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A Grande Noite

de Shiva

por
Sri Krishna Murti Dasa
Dedicado a:
Sua Divina Graça A. C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada
Acarya-Fundador da ISKCON
Sumário
Capa
Sumário
1- Maha Shiva-ratri
2- Sadashiva, Shambu, Rudra
3- O Maior dos Devotos de
Krishna
4- Ofensa e Casamento
5- Orações e Ensinamentos de
Sri Mahadeva
6- Shaivites
7- Símbolos e os Doze
Jyotirlingas
8- O Néctar de Adorar o Maior
dos Devotos
Sobre o Autor
Fotos
A Sociedade Internacional para a
Consciência de Krishna (ISKCON) convida
os interessados no assunto a se
corresponderem ou visitarem um Templo,
Comunidade ou Centro de Estudos.

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ISBN
Primeira edição e-book: Março de 2017
versão 1.4 - 2.11.17
Maha Shiva-Ratri - A Grande Noite do Senhor Shiva! Essa é
a noite mais especial do maior dos devotos de Krishna! Sri
Mahadeva! Desvende todos os mistérios e enigmas que
envolvem um dos maiores seres místicos da Índia, de forma
clara, fidedigna e autorizada.
Capítulo 1
MAHA SHIVA-RATRI

HÁ MUITO TEMPO, um rei


chamado Chitrabhanu observava um
jejum com sua esposa quando foi
visitado pelo sábio Astavakra, que,
por sua vez, questionou o motivo de
sua vigília. Aquele dia especial era o
Maha Shiva-ratri, a grande noite do
Senhor Shiva. O rei, tendo a bênção
de se lembrar de suas vidas passadas,
explicou-lhe o motivo, dizendo: “Em
uma encarnação anterior, fui um
caçador em Varanasi, chamado
Susvara. Minha vida consistia em
matar e vender pássaros e animais
silvestres. Um dia, fui tomado pela
escuridão da noite e, incapaz de
voltar para casa, subi em uma árvore
de Bael em busca de abrigo. Eu havia
matado um cervo, mas não tive tempo
de levá-lo para o meu lar.
Atormentado pela fome e pela sede,
fiquei acordado por toda a
madrugada. Lágrimas profusas foram
derramadas por mim quando pensei
em minha esposa e filhos pobres, que
deviam estar famintos esperando o
meu regresso”.
“Para aliviar o meu tédio,
empenhei-me em arrancar as folhas
da árvore e soltá-las ao chão.
Finalmente, o Sol tomou conta do céu
e pude regressar para casa. Antes de
quebrar o jejum, servi comida a um
estranho que veio até mim,
implorando por alimento. No
momento da minha morte, vi dois
mensageiros do Senhor Shiva, que
vieram a fim de me levar aos planetas
celestiais. Pela primeira vez, eu soube
do mérito que recebi pela adoração
completa e inconsciente a Sri
Mahadeva (Shiva) no Shiva-ratri.
Contaram-me que, abaixo da árvore
de Bael, havia um Shiva-linga
enterrado e eu o adorei com as folhas
de Bael, realizei um abisheka com
minhas lágrimas e observei um jejum
por toda a noite. Antes de comer,
alimentei um brahmana. Assim,
inconscientemente, eu adorei o
Senhor Shiva nesse dia mais
auspicioso. Após anos de bem-
aventurança divina, renasci como
Chitrabhanu”.
Inspirados por passatempos
como este e desejosos de honrar o
maior dos devotos no dia preferido
dele, decidimos fazer no ano de 2011
a nossa primeira celebração no
templo Hare Krishna da cidade de
Belo Horizonte o Maha Shiva-ratri, a
noite em que Mahadeva se casou com
Parvati. Era a primeira vez que um
templo da ISKCON – Sociedade
Internacional para a Consciência de
Krishna – no Brasil realizava tal
festa, e tudo tinha que sair perfeito.
Conseguimos um Shiva-linga com o
Consulado da Índia em Belo
Horizonte e preparamos a festa. Por
ser uma personalidade enigmática, Sri
Mahadeva é, ainda, muito mal
compreendido. Em alguns estudos
feitos por portugueses e ingleses, ele
é até considerado o diabo do panteão
de deuses védicos. Mesmo entre
devotos de Sri Krishna, muitos
tendem a relacioná-lo apenas ao
controle do modo qualitativo da
ignorância na natureza material,
fantasmas, drogas, tantra-yoga e
outros aspectos secundários, que não
são suficientes para descrever as
glórias daquele que é considerado o
mestre espiritual do universo.
Sri Shiva mesmo diz no Srimad-
Bhagavatam (4.24.30): “Sei que os
devotos também me respeitam e que
lhes sou muito querido. Assim,
ninguém pode ser tão querido pelos
devotos quanto eu”. Portanto, o
festival era fundamental para colocá-
lo em seu devido lugar e evitar,
assim, qualquer tipo de ofensa.
Esta noite, particularmente, foi
inesquecível para mim, que sempre
desejei compreendê-lo melhor.
Quando comecei a frequentar o
templo, há 12 anos, via o Senhor
Shiva como algo estranho,
demasiadamente exótico com suas
cobras, três olhos, tridente e tambor.
Não sei se hoje consigo decifrá-lo,
mas sei que anseio pelo Shiva-ratri
durante todo o ano. Em 2012, estava
em Vrindavana com minha esposa
nessa data especial e pude ir, ao lado
de multidões de vaishnavas, ao
templo de Gopisvara Mahadeva, com
o seu maravilhoso linga decorado
como uma das vaqueirinhas queridas
por Krishna.
Sri Mahadeva, que é o guardião
dos locais sagrados, quis participar na
dança da rasa exclusiva de Sri
Krishna, mas, sendo homem, sua
entrada foi obviamente negada.
Seguindo a sugestão de Lalita Sakhi,
o Senhor Shiva se banhou no Mana
Sarovara e tornou-se uma gopi,
juntando-se à dança da rasa. Krishna,
então, deu-lhe o nome de
“Gopisvara” e solicitou que ele
protegesse as gopis, guardando a
entrada do local da dança. Pela graça
de Gopisvara, um devoto pode se
tornar livre do espírito desfrutador e
receber o darsana da dança da rasa
divina do Senhor Krishna. Acho que
não cheguei a tanto, mas pude
derramar leite no linga em seu
entardecer especial.
Capítulo 2
SADASHIVA, SHAMBU,
RUDRA

