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FACULDADE UNYLEYA
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
GESTÃO DE DOCUMENTOS E INFORMAÇÕES

FELIPE ARTHUR CORDEIRO ALVES

MÚNUS PÚBLICO COM A GESTÃO DOCUMENTAL E A


AUSÊNCIA DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE INFORMAÇÃO

JOÃO PESSOA
2017
1

FACULDADE UNYLEYA
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
GESTÃO DE DOCUMENTOS E INFORMAÇÕES

FELIPE ARTHUR CORDEIRO ALVES

MÚNUS PÚBLICO COM A GESTÃO DOCUMENTAL E A


AUSÊNCIA DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE INFORMAÇÃO

Monografia apresentada ao curso de Pós


Graduação em Gestão de Documentos e
Informações da Faculdade Unyleya, como
requisito de conclusão do curso e obtenção do
título de especialista.
Prof. Ms. Paulo Renato Lima

JOÃO PESSOA
2017
2

FELIPE ARTHUR CORDEIRO ALVES

MÚNUS PÚBLICO COM A GESTÃO DOCUMENTAL E A


AUSÊNCIA DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE INFORMAÇÃO

Monografia apresentada ao curso de Pós


Graduação em Gestão de Documentos e
Informações da Faculdade Unyleya, como
requisito de conclusão do curso e obtenção do
título de especialista.
Prof. Ms. Paulo Renato Lima

João Pessoa, abril de 2017.

Aprovada por:

_____________________________________________________
Prof. Paulo Renato Lima – Faculdade UnYLeYa
3

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus pelo dom da vida, pela sua benevolência


para comigo em suas graças e força para continuar nos momentos difíceis, aos
quais todos nós passamos.
A todos os professores do curso de Pós-Graduação em Gestão de
Documentos e Informações da faculdade UnYleYa pelo seu entusiasmo contagiante,
atenção e pelos ricos conhecimentos compartilhados ao longo deste ensejo
acadêmico.
De forma especial, ao professor Paulo Renato Lima que sempre foi muito
solícito e de muita celeridade ao longo do período de elaboração desta investigação
científica.
Sou grato a minha família, por sempre me apoiar durante a vida acadêmica e
pessoal, proporcionando sempre as condições necessárias para desenvolver os
meus estudos de forma eficiente e eficaz. De modo particular ao meu pai Cícero por
sempre ser um exemplo para mim como pessoa e como funcionário público, sendo
ele o principal responsável pelo homem que sou. Não esqueço de agradecer a
minha saudosa mãe, Maria da Conceição (in memoriam) por em vida me educar, me
forma e hoje junto a Deus por não cessar de interceder por mim. Louvo a Deus pela
vida dos meus irmãos Pedro, Marília e Maria Clara por me oferecem alegria nos
momentos em que necessitei disto.
Agradeço por fim a minha namorada Marcella Fernandes por sempre me
edificar e lutar comigo para a realização dos nossos sonhos. Fazendo com que
muitas vezes eu voltasse a acreditar em mim quando poucas pessoas acreditavam.
Louvo e bendigo a Deus por sua vida e por ter colocado ela no meu caminho para
que pudéssemos trilhar a vida juntos.
4

RESUMO

O surgimento e desenvolvimento das tecnologias de informação provocaram


mudanças relevantes em praticamente todas as atividades humanas. As mesmas
trouxeram consigo inúmeros desafios para as instituições e arquivistas no tocante ao
armazenamento, gerenciamento e acesso à informação arquivística. Uma vez que a
produção documental cresceu vertiginosamente e os novos suportes e formatos de
armazenamento da informação ainda era algo totalmente conhecido. Diante disto, o
poder público precisou dar uma resposta a sociedade brasileira que tinha anseio
social por informação e que acompanhou a tendência mundial de desejo de
governos participativos, onde a população pode acompanhar, fiscalizar e participar
ativamente das decisões administrativas. Para atender esta demanda é
imprescindível um programa de gestão documental, visto que para dar acesso à
informação é necessário que ela esteja organizada e bem gerenciada. A
Administração Pública respondeu com elaboração de instrumentos normativos que
isoladamente não surtiram o efeito esperado e não se traduziram em políticas
públicas de informação bem estruturadas e que fossem capazes de atender as
necessidades do povo. Isto ocorreu em virtude da cultura burocrática da Gestão
Pública brasileira, das dificuldades em administrar um país de dimensões
continentais e, sobretudo de fiscalizar a legislação criada pela própria administração.
Diante do exposto, utilizamos nesta pesquisa investigações científicas que
abordassem o tema proposto e que através desta revisão na literatura ficassem
destacadas as lacunas que precisam ser preenchidas e levantando a importância
sócio científica da discussão da temática.

