis fictícios, ou, passando,
) por assim dizer, ao outro extremo, descobrimos que o pluralismo partidá· dário baseado na cooperação". 48 Como mostra o funcionamento prático
rio nasceu. Na verdade, os partidos de segunda classe bem podem ser uma <lo sisti:ma polonês, um sistema deparüao hegemónico não é, evidente·
)
pura falsificação, uma fachada· vazia, como na Alemanha Orienta.!. 42 Se m~ sistema multipartidário, mas, na melhor das hipóteses, um sis·

)
) assim for, são irrelevantes e não devem se r contados. Mas esses partidos
periféricos, subordinados, podem ser relevantes sob certos aspectos subs·
t~ntivos. Se ~sso ocorrer, estamos ainda muito longe de um sistema de par·
r~'!.!3. e1:1.do~s. níveis, no qual u·m partido tolera e distribui de maneira dis·
cnc1onana, uma fração de seu poder a grupos políticos subordinados. 49
Filiremosmãis a-cTiante dasrazões para a criação desse sistema, em todas
••
)
)
tido predominante, isto é, de um padrão pluralista subcompetitivo, ou semi·
competitivo, mas temos um padrão sui generis, que chamo de hegemónico.
. O r~tul~ "par~ido hegem~nico" ~oi criad? para a Polônia, e o encon·
as suas variedades possíveis. Quaisquer que sejam tais razões, p~rd.ma __ç>
fat~ .de g~ a fórmula do partido hegemónico pode levar à aparência da
Pº.l!!Lca competitiva, mas não à sua substância: não perrrúte a disputa clara·
••
3
)
)
tre1 em Wiatr. Ate agora, porem, o tzpo partido hegemônico não foi in· e_ a contestar~º etet1va, nêm se aproxima da "oligarquia competitiva" de
••
)
)
••
SISTEMAS NÃO-COMPETITIVOS 261
Daltl.Sº Os panidos de fora não se podem tomar nunca panidos de dentro,
'e sua oposiçà"o é a oposição consentida. .. . _ 11111J re de ampliada de unidades políticas. O papel e a relevância do merca-
Se as estru1uras políticas unipartidárias podem ser d1v!d~das em t~es Jo p:irtidário sim ulado podem ser melhor avaliados, parece-me, sob essa
subtipos principais, as estrutu~as_ políticas do_ pan~do hegemoru:o tam~e1:1 perspectiva. E ~eus frutos se tornam concretos especialmente ao passarmos
evidenciam capacidades espoliat1va e repressiva diferentes, e_sao pass1ve1s ,i,, 11p0 de partido hegemõnico ideológico para o pragmático.
de especificação ao longo de linhas semelhantes . .t claro que_nª.º pode ~rnver Enquanco a Polônia se adequa ao protótipo do partido hegemônico
partido hegemônico "totalitário"'. o que se ri~ uma co~1trad1cno m ~-d1ect~, i.kológico, o ~co se destaca, hoje, como um caso bastante claro e con-
mas pode haver um tipo de partido hegemornco mats ou menos au~on­ Wfidado de pa!tido hegemõnico pragmático. Nas duas últimas décadas 0
tário". Na suposição de que o tipo mais autoritário provavelmente s~ra'. ao \k.\1~0 foi o caso favorito dos estudiosos em busca de uma democra~ia
mesmo tempo, a variedade mais ideológica, os subtipos podem ser indica- que surgisse espontaneamente de um ancestral autoritário. A idéia de um
dos como segue: "plu:~~s~10_
5
uni partidário",. para não falarmos da "democracia unipar-
11Jana , . e sustentada'. mats do que por qualquer outio exemplo, pelo
\ J. partido ideológico-hegemônico
t:Jso meXJcano. ~ntranamente, em minha argumentação o caso mexica-
~ 2. partido p_ragmático-hegemônico. .
nv___fOmpr~va, mais Toejüe qual quer outro, a pobreza e os males da tipo-
, A EÕlõnia · pertence, claramente, ao _primeiro. Nesse case, ~rt1:_
IQg.ia das formações p~tidári~~- eEstentes. Jodos os tipos de erros concei_--
dos periféricos são realmente "partidos satélites", e ~ questão é até ond~ ~s tuais, interpretativos e de previsão, resultaram de nossa incapacidade de
pãrtíclõStõleradÕs têm realmente uma particjpaçªo nas tomadas de dec1~ª.º 111duir no quadro adequado o PR! mexicano, o famoso Partido Revolu-
bàsicas. OcuRar um cargo não s1gn.iiica necessariamente que o poder se1a cionário Institucional.
P.artilhad~Mesmo que -os partidos satélites tenham cargos a~~strati_­
O PRJ 55mexicano vem operando e conformando sua atual estrutura
':.?~L parlc:_meíltãrês e go".'..~r~amentais~ão ~:10 !"'!1ir.iparitefopt1mo1u~e '.de desde 1938. Foi precedido - de l 929 a 1937 - pelo PNR (Partido Na-
plen.o_dir_e.itp, _e ~ua po~~çao de lnS:_:_1_ond~de .~nte o .P.~t 1d_? _heg:_111_~n~c? cional Revolucionário), que foi dissolvido e reconstruído em 1938 sob o
pode afetar acentuadamente suas possibilid~~~-~ ae comportament? méle- 1H>r11.:: de Partido de la Revoluciôn Mexicana (PRM), posteriormente reba-
pend~t~. Mesmo, porém, que~ poder não seJa realmen:e_compartilhado,
tizado de PRJ em 1946. Apesar do mico revolucionário expresso por todas
ainda assim _o tj_p_o polonês de sistema de pamdo hegemomco pode prod~­
ziíü.ii_pluralismo simulado, U.!)1 mercado partidário simulado, por assim
dizer. 51 Quadro 28.
Por que simular um mercado partidário? Uma resposta possível é que México: eleições l 958-1973 (Câmara Baixa)
isso constitui não apenas uma válvula de escape psicológica, e uma válvula
c.Jc segur~a do sistema político, destinadas a apaz.iguar a oposição, como 1970 1973
também um meio de proporcionar à elite um fluxo de informação ou, de 1958 1961 1964 1967 % %
qu:ilquer modo, mais informação do que o partido únic0_é, em geral, ca~az Ca- Ca- Ca· Ca- Ca- Ca- % Ca- Ca- %
de obter. s2 Nesse sentido pode-se argumentar que a formula do parttd?. deiras deiras deiras deiras deiras d eiras 1'010 d eiras d eiras 1'0(0
hegemónico permite , de algUmmodo, a :expres~ão' ~ l\.~ função de e_~­ I'){ 1 153 172 175 177
pressão supõe ..:na_ ~~ definiçâ~ --:- que a.:_ r~~di~~~s seJª.n:1 satts- l'-\N 6 5 20 20
l78 83,6 83,3 188 81,8 70,5
20 9,4 14,1 25 10,8 14,4
fe1tas por estarem apoiadas em mecarusmos d~_xe~uçao. Eu dma por· l'l'S 1 10 10 10 4,7 1,4 10
tanto c;uic :ima. 9J.sposição ~egemônid fortalece a ~unção de ~omurúca5ão l':\IC\I l o 5 5 5 2,3 0 ,8
4,4 3,5
7 3,0 L8
pQlítica com relaç_ão à qua.!_ltida~.!_q?alidade do míluxo de mformaçoes_.
O panido hegemôl)iCO sape mais e ouve mais. N_ão obst_ante. nad_a c~rrel~­ 171 178 210 212 213 lOO,O 230 100,0
êiõna as rei vindicaçõ~S com O_ Seu 3tel~diment0 . qualquer que Seja a tnfor-
nlaÇãO.._Q..partJdo l}egemô.niçy_pode i111por sua p_rópria von~.ª~~-
1
' " ~1es. R. H. McDonald , Parry Sysrems aml Elecrions in Larin America, op. cir..
i' -" 3. dt• 1958 ~ 1Yo7; h'orld Srrenghr o/ the Com1111111is1 Parry Orga11izario11, op.
Apesar dessas restrições, o caso do pamdo hegemomco merece ser ' : Nr:i l '.170 e 197 3.
11 d ,·1,.io de 1977. a parcela d~ c:ideir:i s do PRl chegou - de acordo corn os K eesin«
separado do caso do partido único, rigorosamente falando. ~lesmo em sua "·'
co11figur:1çào ideológica e autornária, a disposiç5o hegemónica em. du;is • h1l'e1· - :rn níwl se m prccc1.kntes de 84,3~< (mm 80.2~é do~ 1·01os). Em 1978, ~
1
camadas reconhece outros grupos políticos. abrindo caminho, com isso, a ·· .:ma fo1 nova mente reforma.io : o número de cadeiras fo i a umcniado p:1n 4 00, das
.,,..,." l UU d1,1ribuída, ªº' p:utidos menores.

Qp

E
~
) p,;RTIOOS E SJSTêM AS PARTIOARJOS
~
:!62 SISTEMAS NÂO·CO,'yfPE TITIVOS 263
) f;l
) as
d omi.nações sucessivas. o PR! é cla ramente pragmático, e portanto i~1-
clusivo en e agregativo _a P.Onto de - aprox.imar·se
-- de um _rarn'do do f tpo. amá! ·
ãmã. f: também, como pretendo mostrar agora, ~ ~mco protago111sta_de
Jo PR! vic:?rem a constituir uma ameaça, o partido es1:i perfeitamente pre-
p:irado - pelo menos, há provas amplas disso no passado - para reprimi-
l0s por motivos de segurança interna e/ou faz:er com que seus resultados
••
••
)
~ã d~posição ou arranjo centrado num pamdo umco , cercado por uma deitorais sejam tão pequenos quanto necessário.
) périieria de partidos secundános. Para que minha breve exposição não seja mal-entendida, devo dizer
- o Quadro 28 mostra duas coisas: a .,fQ.f.Ç.!Lill±.!:ª~ºur~ .;_sm_a~adora, ~o que: escou apenas interessado em mostrar que o padrão mexicano enqua·

••
}
PR!, e a quase imobilidade da representaçã~ dos parndo~ me_nor:s: ou seJa, dra-se na definição de um sistema hegemónico. Não estou sugerindo de
) Partido de Aç:Io Nacional (PAN), que existe desde 19."9.' e o uruco cons- modo algum, portanto, que eleições livres e rea lmente competitivas pudes·
0
) tante e situa-se à direita do PR! , o Partido Popular Socialista (!PS), q.ue se sem afastar o PRJ do poder. Na realidade, há provas esmagadoras do centrá·

)
situa na extrema esquerda, e o Partido Autêntico da Revolu?~º ~1ex.icana
(PARJI). A proporção entre votos e cadeiras no parlamento e md1cada, no
Quadro 28, apenas para as duas últimas ele~ções (o que b~sta para confie·
rio. A questão não é a possibilidade de que o PI?.! venha a perder se for per-
mitida uma oposição livre e total, mas sim que a organização hegemónica
mantém o partido unido e que a passagem para um sistema competitivo
••
)
mar nossa observação), e é explicada pelo tato de que o s1~t.ema de repre·
sentante único de cada distrito foi alterado, em !963, permitindo-se a cada
partido rni.noritirio um máximo de ~nte cadeir~s à base das_ percentagens
colocaria em risco sua unidade, pois eliminaria as penalidades proibitivas
impostas pela fórmula hegemónica às visões e divisões partidárias. Como
democracia, o México é, no máximo, uma quase-democracia ou uma demo·
••
••
)
dadas. Aparentemente, portanto, o sistema mext~an~ hbe!a11zou-se .com a cracia "esotérica". 60 Di_e,o no._m_~x.imo._p2rq ue, no momento, o México não
) reforma eleitora! de 1963 (o que se re fl etiu na d1stnbu1çao de cadetra~ de é nem mesmo um fa lso sistema de partido predominante , mas um caso ela·
1964 e 1970). Refletindo melhor, porém, vemos Cl:ue o teto de 20 c~de1ras ro de partido heg_emónicÕ ~ i>ermite p artidõs de _s~guõ~~classe desde

••
)
(aumentado para 25 em 1973) atribuído aos ~arttdos men.ores .~qu1vale,,3 que e na medida em que permaneçam como são. Mas, se o caso mexicano.

)
uma barreira fixa que congela o papel secundaria dos part1d~s . de fora .
o PAN já tinha 20 cadeiras em 1964 e foi, na verdade, pre1u'.1icado pela
4

gr ... sso
.
nova d 1spos1ça· - 0 : ! 4C'f_10 da votação correspondeu. a 9 •4%• das
.
de 1970 e a proporção não se modificou s1gmficat1vamen te em
' · d ·
1973. ~ certo que a situação se mverte para os ois ou ros ~~r ~ .•
t
cadeiras
.
no con·
fdos que
for avaliadõ pelos· seÜsméritõS,' merece pelo menos dois elogios: um pela
inventividade e outro pela direção, extremame'nte habilidosa e bem-suce-
dida, de uma experiência difícil.
Os dois casos em exame - a Polônia e o México - prestam-se, pelo
seu intrigante potencial, a interessantes conjecturas. A Polônia é um campo
.•
J
)
passam a conseguir mais cadeiras do que votos, mas sua força e ms1gn1fican·
te. Acrescentemos imediatamente ~ue o ~RI pode ser (mo~eradamente/ ge·
neroso no congresso, porque este e relatna~ente pouco 1mport~te.
6?
tle provas para o mundo comunista. Depois das invasões russas da Hungria
e da Tcheco-Eslováquia, será inútil especular onde teriam acabado os dois
países se lhes tivesse sido permitido continuar seu caminho próprio. Desde
••
) México é, com efeit 0 , governado por u m pres 1 den~e de uma mane,1,ra que s~
assemelha à do ditador do tipo romano. Como disse um autor, os mex.1·
canos evitam a ditadura pessoal aposentando seus ditadores a c:ida. seis
1968, e num fut uro previsível, é bastante claro que qualquer descontração
dos regimes comunistas, pelo menos na Europa Oriental, teria de ser manti-
da dentro dos limites de uma disposição hegemónica. A atenção dos obser- ••
)

)
anos". s1 Os números realmente significativos são, ~ortanto, os rei.aciona-
dos com as eleições presidenciais, nas quais os candidatos do PR/ tiveram.
em 1958, 1964 e 1970, nada menos de 90,4%, 89% e 85,8% do total de
vadores ocidentais foi monopolizada, compreensivelmente, pelo cantinho
iugoslavo para o socialismo. Mas, e à parte o gra.u excepcional de autono-
mia internacional desfrutado pela fugoslávia, a fragilidade de sua empresa ••
) deve ser reconhecida. t certo que o sistema iugoslavo é atualmente o único
••
.•..
votos.
) Abaixo do nível presidencial, e como emanação direta do poder ~~ que aceita "sem restrições dois princípios políticos significativos: a legiti·
presidente todas as outras decisões importantes são tomadas pelo corrute midade de interesses específicos e a autonomia da.s organizações sociais" . 61
central de' sete membros do PRI . E as regras do jogo são muito claras. ~ ~las a combinação de um partido comunista (a Liga Comunista) relativa-
PR! tem de ganhar, não importa como. Se há qualquer ~úvida quanto a mente despolitizado, um semirnercado, e uma auto-administração semi-in·

....
ampla margem da vitória necessária ao PRJ, as urnas são fal.s1~cadas ou subs: <lustrial resulta num perigoso equil fbrio mantido pela ditadura pessoal de
) tituídas.sis Por outro lado, "se a cooptação dos grupos d1ss1dentes falha . e Tito e não por mecanismos institucionalizados seguros. 62 A prova crucial,
)
provável que ocorra repressão". 59 O PAN não é uma ameaça~, rra verdade, para a Iugoslávia, ainda não ocorreu. Não estou dizendo que a Polônia seja
contribui para rnan ter viva, como uma oposição de d1re1ta, a im~gem revo· o futuro da Europa Oriental, e, mais geralmente, de um mundo comunista
) lucionária de um PRJ de orientação de esquerda. Se os grupos a esquerda liberalizado. Estou simplesmente- dizendo que - sob a doutrina soviética

)
j
...............
~. · ....

~ 264 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS SISTEMAS NÃO·COMPETITIVOS 265

da soberania limitada - o tipo de hegemonia da Polôni:i parece uma ~pç.ão Devemos ter presente, entre outras coisas, nue uma situação d t.
u mais plausível, e j:í testada, e que ainda não podemos apreciar sua s1grufi- - ·· ·
• · e• promovi·cta pela consciência, e que" nenhuma noça- e1 1po
· 11t'gemon1ca
d 0 cara e
u cação e potencial sob essa perspect!v.a. _ • . ú1~unta
r:
('e um -arte1ato
1. .hegc1nõnico foi identificada ainda pelos a r t.ICU 1a.
d ores d e 1orn13.çoes po 1ticas.que buscam a possibilidade menos monopolis-
µ Voltando à variedade pragmauc::t do parudo hegcmornco, vemos que,
a part ir de 197 3, Portugal poderia ter se situado nes~c ~crreno: ~alazar já 1;i de monopólio, e, menos ainda, pelos estudiosos do assunto. Em s d
- para.fi111al'd
1ug:i1, 1 ades d'111am1cas
. . egunim-o
e de previsão, continua sendo muito
~ havia adotado uma política de permitir certa expressao as opo:1çoes, e se~
port3nte _dispor de uma ~ategoria, como a hcgemõnica, que permite a
sucessor Marcelo Caetano, deu prosseguimento a essa tentauva nas elei-
~J ções de '1969 e J973. De acordo com as disposições portuguesas até a d~r­ lorahzaçao ~~ uma ~ete:mmada ,;strutura política "em trânsito para", ou
~..) ª.
rubada do governo em 1974, somente um pa'.tido, Aç~o Popular N:ic1_0· pdo menos . que se 111c11n~ para . Em terceiro lugar, devemos atentar para
;i ~rand~ vanedade de regimes militares indiretos, e/ou de regimes duais
na!, tinha existência legal; mas, durante o periodo pre-ele1toral de um mes,
~J candidatos independentes podiam realizar campanl.1as e apresentar. chapas ~rnh t a::;cms, para os quais a hegemonia parece representar uma solução
L) oposicionistas. (01110 essa oposição não tinha a s1tu:ição d~ partido, era 1dca!. Finalmente, precisamos de um lugar para os falsos sistemas de
dissolvida após as eleições. Por outro lado, durante a~uele mes. a cad3 qua· p:1rt1do_ predommante, ou_ seja, p.ara o partido predominante que impede,
) tro anos, a contestaç:lo ao regime era muno mais efetiva e perturb_a~ora ~o 1~~ _real1dad~ •. a c~mpet1çao efetiva, ou que deve suas vitórias a eleições
\JC1osas: Ma1~ p~ec1s~nente, qu.ando não se pode supor que um determina-

t~
que jamais foi, ou poderia ser, na Polônia ou mesmo na lugoslav1a . N:io
obstante Marcelo Caetano foi tão incap3Z qu:into Salazar de fazer com d~ .~art1do ~ontmuana predominante se as regras "formais" da competição
1
que esse mecanismo funcionasse. Em 1969 , os candidatos da oposição fize - 1... m praticadas, pode ocorrer que essa formaçã"o política esteja em con-
(.) ram campanha contra o governo e conseguiram 1~% dos votos, ~1.as não dições de ser reclassificada com o hegcmõnica.
obtiveram, devido ao voto distrital, nenhuma cadeira na assem?leia_. N~~ . Uma ob~er:'a~ão final relaciona-se com a unidade de análise - o
() eleições subseqüentes, de outubro de 1973, a oposição voltou a tática Jª partido. ~cspe1te1 ngorosamen te essa unidade a fim de verificar até onde
1ws_ levar!ª· Apesar de muitas afirmações vagas em contrário, o pluralismo
() adotada no governo de Salazar: realizou campanha, m::t$ absteve-se de. v.otar
e recomendou a abstenção. A campanha anti-Caetano de 1973 não foi hvre, socictal e afetado - muito mais do que afeta - pelo partido único ideoló·
() pelos padrões democráticos (por exemplo. o _prob.lem~ col.onial n_ão podia !!ICO. fortemente coercitivo e coeso. Por outro lado, observei que, quanto

ser debatido), mas foi livre pelos padrões onenta1s: nao soas cnucas ~O· n~a coerç~o, maior a autonomia do subgrupo. Isso equivale a dizer
~ )
diarn ser feitas sem medo e as exigências feitas abertamente . como tambem que: quand<: ~c~e_fç!_o _9i_!11inlli, o impacto d~ pluralism~s_9cie_!aLçspon­
t' ) a imprensa publicou sumários da campanha da oposiçã~. Não pode have.r t ;i1~c.o aumenta. Quando chegamos, portanto, às formações políticas prag-
(., 1n_a11cas. confrontamo-nos com o ponto a partir do qual a disposição parti·
,.., dúvidas de que o regime de Marcelo Caetano estava a_ns1oso por ter ca.nd1·

.,
... datos de oposição disputando as eleições, como se _ve pela pena ~e .cmco d:1m e a configuração societaJ inter;igem reciprocamente e penetram-se
anos de suspensão dos direitos político~ para os candidatos que des1sussem. mutuam.ente. Assim, a autonomia do subgrupo e mesmo a independência
.. A lição a ser aprendida com Portugal parece ser a ~e _que uma dnadura uo subsistema podem não estar refletidas nas cadeiras legislativas ou no:;
moderada é incapaz de estabelecer um p'.,drão hegemoruco. Quando ~o-de c:irgos g~vernamentais - que continuam mo.nopólio de um partido - e
"l maniiestar-se, a oposição exige direitos iguais e rejeita as regras e restnçoes alllda .ass.1m, afetar muito a natureza e o programa do partido monopolista .
/'-.,
.,
..
de um sistema de dois pesos e duas medidas. Ao que parece, portanto, o
partido hegemônico só é aceito, ou aceitável, como um afrouxamento de (
uma ditadura até então fortemente coercitiva.
No extremo tot3litáno do unipartidarismo pergunta-se, nas pala·
bso significa que o partido já 11ão é, sozinho, uma unidade de análise su-
l 1c1en1e ou mui to reveladora .
A medid:i que o partido como medida é deixado de lado a questão
'l''.1cre ta passa a ser: continua válida a distinção entre p::trtido ~nico prag-
'"')

,.,-.,.:., nas de Aron, até onde um partido monopolista pode ser monolítico? N~ ii.3tico, _de um lad·o. e partido hegemônico pragmâtico, do outro? Em
l'!fll', nao. Mas em parte sim. Veja-se a Espanha {monopartidári:J, embora
extremohegemónico, a questão é: até que ponto um sistema_ ~ão<ompetl·
tivo se pode tornar não-monopolista'? 63 De acordo com a analise preceden· •l•· modo c:i<la vez mais atrofiado. até 197 5) e o México (hcgernônico ).
te, 3 respost:i a ess:i última pergunt3 não é confortad~ra. Com exceçã~ -\~ 1.0 rps e pressões societais s!Io acomodadas e se desenvolvem em ambas
do Máico. temos antes c:indid:itos do que casos reais. Mas parecc·ll~• " ".~ '.tu~ções. 1:_ffo ob.stante, se a ~spanha tivesse adot'1do uma disposição
~, que seria 1niopia declarar que o p.idr:lo hegemónico é uma ocorrê11c1:i - mo111ca, n~o sena o mes1no sistema político. A conject ura é implau-
"11c· I - como o caso de Portugal mostrou - mas indica o valor duradouro
fant:ismagórica.
·~
~

'"" ..... =+=44f?+} ;; !L


~

) 266 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS


••
)
J
da d JS
on d
' ç«o Essa distincão também faz ressaltar a questão anterior de até
. tm a . • . · 1
e um monopólio se pode tornar não-monopolista. A JU gar pe as ev1-
·1· .
l ·
NOTAS
••
••
t
dências existentes, a elasticidade de um monopo 10 termu;a_, aparen e-
J
mente , quando um partido único pragn:ático não pode, ou e incapaz, de
) reestruturar-se ao longo de linhas hegemonicas. . _ _
De acordo com uma estimativa ampla, a ma1ona dos pa1ses e quase
dois terços da população mundial são governados por_ partidos ~nicos_-
v n a estrutura que permite dois tipos principais e cinco subtipos difi-
c~mente será redundante ante essa ordem de magnitude. O pro_blema
65

••
)
não é nos faltarem casos - o problema é que uma alta proporçao dos
casos é demasiado fluida para ser classificável , ou classificada , com qual · ••

1. Supra, 2. 3.
quer segurança. 2. Supra , 6.l.
)

••
3. As medidas de competitividade (alta o u baixa) existem hoje em espantosa varie-
J dade, em especial com relação aos Estados Unidos. Ver David G. Pfeiffer, "The
measurement of inter-party competition and systemic stability", A.PSR, j unho
) de 1967; R.E. Zod y e N.R. Luttbeg, "Evalua tion of various meas ures of state

)
J
party competition", WPQ , dezembro de 1968; A. John Berrigan, "lnterparty
electoral com pe tit ion, stability and cha nge", CPS, julho de 1972; David J.
Elkins, "The mcasuremen t of party cou.pctit ion", APSR, junho d<: l 974; e
infra. nota 5.
••
)
)
~. A. Pm~worski e J. Sprague, "Concepts in search of explicit formulation: a
study in measurement" , MJPS, maio de 1971, pp. 199-212. As citações são das
pp. 208 e 210.
5. Ver D. Lockard, New England State Pofitics, Princeton University Press, 1959;
•••
) Dye, Polirics, Economics and the Public: Policy Outcomes in A rnerican States,


op. cit.; Richard E. Dwason, "Social developmen t, party competition and
J policy", in Chambers e Burnham (orgs.), Th e A merican Party System, op. cit. ;
Charles F. Cnudde e Donald J. McCrone, " Par ty competition and we lfare pol·
) ides in the American states", APSR, setembro de 1969, pp. 858-866;IraShar·

)
kanski e Richard l. Hofferbert, "Dimensions of state politics, economics and
public policy", ibid., pp. 867-878.
6. Brian Berry, Sociologists, Economists and Democracy, Collier-Macmillan, 1970,
p. 152.
•f
)
·7. E:xit, Voiceand Loyalty, op. cit. Ver supra , 3.1.
8. Pelo que sei, a palavra "unipartism " ("unipartidarismo") foi criada por James
Coleman e Carl Rosberg (orgs.), Political Parties and National lntegration in
Tropical Africa, op. cit. A palavra é usada aqui como sinônimo de "partido
•4
) único" e/ou "monopartidarismo". 4
9. A questão foi examinada em detalhe, supra, cap. 2.
) 10. A li:; ta é extraída de Charles L. Taylor e Michael C. Hudson (orgs.), World 4
Handbook of Political tind Social lndicators, ed. rev.;· Yale University Press,
) 1972, pp. 49-50, e se refere a países co m fraciona.rização zero de cadeiras em f
suas legislaturas.
) 11. A distinção entre ditadura totalitária e autoritária é resumida, por exemplo, 4
por Fcrdinand A. Hermens, Tlte Representative Republic, University of Notre
Dame Press. 1958, pp. 134-1 4 1. Franz Neumann sugeriu 11ma divisão tripartida
4
)
mais elaborada e ntre (i) ditadura simples (que corresponde ao tipo autori tário ),
(ii) ditadura cesarista (com um líder caris mático e o apoio das massas), e (ü i) •
)
ditadura totalitária ("Notes on the theory of dictatorship", The Authoritarian

4
267
l 4
•..
)

)
268 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS NOTAS 269
)
) anú lhe Democratic S1are, Free P1ess, 1957, particularmente pp. 233-24 7) is. Supro, 2.2. Essa é a linha adotada per Finei, Comporotive Governmenr, op. cit.,
Para um exa~c an:ilítico d :i bibliografia sobre di tadura, ver G. Sartori, "Appuntl c:ip. 12.
) per. ~na teoria general e dc Ua di ttatura", in Klaus von Beyme torg.), Theory and 29. IVorld Hondbook of Poliricol ond Social lndicorors (ed. de 1972), op. cír.,
Polrncs - Fwc~1ri[t fur C.J. Friedrich , Nijhoff, 1971, pp. 456-485. Mas ver pp. 51·52. Quad ro 2.7. O menor J:egistro possível do índice é - 4,00, o mais
) espcc1alme n1c o ultJmoensaio de Linz, infra , no ta 13. a ito , + 4,00. Os dados são de Ralph L. Lowenstein e da Escola de Jornalismo
12. Ver, a esse respeito, Carl J . Friedrich e Z.K. Brzczinski, Toralirarian Dicrarorship d <1 Universid ade de Missouri.
) and A w.o cra~y '. H~va;d Uni vcr~ ity Press, 195 6 (etl. rev., 1965) ; C.1. F ric<lrich 30. Urna série mais ampla de indi cações relacionada s com a autono mia do subgrupo
íorg.). 1oraluananism, Harvard University Prcss 1954 · e Leonard Sl1apu · 0 ...rh é o ferecioa p elas classificações per iódicas "Survcy of freedo m", publicad o em
e.ºn.cept o f tota li tananism
. " , Survey, outono de' 1969,' pp. 93-95, e Toralirar.
• e Freedom ot Jssue, sobre (í) díreitos pol íticos, (ü) direitos civis, (iii) si tuação
)
1
.imsm , PaJI M~ll , l 9_72. Recentemente, o conceito de to talitarismo foi questiO· da liberdade, e (iv) tendências. No número de j ulho-agosto de 1974, em 153 p:u'-
?ªd?. ~er a d1scussao ~m C.J. Friedrich, Michae l Ctutis e B.R. Barber, Total· ses cobertos, 63 são classificados corno nào·li vres e 46 corno parcialmente livres.
) 11ano11wn
f . • - Three Views ' Pracger • 1969· Com refo~re- nela
111 Perspecrivt · espeCI·• Os países com uma boa história de direitos políticos (classificados como 1) são
' 1.:a aos estudos sov1et1cos, a revisão da noção é bem argumentada por Frederich apenas 22.
;· J. fole~?º • Jr.,. "Toward a reconccptu:ili1.at1on of political change in the Sovic! 31 . Robert A. Nisb.::. The Quesr for Community, Oxford University Press, l 953,
i• Urnon , CP, Janc~o de 1969, p p. 228-244. Ver também a sinopse de Ghita p . 202, e cap. 8 em geral. Fiz a an.álise do totalitarismo ao longo dessas linhas
) ; lo nc scu, Comparo(lve Communisr Po/irics, Macmillan, 1972. em Democrotic Theory, op. cir., cap. 7.
!: 13. A ~nál ise mais sutil e exaustiva do autoritarism o em se u contraste com o totali· 32. Finer, Comparotive Government, op. cir., p . 74.
) r tansmo enco ntra-se n os vários escritos d e Juan Linz sobre a Espanha. Verespe· 33. Essa expressão é tomada de Huntington, em Authoritoríon Polítics in Modem
) ' c1aln1ente "An. authoritarian regime: Spain", in AIJardt e Rokkan (orgs.), Mass
Pohrrc.s, op. cu., pp. 251·275 ; e "Opposition in and under a n authoritarian
Society, op. cit., pp. 15· l 7. Não adoto, p orém, sua dicotomia "exclusionário
versus revolucion:Uio", pois os dois termos pertencem a dimensões diferentes.
) regime : Spain", ín RA . Dahl (org.), Regimes a11d Opposiríons, Yale Universi~y 34 . Eu colocaria neste contex to a idéia de "pluralismo limitado" desenvolvida. por
~ress, 197.3, pp. 171-259 . Linz publicou um estudo geral, teórico e comp arat ivo , Linz com relação à Espanha da década de 1960 (ver acima, nota 13 , e em Dahl,
.. Regimes ond Opposirions. op. cit.• particularmente p p . 188). Por outro lado,
) To~ah tanan and authoritari~n. regin;es", ín f-.1. Green stein e Nelson W. Polsby
(orgs._), The H_ondbook o{ Poht1cal Sc1ence, Addison·Wesley. 1975. "pluralismo limitado" também foi aplicado - e eu diria erradamente - ao siste-
14. Huntmgton, in Huntington e Moore (orgs.), A uthoritarúm Politics in Modern ma soviético (Boris Meissner, "Totalitarian rulc and social change", Problems of
) Communism , novembro-dezembro d e 1966, p. 50), o que contribui para expli·
Society, op. cir., p. 15.
) 15 . Polirica/ Porties and Polilicol Developme11t, op. cil., esp. 38·40. car minha relutância em relação a essa denominaç5o.
16. Supra , 2.3 e l.2. 35. Essa sugestão é, com freqüência, associada à rejeição da oposição totalitarismo·
) 17. Supro , 4.2. democracia. Mas quando uma dicotomia é si mplista, não se segue que seus ter-
18. Supro, 5.3. mos devam ser condenados ao ostracismo : podem ser reconcebidos e utiliz ados
) 19. Em Tire P~lif/cs of the De1•eloping Areos. op. ci1. , pp. 43.44_ de maneira não dicotômica.
20. Ver especialmen te Neil A. McDonald, The Study of Poliricol Parties, Rand om 36. Supra, 2.1.
) Housc, 1955, pp. 3 1·32. 37. Ver o capítulo de LaPalombara e Weiner cm Polirícol Parties and Political Devel-
21. Como A.H. Moore diz: 'Todos. os partidos únicos estabelecidos devem imprcg· opmenr, op. cit., passim; e especialmente vol. Vil da série SSRC sobre desen·
) ?ar-se ~e va lor para gerar leg1t1m1dade para seu~ regimes e govcma.n;es. Mas as volvimento pol{tico, Leonard Binder et ai., Crises ond Sequences in Political
1deol?g1a.s desses p:utidos variam de m.llleíra significa tiva ... " (em Aurhoritarian Developmenr, op. cit. Ver também Dah l, Poliarchy, op. cit. , cap. 3.
) Polm_cs in '.' Jodc;n Society, .ºP· cit:. p. 57). l'\ão l!ncontro sentido, po rém, em 38. Em Aurhoritarion Polírics in Modern Socie1y, op. cit. , p. 15. A referência óbvia
sua t1polo~1:1 quad ru ~la das. 1deolog11~ unipartidárias (ibid.), onde a I tália Caseis· é, no caso, Barrington Moore, Jr., Social Origins of Dictororshíps ond Democ-
} ta, por e xemplo, esta reunida , na m esma divisão, à Cuba de Casuo como in· racy, Beacon Press, .1966.
tercssada na "transformaçào 39. Estendo-me sobre ess:i dificuldade, com referência especial à sociologia dos par·
) . 'f _ total", de modo " totalitário" e "quiliasta'" , embo ra
em termos d e um3 unç;io expressiva". tidos, em meu artigo " From the s ociology of politics to politic.11 sociology",
) 22 . A função Cln.alizadora (e enc~~eadora) dos partidos é examinada supra, 2.1 . in Lipset (org.), Politics ond lhe S ocial Sciences. op. cír. Es~e aspecto será fo-
23. ln Dahl, R~g!1~es 011d Oppos111ons, op. ci1. , p . 253. calizado no vol. 11.
) 24. Sob:.e a L1 b~m.' ver J. Gus Uebc ~O\\', in Colcmon e Rosbcrg lorgs.), Politicol 40. Essa a dvenência é justificada pel<Js muit os estudos existentes focalizando as 1
origens sociais dos responsáveis pelas decisões, ger:ilmen te deputad os. Ver cm
)
Por.1es and /lononal lnregronon 1n Jro pical A/rico. op. cir.. pp. 448·481 .
25 . Ouuos. exemplos afncan~s . pod~r.iam se~ incl~1'dl)• rnas _ com o explicamos
1nf:a, :ap. 8 - ª! formaçoes po l 1 t1 ca~ fluidas nao poú<!m se rvir de prova e m re·
Decisions and Decision·Makers in the .Modem State, Paris, UNESCO, 1967. a
seção "Parliamen tary profession". que compreende seis pn íses. Ver t:imbém
'I
) laça? as formaçoes consolidadas. A Tun ísia é u m exempl o poss! vel , p orque 0 Dwainc J\farvick (o rg.) , Politicol D ecision·Makers: Recn1i1111e111 and Perfomr·
ance, Free Press, 1961.
1
par11do Neo·Des tour rcmont<1 a 1934.
) 26. O cst~do empi'r ico sistem~tico d~. Putnam, The Beliefs of Politicians - fdeoiogy. 41. Acima , nota 33.

Conf/1c1 ond f!emocracy m Bnra111 and lraly, op. cit., confirma essa conclusão. 42. N:i Alem:inha Oriental, o Partido Liberal Dcmocra1a alcm:Io ( LDP) e o Partido ,l
) 27. s .o brc as noçoes .d e desenvolvimento natural e impo~to, ver Blondel. fntroduc· Nacional Democrata {NDP) sobre,~vem como partidos apenas nomin ais, p~ b
11on ro Compora11ve Government. op. cir., pp. 70· 76. · adrmliram, desde 1949 . ..ser a ~ua missão a de agir como 'co rreias de tran ~mi s·
)

)
)
,1

) "·
'
\\ p
) 270 PARTIDOS E \1STEMAS PAR TIOÃRIOS NOTAS 271 e,:.
) ·\ p
p. 398). O Partido Fascis•a italiano e o Partido Nazista foram ambos postos de

..•
>ão' com a finalidade ptticular de preparar as cl:lsses médi:J.S para a 'sociedade
) sem classes'" (Chita lortescu, The Polit1á of rhe Europ.:an Communisr Srares .:scu ta bastante ineficientes, pois só diziam ao ditador o que ele queria ouvir; p
PCleger, 196 7, p. 25 l ). ' .: o caso não foi muito diferente com Stalin.
) 43. Em Allardt e Littunen (orgs.), Qeavages, Ideologies and Parry Sys1ems, op. 53. Supra, 3.1. ~
cit. ( 1964), pp. 283-284. Ver também Wiau, 'íhe hegemonic party system an H. Supra, 2.3.
) Poland", in Allardt e Rokkan (orgs.), Mass Polirics, op. cit. , pp. ~12-321. 55. A bibliograti~ é extensa. Ver W.P. Tucker, Mexican Government Today, Minne-
.i.i. Supra, 6.5 . sota Umversny Press, 195 7; Robert E. Scott, Mexican Government in Transi·
) 1ion, Illinois University Press. 1959,.: o artigo de Scott, "Mexico: the established

••
45. Dahl adotou recentemente "hegemonia" para indicar um regime, e "hegemonia
fechada" como o oposto de "poliarquia". Essas categorias são definidas ao longo revolution", in L ucian W. Pye e Sidney Verba (orgs.), Polirical Culture and
) Poli1ical Development, Princeton University Press, 1965; Martin C. Needler,
das duas dimensões de liberalização ( c ontestação) e inclusividade (par t icipação).

..••
) Y?.r Poliarchy. op. ci1., particularmente pp. 7-8. Evidentemente, minha noção 'íhe political àevelopm~nt of Mexico", APSR , junho de 1961 ; L. Vincent
de partido hegemónico é muito mais limitada, pois é baseada num contexto Padgett, The Mexica~ Pol!ric.a/ Sysrem , Hough ton Mifflin, 1966, e um artigo
) part idário. Uma vez reco nhecida essa diferença, pode-se dizer - nos termos de an terior dt: Padgett, Mex1co s one-party system: a rev:iluation",APSR, dezem·
Dahl - que o partido hegemónico afasta-se de uma "hegemonia fechada", no bro de 1957; Frank Brandenburg, Tire Making of Modem Mexico, Prentice-
) sentido de uma "hegemonia inclusiva", ao longo da dimensào de maior inclusi· Hall, 1964 ; Kenneth F . Johnson, 11'fexican Demccracy: A Criticai View, Allyn
& Bacon, 1971. Um estudo contraditório é o de Pablo Gonzales Casanova

....•..
vidade. Sob essa perspectiva, as an:ílises minha e de Dahl são complementares.
) Não aceito, porém, o uso que LaPalombara e Wiener fazem do termo: " ... um Democracy in Me,xico, Oxford University Prcss, 1970, que é, na verdade, um~
sistema hegemônico seria aquele no qual, num período prolongado, o mesmo descrição da natureza autoritária do sistema mexicano e, em teoria, uma defesa
) partido, ou coalizão, dominado pelo mesmo partido, conservasse o poder go· de seu valor democrático.
vernam ental". (Political Parties and Political Developmenr, op. cit., p. 35). Não 56. Em comparação com o Partido Comunista polonês (ver os números na nota 49)
) só a sua conceituação é demasiado ampla (chega ao ponto de incluir as coali· o PRI não é absolutamente generoso. Evidentemente quanto mais forte o con'.
zões). como também aplicam o termo mais forte aos casos mais fracos. Uole do partido hegemônico, com mais segurança pode e le distribuir cadeiras
) 46. Em Allardt e Littunen, Cleavages, /deologies and Party Systems, op. cir., p. 283. aos partidos satélites. Sob essa perspectiva, a reforma e leitoral mexicana de
47. As disposições eleitorais evidenciam amplamente essa conclusão. "Sob os sis· 1962-1963 indica maior autoconfiança.
)

•...
temas de partido hegemônico, os partidos e grupos existentes formam uma lis ta 57. Brandenburg, The Making o/ Modern Mexico, op. cit., p. 141. As diferenças

......
conjunta ( ... ) O papel principal de um partido elimina a rivalidade política entre estão · no fato de que o "ditador constitucional" romano durava apenas seis
os vários partidos ( ...) Um acordo quanto à distribuição das cadeiras no parla· meses e não indicava - como faz, na pr:ític3, o presidente mexicano - o seu
) menta, ou dos cargos nos órgãos governamentais locais, é celebrado antes das sucessor. Assim, os mexicanos não evitam, na realidade, a "ditadura pessoal",
eleições" (Wiatr, loc. cit., nota 46, p. 287). Ver, em particular, a análise das elei· mas o governo vitalício arbitrário de um homem.
) ções polonesas de 1957 por Zbigniew Pelczynski, in D.E. Butler et al, Elections 58. A maioria dos autores deixam de lado as eleições mexicanas ou são muito in-
gênuos quanto a isso ( por exemplo, Barry Ames, "Basis of support for Mexico's

......
Abroad, Macmillan, 1959, pp. 119-179; e também J. Wiatr (org.), S1udies in
) Polish Politica/ System, The Polish Academy of Sciences Press, 1967, pp. 108· dominant party", APSR, março de 1970). O fato é que os reswtados não podem
139. ser controlados, não havendo dúvidas de que, se necessário, são falseados. Ver
) 48. Em Allardt e Littunen, Qeavages, ldeologies and Party Systems, op. cir., p. 282. Philip B. Taylor, Jr., 'íhe Mexican elections of 1958: affumation of author·
Essa interpretação é tão plaus ível quanto a pretensão de Franco de que a Espa· itarianism?", WPQ, setembro de 1960. Em 1969, quando Correa Rachà dispu-
) nha era uma "democracia orgânica". tou contra o PRI o governo de Yuc3tán, as urnas foram corüiscadas por forças

....
49. A distribuição de cadeiras - nas eleições de 1965, 1969 e 1972 - continuou armadas a mando do PRI , e o candidato do PAN "perdeu". Há casos anteriores
) basicamente inalterada, com 255 cadeiras (55%) para o Partido Comunista, ainda piores.
117 cadeiras para o Partido do Campesinato Unido, e 39 para o Partido De· 59. Bo Andersen e James D. Cock.roft, "Co nuol a.nd cooptation in Mexican pol·
) mocrata, mais 49 cadeiras destinadas aos independentes (que incluem os grupos itics", in L. Horowitz (org.), Latin American Radicalism, Vintage, 1969, p. 380.
católicos). O Partido do Campesinato Unido e o Partido Democrata votam sem · 60. Ver, no artigo de Finer sobre 'íhe quasi·democracy" sua inteligente visão geral
) do M.éxico (Comparative Government, op. cit., pp. 468-479). "EsoJeric democ·
pre com o Partido Comunista. Um certo grau de independência limitada só exis·
te entre os catóUcos independentes. O grupo católico mais forte e realm ente racy" é, porém, a avaliação de Johnson. Mexican Democracy: ;t Criticai View,
)


i~dependcntc é o Znak. Mas, com o passar dos anos, o grupo Pax, inicialmente op. cit.
".1s.to como um .cavalo de Tróia, passou a desempenhar um papel de mediador 61. Andrew C. Janos, in Huntington e Moore (orgs.), Authoritarian Policies in Mod·
utal entre a Igreja e o Partido dos Trabalhadores Unidos, isto é, o Partido Comu· ern Science. op. cit., p. 444.
ntst.a. Na eleição de 1972, o Znak obteve sete cadeiras e o Pax, cinco. 62. A bibliografia sobre a Iugoslávia é, e m grande parte, insatisfat6ria. Uma avaliação 91!

\
50. Po/carchy, op. cl1. , p. 7, Fig. 1.2.
51. Essa me parece ser a única re formulação aceitável da afirmação de Neumann de
qu~ '. 'mesmo o partido totalitário depende de uma oposição atuante. Se es ta não
recente e pouco convincente é M. George Zaninovich, "Yugoslav party evolution:
moving beyond institutionalization", in Huntington e Moore, ibid. , pp. 484·
508. Ver, mais cm geral, Adam B. Ulam, "Ti toism", in t.LM. Drachkovitch
f
••
••
e:-.amr •.deve ser supos ta" (em Modem Po/itical Parties. dp. ciJ., p. 395). (org.), Marxism in tire Modem World, Stanford University Press, 1965. Sobre
52. E.u hmato ao caso h ege mônico a generalização de Neumann de que, num sis tema a possibilidade de a Liga Comunista não ser mais um partido, confio num obser·
ditatorial, o partido "s.:rve (. ..) como um postei de escuta necessário" (ibid.. vador participante: "Com uma modificação de nome , tomando -se 'Liga Comu·

1 9lt

)
rmta', CSsc ó rgão polí1ico não deixou tot:ilrndntc de ser um p:u-11do político \'JIJ
(nem deixou de ser um p:i.rtid.o po l i'tico com relação à doutr ino ...)". (Jovan
D;ordj cvic, "Political pC>wer in Yugosl:ivia" , GO, janeiro-abril de 1967, p. 216). 1ORMA ÇÕES POL(TICAS FLUIDAS ~QUAS E-PART IDOS
63. Para Aron. es~as quc~tões se relacionam com a transferênci:i da ênfase da década
de 195 O para a de l 960, :io passo que, na minha concepção, rela cion am-se com
pon tos diferen tes ao longo do espectro part idário. Ver "Can the party alone run
a one·party sta:e - :i disc ussion", GO, fevereiro de 1967, p. 165.
6-1. /ll ws exemplo s :in tertores, do Paragua i e da Coréia do Sul, pert encem, ou nas·
cem,de,sc co ntexto.
65. Ess:i é a es timativa de Jupp , Polirical Porfies, op. cir., pp. 5-6. Ver também no-
ta 30.

8.1 Advertências metodológicas


A 11pologia até agora examinada não pretende aplicabilidade mundial. Em-
hor:1 não exclu<J os Estados que são novos, no sentido de terem adquirido
rt:ccntemente a independência nacional , não preten de incluir os Estados
qtH' são novos no sentido de que partem do nada como é o caso da maioria
dos pa íses africanos. A distinção não se faz, portanto, entre Estados velhos
e novos. mas sim entre Estado!> formados e Estados sem forma . Por Esta-
dos for~ados, entendo nãõ apenas os sistemas políticos modernos' cõilíõ
t:irnbém, e mais geralmente, os sistemas políticos cuja identidade é propor-
~1on:ida seja por um registro histórico adequado (por exemplo, a América
tlu Sul). seja por uma consolidação anterior à sua independéncia (por exem-
plo, a fudia). Por Estados sem forma, entendo as formações políticas cujo

\ \
processo político Tã:riarnenre- m-âffêTênciado e difuso e, mais peculiar·
mente, as formações políticas que se encontram ainda fluidas, numa fase
iuicial de crescimento altamente volátil .
Formados e sem forma são idéias notavelmente imprecisas - como
\ é nossa int enção. Assim, na minha terminologia, "formado" é ma.is amplo
<lo que "estruturado". Por exemplo, os Estados latino-americanos s2o sem
\ dúvida formados - isto é, diferenciadosecaracterizados pela estãbilidade
<1Z'lnterações - m~ um de seus sübsistemâs~ o partidári9_, raramente adqui-
nu o urante seus ciclos vitais intermitentes, consolidação estrutural.2 .P.L.

.. um ladõ, embora minha co.nsolidação est'?}tural esteja próxima da..l!.!.Eil.Y·-


r~são , 3 é mais limitâãa<rõ -tjUe o conceito de !!.untington, e dele di-
ferente. De acordo com Huntington, "quanto mais adaptável uma organiza·
1::1o ou processo, mais aifáffiente_instituciÕnalizado é; ( ...) quanto ma.is
rf1tido;- merior seu nível de institu cionalização" .4 Em lugar disso, minha
noçao ae consolidação éstrutural dá ênfase precisamente à viscosidade,
1
t, resiliência e impacto imobilizador das estrutur:is. 5 Em particular, e concrc-
i
t;,mente, um sistema partidário toma-se est ruturado quando contém parti·
r..ios de massa solidamente entrincheirados. Em outras palavras, o~os.
úc._m~s a - os verdadeiros - CQAstituem um bom indicador de um sistema
p:i!tidário estruturado. 6 E minha insistência na expressão "consolidação

L 273

r
e

)
.!H PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDARIOS
FORMAÇÕES POLl°TICAS FLUIDAS 275
)
estrutur:il" significa que viso a i.:m conceito rn;lls simples e muit_o men?s
9:l
:imbicioso do que o de institucionalização - n:i verd:ide. ~ue n_ao desejo
na realidade equivaJe a um tipo permanente, ;'abrangente", que é passível
de objeções por dois motivos principais: pr irr.eiro, por sua fui ta de defu1i- s
)
)
emaranh:ir-me nesse último. De qualquer modo. o pom_o 1med1a~amente
em questão é o de que as formações políticas sem forma toram dehberada-
m~n te ignoradas, até agora, pelo meu argumento. Devo. agora. expltcar
çío e em conseqüência seu enorme :i.lc:ince (desde o Japão até Gana em
1957- 1960) e, segundo, pelas palavras que o nomeiam em conjunção com
sua colocação dent ro da classificação. Um partido que é chamado de não·
••
)
por quê. . .
Entre outras coisas, h:i atu:tlmente l.rn desequilíbrio acentu:ido entre
3 riqueza dos sofistic:!dos esquemas con ceituais desenvo!vidos para o Ter-
:iutori tário dominante e colocado no meio do espectro encerra a sugestão
Je que serve de ponte entre o unipartidarismo e o bipartidarismo, suges-
tão reforçada pelo fato de que o livro focaliza formações políticas em flu-
••
)
)
ceiro Mundo em rel::lç:io à pob rez:i dos esquemas conce1wa1s conse.rvados
para 0 mundo ocidental. Ainda que apenas para r~~ta~elecer_ o eq~tl íbno,
um reexame da expe riência ocidental, ou da expenenc1a de upo oc1de~ta~,
xo que podem, por definição, flutuar numa das duas direções. Isso signifi-
ca que as evidências imprecisas deduzidas de formações políticas fluidas
são postas em correlação com formações políticas fo rmadas. Assim sendo ,
••
)
)
merece, ao que me parece, grande prioridade. Em segun~o. lu~a_r, e -~nnct ­
palmente, um tratamento à parte dos .. Estados em bnona~1os JUS~ti~ca-~e
fortemente por motivos metodológicos. A natureza relo.tiva da d1st~nç_ao
toda a construção fica enfraquecida. Se é enganoso extrapolar dos Estados
"acabados" para os Estados sem forma , certamente é errado extrapolar de
volta dos segundos para os primeiros.
••
) entre Estados formados e sem forma não invalida o fato de que as distan-
cias quase astronômicas e as heterogeneidades têm de se r levadas em conta.
Portanto, a inclusão das formações políticas voláteis no contexto geral da_s
O primeiro caveat é, portanto, o de que o problema das formações
políticas fluidas não pode ser tratado - por motivos tipológicos - pela
interpolação de uma nova categoria entre as categorias destinadas a forma-
••
)
)
formações políticas fo rmadas deve, no mínimo, ser tratad~ com o conheci·
menta claro dos problemas de com paração existentes. Dois prob~e m~s ~Or·
relatos exigem atenção preliminar: como rntar (i) tratamentos t1polog1cos
ções políticas ocidentais, ou do tipo ocidental, já consolidadas. Não pode-
mos classificar em pé de igualdade o que está formado e o que não tem
forma, as nações que estão construídas ao lado da "construção de nações" .
••
}
)
errôneos e (ii) disfarces euromórficos.
Como o estudo isolado mais influent~ sobre. os novos Estados do
mundo afro-asiático continua sendo Th e Politics of the Developing Areas ,
E isso significa que realmente necessitamos d e classes e/ou tipos residuais e
provisórios. A natureza residual de uma classe pode ser evidenciada topolo-
gicamente, isto é, pela sua colocação, e esse prnblema pode ser solucionado
••
)
)
o
em nada se reduzirá o valor estimuJante do pensamento de A.lmond e seus
colaboradores se o erro de tipologia for ilustrado com referência ao seu
estudo pioneiro. Em l..2§0. ~m~~? _cl~Q.cou. ~s _si_st~~ 1?;ª.rtidári?s, ~-e
por um recurso simples. A natureza provisóna de uma categoria cria, po-
rém, problemo.s mais complicados, aos quais voltarei.
Pode-se, porém, colocar de lado os erros tipológicos e ainda assim
••
>'º
)

