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Boletim SBMET março/05

EDITORIAL

Um dos compromissos da Diretoria Executiva da SBMET da gestão de 2005-2006, empossada em 12 de


novembro de 2004, é oferecer uma publicação renovada do Boletim da SBMET, voltada aos interesses dos
profissionais da área de meteorologia e afim. Assim, contamos com a colaboração de todos na implementação
dessa nova filosofia de trabalho, e solicitamos o envio de suas contribuições (artigos, matérias, notícias, sugestões,
etc). Também, a cada número, a seção Normas e Legislação, sob a responsabilidade de Alfredo Silveira da Silva,
Diretor Profissional da SBMET e Conselheiro do CREA-RJ, trará um tema de interesse da profissão.

Nesse número do Boletim destacamos alguns dos eventos meteorológicos significativos ocorridos em
2004-2005, os quais tiveram ampla divulgação na mídia. Um dos eventos com grande repercussão nacional e
internacional foi o “Catarina”, um sistema de baixa pressão com características atípicas que atingiu o litoral de
Santa Catarina e do Rio Grande do Sul no final de março de 2004. Os artigos do Serviço Meteorológico Marinho
e da EPAGRI/CIRAM apresentam seus planos de ação visando criar sistemas de alerta de forma a mitigar perdas
de vidas e materiais em situações adversas. Nos artigos de Teresinha Xavier e José Ivaldo Brito, respectivamente,
são apresentados os aspectos meteorológicos associados às chuvas intensas ocorridas no Ceará e na Paraíba em
2004. Por fim, o artigo de Ernani Nascimento e Isabela Marcelino trata sobre os danos causados pelos tornados
ocorridos em Criciúma/SC em 03/01/2005 e o ambiente atmosférico associado, sendo este um evento com a
melhor documentação visual para essa região disponível até o momento.

Para o Dia Meteorológico Mundial, a ser celebrado em 23 de março de 2005, a Organização Meteorológica
Mundial (OMM) escolheu o tema “O TEMPO, O CLIMA, A ÁGUA E O DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL”, cuja mensagem do Sr. M. Jarraud, Secretário Geral da OMM, você pode ler nesse número.

É com orgulho que constatamos que a Meteorologia brasileira está atingindo a maturidade e se destacando
cada vez mais nos mercados nacional e internacional. O Curso de Meteorologia da Universidade Federal do Pará
(UFPA) completa 30 anos este mês, enquanto o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos, do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC/INPE) completou 10 anos e a empresa privada SOMAR Meteorologia/
Southern Marine Weather, 10 anos. Essas instituições têm mostrado um bom planejamento, com objetivos claros
e metas bem definidas, além de muita garra. Confiram nas matérias de cada uma delas o longo percurso para
chegarem onde estão. Nossos parabéns à todas!!

Confira na Agenda de Eventos a programação para o ano todo.

Boa leitura!

Marley Cavalcante de Lima Moscati


Editora Responsável

1
Boletim SBMET março/05
SUMÁRIO

Boletim da Sociedade Brasileira de Meteorologia


vol. 28, 2004 / vol. 29, nº 1, março 2005

Editorial ................................................................................................................... 1
Marley Cavalcante de Lima Moscati

Mensagem da Presidente da SBMET .................................................................................. 3


Maria Gertrudes Alvarez Justi da Silva

O fenômeno “Catarina” sob o ponto de vista do Serviço Meteorológico Marinho ............................. 5


Flávia Rodrigues Pinheiro, Antônio Cláudio M. Vieira, Alberto Pedrassani Costa Neves

CATARINA: o monitoramento do fenômeno pelos meteorologistas da EPAGRI/CIRAM ........................11


Maria Laura Rodrigues, Daniel Calearo, Gilsânia Araujo, Marcelo Moraes, Clóvis Correa,
Maurici Monteiro, Marcelo Martins, Hugo José Braga

Chuvas intensas em janeiro/fevereiro de 2004 no Ceará e a previsão em anos de


neutralidade no Pacífico ................................................................................................17
Teresinha de Maria Bezerra Sampaio Xavier

Chuvas no Estado da Paraíba em 2004 ................................................................................27


José Ivaldo Barbosa de Brito e Célia Campos Braga

Análise preliminar dos tornados de 3 de janeiro de 2005 em Criciúma/SC .....................................33


Ernani de Lima Nascimento e Isabela Pena Viana de Oliveira Marcelino

Mensagem da OMM para o Dia Meteorológico Mundial em 2005:


O tempo, o Clima, a água e o desenvolvimento sustentável .....................................................45
Tradução de Dimitrie Nechet

30 anos de ensino superior em Meteorologia na Amazônia ......................................................49


Dimitrie Nechet e João Batista Miranda Ribeiro

CPTEC comemorou 10 anos com semana de eventos . .............................................................54


Paulo Escada

Uma década de previsão de tempo ...................................................................................56


Pryscilla Paiva

Normas e Legislação: Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) ...................................................................58


Alfredo Silveira da Silva

Agenda de Eventos...................................................................................................................................................60

Expediente da SBMET ..............................................................................................................................................63

Lista de Anunciantes ...............................................................................................................................................64

Política Editorial do BSBMET .................................................................................................................................65

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Boletim SBMET março/05
MENSAGEM

Durante o seu XIII Congresso Brasileiro de Meteorologia, realizado em Fortaleza, a Sociedade Brasileira de Meteorologia
elegeu uma nova Diretoria Executiva comprometida com a valorização da SBMET e popularização da Meteorologia. Esta
Diretoria pretende nortear a sua atuação focalizando três grandes temas, detalhados a seguir.

1 - A Meteorologia, suas Potencialidades e Aplicações

É um dever de consciência e de cidadania dos Meteorologistas divulgar para o grande público os potenciais benefícios
da Meteorologia e suas aplicações e o elevado nível profissional que alcançamos no Brasil. Os eventos meteorológicos
e climáticos afetam diretamente a segurança física e patrimonial da sociedade e a economia. A sociedade precisa saber
como a Meteorologia e os meteorologistas podem contribuir.

As ações programadas para este tema são: a presença nos meios de comunicação, com artigos em revistas de divulgação
científica e entrevistas por ocasião de eventos notórios; seminários públicos para discussão de eventos severos; simpósios
temáticos alternando com os Congressos (clima, mesoescala, etc), com avaliações dos benefícios para a sociedade;
criação de um portal na internet voltado para o público, com informações úteis e “links” para os sites de previsão
e serviços especializados, glossário de termos, explicações simples em linguagem leiga sobre fenômenos e estatísticas
climatológicas; estimular encontros de estudantes, apoiando-os na busca de recursos e na organização.

2 - Valorização Profissional:

A contínua atualização é indispensável para o adequado exercício profissional. A estrutura formal de ensino não chega ao
profissional com a desejável presteza, além de ser ausente em outros temas, como empreendedorismo, criação de negócios,
liderança, organização e finanças, aos quais o profissional não tem fácil acesso.

Neste tema as ações programadas são: promover cursos e oficinas de trabalho para aperfeiçoamento, treinamento e
diversificação de conhecimentos, em colaboração com instituições de ensino; profissionalizar a infra-estrutura da SBMET
(secretaria e finanças); incentivar e apoiar a criação de novos Núcleos Regionais, para descentralizar as ações e aproximar
a SBMET dos sócios; manter a regularidade das publicações da SBMET; estimular a participação dos sócios mais jovens
na direção da SBMET (“escola de dirigentes”) e buscar novas modalidades de captação de recursos.

3 - Presença na Política Nacional:

Decisões governamentais no nosso campo profissional são tomadas seguidamente e permanentes conflitos institucionais
persistem, governo após governo, afetando de muitas maneiras o exercício da Meteorologia. A SBMET é a única entidade
que pode levar aos fóruns de nível nacional a visão independente dos profissionais da área.

As ações aqui programadas são: participar das discussões sobre o Sistema Nacional de Meteorologia e a Política Nacional
de Meteorologia; participar do processo da Reforma Universitária e da reforma e adequação curricular dos cursos
existentes; aumentar a relação com outras entidades no Brasil e no exterior, tais como a AMS, a ABRH, a SBPC, além das
instituições que atuam na Meteorologia.

Esta Diretoria conta com todos os sócios da SBMET para a consecução destas ações.

Maria Gertrudes Alvarez Justi da Silva


Presidente da SBMET .

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Boletim SBMET março/05
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Boletim SBMET março/05

O FENÔMENO “CATARINA” SOB O PONTO DE VISTA


DO SERVIÇO METEOROLÓGICO MARINHO

Flavia Rodrigues Pinheiro, Antonio Claudio M. Vieira e Alberto Pedrassani Costa Neves
Centro de Hidrografia da Marinha - Serviço Meteorológico Marinho
Rua Barão de Jaceguai, S/Nº, Ponta da Armação - Niterói – RJ - 24.048-900
tel: + 21 2613 8027, fax: + 21 2620 8861, http://www.dhn.mar.mil.br/met
E-mails: flavia@smm.mil.br, claudio@smm.mil.br, cneves@smm.mil.br

RESUMO

Em março de 2004, um sistema meteorológico diferenciado afetou o litoral dos estados do RS e


de SC. Denominado “Catarina”, tratava-se de um sistema de baixa pressão com desenvolvimento
atípico e deslocamento para oeste. Foi inicialmente classificado como ciclone extra-tropical com
características tropicais sendo, posteriormente, designado como furacão pelo Serviço Meteorológico
Marinho (SMM) brasileiro. À época do evento, o National Hurricane Center (Centro Nacional de
Furacões), dos EUA, forneceu produtos do modelo numérico de alta resolução do Geophysical Fluid
Dynamics Laboratory (GFDL), o Hurricane Forecast Model (Modelo de Previsão de Furacões),
em apoio ao SMM, o que contribuiu para que se emitissem avisos de vento forte, mar grosso e de
ressaca, alertando as áreas costeiras e oceânica da Região Sul.
Palavras-chave: furacão, ciclones, previsão do tempo.

ABSTRACT

In March, 2004, a differentiated meteorological system affected the coasts of Rio Grande do Sul
and Santa Catarina States. Denominated “Catarina”, it was a low pressure system, with a non-
typical development, which then moved westwards. It was initially classified as an extra-tropical
cyclone with tropical characteristics being, afterwards, designated hurricane by the Brazilian Marine
Meteorological Service (MMS). At the time of the event, the National Hurricane Center (USA)
provided some products from the high resolution numerical model of the Geophysical Fluid Dynamics
Laboratory (GFDL), the Hurricane Forecast Model, in support to the MMS, which contributed to the
emission of gale winds, rough seas and high surf warnings, alerting the coastal and oceanic areas of
the South Region.
Key words: hurricane, cyclones, weather forecasting.

1. INTRODUÇÃO posteriormente, designado como furacão pelo Serviço


Meteorológico Marinho brasileiro (SMM).
No final de março de 2004, um sistema meteorológico
inédito e de grande intensidade movimentou a O SMM, operado pelo Centro de Hidrografia da
comunidade meteorológica, a população e os meios de Marinha (CHM), é decorrente do Decreto nº 70.092, de
comunicação nacionais de forma geral, causando, por 02 de fevereiro de 1972, que atribui à Marinha do Brasil
fim, vítimas e muitos danos no litoral dos estados do a supervisão, orientação, pesquisa e desenvolvimento
Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Denominado das atividades concernentes à meteorologia marítima
“Catarina”, foi inicialmente classificado como ciclone no Brasil. Para tal, produz e divulga previsões
extra-tropical, com características tropicais sendo, meteorológicas e oceanográficas e avisos de mau

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Boletim SBMET março/05

tempo para a área marítima designada METAREA que a originou, permanecendo quase-estacionária ou
V, limitada pelos paralelos 7ºN e 35º50’S e pelo tomando orientação para o sentido leste.
meridiano 20ºW, a fim de atender aos compromissos
assumidos pelo país como integrante da Convenção A certeza para a emissão dos avisos (afinal não
Internacional para a Salvaguarda da Vida Humana no se deseja emitir alarmes falsos) veio por volta das
Mar – SOLAS, Decreto nº 92.610 de 1986. Apesar 13h do mesmo dia, após contato feito pelo National
das dificuldades e obstáculos presentes em tempos Hurricane Center (Centro Nacional de Furacões),
de escassez orçamentária, a Marinha tem cumprido dos EUA, com a Divisão de Previsões Ambientais,
de forma eficiente sua responsabilidade de zelar pela elemento organizacional do CHM responsável pela
segurança e salvaguarda da vida humana e de bens em emissão dos produtos e serviços do SMM. Os norte-
sua área marítima de responsabilidade. americanos desejavam saber se o fenômeno já havia
sido classificado como furacão.
2. DESCRIÇÃO DO EVENTO
Foram emitidos avisos de vento forte (forças 7/9
Na manhã de 26 de março de 2004, sexta-feira, os na escala Beaufort, com rajadas); mar grosso (ondas
previsores do SMM se preocuparam sobremaneira significativas de 2,5 m - 3,0 m); e de ressaca (ondas de
com a configuração e as proporções que o sistema, que 2,5m - 3,0m junto à costa), tanto na própria sexta-feira,
vinha sendo monitorado desde quarta-feira, começava dia 26, quanto no sábado, dia 27, alertando as áreas
a tomar (Figura 1). Mesmo sem informações suficientes costeira e oceânica da região Sul. Esses avisos foram
que confirmassem sua intensidade, foram emitidos repassados para as Delegacias e Agências da rede de
avisos de vento forte e de mar grosso para a costa Capitanias da Marinha dentro da área de interesse, além
da região Sul. Um indício de que se tratava de um do SALVAMAR SUL, responsável pela vigilância e
sistema diferenciado, foi o fato de um centro de baixa salvamento das pessoas em perigo no mar. Cidades
pressão, com desenvolvimento nada tradicional, ter como Rio Grande, Itajaí, Laguna e Florianópolis já
iniciado seu deslocamento para oeste. Foi um evento estavam cientes na tarde de sexta-feira do potencial de
atípico, já que uma baixa desprendida no Atlântico perigo a que estariam sujeitas na madrugada de sábado
Sul costuma acompanhar o movimento da oclusão para domingo.

(a) (b)

Figura 1: Imagem de satélite do GOES (a) e carta sinótica confeccionada pelo CHM (b) para o dia 26/03/04 as 12Z.

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Boletim SBMET março/05

A partir daí, os norte-americanos começaram o O modelo utilizado pelo CHM, o HRM - High-
fornecimento de produtos do modelo numérico resolution Regional Model, do Serviço Meteorológico
de alta resolução do Geophysical Fluid Dynamics Alemão (DWD), utiliza condições iniciais e de contorno
Laboratory (GFDL), o Hurricane Forecast Model do modelo global alemão (GME). Está capacitado a
(Modelo de Previsão de Furacões), preparado e rodado prognosticar variáveis como pressão à superfície,
especialmente para prever fenômenos dessa natureza. temperatura, água precipitável, componentes do vento
Também forneceram informações de intensidade horizontal e também pode diagnosticar velocidade
do vento extraída do satélite Quikscat sobre a área vertical, geopotencial e cobertura de nuvens. Embora
oceânica de interesse. Imediatamente, iniciou-se tenha previsto a intensificação e movimento do sistema
uma troca de informações entre o SMM e os demais para oeste, não conseguiu prever a real intensidade e
órgãos responsáveis pelas atividades operacionais deslocamento do ciclone. Fatores como a escassez
de meteorologia no Brasil, quais sejam, o Instituto de dados observacionais no Atlântico Sul, bem como
Nacional de Meteorologia (INMET) e o Departamento a falta de um esquema de bogusing, impedem uma
de Controle do Espaço Aéreo (DECEA), que passaram correta assimilação e conseqüente representação de
a tomar as medidas cabíveis dentro de suas áreas de distúrbios semelhantes ao “Catarina”.
atuação.
As Figuras 2 e 3 mostram as rodadas do dia 26 as
O modelo do GFDL utiliza um sistema de grade móvel 18Z e 27 as 12Z do modelo do GFDL (campos de
multiplamente aninhada, que possibilita detalhar a vento em 950 hPa e pressão à superfície). Na escala
estrutura interior dos ciclones tropicais. Suas condições de cores desse campo, o azul escuro corresponde a
iniciais e de contorno são provenientes da análise global ventos de 35 a 64 nós (tempestade tropical) e o verde
do NCEP e também são utilizadas as análises do NHC indica ventos acima de 64 nós, classificando o sistema
referentes a furacões. É empregado um método que como furacão categoria 1. Apesar da especificidade
gera um vórtice real para representar uma circulação de do modelo em representar fenômenos dessa natureza,
escala compatível à dos furacões. Tais características, este também encontrou dificuldades em sua primeira
dentre outras, permitem a este modelo representar rodada, visto que indicou um deslocamento do
melhor os ciclones, simulando, assim, a tempestade de sistema para Sudoeste, prognosticando que o ciclone
núcleo quente no Atlântico Sul. atingiria, principalmente, o sul do estado do RS.
rodada do dia 27, o modelo foi capaz de se ajustar
melhor, representando um deslocamento muito
próximo da realidade, ou seja, landfall na divisa entre
os estados do RS e SC.

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27 00 Z 27 12 Z 28 00 Z

28 12 Z 29 00 Z 29 12 Z

Figura 2: Rodada em 26/03/04 as 18Z do modelo de alta resolução do GFDL.

28 00 Z 28 12 Z 29 00 Z

Figura 3: Rodada em 27/03/04 as 12Z do modelo de alta resolução do GFDL.

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Boletim SBMET março/05

A Figura 4 representa o campo de vento em 250 hPa pelo satélite Quikscat (não apresentada), apresentou
gerado pelo CHM, a partir do modelo GME/DWD, valores inferiores a 20 nós no cisalhamento médio dos
para o dia 27/03/04 as 00Z. Esse modelo não foi capaz ventos entre os níveis de 850 hPa e 200 hPa, na região
de configurar adequadamente o ciclone em sua real de ocorrência do ciclone. Essa é uma das condições
intensidade. Porém, indicou um padrão atípico no favoráveis à formação dos furacões. Adicionalmente,
escoamento do vento em altos níveis, fechando dois imagens de satélite (não mostradas) com dados de
centros com circulação contrária, próximo à latitude temperatura da superfície do mar (TSM), provenientes do
de 30ºS. satélite TRMM (Tropical Rainfall Measuring Mission)
obtidas pelo radiômetro TMI (TRMM Microwave
Imager), apontaram valores superiores a 27ºC na região
do evento, o que se constitui em outra condição propícia
ao desenvolvimento desse fenômeno.

Figura 4: Campo de vento em 250 hPa gerado pelo


CHM a partir do modelo GME em 27/03/04 as 00Z.

A Figura 5 mostra a previsão de 24 hs do campo de


pressão à superfície do modelo regional HRM, para
28/03/04, 00Z, cuja baixa tem pressão central da ordem Figura 5: Campo de pressão à superfície gerado pelo
de 1012 hPa, enquanto o modelo do GFDL indicava CHM a partir do modelo HRM em 28/03/04 as 00Z.
987 hPa.

Os produtos numéricos fornecidos pelo NHC O evento ocorrido pode ser tratado como um
apontavam o fenômeno como um furacão de Categoria sistema de características híbridas, formado por
1. O “Catarina” tinha várias características atribuídas processos baroclínicos, com uma transição tropical.
a furacões, como por exemplo, a ausência de nuvens O comportamento e o desenvolvimento do sistema
no centro, caracterizando um olho. Esta ausência revelaram indícios importantes de que se tratava de um
de nebulosidade, provavelmente, foi originada furacão. Ainda que a velocidade dos ventos estimados
pela combinação de uma centrifugação de massa pelo satélite não tenha atingido o valor conceitual
dinamicamente forçada em direção à parede de nuvens, mínimo de 64 nós para classificar o fenômeno como um
e uma subsidência associada à convecção úmida da furacão, tal designação não deveria ser desconsiderada, já
parede. Além disso, uma estimativa dos ventos feita que não dispomos de registros e observações in situ, que

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Boletim SBMET março/05

poderiam, eventualmente, indicar valores maiores que Os usuários, tanto da comunidade marítima quanto
os estimados pelo satélite. Ademais, o satélite Quikscat da sociedade civil de uma forma geral, têm a seu dispor
tende a subestimar os valores do vento em regiões de na Internet, no endereço http://www.dhn.mar.mil.
forte precipitação, como é o caso do evento em questão. br/met, diversas informações produzidas diariamente
pelo SMM, tais como boletins meteorológicos, cartas
Em novembro de 2001, o furacão Olga se formou sinóticas do mês, avisos de mau tempo e produtos
no Atlântico Norte com características similares às do numéricos da nossa área marítima e também da
“Catarina”. Uma baixa extratropical desprendida de península Antártica.
um sistema frontal, transformou-se em uma tempestade
subtropical e, em seguida, foi designada ciclone
subtropical, devido às suas características híbridas. 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Também se deslocou para oeste, e seus ventos máximos,
pressão mínima e altura das ondas se assemelhava muito B E N D E R , M . A . ; G I N I S , I . ; M A R C H O K , T.
aos observados no “Catarina”. Por fim, foi designado P.;TULEYA,R.E. Changes to the GFDL hurricane
como furacão pelo NHC. forecast system for 2001 including Implementation
of the GFDL/URI hurricane-ocean coupled model.
Geophysical Fluid Dynamics Laboratory, New Jersey,
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS 2001.

Diferentemente da generalização divulgada pela CARLSON,T.N. Mid-Latitude Weather Systems.


mídia, em nenhum momento os previsores do SMM Routledge. 507p. 1991.
tiveram dúvidas quanto à importância e à intensidade
do fenômeno, haja vista os alertas emitidos com a GFDL-NOAA. Weather and Atmospheric Dynamics:
devida antecedência. Entretanto, foi preciso contar hurricane modeling. Geophysical Fluid Dynamics
com o apoio do pessoal do Centro de Furacões dos Laboratory. Disponível em: < http://www.gfdl.noaa.
EUA, que detêm um conhecimento muito mais amplo gov/research/weather/hurricane.html> Acesso em
em relação à formação e desenvolvimento de furacões, 01/02/2005.
devido à ocorrência freqüente desse tipo de fenômeno
na costa daquele país. NESDIS–NOAA. QuikSCAT Storm Page. Marine
Observing Systems Team. Disponível em:
Com a ocorrência de um fenômeno meteorológico tão http://manati.orbit.nesdis.noaa.gov/cgi-bin/qscat_
significativo como o “Catarina” torna-se indispensável storm.pl. Acesso em 01/02/2005.
o estabelecimento de um sistema de observações
eficaz, capaz de cobrir nossa área marítima de forma NCEP-NOAA. Hurricane Olga: Discussions. National
abrangente, a fim de obter uma malha de informações Hurricane Center. Disponível em:
que possa melhor permitir uma adequada análise dos http://www.nhc.noaa.gov/archive/2001/OLGA.html
modelos numéricos operacionais. Tal sistema é essencial Acesso em 30/10/2004.
no monitoramento de fenômenos naturais ocorrentes
no Oceano Atlântico Sul, podendo ter fins aplicativos,
operacionais e científicos. Já existem propostas de
projetos de sistemas integrados de observações e
sensoriamento remoto no âmbito da Marinha. O CHM,
por sua vez, continuará monitorando os sistemas que
atingem a nossa área marítima de responsabilidade,
focando especial atenção às oclusões e conseqüentes
centros de baixa pressão que, porventura, venham
a se desprender dos sistemas frontais e possam se
desenvolver como distúrbios mais intensos.