Palavras-chave: Informação. Gestão documental. Acesso à Informação.


Administração Pública. Políticas Públicas. Políticas Públicas de Informação.
5

ABSTRACT

The emergence and development of information technologies causes significant


changes in almost all human activities. The same difficulties facing the challenges for
institutions and archivists do not have access to storage, management and access to
archival information. Once a documental production grew rapidly and the new
support and formats of information storage were still fully known. In view of this,
public authorities need to respond to a Brazilian society that has longed for social
information and that follow a worldwide trend of desire for participatory governments,
where a population can monitor, check and actively participate in administrative
decisions. To meet this demand, a documental management program is
indispensable, due to the fact that give access to the information is necessary that it
be organized and well managed. The Public Administration responded with the
elaboration of normative instruments that alone did not have the expected effect and
do not translate into well structured public information policies that are adequate to
meet the needs of the people. This is due to the bureaucratic culture of the Brazilian
Public Administration, the difficulties in managing a country with continental
dimensions and, above all, to supervise legislation created by the administration
itself. Given the above, we use this research scientific research that addressed the
theme and through this literature review stay highlighted the gaps that need to be
filled and lifting the important scientific partner of the thematic discussion.

Keywords: Information. Documental management. Access to information. Public


administration. Public policy. Public Information Policies.
6

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9
2 REFERENCIAL TEÓRICO..................................................................................... 14
3 CONCEITOS E PRINCÍPIOS ARQUIVÍSTICOS NORTEADORES ....................... 16
3.1 CONCEITOS BÁSICOS DA ARQUIVOLOGIA ................................................ 16
3.2 PRINCÍPIOS ARQUIVÍSTICOS: O FUNDAMENTO DA ARQUIVOLOGIA
COMO CIÊNCIA .................................................................................................... 19
4 MUNÚS PÚBLICO COM A GESTÃO DOCUMENTAL COM BASE NA
LEGISLAÇÃO ARQUIVÍSTICA ................................................................................ 21
5 POLÍTICAS PÚBLICAS DE INFORMAÇÃO NO BRASIL ..................................... 27
5.1 POLÍTICAS PÚBLICAS: O QUE SÃO? QUEM SÃO SEUS AGENTES? E
COMO SÃO ELABORADAS? ................................................................................ 27
5.2 POLÍTICAS PÚBLICAS: TRADUÇÃO DA LEGISLAÇÃO ARQUIVÍSTICA EM
AÇÕES CONCRETAS ........................................................................................... 30
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 35
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 39
9

1 INTRODUÇÃO

O Brasil é um país de economia emergente, de dimensões continentais e


conta com uma população que ultrapassa a casa dos cento e oitenta milhões. O
Estado brasileiro apresenta problemas comuns a países em desenvolvimento como:
altos índices de desigualdade social, má distribuição de renda, desemprego e altas
taxas de analfabetismo. A máquina pública brasileira é grande e repleta de vícios de
modelos administrativos anteriores, tornando a governabilidade um desafio aos
gestores públicos.
Em concomitância ao contexto supracitado a sociedade brasileira adentrou
cada vez mais na sociedade da informação que se caracteriza por uma intensa
produção documental, rápida comunicação e globalização da informação.
Evidenciando cada vez mais o anseio social por informação e comunicação,
trazendo ao estado brasileiro e, sobretudo aos profissionais da informação inúmeros
desafios.
Em decorrência do cenário exposto o gerenciamento da informação pública se
tornou uma missão árdua. A produção documental é copiosa tendo em vista o
tamanho do Estado e cresceu vertiginosamente com o avanço e desenvolvimentos
das tecnologias de informação. De acordo com Medeiros (2004) estes documentos
são elementos de prova de direito de pessoas ou da administração. Por conseguinte,
são documentos arquivísticos e devem ter o tratamento adequado, implicando
responsabilidades na custódia a entidade produtora.
Diante desta conjuntura, O Estado tentou suprir as demandas e melhorar o
gerenciamento informacional através de instrumentos normativos que regulam a
gestão, uso, acesso e eliminação da informação. No entanto, somente elaboração
de ordenamento jurídico não representa uma melhoria significativa e atendimento
aos anseios sociais.
Partindo desta conjectura, buscamos apresentar nesta investigação científica
o dever do Poder Público com o zelo e a proteção aos acervos documentais,
buscando enaltecer suas ações, omissões, avanços e retrocessos quanto a gestão
documental e elaboração de políticas públicas de informação.
A Gestão Documental é um mecanismo imprescindível para uma boa atuação
de uma entendida pública ou privada, sobretudo, no contexto da sociedade da
10