PARA ENTENDER O porquê


dessa noite ser tão especial para Sri
Bholenath, é necessário compreender
um pouco mais sobre essa
“personalidade de deus”, como dito
por Arjuna. No Srimad-Bhagavatam,
Sri Mahadeva está presente em todos
os cantos, e sua posição única é
sempre destacada. Entre todos os
milhões de divindades védicas,
Brahma, Vishnu e Shiva ocupam
sempre local de destaque como
criador, mantenedor e destruidor da
criação material, respectivamente.
De Vishnu, cuja origem
transcendental é Krishna, tudo
emana, incluindo Brahma. Sua
Divina Graça A.C. Bhaktivedanta
Swami Prabhupada comenta que “o
Senhor Shiva, que nem é avatara,
nem avesa, nem intermediário entre
esses, possui 84% dos atributos” de
Krishna. As jivas (almas) podem
chegar, atingindo a perfeição, a 78%,
mas “jamais poderão possuir
atributos como Shiva, Vishnu ou o
Senhor Krishna. Um ser vivo pode se
tornar divino, desenvolvendo em
plenitude 78% dos atributos
transcendentais, porém jamais poderá
se tornar um Deus como Shiva,
Vishnu e Krishna (Srimad-
Bhagavatam 1.3.28)”. Brahma, o
criador, também não atinge mais de
78%.
Ainda no capítulo 3 do Primeiro
Canto, no significado do verso 3,
Srila Prabhupada reforça que “o
Senhor Shiva não é um ser vivo
comum. Ele é a porção plenária do
Senhor, mas, em contato direto com a
natureza material, ele não está
exatamente na mesma posição
transcendental do Senhor Vishnu”.
Esta é uma parte muito importante e
complexa. No antiquíssimo Brahma-
samhita, verso 5.15, é dito que
Brahma e Shambhu (Shiva) surgem
de Maha-Vishnu.
Em uma explicação a isso, Srila
Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura
argumenta que, quando a criação do
universo mundano se manifesta,
então o princípio de Shambhu na
forma de Rudra nasce do espaço entre
as duas sobrancelhas de Vishnu.
Shambhu consagra o princípio do ego
materialista, fazendo com que o ser
vivo se identifique com o corpo
material, sujeito aos desejos de
felicidade material e corporal.
(Brahma-samhita, verso 5.16,
significado)
Assim, o poder do Senhor Shiva
vem da potência do Senhor Vishnu.
Isto é descrito no verso 5.10 do
Brahma-samhita: “A pessoa que
incorpora o princípio material causal,
isto é, o grande senhor do mundo
mundano [Maheshvara], Shambhu, na
forma do órgão gerador masculino,
está associado à sua consorte
feminina, a energia limitada [Maya]
como o princípio eficiente causal. O
Senhor do mundo, Maha-Vishnu,
manifesta-Se nele por Sua parte
subjetiva, na forma de Seu olhar”.
Esta compreensão é demasiadamente
esotérica e consiste em um dos
motivos pelos quais Sri Mahadeva é
adorado em um Shiva-linga, que é um
órgão sexual masculino (Shiva) e um
feminino (Durga), como pai e mãe da
manifestação material e o olhar de
Vishnu. Portanto, durante a criação
material, quando Maha-Vishnu lança
Seu olhar para Maya, Shambhu se
relaciona com ela. Com a energia
espiritual de Maha-Vishnu, tudo,
então, manifesta-se. Assim, o verso
5.45 do Brahma-samhita detalha que
Govinda, o Senhor primordial, é
como o leite, e Shiva, por ter tocado a
natureza material, é como o iogurte,
que nada mais é que o leite tocado
por ácidos.
Sri Nandanandana Dasa
(Stephen Knapp), em seu artigo Shiva
and Durga – Their Real Identity,
lembra que Srila Bhaktisiddhanta
Sarasvati, contudo, alerta no
significado desse verso que Shiva não
é outra Divindade além de Krishna.
“Na verdade, aqueles que possuem tal
sentimento discriminatório cometem
uma grande ofensa ao Senhor
Supremo. A posição de Shambhu é
subserviente a Govinda, Krishna.
Portanto, eles não são realmente
diferentes. Porém, como o iogurte
vem do leite, Shiva se manifesta de
acordo com a sua causa inicial, que é
Krishna, por meio de Maha-Vishnu.
Então, Deus toma uma posição
subserviente às Suas formas diretas
quando Ele quer atingir uma
personalidade distinta pela adição de
um elemento particular de
adulteração, que é a forma do Senhor
Shiva, ou Shambhu, através da qual o
Senhor entra em contato com a
energia material, já que Maha-Vishnu
nunca toca a energia mundana”.
Srila Bhaktisiddhanta descreve
ainda que, desta forma, Govinda Se
manifesta como uma porção plenária
que, neste caso, é um guna-avatara
sob a forma de Shambhu, senhor de
tamo-guna, ou o modo qualitativo da
ignorância, enquanto Vishnu fica
responsável por sattva-guna, o modo
qualitativo da bondade, e Brahma por
rajo-guna, paixão. Assim, Shambhu,
seguindo a vontade de Govinda,
trabalha em união com sua consorte,
Durga-devi.
Portanto, a diferença real entre
Govinda e Shiva, ou Brahma, é que
todos os atributos de Deus são
majestosamente presentes na forma
de Govinda (Krishna). Shiva e
Brahma são entidades adulteradas
com qualidades mundanas, por menor
que seja. O Senhor Vishnu é o
Supremo em Si mesmo, enquanto os
outros dois guna-avataras e todos os
outros deuses são entidades que
possuem autoridade em subordinação
a Ele. Shiva é o senhor de tamo-guna
e da natureza material, mas não do
mundo espiritual. Para a destruição
do mundo material, Shiva ainda se
manifesta de Brahma, como Rudra.
Em Vaikuntha, ele é Sadashiva,
uma expansão direta de Krishna,
como explicado no Vayu Purana.
Resumindo, Krishna, a causa original
e Verdade Última, expande-se em
Maha-Vishnu para criar os universos
materiais. Para penetrar a matéria,
Vishnu, mantendo-Se integralmente
transcendental, manifesta Shambhu,
expansão de Sadashiva.
Capítulo 3
O MAIOR DOS
DEVOTOS DE KRISHNA