\'V
,;
....)
ac~rdo com ~co tipos: to.~al1tano ,\Q)..~uton_tano_, C~?~auto.n_tan~
fi)'
d_q_m.inante,~!_'c~~petiti~o ?i~artidá_rio '(S) ,m.~hpart1~ano c_ompet_1t~v~.
Os dois primeiros e os dois u1t1mos tipos seguem a class1ficaçao t_rad1~1ona1
1
tropeçar na escolha de termos, e, com isso, quero dizer os atributos e pro-
priedades associados com a nomenclatura escolhida. Esse ponto ulterior ê
particularmente relevante com relação aos estudos da área africana, que
••
•'
e não exigem comentários adicionais. A novidade es~á no terce1r~ t1p,~, a
c~egoria de na-o-aworitário dominante. ~~ond 1I1d1ca que_ esse tipo ~n·
contra-se habituaJmente nos sistemas pol íllcos onde os movimentos nac10-
representam uma bibliografia mais compacta do que os estudos sobre o
Oriente Próximo ou o sul da Ásia, e pode ser ilustrado com base em outro
simpósio importante, Political Parties and Naiiono.l lnregration in Tropical
••
n.âfistas foram importantes para a obtenção da emancipação" .8 Coi:no se
trata de um critério totalmente novo, perguntamos como a categona em
A/rica. 9 Em sua introdução, Coleman e Rosberg dão ênfase a "tendências
••
.
gerais", e não a classes ou tipos específicos, e estabelecem uma distinção
questão é incluída numa classificação baseada ~~.outros_ critérios. Uma - dentre os Estados africanos unipartidários e "d<; ~um partido donúnan-
) explicação plausível é a de que o tipo n ão·autontano dorrunante pretende
~~~ embora implicitamente, uma categoria provisória e residual p~ra ~s
novos Estados. Provisória por ser identificada pelo seu rake off, isto e,
te" - entrl'(i) um padrão pluralista pragmático e,(ii) uma tendência cen-
tralizadora revoluciÕnária. Trata-se, sem dúvida, de uma abordagem caute-
losa e flexível. Mas, ao examinarmos os atiibutos relacionados em seu

••
.
ºsegundo a maneira pela qual o tipo tev~ início; e residual porque a cate~o­ quadro, vemos que "ideologia" é o primeiro e mais importante fator de
ria é na verdade estranha ao resto da classificação. Essa interpretaçao , diferenciação, e que a tendência centralizad-0ra revolucionária evidencia
poré~, é clarame,nte eliminada pela colocação do partido não-a~toritário nada menos que um aspecto organizacional "mono! ítico", caracterizado
dominante no centro da classificação. Longe de ser uma categona ad hoc corno, ou pelo, "monopólio e fusão elevados/totais" . 10 Esta é apenas uma
para os Estados que estão surgindo, o partido não-a'Utoritário dominante primeira amostra. Ao continuarmos com o ex.ame da bibliografia sobre os
••
e
r FORMAÇÕES POu'TICAS FLUIDAS 277
) !i 176 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDARIOS

) í E_artidos africanos. encontramos vários "partidos de massa"; 11 tal como :'"" '·! que se torna ainda maior ao passarmos do uni partidarismo em geral ,
) encontramos panidos únicos africanos que são declarados "totalitários" 12 ;,u do mero unipanidarismo, para sua perfeição totalitária , final. A questão
e/ou assimilados a "sistemas de mobilização". 13 Em todos esses casos, en- r. snnplesmente, como pode um iniciante dominar o conhecimento, e reu-
) frentamos, acredito, disfarces euromórficos e, na verdade, o erro de vestir nir os meios, para uma penetração totalitária, para não falarmos de uma
uma criança nua com roupas ocidentais de adulto. 1us:io totalitária? Em segundo lugar! e por motivos semelhantes, eu diria
) que' os partidos improvisados não podem equivaler a "sistemas de mobili-
Tendo tomado, até agora, muito a sério o fator ideológico, tenho 1.:.iç:Io". O conceito implica no empenho, pelo regime, de uma remodelação
)
fortes dúvida~ se a ideologia pode ser levada ainda mais longe como um ele- d ristic.:i da sociedJdc, e foi desenvolvido especialmente por Philip Selznick
) mento diferenciador importante. A ideologia não dena raízes em qualquer t'lll relação ao exemplo bolchevique.
19
Nessa genealogia, portanto, um
tipo de solo. E embora haja muito pouca evidência de que os fatores ideo- ~ 1 s1em:i de mobilização é parte integrante de um regime totali tário. Se, por
) lógicos re:t!mence têm relevância empírica em contextos africanos, é abso- i>utro lado, não queremos realmente dizer sistema de mobilização, mas
lutamente claro que a maioria do que é considerado como ideologia é sl111plesmente "mobilização", isto é, capacidade de mobilizar, então não
apen:.is retórica política e, ao mesmo tempo, venda de imagem aos públicos devemos dizer mais do que pretendemos.10 Em terceiro lugar, vejo-me Je-
ocidentais. 14 Da mesm:i forma, quando formações políticas embrion:irias ,.ado a imagina:- em que sentido podem os i':.irtidos d0s !!ovo~ Est?dos ser
são declaradas totalitárias, mobilizadoras ele., minha impressão é a de que tidos como "partidos de massa". Apenas num sentido trivial, pouco in teres-
perdemos todo o senso das proporções. Alguma coisa deve estar errada san1e, está o partido de massa aberto a todos e/ou é seguido pela massa do
) com uma disciplina que ao mesmo tempo destrona a União Soviética e povo, isto é, constitui um partido "grande". Em seu sentido teoricamente
) promove um Estado africano aos píncaros do totalitarismo. proveitoso, a idéia marca a passage m de uma percepção personalizada para
Os novos Estados - tal como definidos aqui - não têm tradição esta- uma percepção abstrata dos partidos. Isso significa, por sua vez, que o par-
)
tal anterior. 15 Chamá-los de Estados é juridicamente correto, mas continua tido de massa pressupõe; no público em geral, uma "capacidad~ de abstra·
havendo uma baixa incidência de espírito de Estado. 16 Os novos Estados ção". Ocorrerá isso com os chamados partidos de massa na Africa e em
não são nem mesmo "nações", pelo menos no sentido moderno da palavra grande parte do Terceiro Mundo? Se não ocorre, parece-me que mais uma
) inventada pelos românticos e despertada, ou criada, pela onda napoleônica vez estamos recorrendo a uma homoním.ia enganosa.
) que varreu a Europa. 17 Por outro lado, as sociedades que os novos Estados Voltaremos a essas questões depois de ter examinado as evidências.
tentam governar têm uma estruturação muito mais profunda e minuciosa No momento, devemos repetir e especificar a advertência, como segue:
) ' quanto mais nos aproximamos de formações políticas voláteis, mais necessi-
do que as "sociedades nacionais": são "sociedades celulares", ou socieda-
) des mosaicos, de agrupamentos primários, atributivos, baseados no paren- 1 ramos de uma categorização residual e provisória, não só (i) para classificar,

il tesco e em laços primordiais, mergulhadas na tradição, na magia e na reli- 1


mas também (ii) para afirmar.
) gião, e mapeadas por imperativos territoriais. 18 ~bastante óbvio, portanto,
) .i'· que a "penetração" dos novos Estados enfrenta uma resiliência formidável.
As tarefas de modernização e construção de nação cabem à política. Mas
8.2 O labirinto afr ica no
)
i.
~ a política, e precisamente a política de Estado, ainda tem de ser aprendida. Em princípios de 1974 o continente africano tinha cerca de 55 países, in-
) Nessas condições, a única coisa definida sobre os partidos dos novos Esta- cluindo nesse número os territórios ou províncias coloniais remanescentes.
dos em transição para alguma forma futura é uma enorme desproporção Os Estados independentes não-brancos eram 41 . Destes, os países norte-
) ~ entre metas e capacidades, palavras e atos. africanos são árabes e em número de cinco apenas : Egito, Ltbia, Tunísia ,
) Voltando mais especificamente aos partidos únicos africanos, suas Argélia e Marrocos; e o Egito, independente desde 1921 , dificilmente pode
ambições podem ser, sem dúvida, muito amplas, mas seus meios não o são. ser considerado um Estado novo. Assim. a grande maioria dos países que
) si! qualificam como Estados novos é representada pelos países _su_bsaaria-
Lembremo-nos de que, na experiência ocidental, o partido único veio por
) úl1imo, e pela boa razão, ent re outras, de que o verdadeiro Estado unipar- nos e mais precisamente pelos Estados africanos negros, ex-coloruas. que
tidário pressupõe um estágio avançado de diferenciação organizacional e de alcançaram a independência entre 1957 e 1964. Nesse grupo, Gana (ex·
) Costa do Ouro) foi o primeiro país a se tornar independente, em mar!º
especializ:ição. Assim, o simples fato de que, em vários Estados africanos, o
partido único vem de súbito e que os partidos e a política são quase sinô- de 19 57. Em J964 todos os países da África tropical já se haviam tambcm
11

nimos já sugere que podemos estar tomando sombras por substãncia rn~· - tornado inde pend~n tes (os acréscimos posteriores são despre.zíveis ).
)

)
---,..
'911
)
278 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIOARIOS FORMAÇÔES POL/T/CAS FLUIDAS 279 OI
)
~
) P:ira a mworia dos observaJ.ores, o aspecto mais intrigante pare~e u Quadro 29.
ser, :i medida que surgi:im os novos Estados, a rápida ascensão do governo Golpes na África (da independencia até 1975) OI
) unipartid:írio. Cana, Guiné (independente em 1958) e Mali (independente
em 1960) passarJm ime<li:uamente ao primeiro plano por possuírem, como rimes do Golpe
o
)
se afirmava, partidos de massa totali tários e/ou dominantes: o Partido da Ano de Dominante/ PI

......
cm
) Convenção Popular (CPP), de Cana, liderado por Nkrumah, que já era um indepen- umpar· Mulftpar· Golpe(s)
parudo único em 1960; o Parti Démocratiquede la Gui11ée (PDG) da Guiné. P.iis dência ridário tidário militares
)
liderado por Tourê e presumivelmen te o ma.is impiedoso e eficiente dos Congo 1Kinsha;a) 1960 :1. 1960/ 1965
o
) partidos africanos, e a Union Soudanaise do Mali, liderada por Keita. 21 A Congo {BrJZZl ~ille) 1960 X 1963/ L968
Daomé 1960

......
) Tanzânia (ex-Tanganica e ex-Zanziba r) foi incluída na lista mais tarde, pois X 1963/65/67/69/72
Togo 1960 X 1963/1967
só em 1964 adotou a sua presente forma. Mas a União Nacional Africana 3urundi 1962
) X 1966/1966
de Tanzânia (TA.NU) e Nyerere, seu líder, passaram rapidamente a ser o R.:pública Centro-Africana i960 .'( 1966
) centro das atenções e con tinuam até hoje a frente do regime africano de Alto Volta 1960 .'( 1966
partido único que conta com melhor apoio e se mostra ma.is aberto. 23 As· Nig~ria l960 X 1966/1966/ !975
) sim, em 1964, pelo menos dois terços dos Estados independentes da África Gana l 957 X 1966/1972
Ug:>.nd:i 1962 X l966/l 97 l

......
) evidenciavam alguma forma de governo unipartidário. Mas já em 1964 a S~rra Leoa 1961 X 1967/1968
roda ~stava começando a girar. ,\l:ili 1960 .'(
1968

..•
) Quando a Tanzânia foi criada, fechando a lista dos principais Estados Somáti:i 1960 X 1969
novos africanos, vários dos Estados recém-nascidos "mais velhos" estavam L.:ssoto 1966 X 1970
) Ruand:i 1962 .'( 1973
na iminência de mudar de mãos. lsto é, por volta de 1965 o governo civil Níge r 1960 X 1974
) - e sua contrapartida, a experiência com os partidos - começou a dar lu· Chad!! 1960 X 1975
g'.'.r, ern vários países, ao governo militar. 24 Para encurtar uma história com- Sudfo 1956 X l,58/1964/1969
) Argélia 1962
[!licacta, o girar da roda, a partir da segunda metade da década de 1960, é X 1965
) si;1tetizà"do num quadro.
O Quadro 29 fala por si mesmo sob vários aspectos. Os governos civis
Libia
Etiópia
1951 1969
1974 e.a
) 90
duraram em média cerca de cinco anos - e em nenhum lugar chegaram a
) 10 anos - em todos os 14 países subsaarianos atingidos por golpes (pela lt'!
primeira vez) entre 1960 e 1970. Quanto aos países do Norte da África, bilidade, tanto quanto nos sistemas multipartidários. Se levarmos em conta
)
Argélia e Sudão tiveram um desempenho ainda pior, enquanto a L1ôia per· também as conspirações e os golpes fracassados, então as possibilidades de &!
) maneceu sem transformar-se por 18 anos como uma monarquia tradicional
sem partidos. Colocando de lado a África do Sul e a Rodésia (até 1978),
intervenção militar mostram-se um pouco maiores nos sistemas de mais
de um partido. 15 Não obstante, a afirmação de que "a tomada do poder
as
) pelos militares nas nações novas seguiu geralmente o colapso dos esforços llC!
con trotadas pelos brancos, as colõnias residuais, ou províncias (inclusive as

-
a:.
) províncias portuguesas libertadas ao final de 1975), os Estados tradicionais de criar instituições do ripo democrático: os militares tenderam a não subs-
sem partidos (Etiópia até 1974, e Marrocos), e o Egito (independente em tituir os regimes autoritários de partido único de massa" 16 não foi nunca
) comprovada pela realidade. Na coluna multipartidária do quadro encontra-
195 l e já vítima de um golpe em 1952), os regimes africanos com popula·
) ção de mais de cinco milhões de habitantes que permaneceram inalterados mos Serra Leoa, Somália e Nigéria, e pelo menos os dois primeiros países ~
são cinco: Tanzânia (13 milhões), Quênia (11 milhões), Uganda-(10 mi· tiveram, atê a tomada do poder pelos militares, um desempenho razoável.
) !hões), a República Malgache (ex-Madagáscar; 6,5 milhões) e a República Em particular, Serra Leoa tem a seu credito a mais prolongada e mais forte ti=!
) dos Camarõ.ls (5, 7 milhões) - ao passo que a Nigéria, com seus golpes, tem, tradição democrática entre as antigas colônias, e o golpe ocorreu em Free - ~
só ~ la , quase 59 milhões de habitantes, o que representa uma população town em l 967 logo depois de uma eleição honesta ter derrotado o partido
) maior do que a de todas as antigas colônias francesas juntas. no governo, abrindo caminho a um rodízio no poder para a oposição. Ain· ~
) ~ O quadro mostra igualmente que os golpes militares também ocorre· da mais pertinente é o contraste notável com os Estados ocidentais de par- ~
ram em regimes · uni partidários, apesar de sua suposta solidez e maior esta· tido único. Mesmo se deixarmos de lado os Estados comunistas, Hitler e
) S:!
~
r. . --- · tlt:!
J
".,> Mussolini .1iver:im de ser derrubados por um;i guerra mundial, Franco go. ~: 1 no so quamo perde sign ificação . Torna-se mais enganoso porque supõe
vernou ate sua morte e o regime de Salazar sobreviveu ao seu fundador até ; 111 1 ":ipoio" de massas .ao qual o sistema monopolista só oferece ev!dên-
., J 1974. Em conLraste, o governo (e o carisma) de Nkrumah sobre Gana du. l·i .1s de comprovação impossível. Perde muito de suJ significação, pois 0
rou apena~ seis anos (de 1960, qu:in_d? dissolveu roda a oposição, até J 966),
~) e seu parudo supostamente monolit1co, ou mesmo totalitário, desabou da
L·l1nceito é reduzjdo a indicar a difusão organizacional do partido único.
\ ·;, im, a questão se resume ã verificaç:io de até onde, e até que profundi-
~) noite par::i o dia sem qualquer mostra de resisLência. O regime de Mali tam. J ,,Je, o partido substitui - num tem tório - as autoridades locais e as no-
bem supostamente forte, deu mostras da mesma fragilidade. ' tabilidades até então existentes, com uma rede própria. Se assim for , então
-.) Frente a esses e a outros fat0s , não é exagero dizer que a Africane- é desnecessário, e leva à confusão, envolver na questão um conceito com-
... > gra tem sido, com poucas exceções, o Cabo das Tormentas dos cientistas plexo resultante de uma fase madura do desenvolvimento dos sistemas
polí11cos que se fazem ao mar. A leitura da bibliografia de fins da década r ompe1icivos e a ela necessário .
.., ) de _1950 e princípios da década de 1960 dá invariavelmente a impressão de Até agora, examinei cm geral os transplantes - ideologia, sistem::is
..) coisa falsa. Escrevendo em 1961, Wallerstc::111 afirmava, ousadamente, que
..o sis1ema unipartidário é com freqüência um passo significativo na dire-
wtalitário e de mobilização, partidos de massa - que sfü na realidade eu-
romórficos. Outra abordag.::m é inventar, para os partidos em aparecimento
... ) ç3o do Estado liberal, e não um primeiro passo para afastar-se dele" ,21 e nos novos Esrndos, novas categorias. Em princípio, isso é correto. Na pdti·
..) grande parte d.o que se escreveu na época segue o mesmo espírito. Essas
previsões ot11n1stas continuam válidas apenas para a Tanzânia (outro can-
ca, não é um caminho fácil de trilhar. Como David Apter se distingue co-
mo o estudioso mais inventivo e mais abalizado no campo da moderniza-
... ) didato plausível ao padrão hegemônico pragmático, mas atualmcme em ção, suas noções de, e sua distinção entre, "partidos de representação" e
... ) bu~ca de uma base ideológica). Era cedo demais para Wallerstein utilizar .. partidos de solidariedade" podem ilustrar bem esse aspecto. Os partidos
o Quê~ia, que se tornou independente em 1963, mas ocorre que esse país
.) teria sido o mais adequado ao seu modelo de comunicação nos dois senti-
de representação '-'agem muito como as associações voluntárias nos países
ocidentais'' e definem um "sistema de reconciliação" pluralista, ao passo
._. ) dos~ ~b~~to ª. um potencial liberal, embora em 1965 a rede partidária do que os prtidos de solidariedade procuram eliminar os outros partidos e
Quen1a Jª estivesse desaparecendo e, em 1969, h ê:.,p.:riéncia liberal estives- definem um sistema de amálgama monopolista (por exemplo, o USDEK da
.,..J se terminada. Indonésia, Guiné, Gana e Mali).29 A distinção é bem estabelecida. Mas o
... ) 1
Conjectu ras à p3rte, o fa to é que o suposto dem.iurgo da construção partido de solidariedade não é em si e por si, convincente. Lembra muito
. ) das nações - o partido de massa - teve vida curta ou não correspondeu às o partido "unificado", o parr i unifié (em contraste com o parti unique) de
expectativas. De acordo com Clement Moore (em J 966), os regimes clara- que fala a bibliografia francesa, 30 exceto pelo fato de que Apter se vai~

i
~

mente de partido de massa e ram, ou haviam sido, os seguinres: Gana, Gui- de uma fonte importante, Durkheim, e seu conceito tem pressupostos mui-
n~, _Costa do ~~arfim, Mali, Niasalãndia (Malawi), Senegal, Tanganica (Tan- to mais fones. Uma razão que torna o partido de solidariedade pouco con-
zan.:.i) e TunJSJa. 2 ª Mas o PDCJ (Parti Démocrarique de la Côre d 'Jvoire) \incente é a sua aparência demasiado suave . A palavra ditadura é distri~uí­
...' ) l
1
da Costa do Marfim já começara a atrofiar-se em princípios da década de
1960, e o mesmo ocorreu em grande parte também com o Senegal (lidera-
do por Senghor) e o Malawi. Como Gana e posteriormente Mali registra-
àa generosamente pela América Latina , mas torna-se anátema para a Afri-
ca, embora as diferenças entre Nkrumah (ou Touré) e um ditador seja~1
imperceptíveis. Mas minha principal dificuldade relaciona-se com a possi-
ram golpes, ficamos com a Guiné (o mais claro caso africano de ditadura bilidade de serem os dois t ipos colocados lado a lado e comparados de ma-
t simples), a Tanzânia e a Tunísia. Esta úJtima também poderia ser posta neira significativa. Quaisquer que sejam as deficiências de um sistema ba·
l
.. 1
i
de lado. sob a alegação de que o Neo-Destour é, pelos padrões africanos,
um partido antigo (criado em 1934 e no poder. antes da independéncia.
seado em partidos de representação, s:i beremos que, enquanto a competição
pluralista dura, os partidos que operam esse sistema conLinuarão sendo
.. d~s~e ~ 954) e não se enquadra no argumento. De qualquer modo, a lista o que pre1cndem ser, ou seja, instrumentos de expressão ~como ~refiro )
.. ~1murn1 consideravelmente. Se os partidos em questão realmente se qua- e 1 ou de representação. Mas como saberemos se os clurnaaos pa'.t1dos de
lificam para a denomin::ição de partidos de massa, a maioria deles o foi solidariedade continuarão sendo, a longo prazo, ou :i prazo mais longo,
1. passageiramente. l\fas serão partidos de massa? O fato é oue a relacão de o que pretendem ser? A diferença entre os <lois tipos é, então, a de que
r
1.
.1~ore s~mples e lileralmente con esponde ã list:i dos re~mes de partido um sistema plural de partido s de n:presentação baseia-se em mecanismos
, )
un1c~ ex1~tentes. E parece-me que, ao passarmos do multip:irtidarismo para incorporados que proporcionam a sua manutenção (como um sistema 1.k
~
o u111part1dansmo. o conceito de partido de massa torna-se tanto m:.i.is en- represen1:ição) :io passo que o chamJtlo partido de solidaried:ide n:To dis·
r
..
,.
r
)
r
P,.UUJOOS E SIS TE/v1AS PARTíDAR IOS
FORMAÇÔES POLl°TICAS FLUIDAS 283 ••
••
)
.,::To do poder. r.1:1s se u primado corresponde ao vazio da transiçfü do fim
) - de ·ses mecanismos p:ira fazer com que a solidariedade de hoje conu-
poe ::. ·b ·· · · fo governo .:olonia! para a autonomia, e dele surge. Tendo desempenhado
n do a solidanedade de :imanhã. Em termos c1 erneucos, o pr1me1ro
/i
••
) nue se . _ .. . d db k esse papel, e quanto mais uma ''nova classe" se estabelece como a classe
t .ipo dt;·nota wn sistem:i de .. autocontençao. caractenza
. ct· . od. por_, ee ac 's. dominante, mais nos devemos perguntar se uma disposição partidária é
) de autocorreção, ao passo que o segundo ttpo 10 1ca, se in ica .uguma co1- realmente necessiria e, de qualquer modo, por que deveria ter centralidade
sa, um sistema " auto-agravan l e " . . ;: primazia. 31
)
)
Com toda probabilidade, a criação de: séries de novas categonas ad
f:oc exigirá tempo, ponderação e maior consciência ni.:10Jol~gica ~o que
ocorre geralmente hoje. Enquanto isso, uml posição se~ura e focahz~r os
EssJs pergunt:is podem voltar-se, agora, para um conjunto cumula-
1ivo, embora inconclusivo, de evidências. É fato que, em vários países, a
:!strutura organizactonal da fase de criação de partidos desapareceu (por
••
)
)
sincronismos históricos em contraposição aos cronol6g1c?s: [~s~ ~qu1va1e
a dizer que <levemos buscar categorias adaptáveis ao escag10 inicial e aos
primeiros tempos da evolução ocidental d?s partidos. Es~e enfoque yode
c:xemplo, Argélia, Quênia, Costa do Marfim) ou foi eliminada por um golpe
(como, em 1974, em Mali, Nigéria, Somália, Uganda, Sudão, ~Hger). Em
outro grupo de países, os governantes estabelecidos por um golpe permi-
••
)
)
parecer ainda uma variedade - tal~ez m~s discreta - ~e .oc1~ento~ntnsm~.
Mas se não perdermos a perspectiva, nao seremos ~ais insp.1rado:. pelo ~c1-
dente do que os próprios construtores das formaçoes po~it1ca~ ~o Terc~ir?
tem novamente panidos únicos, embora não aqueles que dissolveram. As-
sim o Congo Brazaville, o Congo Kinshasa (Zaire), o Burundi, a República
Centro-Africana, Serra Leoa e Togo permitem a existência de um partido.
••
)
)
Mundo. A'frnal de contas, os símbolos, as técnicas e as d1spos1çoes paruda-
rios são - para os novos Estados - adaptações de importações.
Quando os cientistas políticos começaram a <l<:sembarcar en: S_?lo
~tas tais partidos já não têm uma posição central: são instrumentos de um
governo militar indireto, e as três tentativas de Nasser, no Egi to, de recons-
tituir organizações políticas semelhantes a partidos (o Movimento de Li-
••
)
)
africano,. não haviam refletido muito sobre quando, e e~ que cond1çoes,
os grupos políticos se transformam em partidos e postenormente, .em_ pa.r-
ti·fos de1.tipos diferentes. Evidentemente, estavam observando. a infa~cia
bertação em 1954, a União Nacional em 1959 e a União Soci:ilista em
1962-1963) são uma indicação reveladora da marginalidade ào partido sob
a égide dos militares. 33 Restam-nos a Tanzânia, a Guiné e a Tunísia. Nos
••
)
d Ji oartldos. Não obstante, raramente se perguntaram se o recem-nasc1do
e ·;1. ·~ital ~e, a longo prazo, necessário . t certo que as invenç?es, uma ~ez
f:: :·\s,! p~dem ser imitadas às pressas. Mas isso.~ muito mais verdadeiro
dois primeiros países, a duração e a efetividade de suas respectivas dispo-
sições unipartidárias de pendem dos seus fundadores. Isto é, continua s.en-
do uma interrogação se a Tanzânia depois de Nyerere, ou sem ele, e a Gui-
••
)
)
:·_:. 31 te-.cnologia do que para os artefatos poltticos. De qu~quer modo,
$,,: ;u me9.11rmos da infância dos partidos, as perguntas ~t~n.ores que re-
q1 t,;ren, (,r;ivestigação cuidad?sa são:_º q~e pode ser assm~lado, e~ que
né depois de Touré, ou sem ele, continuarão o que são. Minha impressão é
de que o Neo-Destour da Tunísia é o único partido único consolidado da
Africa - já te m 40 anos - que tem probabilidades de continuar com ou
••
)

)
pro por~s e a que profundidade? Nao so es_sas questões nao foram mves·
tioadas cômo a maioria dos observadores supos apressadamente que os par-
tidos _ e em especial o partido único - tinham, ou teriam, pnn:iado a cen-
sem Bourguiba.34
Embora as evidências sejam ainda escassas, sugerem uma reavaliação
sóbria das perspectivas futuras. Com relação ao unipartidarismo, creio que,
••
) tralidade1na política africana, e que sua rede era, ou estava destmada a ser,
a estrutura das sociedades que eles pretendiam remodelar:. . _ ..
na área subsaariana, o partido único como rede autônoma, organizada,
••
.....
) perdeu, ou está perdendo, grande parte de sua razão de ser. As sociedades
Para o estudioso historicamente alerta, a observaçao acima nao em- que os novos governantes civis ou militares governam não exigem uma ca-
)

)
tuitiva. Ao examinar a rationafe dos sistemas de partido único estatal,
observei que esses sistemas pressupõem uma sociedade politic~':1en~e cons·
ciente e, na verdade , politizada. 3 1 Devo acrescentar que a poltt1za.çao p:es-
supõe, por sua vez, a difusão da alfabetização e que uma econorrua abaixo
nalização e um encadeamento partidário. Além disso, a ativação política e
a manutenção de uma rede partidária alimenta, a longo prazo, contra-elites
e não recebe bem a autonomia do subgrupo. Isso equivale igualmente a

dizer que a diferença entre o Estado unipartidário e o Estado sem partido
do nível de subsistência, quase de fome, combinada a uma sociedade celu-

..••
) será, na prática, muito menor do que na teoria. Por outro lado, em relação
lar, do tipo mosaico, baseada em grupos primários e em fidelidades prim~r­ ao multipartidarismo - amplamente compreendido como a não-imposi-
) diais, representam não só obstáculos formidáveis como també~ razoes ção de um partido - minha suposição é que sempre que esse padrão puder
excelentes para não se recorrer à canalização partidária e aos investimentos desenvolver-se espontaneamente, ele o fará de uma maneira rotineira, como
) de mobilização. A suposição intuitiva, ou mais intuitiva, é, portanto, a de uma constelaçào atomizada de partidos de notáveis, de patronagl!l11 e de

..•..
) que, em contextos como o africano, os partidos são "funcionais", e na ver- clientelas, frouxamente ligados por coalizões. Volto, aqui, à minha obser-
dade necessários, pal'a a tomada do poder e para a fase inicial de constru-
)
• ~·.'•'-'V~ e: "'" I C:MA:C, !-'Ali 1 ILJARIOS r-LJKMAc,;U t:S POL/T/CA S FLUIDAS 285

vação i~icial ~obre sincronismos históricos e à svgestão correlata de utilizai 1 ;1çJofoi erroneamente w mado como uma narureza de massa ou de mo-
categorrns cnadas para :i fase inicial, ou anterior aos partidos de massa d 0 bilização dos partidos. Mas enq uanto Marx tinha boas razões para passar
desenvolvimento dos partidos.. ' por cima da degradação de energia inerente às longas durações, os cientis-
. .Com a devida consideração por várias diversidades, inclusive a grande tas políticos deveriam ter melhor desempenho.
d1vers1d~d.e entre os ~róprios paíse_s africa~os, parece-me que o desempe. . Como indicamos a validade pro tempore, isto é, a natureza provisó-
nho rotinizad? da maiona dos pamdos afncanos - únicos ou não _ já se ria de uma categoria? Um primeiro recurso é o uso de prefixos como quase
ap~oxi:na muito do padrão de machismo mexicano e sul-americano. Se ou semi, de acordo com o caso. Assim, vários equívocos podem ser elimi-
assim e, ele pode ser bem percebido e descrito em termos dos modelos co- n3dos simplesmente falando-se de "sistemas quase-partidários", 3 8 "q~~­
nhecidos da "clien ~el a" ou d~ " máquina política"_ ls QWlnto a isso, deve. p:!_ftidos d_e massa" e, na verdade, êfé.... "'quase-parti à~ ". Não passària de
1'.1ºs lembrar ta.mbe ~ que a Afrka pertence à fase de crescimento partidá- pedantismo, reconhecidamente, ficar falando de quase ou semi todo o tem-
no na qual a d1stmçao entre partido e facção - no significado clássico da po. mas o pedantismo é necessário ao nível tipológico de análise sempre
palavra - continua muito frágil. 36 E há mais do que um grão de verda- que tendemos a esquecer que o camiru1o da política comparativa é cheio
de "ª-~firmação de Spi~o de que ''o des~nvolvimcnro da política" antecede de armadilhas.
a pol rnca de desenvolvimento e que a Africa ainda enfren ta o problema de
desenvolver a política. 31 Ainda temos de enfrentar uma dificuldade final, ou sejo., como apu- -1
rar a inexistência de fo rma'! A questão relaciona-se com o fato de que a~
formas incipientes não só tendem a desafiar a classificação, como tendem
8.3 Categorização ad hoc a ser mal situadas e definidas pelas classificações. O simples ato de atribuir
alguma coisa a um tipo lhe impõe urna definição, uma fixação, uma for-
Podemos agora vol t ar aos problemas da comparabilidade - comparabilida- ma. Portanto, com relação a um estado de fluxo, classes e tipos podem ser
de que :nvolve_o_ cru zan~ento de áreas diversas, na verdade - suscitado pelas mais enganosos do que informativos. Não há remédio pronto para essa difi-
for_maçoes pohticas fluidas. Como dissemos antes, um tratamento compa- culdade. Uma maneira de neutralizar a atribuição de forma prematura à
r~llv~ corr~to dos_E~t~dos incipientes exige tipos e categorias que são f© re- falta de forma é, novamente, recorrer ao recurso do quase ou do semi. A
:ij~ tfj}) pr~~~Q.r!9S:. Até agora, a maioria àos autores procurou trafã! principal salvaguarda, porém, consiste na seleção, para finalidades tipoló-
tormações ,Põríticas ~olátei~ em ~parecimento introduzindo novas catego- gicas, de categorias suficientemente amplas e não-comprometidas.
nas ent re os outros t ipos e e por isso que essas categorias não são residuais.
~~reza residual de uma categoria revela-se pela sua posição: em lugar O conjunto completo de exigências é, portanto, de qu~ as f~rma_ções
1
d~s~r interpolada ~ntre, ela_ é colo.cada ao lado. Mas uma categoria residual JQLíticas flui~ são meU10r ~~J?,[eendidas pelas categorias ad hoc que sã!::
nao e, e~ s1 e por~~·- ou necessariamen ie, uma categoria provisória. \.(i) r~i,(Qi)~pró~~?as eJj~plas. Essas exigências proporcionam,
1 ~razão ~a.ra insis:irmos em que os atributos e classes usados para as por sua vez, critérios para a avahaçãõ da grande variedade de rótulos pro·

l
}
formaçoes polit1cas fl uidas não devem ser apenas residuais mas também
pro\~Sórios, é que as curtas durações e as fases iniciais tê~ propriedades
que não podem resistir a durações longas e à rotina. Os passos iniciais de
postos, nos últimos 15 anos, para as áreas em desenvolvimento ou em mo·
dernização. Esse aspecto pode ser ilustrado, mais uma vez, com relação ao
trabalho de Almond e Coleman de 1960. Já levantei objeções ao tipo "não-
construção da nação correspondem a um .estado de emergência e de descm- au toritário dominante" de Alrnond por causa da posição que ocupa no
t pen110 exc~pcional que não pode ter vida longa. De modo geral, as proprie- conjunto da classificação. 39 Uma vez, porém, que a categoria seja situada
dades ?e situações ?e emergênci~ diferem das propriedades de situações em uma posição residual, a denominação é feliz, não só por sua amplitude
normais, ou norrnah zadas. Marx fundamentou seu ideal de uma democra· como também porque sugere aquilo que ,o resultado consolidado deve ser :
1 eia direta sem Estado nas evidências oferecidas pela Comwia de Paris de um sistema de partido predominan te. (E essa também, incidentalmente,
l.870-1871 . Ele evidentemente não levou em conta o foto de que a inren- a melhor maneira de mostrar que só uma validade provisória é pretendida.)
s1dade e a d uração da participação direta estão relacionada5 inversamente Os méritos da denominação não-autoritário dominante - tornam-se ainda
- quanto mais intensa mais breve - e a experiência subseqüente das cha· maiores se ela for implementada pelo seu oposto, ou seja, "autoritário do-
madas democracias comunistas provou a importância de seu e rro. Grande minante". fasa uhima denominação recomenda-se pelas mesmas razões ,
parte da_ atual bibliografia sobre os partidos africanos parece incorrer em ou seja , por sua amplitude e porque indica uma possível consoli dação futu·
um equivoco semelhante. Assim, um momenwm de massa ou de mobili- ra : a disposição de p:irtido hegcmõnico. E isso nos leva a uma sugestão po~-

li
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1 '1';"'

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1
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!86 PARTIDOS E SISTE,\1A S PAR TIOAR I OS


F ORMACÔES POÜT ICAS FLUIDAS 287
!
'e:
tc.: rior, 3 de que, acrescentando-se um terceiro tipo, o padrJo do p:mi<lo
"o:io-dominante" , e:>ta riamos muito próximos de um esquema tipológico
d..:sses países evidenciaram, em algum momento , um padrão pamJ:irio
plur:il. Mas essa questão é respondida mais pronr1mente pela passagem do
••
completo que segue coe rentemente o mesmo ritmo e tem uml boa adequ:i-
ção às áreas em desenvolvimento.. . . _ . ..
Si:: pode mos, com base em Almond . estabelecer uma d1visao trl pnce
tcrnoo. Em 1969, os partidos no plur:i..l haviam sid o proibid os o u reduzi·
,Jus 'ao mono partidarismo em 23 dos 26 países mencionados: as exceções
cr:im Zâmbia, Botsuana e LessolO. Em 1970, o Lessoto sofreu um golpe e,

••
.
dos pad rões partidários em 11) :iúto rltáno domin:uu e, (1iJ n:io-au torit::írio ..:in I 973, Zàmbia era autoritária dominante. Portanto. o único c:iso restan-
dominante, e (iii) n:io-domrnante , 'Coleman Lle~"- no mesmo vo l um~ . t~ de mais·de um pa rtido fica sendo Botsuana , qu.e pertence ao tipo não-
uma divis:Jo também tripartid:i muito di fe rente, baseada no grau~ com- .1utoritário dominante. ~s Assim, a indicação mais reveladora de toda a sé-
pétitivid3.de, e n?S apresenta as classes seguintesJTI""~~petiti'.':· (ii!>emi-
competitiva e {iiT}, autoritári:i. "º Embora esse esquema class1ticatono SI:!
destine às áreas suodesenvolvidas, não h:í nada de ad hoc nele , ou seja, po-
w: é a de que apenas em quatro países , num total de 26 - Guiné , Costa do
\brfim, Libéria e Malawi (a partir de 1966) - o partido autoritário domi-
nante foi (até 1974) um único e o mesmo. À parte esses três casos, quase ..•
de pretender uma aplicabilidade mundial . E essa c_?nsideração explica irne-
diltamente a sua inadequação. Com relação à Africa, que representa o
maior grupo de países no quadro de Coleman, a primeira classe - a compe-
todos os outros 26 países estiveram num fluxo de transfo rm:ição constan-
te, tanto assim que sua rápida história partidária e eleitoral dificilmente
pode ser seguida sem a ajuda de um mapa dos fluxos. 46
••
titiva - não tem exemplos; a classe semicompetitiva tem 23 c:isos; e a ter-
ceira classe, seis casos. A categoria crucial é, port?:nto, a "scmicompeti-
Para termos uma melhor perspectiva da qu.estão , vamos examinar
primeiro a configuração geral, que é - nas palavras de Apter - a de que •,.
,..,.
tiva". Mas os países neJainéJuídos não nos dão qualquer indicação do que "as nações em modernização tendem a ter ou muitos partidos, ou um par-
Põcferia significar a categoria, exceto de que constituem um "outro", não- tido único dominante que proíbe a oposição ou só nominalmente a tole-
cornpetitivo e não-autoritário. De qualquer mod~, Col:m'.1:1 escre~eu em ra. " 4 7 Essa configuração global dá peso à suspeita de que os padrões mul-
1959. Em 1966. a seletividade dúbia de sua class1ficaçao Jª era evidente, tipartidários só podem existir porque nenhum partido é suficientemente
pois, naquela época ''já se tomara quase uma regra geral que as elei~ões forte para eliminar os outros, ou seja, simplesmente devido a uma situação
[na África] tivessem deixado de ser competições em q~alquer sent1d~.

••
de impotência, de fragmentação do poder. Se assim for, esse tipo de multi-
e se houvessem transformado em plebiscitos predetemunados e glonti- partid3.rismo está muito longe daquilo que os ocidentais entende_m por
cados".4 1 Devemos acrescentar que, ao passo que o significado da cate- "pluralismo competitivo". O pluralismo político, corno observei, só entra
goria crucial de Almond - não-autoritário dominante -:- é intuitivo ~ de-

••
na história quando apoiado pela fé no valor das estruturas pluralistas.48
fin ivel, isso não ocorre com a categoria de semicompet1ção. E a ex1genc1a Somos informados, ex post. de que o multipartida.rismo é incapaz de so-
de amplitude deve ser atendida pelas novas categorias, mas não obscure- lucionar os problemas da construção nacional e do desenvolvimento eco-
cendo as que já tenham sido precisadas. nômico rápido. Bjusto. Mas a primeira e mais óbvia explicação continua
Até agora, pouca atenção dedicamos ao padrão multipartidário. Es-
crevendo pouco antes de 1966, Rupert Emerson manteve em sua clas~ifi·
rendo a de que, na maior parte do Terceiro Mund-0, o multipartidarismo
nà'o tem raízes em convicções congruentes. Se esse fato preliminar tivesse
~ido devidamente ponderado, muitas previsões teriam sido diferentes.
••

cação um tipo "competitivo pluralista" - um tipo curioso, tendo em vista
tanto a sua própria afirmação de que, exceto pela Tanzânia, as eleições O pluralismo competitivo é, portanto, uma categoria enganosa. Es-
haviam deixado, em quase toda parte, de ser competitivas, corno os crês
únicos exemplos que pôde encontrar: Nigéria, Quênia e Congo.42 Na épo·
ca, a Nigéria estava à beira da derrocada, o Congo havia proibido todos
taremos em terreno muito mais seguro se falarmos, como sugerimos antes,
de padrão "não-dominante", afastando com isso qualquer conexão neces-
~iria com a competição e o pluralismo. Alternativamente, podemos falar
••
os partidos e era quase um sinônimo de caos, e o Quênia era, na melhor J~ "sistema partidário plural".49 Em ambos os casos, não há nenhuma
••
.,.
das hipóteses e intermitentemente, um sistema não-autoritário dominan· ~oposição quanto à razão pela qual uma situação polipartidária existe. Se
te. 43 Recorrendo à mais precisa contagem sistemática feita ·até hoje, veri· esse padrão tem uma espinha dorsal pluralista, ou se não tem espinha, é
ficamos que, em 26 países africanos negros (num total de 31 ), sempre uma questão que cabe à pesquisa solucionar. Devemos lembrar, por outro
existiu mais de um partido, simultaneamente ou sucessivamente, durante lado, que o número de partidos não é um indicador muito revelador antes
o período da independência até 1969, com o Zaire (Congo Kinshasa) e a tlc: que tenha ocorrido a consolidação estrutural do sistema partidário. ..
Nigéria apresentando o maior número de partidos (respectivamente 17 e
14) e o Alto Volta o menor (dois partidos). 4 .i A questão passa a ser qul1S
Portanto, a única distinção. significativa com relação a um estágio fluido de
polipartidarismo é entre (i) um número relativamente pequeno de partidos
'
•,.
-
;

'
o
que na rea.lidade se contrabalançam (isto é, nenhum deles é dominante) e "O

/~
(ii) um padrão pulverizqdo. so
Assim como o padrão polipartidário pode ser subdividido em pou-
cos partidos ou um padrio pulverizado, também o padrão unipanidário
é passível de especificação. Para começar, devemos compreender que o
unipartidarismo não tem necessariamente um sabor tirânico a menos que
o erftus e as virtudes do pluralismo político sejam apreciados. Além disso,
o/ ~
E
:
e:
g
~
6
o padrão do partido único dominante aproxima-se de um "monopólio na-
tural" sempre que uma grande escassez de habilitações e de mão-de-obra : : _____. -~ ----------~ : .§ .~_-:
treinada implica não haver risco de perda de potencial pluralista. Partindo ~
r-
-
"~o ' ~-;::~ 1
t
. ~ e":
'-

dessas premissas, podemos destacar dois subtipos expressivos. Um deles é g z -ª- ~


\ !d:
1
o partido único do tipo amálgama, ou mesmo "pacote". isto é, o parti
unifié que resulta em geral de fusões e tende a caracterizar-se por uma pers-
pectiva agregativa. O s<!gundo é o partido único típicamente coercitivo, o
parti unique que proibiu todos os outros, tende a ser fechado e segue geral-
mente políticas exclusionárias. Na verdade, em um estado de fluxo, o par-
i
t .g
·r.
l
1
~
eo
.-:: <>
tido único do tipo amálgama pode tomar-se rapidamente um partido úni- r õ-.:
1
º -g
co coercitivo e exclusionário e vice-versa. Por exemplo, o Quênia passou i \ ~ r;
;; .: ---------~ 1 .,
1
"'C ....
p.
para o unipartidarismo agregativamente em 1964 e, pela força, em 1969, 1 6 E 1 e: o
quando Kenyatta enfrentou a secessão de Odinga submetendo-0 à prisão ''"º
Z-o 1
1 .§:g
~ ~
e proibindo o seu partido. Mas, em qualquer momento, o analista deve ter 1 ê:i) g_
1
consciência da diferença possível entre os dois padrões. E também tem 1
1
importância se o partido único resulta de uma unidade original ou de uma ~ 1
tomada do poder pelos militares e subseqüente recomposição. Esses ele- ~ õ 1
"'
'Li
"O 1
mentos, porém, podem ser vistos como variáveis, e eu hesitaria em levar o"' 1
·ª
e ~e: :::> ~

:
o •:;. _ __ _ 1 e:
além desse ponto - num contexto magmático - um procedimento em <(..)
o'º
~ .s/~f
'O -o E
bases tipológicas. e:
~
·- "
~ OI)

;;:; -~ ~ ~~ "'CJ
e...:::.
Resumindo, durante todo este capítulo minha intenção foi explicar :f2 "'O
~
a diferença entre fluxo e consolidação, entre falta àe forma (relativa) e .... 13----+ .g
o

:~~
cristalização. Segue-se dessa diferença que as formações políticas fluidas u

exigem um esquema de análise ad hoc. Não se segue, porém, que devamos


terminar com dois esquemas não-conversíveis, est3nques. Assim, minhas
'--"
.g
e>
i
~ ~
'.Q
~
~ < e..2
sugestões levam a dois esquemas que estão mutamente engrenados, como ~2----
~
se mostra no Quadro 30. Evidentemente, dediquei grande atenção às pala- V>
·;: .!:! ~
vras, pois "escolher - descuidadamente ou intencionalmente - termos u I>':! ::.
que confundem ou desorientam ( ... ) parece-me imperdoável". 5 1 Mas a O
. '"'N
M e:>
preocupação semântica 3linha-se ao problema da conversibilidade, de co-
mo um padrão fluido pode ser relacionado a um padrão estruturado.
o:::!
....
~e::
-
§ t'O
A~ correspondências indicadas no Quadro 30 são, na verdade, expe· O'O
rimentais, e só valem na suposição de ccteris paribus. isto é, de que cada
padrão incipien te poderá desenvolver-se ''naturalmente" sem interferência
de variáveis exógenas. O quadro está disposto em scqüéncia, ou seja, de
a..:ordo com duas fases, mas suas categorias t:unbém estão dispostas em

-tis;;==.;:• e
.. ---- -- ~-- -·-....... '-'\.
.._... -..._.. '-' - '---"' ....._,.,. ....._. '--' .._.... '....-' ._ ,. ·...._.., '---"'' '--' - , __.... "-"'" ·....__ . ... _ ·...._. , \.,,...,,/ ............... ...__,, ...._,,, ............. ~- ............ '-' ................ .,_,, \.,_.t ...._... '-"" ~- •._

Quadro 31.
'"

o
África independente: seqüências de padrões políticos em 39 países

Palses por Polipartidário Não-autori- Autoritário dominante co ..erno militar l'opulaplo


ano de 1ário (milhões de
independência Poucos Muitos dominante Pela força Pela fusão Direto Jn d ii·e w Padrão circa J<J 73/1974 lwhita11tes)
Et iÇpia - - - 1974- Se m punid o , golpe ""' 1974 ' 25.000
Libéria, 1860 - 1860-(?) 1860- (?) - Estado LJnipart i tl~íno lk fa 10 1.200 ,
Egito, 1921 - 1921-52 - 1952- Governo dua l civil-111ilit;ir, p:ir· 30.000 1
tidos atrofia d os
Llbia, 1951 - - - 1969- Governo mil itar, sem p artidos J.7 00
Marrocos , 1956 1956-63 1963- - - Parti d os c.;o latcrais (fora do par· 13.000
lam e n to)
Sudão, 1956 1956-58 - - J 958-64 Governo militar se m p~rtiuus 15 700
1964-69 J 969-
Gana, 1957 - 1957-60/1970 1960-66 1966-70 Governo m ilil<u 8.5no
1972-
Guiné, 1958 - - 1958- - Estado unipartid.Írio -1.000
Rep. dos Cama- 196 1-66 - 1966· - Estado unipar tiil:írio 5.700
rões, 1 960-61
R.C.A., 1960 - 1960-61 1962-66 !9ó6- Gove rno mili tar com partido l.500
único
Chade, 1960 - 1960-61 1962- ·- Autorit:írio domina nc .: (ou tros 3.700
pa rt ido~ proibidos ); golpe em
1975
Congo Ilra., 1960-62 - 1963-68 1969 1970· Mili tar indire to com partido 0,950
1960 ú nico (ou tros par tido>
proibidos)
Congo K., 1960 1960-65 - 1968- 1965 1967- Militar indireto com part ido 2 l.60ü
único (Oulros partid os
proibidos) ii
Daomé , 1960 - 1960-63
-
1964 - - Govt:rno militar direto com
pititido úni<:o n :s1a bclcci<lu
2 700

Gab ão, 1960 1964-67 1960-64/1967 1968- - Es tado uniparl itl:írio 0,500
Cu:. ta do Marfim, - - 1960- - E:, t~ do u 1a part id:;110 l k f:1 1l, ' 1. WO
\ ') ( )f)

Hc.:públ•ca ,\ Jal- - 1960·72 19~ ~ - t~\J\. l.: rn o nuht.1r (, ~ Ul)


;< gaxc, 1960
Mali, 1960 - - 1960-68 1968· Governo mi litar, >Clll p:1nido 5.0U()
Maurit:inja, 1960
Níger, J 960
-
-
-- 1960-
J 960- 1974 ·
- Estatl u un ipa.rlid;Írio
Estado unipar ti<l:íno (s.: m p:11 •
l .?00
<1.000
tido em 1974 )
Nigéria, 1960 1960-66 - - 1966· Govcrno m ilitas, se m partido 59 000
Senegal, 1960 - 1960-66 1967- - Estado u n ipart idirio 3.800
Somália, 1960 1960-69 - -- 1969- Governo m ili tar, sem p:irtido 2.800
Togo. 1960 1960-67 - 1967-69 1969- G?vcrno mil itar c om partido
Ul1 1CO
2 000
Tunísia, 1960
Alto Volta,
-- 1970-
- 1960·
1960-66 1966-70
- Au toritário don 1i11ant.: -1. 500
1970· Governo du<ll c ivil -mili tar 5.400
1960 com pan it.lo nfo-autor it;íc io
dom in ante
Serra Lcoa , 1961 -67 - - 1967-68 1969- Go vt rno dual civi l-m ili tar, par - 2.600
1961 udo único
Argélia , 1962
Uurundi, 1962
-
- 1962-66
- 1966-
i 962-65 1965-
1966·
Go ve rno m ilitar l '2.000
Auwrit ário do minam c (out rus J.500
parr idos proibid os)
Ruanda, 1962 - 1962-68 1969-(?) 1973- Sem part ido 3.600
Uganda, 1962 1962-65 1965-69 1969-71 1971 · Gove rno militar direto , sem 9.llOO
panido
Zâmbia, 1962 1962-68 1968-72 - - Aulo ritirio t.lo minank 4 .300
Quênia , 1963 - 1963-69 1969- - Au toridrio dorn inant c 11.UOO
Ma law i, 1 964 - 1964-66 1966- -· Estado unipartid:í rio 4.500
Tanzânia, 1964 - 1964·('!) 1964-(?) - Unipart idário, au to ri1<ír10 d o-
minante ele foto
13.000

Gâmbia, 1965 1965-66 1966- - - Não -au toritário do mi na11tc 0)50


Botrnana, 1966 - 1966-72 - - Não-a u toritário do111 i11un k Ü ,(,1)(1
Lessoto,' 1966 1966-70 - 1970- - Autorit:írio do min:1111c (ou tros l .O!lll
partidos proibido s}
Suazilândia,
1968
- 1968· - - Nffo·alltoritário do m1n:i11 tc ü,400

Fontes: Black Africa: a Comparative Handbook; Keesing's Con1emporary Archires; Wor!d Stre11g//1 of tlze Con111111111s1 ?arty Or;;o11iza tiotH.

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r 292 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS FORMAÇÕES POLITICAS FLUIDAS 293
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) ordem decrescente de abstração, isto é, decrescente do níveÍ mais aJtamen- nirnte, "não-autoritário dominante" é bastante claro, pois é o equivalente
te abstraio e abran~ente, para os níveis menos abstratos e mais especjfi. rluido de um sistema de partido predominante.
cos. . Portanto, as vanas categonas estão ligadas e são mutuamente con- Um estudo recente de 31 países africanos negros que tiveram um iní-
)
vers1 ve1_: segundo as regras de transformação ao longo de uma escala de cio de sistema partidário justifica a adequação do conceito de instituciona-
52
abstraçao. Também se notará que o tipo "não-autoritário dominante é lização afirmando que 17 das formações políticas em questão estavam "re-
co l_o~ado sob a ~urisdição combinada do monopartidarísmo e do polipar. lativamente institucionalizadas" e mencionando como prova que 14 desses
) t 1~ansmo. Isso m di ca que, num est ad~ altamente embrionário do jogo, 17 sistemas partidários "ainda existem" (em 1972). Os 14 países são (em
nao se podem traçar as fronteiras que sao estabelecidas no, e pelo, estágio ordem decrescente de institucionalização): Libéria, Costa do Marfim, Tan-
estruturado. z:inia, Botsuana, Gabão, Mauritân.ia, Malawi, Ruanda, Senegal, Gâmbia,
Fa~ei de um labirinto africano. O Quadro 3 J confirma que a imagem Níger, Zâmbia, Guiné e República dos Camarões. Mas o Quadro 31 basta
se _aproXJrna da verdade. Também sugere, ao que me parece, que o fio de p;na questionar tanto a prova como a dedução. Na realidade'. apenas 1O
Anadne que estivemos até agora procurando tem um desempenho razoável dos 14 países acima mencionados continuavam, em 1972, mal tera dos;
em to~o ~sse _labirinto. Os 39 países relacionados se enquadram em e estão GJbão, Malawi, Senegal e a República dos Camarões sofreram, na década
bem _d1~t-nbu1dos pelas categorias do quadro, com pouquíssimas dúvidls: Jc J960, modificações violentas ou muito substanciais . Se acrescentarmos
(A L1b~na'. por n:iotivos compreensíveis, e mais Ruanda e a Tanzânia). Ou- aos três países já vitimados por golpes antes de 1970 (Mali, Sómália e Re·
~ras atnbu1ções podem ser questionáveis ainda que seja apenas por ser a pública Centro-Africana) Ruanda (golpe em 1973) e Níger (golpe em 1974),
mfor_ma ~ão, com ~req_üência, escassa e difícil de decifrar. Mas o esquema a constatação atualizada é a de que nove dos 17 países supostamente insti-
em si, nao fica pre3ud1cado pelas modificações do perfil de cada país, uma tucionalizados chegaram a uma "conclusão anormal" ou foram transforma-
vez que oferece classes adequadas e suficientes para a reclassificação. dos de maneira anormal. Parece muito duvidoso, portanto, que "o padrão
Apesar. de sua complexidade, o Quadro 31 omite detalhes impor· apóie de forma notável a validade do conceito de institucionalização".5 4
tantes, especialmente o grau de coerção e de inânia evidenciado pelas O ponto fraco da demonstração está, evidentemente, na categoria "ainda
disposições partidárias dos vários países. 53 Como essas duas variáveis se em existência", que beira o absurdo uma vez que um padrão é considerado
modificam consideravelmente com o tempo, não há como fazer-lhes o institucionalizado a despeito de ser ou não uma formação política não-
acompan~ar:iento. Tentei, por isso, dar certas indicações nesse sentido nas autoritária transformada, pela força, em uma formação política autoritária.
duas p~nult1mas colunas (padrão circa 1973-1974). A explicação dos pa-
drões e a que se_ segue. (1) "Estado unipartidário" indica que um regime 8.4 O efeito de bumerangue
declarou-se, oficialmente, como tal: não será preciso dizer, portanto, que
todos os outros partidos estão proibidos. (2) "Estado unipartidário de Morrison e colaboradores observam, em seu levantamento, que a recom-
fato" indica que esse padrão não se apóia numa doutrina oficial e isso pensa de um trabalho intensivo sobre os sistemas e partidos políticos afri.
poderia implicar um menor grau de coerção. (3) "Autoritário domlnante" canos é pequena:" ... a bibliografia é ~ica em estudo_s ~e caso, mas ~all:~.e~
indica um padrão menos rígido e mais variado de monopartidarismo. Por· conteúdo teórico, sofisticação conce1tual e propos1çoes comprovave1s .
~ant~, não se deve entender, por definição, que os outros partidos sejam Do ângulo de minha análise, essa avaliação pessimista pode ser re~o_rmulad~
ilegais - podem se ter dissolvido, ou ter se atrofiado, ou ainda podem não e ampliada como segue: por enquadrarem mal as form~ç~es po!ittcas fl_u1-
se ter nunca materializado àe fato. Especifico nesse caso, portanto, se os àas no contexto geral da política comparativa, os especialistas em Ter~e1ro
outros panidos foram proibidos ou se desapareceram mais ou menos es- Mundo enfraqueceram não só os seus próprios estudos como tambem_ a
pontaneamente; a falta de especificação sugere uma abertura e flexibilida- disciplina como um todo. Há, portanto, duas faces na moed_a, e_a ate~ç~o
de_ relativa_ maior. (4) "Governo indireto e/ou dual militar" indica que os deve passar agora para os danos que um tratamento comparativo 1mpropno
milnar_es tem in íluência decisiva na questão, embora o governo tenha sido dos Estados náo-dotados deforma provoca aos Estados fo rmados.
?evoh'ldo_, pel_o menos em parte, aos civis. É claro que o governo militar Durante muito tempo os observadores ocidentais percorreram o
... mdnet? . e n:a1s 7ugestivo de um disfarce, ao passo que um sistema dual rriundo assimilando o estranho ao famil iar, isto é, usando antolhos que os
... ) c1VJl·rnil1tar implica que os dois componentes são, ambos reais. Mas adis·
tinção está longe de ser precisa, e recorri, mais do que ~ qualquer outro
cegavam para o exótico. Esse vício de etnocen trisrno ocidental, hoje bem
conhecido, equivale, logicamente, a uma ingenuidade projetiva, a uma _ex·
u1d1cador, ao fato de ser ou não militar.o chefe do executivo. (5) Final· trapolação gratuita. Mas esse e rro é apenas agravado, e na verdade duplica·

...~ )
FORMAÇÔES POU°T!CAS FLUIDAS 295
.!'N PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS

Jcci.nic.lo, pois qualquer defUlição e."<cluiria de consideração esses partidos


do. quando o familiar é assimilado ao exótico e percebido at ravés deste. Jssim chamados. Por essa lógica, urna mera palavra substitui a "<lefinicão
Não há vmtagem. mas uma perda suplementar, em substituir a centricida- ininima", 5 S e os partidos que são agências especializadas são :issimilados
de ocidental por uma qui:<Otesca excentricidade ocidental, isto é, em tr:i- J - e por eles ofusc::idos - partidos, que são difusos e polifunc1onais.
zer de volt:i para casa o vício que antes havíamos exportado para o exte· QuJnco mais $e generaliz:l essa lógica. ma.is damos peso retroativo à falta
rior. A essa altura ternos o mesmo erro ampliado ao reverso, isto é, uma de contornos onde a diferenciação estrutural existe. à falta de forma quan-
extrapolação ao inverso. Assim, a descobert:i de áreas de ~tu~o não-Oci- Jo as formas são importantes, e à falta de Estado onde os Estados ao mes-
dentais foi seguida de um efeito de bumerangue sobre os propnos estudos mo tempo são gigantescos e tudo permeiam. (
sobre o Ocidente. Considerando tudo isso, podemos dizer que o efeito de bu··.1erangue
Para ilustrar os processos mentais que resultam em um efeito de bu- concorre - em associação ;:om outros fatores - para a imprecisão e vague- 4
meranwe vamos tomar a divisão tripartida ocidental clássica entre executi- za conceitua! da disciplina. Contribui igualmente para o descrédito das
º
vo, legislativo -
e judiciário. Ao ingressarmos nas areas .
em desenvolvimento, 4
dassificações e tipologias. Finalmente, e o que é mais importante, o efeito
deverá esse esquema ser abandonado, ou ampliado? A1mond abandona o de bumerangue é particularmente insidioso no contexto da argumentação, 4
elemento estrutural e amplia o esquema em termos funcionais. As "fun-
ções de output" assim resultantes são imposição da regra, formação da
regra a adjudicação da regra.s 6 Trata-se, em minha opinião, de um trata-
onde apóia testemunhos abusivos - como, por exemplo, quando a Tanzâ-
nia é invocada para dar testemunho da possibilidade, quando não da exis-
tência real, de uma democracia unipartidácia, ou quando a colocação do
••
mento correto. ~verdade que o esquema de Almond continua, até certo
ponto, voltado para o Ocidente e, além disso, várias formações políticas
primitivas ou difusas não são diferenciadas por ele. Não se segue disso que
tipo não-autoritário dominante entre urúpartidarismo e bipartidarismo, em
uma classificação, transmite a idéia de que monopólio e pluralismo são mu-
tuamente conversíveis. 59 O ponto é, no caso, que qualquer inferência so-
••
as categorias funcionais em questão devam ser estendidas além do ponto
em que ·Almond as deixa. Segue-se ainda menos que o estudioso que com-
,iaca deva ignorar as conotações, ou propriedades, estruturais, ao viajar de
bre formações políticas definidas feita a partir de formações indefinidas
ou sobre formações políticas formadas feita a partir de formações políticas
fluidas, equivale a um erro de extrapolação inversa e não suporta o ônus
••
<:olta1 para o Ocidente. Na verdade, se, num ambiente ocidental, as caracte-
rísticas 'estruturais não são reincluídas sob as categorias funcionais, toda a
trajetória resulta numa perda séria de especificidade. O "pluralismo'; é um
da prova.
Em suma, e concluindo, as formações políticas carentes de diferen-
ciação estrutural e de consolidação não podem ser incorpor:idas às catego-
••
••
exemplo ainda melhor. No caso da divisão tríplice do poder, os danos fo-

......
rias ocidentais, nem podem oferecer categorias ao Ocidente. Isso não signi-
ram diminuídos por um começo acertado, isto é, pelo fato de que Almond fica que as formações políticas voláteis desafiem a investigação e ainda
lTansforma as categorias originais; mas, no caso do pluralismo, simples- menos que sejam de menor interesse. Muito ao contrário, o cientista polí-
mente ·estendemos a categoria até um "universal" vazio, e na verdade, até tico tem mais a aprender com uma formação política que está se consti-