informação caracterizada pelo anseio por informação e comunicação, uma vez que
as tecnologias da informação provocaram uma ruptura dos limites geográficos e
deram início ao processo de globalização da informação. Matterlat (2002, p.7) expõe
que “a noção de sociedade global de informação é resultado de uma construção
geopolítica”.
Diante desta conjuntura, a informação exerce protagonismo no
desenvolvimento socioeconômico em países de economia emergente ou
desenvolvida. Segundo Castells (2001 apud GOUVEIA, 2004) ‟a sociedade da
informação é um conceito utilizado para descrever uma sociedade e uma economia
que faz o melhor uso possível de Tecnologias de Informação e Comunicação no
sentido de lidar com a informação, e que toma esta como elemento central de toda
atividade humana”.
Consoante a cenário este, Miranda (2000) discorre sobre a importância da
informação na tomada decisão em diversas esferas e sobre o funcionamento da
sociedade em rede.

Na sociedade da informação, a comunicação e a informação tendem


a permear as atividades e os processos de decisão nas diferentes
esferas da sociedade, incluindo a superestrutura política, o governo
federal, estaduais e municipais, a cultura e as artes, a ciência e a
tecnologia, a educação em todas as suas instâncias, a saúde, a
indústria, as finanças, o comércio e a agricultura, a proteção do meio
ambiente, as associações comunitárias, as sociedades profissionais,
sindicatos, as manifestações populares, as minorias, as religiões, os
esportes, lazer, hobbyes, etc.. A sociedade passa progressivamente
a funcionar em rede. O fenômeno que melhor caracteriza esse novo
funcionamento em rede é a convergência progressiva que ocorre
entre produtores, intermediários e usuários em torno a recursos,
produtos e serviços de informação afins. (MIRANDA, 2000).

Todavia, para a informação assumir de fato este papel é inescusável sua


organização e gerenciamento durante todo seu fluxo na instituição, pois atualmente
as rotinas administrativas requerem maior celeridade, recuperação e pronto acesso
a informação. De acordo com Wilson (2006) a gestão da informação se resume na
gestão da informação desde sua produção até a entrega da mesma ao usuário.
O Brasil tem dado passos importantes na gestão documental no tocante a
elaboração de instrumentos normativos como: Lei 8.159/91, Lei 12.527/11,
resoluções do Conselho Nacional de Arquivos (CONARQ), entre outros; porém esta
base legislativa não está traduzida completamente em políticas públicas de
11