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Boletim SBMET março/05

CATARINA: O MONITORAMENTO DO FENÔMENO


PELOS METEOROLOGISTAS DA EPAGRI/CIRAM

Maria Laura Rodrigues, Daniel Calearo, Gilsânia Araujo, Marcelo Moraes, Maurici Monteiro, Clóvis Correa,
Marcelo Martins, Marilene Lima, Hugo J. Braga
Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S.A. – EPAGRI
Centro de Informações de Recursos Ambientais e Hidrometeorologia de Santa Catarina – CIRAM
Rod. Admar Gonzaga, 1347, Itacorubi, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis – SC
Fone (48) 239-8064 – E-mail: met2@climerh.rct-sc.br

RESUMO

Este trabalho mostra o plano de ação executado pelos meteorologistas no centro de previsão da
Epagri, na passagem do então batizado “furacão Catarina”, entre os dias 26 e 28 de março de 2004.
Para o monitoramento e previsão do sistema que atingiu a costa sul de Santa Catarina e norte do
Rio Grande do Sul, foram utilizadas imagens do satélite GOES-12, informações de vento e de mar
enviadas por embarcações pesqueiras e as saídas do modelo de previsão de furacão da NOAA. A
equipe operacional da Epagri/Ciram atuou de forma ininterrupta por 60 horas, divulgando alertas
meteorológicos, atendendo público e imprensa (em um dia, foram mais de 3000 ligações telefônicas
e mais de 20.000 acessos no site). Em parceria com a Defesa Civil Estadual, foi efetuando um
trabalho de esclarecimento e orientação à comunidade a ser atingida, o que minimizou em grande
parte os danos ocasionados na passagem do sistema.
Palavras-chave: furacão, ciclone, previsão do tempo.

ABSTRACT

This article presents the action plan adopted by the EPAGRI Meteorological Center meteorologists
during the occurrence of the so-called “Catarina Hurricane”, from 26 to 28 March 2004. The
meteorological phenomena reached Santa Catarina southern coast and northern of Rio Grande
do Sul States. Its monitoring and forecasting were conducted using information from GOES-12
satellite images, results of the NOAA numerical hurricane prediction models, and wind and sea
informations reported by fishing boats. The EPAGRI/CIRAM staff was in activity during 60 hours
disseminating warning messages. In the first day of the event, they relied more than 3000 phonecalls
and their web page had more than 20,000 web accesses. In a joint collaboration with the State Civil
Defense, information and orientation on comunity were disseminated, minimizing the effect on life
and property damages.
Key words: hurricanes, cyclone , weather forecasting.

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Boletim SBMET março/05

1. INTRODUÇÃO Entre os dias 26 e 28 de março, cinco meteorologistas


revezaram-se em um período de 60 horas de trabalho
Na tarde do dia 25 de março, o meteorologista de ininterrupto, contando com o apoio de funcionários
plantão no centro operacional da Epagri chamava da Epagri e colaboradores externos, no atendimento
atenção para o ciclone no Atlântico Sul, afastado da ao público via telefone. No dia 27, a Epagri recebeu
costa, em aproximadamente 30°S, que apresentava cerca de 3000 ligações telefônicas e a imprensa
bandas de nuvens em espiral e um “olho” bem esteve de plantão no local, acompanhando de perto
definido. o trabalho operacional. Os alertas meteorológicos
emitidos nestes dias foram disponibilizados na home
No dia 26, este sistema intensificava-se e apresentava page do centro (cerca de 20.000 acessos diários nos
um deslocamento de leste para oeste, em direção à dias 27 e 28), enviados por e-mail/fax aos órgãos de
costa Sul do Brasil, o que exigiu uma ação rápida da imprensa e divulgados ao vivo, pelos meteorologistas,
equipe de meteorologistas no sentido de monitorar as em emissoras de rádio e TV. No Centro de Operações
informações e emitir alertas à Defesa Civil e população. da Defesa Civil, em Florianópolis, um meteorologista
Neste mesmo dia, o Centro Nacional de Furacões permaneceu de plantão por 36 horas ininterruptas, entre
da NOAA (National Oceanic and Atmospheric os dias 27 e 28, monitorando a chegada do sistema
Administration) classificou o sistema como furacão no território catarinense, prestando atendimento à
de Categoria 1 (Escala Saffir-Simpson) e o fenômeno imprensa e população, e em contato permanente com
passou a ser amplamente divulgado na mídia as equipes da Defesa presentes na área atingida pelo
internacional. Analisando as informações disponíveis, Catarina.
que indicavam seu deslocamento, com ventos de mais
de 100 km/h, em direção ao litoral catarinense, entre as 2. O MONITORAMENTO E AS AÇÕES DA EQUIPE
próximas 24 h e 48 h, e frente à necessidade de manter OPERACIONAL
a população informada, a equipe de meteorologistas
definiu um plano de ação para o monitoramento do 26/03/2004 - Os primeiros alertas e a tomada de decisão
sistema, passando a classificá-lo como furacão e
batizando-o com o nome de Catarina. No início da manhã, os meteorologistas ficaram
em alerta frente à intensificação do sistema de baixa
O objetivo deste trabalho é relatar as ações pressão com bandas de nuvens convergentes em
executadas pelos meteorologistas, durante o evento: espiral e um “olho” bem definido, que se deslocava de
monitoramento do sistema, emissão de alertas leste para oeste, em direção à costa Sul do Brasil. As
meteorológicos, atendimento ao público e imprensa, e saídas do modelo de previsão de tempo ETA, de escala
realização de uma atividade integrada junto às equipes regional, rodado no CPTEC/INPE e inicializado no dia
do Departamento de Defesa Civil do Estado de Santa 26 as 00UTC, indicavam o deslocamento do sistema do
Catarina (DEDC-SC). oceano para a costa, atingindo com chuva o litoral Sul
do Brasil em 24 horas. Considerando o sistema como
Para o monitoramento do Catarina foram utilizadas um ciclone extratropical, a equipe tomou as primeiras
imagens do satélite GOES-12, disponíveis na medidas:
internet; informações de vento e de mar, estimadas
e repassadas aos meteorologistas, através da base - Solicitou a presença de um representante da Defesa
de radiocomunicação da Epagri em Passo de Torres Civil de Santa Catarina na Epagri;
(ver Projeto Meteopesca em http://ciram.epagri.rct- - Alertou as embarcações pesqueiras em alto mar,
sc.br), por embarcações pesqueiras e dados de estações através da base de radiocomunicação;
meteorológicas de superfície operadas pela Epagri. Para - Contactou técnicos da Marinha do Brasil, CPTEC,
a previsão, foram usadas as saídas, disponibilizadas INPE, USP, Defesa Civil Nacional e SIMEPAR/PR,
pela universidade do Estado da Pensilvânia-EUA, mantendo com este último uma constante troca de
do modelo de furacão (Geophysical Fluid Dynamics informações durante o evento;
Laboratory - GFDL) da NOAA, rodado especialmente - No início da tarde, liberou o primeiro alerta de
para a área de atuação do sistema. previsão de chuva, ventos fortes e mar agitado, para
o dia 27, na região entre a grande Florianópolis e
litoral sul catarinense.
12
Boletim SBMET março/05

No decorrer do dia 26, a NOAA classificou o ciclone Para acompanhar de perto o trabalho operacional,
como furacão de Categoria 1, segundo a Escala Saffir- parte da imprensa esteve de plantão na Epagri, outra
Simpson, com ventos de 120 km/h a 150 km/h. As parte, no Centro de Operações da Defesa Civil, que
embarcações em alto mar relatavam a ocorrência de deslocou cerca de 3.000 homens para o litoral sul
temporais, rajadas de vento de até 70 km/h e ondas de de Santa Catarina, com o objetivo de orientar a
3,5 m, nas áreas próximas ao sistema, ao mesmo tempo comunidade antes, durante e após o evento. Na Defesa
em que estes eram direcionados pelos meteorologistas Civil, um meteorologista permaneceu de plantão entre
para áreas de menor risco. a manhã do dia 27 e noite do dia 28 (36 horas), dando
apoio às atividades do setor, monitorando a passagem
No início da noite, em reunião, a equipe toma as do Catarina, prestando atendimento à imprensa e
seguintes decisões: população.

- Define um plantão 24 horas, para o monitoramento À tarde, as informações eram de ventos de 90 km/h,
do sistema, emissão de alertas, atendimento à chuva forte e ondas de 5 m, no mar, nas proximidades
população e imprensa (155 ligações telefônicas do Cabo de Santa Marta. Em áreas mais próximas
recebidas no dia 26); da costa, os ventos chegaram a 60 km/h com ondas
- Classifica o sistema como furacão, batizando-o como de 3 m. As barras de acesso ao Porto de Laguna e de
Catarina; Passo de Torres foram fechadas, por causa da forte
- Contata novamente a Defesa Civil do Estado. agitação marítima, e muitas embarcações ficaram
presas lá fora. Em Passo de Torres, cinco embarcações
As 01:30 h da madrugada de 27/03, em reunião que não conseguiram entrar na barra, salvaram-se se
com autoridades do Governo do Estado de Santa deslocando para o Rio Grande do Sul (orientação dos
Catarina, meteorologistas e Defesa Civil comunicam meteorologistas), escapando da rota do sistema. A
os acontecimentos, passando a contar com o apoio do Epagri entrou em contato com o serviço de resgate da
governador, que decreta estado de alerta, através dos marinha, em Rio Grande, o Salvamar Sul, avisando
meios de comunicação. sobre as embarcações que não conseguiram se
abrigar.
27/03/2004 - A chegada do Catarina
Na noite do dia 27, o centro de meteorologia da
Na madrugada do dia 27, as embarcações em alto Epagri/Ciram ainda recebia informações de vento, de
mar reportaram ventos de mais de 100 km/h, tendo embarcações localizadas em torno de 48º- 49°W, entre
suas antenas de rádio arrancadas, materiais de pesca os municípios de Tramandaí (RS) e Florianópolis (SC)
perdidos, vidros quebrados e, em alguns casos, a borda (Tabela 1). Ventos de sul a sudeste com mais de 80km/
do barco arrancada. Neste dia, as primeiras bandas de h eram observados no mar, entre Torres e Laguna,
nuvens associadas ao sistema atingiram a costa Sul chegando a cerca de 130 km/h, as 23:40 horas, nas
do Brasil (Figura 1) e os meteorologistas passaram a proximidades do Cabo de Santa Marta. Por volta das
utilizar as previsões do modelo de furacão (GFDL), 23 h, a primeira “parede do olho” (área de ventos em
inicializado no dia 26/03, as 18UTC (Figura 2). superfície mais intensos) atingiu os municípios do
litoral sul catarinense. Já não era possível o contato
Na Epagri/Ciram, os meteorologistas emitiram entre as embarcações, a base de rádio e a Epagri. Mais
novos boletins de alerta, informando sobre a chegada tarde, o operador de rádio, Amilton Roldão, relataria
do “furacão Catarina”, prevista para o dia 27, atingindo a falta de energia elétrica, em torno deste horário, e o
com chuva forte e ventos de 120 km/h a 150 km/h as telhado arrancado no seu local de trabalho, em Passo
áreas do litoral sul catarinense e norte gaúcho, entre de Torres.
Laguna e Torres. O centro de meteorologia recebeu
cerca de 3.000 ligações telefônicas, atendendo público Os relatos obtidos durante e após o evento, por parte
e imprensa. As emissoras de rádio faziam ligações de equipes da Defesa Civil e população, presentes nos
freqüentes, especialmente aquelas localizadas no sul municípios litorâneos, permitiram aos meteorologistas
do Estado. o acompanhamento do sistema no continente: os ventos
se intensificaram em torno das 23 horas, soprando

13
Boletim SBMET março/05

inicialmente do quadrante sul, com uma sensação de “olho”). A partir das 3 h, voltaram a ocorrer chuvas
frio intenso e ocorrência de chuva forte. Entre 1:00 h fortes e os ventos, desta vez do quadrante norte,
e 3:00 h do dia 28, os ventos ficaram calmos e o céu ficaram ainda mais intensos, com ruído semelhante à
estrelado, observando-se um certo abafamento, com turbina de um avião.
sensação de elevação da temperatura (passagem do

Tabela 1: Posição das embarcações e informações de vento.


EMBARCAÇÃO LATITUDE LONGITUDE DIA - HORA (h) DIREÇÃO, FORÇA E
(°S) (°W) VEL. DO VENTO
# 27,04 45,45 27 - 19:00 F5 (40 km/h)
# 29,00 46,40 27 - 19:00 N – F3 (20 km/h)
# 28,04 45,34 27 - 20:00 NW- F4 (30 km/h)
# 29,07 48,16 27 - 21:00 S-SE – F9 (80 km/h)
Águia Dourada 11 28,58 48,85 27 - 21:30 S-SE – F10 (90 km/h)
# 30,14 49,30 27 - 21:30 F9 (80 km/h)
# 29,45 48,19 27 - 22:30 F11 (100 km/h
# 29,30 49,30 27 - 23:40 S-SE – F14 (130 km/h)

3. DANOS MATERIAIS E HUMANOS


No período da calmaria associada à passagem do
Na Figura 3 é apresentado um mapeamento das áreas
“olho”, o principal alerta dos meteorologistas, emitido
atingidas pelo Catarina na planície costeira da região
através de emissoras de rádio e Defesa Civil, era em
sul catarinense, onde foram definidos quatro cenários de
relação à passagem da segunda “parede do olho” e a
destruição (baixo, médio, alto e muito alto) (Marcelino
conseqüente intensificação dos ventos e chuva. Nesse
et al., 2004). Verifica-se um padrão de destruição
momento de calmaria, muitas pessoas começaram a
radial, com o sistema atingindo especialmente os
retirar-se de seus abrigos e era preciso alertá-las para
municípios litorâneos (Passo de Torres, Arroio do
que não fossem pegas desprotegidas.
Silva e Balneário Gaivota), perdendo força a medida
em que se deslocava para o interior da planície.
Usando dados de estações meteorológicas localizadas
no sul de Santa Catarina, Martins et al. (2004)
Entre os danos provocados pela ação do vento, estão
identificaram um decréscimo acentuado da pressão
os causados às edificações, agricultura, infra-estrutura
atmosférica em superfície, entre as 19 h do dia 27 e 3
urbana pública, fauna e flora, conforme levantamento
h do dia 28. Em Siderópolis, a queda de pressão foi de
de dados divulgados pela Defesa Civil do Estado.
17 hPa em 8 h. Nesta estação, o menor valor absoluto
Edificações como casas, postos de gasolina, estufas,
de pressão atmosférica (993 hPa), as 3 h do dia 28,
galpões e mesmo silos de arroz sofreram destelhamento,
culminou com o horário do vento máximo, de 146,7km/
tombamento, destruição parcial ou total.
h. Os gradientes de pressão em superfície no dia 28 as
3h, mostraram gradientes médios mais intensos entre
A infra-estrutura urbana pública foi seriamente
Tramandaí e Torres (periferia sul do sistema), em torno
afetada em conseqüência da derrubada de postes e
de 4 hPa/25 km, e entre Florianópolis e Siderópolis, da
árvores. Vários municípios ficaram sem serviço de
ordem de 4 hPa/35 km. O gradiente de pressão mais
telefonia e sem energia elétrica. A queda de árvores
fraco (4 hPa/58 km) ocorreu entre Torres e Siderópolis,
resultou na obstrução de ruas e trechos da BR-101.
região do “olho” no continente, caracterizada por
Outras árvores foram quebradas ou simplesmente
calmaria e menor gradiente de pressão.
ressecadas pela ação dos ventos.

14
Boletim SBMET março/05

A passagem do Catarina provocou também o O levantamento dos danos materiais resultantes da


desaparecimento de pássaros da região e alterou o passagem do Catarina é apresentado na Tabela 2. Em
comportamento dos animais. Aves foram encontradas vidas humanas, foram 4 mortos e 7 desaparecidos, 518
mortas ou doentes, por virose e alimentação feridos e 33.165 desabrigados. Em território catarinense,
inadequada, e aves costeiras foram encontradas nos ocorreu uma única morte, em conseqüência da queda de
vales e encostas da Serra Geral, distantes em torno árvores na BR-101, quando várias pessoas trafegavam
de 30 km do litoral. Segundo relatos da população, na estrada, tentando escapar da fúria do sistema. No
em algumas localidades foi percebida uma maior mar, duas embarcações de pesca, a Válio II e Antônio
agitação de insetos e, no interior, as vacas mugiram Venâncio, naufragaram, próximo a Lage de Campo
intensamente uma hora antes da entrada do Bom, ao sul do Cabo de Santa Marta. Dos 12 tripulantes,
sistema. 2 foram resgatados com vida, ficando 3 mortos e 7
desaparecidos.

Figura 1: Imagem do satélite GOES-12 em 27/03/04, as Figura 2: Previsão do modelo de furacão (GFDL), para a
11:39 UTC. costa sul do Brasil, inicializado em 26/03/04, as 18UTC,
válida para o dia 27/03/04, as 18UTC.
Fonte: http://met.psu.edu/tropical/tcgengifs/

Figura 3: Mapa das áreas atingidas


na planície costeira da região sul
catarinense, para 4 cenários de
destruição. Fonte: Adaptado de
Marcelino et al. (2004).

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Boletim SBMET março/05

Tabela 2: Danos materiais resultantes da passagem do Catarina.


Tipo de construção Total afetado % afetada
Residências danificadas 35.873 23,35%
Residências totalmente destruídas 993 0,65%
Edificações comerciais danificadas 2.274 1,48%
Edificações comerciais destruídas 472 0,31
Prédios públicos destruídos 397 0,26%
Prédios públicos danificados 3 ---
Total de edificações afetadas 40.012 26,05%
Total de edificações existentes na área 153.611 100%
Fonte: Departamento de Defesa Civil do Estado de Santa Catarina (DEDC-SC).

4. CONCLUSÃO Como pontos importantes que auxiliaram o trabalho


realizado em Santa Catarina, destaca-se o bom nível
Entre os dias 26 e 27 de março de 2004, o rápido avanço de entendimento e articulação, estabelecidos em outras
do Catarina em direção à costa Sul do Brasil exigiu ocasiões entre a Epagri, Defesa Civil e imprensa, e o
uma ação imediata dos meteorologistas da Epagri, apoio da chefia do Ciram e governo do Estado, uma
que classificaram o sistema como um furacão pelas vez que os meteorologistas tiveram total liberdade na
características apresentadas nestes dias. Com base nas tomada de decisão.
informações disponíveis, analisadas criteriosamente,
os previsores, acreditando na intensidade com que o 5. AGRADECIMENTOS
sistema atingiria a costa, consideraram como principal Os autores agradecem ao Departamento de Defesa
objetivo o de informar e orientar a população. Civil de Santa Catarina (DEDC-SC) e ao Centro de
Pesquisa de Desastres da Universidade Federal de
A fragilidade do sistema nacional de meteorologia
Santa Catarina (UFSC/CEPED) pelas informações de
ficou exposta, uma vez que faltaram informações
levantamento dos danos.
de bóias oceanográficas e radares meteorológicos,
dificultando o monitoramento do sistema ao longo
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
da costa. Além disto, mostrou a dependência de
informações divulgadas por centros americanos CALEARO, D.; ARAUJO, G.; CORREA, C.; MORAES,
(produtos de satélite e modelo de previsão numérica). M.; RODRIGUES, M.L.; MONTEIRO, M.; MARTINS,
Os centros de meteorologia também mostraram sua M., VICTÓRIA, R.; ARAUJO, C.E. e ROLDÃO, A.
fragilidade no que diz respeito à troca de informações, Monitoramento do Catarina no centro operacional da
tanto em relação a dados de estações como na discussão EPAGRI/CLIMERH. In: XIII Congresso Brasileiro de
de sistemas e previsão. Meteorologia. Anais. Fortaleza, Ceará, 2004.

Verificou-se também que, além da infra-estrutura MARCELINO, E. V.; RUDORFF, F.M.; GOERL, R.F.;
de equipamentos, é importante uma infra-estrutura de MARCELINO, I.P.V. de O.; GONÇALVEZ, E.F. Cyclone
Catarina: intensity map and preliminary damage assessment.
divulgação das informações nos centros operacionais,
In: I Simpósio Brasileiro de Desastres Naturais. Anais.
pois o trabalho realizado na Epagri/Ciram atingiu seus
Florianópolis, Santa Catarina, 2004.
objetivos não só pelas previsões, mas pela adequada
divulgação das mesmas. A equipe mostrou ser MARTINS, M.; VICTÓRIA, R.; MONTEIRO, M.;
possível alertar a população sem alarmar, ainda que MORAES, M.; CALEARO, D.; ARAUJO, G; CORREA,
na divulgação de um “furacão”, colocando em prática C.; RODRIGUES, M.L. Comportamento da pressão
uma experiência adquirida há mais de 10 anos, em atmosférica e do vento máximo no episódio Catarina:
alertas de fenômenos como ciclones extratropicais e resultados preliminares. In: XIII Congresso Brasileiro de
El Niño. Meteorologia. Anais. Fortaleza, Ceará, 2004.

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Boletim SBMET março/05

CHUVAS INTENSAS EM JANEIRO/FEVEREIRO 2004


NO CEARÁ E A PREVISÃO EM ANOS DE NEUTRALIDADE
NO PACÍFICO
Teresinha de Maria Bezerra Sampaio Xavier
Departamento de Hidráulica / Centro de Tecnologia / Univ. Federal do Ceará (UFC)
R. Oswaldo Cruz 176/400, Meireles, CEP Fortaleza-CE, 60.125-150
Telefones: (0xx85) 242-3702 / 9983-7150 - E-mail: txavier@secrel.com.br

RESUMO

Apresenta-se o quadro da pluviometria diária em janeiro-fevereiro/2004 no Ceará, com chuvas


muito intensas e concentradas em poucos dias de cada mês. Faz-se uma análise objetiva desses
eventos. Essas chuvas intensas foram generalizadas no Nordeste setentrional. No Ceará, levaram à
repleção dos açudes, embora causando alagamentos urbanos, enchentes dos cursos de água, além de
prejuízos para as populações ribeirinhas, inclusive com perda de lavouras. O ano 2004 foi anômalo,
correspondendo a um evento neutro no Pacífico equatorial, com a possibilidade de vir a ser seco/
muito seco (43%), chuvoso/muito chuvoso (36%) ou ainda normal, na “quadra” fevereiro-maio”, daí
as dificuldades para a previsão. Aliás, os meses subseqüentes foram de fato muito pouco chuvosos,
donde uma “quadra chuvosa” de seco a normal, ademais com as características de uma “seca verde”.
Faz-se um levantamento retrospectivo de anos com janeiro ou fevereiro muito chuvoso, porém com
déficit pluviométrico nos meses seguintes e/ou ocorrência de seca, de 1964 a 2004. Recapitula-se,
também, a questão das anomalias das chuvas e as dificuldades para a previsão em anos neutros no
Pacífico.
Palavras-chave: Chuvas, Estado do Ceará, Nordeste do Brasil, “Seca Verde”-“Green Drought”,
Anos Neutros, Pacífico Equatorial.