transformá-la numa simples palavra cuja substância conceitua! é diluída a tuindo do que com outra já formada. Mas esse progresso não se realizará

....
ponto de perder qualquer significado. Em sua aplicação ampla, global, o se dermos forma prematura ao caos (extrapolando a partir de modelos oci-
pluralismo complica a generalidade total do nada. E o resultado líquido dentais), se introduzirmos falta de contornos onde os contornos já existem
é - em termos do efeito de bumerangue - terem as sociedades ociden- (por meio das extrapolações inversas) ou se combinarmos ambos os erros.
tais perdido um importante enfoque para o entendimento de sua própria
natureza.
Tomemos, porém, a própria noção de partido. Em seu influente estu-
do sobre a África, Hodgkin observa que devemos "considerar como 'parti-
dos' todas as organizações políticas que se consideram como partidos e que
são geralmente consideradas como tal" .57 Até aí, muito bem. Isto é, "par-
tido" pode ficar sem definição e, portanto, indefinido, num contexto flui-
do. isto é. quando o que observamos na realidade são quase-partidos. Mas
esse· arg umento só é vilido quando há essa premissa, embora, na verdade ,
freqüentemente seja estendido da maneira que segue: como alguns parti·
dos, em alguns lugares, devem ficar sem definição, o termo jamais deve ser
)
i
NOTAS 297
)
1t NOTAS 6. Tratarei do conceito de partido de massa no vol. II, cap. 12. Um esboço preli-
) ; minar é o meu ''Political dcvelopmcnt and political enginecring", Public Policy;
i 968, especialmente pp. 281 , 292-295.
)
7. The Polirics of rhe Developing Areas, op. cit., p. 40. Alrnond indica que a elas·
) sificação fai. referéncia às freas de análise cobertas no livro, mas sua exemplifi-
caç5o subseqüente confirma .que 3 Europa também é abrangida e que a tipologia
) pretende proporcionar uma estrutura geral.
8. lbid. p. 41.
) 9. Colcman e Rosberg (orgs.). op. cit. O volume apareceu em 1964, isto é, quatro
anos depois de The Politics of the Developing Areas.
) 1O. Coleman e Rosberg, ibid., es pecialmcnte pp. 4-6.
1 L Ver particulannente Hodgk.in, African Politicol Parties - an lntroductory Cuide,
) 1. Os modernos sistemas políticos são defin idos, seguindo Coleman, como os sis- op. cit.; Ruth Schater Morgenthau, Politica/ Parties in French Speaking ll'est
temas nos qu:lis .. as funções governamentais e políticas são desempenhadas por A/rica, Clarendon Press, 1964, pp. 330-358; e Clement H. Moore, "Mass party re-
) estrut uras específicas" (Almond e Coleman, The Policies of the Developing gimes in Africa", in Herbert J. Spiro (org.), A/rica: The J>;imacy o[ Politics, Ran-
Areas, op. cit., p. 55 9), ou, mais precisamente, como tendo um "grau relativa- don·. Ho;.;:.~, .i. %6. íam bém Morris Janowitz, TheMilitary in the Political Develop-

. )
)
mente elevado de diferenciação, explicitação e distinção funcional em suas estru-
turas políticas e governamentais" (p. 532) .
2. No período 1951-1973, contei 26 golpes bem-sucedidos na América La tina. Isso
contribui paia explicar por que - do ponto de vista do sistema partidário - não
ment of New Narions, Univi:rsity of Chicago Press, 1964, fala de "partidos de
·massa autoritários"; e mais recentemente Crawford Young, "Political systems
devclopment", in John N. Paocn e Edward Soja (orgs.), The African Experience,
Northwestern Universi ty Press, 1970, examina tanto o partido de massa como o
trato a América Latina como uma área e por que, como regra, os países Jatino- " partido de massa renovado". .
americanos são incluídos isoladamente para ilustrar aspectos particulares e não 12. Por exemplo, Arthur Lewis, num pequeno livro que, sob outros aspectos, é bas-
"' ) como casos em s i significativos (Chile e México são as exceções notáveis). Um tante sensato, Polirics in lllesr A/rica, Allen &Unwin, 1965, afirma: "Por partido
.. ) valioso volume coletivo é Martin C. Needler (org.), Political Systems o/ Latin
A merica, 2'!- ed. rev., Van Nostrand, 1970. McDonald, Party Systems and
totalitário entendemos(...) um partido que pretende ser o instrumento supremo
e
da sociedade. Em Gana, Guiné Mali, o partido é elevado acima de todas as ins-
.. ) Elections in Latin A merico, op. cit., e o Cuide 10 rhe Policical Parties of South ti tuições ... " (p. 5 6).
. )
America, de vários autores, Penguin Books, 1973, também cobrem a totalidade 13. Ver especialmente David E. Apter, The Politics o/ Modernizatio11, University of
~ da átea. Grande pane da bibliografia sobre países latino-amer icanos encontra-se Chicago Press, l 965, cap. 10.
nos estudos sobre regimes militares. Além da primeira análise comparativa siste- 14. t essa, pelo menos, minha leitura de P:i.ul E. Sigmund (org.), Thc ldeo/ogies of
~ ) mática de S.E. Finer, The Man on Horseback: The R o le of rhe Military in Politics, the Developing Nations, Pracgcr, 1963. 1:: essa também a linha d~ crítica de
Pall Mau, 1962, ver, mais especificamente, John J. Johnson, The Military and Finer, Compararive Government, op. cit., pp. 509-510, e de Henry Bicnen,
\, ) Society in Latin A merica, Stanford University Press, 1964 e, para a bibliografia "Onc-Party systcms in Africa", in Huntington e Moore (orgs.), Aurhoritarian
ma.is recente, a resenha de Abraham F. Lowenthal, "Armies and politics in Polirics in Modern Society, op. cir., pp. 103-104 .
~ ) Latin America", IYP, outubro de 1974. 15. Embora "novos Estados" seja mais amplo do que "novos Estados a.fric::inos", as
3. Tal como operacionalizado, por exemplo, por Janda, em A Conceptual Frame- generalizações s:To possíveis desde que se entenda que os regimes comunistas do
\ ) work for the Compara tive Analysis of Poh'tical Parties, op. cit., pp. 87-89. leste asiático, como a Coréia do Norte e o Vietnã do None não estão incluídos
~ ) 4. "Política! develôpment and political decay", ll'P, abril de 1965, pp. 386-430, na minha argumentação, isto é, não se qualificam como Estados sem forma ou
passim. .!! preciso, contudo, ver também Huntington, Polirical Order in Chang- embrionários. Para o contex10 mais amplo, ver se a visão bibliográfica geral de
~) ing Societies, op. cit. , pp. 12-23, onde a institucionalização é classificada de David E. Apter e Charles A ndran, "Comparative governrnent: de~eloping new
acordo com quatro critérios: (i) adaptabilidade-rigidez, (ü) complexidade-sim- nations", in Manan D. l rish (org.), Political Science: The Advance of the Disci·
plicidade, (iii) autonomia-subordinação, (iv) coerência-<iesunião. Evidencia-se pline, Prentice-Hall, 1968.
que, em seu nível mais alto, a institucionalização corresponde à organização 16. Ver J.P. Nettl, "The State as a Conceptual Variable'', h'P,julho de 1968,espe-
' ) ideal, isto é, :i organização que revela alta adaptabilidade funcional apesar de cialmente pp. 189-191. A fragilidade ins11tucional do partido e do Estado na
ser altamente complexa, autônoma, unificada e coerente. Não encontro nenhu- África é bem ressaltada por Aristide Zolberg, Creating Political Order: Tire Party
ma congruência necessária, ou mesmo provável, entre a primeira e as outras três Systems in Wesr A/rica, Rand McNally, 1966.
propriedades. A citação é da p. 13. 17. Ver, entre outras, a obra cl:íssica de Frederick Mcincck. l\leltburgemum u11d
~ ) 5. Com re lação aos sistemas pan:idários, essa visco~idade, ou "congelamento" é Nariona/ Sraat, 6~ ed., Oldcbourg Verbg, 1922.
) tematizada por Lipset Rokkan, em sua "lntroduç5o" a Party Systems and Vorer 18. Ver, cm geral, Clifford Gcert z (org.), O/d Socieries and New Srates, Frec Prc.~~.
Alignments, op. cir., especialmen te p. 50; e é bem ressaltada pelo levantamen- 1963, que contém, inter alia. um artigo de Edward Shils, "On tht: com~:i r:.111.ve
~ ) to de Richard Rose e Derek Urwin, "Persistencc and change in Wcstern party study of the new nations", que é muito rekvant c para nossas prcocupaçoc,. \ cr
systcms since 1945 ",PS, setembro de 1970, especialmente pp. 306-7 e Quadro 9. também, pela sua abordagem ant ropológica e sociológica, M. Fortes e E. [v;in~­
) Pritchard (orgs.), African Polirical Sysrem, Oxford Univcrsity Prcss, 194 0 ( 1970J.
19. The Organizarionol Weapon, F rcc Pre,~. 1 960.
) 296

.)
I ~

)
} 293 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS
NOTAS 299 ••
)

)
20. A. noç:Io de rnobilizaç:io ser:í e."<:iminada em llet:i.lhe no voL li.
21. Ver. em ger:il. Hodgkin, African Political Pames, op. c!f.; G.M. C~~ter (org:l·
African One·Parry Srares, op. cir.: Coleman and Rosberg (orgs.), Polltrca! Partres
partidos afric:inos n:i'o escapou, na verdad~ i maio ria dos obs·erv"do
e • ~ res a.rgu to~.
V er, po~ ex~m p l o , . olerna~ e Ro sberg (orgs.), Politica/ Parries and Narional
fnregr~rcon 111 Tropical Afrrca'. op. cir.. pp. 672 ss.; especialmen te William J.
Folz, Butldtng the newest nauons : shon-run scrategics and long·run probl· ..
••
and .Va1ional lmegracion in Tropical A{rica, op. cit.; G.~l. C.ut<!r (org.). Natzonal in K. \~. Deutsch e Folz (orgs.), Nation Building, Atherto·n Press, l 963. cms ' t
)
)

)
Unity and Regionalism i11 Eight rlfrican S1a1es, Cometi _Umvus.i ly Prc;ss, L966:
.-\. ~l.ihtou, L 'avencmzent du pani unique en rlfrrque 1101re. Cohn. 1908; Paden
~ $oj:1 (org~.). The Afrlcan E:xperien ce, . op. ci~..: Hc.nry L. B_rcnon '. P_o.1~er an~
Politics in ri/rica, Ald ine, l973; Anna M. G~ntd1, Elites e regrm1polzt1c1111 Afrr·
33. T~bem v:ile a pena notar q.ue o, ~a.rtido Wajd, .amerior ao golpe, era, entN
l 9 _l e 1952, .º precursor mais proxuno do que vma a ser posteriormente cha·
mado de part ido ~e n:i~ss:i do tipo africano. Sobre as te n tativas de Nasser, ver
Leonard Dluid.er, Po ht1 cal reci:i1t men t. and participation in Egypt", in LJ.Pa·
••
)
)
ca Ocdúen1ale, 11 Mu lino, l 974. À parte os estudos de nações isolad:is pub lica-
dos em volumes coletivos, os estudos monogrificos mais in.tlucmes foram Apter ,
The Coki Coasr in Transition, Princeton University Press, l 955, seguido por
Ciuma in Transirion, Atheneum, 1963; e A.R. Zolberg, One-Parry Governmen1s
lombara e Wemer (orgs.), Pol111cal Partzes and Polirical Development, op. cit.,
cap. 8.
34. Sobr.e a Tunísia, ver Clement H. ~foo.re, Tunis~ Since Jndependence: Tize Dy.
nam1cs of One-P~rry_..Cover.n menr, University 01 California Press, 1965 ; e espe-
••
)
)
in the Jvory Coast, Princeton Universi ty Press, 1964. A melhor e mais recente
fo n te de dados (até 1971) é Donald G. ~lorrison e1 ai., B/.ack Ajrica - A Com·
pararive Handbook, Free Prcss, 1972.
cial.mente. s~u ':111igo Tums1a.: the prospects for institutionalization"', in Authori-
tarzan Polltlcs zn Modem Soc1ery, op. cit.
35. Ver Zolberg, Creaci~g Polirical Ord~;: Th~ Pan?' System in Wesr A/rica, op. cit.,
••
pp. 15~-l ~l, e Re~e Lem_arc~a.nd,. Pol1~1cal chentelism and ethnicism in Tropi·

•,...
22. Sobre Gana, depois de Apter, Ghana in Transition, op. cit., ver H:L; Bretton,
) The Rise and Fali of Kwame Nkruma, P.Jll Mall, L966; sobre a Gume, Bernard cal Afnca. competmg :o!Jdanues ·~ nation-building"; APSR, março de 1972,
Amcillon, La Guinée, bilan d'une indépendance, M:ispero, 1964; e sobre o Malz, pp. 68-71. u.ma suge~tao correlat.a_e o reexame da descrição de Ostrogorski de
Frank G. Snyder,. One-Party Government in Mali: Transition Towards Conrrol, como o partido do tipo de com1tes fechados surgiu na segunda metade do sé-

.,.
)
Yale University Press, 1965. · c~lo XIX; Ja~es .scott, ·~corruption machin e politics and political change", foc.
) 23. Sobre a Tanzânia, ver Henry Bienen, Tanzania: Party Trans/ormation a~~ cu, tambem e muito pertuiente. Sobre o enfoque baseado na clientela ver supra
Eco11omic Development, Princeton University Press, 1967; William Tordofl, cap. 4 , nota 12. ' '

,..
) "Tanzania : dcmocracy and the one-party state", CO, julho-outubro de 1967, 36. Supra, l.l. A implicação é, no caso, a de que :is subunidades faccionais bem po-
pp. 599·614; e supra 2.3 e cap. 2, nota 27. As eleições de 1965 n~ .Tanzân_ia dem ser as verdadeiras unidades. Ver também supra, 4.3.
) são dcscutas cm Lioncll Cliffe (org.), One-Party Democracy, East Atncan Puu· 37. Africa: ;,he Pri.macy ofPolicies, op. cit., cap. S ("The primacy of political devel-
lishing llouse, 1967. . º.P~ent ) pass~~ e p. 153. Juntamente com essa sugestão, ver Colin Leys, Poli·
) 24. Sobre alguns dos detalhes, ver A. Zolberg, "Military in~e.rvention tn the new t1cransand Poflc1es, East African Publishing House, 1967.
states of Tropical Africa", in Henry Bienen (org.), The M1/11ary lntervenes: .case 38. A denom~ação foi cri~da por Macpherson, Democracy in A lberta: The Theory

••
) Studies in Political Change. Russel Sage Foundation, 1968 ; W.F. Gutte ndge, ª?d i;a~t1ce of a Quasc-Party System. op. cit., cap. 8; parece mais adequada, po-
The Military in African Po/itics, Methuen, 1969; e Anna M. Gentili, "I militari rem, as areas em desenvolvimento.
) nell'Alrica subsahariana", RIS, IV, 1971, pp. 635·675. 39. Ver nota 7 deste capítulo, e 8.1.
25. Ver em Finer, Compararive Covernment, op. cir., p. 5 2~, Quadro .21. Mas R . ~. 40. ~er The Politics of rhe Developing Areas, op. cit., p. 534, Quadro 1. "Competi-


) McKown e R.E. Kauffman, "Party sistem as a compa.rauve analytzc concept 1n tivo democrático' ' e "semicompetitivo" foram também adotados em 1964 por
African politics", CP, outubro de 1973, invertem a questã~: "~rg_umen tou-se Janowitz (infra, nota 42). ' '

••
) 41.
que os níveis de instabilidade seriam maiores nos Estados umpa.rtLda.nos do que Rupert Emerson, "Parties and national integration in Africa", in La.Palomba.ra e
) nos multipartidários, mas isso não se confu:mou". (p. 68) . . Wemer (orgs.), Political Parties and Political Development, op. cit., p. 269. Ver,
26. Janowitz, The Military in the Polirica/ Development of New Nat1ons, op. crt.. em geral, W.J.M. Mackenzie e Kenneth Robinson (orgs.), Five Elections in Afri·


) 1964, p. 29. . 42
ca, Oxford University Press. 1960.
1.7. Immllluel Wallerstein, Africa, The Polirics of lndependence, Vmtage Bo?l<S. Loc. cit. pp. 269, 287·2?3. Janowitz, The Military in the Political Development
)
)
1961. p. 163. Em 1966, porém, Wallerstein observou, num. estado de esp1.nto
muito diferente, que "o fenômeno curioso não foi o apa.rec1mento de um s1ste·
ma unipartidário; foi antes a sua rápida perda de significado", concluindo. com
isso que a tendência havi:i sido de "inânia" ("The declive of the party in singl~·
43.
~! the New Stares, op. crt., tem uma cla~se "dcmocr.á tico-competitiva", que não
e melhor (abrange, por exemplo, a Tanzania).
Na '.'ligéria, to~os os partidos foram suspensos a partir de 1966, houve uma guer-
r.a ClVl~ com B1afra de 1967 a 1970, e o país continua, até hoje, sob governo nú·
••
)

••
....
party African states", in LaP:ilombara e Weiner (orgs.), Polirical Parties and Po/z. Iita.r dueto . O Congo (Kinshasa) teve sérios problemas com a secessão Tshombe-
rica/ Development, op. cit., pp. 207, 208). Catanga de 1960 a 1963, passou por um golpe em 1965 e logo depois enfrentava
) 28. Em Sp1ro (org.), .4/rica: The Primacy of Politics, op. cit., p. 88 . a guerra civil de 1967. O Quênia é, assim, o único caso plausível de Emerson.
29. The Politics of Moderniration, op. cit. , pp. 197 ss., especialmente pp. 206-216. Mas ~ua competição pluralist:i significa apenas que uma oposição pode, sem risco
) 30. A distinção foi proposta originalmente por um político do Mali, Madeira Keic_a de ';Ida, falar contra Kenyatta e o partido dominante, KANl/ (União Nacional
) (ver in Sigmund (org.), Tire Jdeo/ogies o/ the .DevelopingNations, op. cit., PP· 17 )· Afncana do Quênia) que era de fato um partido único em 1965 e que manteve

....
176), com referência a Gana e ao Mali, cujos partis unifiés resultavam, segundo seu. monop61io pela força em 1969. Sobre a Nigéria, ver Richard L. Sklar e C.S.
) se supunha, de fusões voluntárias. Wlutaker, "Nigeria'', in Carter (org.),National Unity and Rqio1J11/ism in Eight
31. Supra.2.le2.2. Afru:an States, op. cit.; Walter Schwartz., Nigerüz, Praeger, 1968 ; Robert Melson @li
) 32. l) f1 1u d•: qr" a ,,ht-.:nção d.1 ir.J~pc -·j 'nci:t colocou em risco :i razão de ~er do-

)
(
)
li

)
~

e 300 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS



) ~ e H ow~d . Wo lpe ( o rgs.)_, Ni~eria: Moderni:a1io n and 1he Po li1ic s o/ Communa/.
IS/ll: ~lt:~g:in s1..a1e Uni vernty _Press, 197 1. Sobre o Zaire e o ··plwalismo eom-
pctlllVO congoles, ver Daniel B1ebuyck e Mary Douglas, Congo Tribes and Parties
IX
O QUADRO ANALlTICO GERAL
) Londm, _Roy~I An1hropo logicaJ lns1i1ute, 1961; Daniel J. Crowley, "Politic;
)
~~d t_n b., hsm in the _Katanga ", lllPQ, março de 1963; e Crawford Young, Po/.
1l
111cs m the Cong?·. Pnnceton University Press. 1965. Sobre o Quénia, ver Cherry
) 1 44.
Genzcl, T~e Pol111cs on In~epe1~dent Kenya J 963-68, Heinemann, 1970; e Carl
Ro5bcrg, Kenyo, CorneU Umverslly Press, a ser publicado.
Mo m son e1 _01. . Bloc~. Africa, op. cir.. p. 99, Quadro 8.2. A contagem incltú "to-
1
)
1
1
d~s os partidos pol111cos que eram lega is ( . . .) nesse período quer tenham ou
nao result:ido. de fusões ou divisões". Com a Etiópia, sem partido 0 quadro
)
)
!
1 45.
abrange 32 pa1ses.
N..01e-se que B,?tsuana. e Lessoto só se tornaram independentes em 1966 e que
'
9.1 Mudanças, contínuo e descontinuidades do sistema
sao ambos pa1ses mwto pequenos com, respectivamente, cerca de 500.000 e
1 700.000 habitantes.
46. Esses .mªP.ªs de fluxo são na realidade proporcionados pelos excelentes "perfis
Tornou-se moda falar de contínuos, e estamos assim em condições de falar
) de pa1ses . qu~ se en ~ontram er:i _Morriso n er ai., Black Africa, op. cir., Parte 2. de um continuo de sistemas partidários. A suposição implícita é a de que
)
11 Encon~a-sc al~.t~mbérn uma b.1oli?grafia sobre cada país, assim organizada. os construtos tipológicos ignoram a fluidez da realidade e que as interli-
47. Apter, The Po.u1cs o/ /tfodermza11on, op. cit., p. 194. gações do mundo podem ser captadas postulando-se um fluxo incessante
) ~t 48.
49.
Supro, 1.2.
Esse é o ró'.ulo usad~ por Huntington e Moore, em Authorirarian Policies in
de continuidade. A pretensão é justificada, mas sua realizaçlfo exige muito
) t MoJem Soc1ery, op. clt., p. 517. discernimento.
\
;7
50. Na l~donés~a, por ~xcmplo, mais de 40 grupos (partidos) políticos apresentaram Em primeiro lugar, o conceito de contínuo não pode ser, em lingua-
) ca ndida t?s as ele1çoes de 1955; e no Congo havia em 1960 uma estimativa de gem natural, exatamente o que é na linguagem matemática. Em particular,
'• l 00 panidos. ' ' não se pode supor, no uso do conceito pela ciência social, que os contí-
l SL J. David Singcr, A Ge11eral Sysrems Ta:xonomy for Polirical Science Genºral
) nuos excluem a descontinuidade por definição. Em segundo lugar, não
l Leammg Press, 1971, p. 6. ' ~
) 1 52. Ess.as _regr:is 1ê_m ?rigem na relação inversa entre a denot:ição e a conotação de sabemos com exatidão, ao que parece, como uma classificação se rela.ciona
<
conc~it~s, e sao 1lus uadas em Sartori, "Concept misformation in comparative com um contínuo. Quando falamos de um contínuo de sistemas partidá-
i; pol111cs , ASPR, 1910 , op. cit. rios, de sistemas políticos, de regimes etc., estamos usando uma expressã"o
53. Vari:íveis como moderadamente a altamente ce ntralizad o moderadamente a abreviada. Com efeito, enfrentamos duas operações lógicas distintas: a
)
!
l
pouco democrático, alta/baixa liberdade de oposição também podem ser incluí-
das _c om pr~v~1to par::i exame posterior. Ver lrma Adelman e Cynthia T. Morris,
primeira é a determinação dos conceitos polares que definem o contínuo,
) t ou melhor, a dimensão ao longo da qual postulamos um contínuo (por
! Society. P~/111~s and t:c.onomic_De~elop_me~r. Johns Hopk ins Press, 1967.
5-l. Mary B. Welfiing, Po lr11cal lnm1ur1onoilzatron: Compara tive Analyses of Africon exemplo, consenso-coerção, liberdade-opressão, expressão-repressão, inclu-
) Par!y Sys1ems, Sage, 1973, p. 38 e Quadro 5 à p. 33. Embora eu não concorde são-exclusã"o), e a segunda é a colocação das classes, ou tipos, em diferentes
) c_om a ~_u_<ora sobre seu campo de provas, o livro tem como introdução uma va· pontos do contínuo assim definido. Rigorosamente falando , é incorreto
ho sa anahse do conceito de institucionalização (pp. 5-18).
55. Black A/rica, op. ci1., p. 95.
postular um "contínuo de partidos": só podemos postular um "contínuo
) conceituai" ao longo do qual os sistemas partidários podem ser aproxima-
56. Tlre_Politics_of rhe Dei•eloping Areas, op. cit. , p. 17.
57. Afrrcan I'oluu:al Parties, op. cit., pp. 15·16. damente localizados. O contínuo não é entre sistemas partid~rios, mas
58. S11pra, 3.2. entre características polares; e o tipo de continuidade ou descontinuidade
59. Supra. re ~ pec1ivume 11te 2.3 e 8 .1. fase último ponto é desenvolvido infra, 9.1. que existe de fato entre os vários sistemas partidários é uma questão empí-
) rica, que só pode ser resolvida empiricamente.
Uma terceira observação é oportuna. A razão pela qual estamos ap-
) tos a ressaltar a descontinuidade é que a idéia do contínuo pode induzir a
um otimismo evolucionário unidirecional. A idéia de que os sistemas par-
tidários são contíguos, e por isso conversi"veis ao longo de toda a linha,
contribui para sugerir, com muita freqüência, que há um curso "natural"
) de desenvolvimento político que leva - sempre que não sofrer um desvio

) 301
-' ----..
)
e
)
J02 PARTIDOS E SISTEMA S PAR TIDA R I OS
O QUADRO ANAL(T/CO GéRAL JOJ
e
não-natural - à liberdade, :io pluralismo partid:írio, e à democracia. Ocor. ~
)
)
rem revezes, mas são apenas reveze~. A chamada liberalização dos regimes
comunistas, juntamente com os exemplos da Turquia e do México, são
,;orno é. Por exemplo. os impérios persa, romano, bizantino e otomano
..::J:>tiram dur:rnte séculos como formações políticas contínuas, apes:.ir das
e
casos altamente significativos que apóiam a abordagem do con tínuo, ao .-enten:is de golpes precorianos e dos assass1 natos de seus oovemantes. A e
)
)
passo que as recaídas no fascismo, no autoritarismo e no pretorianismo ou
o advento de regimes comunistas raramente são explicados com base no
fato de que um contínuo postula uma modificação de direção nos dois
LRSS é uma formação política duradoura desde 1918, ou i9W, a despei-
to <le a morte de Scalm ter ou não sido natural e embora sua sucessão te-
nha sido decidid:i pela fo rça e pela consp1rnção. E uma ditadura milil::u
••
)
)
senudos. Como Huntington mostra bem, produzimos uma teoria unilate-
ral de desenvolvimento com prometida com a modernização e que esquece
a decadência. 1 A popularidade da metáfora do contínuo parece ser - não
continua sendo uma ditadura militar, quer um coronel derrube o outro, ou
11Jo. Por outro lado, sempre que ocorrem modificações básicas na estrutura
<le autoridade de uma formação política além e fo ra de seus mecanismos
••
) importa se inadvertidamente - outra marúfestação do mesmo evolucionis-
mo unilinear : ela fomenta "continuístas" que alimentam, por sua vez, a
internos de mudança, temos então um colapso do sistema. Assim, há um
..:olapso quando uma ditadura se instala ou é eliminada; quando eleições ••
.•
idéia de que a liberdade sucede - como uma continuação natural - ao livres são impedidas ou restabelecidas; quando juízes subservientes substi·

}
afrouxamento dos laços de opressão.
O que dissemos anterionnente indica que o conceito do contínuo
está, e se enquadra, entre dois pólos: uma preocupação metodológica e
tuem, ou são substituídos, por um judiciário independente ; quando par·
tidos no plural são autorizados ou proibidos. ·
A ilustração anterior sugere: (i) que mudanças fundamentais bem •
-•,.
) uma questão substantiva. A preocupação metodológica - a que voltaremos podem ocorrer continuamente, isto é, de acordo com as regras e procedi·
- relaciona-se com a maneira pela qual podemos perceber as interligações mentos constitucionais de transformação do sistema; (ü) que o imprevisto
) <le uma mudança não constitui um critério fidedigno; e (üi) que a mudança
do mundo re~J e, avançando ao longo desse caminho, transformar as des-
) continuidades das classificações numa continuidade de graus. A questão perturbadora ou violen ta não implica necessariamente o colapso de uma
substantiva - sopre a qual agora pretendo estender-me - relaciona-se com estrutura política.2 Isso equivale, no todo, à sugestão de que o colapso de
) um sistema político é identificável pelos dois critérios combinados seguin-
a modificação do sistema. A questão é: como um sistema político concreto

••
....•
) se transforma em outro? tes: primeiro, sempre que uma formação política se transforma em outra
não em virtude de suas próprias regras de transformação, mas pelo repúdi~
) A partir desse ângulo, pode-se dizer que a modificação de sistema
ocorre de duas maneiras principais: (i) continuamente, isto é, pelo desen- e violação dessas regras, e, segundo, sempre que a perda ou a tomada do
volvimento interno, transformação endógena e transição espontânea, e poder não conserva, e sim modifica, as estruturas de autoridade preexisten-
{ii) descontinuamente, isto é, através do colapso do sistema. Assim sendo, tes, isto é, os modos e meios de governo, a aplicação de leis e a adjudicação

....•
) d~ regras. Na verdade, uma mudança que rompe com as regras, que muda
a questão se resume ao seguinte: admitindo-se que os sistemas políticos
) sofrem "transições contínuas", deveremos necessariamente defrontar-nos, as regras de mudança e que também muda a estrutura de autoridade resulta
em certo ponto, com "quebras de continuidade"? É uma questão bastante em geral, na realidade, de uma tomada revolucionária do poder. Mas "revo-
) simples e direta, desde que o colapso, e mais exatamente o colapso da for- lução" é hoje um termo muito amplo e vago. Para inclui-lo na definição de
colapso, devemos estabelecer primeiro várias distinções precisas, como, por
) mação polz"tica, seja adequadamente ressaltado.
Embora o conceito de colapso evoque as idéias de modificação fun- exemplo, entre golpe e revolução, entre pressão revolucionária e revolução

.......•
) damental e abrupta, e/ou de violência e revolução, não há coincidência real, e assim por diante. Tais complexidades podem, porém, ser evitadas,
) necessária entre esses termos. Por exemplo, e em primeiro lugar, a modifi· se o colapso for definido - como pretendo - independentemente de fa-
cação constitucional que siga as regras constitucionais da mudança não é tores causais, ou seja, por uma modalidade específica e pelo âmbico da
mudança.
um colapso. Assim, a Inglaterra desde o século XVIII, os Estados Unidos

......
) desde a Convenção de Filadélfia, a Suécia desde 1809 e a Holanda desde Se o colapso e, portanto, a quebra de continuidade estiverem defmi-
l 848 sofreram modificações fundamentais e profundas, mas não sofreram ~os, então será fácil definir a "transição contínua". As transições de um
) tipo de sistema político para outro são contínuas, espontâneas ou endóge-
colapsos: são formações políticas contínuas. Abordando o problema do
) outro extremo, um golpe ou uma revolta palaciana que mudam as pessoas nas sempre que podem ser atribuídas aos princípios operativos ou às regras
no pod~r, mas deixam inalteradas as estruturas de autoridacle não podem do jogo inerentes ao sistema. Em suma, a mudança contínua ~quivale à
)

)
ser qualificados de .colapso, pois a formação política continua exatamente • automudança, às transformações que resultam dos mecanismos internos
constituintes de cada estrutura política e por eles são permitidas.

..
(
) 304 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS O QUADRO ANAL/TICO GERAL 305
l
Podemos agora voltar ao chamado contínuo dos sistemas partidários. que continua aberta ao restabelecimento da constituição ''suspensa" _3 o
) A questão de se esse contínuo é ou não "contínuo" é. em última análise, caso do interregno militar é também muito diferente porque os militares
) uma questão de fato. Mas nenhuma questão é apenas de fato. Quando per- podem abrir mão do poder civil que tomaram sem perda de seu poder espe-
guntamos: "t isso um colapso, ou não?", a questão gira, claramente, em cifico. O problema real surge, porém, quando uma elite política até então
) torno dos pontos de ruptura, em relação aos quais é levantada. Por exem- todo-poderosa se vê não só privada de todo o poder, como também sujeita
) plo, se todos os sistemas políticos forem declarados ·'mistos", não haverá às retaliações de novos ocupantes do poder.
nenhuma classificação e supõe-se, por definição, uma continuidade. E o À parte o caso dos militares, e se colocarmos de lado também -
caso não será muito diferente se nos satisfizermos com a divisão tríplice como devemos - o falso testemunho das formações políticas fluidas , até
) em sistemas uniparti dário, bip:-irtidário e multipartidário. Como a classe 1975 a bibliografia oferece a penas dois exemplos de um desenvolvimento
do unipartidarismo inclui na realidade, no seu uso atual, sistemas de um-e- um tanto endógeno do monocentrismo para o pluralismo: o México e a
) Turquia. Mas o México não pode provar a tese porque não atravessou nun-
mais partidos, a questão é eliminada pela pobreza da classificação, isto é,
) pela má classificação. Por outro lado, se uma classificação mais analítica ca a linha demarcatória: é uma formação política de partido hegemónico. 4
dividir o que estava até então indiviso, somos então imediatamente alerta- Resta-nos, portanto, discutir se a passagem da Turquia para a democracia
dos para o fato de que, ao longo de nosso contínuo, há u~ ;;-~::~~::::; :j<.;;;.; ~:;-. : '.? ~'.: foi ~uficiente rnente esp0:itâr.~a para justificar a tese de que o üni-

\ as conexões parecem desconexas. Como sabemos, a conexão critica se faz partidarismo pode se transformar (i) por si mesmo e (ii) com êxito, num
sistema partidário competitivo. ·
."'i
entre sistemas hegemónicos, de um lado, e sistemas predominantes, do ou-
) tro, logo a questão p ertinen te é: podem esses dois sistemas ser transforma- A história da modernização da Turquia começa depois da Primeira '!
) dos um no outro sem colapso, isto é, continuamente, através da transfor- Guerra Mundial, com a proclamação da re pública por Kema.l Ataturk, em i'
1

mação in terna? E essa é a questão de fat o. A essa altura, a resposta está nas 1923, e a criação do Partido Republicano Popular (PRP). O primeiro feito
) evidências. notável de Kemal Ataturk foi o restabelecimento imediato do governo ci-
Pelo registro histórico, o caso não tem ambigüidades: as evidências vil. Isto é, o PRP não estava, e nunca esteve, sob tutela militar. Ataturk
) 1
mostram, esmagadoramente, uma descontinuidade. Não consigo pensar em também fez duas tentativas de estabelecer o pluralismo partidário, permi· 1
) nenhuma passagem de uma formação política competitiva para outra, não- tindo a existência de um partido oposicionista: em 1924, e especialmente
con1p~titiva, que tenha ocorrido sem a violação da ordem constitucional - em 1930. Ambas fracassaram. O Partido Republicano Progressista que, 11
)
ou seja, as convenções da constituição em vigor - habitualmente sob o surgiu em 1924, foi dissolvido em 1925. O Partido Livre, criado em agosto
) impacto da violência revolucionária real ou potencial, dos golpes e da rebe- de J930 com o estímulo de Ataturk, dissolveu-se em novembro do mes-
lião militar. Algumas dessas transições não violam, evidentemente, a ordem mo ano sob a acusação de abrigar um número demasiado de membros rea-
) constitucional no sentido de que a violação ocorre depois, isto é, depois de cionários. Ataturk morreu em 1938, e foi o seu sucessor, lnonu, que pre-
) uma ascensão legal, ou semilegal, ao poder. Isso significa apenas que a alte- sidiu ao advento de um regime multipartidário em 1945. Foi "espontânea"
ração das estruturas de autoridade não precisa coincidir, cronologicamen- a transição? Não é preciso ler o que estava no espírito de lnonu parares-
) te, com a ascensão ao poder. Hitler suspendeu a constituição pouco depois ponder. Os fatos são que cm 1945, face à penetração de Stalin na Europa
) de sua indicação. Mussolini, porém, agiu mais gradualmente, mas nenhuma e ao tradicional interesse russo pelo estreito de Dardanelos, a Turquia não
eleiçã'o livre foi realizada na Itália, sob seu governo, depois de 1924. A to- tinha praticamente escolha: seu grau de autonomia internacional era peri·
) mada do poder pelos comunistas na Tcheco-Eslováquia, em 1948, seguiu gosamente baixo. Qualquer que fosse a intenção de lnonu, a passagem para
) um curso semelhante, já que foi precedida da :iscensão legal de Gottwald uma democracia do tipo clássico foi uma necessidade vital para um país
ao poder. pequeno que precisava desesperndam..:nte da proteção das democracias oci-
) dentais. Presumivelmente, Inonu acreditava realmente que a competição
Se a passagem de uma estrutura competitiva para outra, não-compe-
) titiva, é, sem exceção, descontínua, a 1'egra parece menos rigorosa na outra partidária e o pluralismo eram coisJs boas. Suposição muito mais fo rte,
direção, ou seja, a t ransição de uma formaç:ío política não-competitiva porém, é a de que, quando o PRP foi afastado do poder, depois de 27 anos
) para .uma formação política competitiva. A questão depeudc da evidc!ncia de governo ininterrupto, pela inesperada e esmagadora vitória de Partido
) considerada como pertinente. Por exemplo, o pad rão do golpe latino-ome- Democrata àe Bayar e Menderes, Jnonu poderia ter reproduzido Ataturk,
ricano só tem significação - lembremos da Argen tina - enquan to a toma- voltando imediatamente ao unipartidarismo, não fosse a pressão externa e
)
da do poder pelos mil itares é vis!<i como uma " in terrupção provisória" a ajuda econ~mica. para não falarmos na política, que estava em causa.
)
)

)
)
O QUADRO ANALl'ríCO GE."IAL 307
e

Ele n3o podia arriscar-se, nem cinh::i condições de corre e esse risco. Isso
11 io equivale a questionar - repetimos - as metas democrácic;is d o Partido
Eepublicano Popular, mas apenas explicar por que a Turqui;:i não é um
.:xemplo verdadeiramente ..convincente" de transformaçfo espontànea.s
'ee
••
E os acoritecimenros posteriores mostram, de maneira e loqüente, as difi -
culdades do que parece agora, re trospectivamente, uma rransi.;:fo serrjcon -
t ínua. Depois de ma.is de um quarto de século, :i Turquia air;d~ não :itingi u
uma viabilidade democrática convincente.
O primeiro aspecto notável na história compet itiva da Turquia é a
magnitude de suas oscilações eleitorais, como o Quadro 32 mostra. O PRP,
que começa com uma vitória de 85%, perde 70% de suas cadeiras quatro

••
) :mos depois, e cai tanto em 1954 que seu retomo em 195 7 é bastante sur-
)
)
preendente. Depois da revolução de 1960 (na verdade, um golpe militar),
o PRP consegue - em conàições ótimas - apenas uma pequena rnlioria
relativa, sendo novamente superado, e de muito, nas eleições subseqüentes,

••
até ·sua vitória, novamente surpreendente, em 1973. Essas oscilações são
)

,.•,.
ampliadas pelo fato de que os números são em cadeiras no parlamento 6 e
) podem ser explicados, em parte, pelas modificações no sistema eleitoral:
<a distritos eleitorais de muitos representantes em que a chapa vencedora fica

.•
e:
) o com todas .as cadeiras até as eleições de 19 5 7 ; representação proporcional
·13
:<I
) z em 1961 e em 1965, modificada de modo a favorecer os principais parti-
dos para a ele.iÇão de I 969. Apesar da variável do sistema eleitoral, pelos
J seus resultados eÍeitorais a Turquia teria sido (entre 1950 e 1973) um
) caso evidente de sistema de partido predominante ,7 no qual o PRP ape-

')
nas contou com um retorno "ajudado" se não fosse pelo fato de que os
militares não permitiram que o sistema atuasse "naturalmente", isto é, ••
)
)
)
de acordo com seus princípios funcionais próprios.
Em 1960, um golpe militar eliminou Menderes (condenado à morte
e enforcado) e proibiu o Partido Democrata. 8 Uma nova constituição foi
preparada, e a II República voltou ao governo civil, depois de um interreg-
no militar de 18 meses. Mas, nas eleições de 1961, o Partido Democrata já
havia encontrado um sucessor - em termos da mesma atração eleitoral de
1
1
l
•..
••
)
)
)
)
bas_e rural e tradicionalista - no Partido da Justiça. Assim, o PRP não con-
seguiu, em 1961, maioria absoluta, e os militares voltaram a tomar a ques-
tão em suas próprias mãos: os líderes partidários foram convocados a uma
reunUro com os chefes do Estado-maior e tiveram de concordar em eleger
presidente o general Gursel, formando um governo de união nacional de
todos os partidos e acima dos partidos. É certo que Demire1 e o Partido da
1
l
;
•...-.
..
1

)
Justiça tiveram, posteriormente, permissão de governar, mas não por muito l
tempo e raramente sem interferência. Em 1971, Demirel foi obrigado a 1
renunciar e não pôde voltar ao poder por cerca de quatro anos. Uma lei
1 f!llm
1
marcial, imposta pelos militares, vigorou por 29 meses, até setembro de l

.-.
) 1973. E, nas eleições de 1973 para presidente da República, os militares
)
f!lllJ
)

)
306

~------- ---- ----


'
1"
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1111....
J U UUAUHU AIVl-ll..1111..V ucn""''- JV7

vetaram o candidat o do Partido da J ustiça, tentaram impor seu próprio dos horrores da Guerra Civil (circunstância favorável que não. existia en:i
candidato e, depois de uma Juta surda e prolongada, um terceiro homem Portugal), que muito contribui para explicar por que o extrenusm~ da ~e­
foi eleito. Finalmente, em 1980, nova tomada do poder pelos militares cada de 1930 se limita atualmente aos grupos separatistas. Outra comc1den-
interrompeu o governo civil. cia feliz foi o fato de que a Espanha voltou à democracia numa época e.m
) que os principais partidos com~nistas europeus ~reparavam-s_: para .ProJe·
Embora possamos discordar da classificação da Turquia como um
caso de transição "espontânea" do monopólio para a competição, é certo tar a nova imagem eurocomumsta. As observaçoes acima nao equ1:alem
que ela ainda está "em transição". Em particular, se a passagem para a de. a dizer que o caminho espanhol para a democracia nada tenha a ensinar a
mocracia ocorreu sem colapso em 1945, terminou porém num colapso outros países. Sugere, porém, que a exceção espanhola provavelmente con-
em 1970. Desde en tã'o a Turquia ingressou num rumo dual, civil e militar. tinuará sendo um acontecimento raro.
Fiéis à tradição de Ataturk, os militares permitem o governo civil, manten- Quanto às tendências surgidas na democracia pós-Franco, é oportuno
elacionar os resultados eleitorais espanhóis de 1977 e 1979 com os re-
. )
do-o porém sob tutela, com intervenções intermitentes, indiretas, sempre
que a "lógica" partidária se afasta do "espírito" da revolução de Ataturk.
r
sultados eleitorais italianos de 1946 e de 1948.
i1 D d'f . .
uas . i ere.nças pnnc1-
pais se evidenciam- Primeiro, as propo_rções. iniciais i:nui~o diferentes da ·
O paradoxo é que, a estabelecer o partido único, Ataturk manteve os mi·
' )
litarcs fora da política ao passo que o advento da política competitiva votação comurústa e socialista nos dois p~1ses: Togh.att1 (PCI) começou
' ) trouxe um sistema de tutela militar. Dada a lideranca notável de Ataturk com 19% dos votos, Carillo, líder do Partido Comurusta ~spanhol (PCE)
dada uma tradição ainda mais notável de estadism~ que remonta ao sé: com 9-10%· Nenni (líder socialista italiano na época) jamais voltou a ver
') culo XIII e dado que o "círculo de governantes e de cidadãos politicamen- seus 21 % i;iciais, ao passo que Gonzales (líder soc~alista espan?ol) mante·
) te atuantes ampliou-se gradual e constantemente"9 - dadas todas essas ve seu nível de 30% nas duas primeiras eleições (ajudado, porem, pela fu.
condições favoráveis, o caso da Turquia merece realmente a atenção que são, em 1979, do PSOE com um partido socialista 1?enor, o PSP). ~ segu~­
> recebe até mesmo por uma razão diferente e melhor, ou seja, a extraordi- da diferença relaciona-se com o centro, que consiste de um partido reli-
nária dificuldade de clas.sificar uma experiência democrática sob a suposi- gioso na Itália, e de uma coalescência de grupos do centro, na Espanha.
ção de que uma continuidade - no caso, a continuidade de um curso de Mas os respectivos desempenhos eleitorais são notavelmente semelhantes,
modernização - pode e deve ser mantida. Assim, a T urquia ainda cstã lu- na faixa dos 35%. Sem entrarmos em outros detalhes, parece que a form~­
tando, desde 1945, com a incongruência básica de buscar uma democracia ção política espanhola não pende nem para a mecânica de uma altemaçao
sem as desvantagens da democracia - isto é, sem submeter-se à vontade po- bipolar no poder (como é o caso do pluralismo modera~o), ~e~ para_º
pular. A lição ainda válida de 1960 (repetida e confirmada em 1980) é, padrão do sistema de partido predominante. Q~anto a se ev1denc1ara ou na~
com efeito, a de que os militares decidem até que ponto a voz do povo - uma tendência centrífuga, isso dependerá basicamente de como o PCE (co
e especialmente a voz da religião - se pode fazer ouvir. munistas) se comportará frente ao PSOE (socialistas~. No momento, parece
Como se costuma dizer, a tústória é apenas uma seqüência de exce- que 0 PCE tem força suficiente para estabelecer coaltZõ~s de c~ntro-esquer­
ções. O extraordinário é, portanto, que, no caso em exame, as exceções da com 0 líder centrista Suárez e com Gonzales, muito pengosas para o
sejam realmente difíceis de encontrar. Só em 1975 uma exceçlro realmente PSOE e que 0 mesmo seria válido se os socialistas fossem tentados a formar
convincente ocorreu: a transição pacífica (mas também um retorno) da uma ~oalizão de frente popular com o PCE. Se a Espanhas~ ~ransformará
• )
Espanha à democracia, com a morte de Franco. 10 A natureza excepcional
do caso é ressaltada pelo contraste com Portugal, que cruzou a linha em
ou não num sistema de pluralismo polarizado depende dec1s1vamente, ao
que parece, da consciência da habilidade de sua liderança. . .
a No momento em que escrevemos, outro país que há :nm!o vem :~.n­
) maio de 1974 graças a um golpe militar seguido por um período muito ins-
do observado como uma pla11sível democraci~ em .potenc1~ .e a Tunisia.
• tável de manobras revolucionárias. Entre as muitas razões para o êxito
sem precedentes de uma transição planejada antecipadamente, eu inclui- Por outro lado, eu decididamente nl!'o consideraria a Grec1a como um
ria, em primeiro lugar, a prolongada e generalizada expectativa de que o exemplo significativo da mane ira como uma passagem endógena ~ara a de~
retomo da Espanha à fami1ia das democracias ocidentais era inevitável e mocracia pode ocorrer, já que o padrã°o grego se assemelha muito ao la
dese~ável. A transição foi preparada, portanto, pelo princípio das reações tino-americano de "interrupções" que dificilmente dão testemunho de
previstas. Com a morte de Franco, não havia regime, não havia uma classe "inoressos" na democracia, mas sim de "restabelecimentos" de uma demo:
política exposta à, e receosa da, vingança dos novos ocupantes do poder. cra~ia instável. A ditadura grega de sete anos que terminou em 1974 f~i 3
Circunstância favorável concomitante foi, é claro, a lembrança histórica precedida, devemos lembrar, da ditadura do general Metaxas cm 19 ·



)

)

• ....... -- - --·
)
.310 P,..J, RT!DOS E SfSTEM,J,S PARTIDA R IOS
) O QUADRO ,J.N,J;L/T/CO GERAL 31 1
) 1941 (o país foi depois ocupado durante três anos e, em seguid:i, devas!a-
do por urna guerra civil). 1 2 Com o resc:ibelecimento de urna ordem demo- Como todos podem ver, as implicações conceituais e <le previsão da
J cr:ítica, desenvolveu-se imediatameme um padrão polarizado, que, por sua . ut:stão da continuidade versus descontinuida_de não são p:quenas. _Quan-
1
) vez, contribui para explicar a intermitência das experiências Jemocráticas do ouvimos, por exemplo, fala r de democracia unipart1dana, suspeitamos
greg:ls. que quem assim fala é _um "cont in~ís ta" . Pelo contr:i~io, s~ ~ ~ese da ~es~
t:ontinuidade for justificada, não so a democracia unipart1dana constnu1
) Apesar de algum:is exceções, o registro histórico justifica, d~ maneirJ. uma denominação evidentemente imprópria, como as previsões sob re a li-
esmo.g:iJo~a~ ~ conc:usão de qu<:!, ao longo do contínuo de formações poli· b.:ralização das formações políticas mo nopolistas devem ser encaradas com
) tlC3S part1danas, h:i um ponto no qual enfrentamos, claramente, e como muito maior cautela do que o continu ísta se dispõe a admitir. De acordo
regr~, u~a. interrupção e portan to uma linha demarcatória. Enquanto 0 .:om meu argumento, a noção de continuo é usada impropriamente quan-
)
partido umco pode facilment~ transformar-se em partido hegemõnico. do elimina a descontinuidade por definição ou quando se torna pura e sim-
) o passo subseqüente é extremamente difícil. 13 O afrouxamento de um sis- plesmente uma metáfora. Com relação à modificação do sistema, uma
tema. monoc~ntrico ocorre seja na forma de uma diminuição do controle continuidade (ou descontinuidade) é estabelecida pelas regras de trans·
) coerc1t1vo, S~Jª passando-se do partido único ao partido hegemônico. Mas form:ição (ou de não-transformação) de um sistema político em outro.
) as evidências confirmam, em grande parte, que nenhuma dessas duas for- Quando não existem tais regras ou processos, temos então uma quebra de
mas constitui uma posição de partida na direção do pluralismo. É certo continuidade.
)
~ue, quando chegamos- à variedade pragmática do partido hegemõnico, o
) sistema pode ser muito frouxo. N[o obstante, não pode fugir ao destino de
t?dos os sistem~ monocêntricos, ou seja, o de que o partido e o Estado, 9.2 Funcão mapeadora e capacidade de expl icação
) s1mul stanr et s1mul cadent, se mantêm de pé e caem juntos. lnversamente
) a ~nquilose ~o pluralismo não nos leva além do sistema de partido predo'. A idéia transmitida por grande parte da bibliografia recente é a de que, se
rrunante, pois um partida predominante não se transformou nunca, sem a uma formação política uni partidária se torna bastante frouxa, aproxima-
) f?rça ou a r:a~de, num partido h~gemônico ou único. Portanto, nem o par- se do pluralismo partidário, ao passo que, ao contrário, _se não ocorre_alt:_r--
) tido hegemoruco nem o predonunante podem ser considerados como fór- nação dentro de um sistema bipartidário, ele se aprox:.ma ~a orgamzaçao
m~!as int~rm:_di~rias que,_ de alguma forma, convergem e se superpõem. unipartidária. Minha posição é a de que ambas as 1de1as sao engano~as e
) A hberal1zaçao de um sistema monocêntrico equivale a um afrouxamen- injustificadas e que a tentativa de estabelecer uma pon~e. sobre o _abismo
) to da opressão, isto é, a uma modificação do mesmo sistema político, ao que há entre os sistemas não-competitivos e os competitivos baseia-se na
passo que uma formação política livre exige o estabelecimento de um sis- inadequação de uma classificação que não consegue separar os cas?s: ~m
) tema diferente, de wn sistema baseado em princípios e mecanismos total· conseqüência disso , o esquema geral representado no Quadro 33 é d1V1d1do
mente diferentes. em duas metades. ·
)
~ão es~mos tratan~o. portanto, de um contínuo homogêneo, mas Essa descontinuidade básica pode ser esclarecida de várias maneiras.
> d~ do~s ~ontrnuos heterogeneos: de um lado, os sistemas multipartidários, No alto do quadro, "sistemas de partido de Estado" são contrastados com
) b1pamdari~s _e de p~ido _pr_e~ominante; do outro, as formações políti- "sistemas partidários" para indicar que, nos casos de unipartid~mo e ~e
)
cas -~egemorucas e uruparhdanas. O primeiro contínuo envolve sistemas partido hegemônico, falta autonomia ao subsistema, não constltULndo tais
pol 11Jcos baseados num sistema partidário; o segundo, os sistemas políticos casos, portanto, um sistema de partidos cujas propriedades sistêm.ic~s r~sul­
) ce_n trados na identificação partido-Estado. Os sistemas partidários ter· tern da interação entre os partidos (no plural). 14 Outra maneira de rnd1car-
rrunam com o caso do partido predominante; os sistemas de partido de mos as diferenças relaciona-se com a minha argumentação inicial de que a
) função primária dos partidos (no plural) é a expressão. 15 Assim sendo, no
Estado começam com o caso do partido hegemônico. Os primeiros são sis·
) t_~mas_ competitivos;_os segundos'. não. O primeiro é o contínuo do plura· plano inferior do quadro, a área de m onocentrismo caracteriza-se por um
li mo, o segundo, nao. As duas areas não estão separadas pela boa ou m:í potencial repressivo, ou coercitivo, enquanto a área ~o pluralismo ~ou po·
) vontade ?º~ atores políticos. Quaisquer que sejam as intenções, h:í um li partidarismo) é caracterizada em termos de capacidade expressiva. Na
) p~nto. :Uem do qual encontramos mecanismos alternativos baseados em verdade, a repressão não consiste de simples força física; ela deve ser ~~­
prmc1p1os de funcionamento opostos. tendida como uma indicação, mais ampla, de alta capacidade de mob1h-
) z.ação e espoliação, conseguida por meio da manipulação dt! massa Nesse
)
)
) f O QUADRO ANAL/T!CO GERAL 313

) s;;ntido amplo, a noção de repressão encerra também a função política


) de com unicação e, mais exatamente, o tipo descendente de fluxo de co-
municação. Inversamente, quanto mais um sistema político permite a ex-
l pressão, mais permite uma pressão de massa exercida de baixo. Isso equi-

,•) V'J
1•ale a dizer que a noção de expressão indica um fluxo comunicativo em
direção ascendente.
o Se insisto na questão da desco ntinuidade, não é porque tenha uma
~ J <:<:
'á· :;- visão maniqueísta do mundo. Como "intensidade" é uma variável decisiva,
ló' ) - o
f- .:. n5o vejo bem por que o sistema de partido de Estado deve ser, inevitavel-
, )
~:::
< üo.
Q.
V'J E \
mente, intolerável. Já disse que o quase-partido único que resulta da falta
quase total de mão-de-obra qualificada é, ao que tudo indica, uma necessi-
<
" ) :E
::.J
o
~
\ dade. E estou pronto a admitir que um partido único pragmático (ou um
partido hegemónico pragmático) não só pode ser necessário como até
.. l ir,
\
, ~ \
mesmo preferível se a alternativa 1'or um tipo de multi partidarismo ou de
atomismo caótico, corrupto e acentuadamente ineficiente. Portanto, mi-
) Tl \ nlia preocupação é com a predsão terminológica. Quando digo que o par-
"1 \ tido único não é um substituto para o sistema partidário não estou fazen-
do um julgamento de valor. Da mesma forma, quando ressalto que o par·
"~ ) o
E

tido único j á não é uma agência expressiva, pretendo apenas observar que,
se desejarmos que a função expressiva seja desempenhada, então devemos
,. l estar preparados para suportar as desvantagens do pluralismo partidário.
~.ainda uma vez, uma ques tão de saber o que se quer.
~) Deve-se compreender, pelo quadro, que a colocação de categorias
,. ) numa ordem de intensidade de repressão decrescente, no lado esquerdo,
e de intensidade de repressão crescente, no lado direito, constitui apenas

.
I
uma aproximação. Desejo tão-somente transmitir a idéia de que uma es-
) õ / trutura uni partidária do tipo pragmático é menos repressiva, ou menos in ·
) <
f-
I tolerante, do que uma estrutura partidária hegemónica do tipo ideológico.
• tl)
t.;; I De um lado, o fato de que a capacidade expressiva crescente parece rela-
) ~­
ªVo I o
cionar-se com o número crescente de alternativas oferecidas ao eleitor não
o.::-: significa que um sistema mais expressivo seja também mais democrático.
) o::::
-:-ü / ~
~ A expressão é apenas um dos vários indicadores qu~ nos permitem avaliar
r- e.

>
<:<:
<e:
:.... 8
~
/ o::
f-
z uma democracia. Embora as linhas-mestras estejam representadas, os de-

)
;;.; é.
-- · e~
eo "~ talhes estão rnal delineados, como é inevitável num esquema. A advertên-
cia aplica-se igualmente à colocação do atomismo partidário, que não pre-
ti) - z E
) < o " tende transmitir a sugestão de que tal situação corresponde por definição
:::;; :::;; "C
o
'"
v- a um elevado grau de capacidade de expressão. O pluralismo atomizado
.g equivale a uma situação na qual os partidos são "rótulos", coalizões frou-
.e..e: xas de notáveis que, com freqiiência, se modificam a cada eleição e tendem
) r.
e: a dissolver-se de uma eleição para outra. Como esse padrão representa a
) fase de desenvolvimento dos sistemas partidários que precede sua consoli-
)
)
j dação estrutural, coloquei o multipartidarisrno atomizado no extremo
direito para sugerir, muito experimentalmente , que a prolongada sobrevi-

-)
)
)
e;
.31~ PARTIDOS E SISTEMAS PARTIOÀRIOS
~
) O QUADRO ANAL/TICO GERAL 3\5
s;
) \·~neta :in:icrônica <le uma configur:tç:lo atomiz.aJa é especi:ilmente conJi... Quadro 34. e;
) riv:i ao pluralismo e:-..tremo e polarizo.do. Esquema estrutural simplificado
Também se deve entender que, dividll1do o contínuo em metade, Si
não pretendo absolutamente sugerir que, tle um la<lo. remos apenas repres- Unip;:utida.rismo } Sistemas unipol:ues ~ ! onoparwfarismo
••
..•..•
) são e <lo outro, ternos :ipenas expressão. Claro que não. "Rcpressio" po<lê p3 r!ido hcgemõnico
ser d~iinida corno uma situ:ição na qu:i.I os meios coercitivos Je govcrnu
) predominam ao longo de wdo o contínuo. I_nversament~, ·'expressão"' in- [P:irtido predominante)
<lica uma situação na qual as pressões de bruxo predommam ao longo do H1pa.rtidarismo } SistcmJS bipola.res }
~ ! ultipartidarismo moderado
contínuo sobre a coerção <le cima. Evidentemente. qualquer situação d.; Polip:trtidarismo
) \!ultip.J..rtidarismo extremado Sistemas mult ipolare s
repressão inclui uma certa expressão, e inversame:nte_. qualquer si tuação
{Sistemas atomizados)
) de expressão inclui certa repressão: de fato, estou md1cando _u~a desco~­
tinuidade básica do mesmo conrr'11110. Por outro lacto, as continuidades sao

••
..•.
1 i.ndicudas, no Quadro 33, por fledtas horizontais nos dois sentidos , indi-
) cando que, dentro de cada área - monocentrismo ou pluralismo-, as _t:ai1- Da mesma forma, os sistemas atomizados podem ser reunidos e considera·
sições de um sistema para outro ocorrem sem lflterruyção, sem _mod1t1c:1- dos como um provável predecessor do multipartidar!smo extremado. Fica-
) ção nas regrns do jogo. Por exemplo, a tr:insform:içao _de u_m,s1stcma_de mos, assim, com cinco categorias principais, e estas, por sua vez,,pcdem ser
partido predominante num padrão bipartidário ou. muluparudano, e VlCC·

..•
) :igregadas em três grupos, ou seja, sistemas u~!polar_:s , bipolrues _e mul:i·
versa, fica simplesmente à escolha dos eleito·res. ~ 6 D_a mesma f~r~a, a polares. Quando o enfoque recai sobre as conj1guraçoes estrutur<1/S (e nao
) pass:igem do unipartidarismo para um padrão de _partido hege~onico, e sobre o número de partidos) estes últimos rótulos se recomenda1n pela
) vice-versa. pode ocorrer pacificamente, como uma simples q~esta? de aper· sua simetria simples. Por sua vez, os rótulos estruturais ajudam a 'feparar
tarou afrouxar (qualquer que seja a constituição formal) deVJdo a natureza a tradicional classificação imperfeita, indicando q_ue o bipartidar\srpo e o

....••
) altamente discricionária dos sistemas de poder em questão. multipartidarismo moderado são estruturalmente semelhantes - sãp ..amb~s
Finalmente, o quadro apresenta "formaçõés par~idárias íluidas". sistemas bipolares - e, portanto, que a principal divisão se faz entrepmlti·
)
Isso serve também para lembrar que a tipologia ni'o se aplica aos no~os Es· partidarismo moderado e extremado. . , .
) tados cujos processos políticos correspondem a uma etapa de cresc~ment~ A utilidade de uma tipologia das estruturas part1danas pode ser ava-
altamente difusa, volátil e provisória. A exclusão e· deliberada e foi expli-

......
) liada de várias maneiras. Uma delas é indagar - de forma muito ampla -
cada em detalhe. A categoria é enquadrada, potfünto, para mostrar qu.: quanta informação de relevância teórica e em termos de previsão tqJ, tipo·
) as formações políticas fluidas estão incluídas no quadro apenas como_ uma logia transmite com respeito ao sistema político como um todo. A q~e~tão
categoria residual. 11 Também devemos deixar dato-que a _coloca~~º mter· é novamente respondida esquematicamente no Q1.ladro 35 , que re~ac1ona
) me diária da categoria não pretende sugerir que as :formaçoes poltncas vo· o mapeamento partidário com várias propriedades sistêmicas. ·

.•
) láteis servem de ponte à descontinuidade do contínuo, mas que ~ua conso· O Quadro 35 supõe que o número de partidos é a variável indepen-
lidação futura presumivelmen te as levará a um ou á outro dos dois campos. dente. Há muitas razões para isso, de que já nos ocupamos detalhadamen·
) De acordo com o Quadro 33, as principais categori2s são sete. ~~as. te. Mas duas delas se destacam a essa altura da argumentação. A primeira é