EM VÁRIAS ESCRITURAS,
Shiva é descrito como o senhor
supremo da manifestação material,
sendo ninguém superior ou igual a ele
neste mundo. Jamais é, contudo,
considerado o senhor do mundo
espiritual. Srila Prabhupada sempre
enfatiza que vaishnavanam yatha
sambhuh (Srimad-Bhagavatam
12.13.16): “O Senhor Shiva é o maior
dos vaishnavas”. “Ele medita
constantemente no Senhor Rama e
canta Hare Rama Hare Rama Rama
Rama Hare Hare. O Senhor Shiva
tem um sampradaya (escola
filosófica) vaishnava, chamado
visnusvami-sampradaya” (Srimad-
Bhagavatam 3.23.23), também
chamado de rudra-sampradaya.
Ainda no Terceiro Canto, Srila
Prabhupada enfatiza que “sua
grandeza é incomparável, visto que
ele é um grande devoto da Suprema
Personalidade de Deus. Diz-se que o
Senhor Shiva é o maior entre todos os
devotos do Supremo. Assim, os restos
de alimento deixados por ele são
aceitos pelos outros devotos como
maha-prasada, ou grande alimento
espiritual (Srimad-Bhagavatam
3.14.26)”. No verso seguinte, Srila
Prabhupada deixa claro que
“ninguém é igual ou superior a ele no
mundo material. Ele é quase igual ao
Senhor Vishnu. Embora sempre se
associe com Maya, Durga, ele está
acima do estágio relativo aos três
modos qualitativos da natureza
material (Srimad-Bhagavatam
3.14.27)”. “Como Seu representante,
o Senhor Shiva é idêntico à Suprema
Personalidade de Deus. Ele é
grandiosíssimo, e sua renúncia a todo
gozo material é um exemplo ideal de
como devemos ser materialmente
desapegados. Devemos, portanto,
seguir seus passos e ser desapegados
da matéria e não imitar seus atos
incomuns como o de beber veneno
(Srimad-Bhagavatam 3-14-30)”.
Em todo o Srimad-Bhagavatam,
Srila Prabhupada faz questão de
enaltecer a posição de Mahadeva e
suas qualidades como o melhor dos
devotos. “O Senhor Shiva é descrito
aqui como o melhor dos cavalheiros
porque não tem inveja de ninguém, é
igual para com todas as entidades
vivas e todas as demais boas
qualidades estão presentes em sua
personalidade. A palavra Shiva
significa ‘todo-auspicioso’. Ninguém
pode ser inimigo dele, pois ele é tão
pacífico e renunciado que nem
mesmo constrói uma casa… A
personalidade do Senhor Shiva
simboliza o melhor que há em termos
de gentileza (Srimad-Bhagavatam
4.2.1)”.
Dessa maneira, Shiva é adorado
pelos devotos de Krishna como um
grande mestre. Srila Prabhupada
explica que “todos os devotos do
Senhor Krishna também são devotos
do Senhor Shiva… O devoto do
Senhor Krishna não desrespeita o
Senhor Shiva, mas o adora como o
devoto mais elevado do Senhor
Supremo. Consequentemente, sempre
que o devoto adora o Senhor Shiva,
ele o faz para obter o favor de
Krishna, e não benefícios materiais
(Srimad-Bhagavatam 4.24.30)”.
Ainda no mesmo comentário, Sua
Divina Graça diz que “o devoto deve
receber o mesmo grau de respeito que
a Suprema Personalidade de Deus e,
às vezes, até mais. Na verdade, o
Senhor Rama, a própria
Personalidade de Deus, certas vezes
adorava o Senhor Shiva. Se até o
Senhor adora Seu devoto, por que
outros devotos não deveriam adorar
um devoto no mesmo nível que
adoram o Senhor?”.
Essa posição como o número um
entre os adoradores de Krishna é
reforçada por Narada Muni: “Desejas
somente a satisfação do Senhor
Krishna. Eloquentemente oras apenas
para continuar a ser um devoto puro
do Senhor. O que mais posso dizer?
És muito querido pelo Senhor
Krishna, e, por receberem a tua
misericórdia, muitos outros também
se tornaram queridos por Krishna”.
(Brhad-bhagavatamrta) No Skanda
Purana, Krishna declara: “Ouça-Me,
ó Shiva! És tão precioso para Mim
como Meu próprio corpo. Aquele que
é querido por ti é até mais querido
para Mim. Eu permito que
permaneças em todas as Minhas
moradas. Na verdade, és o protetor e
mantenedor de todos os dhamas.
Aquele que diz ser Meu devoto, mas
te desconsidera, só está fingindo
devoção a Mim”. Já no Adi Varaha
Purana, o Senhor Supremo diz:
“Como podem aqueles que não
mostram respeito ao Meu devoto
mais elevado, o Senhor Shiva,
tornarem-se devotados a Mim?”. No
Ramayana de Tulasi Dasa, Sri Rama
confessa: “Com as mãos postas, eu
revelo outra doutrina secreta – sem
adorar Shankara [o Senhor Shiva],
um homem não pode alcançar
devoção a Mim”. Deste modo, Shiva
pode nos ajudar a obter a devoção ao
Senhor Krishna e Suas expansões.
Capítulo 4
OFENSA E CASAMENTO