ABSTRACT

We consider the daily pluviometry of January/February 2004 in Ceará State, Brazil, characterized by
heavy events of rainfall, in general concentrated in a few days of each month, specially in January
and later in February. We made an objective analysis of these events, which were generalized in
practically all Northeastern Brazil. In Ceará the rains arrived to fill up the dams (“açudes”) being
the cause of urban inundations and also floods with serious damages to the populations and crops.
The year 2004 was anomalous and very difficult for the forecasting, since it corresponds to a neutral
event in the equatorial Pacific, when all can to arrive with respect to the “rain season” February-
May in Ceará, which can be dry/very dry (43%) or wet/very wet (36%) or normal. In fact, along
the subsequent months of 2004, from March to May, the season arrived to be very deficient in rains
with the characteristics of a “green drought” (“seca verde”). We made also a prospective analysis of
years with rainy January or February period, but with a subsequent season poor in rains, from 1964
to 2004.
Key words: Rainfall, Ceará State, Northeast-Brazil. “Green Drought”-“Seca Verde”, Neutral years,
Equatorial Pacific.

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Boletim SBMET março/05

1. INTRODUÇÃO anos, chegam a influir sobre as chuvas no extremo


sudeste do Ceará, a partir de dezembro/janeiro,
A previsão e/ou prognóstico para a quadra com o início em geral precoce da quadra chuvosa
chuvosa no Ceará, que se estende de fevereiro no Cariri, cujo quadrimestre mais chuvoso por tal
a maio na maioria das suas regiões (exceto no motivo costuma estender-se de janeiro a abril, e
Cariri de janeiro a abril), ensejou no início de não de fevereiro a maio como na maior parte do
2004 certa perplexidade na população. Com território cearense. O ano de 2004 foi atípico, no
efeito, em janeiro ocorreram chuvas intensas sentido de que a atividade das frentes frias foi
no Ceará, ultrapassando marcas históricas. Por muito intensa, chegando a provocar chuvas em
outro lado, o primeiro prognóstico de consenso todo o Ceará, inclusive, associando-se a vórtices
dos órgãos oficiais na 2ª quinzena de janeiro, ciclônicos dos altos níveis em janeiro e também
orientava para uma quadra chuvosa em torno da em fevereiro, em alguns casos atraindo a ZCIT
normalidade, porém envolvendo probabilidades para latitudes ao sul do equador. Cabe mencionar
não desprezíveis de situar-se mais abaixo ou que a partir de março, em geral, a atividade das
mais acima do normal; portanto, uma previsão frentes frias diminui.
já encerrando muita indecisão. Na visão dos
leigos, isso não se coadunaria com a ocorrência Em 2004 havia um fator ou aspecto complicador
dessas chuvas extremas em janeiro, a que se para a previsão, tornando-a especialmente
seguiu um fevereiro também chuvoso. Mas a dificultosa diante de uma situação de neutralidade
situação era contraditória apenas na aparência. no Pacífico Equatorial, ou seja, sem ocorrência
Assim, chuvas intensas em janeiro não significam de EL NIÑO ou LA NIÑA. Com efeito, sabe-
necessariamente “bom inverno”. se agora que ANOS NEUTROS no PACÍFICO
constituem ANOS de TRANSIÇÃO nos quais a
Nas últimas décadas ocorreram janeiros/ previsão das chuvas para o Nordeste Setentrional
fevereiros chuvosos acompanhados de inverno e para o Ceará sempre oferece muito embaraço,
fraco, ou mesmo seca, como em 1980 e 1983 conforme demonstraram Xavier e Xavier (2002),
(dentro do período histórico 1979-83 de cinco complementado em Xavier et al. (2003 b). Assim,
anos de secas), como ainda em 1998 e 2002. ficou claro que em ano de neutralidade no Pacífico
O principal motivo da discrepância deve-se a equatorial tudo pode ocorrer no Ceará, desde anos
que o mês de janeiro pertence à pré-estação, muito secos até anos muito chuvosos. Neste caso,
quando os sistemas atmosféricos atuantes podem a pluviometria estacional vai ser comandada mais
ser distintos do sistema principal que regula as pela situação do Atlântico intertropical. Aliás,
chuvas na quadra chuvosa propriamente dita, que registre-se existir carência de estudos semelhantes
é a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), para outras áreas do planeta. Mas suma, até
cuja migração ao sul da linha equatorial depende então, anos neutros no Pacífico haviam sido
de forma nítida das anomalias da temperatura de negligenciados no que concerne ao seu estudo,
superfície do Atlântico intertropical, sul e norte. desde que os pesquisadores preferiam se debruçar
Uma ampla discussão sobre as relações da ZCIT na análise dos episódios de El Niño ou La Niña.
com as chuvas no Ceará e também com estados do
Pacífico equatorial, foi documentada por Xavier Não se tratará aqui sobre danos materiais e
et al. (2003 a). desabrigados em função das chuvas e/ou enchentes
nos dois primeiros meses de 2004, pois, neste
De fato, de dezembro a janeiro as chuvas tocante, os problemas não decorrem só da situação
no Nordeste setentrional e portanto no Ceará meteorológica ou hidrológica, vez que constitui
costumam ser induzidas pelas frentes frias do sul resultante da conjunção de outros fatores, como
ou sob a influência de sistemas transientes como a ocupação indevida de áreas de risco (no caso
vórtices ciclônicos ou ainda pela conjunção dos do Ceará, várzeas ou áreas inundáveis e apenas
dois fatores. As frentes frias do sul, na maioria dos secundariamente encostas ou taludes sujeitos a

18
Boletim SBMET março/05

desmoronamento). Nas áreas urbanas, tem-se ainda chuvoso (C), S (Seco), N (Normal), MS (Muito Seco)
a impermeabilização do solo e obstrução pelo lixo de e MC (Muito Chuvoso) empregada pela FUNCEME,
galerias e canais de drenagem. Todas esses aspectos baseia-se nos trabalhos de Xavier e Xavier (1984,
foram tratados em Xavier (2004). 1987, 1989); com sistematizações em Xavier e
Xavier (1999), Xavier (2001) e Xavier et al. (2002).
No que se segue, são consideradas separadamente Situações análogas verificaram-se em outras regiões
várias questões. Inicialmente, a descrição do quadro cearenses.
observado e a análise objetiva sobre chuvas intensas
em janeiro e fevereiro de 2004, no Ceará. Em seguida,
um levantamento retrospectivo de ocorrências de 3. RESULTADOS
anos secos (durante a estação chuvosa) com janeiros
3.1. Quadro das Chuvas em janeiro de 2004
e/ou fevereiros chuvosos. Por fim, retorna-se às
dificuldades para a previsão em anos neutros no
a) Fortaleza em Janeiro 2004
Pacífico Equatorial.
Apresenta-se a evolução da chuva diária em
janeiro de 2004 (Figuras 1 e 2) a partir dos dados
de duas estações climáticas relativamente próximas
2. DADOS E METODOLOGIA
(FUNCEME e CAMPUS DO PICI-UFC-INMET)
2.1. Dados de Chuva no Ceará disponíveis em http://www.funceme.br/demet/
monitoramento.asp. Como se percebe, ocorreu único
Consideram-se: 1) médias mensais nas várias regiões evento de chuva diária muito extrema em janeiro,
pluviometricamente homogêneas, disponibilizadas a saber, em 29/01/04, com 250,0 mm na estação
pela FUNCEME-SRH, a partir de uma base de séries principal da FUNCEME (74 mm e 67 mm nos dois
“híbridas” (SUDENE/FUNCEME), desde 1964. dias anteriores) e 170,3 mm na estação do PICI-UFC-
Outras informações detalhadas, para 1964-2000, INMET (47,6 mm no dia anterior). Para outros postos
são dadas em Xavier (2001). 2) no site http://www. na RMF, os mesmos padrões se mantêm, conforme
funceme.br/demet/monitoramento.asp encontram- Xavier (2004), a menos de discrepâncias atribuídas à
se: a) médias da chuva em cada uma das regiões, heterogeneidade espacial e temporal das chuvas. Para
de janeiro a maio e na quadra fevereiro-maio, de os gráficos, veja-se no artigo citado e, ainda, no “site”
2001a 2004; b) gráficos da chuva diária, por posto da FUNCEME.
pluviométrico e em cada um dos meses, de 2003
até 2004. Finalmente, em Xavier et al. (2002) tem- b) Cariri em Janeiro 2004
se uma tabela com dados de chuvas nas regiões No Cariri também ocorreram chuvas diárias intensas,
pluviometricamente homogêneas do Ceará, para anos em janeiro de 2004. Consideramos, em particular, as
de El Niño (EN), anos Neutros e anos de La Nina chuvas no Crato e em Juazeiro do Norte, cujas figuras
(LN). São ainda considerados os anos de ocorrências poderão ser consultadas em Xavier (2004). No Crato
de eventos El Niño-Oscilação Sul / El Niño Southern e Juazeiro do Norte eventos de chuvas diárias mais
Oscillation (ENOS/ENSO), conforme Xavier (2001, intensas já se manifestam a partir do meado do mês,
Cap. 13, p. 409-441), consoante gráficos dos índices ou seja, em 14 de janeiro de 2004 (com 80,8 mm e
da TSM no Pacífico Equatorial e da Oscilação Sul. 90,0 mm, respectivamente). Seguem-se os eventos
dos dias 15 e 17 de janeiro, mais moderados no Crato
2.2. Metodologia (34,4 mm e 36 mm, respectivamente) e um pouco
mais intensos em Juazeiro (70 mm em cada um
As chuvas são analisadas contrapondo entre si desses dois dias), correspondendo aproximadamente
as ocorrências de chuva no contexto dos seguintes a ocorrências na RMF (mais moderadas). Outro
municípios e/ou regiões: a) Fortaleza e outros evento de relativa importância é do dia 31 de janeiro
municípios da Região Metropolitana de Fortaleza (com 99 mm no Crato e apenas 35 mm em Juazeiro).
(RMF), no litoral; b) municípios do Cariri, no sul Para Barbalha, ver gráfico e comentários em Xavier
do Ceará. Para a classificação segundo as categoria (2004).

19
Boletim SBMET março/05

Figura 1: Chuva Diária janeiro/2004 na estação da FUNCEME-FORTALEZA.

Figura 2: Chuva Diária janeiro/2004 na Estação do PICI-UFC-FORTALEZA.

20
Boletim SBMET março/05

c) Uma análise objetiva das chuvas de janeiro de 2004 pela “média para janeiro no período 1964-96”,
Esta análise é feita em termos da chuva média em variam de 3,32 a 5,08, ou seja, as chuvas em janeiro
JANEIRO/2004 nas oito regiões pluviometricamente 2004 alcançam cerca de 3,3 a 5,0 vezes os valores
homogêneas, no Estado do Ceará, comparando-se os médios para o mesmo mês no período 64/96; 3º)
valores no referido mês, divulgados pela FUNCEME- analogamente, os valores de (1)/(3) (comparando
SRH, com os seguintes parâmetros: (i) médias de a chuva em janeiro 2004 com o “quartil superior”
janeiro no período 1964-96 (normais); (ii) quartis de janeiro no período 1964-96) variam de cerca
superiores de janeiro em 1964-94; (iii) valores da de 2,6 a 4,6. Finalmente, 4º) as alturas das chuvas
chuva máxima em fevereiro observados no mesmo acumuladas em janeiro 2004 ultrapassam, inclusive,
período (Tabela 1). as chuvas máximas de janeiro observadas no já
mencionado período 1964/96, ocorridas em 1974
Da inspeção da Tabela 1, depreende-se: 1º) os (para cinco regiões), em 1985 (duas regiões) e
valores da chuva média em janeiro de 2004, nas 1994 (uma região). Cabe ainda mencionar que 1974
várias regiões, ultrapassam os valores históricos no foi ano de LN forte e muito chuvoso no Ceará,
período 1964-96 utilizado no cálculo das normais enquanto 1985 corresponde a um ANO NEUTRO
pluviométricas. Assim, 2º) os valores de (1)/(2) = no PACÍFICO, porém predominantemente muito
“chuva média calculada para janeiro 2004” dividida chuvoso no Ceará.
Tabela 1: Chuva média em janeiro/2004, comparada à média, quartil superior e chuva mensal máxima no
período 1964-1994 no mesmo mês.

3.2. O QUADRO DAS CHUVAS DE a) Fortaleza em Fevereiro 2004


FEVEREIRO DE 2004 Os eventos mais importantes correspondem aos dias
04-05, 08-09, 13, 16, 18 e 28 de fevereiro de 2004. No
Os episódios de chuvas e enchentes de janeiro/2004, Posto do Eusébio, os eventos mais salientes ocorreram
na verdade, tiveram continuidade em fevereiro/2004. nos dias 03-04, 09, 13-14, 16-17, 24 e 28 de fevereiro
Não obstante, foram chuvas menos intensas do que de 2004. Contudo, os valores da chuva são bem mais
aquelas de janeiro. Porém, em municípios do CARIRI, baixos do que em janeiro de 2004. Assim, em fevereiro
ocorreu um dia com chuvas de maior intensidade, de 2004, o maior valor da chuva diária na estação da
como veremos. FUNCEME foi 35 mm no dia 09/02 e, no posto do

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Boletim SBMET março/05

Eusébio, de 38 mm no mesmo dia. A visualização dos que nesse mês ainda chegou a ocorrer um episódio de
gráficos pode ser vista em Xavier (2004) e no “site” da chuva extrema, ao contrário do que aconteceu com a
FUNCEME-SRH. chuva na RMF, no mesmo período. Assim, nos postos
dessas duas localidades são identificados os seguinte
b) O Cariri em Fevereiro 2004 “pacotes”, no que concerne a ocorrências de chuvas
As chuvas diárias em fevereiro de 2004 no Cariri diárias em fevereiro de 2004, com ênfase nos episódios
(Crato e Juazeiro do Norte) apresentaram notável mais intensos (Tabela 2).
homogeneidade entre si, além de ficar demonstrado
Tabela 2: “Pacotes” de Chuvas Diárias no Crato e Juazeiro do Norte em fevereiro 2004.
dias 02 03 04 05 06 13 16 22 27
Crato (mm) 25,6 80,8 49,6 28,2 28,4 24,6 156,0 20,4 29,0
Juazeiro (mm) 35,0 55,0 54,0 23,0 23,0 35,0 166,0 19,0 67,0
Fonte : Xavier (2004).
c) Uma análise objetiva das chuvas de fevereiro de 2004 para o cálculo das normais pluviométricas, embora
Esta análise é feita em termos da chuva média em não de forma tão pronunciada como em janeiro de
fevereiro de 2004 nas oito regiões pluviometricamente 2004. Com efeito, 2º) os valores de (1)/(2) = “chuva
homogêneas, no Estado do Ceará, comparando-se os média calculada para fevereiro 2004” dividida pela
valores no referido mês, divulgados pela FUNCEME- “média para fevereiro em todo o período 1964-96”,
SRH, com os seguintes parâmetros: (i) médias (normais variam em torno de 1,5 a 2,2, ou seja, fatores bem
pluviométricas) para fevereiro no período 1964-94 inferiores àqueles encontrados para o mês de janeiro;
(30 anos de observações); (ii) quartis superiores para 3º) analogamente, os valores de (1)/(3) (comparando
fevereiro em 1964-94; (iii) chuvas máximas observadas a chuva em fevereiro de 2004 com o “quartil superior”
em fevereiro no mesmo período. Ver a Tabela 3 onde para fevereiro no período 1964-96) variam de cerca
(1), (2), (3) e (4) têm análogos significados daqueles de 1,1 a 1,6. Finalmente, 4º) os valores das chuvas
considerados na Tabela 1. em fevereiro de 2004 não chegam a ultrapassar as
chuvas máximas de fevereiro no já mencionado
Da inspeção da Tabela 3 depreende-se: 1º) que os período 1964/96. Note-se que essas chuvas máximas
valores observados para a chuva média em fevereiro em fevereiro ocorreram em 1985 (para seis regiões) e
de 2004, nas várias regiões, ultrapassam os valores 1964 (duas regiões).
históricos observados no período 1964-1996, utilizado

Tabela 3: Chuva média em fevereiro/2001, comparada à média, quartil superior e chuva mensal máxima no
período 1964-1004 no mesmo mês.

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Boletim SBMET março/05

3.3. ANOS SECOS COM JANEIROS E/OU d) Chuvas de Janeiro 2002


FEVEREIROS CHUVOSOS Para a chuva acumulada de 1o de fevereiro a 31 de
maio/2002 a monitoração revelou que três regiões
Limitamo-nos, aqui, à observação de anos secos cearenses comportaram-se dentro da categoria
com janeiros e/ou fevereiros chuvosos no período N (Litoral de Trairi-Pecém, Litoral de Fortaleza
1964/2003. Esses anos são, basicamente: 1980 e 1983 e Maciço de Baturité); 1 (uma) região ainda na
(dentro do período histórico 1979-83 de cinco anos de categoria N, porém próximo ao limiar superior da
secas); e ainda 1998. Considera-se também 2002, que categoria S (Região Jaguaribana); 3 (três) regiões
variou de N a S nas várias regiões. na categoria S (Litoral Norte, Região da Ibiapaba
e Sertão Central+Inhamuns); e finalmente 1 (uma)
a) Chuvas de Fevereiro 1980 região de MS a S (Cariri). Não obstante, em janeiro
Em 1980 a quadra chuvosa (fevereiro-maio) caiu de 2002 ocorreram chuvas relativamente copiosas nas
predominantemente na categoria S em cinco regiões várias regiões cearenses, que amenizaram a situação
cearenses (Litoral Norte, Litoral de Trairi-Pecém, crítica referente à quadra chuvosa daquele ano. Cabe
Litoral de Fortaleza, Maciço de Baturité e Sertão lembrar que 2002 também foi um ANO NEUTRO no
Central + Inhamuns), de N para S em duas regiões PACÍFICO EQUATORIAL.
(Ibiapaba e Região Jaguaribana) e no limiar entre S e N
no Cariri. Não obstante, ocorreram chuvas copiosas em 3.4. DIFICULDADES PARA A PREVISÃO EM ANO
fevereiro na maioria das regiões, embora decrescentes NEUTRO NO PACÍFICO
em março, mas que levariam a crer num razoável
inverno àquele ano. Para detalhes ver Xavier (2004). Conforme foi mencionado na Introdução, em 2004
Em resumo, em 1980, as chuvas de FEVEREIRO e/ou
tornou-se especialmente difícil a previsão precoce para
MARÇO foram bem expressivas na maioria das regiões
a quadra chuvosa, em virtude de se tratar de um ANO
no Ceará, embora tenha sido ano predominantemente
NEUTRO no PACÍFICO EQUATORIAL, conforme
seco! Cabe relembrar que 1980 corresponde a um
Xavier et al. (2003 b). Assim, na Tabela 4 têm-se as
evento NEUTRO no PACÍFICO EQUATORIAL. Por
ocorrências da chuva acumulada durante a quadra
outro lado, 1980 cai no hoje já histórico cinco anos de
seca de 1979 a 1983. chuvosa para as oito regiões pluviometricamente
homogêneas do Ceará, respeito a 14 anos neutros
b) Chuvas de Fevereiro/Março 1983 no Pacífico, entre 1964 e 2002. De fato, segundo
Como é sabido, 1983 corresponde ao evento EN algumas fontes, 1977/1978 também corresponde a
82/83, até então o mais forte do Século XX. Ademais, um evento neutro no Pacífico, que não comparece
foi um ano MS em todas as regiões cearenses na quadra na referida Tabela 4; contudo, tal omissão não altera
fevereiro-maio. Não obstante, julgava-se o inverno substancialmente os resultados.
promissor, em função das chuvas de fevereiro e março
em algumas regiões, como no Litoral de Fortaleza
com 157,3 mm e 241,6 mm, respectivamente, nesses Da inspeção da Tabela 4 pode-se, portanto, discernir
que em anos de Pacífico Equatorial neutro pode
dois primeiros meses da “quadra chuvosa”. E ainda
acontecer no Ceará desde um ano MS até um ano
na Região Jaguaribana, com 133,4 mm e 169,3 mm, MC. De fato, dos quatorze anos de Pacífico Equatorial
também em fevereiro e março. A mesma situação, Neutro mostrados na tabela precedente, embora com
aliás, repetindo-se em outras regiões. omissão de 1977/1978, houve no Ceará: seis anos
predominantemente S ou MS (42,8%), um ano de S
c) Chuvas de Janeiro 1998 a N, dois anos predominantemente na categoria N e
O ano de 1998, que corresponde ao evento EN cinco anos predominantemente C ou MS (35,7%).
97/98, mostrou-se predominantemente MS ou S em Observe-se, aliás, que entre os anos S no Ceará com
todas as oito regiões pluviometricamente homogêneas Pacífico neutro, encontram-se 1979, 1980, 1981 e
do Ceará, em cada um dos meses de fevereiro até 1982, incluídos na histórica seca de 1979 a 1983.
abril. Não obstante, nesse ano, o mês de janeiro foi
predominantemente C ou MC em todas as regiões.

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Boletim SBMET março/05

Tabela 4: Estado do Ceará – Anos com o Pacífico Equatorial Neutro e a chuva acumulada na quadra chuvosa
nas regiões pluviometricamente homogêneas, 1964-2002.