) quando se incluem os sublipos, a tipologia passaoa. conter dez catego~as: que a variável número-de-partidos pode ser operacionalizada, e na Yerdad~
(i) unipartidário totalitário, (ii) unipartidário autarit~ri?, (iii) unip~rt1dan~l medida is de maneira melhor e mais fácil de que qualquer outra. ·E, eVJ·
) pragmático, (iv) hegemônico-ideológico, (v) hegemo~co -~ragmático, lv1 l dentem~nte há muitas vantagens técnicas em contarmos com uma variá·
)
)
part ido predominante, (vii) bipartidarismo, (viii}-m~llpart1dan~mo mo~~~
rado, (ix) multipartidarismo extremado e (x) pluralismo ato~~ado. P:t
vários propósitos, dez categorias se tornam pesadas e desne~essanas . Qu_:11 '.·
vel operaci~nal independente. A segund:i razão para se atribuir ao critério
numérico a condição de variável independente é que as alternativas.levam ••

facilmente às explicações circulares e/ou deterministas; por exempl.o, en·

--
) do isso ocorre, a tipologia pode ser simplificada por sucessivas agregaçoe~. côntramos tantos partidos porque eles refletem tantas clivagens. Na minha
O esquema resultante, mais manuseável, é apresenr-.ido no Quadro 34. argumentação, porém, as estruturas par.tidárias, tal como indicadas ?elos
) O quadro reabsorve o partido predominante, coni;iderando esse s1s·
. números de partidos, podem refletir, mas também podem ~ão r~ tl_etlr, as
) tema como um possível resultado de qualque(variedade de pluralismo. clivagens sociais, e pode aumentar ou diminuir a polarização 1deolog1ca .
) ti::
) ~
)
Quadro 35.
Quadro anal íiico geral

(/) lnJicar.Jor: (fl) Variá v1!is:


Núm ero de partidos a} Ideologia {Ili) Classifi· (IV) Tipologia (V) Propriedades (VI} Propriedades {Vil) Possibilidades alternativas
(fragmentação} b) Segmentação caçoo constanres variáveis
Alta Uni partidário Monopólio
totalitário

Hegemônico
Uni partidário ideológico Comunicação
dcscende n te
1 partido { nenhu:. inte nsidade Partldo Unipartidário Capacidade
ma fragmentação) ideológica hegemónico autoritário coercitiva-espolia tiva
decrescente
U11Jpartidário Nenhuma autonomia
pragmát ico de subsistema (ou
mínima)
Hegemónico
Baixa pragmático

2 partidos llaixa Governos alternados Bipartidário polarizado


(fragmentação Bipartidário BiparÜdarismo
peq uena /eq uilibr ada) (formato) (mecânica)
Competição
Dis tância Política moderada
ideológica ou
3-5 partidos Segment ação Pluralismo Pluralismo Autonomia dos Estrutura bipolar: Pluralismo limitado
limitado moderado subsistemas coalizões alterna tivas mas polarizado
Competição centrípeta
Comu ni cação
Mais de 5 partidos Pluralismo Pluralismo ascendente Multipo laridade: Pluralismo extremado mas mode·
(al ta fragmentação) extremado po larizado (expressão) rodízio periferado rado (ou semipolarizado)
t
Alta Competição cent rífuga

1 partido predomi·
nante (alta concen- Qu:l.lquer S1stcm3 de panido Nenhu m rodízio
tração desigual ) formato predominante Baixa competitividade

317
.11/l
...
1 ,,...
) f;
).
Jt8 PARTIDOS E SISTEMAS P,.J.RTIDÁRIOS
O QUADRO ANALF°TICO GERAL 319 ~
) e
)
)
As considerac;ões acima ajudam igwlmente a expli.::ir por que o fatvr
ideológico é concebi<lo como uma variável interveniente. É ev1<lente por
si mesmo que os elementos incluídos nas duas prime1r:is colun:is <lo QuJ.
<1fl trdnsiw Je um companimento para outro. Isso pode ser chamado· de
"combinaç:ío din:i.mica" - o que ~ excelente, pois dá testemunho da sen-
;ibili<lade de urna taxonomia ;i mudanç:i e à dinànuca. Nesse caso. portan- ••
)
)
dro 35 interagem . .-\$sim. bem poderíamos tratar a ideologia e, ou 1 ~e~­
men taç:ro como as varidveis independentes. Se assim fosse, as necessi<lad~s
de informação e as diftculdades operacionais seriam muico maiores.
:o. um caso rnisco não é, de modo algum, um caso desviante. O problema
5urge, porém, com as "combinações est:í ticas": um determinado siste·
ma concreto cai e permanece entre dois compartimentos. , esse caso, onde
~ quando um caso misto difere de um:i exceção?
••
)
)
Seja como for, a úhima coluna do Quadro 35 indica onde podenJ
escar o verdadeiro problema. Digo ·'possibilid:ides :tlternac1vas" porque
podem ser de dois tipos: exceções ou casos mistos. As exceções, isto é, os
.t uma boa pergunta, especialmente porque nos obriga a reconhecer
4ue as t:ixonomias não servem apenas a uma finalidade explicativa, mas
••
.•
tJmbém a uma finalidade mapeadora, de delimitaç:i"o. Suponhamos, para
) •·casos desviantes" que indicam uma falta de correspondência entre o for- Jrgumentar, que nem o número de partidos nem o fator ideológico têm
mato da classe e as propriedades do tipo já foram iden cific:idos e discuti· qualquer relevância causal. Mesmo assim, as respectivas propriedades dos
1 dos. 19 O ponto metodológico é, no caso, o de que, sempre q;,ie supomos v:írios tipos de un.iparcidarismo, de bipartidmismo, de pluralismo modera·
) uma regularid:ide, devemos esperar acontecimentos que não se conform!}m do e de pluralismo polarizado continuam como são. Da mesma forma, se
••
.
à regra. Significa isso que a regra é contrariada e, com isso, fica enfraque- negarmos que o formato afeta a mecânica, podemos simplesmente ignorar
) cida? Depende de como foi concebida. Se a regra incorpora as exceções. as colunas [ e III e começar da coluna IV, isto é, com a tipologia. Essa ex-
) isto é, regula as exceções subsumindo-as a uma regularidade, ent:Io el.1 n;fo pt:riência mental pode ser levada aos seus limites lendo-se o Quadro 35 em
fica enfraquecida pelos casos excepcionais. E deixei claro, sempre, que a sentido inverso, a começar da coluna VI. Nesse caso, o vetor causal perde·

-.•
) classe só corresponde ao tipo sob a condição de que o número de partidos se, mas as associações permanecem. Por exemplo se temos governos alter- fl
)
(fragmentação) varie de acordo com um aspecto de opinião que vai d:i nados, vemos que isso se associa a um sistema competitivo, à mecànica
esquerda à direita (distância ideológica); mas os partidos não se dividem centrípeta do bipartidarismo, a um formato bipartidário, a uma baixa dis·
) apenas ao longo da dimensão ideológica esquerda·direita, mas igualmen· t:incia ideológica (ou a uma segmentação que não afeta o sistema partidá-
) te ao longo de outras dimensões: religiosa, étnica, lingüística e também rio), e, finalmente, à segmentação pequena/equilibrada que resulta em ape·
ao longo de um eixo centro-periferia e/ou sul-i1orte. Portanto, acé mesmo nas dois partidos relevantes. Mesmo quando, ou se, nenh.uma atribuição
) um pequeno espaço ideológico permite, ao longo de outras dimensões. causal é feita, o mapeamento continua válido. E, do ponto de vista da fun· ti
)
)
uma fragmentação relativamente elevada.
Na prática, o problema da discrepância dificilmente surge até cheg:ir-
mos ã distinção entre multipartidarismo moderado e extremado. E, nesse
ção de mapeamento das taxonomias, os casos mistos servem à mesma fina-
lidade dos casos puros: localizam igualmente coisas ou acontecimentos
com relação a parâmetros dados.
••
)
)
ponto, a regra sujeita a questionamento é, na verdade, a seguinte: o forma·
to partidário de mais-de-cinco é um indicador de distância ideológica, ex-
ceto se indicar fragmentação. E o argumento poderia ser o de que· a regra
Os casos mistos podem ser avaliados ainda de um outro ângulo. ~
certo, por definição, que qualquer esquema violenta os fenômenos que
engloba. Se os casos concretos são fáceis de serem enquadrados, isso é,
••
)
)
é válida enqu111to a freqüência está do seu lado. Isso equivale a dizer que
se as exceções são mais freqüentes do que a regra, então a regra deve ser
invertida e reformulada como segue: o formato é um indicador de fragmen·
com toda probabilidade, porque o esquema se lança a um nível muito abs·
trato. Inversamente, quanto mais baixo seu nível de abstração, e portanto
mais elevado o poder discriminatório, maior é a probabilidade de que vá-
••
tação, exceto quando indica distância ideológica. Na prática, a reform1~J·
ção é aceitável, no sentido de que meu caso pode ser reformulado a<lequJ·
dameme. Em princípio, porém, eu diria assim: a freqüência das exceções
rios casos concretos escapem, até certo ponco e sob certos :ispeccos, de
qualquer enquadramento isolado. Desse ponto de vista, o argumento po·
deria ser, portanto, o de que os casos mistos valorizam os méritos de um
••
)
)
enfraquece a capacidade explicativa da regra que as incorpora, mas nJo
inverte a regra, em si e por si, até e a menos que encontremos uma. regra
melhor. Isso porque as regras devem, se forem boas, ter em si uma lógic:i
esquema de análise meticuloso e discriminador.
Dada a enorme variedade e fluidez dos fenômenos que tentamos ana· ••
)
teórica.
Os casos desviantes ou exceções - dizia eu - são diferentes dos casv~
lisar, as complicações acima são as menores que podemos esperar. A adver·
tência delas resultante é a de que, antes de avaliar as exceções e/ou os casos
mistos, devemos saber o que queremos de um esquema classificatório ou ••
.
) niisros. A distinção não é tão fr:ígil quânto pode parecer à primeir3 visl.i .


tipológico. Com relação à finalidade de mapelmento do esquema, os casos
Para começar, um sistema concreto pode ser considerado misto por est3r
)
)
fia
·- ...... ,_,..,,.,1,.1,., O QUADRO ANAL{TJCO GERAL 321

.J mistos são tão bons e tão úteis quanto os que se enquadram na classifica- Um último ponto merece menção . A taxonomia desenvolvida na se-
ção. Isso equivale a dizer também que, quando uma taxonomia consegue
J desemaranhar o espantoso labirinto de fenómenos do mundo real dispon.
gunda parte deste livro pode ser acusada de insensível, em grande parte,
à existência de tensões e de pressões societais. O Canadá e a Bélgica são
.J do-os em ou ao longo de compartimentos classificatórios vizinhos, isso já exemplos óbvios. Temos, no caso, uma fragmentação limitada em termos
j constitui uma realização importanle. Os casos mistos só se tornam proble- do número de partidos, e não obstante muito mais tensões do que, por
máticos, portanto, com relação às ambições de explicação causal e de pre- exemplo, na Suíça ou mesmo na Holanda. Mas é assim que deve ser. Atra·
.) visão de uma taxonomia. Sob esse último aspecto poderíamos argumentar vés do mundo encontramos estruturas políticas idênticas superpostas a
que, se os casos mistos são mais freqüentes do que os puros, então a taxo. estruturas societais muito diferentes. t óbvio, portanto, que as interações
..)
nomia deve ser reformulada de acordo com eles, isto é, deve centralizar-se resultantes, as tensões e atrite>s sejam muito variados. E, do ponto de vista
..) nas combinações. Isso, porém, é mais fácil de falar do que de fazer. Uma de uma ciência da política, que é diferente de uma explicação sociológica,
classificação deve ter um fio, e um critério coerente que explore uma ou ou de uma redução sociológica da política,2 1 a questão .é precisa~cn~e
J mais características relevan tes não é fácil de elaborar. como a superestrutura reage sobre as subestruturas. As clivagens nao sao
J Considerando tudo isso, acredito que o quadro analítico sintetiza· "dados" caídos do céu: podem modelar, e ser refletidas por, a estrutura
do no Quadro 35 suporta bem várias provas. Em primeiro lugar, a variável política; mas podem igualmente ser modeladas ou rest~gidas pela estr~­
J independente - a classificação numérica dos partidos - é bastante ope- tura política. Os Estados Unidos, com um forte potencial de defla~r~çao
J racional e satisfaz as exigências lógicas de proporcionar categorias que são em nível societal ainda não refletido ao nível de suas estruturas poht1cas,
mutuamente exclusivas e conjuntamente exaustivas. Admitindo-se que são um bom exemplo. Portanto, a questão mais geral de que me ocupei é
J o critério numérico é o único, os pressupostos ou limitações a que está a de se é uma estrutura bipolar ou uma estrutura multipolar que reduz ou
J sujeito são poucos, realistas, e certamente não são rebuscados. E ao pas-
s:mnos pelas várias colunas, vemos que as categorias resultantes da clas-
estimula as tensões sócio.econômicas; e minha argumentação foi a de que
uma formação política bipolar está menos sujeita e leva menos à polariza-
J sificação também satisfazem à exigência de serem exclusivas e exaustivas ção, ao passo que um sistema multipolar pro~ave~mente re~orçará e. agra-
...) "não simplesmente como uma conseqüência lógica dos critérios deter- vará a polarização. Mas é claro que, se a polanzaçao de um s1ste~a b1p_o~ar
minantes, mas como fato empírico" .20 mantém uma persistente tendência centrífuga , então a formaçao p,oht1?a
.) Em segundo lugar, o quadro parece oferecer um equilíbrio parei· não continuará sendo, a longo prazo, bipolar. E é isso que temos de regis-
) monioso entre as exigências de mapeamento e de explicação (causal e/ou trar ao nível do sistema político.
de previsão). Embora a parcimônia não seja, por si, uma vantagem perfeita, Vamos recapitular e concluir. Do ponto de vista da distinção ent:e
.)
é preciso encontrar um equi!ibrio, pois a facilidade de orientação e o au· finalidade de mapeamento e finalidade explicativa, pode-se perceber facil-
.) mento da capacidade de previsão não parecem variar em conjunto. Por mente que o Quadro 33 delineia o mapeamento ao passo que o Quadro 35
exemplo, a capacidade de previsão do quadro seria sem dúvida maior e é indicativo da capacidade de explicação e de previsão. São, ambos, esque-
} mais precisa se três variáveis intervenientes adicionais fossem incluídas, ou mas um pouco pesados. Assim, o Quadro 33 foi re~uzido, !1? Quadro 34,
) seja, (iJ o sistema eleitoral, (ii) a estrutura constitucional, e (iii) o grau de às configurações e~truturais básicas resultantes de nunha analise:. Dev_emos,
)
autonomia internacional. Mas o maior nível de detalhe introduzido por agora, realizar uma simplificação semelhante co~ .ºQuadro 3?, isto e, che·
essas variáveis adicionais acrescenta, aparentemente, uma complexidade gar ao que pode ser chamado de modelo sin:1pli[lcado (dos sistemas com-
) pouco compensadora ao map..:amcnto. Por oulro lado, com dois instru· petitivos) e que pode ser representado pela Figura. 36. .
mentas de previsão apenas (a variável independente, e a variável inter- A P ,~imeira coisa a notar é que o canto direito superior da figura p_:r·
manece desocupado. Indicará essa assimetria uma falha·? ereio . que na. º •
) veniente maior, a ideologia) o esquema já explica um grande número de
) variáveis dependentes e já prevê uma grande variedade de tendências e r · " 1
porque 0 espaço vazio representa, com e1e1to, o e~ ~ps · , o" Quando umar-
resultados. · distância ideológica máxima engendra uma competiçao centn.f~ga, fo. 0
) Em terceiro 1ugar, acredito que o quadro referencial em considera· mato bipartidário explode ou abre caminho para uma guerra civil. Por isso
) ção recomenda-se por ser facilmente inteligível e de fácil construção. Nos- a fioura sugere que o multipart idarismo exuemado representa - em con·
so mundo atual move-se depressa e necessita de atualiz:ição incessante e "' de polarização máxima - o resultado mais
dições • J e, ao mesmo
· provave
} fác.:il. Um qu:idro baseado em informações altamente visr'veis e elementares tempo a soluça-o de sobrevivência. A alternativa pode ser, ~a verdade, ~m
) contribui para satisfazer, portanto , uma necessidade prática vital. partido• predominante de grandes proporçoes. - Mas u m partido acentuac.a-

l
')
')

,
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~

~
) ~
11 2 r•/ \ RT!D0 3 e SISTEMAS ºA8 T'OÁ.9/0S o OUA ORO ANA L t'nco GE::1A L J ...-1.
) a=
!:isr.Jnd1iú eo!ógic:a raente. 23
11 Mas a minha principal critica é precisamente que nossas me- ~
didas não podem isolar a direção da competição e são. portanto . cegas ao
)
Alta
demento que é certamente de conseqüência decisiva no desempenho ge ral ~
) B~iX:! Co mpe t1ç:to Je uma formação política. ~
i
..:cntrípcta
Bioar- ~
)

)
l
1
tidarnnto 9.3 Da classifiC<lção à medida
fel
Hi concebivelmente, pelo menos três maneiras de discordar de min.ha ~
anilise conceituai. Uma delas é a objeção clássica de que as classes e ti-
) pos são apenas abstrações. A segunda é o argul'T!ento de que as classes e ~

----=
:·ragmenração Multip::nida.rismo
partidária moderado
tipos são conceitos estáticos, de "localização", ao passo que ?recisamos ~
) Je conceitos dinâmicos, de "processo". A terceira e mais importante crí-
) tica é expressa, em suma, pela tese de que a lógica de classificação é su-
Competiç:io perada pela medida. Essas objeções não são relacionadas, sendo melhor

---
centrífug:i examiná-las separadamente. .
A primeira objeção é tão velha quanto pouco convincente. A parte
o fato de que todo conhecimento científico se oc::upa de generalizações
) Alta
Multipartida.rismo Mu.Jtipartida.rismo e que toda generalização implica abstração, o calcanhar de Aquiles dessa
segmentado polariz:ido
) objeção é que ela não oferece - tal como é feita - nenhuma alternativa.
Por admitirmos que as classificações não seguem as sombras da realidade,
) Figura 36. O modelo simplificado que são cortes arbitrários, disso não se segue que possamos dispensar os
) mapeamentos classificatórios. O mundo da natureza é .sem dúvida uma 9c
combinação de elementos, como é o mundo do homem; nio obstante,
mente predominante resulta da baixa competitividade ; e se a competiti· poderia um botânico ou um zoólogo dominar seu çampo sem recorrer 1i a:i
)
vidade é baixa, segue-se que a variável "distância ideológica" nã"o tem mui- a sistemas de classificação? Na verdade, a principal diferença encre o zoó- • tio
j

--•
to peso na arena eleitoral. logo e o cientista social é que o segundo se tem de ocupar de classificações
eE3
A figura destaca, vigorosamente, em segundo lugar, que a minha ên· e de estar atento a elas muito mais do que o primeiro. O cientista social ~
~
fase recai sobre a direçaõ da competição e não sob re a competitividade. precisa muito das classificações mas - ao contrário do zoólogo - não se
) Como a ~aioria dos autores negligencia esse aspecto, é conveniente insistir pode contentar com classificações definitivas: sendo o seu mundo extre-
) em sua importância. Na verdade, eu também levo em conta a competitivi· mamente dinãmico, ele deve reclassificar, e cbssificir <le novu, sempre. ,;i

~
dade. Assim, pode-se dizer que um sistema de partido predominante cor· A segunda objeção é a de que me tenho pniocupado principalmente


)
responde ~ como acabei de lembrar - a baixa competitividade interparti· com conceitos de localizacão, e não com conceitos de processo . Isso pode
) dárfa. Da mesma fonna, a mecânica do bipartidarismo gira sobre a alta ser admitido prontament;, mas com algumas ressalvas. A pomeira é que
competitividade. Além desse ponto, porém, as conseqüências sistêmic:is também os conceitos de localização permite:n uma certa diJ':jmica. já que ~
) d.a. competitividade não são claras - como sabemos.22 Demasiada compeli· os casos concretos podem mover-se, e se movem. de um compartimento
t1V1dade - medida pela proximidade das margens entre os competidores - para outro. Uma certa dinâmica, porém, pode não constituir suficiente ~
)
pode ser tão pouco útil quanto a falta de competitividade; ou alternativa· dinâmica. Por exemplo, uma análise baseada em conceitos de ;ocaliza.y:io a=i
)
mente, diferentes graus de competitividade podem não produzir diferenç:is
perceptíveis seja no comportamento dos políticos, seja nos resultados go·
vernamentais: E é essa uma primeira razão pela qual não posso seguir as
varias tentativas de tomar a "competição" como uma variável explicativa
- como as configurações estruturais - moma-se adequada às nações que
se estão construindo, mas inadequadas à compreensão c!o processo de cons-
trução de nação. Foi essa, na verdade, a minha opinião, ao focalizar as
formações políticas- fluidas, pois minha advertência de qu~ as classifica- i
i

~
indep~ndente ou_ central, embora eu bem compreenda o que leva a essas ~
1er11ar1va~ . ou seja, que a competição é uma vari:ível mensurável e rnuico
ções podem ser, nos contextos voláteis, muico enganosas, contribui para -i
apoiar a opinião de que a análise dos processos de <iescnvolvimento neces- ~
j ~
~
324 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS
l O QUADRO ANALiTICO GERAL 315

)
)
sita de conceitos de processo amplamente concebidos.2 4 Não obstante, e
por outro lado, os conceitos de processo também carecem de um quadro
referencial que deve ser constante. Portanto, depois de reconhecermos a
l iram das questões do que é, se relaciona com a "ciência quantitativa·• que tra-
ta das questões de quanto? Sem rodeios, como as diferenças de espécie se
relacionam com as diferenças de grau? Ou, vendo-se a questão do outro
) diferença, e as diferentes adequações, dos conceitos de localização em extremo, como a pré-medição se relaciona com a medição? Ao longo desse
1
) relação aos conceitos de processo, perdura ainda um problema de método: ·it inerário, que é realmente longo, é útil distinguirmos entre três etapas ou
podemos apreender a dinâmica a despeito da estática, ou sem referência 1 fases. Primeiro, temos o tratamento classificatório dos conceitos, que é,
) a ela? Não creio, e há no caso alguma coisa que podemos aprender com logicamente, um tratamento ou-ou: isto é ou não é aquilo. Se esse modo
) nossos ancestrais filósofos. de análise for chamado de lógica da classificação, então o segundo passo
Até Kant, a filosofia era em grande parte estática. O próprio Kant pode ser devidamente identificado como uma "lógica da gradação" ,25 con-
) foi um construtor meticuloso de sistemas lógicos. Depois veio a dinâmica: sistindo de um tratamento de mais-ou-menos (grau). Essa segunda fase é
) romantismo, idealismo clássico e e.x.istencialismo. Com Fichte, Schelling, um tanto ambivalente. A lógica da gradação provoca, em proporções con·
Hegel e seus descendentes saltamos da fotografia para a cinematografia, sideráveis um "idioma quantitativo", que nada mrus é do que um idioma
) 1 muito suJeito ao abuso 26 (bem exemplificado pela frase fácil segundo a
da estática para a cinética. Dialética, fluidez, Aufhebung, mudança inces-
sante, ação - foram essas, durante um século, as palavras-chaves da filo- qual todas as diferenças são apenas diferenças de gr~u). A_o_mesmo.tempo:
\ sofia européia. O resultado foi o caos ininteligível. Uma reconstrução ab um tratamento lógico do tipo mais-ou-menos leva a med1çao real, isto é, a
atribuição de valores numéricos a itens. Mas isso é apenas o começo de
> imis fazia-se necessária, a filosofia analítica passou ao primeiro plano e a
maior parte, ou talvez. mesmo tudo, do que havia sido feito antes foi de- uma ciência quantitativa. O terceiro passo consiste, então, de dar aos nú-
)
)
1 clarado sem sentido. A reação do positivismo lógico, em especial do posi-
tivismo lógico inicial, foi excessiva, mas, quanto à filoso fia do idealismo
meros as suas propriedades matemáticas, isto é, submeter nossas medidas
aos conceitos e às teorias da matemática. A essa altura, a ciência quantita-
e do existencialismo, o alvo foi bem atingido. A fusão dialética de toda e tiva é transformada numa ciência matemática cujo ideal final é descobrir
qualquer distinção - na verdade, da própria análise - foi barúda, a estáti- e expressar leis gerais na forma de relações funcionais entre itens medidos.
ca foi restabelecida. Não há dúvidas · de que esse programa deveria ser realizado. Assim,
Onde surge a analogia? j>arece-me que um estado de espírito de "dia- qualquer pesquisador deve m~dir a opor_t~nidade de t.ransf.~rmar as caract_e·
lética romântica,. vem se infiltrando nas ciências sociais. As atuais recomen- d:
rísticas dicotôrrúcas estabelecidas. pela log1ca class1~caç~o nas carac~e:1s­
) ;
dações de que se evitem dicotomias e polarizações lógicas, de concentração ticas contínuas exigidas pela lógica da gradaçao. E mnguem, em se~ 1u1zo
i no processo, na mudança etc. têm alg() de familiar. É esse, na verdade, o perfeito, pode negar que, quanto mais med~mos, melho~. Quanto a mate-
.> i
ll tipo de lógica que explica que a liberdade e a coerção não se podem dis- matização da ciência política, o que é passivei de questionamento ~-se. a
) J tinguir, que a liberdade é inseparável da opressão, e assim por diante. matemática usada é adequada aos nossos problemas, não a convenienc1a
1 Quem tiver conhecido a experiência da dialética hegeliana, ou de sua con- nem 0 enonne potencial dessa utilização. O ponto de divergência nada tei:n
) tinuação marxista, sabe aonde isso leva. A moderação no pensamento ana- a ver, portanto, com o .programa, mas sim co~ a sua execução o~, r;i~is
) lítico está perigosamente próxima do pensamento confuso (e confundidor), exatamente, com como o primeiro passo, ou seja , o tratamento ~bina~10)
tal como a "lógica do processo" corre o risco de levar à obscuridade dialé- ou da lógica da classificação se relaciona com o s~g~do passo, 1:to e, ~
) tica. Devemos aprender com o que aconteceu com a filosofia a evitar as tratamento (contínuo) do tipo mais-0u-menos da Jogica da gradaçao. E. ª 1
mesmas armadilhas. Os conceitos de processo, a lógica de processo (ou dia- que se centraliz.a a questão. . . . . _
.> lética) dão resultados, mas sob a condição de que não mergulhemos de Nos últimos 20 anos, a opm1ão predonunante foi a de por de !.ado o
) cabeça na noite hegeliana, na qual todos os gatos são pardos. O mundo real modo de análise per genus et differentiam na suposição ~e que a ló!?c~ d~
n~o pode ser visto apenas corno um vir-a-ser em processo, ele existe lam- classificação obstruía, ou era contrária, à tendência quant1tat1va da d1sc1ph-
bem, num determinado ponto do tempo, como um estado: sendo. Com n:i. Não só foi :i ciência quantitativa considerada capaz de pr~:ed~r sem a
o devido respeito à dinârrúca, a "localização" não devia ser degradada. E ciência qualitativa, ou fora dela, como supôs-se ainda que. a cienc1a quan-
conde~ar. a~ taxonorrúas por impedirem o entendimento do "processo" é, titativa, tal como expressa pela lógica da gradaçã~, exi.gia o desz:n.antela-
em pruic1p10, tão absurdo quanto condenar um globo por obstruir viagens. mento prático e a rejei ção positiva do modo class1ficat1vo .de_ anal.ise · Na
Ao ?asso que eu nã"o me impressiono com as duas primeiras objeções, minha opinião são mal-entendidos sérios. A primeira suposiç.ao é simples·
o verdadeno problema está na pergunta: como a ··~iência quaiitativa" que mente inverídica em relação aos nossos :itos re:iis como é óbvio para qul!lll
)
)
•s:
) J26 P,J,RTiOOS E SISTEMAS PARTI DA R/OS O QUADRO ANA L /TJ CO GERAL .327 -=
se detcnh:i em observar que, no domínio da" politic:i, a ciênci:i qualitativa
inclui a quase totalidade de nossa teoria. E a segundJ suposição resultou
ri.:Jmos, então, com cominences '·gig:in tes" de dados aue carece m. de mo·
Jo irreparável, de discriminaç:io. Vejam-se as novas v;riáveis e categonas

eE:

)
- na esteira da rejeição da lógica de classificação - nu criação de um gig:in.
te com pés de barro.
Para que minha ênfase sobre os modos de formação de conceitos
p;idronizadas: classe social, ocupaç:io, industrialização, alfabetizaçio, mo·
d.:rnização, participaç:1o, mobilizaçio, Lntegração e outr:is. É quase certo
.1ue essas variáveis não medem, em todo o mundo, fenõmenos idén til.:os e
••
)
)
(classificatório ou outros) n:ro sofr:i a suspeição de conceder privilégios ao
lado teórico da moeda em rellção ao empírico, vou examinar a questão P(!·
lo seu aspecto de dados. Os dados são "fatos" tal como compreendidos e
comuns, e isso à parte o problema de serem fidedignas as agê ncias coleto·
ras de dados. E a questão é, agora, a de que quanto mais pobre a discrimi·
!lação de nossos continentes de dados. mais os fatos são mal rellnidos e,
••
)
dissecados pelos nossos instrumentos de pesquisa, isto é, pelos conceitos
de observação de uma ciência. Isso equivale a dizer que os dados são infor.
mações processadas por continentes conceituais, e neles distribuídas. Ma is
portanto, maior a desinformação.
Dizia-se, há alguns anos, que éramos ricos em teoria e pobres em da-
dos. Poderíamos dizer igualmente, hoje, que somos pobres em teoria e
••
exatamente, os dados são observações recolhidas e dispostas de acordo
com a maneira pela qual os conceitos são modelados e definidos por quem
busca os fatos. Portanto, os conceitos não são apenas as unidades de pensa.
ludibriados em dados. Ludibriados em dados - jâ o disse - porque nossa
base de dados está realmente em más condições. Mas por que pobres em
teoria? Quero dizer, pode essa condenaçJ'o ser atribuída à mesma causa?
••
)

••
...
mento; os conceitos (conceitos de observação) também são, e na mesma Quando revertermos da preocupação empírica para a preocupação
) proporção, continentes de dados. Assim sendo, a pergunta crucial é: o que teórica, a questão é, em suma, se nosso conhecimento ainda precisa, corno
transforma um conceito num continente descobridor de fatos válido? · ponto de partida, da lógica de classificação ou se esse primeiro passo
)
Sem nos determos em minúcias, vamos simplesmente observar que bloqueia os outros e deve, portanto, ser esquecido. O dilema deve ser en·
) a base de dados de uma ciência será mais satisfatória na proporção em que frentado de frente. Ou adotamos a opinião de que o tratamento ou-ou não
seus continentes de dados (conceitos) sejam (i) padronizados e dotados de pode ser posto de lado, ou devemos inverter ousadamente o itinerário e
) (ii) um poder discriminador entre elevado e máximo. Se não forem padro· adotar a ótica neobaconiana: a partir dos dados de volta à ciência.21 .t
)
)
nizadas, as informações não serão cumulativas. Mas a padronização é au·
toderrocadora, a menos que os continentes de dados sejam bastante discri·
esse o dilema, pois o segundo passo não pode sustentar o peso de se cons-
tituir num passo criador, inicial. Graus ou quantidade de quê? Evidente·
••
..••
minadores para permitir a utilização para vários propósitos, abrangendo mente, não podemos medir até sabermos o que esta mos medindo. b claro,
) com isso utilizações ainda não previstas. Como podem ser atendidas essas portanto, que as questões de quanto - não importa até onde nos levarão
duas exigências cruciais? Eis a questão: nao conheço nenhuma outra téc· posteriormente - só podem ser formuladas de maneira sensata em rela·
nica para atender a ambas as exigências conjuntamente além da técnica ção a coisas e fatos que pertencem (com relação a uma determinada pro-
classificatória. A padronização e o aguçamento caminham lado a lado se, priedade} à mesma classe. A lógica da gradação leva à pura confusão a me-
e apenas se, uma classe geral (conceito) é "desmembrada" por genus er
differentiam em das ses mutuamen~e desligadas (oí1-ou) que se tornam. ao
descermos sistematicamente a escala de abstração, sempre mais espe~íficas
- isto é, qualificadas por séries maiores de atributos - e, com isso, mais
nos que se pressuponha um tratamento classificatório.
Quanto à opção neobaconiana, se é certo que os dados são apenas
informações e observações isoladas e processadas por continentes concei-
tuais ad hoc. então o itinerário "dos dados de volta à ciência" parece mui· .,..
..
) discriminadoras. to com juntar barro ao barro. À parte a enorme ingenuidade da epistemo-
A questão é, portanto, que a pesquisa será infinitamente ociosa, J logia neobaconiana, os fatos são (i) que volumes crescentes de pesquisa
menos que se desdobre de uma espinha dorsal comum, e a ela volte. Essa e dados de levantamentos encontram correspondência em sua falta de
I espinha dorsal foi, de há muito, proporcionada pela lógica da classificação comparabilidade e cumulatividade igualmente crescentes, e (ii) que a
e pela disciplina lógica disso resultante. Se essa disciplína for deixada de maior parte dos dados baratos e brutos proporcionados pelas agências

)
!:ido e substituída por listas de conferência não-disciplinadas, toda pesqui·
sa se transforma.rã numa expedição de pesca que emprega redes diferentes
e p...:g::i peixes diferentes. Isso pode ser agradável para o ego do pesquisador.
mas deixa a ciência com descobertas ao acaso, heterogêreas e concomitan·
tes, que, em conjunto, ao serem reunidas, quase nada somam. Por outro
1..ido, a situação não melhora ao passarmos para o outro lado da cerca, pois
produtoras de estatísticas carece, desesperadamerite, de capacidade discri·
minadora. Portanto, o estado da base de dados indica, se indica alguma
coisa, a necessidade vital de se meU1orar a qualidade dos dados na fonre.
A filtragem pelo computador não oferece remédio para as categorias irre·
mediavelmente vagas e irremeàiavelmente superpostas. Não obstante, o
neobaconiano nada tem a dizer sobre a maneira pela qual o coletor de fatos
..-•
,-.
~

) 328 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS
O OUADRO ANAL(TICO GéP.AL 329
)
) f deve agir na descoberta desses fatos. Conten ta·se ao que tudo indica, com
remanipular ·'massas de dados" - apenas maior quantidade da mesma con-
acordo com Duverger, a Itália e a Alemanha Ocidental eram (em princípio
d:i década de 1950) muito semelhantes', não só porque ambas evidenciavam

)
)
t
~
fusão. A resposta é, decerto, que temos hoje poderosas técnicas estatísti-
cas que podem fazer, a partir dos dados, o que tinha de ser feito antes a
urna ··acentuada tendência para o dualismo", como também porque ambas
se caracterizavam pela presença de um partido àorni.nante (na Alemanha,
~
partir do extremo conceitual: detecta-r os erros e modificar ou reformular u Partido Democrata Cristão, que j:í n:io donúna mais). 32 Retrospectiva-
) f a 1eoria disso resuJtante. Mas os controles estatísticos controlam apenas mente, será difícil imaginar dois países que se ten11Jm clistanciado - se é
as variáveis em uso; a análise regressiva múltipla não descobre para nós as que jamais tiveram alguma coisa em comum - mais. Mas teriam, em algum
) l
variáveis que podem explicar - uma vez descobertas - as correlações obser- momento, partilhado de características comuns? Da mesma forma, a lite-
F
1 vadas, e, da mesma fo rma, só os indicadores que colocamos no computa- ratura tem muitas perguntas corno "por que pôde o PR! mexicano conser-
) ~
~ dor são fatorados ou reunidos pelas dimensões relevantes. Em suma, a var seu domínio, ao passo que o PRP turco foi afastado do poder pelos
) ~
1ecnologia estatística e do computador não pode oferecer aquilo que uma eleitores?" 33 Esse tipo de pergunta suscita uma grande quantidade de fal-
"
)
{ formação atrofiada de conceitos não proporciona. 28 sos problemas, a menos que estabeleçamos inicialmente que o PRI é um
Parece-me, à luz de tudo isso, que , na execução de nosso programa, partido hegemónico protegido contra os riscos da competitividade ao passo
)
)
)
)
ll estamos matando o doente com o tratamento e substituindo-o pelo cadáver.
Uma lista de conferência é um mau substit uto para uma classificação; e as
gradações sem a classificação prévia dão aparência de precisão ã impreci-
são. Por outro lado, os limites das classificações podem ser sempre corrigi-
dos pela transformação de dicotomias em características contínuas ao passo
que o dano inicial resultante da negligência classificatória e do descuido
que o PRP correu seus riscos e perdeu num mercado eleitoral livre - isto é,
a não ser que estabeleçamos primeiro que os dois casos pertencem a classes
diferentes.
Evidentemente, do ponto de vista comparativo e teórico, essa é uma
situação impossível, frente à quaJ a condescendência, se não o desprezo,
com o qual geralmente brindamos as "meras classificações", ficam difíceis
\
. ) permanece, com freqüência ampliado através das transformações subse- · de justificar. Entre outras coisas - como Friedrich diz com exatidão e con-
)
qüentes. Vamos repetir, portanto, que nosso entendimento começa sem· cisão - "uma questão de tipologia é uma questão sobre a estrutura da rea-
pre, e necessariamente, com as perguntas do tipo o que é. Se essas pergun- lidade em causa". 34 Além disso, qualquer tentativa de compreender pa-
) tas não forem aperfeiçoadas por um tratamento lógico sistemático, teremos drões e prever tendências será inevitavelmente derrotada se não pudermos
apenas o pior de dois mundos: uma má ciência qualitativa que se reflete nu- estabelecer, de maneira justificada e coerente, quais os países que podem
.) ma m:i ciência quantitativa. "The proof of the pudding is in the eating";* comprovar ou refutar qualquer generalização que estabeleçamos.
.) e o que se tem engolido como resultado da negligência taxonômica é desa· · No que se segue proponho, portanto, um desenvolvimento quanti·
lentador, como vimos em toda a segunda parte deste livro e com umas pou- tativo dentro das linhas mestras estabelecidas pela ciência qualitativa ou
) cas ilustrações ad hoc nos lembrarão. nominal. ·oe acordo com opiniões formuladas anterionnente, estamos ago-
Vejam-se Japão, Estados Unidos, Alemanha Ocidental e Itália. Que ra em conclições ótimas de ir adiante. Como identificamos os problemas,
tipos, ou espécies, de formações políticas são? Como sabemos, o Japão foi sabemos agora o que deve ser medido, e estamos também capacitados a
considerado (i) uni partidário; (ii) bipartidário, porque "só dois partidos têm discernir o que estamos realmente medindo.
substancial participação na Dieta"; (iii) multipartidário, porque seus parti-
dos equivalem a um "sistema de federações mal-estruturadas", e (iv) um sis-
tema de um-partido-e-meio. 29 Pela mesma razão os Estados Unidos podem 9.4 Medindo a relevância
ser classificados como sistema bipartidário, como um sistema ciclicamente
predominante, como um sistema de dois-partidos-e-meio (em que o meio é A tipologia das formações políticas partidárias resumida na segunda seção
) representado pelos democratas do Sul), e como "um padrã'o essencialmente deste capítulo depende , em grande parte, de um critério numérico , ~lto é,
quad ripartidário". 30 A paisagem torna-se ainda mais confusa quando o fio do número de partidos relevantes. Embora eu tenha ressaltado os limites
I
da anilise é provido pela pseudoclasse dos partidos "dominantes". 3 1 De desse indicador, sustentei que ele não pode ser posto de lado. Se dizemos
que o número de partidos indica a fragmentação do sistema partidá~io, ~n­
tão permaneci no mais rudimentar in dicador da fragmentação. Isso e ass'.m
• r~mo)o adágio inglês que ~ignifica que o conhecimento dcpt!ndc da experiência. justamente porque meu enfoque voltou-se , principalmente, sobre a rel~van·
(N do R.) eia e não para o tamanho (um tamanho re~lmente medido) dos partidos.
~

) Ç;:l
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JJO PAR rtDOS E S/STE,WAS PART/O), RJOS o OUA080 AIVAL/nco GERAL 331
e:
) e;:
) .-\s:;im, o elemento do camnnho continua se ndo, em minha 3fgumentaçfo . J o "periodo de tempo" com relação ao que estamos medindo. E a verdade ~
iangencial. Antes, porém, de p:issarmos ao t:imanho, vamos ver primeiro :ie ~ que a maioria das comparações têm de utilizar a série temporal que esti·
) '·relevância" pode ser operacionalizada e medida de melhor maneira do v.:r registrada. ~
) que o tiz até agora. Se não há muito sentido em se proporcionar uma medida sistê· ~
)
)
As regras de contagem dos partidos basetam-se - para o multipani.
d::irismo em geral - em dois critérios: se um p:irrido tem um potencial de
coa!izão ç/ou se tem um potencial de chantagem.3s P::ira os meus propósi-
mica da relevância "potencial" dos partidos, o caso ê diferente com rela-
ção à sua relevância "concreta", quando então o critério pode ser bastante
d:iro : um partido só ~ governamenralmente relevante quando realmente
••
)

)
tos - atribuição de casos concretos a classes - foi necess:irio, e na verdJJ<!
contrário ao princípio da parcimônia, especificar melhor esses critérios.
Mas a medida não permite fruuxid:ro. Assim, no caso do poten.cial de coa-
governa, participa de um governo ou o apóia no voto de confiança, propor-
d onando-lhe aquela maioria que é necessária a um governo para que possa
assumir o poder. Como cada parlamento multipartidário pode produzir
••
)
tizão, temos um critério que -exige duas medidas: uma para a relevância do
potencial de governo e outra para a relevância governamental concreta.
Jiferentes maiorias de coa.lizão (isto é, maiorias que combinam diferentes
números de partidos), não há dúvida de que a unidade temporal significati-
va é, no caso, a legislatura'. Assim, a base operacional da medida é a que se ••
•.
) No primeiro .caso, a medida focaliza qualquer panido que governe,
entre num governo de coalizão, ou apóie um governo como componente ~~- .
) Primeiro, não contamos os partidos que, numa determinada legisla·
necessário de sua maioria parlamentar em certos momentos. Surgem ime. tura, não participaram de ou apoiaram (com o voto de confiança) pelo
) di::itamente dois problemas operacionais: em que momentos e duranre que menos um governo. Se um part ido vota por um governo, mas seu apoio é

••
1
.•
períodos; e, em segundo lugar, quJis as maiorias concretas (mais do que desnecessário (além do ponto de vitória) e rejeitado pelo governo, não será
) mínima, mínima vencedora) e/ou como tratar com governos minoritários. contado. Se, porém, o governo deve sua aceitação ã abstenção de outros
A primeira dificuldade pode ser resolvida estabelecendo-se que a unidadt!
)
de tempo é a legislatura e que uma "ocasião de relevância " por legislatura é
partidos, os partidos em questão serão contados. Segundo, todos os part~­ 1
) suficiente. Supondo (com otimismo) que também superamos a segunda
dos que participam de um governo, ou o colocam no poder (como especi-
ficamos) recebem o mesmo peso. Terceiro, supõe-se que os partidos . se
~
dificuldade, teremos um número preciso para cada legislatura. Mas esta é .,~
••
) comportam como unidades: portanto, não se leva em conta a mudança de
uma comprovação incompleta, desinteressante, pois estamos interessados partidos. Quarto, cada legislatura recebe o mesmo peso, a despei~o de .sua 1·:
) em uma medida sistémica. Presumivelmente, portanto, teremos de recorrer .,
duração, desde que os resultados eleitorais não provoquem a 1med1ata
) a uma média. E tudo estaria muito bem não fosse o fato de que a média

)
pode ser totalment; enganosa (se o sistema se tiver modificado) e, de qual·
quer modo, de que nosso valor atribuirá ao sistema uma "falsa estática",
pois a dimensão temporal terá sua média estabelecida em tomo de algum
convocação de outra eleição. Como a duração da legislatura é irrelevante,
segue-se também que uma legislatura pode ser examinada antes mesmo de
sua conclusão. Quinto, a relevância dos partidos na coalizão ou no governo
l
·j
·~
••
)

)
ponto passado (central) do tempo. Se considerarmos, além disso, todas as
só será estabelecida por média, e apenas nesse caso, quando as característi-
cas do jogo de coalizão permanecem constantes. De acordo com as condi- ;
••
....
condições exigidas para a base operacional da "maioria", parecerá. então. ções anteriores, tomemos n (o número de legislaturas) como o numerador,
que a precisão de nossos valores resulta de uma grande margem de arbitra·
)
)
)
riedade subjetiva: é uma precisão falsa, que constitui apenas um artefato
operacional. À luz de tudo isso, portanto, não vale a pena continuar com a
medida. O critério seguido até agora nos permite, com o tempo, abandon:ir
e a soma das c/s (as unidades de coalizão) como o denominador. Uma uni-
dade de coalizão é atribuída a um partido toda vez que participa de um
governo ou lhe dá seu apoio decisivo (ainda que apenas pela abstenção). A
medida é, portanto

.....
os partidos ::intigos e/ou incluir partidos novos. Sua flexibilidade permitt!
) atualização. Em contraste, a medida sistêmica parece exigir uma médi:i que
mata, por sua vez, qualquer dinâmica que tenha sido proporcionada p.:!u
)
caminho nominal, ou mais nominal. Devemos acrescentar, ainda que apenas
de passagem, que enfrentamos, no caso, um problema metodológico geral. O caso ma.is simples é representado por uma legislatura de um gover-

......
)
Não só deve qualquer valor médio dado para uma formação política supor no único, isto é, por uma legislatura com apenas um governo. Nesse caso,
) que e$ta continuou inalterada - em relação a um determinado conjunto de cada partido govemamental (ou cada partido que apóia o governo no par-
) parâme tros - no período em exame, mas também quando recorremos :i lamento) recebe uma e de 1. Se há três desses partidos, por exemplo, ale-
médias devemos perguntar :i nós mesmos qual a pertinencia e/ ou incic.lenci:i gislatura dará uma contribuição de 1 para o numerador e de 3 para o deno-
)
)
)
O QUADRO ANALiTICO GERAL 333
332 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS

Quadro 37.
minador. Mas a maioria das legislaturas registra mais de um governo. Nesse fragm entação de coalízões governamentais em 18 países
caso, não podemos dar uma e de 1 a todos os partidos que participam dos
(médias sistêmicas correspondentes ao
vários governos, pois com isso deformaríamos a medida, medindo, além
período 1946-1974 aproximadamente)
disso, alguma outra coisa : a instabilidade governamental, isto é, a freqüên-
cia com que os governos caem e os aliados se modificam. Logicamente, o
.8 .77 Índia
problema pode ser resolvido por uma de duas maneiras: (i) dando um e de Suécia
.67
l a todos os partidos, ao mesmo tempo que tomamos como numerador o fodia .59 Uruguai (1946-1973)
número de governos, ou (ii) mantendo constante o numerador ( l iguai a .58 Noruega
uma legislatura) e dividindo o denominador pelo número de governos (por .53 E ire
exemplo, com dois governos as c1's serão 0,5; com quatro governos, 0,25). .7 .51 Bélgica
A primeira opção atribui peso igual aos governos de duração desigual; a .49 Japão (1947-1955)
segunda atribui peso igual a legislaturas de duração desigual. Como a dura- Suécia .48 Áustria (1945-1966)
ção governamental tem, na realidade, uma variação muito maior do que a .46 Luxembur&o
.45 Islândia
duração legislativa, por motivos empíricos a segunda solução parece prefe- .6
Uruguai, Noruega .44 Alemanha Ocidental
rível e é a adotada nos cálculos.
.41 França V
A medida - urna função do número de partidos que têm uma rele- Eire .35 Dinamarca
vância real para as coalizões (para o governo), por legislatura - é portanto Bélgica .28 Itália
.27 Finlândia
bastante simples. Como o numerador conta cada legislatura como 1, e .5 Japão, Áustria .27 Suíça
como uma legislatura de governo único atribui igualmente 1 ao denomina- Luxemburgo, lslândia Holanda
.26
dor, 1 representa o teto da medida; e quanto maior "Lei, menor a razão Alemanha Ocidental .25 Israel
entre n/Lci. Assim, podemos testar imediatamente como essa classificação .20 França IV
França V
funciona, numa seleção adequada de países, no período posterior à Segun- ·4
da Guerra Mundial.
Como o título do Quadro 37 indica, medindo o número de partidos Dinamarca
que são governamentalmente relevantes, estamos na verdade medindo a
fragmentação das coalizões governamentais. Note-se, incidentalmente, que .3 I titia, Finlândia
isso não é uma medida do "peso de coalizão" dos partidos. 36 A segunda Suíça
coisa a notar é que o quadro exclui os sistemas bipartidários que obedecem Holanda, Israel
à mecânica ào bipartidarismo. Isso está certo, porque meu critério foi pre-
visto para o multi partidarismo. Além disso, a exclusão é necessária põrque .z França IV
a medida é tão definida que proporciona, com relação ao bipartidarismo, o
valor 1. E o mesmo se aplica aos sistemas predominantes. Conseqüente-
mente a Áustria é incluída apenas para o período 1945-1966, no qual pôs Como seria de esperar a fodia tem a mais alta classificação .. O Japão
em prática a "grande coaliz.ão". )7 E a fudia é incluída devido à divisão, em '
é incluído apenas para o período no qua1 101
" · um s1s
· tema_ de pluralismo .,mo·
1969, do Partido do Congresso. Quanto às graduações, sua interpretação é derado. Se fosse estabelecida a média para todo o penodo l 94_7-.197 -~j ª
simples. A categoria l corresponde a um governo unipartidário diacrônico,
classificação seria 0,71 e refletiria o cancelamento das cara.ct_:nsttca~e ~~
isto é, ao governo pelo mesmo partido, so2faho, em toda~ as legislaturas. A dois sistemas A V República francesa tem 0.41 na supos1çao d~dq d
categoria 0,5 corresponde a governos bipartidários diacrônicos, isto é, a wna · . . d d ser melhor cons1 era os
distribuição centrada nas coalizões entre dois partidos (presumivelmente gaulistas e os republicanos mdepen .entes po em rtido a classi·
como dois partidos. Se fossem considerados com~ um só pa d , d' .
indo de um a três partidos). A categoria 0,33 corresponde a governos tripar· - .. O6 2 38 A 0 continuarmos a leitura do qua ro na ire
tidários diacrónicos, ou seja, a uma distribuição centrada em coalizões entre ficaçao subma para • · das dificuldades encon-
cão descendente, a Dinamarca é um bom exemp10
três p:ut iàos (indo presumivelmente de um a quatrÔ-Ci.'1cO partidos).
e
~
334 PARTIDOS E SISTEMAS PART!DARIOS O QUADRO ,:.,VALJ°T!CO GERAL 335
) C!
) tradas ao longo do caminho da mensuração. Em 1974,ela tinha um governo Quadro 38. C;J
) unipartid:írio liberal com apenas 21 deputados num parlamento de 179 ca. Percentagens cumulativas de países escolhidos C:3
de iras, que assumiu o poder graças ao processo de maioria parlamentar que
) vocou contra um voto de desconfiança. 39 Assim, na legislatura de 1973.75 Irá/ia Su íça Holanda Dinamarca Noruega 9:l
( l 961) (19611 (196)) ( 196 J) ( 1965)
) :lOSsas regr::is nos obrigam a contar mais de um partido. Quanto à classifi. OI
~aç:I? da Itália, ~e;~mos lembrar qu~ não estamos medindo a fragment::içfo \lai or part id o 38,2 '26,2 31.9 41.9 43,l
) <.10 sistema partidáno, mas das coahzões governamentais. Se considerarmos l maiores partidos 63.5 5 0.6 59,9 6 2,7 64,2 ~
que, na Itália, no período em exame, cerca de um terço dos votos (os co.
munistas e o MSI) só adquiriram relevância governamental numa legislatu.
ra e, segundo, que o principal partido centrista, a DC, controlou cerca de
J mJJOr:!S partido~
·t 111 :uores parudos
S maiores partidos
6 mJJores parudos
77.3
84.3
90.3
95 ,5
74,0
8 5 ,4
90.4
92,6
70,2
78,9
87,5
90,5
82 ,2
88,6
93,9
96 ,4
74.6
84,5
92.6
98,6

911
)
40% das cadeiras parlamentares, então a classificação da It:ilia fazsentido ..io 7 maiores parttdos 97,J. 94,8 93,3 97,7 100,0 si
)
Se a medida é útil, é o que nos resta ver. 4 1 O importante,•no caso, t!
que ela mostra como proceder em relação à ciência quantitativa e, inversa-
:! rnaiorcs partidos 98,8 96,6 95,6 98,9
Fonre: Este qll:ldro, extra í à~ de Arendt Lijpha.rt, "Ty po logies of dc rnocratic sys terns" , •
...
...
~ente, ~orno a oper~cionalização se reflete de volta, com proveito, na ciên- é re produzido de Compararive Polilica/ Studies, Vai. 1, n<? 1 (abril de 1968), pp. J-44, 111
)
cia norrunal. A análise mostrou que a ampla aceitação do "potencial gover· ~om :i :iuto rizaç5.o do editor, Sage Publications. lnc.
) namen.tal" nada tem a ganhar em ser medida : as desvantagens ultrapassam
de muito as vantagens. E a observação se pode estender, com maior razão
)
a~n.da,. a uma medida geral sistêmica que incluísse também o segundo cri- vel ( . ..) estabelecer uma distinção clara, baseada no número e no tamanho 1

•..
) teno, isto é, o potencial de chantagem. 42 Por outro lado, a operacionaliza. dos partidos, entre a Itália e os outros quatro pa ises". 43
)
ção exige que distingamos entre uma aceitação ampla e uma aceitação Na verdade, Lijphart está criticando uma versão anterior de minha 1
limitada do primeiro critério, e isso representa uma vantagem evidente em distinção entre pluralismo moderado e extremado. Como essa distinção se 1
) termos de clareza. Na verdade, até mesmo a medida da fragmentação go- segue de minhas regras de contagem, não é preciso dizer que se tais regras
)
vernamental pode ser acusada de produzir uma falsa .estática e uma falsa não forem levadas em consideração, não haverá distinção. Estou, porém,
interessado aqui no exame da técnica, ou método, da percentagem cumula- 1 ••
•.
precisão. Mas, neste caso, foi possível formular estipulações que minimizam
) ambas as falhas. tiva, pelos seus méritos próprios. A questão está, portanto, em saber se esse •

...•
método proporciona resultados de significação teórica.
) Poderíamos indagar, para começar, se a classificação de ordem resul-
9S Números e tamanhos: o índice de fracionarização tante das percentagens combinadas do maior partido e do segundo maior
)
. P~semos agora. ao problema do tamanho. B intuitivamente óbvio que o partido sugerem a probabilidade de maiorias de coalizão. Quanto a isso, o
) quadro indicaria que a Itália, a Holanda, a Dinamarca e a Noruega obtêm

.•
numero de partidos se relaciona com seu tamanho e, além disso, que o ta· 44
) manho condiciona a influência mútua dos números. Devemos, agora, ~eguir uma grande maioria (maís-do-que-mírúma) com o governo bipartidário.
esse .fio . Nosso ~onhecimento atual nos sugere duas maneiras principais de Acontece, porém, que, se os. partidos em questão forem identificados, isso
)
medH. tanto o numero como o tamanho. A mais simples pode ser chamad:i raramente ocorrerá. o~ dois principais partidos italianos são, na verdade, o
) <le metodo de percentagem cumulativa, tal como aplicado aos partid o~. Democrata Cristão e o Comunista, que nunca se associaram desde 1947 até
e~tre out;os, por ~end Lijphar e Jean Blondel. Uma medida mais aper·
hoje. Na Holanda, os dois primeiros partidos são o Católico e o Socialista,

••
/
\
fe1çoada e proporcionada, porém, pelo r'ndice de fracionarização desenvol· que geralmente tendem a liderar coalizões alternativas. Os dois primeiros
VIdo por Douglas Rae. partidos noruegueses são o Socialista e o Conservador, que, na verdade, ~ão
D~ acordo com Lijphart, "a maneira mais objetiva e direta de compa· pólos mutuamente exclusivos do sistema. E podemos pensar em muilos
casos adicionais nos quais a indicação não seria menos enganosa. Por exem·


-•
) rar 0 ~ numeros e tamanhos dos partidos políticos em diferentes sistemas é
examinar as percentagens cumulativas das forças partidárias em ordem de· pio, durante a IV República francesa, os comunistas obtiveram, quase que
c:etcente de_ ~ama.n!1o do partido". A técnica foi .experimentada em cinco invariavelmente, a mai-0ria rebtiv.~ dos votos, mas não foram induiU·'.'lS
pa ~es - [tá11a, Su1ç~, Holanda, Dinamarca e Noruega - e, com base· nos nunca, depois de l 947, em qualquer governo. Quando a República de
resultados, reproduzidos no Quadro 38, Lijphart conclui que é "impossí· Weimar se aproximava do fim , em 1932, com b:ise em seus resultados
)
~
)
ai
)
l
} 336 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS O QUADRO ANALfTJCO GERAL 337
)
Quadro 39. os votos) e ao sistema partidário parlamentar (no qual as urjdades são as
) Votação média e cadeiras dos dois primeiros partidos (percentagens) cadeiras), e os valores resultantes nos proporcionam uma escala de inter-
em 24 democracias 1945-1973 . valos com um ponto z.ero fixo (ou seja, uma escala de proporções). Para
)
ser breve, examinarei apenas a fracionariz.ação no parlamento, ou seja,
) Voto Cadeiras Voro Cadeiras medida em cadeiras (FP' sendo F a fracionarização, e a notação p signifi·
Nova Zelândia 93 99 fndia 53 73 cando parlamentar). O índice de Rae é definido em tennos de pares discor-
Reino Unido 91 98 Suécia 67 69 dantes, indicando com isso a probabilidade de que quaisquer dois depu·
) Austria 89 94 Itália 65 68 tados de um parlamento pertençam a diferentes partidos. Mais exatamente,
Austnília 93 90 Islândia 64 68 a fracionarização (num parlamento) é a probabilidade de que dois depu·
) Turquia 80 89 Noruega 63 67 tados escolhidos ao acaso no universo pertençam a partidos diferentes. A
Uruguai 89 89 C.Cilão
) 63 65 fracionarização varia de z.ero (concentração máxima - há apenas um parti-
Alemanha Ocidental 81 85 França 53 63 do) até o máximo de 1 (na prática, tantos partidos quanto cadeiras).47 Um
) Canadá 77 85 Dinamarca 61 61 sistema de paridade perfeita de 50-50 entre dois partidos é indicado por
Eire 74 79 Holanda 58 59
) Bélgica 72 77 lsrael 0',5 e quanto maior o número de partidos quase iguais, maior a fracionari·
53 57
1 Lu.xcmbwgo 72 75 Suíça 49 51 zação. A fórmula é a seguinte :
) ' Japão
l•
1
68 74 Finlândia 47 49
Em se.te paíse~ (Dinamarca, Finlândia, França, Islândia, Israel, Japão, Suécia) os dois F =1 -
N
1: p··
j: 1 I
~

pnme!Tos partidos se modificam com o tempo. A ordenação obedece aos lugares.


) i' onde N é o número de partidos e p; a proporção de cadeiras em poder do
) i-ésimo partido.
Sem dúvida a fracionarização de Rae é uma medid.a do número e,
)