informação. Jardim (2010) apresenta que a literatura sobre esse tema é escassa e
insuficiente para subsidiar a formulação, implantação e avaliação de políticas
públicas arquivísticas. Esta lacuna precisa ser preenchida com urgência, pois a
produção científica pode ajudar na elucidação desta problemática através de um
debate capaz de propor iniciativas a curto, médio e longo para Administração Pública
Direta e Indireta.
Diante do cenário exposto, o presente estudo se propôs a responder ao
sequente questionamento: Qual a função do Poder Público na Gestão Documental e
como se desenvolvem as políticas Públicas de Informação?
À vista da questão formulada, foi proposto como objetivo geral levantar
elementos científicos que apresentem o real papel da administração pública no
tocante a gestão documental e descobrir como se dá o processo de elaboração de
políticas públicas de informação. Quanto aos objetivos específicos propomos
articulação de pesquisas que versem sobre a temática proposta por esta
investigação científica que salientem a relevância do seu debate e que a partir
possamos encontrar e preencher as lacunas na literatura sobre a temática proposta.
Também buscamos compreender o processo de elaboração das políticas públicas
de informação no nosso país, os desafios, as limitações e sua aplicabilidade.
A divisão do trabalho em capítulos é um ponto importante na elaboração de
uma investigação científica, pois um equívoco neste ponto pode prejudicar a
compreensão do leitor. Diante disto, o presente estudo foi dividido sistematicamente
em três capítulos, a fim de que o texto pudesse ser discorrido com coesão e
coerência, seguindo e se mantendo em uma linha de raciocínio. Em consonância a
isto os capítulos também se dividiram em sub capítulos. Diante da complexidade do
tema a fragmentação da informação, coerência e coesão são de fundamental
importância para a compreensão do leitor sobre as proposições inseridas nesta
pesquisa.
O primeiro capítulo do trabalho abordará conceitos e princípios norteadores
da Arquivologia para que o desenvolvimento da pesquisa ocorra de modo
satisfatório, melhorando o entendimento do leitor sobre o que será exposto
posteriormente.
No segundo capítulo faremos uma explanação do dever da Administração
pública com a informação arquivística com base em legislação específica. Neste
ponto buscamos evidenciar o dever do poder público não somente em zelar os
12

documentos, mas também de elaborar mecanismos que favoreçam o acesso da


população brasileira a informação.
O terceiro e último capítulo abordaremos as políticas públicas de informação,
buscando entender sua elaboração, seus agentes, variáveis em concomitância a
apresentação da sua importância e do quantos estas ações podem ser importantes
para melhoria de uma conjectura socioeconômica.
No que concerne aos procedimentos metodológicos foi delimitada e escolhida
uma metodologia que favorecesse o desenvolvimento da pesquisa. Consoante
Severino (2000, p. 18) podemos compreender metodologia como ‟um instrumental
útil e seguro para a gestação de uma postura amadurecida frente aos problemas
científicos, políticos e filosóficos que nossa educação universitária enfrenta”.
A presente pesquisa caracteriza-se como uma revisão de literatura e como
fonte de consulta para o levantamento bibliográfico serão utilizados arquivos
científicos, monografias, dissertações, teses, dicionários especializados, legislação
brasileira, livros e reportagens jornalísticas de fontes confiáveis.
Conforme Bento (2012, p.1) a revisão de literatura é uma parte muito
importante na construção do conhecimento científico. Sobre isto o mesmo declara
que

A revisão da literatura é uma parte vital do processo de investigação.


Aquela envolve localizar, analisar, sintetizar e interpretar a
investigação prévia (revistas cientificas, livros, actas de congressos,
resumos, etc.) relacionada com a sua área de estudo; é, então, uma
análise bibliográfica pormenorizada, referente aos trabalhos já
publicados sobre o tema. A revisão da literatura é indispensável não
somente para definir bem o problema, mas também para obter uma
ideia precisa sobre o estado actual dos conhecimentos sobre um
dado tema, as suas lacunas e a contribuição da investigação para o
desenvolvimento do conhecimento.

Segundo Mattos (2015) existem três tipos de revisão de literatura: narrativa,


sistemática e integrativa. Nesta investigação científica adotaremos a revisão de
literatura narrativa que segundo o mesmo não utiliza critérios explícitos e metódicos
para a busca e crítica da literatura. A escolha dos estudos e sua interpretação das
pesquisas podem estar sujeitos a subjetividade dos autores. Este tipo de revisão de
literatura é adequado para artigos, dissertações e trabalhos de conclusão de curso
de modo geral.
13

O presente estudo será exploratório quanto aos objetivos. Segundo Gil (2002)
este tipo de pesquisa proporciona maior conhecimento do problema. No tocante a
pesquisa à abordagem a pesquisa é considera como qualitativa. De acordo com
Rodrigues (2007, p. 38) podemos entender que a mesma é

é a pesquisa que – predominantemente – pondera, sopesa, analisa e


interpreta dados relativos à natureza dos fenômenos, sem que os
aspectos quantitativos sejam a sua preocupação precípua, a lógica
que conduz o fio do seu raciocínio, a linguagem que expressa as
suas razões.
14