4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS E CONCLUSÕES (Cariri) entrando na categoria C. Essas informações


são tiradas dos boletins de chuvas para 2004, no Ceará,
Note-se que 2004 passou a configurar-se como ano segundo a FUNCEME-SRH.
inteiramente anômalo. Com efeito, após as chuvas
excepcionalmente intensas de janeiro (na pré-estação) Note-se que as chuvas intensas de janeiro e fevereiro
e as de fevereiro (primeiro mês da quadra chuvosa), de 2004 concentraram-se em apenas alguns dias
tem-se com respeito aos meses restantes a partir de desses dois meses, quando originaram alagamentos em
março, uma situação de “déficit” pluviométrico, assim Fortaleza, Crato, Juazeiro do Norte e outras cidades,
descrita: 1º) Março/2004 predominantemente S, com etc., além de enchentes em muitos cursos de água
cinco regiões na categoria S, uma na categoria S para importantes, de que resultaram rastros de destruição
MS, outra no limiar de N para S e finalmente, outra nas cidades ribeirinhas, algumas permanecendo
na categoria MC; 2º) Abril/2004 predominantemente isoladas em função da queda de pontes e/ou interrupção
S/MS, com quatro regiões na categoria MS e as nas vias de comunicação rodoviárias. Por outro lado,
outras quatro na categoria S; 3º) Maio/2004, também muitas plantações foram perdidas, como é o caso
predominantemente S/MS. Finalmente, 4º) para a daquelas do projeto “Pingo Dágua” de Quixeramobim,
quadra chuvosa como um todo, teve-se quatro regiões incluindo a perda dos equipamentos de irrigação. Um
na categoria S, três na categoria N e apenas uma região fator positivo, contudo, foi a elevação da cota da

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Boletim SBMET março/05

maioria dos açudes, muitos deles “sangrando”; e em tendência para uma seca generalizada no semi-árido
particular, com a repleção quase total da barragem do nordestino.
Castanhão.
Uma questão que foi ventilada na internet, inclusive
Em função do quadro geral pluviométrico até maio em nota da “Ambiente Brasil”, como em fontes
de 2004 que se descreveu, cabe mencionar que o jornalísticas, refere que as fortes chuvas de janeiro/2004
referido ano foi apontado no Ceará como de SECA continuadas por chuvas em fevereiro/2004, no Nordeste
VERDE (ver Diário do Nordeste, 2004). Ou seja, a setentrional (por conseqüência também no Ceará)
vegetação permaneceu verde e os açudes praticamente dever-se-iam a um efeito da ODP/PDO (Oscilação
repletos, porém com quebra importante na produção Decadal do Pacífico/Pacific Decadal Oscillation).
agrícola em função: a) da destruição de lavouras no Em Xavier e Xavier (2004), contudo, tratou-se essa
decorrer dos dois primeiros meses; b) do “déficit” questão quando ficou demonstrado que na pré-estação
pluviométrico nos meses seguintes. e/ou dois primeiros meses da estação chuvosa, pelo
menos para o Ceará, não há efeito detectável da
Questão que merece comentários diz respeito ao fato ODP/PDO sobre as chuvas. Um sinal da ODP/PDO
de que em janeiro de 2004 ocorreram chuvas intensas nas chuvas no Nordeste Setentrional aparece só mais
não apenas no semi-árido e no Ceará, como em outras tardiamente, porém, um sinal bem mais fraco que o do
regiões brasileiras, particularmente no Sudeste (como ENOS/ENSO, este podendo apresentar um sinal duas
São Paulo e Rio de Janeiro). Esse fato igualmente vezes mais forte ao serem comparados os coeficientes
causou certa perplexidade entre os leigos e curiosos de correlação com a chuva. Nesse tocante, aliás, o
das questões climáticas, sob a alegação de que sinal da ODP/PDO não impõe qualquer contribuição
chuvas intensas no sul e no sudeste seriam em geral significativa no contexto dos modelos de explicação
acompanhadas de secas em extensas áreas nordestinas. ou previsão das chuvas, donde ser rejeitado em favor
Uma relação estreita entre chuvas intensas no sul/ do sinal do ENOS/ENSO num procedimento stepwise
sudeste e secas no semi-árido é, porém, um equívoco. de regressão múltipla. Por outro lado, mesmo com a
De fato, tal relação somente costuma apresentar-se variável ODP/PDO sendo “forçada” nos modelos, não
em anos de EN, mas especialmente tratando-se de contribui para aumentar a explicação da variância,
um evento forte. Com efeito, quando da ocorrência portanto, não melhora o desempenho de tais modelos.
de um tal evento extremo costumam sobrepor-se os
seguintes fenômenos: 1º) formação de um dipólo de É certo que a ODP/PDO exerce papel importante,
TSM invertido na Bacia do Atlântico intertropical, principalmente sobre as chuvas na costa oeste e outras
desfavorável à migração significativa da ZCIT ao sul áreas da América do Norte porém, não para o Atlântico
da linha equatorial, donde em conseqüência diminuição intertropical, segundo nossas investigações. Há ainda
ponderável das chuvas no Nordeste setentrional; 2º) referência a uma relação da ODP/PDO, juntamente com
intensificação do jato subtropical do Atlântico Sul o ENOS/ENSO, no comportamento do jato subtropical
que, por sua vez, provoca um bloqueio à ascensão de baixos níveis da América do Sul ou SALLJ-South
das frentes frias do sul. A conjunção desses dois America Low-Level-Jet, conforme Marengo et al.
mecanismos, aliás, pode conduzir a seca generalizada (2004), como também possíveis influências na Bacia
em todo o semi-árido nordestino. (*) do Prata e na costa oeste da América do Sul.

(*) Note-se que, de uma parte, fica inibida a Finalmente, chama-se atenção para necessidade
migração da ZCIT ao sul do equador geográfico, de um esforço continuado para a melhoria do
situação muito pouco favorável às chuvas no Nordeste conhecimento climático da região e do Estado do
setentrional. Por outro lado, ao se dar o bloqueio Ceará, especialmente no sentido de serem coligidos
das frentes frias, como sua ascensão é o principal ensinamentos do passado capazes de propiciar melhor
mecanismo para provocar chuvas no Nordeste compreensão do presente e, mais que isso, orientar
meridional, decorre uma diminuição das chuvas quanto à prospecção de ocorrências climáticas num
nessa área. Por outro lado, essa ascensão constitui futuro imediato ou mesmo a longo prazo. Com
ainda fator subsidiário para chuvas nas áreas mais efeito, erros de previsão ocorridos em um passado
meridionais no Norte do Nordeste, no decorrer dos relativamente recente decorreram, exatamente, da falta
dois primeiros meses de cada ano. Daí, pela conjunção desse conhecimento ou da negligência em considerar-
desses dois fatores, mencionados acima, resultaria a lhe a importância.

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Boletim SBMET março/05

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS XAVIER, T. de Ma. B. S.; Silva, J. de F.; Rebello,


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resultado de Fenômeno Cíclico. Curitiba, PR, 04 de com ênfase nas regiões brasileiras. Thesaurus Ed.,
março de 2004. Brasília, 141 p., 2002.

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des Hautes Etudes de l’Amérique Latine, Université de 2004 e trabalho premiado no XIII Congresso Brasileiro
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XAVIER, T. de Ma.B. S.; XAVIER, A. F. S. XAVIER, T. de Ma.B.S.; XAVIER, A.F.S. A ODP-


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Meteorologia, Vol. 14, n0 2, p. 63-78, dezembro de XIII Congresso Brasileiro de Meteorologia. Anais.
1999. CD-ROM, Fortaleza, CE, 16 p., 2004.

XAVIER, T. de Ma. B.S. Tempo de Chuva – Estudos


Climáticos e de Previsão para o Ceará e Nordeste
Setentrional. ABC Editora, Fortaleza-Ceará, 478 p.,
2001.

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Boletim SBMET março/05

CHUVAS NO ESTADO DA PARAÍBA EM 2004


José Ivaldo Barbosa de Brito e Célia Campos Braga
Departamento de Ciências Atmosféricas – Universidade Federal de Campina Grande
Avenida Aprígio Veloso, 882, CEP: 58.109-970, Bodocongó, Campina Grande - PB
E-mails: ivaldo@dca.ufcg.edu.br e celia@dca.ufcg.edu.br

RESUMO

O objetivo deste trabalho é fazer uma análise da precipitação ocorrida no estado da Paraíba, durante
o ano de 2004. Usou-se dados de precipitação de 102 localidades, espacialmente distribuídas sobre
todo o Estado, e informações colhidas nos sites da FUNCEME, LMRS, CPTEC/INPE e NCEP.
Foram observadas chuvas abundantes na Paraíba durante a segunda quinzena de janeiro e todo mês
de fevereiro de 2004 devido, principalmente, à atuação de vórtices ciclônicos da alta troposfera que
interagiu com a ZCIT e a ZCAS. Nos meses de março e abril as chuvas foram inferiores as médias
históricas, pois, a ZCIT atuou apenas na segunda e terceira semanas de março e na quarta semana
de abril. De maio a julho ocorreram chuvas acima da média climatológica causadas, principalmente
pela atuação de distúrbios de leste.
Palavras-chave: Vórtice Ciclônico, ZCIT, previsão climática.

ABSTRACT

The objective of this work is to make an analysis of the precipitation on the state of Paraíba during
the year of 2004. The data of precipitation of 102 sites and information from FUNCEME, LMRS,
CPTEC/INPE and NCEP were used. It was observed abundant rains on the Paraíba during the second
fortnight of January and on the month of February of 2004 due to the incursion of cold fronts on the
state of Bahia. These cold fronts took the formation of the upper tropospheric cyclonic vortices on
the Northeast of Brazil. The ITCZ also became rain to Paraíba. On the months of March and April
the rains were inferior the historical averages, because, current ITCZ just in the second and third
weeks of March and in the fourth week of April. From May to July, the precipitations were above the
average caused for the performance of east disturbances.
Key words: Cyclonic vortex, ITCZ, climatic prediction.

1. INTRODUÇÃO tem papel primordial no abastecimento da população


do Sertão da Paraíba e do canal da redenção em Sousa,
Em dezembro de 2003 as notícias mais preocupantes além de ceder água ao vizinho estado do Rio Grande
para a população da Paraíba era o baixo nível dos do Norte. Também eram merecedores de preocupações
reservatórios de água potável, principalmente, os dois as reservas hídricas das Barragens de São Gonçalo, em
mananciais mais significativos: Açude Epitácio Pessoa, Sousa, Engenheiro Ávido, em Cajazeiras e Engenheiro
localizado no município de Boqueirão, e Coremas Mãe Arcoverde, em condado, entre outros.
D’água, em Coremas. O primeiro é responsável pelo
abastecimento de parte do Agreste e Cariri Paraibano, Por outro lado, as previsões para a estação chuvosa
incluindo a cidade de Campina Grande, e o segundo do Semi-árido Nordestino eram de que as precipitações

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Boletim SBMET março/05

na região como um todo ficaria em torno da média 2. MATERIAL E MÉTODOS


histórica, ou até mesmo um pouco abaixo. A propósito,
a previsão do VI Workshop Internacional de Avaliação Foram usados dados de chuvas totais mensais
Climática para o Semi-árido Nordestino, realizado em de 102 localidades, relativamente bem distribuídas
Fortaleza – CE no período de 22 e 23 de janeiro de pelo estado da Paraíba, coletados pelo Laboratório de
2004, foi a seguinte “Ao final do evento concluiu-se Meteorologia, Recursos Hídricos e Sensoriamento
que a previsão climática para o período de fevereiro a Remoto do Estado da Paraíba LMRS–PB e que
maio de 2004 é de chuvas dentro da média histórica, contém médias climatológicas, ou seja, usou-se as
podendo algumas regiões apresentarem precipitações localidades que eram possíveis comparar os totais
abaixo da média histórica no setor norte do Nordeste do mensais de precipitação ocorridos em 2004 com
Brasil” (texto extraído de http://www.cptec.inpe.br). os valores históricos conhecidos. Para aprimorar
Portanto, devido ao baixo volume de água armazenada as análises também foram utilizadas informações
nos reservatórios, provavelmente, um racionamento colhidas nos sites da Fundação Cearense de
era inevitável. Entretanto, a partir da segunda quinzena Meteorologia e Recursos Hídricos (FUNCEME),
de janeiro e todo mês de fevereiro de 2004 o estado da Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos do
Paraíba experimentou chuvas abundantes. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTEC/
INPE), Centro Nacional de Previsão Ambiental dos
É do conhecimento dos meteorologistas que Estados Unidos da América (NCEP) e LMRS – PB.
a distribuição espacial da precipitação média
climatológica sobre as diversas regiões do estado da Como o objetivo deste trabalho foi fazer
Paraíba apresenta característica muito diversificada uma análise das chuvas na Paraíba em 2004 que
em quantidade e no tempo, pois, muitos trabalhos têm levassem em consideração as diversas características
destacado que a região Nordeste possui, pelos menos, climáticas das múltiplas áreas da Paraíba. Optou-se
três grandes áreas que apresentam períodos diferentes pela utilização da metodologia proposta por Brito et
para a estação chuvosa (período dos quatro meses al. (2004). A propósito, Brito et al. (2004) mostraram
consecutivos mais chuvosos): uma no sul da Região, que do ponto de vista da precipitação a Paraíba tem,
com estação de novembro a fevereiro, outra no norte, pelo menos, seis regiões climáticas, a saber: Litoral
com chuvas mais significativas de fevereiro a maio, (Região 1), Brejo (Região 2), Agreste (Região
e a terceira no leste, época chuvosa de abril a julho 3), Cariri/Curimataú (Região 4), Sertão (Região
(Kousky, 1979; Hastenrath et al., 1984; Brito et al., 5) e Alto Sertão (Região 6), as quais apresentam
1991). Neste caso, o estado da Paraíba é contemplado estações chuvosas distintas tanto em relação a época
com dois períodos distintos de chuvas: um no centro- do ano em que ocorre as chuvas como ao total
oeste (chuvas de fevereiro a maio) e outro no leste médio estacional (Tabela 1). A Figura 1 ilustra as
(abril a julho). Entretanto, estudos mais refinados, localizações geográficas, dentro do Estado da Paraíba,
mostram que a Paraíba possui, pelos menos, seis das seis regiões pluviometricamente homogêneas,
áreas que apresentam estações chuvosas distintas denominadas neste trabalho de regiões climáticas.
(Brito et al., 2004). Porém, as abundantes chuvas que
ocorreram sobre a Paraíba em janeiro e fevereiro de
2004 apresentaram-se de forma quase que uniforme
em todas as regiões do Estado.

Portanto, este trabalho tem como objetivo mostrar


as causas principais que induziram as fortes chuvas
na Paraíba em 2004.

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Boletim SBMET março/05

Tabela 1: Precipitação média da estação chuvosa (mm/estação) e anual (mm/ano) para as regiões pluviométricamente
homogêneas do estado da Paraíba.

Região I Região II Região III Região IV Região V Região VI


Litoral Brejo Agreste Cariri/ Sertão Alto Sertão
Curimataú
Estação Abril a julho Abril a Abril a Fevereiro a Fevereiro a Janeiro a
Chuvosa julho julho maio maio abril
Precipitação
Estação 1036,2 651,1 436,9 326,2 575,1 704
chuvosa
Precipitação 1803,5 1174,9 762,1 484 761,8 926,6
Ano
Fonte: Brito et al. (2004).

Figura 1: Localização geográfica das regiões pluviometricamente homogênea do estado da Paraíba


(Fonte: Brito et al., 2004).

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Atlântico Sul (ZCAS) e favoreceu a formação de um
A Tabela 2 mostra os totais mensais de vórtice ciclônico na alta troposfera sobre o Nordeste
precipitação (mm/mês) observados em 2004 e os valores e Atlântico adjacente, que permaneceu durante toda
médios climatológicos para o estado da Paraíba como segunda quinzena de janeiro. A atividade convectiva
um todo. Pode ser verificado que em janeiro o total proporcionada pelo vórtice interagiu com a Zona de
mensal foi superior a 370 mm/mês, enquanto a média Convergência Intertropical ZCIT , que se posicionou ao
climática é um pouco superior a 60 mm/mês. Isto ocorreu sul de sua climatologia, produzindo instabilidade sobre
devido à incursão de uma frente fria sobre o estado da a Região Nordeste, em particular sobre a Paraíba, e
Bahia trazendo consigo a Zona de Convergência do intensificando as chuvas sobre o Estado.

29
Boletim SBMET março/05

Tabela 2: Precipitação mensal observada (mm/mês) em 2004, a média climatológica (mm/mês)


e o desvio absoluto (mm/mês) .

MESES Precipitação Precipitação média Desvio absoluto


observada em 2004 climatológica (mm/mês)
(mm/mês) (mm/mês)
Janeiro 372,6 62,5 310,1
Fevereiro 209,1 105,7 103,4
Março 94,3 163,9 -69,5
Abril 73,5 152,1 -78,5
Maio 114,1 88,2 25,8
Junho 134,2 66,8 67,5
Julho 101,9 54,1 47,8
Agosto 21,8 26,1 -4,3
Setembro 11,4 14,1 -2,7
Outubro 2,3 9,3 -6,9
Novembro 3,1 13,7 -10,5
Dezembro 19,1 27,8 -8,7
Ano 1157,6 784,1 373,5

Por outro lado, a Tabela 3 mostra as chuvas ocorridas e ligeiramente acima da média no Atlântico tropical
de janeiro a julho de 2004 em cada uma das seis regiões norte. Em fevereiro a TSM no Atlântico tropical
climáticas da Paraíba, bem como suas respectivas foram muito próximo dos valores climatológicos,
médias climatológicas. Observa-se que no mês de produzindo anomalias de TSM quase nulas. Portanto,
janeiro as chuvas foram relativamente homogêneas em os campos TSM sobre o Atlântico tropical tiveram
todo Estado, pois em todas as regiões a precipitação papel irrelevante nas fortes chuvas observadas
foi superior a 300 mm, enquanto a média varia de 34 sobre a Paraíba nos meses de janeiro e fevereiro. A
mm, na região 4 (Cariri/Curimataú), a 121,3 mm, na importância da TSM do Atlântico tropical no aumento
região 6 (Alto Sertão). Isto mostra que o Vórtice atuou ou diminuição das chuvas no Nordeste foi enfatizada
de forma homogênea sobre toda Paraíba. É importante por diversos pesquisadores, entre eles Hastenrath
mencionar que um dos pioneiros nos estudos da e Heller (1977), Moura e Shukla (1981), Rao et al.
importância dos vórtices na produção de chuvas sobre (1999). Por outro lado, a pressão ao nível médio do
o Nordeste foi Kousky e Gan (1981). mar (PNM) no Atlântico Sub-tropical sul foi superior
a média climatológica tanto em janeiro como em
Durante o mês de fevereiro de 2004 as chuvas fevereiro. Isso pode ter produzido um aumento de
continuaram abundantes na Paraíba (Tabelas 2 advecção de umidade para o Nordeste do Brasil. Rao
e 3), apenas as regiões 4 (Cariri/Curimataú) e 5 et al. (1993) descreveram que alta subtropical do
(Sertão) apresentaram precipitações inferiores a Atlântico sul mais intensa pode proporcionar chuvas
200 mm/mês, porém superiores às suas respectivas no setor leste do Nordeste, principalmente nos meses
médias climatológicas. As causas das fortes chuvas de inverno.
continuou sendo a interação entre a atividade
convectiva produzidas pelo vórtice ciclônico, a ZCAS Outro fator que pode ter contribuído para as intensas
e a ZCIT, que continuou posicionada ao sul de sua chuvas de janeiro/fevereiro de 2004 foi à atuação da
climatologia. Oscilação de Madden e Julian (OMJ). Kayano et al.
(1990) mostraram a influência da OMJ na produção
Em janeiro a Temperatura da Superfície do Mar de chuvas no Nordeste.
(TSM) esteve inferior à média no Atlântico tropical sul

30
Boletim SBMET março/05

Tabela 3: Precipitação observada (obs.) e média climática (Méd.) dos meses de janeiro a julho, em cada uma
das seis regiões climáticas do estado da Paraíba.
MESES Região 1 Região 2 Região 3 Região 4 Região 5 Região 6
obs. Méd. obs. Méd. obs. Méd. obs. Méd. obs. Méd. obs. Méd.
Janeiro 313,1 82,6 399,6 58.8 342,2 33.4 334,2 34 405,4 79,5 409,3 121,3

Fevereiro 206,9 114,9 291,2 84.1 201,1 50.9 141,6 61,3 174,3 122,1 266,2 161,4

Março 101,7 192,6 100,1 143.5 53,2 102.3 40,7 110,6 98,2 195,2 128,1 226,8

Abril 129,6 235,7 122,8 166.1 74,7 116.5 32,5 105,1 77,3 174,5 61,8 194,5

Maio 246,5 253,4 212,0 146.0 139,7 95.3 57,9 49,2 41,4 83,3 107,7 80,3

Junho 342,9 283,2 190,1 166.4 144,6 108.1 67,7 37,9 83,9 33,1 53,8 33

Julho 344,3 263,9 197,4 172.6 127,9 117.0 63,7 36,3 20,2 21,6 22,4 19,5

Nos meses de março e abril de 2004 as chuvas de 2004. Salienta-se que Grodsky e Carton (2003)
foram inferiores a média climatológica em todas as mencionaram a importância da Zona de Convergência
seis regiões da Paraíba. Em março a ZCIT ficou ao Secundária para produção de chuvas no leste do
sul de sua climatologia, porém apresentou pouca Nordeste.
intensidade, uma vez que sobre o oceano Atlântico
tropical predominaram anomalias positivas de TSM Vale ressaltar que para a Paraíba como um todo as
ao norte do equador e negativa ao sul. Um outro fator chuvas de fevereiro a maio de 2004 foram em torno
foi à atuação da OMJ que pode ter inibido a convecção da média climatológica, ou seja, atingiram 96,3% da
sobre a Paraíba. Em abril a ZCIT posicionou-se ao média. Portanto, pelos menos para a Paraíba a previsão
norte da climatologia, o Atlântico tropical continuou do VI Workshop Internacional de Avaliação Climática
a apresentar padrão de anomalias de TSM semelhante para o Semi-árido Nordestino, realizado em Fortaleza
ao de março e os vórtices ciclônicos estiveram com o – Ceará no período de 22 e 23 de janeiro de 2004, foi
centro sobre o estado da Bahia. Estas configurações coerente.
dificultaram a produção de precipitação na Paraíba.
Entretanto, sistemas ondulatórios de leste e ZCIT 4. CONCLUSÕES E SUGESTÕES
contribuíram para ocorrência de chuvas na Paraíba,
durante abril de 2004. Como conclusões, tem-se: 1) As fortes chuvas
ocorridas na Paraíba em janeiro e fevereiro de 2004
No período de maio a julho de 2004 as chuvas na foram as mais intensas dos últimos 50 anos e foram
Paraíba voltaram a ser superior a média climatológica produzidas pela interação da ZCIT com as atividades
(Tabelas 2 e 3), principalmente em junho, que convectivas oriundas do vórtice ciclônico da alta
apresentou precipitação acima da média em todas as troposfera e ZCAS. 2) A posição do Vórtice Ciclônico
regiões do Estado (Tabela 3). Os principais eventos foi fundamental na produção de chuvas na Paraíba em
produtores de chuvas foram os sistemas ondulatórios de janeiro e fevereiro. 3) As chuvas observadas em junho
leste. O campo de PNM sobre o Atlântico Subtropical e julho foram decorrentes basicamente de distúrbios
que, em geral, apresentou anomalias positivas também ondulatórios de leste e da Zona de Convergência
contribuiu para o aumento das chuvas em junho-julho Secundária do Leste do Nordeste. Por fim, sugere um
na Paraíba. Outro sistema que foi responsável pelas estudo mais profundo sobre o posicionamento dos
chuvas de junho-julho foi a Zona de Convergência vórtices ciclônicos, sua ligação com o campo de TSM
Secundária do Leste do Nordeste, como sugerido na no Atlântico tropical e investigações sobre a Zona de
reunião climática de Aracajú – Sergipe em 19 de maio Convergência Secundária do Leste do Nordeste.

31
Boletim SBMET março/05

5. AGRADECIMENTOS KAYANO, M.T.; KOUSKY, V.E.; STUDZINSKI,


C.D.; DIAS, P.L.S. As variações Intra-Sazonais da
Os autores agradecem ao LMRS – PB que cedeu os Precipitação no Brasil Durante o verão de 1989/1990.
dados de precipitação da Paraíba no ano de 2004. Climanálise, v.5, n. 4, p. 40-50, 1990.

KOUSKY, V.E. Frontal Influences on Northeast


6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Brazil. Monthly Weather Review, v.107, n.9,
p.1140-1153, 1979
BRITO, J.I.B.; NOBRE, C.A.; ZARANZA, A.R. A
precipitação da pré-estação e a previsibilidade da KOUSKY, V.E.; GAN, M.A. Upper tropospheric
estação chuvosa no norte do Nordeste. Climanálise, cyclonic vortices in the tropical South Atlantic. Tellus,
v.6, n.6, p.39-54, 1991. v.33, n.6, p.538-551, 1981.

BRITO, J.I.B.; SILVA, M.C.L.; NÓBREGA, A.M.; MOURA, A. D.; SHUKLA, J. On the dynamics of
BRAGA, C.C. Análise da precipitação do Estado da drought in Northeast Brazil: observations, theory
Paraíba no período de 1962-2001.In: XIII Congresso and numerical experiments with a general circulation
Brasileiro de Meteorologia, 2004, Fortaleza, SBMET, model. Journal of the Atmospheric Sciences, v.38,
v.1, Anais: 2004. n.12, p.2653-2675, 1981.

GRODSKY, S.; CARTON, J.A. The intertropical RAO, V.B.; de LIMA, M.C.; FRANCHITO, S.H.
convergence zone in the south Atlantic and the Seasonal and interannual variations of rainfall over
equatorial cold tongue. Journal of Climate, v.16, n. Eastern Northeast Brazil. Journal of Climate, v.6,
4, p. 723-733, 2003. n.9, p.1754-1763, 1993.