cumulat~vo~ os so~ialistas e os nazistas poderiam ter governado juntos com mais ainda, do tamanho dos partidos. Mas a medida, na verdade, superva-
) uma m:'-1ona suficiente. Evidentemente, portanto, a ordem de classificação loriza os partidos maiores e condensa demasiado rapidamente os partidos
exemplificada por Lijphart é cega às incompatibilidades e afinidades ideo- menores - como é evidente, já que as percentagens partidárias são quadra-
} lógicas. Também não percebe a diferença entre um partido menor com um dos. Por exemplo, um partido cujo tamanho é de 40%contribui com 0,16
) forte potencial de negociação-coalizão e um partido relativamente grande para a soma dos quadrados, ao passo que um partido de 10% contribui
que p.:>uco º.u nada importa. Em suma, o método de percentagem cumula- apenas com 0,01 (na verdade, um valor desproporcionalmente baixo). Que-
) tiva nao nos 111forma sobre a relevância que o partido possa ter. ro deixar claro que não estou fazendo objeções ao fato de que o índice não
) . .outra pergunta poderia ser feita, ou seja, se a percen tagem cumula- aumenta linearmente com a d:ispersão entre um maior número de partidos.
t~va 3JUda a estabelecer limites significativos .~ essa, notavelmente, a suges- Isso está certo, pois além de um certo teto de fracionarização, uma rela-
") tao de Blondel, que estabeleceu a média, no período 1945-1966 dos resul- ção linear com o número de partidos será, mais provavelmente, enganosa
tados el~itorais combinados dos dois maiores partidos de 19 d~mocracias do que informativa. A desvantagem está, portanto, em que o desempe?11o
)
oc1denta1s, chegando aos grupos seguintes: (i) mais de 90% (Estados Uni- logarítmico da função cai num índice demasiado rápido, como se ve na
) dos, Nova Zelândia, Austrália, Reino Unido , Áustria); (ii) entre 75% e 80% Figura 40.
) (AJemanh~ Ocidental, Luxemburgo, Canadá, Bélgica, Eire); (iii) entre 66% A figura indica uma correção possível, 48 mas que dificilmente s~rá
e 62% (Dmamarc~, Suécia, No:u~ga,. Itália, Islândia, Holanda); e (iv) em decisiva. Outra correção é sugerida por Scott C. Flanagan, que lhe da o
J torno de 50% (Su1 ça, França, Fmland1a). 45 Estendi esse cálculo às cadeiras nome de "índice de fragmentação" (IF). 49 A fórmula é a seguinte:
(qu~ eram, .sisteinicamente, muito mais significativas) e a 24 países num
) periodo mais prolongado, e - como seria de esperar - os pontos de corte
desaparecem (Quadro 39). IF = '1~
;:;' l ' l
2
Passemos, po:tant?, para a medida mais aperfeiçoada e completa que Para qualquer formação política com n partidos, onde oi-ésimo disputant.e tem uma
Ra~ chama de fracronarr=ação (por oposição a conccntração) 4 6 A medida parcela decimal da votação v;. Para a ausênc)a de fragmentação - um partido - o va·
aplica-se igualmente ao sistema partidário eletivo (no qual as-unidades são lor do índice é 1,0; para a fragmentação infinita, o valor é O.

)
)

\
~ ..
) ~
) 338 PARTIDOS E SISTEMAS PAR TID A RIOS O QUADRO AfVAL/T/CO GERAL 339 ~
)
Na minha leitura, o Quadro.+ 1 não só é pouco .inspirador como tam- -=
)
) b~m positivamente enganoso. 51 €absurdo , como está implícito em minhas
observações na última coluna, estabelecer seqüências cegas mundiais quan-
-=
-=:
do sabemos com certeza que nosso algoritmo - nesse caso, a fracionariza.
) p 'rio - não controla um número de variáveis que determinem, por exemplo, -=:
se uma formação política é estruturada ou não, se os resultados eleitorais
) são fidedignos, a distribuição pré-ordenada, as eleições livres, os partidos
~
) tutelados. Outra falha grave da tabulação é, evidentemente, que um valor
-=-
)
)
·.
isolado de fracionarização (uma eleição apenas) supõe uma estabilidade
<.!leitora! que não pode ser suposta, na realidade, para os países para os quais
eu indico o ano da eleição. Ou seja, diferentes ocasiões eleitora.is modifica-
••
) "·.··..
riam acentuadamente toda a classificação geral. sz
A primeira falha importante pode ser neutralizada pela escolha de
••
)
)
)
)
··...·..
··..
··...
············· ...
·.. ·...
uma série de países homogêneos em relação aos quais se possa presumir
uma cláusula ceteris paribus para as variáveis não-controladas. E a segunda
falha - o coeficiente isolado - pode ser minimizada tomando-se a média
e/ou a mediana de séries temporais suficientes. No Quadro42 reduzi, assim,
o número de países a 25 "democracias estáveis", ou poliarquias contínuas,
relativameMe homogêneas, no período de pós-g\lerra. O quadro calcula a
fracionarização de Rae, classificando os países de acordo com seus valores
......

J
)
médio e mediano. s 3
A primeira constatação é a de que a média e a mediana não afetam a

)
}
Figura 40. Desempenho quadrático do fodice F e possível correção.

A curva cheia representa o desempenho do índice F, enquanto a curva pontilhada é


p + p2
classificação de uma maneira qu:! justifique uma preferência clara de uma
ou outra (a mediana tem, porém, maior amplitu.de). Resta-nos, assim: ava-
liar o que já era muito evidente no quadro anterior e continua sendo váli·
••
••
'

....
uma formula menos elegante mas talvez ma.is realista, l - L ( - - - ) .
2 do - embora em menores proporções - para o conjunto de países homo·
) gêneos transferidos para o Quadro 42, ou seja, o fato de que a classificação
) · Como se pode ver, o índice de Flanagan é apenas a raiz quadrada do e os coeficientes têm pouca relação com os agrupamentos da minha taxo-
complemento do índice de fracionarização. À parte, porém, o fato de que nomia e, portanto, com as várias propriedades sistêmicas destacadas pelo
)

......•
Flanagan coloca de cabeça para baLxo o índice de Rae (ausência de fragmen- meu mapeamento. Para melhor exposição, reúno,. no Quadro 43, os 25 paí·
) tação, _ist? é, ~m parti?º•. recebe o valor 1,0) não percebo de que maneira ses de acordo com a minha tipologia, registrando para cada país a média
o seu md1ce difere do md1ce de Rae. An1bas as medidas baseiam-se na ml!s· de seu correspondente índice de fracionarização.
) Podem ser explicadas as discrepâncias ev'identes entre meus agrupa·
ma estatística:ª. soma dos percentuais quadrados - uma soma para a qual
) os grandes partidos dão uma esmagadora contribuição. Como Flanagan mentos e os correspondentes coeficientes F? B claro que uma primeira

......
toma apenas a raiz quadrada da soma (em lugar de operar sobre as parce- explicação é a de que a minha taxonomia é especialmente sensível ao "va-
) lor de posição" dos partidos, ao passo que o índice de Rae é supersensível
las), nada. é, na prática, corrigido por essa correção. Fiquemos, portanto.
) com Rae e testemos como seu índice de fracionarização se comporta no à "grandeza" do primeiro ou dos dois primeiros partidos. Conseqüente-
mundo real. mente, países com uma distribuição muito diferente podem receber índi·
_ Co_n~o T~ylor e Hudson calcularam a fracionarização para 101 paí· ces F muito semelhantes, como se vê a seguir:
50
) se:;, util1zare1 seus valores e harmonizarei seus coeficientes com a minha
Ruritânia 42-36-21 F = 0,650
taxonomia - como no Quadro 41. Note-se que a classificação de Taylor
) Bélgica, 1946 46-34-11-8 F = 0,654
....
..--=
e Hudsor_1 reflete uma única eleição, mais ~recisamente uma eleição qual·
quer realizada entre 1962 e 1968. Curlândia 49.30.g.7.5 F = 0,656
) Itália, 1948 53-23-9-6-3-2-2-1 F = 0,653
) 1

) J
....
_)
i- Fracionarização partidária (mundial) comparada com taxonomia
1-
Quadro41 (cont.)
_) ..,
.~"' ~... "
..,
,g --~ tl -~ ""'
) -~ ~ .::"'
) ."'
u. õ~
~~
..., "
::::: "'
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Cl o - ...., ~g
~
C) ci:: ~ ~ ~ e
) l L1bano ( 1964) 0,945 Distribuição
2 Hong Kong 41,5 Honduras 0,503 D Interferência militar

'
0,900 A pré-ordenada
3 Indonésia 0,877 41,5 Malta 0,503 B endêmica
A
') 4 Holand a 0,830 SM
5 Suíça 0,815 SM 43 Paraguai 0,496 H Resultados
) 6 F inlândia 0,803 EM 44 Lessoto (1966) 0,494 NO duvidosos
7 Israel 0,794 EM 45 Estados Unidos 0,491 B
) 8 Venezuela ( 1963) 0,760 M Resultados instáveis
46 Maurício 0,481 B
9 Colômbia 0 ,753 47 Jamaica 0,479 D
') Distribuição
pré-<>rdenada p Resultados
48 Filipinas 0,475
J 10 Dinamarca 0,752 SM
à base de 50% du vidosos
49 Nicarágua 0,463 AD Resultados
) 11 Equador (1966) 0,741 50 Trinidad-Tobago 0,457 D duvidosos
A Jn terferência militar
-) 12 Peru (1963) 0,738 ND endêmica

,
13 Itália 0,734 EP 51 Brasil (1966) 0,438 p Governo militar
-) 14 Bélgica 0,725 M 52 República Dominicana 0,430 D indireto
15 Ceilão 0,725 53 Cingapura 0,416 D
D
16 Islândia 0.725 EM 54 Uganda ( 1962) 0,414 ND
17 No ruega 0,720 p 55 Zâmbia (1964) 0,402 ND
-·) 56 Gâmbia (1966) 0,401 D
18 Panamá 0,713 57 África do Sul 0,397 p Eleitorado limitado
-h~ ND Interferência militar
~
19 Sudão (1965) 0,709 (18%)
D endêmica
20 Chile 0,704 Coréia do Sul 0,387 D Influ ência militar
,"),, 21
22
Luxemburgo
Suécia
0,697
0,693
EP
M
p
58
59
60
Rodésia (1965)
Paquistão
0,385
0,377
D
p
Eleitorado limitado

, ._ , 23 índia 0,682 p 61 Porto Rico 0,370 p

,., 24
25
França
Austrália
0,688
0,625
p
D Instável, influência

,., B 62 Bolívia (1966) 0,358


26 Irlanda 0,624 p Méx ico 0,303 H militar
63
27 T urquia (1965 )

,, NO
0,620 p 64 Somália (1964) 0,280
28 GUiana (1964) 0,617 0,276 D
ND 65 Irã
29 Canadá ( 1965) 0,616 0,181 D
B 66 Botsuana ( 1966)
30 Maláisia D
0,589 D 67 Quênia 0,101
31 Japão

.,,
.,,~
32
33
Alemanha Ociden tal
0,586
0,5 82
p
M
68 República Malgaxe (1965) 0,055 D

.,,,,
Guat emaJa 0,572
34 El Salvador D
0,566 D
35,5 Barbados 0.565 Errado
85 Polônia H

,,
35,5 D
Uruguai (1966) 0,565 p
37 Costa Rica 0,541 p A bre1•iat11ras para Formações políticas esrrururadas: EP =Extremado (formato) polaii-
38 Áustria 0.535 z.ado (mecânica); EM =Extremad o-modera d o (misto) ou extremado semipolariz~do ;.s~
39
B

,
Nova Zelândia 0,512 B =Segmentado (forma to) moderado (mecân ica); M = Plwalismo mode;ado; B_ =:' D1par ~1da-_
40 Reino Unido 0,507 B rio; P = Predominante; H = Hegemônico. Abre1•iaturas para Formaçoes po/111c~s flu idas.
ND = Não-domin:rn te ;D= dominante; AD= Autoritário dominante;A = Atonuzado.
340
341

,,
'1
) e:
)
342 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS
e
) O QUA D RO ANAL(TICO GERAL J~3 e
Quadro 42.
) ~
Frncionarização partidária de 25 democraci:is No exemplo, dois casos reais e dois fi ctício s ( mas perfeitamente pJau.
) (média e mediana) 1945·1973 síveis) mostram como distribuições (fragmentações) altamente diferentes e
resultam em índices F que são na verdade muiro próximos. É claro que Cl
Média Mediana sio casos >clecionados ad hoc para a ilustr:ição da observação , que não di-
Finl5núia .804 minuem a validade e a sensibilidade geraJ do índice numa grande variedade G
)
)
SuíçJ
Chile
França I V
.801
.796
.790
.807.5
.798
.796
.796
Clú le
Suíça
Finl5ndia
de casos .
Em segundo lugar. é evidente que o índice de fracionarização não
d!scrimina. e n:lo pode discriminar, um multipactidarismo segmentado de

~

••
Israe l
Holanda .787 um mu.ltipartidarismo polarizado. Se essa distinção é posta de lado, então
) . 788

.•
Holanda
Israel .734 o primeiro grupo de países iria da Finlândia (0.804) à Itália (0.721) in·
.770 FrançJ IV
) Dinamarc:i. .755 . 74 3 ,5 Dinamarca cluindo Suíça, Holanda, Israel e Dinamarca. tv1as o ponto de corte em
It:ília .721 .723 Itália 0,721 parece muito frágil, e a classificação (Finlândia no ~lto e Itália na
) Ceilão .7 16
Finlândia
.7l6 Islândia base) contraria as propriedades sistêmicas dos oi tos países em questão. A
.716 .708,5 Ceilão
) Noruega situação melhora - o que não é de surpreender - se o segundo grupo

••
.69! .692,5 Noruega
Suécia . 685
começa com a Dinamarca ou a Islândia, pois então a amplitude e a ordem
) .687 Suécia de classificação de F correspondem razoavelmente bem à minha percepção
Luxemburgo .678 .682 Luxemburgo
-j Bélgica .667 do agrupamento. Mas, ao continuarmos com a comparação, somos levados

••
.641 BélgicJ
Eire 649 .639 Eire
a concluir que não há sentido em se tentar agrupar coisas q_ ue são muito
1 Japão .645 .635 Japão díspares. Ou seja, percebemos imediatamente outra discrepância importan-

..
França V .620 te entre os valores da fracionarização, de um lado , e minhil categoria de
) .629 França V

)
Alemanha Ocidental
lfruguai
C:J.nact'á
Austrália
.614
.589
.574
.565
.61 7 ,5
.593
.585
Canadá
Austrália
Alemanha Ocidental
sistemas de partido predominante, do outro. A combinação é, no caso,
impossível.
Indubitavelmente, Rae tem um excelente argumento ao afirmar que •
...
.580 Uruguai a "fracionarização pode substituir ( .. .) a noção teoricamente ociosa de
Áustria .556
) .54 7 Áustria 'multipartidarismo', que geralmente resulta da classificação nominal de sis-


Reino Unido
.512 .Sl8,5 Reino Unido temas uni partidário , bipartidário e multipartidárfo" .54 Em relação a essa
) Nova Zelândia .494 .499 Turquia
fod ia classificação particular, o conceito de fracionarização elimina questões
.487 .499 Nova Zelândia
) Estados Unidos 483 perturbadoras e mede aquilo que a classificação tradicional de "multiparti-
T . · .490 Estados Un idos
urquia .461 .449 fndia darismo" deixa irremediavelmente de lado. Mas a argumentação se enfra-
)
quece à medida em que a classificação melhora. Admitindo-se que medida
Eleiçõ7s consideradas: A.~trália 1946-1972; Ã ustria 1945· l 971; Bélgica 1946-1971:
) C;inada l 945-1972; ~eil~o 1952-1970; Chile 1946-1973; Dinamarca 1945-1973; de fracionarização (e medidas semelhantes) tem propriedades matemáticas
)
)
E.re 1 9~8-1973; F1nland1a 1945-1972; França (IV República) 1946-1956· França
~vd.Republica) 1958-1973; Alemanha Ocidental 1949-1972; Islândia 19<Í6-l97J·
~ 1ª 1951-1~71; Israel ~~49-1973; Itália 1946-1971; Nova Zelândia 1946-1972;
~ o~uega .194.)-1973; Suec1a 1948-1973; Suíç:i 1947-1971; Turquia 1946-1973 ·
atraentes, os méritos de coeficientes também devem ser pesados contra
aquilo que não dão, ou não discernem.
Como dissemos antes, um primeiro limite da medida é o de que ela •••
) eino Unido 1945·1970; Estados Unidos 1946-1972; Uruguai 1950.1971. ' não pode discriminar entre diferentes tipos de fragmentação partidária re-

)
sultantes de fatores causais totalmente diferentes. De acordo com Rae e
Taylor, clivagens , numa sociedade, podem ser de três tipos: {i) atributivas •-=
) (raça ou casta), (ii) de atitude (divisões de "opinião" quanto a ideologia
ou preferência) e (iii) de comportamento (divisões no plano dos "atos"
explicitadas pela votação e pela participação em organizações .5 5 Não con-
cordo inteiramente com essa divisão tríplice, mas é bastante oportuno que
Rae reconheça diferenças que sua medida não pode abarcar. Quer a frag-
mentação de um sistema partidário reflita divisões atributivas, ideológicas ,
..•
••

) 344 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS O QUADRO ANAL/TICO GERAL 345
)
Qll'.ldro 43. o são precisamente por evidenciarem uma natureza tudo-ou-nad:i e impli-
Comparação da tipologia e dos índices (médios) de car resultados de soma zero. Com relação ao urúverso em exame - o mun-
r fracionarização de 25 democracias do da votação - o salto, ou o limite tudo-ou-nada. é estabelecido pelo
! princípio da maioria. Concretamente, o mundo real da política - da polí-
) i E:crremado e polarizado tica democrática, na verdade - nos coloca face a dois pontos cruciais: (i) a
f
1 {ou semipolarizado) Predominanre maioria que conquista uma parcela (em oposição às minorias que não ficam
i
Finlâ ndia 0,804 com coisa aJguma), e (ii) a ma:ioria absoluta que fica com tudo (com o di-
) Noruega 0,69 1
Chile 0,796 Suécia 0,685
reito de governar sozinha). E o problema é que às medidas contínuas são
) Fra nça IV 0,790 Japão cegas a esses sal tos. Nossos índices e coeficie ntes encontram, aqui, por en-
0,645
l táli:l 0,72 1 Uruguai auanio, o seu limite. Portanto , os dois caminhos - o matemático e o nomi-
0,589
!"ndia 0,487 ~al - devem novamente separ ar-se. E seus respectivos méritos e defeitos
Turquia 0,461 só podem ser pesados depois de seguirmos ambos os caminhos até onde
Mu!riparridarismo moderado Bipartidário nos é possível atualmente.
Suíça 0,80 1 Can:.:lá 0,574
Holanda 0,787 A ustiálfa. 9.6 Combinação dos caminhos nominal e matemático
0,565
Israel 0,784 Áustria 0,556
Dinamarca 0,755
Islândia
Reino Unido 0,512 Enquanto a abordagem de Rae é compreendida por um único conceito -
) 0,716 Nova Zelândia 0,494
Luxemburgo 0,678
a fracionarização - minha abordagem está sujeita a dois conceitos conse-
Es tados Unidos 0,483
) Bélgica 0,667 cutivos: formato e mecânka. Podemos dizer igualmente que, enquanto
Eire 0,649 Rae trabalha com uma variável quantitativa, eu traba\Jio com base em duas
) França V 0,620 variáveis nominais: fragmentação e distância ideológica. O primeiro passo
Alemanha Ocidental 0,614 é mais ou menos o mesmo: contagem do número de partidos. E quanto a
)
isso parecemos concordar em que alguns partidos são mais ..relevantes" do
) que outros, isto é, que não devemos contar ~t o~os os paru_dos pelo s~u valor
ou de simpl_es "preferência", o índice de fracionarização assimila esses pa- aparente. A diferença está em q~e a relevancia de Rae ~ estabele:1da_ pelo
) ~rões,,de clivagem e, na realidade , mede apenas as clivagens no plano dos desempenho quadrático de sua tunção, ao passo que nunha relevanc1a ex-
.) atos , resul~antes do comportamento eleitoral e por ele expressas. Não plora o valor de posição dos partidos e é por ele estabelecida. .
obs!ante, a_diferença entre uma fragmentação segmentada e uma fragmen- A grande diferença está, porém, no segundo passo: a medida do_ta-
) t_açao polanzada tem ~º?seqüências importantes para o desempenho geral manho. Enquanto Rae mede o tamanho em relação à dispersão de cadenas
. ) ae ui:ia. formação pohuca. Nesse caso, eu diria, portanto, que, longe de t:ntre os partidos, meu enfoque recai sobre os limites de tamanho "natu-
subst1_tuir ou superar urna classificação nominal, a medida é muito mais rais", ou seja, não meço o tamanho, mas explico a sua relação com_ o ~nn­
~ ) ~rov~1tosa dentro_ de seu âmbi to. 5 6 No caso em foco, sob a égide da dis- cípio da maioria, distinguindo assim entre (i) uma prolongada ma1ona de
)
tmçao .entre um tipo segmentado e um tipo ideologicamente polarizado 50%, ou mais, de um partido (sjstema dominante) ; (ii) dois partidos _que se
de ~o_ciedade política, o índice de fragmentação ganha o poder discrirrú- aproximam da maioria de 50%, e (iii) nenhum partido que se aproxima da
natono que não tem por si só. maioria absoluta. e dentro desse grupo, um número relativamente pequeno
~ medida de_ R ae tem, porém. um segundo limite que não pode ser de partidos (três a cinco) ou de muitos partidos (seis e ~ais~.
remed1a_do tã'o facilmente. Chegamos, aqui, a outra faceta da questffo da Esse último grupo deve ser subdividido de maneira diferente, depen-
~ ) con_tI~u1~ad~ 1-·ersus descontinuidade. A matemática em uso nas ciências dendo de ser a distribuição desequilib rada (multi partidarismo com um par-
so~ia1~ nao e adequada ao tratamento de limites, e o esforço que se faz tido dominante) ou equilibrnda (multi partid:irismo e ~ui~ib rado sen; ~~
l partido dominante).S 7 Mas é muito difícil traçar um "hrrute d~ dominio ,
hOJe_e precis_amente para substituir as escalas nominais por escalas ordinais-
~ ) cardina1s · Nao obstante, a v1·da rea l i·ida permanentemente com limitações abaixo do limite que identifica os sistemas de partido predominante. En .
coloca-nos fren te a frente a opções binárias sim-não e se desenvolve e~ p~nicular, a diferença entre um parti?o importante, classificad?;,/~~
certos mo~entos, por saltos. Os conflitos m:iis importantes, em par1 ic~lar, exemplo no nível de 40% e um part ido importante. em tomo do ni
r-
Q
3-16 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS O QUADRO ANAUTICO GERAL 3-17 ~
~
30% não ;-arece ter maiores conseqüénci:ls para as propriedades sistêmi. tabilidade governamental. 52 A pergunta deles é: que margem de variação
cas. 58 Sem diminuir, portanto, a utilidade de se distinguir também entre na estabilidade =los governos pode ser explicada pelas variações do sistema S:!
mui ú partidarismos desequilibrado e equilibrado, o critério numén::o partidário parlamentar?

-.-.
nos proporciona uma melhor maneira de determinar os casos e espe. A primeira constatação dos dois autores é a de que, embora a variá-
) cialmence as propriedades sistêrnicas. Temos, agora, porranto um primeiro vel número-de-partidos afete a estabilidade dos governos, o índice de Rae, SJ
) concei to - formato - e, especificamente, qu:itro classes <le formatos : ou seja, a fracionarização parlamentar, "explica um quinto da variação na
predominância, quase igualdade bipartidária, fogmentação lirnic:ida e frag. estabilidade governamental" , isto é, duas vezes mais. Os autores dizem que
) mentação extremada. Assim, enquanto a medida do tamanho dos partidos isso acontece · porque a medida de Rae leva em conta também o tamanho.

.....-.
) de Rae resulta numa escala de proporções, minha identificação dos limi- Parece-me, porém, que a medida de Rae tem melhor desempenho do que i
~ 1
tes de tamanho natural me deixa com uma classificação (descontínu:i). a outra variável por urna razão simples, a de que sua função não é mono-
) Como uma medida é melhor do que uma ordenação nominal quan- tõnica e de fato pesa a relevância dos partidos. 63 Como quer que seja, ;~
.!
) do combina melhor a teoria e o fato, até agora eu diria que tanto a fracio - Taylor e Herman forçam, subseqüentemente, seus dados ao longo de uma l
narização quanto o formato são conceitos igualmente úteis, não tendo dimensão esquerda-direita, encontram duas medidas ("discordância ordi- J

.......
) 1)
nenhum deles superioridade sobre o outro. As propriedades matemáticas nal" e "variância") que levam em conta a posição ideológica dos parti-
) do índice de Rae são, na verdade, atraentes, mas o "valor de posição" dos dos e sua conclusão é a de que "a ideologia não tem um papel muito im-
partidos bem pode estabelecer uma correspondência mais realista entre portante em nossa explicação da estabilidade governamental" . Com isso,
) teoria e fato. Parece-me, portanto, que certos aspectos são vistos melhor porém, não posso concordar. A constatação prática deles é a de que ase-
descontínuamente, isto é, quando se focalizam os limites, ao passo que qüência ideológica - em sua diferença com relação à distância ideológica
outros são melhor avaliados por uma medida constante. Se tenho uma - parece não ter importância. E assim é porque a sua primeira medida sim-
) preferênci:i, e se realmente sigo o caminho nominal, é devido ao passo
seguinte: a ligação entre o formato e a mecânica de uma formação política.
t aqui que as medidas - se isoladas - nos deixam com pouca coisa mais
plesmente ordena os partidos, e sua segunda medida supõe intervalos iguais
entre eles. Ora, o seqüenciamento, ou a contiguidade ideológica dos par-
tidos, é um bom previsor das formações de coalizões governamentais, mas
,..,.
)
)
a dizer.
l)evo lembrar que minha construção é dotada de um pressuposto
central, ou seja, o de que números baixos ou altos indicam configurações
não há razão para se supor que, uma vez que os aliados são dados, tenha
relevância para a duração dos governos (a menos que encontremos um caso
raro de coalizão não-adjacente). E a suposição de intervalos iguais é sim-
,.
••
)
)
)
estrulurais que realmente encerram predisposições mecànicas e abrigam
realmente propensões sistêmicas. Por exemplo, o número de partidos é
importante para a estabilidade dos governos;s9 se os partidos forem dois.
a polít ica não-moderada dificilmente será compensadora e a competição
centrífuga parece suicida para o sistema; se os partidos forem de três a
cinco, provavelmente ainda encontramos uma configuração bipolar que
plesmente errada - como se revela claramente pela constatação subse-
quente, e que é a melhor - ou seja, a de que " a proporção de cadeiras em
poder dos partidos anti-sistema era o mellior indicador isolado da estabi-
lidade governamental". 64
Não é necessário dizer que a "mellior descoberta" de Taylor e Her-
man é muito agradável à minha taxonomia, mas a maneira pela qual a in·
....
) leva à competição centrípeta, ao passo que a maneira pela qual mais de terpretam deixa a desejar. Em primeiro lugar, nada tem a ver com as suas
,.,.•
.•
cinco partidos interagem contribui muito para explicar um padrão cen- medidas anteriores: baseia-se na distinção puramente "nominal" entre par-
)
trífugo de competição. 60 Deve-se entender muito bem, portanto, que tidos a favor e contra o sistema. Em segundo lugar, essa distinção relacio-
) minhas regras de contagem e meus limites de tamanho são colocados nessa na-se (apesar da negativa dos autores) com a ideologia, pois indica urna dis-
perspectiva de longo alcance. E se examinarmos a maneira pela qual o for· tância ideológica marcadamente diferente, ou um intervalo marcadamente
1 mato se enquadra nessa mecânica, isto é, num desempenho sistémico geral, desigual, entre dois grupos (classes) de partidos. Portanto, a sua mellior
) então é justo dizer, em geral, que o caminho nominal proporciona - com descoberta gira, na realidade, em tomo do conceito de distância ideológica,

-.,•

todos os seus limites - wn alcance teórico e de previsão maior do que os que lhes permite, por sua vez, isolar uma variável mensurável, isto é, o
) caminhos quantitativo e matemático. 61 tamanho dos partidos anti-sistema. E essas emendas colocam numa pers·
) É essa, de qualquer modo, a questão. E ela pode ser ilustrada com pectiva diferente sua conclusão final, ou seja, a de que "nossa melho.r
referência à maneira pela qual Taylor e Herman utilizam a fracionarização explicação da estabilidade governamental está na infl~ênci~ lin_:ar combi-
) e outras medidas para testar a influência do sistema partidário sobre a es- nada do tamanho dos partidos anti-sistema e da frac1onanzaçao dos par-
) ~
)
ç O QUADR O ANALITICU <:Jt:ffAL .>'+.,-
\ 348 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS JI

)
.! tidos pró-sistema." 65 Na verdade, o tam;i..nho dos partidos anti-sistema
porção em que tenham os, primeiro, id.ent.ificado os pr.oblei:ias, mape~do
os casos e sugerido explicações causais, isto é, e~ _que seia.m .mclu1das
1
l deve ser relacionado com o número de partidos pró-sistema. Por exemplo,
sob séries bem delimitadas de qualificações e supos1çoes nomma1s. As pa-
) i dois partidos grandes apenas, um a favor e outro contra, será um mau pres-
lavras sozinhas são melhores do que os númer?s sozinhos. ~s palavr_as com
ságio para a estabilidade do próprio sistema, mas produzirá, sem dúvida,
) números são melhores do que as palavras soz.i~as. E os numeros tem sen-
uma estabilidade máxima de governo. Não obstante, a medida de fraciona-
tido, ou têm muito mais sentido, dentro da teona verbal.
) ri:z.ação não tem um papel específico na questão: a contagem, pura e sim-
ples, do número de partidos relevantes pró-sistema também serviria. Por-
) tanto, a melhor explicação de Taylor e Herman não explica por que ava-
) riável anti-sistema acaba sendo o seu melhor indicador isolado. No meu
entendimento da mecânica do piuralismo polarizado, isso ocorre porque a
) ex.istência ponderável dos partidos anti-sistema é um indicador de tensões
) centrífugas, se não de competição centrífuga e, portanto, da possibilidade
de que o grupo de partidos pró-sistema seja perturbado pela excessiva dis-
) tância ideológica. Assim, a verdadeira hipótese explicativa é a de que (i) a
estabilidade governamental está correlacionada negativamente com o nú-
) I·
t mero e a J1eterogeneidade dos possíveis aliados numa coali:z.ão (onde
) ~ "heterogeneidade" representa distância ideológica entre), e que (ií) o me-
' lhor indicador dessa heterogeneidade existente até hoje é a atração (medi-
) \
• da pelo taman110) dos partidos anti-sistema. Devemos acrescentar que a hi-
) pótese acima tem ainda o mérito de introduzir o problema real, que não é
a "duração" do governo, mas sua "efetividade" e eficiência. Este é um
)
problema posterior, pois é muito duvidoso que longa duração seja igual
) a maior eficiência, ou cresça linearménte com ela.
O que aprendemos da análise dos parágrafos anteriores é o quan-
) to Taylor e Herman devem à ciência qualitativa ou nominal. Não só to-
) dos os contornos dos problemas por eles investigados são traçados pela
ciência qualitativa, como também eles chegam à sua melhor variável por-
) que estabelecem, ao longo de seu caminho, uma distinção (entre parti-
) dos pró-sistema e anti-sistema) que é, sem dúvida, um construto tipológico
e escapa à capacidade discriminatória de todas as suas medidas. Assim, se
') sua lógica explicativa é menos vigorosa e rigorosa do que poderia ser, isso
ocorre precisamente porque eles sentem a necessidade de uma distância em
relação à ciência nominal: •·... o estabelecimento de relações empíricas pre-
cisas não é ajudado materialmente pelo uso de meras tipologias [de siste-
) mas partidários] ... "66
Não pretendo com tudo isso contribuir, de forma alguma, para as
) más relações entre a ciência nominal e a quan titativa. Pelo contrário, mi·
nha in tenção foi, em todas as últimas uês seções, mostrar o quanto ambos
.. ) os campos têm a ganhar completando-se mutuamente. A ciência qual ita·
tiva permanece, em grande parie, com as hipóteses que gera e necessita
.. muito, portanto, de medidas que aperfeiçoem e testem essas hipóteses .
)
... Por outro lado, deve mos ter cautela com uma precisão que é apenas um
artefato operaciünal. Em paíticula r, a utilidade das medid:.;s está na pro·
..
.. )

.
-,
"'1.:"-

\
I
C3
' NOTAS Jjl c:J

)
NOTAS
11. Supra, Quadro 9.
12. Sobre os pariido~ ~regos, v.:r Jean '.\kylllud et ai.. les Forces Politiques en
Grece. '.\lonm::il. \ky:i'.lud fal itions, t 965. Sobre :i insta bihdade crônica da Gré·
eia. ver R. C. :llarndis, Q•Jadro na p. 510. i11 R.C. :llacr1dis (org.), 11/odern Pol-
itical Sysrems: Europe, ..\~ cd .. Englcwood.Clit'is, 1978.
1J. Ver, contra , Hunling e :'>loure, Amhoritarian Politics in .Hodern Sociery, op. cit.,
pp. 17-22, seção ·'from monopoly to compe tition : the democratizauon o f
....
&:I
e:-

93
) exclusionary onc-party system~".

)
t-4. Supra , 2.2.
1S. Supra, 3. l.
~
16. O texto d.:ixa implícito que o posicionamento , no Quadro 33, do sis tema de
\
I partido domuiante segue a lógica de es tabelecer um contínuo, se m prejuízo, 9D

....
aa
porém, do fato de que uma situação de predominância não tem rel~ção com o
1
i
) 1. "Political development and political decay", op. cit., passim. formato. l'
2. Ver. ~ontra, ?urre McClclland, Política/ Performance: a Twelve Nation Swdy J7. Que proporciona, por sua vez, um esquema próprio de an:ilise. Ver em geral ~
op._ ~rt. , particularmente pp. 11-13 e passim. Foi-me útil porém a sua 1· ·d.'
anal1~c. ' ' uc1 a
cap. 8, supra, e particularmente 8.3, Quadro 30. j
.,1 18. Infra, 9.4 e 9.5.
J

..,.•..
3. de Em geral, . · podemos dizer'd• ·- com• re lação i América do Sul - q ue :i m~1or• · parte 19. Supra, particularmente 6. 2.
) s.cus sistemas pa.rt1 anos nao sao estruturados como sistemas mas qu• 0 . 20. Carl G. Hcmpel, Fundam.entals of Concept Formation in Empir/cal Science, i
part idos b~.m .P~dem co~t!nuar ~e_nd.o, mesmo q uando os militar~s assume~ ~ University of Chicago Press, 1952. p. S l.
_) controle, umdades pollticas V1s1ve1s e em fun cionanu:n to" . Como . 21. Sobre a aut onom ia vs. redução sociológica da polílic:i, ver G. S:utori, "What
'.:'c~mo quando eles não P?dem particip ar efetivamente do processo ;~fft~~o~ ís 'politics'", PT, fevereiro de 1973, p articularmen te pp. 21-23.
) n~~ fora~ ~?madas ~ed 1d.as repressivas contra a p resença dos partidos ... " 22. Supra, 7 .1.
(Pctcr Rams, A two-d1mens1onal typology of Latin American political panies" 23. A bibliografia sobre as várias medidas de competição encontra-se no capítulo 7,
) ::· agost? de 1968, p. 79~)- ~obre a Argentina, um estudo recente é o de Cuil: notas 3 e 5 . Sobre a importância d:i mensurabilidade, ver infra, particularmente

)
'I
)
rmo O Do.n nel, Mo.dernizat1on an.d Bureaucratic-Aurhoritarism: Studies in
South American Polwcs, Berkeley, lnstitute of Intemational Studies 1973
4 . Supra, 7 .3. '
5. ier, contra'. Kemal H. .Kall?at, Turkey's Politics: The Transition to a ,';/ultiparty
•.Ystem, Pnnceton Uruvernty Press, 1959. Em geral, ver Dankwart A. Rustow
T~e. development of .P:i"ies in Turkey", in LaPalombara e Weiner (or s)'
·
9.3 e 9.5.
24. Ver Rajni Kothari, Jmplications of Nation·Building fo r the Typolow of Political
Systems (mimeografado), tr:ibnlho apresentado ao Congresso da POSA de 1967,
em Bruxelas.
25. Digo deliberadamente "lógica da gradação", em lugu de "lógica da compara- ..•
,.
....•..
ção... Essa última denominação baseia-se na autoridade de Hempel (loc. cit.,
) Pol!t!cal Part1es arul Po/1t~cal Development, op. cit., cap. 4; e Clement H. D~J~I · nota 20 deste c:ipítulo, pp. 54-58) e é acolhida, entre outros, por Aithur L.
Pol!11cs an~ Cov~rnme~t m. Turkey, Californil University Press, 1969. ' Kallberg, "The logic of comp:irison.., WP, 1, 1966, e por Feli.x E. Oppenheirn,
) 6. At7 1957 (mclus1 ve) nao ha dados oficiais sobre os result:idos eleitorais. "The language of political enquiry", in Creenstein e Polsby (orgs.), Handbook
7. Ate .1973, ~rque aquela eleição caracterizou-se pelo aparecimento de dois of Política! Science, op. cit. Não obstante, trata-se de uma denominação errônea,
) t~rc:lfos partidos: o P:n iuo ~e S~gurança Nacional, uma formação islâmic:i e ~ pois também a lógica da classificação "compara" (é assim que as diferenças e

..•
P_a.rt1do Democrata (nao co rúumhr co m o proibido em 1960), formação cons..:r- semelhanças s:io distinguidas).
v~dora, ambos resultantes d.: c1sõ.:s do Partido da Justiça de Demirel Se - 26. Abraham Kaplan, The Conduct of Enquiry, Chandler, 1964, p. 13.
siderarmos, al6m disso, que também o PR.P sofreu uma divisão o P~tid~º;a 27. Ver, sobre esse ponto, a análise penetrante de Robert T. Holt e John M. R ich-
Confial'!ç:i. ~cpublicana . (com 13_ cadeiras em ~ 9~73), pareceria q~e a Twquia ( ardson, in Holt e John E. Turner (orgs.), The 1'rlethodology o/ Comparative
~im do~ pa1ses .nos qu ais? yadrao de pre?omuiancia de um partido chegou :io ResearcJr, F rcc Prcss, 1970, pp. 58-<í9, do que eles descrevem come> "abordag~ns
) m. Dada, porem, a elast1c1dade car:ictenstica do eleitorado a previsão p:i.r~ 'é
prematura. ' e
a teóricas do desenvolvimento de teorias".
28. Para um tra tamento mais :implo das opiniões expressas nesta seção, ver meu
)
l
8. y~ r Wa lter ~· Wdk~r, ~he Turkish Revolutio11 1960-61: Aspecrs of :\filitary Pol·
itics, Drookings lnst11ut1on, 1963.
9. ~·~·. R uCstow. "Turkcy: the modernity of tradition", in Pye e Verbu (orgs)
o 111ca1 ulture and Political Developme11t op cit p J98
artigo in G. Sartori, F. Riggs e H. Teune (orgs. ), Tower of Babel:on the Defini·
tion and Analysis of Concepts i11 rhe Social Sciences, Pittsburgh, lnternational
Studies Association, Ocasio nal Papcr N? 6 , 1975.
29. Sc:ilapino ~ Masu mi, Parties and Politics in Contempcrary Japan, op. cit. pp. 7 9-
•,..
••
) ·· '
10. Sobre . a. Esp• an h a de F ranco, ver os cscnt . os• de· Linz,
" citados
· · supra. cap. 7 no1:1
81. Os au tores optam, na verdade, pela últ ima poss ibilidade, que pode ser con-
) 13 • e,·ha 1cm
Sn· · deles ' J uan Lrnz • "F rom F a1ange to Movunie · ' cli~
nt o-Organización:
,. anis sing1e party ami the F · " · f siderada como .:quivalcn te ao meu tipo p redominante.
Aurhorítarian Politics in M .d ran~o r.cg1.me • m _lu.nt1 ngton e Moore (orgs.). 30. Bums, TJre Deadlock of Democracy, op. cir.. supra, c :ip. 6, nula 87.
) Fascirmus zur Ent . kl 0 ~rn ocieties, ºP.· clf., Klaus von Beyme. Vom
31. Qu.: essa classe equivale a uma p;eudoclassc foi d ito supra, 6 .5.
Pipc r, l. wic un~ d ik11atur: Maclttehte 11nd Opposirion in Spanie11, 32. Em Les Partis Politiques, op. cit., supra, cap. 6,nota l.
llt!
) 197
fll2
350 tltl
.-e
)
) NOTAS 353
352 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS
)
52. Isso se pode ver em Arthur S. Banks, Cross-Poliry Time-Series Dara, M.IT Prcss,
) 33. Ergun Oz.budun, "Est:iblished revolutions versus unfinishcd revolutions: con- 1971, pp. 28 2-295, onde os coeficientes de Rae são calculados por ano.
trasting pattems of democratiz.ation in Mexíco and Turkey", in Huntington e
53. O quadro utiliza material de pesquis3 reunido e processado em Stanford, por
Moore (orgs.), Authoritarion Politics in Modem Society, op. cir., p. 382. Ver Andrew Perry, que na época era aluno de Alrnond, com a ajuda e a assistência
supra, 7.3, Quadro 28 (México); e 9.1, Quadro 32 (Turquia). financeira do Centcr of Advanced Study in the BehaVJoral Scicnces. Quero
34. J\Jan and his Covemment, op. cit.. p. 28. expressaI minha profunda gratidão a Andrew Perry e ao Centro.
35. Supra. 5.2. 54. Douglas Rae, "A note on the fractionalization of some European party sys-
36. O peso da coalízão pode ser medido contando-se os c:tigos de gabinete ocupa- tems" CPS. outubro de 1968, p. 413.
dos pelos panidos, no decorrer do temPo. tanto em termos da percentagem de 55. Rae e Taylor, The Analysis of Political Cleavages, op. cit. p. 1.
participaç:fo nos gabinetes, como do tCmPo passado no cargo. 56. Isso equivale a dizer que F mede rcalmeme certa parte de, ou em pane, o que a
37. Supra, 6.4. minha taxo nomia leva em conta.
38. A França é examinada supro, 6.2. Ver também Qu:i.dro 10. 57. Isso não é exatamente o mesmo que a distinção proposta por Blondel, em/ntro-
39. Supra, 6.2. duction to comparative gol'ernments, op. cit., pp. 157-158. Em sua anah~e, a
40. Supra, 6.l. e Quadro 9. Dinamarca, a Suécia, a Noruega, a Itália, a Islândia e a Holanda são "multipar-
41. O governo partidário e as coalizões serão discutidas no final do vol. II. óárias com um partido dominante" (com um mo~.º de _45·3~-~?) ao passo que
42. Douglas Rac - a quem muito agradeço pelas críticas muito úteis que fez a este a Suíça, a Finlândia e a França são consideradas mul11pamdan_as sem u~ p~I­

.. capítulo - acha que essa conclusão equivale a admitir que minhas noções de
relevância e especialmente de potencial de chantagem não passam na prova de
operacionabilidadc. Isso será certo se operacionalização for considerada como
t~o dominante". A diferença é, portanto, que Blondel ampha sua pruneua
classe para cobrir também os sistemas de partido predominante.
58. A maior diferença perceptí'vel parece estar na maior ou menor parcela de car-
igual mensuração. Discordo, porém, dessa assimilação (ver Sartori et ai., Tower
"
~
) of Babel, op. cit., pp. 21-22). Por outro lado, Rae propõe uma medida que está
bastante próxima, em intenção, da proposta que indico e que pode ser mais
gos do gabinete; a menos que.º _maior partido também desfrute (sendo esta uma
condição adicional) de um pos1c1onamcnto ·C~ave. .. . ,
) 59. Lijphart discorda ("Typol()gies of democral!c systems , op. clt., .?- 35), mas e
satisfatória ("An estimate for the decisiveness of election outcomes", in Bern- contrariado, por sua vez, por Taylo: e Herman:"~ afümaç~o de L1Jphart de q_u~

-, 'não há relação empírica entre o numero de partidos no S1Stem~ e .sua estabill·
hardt Licberman (org.), Social Choice, Allan Smith, 1974 , cap. 3.3).
) 43. "Typologics of democratic system", CPS,l, 1968, pp. 33-34. dade' parece injustificada" (ver adiante, nota 62, p. 30 da referencia). Seu_ exa·
44. A Suíça não é relevante para esse ponto, já que tem, em nível federal, um siste· me, porém, refere-se à estabilidade governamental, ao passo que a observaçao de
ma pré-ordenado de divisão do poder e rotatividade. Para a bibliografia, ver Lijphart é mais geral. _ • . _ . •. . .
~ supra, cap. 6, nota 38.
60. Essas e outras propriedades mtem1cas sao exammadas no capitulo 6 e resumidas
45. Ver Blondel, "Party systcms and patterns of government in Wcstern demo- na Figura 35. Ver também infra, 10.4'.

., 61. Volto a agradecer a Rae por ter observado que não é justo, nem esclarecedo ~,
cracies", CJPS, junho de 1968, particularmente pp. 184-187; clntroduction to
Comparative Government, op. cit., pp. 155-160 e Quadro 10.1. comparar um índice com uma teoria. Deve-se compreen_der, portanto, que mi·
~ 46. A medida de Rae incorpora,. com efeito, as duas variáveis de Lijpha.rt e Blondel, nha observação se relaciona, no caso, com ~uas persp~ctivas amplas,_ou abo:da-

.,".,
ou seja, a parcela de votos (cadeiras) do partido mais forte, e a votação combi· gens e certamente não com as medidas especificas selecionadas como ilustraçao.
nada (cadeiras) dos dois partidos mais fortes. Eu as ex:iminei sep:tiadamente
para maior clarez3 de exposição. 62. Michael Taylor e V.M. Herman, "Party system and government stability",APSR,
março de 1971, pp. 28· 37. . .
47. Ver especialmente Rae, The Political Consequences of Elecroral Laws. op. cit.,
63. A medida da fragmentação governamental sugenda em 9.4, Quadro 37, teria um
J
pp. 46-64; mas também D. Rae e Michael Taylor, An Anolysfr of Political

..
desempenho ainda melhor. presumivelmente.
Clea1'(/ges, Y:i.Je Univcrsity Press, 1970, cap. 2. A fórmula de Rae (f) tem muitas
notações. Reproduzi no texto e utilizei a fórmula d~ Taylor e Herman in APSR, 64 . Taylor e Herman, /oc. cit. As citações são das pp. 31, 34 e 37 ·
março de 1971, p. 30 (adian te, nota 62). · 65. Ibid., p. 37.
66. Jbid., p. 30, nota 10. Os grifos são meus .
48. Devo esta sugestão a Alberto Marradi.

..,
49. Scot 1 C. Flan3gan, "The Japanese system in transition., , CP, janeiro de 1971,
J
pa.rticularmentc rp. 23 4-235.
50. ll'orld Handbook o[ Polirica/ and Social Jndicarors, ed. rcv., 1972, op. cit., p. 21
~ e Quadro 2.6, pp 48-50. Com relação ao quadro original, deixei de fora a fracio-
n:tiização dos votos (que está incompleta), a indicação da fonte, a data das elei·
ções (exceto quando essa informação é essencial) e todos os países cuja fraciona-

..••
rização é 0,000, isto é, os países unipartidários. Taylor e Hudson aplicam uma
versão mais sofisticada da fórmula de Rae, que dá conta, mais precisamen te do
que a minha notação, dos pequenos n's e /l''s. Mas as diferenças entre as dua s
• séries de coeficientes estão quase que invariavelmente abaixo do nível de 1%.
51. Rac prcsun11vclmcnte concordaria, pois ale adverte contra o uso cego de sua fór·
mu la, em T/le Analym of Política/ Cleavages, op. cit .. pp. 5, 33-35 .

•• - _...
_J ~

C;;i
~
COMPETIÇÃO ESí'ACIAL 355
~
X
COMPETIÇÃO ESPACIAL
downsi:mo com referência à sua aplicabilidade, enquanto Philip Converse
mostrou-se particularmente sensível à sua influência sobre a interpretação ••
)
)
dos d:!!dos. 4
Meu intere s:se por Downs está muito próximo do interesse de Stokes
e Converse, com a diferença de que me afastarei gradualmente dos .Jado.s
dos Estados Unidos numa tentativ:i de desenvolver o modelo <le competi-
••
)
)
ção interpartid:iria onde ele men~s fu~ciona'. isto é, em ambientes multi-
partidários. Também por essa razao detxare1 1g.ualment.e d~ lado~ abord_a-
gern mate mática. já que os teoremas .d.a teona _espacial torm.al1za?ª. ~ao
••
)

)
10.1 Reexame da teoria d e Downs
O livro de Anthony Downs Economic Theory of Democracy. que constitui
" pr:iti<:amente irrelevantes para a análise dos ~1stemas rnult1part1danos
de representação pro porcional". 5 • •
A primeira coisa a notar é que o terna que p:irece s;r ~entral :i mai~ r

••
) parte dos intérpzetes não foi explorado como_tal pel~ pr~pno -~?wns: p~1s

)
)
um marco. publicado em 1957 mas divulgado antes, trata exatamente da·
quilo que seu título diz. Downs não só recorre a uma perspectiva teórica
"econômica", como seu estilo - e poderíamos dizer também seu método
está mais ou menos oculto em meio a um capitulo CUJO titulo e A eslatlca
e a dinâmica das ideologias partidárias". Vemos imediatamente aí as d~·
culdaàes que Downs cria para si mesmo para ser c~rente com ~uas pr~rrus­ ••
)

)
- é dedutivo, embora não ao modo rigoroso e formalizado da teoriz:ição
dedutiva atual. Como Downs supõe que os cidadãos, numa democracia,
agem principalmente para maximizar o seu interesse pessoal e sua renda
utilitária, que os "partidos formulam políticas para ganhar eleições, e não
sas. E difícil levar as ideologias em conta, e especialmente ra:~o~altza-las,
por motivos de racionalidade econõ.m i~a..Dow?s.sustenta que tres fatores
( ...) explicam c<lmo uma ampla vanaçao 1deo~ogica se pode dese n~olver de
nossa hipótese de maximização de v~tos. S~o eles .ª hetero~.e~e1dade d~ ••
) ganham eleições para formular políticas" , e que o objetivo primordial dos sociedade a inevitabilidade du conflito social e a mcerteza . Isso esta ti
)
políticos "é serem eleitos", L resulta dessas premissas que uma teoria das
eleições é muito importante para sua teoria da democracia. Assim, Downs
pode ser lido e desenvolvido sob três perspectivas: (i) dentro do contexto
bem em ;elação ã variação - mas como explica a ideologia? Downs dá_ên·
fase, na realidade , à "incerteza", que é a sua principal variável intei:vemen·
te e a força geral de seu argumento é que, com relação aos part1d_os, as
••
••
)
geral das teorias de democracia, (ii) em termos de uma melhor adequação ideologias contribuem para sua caracteri2ação, ao passo qu~, em relaç~o aos
) focmal e dedutiva entre premissas econômicas e a teoria das eleições, e/ou eleitores, as ideologias são "atalhos" que lhes poupam o onus de se ~for­
(iii) isolando seu modelo espacial da competição partidária e testando-o marem. Isso é b:islante convincente, a não ser pelo fato de que as ~rerruss~s

••
)
em confronto com as descobertas empíricas. econômicas leva m Downs a conceituar a ideologia de maneira muito estre1·
) Como teórico da democracia, basta notar que Downs nem mesmo ta, isto é, apenas do ponto de vista como são usadas e ex?loradas "racio-
)

)
começa a explicar como uma democracia nasce, mas que sua interpretação
parece mais convincente à medida que a lemos como uma explicação
da maneira pda qu:!l as tlemocracias inevitavelmente deterioram e acabam
nalmente" . Também não é necessário um mecanismo dedutivo para a obser·
vação de que a ideologia é um recurso econômico para os eleitores e um
"meio de conseouir votos" para os partidos.7
....
com um desempenho prec:írio. Essa é, porém, a maneira menos adotada
de dar continuação ao pensamento de Oowns. 2 A segunda leitura focaliza
sua teoria espacial das deições, mas ã luz de premissas mais rigorosas e
o apoio de uma teoria econõmic:i contrib.ui_ainda ~~~os para o de-
senvolvimento do modelo espacial de compet1çao part1dana de º?wns
como tal. t certo que a sugestão vem de dois economistas, H~teUrng e
..
mate maticamente formalizadas. Grande parte dessa leitura depende, na
verdade. da teoria da escolha racional do tipo teoria dos jogos. Como foi
dito concisamente, ·•a teoria espacial é apenas uma formul ação particubi
Smithies mas disso não se segue que a sua utilização por emprest1mo da
"analogi~ espacial"s seja passível de um t~atamento anal?gi~o. ~m 1929,
Hoteling procurou explicar por que duas lojas em conc~rre_nc1a acabam por
••
das eleições como jogo, no sentido de Von Neumann-Morgenstern .. :· J
.-1. terceira leitura de Downs negligencia as premissas (a suposiç:io da ação
se localizar, na Rua Principal. lado a lado. Em 1941 Srrutlu.es rnelh~ro.~s~a
argumentação, observando que as demand::is dos cons~m1d~res sao ._ ela~­
ticas" (podem n~o comprar se as duas lojas forem muito distantes , 1~to e:
••
••
racional), não busca um modelo mais form al izado, e tes ta o modelo espa·
cial de competição partidária confrontando-o com as evidências de com· se os custos de transporte forem muito elevados). A implicaçõ:~ é que, e.o:-
portarnento eleitoral. Donald Stokes foi o primetro a discutir o modelo bora as duas lojas ainda tendam a convergir,. sua loc;.u1zaç:.io
• 1 • :- ót tma (equtlt·

JS-l ..

356 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÃIVOS COMPETIÇÃO ESPACIAL 357

)
brio) é alcançada quando sua proximidade não desestimula os consumido- A inutilidade de um enfoque· econômico da teoria espacial da compe-
res que vivem distante, situados em pontos extremos. tição interpartidária, e, na verdade, a v:intagem de separar as duas coisas,
;.
poàc também ser mostrada com relação à própria definição de partido.
A questão cruciaJ em relação ao modelo espacial de Downs é se o
ll
espaço eleitoral é unidimensional, ou se essa suposição é demasiado restri-
tiva. Portanto, Downs pode proceder por analogia, ao substituir os consu-
Se os partidos são definidos como "maximi.z adores de votos", a obje-
ção imediata é a de que essa conceituação não corrcspondt:, em grande par-
te, aos fatos. Da mesma forma, Downs é frequentemente criticaão por
) i midores pelos eleitores e as firmas pelos partidos, mas não em relação à
supor que os partidos são "equipes", e equipes coesas e unificadas, e não
maneira pela qual um espaço físico (a Rua Principal ou uma estrada de
) "coalizões" em grande parte pouco unidas e com várias facetas . Mas lem-
ferro) se relaciona com um espaço simbólico. O fato de que a Rua Princi-
bremos a nossa definição mínima inicial : partido é qualquer grupo político
) pal é linear não constitui evidência de que o espaço da política (da polí- d e fi1-
capaz. de :ipresent:ir candid:itos a cargos pu. bl'1cos numa e1e1çao.
. - 13 r.ssa
'C
tica competitiva) seja igualmente linear, isto é, unidimensional. Enfrenta-
rução abarca, sem dúvida, todos os tipos seguintes de partidos: (i) partidos
mos, portanto, a conclusão de que, no ponto mais importante de sua teoria
de testemunho, que não estão inte ressados em maximizar votos; (ii) parti-
) das eleições, Downs falha precisamente devido a uma enganosa analogia
i dos ideológicos, interessados em votos principalmente pela doutrinação;
1 econõrrúca.
) (iii) panidos Iesponsáveis, que não submetem suas políticas e seus progra-
! Presumivelmente, ele compreende que sua unidirnensionalidade se mas à obtenção de mais votos; (iv) partidos sensíveis, para os quais ganhar
baseia em credenciais frágeis. A característica mais interessante de sua teo- eleições ou maximizar os votos tem prioridade; e, finalmente, (v) partidos
r ria da competição é a de que o '1ogo da carniça" é difícil e geralmente difi- puramente demagógicos, irresponsáveis, que são apenas maximizadores de
)
tl cultado. Os partidos adjacentes podem convergir ou afastar-se, mas não po- votos. Nossa definição mínima não sofre, portanto. de nenhuma restrição
) dem pular por cima dos outros. Downs compreende bem a centralidade ou suposição "econômica". Não obstante, se a pergunta "pelo que compe-
i
)
desse ponto, mas não ousa deduzir dele, ou imputar-lhe, a suposta urúdi- tem os partidos?" é formulada, parece-me bastante natural respo~der : e".1
mensionalidade do seu espaço. O que "impede um putido de dar saltos geral, pelos v otos - pois minha definição implica que .os partidos ~1-
) ideológicos sobre as cabeças de seus vizinhos" 9 é explicado pelos concei- xam de ser partidos (embora possam sobreviver como movunentos, associa-
tos de "integridade e responsabilidade" .10 Assim, depois de ter introdu- ções políticas ou grupos de pressão) quando não conseguem votos. Isso
)
zido um espaço de competição unidimensional , Downs defende sua proprie- não significa que os partidos competem apenas por votos, ou que os votos
) dade mais importante em termos totalmente diferentes que são, na verdade , são um fun em si mesmos. Os votos são um meio de permanecer no merca-
totalmente estranhos a uma perspectiva econômica. do e um meio de impor políticas. Portanto, partidos não formulam neces-
sariamente políticas a fim de ganhar eleições ; não obstante, pode -se afir-
Para completar o argumento, é justo lembrar que quando Downs su-
) mar que, nas eleições, os partidos são maximizadores d~ votos: Da me~ma
põe que "é possível atribuir a cada posição [de cada partido] uma coloca-
forma é contrária aos fatos a suposição de que os partidos seJam equipes l
Ç[o em nossa escala esquerda-direita", está na realidade seguindo outra
)
linha, ou seja, a de que "a posiçã'o líquida do partido nessa escala é uma
unific~das, e, não obstante, há sentido em se afirm~r q~e, nas eieições, até d
1

mesmo os partidos sujeitos a múltiplas atrações e com multas facções ten- !


média ponderada das posições de todas as políticas específicas que ele sus-
tenta".11 ~essa, com efeito, a linha adotada pelos intérpretes interessados dem a se comportar como equipes.
na formalização matemática. Mas, ao longo desse último caminho, vamos Resumindo a teoria de Downs tem :;ido, na prática, sempre desen-
encontrar dificuldades que não devem bloquear a linha de desenvolvimento voh·i da numa de duas direções - a matemá tica e a empírica. Ao longo do
empírico. Reformulando Downs com maior rigor, sua sugestão básica é a prime1ro caminho. suas premissas tornam-se rig?rosas e .fo~ais. A~ longo
de que a posição do eleitor num espaço euclidiano representa sua "função do segundo caminho, abandonando-se o mecanismo deauu~o _e de1"?n~~­
utilitária". E sabemos como esse conceito é espinhoso. Ao longo desse cami- se d~ lado as premissas econômica~:, seu modelo da compet1ç;,o parlià~na
nho encontramos igualmente, e sem demo ra, a intransitividade de preferên- supera as objeções desnecessárias sem prejuízo. ao que me .parece. E isso
cias de Arrow e, o que é mais, os "problemas de equilíbrio" que se tomam porque sempre que as analogias ec~nômicas são. váii_das, :unda podemos
bastante difíceis tão Jogo passemos de uma conceituação de soma zero de utilizá-las com proveito. Assim, o análogo do partido tipo 1este~unho bem
duas pessoas (o caso do bipartidarismo) para uma conceituaçã'o de 11-pes- pode ser a firma que não compete através de preços, mas a.traves de pro?u-
soas (multipessoal e multipartidária) da competição, que não pode ser tos de qualidade, de prestígio. No outro extremo, o analogo do partido
tratada de maneira adequada aos pares. 12 puramente demagógico é uma série de firmas em competição perfeita que
}

358 PARTIDOS E SISTEMAS PA RTIDÂRIOS


CO.WPt:TIÇ.ii.O ESPACIAi. J39
..
.r;

~
S3

-•..
ser bem informado sobre a:; questões. lnvers:uneme , o eleitor insensível
visam a maximiiar as vendas; os casos iniermediários podem ser assim1b- j s questões não precisa ser " idenltficado".
16
t claro que h:i eleitores que SJ
dos a oligopólios que buscam lucro ( embor::i não necessari:11nenre a sua n:Io tem consciência das questões nem são identtficados. cuja motiqç:\o
) max.im.izaçlo). Essas analogias nos ajudam, por sua vez, a avali:ir os limites par:t votar pode ser simplesmente a pressão social ou o "voco negat1·10". o
nos quais temos competição de mais ou competição de menos, ressaltando voto contra algum inimigo ou result:ido temido.
com isso, entre outras coisas, :i advertência de que uma "competitividade" O que dissemos :interiormente introduz o segundo conccit0: idenli
sempre crescente não é uma vantagem livn: de problem:is. 14

•..
ficação ou, por inteiro, identificação partidária. Os eleitores identificados
s:To, supostamente, aqueles que votam sempre pelo mesmo candidato ou
10.2 Questões, identificação, imagens e posi ções
Os estudos de comportamento eleitoral proporcionam a maior parte das
partido, a despeito do que digam ou façam. Isso supõe, port'm. que S.!j.lm
·'fortemente" identificados. As pesquisas distinguem geralmente entre for-
temente identificados e fracamen te identificados e supõem que os segun· ..•
evidências empíricas que confirmam ou desmentem uma interpretaç:ío
espacial da competição partidária. Um volume desproporcional dessas
evidências vem, contudo, .dos Estados Unidos ou é influenciado - quando
<los provavelme11te serão os eleitores instáveis ou tr:insfugas. Mas essa supo-
sição pode ser totalmente incor:cta. Se levarmos em conta, por exemplo,
·o voto negativo. os fracamente identificados podem revelar-se eleitores ...
)

)
vindo de outros países - pela forma das pesquisas destinadas original-
mente ao eleitor norte-americano. Por esses motivos, para finalidades de
compar:içfo, as constatações dos estudiosos norte-americanos são menos
interessantes do que seus conceitos. E três conceitos - desconhecidos de
Downs e em grande parte articulados depois que ele êscreveu sua obra -
muito estáveis. De qualquer modo, embora possamos dizer que os eleitores
identificados são os eleitores constantes, a recíproca não é verdadeira: não
podemos real mente dizer que todos os eleitores estáveis sã:'o "fiéis" , identi·
ficados com "seu" partido.
Com relação à votação por questão e a identific:ição partidária, a
..•
)
)
destacam-se corno cruciais para nosso en tendimento da votação: (i) ques·
tão, (ii) idcntificayão, e (iii) imagem.
Com relação a "questão" as perguntas centrais são: até que ponto os
advertência é a de que, com freqüência._ confundimos duas coisas diferen-