ESSA REVERÊNCIA A
Mahesvara, infelizmente, não é
compartilhada por todos. A célebre
ofensa de Daksha, líder dos
prajapatis, criticando duramente a
conduta de Shiva, é um exemplo
clássico. Na história, Daksha, que era
sogro de Shiva, sentiu-se desonrado
pelo genro, que não se levantou para
prestar reverências em sua chegada.
Na verdade, Shiva e Brahma não o
fizeram por serem superiores a
qualquer um neste mundo, exceto
Vishnu. Mas Daksha, iludido,
pensava que seu genro era
subordinado a ele. Irado, disse que
Shiva vivia em lugares imundos, ao
lado de fantasmas e demônios, nu
como um louco, rindo, chorando,
untado com cinzas de crematório,
sujo e inauspicioso. Tais ofensas não
foram bem aceitas por Nandi, que
amaldiçoou os brahmanas. Shiva, no
entanto, repreendeu seu devoto,
dizendo: “Não deves ficar irado com
os brahmanas, porque eles são
sempre nossos superiores. Quem sou
eu? Quem és tu? Quem são esses
brahmanas? Todos somos partes
integrantes da Alma Suprema. Eleva-
te sobre o conceito da dualidade e
torna-te iluminado. Vê tudo pelos
olhos do conhecimento
transcendental. Situa-te no teu eterno
eu e evita as qualidades
fundamentadas na matéria, tais como
a raiva”. (Skanda Purana)
Posteriormente, foi a vez de Sati, sua
esposa, mostrar sua intolerância às
ofensas de seu pai. Considerando-se
impura por ser descendente de um
ofensor, Sati se autoimolou,
despertando, então, a ira de seu
marido, que, com a ajuda de seus
polêmicos associados, destruiu um
grande sacrifício que estava sendo
realizado por Daksha. Afinal, de que
adiantam pomposas cerimônias e
imensas recepções festivas se um
devoto é ofendido?
Viúvo e desconsolado, Shiva
volta para sua intensa meditação. Sati
reencarna como Parvati, filha de
Mena e Himavan, num momento de
grande aflição para os devas, que
precisavam urgentemente que ela se
casasse com Shiva e gerasse um filho
(Skanda, também chamado de
Kartikeya), que seria o algoz do
demônio Taraka. Pouco após o
nascimento de Parvati, Narada Muni,
como um bom vidente, visitou sua
casa e garantiu seu bom futuro. Disse
o sábio que a filha do rei Himavan
seria um exemplo para todas as
mulheres do mundo e viveria uma
eterna vida de felicidade conjugal,
com um marido muito respeitado e
altamente adorado. O rei questionou
quem era, e Narada assegurou que se
tratava de uma pessoa sem-teto, mal
vestida ou simplesmente nua, coberta
por cinzas, furiosa, acompanhada por
cobras e demônios. Após um quase
desmaio de Mena e Himavan, Narada
garantiu que alguém muito respeitado
e altamente adorado e ao mesmo
tempo com esses atributos só podia
ser o Senhor Shiva.
Sabendo que Shiva só pode ser
conquistado pela prática de
austeridades, Parvati começou uma
intensa jornada para obtê-lo como seu
esposo. Enquanto isso, Kamadeva, o
cupido, aproximou-se de Mahadeva,
tentando acelerar o desenvolvimento
do relacionamento deles, já que as
divindades permaneciam subjugadas
por Taraka e tinham muita pressa. O
cupido, instruído por Indra, o rei dos
deuses, acertou sua flecha, mas foi
incinerado pelo terceiro olho de
Shiva, que estava compenetrado em
sua meditação e não gostou da
intromissão. Porém, a partir da
flecha, o mestre espiritual do
universo não conseguia pensar em
nada mais além de Parvati, que
realizava inigualáveis austeridades.
Disfarçado de brahmacari e pronto
para testar a devoção de sua futura
amada, Shiva começou a se ofender
quando a garota lhe respondeu que
suas pesadas penitências eram
destinadas a obter Mahadeva como
esposo. “Como podes aceitar um
esposo que anda nu, não tem
antepassados conhecidos, possui
serpentes ao seu redor, utiliza cinzas
em seu corpo, associa-se com
fantasmas, monta um touro e vive em
cemitérios? Como uma pessoa dessas
é compatível contigo? Eu te
aconselho a desistir imediatamente
desse homem”. (Skanda Purana)
É curioso como Daksha e aqui o
próprio Shiva fazem basicamente o
mesmo tipo de comentário ofensivo
repetido até hoje por várias pessoas.
No Srimad-Bhagavatam (8.7.33) é
dito que “pessoas magnânimas e
autossatisfeitas, que pregam para o
mundo inteiro, pensam
constantemente em teus pés de lótus
(de Sri Shiva) dentro de seus
corações. Entretanto, quando aqueles
que não conhecem tua austeridade te
veem andando com Uma,
confundem-te com alguém luxurioso,
ou quando te veem perambulando
pelos crematórios, pensam que és
cruel e invejoso. Com certeza, eles
são descarados que não podem
entender tuas atividades”. No
comentário a este verso, Srila
Prabhupada reforça que Shiva é o
vaishnava mais elevado e “nem
mesmo a pessoa mais inteligente
pode entender o que um vaishnava do
quilate do Senhor Shiva está fazendo
ou como ele age. Aqueles que são
dominados pela ira e desejos
hedonistas não podem avaliar as
glórias do Senhor Shiva, cuja posição
é sempre transcendental… Aquele
que tenta criticar as atividades do
Senhor Shiva é um descarado”.
Ao ouvir o “brahmacari”,
porém, Parvati coloca Shiva em seu
devido lugar: “Ó brahmana, não fales
assim! Uma pessoa entra na mais
escura região da ignorância ao
blasfemar Mahadeva. Escuta-me com
atenção para que sejas absolvido de
teus pecados. O Senhor Shiva é a
causa primordial deste mundo, e
ninguém, portanto, pode traçar sua
origem ou família. Todo o universo é
englobado em sua forma, em virtude
do que ele não pode ser considerado
nu. O cemitério é o símbolo deste
mundo de nascimentos e mortes. Ele
reside lá por compaixão para com os
seres vivos. Dharma tem a forma de
um touro, daí o Senhor Shiva ter um
touro como montaria, já que ele é o
mestre dos princípios religiosos.
Serpentes são comparadas aos
defeitos da existência material. O
Senhor Shiva mantém estes sob seu
controle. Vários rituais religiosos são
seus cabelos emaranhados, e seus três
olhos são os três Vedas. É por essa
razão que eu adoro o Senhor Shiva, e
também devias fazê-lo (Skanda
Purana)”.
Satisfeito, Shiva se revela e diz:
“Ó garota gloriosa, sou teu escravo!
Comanda-me como queiras”.
Rumando para a casa dos pais de
Uma (Parvati), Shiva pede
formalmente sua mão em casamento,
e Himavan, a personificação dos
Himalaias, aceita e começa a preparar
a cerimônia. Todos os devas e
habitantes celestiais comparecem à
grande e peculiar festa. Gandharvas
cantavam e apsaras dançavam, mas
fantasmas, demônios e bestas
chegavam como convidados. A mãe
de Parvati ainda não conhecia seu
genro. Primeiramente, ela avistou o
belíssimo Visvavasu, rei dos
gandharvas. Porém, descobriu que
aquele lindo homem, que poderia
muito bem ser seu genro, era apenas
um cantor, que gostava de entreter
Shiva! Depois ela avistou Kuvera,
Yama, Varuna, Surya, Candra, mas
desvendou que nenhum deles era o
seu futuro genro. Mena ficou ainda
mais ansiosa. Se aqueles eram apenas
os convidados, imagine o noivo!
Finalmente, Sri Bholenath entrou em
cena, e Narada pôde mostrar a ela
quem era o escolhido de sua filha.
Mena caiu inconsciente. Cercado por
fantasmas e seres deformados, Shiva,
que caminha ao lado de tais criaturas
por ser o mais misericordioso e não
discriminar ninguém, apareceu com
suas cinco cabeças, corpo coberto por
cinzas, três olhos, muitas armas, a
Lua adornando seu cabelo, vestindo
apenas uma pele de tigre e guirlandas
de caveiras. “Que desgraça eu causei
para merecer um ser de aparência tão
terrível como esposo da minha
adorável e lindíssima filha? Não
permitirei que ela se case com um ser
tão estranho!”. (Shiva Purana)
Vishnu foi pacificar a anfitriã,
enquanto Narada Muni pedia a Shiva
que mostrasse sua verdadeira forma,
visível apenas àqueles devotados à
Verdade. Quando o fez, Mena viu
que seu corpo brilhava como milhares
de sóis, e uma coroa cintilava em sua
cabeça. Suas roupas eram
resplandecentes, e suas joias
deixavam as estrelas envergonhadas.
Mena pediu desculpas e, com a
supervisão de Brahma, a cerimônia
de casamento aconteceu, para alívio
de todas as divindades, que
esperavam ansiosamente pela prole
do casal.
Esta noite em que Shiva se
casou com Parvati é o momento mais
celebrado por todos os adoradores de
Mahadeva como o Maha Shiva-ratri.
O Srimad-Bhagavatam descreve que
mesmo Nanda Maharaja observou a
adoração a Shiva neste dia, ao lado
dos pastores de vacas, em
Ambikavana. Srila Prabhupada, em
uma caminhada matinal em Mumbai,
em 1974, comentou que os pastores e
Nanda Maharaja aumentaram o seu
apego por Krishna ao observarem o
Shiva-ratri. No Hari-bhakti-vilasa, é
dito que “se alguém, sendo um
vaishnava, jejua na noite de
Mahadeva; pela misericórdia dele [o
Senhor Shiva], que está sempre
nadando no mar da doçura da
devoção por Krishna, a devoção do
vaishnava ao Senhor Supremo
aumenta rapidamente”. O mesmo
livro afirma que “seja qual for a
deidade do Senhor Shiva que possa
ser encontrada neste planeta Terra; na
noite deste décimo quarto dia da
quinzena escura do mês de Phalguna,
o Senhor Shiva, que é uma divindade
líder, entra nela. Por isso, este dia é
muito querido pelo Senhor Hari”.
Srila Prabhupada comenta que
“na sociedade hindu, as moças
solteiras ainda são ensinadas a adorar
o Senhor Shiva com o objetivo de
obter esposos como ele. O Senhor
Shiva é o esposo ideal, não no sentido
de riquezas ou gozo dos sentidos, mas
porque ele é o maior de todos os
devotos (Srimad-Bhagavatam
3.23.1)”. Fiéis do Senhor Shiva
observam estrito jejum neste dia, e
passam a noite em vigília cantando os
nomes de Mahadeva e adorando o
linga com água, leite, iogurte e mel,
como pedido pelo próprio Sri Shiva.
Capítulo 5
ORAÇÕES E
ENSINAMENTOS DE SRI
MAHADEVA