HASTENRATH, S.; HELLER, L. Dynamics of climatic RAO, V.B.; CHAPA, S.R.; FRANCHITO, S.H.
hazards in northeast Brazil. Quarterly Journal of the Decadal variation of atmosphere-ocean interaction in
Royal Meteorological Society, v.103, n.435, p.77-92, the tropical Atlantic and its relationship to the Northeast
1977. Brazil rainfall. Journal of the Meteorological Society
of Japan, v.77, n.1, p.63-75, 1999.
HASTENRATH, S.; WU, M.C.; CHU, P.S. Towards the
monitoring and prediction of north-east Brazil droughts.
Quarterly Journal of the Royal Meteorological
Society, v.110, n.465, p.411-425, 1984.

32
Boletim SBMET março/05

ANÁLISE PRELIMINAR DOS TORNADOS


DE 3 DE JANEIRO DE 2005 EM CRICIÚMA/SC
Ernani de Lima Nascimento
Laboratório de Estudos de Monitoramento e Modelagem Ambiental
Instituto Tecnológico SIMEPAR, Curitiba/PR (elnascimento@ufpr.br)

Isabela Pena Viana de Oliveira Marcelino


Grupo de Estudos de Desastres Naturais, Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis/SC (isabelamarcelino@yahoo.com.br)

RESUMO

Um estudo preliminar dos episódios de tornados ocorridos na cidade de Criciúma, em Santa Catarina,
no dia 3 de janeiro de 2005 é apresentado neste artigo, abrangendo a descrição e classificação
da intensidade dos fenômenos baseadas na destruição causada, e a análise inicial das condições
atmosféricas em que se formou o sistema tornádico. Resultados iniciais indicam que o primeiro
tornado atingiu intensidade F2 na Escala de Fujita em seu estágio maduro. Este tornado desenvolveu-
se de um sistema convectivo raso, sem a presença de uma supercélula na formação do mesmo, o
que sugere fortemente que este tornado tratou-se de uma intensa tromba terrestre (landspout). O
segundo tornado causou danos de intensidade F1 e formou-se de uma célula convectiva mais intensa
e profunda, mas desprovida de algumas características clássicas de supercélulas. O ambiente sinótico,
sem intenso cisalhamento vertical profundo, não era inteiramente propício ao desenvolvimento de
supercélulas naquela tarde. Entretanto, não é possível descartar a hipótese de uma mini-supercélula
ter gerado o segundo tornado.
Palavras-chave: tempestade, convecção, classificação de tornados.

ABSTRACT

A preliminary study is conducted on the 3 January 2005 tornado episodes reported in Criciúma,
Santa Catarina. This study includes the description and intensity rating of the two tornadoes based
upon damage assessment analysis, and a first examination of the atmospheric conditions in which
the tornadic convective system developed. Initial results indicate that the first tornado reached F2
intensity in the Fujita scale given the rather significant damage caused by it during its mature stage.
This tornado was spawned by a shallow convective system, without the presence of a supercell
storm, which strongly suggests that the first tornado was in fact a strong “landspout” (a non-supercell
tornado). The second tornado caused F1 damage and developed from a deeper and more intense
convective cell that did not display some of the classic characteristics of supercell thunderstorms.
Given the lack of strong deep layer shear, the synoptic environment was not entirely favorable for
the development of supercells that afternoon. Yet, it is not possible to rule out the hypothesis that the
second tornado was spawned by a mini-supercell.
Key words: storm, convection, tornadoes classification.

33
Boletim SBMET março/05

1. INTRODUÇÃO instrumental, as análises dos danos causados por


tornados representam o procedimento típico para
Na tarde do dia 3 de janeiro de 2005, dois tornados estimar sua força, largura e longevidade (Fujita,; NWS
foram registrados na cidade de Criciúma, localizada 2003), sendo esta a abordagem adotada para o estudo
no sul do Estado de Santa Catarina. Apesar deste não do evento de Criciúma.
ser o primeiro evento de tornado registrado neste
estado (Oliveira, 2000; Marcelino, 2003; Marcelino et Para realizar a classificação dos tornados conforme a
al., 2003; 2004 a; b; 2005), o episódio de Criciúma Escala de Fujita, pesquisadores do Grupo de Estudos de
destaca-se pela ampla documentação fotográfica e Desastres Naturais (GEDN) da Universidade Federal
videográfica realizada por residentes locais durante o de Santa Catarina realizaram avaliações in loco da
evento, fazendo desta a ocorrência de tornados com destruição causada pelo fenômeno meteorológico,
melhor documentação visual para esta região do Brasil. coletando dados detalhados de sua trajetória e tipo
No presente artigo conduz-se uma análise preliminar de destruição. Dados dos AVADANs também foram
do evento tornádico de Criciúma, examinando os danos consultados com a finalidade de reunir-se mais
causados pelo fenômeno e o ambiente atmosférico em informações sobre os danos e prejuízos associados
que o sistema desenvolveu-se. ao evento, fornecendo subsídios relevantes para a
classificação de intensidade dos fenômenos.
2. DESCRIÇÃO DOS EPISÓDIOS DE
TORNADOS E ANÁLISE PRELIMINAR
DOS IMPACTOS OCASIONADOS (a)

Dois tornados ocorreram no dia 03 de janeiro de


2005 em diferentes bairros do município de Criciúma,
localizado no sul de Santa Catarina. O primeiro
tornado (Figura 1 a) afetou a área central do município,
principalmente no bairro Vila Manaus. Já o segundo
(Figura 1 b), que surgiu aproximadamente trinta
minutos após o término do primeiro, atingiu áreas
adjacentes da área central de Criciúma, principalmente
os bairros Metropol e Colonial. De acordo com a
descrição do evento no Relatório de Avaliação de
Danos (AVADAN) encaminhado pelo município de
Criciúma ao Departamento Estadual de Defesa Civil (b)
(DEDC-SC), outros bairros próximos aos acima
citados foram afetados por ventos não tornádicos e,
após a ocorrência dos fenômenos, chuvas intensas
foram registradas sobre a região.

As análises dos danos materiais ocasionados pelos


tornados foram de fundamental importância para
a caracterização de suas intensidades, pois poucos
instrumentos meteorológicos são capazes de realizar
estimativas confiáveis de velocidade do vento dentro
de vórtices tornádicos, como, por exemplo, o radar
meteorológico Doppler - mesmo assim apenas em Figura 1: Tornados ocorridos no município de
modo de pesquisa de campo, quando posicionado Criciúma-SC em 03/01/2005; a) primeiro tornado
deliberadamente próximo ao tornado (Wurman, (Foto de Wladmir Nunes); b) segundo tornado (Foto
2002; Bluestein et al., 2003). Na ausência deste de Marcelo Pierini/Dept. de Informática - UNESC).

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Boletim SBMET março/05

(a)
2.1. Primeiro Tornado

Estima-se que o ciclo total de vida do primeiro


tornado (Figura 1 a) ocorreu dentro de um período
de 30 min entre aproximadamente 14:40 h e 15:10 h
(todos os horários indicados nesta análise de danos
são locais, e em horário de verão), apresentando
intensidade variável. Foi registrado um óbito associado
a este tornado, devido à parada cardíaca causada pelo
espanto da vítima ao visualizar o fenômeno.

Este tornado iniciou-se com intensidade F0


nas imediações da Universidade do Extremo Sul (b)
Catarinense (UNESC), no bairro Universitário. Nesse
trecho verificaram-se galhos de árvores quebrados e
retorcidos e alguns destelhamentos leves. À medida
que se deslocava no sentido NE-SO, em direção
ao bairro Vila Manaus, a intensidade do tornado
aumentou para F1, causando destruição parcial de
uma casa de alvenaria, queda de muros, tombamento
e lançamento de árvores (a aproximadamente 50 m
de distância), e destruição de telhados. Ao atingir o
bairro Vila Manaus o tornado encontrava-se em sua
máxima intensidade, alcançando força F2 na Escala Figura 2: Destruição causada pelo primeiro tornado
Fujita, que abrange basicamente a destruição total de em Criciúma em 03/01/2005 (Foto a: Simone Costa;
casas frágeis (non-engineering houses) e a formação Foto b: Jornal da Manhã - Criciúma).
de projéteis leves (Fujita, 1981; NWS 2003). Nesse
local, quatro casas foram completamente destruídas, É interessante ressaltar que este tornado não se
sendo duas de madeira e duas de tijolos. manteve em contato com o solo de maneira contínua;
ou seja, sua trajetória de destruição era descontínua,
A Figura 2 indica o tipo de destruição causada com “saltos” que podem estar associados a uma
no bairro Vila Manaus neste estágio. A Figura 2a sequência de “falhas” no processo de tornadogênese
mostra a destruição total de uma casa de tijolo e o (tornadogenesis failure; Trapp, 1999).
destelhamento da casa adjacente. A Figura 2b mostra
a destruição parcial de um galpão de alvenaria com
estrutura de concreto armado (vigas e pilares). 2.2. Segundo Tornado
A existência de pedaços de telhas e de madeiras
encravados em troncos de árvores e no solo indica O segundo tornado (Figura 1b), também de
que detritos de tamanhos consideráveis foram intensidade variável ao longo de seu ciclo de vida,
violentamente lançados como projéteis pelo tornado, iniciou-se aproximadamente as 15:30 h como um F0
alguns dos quais sendo lançados a 150 m de distância. nas imediações do bairro Rio Maina, onde galhos de
Após esse trecho mais intenso, o tornado perdeu árvores foram quebrados. Ao deslocar-se no sentido
intensidade passando novamente para F1 e F0 antes SE-NO, atingiu o bairro Metropol e nesse momento
de dissipar-se. intensificou-se passando para a categoria F1, causando
destelhamentos e destruição de estruturas frágeis
(garagens, ranchos e cocheiras). Além disso, este

35
Boletim SBMET março/05

fenômeno derrubou e quebrou árvores (eucaliptus), 3. ANÁLISE METEOROLÓGICA


deixando algumas sem galhos e sem folhas.
Posteriormente, deslocou-se para o bairro Colonial A ocorrência de tornados no sul do Brasil, mesmo
ainda com intensidade F1, onde também causou sendo incomum em comparação com outros fenômenos
destelhamentos generalizados, destruiu alguns telhados meteorológicos, não é um evento extraordinário.
e lançou um carro para fora da estrada. Houve muitos Condições atmosféricas propícias para a ocorrência
materiais em suspensão como pedaços de madeiras e de tempestades convectivas severas (capazes de gerar
de telhas e galhos de árvores. Quando se aproximou granizo gigante e/ou rajadas de vento destrutivas e/ou
das encostas do morro próximo a esse bairro, perdeu tornados) são ocasionalmente registradas nesta parte
intensidade passando para a categoria F0, dissipando- do mundo como discutido em Brooks et al. (2003),
se aproximadamente as 15:45 h. De acordo com esses Marcelino (2003), Marcelino et al. (2003; 2004a) e
danos, o segundo tornado enquadra-se na categoria F1 Nascimento (2004, 2005). Os mecanismos atmosféricos
da Escala Fujita, que possui danos moderados, com que levam à formação de tornados envolvem processos
destelhamentos, deslocamentos das casas frágeis de sua de diferentes escalas meteorológicas - desde a escala
fundação e lançamento de carros para fora das pistas sinótica (por exemplo, Doswell e Bosart, 2001) até a
(Fujita, 1981). Como ocorreu no primeiro caso, esse micro escala (Bluestein et al., 2003), que ainda não
tornado também não tocou o solo de maneira contínua. são totalmente conhecidos apesar das inúmeras teorias
A Figura 3 a mostra uma edícula que teve o telhado desenvolvidas nas últimas décadas (Davies-Jones
arrancado, enquanto que na Figura 3 b mostra algumas et al., 2001). Neste estudo preliminar dá-se ênfase à
árvores tombadas que foram arrancadas pela raiz. análise do ambiente sinótico em que se desenvolveram
os eventos tornádicos.
(a)
As Figuras 4 e 5 mostram, respectivamente, seqüências
de imagens do canal visível do satélite GOES-12 e de
imagens PPI de refletividade do radar meteorológico
do Instituto Tecnológico SIMEPAR para o sul de SC
na tarde do evento estudado. Às 16:09Z (Figura 4a),
antes da ocorrência do primeiro episódio tornádico,
nota-se a presença de nuvens cirrus sobre o extremo
sul de SC, formando filamentos no sentido O-NO
para E-SE. Estes indicam os ventos na alta troposfera
à vanguarda de um cavado migrando para leste, a ser
descrito mais tarde.
(b)
Neste horário o radar do SIMEPAR ainda não
detectava a presença de nenhum sistema profundo
sobre a região de interesse (Figura 5 a), é importante
ressaltar que à distância de Criciúma, o feixe do radar
encontra-se a cerca de 6,5 km de altura. Na hora
seguinte, quando se formou o primeiro tornado, um
sistema convectivo relativamente raso desenvolveu-
se sobre Criciúma (Figuras 5 b e 5 c), o que parece
também ser confirmado pela imagem de satélite
(Figura 4 b). Os indícios preliminares indicam,
portanto, que o primeiro tornado não foi gerado por
Figura 3: Destruição causada pelo segundo tornado em uma tempestade profunda ou supercélula, podendo ter
03/01/2005. a) destruição do telhado; b) árvores tombadas. sido uma “tromba terrestre” (do inglês “landspout”;
(Fotos de Emerson Vieira Marcelino/ GEDN). Davies-Jones et al., 2001).

36
Boletim SBMET março/05

(a) (a) 16:09 Z (b) 17:09 Z

(c) 17:39 Z (d) 17:45 Z

Figura 4: Seqüência de imagens do canal visível do satélite GOES-12 para o dia 03/01/2005.

(a) (b) (c)


16:10 Z 16:50 Z 17:10 Z

(d) (e) (f)


17:40 Z 17:50 Z 18:00 Z

Figura 5: Seqüência de imagens PPIs do campo de refletividade do radar do SIMEPAR para o dia
03/01/2005.

37
Boletim SBMET março/05

A elevação do feixe do radar é de 0.1° em todos adicionais na caracterização desta tempestade.


os painéis, exceto em (c) onde é de 0.0°. As linhas Ficou claro, por outro lado, que o segundo tornado
concêntricas indicam distâncias de 240, 320 e 400 (curiosamente, o menos intenso) desenvolveu-se com
km em relação ao radar. A barra de cores à direita uma célula mais intensa que o primeiro.
indica a escala de refletividade em dBZ.
3.1.Campos sinóticos e
A partir das 17:30 Z um novo desenvolvimento perfis verticais da atmosfera
convectivo é observado sobre Criciúma, desta vez
com crescimento explosivo e adquirindo maior As condições atmosféricas reinantes na Região Sul
extensão vertical (Figuras 4c-d, 5d-f). O segundo do Brasil horas antes da ocorrência dos tornados e
tornado formou-se durante este período. A máxima no horário próximo à formação dos mesmos são
refletividade no nível estudado atingiu os 46 examinadas, respectivamente, com o auxílio das
dBXZ(as 18:00 Z, Figura 5f), o que é relativamente Figuras 6 e 7. A Figura 6 refere-se à análise do
alto considerando a ampla abertura do feixe do modelo operacional ETA-CPTEC (Seluchi e Chou,
radar àquela grande distância. Como o campo de 2001) as 12 Z do dia 03/01/2005, enquanto que a
velocidade Doppler não é disponível além de 200 km Figura 7 mostra a previsão operacional de 6h deste
de distância ao radar, não é possível confirmar se a modelo valida as 18 Z (exatamente como emitida no
célula convectiva desenvolveu um mesociclone, o dia do evento).
que caracterizaria uma supercélula.
A Figura 6a ilustra as condições atmosféricas em
A imagem de satélite as 17:45 Z (Figura 4 d) mostra superfície na manhã do dia 03/01/2005. Um sistema
a bigorna da célula com desenvolvimento moderado de baixa pressão bem definido localizava-se sobre
acompanhando os ventos em altos níveis. Em uma o Paraguai, com um cavado também evidente sobre
primeira análise, a estrutura visual da célula em o litoral do Rio Grande do Sul (RS). Este cavado
altos níveis mostrada na Figura 4d não apresenta promoveria chuvas fortes sobre o centro do RS horas
características de uma supercélula típica, como por mais tarde, chuvas estas que não teriam influência
exemplo, uma bigorna extensa com extremidades direta sobre o episódio tornádico.
muito bem definidas e contornando de forma completa
(isto é, em 360°) a região da corrente ascendente da Ventos de quadrante norte prevaleciam sobre todo
tempestade (ver, por exemplo, a Figura 13 de Weaver o sul do Brasil. Sobre o Atlântico Sul estabeleceu-
et al., 2002). Entretanto, não podemos descartar se um gradiente de pressão zonal relativamente forte
totalmente a possibilidade de ter se tratado de uma que favorecia ventos de NE em superfície ao longo do
mini-supercélula (Knupp et al., 1998), especialmente litoral sul brasileiro. Este escoamento contribuiu para
pelo fato do segundo tornado ter surgido de uma uma importante convergência de umidade ao longo
estrutura que se assemelha a um “pedestal” (ou “wall da costa de SC (Figura 6b) que viria a desempenhar
cloud”) da tempestade (Figura 1b), o que costuma estar papel relevante para o desenvolvimento da atividade
associado a supercélulas. Estudos adicionais, alguns convectiva horas mais tarde. Em 850 hPa os ventos
já em andamento, são necessários para se caracterizar permaneciam de quadrante norte, advectando umidade
a presença ou não de um meso- ou misociclone na para as latitudes subtropicais do Brasil (Figura 6c).
célula em questão. A análise abaixo fornece subsídios

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Boletim SBMET março/05

(a) (b)

(c) (d)

Figura 6: Análise do modelo Eta/CPTEC válida para as 12 Z do dia 03/01/2005. Vetores representam: ventos a 10 m
em (a) e (b), e ventos em 850 hPa e 500hPa em (c) e (d), respectivamente. Contornos são: a) pressão ao nível do mar
indicada em intervalos de 1 hPa; b) divergência de umidade em intervalos de 2 × 10-5 g kg-1 s-1 (linhas pontilhadas
são valores negativos, com a linha de zero sendo omitida); c) umidade específica em intervalos de 1 g kg-1 (apenas
valores acima de 18 g kg-1 são mostrados); (d) altura geopotencial em 500 hPa em intervalos de 20 m. Um vetor
referência de 20 m s-1 é indicado abaixo de cada painel, e o círculo nas figuras indica a localização de Criciúma.

Este foi um dos mecanismos relevantes para a vento na vertical sobre o litoral do RS. Em níveis altos,
desestabilização da atmosfera no sul do Brasil neste o cavado também estava bem definido (não mostrado),
dia. Entretanto, seguindo os critérios de Bonner (1968), sendo acompanhado de um núcleo de jato (jet streak)
um jato de baixos níveis não ficou caracterizado. A posicionado sobre o RS. Forte divergência era evidente
circulação ciclônica sobre o Paraguai era identificável na entrada equatorial deste padrão sobre o extremo oeste
também em 850 hPa. catarinense. O campo de Energia Potencial Convectiva
Disponível (“Convective Available Potential Energy”,
Em níveis médios (Figura 6 d), um cavado migratório CAPE) analisado pelo modelo indicava valores mais
bem definido deslocava-se sobre a região sul do Brasil, altos (acima de 1000 J kg-¹) para a Argentina e RS, sem
favorecendo a queda de pressão em superfície que induzia valores significativos sobre SC naquele horário (não
os ventos de NE sobre o litoral sul. A presença deste mostrado).
sistema sinótico contribuiu para o estabelecimento de
um ambiente atmosférico propício ao desenvolvimento A Figura 7 mostra a previsão de 6-h do modelo Eta/
de tempestades à sua vanguarda uma vez que favoreceu CPTEC, válida em um horário próximo ao da ocorrência
(como esperado) correntes verticais ascendentes em dos tornados em SC. Por se tratar de uma previsão,
escala sinótica (não mostrado). Este é um mecanismo estes campos são examinados de forma qualitativa.
eficiente de desestabilização atmosférica com algumas É importante mencionar que a previsão do ETA/
implicações importantes para a formação de tempestades CPTEC válida as 18 Z de 03/01/2005, apesar de prever
severas (por exemplo, Doswell e Bosart, 2001). Além corretamente a ocorrência de precipitação sobre a região
disto, comparando-se as Figuras 6a e 6d, percebe-se a central do RS, não previu a formação de tempestades
existência de um importante cisalhamento direcional do isoladas sobre o extremo sul catarinense.

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Boletim SBMET março/05

(c) (d)

Figura 7: Igual à Figura 6, exceto que representando a previsão (operacional) de 6h do ETA/CPTEC válida as
18Z. Em (c) o intervalo de contorno é de 2 g kg-¹.

Em resposta ao avanço do cavado em níveis médios, de umidade em baixos níveis. A umidade específica
o gradiente de pressão em superfície previsto para prevista atingiu 22 g kg-1 sobre o RS. Sobre SC a
o período da tarde intensificou-se sobre o Atlântico solução numérica apontou para valores mais modestos
Sul (Figura 7 a). Isto não apenas induziu ventos mais de umidade, especialmente sobre terreno elevado
intensos em superfície como também favoreceu um (Figura 7 c). Entretanto, Criciúma localiza-se a apenas
giro do vento no sentido horário no litoral de SC em 46 m acima do nível do mar, de modo que a atmosfera
relação àquele analisado as 12 Z (comparar com Figura no local poderia estar mais úmida do que o previsto
6 a). Dados de METAR de Florianópolis confirmaram pelo modelo para a região serrana. De fato, o METAR
esta previsão para a direção do vento, com ventos de Florianópolis reportou Td de 24° C naquela tarde.
gradualmente virando de E-NE as 13 Z para de E as Por outro lado, é interessante notar que o funil de
16 Z. Mais adiante veremos que esta evolução em condensação do primeiro tornado (Figura 1 a) não tocou
escala sinótica pode ter contribuído para a formação o solo, apesar de sua circulação ter atingido a superfície
das tempestades tornádicas. O campo previsto de (caracterizando um tornado). Esta característica indica
divergência de umidade (Figura 7 b), por sua vez, que a camada sub-nuvem não estava suficientemente
mostrou valores substancialmente negativos (isto é, úmida para que a condensação do vórtice tornádico
intensa convergência) sobre Criciúma, sugerindo a tocasse efetivamente o solo.
existência de uma importante forçante de superfície
para a iniciação das tempestades. O escoamento previsto em 500 hPa (Figura 7 d)
mostrava o avanço gradual do cavado de níveis
Em 850 hPa (Figura 7 c) o escoamento previsto médios, com tendência negativa do geopotencial sobre
permaneceu de quadrante norte, mantendo a advecção o sul do Brasil em relação as 12 Z. Os ventos em níveis

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Boletim SBMET março/05

médios não eram particularmente intensos sobre o sul Comparando-se as Figuras 8 a e 8 c (Figuras 8 b e
brasileiro, com valores previstos atingindo apenas 8 d) nota-se que o aumento do cisalhamento previsto
12m s-1 ao longo da costa norte do RS, enquanto que foi mais acentuado em baixos níveis. E este aumento
em ambientes típicos de supercélulas (em latitudes tornou-se monotonicamente mais intenso à medida que
médias) velocidades do vento de pelo menos 15-20 amostramos pontos de grade localizados gradualmente
m s-1 em 500 hPa são geralmente observados (ver mais para leste (mais para sul), caracterizando bem a
Nascimento, 2005). Por outro lado, é importante intensificação do escoamento de quadrante NE em
ressaltar que o cisalhamento vertical do vento sobre baixos níveis, mencionado anteriormente. A previsão
o sul de SC intensificou-se em relação as 12 Z. Para do aumento do cisalhamento vertical do vento,
ilustrar isto, analisamos a Figura 8 que compara diversas especialmente em baixos níveis, sugere que tempestades
hodógrafas geradas a partir das saídas do modelo. convectivas formando-se nestas condições encontrariam
Primeiramente, nota-se que todas as hodógrafas condições cinemáticas mais propícias para interagirem
previstas para as 18 Z (Figuras 8c,d) são mais longas com vórtices horizontais induzidos pelo escoamento
do que as correspondentes analisadas as 12 Z (Figuras ambiental (Nascimento, 2005), e portanto, podendo
8a,b), indicando o aumento do cisalhamento vertical gerar intensas circulações em escala de nuvem. Um
do vento previsto para o período da tarde. resultado interessante envolve o deslocamento de NE
para SO do primeiro tornado.