tes: (i) a ~·ariação-invariação real da escolha eleitoral e (ii) a motivação para
mudar de candidato ou partido, ou não. A advertência é, portanto, a de
•..
)
)
eleitores tem consciência das questões levantadas pelos partidos e uma per·
cepçaõ da questão? Até que ponto a orientação para questão e a preferên·
eia pela questão afetam sua escolha de partido e com isso levam a uma vo-
que, partindo do comportamento eleitoral, não podemos deduzir o tipo
de personalidade do eleitor, ou seja, suas motivações. Um eleitor constante
nã'o precisa ser "identil1cado" e pode, na verdade, ser um cidadão altamen-
••
tação pela questão (ou votação pelo programa)? E, de qualquer modo,
como os eleitores relacionam as questões com os partidos e os program:is
partidários? Além disso, se as quescões forem considerad:is relevantes para
te informado, articul ado e alerta para as questões. Inversamente, os e.leito·
res instáveis podem ser mal-informados e insensíveis às questões, variando
simplesmente ao acaso ou de acordo com algu~ tipo de p:_ocesso. mar~o­
••
um modelo espacial, temos então uma terceira conotação importante do viano. 11 Deve ser claro, portanto, que a votaçao por questão e a 1denufi-
••
)

)
conceito: não só (i) as percepções de questão e {ii) votação pelas questões ,
como também (iii) posições de questões . O que é uma questão? As ques-
tões só podem ser assim chamadas quando são vis íveis e controversas. Paca
mim, questão significa também uma série delimitada de problemas que
pode ser isolada e é realmente compreen dida isoladamente, não só em sua
cação partidária referem-se a diferentes tipos de motivação el~it~ral e não
à maneira pela qual. muitos eleitores na ve.rclade mudam ou dlVlaem o seu
voto.
A votação por questão e a identificação partidária são melhor con-
cebidas como os extremos opostos de um contínuo. Assim, é útil termos
1
~
....
)
peculiaridade, mas também por causa da sua peculiaridade. Brian Barry um conceito inteIInediário, no qual o interesse por questões e as identifi·
••
)

)
indaga se questão deve incluir respostas do tipo "interesse tle grupo", t:iis
como "bom para a classe trabalhadora". IS Eu responderia claramente
~la negativa. Se "bom oara a classe trabalhadora" for entendido como
uma formulação possí vei de Úma questão, então qualquer coisa pode ser
considerada como tal, e o conceito não terá utilidade analítica.
cações se podem fundir, embora de maneiras e em p~oporções diferent~s.
AJém disso, na suposição de que os eleitores são identificados, s~a maneira
de ligar-se a um dete rminado partido é óbvia; mas como os elei tores que
pensam em questões se ligam aos partidos e escofüem entre eles? Por essa~
duas razões, precisamos de pelo menos outro conceito: a imagem do parti-
~
i

l
.•
Os eleicores que vo ta m pelas questões, que tê m percepção de e prefe· do. Esse terceiro conceito foi rnuito menos desenvolvido e utilizado do que

~ ••
rencia por q uestões são, com freqüência contrastados com os "eleitores
identificados", isto é, com eleitores que se identificam com um determi-
nado candidato ou símbolo partidário. Mas um eleitor identificado pode
os dois outros. Nã'o obstante, parece-me que os partidos se comunicam
com os eleitorados de massa pelas imagens partidárias e que grande parte
j .•
)
360 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS
) COMPfiTIÇÃO fiSPACIAL 361

) de su:1 ematégia deito ral reiaciona·s,_ com a formação <la imagem adeq ua-
da ao público do qual esperam votos. ceito ideológico. Numa contagem mais razoável, a proporça-o aproxima-se
) de 3%". 19
A imagem partiddria n:io é a mesma coisa que identificaçao partiddria. Embora os A primeira crítica é algo intrigante. Stokes supõe um "público de
) dois conceitos estejam ob viamente relacior.ados, é perfeitamente possível(...) várias questões" num momento em que as constatações de seus colegas de Michi-
) pes.oas identificarem-se com o mesmo panido embora tendo dele representações g~n e_ram que ~s orien~ações para questões, e as percepções de questões
mentais murto diferentes (. ..)Conq uanto a imagem panidárfa não tenha raízes tão nao tinham maior relaçao com as escolhas eleitorais, e que as identificações
) p:ofundJS ou tão estáveis quar.to a idenúfic;,ção partidária, provavelmente se1á me- partidárias eram a mais fone motivação isolada do comportamento eleito-
nos o::i.!mera do que .i.s ali:udes dos eleitores p:ua com as questões e os candidatos.IS °
ral nos Estados Unidos. 2 Como Angus Campbell e Converse dizem conci-
samente, "quase todos, em nossas amostras, poderiam ser colocados numa
) Sim, mas isso não é tudo. Uma imagem é, no meu entender, um vago dimensão unitária d~ identificação partidária" ,2 1 e "para o públjco, em
pacot e de polz"ticas e programas condensado numa palavra ou frase , e por agudo coniraste com a elite, a preferência partidária parece ( ...) relativa-
ela tr:.nsrititido. "Bom para os trabalhadores", ou' ainda melhor, "partido mente desligada de posições sobre questões" .22 Então, por que fazer das
dos trabalhadores" é urna imagem (e não uma questão). Os rótulos liberal "questões'~ o problema'! Embora Stokes aparentemente construa uma
e conservador, progressista e reacionário, esquerda e direita, exemplificam argumentação que as evidências da década de J 950 não justificam, teorica-
tipicamente as imagens pelas quais os partidos procuram passar à frente mente sua observação é impecável, ou seja, a de que o modelo downsiano
uns dos outros. se sai mal em relação às questões e em termos delas.
Como, então, o eleitor seleciona um determinado partido'! Se ares- A segunda crítica de: Stokes ressalta a distinção interessante entre
posta é - como me parece - através de uma imagem do partido, então o questões de posição e questões de valência. Em essência, uma questão de
problema gira sobre como a imagem (não a identificação) e as questões valência é uma questão não-partidária, sobre a qual não há discordância, e

. )
)
têm influência mútua. Assim, a pergunta, formulada do ponto de vista da
questão, é: como as preferências em matéria de questão fazem parte da ima-
gem e acabam por modificar a identificação? Desnecessário dizer que nos-
sos resultados não levantam adequadamente essas perguntas. Por outro
lado, as perguntas antecedem, necessariamente, as descobertas.
não obstante é uma questão em que um partido acusa outro de ser infiel
à sua posição verbal. Levando ma.is longe a argumentação, chegamos à
pergunta: por que se acredita num partido e não no outro? A primeira
resposta é que os eleitores não se deixam enganar pelo que os partidos
dizem. Mas isso não é tudo. As chamadas questões de valência indicam, ao
que me parece, o momento em que as percepções de questão passam a ser

.
t
Questão, identificação e imagem são, assim, os principais conceitos
empregados para o entendimento das razões para o comportamento dos em grande parte influenciadas pelas imagens e identificações partidárias.
) eleitores. Como esses conceitos se relacionam com o modelo downsiano Em úJtima análise, a questão depende de a identificação com um partido
) da competição espacial'! estabelecer - em primeiro lugar e acima de tudo - "as autoridades", na
Em sua influente crítica, Stokes apresenta três objeções principais. verdade as autoridades cognitivas, às quais os públicos de massa recorrem
.> Primeira: o conflito político não se pode reduzir a uma dimens.ro única, para acreditar ou não naquilo que lhes é dito. 23
) pois as constatações indicam várias "dimensões de atitude" para com ques- A te1ceira crítica de Stokes é a de que o eleitor norte-americano pra-
tões que são independentes (inconsistentes) entre si. Segunda: em relação ticamente ignora a imagem espacial de esquerda-direita e que mesmo o
a muitas questões - como a luta contra a corrupção, a promoção da pros- mapeamento liberal-conservador raramente é utilizado e ainda mais rara-
peridade e tc. - os partidos têm exatamente a mesma "posição" (não ofe- mente compreendido. Sob esse aspecto, Stokes está de acordo com os resul-
recem alternativas: todos se opõem à corrupção), e isso significa que as tados do Michigan Survey Research Center. Portanto, nesse caso o golpe
) contra o modelo downsiano parece ser mortal. Mas, ao final de seu artigo,
"questões de valência", como diz Stokes, não podem ter uma ordenação
) espacial embora de$empenhem um papel importante, pois um partido, e Stokes observa que "o conflito político pode focalizar.se numa q uestão
não todos, é responsabilizado pela corrupção passada, e somente um par· estável, que apresenta urna dimensão ordenada ( .. .) Chamemos a isso o
tido é merecedor de crédito em sua promessa de combater a corrupção. caso do enfoque ideológico forte . Por outro lado, a controvérsia politica
que se pode difundir por várias questões mutáveis interessa ( ...) ao e11fo·
) Terceira: é fato que "apenas cerca de um décimo do eleitorado [nas elei-
que ideológico fraco.'"24 Como isso constitui sem dúvida um ponto central,
ções presidenciais de 1952, 1956 e 1960] pela mais ampla definição, esta-
) beleceu a dlstinção entre. liberais e conservadores ou qualquer outro con· pretendo analisá-lo no devido momento. Continuemos, agora, nosso ex:i rne
) geral dos resultados norte-americanos.

)
\

)
T"

e:
~
COMPETIÇÃO ESPACIAL JóJ ~
J'>! PARTIDOS é SIS TE.t1AS ?AR TIO A PI OS
do componamento eleilOr:il norte-americano. Essa conclusão continua v:í- si
Foi especialmente o livro de Key, Tlie Responsible Elecwratt!, que lida não can to po rque as percentagens aindJ estio a seu favor. mas sobrem. e
)
r-:r1)c.:urcu .re:>tabelecer a ligaç:lo convincente entre preferéncia eleitor:ú e
~u.c..sc~;. cuja ::iusencia as pesquisas de i\liclúgan haviam verificado. ~ey foi
r.:oc1v<Jdo por uma preocupação ~ cica ou, pelo menos, pr:icica: se os poií-
do porque não pode ser refuto.da pela verificação de qUt: um maior número
Je pessoas percebe maior número de questões. O importante é a dir eção
Ja car,salidade. € a orientação para qu.:stões que na realidade determina
••
)
1
cicos ·v.:em os eh:i1ores como sensíveis ao lbsurdo, seguramente , eles lh.:s
J.irão o absurdo. Se consideram os eleitores passíveis de ilus6es, eh:s os
t.1udirrio".2s Embora eu partilhe do interesse de Key, devemos também
a escolha eleitoral'? Ou é a identificação partid:íria e a imagem partidária
que influem na percepçio das questões e nas preferências? Podemos nio
responder a nenhuma dessas perguntas ou responder a ambas. Não obs-
••
tc::r presence que os controles democráticos n:ro dependem ap1rnas do cie-
1110> - de modo que o mais justo tal vez seja pedir a um eleitorado o que
ele pode dar, e nada mais. De qualquer modo, em fins da década de 1960
tante, o problema de qual é a variável independente - até q ue ponto, com
relação a que propo rção do eleitorado - perdura. As identificações parti-
dárias bem podem, se m dúvida, derivar das atitudes para com a3 questões, ••
os pesquisadores começaram a procurar o que Key pedia, e os próprios
fatos sofreram uma mo<lificação.2 6 A eleiç:ro de 1964 revetou uma maior
mas de questões distantes, que remontam ã idade e aos processos de socia-
••
....
lização. E, presumivelmente, as identificações partidárias incluem as prefe -
consciência ideológica e uma melhor percepçJo das diferenças partidárias-. rências por programas. Essas condições terão, porém, uma alta coerencia
Goldwa ter conseguiu, embor1 não em proveito próprio, levar para a direita entre preferência determinada por questões e escolha partid:iria que ainda
) a image m republicana - tal como McGovern conseguiu, em 1972, levar a na-o se relaciona com a direção da causaç:To com a questão de se os vocos
) irn:igtm de mocrata para a esquerda. Coincidentemente, a eleição de 1968 são realmente da dos devido às questões e com base nelas.
)
- com Vietnà", campus universitários, inquietação racial no auge - trouxe A ironia da situação, está, portanto, em que, quando Stokes foi -
•..
...
ao primeiro plano essas questões e in tensiíicou realmente o volume de em sua primeira crítica - infiel à suas evidências e um pouco injusto para
" voto em programas". Segundo os mais recentes dados, portanto, os elei- com Downs, foi justificado pelas evidênc.:ias subseqüentes; e em que, quan-
cor<::s norte-americanos são ideologicamente mais conscientes ou, pelo me- do se baseou nas verificações da déc:ida de 1950 (de que o eleitor norte-
) no~ , mais motivados pela imagem liberal-conservadora dos partidos. _ americano não estava localizado num espaço ideológico), as constatações
Na verdade, a bibliografia recente constata que a votação se faz mais das décadas de 1 960 e 1970 solaparam sua crítica e justificaram a aplica-
)

)
por questões do que antes porque vinha procurando - com a ajuda de medi-
das scmíveis às questões - o que encontrou. Não obstante, os números fa-
lam, fora de qu:ilquer dúvida, de uma modificação de padrões. Embora m:-
bilidade do mode lo downsiano. Como dissemos antes, um modelo espacial
da competição partidária se sai mal com os eleitores interessados em ques-
tões. Inversamente, o modelo aplica-se mellior na suposição de que os elei·
••
)
nhuma modificação real tenha ocorrido, praticamente, de 19 52 a L964, em
197:; mais de um terço do eleitorado norte-americano mostrou-se "in-
tores são ideologicamente conscientes e sensíveis à imagem esquerda-direita.
••
..
A razão intuitiva disso é que as questões diftéilmehte podem ser reduzidas
d.:pende nte'', isto é, não-identificado; e apenas cerca da mecade pare-

..
) a uma única dimensão, ao passo que a propriedade mais atraente do mode-
ceu iden tificar-se fortemente com um dos dois principais partidos. Mais lo downsiano é precisamente sua unidimensionalidade. Um melhor exame,
precisa mente, os independentes foram cerca de 23% de 1952 a 1964, e porém, leva a pensar que as constatações eleitorais não se adaptam bem ao
subi ram para 29,5% e 35,1% respectivamente em 1968 e 1972. Os identifi- modeló downsiano sem a inclusão de um conceito (o quarto) adicional -
cados ~orno os democratas atingiram um máximo de 52,2% em 1964, mas posicionamento - sob duas formulações. ou seja, percepção de posição e

•.
foram de 41 % em 1972. Os identificados como os republicanos foram de imagem de posição. A idéia de uma percepçâ"o de posição significa que o !
30% em 1956 e 1960, baixando para 24% em 1972.'27 Por outro lado. tais ~

] •.
eleitor se coloca, e aos partidos, numa espécie de ordem espacial, numa
müdifica ções não surpreendem se considerarmos que as eleições presidc;::i- fileira· e a idéia d e imagem de posiça"o significa que os partidos manobram
cia1s de 1964. t968 e 1972 foram realiz:idas numa América em processo precis~ mente para transmitir ao elei torado uma localização espacial de si
de amad urecimen10, profundamente ferida pela guerra do Vietnã e int1a· mesmos. Dadas as percepções de posição e as imagens de posição, entâ"o -
mada por questões raciais. Nem se pode dizer que qualquer uma dessas mas só· então - podemos empregar com proveito a noção de •·posição em

j ..
eleições , tomada isoladamt::nte, tenha sido realmente "crítica" . isto é,
refletisse um rel.linhamento profundo, durável e fundamental.2ª Conside-
ra<bs todas as variações, a conclusão central das pesquisas realizadas em
~lichig:m sobre a década de 1950 ainda ê válida: as identificações parti-
dárias cominuam ~nJo, apesar de tud o , o principal determinante isolado
relação a questões " num "espaço de questões".
. Tendo estilbelecido o quadro conceitual para a organização d~s cons-
tatações, vamos delinear todo o conjunto de condições sob as q uais deve-


,,
J
364 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÃRIOS COMPETIÇÃO ESPACIAL 365

'~~ mos, ou não devemos, esperar que um modelo espacial da competiçõo seja
útil.
nismo através do qual o eleitor se identifica é a imagem partidária e esta
por s~a vez, relaciona-se com uma orientação em relação às questÕes, qu;
1. Quando não existe nenhum sistema partidário estruturado, a de- ~ b_ás1ca, .embora vaga e ~lástica. Quanto às duas últimas generaliz.açõés,
)

-J) terminante preponderante do comportamento eleitoral é alguma forma de md1cam simplesmente as hipóteses amplas para as quais nos voltamos agora
apego a um notável - e podemos falar, portanto, e brevemente, de voto de num exame mais detalhado.
personalidade. lsso significa, em substância, que o modelo downsiano não
tem relação com o Terceiro Mundo e até que os partidos de massa entrem 103 Espaço multidimensional,
) em cena. unidimensional e ideológico
') 2. Voto de programa, isto é, uma escolha eleitoral determinada por

-

)
)
questões e reagindo à posição programática dos partidos, é relativamente
rara; não ocorre sempre, nem se pode demonstrar com facilidade que as .
percepções de e orientações para questões sejam a variável independente.
A pergunta que ainda temos de examinar é: o que é um "espaço político"?
Mais precisamente: em que tipo de espaço os partidos competem? Sem dúvi-
da eles não competem no espaço geográfico ou físico de Hotelling e Smithies.

-
,)
~
)
Mas, quando a votação por questão ou de programa realmente ocorre, não
pode ser reduzida a uma representação espacial, e menos ainda a uma di-
menslfo espacial única. 1 9
3. Sempre que a política se desenvolve, sempre que os eleitorados
Nem basta responder que os partidos competem num espaço figurativo ou
simbólico. Além disso, a transição de uma configuração espacial da polí-
tica para u.m tipo ideológico de espaço é, com freqüência, suposta com
demasiada facilidade.

. J têm a capacidade de abstração, e sempre que o sistema partidário é estru-


turado por partidos de massa, a suposição forte é a de que o voto de posi-
Vamos dar à configuraçã'o esquerda-direita o nome de imagem espa-
cial. Sua única propriedade é, como tal, ordenar os objetos lado a lado
,) ção relacionado com as imagens partidárias representa a determinante úni- (horizontalmente) num espaço chato (unidimensional). Isso nada mais é,
..) ca, preponderante, da escolha eleitoral. E na medida em que os eleitores se
orientam para posições, vale a pena pretender, na mesma medida, o enten-
em si mesmo, do que um arquétipo espacial. Como entrou ole na política?
A tradução espacial das percepções políticas em termos de esquerda e di-
..
..)'
dimento espacial da compeiição partidária. reita foi usada pela primeira vez na Revolução Francesa, de acordo com
um "desenvolvimento da política" ideológico, mas com referência especí-
4. Embor~ os eleitoxes tenham certamente preferências em rela~o
a questões - pois sem isso as eleições em que há realinhamento não ocor- fica à disposições das cadeiras - lado esquerdo, lado direito - na Assem·
.) reriam nunca e os resultados de eleições que fogem à norma seriam de expli· bléia. E embora tenha havido sempre conotações de valor, durante todo
o século XIX bem como em nosso século, ~ssas conotações de louvor e

..
~)
)
)
cação difícil - a questão gira sobre o ponto de defecção, ou o ponto de
rompimento, isto é, o ponto no qual é pexcebida uma política indesejável
em relaçã? a uma qMestão por parte do partido até entãó preferido, o que
rompe a imagem preexistente, a fidelidade ou a filiação do eleitor a um
culpa sofrenm variações consideráveis e , no todo, contrabalançaram-se.
Num dicionário de política francês de 1848 os deputados que se sentavam
à esquerda eram mencionados como "defensores do princípio da liberdade"
determinado partido. enquanto os deputados sentados à direita eram considerados "defensores
do princípio do poder" . Mas, de acordo com o autor de 1848, essas eram
5. O voto por questão é mais fácil, e possivelmente mais provável,
"velhas distinções" que haviam perdido mwto de seu valor, pois também
dentro dos sistemas mais simples - bipartidarismo - e torna-se mais incon-
dentro da esquerda rntútos deputados se haviam tomado "mais interessa-
trolável na medida em que o sistema partidário é complicado por um nú·
dos na asceDsão pessoal ao poder do que na preservação das liberdades pú·
mero crescente de partidos e, particularmente, pelos governos de coalizão.
bUcas". :n Com relação à conotação de valor, a "direita" capitalizou a asso-
6. Ao mesmo tempo, o voto por questão dá lugar ao voto de posição ciação positiva com o significado jurídico da palavra (o droit abstrato francês
ao passar_rr_i os de um enfoque ideológico fraco para um enfoque forte, isto e o alemão .Recht, e a expressão concreta inglesa "ter um direito" [having
é, da poli t1ca pragmática paxa a política ideológica:ll a right] ou mesmo "estar certo" [being righr]) mas sofreu com a associa·
Os trés primeiros pontos, ou generalizações , simplesmente delineiam ção inicial com o lado do Rei e a associação subseqüente com a Restauração.
~ á rea de apl~ca bilidade do modelo de Downs. O quarto procura satisfazer Inversamente, a "esquerda" capitalizou a colocação do coração à esquerda
as prc~cupa~o~s de Key m ostrando que nem as identificações, nem o voto e a associação inicial da palavra com políticos "republicanos", constitucio-
de P.os1ção significam que os eleitores podem ser sempre enganados , pois os nais, mas continuou sendo prejudicada pela inferioridade do uso da mão
parudos se preocupam com o ponto de defecção. Afinal de coJ1tas, o meca- esquerda em relação ao uso da mão direita.
e;;

.366 PAR TIDOS E SIS TEMAS PART!OÃRIOS

Sem seguirmos a fascinante evolução dessas associações iniciais. e os


COMPETIÇÃO ESPAC:;J..L

p:ira a AJcmanh:i ~ J Suê.:.:ia. J; :\ Ing!at~rr;J também poderia ser acresc~n­


30
.3b7
.
e;:J
c;::i

4P
)
acréscimo~ que lhes for1m feitos, é j usio dizermos que a atuai vitó ria d.1
··esquerda" - sua avaliação positiva cada vez muior -, segue-se <.J:l derro c:i
dos regimes fascistas "direi tistas", coincide com o decl inio da rel igião
t.ad:i a esse grup o. J3 ~las a Fr.inp ~ i.life re nce, sob esse :ispecto, da lc:íli.1. ;9
E - o que é menos su rp reendente - .i H.Jlanda .: Israel exigem, ao qu1o: pa-
r.:..:e. duas diménsõ.:s: :o S:ibemos Jtualmente que a Suíça preci;a de trés " 1
••
)
)
(Cristo sempre foi pintado à dire1t:! de Deus), e resulta, no momen10.em
uma assoc13ção cada vez maio r de ·'de mocracia". ''futuro" e "jovem" com
··esquerda" . .r. Essa vitória é de importância, po is roma esqutJrda a palavra
Co;no GiJcomo Sam ress:tlta co:11 acerw. grande parte d:i c1)ntrovér:;i1
sobre l :ipll..:abil idadl! do continuo ~squc: rda · dircita pode gir:ir em tomo de
Jif:rec1 Ns t~cnic~s J,; col..:tci ,Jc dados (...} A~sim . as conclusões p;ua o eleito rodo
••
••
) mais cortejada e mais crucial na guerra de palavras com as quais as batalhas norcc-americlno bas.:iam-sc na analise <lc: matc:ri31 inconclusivo; no 1::1$0 britânico.
) pol íticas são travadas. E o que é a inda mais importante, à medida que uma pergunta "tiltIO'" iui formulada prelimin.mn::ntc: (. .. 1 Nas trê~ naçõ<:s d:i Europa
c:esce o desequilíbrio avaliativo entre esquerda e direita, o elemento emo- coniincnt:tl ( França, Alem.inha, lt:Íti3 j p~diu·se aos entrevistados que simplesmen te
cional desses rótulos supera a sua função cognitiva. Portanto, essa vitória toc:tlizass~m os partidos num espc1.:1ro e~quérda-direit:i que lh<!s era apresc ntldo.
1'i
••
provoca o que podemos chamar de uso puramente ideológico de esquerda
e direita. Na anâ.lise c!ownsiana, as ideologias são recursos para "cortar os
custos das informações". 33 Há um ponto, porém, no qual esse "corte" é
tão drástico que o elemento de "informação" desaparece totalmente. f
Na verdade,' é alt:imente plausível que os eleitorados de massa evi-
denciem, de! pais a país, "diferentes índices de intemalização ou diferen-
tes rec ursos cognitivos, ou rótulos ( . ..) que ajuda m o eleitor médio a
'entender' o sistema partidário" . ~2 Mas essas diferenças não podem ser
.l,
.•
•.
ao longo dessa oscilação, então, que uma imagístic:i espacial é mencionada ,
adequadamente, como um espaço ideológico, que se torna ainda mais ideo· devidamente aval ia das se não forem padronizadas, primeiro, as técnicas de

...
lógico na medida em que esquerda e direita se transformam em epítetos coleta de dados.
) Enquanto a.guarda constatações mais padronizadas, o argumento teó-
meramen te laudatórios ou pejorativos. t certo que determinadas associa-
) ções com determinadas políticas perduram, mas a vantagem das imagens rico é o de que o posicionamen to partidário é um ponto de intersecção que
es paciais . é que lhes falta qualquer lastro semântico, isto é, qualquer li mi- exige , para sua determinação, não só uma abcissa que represente ~ conti-
) tação semântica ao seu uso e abuso. As denominações liberal-conservador nuo esquerda-direita, como também pelo menos outra ordenada tn lerve-
43
niente: o cont ínuo autoritário-democrático enfatizado por E yse nk e/ou

)
)

)
são com freqüência assimiladas, pelo menos por motivos comparativos, a
esquerda.cJireita. Não obstante, as duas séries de denominações diferem
fundamentalmente porque a primeira não pode ser totalmente depurada de
conteúdo ··éognitivo-informativo, ao passo que a segunda consiste de com-
o contínuo religioso-secular. Podemos encontrar também panidos étnicos
ou raciais que pertence m clarame nte a uma dimensão distante. As dimcn·
sões adicionais podem ser construídas com base na divisão urbano-rural e
'l
1
•••
partimentos vazios que podem ser ocupados, e reocupados, em princípio, mesmo com base na clivagem tradicional-moderno. Chegamos rapidamen-
)
)
à vontade. Embora haja um impedimento semântico à associação de "libe-
ral" com políticas stalinistas, tal impedimento flão existe para "esquerda".
te, portanto, a qucitro d imensões de clivagem básicas, que podem ser repre-
sentadas pela Figura 44.
\l
, l ••
..
...
Historicamente, esquerda-direita entraram na política pesadamente carre- Ninguém nega que essas dimensões de clivagem existem em certos l
1
gadas de significado cultural e reli gioso. Mas esses rótulos sa:o facilmente países, que ajudam a organizar as questões políticas, e ainda que fazem
"descauegados" e "recarregados", pois lhes falta substrato semântico. parte das imagens e identificações partidárias. ~o?tinu~ sen~o certo que 1

...
Estamos agora prontos a enfrentar o grande debate, isto é, se o espa· não há muito que possamos fazer com essa mult1dunens1onahdade - pelo 1!
ço da competição partidária pode ser reduzido a uma dime11são única, ou menos no sentido de que não há maior utilidade em se concebê-la c.omo
se é inevitavelmente multidimensional. Quando o modelo downsiano é uti- um "espaço". Como Barry observa, " a extensão da análise unidimensional
lizado para a interpretaçá'o de dados, ficamos - através das nações - com downsiana a mais dimensões não proporciona por si só razões para esperar-
constatações mistas e alguns resultados que são ao mesmo tempo intrigan - mos u m número de partidos, nem que os partidos estejam em qualquer


tes e contraditórios. O que é bastante certo, atualmente, é que os públicos outro lugar que não seja no meio dos eleitores na medida e m que estes
de massa europeus {inclusive na Inglaterra) são capazes de se colocar, quan- estão dist rib uídos pelo espaço n -dimensiona.l." 4 4 E embora o fato de have r
do entrevistados, numa escala esquerda·direita. .l4 Isso, porém, não demons-
tra, na verdade, que esquerda-direita· exptiq_ue, o u baste para explicar. o
co~porta_m ~m ~ eleitoral real. Urna explicação unidimensional esquerda-
mais de uma dimensão permita em geral uma melhor adequação dos dados,
ainda assim a "evidência de que as d imensões x, y e z são necessárias para
explicar um determinado grupo de ordens ue
pr~ferência n~o asse~~~a4 ~ue
••
d1retta foi considerada suficiente para a Itálials e, mais aproximadamente. qualque r dos atores esteja vendo o es paço em mais de uma d1mensao ·
••
)

368 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS COMPETiç:ÃO ESPACIAL 369

Autoritário os pobres) ao longo da dimensão da estratificação sócio-€conômica, em


Secular .Etnicídaóe contra posição à colocação ascendente ou, preferivelmente, nalgum ponto
nulo . Em bases semelhantes, outro critério talvez seja o de "descontenta-
) mento". Finalmente, chegamos à falta de qualquer critério, ou seja, apenas
o temor e as pragas, cujo único sentido é o estabelecido, de acordo com as
contingências, por algum Big Brother. 47
) A maior parte desses critérios, na verdade, diz rigorosamente respeito
ao Ocidente. De fato, só o critério econômico consegue viajar do mundo
democrático para o mundo não democrático. A União Soviética só conti-
nua na esquerda devido à sua economia controlada pelo Estado, mas não
por qualquer dos outros motivos mencionados acima. No mundo ociden-
tal, porém, o padrão constitucional de julgamento não é menos importante
} do que o econômico ou sóciO·econômico e, na realidade, parece ser o cri-
lmegração tério crucial ao nível da elite política e das percepções intra-elite. 48 Na
) Relig ioso
Democrático verdade, se não fossem wn motivo de preocupação constante, por que as
democracias seriam constitucionais? Essa é também a razão em que se
Figura 44. Um espaço multidimensional apóia a minha apresentação dos partidos - em todo este volume - numa
seqüência poHtico-constitucional de esquerda para a direita. Se eu tivesse
_Som?s.• port.anto, levados a procurar meios de retornar a uma simpli· seguido um critério de ordenação sócio-econômico, os problemas de posi-
ficaçao urnd1mens1onal. A primeira coisa a observar é que, aparentemente cionamento teriam sido muito maiores e vários partidos teriam sido coloca-
) não encontramos contradição em supor uma dimensão esquerda-direita a~ dos em pontos muito diferentes do espectro. Sem dúvida, mesmo sob o
) mesmo tempo em que reconhecemos que ela na realidade consiste de or- critério político-constitucional, a colocaça:o de dois partidos adjac.e ntes
d:na!ões múltiplas, dependendo de ser o critério econônúco, sócio-eco- pode resultar na sua intercambialidade, tanto porque o caráter impres·
nonuco, constitucional, populista ou , finalmente • de não haver nenhum sionista das colocações espaciais é intrínseco à sua natureza como porque
. • . 46 p
) cr~teno. elo crité7io econômico, a esquerda indica controle estatal (ter- dois partidos adfacentes podem, na verdade, coincidir e competir pelo mes-
rrunando na economia coletivizada) e a direita, um sistema de mercado ba- mo posicionamento. Mas não há nenhuma desvantagem em se permitir
) seado na pro_rriedad~ p rivada; _Pelo critério sócio-econômico a esquerda posicionamentos invertidos, contíguos. O caso é muito diferente, porém,
prefere, e a direita reJe1ta, politicas de bem-estar social e nivelamento Mas quando o critério constitucional é substituído pelo econômico. Por exem·
)
há muitas questões não-econômicas que ficam igualmente acomodada~ sob plo, peÍo segundo critério os gaulistas bem poderiam, na década de 1950,
nossos rótulo.s: direitos civis, liberdades civis, habeas corpus, privacidade, ser deslocados da extrema direita para a centro-esquerda. Da mesma forma,
e as.sun por diante - em suma, as questões de lei, segurança, ordem. Temos o partido neofascista italiano (MSI) representa a .extrema direita do pon·
) to de vista do critério constitucional, mas poderia ser colocado em pontos
ª9~1 o que. chamo (com referência às democracias constitucionais) de cri-
) L~n~ co~stitucional, de acordo com o qual a extrema esquerda e a extrema muito diferentes do espectro pelos critérios sócio-econômicos. E exemplos
drrena sao usadas. c~mo indicadores de uma oposição anti-sistema, ao passo semelhantes são proporcionados por vários países multipartidários.
que a esquerda-due!ta constitucionajs diferem com relação à maneira pela À primeira vista, as ordenações múltiplas complicam, em lugar de
qual. as leis ~e. relacionam com as desigualdades societais. Mas nós tam bém simplificar, nosso problema. Refletindo melhor, porém, descobrimos que
s~g.u~os cn'.e~os mais}agos. Na década de 1950, a esquerda foi, com fre- o fato de estarem "vazios" os nossos quadros de esquerda-direita facilita ,
•l
que.ncia, assrmil?da a mudança", e a "movimento" enquanto a direita e mesmo estimula, a compressão de uma multiplicidade de ordenações I!
tnd~cava uma ?ne ntação para o status quo. Mas esse critério perde sua ca· (equivalente a uma variedade de espaços de questões) numa mesma e úni·
P~~rdade discnmmadora mrer alia, frente às práticas protecionistas e imo- ca dimensíro espacial. Por exemplo, a dimensa:o democrático-autoritária de
bilizan tes do sindicafü1:1?· Portanto, com base nessas razões imprecisas Eysenk é absorvida pela extensão do espaço geral esquerda-direita e ao se
prefir_o falar de um crlteno populista, isto é, a colocação pura e simples de permitirem diferentes distâncias entre os partidos. O que dissemos acima
atraçoes em ordem decrescente (para as massas, para os tràbaUrndores, para equivale, portanto, à afirmação de que, embora as pessoas se localizem, e
)
)

) J i (J PARTIDOS E SISTêMAS PARTiDri/i!0.5 COMPETIÇÃ O ESPACIA L . 37 1


••
) :ios pa rt id~s, <.'m pv n ws d i f~ r<! n :e$ do esp.:..:tro -:squcrd'.l-rJireita por mú!r[.
pl::is e conlus3s razõ.es, das f!x:un r eaim m r;: - S<.'mpre que :is opções ou 0
Supondo-se que o eixo x represente a dimensão ~squerda -direita, e
o eixo y represente a dimensão ..:lerical-anticlerical, se ambas são de igual
••
)
')
caiu r 1Je0Jog:!CU aumentam - pusii,:õ~s cspacíais ..;q P0r outro bdo, 0 prn.
cesso de. c?rnpressão signifü:a que uma grande distincia tende d :i separar
(_ t} .' '. :.; oµtrnõ~ >: a percepç:íó gerJ.l da pol ttfca regis trnd:.is pe!Js ~nrrevis t:is.
importância p:.ira 0s eleitores - como no prLrneiro exemplo - a argument:i-
ção em favor da unidimensionalid:id<: está, aparentemente, perdida (t!mbo-
ra não esteja perdida. como iremos ver, n:i colocação apresentada na pri-
••
}

)
~ ( 11) l .:scelh:i t:1<:1tor.il n:::i!. N'a vcrd:ide, qum1ro maior :i comoress:io, rn.tior
a J iscânc_1:.1: Quando o cidadão fala , ele pode re r muitas cois;s :i dizer. ,\bs
q;tarn.lo._e IOrçauo a ur~ ':,º~º d;;:. sim-ou-não, de tem pode optar pela rnlu.
meira figu ra.) Se, po rém, a dimensão y for dominante, os partidos A t! e
tornam-se comprimidos (muito próximos) e poue mos argumentar que se
trata de um caso de compctiç:io i.:nid imensional clerical-anticlerical entre

••
çao ~a ~m1 or d1st:incta , is to e , v0tar no partido (<:a11didato) ~ü 10 corno B e A.C no qual a dimensão esquerda-direita não desempenha outro papel
) :tlém de impedir a coincidência de A e e. No terceiro caso, porém, é B
)
)
o mais pro:omo, no espectro esquerd:J.-dirett:i, à posiç:io que ele se atHO-atri·
bui no mesmo espectro. As dificuldades enfrentadas pelo observador qu:!n·
<lo procura comparar a.s respostas às entrevistas com o ato de votar são
que está comprimido ao longo do (próximo a) eixo x, e podemos argu-
mentar que temos entfo uma dimensão única de competição esquerda -di- ••
)
as mesma~ dificuldades que o eleitor encontra ao vo tar. Portanto, o obscr·
vador cria para si mesmo mais problemas Llo que pode resolver se não levar
em co~t.a a c~mp.~e;sã~ e :stiver, atento ao fat? de que a percepção geral
reita na qu:il o partido B só entra na arena competitiva quando visto como
um partido intermediário.
Não é necessário dizer que é esse o caso que se enquadra em minha ••
••
) da pol1t1ca pdo uaaclao nao pouc ser transferida automaticamente para 0 argumentação e pode ser reformulado de modo a representar a situação
Vvtv real do eleitor. competitiva do partido democrata crist:i'o da Alemanha, da Itália, da Fran-
)
Apcs:ir dessas considerações, pelo menos uma d imensão - a religiosa - ça e do Chile. O CDU alemão não procura eleitores identificados católicos

••
) fX.t rcccr irreúulível e arraigada na escolha eleiroral real. A dimensão ~cufar­ (exceto na Bavaria), nem quer ser visto como um partido religioso, estando
) ~;ligios:r não pode se r absorvida, embora possa ser um pouco comprimida. quase que totalmente achatado ao longo do eixo x na busca de uma maio-

.
t.i)me @onverse observa com in teligência, duas dimensões rep resentadas ria absolu ta. A DC italiana capitaliza os eleitores identificados católicos,
) :; ~m· -es~.àço cartesiano podei'.\ ser vistas de ~rês maneiras diferentes, depen- mas sua colocação central (ou de centro com inclinação para esquerda)
-~ Je s~'.fern ~gua.is os eixos _\ e y, de se::r a d1menslo x, como a mais impor- atrai também eleitores não-católicos. O MRP francês perdeu potenciais

)
)
i.lilCe~ e~end1da, e a dimensão y reduzida, ou de ser y a dimensão que se
turna'\central e se estende, enquan to a dimen são x se reduz como mostra
a Figuraf45. so '
eleitores identificados católicos ao começar, em 1946, demasiado à esquer-
da falhan do assi.m em termos da atração religiosa e do posicionamento. O
PDC chileno falhou igualmente na estabilização de seu apoio devido às suas
••
oscilações demasiado inconstantes ao longo da dimensão esquerda-direita.
A argumentação em favor da unidimensionalidade pode ser levada
ainda mais longe se nos lembrarmos de que estamos investigando a caça aos
••
••
Cen cr:úidade igual y é central xé c~ntral
votos, isto é, se a competição fo r levada a sério . A competição pressupõe
j ,V y um terreno comum no qual dois partidos (pelo menos) falam aos mesmos

•..
)
eleitores. Portanto apenas um partido com uma única reivindicação (seja
ela religiosa,. étn ica ou lingüística), apoiado por eleitores iden tificados, não

- -+---+---X
A e A C
X

. B• jy
- '
acrescenta outra dimensão à competição : na realidade, e$s-; partido na:o
está sujeito à competição. No primeiro caso da Figura 45 (centralidade
igual de ambos os eixos), o partido B não comprova um espaço bidimensio-
••
nal de competição : comprova, em lugar disso, uma posição fora da com-
petição. Se B se satisfaz com o seu eleitorado, continuará seguro, à parte
as modificações demográficas e de geração .51 Se, em lugar disso, procura
ganhar uma parcela maior do eleitorado, então terá de se aproximar do
eixo x e tentar competir, para melhor ou para pior, ao longo da dimensão
·l
i
;
..•
••
.~
·!
Figura 45. Variações de um espaço part id:íci'o b idimensional esquerda-direita, 'tal como indicado no te rceiro caso da Figura 45 . Na ver· 'i
de aco rdo com a centralidade. dade, uma ordenada religiosa (o eixo y) contribui para explicar, digamos, J
.l
~-i

)
~
!
••
I 373
) por que um católico de esquerda não é um socialista marxista; mas esse a um enquadramento da política em termos de liberal-conservador, ou de
) elemento é descontado, ou aceito sem discussão, na arena dé luta. Isto trabalhista-conservador, difere acentuadamente dos eleitorados que seguem
é, em geral, as razões de fragmentação do sistema partidário não se tradu- o enquadramento esquerda-<lireita. Como já notamos, as distinções traba-
) zem eo ipso num espaço de competiÇão multidimensional. lhista-liberaJ-conservador estão ancoradas, semanticamente, a um substrato
Assim, um~ competição .bidimensional continua plausível especial- cognitivo - mesmo que os públicos de ma.~sa não sejam capazes de expres-
mente com relaça o a J~rael , pois temos ali dois ou três partidos religiosos sá-lo - enquanto a distinção esquerda-direita pode situar-se e flutuar corno
)
9ue. competem entre s1 em bases religiosas. 52 Por outro lado, não parece um simbolismo puramente emocional. Essa diferença se destaca forçosa- ·
) JUSh.ficada em relação ã Itália, à Alemanha, à França, ou ao Chile. s 3 Em mente quando comparamos (deixando de lado, no momento, os sistemas
~articular, o Misrachi (Partido Religioso Nacional) israelense pode flutuar de três-e-quatro partidos) o bipartidarismo com o multipartidarismo extre-
) bvreme~te ao .longo da dimensão esquerda-direita, precisamente porque mado. Quando o eleitor tem pela frente cinco ou mais partidos, os custos
s:us ele1tore~ identificados estão interessados apenas nas vantagens reli- de informação e as imprecisões se multiplicam exponencialmente, e uma
giosas oferecidas por qualquer aliança. Contrariamente, a DC italiana vem certa simplificação drástica torna-se necessária. Nesse contexto o eleitor
) manobrando, não em outro espaço, mas no mesmo espaço de todos os médio devena ser uma espécie de computador para que se pudéssemos pre-
) outros partidos. 54 Se a DC tivesse acreditado na possibilidade de ganhar tender que ele relacionasse - segundo Stokes - várias dimensões de cli·
1:r votos em term.os de proselitismo religioso, na'o teria buscado, nos últimos vagem com vários desempenhos em relaça-o a questões, e tais desempe-
) 20 anos, uma •i:iag:m de cent~o-esquerda_ A mesma consideração aplica- nhos com as plataformas dos vários partidos relacionadas com questões da
) s~ aos partidos etnicos. O Partido Popular sueco pode ser localizado, espa- atualidade. 5 7
cialmente, em qualquer lugar, ou melhor, em lugar nenhum: representa um Em tomo do ponto crucial dos cinco partidos enfrentamos, porém,
) ~po étnico de fora que não perde nem ganha votos num espaço compe· a bifurcação entre formações polí ticas segmentadas e polarizadas. 5 8 Po-
) ht1vo. ~~r _outr<:> l~do, ~ sorte atual da Bélgica pode ser interpretada como demos pensar, então, em duas intexpretações. Podemos argumentar q~~·
uma dmsao b1d1mens1onal de um espaço anteriormente mais simples. quanto mais numerosos os partidos, mais temos ou um espaço mult1d1-
mensional (as sociedades segmentadas) ou um espaço ideológico (as so-
. No ~ode, parece-me que o caso fraco . bem poderia ser o da multidi-
mens1on~dade. Embora uma simplificação unidimensional possa simplifi- ciedades polarizadas) de competição. Podemos argumentar alternativamen-
te - e essa é a minha opçio - que, embora as fonnações políticas seg-
car demasiado o caso elementar (bipartidarismo), não obstante ela se toma
) uma representação mais realista na medida em que nos aproximamos dos
mentadas e.xijam, sem dúvida, uma explicação multidimensiónal para as
identificações partidárias, nio se segue disso automaticamente que a com-
casos confusos .. Isso ocorre sob duas suposições: primeira, a de que as per-
petição que nelas existe seja também multidimensional.
ce~ções de pos1çõ~s se tornam ~ais úteis e, no limite, inevitáveis, quanto
) A lúpótese geral é, portanto, a de que, quanto mais partidos •. mais
rri:us aument~ o numero de partidos; segunda, que um espaço esquerda-di-
sua competição tende a difundir-se ao longo de um t ipo de espaço linear,
) re1.t~ será mais provável na medida em que passamos de uma política prag-
matica para uma política ideológica. de esquerda-direita; que esse caso ocorre tanto mais certamente quanto
) mais o sistema partidário evidenciar uma padronização ideológica; mas
~ argumento gira, portanto, sobre quantos são os partidos de um que o espaço de competição pode ser unidimensional também nas forma-
) dado sistema. Com dois partidos apenas, o eleitor pode se orientar sem ções políticas segmentadas, em que é baixo enfoque ideológico, a po.nto
uma percepção espacial do tipo esquerda-Oireita, e não há raza'o forte para de um partido que saia da linha e ingresse em outra dimensão corra o nsco
~ue um espaço de competição seja um "espaço ideológico", como tem de disputar um jogo solitário e, com o tempo, perdê-lo. Portanto.' a pres~­
) sido o caso nos Estad~s Unidos. 55 O padrão britânico, contudo, já é dife- ção de multidimensionalidade só é forte para os países nos quais ~utra di-
)
rente. Entre. outras coisas, os rótulos têm influência, e a dicotomia demo- mensão "incomprimível" exija que dois partidos (pelo menos) disputem
cra1:'1·repu~licano é muito mais anódina e condutiva à superposição do que entre si de modo a operar u m subsistema distinto. Poderíamos perguntar
) a d1co tonu~ trabalhista-conservador. Além disso, a política de classe faz por que se s upõe que a dimensão esquerda-direita predomina sobre as ou-
)
par:e do bipartidarismo de inspiração britânica. Por ambas as razões, o tras. Eu responderia que, num mundo de comunicação de ma~sa, cara~te­
eleit~r de l~ngua inglesa é mais sensível do que o eleitor de língua norte- rizado pela política de massa, um máx.írno de simp licidade .Visual, wuda
) am.e ncana a percepça-o esquerda-<lireita da política. 5 6 Não obstante os a um máxi mo de manipulabilidade, representa uma combinação quase
eleitorados que podem ser levados, embora em proporções difere;tes, invencível. 5 9
)
)

....) .
h sz- __.J.

••
37-t ."'ARTIOOS E SISTêMAS PP.RTIOARIOS
)
COiv1PETiÇÃC> SSPACIAL J75
) 10.4 A direção da competição

)
)
Ao procurar mostr:ir qu~ o modelo de Downs foi ap ressadamente rejeitado
por o_::gumentos e~cesm• an:ente .p.erfeccio nistas ou na suposição de que a
simplesmem~ . em suas m:uiobras Je co:ilizJo. o princípio d:i conu~tiiliJd~ :
tamb~m des enconcrmi. ou podem encontrar. um ponto de não..,·oa!iz:Io.
Se ~ssas percepções forc111 r1:formul:tdas ern lingu·.1gem esoaciai, el~; mdi·
••
)
)
vot=içao por .questoes e mais decisiva do que na realidade ocorre, eu talvez
tt!nha passaao ao outro excremo. Em princípio, porém, os modelos são
>im plificlções drásticas cujo objetivo não é repre&ntar a realidade. Um
carão espaçamemos difrren!es enrre os partido.> - ou m~smo um espaço
disjunto. Os intcr.-alos de:;1guJis signifh;am. então. qu.!, num esodco idc~­
lógico, os partidos s3o se?:irados por u1stânc:as diferc:nt-:::; - disÚnéias que
••
)
)
modelo (no sentido downsiano) pretende destacar umacaracteríscica básica
que sem isso se perde na complexidade das ex posições descritivas.
Os. ~odel?s não são apenas, em si, simplificações drásticas, mas, CO ·
podem s<:r, de foto, muito gra.núes.6 1
A elasticidade do espaço é melhor concebida como uma terce ira pro·
priedade - e não .:orno urna implicação de diierentes espaçamentos inter· ••
)
) mo a analise ~cana destaca. não é com base nas premissas downsianas que
podc:mos explicar por que os eleitores se distribuem e se alinham da ma-
neira pda qu:i.J o fazem. Segue-se que o modelo downsiano é melhor defen-
mcdiários - na m.:dida em que lev:uica a s.igumce questão: wmo o núir.ero
de partidos se relaciona com um espaço <le compe1iç:ro? A m:11oria dos
autores parece supor que o t:Spuço ger:i1 de competiçã"o é fixu, o u ind;!$ti· ••
dido e d~senvol .vido limitando-se a questão, istó é, interpretando-o como
uma teon~ do unµ_acto do. p~sic:ior.amento partidário sobre o comporta·
co. Sob essa perspectiva, dois partidos dividem. entre si, o mesmo "tama-
rú10 linear" do espaço competitivo que, digamos, seis partidos. Mds ess:.i
suposição é altamente implausivd. Quaisquer que sejam as razões da pro· •
'"
men;o. eleuoral. Autda mais hJrutadamente, meu interesse se voltará para
as r~ucas recompensadoras·de competição interpartidária pelos /úieres de lifernção de partidos - e são muitas - quando existem vários putidos rele-
)
partidos. Sob essa perspectiva, políticas e questões são formuladas de mo- vantes, a suposição apoiada pdas evidências é a de que sua existência se
do a tr~o.smitir a~ eleitorad~ e.O: geral i."!agens de posição, e a preocupação
compet1t1va dos lideres part1danos relaciona-se precisamente com as mano-
correlaciona com um espaço mais ampliado de competição. N;Io estou
argumentando, portanto, que vários partidos existem porque o espaço é
mais amplo, pois também se pode sustentar que o espaço é ampliado pelos
••
•..
bras de posição que acreditam não perturbar os eleitores já identificados
J com o partido e, ao mesmo tempo, atrair novos eleitores (ou conservar os partídos. Estou apenas observando que, até agora, não conseguimos tradu·
dissidentes potenciais). z.ir em termos espada.is as diferenças, reconhecidas sob outros aspectos,
)
Li~tada. a questão, devemos· ressaltar imediatamente que seus ele- entre culturas políticas homogêneas e heterogêneas (ou fragmentadas), ou
) ~entos sao mais co m.pl~xos d~ que os imaginados por Oowns. Em si e por
s1 mesmo, esquerda-d1Te1ta equivale apenas a um espaço ordinal cuja única
propr~edade é a seqüência unidimensional. Assim sendo, é tentadora a su·
entre sociedades consensuais e conflitivas. Se falarmos. como falamos, de
um sistema pucid:írio Hincegrado" versus um sistema partidário "não-in-
tegrado"61 e se - como afirmei sempre - os sistemas partidários diferem
••
pos1çao de que seus objetos se situam a intervalos iguais. Mas, à medida
q~e a esquerda-direita é transformada num espaço ideológico, novas pro·
por serem bipolares e multipolares, não-polarizados e polarizados, a repre-
sentação unidimensional espacial de tudo isso é a de que os vários sistemas ••
pnedades se acrescentam. Os partidos não se situam aoenas lado a lado
mas ~ambém ~e deve supor que se colocam a intervalo~ desiguais; e um;
terceira propnedade, a elasticidade espacial - até onde, e em que pro·
revelam diferentes distâncias lineares gerais.
De qualq_uer modo, a existência pura e simples de intervalos desiguais
entre os partidos destaca vigorosamente a impossibilidade de se supor que
i
·!

••
?orções, o espaço se estende - torna-se, ao que me parece, ainda mais a competição tenha apenas uma tendênda natural: a convergência. Em
unportan te.
Os pa.rtidos não são vistos pelo público, nem pelos políticos, como
~ol?c~dos sunplesmente - com relação ao posicionamento de cada ator -
outras palavras, um espaço ideológico suscita o problema das direções
da CO!T!petição. No modelo downsiano, os partidos competem basica-
mente de maneira centrípeta, e o problema sao as proporções nas quais sua
••
)
a d.1re1ta ou à esquerda. São vistos também como mais ou menos "alheios",
maJS ou me.n~s '_'estranhos". Para o eleitor, isso significa que alguns parti·
dos _s:ro a~e1tave1s como segunda e/ou terceira escolhas ao passo que outros
convergencia é neutralizada. Downs indica duas pressões neutralizadoras
principais que impedem uma excessiva superposição e mesmo coincidên-
cia dos part idos: a abstenção dos eleitores (seja dos aleitores extremados
••
) partidos s1mplesm.ente não slfo aceitáveis. Assim, apenas um seguimento
elo esp.ec~ro permite a transferência de votos: todo eleitor se.movimenta,
0
~ esta disp~st~ a movimentar-se, ao longo do espectro até um ponto de
ou dos eleitores que não se preocupam em escolher entre partidos sem "di-
ferencial"), e/ ou a ascensão, nos extremos, de partidos de chantagem.
Com base nessas premissas, Downs sugere que os partidos encontrem um
63
••
)

)
nao·transferenc1a. 60 Da m~sma
º r • 1 · 1
1onna. '· ·
cg1s adores e pol1llcos - seguem
nao "equilíbrio" entre si, isto é, uma posição ótim::i ao longo do espectro n:i
qual tendem a pcrm:uiecer ou à qual tendem a volt:ir, pois ao se :ifastarcm
1
j ••
} J •
}
)
f
1 376 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS
COMPETIÇÃO ESPACIAL 377

i1

M
)

!ffi
l dela perderiam votos. Não obsiante, a força do seu argumento está, clara-
f.
) i mente, em que a competição ocorre, dentro dos limites mencionados, numa
' direção apenas. 64 Mas, se alguns partidos são vistos - e se vêem - como
í
alheios e estranhos, por que competiriam cen tripetamente? Além disso e
) em geral, na'o há lógica em caçar os votos intransferíveis, e os transferíveis
bem podem estar localizados nos extremos, e não no meio , do espectro: o 50 o 50
Um espaço ideológico dá igual peso, portanto, a duas possíveis di- Competição bipartidária Competição uipa.rtidária
l reções de competição, seja centrípeta ou centrífuga. Sob essa perspecti-
va, uma tendêncía centrífuga não é simplesmente uma inversão pro tem-
)
pore de um impulso centrípeto básico, mas uma estratégia competitiva
l alternativa e independente. E, se assim for, temos, no caso, um proble-
ma totalmente novo, não examinado por Downs ou por seus intérpretes.
)
Vamos tentar analisá-lo.
) Como é prudente em terreno altamente ·experimental, a tarefa será
t
f simplificada ao máximo, como se verá examinando a Figura 46 , que pre-
~
t tende ser apenas uma contribuição visual imperfeita para ressaltar apenas
) '; um aspecto: porque os sistemas de dois, três e quatro partidos se caracte· Competição quadrípartidária
~ '
rizam - como a evidência empírica confirma plenamente - pela centra·
tidade, por um impulso centrípeto. A questão pode parecer óbvia, em si, Figura 46. Esquemas de competição centrípeta
mas será menos óbvia quando a possibilidade alternativa - a competição
centrífuga - for lembrada. Além disso, e em particular, tentarei explicar comece a temer u~a ausência de possibilidade de ganhar num futuro pre-
esse impulso centrípeto em termos puramente mecânicos, isto é, simples- . · el Essa condição - que raramente é explícita - chama nossa atenção
mente com base nas interações entre o número de partidos, de um lado, e
a extensa:o do espaço de competição, do outro. Não estou tentando expli-
vi;;; cÍois pontos, ou seja, como os partidos do bipartidari~m.o devem ser
~ontados e, segundo, como a noção de vencedor deve ser defimda.
car como e por que um determinado sistema surge, mas apenas como opera, Não preciso estender-me qua~to ao. prime~ro ponto. Vou lem~ra~
uma vez dado. Quaisquer que sejam as razões por que os partidos são dois, simplesmente que a existência de d01s partidos nao é o mesmo que.o s1st~
três, quatro (ou mais), estou simplesmente dizendo: se são dois, então; se ma bipartidário. Uma primeira possibilidade é a de que um do~ dois parta·
são três, então - e assim por diante. Portanto, é precisamente porque cada dos pareca confinado - seja de fato, seja que apenas o receie - a um~
padrão "funciona" como sugerido que ele continua como é. Em particular, ·tuação ;runoritária mais ou menos permanente. Nesse caso- de predom1-
se, num sistema de dois, três ou quatro partidos, a pressão predominante ~ância 66 _ não há razão premente para que o partido minoritário concorra
não é centrípeta, isso significa que o padrão em questão está em transição , cenuipetamente - ele pode tentar a estratégia oposta. Uma segunda po~­
seja para o que se segue ou em última análise para o padrão centrífugo. sibilid ade, embora extremada, é de que os dois partidos penençam a ~·~
Quanto à Figura 46, os pontos de convergência sombreados indicam os
mensões totalmente diferentes (por exemplo, um de negr~s _e outroesse
eleitores pelos quais os partidos competem entre si, e uso triângulos em brancos com fortes sanções contra a ultrapassagem dos lurutes). N
lugar de curvas porque meu argumento não pressupõe nenhuma curva par· '
caso porém temos simplesmente um ·impasse, um empate , e não
. um esta·
.
ticular da distribui.,.av Üt: p1c1t:1t:J1c1as aos ei.itores.
do d'e comp~tiçao. Finalmente, sabemos muito bem qu.e u~ s1s~emo ~;~::~
Os sistemas bipartidários foram examinados em detalhe, 65 e, sob tidário pode conter terceiros partidos. Nesse caso, o b1part1dansmo "
· ·d· · d"f e do governo
esse aspecto, Downs se dest2ca. Portanto , o piimeiro desenho da Figura 46 do tripartidarismo tanto quanto o governo unipartl ano .1 er r-
não precisa comentários. No bipartidarismo, ou os disputantes convergem de coalizão. Reunindo essas indicações, o modelo downs1ano da co~~~e~.
- pois a área de competição compensadora está en:re A e B - ou o sistema ç:ío bipartidária poderia ser aplicado sob as quatro condições s_cgu . ·
se torna disfuncional e acaba por desmoronar. Portanto a ".centralidade" (i) que os eleitores hesitantes ou flutuantes se situem no centro, isto e, se·
é a essência mesma do sistema, a menos que um dos dois partidos maiores
)
. .;j ~
)
(:1
)
PARTIDO::,' ê $/STEWAS ?4fl TID.4RIOS p

..-
) co::,1PE TIÇÀO ESPACIAL 379 p
) j.11:1 1n_u::!cr:1Jos: (.ii) qut: a dassit1ca.;ao seja correta, ísto é, que 0 sistema
part1u:ino não se1a um sbtema .p redornin:uire: (iii) que os dois partidos devem as táticas de recompe nsa da compe tição partidá ria p.:rman<!cer c<:n· p
) concorram no mesmo esp:iço; é (iv) que pdo menos lllTJ partido seja ca trípetas? Afinll d e contas. com tr<!s partidos j;í podemos ri:!r uma esqu~rd a .
Jc obt:?r uma olunlidade. paz wna direita e um cenrm. Portanto, j:i n:io podemos evi tar a espinhosa ques-

)
)
.. P:i~.>3nd~ ao segundo ponc0, Jc vcmo; i::hamar a atenção para 0 f:lic
út: que ~ - supos1ç:Io de maxímiz3ção Je votos adquire, no bipartidarismo.
um ~ ~ ~rn ti c?d0 co c:ilment.! di:·ereme do que te m no multipartidarisrno. N
~onw ".iLl bip:tmd~rio , "~·rncer .. signi!i ca u:na pluralidade e quem não coi~
tão do que devemos c:ntçnder por centro. A distinção entre u ma colocaçco
de centro - resultante de um:i configuraçjo espacial da polícica - e :is
chamadas opiniües de cenuo (doutrinas, ideologias e rc.) deve estar, :i. essa
altura , bastante clara. E :i pergunta final continua sendo : como uma colo- ....
tlli

....
) <1U1~ tL: uma plur~1JJde simplesmente perde. Nos sist.:!m:is de mais de dai' cação central é vista como cal?
r '.tr'.idos .. v~nc_cr" si~~li0t.::i ganhar vo ws ou cadeiras _ e , além diss o, un~ Quanto à primeira pergunta, o ator, ou o sujeito, ta nto pode se r tl5ii