SRI MAHADEVA DEIXA


sempre evidente a sua posição de
servo eterno de Sri Krishna e jamais
se coloca como a divindade suprema.
Em diversos momentos do Srimad-
Bhagavatam, o Purana imaculado,
Sri Shambhu glorifica o Senhor
Supremo com preces inigualáveis.
Após arruinar o sacrifício de Daksha,
Mahesvara (Shiva) diz a Vishnu:
“Meu querido Senhor, minha mente e
minha consciência estão sempre fixas
em Teus pés de lótus, que, sendo a
fonte de todas as bênçãos e da
satisfação de todos os desejos, são
adorados por todos os grandes sábios
liberados, porque Teus pés de lótus
são dignos de adoração”. (Srimad-
Bhagavatam 4.7.29) Aos Pracetas, Sri
Hara (Shiva) foi ainda mais enfático:
“Quem quer que seja rendido à
Suprema Personalidade de Deus,
Krishna, o controlador de tudo – da
natureza material bem como da
entidade viva – realmente me é muito
querido”. (Srimad-Bhagavatam
4.24.28)”, e prosseguiu descrevendo
toda beleza e opulência de Krishna.
Por fim, concluiu: “Meu querido
Senhor, aqueles que desejam purificar
sua existência devem se ocupar
sempre em meditação em Teus pés de
lótus, como se escreve acima.
Aqueles que levam a sério a execução
de seus deveres ocupacionais e que
desejam libertar-se do temor devem
adotar este processo de bhakti-yoga”.
(Srimad-Bhagavatam 4.24.53)
Em um passatempo curioso,
inteiramente relatado no oitavo canto
do Srimad-Bhagavatam, o Senhor
Shiva, que salvara a criação bebendo
o veneno oriundo do processo de
bater o oceano de leite, desejou ver a
forma majestosa que Sri Vishnu usou
para iludir os demônios e salvar o
néctar da imortalidade. Dirigindo-se à
morada do Senhor com seus
associados e sua esposa Parvati, Sri
Mahadeva pediu que Sri Vishnu
exibisse Mohini-murti, a
transcendental forma Suprema como
uma encantadora mulher. O Senhor
Shiva, também chamado de
Yogesvara, nunca é superado por
ninguém neste mundo. Como
declarado no Srimad-Bhagavatam
(4.24.18), “o Senhor Shiva, a
poderosíssima divindade, secundário
apenas ao Senhor Vishnu, é
autossuficiente. Apesar de nada ter a
desejar no mundo material; para o
benefício daqueles que estão imersos
na matéria, ele sempre vive muito
atarefado em toda a parte e anda
acompanhado por suas perigosas
energias, como a deusa Kali e a deusa
Durga”. Nem mesmo assim ele se
perturba. Porém, ao ver a forma de
Vishnu como uma mulher
inigualável, Mahadeva se confundiu e
a perseguiu pela floresta, esquecendo-
se de sua posição transcendental.
Ao ser, dessa maneira, derrotado
por Vishnu, Shiva não se sentiu
envergonhado. Ao contrário, estava
orgulhoso de ser derrotado pelo seu
mestre poderoso. Sri Vishnu, então,
disse: “Meu querido Senhor
Shambhu, além de ti, quem é que
dentro deste mundo material poderia
superar Minha energia ilusória? De
um modo geral, as pessoas estão
apegadas ao gozo dos sentidos e
ficam à mercê de sua influência. Na
verdade, é-lhes muito difícil superar a
influência da natureza material”.
(Srimad-Bhagavatam 8.12.39)
Dirigindo-se à sua esposa, Shambhu
comentou: “Ó deusa, acabaste de ver
a energia ilusória da Suprema
Personalidade de Deus, que é o não-
nascido mestre de todos. Embora eu
seja uma das principais expansões de
Sua Onipotência, até mesmo eu fui
iludido por Sua energia. Que dizer
então dos outros, que dependem
completamente de maya? Quando,
após terem se passado mil anos,
terminei de praticar o yoga místico,
perguntaste-me em quem eu
meditava. Aproveito para mostrar-te a
Pessoa Suprema em quem o tempo
não exerce influência e quem os
Vedas não podem entender”.
(Srimad-Bhagavatam 8.12.44-45)
No Décimo Canto da mesma
obra, Sri Shiva ora diretamente a Sri
Krishna: “És a Verdade Última, a luz
suprema, o mistério oculto na
manifestação verbal do Absoluto.
Aqueles cujos corações são
imaculados podem ver-te, pois és
incontaminado como o céu”.
(10.63.34) “És a pessoa original,
única e inigualável, transcendental e
automanifesta. Não causado, és a
causa de tudo e o controlador
último”. (10.63.38) “Alguém que
tenha alcançado a forma de vida
humana como uma dádiva do Senhor,
mas deixa de controlar os sentidos e
honrar Teus pés, sem dúvida é digno
de compaixão, pois só está
enganando a si próprio”. (10.63.41)
“Adoremos a Ti, o Senhor Supremo,
para nos libertar da vida material. És
o mantenedor do Universo e a causa
da criação e da extinção. Equilibrado
e perfeitamente em paz, és o
verdadeiro amigo, eu e Senhor
adorável. És único e inigualável, o
abrigo de todos os mundos e de todas
as almas”. (10.63.44)
No Sri Sanatkumara-samhita, do
antigo Skanda Purana, encontra-se
uma conversa entre Narada Muni e o
Senhor Sadashiva. O sábio pede a Sri
Sadashiva: “Ó mestre, informa-me
qual método o povo de Kali-yuga
deve adotar para alcançar facilmente
a morada transcendental do Senhor
Hari [Krishna]. Ó senhor, qual
mantra levará as pessoas deste
mundo de nascimentos e mortes?
Para que todos possam se beneficiar,
dize-me. Ó senhor, de todos os
mantras, qual mantra não precisa de
purashcharana, nyasa, yoga,
samskara e qualquer outra coisa? A
expressão única do santo nome do
Senhor fornece o maior resultado
possível. Ó mestre dos deuses, se eu
sou competente para ouvi-lo, por
favor, diga-me o santo nome do
Senhor”.
Sri Sadashiva dá a sua resposta:
“Ó afortunado, tua pergunta é
excelente. Para todos os que almejam
o bem comum, eu vou lhes dizer o
segredo chintamani [que realiza os
desejos], a joia de todos os mantras.
Vou dizer-lhes o segredo dos
segredos, a mais confidencial de
todas as coisas confidenciais. Eu vou
dizer o que eu não disse nem à deusa
ou a seus irmãos mais velhos. Vou
dizer-lhes dois mantras inigualáveis
de ​Krishna, que são a joia da coroa de
todos os mantras. Um deles é
gopijana-vallabha-charanau
sharanam prapadye (Eu me refugio
nos pés daquele que é o amado das
gopis). O segundo mantra é namo
gopijana-vallabhabhyam
(Reverências ao casal divino, que é
queridíssimo às gopis)”.
O Senhor Shiva continua:
“Aquele que uma vez cante este
mantra, com ou sem fé, reside com o
Senhor Krishna e Suas amadas gopis.
Quanto a isto, não há dúvida. Para
cantar esses mantras, não há
necessidade de purshcharana, nyasa,
ari-shuddhi, mitra-shuddhi ou outros
tipos de purificação. Para cantar esses
mantras, não há restrição de tempo
ou lugar. Todos, desde o mais
intocável ao maior sábio, são aptos
para cantar este mantra”. No mesmo
texto, Sri Shiva enfatiza a meditação
na Suprema Personalidade de Deus
em Sua forma como Sri Sri Radha-
Krishna, dando uma lindíssima
descrição da forma transcendental de
Krishna e Sua potência de amor,
Radha, e conclui dizendo a Narada:
“Por favor, tem por certo que tudo é a
Sua potência. Mesmo tendo muitas
centenas de anos, não posso
descrever todas as glórias de Sri Sri
Radha-Krishna”.
Capítulo 6
SHAIVITES