(a) (b)

(c) (d)

Figura 8: Hodógrafas na camada 0-8 km obtidas a partir do modelo ETA/CPTEC para diversos pontos de grade
em torno da cidade de Criciúma/SC para o dia 03/01/2005. O ponto de grade representativo de Criciúma é 28,6°
S e 49,4° W. Os dois gráficos da esquerda [direita] mostram hodógrafas em cinco pontos de grade zonalmente
[meridionalmente] adjacentes, tendo Criciúma (28,6° S; 49,4° W) ao centro. A distância entre cada ponto de
grade adjacente é de 0.4°. Todas as hodógrafas acima iniciam-se em suas extremidades à esquerda, e evoluem
ao longo dos níveis de 1000, 925, 900, 850, 800, 750, 700, 650, 600, 550, 500, 450, 400 e 350 hPa. Painéis (a) e
(b) referem-se à análise das 12 Z do ETA/CPTEC, e painéis (c) e (d) mostram as hodógrafas previstas (em modo
operacional) pelo ETA/CPTEC as 18 Z.

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Boletim SBMET março/05

Note que todas as hodógrafas previstas para 1000 J kg-¹) exatamente sobre a região de Criciúma
Criciúma e arredores (Figuras 8c e 8d) apresentavam (não mostrado). Assim sendo, o modelo capturou a
ventos de NE para SO em baixos níveis, o que pode ter tendência geral de desestabilização da atmosfera no
desempenhando um papel importante no deslocamento período da tarde. É possível, ainda, que o ETA/CPTEC
da circulação tornádica neste mesmo sentido, esteja subestimando os valores de CAPE uma vez que
especialmente em um ambiente com cisalhamento os valores de Td observados no litoral de SC estiveram
relativamente fraco em níveis médios. Este resultado acima do previsto. Comparação com outros modelos
motivou a realização de uma simulação numérica em operacionais e simulações de estudo de caso são
escala convectiva de uma tempestade idealizada com necessárias para se avaliar melhor o campo da CAPE
o Modelo “Advanced Regional Prediction System” para este evento.
(ARPS) em um ambiente horizontalmente homogêneo,
utilizando-se, como “sondagem ambiental”, o perfil
atmosférico previsto pelo ETA/CPTEC sobre Criciúma. 4. CONCLUSÕES E COMENTÁRIOS FINAIS
Os resultados (disponibilizados em www.lemma.ufpr.
br/ernani/simula_babmet2005.html) mostram o Os dois episódios de tornados ocorridos em Criciúma
desenvolvimento de uma tempestade de curta duração vêm, através do seu amplo registro fotográfico e
(menor que 1h) com sua estrutura de baixos níveis videográfico, confirmar a existência de tornados nessa
deslocando-se de NE para SO. Este resultado fornece região do país. De acordo com os danos ocasionados,
informação relevante para entender, ao menos em parte, o primeiro tornado que ocorreu numa área mais
o deslocamento do primeiro tornado. O deslocamento central do município teve intensidade F2, causando
de SE para NO do segundo tornado, entretanto, não destruição total de residências populares. O segundo
é facilmente explicado pela análise das hodógrafas e tornado enquadrou-se na categoria F1, causando danos
merece análise mais detalhada em trabalhos futuros. moderados em bairros mais afastados da área central. A
Outro ponto importante da simulação mencionada vistoria em campo dos danos ocasionados por esse tipo
acima foi a obtenção de uma tempestade de curta de fenômeno é fundamental para obtenção de dados
duração, o que representa indício adicional de que o e informações, que por sua vez fornecem a base para
ambiente sinótico na tarde de 3 de janeiro de 2005 não chegar numa estimativa de intensidade mais precisa.
era particularmente favorável para o desenvolvimento
de tempestades tipo supercélulas. Este resultado parece Quanto à análise meteorológica, imagens de satélite
ser consistente com a análise anterior realizada com os e de radar não mostraram a presença de um sistema
dados de radar e satélite. convectivo profundo no momento do primeiro tornado.
Os resultados preliminares aqui discutidos indicam que
Em níveis altos (campos não mostrados), o cavado este tornado foi gerado de um sistema convectivo raso
mantinha-se bem definido sobre o sul do Brasil e, portanto, provavelmente tratou-se de uma intensa
com ventos sendo previstos a atingir 20 m s-¹ sobre tromba terrestre landspout a qual não requer a presença
o leste catarinense. Para o extremo sul de SC a de uma tempestade tipo supercélula para sua formação.
previsão indicava uma região de fraca convergência A análise sugere que o deslocamento de NE para SO do
em 200 hPa, sendo ligeiramente desfavorável à primeiro tornado foi, na ausência de forte cisalhamento
formação de tempestades intensas. Análises futuras vertical profundo, muito influenciado pelo escoamento
abordarão o papel desempenhado pelo escoamento médio nos primeiros 3 km, dominado por ventos do
em altos níveis na evolução do sistema convectivo quadrante NE e com razoável cisalhamento direcional
de Criciúma. Em termos de instabilidade convectiva, vertical nesta camada. O segundo tornado, apesar
o ETA/CPTEC previa um aumento da CAPE sobre de mais fraco, formou-se de uma tempestade com
o litoral de SC em relação à análise das 12 Z, com desenvolvimento mais intenso, ainda que desprovida
um núcleo de valores moderados de CAPE (acima de de muitos dos padrões clássicos de supercélulas.

42
Boletim SBMET março/05

É importante frisar que as condições sinóticas BROOKS, H. E.; LEE, J. W.; CRAVEN, J. P. The
reinantes, mesmo que propícias à formação de spatial distribution of severe thunderstorm and tornado
tempestades convectivas sobre o sul catarinense, environments from global Reanalysis data. Atmos.
não eram inteiramente favoráveis à formação de Research, v. 67-68, p. 73-94, 2003.
supercélulas naquele dia, como por exemplo a
ausência de intenso cisalhamento vertical profundo.
De qualquer forma, análises adicionais são necessárias DAVIES-JONES, R. ; TRAPP, R. J. ; BLUESTEIN,
para se caracterizar a existência ou não de mesociclone H. B. Tornadoes and tornadic storms. In: Severe
dentro do sistema que gerou o segundo tornado, e Convective Storms, C. A. Doswell III (Ed.), Amer.
não descartamos a hipótese desta tempestade ter Meteor. Soc. Monograph v. 28, n. 50, p. 167-221,
caracterizado uma mini-supercélula. O deslocamento 2001.
de SE para NO do segundo tornado é de análise mais
DOSWELL, C. A.; BOSART, L. F. Extratropical
difícil, podendo ter sido influenciado por circulações
synoptic-scale processes and severe convection. In:
de origem local. Simulações numéricas em escala
Severe Convective Storms, C. A. Doswell III (Ed.),
convectiva, contendo representação realista das
Amer. Meteor. Soc. Monograph v. 28, n. 50, p. 27-69,
condições físicas peculiares da região de Criciúma,
2001.
serão cruciais para esta análise.
KNUPP, K. R.; STALKER, J. R.; MCCAUL, E. W. An
5. AGRADECIMENTOS observational and numerical study of a mini-supercell
storm. Atmos. Research, v. 49, p. 35-63, 1998.
Os autores agradecem a colaboração da Dra. Sin Chan
Chou do INPE/CPTEC, pela disponibilização dos FUJITA, T. T. Tornadoes and downbursts in the context
dados do modelo ETA/CPTEC e dos pesquisadores of generalized planetary scales. J. Atmos. Sci., v. 38,
M.Sc. Emerson Vieira Marcelino e Frederico de Moraes p. 1511-1534, 1981.
Rudorff pela disponibilização dos dados e informações
coletadas em campo; aos meteorologistas do Instituto MARCELINO, I. P.V.O. Análise de episódios de
Tecnológico SIMEPAR por contribuírem na obtenção tornados em Santa Catarina: caracterização sinótica
de dados meteorológicos utilizados neste artigo; a e mineração de dados. São José dos Campos. 222 p.
DEDC-SC pelos dados do AVADAN de Criciúma; e Dissertação (Mestrado em Sensoriamento Remoto) -
a Epagri/Ciram, através da Geógrafa Vera Lúcia, pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, 2003.
fornecimento dos dados de estação meteorológica de
superfície. MARCELINO, I. P. V. O. FERREIRA, N. J.;
CONFORTE, J. C. Análise do episódio de tornado
ocorrido no dia 07/02/98 no município de Abdon
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Batista - SC. In: Simpósio Brasileiro de Sensoriamento
Remoto, 11., 2003. Belo Horizonte. Anais. São José
BLUESTEIN, H. B.; WEISS, C.; PAZMANY, A. L. dos Campos: INPE, 2003. p. 05-10. (CD-ROM)
Mobile Doppler radar observations of a tornado in a MARCELINO, I. P. V. O. FERREIRA, N. J.; ANDRÉ,
supercell near Bassett, Nebraska, on 5 June 1999. Part I. R. N. Análise geográfica do tornado ocorrido
I: Tornadogenesis. Mon. Wea. Rev., v. 131, p. 2954- no município de Joinville-SC em 31/01/1999. In:
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BONNER, W. D. Climatology of the low level jet. 2004a. p. 749-761. (CD-ROM)
Mon. Wea. Rev., v. 96, p. 833-850, 1968.

43
Boletim SBMET março/05

MARCELINO, I. P. V. O. FERREIRA, N. J.; ANDRÉ, OLIVEIRA, I. P. V. O. Distribuição espaço-


I. R. N. Análise sinótica do episódio de tromba d’água temporal e análise de tornados em Santa Catarina no
ocorrido em 27/01/96 no município de São Francisco período de 1976 a 2000. In: Simpósio Brasileiro de
do Sul – SC. In: Simpósio Brasileiro de Climatologia Climatologia Geográfica, 4., 2000. Rio de Janeiro.
Geográfica, 6., 2004b, Aracajú. Anais. Aracajú: Anais. Rio de Janeiro: Climageo/UFRJ/CREA,
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modelos de mesoescala: uma estratégia operacional a severe supercell thunderstorm on 24 July 2000
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a tornado. Wea. Forecasting, v. 17, p. 473-505,
2002.

44
Boletim SBMET março/05

MENSAGEM DA OMM PARA O DIA


METEOROLÓGICO MUNDIAL EM 2005:
“O TEMPO, O CLIMA, A ÁGUA E O
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL”

Mensagem do Sr. M. Jarraud, Secretário Geral da OMM


Tradução de Dimitrie Nechet

O Dia Meteorológico Mundial foi estabelecido para fatores climáticos. Praticamente todas as atividades
comemorar a entrada em vigor, no dia 23 de março humanas estão influenciadas pelo tempo, pelo clima e
de 1950, do convênio, que veio a gerar a Organização pela água e um número cada vez maior das atividades
Meteorológica Mundial (OMM). Em 2005, foi definido dispõe de uma margem cada vez mais reduzida para
para este Dia o tema “O tempo, o clima, a água e o fazer frente aos riscos.
desenvolvimento sustentável”, como referência para a
contribuição essencial da Meteorologia, da Hidrologia Esta situação exige um novo tipo de serviços
e das ciências geofísicas conexas ao progresso da meteorológicos e hidrológicos, mais aperfeiçoados,
humanidade, ao desenvolvimento sócio-econômico em praticamente, todos os setores da economia (na
sustentável, à proteção do meio ambiente e à luta saúde, no transporte, no desenvolvimento urbano, na
contra a pobreza. segurança alimentar, no gerenciamento de água, energia
e em outros recursos, no turismo e nas atividades
A criação da OMM marcou o início de uma nova criativas). A OMM e os Serviços Meteorológicos e
era e contribuiu para alcançar rápidos progressos Hidrológicos Nacionais (SMHN) têm que ativarem
nas ciências acima, nas tecnologias conexas e na serviços mais eficazes para prevenir, minimizar ou
cooperação internacional. Esses acontecimentos reduzir as repercussões dos fenômenos extremos, da
se traduziram rapidamente pelo estabelecimento desertificação e de outras ameaças para a segurança e
de sistemas operacionais mundiais para a proteção para a proteção do ser humano e do meio ambiente, tais
da vida e dos bens, para a atenuação dos desastres como mudanças climáticas, a diminuição da camada
naturais, assim como para numerosas aplicações a de ozônio e da crescente poluição.
toda uma série de atividades sócio-econômicas em
apoio ao desenvolvimento sustentável, definido como Em 2000, a Organização das Nações Unidas (ONU)
“o desenvolvimento que satisfaz as necessidades melhorou e reorientou sua estratégia para promover o
do presente, sem colocar em risco a capacidade desenvolvimento social e econômico sem prejudicar
das gerações futuras de satisfazer suas próprias o meio ambiente, exortando a todos os seus Membros
necessidades”. a alcançarem os objetivos de desenvolvimento do
Milênio. Alguns desses objetivos, que deverão ser
Hoje em dia, as mudanças se produzem a um ritmo alcançados, no mais tardar em 2015, são de especial
cada vez mais acelerado. Graças aos espetaculares interesse para a OMM:
sucessos da meteorologia e da hidrologia, especialmente,
nas últimas décadas, as expectativas que aparecem - reduzir pela metade da proporção de pessoas que
são cada vez maiores e surgem, assim mesmo, do vivem com menos de um dólar ao dia ou que sofrem
reconhecimento, de que a economia mundial é cada de fome;
vez mais vulnerável às condições meteorológicas e aos

45
Boletim SBMET março/05

- reduzir pela metade a proporção de pessoas que Os progressos alcançados nas observações de
não têm acesso à água potável em condições de teledetecção por radares, satélites e outras instalações
salubridade; de vigilância, assim como no processamento de dados
e nas comunicações tem permitido compreender
- abordar os problemas de vulnerabilidade, de avaliação melhor desde o ponto de vista científico dos
de riscos e de luta contra os desastres, em particular processos dinâmicos e físicos da atmosfera e dos
na prevenção, na atenuação de seus efeitos, na oceanos e suas interações com outros componentes
preparação, na intervenção de casos de desastres e do sistema terrestre. Como conseqüência, tem
das medidas de recuperação, já que isso é essencial se conseguido uma melhora sem precedentes na
para conseguir um mundo mais seguro; qualidade e na precisão das previsões e nos avisos
meteorológicos. Na atualidade, é possível realizar
- abordar as questões relativas à mudança climática, previsões meteorológicas determinísticas com
em particular, à vigilância, à elaboração e à aplicação uma antecedência de sete a dez dias nas regiões
de estratégias pertinentes a nível nacional, regional extratropicais e entre três e quatro dias nas regiões
e internacional; tropicais. A previsão sazonal de fenômenos como
El Niño e La Niña constitui outra extraordinária
- garantir a sustentabilidade do meio ambiente; inovação. Graças a melhores conhecimentos e uma
rede de instalações e meios mais eficazes, hoje em dia,
- definir uma aliança mundial para o desenvolvimento. se podem realizar previsões úteis desses fenômenos,
com uma antecedência de vários meses a um ano.
O planejamento de aplicação de Johannesburgo da
Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável A OMM tem desempenhado um papel primordial nos
de 2002 atingiu esses objetivos. Hoje em dia, a urgência sucessos alcançados em relação ao conhecimento e na
dessas tarefas não tem precedentes. A OMM, como conscientização do meio ambiente físico. Felizmente
porta-voz autorizado do sistema das Nações Unidas o tempo e o clima ignoram as fronteiras políticas
sobre o tempo, o clima e a água, tem a responsabilidade ou econômicas e ao firme compromisso de seus
de coordenar e executar os programas conexos que Membros, a Organização tem uma grande solidez. Tais
contribuem aos esforços realizados a nível mundial Membros são aqueles que formulam os programas da
por alcançar esses objetivos e de cumprir outros Organização e os que levam a cabo para alcançar
compromissos relativos aos planejamentos de ação seus objetivos de desenvolvimento sustentável. Esse
dos objetivos de desenvolvimento do Milênio, ao sistema único tem trazido à OMM a reputação de ser
desenvolvimento sustentável dos pequenos Estados um modelo de cooperação internacional, de ser líder na
insulares em desenvolvimento, à segurança alimentar, prevenção dos desastres e na atenuação de seus efeitos
à produção e ao consumo de energia, aos assentamentos e de contribuir de forma notável ao desenvolvimento
humanos, ao entorno urbano, à saúde e à proteção da socioeconômico sustentável.
atmosfera.
Esta evolução tem contribuído, consideravelmente,
A contribuição da OMM nessas iniciativas reveste-se ao bem estar da humanidade. Sem dúvida, novos
de diversas formas e tende, principalmente, a melhorar problemas tem surgidos, tais como a crescente
as observações e previsões do estado da atmosfera concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, a
e dos recursos hídricos da terra, a estudar a relação mudança climática, a diminuição da camada de ozônio
mútua entre esses elementos e sua interação e outros estratosférico, a diminuição progressiva dos recursos
componentes do sistema terrestre e a emitir alertas de água doce e a crescente contaminação da atmosfera
com antecedência. e da água.

46
Boletim SBMET março/05

Ao mesmo tempo, as repercussões cada vez maiores climática sobre a saúde e o estresse causado pelo calor
dos fenômenos meteorológicos e climáticos extremos, ou pelo frio muitos intensos.
especialmente dos ciclones tropicais, das inundações,
da seca e das ondas de calor em diversas partes A avaliação das conseqüências das flutuações
do mundo, constituem uma ameaça grave para o meteorológicas e climáticas na produção de
desenvolvimento sustentável. alimentos é uma das condições essenciais para o
desenvolvimento sustentável. A utilização de métodos
Calcula-se que, no decênio 1992-2001, agrometeorológicos para melhorar o uso da terra, a
aproximadamente 90% dos desastres naturais foram seleção de cultivos, o controle da lagosta e as práticas
de origem hidrometeorológica. Durante esse mesmo de manejo, contribuem para melhorar a segurança
período, os desastres causaram 622.000 vítimas alimentar.
mortais, afetaram mais de 2 bilhões de pessoas,
assolaram terras cultivadas, propagaram enfermidades A intensificação das atividades no setor da água para
e causaram perdas econômicas, estimados em 450 fomentar o desenvolvimento sustentável segue sendo
bilhões de dólares, ou seja, aproximadamente, 65% dos uma prioridade. É indispensável ajudar os Serviços
danos causados pelo conjunto de desastres naturais. Hidrológicos Nacionais de todo mundo para abordar
Apesar de nenhum país escapar das conseqüências as questões relativas à disponibilidade e qualidade
perniciosas dos desastres naturais, são os países mais da água e para facilitar a cooperação internacional,
vulneráveis, que sofrem mais. Os estragos de uma só especialmente, nas nascentes fluviais divididas entre
tempestade podem causar danos durante vários anos. vários países. As associações com as organizações do
Os limitados recursos que poderiam ser usados ao sistema das Nações Unidas e com as Organizações
desenvolvimento desses países se invertem para as Não Governamentais (ONG) serão fortalecidas.
operações de socorro nos casos de desastres. Além
disso, há previsão que a mudança climática poderia Enquanto nada pode se fazer para controlar
aumentar a freqüência de vários tipos de desastres o tempo, as observações exatas e as previsões
naturais. Por isso, um dos principais objetivos da de grande precisão podem contribuir para que
OMM e dos Serviços Meteorológicos e Hidrológicos vivamos em condições de relativa segurança, com
Nacionais é contribuir para ter uma redução importante maior comodidade e para uma melhor proteção
do índice de mortalidade relacionado com os desastres dos valiosos recursos naturais. Para que os países
naturais de origem meteorológica, hidrológica e mais vulneráveis possam atingir esses objetivos, é
climática. A OMM comprometeu-se a ajudar aos indispensável reforçar sua capacidade endógena em
Sistemas Meteorológicos e Hidrológicos Nacionais ajustar associações em escala mundial. A OMM e os
que se ocupem de outras áreas afetadas pelo tempo e Serviços Meteorológicos e Hidrológicos Nacionais
pelo clima. encontram-se em uma posição ideal de contribuir
para os esforços nacionais e mundiais. Na gestão de
No âmbito da saúde humana - requisito essencial seu mandato, a OMM continuará reforçando seus
para o desenvolvimento sustentável - a OMM trata de programas científicos e técnicos, potencializando suas
fazer frente tanto aos efeitos diretos como indiretos alianças e associações estratégicas e desprendendo
dos desastres naturais e das mudanças atmosféricas. novos esforços para criar capacidade e para mobilizar
A Organização continuará facilitando a investigação recursos.
sobre a relação entre o tempo, o clima e a saúde, em
particular no que diz respeito à destruição da camada A capacidade de previsão deve melhorar,
de ozônio protetora, nas condições que favorecem o especialmente, dos fenômenos meteorológicos que
desenvolvimento e a propagação de determinadas produzem efeitos devastadores. Isso permitirá transmitir
enfermidades, nas possíveis repercussões da mudança avisos mais seguros e mais confiáveis quando ocorrem

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Boletim SBMET março/05

fenômenos extremos e garantir uma melhor preparação vigilância do tempo, do clima e da água, assim como
e conscientização, reduzindo assim a vulnerabilidade. suas aplicações e desenvolver novos serviços. Com
Maior ênfase se fará no aproveitamento dos resultados relação a esse respeito, a OMM estabeleceu três novos
da investigação para as aplicações operacionais, que programas interdisciplinares, a saber, o Programa de
contribuíram na proteção da vida humana e dos bens, prevenção dos desastres naturais e de atenuação de
na atenuação dos efeitos dos desastres naturais, na seus efeitos, o Programa Espacial e o Programa em
promoção do desenvolvimento social e econômico favor dos países menos desenvolvidos.
sustentável e na proteção do meio ambiente.
Têm-se enfatizado a ajuda aos países em
Em um prazo longo, o desenvolvimento sustentável desenvolvimento e, especialmente, em recursos
supõe maior conhecimento do sistema climático e da humanos nos países menos adiantados. A esse respeito,
capacidade de fazer previsões, e de prever as mudanças a OMM apóia os esforços nacionais para modernizar
climáticas futuras e seus possíveis efeitos sobre a os Serviços Meteorológicos e Hidrológicos Nacionais,
variabilidade do clima, nas atividades socioeconômicas para desenvolver seus recursos humanos e elaborar
e o meio ambiente. Um planejamento eficaz de medidas produtos de qualidade. A organização favorece,
que permitam fazer frente à mudança climática exige além disso, a concentração de novas associações e
cenários muito detalhados a nível regional, que de alianças estratégicas entre esses Serviços e outros
levem em conta a variabilidade das tempestades e da associados em nível nacional, sub-regional, regional e
precipitação, dos efeitos da elevação do nível do mar internacional. Ela também apóia trabalho dos Membros
e as conseqüências para as zonas urbanas. A OMM para encontrar formas inovadoras de mobilizar os
prosseguirá desprendendo esforços para melhorar a recursos necessários, tanto financeiros como humanos,
vigilância e a elaboração dos modelos climáticos, a materiais e outros.
fim de reduzir a incerteza das projeções climáticas e
contribuir na aplicação de medidas de adaptação e na Ao celebrar este Dia, meu desejo é que o ano de
adoção de decisões políticas e econômicas sensatas, a 2005 se caracterize por um maior reconhecimento e
níveis nacional e internacional. utilização dos produtos dos Serviços Meteorológicos
e Hidrológicos Nacionais, em um amplo conjunto
A OMM seguirá tomando medidas para ampliar de atividades relacionadas com o desenvolvimento
a sua atuação e melhorar a qualidade e a oferta de sustentável. Queremos seguir reforçando a colaboração
produtos dos Serviços Meteorológicos e Hidrológicos da OMM com os responsáveis da adoção de decisões e
Nacionais para os usuários. A Organização poderá com outras autoridades nacionais, com a comunidade
rever as vantagens únicas que tem à sua disposição e científica, com as organizações associadas, com as
se definirá como principal protagonista da cooperação organizações não governamentais, com o setor privado,
internacional e como promotor do desenvolvimento com os meios de comunicação e com o público em
sustentável, dando a conhecer a importância de geral, a fim de facilitar a comunicação e ajudar a
seu papel. Assim, a Organização e os Serviços resolver, eficazmente, os problemas do meio ambiente
Meteorológicos e Hidrológicos Nacionais poderão e do desenvolvimento que se planejam na humanidade
reafirmar sua posição de porta-vozes autorizados durante este século, nos setores do tempo, do clima e
em matéria de meteorologia, hidrologia e ciências da água.
geofísicas conexas.