) um partido - o c hamado partido de centro - como uma parte do eleitora-
par.id o p_odç e::.tar ma.is interessado em vencer em termos <le posicionamen-
to do ~u.: ~m t.er_r~os de resul tados eleitorais. E há toda uma diferença entre do. E afirmei que, embora qualquer formação política tenha um eleitorado
:is noc;c-es de vicona representadas pelo princípio de ··30 vencedor, tudo'' coiceado ao centro, só algumas de las dispõem de partidos de centro, isto

....•..
) e de m::uor parc<!la. ' é, partidos dos quais se pode dizer, com acerto, que ocupam a área médi:i
) Ess:is consíde:ações respondem às críticas acerbas, de Hmchman n de um espaço competitivo. 72 Ao longo desse caminho podemos, sem dúvi-
wtre .outros:"::· ú1ficUmen te u?1a hipó_tese [a da maximização de votcsÍ da, voltar a encontrar o problema do que o centro significa "mentalmente"
) podenJ .ser ma.is .violentamente aesment1da pelos fatos quanto as previsões (ideologicamente, ou de outra maneira). Mas essa questão não e crucial

....
úa teona Hote~mg-Do"."ns o foram pela candidatura de Goldwa te r". 67 para nossos objetivos. Podemos deixá-la de lado, dizendo que o centro é,

'
)
Como os. republ!canos tmham razões para recear, na ocasi:ro, uma situação
de rnmona per:manente, desse ponto d e vista foi perfeitamente "racional"
tentar uma sa1d:i um t:in to desesperada em busca de um realinhamento.
em si mesmo, um amplo espectro contendo o que é razoável , o equilíbrio
de prós e co ntras, a moderação, mas também a abstenção mental pura e
simples, uma atitude de quem n:ro sabe nada ou não faz nada (indecisão).
}
o
Perder por perder, por que não perde r com Gold water?68 risco calcula- Assim, a pergunta crucial é: como e quando a pe rcepção d o "centro"

....•
do d e 1964 - que revelou-se, na verdade, um erro de e:ilculo _ era atrair surge com relação a um partido visto como "ocupando" o centro? Entra
) a rese rn:i dos n:ro-eleitores. 69 Se houve algo "irracional", foi a indicação aqui em jogo a noção de elasticidade espacial, pois a percepção de um cen-
de McGovern em 1972 (os receios a longo prazo dos rcpu blicanos são as tro-é função da extensão do espaço . Um espaço curto não permite, ou não
) esp~rança~ ª. !ongo prazo dos democratas), embora ainda seja certo que _ facilita., a perce()çâo de um centro: não tem, por assim dizer, lugar para

....•..
na 1mposs1bil1dade de uma pluralidade é racional perder com 0 candidato ele. Um espaço c::urto é definido simp lesmente pelos seus extremos - es-
) " c:r '1 as, em ambos os casos, a previsão eleitoral do modelo Downs
· to .. . ,. querda e direita. Um terceiro ponto de referência - o pon ro central -
) fo1 totalmente corre ta, pois os dois candidatos foram na verdade severa· só adquire significação e se toma perceptível quando o espaço se estende
mente derrotados. Portanto, os casos de Coldwater e de McCovern mere· e, part icularment e. quando os pontos extremos desse espaço são percebi·
)
cem exame n:ro P?rque neguem o modelo, mas pela razifo melhor de que dos como constituindo dois pó!os à parte.
no~ lev.~rn a exan:mar os processos intrapartid:írios. Apesar de nossas racio-

....
) O segr<!dO da convergência centrípeta de tres partiJos res ide, então,
n.:ilizaçoes, as md1cações presidenciais resultam, em grande parte, de lutas na distância line::ir da abcissa, que continua - na figura - ta! como era no
)
~-1olentas e~tre grupos riva.is que buscam, para começar, uma vitória para caso de dois partidos. Não há raz3o para supor, de fato , q ue o tripariida-
s1. Devemos ter presente, portanto, que os movimentos externos de um rismo exija maior dis tância compe titiva do que o bipar tida rismo. Se a ln-

)
pan~~o - a c_o:npetiç~o int.crpartidária :-- ta~bém sa-o uma função de seus glatcrra adotasse a represcntaç:Io proporcional, tornl!·SC·ia imediatamente
mo VJ.nentos 111, emos, isto e, da competição 1ntrapartidária. A questão de· um sistema tripa rt1d ário (pe!o m eno:,). ao passo que, se a Repú blica Fede-
)
)
pend~, P?rtanto, da possibilidade de serem os processos intrapartidários
~amb~m interpretados em termos downsia.nos.10 ~.linha con1·ectura é que
1$~0 e possível 11 1 · a b re um caminho de investioação
ral da Alemanha adotasse o sistema distrital d<! um represe ntan te único~
o Partido Liberal desaparecia <! m b ~ra a dis tribuição das p refe rê ncias 9o:i-
ticas continuasse inalterada. Supondo-se, portanto, que o espaço de com-

tlm

. · sso, porem, 0
que não
pode ser explorado aqui. petição não inclu i - por ser curto - setores extremados ponderáveis d:i
F:!!urt~~a~~do ao c.a~o do tripartidarismo, a b:inalidade <lo desenho da opinião, os .partidos A e e não correm o risco de serem fl:i.nqueados. Al::!m
lt:l
•.. ' m o mente de nos mostrar claramente a pergunta: Por que disso, quanto m enos partidos maior a possibilidade de cada partido ter
acesso ao poder e. portanto, oricncar-se para o governo . D Por Jmbas as li:!
fl=1
e::
-•
~
~
f.
.r
~
380 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS

razões, A e C tentarll'o g.anhar votos convergindo para a área central, pois,


COMPETIÇÃO ESPACIAL

mais próxima de retratar um "modelo" do que os simples recursos visuais


381

• ! s~ dela se afastassem, del.Xanam um espaço vazio para a expansão do par-


tido B. Quanto a este, tanto pode tentar resistir de ambos os lados como
da Figura 46. Devemos notar também que estamos representando agora
cinco pa rtidos específicos e/ou mais-de-cinco partidos reunidos em cinco

...,
1
• atacar de um lado. O que nll'o pode fazer, já que não é visto como um
partido do centro e nã'o pode capitalizar sobre o medo do extrenúsmo é
grupos. O aigumento é, agora, o de que, quando o limite crítico é ultra-
passado, não há maior importância em que os partidos que competem ao
J cmpur~r para ~s lados os s.eus .vizinhos forçando, numa frente dupla: a longo da linha esquerda-direita sejam seis, oito, ou mesmo dez, desde que
expansao centufuga. O partido intermediário de um sistema tripartidário sejam ":partidos reais", isto é, que não nos deixemos enganar por uma situa-
t~nde a ser compr~id? e a se~ o p~rtido menor. Note-se que, com três par- ção de atomização partidária.
~ tidos, o_ qu_ase-eq_uilibno do b1part1darismo tende a desaparecer. Portanto, Downs pode ter razão ao afirmar que qualquer distribuição de elei-
as in~uenc1~s n:utuas competitivas podem na realidade adquirir três confi. tores em qualquer estrutura eleitoral permite um deternúnado número de

~ guraçoes: nao so A e e podem convergir sobre B, como também A e B po-


d~m ,:nover-se na direça'o de C, ou, inversamente, C e B podem pender na
direçao d_e A. ~udo isso equivale a dizer - na minha terminologia anterior
partidos e apenas esse número. 77 O problema é que esse argumento se
aproxima da circularidade, pois a distribuição resulta, em grande parte,
do número de partidos sendo, portanto, condicionada pelos próprios par·

~ -:- _que tres. part~do~ não faze~ um sistema tripolar: a configuraçao compe- tidos. ~ mais seguro, portanto, continuar a argumentação apenas em ter·
1
•f;
tit1va do tnpnrt1dansmo contmua sendo bipolar. mos da elasticidade espacial. Na verdade, o espaço ampliado representado

• l
~· Um sistema quadripartidário, tal como mostrado na figura, não cria - na Figura 47 - por uma abcissa que vai de O a 100 significa que estamos

..•
~
)
nenhum probl~ma . .t. apenas ~a re~resentação subdividida, ou duplicada,
do esquema b1part1dano. A uruca diferença é que suponho, então, oue o
esp~ço de. competiç.ão partidária é maior, como indica o fato de que a
abcissa vai, convencmnalmente, de O a 65. Não há razão necessária para
essa extensã?. Dois partidos podem dividir-se em quatro simplesmente
pensand o em formações políticas com forte enfoque ideológico, baixo
consenso e alta polarização. Mas isso deixa as distribuições reais à pesquisa
empíric.a.

- ·-+ -·~..__.~

• porque u~ sistema ~e um só representante distrital é substituído pela re-

..• \

'
presentaçao proporc1onal. Mesmo assim, se as limitações do sistema de um
repres~ntan~e único forem eliminadas, duas coisas se modificam: os parti·
d~s a~e entao de chantagem bem podem materializar-se como partidos adi·

..J
~)
c1~nais e, de qual~ue r modo, as opiniões extremas (não extremadas) ad-
~uu~m for~a. Assim, as probabilidades são de que um sistema quadripar-
bdáno reflita, o~. contribua para. prnduzir, um espaço linear mais amplo
do que o penmt1do pelo b1part1darismo. Mas o fato de que as contra-
P;"<:ssões ad9uire~, f?rça .não ~ega o fato de que nenhuma formação po· o 100

-' ht1ca_ quadnpart1dana ev1denc1a, na realidade, um padrao extremado ou


pol~nzado: Jsso confirma, então, que quatro partidos ainda podem in te-
Competição multipolar

•_. ragir cent~1~e lamente, seja com três partidos convergindo contra um ( co-
~o na Suec1a), ou numa luta de dois contra dois pelos eleitores oscilantes
Figuro 47. Competição cenuífuga .

.•
mterrnediários. 1 4 As flechas da figura indicam que temos agora um padrão compe·

• )
. O p~sso que se segue - cinco partidos ou mais - parece ser o passo
cnt1c~ . É imperativo lembrar. neste momento, que "cinco" é definido pe·
las mm11as. regras de contagem. 7 5 Além disso, para nossos objetivos deve-
titivo que já não é centrípeto, mas centrífugo. Como se explica essa in-
versão? O elemento crucial - de acordo com minha sugestão anterior -
está no fato de que, quando os pontos extremos do espectro estão t:o

.,
.......,
mos tambem levar em conta a rnultidimensionalidade colocando de lado separados a ponto de se situarem como pólos à parte, o centro toma-se nao
~ortanto ~s partidos que foram, na seção anterior, d:clarados como fora
)
apenas um ponto altamente visível, mas também um pólo dota?o.de acen·
oe .c~mpei!ção. Ou seja, os cinco ou mais partidos que entram num modelo tuada força de alavanca. Ora, um posicionamento de centro e visto pelo
umdunens10n~ de competição devem competir todos ao longo de uma e eleitorado na-o-extremado como uma posição segura, a posição que melhor
l
mesma linha. Com essas ressa lvas, podemos pass::ir à Figura 47, que está assegura a sobrevivência da democracia existen te. Podemos dizer, igual·

..
.-
:. ~
-
...i.<t-.J.:~

) si
)
) 382 PAR TiOOS E SISTêMAS PAFi T/O.Íl.RIOS
~
de firüdamen te. Corn n re mpo, as contr:Hen tlên c1as po<.iern comecar :i pre . F
mente, que a posiç:io central representa ago ra uma ··1ogica do centro", de

-......

dominar. Isso :;ignifJc:1 q ue o es paço de competição não pode ser ampliado
defesa contr:.t os exlremos. Portamo o sistema é agora tripolar ou, final-
indeflnidamenre: ou a fo rmaçJo poifcica desJba totaimente. ou seu espaço
mente, multipolar. fsso significa que uma pressão centrífuga é inicbda no
) corrw:litivo corneç;ir:í, em certos momentos, a reduzir-se. O prnblem:i ·co~ ­
próprio cen tro métrico do espect ro, pois o partido (!tália) ou parrido:>
tinua sendo o de que precisamos de um modelo q ue represente JS ten dên-
) (Weimar, Chile) de centro adquirem uma airayão até então sem preceden·
cias competitivas dLis democracias "instáveis", não-funcionais. O fato d e
tes, tanto assi m que procuram exp:mc!ir-se com a técnica da "mancha de
que a maioria dc!as desaparece u não é razão para o se·u esquecimento. f
óleo", ou seja, de ambos os lados. E embora uma guerra simultânea em
precisamt:nte po rquc: estffo mortas que se tom:i. importan te compreender 1
) du~1s fren tes possa não ler ex.ito, essa lógica de expansão reflete-se nas
razão dessa morte.
)
)
tensões centrífugils do próprio partido do cen tro, e é por elas revelada. De
qualquer modo, a área central é agora fisicamente ocupada num sentido
mui to real, ou seja, no sen rido de que o e lei torado moderado já não é o
Duas observações finais sJo oportunas. A primeira é que os modelos
- tal corno os e nrendemos aqui - devem prever rendências, e não eleições
isoladas. A segunda é que a melhor defesa do enfoque aqui ad otado est;i
••
eleitorado flutuante por excelência: é, na verdade, nessas circunstância$,

••
.....
) no comentário feito pelo próprio Oo'rY-ns (apesar de sua teorizaç~o dedu·
. um eleitorado muito estável. Na verdade, a pressão "excêntrica" do par-
tiva) de que os modelos "devem se r testados principalmente pela precisão
} tido (ou partidos) do centro é um tanto neutralizada por uma competição
de suas previsões e não pela realid:ide de suas suposições. " 18
centrípeta da esquerda mode rada e da direita moderada. Mas a esquerda
) (pró-sistema) é flanqueada à sµa esquerda, e a direita (pró-sistema) é
) igualmente flanqueada à sua direita. Ou seja, as alas que são leais ao siste- 10.5 O c ritério da d istância e a democracia funcional:
ma também têm um problema de competir cemrifugamente em relação
pós-escrito *
J
)
às oposições contrárias (anti-sistema). Isso significa que seu posicionamen:
to não lhes permite exercer qualq uer influencia decisiva sobre as tendên-
cias finais da fo rmação poi ítica.
Grande parte deste trabalho fundamenta-se num critério numérico de aná- ......
•.
lise dos sistemas partidários, embora - como observamos em muitos pon·
A palavra final cabe, portanto, aos partidos extremados. Como os tos - esse cri tério jamais esteja isolado. Mais exatamente, o critério numé·

......
) "extremos extremos" não estão sujeiios ao flanqueamenro, bem podemos rico tem a condição de variável independente, ao passo que a ideologia e a
indagar por que eles não convergem. Mas devemos lembrar a segunda pro· distância ideológica são post uladas como variáveis intervenientes e/ ou de
) pried:ide de um espaço ideológico: dis tàncias desiguais. No caso em foco, controle. 79 Essa decisão foi imposta principalmente pelas considerações
)
temos partidos muito "distantes" que são vistos e se vêem, como estra- práticas. Com cerca de 100 formações pol íticas que se pretendem baseadas
nhos ou talvez mesmo inimigos. Portanto, a extrema esquerda e a extrema em partidos, a ú.nica informação sempre disponível, constantemente atuali-
)

)
)
)
direita não desejam uma competição centrípeta e não têm muito a lucrar
com ela. Suas rnecas são melhor servidas pelo desmembrameilto do sistema.
Na verdade, os panido~ anti-sis tema bem-sucedidos são os partidos que
ocupam ..:argos, especialmen te em níveis municipal e 1cgional. Mas o fato
de ocupar cargos não significa que eles esiejam "integrados" no sistema:
também pode significar a "desintegração" do sistema. Mesmo quando os
zada e fácil de tratar, existente para todos os países, é o número de seus
respectivos partidos relevantes. Portanto, a prioridade dada ao critério nu-
mérico é, em grande par te , determinada pela conveniência das compara-
ções mundiais. Mas. para regiões específicas e países mais pesquisados, po-
demos usar a distância ideológica como principal critério e como variável
inde pendente. !'.:o que pretendo mostrar.
......
) partiJ.os anti-sistema moderam sua antiideologia, sua estratégia principal Na seção anterior, minha ênfase recillu sobre a noção de ·'elasticida-
...
..••
é fazer com que o sis tema desabe, esvaziando-o por uma drenagem que de espaciai". Para cerca de 11 democracias, é possível apoiar essa noção (e
)
leva a uma distri buição bimodal ou un..imodul, com uma ..:onccntração má· a afirmação corielata de que os partidos estão separados por espaçamentos
) x..ima nas proxi midades de um dos extremos do espectro. dife rentes) em razões empíricas e com medidas. As evidências do Qua-
Em s:ima, a idéia bási::a transmitida pelo modelo que s~ aplica aos dro 43 relacionam-se com as m• tolocruizações ao longo de um:i. escala
) sistemas que chamo de pluralismo poiariiado, é, pr;meiro, que a força
) adquirida pelo pi>ío central desestimula e, na realid:.:de, impede a centrali·

)
)
dade; e, segundo, que os partidos extremos clesses sbtemas prospcrnm com
a maior, e n:To com a menor, polari<::aç:i'o. Sçm dt:vida esse p:1Jr.ío é tão
pr.:drio, e tão infeliz, que o brnço J ,i ferro tiifieiii:;cntt: pod~ !·!·J ·it. rar in -
* fata
do livro,
~ecão foi c~crit:i em 1980 e representa
de 1976. (N. do E.)
um acréscuno :\edição inglesa original
1 ••
)
. )
J •
l;~t\ttl1lffl lttttl ~Hfliflii~1-1~J~iii1
~
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~ " . ...- . .... , .. . . .............- ..... .... . .. ~-·........r,,1··!.'<"(~...'."'.'""-"l"'"!'."f'.'":" : · ·~""

Quadro 48.
w Autolocalização dos eleito res no contínuo esquerda-direita em 1 J democracias, e preferência partidária
,,.
00

A urolocalizações
País Esquerda C- E Centro C- D Direita N Média
Estados Unidos
Democratas 5 ,1 16 ,9 49,2 20,6 8,1 (602) 5,7
Republicanos 2,7 7,1 47,6 30,4
Suíça •
12,2 (368) 6,4
Social-Democrata (PS) 5,6 46,6 32,7 12,0 3,2 (251) 4,7
Independentes (A I)
Agricultores (UDC)
- 24,l 55,2 19,0 l, 7 (58) 5,5
1,3 6,5 49,4 32,5 10,4 (77) 6,4
Radical Democrata (RD)
Catól icos (PDC)
- 6,9 47,4 33,7 12,0 (175) 6,6
1.8 8,0 31,0 35,4 23,9 ( 113) 7,1
A lemtmhn Ocidental
Social· Democrata (SPD ) 6,1 44,9 38,ó 8,9 1,4 (621) 4,5
Li bml ( fDP) 1,8 17 ,1 57,7 18,9 4,5 (1 11) 5,8
Democrata Cristão (CDU-CSU) 0,4 3,3 37,2 40,7 18,4
Ãusrria (69 1) 7,0
Sociali~ta (S PO) 10,2 37,7 30,5 14,3 7,4 (462) 4,9
Católico (OVP) 0,6 3,0 23,9 44,8 27,8 (335) 7,6
Bêl~ca
Sociah~ta (PSB·BSP) 21,3 25,8 31,0 16,J 5.8 (] 55) 4,6
Libera is ( PLP-PVV)
- 16,l 42,5 23,0 18,4 (87) 6,4
Volks1111ie (flamengo) - 9,6 34,6 40,4 15,4 (52) 6,8
Socialista Cristão ( PS C·CVP) 2,8 4,0 28,3 35,2 29,6 (24 7) 7,3
RPino Unido
Trahalhi~ta 18,1 33,7 36,3 7,6 4,3 (463) 4,4
Liberal 3,5 16,5 60,4 17,7 2,4 ( 164) 5,6
Con<crvado1 1,6 3,8 29,3 43,3 22,0 (450) 7,2
/lolnndo""'
Socinhsta (PvdA) 16,4 43,4 27,7 8,8 3,8 (3 llS) 4,2
C1tólico (K VP) 1.4 6,3 38,9 35,4 18,l (144) 6,9
Libcru l (\IV!)) 1J1 7,8 31,8 48,0 J 1.2 ( 179) 6,8
Anti-llc vol ucionário (ARP)
llistórico Cristão <CMU)
-1,7 10,9 21,8 49,1 18,2 (55) 7,0
- 29,3 51,7 17,2 (58) 7,2

l:spa11/10
Comunista <PCE-PSUC) 40,1 52,0 6,1 1.8 - (327) 2.7
Sociali~ta (PSOE) 9,S 62.7 25,0 2,2 0,7 ( 1.040) 3,9
Centro (ECD) 0,8 3,8 71,0 19,0 5 ,4 ( 1.387) 5.9
CoaJiziio Dcmocdtica (CDJ - 7 ,1 3t ,7 43,8 17,4 (140) 7,0
França
Comuni~t:i (PCF)
Socialista ( PSI")
65,8
11.7
29.3
60,2
3.6
24,3
1,2
3,6
-
0,2
(82)
(420)
2,2
3,8
Centro (CDP) ' - 6,6 65,4 27,2 0,7 <D6> SJ
Republicano Independente (R I) 0.5 1,7 40,3 48,7 8,8 (l8l) 6,8

Itália
UDR (gaulistas) - 0,7 25,4 58,9 15,0 ( 153) 7,3

Comuni~ ta ( PCI ) 54.5 35 .7 9.8 - - (356) 2.5


Socialista (PSI) 25,7 50,3 2 1,5 2,6 - ( 181) J ,7
Socinl-Ocmocrata· Rcpu bli cano ( PSD!· PR 1) 7,6 29 ,l 53,2 10,l - (79) 4,8
Democrata Cristão ( DC) 0.9 9,9 64,J 18,0 6,9 ( 333) 5,9
Lihernl (PLI)
Ncofa~cista ( MSll
-- 3.3
2,0
56.7
14,3
30,0
32,7
10.0
51,0
(30)
(49)
6,5
8,3
Finlândia" º
Comuni~la (SKDL) 65,9 25,6 7,0 0,8 0,8 (129) 2,3
Socinl·Dcrnocrata (SDP) 11,9 59,2 25,0 3,3 0.6 (360) 3,9
Centro (KF.S, Agr.) -
2,2
4,8
4,4
64,8
53,3
24,1
33,3
7.0
6,7
( 199)
(45)
6,3
6,3
Popular Lib eral ( LKP)
Conservador (KK) 0,7 2,2 7,4 45,9 43,7 ( 135) 8 .1
Os dei ponto~ da escala original esquerda-d ire ita são distribu(dos como segue: esquerda= 1, 2; centro-esquerda= 3. 4: cent ro= 5,
6; centro-direita= 7. 8; direita = 9. l O. As médias são computadas antes do agrupamen t o dos dados. '
Fontes: Para a Aust.ria, a Itália, a finlândia, a Alemanha, a llol:inda, a Suíça, o Reino Unido e os Estados Unidos, Eigh r Narion
Study (Zcntrala rchiv UniversitatKoln, Estudo n<? 0765, 1979) baseado em pesquisas realizadas entre 1974-1976; para a Bélgica e a
França. 1976 Euroharometer Sun1ey, nC? 6; para a Espanha. re sultados de levantamento por C. Sani e colaboradores.
• O> partidos com cadeiras no Conse lho Federal Suíço são na realidade quatro. Mas como isso é um a rtefato in st itucional, meu
critério de relevâncía não se aplica e parece razoável cons id erar a Suíça como um siste ma de cinco partidos, is to é, incluir em nossa
contagem o Partido I ndependente (A I), já que seus resultados se situaram en tre os 5 a 9% e sua oposiçiio tem um peso sistémico.
De qm1lq11er modo , a inclusão do~ indepe ndentes não altera a medida de polarização do número seguinte.

....,.,..
:>:
•• Na s última~ décadas surgiram "sextos par tidos'', mas foram todos transi tório~. ·com exceção dos Democrata~ 66, não inclui'·
dos porque sua relevância é incerta e sua inclusão não teria afetado a polarizaç.io.
•• • O Partido Populnr Sueco, sem dúvida relevante, não foi inclu ído porque seus N'~ . são demasiado baixo<. A cxclu~io não afeta
nrnhuma de nos,as medidas .
386 PARTIDOS E SISTEM AS PARTIDÂRIOS COMPETIÇÃO ESPACIAL J87
) 4
esquerda-dire ita de dez pontos, de amos tras de e ntrevistados ao n lvel d .:: Índice de 4
massa, decompostas pdas preferências partidári:ls. As ent;e vistas cobrem o Polarização
)
)
período de 1974-79 ( a maior parte dos result:idos só foram libu:idos em
l 930). As inclusões, e inversamente as exclusões, de países são simples-
Es tados Unidos
Dem.
1

UDC 1 PDC
0,08 •4
menti! ditadas pelo que o mercado atualmente permi te em termos de cons- A1 & RD
iatações compar:íveis e fidedignas. Embora os l l países incluíd os no qua- Suíça j ! 0,27 4
)
)
dro nio ofereçam uma cobertura exaustiva, a inda assim são representa t ivos
Je um amplo e signi ficat ivo es pect ro de d ife;enças, como o exame dos va-
lo res most ra imediatamente .
Alemanha Ocidental
SPD FDP
1
CDU-CSU
0,28

4
í
SPO OVP l
O Quadro 48 fala por si mesmo, ém grande parte. N:Io é necess:í-
}
rio vol tarmos à possibilidade de que urna imagíst ica espacial esquerda- di-
Áustria
Volk.
0 ,30 i
1
•4
) reita represente uma maneira signifi cativa de ver a política, ou em que
sentido isso pode ocorrer. 80 ~fas, corno no quadro as distribuições esquer· Bélgica
.,
PSB/BSP
Lib 1 1 1Soe. Cristão
0,30
1
l1
) 1
da-direita têm um tabulamento cruzado com as preferencias partidárias 1
) (dos entrevistados), é importante notar q ue só os partidos "re!evan tes" são
Trabalhista Liberal Conservador 1 4
Reino Unido 1 0 ,31 !
inclu idos - e isso não porque o quadro ficasse muito grande , mas por 4
)
quest õ.::s de princípio. Lembro que meu objetivo predominante é medir as
dis tâncias ideoiógicas sistémicas e que a medida perde razão de ser se os Holanda
PvdA
1 0,33
l 1
l
extremos polares que determinam essas distâncias forem estabelecidos por PSOE/ 1 4
partidos ext remad os " irrelevantes" . Voltaremos a esse ponto adiante . O PCE/PS UC PSP UCD CD
1 0,48
segundo lemb rete é que tam bém estou interessado nas proporções em que
Espanha e
os partidos estão próximos (superpondo-se) ou distantes \separando-se) ao PCF PSF CDP RI UDR e
longo da ordenação esquerda-direita. Essas duas considerações explicam França 0,57
1 t
rrúnba seleção das variáveis, des tacadas na Figura 49 e no Quadro 50: o PCI PSI PSDI-PRJ DC PL! MSI
1
1
índice de polarização e uma medida d:i superposição. 1 táiia l
A Figura 49 indica imediatamente até qu~ ponto a elasticid ade es-
pacial é uma realidade concreta e que distâncias competitivas gerais m uito
Finlândia
SKDL
1
SDP
ILKP
Agrai. KK
t 0,64
l t
diferences caracterizam as formações pol ílicas em exame. Os Est ados Uni-
dos destacam-se, em nossa comparação, como o país tipicamente não-ideo-
1

\
l
•4
lógico - na verdade , em termos de percepções de massa da esquerda-direi - O índice de polarização é a distância (diferença) entre o grupo de entrevistados mais ~
ta. Isso não equivale a dizer que um potencial de desintegração não exista
nos Estados Unidos em nível societaJ, mas esse potencial ainda tem de pe·
esquerdista e o mais direitíst::t (auto localizaçôes médias), dividido pela maior distân-
c ia possível (9 na escala utilizada pelos nossos levantamentos).
"' Se o MSl não fosse contado como partido re levante, o índice de polarização seria
l

l •4
ne trar os u mb rais da política. Acrescentemos que os resultados, em nive!
de 0,.51 e a Itália se situaria entre a Espanha e a França.
de elite, revelam sem dúvida uma maior consciência e difusão ideológica do
que os mos trados pelos nossos dados. Não obstante, as elites pol íticas são •
condicionadas pelas proporções da polarização ou não-polarização que
percebem ao n ivel de massa. Ao deixarmos os Estados Unidos, um grupo
Figura 49. Distâncias ideológicas (esquerda-direita) entre seguidore~ de partidos em
onze democracias.
1 •4
s11bseq üen te de cinco países - que vai da Suíça à Ho landa - delineia-se
"natural mente" como um agru pamento bem nítido. Na medida da pola-
4
) .4
riza!ão_, a diferença entre o espectro esquerda-direita na Suíça e na Holan-
da e _trlVlal se comparada com a d istância que separa esse· grupo do grupo
seguinte: Espanha e, mais conclusivamen te, França, Itália e Finlândia. O
4
)
)
primeiro ponto, e o ma.is importante, portanto, é que os auto res que ques- e
4
) .l
f 388 PARTIDOS é S I STEMA S PARTIDÁRIOS
COMPE:TIÇÃO ESPACIA L 389

forem contados, a implicação inevitável será a de que se supõe serem eles


tionam a polarização e sua grande variação en ire os país~s terão d ~ficul­ importantes, isto é, desempenharem um papel sistémico que na verdade
dades em questionar resultados tão diretos quanto os me~ciona.dos a~1ma. não têm. Uma ilustração: a Suíça tem um partido comunista que consegue,
O segundo ponto é que os dados confirmam a tipologia delineada em média, cerca de cinco cadeiras (num total de 200) no Natio11alrat . Se
neste livro e, em panicular, o argumento de que "'a principal divisão é esse partido fosse considerado relevante, a Suíça teria de ser considerada
entre o multipartidarismo moderado e o extremado". 81 A diferença entre como uma formação pol ítica altamente polarizada, o que é um absurdo
sistemas bipartidários e pluralismo moderado surge aos níveis parlamentar pelo menos em relação aos últimos JOO anos. A questão é, portanto, cru-
e governamental (como a diferença entre governar sozinho e governar cm cial: para compreender as propriedades sistémicas, é imperativo que os
coalizão), mas dificilm ente se poderá destacar ao nível de massa. Se as partidos sem peso sistémico sejam postos de lado. Sem dúvida as regras de
distribuições esquerda-direita dos eleitorados continuassem como são, a contagem que elaborei não são a palavra final na questão. Mas é ainda mais
Inglaterra se transformaria num sistema tripartidário, .cas~ adotasse PR , e certo que n ão ter nenhuma regra, não dispor de quaisquer critérios para
a Alemanha seria um sistema bipartidário se adotasse o sistema de repre- avaliar a relevância equivale a uma posição absurda.ª 4
sentante distrital único. Da mesma forma, a fragmentação partidária da O índice de polarização da Figura 49 mede o espaço geral da compe-
Holanda, e especialmente o aparecimento de numerosos partidos tra~siló­ tição esquerda-direita. Mas, dentro desse espaço geral, qual a proximidade
rios na última década, aproximadamente, deve-se em grande parte a alta ou distâncfa entre os partidos individuais? A partir dos valores do Qua-
proporcionalidade de sua representação ~ropor~io~~ · ~e ~ H~~anda ado- dro 48, podemos derivar uma medida - que pode ser chamada de super-
tasse distritos pequenos, sua fragmentaçao partidana dumnuma, ~esmo posição - que mostra as proporções em que o eleitor~do de quais~u~r. d~is
que a distribuição das preferências em nível de massa permanec~~s~ malte- partidos se combina e, nesse sentido, partilha de localizações ~spac1ais 1den-
rada. Assim, a adequação entre meu argumento e os dados ctihcilmente ticas. A medida explora, entro, os diferentes espaçamentos existentes entre
poderia ser melhor. O primeiro grupo de países (Suíça , Alemanha Ociden- eleitores adjacentes e - com relação a qualquer par de pa.rtidos - sua pro·
tal, Áustria, Bélgica, Reino Unido, Holanda), tem seu ponto de corte exa- xirnidade <>U distância relativa. Para evitar um excesso de dados, o Qua-
tamente onde minha classificação o coloca. O segundo grupo (Espanha, dro 50 não cobre todas as combinações de pares possíveis, mas apenas as
França, Itália, Finlândia) corresponde exatamente ao meu tipo de plura· mais sigruncativas.
lismo polarizado. 82 Como seria de se espera.r, no conjunto4a superposição é grande (índi-
Na verdade, os índices de polarização ideológica e, mais geralmente,
ces maiores) nos países cuja polarização geral é baixa e, inversamen.te, ba.i-
do espaço esquerda-direita d~rivados do Quadro 48 dependem crucialmente xa (índices menores) onde a polarização geral é elevad~. Iss? se ev1de_nc1a
de minhas regras de contagem, isto é, de se estabelecer quais os partidos imediatamente ao examinarmos a primeira coluna de pa1ses, isto é, os md1-
relevantes e os que não o são. 83 A questão é que dificilmente todos os. par- ces dos d ois grupos de seguidores partidários m:tis "à-esquerda e mai~ à
tidos de um sistema partidário têm um peso sistémico. Nos Estados Urudos, direita. A primeira medida faz ressaJ tar claramente, mais uma vez, a dife-
os terceiros partidos não afetaram até agora a mecânica do sistema. Na.s rença realmente enorme entre o grupo dos sete primeiros ~a íses e o grupo
chamadas formações políticas polipartidárias encontramos sempre tercei- dos quatrc restantes. Se deixarmos de lado os Estados Unidos (onde ª .su·
ros partidos que os políticos e os comentaristas da política ignoram ou perposição é tão alta quanto concebível), da Suíça à H.ol~ nd~ ~s combin~ ­
colocam de lado como "irrelevantes", no sentido de que sua ascensão, exis- ções entre seguidores partidários mais à esquerd~ ~ mais a direita .dos seis
tência e desaparecimento não afeta, de nenhuma maneira perceptível, o países em questão variam em t orno do ponto med10 de nossa me~1~a (d~s
desempenho dos atores relevantes. Mas a irrelevância de um partido não 0,56 da Suíça até os 0,45 da Holanda). lnve r~me.nte , as ~uperpos1~oes saao
pode ser estabelecida a prion·, com base em um limite fixo de ta ~anho. as menores possíveis no segundo grupo de pa1ses,Já que 'ªº de 0,1:> (Esp ·
Como sabemos, um partido muito pequeno pode ser relevante dev1d~ ao nha) a 0,06 (França). .
seu 1•0/or de posição, ao passo que um partido maior pode continuar me· o Quadro 50 torna-se ainda mais interessante quando passamos dos
le\'ante, apesar de seu tamanho , precis:imente devido ao seu posicionamen- "pares extremos" para outros pares. Uma série muito significativa d~_rar~~
to. Por outro lado. ná"o haverá utilidade em contar pelo seu valor aparente é a que sonda como os partidários liberais ou socialist~s '.'in termed~3~ios,
todos os partidos que têm acesso à representação. Essa solução não só (sempre que os partidos socialistas estejam em pos1çao mtermed iu i.i) Se
constitui realmente uma solução como, pior aihda, introduz na contagem . .
relacionam cum seus vizinhos. por exemp1o, os 1·b 1 alemães
1 er:ú • • e 1nc.lt:srs
~
- do ponto de vista comparativo - a pior fomrn de de formação: o erro superpõem-se mais . aos, e portanto parecem
• cs t ar ma.is próximos dos, p~ r-
na-o-sistcm:ít ico. Se os part idos "irrelevantes", sem importância sistêmica ,
e:
J90 PARTIDOS E SISTEMAS PAR TIDÀfllOS COMPETIÇÃO l!:SPACIAL J')l ~
Quadro 50.
e:
) Superposição esquerda-direitJ encre pares de partid:irios, por país. ~
)
Superposiçaà Superpvsiçaõ e
)

)
EsraJos Unidos
D.:m ocra1as/ Rc publicanos 0,86
França
Comunbta IPCFliGaufü tas l l'DRJ 0,06
••
••
Comu ni>tJ/Soci ali:> ta ( PS F ) 0,46
) Comunist:i;C.:nc.ro (COP) 0, 1 1
Suíça Socialisi:i.'CcntrQ 0,J5
) So.:1al·Democma { PS)/Católicos (PDC) Cenuof R.:publicanos lndependcnces ( RI) 0,70
0.56
)

)
Ca tólicos/Radical-D~mocrata (RD)
Soe ta I·Democra ta/ ! nde pe nd en tes (A l)
0,34
0,70
Cen tro/GauliSl:l.!'> \ UD R>
Republicano, !11 dependentesíGaulist:is
0.54
0,84
••
)
••
.•
Alemanha Ocidental Iràlift
Socia.J-Democrau (SPD)/Democrata Cris1ão 0,51 Comunist3 {PCl) / Neofascisc:i (~ISI) 0,12
) Sotial·Democrata/ L1beral (FDP) 0,68 Comunisl3/So.:iolisla (PS[) 0,71
Liberal/ Democrata Cris tão (CDU·CSU) 0,64 Comunist::i/ Dem ocrata Cristão (DC) 0,2 1
) Socialista/Demo ceata Cnst:io 0,35
) Socillisrn/PSDl-Repubticano 0,61
Áustria 0,74

••
Social-Democrata <PSDl)/Republicanos (DC)
Socialista (SPO)/Cat61ico (OVP) U.49 Democrata Cristão/Liberal 0,85
Democrata Cri~t5o/Neofa.scista 0,42
) Liberal/Nc:oflsc1 sta 0,55

••
Bélgica Liberal/Comunisa:i 0,13
) Socialim (PSB)/SociaJista Cristão 0,57
Soc1aUsta Cristão/ Liberal 0,74
') Liberal/Socialista 0,69 Finlândia
)
Reino Unido
"Comunista($ KDL)/Conservador
Cornunista/Soci:ilista
Comunista/Centro ( KES)
0.12
o.~6
O,IJ
. ••
••
Trab:i.lhista/Conservador 0,47 Sociafüta/Ccntrô 0.33
Trabalhista/Liberal 0,66 0,88
C"nrro/ Liberal ?opular ( LKP)
Liberal/Con~rvador 0,55 0.40
Cenuo/Conserva.dor (KK)
Liberal Popu l:ir /Conservador 0,50 1J
Holanda
Trabalhista (PvdA)/Protestantes (CHU-ARP) 0,4.5
A superposição de dois grupos qu:iisquer de partidários compara as percentagens de
casos oue se enqu:.itlram em cad:i um dos cinco segmentos do concfouo, dividindo a
0
••
••
Trabalhista/Católico ( KVP) 0,48 soma a bsoluta des::;as diferenças pelo máximo teórico (que é 200, já que cada coluna

.•
Católico/Libe ral (VVD) 0,86 soma 100) e subtr1indo de 1. Quanto m:iior~s os índices, maior a superposição.
Católico/l'rotes tllltes 0,85
Protestantes/Liberal 0,91

Espanha
Comunista (PCEJ/CoaLJzão Democrática {CD)
Comu nista/Socíalista (PSOE)
Co1rwnista/Centro ( UCD)
O:n uo /Socialista
0,15
0,69
0, 15
0,32
l ••
••
Cen tro}Coafü:fo Democrática
0,60

1
..-4


--
.
~

J
' t
t
~
f
39 2 PARTI DOS t: SISTEMAS PARTIDÁRIOS

tid5rios de suas respectivas esquerdas (os socialistas) do que aos partidários


de suas direJtas adjacentes. Da mesma forma, os socialistas espanhóis, fran-
COMPETIÇÃO ESPACIAL 393

nica. Se assi~ for, como creio ser, entã'o a situa.ção se deve traduz.ir_ em
1 ceses, italia11os e fmlandeses coincidem mais com os comunistas do que te.rm~s de c~1vagens - como segue: ~s clivagens cumulativas podem ser con-
~11ua1s ou .:s~ladoras. 8 6 Se forem isoladoras, minimizam os atritos: cada
""
~
~
1
t
'
com os seus vizinhos da direita. Duas notáveis exceções são a Belgica (onde
os fiber:1i:i se combinam mais com o Partido Social-Cristão do que com os
Socialistas) e a Holanda. Mesmo dentro do padrão mais geral nossos índi-
segmento vive e prospera em seu próprio enclave sem se sentir obrigado
a travar guerra co~tra os outros. B precisamente essa si tuação que explica
ces revelam diferenças si~ i ficativas. Por exemplo, enquanto a superposi- - nos .casos da Su1ça e da Holanda - por que podemos ter muitos partidos
~ ção entre socialistas e comunistas parece considerável na Itália (0,71) e na (pluralismo extremado) dentro de uma gama ideológica relativamente mo-
J Espanha (0,69). os comunistas parecem muito mais distan tes (isolados}
dos socialistas na França e na Finlândia (0,46). Isso cont,ibui para expli-
desta. E a jmplicação relevante dessa análise é que as clivagens estruturais
n.ão ~ên;, em si, a palavra final na maneira pela qual a competição interpar-
~ car, entre outras coisas, por que os riscos de admitir o partido comunista ttdána e tratada.
.j num governo de coalizão são avaliados de maneira muito diferente, por Podemos voltar, agora e de maneira mais concentrada, a uma questão
exemplo, na Itália e na Finlândia, pelos ali~dos governamentais não-co- anterior: significa o congestionamento partidário da Suíça e da Holanda
,J munistas. Também ajuda a explicar, por outro fado, por que as alianças que os dois países se caracterizam pela competição multidimensio11.tl? Res-
eleitorais socialistas-comunistas não se saem bem na França . s~ltemos que a questão não é se os eleito res selecionam ou não "seus" par-
..J · Nossos índices de superposição e, ainda mais claramente, a Figura 49 tidos ao longo de diferentes âmbitos de identificação. A essa última per-
gun~a a resposta é certamente sim, e também no sentido de que, se intro-
""..,>
...)
destacam dois países - Suíça e Holanda - como 'merecedores de melhor
inverngação, devido ao seu peculiar "acúmulo de partidos". Como a repre-
sentação visual mostra bem, há três partidos suíços (o PDC católico, a uoc
duwmos na análise a clivagem, e a dimensão, secular-religiosa, então os
partidos religiosos adquirem (não entre si, mas em relação aos partidos
ou Panido dos Agricultores, e os democratas radicais) e quatro partidos secu~ ar~s) uma distin_ção que não é registrada ao longo do contínuo esquer-
;) holandeses (o KVP católico, os liberais e os dois protestâlltes, ARP e CHU, da-d1re1ta. Essa consideração, porém, não soluciona a questão de que nos
isto é, os partidos Anti-Revolucionário e Cristão Histórico) que parecem ocupamos, e que é também crucial:como os domínios de identificação
j quase que indistinguíveis entre si ao longo da dimensão esquerda-direita. (dos seguidores partidários) se relacionam com o espaço no qual os parti-
dos competem entre si1
J Significa isso que os dois países devem ser multidímensionais? Antes de
respondermos a essa pergunta, devemos lembrar que a Suíça e a Holanda A resposta é simples, se a distinção for bem compreendida. O domí-
_J S<!o geralmente categorizadas como "segmentadas", e que isso significa nio de idmtificação propõe a seguinte pergunta: quais os eleitores que se
._) que a fr:.igmemação de seus respectivos sistemas partidários não é função identificam com um de terminado partido e sob que dimensão? Discrimi-
da distáncia ideológica, mas sim de clivagens estruturais.as Encerrando namos, neste ponto, os seguidores partidários identificados dos não-iden-
..J a argumentação, poderíamos observar que nossos dados confirmam a na- tificados (ou mal-identificados), separamos o primeiro grupo e o resultado
,.) tureza segmentada dos dois países e são, por sua vez, explicados por ela. provável será que a maioria das formações políticas têm muitas dimensões
Não obstante, a questão das clivagens estruturais merece ser explorada. de identifi cação partidária, como por exemplo, a ideológica, a religiosa, a
..J As concepções convencionais da influencia das cliva~.:11s societais étnica, a Jjngüística, etc. O espaço de competição propõe uma indagação
(econômicas, sócio-culturais e outras) sobre a participação política giram muito diferente: ao longo de quais dimensões estão os seguidores partidá-
t..) essencialmente sobre a distinção en tre linhas de clivagem transversais e rios não-identificados, os eleitores flutuantes pelos quais vale a pena com·
.} cumulativas. As clivagens transversais significam que um mesmo indivíduo petir? As duas perguntas, como se pode ver facilmente, complementam-se,
adq\tire fidelidades múltiplas e mutuamente neutralizadoras que. no todo mas a segunda sugere que é improvável que a competição (para ser com-
,}
su~õe-se minimizarem o conflito. Inversamente, as clivagens cumulativa~ pensadora) ocorra ao longo das dimensões nas quais se supõe estarem os
~) comcide.m .entre si, e is~o significa que se reforçam mutuamente e, portan- eleitores - precisamente porque fortemente identificados e separados por
to, maximiza": o confl_ito. Até aqui, muito bem. Parece-me, porém, que, uma clivagem também forte - fora do alcance competitivo. Segue-se da
,) distinção, portanto, que a constatação de que os eleitorados pertencem a
quando a noçao de sociedade segmentada é incorporada à teoria da demo-
._
) cracia consocia1io11al, o que estamos afirmando. na realidade. é que u;1 ~ :: dimensões múltiplas de identificação não comprova, de modo algum, que
chv<1gem estrutural cumulativa não pr1.. cis:i se r rnaximizad ora de conflito: os partidos também competem ao longo de todas essas dimensões. Na ver-
.l ~s elites políti c ~s podem, com êxitu, 11~utraliz:.ir essa p1ed i sp•)SÍl:~o mec<i- dade, a despeito do número de domínios de clivagem/identificação, o es-
" pJÇv de ce>mpetição pode perfeitamente ser único.
t)
i:)
t)
)
COMP': TICÃ O ESPA C.'A i.
39.J PA RTI DOS é SISTEMAS PARTIDÁRIOS

) tidos compe tem ao !qngo da mesma dimensão, k r.10S então partidos mi~
Mesmo assim, a resposta poderia ser : como .! possívd demonstrar buscam e:\pnnsão, para os quais, ou l! ntre o.; qu:iis, pode hav·~r muita co.is~
) que nosso espaço único de competiç:ío é o espaço esquerda-direita'? Jâ de- cm compctiçãu. M~
senvolvi es~a :irgurnent;iç:io em detalhe e em termos abstratos. Vou agora Eviden temente. meu argunento em todo esse cap ítulo segue a defi-
) desenvolve-la com relação à Ho landa .::. espeóficamente, ao 1mport:inte .niç:ío ri1;orusa de competição, e também supõe que o espaço e~quen.l:i-Ji­
) realinhamerHo eleiwrnl de 1977: a reuni:Io , numa chapa el.::i torai comum, reita é o tipo de espaço competitivo que mJ.is facilmente se transforma 110
do KYI' catófao e de dois parti dos pro testantes.87 As razões que levaram a espaço parti! hado. Estou, porém. pronto a admitir que meu argumento
)
essa ali:inça foram simples e fortes: o fundo comum dos eleito res iden tific:i- provoca perdas de rnmple xidade e de nuances que podem justificar o re-
) dos religioso.s (especialmente os católicos) estava diminuindo intensa e pe - curso ao con ccito m:ils amplo de competição. Se assim for, os países exa-
rigosam.:nte. 1-.fas o impacto compt!Lirivo do realinhamento merece uma mi..t1ac.los nesta seção poderiam ser avaliados como segue: o Reino Unido e
pausa para reflexão. A aliança significa, de fa to. que os três partidos em a Finl:india5 9 são unidimension:iis. a Alemanh a Ocidental 3prox.ima-se 1
questão deixaram de competir entre si dentro de uma dimensão reli~iosa muito dessa dassilicação, enquanto a Itália, a Holanda e talvez a França i
'.
própria e ingressaram na arena de competição esquerda-direita. na qual os e a Espu1i.l.u são melhor compreendidas como dispondo de um espaço com· l
) partidos leigos há muito atu:ivam. Mas em que sentido se pode Jiz~r que, i
petitivo bidirnl!nsionai embora de classe desigual (a dimen ~ão esquerda-di- !
l
} até 1977, o partido católico e os p:irtidos protestantes holandeses vinham reita é, na terminologia de Converse, central; a secular-clerical é compri-
competindo e eram competitivos? Só no sentido - parece-me - de que mida) e de tipo diferen te (aquisitivo versus dt!fensivo). Por outro lado,
estavam t!mpcnhados numa competição d4ensiva, isto é, numa competi-
J
) ção totalmente voltada para não perder eleitores, para manter eleitores
seja na definição limitada ou ampla da competição, a Bélgica é atualmente
bidimensional ,90 enquanto, no outro ex.tremo. os Estados Unidos são
i
idcnficados. E a competição defensiva está mwto longe do que poderíamos (dada a natureza largamente não-ideológica de seu ele iwrado) o país carac-
chamar de comp111ição expunsiva, ou seja, uma competição aquisitiva que teristicamente aberto à votação segundo questões. 91 1
) visa à conquista de: novos eleitores. A ·questão ressaltada pela distinção é: Corno dissemos acima, as duas posições são compatíveis e, na verda-
)
são as>JCompetições defensiva e expansiva b:istante semelhantes para serem de interconversíveis. Portanto, o dt!bate pode ser deixado nesse ponto. 1
ch:~mal)as, ambas, de competição?
Faço a perguma porque el:i sugere que grande parte da discussão so-
Mas n:Io devemos esquecer que ambas as posições têm prós e contras e J1
também diferem em suas respectivas importâncias teóricas e de previsão.
1) bre espaço de competição unidimensional l'ers11s espaço de competição Por exemplo, se afirmarmos que nossos 11 países (exceto um) são, compe-
) mul tidimensional gira em tomo da maneira pela qual entemkmos e defi-
nimos o conceito. Num significado preciso, limitado, a competição só ocor-
titivamente, unidimi:nsionais, a desvantagem estará em fo rçarmos de ma·
neira um pouco drástica as evidências, mas a vantagem é que a "competi-
1
) i
re quando os partidos correm riscos no terreno comum em que podem ção" é despojada de uma grande ambigüidade que pairou, até agora, sobre
) todos ganhar ou perder eleitores. De acordo com essa definição, portanto, a análise. Da mesma forma, o enfoque unidimensional aparentemente em-
) n:.fo pode haver competição sem participação num mercado. Um partido pobrece nosso entendimento geral e, não obstante, pode revelar grande
exclusivamente de negrvs e um p:ittido exclusivamente de brancos só com- poder de previsão. Finalmente, a explicação unidimensional pode ser man-
) petem entre si demograficamente. E, se esse argumento for aceito, então tida, apesar da redução, porque nos njuda a desobstruir a evolução forma-
uma cornpetiç:lo defensiva que gira em torno de mercados separados (isto lizada da teori~ espacial da competição de seu atual impasse, isto é, sua
é, o empenho está na manutenção dos eleitores identificados em dimensões incapacidade de enfrentar os sistemas multipartidários do tipo PR.

)
separadas) parece ser uma forma dúbia de cornpetiç:ío ou, talvez melhor,
um aspecw secundário e frágil da competição . Por exemplo, em que senti-
c.lo o partic.lo sueco (que é um partido de base lingüística) compete , na Fin-
Sugerimos de inicio que - sempre que dados adequados permitam -
a distãnci:i ideológica tomada como variável independente permitia uma
argumcntaç:ro direta, teoricamente clara. Espero que isso tenh~ sid~ ~ e :
l
) lãndia. contra os outros partidos? Certamente não no sentido em que. ou monstrado. Para a maioria dos pa ises, porém, provavelmente nao eXJstrra
da maneir:i pela qual, os partidos britànicos compctem entre si. fsso nJo a informaçfo necessária para medir as distâncias ideológicas, especialmente
\J
)
significa - vamos repetir - que os domínios de identificação sejam irrele- em intervalos periódicos e longitudinal mente. Na maioria dos casos. por-
van 1cs, mas su:i relevância refere-se a uma questão diferente e preliminar , tanto teremos de trabalhar com avaliações impressionistas, e isso significa
j ou seja. o quanto est:i t:111 competição. Q11:1ndo os partidos n:io compelem que ; distância ideológica terá de ser reconduzida à co~1di.ção de variáv~I
ao longo de um mesmo espnço comum, há pouca coisa em corn~t 1 ção. interveniente e(ou de controle. Por questão de conven1enc1a, a regra apl1-
) isto ê. po uc:1 coisa pela qua.J competir . [11vers:imente. quando rodos os par-
)
r
)

')
•) fr 396 PARTIDOS é SISTEMAS PARTIDÁRIOS
COMPETIÇÃ O ESPACIAL

tável a todos os casos continua a ser a mesma: o número de partiçlos indica sado bem pode acontecer no futuro. Não ·Obstante, a hipótese de que a
'
1
)
1
maior ou menor distância ao longo do espectro esquerda-direita, a menos
que indique segmentação. Sempre que não nos pudermos sair melhor, isso
polarização possa ser curada por práticas de tipo consociational desenvoJ.
vidas por elites é um tanto implausível e contraditória, no mínimo pela


)
)
.;
\
será bastante.92
Antes de concluir, e para concluir, uma pergunta final: qual a relação
suposição de que um estado de polarização indica orientações de elite in-
trinsecamente hostis e que buscam conflito e delas resulta.
• )
'
1 da polarização e da competição - tal como estudadas nesta seção - com a
teoria empírica da democracia?
Seja como for, quando a fragmentação é substituída pela polariza-

..•
ção, a "lei" passa a ser que o funcionamento (para melhor ou para pior)
)
A fragmentação do sistema partidário obstrui o "funcionamento" da demoCiacia é uma função conti"nua de sua polarização competitiva
da democracia se, e apenas se, expressar polarização. Quando isso não ocor- e que, ao passarmos de democracia "fácil" (nem polarizada, nem frag-
) re, isto é, quando uma formação política se classifica como de baixa po-
• larização, então a democracia pode "funcionar" mesmo que seu sistema
mentada), à democracia "difícil", a principal variação é introduz.ida por
dois tipos de administração do conflito, ou seja, o governo da maioria e o

".;'
partidário seja fragrnen tado, que sua estrutura societal segmentada e, cor- consociationalism. Isso equivale a distinguir dois tipos de procedimento
relatamente, que sua cultura política seja heterogênea. Só conta a polari- democrático: (i) democracia de governo majoritário (dentro dos limites,
zação que entra no espaço da competição partidária - essa a qualificação é claro, dos direitos da minoria), que responde às condições fáceis, e (ii) de-
J importante. Mesmo que uma democracia seja polarizada, ou quase pola-
rizada, ao longo de outras dimensões, e especificamente com relação aos
mocracia do tipo consociational, ou democracia do governo não-majori-
tário, que atende à segmentação societal, à heterogeneidade subcultural,

J
• domínios de identificação, ainda assim pode revelar-se uma democracia
funcional e duradoura. Na verdade, a existência de polarizações politi-
e/ou a clivagens estruturais cumulativas. Quanto a se há ou não resposta_,
ou um tratamento, para a polarização extremada, a única coisa certa é que
camente (em termos comparativos) potenciais afeta as possibilidades

"•
o que se aplica a um estado de alta fragmentação não se aplica aut~matica-
de duração de um estado de estabilidade existente. Não obstante, "pola- mente a um estado de alta polarização. ·
)
rização potencial" continua potencial enquanto os líderes partidários não Resumindo, nossas evidências apóiam, direta ou dedutivamente , a
a colocam em evidência e visibilidade competitivas. regra seguinte: a democracia funcional e a polorização estão inversamente
ri Não se pode manter, portanto, que "em qualquer pais onde a poli· relacionadas, desde que a polarização em questão defina um espaço de

"""
tica competitiva é acompanhada por um sistema partidário altamente competição.
fracionarizado (...) as possibilidades de urna passagem a um regime hege- A questão gira, portanto, sobre as condições de polarização, que po-
mônico são bastante elevadas" .9 3 Mais exatamente , a "lei" de que a alta dem ser formuladas como segue: a polarização é impedida por clivagens
fragmentação cria coalizões instáveis que levam, por sua vez, a governos transversais, neutralizada pelo "isolamento" e fortalecida pelas cliva-
ineficientes e, em sua esteira, à democracia imobilista, não-funcional, é ao gens cumulativas que não são isoladoras (per se) ou isoladas (pelas elites).

""
J
J
'
·)
mesmo tempo frágil e pouco convin..:cnte. Em si, e por si, a fragmentação
partidária simplesmente "causa" os governos. de coalizão; não há nada
de inerentemente disfuncional nisso. Quer os governos de coalizão tenham
um bom desempenho ou não, isso depende de condições ulteriores, das
quais a mais importante é estarem os aliados na coalizão próximos ou dis·
tantes entre si, isto é , serem as coalizões homogêneas ou heterogêneas.
Mas; ao passo que a polarização é improvável numa cultura política homo-
gênea, nem por isso se segue necessariamente à fragmentação subcultural: a
coincidência "segmental" de clivagens p()de intensificar atritos e conflitos,
mas também pode suavizá-los.
O que dissemos acima deixa este volume com três conclusões razoa-
velmente justificadas: a primeira é que a melhor variável explicativa isolada
J Mais uma vez, portanto, o fator decisivo é a polarização, a dis tância ou a para a democracia estável versus instável, funcional ~ersus não-funcional,
J não-distância ideológica, entre os co-governantes.
Argumentou-se que não só a fragmentação, mas também a polariza-
bem-sucedida versus imóvel, fácil versus difícil, é a polarização; a segunda,
é que a polarização importante, em geral, é a do tipo esquerda-direita; a
~ ção, podem ser controladas de maneira co11sociational. Raramente os pro· terceira é que isso ocorre geralmente t ambém porque a imagem espacial
ponenres dessa tese distinguem entre fragmentação e polarização. Mas, subsume sob a sua ordenação as questões que adquirem relevo político, a

""..
\

'
se for estabelecida a distinção. e se entendermos que a polarização é ava-
riável-chave, então não teremos nenhuma evidência clara ou adequada, até
agora, de que as elites do tipo consociotional sejam capazes de superar um
estado de polarização extremada. É claro que o que não aconteceu no pas·
despeito do domínio de origem destas.

~
~

..
~
e:
~
NOTAS 399 e;;
20. Ver A. Campbell, P.E. Converse. W. E. Miller e D. Stokes, The America., Vorer ~
Wiley, 1960, panicularmence capítulos 6 e 8. ·
i'JOTAS
21. lbid., p. 1 l7. ~

)
22. P.E. Converse, " Th e nature of behef systems in m:iss publics". in D. .E. Apt cr
(o rg.), lde~lo!rJ' and Disconrent, Fre:: Press, 196 4, p. 229.
2J. Re ferimo-~ os às "crenças autoritárias" de Milto n Rokeach. The O pen and
••
••
Closed Min.d, Basic Books. 1960, p. 44 e passím.
24. "Spatial m<>dels of pany competition", op. cir., p. 376. Deixo de lado as críti·
) cas especificamente metodológicas de Stokes. pois não têm importância - CO·
mo se verá - pua minha argumentação subseqüente.
')

)
)
1. An Economic Theory of Democrocy, op. cir. , pp. 28, 30.
25. V.O. Key, The Responsible Electorate, Rationaliry in Presfdential Voting /9]6.
J 960, Harvard University Press, 1966 (publicação póstuma organizada por Mil·
ton C. Cum mings), p. 6.
26. Os resultados da década de 1960 são bem recapitulados e analisados nos artigo~
••
:,,J IJmbém porque, depois de Downs, foram fcit3S abordagem mais pcnclfan.
••
..
2. de Ge rald M. Pomper, Rjchard W. Boyd, Richard A. Brody, Benjamin 1. Page,
) te:. da teoria da democr:icin, por Dahl (A Preface ro Democratic Theory, op. John H. Kessel, em APSR, junho de 1972, pp. 415-470. Ver também N.H. Nie
crt. \. Jam.:s Buchanan e Gordon Tullock (Tire Calculus of Consenr Univcrsitv (co m K. Andersen). "Mass belief systems r evisited: political c hange and altitude
) of .\lich.igln Press, 1965 ), e Olson ( Tht Tlreory of Collective Action, ~p. crt.1. • structurc", JP, agosto de l 974.
3. Pc ter C. Ordcshook, The Spatial Theory of Elecrions: a Review and Critique, 27. Esses númer os são resumidos por Peter Nissen, Pany Jdenrification, /ssues and
) IZCPR paper, Estrasburgo, 197-1, p. 3. lmages as Ccmponents of Electoral Decision: an Analytic Model, ECPR, 1975,
4. D. Stokes, "Spatial mod<!ls of party compelition", APSR junho de l 963 (r.:- mimeografado, Quadro 1.

)
) pro duzido em Elecrions and Policicaf Order, infra, nota 16). Com relação a Con·
vers.:. ver p:irticularmentc "The problem of pa.rty distances in model s of vot ·
ing thJnge", in M. Kent Jennings e L. HJrmon Zcigler (orgs.), The Efecrora/
Process, Prcnticc-Hall, 1966.
28. A noção de "eleição crítica" - desenvolvida pela primeira vez por Key - é tle·
scnvolvida por W.D. Burhham, Criticai Elections and the.Mainsprings of Amer-
ican Politícs;, Norton, 1970. Sua linha básica, ou "modelo nulo", é proporcio·
nada pelo apQio de Converse ao "voto nonnal" (nota 16 deste capítulo) que
••
)
5. Ordcshook, op. cit., p. l l. D1:n tro dos limites das disputas entre dois candida·
tos, um c:xcmplo recente do tratamento mah:m:Ílico encontra-se no :1r1 1go de
proporciona igualmente o paràmetro para as eleições "desviantes" e " res1abele·
doras". Corn base nas eleições de 1952 a 1960 Converse calcula o voto normal
••
......•
)
R. \V. Hoy.:r e Lrn·rcnce S. Mly..:r, "Comp:uing stralcgies in a spat ial modcl ot' norte-americano em 54% democrata. As eleições são classificadas por Campbcll
) clectoral competit ion", AJPS, agosto de 197 4 . como man tenedoras, desviantes e realinhadoras em Elections and Political Order.
6. Down~. op. cit., p. 100. op. cit.
) 7. lbid., pp. 98, 96. 29. Na verdade, certas questões, como controle da natalidade, estão bastante relacio·
8. lbid. , p. l l5. nadas com a dimensão esquerda-direita . Mas quando todas as questões são toma-

......
9. lbid.. p. 121. das em coníunto, ou quando as questões se modificam constantemente, a estru-
10. lbid., pp. 103·113. tura geral da votação provavelmente não se enq uadrará numa única dimensão .
) 11. fbid .. p. 13 2. 30. Esta hipótese também pode ser formulada como segue: um forte enfoque ideo-
l 2. Es tas dificu ldades são apon tadas por Ba.rry, Sociologisrs, Economists and De moe· lógico provavelmente produzirá congruência entre as questões e a dimensão <IS·
) racy, op. cil., capítulo S, passim : ,. são reco nhec idas, por motivos mais técnicos, querda·direita. Essa reformulação na verdade reforça o argumento em favor da
entre ou tros, por Ordeshook, toe. cir. unidim ensionalidade.

......
13. Supra, 3.2. 3l. Dícrionnaí'e Polúique, 3~ed. prefácio de Garnier·Pages, Pagnerre Editeur, 1848,
14. Supra, 7. l. verbete CaucJre. p. 4 25.
) 15. Sociologisrs, Economisa and Democ,acy, op. cir.• p. 143. 32. Para considen ções adicionais, ver J ean A. Laponce, "The use of visual space to
) 16. T.rn~u~r:' ~.:vido a essas ambigü!dadcs con ccituJis, a votação cm fu nção de ques· melswe ideology", in J.A. taponcc e P. Smokcr (orgs.). Experimen1t11ion and
tões d1lic1lmcn1e pode ser avaliada com relação ao número de eleitores idcnt i- Simulation in Política/ Science, Toronto University Press, 1972, pp. 5 2-5 3; e
) ficados e, na verdade, tem sido avaliada com base no "voco normal ". Ver P.E. Rokkan, Citizens, Elecrions Parties, op. cit., pp. 334·335. Agradeço a Laponcc
Converse, "Thc concept o f a normal vote", in Angus Camphell, Converse e pelos muitos comentários argutos que fez a respeito dos originais deste capítulo.