APESAR DE O próprio Sri


Mahadeva deixar claro que Sri
Krishna Bhagavan é a deidade
suprema e ter sua própria linha de
sucessão discipular vaishnava, a
rudra-sampradaya, existe o
shaivismo, uma das principais
tradições do sistema védico,
centrados no culto ao Senhor Shiva
como a divindade suprema. Sua
origem é anterior à história
registrada, mas as referências ao culto
de Shiva podem ser encontradas nos
Vedas e Puranas. Um devoto de
Shiva na Índia geralmente usa
vibhuti, ou bhasma, a cinza sagrada,
em sua testa, e rudraksha-mala ao
redor de seu pescoço e em outros
lugares. As contas de Rudra
representam o terceiro olho na testa
do Senhor Shiva. Eles adoram o linga
de Shiva com as folhas das árvores
bilva, e sua meditação consiste em
cantar o panchakshara “Om Namah
Shivaya”.
A filosofia do shaivismo
abrange uma vasta gama do
pensamento hindu, do monismo
idealista ao realismo pluralista,
dependendo da localidade. Como isso
muda sempre ao longo dos anos, um
grande número de seitas shaivites
foram estabelecidas, e as pasupatas
são consideradas as mais antigas. Os
cultos shaivas tiveram grande
popularidade com camponeses em
toda a Índia e usam uma forma de
ascetismo como meio de progresso
espiritual. Isto inclui se situar acima
da raiva e ganância, além da prática
de meditação profunda,
concentrando-se na repetição da
sílaba sagrada om. Muitos ascetas
shaivas podem ser reconhecidos pelo
seu longo cabelo emaranhado, o qual
pode também ser enrolado e
empilhado em cima da cabeça. Com a
tilaka marcada em três linhas
horizontais na testa, muitas vezes
utilizam cinzas de crematório em seus
corpos e entoam mantras para se
livrarem da escravidão da existência
material, por vezes dançando e
cantando para induzir estados de
transe. Algumas de suas práticas são
pouco ortodoxas, dependendo da
escola de pensamento, e, assim,
alguns possuem pensamentos opostos
entre si. Muitos tentam imitar o
Senhor Shiva, ato abominado por
muitos mestres. Srila Prabhupada
sempre dizia que, se eles querem
imitar o Senhor Shiva, deveriam ser
capazes de beber um oceano de
veneno, absorverem-se sempre em
Krishna e nunca se confundirem com
a energia ilusória, pois assim é
Mahadeva.
Os pasupatas foram a primeira
seita do shaivismo, com suas ideias
baseadas em duas obras: o Pasupata-
sutra, escrito por volta de 100-200
a.C., e o Pancartha-bhasya, datado
de 400-600 d.C. Eles se expandiram
principalmente em Gujarat e aceitam
a tese de um controlador Supremo,
mas não os Vedas. Assim,
consideram que o Supremo, no caso
Shiva, interferiu na existência do
universo, operando ingredientes
materiais já existentes para formar a
manifestação cósmica. Portanto,
através de uma combinação da
potência do Senhor Shiva e a energia
material, considerada geralmente
como Shakti ou Mãe Durga, o
universo é criado. Nesse sentido, o
criador não é a causa primordial.
A literatura védica conclusiva,
no entanto, sustenta que divindades
como Brahma e Shiva são criados e
subordinados ao Senhor Narayana,
Vishnu, que é o criador dos mundos
materiais e todos os ingredientes
deles. Portanto, as divindades não são
o Supremo, mas apenas os agentes
dependentes do Supremo que
trabalham sob Sua direção. Isso é
confirmado em muitos versos de toda
a literatura védica. Embora em alguns
lugares seja possível achar que deuses
como Shiva, Ganesha, Surya, Indra,
etc são descritos como “o
governante” e “criador”, deve-se
entender que quase todas as orações
para os deuses usam tais termos,
como bhagavan, isvara etc. Mas as
palavras devem ser tomadas em seu
sentido etimológico referindo-se a
Narayana ou Vishnu, que é a fonte do
poder de todos os deuses.
Como comenta Sri
Nandanandana Dasa (Stephen
Knapp), o famoso Vedanta-sutra
aponta muitas contradições na
filosofia dos pasupatas ou shaivites.
Ele conclui que, se alguém é sério
quanto a atingir a iluminação
espiritual e a libertação, ele deve
evitar essa filosofia questionável,
pois, apesar de as austeridades
incomuns e estilo de vida dos
shaivites, seu destino após a morte
não é certo. A razão é que, embora
eles possam adorar Shiva como o Ser
Supremo, eles geralmente acreditam
que Deus é um vazio sem corpo em
que eles tentam se mesclar. Muitos
deles aceitam Shiva ou qualquer outra
divindade como sendo simplesmente
uma manifestação material do vazio
ou Brahman. Assim, a sua
compreensão da Verdade Absoluta é
defeituosa, e o processo que eles
usam para a realização espiritual é
mal orientado.
Deve-se ressaltar, no entanto,
que, desde que se entenda a real
posição do Senhor Shiva, evitando a
filosofia impersonalista que a maioria
dos shaivites seguem, certamente não
há mal nenhum em adorar ou oferecer
reverências ao Senhor Shiva ou
visitar os templos dedicados a ele.
Neste caso, a adoração ao Senhor
Shiva é simplesmente a oferta de
respeitos a um devoto superior de
Deus, que pode ajudar qualquer um
ao longo do caminho de
autorrealização. Na verdade, como já
explicado anteriormente, o respeito a
Shiva é benéfico para tal avanço, e o
vaishnava não se confunde nesse
processo.
Há muitas outras seitas dos
shaivites além dos pasupatas. Os
pratyabhijnas existem na Caxemira e
foram sistematizados por Vasugupta
(800 d.C.), tendo por base o Shiva-
sutra e o Spanda-karika. O último foi
ampliado pelos comentários de
Somananda, Utpaladeva,
Abhinavagupta e Kshemaraja, que
escreveu os ensinamentos resumidos
em seu Pratyabhijnabridaya. Os
virasaivas ou lingayatas são outra
seita, que recebeu pouca atenção até
Basava, um brahmana de Kannada.
Os siddhantas shaivas é outro grupo
do sul da Índia, originado nos séculos
XI e XIII. Eles usaram textos em
sânscrito, que foram mais tarde
ofuscados pelos poemas de Tamil
Nayanmar, que fornece bhakti ao
sistema deles. São muitos outros
grupos, como os pasupatas lakulisha,
que também eram ascetas, os
kapalikas, kalamukhas, nathas ou
iogues kanphatas etc.
Em suma, o shaivismo consiste
essencialmente em acreditar e aceitar
que Shiva é o absoluto, que ele é
transcendental ao tempo e espaço, e
permeia toda a energia e a existência.
Assim, os praticantes acreditam que,
uma vez que a influência de maya e
karma é removida, eles estarão livres
da escravidão que os impede de
perceber que sua identidade espiritual
é igual à de Shiva. Eles cantam
reverências a Shiva em uma base
regular, como “Om Namah Shivaya”,
ou simplesmente “Namah Shivaya”.
Shiva é conhecido por abençoar seus
devotos com opulência material se ele
está satisfeito, o que acontece com
facilidade. Por isso, muitas pessoas se
aproximam de Shiva, chamado
Asutosa, e de sua esposa para
adquirirem bênçãos materiais, mesmo
o casal dando todo o exemplo de
absoluta renúncia e absorção em
meditação no Senhor Supremo
Krishna. Em alguns processos sérios,
os shaivites buscam, em uma
primeira etapa, manterem-se livres de
qualquer conduta inadequada,
buscando a veracidade, honestidade e
outros princípios básicos do karma-
yoga. Em seguida, mantêm a sua
prática espiritual e hábitos regulados,
com exercícios e métodos, vão ao
templo, participam de pujas e
kirtanas. Na terceira fase, praticam
pranayama e pratyahara, controle da
respiração para a mente e sentidos
estáveis, retirando-os de distrações
externas. Em seguida, através da
concentração e meditação, o
praticante torna-se consciente de
Deus dentro de si. Através dessa
prática, a kundalini pode também
tornar-se ativa, subindo através dos
chakras. Em seguida, o êxtase e a
energia divina é desperta. Em última
análise, este se destina a dar forma,
com a prática, o nirvikalpa-samadhi,
ou a experiência do ParaShiva
atemporal e sem forma. O quarto
passo é quando uma pessoa se torna
iluminada e autorrealizada, resultado
de toda a sua prática, austeridade,
sadhana e devoção.
Este processo, como descrito nos
parágrafos acima por Sri
Nandanandana Dasa, inclui os passos
básicos, encontrados na maioria das
formas de yoga, não importando se é
aplicado diretamente aos shaivites ou
não. No entanto, no dia a dia atual,
não é fácil levar esse sistema à sua
perfeição. Por isso, o próprio Shiva
recomenda o cantar dos santos nomes
e bhakti-yoga, como visto
anteriormente. No quarto canto do
Srimad-Bhagavatam, ele afirma a
Parvati: “Estou sempre ocupado em
oferecer reverências ao Senhor
Vasudeva em pura consciência de
Krishna. A consciência de Krishna é
sempre consciência pura, na qual a
Suprema Personalidade de Deus,
conhecida como Vasudeva, revela-Se
sem cobertura alguma”. Porém, é
inegável que os passos básicos deste
processo incluem qualidades e
práticas que podem melhorar a vida
de alguém e ajudar qualquer um no
caminho espiritual que está sendo
ambicionado.
Detalhes de Sri Mahadeva como
Sripada Shankaracaya já foram
abordados em outro artigo que pode
ser conferidos no Blog oficial da
Revista "Volta ao Supremo" da
editora BBT: "voltaaosupremo.com".
Apesar de pregar o monismo,
confundindo ateístas e
reestabelecendo parte da cultura
védica na Índia, o próprio
Shankaracarya, encarnação de Shiva
prevista por ele mesmo no Shiva
Purana, em conversa com Parvati,
admitiu que se deve tomar refúgio
nos pés de lótus de Sri Krishna, e
confirmou: narayana parah, isto é,
Narayana, ou Vishnu, é a origem de
tudo. No final de seus passatempos,
Shankaracarya deixa claro isso: bhaja
govindam bhaja govindam bhaja
govindam mudha-mate. Como Srila
Prabhupada explica no Srimad-
Bhagavatam (4.24.18): “Ele ressaltou
a adoração ao Senhor Krishna, ou
Govinda, três vezes neste versículo e,
especialmente, advertiu seus
seguidores que não poderiam
conseguir a libertação, ou mukti,
simplesmente por malabarismo de
palavras e quebra-cabeças
gramaticais. Se alguém é realmente
sério quanto a alcançar mukti, ele
deve adorar o Senhor Krishna. Essa é
última instrução de Sripada
Shankaracarya”.
Capítulo 7
SÍMBOLOS E OS DOZE
JYOTIRLINGAS