Para reforçar a capacidade dos Serviços


Meteorológicos e Hidrológicos Nacionais e contribuir
eficazmente no desenvolvimento sustentável
é indispensável melhorar os serviços atuais de

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Boletim SBMET março/05

30 ANOS DE ENSINO SUPERIOR EM


METEOROLOGIA NA AMAZÔNIA
Dimitrie Nechet
João Batista Miranda Ribeiro

O curso de Meteorologia da UFPA teve as suas ações Elias e Yoshihiro Yamazaki (na época era chamado
iniciais ditadas pelo MEC, em 18 de agosto de 1975, de fogueteiro, por ter também atividades na Barreira
para que a Universidade mostrasse interesse na sua do Inferno, em Natal-RN), pelo INPE. Ressalta-
implantação. A Universidade aceitou o desafio, quando se o interesse de todos estes na implantação de um
o Prof. Seixas Lourenço, Coordenador do Programa novo curso de Meteorologia na UFPA. Por justiça e
de Pós-graduação da UFPA designou a Prof. Sônia gratidão, Deve-se lembrar que o Prof. Molion teve um
Guerreiro, que juntamente com a professora Ellen relacionamento maior com os alunos, incentivando e
montassem o curso baseando-se pela experiência da divulgando a Meteorologia, inclusive incentivando-
Prof. Sônia, que é da primeira turma de Meteorologista os a continuarem os estudos na Pós-graduação em
da UFRJ e também por ter sido professora daquele Meteorologia. Com isso, acabou levando cinco alunos
curso. Pela Resolução 325, de 22 de setembro de 1975, para a pós-graduação no INPE. Desde essa época, este
o Reitor autorizou a criação e implantação do curso mantém contato com o nosso curso, com palestras e
com a realização do primeiro vestibular em 1976. apoio nas questões de Meteorologia. Era o que mais
vibrava com essa implantação do curso.
No entanto, na época, faltavam professores para o
funcionamento do curso na sua parte especializada e O vestibular de 1976 foi realizado com a entrada de 30
antes da realização desse primeiro vestibular a Pró- alunos e desses alunos apenas 15 concluíram o curso.
reitoria de Pós-graduação, através da Resolução 295, A primeira turma formou-se em 1979, com apenas 3
de 22 de novembro de 1975, autorizou o funcionamento alunos, hoje todos professores pós-graduados do nosso
do Primeiro Curso de Especialização em Meteorologia Departamento de Meteorologia (os professores Aurora,
Tropical, em convênio UFPA/INPE, com o suporte Edson e Paulo Souza).
financeiro da então SUDAM, a ser realizado em
Belém, sob Coordenação do Prof. Antonio Gomes de Em 1981 foi nomeada pelo MEC uma comissão
Oliveira. composta pelos meteorologistas e professores José de
Lima Filho, da UFAL e Mário Adelmo Varejão-Silva,
Desse Curso de Especialização nasceu o embrião da UFRPE. Ressalta-se o grande interesse desses
de professores na área de Meteorologia. Dos alunos professores no reconhecimento do curso, dando à UFPA
formados, oito tornaram-se professores universitários todas as informações necessárias para as modificações
nessa área e, ainda hoje no Departamento de e melhoria das instalações para seu reconhecimento.
Meteorologia temos quatro professores daquela época: A Universidade acatou todas as sugestões e em 13 de
José Carvalho, Dimitrie Nechet, Isa Maria Silva e outubro de 1981, pela Portaria 571 do MEC, o Curso
Maria do Carmo Oliveira. foi reconhecido.

Os professores que participaram do Curso de Em 1984, a Organização Meteorológica Mundial


Especialização foram os professores: Antonio Gomes, (OMM) assinou um convênio com o governo
Paulo de Tarso, Leão e Moura, pela UFPA, e os brasileiro, tornando o Departamento de Meteorologia
pesquisadores Luis Carlos Baldicero Molion, Getúlio da UFPA como Centro Regional de Treinamento da
Soriano de Souza Neves, Heloísa Torres, Marlene OMM. Com isso tivemos alunos da África, de países

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Boletim SBMET março/05

de língua portuguesa (Guiné Bissau, Moçambique Especialização, Mestrado e Doutorado. Para nós do
e Angola) e nos cursos de Especialização do Peru, Departamento de Meteorologia é uma satisfação ver
Panamá e México. os nossos profissionais em quase todos os órgãos de
Meteorologia no Brasil e alguns no exterior.
Desde a sua implantação tivemos 46 turmas até
o segundo semestre de 2004, com 193 concluintes. O Curso é apoiado por vários Departamentos
Desses concluintes 35% são mulheres e 65% homens. da UFPA, como Matemática, Física, Estatística,
A média por turma é de 4,2 concluintes. Em torno Informática, Biologia, Letras e Literatura Estrangeira
de 70% dos concluintes desempenham funções em e pelo Departamento de Meteorologia, onde estão
órgãos públicos e privados e mais de 50% possuem lotados os 17 professores de Meteorologia, abaixo
curso de pós-graduação, levando em consideração a relacionados:

Ordem Professor(a) Titulação


01 Antonio Carlos LOLA da Costa Doutor
02 DIMITRIE Nechet Mestre
03 EDSON José Paulino da Rocha Doutor
04 ELIANE Castro Coutinho Mestre
05 GALDINO Viana Mota Doutor
06 HERNANI José Brazão Rodrigues Mestre*
07 ISA Maria Oliveira da Silva Doutora
08 JOÃO BATISTA Miranda Ribeiro Doutor
09 José CARVALHO de Moraes Mestre
10 José DANILO da Costa Souza Rodrigues Mestre*
11 JOSÉ DE PAULO Rocha da Costa Mestre*
12 José RICARDO Santos de Souza Doutor
13 JÚLIA Clarinda Paiva Cohen Doutora
14 Maria AURORA Santos da Mota Doutora
15 MARIA DO CARMO Felipe de Oliveira Mestre
16 MIDORI Makino Doutora
17 PAULO Fernando de Souza SOUZA Mestre
* Em programa de doutoramento.

O Curso contou ainda com vários professores, Nos Cursos de especialização tivemos nove Cursos
alguns aposentados, alguns passaram para outros de Especialização em Meteorologia Tropical, com
Departamentos da UFPA e ainda outros por motivos ênfase em Hidrometeorologia e Agrometeorologia,
particulares e de trabalho tiveram que deixar Belém. com 77 concluintes.
A esses professores a gratidão do nosso Departamento A data de 22 de setembro de 2005 representando os
de Meteorologia, pelos ensinamentos, pela dedicação 30 anos de formação de Meteorologistas na Amazônia
e pelo pioneirismo do nosso Curso. São eles: Sônia será comemorada, em Belém, nos dias 21, 22 e 23 de
Guerreiro (primeira Meteorologista a participar do março de 2005, juntamente com o Dia Meteorológico
curso), Adelina (em memoriam), Elen Cutrim, Agydio Mundial, cujo tema “O Tempo, o Clima, a Água e
Andreassa, Benaia, Leão, Sucasa, Francisca Pinheiro, o Desenvolvimento Sustentável” representa muito
Halley Pinheiro, Odete, Brígida, Buarque, Feitosa, bem o papel da Amazônia, no contexto mundial,
Rosa de Fátima Marques e Gomes. quando se dá uma importância global na manutenção

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Boletim SBMET março/05

das condições atmosféricas. Essa comemoração está de profissionais de nível superior, em uma ciência
planejada para o congraçamento de todos aqueles que tão complexa e necessária para o desenvolvimento
participaram da implantação do Curso, com palestras sustentável, que é a Meteorologia. Veja programação
sobre o evento, mostrando aos mais jovens, a luta, a abaixo:
dedicação, na implantação de um curso de formação

Local: Auditório Henrique Campbell do Centro de Geociências


1o DIA – 21/03/2005

08:15 horas INSCRIÇÃO


09:00 horas ABERTURA
Magnífico Reitor da Universidade Federal do Pará, Secretário Executivo de Ciência,
Tecnologia e Meio-Ambiente do Estado do Pará, Diretor do Centro de Geociências,
Chefe do Departamento de Meteorologia da UFPA, Coordenador do Curso de
Meteorologia da UFPA, Chefe do 2oDISME-INMET, Gerente Geral do CEN/SIPAM,
Diretora da EMBRAPA Trópico Úmido.
09:30 horas INAUGURAÇÃO DA ESTAÇÃO METEOROLÓGICA E LABORATÓRIO
DE CLIMATOLOGIA PROFa. ADELINA MORAIS
Magnífico Reitor da Universidade Federal do Pará, Secretário Executivo de Ciência,
Tecnologia e Meio-Ambiente do Estado do Pará, Diretor do Centro de Geociências,
Chefe do Departamento de Meteorologia da UFPA, Coordenador do Curso de
Meteorologia da UFPA, Chefe do 2oDISME-INMET, Gerente Geral do CEN/SIPAM,
Diretora da EMBRAPA Trópico Úmido.
10:00 horas Intervalo café
10:15 horas IMPACTOS NO CICLO DA ÁGUA DA AMAZÔNIA
Prof. Dr. José Ricardo Santos de Souza - DM-UFPA
11:00 horas METEOROLOGIA E AGRICULTURA: INTEGRAÇÃO UFPA-EMBRAPA
AMAZÔNIA ORIENTAL
Dra. Terezinha Xavier Bastos – Pesquisadora em Agrometeorologia
12:00 horas Almoço
14:30 horas ESTUDO DA SECA DA FLORESTA - PROJETO ESECAFLOR: RESULTADOS
PARCIAIS
Prof. Dr. Antonio Carlos Lola da Costa - Dept. Meteorologia - UFPA
15:00 horas RESUMO DAS PESQUISAS DESENVOLVIDAS NOS PROGRAMAS LBA-
MILENIO, PIBIC-PROINT - PROJETO DE EXTENSÃO BIOMET.
15:30 horas SESSÃO DE PAINÉIS DE METEOROLOGIA APLICADA
1) Análise do microclima do manguezal de Bragança Paulista / Marco Antonio V.
Ferreira - Bolsista LBA - MILÊNIO
17:30 horas Encerramento

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Boletim SBMET março/05

2o DIA – 22/03/2005

09:00 horas INPE: CONTRIBUIÇÕES À PESQUISA E FORMAÇÃO DE RECURSOS


HUMANOS EM METEOROLOGIA PARA A AMAZÔNIA
Profa. Dra. Regina Célia dos S. Alvalá-INPE-São José dos Campos-SP
09:30 horas PARTICIPAÇÃO DA UFPA NO PROGRAMA LBA
Profa. Dra. Júlia Clarinda Paiva Cohen-DM/UFPA
10:00 horas PLATAFORMA DE COLETA DE DADOS: UM INVESTIMENTO DA
SECTAM QUE VEM DANDO CERTO NO ESTADO DO PARÁ
Met. Paulo Lima Guimarães – Núcleo de Hidrometeorologia-SECTAM
10:30 horas Intervalo
11:15 horas PRONEX-FUNTEC/UFPA-MUSEU EMILIO GOELDI: ESTUDO DE
AMBIENTE FLUVIAL NA AMAZÔNIA ORIENTAL: IMPLICAÇÕES
HIDROGEOQUÍMICAS, CLIMÁTICAS E DE FISIOLOGIA VEGETAL.
2004.
Prof. Dr. Edson José Paulino da Rocha - Dep. de Meteorologia/UFPA

11:45 horas INAUGURAÇÃO DO LABORATÓRIO DE ESTUDOS, MODELAGEM E


PREVISÕES HIDROMETEOROLÓGICAS
Prof. Dr. Edson José Paulino da Rocha - Dep. de Meteorologia/UFPA
Diretor do Centro de Geociências, Chefe do Departamento de Meteorologia da
UFPA, Coordenador do Curso de Meteorologia da UFPA
12:00 horas Almoço
14:30 horas GESTÃO DE RECURSOS PARA A PESQUISA
Prof. Dr. José da Silva Seráfico de Assis Carvalho-Fundação Djalma Batista,
Manaus-AM
15:00 horas DINÂMICA DA VARIABILIDADE INTRASAZONAL SOBRE O BRASIL
TROPICAL
Dr. Everaldo Barreiros Souza-SIPAM/ACTECH - Dept. de Meteorologia-Manaus-
AM
15:30 horas CONVECÇÃO DAAMAZÔNIA: VARIABILIDADE, EFEITOS E RESPOSTAS
NA CIRCULAÇÃO DE GRANDE ESCALA
Profa. Dra. Maria Aurora Santos da Mota-DM/UFPA
17:30 horas Encerramento

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Boletim SBMET março/05

3o DIA – 23/03/2005

09:00 horas TEMA DO DIA METEOROLÓGICO MUNDIAL: TEMPO, CLIMA E ÁGUA


E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Bel. Esp. Met. José Raimundo Abreu de Sousa- Chefe do 2o DISME/INMET-Belém-
PA
09:40 horas O PAPEL DO INMET NO DESENVOLVIMENTO DA METEOROLOGIA
Bel. Esp. Met. José Raimundo Abreu de Sousa- Chefe do 2o DISME/INMET-Belém-
PA
10:00 horas A HISTÓRIA DA PESQUISA EM MICROMETEOROLOGIA DA AMAZÔNIA
(EXPERIMENTOS ARME, ABLE, ABRACOS, RBLE, OUTROS)
Dr. Gilberto Fisch – INPE-CTA - São José dos Campos-SP
10:45 horas Intervalo
11:00 horas A ESTRATÉGIA AMAZÔNICA NO SUPRIMENTO DE ÁGUA PARA
GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA
Prof. Dr. Arthur Mattos – CT-UFRN
11:45 horas Almoço
14:30 horas OCORRÊNCIAS DE TSUNAMIS NO MUNDO
Prof. Dr. Maamar El Robrini-Coordenador do Curso de Oceanografia-UFPA
15:15 horas IMPLANTAÇÃO DO CURSO DE METEOROLOGIA DA UFPA
Dr. José Lima Filho – FAPEAL-Maceió-AL
16:00 horas Intervalo
16:15 horas 30 ANOS DE ENSINO E PESQUISA NA AMAZÔNIA
Prof. Dr. Luis Carlos Baldicero Molion-UFAL
17:15 horas RESTROSPECTIVA DO DEPARTAMENTO DE METEOROLOGIA DA
UFPA E PERSPECTIVAS FUTURAS
Diretor do Centro de Geociências, Chefe do Departamento de Meteorologia da
UFPA, Coordenador do Curso de Meteorologia da UFPA, Chefe do 2oDISME-
INMET, Gerente Geral do CEN/SIPAM, Diretora da EMBRAPA Trópico Úmido.
18:00 horas Encerramento

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Boletim SBMET março/05

CPTEC comemorou 10 anos com semana de eventos

Paulo Escada
Assessor de Imprensa do CPTEC

O Centro de Previsão de Tempo e Estudos


Climáticos (CPTEC), do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE), comemorou em outubro
do ano passado 10 anos de inauguração do prédio e
das atividades, em Cachoeira Paulista, com uma série
de eventos. No dia 18, foi realizada uma cerimônia,
na qual estiveram presentes o Diretor do INPE, Luiz
Carlos Moura Miranda, do ex-Diretor Marco Antônio
Raupp, autoridades da área de Ciência e Tecnologia
e da Meteorologia, além de políticos da região e a
Coordenadora do CPTEC, Maria Assunção Faus da
Silva Dias.

Diretor do INPE, Luiz Carlos Moura Miranda, e


Coordenadora do CPTEC, Dra. Maria Assunção Dias,
no descerramento da placa comemorativa dos 10 anos
do CPTEC.

Durante o evento, foram homenageados


idealizadores, pioneiros e colaboradores envolvidos
na implantação do CPTEC, inaugurado oficialmente
no dia 1º de novembro de 1994. Também foi realizado,
entre os dias 19 e 20, o Seminário dos Usuários das
Previsões Numéricas de Mudanças Climáticas e seus
Impactos Regionais, que contou com a participação
de pesquisadores da USP, do próprio CPTEC,
EMBRAPA, Universidade de Buenos Aires, entre
Diretor do Instituto Interamericano para Mudanças outras instituições de pesquisa e ensino. Nos dias 21
Globais (IAI) na ocasião, Gustavo Necco, discursou e 22, o CPTEC promoveu o programa Portas Abertas,
durante a cerimônia no CPTEC. que fez parte da Semana Nacional de C&T, dirigido ao
público jovem e interessados em saber como é feita a
previsão do tempo.

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Boletim SBMET março/05

Coordenadora diz que arrojo deve continuar “O avanço das discussões em âmbito internacional
inspirando atividades do CPTEC de questões ambientais de impacto global e a maior
sensibilidade da sociedade para temas ligados ao meio
No dia 18 de outubro, durante a celebração dos 10 ambiente, levaram o CPTEC a reformulações internas
anos do CPTEC, a coordenadora Maria Assunção com o objetivo de se adequar esta nova realidade”, disse.
Dias, em discurso durante a cerimônia de aniversário, Além da Divisão de Operações (DOP) e da Divisão
destacou o atual estágio alcançado pelo centro de de Modelagem e Desenvolvimento (DMD), existentes
previsão e pesquisa, atribuindo o avanço conquistado desde a inauguração do prédio, em Cachoeira Paulista,
à atuação de pesquisadores e idealizadores. “Estamos outras duas foram introduzidas: a Divisão de Satélites
hoje em condição semelhante aos poucos países Ambientais (DSA) e a criação da Divisão de Clima e
mais desenvolvidos que fazem previsões numéricas Meio Ambiente (DMA).
de tempo e clima. Essa rápida evolução representa o
resultado do trabalho de muitas pessoas que fizeram A necessidade de constante atualização do
sistema computacional do CPTEC também foi
uma grande diferença. Um resultado que nos orgulha e
lembrada como uma das principais condições
engrandece o Brasil, uma história de sucesso”, frisou.
para melhorar a qualidade das previsões de tempo
e clima, e também das previsões climáticas de
A coordenadora destacou o arrojo dos idealizadores longo prazo, para cenários futuros, que exigem
do CPTEC. “Eles tinham a convicção de que era preciso maior capacidade de processamento. Ao indagar
pensar grande e armar uma estratégia para vencer uma sobre o futuro do CPTEC e da Meteorologia
série de etapas que previa não somente a construção brasileira, a coordenadora do CPTEC ressaltou
deste prédio, a compra e instalação do primeiro que a “abordagem ambiental deve permear o
supercomputador, mas também, e principalmente, a desenvolvimento da próxima década no mundo
inteiro.” E completou: “ser o melhor centro de
formação de pessoal para desenvolvimento de software
previsão de tempo e clima com a perspectiva
e pesquisas”. Este grupo de idealizadores incluía Gylvan
ambiental, para a América do Sul e oceanos
Meira Filho, Antônio Divino Moura, Pedro Leite da vizinhos, incluindo o comportamento dos
Silva Dias, Arry Buss, Gilberto Câmara, Jairo Paneta, ecossistemas e a qualidade do ar que respiramos,
que tiveram o apoio do Diretor do INPE, na época, deve fazer parte de nossa meta. Para isso devemos
Marco Antonio Raupp. A atual coordenadora ressaltou investir, como 10 anos atrás, não apenas no prédio
o importante papel de seus antecessores. Foram eles: e na sua expansão, no supercomputador e na sua
Pedro Dias, Eugênio Neiva e Carlos Nobre. modernização, não apenas nos satélites e nos seus
produtos, no software e em suas otimizações, mas
principalmente no desenvolvimento e consolidação
Maria Assunção Dias lembrou, ainda, da importância
de nosso pessoal em todos os níveis, seja de
da criação do CPTEC dentro do INPE, o que teria
suporte, seja administrativo, seja científico.”
contribuído para um “grande crescimento na área de
uso de satélites para transmissão de dados e na extração
de produtos meteorológicos da estrutura atmosférica e
do estado da superfície.” Um dos principais marcos
na evolução desse centro de meteorologia foi a
“introdução da previsão de tempo por conjuntos, que
permite fazer uma extensão da previsão para até 15 dias
de antecedência”, frisou a coordenadora, como é feito
nos principais centros de previsão do mundo. Também
foi destacada a ampliação das atividades do CPTEC.

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Boletim SBMET março/05

Uma década de previsão de tempo


Depois de muita chuva, sol e trovoadas, a SOMAR Meteorologia completa dez anos de história
e prevê bons tempos pela frente.

Pryscilla Paiva
Assessoria de Imprensa da SOMAR Meteorologia

O início de um sonho Em 1995, esta dupla de futuros empresários resolveu


partir para a iniciativa privada e fundou a SOMAR.
Dois microcomputadores e dois meteorolo-gistas em “Havia uma lacuna a ser preenchida entre o serviço
uma sala de um apartamento alugado em Cachoeira público e o usuário final que, cada vez mais, exigia
Paulista- SP. Em fevereiro de 1995, essa era a realidade novos produtos e uma consultoria mais personalizada”
do que viria a ser uma das maiores empresas de - explica Massari. Quatro anos depois, a empresa
Meteorologia do Brasil. No mês passado, a SOMAR somou forças com a chegada de um novo sócio. Paulo
Meteorologia, Southern Marine Weather Services, Etchichury veio agregar experiência à SOMAR,
completou dez anos de história e tem uma trajetória principalmente na parte de previsão climática, devido
que incentiva novos profissionais no caminho da aos seus trabalhos anteriores. Etchichury trabalhou
iniciativa privada. no INMET - Instituto Nacional de Meteorologia,
no CPTEC e foi assessor especial do Ministério
Formados em Meteorologia pela UFPEL- da Agricultura durante três anos. Uma sociedade
Universidade Federal de Pelotas, Marcos Massari e empreendedora acabava de nascer com previsão de
Marcio Madruga Custódio vieram para São Paulo muito sucesso.
em 1991 e, através de concurso público, ingressaram
no INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.
Durante os três anos seguintes, Massari e Custódio Os avanços tecnológicos
estiveram presentes no processo de implantação e
inauguração do CPTEC - Centro de Previsão de Tempo A credibilidade na Meteorologia aumentou
e Estudos Climáticos de Cachoeira Paulista. significativamente junto com a melhoria da previsão
do tempo, algo que só pôde ser conquistado devido aos
avanços tecnológicos da última década. Com isso, a
demanda para a prestação de serviços cresceu, criando
espaço para o nascimento de empresas privadas como
a SOMAR.