-....
W:un:n E. Miller (orgs.). Elecrions and tire Politica/ Order, Wi lcy, 1966. 33. Downs, op. cit., p. 113. , .
l7. ~~a um desenvolvimento desse ponto, ver Douglas Dobson e Duane A. l\lcecer, 34. Uma pesquisa realizada em 1973 em nove pa ise.s cwopeus constatou as segutn·
Al1crna t1vc Ma.rkov models for d csc ribing change in p::iny idcntiiication'', tes percentagens de autolocalizações esquerda-direita: Alemanha, 93; Holanda,
,1IJPS, agosto de 1974. 93 · Dinamarca 9 1· Itália, 83; Grã-Bretanha, 82: Irlanda, 80; França, 78 ; Luxem·
IS. Donal<l R. :.tallhcws e James W. Pro t hro, in Jcnn ings e Zeiglcr (orgs.), T/1 e bu;go, 78; Bc! lgica: 73. Ver R. Inglehart e H.D. Klingemann, Party Identifica·

--
ê lecro ra/ Process, op. cir., p p. 149-150. rion, /deolog-ica( Preference and the Lefr.Right Dimensio11 Among Western
19. Sto k.:,, "SpJti:il modcls of party com1•.:t1t 1011". op. cir.. p. 370 c ~sssm. Publics, mimeografad o, Quadro l. Esse irabalho será inclu í11o cm lan Bu1lfC ~

'
I

) J9S
Ivo1 Crcwc (OJ'l;S.). Party /dentifications nnd Beyond, Wilcy , a ser pu hliclcJO.
j
) '-
r. NOTAS 401
f 400 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS

' dois partidos, mas pode se r estendida ao bipaniduismo com refcrêncin a grupos
35. S.H. Barnc~. "Lcfi-rrght anel the llalian votcr". CPS, julho de 1971; Giaco mo de elite (a seguir, nota 55). • . .
Sani. "Fauori determinanti delle preferenze p:irtitche in halia ", RJSP, 1, 1973, 50. "The pr oblem of p:irty distances", op. cit., pp. 198·1?9,- Meu nu~ero s1mp~ ·
e "A test of lhe lcas1-dis1ance model of voting choice: haly, 1972", CPS, fica o de Converse, que está referido ao sistema parudáno frances e tem seis
julho de 1974. partidos. .
"l 36. H.D. K.Jingemann, "Testing the left·right continuum on a sample of German 51. Com 0 tempo, o partido B terá o problema de manter seus ?~cptos distante~ da
vo1ers", CPS, abril de 1972. . dimensão na qual a competição ocorre e onde tem probab1hdadcs de perde-la.
37. Bo Siirlvik, "Sweden ", in Rose, Electorcl Behavior, op. cít., particularmente f esse, J>Or exemplo, o problema atual do partido católico holandês. .
pp. 424-426. 52. Sobre Israel ver supra 6.2. A Holanda é um caso menos com~ncente, po~s seus
38. Segundo Rokkan, sua amostra indica que os países que "mais se aproximam" de principais p:Utidos católico e calvinista não competem rcalmeme entre s1: seus
uma d isposiçdo ao lo ngo da dimensão esqueida-direita são a Inglaterra e a Suécia respectivos elcítores slfo identificados. . _ .
(Cítize11s, Electlons, Parties, op. cít., p. 300). 53. o fato conhecido - pelo menos no caso da França - de que a pos1çao do el~i­
39. Converse eucontra na França, além de uma dimcnsüo esquerda-direita, uma di· tor na dimensão clerical-anticlerical é o melhor previsor isolado de sua opçao
mensão clerical-anticlerical (ver Converse e Georges Dupex., "Politicization of eleitor.-! não é uma evidência em CQntrário, pois h:Í muitas razões (em grande
the electorate in France and the United States'', incluído cm Campbell et ai., parte inseparáveis) que fazem um bom p:evisor. . , .
Elections and Political Order, op. cít., capítulo 14 ; e Converse, "Some mass- Isso é confirmado pela luta faccionai 10trapart1dana (s~p~a, 4.4), que ocone
54.
i elite con:rasts in the perception of p olítica! space", mimeografado, IPSA , Reu- exclusivamente em termos de flanquearnentos ~squerda-d11e1ta.
n ião de Paris, janeiro de 197 5). Mas ver também Erniric Deutsch, D. Lindon e Isso se aplica aos elciloies normais, não a populações ~e elite. ~ssim, os estudan-
55.
1 P. Weil, Les Families Politiques, Minuit, 1966; e Roy Pierce e S. Bames, "Public
opinion and politieal preferences in France and ltaJy" ,MJPS, novembro de 1970,
tes un i versitários norte-americanos e canadenses sao perfe1tament_c capaze$.
como todos os outros estudantes ocidentais, de se localizarem no ~nt{~uo esqu~~­
1
1
cuja conclusão é a de que a "opinião pública nos dois países está mais relaciona-
da com 3 identificação panidária esquerda-direita quanto às questões religiosas
da-dire ita. Ver Jean A. Laponce, "Note on the use ofthe left-nght d1mens1on. ,
; CPS, janeiro de 1970; e David Finaly et ai.• "The concept of left and nght 1n
ou relacionadas com a 1eligião" (p. 658). cross national research", CPS, julho de 1974. . . . , .
40. A razão será explicada adiante. Mas, embora Israel certamente seja bidimensio· A Áusiria (supra, 6.4) é o caso ex.tremo, isto é, o mais defmidamente 1dcologico,
nal, isso ocorre menos com a Holanda. 56.
da categoria de bipartidarismo. , . . _
41. R. lnglchul e Ousa.o Sidjanski, "Dimension gauchc-<lroitc chez les dirigeants ct
57. B especialmente nesse ex.tremo que as críticas metodolog1cas e as s~pos1çoes de
e lccteurs suisses", RFSP, outubro de 1974. Stokes parecem viciadas pelo que chamo d e " f a1ac1a
'' · do microsc6pro" • uma va-
42. Sani, "A test of the least-distance model", loc. cít. , p. 194. O es1udo sobre o riante da falácia da precisão mal aplicada.
Reino Unido mencionado na c itação é o de David Butler e D.E. Stokes, folitical
Changt in Britain, St. Martin's Press, 1969. 58. Supra, 6 .3. • d r · " ue
43. H.J. Eyscnk, Tht Psycholo1Y of Politics, Praeger, 1955, capítulo 4. 59. Acrescentem os que o declínio da religião provoca um~' esquer a ~e.1giosa ,q _:
por sua vez, pioduz uma ordenação congxuente ~s dimensõc~ ~ehgiosa e econo
44. Sociologists, E conomists ar.d Demoaacy, op. cit., p. 139.
45. Converse, " The problcrn of party dist.ances", loc. cit., p. 196. Converse sugere mica refoxçando com isso a percepção esquerda-direita da pohtica. .
ainda que "podc·se su po r que essas percepções, cm lugar de serem interpretadas 60. Isso 'é bem confirmado por Michael Laver, "Strategic ca.mpaign beh~.VJor for
como uma função de um espaço complexo que todos os eleitores vêem da mes· electors and p arties: the Norlhern lreland Assembly elec!Jon of_ 1973 • EJPR,
ma manei ra, sejam interpretadas como uma função de pcrcepções mais simples março de 197 com referência à introdução, em Ulster, d~ volo isolado transfe·
s,
dentro de espaços que d iferem de eleitor para eleitor" (p. 197). Par.ece·me que rível. La ver faz de sua pesquisa um teste do modelo downs1ano. .
essa observação contraria a suposição de "estrutura fix.a" de Stokes (loc. cit., 61. Converse ("The problcm of party distances", loc. cit., PP· 184-193, e particulf-
pp. 371-372). mente Figura 2) analisa os dados franceses e fi?landcses ~.:riflcando, com rc ~­
46. Deve-se compreender bem que esses critérios sao articulados a nível de elite, e rência às "dist5ncias percebidas" entre os partidos, que e~ ambos o_s casos ~
não ao nível dos eleitorados de massa. distâ(lcia entre os dois maiores partidos de esquerd;1 (comunistas e soc1ahst~~o~
quase tão grande quanto a ex.tensão do segmento ocupado por todos. os P~ .
11
47. Não pude encontrar, por exemplo, nenhum cxitério pelo qual um esquerdista
ocidental <leva sei pr6-:írabe e, em part icular, pelo quaJ verdadei.xos soberanos não-comunistas juntos" (p. 191 ). Com relação à Holand:i, um~ pesquisa so 1st\~:
feudais, que deveriam ser denunciados - na ótica da esquerda - corno parasitas da de H · Daalder e Herrold G. Rusk, "Perceptions of p3Ity m the Dutch par 13
supeicapitalistas, se tomam int ocáveis. · · B ha · op c11 pam-
mcnt" (in Patterson e Walke, Comparative Legislarrve e ~'º'· .· .. "d .
48. l s.~o se confirma bem pelos nossos dados sobre governos de coalizão, que mos- cularmente pp. 169ss.) informa "uma diferenciação clara entre panid~~to~s~O~
tr.im que o princípio de adj3cência se riiantém muito melhor em termos da ordc·
nação constirucional do que da ordenação sócio-econômica. De Swan, Coalition
Tlreories and Cabinet Fonnation, op. cit., cria dificuldades injustificadas para
o que é na realidade, uma constatação significativ~ para u~ s1sbten::
• . b . •. (s pra 6 2) A Dinam:irca eco er v,
PolaT ização rela11vamenteN a1x.a u • · · p N
e::
rados como potencialmente no sistema( .. •) e partidos fora do si_stema p. um~
bases
·
.1d Qlscn "Pari )"
p d E Dam gaard e annl!S •
1
sua melhor .:xplicação (coaliz.ões "fechadas", isto é, adjncen1es) supondo uma
ordcnJçlo ~ócio-cronômica anterior. Também os estud os s0b1c os posicionamen·
semelhantes, por Mogcns · e erse.~· · ·
1 6 19 1
7 • •
Sob re 3 Noruega, ver
distances in lhe Danish Fol~etm~ • SPSf • vo · ' Hl p~rccivc<.l pari)' distanccs
tos e)quercl a·d11ei1a atril>uídos aos partidos por legisladores revelam um prcdo· 1
Converse e Henry Valen, "Dimen s1ons o c eavagc ar
mínio esmagador d o critério constitucional. in N orwcgian voting", SPS, vol. 6, 1971.
4 9. Como se especifica rá adiante, essa genera lização aplica·se aos sistcm_as de ma is de
c;J
~
-102 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS NOT;:.S 40)
c::a
1)2. Va, en cre ouuos, Helmut UnkelbaCh, Grundlagen t.!er Jllah/sysrem1mk. Van· V'Ji?ens. ~ltnh.i
f..:1tura da liter.i.tur:i sobre a democracia consocia1io11al h ·cr nota> ~
dcrhocck, 1956, pp. 36--11. 73"'.32, c:ipítulo 6 . supra) sugere que a diferença está na administração , isto é.
63. Dowm. op. cit. , pp. 127-l 32. O d1reito de voto bem pode ser um terceiro "iJcor
distanciador" (exemplificad o por Dov.Tis, com referência à Inglaterra, p. J 29,
em se as elites políticas uaum umn .:livagcm ~strutur:U cumulativa co nflitual·
mente ou isola doramen te . .'.t:ls, parJ o :u gu mentaçfo em que~tão. ap~nas a cJis-
c::a
Figura 6), mas é um fator exóge no, cuja influência desaparece quando todos os tinção é importante. ~
partidos se reajustam à nova distribuição. Ver Quadro 5 n.a seção 6.1. supra.
6-1. Co m refer ência aos mtcm:i.s multipartidários, Downs simplesmente admtte que
87.
as. A observação sobre o quan to está .:m competição rel:lci ona-se com a noção e!.! p
des niio oferecem "incentivos aos partidos pua se ~proximarem ideologic:irnen· competitividade. t31 como examinada supra, 7 .l
te" (ibid .. p. l 26), com a única conseqüência de que os "diferenciais" partidá· 89. A sie:nificação de esquerda·cfüeita para o ele itor britânico é contc$tada por D. tra

..-....
) nos permanecerão claros. But!~r e D. Stokes, Polirical Change in Britain, St. ~lartrn 's, 1969 ; mas sw
65. Supra. 6.4. abQrdagem e suas conclusões são convincentemente contest:id:is por lan Budge, ~
) 66. Supra, 6.5. in I. Budge, I. Crewe e D. Farlie (orgs.), Parry /dentificatio11s anel Beyond.
67. },);it, Voice and Loyalry, op. cit., p. 71 . Wiley, 19 76, capÍlulo 3. • .
"3
) 68. ~ essa, em pute, a argumentação de William C. Baum, APSR, setembro de l 965, Referimo-nos nã'o só aos par1idos baseados em linguas (o Volksunre tlamengo e
90.
p. 69J, em resposta :i argumentação de Converse, adiante. a Frente Dem<>crática Francófona} como também à divisão interna dos três

........
l 69. Converse et ai., "Electoral myth .and reality: the 1964 Election", APSR,junho tra dicionais partidos belgas ao longo de linh~s ét?'ico-~ngilísticas._Ver supra 6 .3.
de 1965. 91. Observe-se que a visão global. não se refere a Swça.. E ISSO (rc:s~~mdo uma. longa
) 10. Sjoblo m, Parry Strattgies in a Multiparty Sysum, op. cit., pp. 163-164, ex3mina argumentação) porque a Su1Ç3 parece ter pouco em compehçao, em bas.!S e:'<·
)
rapid:imente esse problema do ângulo da coesão pa.rt idária e mosua bem como cepcionais e rui generis. ou seja, a de~ccntralizaç~o completa, ~a v~rda~e. <l.ts· ª.
o modelo downsiano pode ser 1edesenhado, de modo a explicar a distribuição persão, dos processos poli'ticos em n1vel de cantao. Portanto, e muito dif1c1l in-
inu:ip:utidária das preferênci:is. cluir a Suíça nas generalii:ações comparativas. . . •.
)
71. Devemos lembrar, quanto 3 isso, que os membros dos partidos são muito menos 92. Lembremo-nos, porém, de que a variável de fragmentação do sistema part1d:u~o
) multidimensionais, em suas manobras flanqueadoras recíprocas , do que os elei- é mais interessante do que a variável ideologia do ponto de vista da engenharia

l
)

72.
73.

74.
tor3dos em geral, e que fai:em um uso muito maior de epítetos de esquerda-
direita. Por exemplo, "facções de interesse" são, cm si mesma.<, puros maximiza-
dores de voto.
Supra, 6 . l.
Mesmo o menor partido deve ter um papel governamental a desempenhar, pois
se usim não fo= teríamos, por definição, um sistema bipartictj.rlo.
Pata detalhes e evidências que confümem os três casos examinados no texto,
93.
94.
política. Em qualquer momento, a distância id~ológica é, em grande parte.. u~
elemento dado . Se nos interessamos pela maneu-a pela qual ela pode ser reduzi-
da ou aumentada operativamente, então o sistema partidário volta a ser nossa
melhor variável explicativa independente.
R.A. Dahl,Polya.rchy, Yale University Prcss, 1971 , p. 123. . . .. " _
A freqüência e a proporção em que "democracia de gover_no maiont~to nao se
aplica, ou não é aplicada, é bem ressaltada por E. N_ordlinger, Confl1ct .Regula-
...
"°'
F
~
) fazemos referência ao capítulo 6, supra. tion irr Dfrided Societies, op. cir. Ver tambem A. L1Jphart , Democracy m Plural
) 75. Supra, 5.2. Societies, Yale U11iversity Prcss, 1977.
76. Essa observação contribui para solucionar os casos dúbios di~cutidos no capí·
) tulo 6, supra. ou seja Suíça, Holanda e Israel.
77. Downs, op. cit., p. 126.
) 78. lbid.. p. 2l.
79. Supra, particularmente 9. 2.
80. Supra. 4. 2 e particularmente 10.3. Para uma confirmaç3o empírica, ver G. Sani
e G. Sartori, "Fragmentation, polarization and competition in Western democr·
racies", in Hans Daalder e Peter MaiI (orgs.), Europearr Party Systt:ms (a ser pu-
blic3do) onde st mosua estarem as distribuições esquerda-direita., de maneira
semelhante em todos os nossos p11íses altamente co rre lacionadas com as posi·
ções tornadas em todas as questões salientes.
\ 81. S11pra. 9. 2 (citado da p . 286 da edição inglesa).
82. Dentro desse grupo, deve-se reconhecer que a Espanha ainda é (em 1979) um
l
caso um tanto indeciso, no sentido de que qualquer atribuição classificatória
firme seria prematura. No momento, a Espanha puece ser, dehtro do âmbito
d:is formações políticas altamente polarizadas, a menos polarizada.
8J. Supra, 5.2 e 5 .3. Minhas regras de contagem são justificadas na seção 9.4.
' a-1. O índice de fracionarizaç:io de Rae ou medid3s semelhantes não podem subs-
tituir meu critério, como foi mostrado supra, 9.5.
) 85. Supra, 6.3.
i86. Isso não é dizer que conflitual e isolador seja.uma diferença de natureza das cli·
1
J
)
)
(NO/CE ANALlTICO 405
)
_) Bélgica 202; 206: 208; 211-13; 216; Canadá 208; 21 4; 216-18; 243 ; 321 ·
321 ; 336 ; 372 336 •
) ·.llemard, J. 55 Cantelli, F. 233
(NOICE AN A LITICO
Berrigan, A.J. 267 Can, E.H. 74
} Berrington, H.B. 132 Carras, M.C. 132
) Beyme, K. von 55 , 268, 350 C:uter , G.M. 75; 298
Bhutto, Z.A. 229 Casanova, P.G. 270
) Biebuyck, D. 300 casos mistos 318-20
Biencn, H. 297-98 Cassinelli, C.W. 76
> bifacciosismo: equilibrado v.t desequi-
libra.do 108
categoria residual vs. categoria provisó-
ria 274-75 ; 284
> bifracionarismo como bipartidarismo Cattaneo, M.A. 51; 53

,' abstração: níveis de 79; 292


Adelman, 1. 300
Adiian, C.R. 134
Andrand. e. 297
Andrén, N. 237
antolhos dualistas 156
Apter, O. 75; 91 ; 281; 287; 297; 298;
110 ,
.llinder, L 56; 269; 299
bipartidarismo: e bifracionalismo 110;
- e competitividade 215 ; 322; - e
Cavaz.za, F.L 23 2; 235
Cazzola, F. 136; 138; 233
centralidade. Ver também competição
centrípeta 160

•••
Afeganistão 61
África: efeito de bumerangue 293-95 ; 300 consenso 220; - e esquerda-Oireita centralismo democrático 119
golpes 278; padrão multipartidário Arábia Saudita 61 372-73; maximização da votação no centralismo ver tical 119
283; 287; padrões em 39 países 290-· Argélia 277;278;283;291 3 7 8 ; mecânica e fonnato d o 107; centrifugação, medida de 192; 201
91; partidos de massa 276; 277; 280- Argentina 304 214; 216-17; - e o modelo Downs Chade 279;290
-> 81; partidos únicos 276-78; 283; so- Aristóteles 34 2 20 ; 327; - e pluralismo moderado Chamberlain, J. 219

•• ciedades celulares 2 7 6
Â!rica do Sul 223; 280
Aron, R. 264; 272
arquélipo espacial 368
207; - e votação por questões 364 .
Ver também sistema bipaxtidário
Chambers, W.N. 54; 240
chantagem: potencial de 148; - parti-

•• Aitkin, D. 242 Anow, K.J. 59 Blacluner, D. 232 dária 375


Akzin, B. 235 Ataturk, K. 305 ; 308 Blaclc.stone, W. 34 Chapman, J.W. 55
Albânia 249; 253 ativação e dese nvolvimento político 62 Blank:sten, G.I. 221 ; 242 Charlot, J. 92; 236
Alemanha 156; 206; 216-18; 328-29; atomízado: partido 98; sislema parti· Blondel,J. 56 ;77; 143;154; 214; 233; Chile 160;161; 167;170; 172;1 86·

• 336; 367; 371-72; - imperial 40. clário 150;313 242; 269; 334 ; 336; 352-53 89;193 ; 198;201; 223 ; 226 ; 228;

-. ...
Vtr também Weimar, República de; Austrália 214·18; 336 Bolingbroke, Visconde de (Henry St . 253; 371-72; 382
~ . Alemanha Oriental Áustria 208; 214 ; 21 7; 219 ;241;332; John) 25;27;30-31;36;52; 54 ; 87 Cb.ina 250; 253
Alemanha Oriental 250 ; 253; 258 ; 269 336 Bolívia 222-23 Chubb, B: 243
Alessandri, J. 186 ; 236 autonomia. Ver subgrupo e subsistem a Botsuana 287; 291; 293 cicncia: base de dados da 3 26; - e elas·
alianças entre partidos 114 autonomia do subgrupo e do subsiste- Boyd , R.W. 399 sificação 323; 32 7; - neobaconiana
alienação v.s. protesto 157-58 ma 67;80;253;255;265 Bracher, .K.D. 235 327; - quantitath'll e qualitativa 325 ;
Allardt, E. 143; 231; 234; 236 Axelrod, R. 155 Brandenblllg, F. 271 328-29; 348-49
~ Allende,S. 167 ; 170;186 ; 188;236
Allum, P.A. 235 Baerwald, H.H. 136; 138
Brass, P. 132
Bredemeic.r, H.C. 233
classe. Ver formato
classificação: crítica da 321-25 ; defini-
~ Almond. G.A. 58; 59; 75; 76; 78; 90 ; Bagehot , W. 55;59
Balfour, Lord A. 36
Bretton, H.L 298 ção 149-50; - e casos mistos 318;
319-20; - e classificação errônea 69;
221;232;242;251;274;285;286; Brod y, R .A. 399
"'-9
....~ 294; 297
alternação no bipartida.rismo 214-17;
220·21 . Ver também rodízio
Alto Vo lta 278-79 ; 286; 291
Bangladesh 229-30
Banks, A.S. 213; 353
Barber, B.R. 268
Barghoorn , F.C. 76
Barker, Sir E. 66; 75
Bryce, J. 44
Brzezinsky,Z.K. 268
Buchanan, J. 398
Budger, 1. 399
106-07; 304; 311 ;328;- e contínuo
301-02; - e rigidei 173; 285 ;- e ti·
pologia 149;lógica da 324 ; 325·28;
sensibilidade da 257; - vs. medida
Amei!Jon, B. 298 Bulgária 249-50; 253 323-29
Barkex, R. 233 cláusula de exclusão 123
~
América Latina 74; 95; 105; 296 ; 350 bumerangue, efeito 293·95
Bames, S.H. 68; 138; 400 Cliffe, L. 298

...
Ames, B. 271 Bou..rguiba, H. 283
Bany, B. 132; 248; 267 ;358; 367; 398 clivagens: como variável dependente
~ análise de potencialidade 24 9
análise d esenvolvimcntista e conceit os Barthalomew, D.J. 132
burocracia no sistema do partido de Es·
209; 220-21; no espaço mul tidimen·
tado 6 6 -67
de processos 3 23 Barton, A.H. 155 sional 367; tipos de 344

...:.
anatomia do subpartido 98-104 liau m, W.C. 402 Cac1ano, M. 264 Cnudde, C.F. 267
~ Andersen, K. 399
Anderson, B. 271
Bayar, C. 305
~eer, S.H. 241
Camarões 279; 290; 293
Campbell, A. 361 ; 398-99
coalizão (õcs): alternativas 164; 207;
2 12; - entre frações 114-15; - e

404

;
)
'"'1!"""
) e;
) -W6 PARTIDOS E SISTEM,.J.S PAR T/OÂRIOS (NOICE ANAU°TICO .J07
~
)
ponto de nü'o..:oaliião 37 5; - e ro· coniunismo: corno par tido anci ~ii lcm a Cc".:~. B. 58 Dcutsch, E. 400 e;
dí210 periférico 164 157-59; - e centralismo venic.il l ! •J Deutsch, K.W. 57; 78: 90: 238; 299
- e socialismo 166-70; im.:grado !u
C:otty, W.J. 90-2; 154
diferenciação socic11l vs. pluralismo 36 ~
Cockroil, J.D. 271 Crowlcy, D.J. 300
166-68: 170; - no go·1erno 166·r,,~ difere nças de espécie vs. de gnu 3'.!5
Codding, G. A. 23 ~
<;0erç:Io. Ver rcp1cssão concc ito (s}: aplicação forçad a de .lS.
culturJ .:rnpírica vs. ideológica 162
.:uliural: he1erogeneidade 208; 209; dimensão clcrical-unticlerical 371 ~
) Coke, Sir E.. 34
co lapso da formação po lítica. Ver for·
294; - como portadores d e d~d•H
326; - de loc:illzação vs. proces"'
plutal1srno 35 <limcnsão ideo logia-p ragmatismo 100-
01; 249-53 ; 255
fP
) mação políúca 324: - e controle estatístico 328 - dlinensâo liberal.conservadora e csque1- Si
Coleman, J.S. 75; 24 2; 267; 275; 285;
296; 298; 299
Colômbia 56; 213; 219
Colom bo, A. 232
~ tratamento ou-ou 325-26
Condorcec 31
conllito: ~democracia 3ó ; - vs. cnn-
scnso 36
· ÜJJlucr, 11. 42;56 ;143;231;23-!;237-
38; 24 2; 401
Oaamgrud, E. 234 ; 402
JJdos, conceitos como portadores de
d~-dircita 366; 372
dunensão motiv:icionil 99-100; na es-
coUrn eleitoral 359
dimensão secular-religiosa 367; 371
••
- •
comparabilidade 107; 284 Congo 279; 283; 286; 290-91; 299. 326 Di namaica 172 ; 174-76; 202;206;210;
companbilidade d e dados 327 Ver também Zaire O.ih!, R.A. 54-6; 72; 76; 214; 232; 218; 223; 225-26; 333-35; 343
) competição: bidimensional 370-73 ; - consenso : e ideologia 352; - e pluralis- 234 ; 237-38; 242; 260; 268-70 ; 398 dinâmica e es tática 324
como competiiividade potencial 246; mo 37; - no bipartidarismo 2W; Daluendorf, R. 55 dinheiro político 116-18
) 24 7; 248; 249; - como v:iriável inde· - vs. conflito 36 D'Amato, L. IJ6-J7 Di Pa lma, e. 210;233;235;239
-=
••
oenden ie 322; direção da 322; 375- consolidação estrutural 42-5; 62-3; (}Jnton 31 direção: da competição 322; 376;
) âJ; - e coesão partidária 108-09; - 150; 273-74 Oaomé 279; 29<> - da comunicaçfü 79
e compctiúvidade 246-49; 322;- e Constam, B. 33-4 Dawson , R.E. 1}4-35; 267 direi to de voto. Vtr sufrágio
J elasticidade espacial 375-76; - e consumidor econômico vr. político defecção, ponto de, na votação 364, . dlssc:nção: e pluralismo 36; horror à
}
igualdade de oportunidade 230; 246
- ~ monopólio 72; 247-48; - e mul-
tidimensionalidad~ 372; 373; - e po-
la.rizaGão 72; - e reações previstas
248
contagem partidária. Ver critério num.!-
rico
conti.n u idades e descontinuidades nas
ddiniçáo: importância da 83; - m tru-
rna 84-6
De Gasperi, A. 1 63
33-4; 60-1
distância ideológica 150-5 1; 158; 161 ;
318; 322; 347; 4 02;- como variável
de controle 150-51; 176-77; - vs. se-
••

De Gaulle, C. 18 '.J-84

..-•
24 7 ; 249 ; - e relevância partidária estruturas partidárias 302; 304; J 11 ; Oemirel, S. 307; 350 qüência 317; 374-75. Ver também
147 ; - espacial 355-56; 363 : 364 314. Ver também descontinuidade dcmocrac:ials): e conflito 36; - e ex-. elasticidade esp3cial; espaço ideológi-
fim da 245-49; 311; fora de 160; contínuo: e classificação 301-02; - e pressão 313; - e partidos 44-5; - e co; polarização
3 71; 380; - interpartidária vs. intra- colapso 304; - interminável 171 ; li- pluc:ilismo uniputidário 69-73; - ditadura{s) : africanas 281; hegemôni-
partidária 70-3; 378; - multipolar mite do 310; - unidirecional 302 ,,, e teoria das eleições 354; 362; - in- cas 262; sociologia das 258; totaJitá-

-..
381-82; - política vs. econômica contínuo a!ltoritário-Oemocrático 367 tr.ipartidária 93; 129; - sem Estado ria e autorit.íria 250; 254-56; 267
) 165 ; 24 7-48; regras de e oferta 165; con tra-<iposições l 5 9 284; teoria de Downs da 354-5 7 ; ttall- Djordjcvic, J. 272
tática recompensadora de 374; 379; Converse, P_E. 355; '.361; 370; 398-401 síç:io da Turquia para a 305-07. Ver Dobson, D. 398
) - unidimensional 356;371:372;'.373; Coréia 95 também democracia unipartidária Dodd, C.H. 350
- v.s. não-competição 245-46 ; 249. Corfü do Sul 223 democracia consorcia tiva 208-1O; 21 '.l Douglas, M. 300
Ver também competição centrífuga; correntes na Itália l 05; 111 ; 113 democracia estatal direta 284 Downs, A_ 59 ; 148; 155; 220-21; 354- 915

-..-
competição centrípeta; competifrti- Coser, LA. 55 uemocracia sem partido 4 7 58; 374; 375;376; 381; 393;398;
dadc; competição interpartidária. Cos ta do Marfim 280; 283; 287 ; 290: democracia unip'3rtidária 69; 72; 105; 399; 402; crítica ao modelo de 360·
competição centrífuga 161; 381-82 293 261; 263; 311 64
competição centrípeta 3 76-77; 379 Cott3, S. 51 descontinuidade: do mesmo contínuo Drachkovitch, M.M. 271
competição interpartidária 355; 359 Counney, J.C. 24 1 314 ; - do partido vs. sistema do par- Dunn, J.A. 239
co mpetitividade: e alternação 214-15 ; Craig, F.W.S. 241 tido de Estado 311 Dupeux. G . 400
- e fracion:irização subpartidária
108-09.; - e quase-(;ompetitividade
Crnwe, 1. 399
Crick, B. 55
desenvolvimento: da política 28'.l-84 ; duração: das coallzões 34 8 ; das frações
103;dos governos 115; 332; 346-48
tJE

--
- endógeno 302; 305; 308-09; - im -
tos:- e resultados de política 247; crise de legitimidade 158 posto vs. neutro 253 Duikheirn,E. 171 ;281
- e subcompetitividade 108; - no crit~rio de irrelevância 146 desenvolvimento político da sociedade Duverger, M. 57; 70; 76; 81 ; 82; 88;
b1partidar1smo 218-19; 322; - v.s. critério numérico: casos limítrofes 157 : vs. formação políúca 62 90; 93; 129; 137-38; 156; 221; 231;
competição 246-49 debate sobre 143-45; - e fragJ11cn1a- dcscquilibrio inflacionfoo 165 232; 236; 242; 329; leis de 118 ; 122;
comunicação 49; 78-80; 313. Vertam- çio 329; - e mapeamento part id:irio desi11Jonnação 327 sobre a democracia unipartldária 70

--
hém funç:io expressiva; repressão 149-53; - operacionalizado 329-33: •kslegitimação 168-69; - e putidos Dyc, T.R. 135;267
) co111 uni cação autoritária 79-80. Ver ro:g.ras de contagem 145-49 anti-sistema 158 ~
também repressão critério populista 368 uesorgaruzação p ol ítica e fracciosísmo Eas ton, D. 75
> caótico 110 Eckstein, H. 91; 92; 234
)
) 9cJ
) ea
,
, 408 PA RTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS INDICE ANAL(TICO 409

, Edingcr, L. 23 8
Egito 276; 283
106; - e comportamento eleitoral
361-64; facciosismo intrapartidário
Faul, E. 51 ; 235
Fauvct, J. 236
d.írio 97; 108-09; - na Itália e no Ja-
pão 111-16; - redução do 124. ver
l Fein, L.J. 235 , ror;ibém ín~ice de fracionarização

,•
Ehrmann, S. 236 104-11; Foundíng Farhers e partidos Fichte,J. 324
l Eisenhower, D.D. 215 32 trac1?narizaçao: comparada com a tipo -
filiações múltiplas 38 logia 339-45; - em 25 democracias
Eisenstad1, S.N. 235 estática 324; falsa 330 Filipinas 214 ; 216 ; 219;222·23 ; 239
elasticidade espacial 37 4; 3 7 9 es tratúicação sócio~conômica 369 342; - mundial 3 1 1-12
finan~s partidárias 116-19

,- Elazar, D.J. 133 estrutura 315; 321 fragmentação: definição 148; - de coa-
) Finer, S.E. 76;132;269;271;296-98 lizões governamentais 332-34 · - do
Eldersveld, S.J. 93; 131 estrutura de autoridade e mudança de Finlândia 166-67; 172; 175; 180-81;
eleições: credibilidade das 222; teoria sis tema 304-05 sistema partidário _1 44 ; 148-49; J 71;
190;193;199;336;343 329; - e polanzaçao 150-52 ;- e

,,J
das 354 estrutura de oportunidades: e frações Finiay, D. 401
Elkins, D.J. 26 7 de princípio 125; - e número de úa- segmentação 151
)
El Sah'ador 222; 223 Fisichella, D. 15; 77: 235 França 147; 157; 159; 160; 161; 172;
ções e partidos 126 ; - e padrão finan-

,, l
Ernerson, R. 286; 299
Engelmann, F.C. 241
Engels, F. 45
ceiro 116; - e pluralidade 122; - e
política visível vs. invisível 119; -
e PR puio 122·23; - e votação 120
Flanagan, S.C. 137; 232; 337; 352
Flathrnan, R.E. 59
Flcroa, R.J. 55; 240
181-82; 183-85; 189; 192-93 ; 197 ;
223;226;228; 333;336;367·371·
72 '
,J 1..
engenharia política 116; 127
epistemologia neo·baconiana 327
Etiópia 279; 290
Er..zioni, A. 56; 235
Folz, W.G. 299
formação política: colltpso da 302-04;
Franco,F. 256;270;280;308
Frei,E. 188;236
1
- continua 302-03; - monista 63; Friedrich, C.J. 59; 72; 77; 131; 241 ·
i!
"
Epstein, L.B. 56; 82; 90; 92; 241; 242 Eulau, H. 57
espaço ideológico 366; 372; 374; - e Evans-Pritchard, E. 297 - monocêntrica 68-9; - segmentada 268;329 '
rJ 11 distâncias desiguais 374; 382. Ver exceções 11.i: casos mistos 318-19 20&-09; 373; - vs. sociedade 62. Ver
também formações políticas fluidas
Frye, C.E. 235
função de canalização 63; 79; 252-53;

""
também elasticidade espacial exclusionismo 254-55
espaço ordinal 3 7 4 êxito e voz 24 9 formações políticas, tipologia das 3 ll- 255; - vs. comunicação e expressão
espaço partidário bidimensional 370· expressão 78-80; - e democracia 313. 18 78-80
73 Ver também comunicação formações políticas fluidas: categoriza· função de mapeamento 319; 320
J Espanha 182; 191-92; 200; 250; 252;
253;265;308
extrapolação inversa 294; erro de 295
Eyck, E. 235
ção ad hoc 284-93;- e efeito de bu-
menngue 293-95; - e ideologia 276;
- e inadequação tipológica 275; 285;
função explicativa e mapeamento 311-
23

..,"" esquerda-direita: como espaço ideológi-


co 365-66; 373; - como espaço or-
dinal 374; - e espaços interrompidos
37 4; ordenação sociológica vs. ordena-
Eysen.k, H.J. 367; 369; 400

facção(ões): como grupo concreto 25 ;


- como subunidade partidária 95;
- e partidos de massa 277; 280 ; es·
trutura das 288-89; 315;-na África
290-91·
função expressiva 49; 313

Gabão 290; 293


Galízia, M. 51
~ ção econômica 368-69; 400; uso re-
sidual da 101
crítica das 95;- de interesse 99-100;
l 25· 2 7; - de poder vs. facção orien-
formaçõ;s políticas polarizadas, ten·
dêacias lineares das 192
Galli, G. 137; 231 ; 235
Gâmbia 291; 293
Gana 275 ; 277-81; 290

"'.,,.
estabilidade 346-48; - e duração 102- tada para cargos e proventos 9 9-100; formato do sistema partidário 152-53;
03 ; 348; - e e!iciência 348 do partido para a 129; - e grupos 34 6 ; - e mecânica 152; 345-46; - e Garceau,D. 75;91
estabilidade governamental. Ver insta- ambiciosos de poder 81 ; - e gru- tipos 154 ; 318; - no bipartidarismo Geertz, C. 297
bilidade governamental pos de interesse 58; - em Madison 21 4; 216-17 Gentili, A.M. 298
~ Estado: antipartido 61; - e tradição es- 32;- na política sulista 104-111 ;- Fortes, M. 297 Germino, D. 135 ; 139; 244
tatal 276; - formado vs. sem forma no reinado de Jorge Ili 30; - por ex· fraç:ão(ões): acima de partidos 110;- GertzeJ, C. 300 .
~

..
273-74; - novo 276;297; -unipar· celência 99; - v.i: frações 96-7; - como subunidade partidária 97; - Gil, F.G. 236
.... tidário vs. sem partido 60-64; 283
Estado-aparelho 66
vs. partido 23·5; 46·7; - v.i: tendên·
eia 96-7. Ver também fração
oomo termo geral 97; - de coalizão
102; - de interesse 125; - de prin·
Girod, R. 108; 234; 244
Giscard d'Estaing, V. 226

,,, Estado de partido único. Jler Estado facção orientada para cargos e proven· c(pio 99-100; 125 ; 127;- efacçõcs Goldwater, B. 362; 378

. unipartidário
Estado não-pa.rtidário 60-4. Vertam-
bém Estado sem partidos
Estado sem partidos 61-2
tos 99-101; - vs. facção de poder 99·
100
Facchi, P. 137
96; 97; - e número de partidos 126;
- e sistema eleitoral 117-22; limite
de suficiência 123-25 ;- personalista
Goldwin, R.A. 240
Golombíewski, R. T. 135
golpes 27 8; 296; 304
governo: e partidos 40·1; 43 ; - e sistc·

...."'
facciosismo 94, 97; lapso do partido 1 02; - pragmática 100·1; tipologia
Estado unipartidário 60-4; 276-77; no 47; 129; motivações do 99-100 das 103. Ver também facção como ma partidário 346·4 7; - minoritário
292. Ver rambém p~do único; uni- Fa:en, R.R. 90 subunidade partidária 206; 217;225; 237-38;- responsável
partidário; unipanidarismo Faifüod, M. 76 Ira cionismo : e ali3Jlças entre partidos 39-41;- sensível 41 ·3. Ver tomb~m

...
Estados nos EUA 105 falácia da mudança de unidade 65; 71 ; 114; - e democracia intraparticlária governo de coalitio
Estados Unidos 214; 215; 218; 220; 106 129;- e minifrações 123; 126-27; - governo de coalizão:com comunistas
221 ; 302; 321; 328; 336; 372; - e fanatismo ideológico 100 e sistema partidário 112-15; - e sis· 166 ; - e adjacências 347; 400; - e

.
classiiicação unipartidá.ria errônea Famsworth, L.W. 136; 138 tema PR puro 122-24; - intra parti- clistância ideológica 1 29 ; - e cficiên·

Ja
··-
~10 PARTIDOS E S ISTEMAS PA RT!D.4RIOS s
iNDICE ANAL/ TI CO i 11 e;
;;i;t J48 ; fr"gm~ntação J o 33..+ ; - no Hotlgkin, T. 7 5; 294 ; }96 ; 29 7: 298
plur:ilismo moderado 207: - no plu· lfodgson. J.H . 23 6 inti.!giaç:io pvsiü·1:1 1s. nc:g:!ih-a 168
1
Kauflmaru1, R.E. ~98 ~
rJLismo polarizado 164. V.:1r ramóem Hoff~rb.;rt. R. i. J.6 7 inh:n ~i.J:ldi.; itl.!olóeku 151: 251 K.Jw::ib.rn1. T. IJó
) 1el<.!vâncí:1 governamental Ho!;in<.la 172; 173; l 7~; i76;177; 202: t1~t\.!n:sj1:;. f..iC ·.;Õt!;, de. ~·:tr facção:.õt!s) Keita . ~!. 278; 298 ~
) governo majoritário vt pn ncípi0 ~ 208; 2t0; 302 ; 321 : 334·5; 336; 343;
367
Je 1me .r<'Ssc
int<!ressc público 41! ; 39
KeUey, S. 24 2
Kelby, E.W. 137 e
••
maioria 38; 46-í
gov<.!mo militar imllre to·dual 265 ; 292; Holt, R.T. 351 irHrJp;:.11:1..iário : conili io 70 ; 7 l ; fr:ic io· Kclly, G .A. 241
) rjsmo 10 8·09
308 Hoo k, S. 59 Kendall, W. 108: 133: l3 4 ; 135
governo partiú:írio JO; 40· +: 45 Horowitz, D. 2:35 loncsc u, G. 66: 76; 268; 270 K~nya11a, J. 288

••
governo responsável e sensível 40·5 Horowitz, L. 271 lr~ ntla 137.202:222;226 ; 227;229: Keren~ki. A. 62
governo unipa.rtídúno 215; 216 Hotclling, H. 355; 365; 378 2-W:HJ Kern , R. i3 2
Gosnell, F.H. 75 Hudson. ~l.C. 253; 267 : 35 2 lria!lda do Norte 230 K~sscl, J.H. 399
Got twald, K. 304 Hum;:, O. 24;25; 27-9;36; 52·3;97; 99 lrí 219;122 ;223 Key, V.O., Jr. 49; 59: 95; 105 ; 106:

)
Gr:i-B.retanha. Ver Reino Unido
gradação, !ógicJ da 3 25
Graubard, S.R. 232; 235
Hungria 250:253;263
Huntington,S.P. 61;74;94:95;131;
257;268;269;273 : 296;300;302;
350
lri;h . .\!. D. 298
blânúfa 167;202:206;210 ; 212 ; 226;
238; 3 36; 343
br:i.el l'!2; 176·8i ; 208; 222;226; 343;
109-10; 128; 133-35; 242 : 362: 364 :
399
Kirch.heima.r, O. 163
Kirkp:it.rick, E.l\I. 240
••
••
Gr.a ziano, L. 132
Grécia 351 367; 3 72 Kingemann, H.D. 399
J Greenstein, f .I. 135 lc.ltaltypus 171 Itália 15ó ; J59; 160 ; 161·62; l6J; 172 ; Kornh:iuter. W. 55; 56
Groenning, S. l37 identificação partidária 359-63; 3 73 182; L83; 189; 192; 195·96; 2'.!2; Koth :ui, R. 244
)

••
Gross, F. 54 ideologia: como c:unu11agem 100; 101; 226:>28;334;335;336;339:343; Kupcr, L. 55
Gruncr, E. 234 - comocritério 151 ; - como variável 366-6 7; 371; JS2; frações dentro r.los
in termediária 3 18;- e doutrina 251· partidos 94; 105; 111· 15 ; l l 6; 126; Lldriêre, J. 23 9
grupos: de apoio 102; - de clientela
100, 132; - de idéias 99; - de pro- 52; - e estabilidade governamental 129; ir.cegraçào comunista 167-68; Landau, J. 236
,1

)
gramas 102; - de veto 102; - ideo-
lógicos vs. grupos de ideais 100; -
promocionais 100; - que buscam o
poder 82
34 7; - em Downs 355; 366; - e ne·
gociação pragmática 169; - esunnha
158; 374-75; 382; - e voto de posição
364; 374; irredutibilidade da 253; -
padrão de financiarmnto d os partidos
117· 1 8; sistema d.:i coral 116
lu.gosláYia 2.50; 253; 263; 264
Landé, C.H. 132
Landolfi. A. 136
Langdon, F.C. 136; 244
Laniel, J. 184
1
j
l
••
)
)
Guerra do Yom Kippur 181
Guiné 278; 280·1; 283; 287; 290: 293
Gwr, R.T. 233;235;350
nas formações políticas fluidas 276
ideologia do centro 160; 379
lêmen 61
Jacksora, R. J. 113
fa.nda, K. 39; 57; IH·5; 92; 103 ; 132:
154; 296
... fa.nos, AC. 271
LlPalombara, J.A. 56; 57; 92 ; 132;
135: 143 ; 232 ; 251 ;269; 270
Llponce, J.A. 399 ; 401
Lamv~U .H.D. 75;84;155
·!
)

l
i
1
••
••
Gürsel, C. 307 lke, N. 132
Gwvitch, G. 242 imagem. Ver par tido: imagem do Janowi tz, 1-.L 297; 298; 299 W.ver,-.M. 400 1
) imagem·posição 363; 374 Japão 136;!37;213;222;226 ; 229; ~
Gutman. E.E. 235 Laz:i.rsfeld, P.A. 155
G u tteridgc, W.F. 298 imag ística espacial 365; 366 243; 275; 328; 333 ; frações dentro Lee, Chac·Jin 136 l

••
imobilismo 160 dos p :u tidos l 05 ; 113-16; padrão de Lee, E.e. 134
Haas, ~[. 91 fudia 149; 203; 222; 223'; 226; 227 ; finan<:iamento dos partidos 116-18; Legg, K.R. 13 2
Halifax 32
Hancock , M.D. 237
229;239;243;253;333
índice de fraciona.rização (Rae} 334;
sistema clci lOral 116
Jeffers<>n . T . 3 3
legi timidade: crise de 158: - e deslegi-
timação 158; - e legitimação ideoló·
.l
Hea.rd, A- 133
Hegel, G. ]24
Heidenheimer, A.J. 136; 238
336-45
índice de fragmentação (flanagan}
337·38
J.::nni.ngs. M.K. 398
jogo de •-e tos 124; 129
Johnson, J.J. 296
Johnson, K.r. 271
gic:i. 252
Lciscrson, A. ! 34
Leiserson, M. 1.l 3; 13 7; 24 2
1
,1
••
••
Heisler, M.D. 238 índice de inconstância intrap:i.rtidá.ria
Hempel, C.G. 351 127 Johnston, S.D. 136; 235
Leites, N. 236
Lema.rchand, R. 132 ; 299
./
j
Henig, S. 234 índices de liberdade de imprensa 253 J ordàll.ia 61 Lembruch, G. 208; 238
Henessy, B. 90 índice de longevidade 127 Jupp,J . 154;239 ;241 ; 242 ;271 Lenin, V.!. 74; ll 9 j
Herman, V.~t 346·7; 348; 353
Hermens, F.A. 267
Hill. l<. 239
Hirschman, A.O. 49; 59: 77; 80 ; 90;
Indonésia 281
Inglaterra. Ver Reino Unido
lngleha.rt , R. 399
lnonu, !. 305
Kahan. M. 14 2
KaUberg, A.l. 35 l
Kant, E. :l24
Lerner, D. 155
Lcslic, S.C. 235
L~ssoto 287; 291
Levi , A. 232
1
j ••
••
)
l37;249;378
Hitler, A. 279-80; 304
Hobbes, T. 36; 52
instabilidade governamental 115; 332;
346·47
institucionalização 273; 293; 296
Kap lari, A. 75;84: 352
K.lrid,H.S. 57;77;9 1
Karpa t, K.H. 350
Levy, Y. 53
Lewis, A. 297
Leys, C. 298 l
••
K:m, D. 234 Ltbano 208 ·1

)
J
,,
) INDICE ANALfTICO -11 3
r
) 412 PARTIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS
r mob ilização 247; 277; 284-85 253;335; 336
., Liberalismo e partidos 3 3-4
Libéria 250; 252; 287; 292: 290; 293
Marx, K. 45; 284-85
Masumi, J. 113; 136; 137; 241; 244;
modelo espacial de competição .
Ver compet ição
Nova Zelândia 214; 215; 218; 336
Nousiancn , J. 236·37
.. Líbia 271; 279; 290
Liebenow, LC. 268
352
Matteuci, N. 58
Montesquieu, C. 25; 34; 51; 54
Montgomery , J.D. 137
número de partidos 144-45; - como
variável independente 315; - e tama·
Matthcws, D.R. 398
• Lieberman , B. 352 Moore, D. 269 nho dos partidos 334-35; 337; 345

.. limite d e domínio e predomínio 345


limites: de tamanho 145; medida
dos 345
Maur itânia 293; 291
maximização da votação. Ver votação
Mayer, H. 240
Moore, C.H. 268; 280; 297; 299;
300 ; 351
Morgemhau, R.S. 297
Nyerere, J. 76; 278; 283

Oakeshot, M. 39
• Lijphart, A. 208; 210; 231; 233; 234;
238;239;334;335 ;336; 353
Maycr, L.S. 398
Mayer, R. 184
Morlino, L. 216
Morris, C.T. 300
Odinga, O. 288
O'Donnel, G. 350
Linco ln, A. 215 McCJelland, M. 205; 236; 350 Morr is-Jo nes, W.H . 77; 244 oligarquia, lei férrea da 93
Lindblom, C.E. 56; 77 McCrone, D.J. 267 Morr ison, D.G. 298; 300 Olson, M. 77; i55; 398
Linden, C.A. 77 McDonald, N.A. 251; 268 Monara, V. 233 opin ião pública e partidos 49·5 0
Lindon, D. 400 McDonald, R.H. 236; 243; 296 Movia, G. 233 Oppenhcim, F. 59; 351
Linz, J. 58; J 91; 233; 236; 252; 268; McGovcrn, G. 362; 378 multidimensionalidade 366-69; 371; oposição: bilateral e unilateral 159;
269; 350 McKenzie, R.T. 241 372;373 207-08; - eqüitativa e desigual 165;
Lipset, S.M. 59; 132; 139; 175; 191; McKinney, J.C. 234 m ultifacciona.rismo 109 - de princ{pi<! 158; - irresponsável
237 ; 269; 296 McKown, R.E. 298 multifacciosismo 105; 108 154; - r esponsável 164; - semi-res-
ponsável 164
.. Lipson , L. 53; 75; 242
Lissak, M. 235
Littunen, Y. 234
McLean, E.B. 55
McRae, K.D. 239
mecânica do sistema partidário. Ver
multiúacionarismo 110
multipartidarismo: definição 151-
53; - e espaço ideológico 373; -
o rdenação consti tucional esquerda-di-
reita 368-69; 401
Lockard, D. 267 formato e m ultifracio narismo 11 O; - extre- ordenação econômica esquerda-
Locke, J. 34 mecânica e formato do bipartidar1smo. ma do 156·7 ; 314-15; 318 ; maximi- direita 368-69
Loewemberg, G. 235 Ver bipanidarismo zação do v~to no 378; - moderado Ordeshook , P.C. 398
lógica: da classificação 325-28; - da Meeter. D.A. 398 206-07; 314-15 ; 318; - n a África organização dimc:ruional 98
gradação 325 - do p rocesso 324 medida: de fragmentação governamen- 284; 287; - segmentado v.t polariza- Ostrogorski , M. 44; 58-9; 11 O; 299

.. - e dialética 324
Lombarda, A. 137
tal 329-34; - e ciência matemática
325;- e ciência qualitativa vs. ciên:
do 343; 373. Ver também pluralismo
partidário
Ozbudun, E. 352

.... l Lorwin, V. 208; 209; 238;


Lovink, J.A.A. 242
eia quantitativa 324-28; 350; - e
classificação 323-29; - e ordenação
Mundt, R.J. 232
Mussolini, B. 280; 304
pacotes poHticos e imagem partidá-
ria 360
.. Lowenstein, R .L. 269
Lowenthal, A.F. 296
nominal 346; - e pré-mensuração
32 5 Nassoer, G .A. 283
Paden, J.N. 297; 298
Padgett, L.V. 27 1
Luttbeg, N.R. 267 Meir, G.181 Needler, M.C. 271; 296 padrão do partid o solitário 108; 244
Luxemburgo 202; 206; 208; 210 ; 336 Meinecke, F. 297 Nelson, H. 290 Page, B.I. 399
Meisel, J . 241 Nenrti. P. 111 -12; 136 Paltiel, K.Z. 235
MacG1egor Burns, 1. 240; 351 Meissner, B. 269 Panamá 214
. Machiavelli, N. 25; 51; 95; 119; 122 Melson, R. 300
Menderes, A. 305
Nepal 61
Nen 1, J.P. 297 Paquistão 95; Í29; 253

.. Mackenzie, W.J.M. 138; 299


MacPherson, C.B. 5 3; 243; 299 Mcndes-Frnnce, P; 184
mercado econômico vs. mercado
Neurnann, F. 267
Neurnann , S. 49; 59; 64; 76; 270
Paraguai 221-22; 223
Parsons, T. 75-6 ; 210
parte: e partido 24-5; 29; 43; 48 ; 50;
MacRae, D. 236 New com b, T .M. 56
• Macridis, R.C. 154; 236 pol ítico 24 7-48 Nicllolas, R. W. 1 39 - imparcial 48
Madagascar (Malagaxe) 291 minifrações 126 Nicllolson,N.K.. 139 partidário nfo-ali:lhado 97-98
Madison, J. 32; 33 ; 36; 38 Merriam, C.E. 75 Nie, N.H. 399 partido: atomiz.ado 98; - como canal
Mahiou, A. 298 Merton, R.K . 5 63 · - como canal de voz 49; - com o
• Malawi 280; 287 ; 291; 293 México 149; 221; 222; 253; 261·63;
Níger 279; 283: 291; 293
Nigéria 278·9; 283; 286 ; 291 eq~ipe 357; - como maxi mizador d:1
votação 357; - como sistema 65 ; 94.
Mali 242; 278; 279; 280; 281 ; 283; 265; 302; 305; Nisb et, R.A. 55; 269
• 291 ; 293 Meynaud , J. 239; 35 1 Nisscn, P. 399 _ como tenno de objeto 26: conta -
manobras de posição 374 Meyrilt, J. 243 gem de 143-4 9; definição 85 ; 86;
Nixo n, R. 215
Mansfield, H.C. 51; 53; 57 Michels, R. 45; 58; 93 Nkn.lmah, K. 27 8~ 280; 281 357; definições de 81-6; 294-9~ '. de-
MiU, J.S. 38 mocracia e 93; J29; - democrauco
Marradi, A. 2 37; 353 No~dingler, E.A. 56; 239
Marrocos 277 ; 290 Miller, J.D.B. 240 Noruega 172 ; 175-76; 202-03; 204;
vs. aristocrá tico 41 ; - de representa·
Miller, W.E. 398; 399 ção 281 ; - de 101id3ricdade 281; -
Marvel, R.D. J 34 20 5·06; 222-23; 226; 227; 229; 237;
Marvick, D. 270 MWs.C.W. 77

. )
... )
.,. )
114 PARTIDOS é SISTCMAS "'ARTIOAPllOS fiVOfCE ANAL/ TtCO 11.:>
41

do c.:ntro 379. -JominJn c~ 2.!í -?.5;
- Jomm:i.nte-uu torittlrio 235; ~92 ;
- <lominanti::-n:Io-auto rit:úio 2 7-i;
: fum;fo ::.\pressiva 260; - na Polô-
nia 258-59; 236; - no :'vlé.xico 261-
ó3; patl.rio do 258;266
definição t.le 108
pluralismo partidário: rarionale do 3 9;
88. Ver rambém plur:ilismo; multi·
pré-mensurJÇ5o 3:!5
prêmio da maioria 122; i 1.+
Press, C. 134
••
)
285; 292; - e colonização 12~; - e
co n~1itucionali>mo 33·4, - e exprc:;·
;ão 48:49-50;313;-cmBolrngbroke
25; 26-7; 30; 36 . 87; - em Burke 30;
partido r.ão-domii1unte 286
putido pragmático 252; 265. Ver ram -
btm unip:utidarismo pragmático
prnidos e partido único 61
panid:uisrno
pluralismo p-0 lui:lado 15 1: l56.Q6;
170-99; 381-83; - e pluralismo mo·
àerado 20 7
Pres1hus, R. 57
Protluo, J.W. 398
Przeworski , A. 246; 26 7
Putnam, R.D. 233, 268
••
81; - cm G. W:islúngton 32; - em
Humc 27-9;- em Jefferson 33; - e
faccão 2.+;28;46;81;97;129; - e
pUt idos pró-sistemJ 348
putido ú mco: airicano 275 ; 283 ; - e
democr:icias 62; - e encadeamen-
pluralismo p oUtico 35; 287
piural.ismo segmentado 208-13; - e
pluraljsmo moderado 209
pluralismo u nipanidário 69-73; 26 l
Pr e,L.W. 56,137,271

Quenia 278 ; 280; 283; 286; 291 ••


••
fraÇõcs 97 ; 103; 110; 116; - e fun- to 64 . - e pa.rtidos 61; tipologia do questões de posição }61; 363-64
ção representativa 49 ; - e liberllis· 249-58; - vs. sistema p!lrtidirio 313 . pod~r, con.fi2:luração do 15 2 ques tões tipológicas 302; 315; 318 ''
mo 34; - e opinião pública 50; - e Ver 1ambém u nipa..rtid:í.rio ; ump:uti· poder. facçã<> de 99 questões de valência 36 1 .l
o lodo 34;47; 87; - c: o todo t>ll:ra - Jarismo poder de discriminação 326·27
u~t:i 47: -eí)a.rte 25; 29;43; 48; 50;
88; - .: políticos Jc c:meiro. 121 ; - e
tendências 97 ; - e:drcnw.io 332; fi·
m1nciamcn10 do 117; fragm~ntação
partido único rc voluclonário 329
p:i.rtido llS. facção. Ver facção; fração
Prnigli, S. 135; 139; 235
Pltterson; S.C. 134; 234
poder de veto e potencial de chanta·
gem 148
pclarizaçio 150; 161
poliarquia: democrática 71; - e auto·
Rae, D. 137, 334, 336-45; 347; 352;
353
Rahman, M. 229
Ranis, P. 350
••
')
do 144; 329; fosão e fissão do 115;
imagem do 360; 374; índices de fra.
cion:uizaç.lo do 340-41; 344; irrele·
vância do 147; lapso do - no faccio-
Pedersen, M. 234; 401
Peirce, R. 400
Pennock, J.R. 55
percepção de posição 363; 37 3
nomia do subsistema 68
polipart1darismo na África 286,87;289
política: compet itiva 165; desenvolvi·
Ranney, A. S9; 15; 91; 108; 133; 134;
135
recursos e estrutura de oportunidade
1
l ••
••
menta da 284; - do dar mais 165;
sismo 47; número e to.manho <!o 3 34 · percepção de questões 358 - ideológic:i 163; 250·55; 364; -
116· 19
regime milita.e 74 ; 27 9 ; 292 ; 296. Ver ·!i
45; racionalização do 45-50; razão de per ge11us et differe11tiam 325; 326 moderada 207; - pragmática 253; também golpes 1
ser do 86-9; relev:i.nci:i do 145; 148; Perin, F. 239 - pura ll9; 127; temperatura da regra e ex.ceções 318 1
330; 345 ; relevância go~·.miamental Perry, A. 353 1 62~3;- visível PS. invisível 119;


regras de contagem 145-49; 157; 380.
c!o 330-34 ; sociologia do 45; solidi· personalismo 95; 105 128; 169; 201 Ve1 rantbtm critét10 numérica; rele·
ficação do 43 ; tipos de 357. Vertam· Personen, P. 237 política imoderada 166 vância partidiria ·l
bém formação política; fom1ações pesquisa e classificação 325-27 polític1 moderada 207; 220 Reino Unido 214; 216; 218; 219; 302; !
! f
políticas lluidas; governo partidário;
multipartido.rismo; partido an ti-siste·
Pfoüfer, D.G. 267
Pickles, D. 236
política pragmát ica e votação por que.~-
tões 363-64
336; 36 7; 372; 379; - e forrnaç:io do
sistema partid:írio 43; - e governo
i
,J. ..
ma; partido de massa; pluralismo; po·
lipartida.rlsmo; sistema do partido de
Estado; sistema pa.rtídirio; uniparti·
da.rismo
Pinanl, M. 24 1
Piti, W. 42
P!amenatz, J. 5 3; 56
Ploss, S. 76
plural vs. pluralismo 35; 287
políticos e l>istema de carreira 120
pol(tica sulista l 04-11
Polônia 149; 258-6 1; 263; 264
porcentagem cumulativa, método da
partidário 30; - e governo respons:i·
vel 41 ·2
relegitima ção 168; - recíproc:i 169
relevância governamental, medida da
l

j
••
partido anti-sistema: defmição 157 ·59 ; 334-36 330-34
4 t
•t
- e distància idcológic:i 347; 382; - pluralidade. Ver sistema de posicionamento do centro 160; 161 ; reievância partidána 145 : 147; 219;

l
e partidorevoluc1onário 158; - e plu· pluralismo como conv\cção 34; 287; 379; 381. Ver também elasticidade 329-34
)
ralismo pola.rizado 157-60; - e rele· - com o Weltansrhatmng 34·5: - espacial Rémy, D. 242
gitimaçio 170; - e sobrevivencia do competifrio 287; - constitucional posicionamento partidário e comporta· representação e funções representativas
1istcma 166; 170 34; - cultwal 35; detini•;ão de 34·9; mento eleito ral 374 40·1 · 48-9
partido de massa 62; 276; 278; 279-81 - e associações múltiplas 38; - e po tencia l de coaliúio 196; 197; medi· Repúbiica Árabe Unida 250 _j f
partido de "pegar todos" 163
po.rtido do cenuo 156: 160; 186: 231 ;
papel na formulação de pol it ica;; do
160; percepção do 379
consenso 37; - ediferenciaç3o 35.Q;
- e dissensão 3ó; - .: modernização
3 4; - e pbralismo part1dirfo 34-5;
39; - e sociedade plural 35-ó; - es·
da do 330
po1encial de: governo 196 ; 330-J 1; 334
Powell, G.B. 76; 90; 238; 241
Powell, J.D. 132
República Centro Africana 279; 283;
290;293
repressão 80 ; 250; 254; 31 1; 313
Revolução Francesa 365-66
1
1
i
••
partido dominant.:: educa ao 222·H :
227; definição de 222 : países t..-oni
221-3 ; - v.t sis tema prcdommante
uutur:il 39; - na África 294; - ope·
racionalizado 38·9
plur:i lismo atomizado 313; 314-5
pragmatismo v1. ideologia 250-54
Prandstraller, G.P. 55
praticalism<> 100. Ver também pr:ig·
Rich:uds, P.G. 132
Richardson. B. M. L37
Richardson, J.M. 351 fl

221; 224;226:227;228
Partido do país: em Oo lingbroke 26;
J 3; - rui :.\u$trália 215
partido hcgemõnico: definição 25 8; -
pluralism o constitucional e partidos 35
pluralis mo ~xtremado l 50; i 56-7
p luralismo limitado 150; 202; 107
pluralismo moderado 151; 207-13;
matismo
Predien , A. 233
pred'isposições mecânicas 152-53; 180;
210; 346
Riggs,F.W. 77;84·5;9l ;92 ;35 1
Riker, W.H. 132
Robbins, C. 52
Robespierre, i\.1 . 31; 54
••
J ••
) t
~-
416 PAR TIDOS E SISTEMAS PARTIDÁRIOS

• (NO/CE ANAUT/CO 4 17

•••
Robinson, J.A. 134; 135 Seyed, P. 133
Robinson, K. 299 Sharkanski, 1. 267 estabiJidade governamental 34 7-48; Stiefbold, R.P. 239
\ - e índice de fracionarização 334-45;
Rodésia 278 Shils, E.A . 54; 75; 297 Stjernquist , N. 237
rodízio pcrmnco 164 Shubert, G. 59 - e núm ero de frações 126; es!I utun Stokes, D. 24 1 ;354; 355;358-61; 363;
Rokeach, M. 399 Sidjanski, D. 400 geral do 316· 17; função canalizadora 373;398:399:400;401
do 79; - ideológico 163; - inte- Suazilândia 291


Rokbn, S. 56;57; 175: 191; 231; 234; Sigmund, P.E. 297: 298
' 237;243;296;399;400 Sindler, A.P. 134 grad<> 3 75; modelo simplificado de subunidades partidárias. Ver correntes;

•••
Romênia 250; 253 Singer, J.S. 57; 300 321 ; modificação e descontinuidade facções; frações; tendências
Roosevelt, F.D. 215 sistema: definição de 65; - de intera- 301-13;- no sistema político 4 3-4; Sudão 278;279 ;283; 290
Rosbexg, C.J. 75; 238; 2 75; 298; 299; ções 65; mudança de 302-03 plural 286-87; tipologia 151 ; 312; Suécia 202; 203 ; 204; 205; 206; 222;
300 sistema bipartidário 213-21; definição 315; 321; - vs. partido-com<Histema 225;226;229;302;336;367;380
Rose, R. 56;57;95; 96-7 ; 131; 132; de 216-17: - e alternação 214-15: 65: - vs. partido único 313 ;- vs. sis- sufrágio: e canalização 62-3; - e estru-
1 54~·234·235·237· 241·24?·244 221 ; - e competição ccnuípeta 377; tema do partido de Estado 310-11. turação do sistema partid:írio 4 5; - e

..•
Ross. J.• 24 3' ' ' ' -. - e governo isolado 216 Ver 1.ambém partido; sistema do par- transformação partidária 42
Roth, G. 232-3 sistema bipolar 156; 207; 232; 315; tido de Estado Suíça 172 ; 176 ; 177;202;208;210;

..
1
Rousse<1u. J.J. 31; 34 380 sistema partidário ideológico 162-63; 253; 321;334;336;343;352;367
Ruanda 279 ; 291;292;293 sistema d e carreiras e votação 120 251 Swaan, A. de 155; 238; 400
Rudolph, L.l. e~. 56 sistema de partido predomina nte 205; sistema político 79; 94; 311. Ver tom.
Rusk,J.C. 2 34;401 221-30; 314; 345; definição de 225;· bém formações políticas Talmon,J.L. 34;53;55
sistemas proporcionais (PR) 122~23;

~
Rússia. Ver União Soviética - e competitividade 322; - e frag- tamanho: e princípio majoritário 345;

.. Rustow, D.A. 55; 350

Sabine, G.H. 53
Saint-Just 3 1
Salaz31 1 A.O. 264
mentação 149; 228; - vs. partido do-
minante 224; 226; 228; - vs. unipar-
tidarismo l 06· 7; 11 O
sistema de pluralidade 122;214-15;
37S
- e número de frações 122
sistemas quase-partidários 285
sistema unipartidário, critica ao 64·5;
68-9; 150·51
sistema unipolaI 315
- e relevância 147; 329; limites do
345; medida do 334-45
T anzânia 76; 106; 278; 280; 283; 286;
29 1; 292;293;295
Tarrow, S. 132 ; 136; 138; 231

... Sani, C. 232; 233; 367; 400


Sarlvik, íl. 237; 400
Sartori, G. 54 ; S6; 51; 58; 90; 91; 131;
sistema de um representan te por distri-
to. Ver sistema de pluralidade
sistema distrib utivo , proporcional e per
situação subcompetitiva 246. Ver 1am-
b ém competitividade
Sivini, G. 58
taxonomia. Ver classificação; tipologia
Taylor, C.L. 253 ; 267; 343; 346·7;
348;352

•• 132;135;137;138;231;233;237;
268;269;297;300;351;352
Scal.apino, R.A. 113; 136 ; 137; 241;
capita 124-25
sistema do partido de Estado 64-9; - e
aparelhos 66; - e autonomia do sub-
Sklar, R.L. 299
Sjêibl<>m, G. 144; 402
Smelser, N.J. 91
Taylor, M. 352; 353
Taylor, P.B. 271
Tcheco-Eslováquia 250; 253; 263; 304

•..
244;351 sistema 67; - e canalização 79; - Smith, M.G. 55 tendência 97
Scanow, H.A. 24 1 como sistema de unitarismo 66; tipo- Smith ies, A. 3 55, 365 t eoria da organização 94
Schapiro, L. 74; 269 logia do 255; - vs. sistema partidário Smoker, P. 399 testemu nho: grupo de 100; partido de
Schattschneider, E.E. 59; 81; 90; 242

..
311 Snyder, F.C. 298 357
Schelling 324 sistema eleitoral ; e as leis de Duverger sociedade: celular 276; - diferenciada T eu ne, H. 91; 351
Schlesingex, J.A. 92; 107; 133 ; 134; 118; 122;- e pol(ticos de carreira 209-10; - plural 35; - pluralista 38; Te xtor , A . 213
135 120; impacto intrapanidário do 118; - politizada 63; 74; 282; - segmen- Thayer, N.B. 136

.•
Schumpeter, J .A. 72; 77; 81 121-23; - ru Itália e no Japão 11 6-17 tada. 208-09 TI1omas, A.H. 23 4
Schwartz, M.A. 240; 241 sistema multipo lar 159-óO sociologia: da ditadura 258;- da polí· Thornburn, H.G. 241
Schwartz, W. 299 s istemas não-competitivos: de partido tica 209; 321; - dos partidos 45 Tipo polar vs. empírico 171. Vertam-
Scott. J.C. 132; 299 hegemõnico 258-ó6; - de partido úni- Soja. E. 297; 298 bém formato

... Scott, R.E. 271 co 24 9-58 Somália 279; 283; 291 t ipologia: das forma ções partidárias
segmentação 150; 209; 318; 373 s istema(s) partidário(s}: atomizado Soraiif, F.J. 59 3 12 ; - de partidarismo 28·9; - de
seita vs. partido 24 149; 313-14; atrofia do 110; classifi- Spiro , H.J. 284 ; 297 sistemas partidários 314; - de subu·
Seliger, M. 235 cação do 149-52; 274; 323-29; - co· Sprag ue , J. 246; 267 nid ades partidárias 103; - e classifi.
Sellers, C. 240 mo sistema aberto 68; - como siste- Sprea.fico , A. 138 cação 149; - e estrutura da realida de


Selznick, P. 277 ma de int eração 65; - com petitivo Stae l, Madame de 33 329; - e explicação 319; 320; - e
semicompetição 286 109-1O;248; configuração esuutura l Stalin. J. 256; 303 índices de fracionariz.ação 344; - e
semipoluização 176; 191 do 315; 3 21 ; - congelado 176; con- Stciner, J. 234; 238 mapeamento 3 J 9; objetivo da 318·
Senegal 280;291;293 IÍnuo de 30!;302;304;3ll;defini- Stein er, K. 238; 241 20
~ Sernini, M. 136 ção de S l; 67; - e canalização políti- Stepa n, A. 236 Tito, Marechal 263
Tocquevillc ,A. d e 38; 41 ; 44;58 ; 95

t
Serra Leoa 279; '.!91 Cd 63;-ccüvagcns 343;367;-c Stephenson, R.M. 232
Stem,A.J. 135; 136;138 todo e parte 4 7; 60-1; 87·8
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Tordo tf, IV. 198 Vietnã cto s..1 95 Z~ire ffongo Kimi1:i::.al 283: _28S: 291) Zu lberg. A. 297: 1%: 299
tolnlit:.Hisrno 254; - e p:1rtido úni;;o Vol t:iire, F. 23; 51 Zak.rzcwski, \li. '.!59 Zuckcrman, .'\. LJS
to t:1lít.iiio 250-6 Voltwa, S. l 35 Z.1mbia 2S7; '.!:Jl: '.!93
Totten ,G.D. 134
rou1é . s. 278: 281; 283
Yo!:iç:io: dist<incu mínima :ia J70; - e
di.r~ç:io <.la c;iusatidadc J 6 3; - clci'lo· . - ~

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uJnsição continua 303 r:ú vs. decisóri.J l 20; - .: poii~ion:i· J..
ttat:imentos tipológicos ~rrõaco.s 275 mcnto parti:tirio 374; escolha e rno-
Tnsk.1, J.F. 76 ::vação d.:: 359; 370; maximiz3çfo da {f./H/98.
Tnama n, D. 56 378; - :'lt!gativa 359; - nos E>tat!os
,
....
Tucker, R.C. 76 Unidos 360-6-1; 378; pomo de defec-
Tuck.!r. W.P. 271 çfo rui 364. Ver ra:nbém vo1:1ção por
Tu!10.:k. G. 39S questões; identíficaç~o partidáii3; vo·
Tuní~ia 250; 277; 283; '291; 308
r. .
tação personalista; voto d;i posição;
Turner,J.E. 351 vo to óe programa
Tucquia 222; 226; 228; 253; 302; votaç:io personalista 364
JOS-08 votaçi!o por que~tõ<:s 358-60; 362·63

••
vo to de posição 363-64; 3 74
Uganda 278; 283; 29 ! voto de programa J6 2; 364
lJl:im, A.ti. 171 voto, trausferab üidade de 3 ?4
unanimidade: e consenso 36-7; - edis- voz e função de voz 49; 80; 249
co rd :i nci:i 61
União !:iovi.!:ica 246-4 7; 250; 253;
255-56;276;303;369
unidtm<mionalidade: e imagís:ica espa·
Wah lkc. J.C. 234
Wallerstein, I. 280; 298 ••
,.•,
Ward , R.E. 137; 236; 244

../..,.
eia ! csqucrdl-direita 366; 369; - cm Washington, G. 32; 33; 36; 54
Downs 356; enq!ladr:imento na 370· Webo, L.C. 240
73; evidências de 366~7; - V$. mul- Weber , M. 45; 55; 58; 64; 7 5; 171
tid1m cnsion:ili<lade 367; 370-71; 372 Wciker, W.f'. 350
uniprutiuá.rio(a). Ver democrnc ia: Estu· Wcil, S. 58 (
tlo; governo; plural ismo; sistema. Ver

..
W~ill, P. 400
rambém p1utido único; unipu.rtida- Weimar,R epúhlicade 157; 159; 161: (
r ismo 172; 182; 192-93;20 1
unipo.r t id:irismo, umbig uidacle <lo 7tl;
Weiner, M. 56 ; 57;92; 132; l35; 143;
77 ; 248
232;244;251;~69;270
unipa.r tid:irismo autor!tário 250; 25 4;
W~ing:od, A. 132

....
25 5-Só \Velfling, M.B. 300
urup.ini<h rismo pragmático 250-53;
Whitaker, C.S. 299
fJD
254; lSS
untpartidarismo 1otalitáno 250; '.!54- White,G. 241 ~
Whyte, J.H. 243
55 ; 2?7; 314
Unk~lba~h, li. 402
Wildavsky, A.B. 231
Wiatr, J. 77 ; 25&;259; 270
llrt18UUÍ 131; 2 14; 216; 219; 222; '.!26;
.,.,9. 139 Williams, M.F. 135; 138
U~~~.-D.W. 92; l 54; 235; 237; '.!38; Williams, O.P. 134
1• •
296 Williams, P.M. 236
Williams, R. 9 l
Valen, H. 234; 401 Wi~.:man, H.V. 232 'IC
Vol.:nzucla, A. 236 Wolf, E. 131 :~

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