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Práticas e Contextos
em Educação
2018
Resumo
Este artigo tem como principal propósito contribuir para a expansão do corpus de
conhecimento existente na área da Educação Artística, concretamente nas artes
visuais, enquanto ferramenta privilegiada no campo das necessidades especiais
de educação. É aqui descrito o percurso investigativo desenvolvido junto de um
grupo de alunos do ensino básico, no âmbito da tese de doutoramento intitulada
«A atividade artística como vetor de inclusão», apresentando-se a fundamentação
e discussão teórico-prática subjacente ao processo de investigação-ação levada a
cabo pela professora e investigadora. Através do enquadramento de diferentes
olhares sobre o(s) lugar(es) ocupado(s) pela expressão-criação plástica na Escola,
destacamos o legado do pedagogo de educação artística Henry Schaefer-Simmern
(1896-1978), movidos pela procura de um modelo mais coeso e promotor da inclu-
são em sala de aula.
Palavras-chave: educação artística, expressão plástica, inclusão
Abstract
The main purpose of this article is to contribute to the expansion of the existing
knowledge corpus in the area of Artistic Education, specifically in the visual arts,
as a privileged tool in the context of special education needs. It describes the inves-
tigation course developed with a group of students of basic education, within the
scope of the doctoral thesis entitled "The artistic activity as vector of inclusion»,
presenting the theoretical-practical discussion that underwent the process of the
action rearch carried out by the teacher and researcher. Through the framing of
different views on the place (s) occupied by the plastic expression-creation in the
School, we highlight the legacy of the artistic education pedagogue Henry Schae-
fer-Simmern (1896-1978), moved by the search of a more cohesive model that acts
as a promoter of inclusion in the classroom.
Key Words: artistic education, plastic expression, inclusion
«As you form the work, the work forms you» [Schaefer-Simmern, 1948]
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experimental, no âmbito da intervenção protagonizada junto a alunos com limita-
ções na sua participação escolar. A proposta de alteração em curso ao aludido De-
creto-Lei, irá, com certeza, permitir elaborar intervenções mais eficazes, pois sabe-
mos que a argumentação em torno da inclusão se resolve sempre com mais inclusão,
e nunca com menos como refere David Rodrigues (2013).
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O percurso deste pedagogo de educação artística, na área das artes visuais, vem cau-
cionar o nosso intento de (re)encontrar uma metodologia de referência para a inter-
venção com alunos com NEE, pois Schaefer-Simmern disponibiliza na primeira
obra, alguns estudos de caso referentes ao desenvolvimento da atividade artística
junto de jovens com limitações nos domínios intelectual e emocional. Esta dimensão
documentada da sua prática de ensino foi determinante na nossa escolha.
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A escolha de caminhos
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os dados resultantes das notas de campo foram submetidos a uma leitura e análise
prévia à identificação dos temas, os quais foram sendo codificados através da per-
ceção das regularidades e/ou padrões nos textos, associados ao referencial teórico.
A codificação dos temas e subtemas decorreu da constatação de fatores evidenciados
no âmbito da intervenção. Relativamente ao tratamento dos dados recolhidos, atra-
vés do portfólio individual dos alunos (material visual), o procedimento assentou na
análise dos elementos formais das produções, orientada segundo os parâmetros de-
finidos por Schaeffer-Simmern.
O autor considera, por isso, a arte como linguagem universal mas, não obstante,
defende que o incentivo e desenvolvimento da criatividade requer um ambiente
educativo que nutra e proporcione oportunidades e acesso a materiais que possam
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ser usados com intencionalidade artística. Nesse sentido, concebe o professor en-
quanto mediador para a «natural progression of the unfolding of creative expres-
sion», num processo de «leading out»:
A intervenção
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(vi) deve procurar introduzir exemplos da história da arte (incorporating Art His-
tory comparisons) em momentos específicos da situação de aprendizagem.
Esta estratégia é, em simultâneo, das metodologias mais exigentes para o pro-
fessor e das mais profícuas para os alunos, possibilitando aos alunos a compre-
ensão e validação das suas próprias produções e, consequentemente, dos seus
esforços e intuições durante a atividade artística, perante as diversas formas de
produção artística enquadradas num dado tempo, cultura, história e tradição.
A possibilidade da «comparação» com exemplos de criação que se situam no
mesmo estádio de conceção visual que o aluno e, que fazem parte do espólio
artístico da Humanidade, contribuem para uma maior autoestima e sentimen-
tos de competência e eficácia;
(vii) por fim, deve contemplar dimensões multissensoriais, bem como selecionar e
adaptar técnicas e materiais. Deve antecipar níveis de frustração, tanto do
ponto de vista instrumental como técnico, consequência das dificuldades de
integração sensorial ou psicomotoras (ex. problemas resultantes da textura
das tintas, tamanho dos pincéis, posição e dimensão e fixação do suporte, etc.).
Como refere Alberto Sousa (2003, p.185) «cada material contribui de modo
específico para a expressividade e a criatividade da criança em determinadas
condições específicas. Compete ao professor procurar o material mais ade-
quado para cada situação particular.»
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figuração, tentando integrar e sintetizar os registos gráficos de observação na figura
humana imaginada, numa dimensão mais improvável. A sequência dos dois planos
da atividade procurou a apropriação do conceito de metamorfose, através de exem-
plos de transformações (quer reais, quer simbólicos), através do diálogo acerca de
situações do quotidiano, mas, principalmente, sobre a diferença entre a verosimi-
lhança e virtualidade a partir da obra de Graça Morais, a qual, com base nas imagens
apresentadas, induziu e potenciou a alternância perceção-interpretação e as possi-
bilidades infinitas na conceção visual da forma.
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Aplicámos a estes e todos os outros trabalhos produzidos, ao longo das doze unida-
des temáticas, uma matriz orientadora da análise construída a partir da obra Cons-
ciouness of Artistic Form, procurando dados visuais para a identificação do estádio
de conceção visual em cada momento, e das evidências de progresso ao longo do
percurso realizado por cada aluno.
Considerações finais
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Relativamente a uma das questões levantadas no decorrer da investigação - a tenta-
tiva de superação da dicotomia “processo/produto” na Educação Artística- advoga-
mos que a mesma relevância seja atribuída às duas dimensões da atividade artística,
o processo criativo e o produto, sendo que este potencia a necessidade de retomar o
processo, podendo conduzir, na procura de uma solução para um problema visual,
a um novo produto reformulado. O produto da atividade artística é estruturador do
processo de aprendizagem, enquanto objeto de análise e novo ponto de partida para
a reformulação/reconstrução da experiência.
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