A veia científica sempre foi muito latente nos


sócios-fundadores, justamente pela experiência
adquirida nos anos de INPE e CPTEC. Dessa forma,
a empresa sempre esteve preocupada em desenvolver
novas tecnologias que pudessem extrair o máximo de
produtos de tempo específicos e direcionados para os
diversos clientes, criando uma certa autonomia perante
Da esquerda para a direita: Paulo Etchichury, Marcio as demais empresas de Meteorologia e deixando de ser
Madruga Custódio e Marcos Massari apenas um fornecedor de dados.

56
Boletim SBMET março/05

Hoje, a SOMAR conta com um cluster que roda seus Parcerias de Sucesso
próprios modelos regionais de previsão numérica,
com aplicações em modelagem climática, atmosférica Trabalhar com ciência exige, além de conhecimento
e oceânica, dentre outros. Além disso, a empresa e muita vontade, a formação de parcerias. Com essa
desenvolveu um inovador software de TV, o LIN preocupação, a SOMAR firmou convênios com
TV, que opera em grandes emissoras como a Rede instituições de ensino como a USP - Universidade
Bandeirantes. de São Paulo, criando oportunidades de estágio a
estudantes e novos profissionais nas áreas de previsão
do tempo, pesquisa e desenvolvimento de produtos
e modelagem numérica. Dessa maneira, a SOMAR
procura estreitar o caminho entre a Universidade e
o mercado de trabalho, ajudando na formação de
profissionais competentes.

A SOMAR possui bases de operação e monitoramento


de tempo em curto prazo que trabalham em conjunto
com a Defesa Civil do Estado de São Paulo e o
CGE - Centro de Gerenciamento de Emergências da
Prefeitura de São Paulo. Esta parceria já dura cinco
anos e tem ajudado muito na prevenção de desastres
devido às intempéries do tempo.
O software para TV Lin TV
Depois de dez anos de trabalho, fica difícil resumir
Alguns dos primeiros clientes da empresa, como em uma frase todos os esforços que uma empresa de
a Cotrel - Cooperativa Tritícola de Erechim e o JB Meteorologia precisa executar para fazer com que o
- Jornal do Brasil, continuam sendo atendidos até negócio dê certo. No entanto, dado o desafio, um dos
hoje. “Buscamos sempre adaptar as informações fundadores da SOMAR, Marcio Madruga Custódio,
meteorológicas e o uso da tecnologia em benefício chefe de operações das previsões de tempo, sintetiza:
de cada cliente e seu respectivo negócio” – explica “São dez anos acordando quando ainda é noite para
Etchichury. Transformar as incertezas do clima prever o dia das pessoas”. Nada atípico para um
em estratégias para os clientes é uma das diversas meteorologista que tem “Madruga” como um dos
propostas da SOMAR. sobrenomes.

Rua Afrânio Peixoto, 262, Butantã - São Paulo - SP- Cep 05507-000
Fone/Fax: (11) 3816 2888
www.somarmeteorologia.com.br
somar@met.com.br

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NORMAS e
Boletim SBMET março/05
LEGISLAÇÃO

Anotação de Responsabilidade Técnica - ART


Alfredo Silveira da Silva
Diretor Profissional da SBMET
Conselheiro do CREA-RJ

A ART foi instituída pela Lei Federal nº 6.496, de 7 profissional; é um meio de comprovação de exercício
de dezembro de 1977. Os parâmetros básicos para a profissional, para efeito de aposentadoria, inclusive
efetivação da ART estão estabelecidos na Resolução n especial; e constitui o acervo técnico de pessoas físicas
307/86, do CONFEA (Conselho Federal de Engenharia, e jurídicas, no decorrer do exercício profissional.
Arquitetura e Agronomia), sendo o documento
legal para identificação do responsável técnico pela Acervo Técnico
execução de obra ou prestação de quaisquer serviços
profissionais referente à Engenharia, à Arquitetura, à Considera-se Acervo Técnico toda experiência
Agronomia, Meteorologia, Geologia e Geografia. adquirida pelo profissional ao longo do exercício
da sua profissão, compatível com as sua atribuições
Mais do que uma obrigação legal, a ART cumpre profissionais. A efetivação da ART garante o registro
um importante papel dentro do sistema CONFEA/ de toda experiência adquirida pelo profissional em
CREA, trazendo benefícios para os profissionais e Acerco técnico junto ao CREA.
a sociedade. O registro da ART dar-se-á para todo
contrato escrito ou verbal para a execução de obra ou Registro de Acervo Técnico – RAT
prestação de quaisquer serviços profissionais referente O Registro do Acervo Técnico – RAT junto ao
à sua atividade profissional. CREA constitui instrumento fundamental para
sua habilitação técnica nos processos de licitação
Os cargos e funções, comissionados ou não, de órgãos publica.
da administração direta ou indireta da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, para Certidão de Acervo Técnico – CAT
cujo exercício se exijam conhecimentos técnicos É o documento expedido pelo CREA, em forma
específicos de sua atividade profissional devem ser de certidão cartorária em linhas corridas sem
registrados nos CREAs, conforme definido pelo Art. rasuras e entrelinhas, assinada pelo Presidente do
1º da Resolução nº 430, de 13 de agosto de 1999. CREA ou por quem tenha por ele sido delegado,
devendo no corpo trazer a expressa delegação,
Importância da ART requerido pelo profissional, contendo parte ou
toda experiência por ele adquirido, constante do
A ART constitui prova documental definindo os cadastro de Registro de Acervo Técnico – Arts.
responsáveis técnicos legais na contratação de obras/ 5º e parágrafo único e 6º da Resolução nº 317,
serviços de Engenharia e demais profissões vinculadas de 1986.
ao sistema, inclusive a nível médio, devendo, portanto,
traduzir os elementos integrantes do respectivo Atestado de Capacitação Técnico-Profissional
contrato. Ex. numa licitação pública.
Declaração, fornecida por pessoa jurídica de direito
A ART permite o acompanhamento do exercício público ou privado, contratante da obra ou serviço de
profissional, coibindo-se o exercício ilegal da Engenharia, privada, contratante da obra ou serviço
profissão; é um elemento de controle de salário mínimo de Engenharia, Arquitetura, Agronomia, Geologia,

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Boletim SBMET março/05

Geografia, Meteorologia, em papel timbrado, contendo elementos cadastrais nelas contidos e desde que
dados do próprio contratante, do contratado, do objeto não representem a situação correta ou atualizada
do contrato, para ser registrado ou averbado no CREA. do registro – alínea “c” do § 1º do art. 2º da
O atestado visa a comprovação de aptidão para o Resolução nº 266, de 1979.
desempenho de atividade objeto de licitação, limitada
a capacitação técnico-profissional. As certidões têm validade para o exercício,
independentemente da época em que forem emitidas
Registro ou Averbação do Atestado de Capacitação pelo CREA – art. 3º da Resolução nº 266, de 1979.
Técnico-Profissional
Como registrar uma ART
O registro ou averbação do Atestado da Capacidade
Técnica se dá em conformidade com as informações O registro da ART deve ser efetuado previamente
constantes na ART e no respectivo atestado, que será na Jurisdição do CREA na qual a atividade será
arquivado junto a esta e passará a fazer parte integrante desenvolvida. O correto preenchimento e o registro da
da Certidão de Acervo Técnico emitida, pelo CREA. ART são de responsabilidade do profissional.

Certidão de Pessoas Jurídicas O valor da taxa para registro de ART varia conforme
Os CREAs, mediante requerimento, expedirão as características do serviço contratado de acordo com
certidões comprobatórias da situação de registro tabelas estabelecidas por Ato específico do CREA.
de pessoas jurídicas – Art. 1º da Resolução nº
266, de 15 de dezembro de 1979. As certidões Somente o profissional devidamente registrado e em
emitidas pelo CREA perderão a validade, caso dia com suas anuidades perante o CREA, é considerado
ocorra qualquer modificação posterior dos legalmente apto a desenvolver suas atividades.

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Boletim SBMET março/05
AGENDA
MARÇO
• 30 anos de ensino superior em meteorologia na Amazônia • 5ª Conferencia Internacional sobre Calidad Del Aire Urbano
Período: 21-23 de março de 2005 Período: 29-30 de março de 2005
Local: Auditório do Centro de Geociência, Universidade Federal Local: Valência
do Pará Informações: www.urbanairquality.org/welcome_note.htm
Informações: www.ufpa.br/cg/departamentos/dm/dm.htm
Ou com João Batista: jbmr@ufpa.br

ABRIL
• ECMWF - Course of the Predictability, diagnostics & seasonal • 4º Simpósio Inernacional de la OMM sobre Asimilación de
forecasting Observaciones em Meteorologia y Oceanografía.
Período: 4-8 de abril de 2005 Período: 18-22 de abril de 2005
Local: Reading, Inglaterra Local: Praga, República Tchecoslováquia
Informações: http://www.ecmwf.int/newsevents/calendar Informações: www.eumetsatcomp.org/spain/competition.htm

• Annual Meeting of the Association of American Geographers • Conference of Current Efforts Toward Advancing the Skill of
Local: Denver, Colorado, USA. Regional Weather Prediction. Challenges and Outlook
Período: 5-9 de abril de 2005 Período: 20-22 de abril de 2005
Informações: http://www.aag.org/annualmeetings/Denver2005/ Local: Trieste, Itália
sp_events.cfm Informações: http://cdsagenda5.ictp.trieste.it ou chou@cptec.inpe.br

• Workshop – The Design and Use of Regional Weather Prediction • Radar and Satellite for monitoring and forecasting floods and
Models droughts
Período: 11-19 de abril de 2005 Período: 24-29 de abril de 2005.
Local: Trieste, Itália Local: Viena, Áustria
Informações: http://cdsagenda5.ictp.trieste.it ou chou@cptec.inpe.br Informações: www.copernicus.org/egu/ga/egu05/index.htm
E-Mail: Stefano Dietrich (S.Dietrich@isac.cnr.it)

MAIO
• Conferência Técnica de la OMM sobre Instrumentos • 3rd Pan-GCSS meeting on Clouds, Climate and Models
Meteorológicos, Meio-ambiental e Métodos de Observação Período: 16-20 de maio de 2005
Período: 4-7 de maio de 2005 Local: Royal Olympic Hotel, Atenas/Grécia
Local: Bucarest, Romênia Informações: www.gewex.org/gcss.html.
Informações: www.wmo.ch/web/www/imop/teco-2005/ (Dr Christian Jakob: c.jakob@bom.gov.au)
Announcement.html

• Simpósio Internacional sobre Previsão do Clima e Agricultura


Período: 11-13 de maio de 2005
Local: Genebra, Suiça
Organização: WMO
Informações: www.wmo.int

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Boletim SBMET março/05

• 1º Conferência Internacional Von Humbolt sobre “El fenômeno El • 28º Conferência Internacional sobre Meteorologia Alpina (ICAM)
Nino y su impacto global” Período: 23-27 de maio de 2005
Período: 16-20 de maio de 2005 Local: Zadar, Croácia
Local: Guayaquil, Equador Informações: http://meteo.hr/icam2005/
Organização: Centro Internacional para la Investigación Del
Fenômeno El Niño y la European Geosciences Union
Informações: www.copernicus.org/egu/topconf/avh1/index.html

JUNHO

• Workshop on Representation of sub-grid processes using • Workshop sobre o Catarina


stochastic-dynamic models Data: 28-29 de junho de 2005.
Período: 6–10 de junho de 2005 Local: INPE/Auditório do LIT – São José dos Campos, SP.
Local: Reading, Inglaterra Realização: SBMET
Informações: http://www.ecmwf.int/newsevents/calendar Informações: alonso@cptec.inpe.br

JULHO
• 57º Reunião Annual da SBPC – “Do sertão olhando o mar • XIV Congresso Brasileiro de Agrometeorologia
Cultura & Ciência”. Local: Centro de Convenções da UNICAMP, Campinas, SP
Local: Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza/CE Período: 18-21 de julho de 2005
Período: 17-22 de julho de 2005 Promoção: Sociedade Brasileira de Agrometeorologia (SBA)
Informações: www.sbpcnet.org.br/eventos/57ra Informações: //www.sbagro.org.br

AGOSTO
• International Association of Meteorology and Atmospheric • 45th congress of the European Regional Science Association
Sciences (ERSA)
Local: Beijing, China Local: Amsterdam
Período: 2-11 de agosto de 2005 Período: 23-27 de agosto de 2005
Informações: http://www.iamas2005.com/ Submissão de abstract: 31 jan. 2005
Informações: http://www.feweb.vu.nl/ersa2005

SETEMBRO
• 17th International Congress of Biometeorology • Seventh International Carbon Dioxide Conference – Preliminary
Local: Garmisch-Partenkirchen (90 km ao sul de Munique/ Announcement
Alemanha) Local: Boulder, Colorado, USA.
Período: 5-9 setembro de 2005 Período: 25-30 de setembro 2005.
Informações: http://www.icb2005.de Informações: http://www.cmdl.noaa.gov/info/icdc7/

• World Weather Research Programme Symposium on nowcasting • Kuwait First Remote Sensing Conference and Exhibition
and very short range forecasting Local: Kuwait City, Kuwait.
Período: 5-9 de setembro de 2005 Período: 26-28 de setembro 2005.
Local: Météo-France, Toulouse, França Informações: http://www.kuwaitremotesensing.com/
Informações: http://www.meteo.fr/cic/wsn05

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Boletim SBMET março/05

OUTUBRO
• IX CONGREMET • The 6th Open Meeting of the Human Dimensions of Global
Local: Buenos Aires Environmental Change Research Comunity
Período: 3-7 outubro de 2005 Local: Universidade de Bonn, Bonn/Alemanha
Informações: http://www-atmo.at.fcen.uba.ar/ Período: 9-13 de outubro 2005.
Informações: http//openmeeting.homelinux.org/
• ECMWF/NWP-SAF Workshop on bias estimation and correction
in data assimilation
Período: 8-11 de novembro de 2005
Local: Reading, Inglaterra
Informações: http://www.ecmwf.int/newsevents/calendar

NOVEMBRO

• 10th Workshop on Meteorological Operational System


Período: 14 - 18 de Novembro de 2005
Local: Reading - Inglaterra
Informações: http://www.ecmwf.int/newsevents/calendar

DEZEMBRO
• III Congreso Cubano de Meteorología
Período: 5-9 de dezembro de 2005
Local: Havana, Cuba
Recebimento de abstract: 31 de agosto de 2005
Informações: http://www.met.inf.cu/sometcuba/dafault.htm

ANO DE 2006
• 1st Integrated Land Ecosystem – Atmosphere processes Study • Séminaire international ONU/Algérie/ESA sur l´utilisation des
(iLEAPS) Science Conference techniques spatiales pour la gestion des catastrophes: prévention
Período: 21-26 janeiro de 2006 et gestion des catastrophes naturelles
Local: Boulder, Colorado, EUA Período: 22-26 de maio de 2006
Submissão de trabalho: maio de 2005 Local: Algérie
Informações: http://www.atm.helsinki.fi/ILEAPS/boulder ou Informações: M. Abouberkr-Seddik Kedjar (akedjar@mail.asal.dz)
michael.boy@helsinki.fi ou Raechelle Newman (raechelle.Newman@unvienna.org)

• 8th International Conference on Southern Hemisphere


Meteorology and Oceanography
Período: 23-28 de abril de 2006
Local: Hotel Mabu, em Foz do Iguaçu
Informações: Dr. Carlos Nobre (nobre@cptec.inpe.br)

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Boletim SBMET março/05
COMUNICADO
ANUIDADES ATRASADAS ANUIDADE DE 2005

A Diretoria Executiva da SBMET decidiu, em reunião Foi aprovada em Reunião do Conselho Deliberativo
datada de 24 de janeiro de 2005, realizar uma ampla (CD), realizada em 11 de março do ano corrente na
campanha para recuperação dos direitos de sócios sede da SBMET no Rio de Janeiro, um reajuste para as
com anuidades atrasadas. Como benefício imediato, anuidades da SBMET em 2005.
este receberá as publicações da SBMET, inclusive a
última Revista Brasileira de Meteorologia (RBMET) Os novos valores para cada classe são dados abaixo:
(um direito do sócio efetivo). Essa medida visa, ainda,
viabilizar a realização de atividades programadas pela CLASSES DE SÓCIOS VALOR (R$)
SBMET para o ano corrente. EFETIVO ........................................ 80,00
COLABORADOR .......................... 40,00
Nessa campanha, pede-se que o sócio pague a ESTUDANTE ................................. 20,00
anuidade de 2004 com a maior brevidade possível. O CORPORATIVO ............................ 160,00
débito ativo (referente às demais anuidades atrasadas)
pode ser quitado conforme possibilidade do associado Os boletos referentes à anuidade de 2005 serão
e de comum acordo com a Secretaria da SBMET. enviados via correio e estarão com os valores ajustados.
Para que estes cheguem ao seu destino, pede-se que os
Para proceder ao pagamento da anuidade de 2004, sócios verifiquem se seu endereço está atualizado. Isso
fazer um depósito em nome de: pode ser feito via portal (http://www.sbmet.org.br)
ou na Secretaria da SBMET (gleice@cptec.inpe.br
Sociedade Brasileira de Meteorologia ou marley@cptec.inpe.br).
Banco do Brasil
Agencia: 3652-8 O pagamento das anuidades também poderá ser feito
Conta Corrente: 31387-4 através de depósito bancário, em nome da Sociedade
Brasileira de Meteorologia (Banco do Brasil,
Para as providências cabíveis, favor enviar Agência 3652-8, Conta corrente 31387-4) Favor
comprovante de depósito para o fax (0xx12) 39456666, enviar comprovante de depósito para o fax (0xx12)
aos cuidados de Marley Moscati, e e-mail confirmando 3945-6666, aos cuidados de Marley Moscati, e e-mail
envio do referido fax para gleice@cptec.inpe.br, com confirmando envio do referido fax para gleice@cptec.
cópia para marley@cptec.inpe.br. inpe.br, com copia para marley@cptec.inpe.br.

Para saber sua situação em relação às anuidades,


entrar em contato com a Secretaria da SBMET
(gleice@cptec.inpe.br ou marley@cptec.inpe.br).

Caso você disponha do comprovante de depósito


das anuidades referentes aos débitos constantes no
cadastro, favor enviar fax do mesmo para a Secretaria
da SBMET, para que seja efetuada a devida alteração
no cadastro.

A atualização dos dados cadastrais pode ser feito


online no portal da SBMET (www.sbmet.org.br)
ou através da Secretaria da SBMET, (gleice@cptec.
inpe.br) ou pelo correio (no endereço da Secretaria da
SBMET).

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Boletim SBMET março/05
ANUNCIANTES

pág. 04 www.hobeco.net
e-mail: info@hobeco.net
w w w . h o b e c o . n e t

pág. 58
HINNDELET www.hinndelet.com.br
e-mail: comercial@hinndelet.com.br

Contra-capa www.simtech.com.br
e-mail: simtech@simtech.com.br

ATENDIMENTO DA SBMET
Secretaria da SBMET Sobre Revista Brasileira de Meteorologia (RBMET)
E-mail Geral: sbmet@sbmet.org.br InformaçõesGerais:
Marley Cavalcante de Lima Moscati rbmet@model.iag.usp.br
Diretora Administrativa – marley@cptec.inpe.br Envio de artigos e matérias:
Gleice Soares da Silva Técio Ambrizzi – ambrizzi@model.iag.usp.br
Assistente de Secretaria – gleice@cptec.inpe.br Fone: (+ 55 - 11) 3091-4731
Fone: (0xx12) 3945-6653 Fax: (+55 - 11) 3091-4714
Fax: (0xx12) 3945-6666
Home-page:
Sobre Boletim da SBMET www.sbmet.org.br
Informações Gerais:
alonso@cptec.inpe.br e/ou nelson@cptec.inpe.br
Fone: (0x12) 3945-6650 e 3896-8519
Envio de artigos e matérias:
marley@cptec.inpe.br

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Política Editorial do Boletim da Sociedade Brasileira de Meteorologia

Instruções aos Autores:

1) Serão aceitos para publicação no BSBMET, artigos originais na área de meteorologia e áreas
correlatas, não publicados anteriormente, versando sobre conclusões e andamentos de Projetos, opiniões
sobre pontos de relevância na meteorologia e problemas atuais da meteorologia e do clima, além de
matérias técnicas e profissionais de interesse.

2) Os manuscritos submetidos deverão ser enviados ao Editor Responsável do BSBMET via e-mail.

3) Os trabalhos devem ser organizados com a seguinte estrutura: TÍTULO, nome completo dos autores,
as Instituições a que pertencem e o endereço postal, RESUMO/Palavras-chave, ABSTRACT/Key words,
1. INTRODUÇÃO, 2. RESULTADOS E DISCUSSÃO, 3. CONCLUSÕES (OU CONSIDERAÇÕES
FINAIS), 4. AGRADECIMENTOS, 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. As figuras e tabelas
deverão estar posicionadas dentro do texto conforme estipulados pelos autores. As referências
bibliográficas, as equações e as unidades devem seguir as normas adotadas pela Revista Brasileira de
Meteorologia.

4) O texto deve ter, no máximo, dez (10) páginas e ser escrito em formato A4 (297 x 210 mm), usando-se
o editor Word 6.0 ou anterior, fonte Times New Roman 12, espaço 1,5 cm, todas as margens de 2,5 cm
e espaçamento entre parágrafos.

Padrões para confecção e envio de arquivos eletrônicos dos anúncios:

1. Especificação de formatos:
1.1 Anúncio ¼ de página, 8 x 12 cm sem sangria.
1.2 Anúncio ½ página, 12 x 17 cm sem sangria.
1.3 Anúncio de página inteira, 17,5 x 24 cm com 4 mm de sangria.

2. Programas disponíveis para recepção de arquivos:


2.1 CorelDraw 10 ou inferior, nas plataformas PC.
2.2 PDF 5.0 (em alta resolução) ou inferior, nas plataformas PC.

3. Mídias para envio:


3.1 CDR ou CDRW
3.2 E-mail para arquivos menores que 5MB

Obs: (1) Para enviar arquivos, favor gravar todos os links e fontes utilizadas na mesma mídia, lembrando
que a qualidade de imagens e calibração de cores é de inteira responsabilidade do anunciante. É
imprescindível o acompanhamento de uma impressão colorida que possa demonstrar a expectativa de
reprodução de arquivo. (2) Todas as imagens ( figuras, tabelas e fotos) devem ser enviadas em arquivos
à parte, em JPG ou PDF, em alta resolução.

Endereço para envio: A/c Marley C. L. Moscati, INPE/CPTEC – Dept. Meteorologia, Sala 26, Av. dos
Astronautas, 1758, Jd. Granja, São José dos Campos/ SP – 12201-970
E-mail: graftipo@graftipo.com.br com cópia para: marley@cptec.inpe.br.

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