SRI SHIVA É frequentemente


ilustrado como um homem jovem e
bonito, com o cabelo longo, do qual
flui um surto do Ganges, sendo este
um emblema de sua pureza, adornado
com a Lua crescente. Ele também é
dourado ou levemente azulado, às
vezes com um terceiro olho entre as
sobrancelhas na testa e, geralmente,
com quatro braços, um sinal do seu
poder universal. Nestes, ele segura
um trishula, um tridente mostrando
sua soberania sobre os três modos de
natureza; o damaru, seu tambor, no
qual a batida representa a linguagem
ou o alfabeto; e exibe os mudras de
abhaya (proteção) e varada
(bênçãos).
Diz-se ainda que o tambor de
Shiva representa srishti, a criação; a
mão abhaya é sthiti, ou preservação;
seu pé para baixo simboliza
tirobhava, ou o efeito do véu, e o pé
elevado significa bênçãos
(anugraha), especialmente para se
ver através do véu da ilusão causada
pelo ego. Quando ele é mostrado com
um machado, representa samhara, a
destruição. Às vezes, ele é mostrado
com oito, dez ou até mesmo trinta e
duas mãos. Estas demonstram suas
várias potências e podem trazer
elementos como o akshamala
(rosário, que denota que ele é o
mestre das ciências espirituais), o
khatvanga (varinha mágica, que
indica o seu ser como um adepto das
ciências ocultas), o darpana (um
espelho, que mostra que a criação é
um reflexo de sua forma cósmica), o
chakra (disco), um laço, um bastão,
um arco, uma lança pasupata (sua
arma mais famosa), uma flor de lótus,
a espada e assim por diante. Ele é
muitas vezes visto sentado ou
trajando uma pele de tigre. A pele
representa o seu comando sobre os
desejos, que muitas vezes consomem
homens comuns como um tigre feroz.
Shiva é sempre retratado com
serpentes entrelaçadas em torno de
seus braços, cintura, pescoço e
cabelo. Cobras muitas vezes invocam
o medo, e elas representam como ele
é livre desse sentimento. A serpente
também retrata o tempo. Afinal, se
uma cobra venenosa morde alguém, é
apenas uma questão de algumas horas
até a morte. E o tempo alcança a
todos, mais cedo ou mais tarde.
Então, o Senhor Shiva é o senhor do
tempo e da morte. Essas serpentes
também indicam que ele está cercado
pela morte, mas além do poder dela.
Shiva também é visto com cinzas de
crematório sobre seu corpo, no que é
chamado vibhuti. Isso simboliza a
morte ou separação do mundo e seus
desejos materiais. Isso indica ainda
que os nossos corpos, sendo matéria
inerte em sua forma essencial,
também vão se tornar cinzas quando
morrermos. Assim, é necessário
elevarmo-nos acima da identificação
corpórea e tornarmo-nos conscientes
da identidade real interior. Cinzas são
sinais da completa renúncia de Shiva
ao mundo material.
Ocasionalmente, Shiva utiliza
uma guirlanda de crânios,
representando seu status como o
senhor da destruição da natureza
cíclica. Uma das mais belas formas
de Mahesvara é sua posição de dança,
conhecida como Nataraja, “o rei dos
dançarinos”. Como Nataraja,
Umapati mantém seu tambor damaru
em sua mão direita superior. Isto
indica o som do desenvolvimento
universal. Na outra mão, ele segura
uma chama de destruição. Juntos,
estes simbolizam a criação e a
dissolução, os contrapontos de toda a
existência material. Como Nataraja,
ele também veste a pele de um tigre,
morto por ele. Isto representa o ego,
que vai lutar quando atacado e deve
ser morto pelo conhecimento do
guru, ou a sabedoria de Nataraja.
Nesta forma, Shiva é retratado com
um pé sobre o corpo de Mahamaya, a
ilusão que é a causa de todo o
sofrimento. O outro pé é levantado
para cima, o que representa a
realização do estado turiya, algo
acima do estado de vigília, sonho,
sono profundo e da influência da
mente e da criação. Assim, ele é
completamente livre de tudo isso.
O Senhor Shiva é mostrado com
um terceiro olho entre as
sobrancelhas na testa, que representa
o olhar da sabedoria, ou a visão
interior. Os outros dois olhos
mostram a forma equilibrada de amor
e justiça. Assim, o Senhor Shiva não
é muito duro nem brando, mas
enxerga tudo com as proporções
adequadas de amor, justiça e
conhecimento interior. Juntos, os três
olhos de Shiva também representam o
Sol, a Lua e o fogo, o meio pelo qual
o universo é iluminado.
O Ganges descendo em sua
cabeça, fruto do maravilhoso
passatempo de Krishna como Sri
Vamanadeva, mostra a benevolência
de Shiva, que aceitou a descida das
águas sagradas poupando a Terra do
colapso.
O rio, que desce direto dos pés
de Sri Vishnu, purifica até mesmo
Mahadeva. A água de Ganga também
representa o fluxo de conhecimento e
devoção a Deus. Já a Lua crescente
em seu cabelo, produzida durante o
processo de bater o oceano de leite,
traz a passagem do tempo, que é
apenas um ornamento para Shiva, já
que ele não é afetado por isso. A Lua
crescente também simboliza a
felicidade, especialmente quando é
baseada em um propósito espiritual.
Shiva, que tem a garganta azul
por ter bebido o veneno produzido
pela batedura do oceano de leite,
mantendo o universo puro, é muitas
vezes retratado em pé, ao lado ou
sobre o seu touro, Nandikeshvara, ou
Nandi. Simbolicamente, Nandi, além
de representar a religião, pode ser
interpretado como as tendências
animais, tais como o impulso para a
atividade sexual descontrolada, que
são domesticadas pelo domínio do
Senhor Shiva sobre elas. Assim, ele
monta em Nandi, que é obediente ao
comando de Shiva. Seu touro
representa também a força e a
virilidade, e é frequentemente visto
em templos de Shiva em uma posição
reclinada, na frente do santuário
principal, com o olhar fixo no linga
de Shiva. Nandi também representa o
jivatma, a alma individual, e os
impulsos animalescos que a deixarão
na existência material, a menos que
tais tendências sejam contidas.
Sri Mahesvara é adorado em sua
esotérica forma de linga, cuja origem
é descrita em livros como Skanda
Purana, Shiva Purana e Linga
Purana. O linga fica normalmente
sobre a yoni, que representa a energia
manifesta universal. A yoni, um
símbolo de shakti, combinado com o
linga, torna-se um símbolo da união
eterna dos princípios paternos e
maternos, positivo e negativo, ou as
energias estáticas e dinâmicas da
realidade absoluta. É a comunhão da
consciência eterna e poder dinâmico
da shakti, a fonte de todas as ações e
mudanças. É também o símbolo da
criação do universo por meio da
combinação da energia ativa do
Senhor Shiva e sua shakti.
Os lingas nos templos são
formados por três partes. A mais
baixa é uma base quadrada, chamada
brahma-bhaga ou brahma-pitha, que
representa Brahma, o criador. A parte
do meio é o octagonal vishnu-bhaga
ou vishnu-pitha, que apresenta o
Senhor Vishnu. Ambas as partes
formam o pedestal e a superior
cilíndrica é o rudra-bhaga ou Shiva-
pitha, que também é chamada de
puja-bhaga, uma vez que esta é a
parte que recebe o puja, ou adoração.
Há doze importantes templos
espalhados com jyotirlingas na Índia.
Estes lingas são especiais, porque
contaram com passatempos pessoais
e até íntimos de Mahadeva. Eles são
encontrados em Kedarnatha,
Visvanatha Kashi, Somnatha,
Baijnath, Ramesvara, Ghrisnesvar,
Bhimasankar, Mahakala,
Mallikarjuna, Amalesvar, Nagesvar e
Tryambakesvar. Os cinco lingas
panchabhuta na Índia estão
localizados em Kalahastisvar;
Jambukesvar; Arunachalesvar;
Ekambesvara, em Kanchipuram, e
Nataraja, em Chidambaram. O
templo do Senhor Mahalinga, em
Tiruvidaimarudur (Madhyarjuna),
também é um grande monumento no
Sul da Índia. De todos esses locais, o
linga conhecido como Vishvanatha
Kashi, em Varanasi, é considerado o
mais sagrado, com a presença
permanente de Shiva e sua consorte.
O linga de Ramesvara é também
bastante especial para os vaishnavas,
já que foi adorado pelo próprio Sri
Rama.
Capítulo 8
O NÉCTAR DE ADORAR
O MAIOR DOS
DEVOTOS