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Neste estudo foram desenvolvidos três capítulos onde serão abordados


temáticas referentes ao dever público em gerenciar a informação arquivística e dar
acesso a esta conforme estabelecidos em gestão específica. O governo tentou dar
respostas ao anseio social através da elaboração de instrumentos normativos, mas
estas leis não se transforam em políticas públicas de informação e o resultado ainda
é aquém da necessidade da população.
Sendo assim, no primeiro capítulo são abordados conceitos e princípios
norteadores da Arquivologia, dando enfoque ao que estabece a legislação
arquivística: Lei de Arquivos n° 8.159 (1991) e Lei de Acesso a Informação n° 12.527
(2012). Também utilizamos como fonte de pesquisa um dicionário especializado, o
Dicionário de Terminologia Arquivística. Diante da abordagem do trabalho acerca da
informação pública também julgamos pertinente citar o que os órgãos públicos
julgam sobre esta temática, para tanto utilizamos como fonte de pesquisa a
Controladoria geral da União.
Na segunda parte do capítulo, destacamos autores consagrados na área
arquivística como Bellotto (2002) e Schellenberg (1973), sem obviamente deixar de
citar novas pesquisas desenvolvidas por Rangel (2015), Reis (2006) e Mora (2001),
pois a Arquivística tem uma dinamicidade muito grande e é necessário o uso de
fontes atualizadas para o desenvolvimento científicos.
No capítulo 2 abordamos o dever do poder público com a Gestão Documental
baseada na legislação arquivística e destacamos o embasamento feito através da
opinião de um dos maiores especialistas em governos abertos Toby Mendel (2009 e
2012). Também buscamos ver a avaliação das ações governamentais no tocante a
gestão e acesso à informação através de reportagens da Revista Exame e BBC.
Através deste embasamento conseguimos enxergar que a legislação arquivística
brasileira teve resultados inócuos e que ainda há muito a ser melhorado. Isto serviu
também para realçar a importância de um debate em torno desta temática.
No terceiro e último capítulo buscamos apresentar como uma legislação pode
se traduzir em uma política pública de informação que pudesse vir a trazer
resultados expressivos.
O último capítulo buscou trabalhar a interdisciplinaridade, dialogando com
autores de outras áreas do conhecimento como: sociologia, psicologia, direito, etc.
15

Destacamos Ohlweiler (2007), Boneti (2007), Guareschi (2004), Souza (2006). O


diálogo foi necessário e bastante salutar e nos permitiu observar diferentes visões
acerca do tema proposto.
Na segunda parte do capítulo final abordamos diretamente o tema políticas
públicas de informação com base no pensamento do autor José Maria Jardim que
aborda muito o tema em suas pesquisas no contexto da Ciência da Informação.
Suas opiniões trouxeram valores enriquecedores a esta investigação científica e
fomentou no pesquisador desta investigação científica o desejo de aprender e
discutir mais sobre uma temática tão importante, mas que carece de preenchimento
de algumas lacunas na literatura arquivística.
16

3 CONCEITOS E PRINCÍPIOS ARQUIVÍSTICOS NORTEADORES

3.1 CONCEITOS BÁSICOS DA ARQUIVOLOGIA

Para o melhor desenvolvimento desta pesquisa julgamos importante


conhecermos alguns conceitos básicos de arquivologia para facilitar o entendimento
do leitor. No entanto, precisamos compreender a diferença entre conceito e definição
que ambas não são definitivas e podem variar de acordo com o tempo, cultura e
localidade.
Podemos entender conceito como “qualquer unidade de pensamento. O
conceito pode ter seu conteúdo semântico reexpresso pela combinação de outros
conceitos” (ABNT, 1992, p. 1).
Na visão de Yeo (2007, p. 318):

[...] definições podem não oferecer verdades irrefutáveis, mas, são


ainda úteis para muitos propósitos. Elas auxiliam os novatos em sua
profissão, ajudam profissionais estabelecidos na análise de conceitos
básicos, [...], bem como especialistas em outras áreas do
conhecimento ou o público em geral.