A REALIZAÇÃO DO festival
de Shiva-ratri no templo da ISKCON
na cidade de Belo Horizonte tem sido
uma experiência única. Após o
primeiro, os devotos se perguntavam
por que não fazíamos isso antes. É
notório que Srila Prabhupada foi
enfático ao estabelecer os padrões de
adoração nos templos de sua
sociedade internacional e sabia bem
que, naquele momento, tudo tinha
que ser feito com muito cuidado,
evitando qualquer confusão entre os
devotos. Porém, realizando de uma
maneira madura e dentro do
estabelecido por Srila Prabhupada, há
apenas benefícios. O festival que
fazemos é extremamente agradável e
vaishnava. As Deidades do templo
têm o seu arati normal e, após as
cortinas se fecharem, explicamos um
pouco sobre a data, sobre o Senhor
Mahadeva e o linga. Contamos com
um belo linga que o consulado
indiano nos empresta e ela recebe as
guirlandas maha-prasada de Sri
Jagannatha e Seus irmãos. A prasada
oferecida a ele foi também a maha-
prasada de Sri Jagannatha, e até
mesmo as rudraksas foram colocadas
nos pés das Deidades.
Adoramos o Senhor Shambhu
como ele é: o maior dos vaishnavas.
Durante o banho do linga, com mel,
leite, iogurte e água, além de flores
vermelhas, cantamos o maha-mantra
e, ao final, entoamos um mantra de
Shiva, adorando-o como o guardião
de Vrindavana. Este dia tem sido
celebrado por vários templos da
ISKCON ao redor do mundo e é uma
excepcional oportunidade para deixar
claro a todos o papel de Shiva como o
maior dos devotos e Krishna como o
Supremo. Pode-se ainda aproveitar a
atração de Shiva entre os praticantes
de yoga e reforçar essa posição de
servidão dele, acabando também com
as associações simplistas que fazem
dele apenas com ganja, kundalini e
fantasmas. Os templos da ISKCON
podem fazer, em ocasiões especiais,
cerimônias ou pujas respeitando e
adorando divindades como grandes
vaishnavas, desde que isto seja
precedido por uma introdução,
precisamente para trazer pessoas ao
vaishnavismo e não como um
substituto para isso. Propriamente
conduzidas, elas são favoráveis à
consciência de Krishna e não devem
ser rejeitadas.
O Senhor Shiva certamente fica
ansioso por se associar com os
vaishnavas em sua forma original, e
não apenas como suas manifestações,
como Sri Advaita Acarya. Assim
como Nanda Maharaja aumentou seu
apego por Krishna ao realizar o
Shiva-ratri, oremos para que Sri
Mahadeva nos dê um pouquinho de
sua imensa devoção por Sri Govinda,
para que possamos, cada vez mais,
caminhar em direção ao lar – de volta
ao Supremo.
Sobre o Autor

Sri Krishna Murti Dasa,


discípulo de Param Gati Prabhu,
jornalista, é presidente da ISKCON –
Sociedade Internacional Para
Consciência de Krishna – na cidade
de Belo Horizonte, capital do estado
de Minas Gerais. Seu nome civil é
Romero Carvalho e é filho do ilustre
político mineiro Roberto Carvalho.

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