De acordo com a Lei 8.159 de 1991 podemos entender arquivos como junto
de documentos produzidos e recebidos por pessoas físicas ou jurídicas, de caráter
público ou privado ao longo de suas atividades, independente do suporte. A palavra
arquivo também serve para definir uma instituição arquivística e o móvel onde se
dispõe documentos de arquivo.
A arquivística é uma ciência relativamente nova, mas fundada em princípios e
repleta de particularidades. Para compreendê-la os primeiros conceitos que
precisamos conhecer é o seu objeto de estudo: documento e informação. Ambos
são termos polissêmicos e de difícil de delimitação.
De acordo com a Lei de acesso à informação pública de 2012 documento é
“unidade de registro de informações, qualquer que seja o suporte ou formato”. Os
documentos arquivísticos se distinguem dos demais por seu caráter único e sua
produção ser feita de maneira natural no decorrer de atividades de instituições ou
pessoas físicas, servindo como prova de atos administrativos.
Segundo o Dicionário de Terminologia Arquivística (2005, p.107) podemos
compreender informação como “elemento referencial, noção, ideia ou mensagem
17

contidos num documento”. Na LAI, art. 4° informação é colocada como: “dados


processados ou não, que podem ser utilizados para produção e transmissão de
conhecimento, contidos em qualquer meio, suporte ou formato”.
Tendo em vista que neste trabalho a abordagem deter-se-á informações de
caráter público julgamos ser pertinente também inserirmos discorrer sobre ela nesta
investigação científica. Para tanto adotamos o conceito de Batista (2010, p. 40) e
segundo a mesma

[...] informação pública é um bem público, tangível ou intangível, com


forma de expressão gráfica, sonora e/ou iconográfica, que consiste
num patrimônio cultural de uso comum da sociedade e de
propriedade das entidades/instituições públicas da administração
centralizada, das autarquias e das fundações públicas. A informação
pública pode ser produzida pela administração pública ou,
simplesmente, estar em poder dela, sem o status de sigilo para que
esteja disponível ao interesse público/coletivo da sociedade. Quando
acessível à sociedade, a informação pública tem o poder de afetar
elementos do ambiente, reconfigurando a estrutura social.

Em conformidade ao acima exposto a Controladoria Geral da União (CGU)


citada por Sá e Malin (2012, p. 2-3) afirmam que

A informação sob a guarda do Estado é sempre pública, devendo o


acesso a ela ser restringido apenas em casos específicos. Isto
significa que a informação produzida, guardada, organizada e
gerenciada pelo Estado em nome da sociedade é um bem público.
O acesso a estes dados – que compõem documentos, arquivos,
estatísticas – constitui-se em um dos fundamentos para a
consolidação da democracia, ao fortalecer a capacidade dos
indivíduos de participar de modo efetivo da tomada de decisões que
os afeta.

Os documentos arquivísticos são como as pessoas: são criadas, se


desenvolvem e chegam a um destino final. A informação arquivística passa por
algumas fases no seu ciclo de vida, denominado na literatura arquivística como ciclo
vital de documentos.

O ciclo vital de documentos é definido como “sucesso de fases por que


passam os documentos (corrente, intermediária, permanente), desde o momento em
que são produzidos até sua destinação final”. (BRASIL, 2005) Só existem dois
destinos para a informação no ciclo vital de documentos, no primeiro ela é eliminada
18

por já ter prazo seu prazo de vigência e no outro ela é recolhida para guarda
permanente por apresentar valor histórico e representar a memória institucional.

Um programa de gestão documental acompanha a informação durante todo


seu fluxo no ciclo vital, enquanto o documento tem o seu valor primário (legal,
administrativo) na produção até sua progressiva perda de valor administrativo tendo
como destino final a eliminação ou assumindo o valor secundário (histórico,
memória) sendo recolhido para a guarda permanente. Podemos visualizar isto na
figura1 a seguir
Figura 1: Do ciclo vital à teoria das três idades: representação das fases

Fonte: Medeiros e Amaral (2010, p. 306).

1 Artigo disponível em: <http://seer.ufrgs.br/EmQuestao/article/viewFile/15108/10436>. Acesso em 18


fev. 2017.
19

3.2 PRINCÍPIOS ARQUIVÍSTICOS: O FUNDAMENTO DA ARQUIVOLOGIA COMO


CIÊNCIA

Uma ciência sólida e consolidada se estabelece através de princípios. Os


princípios arquivísticos são um marco para Arquivologia enquanto ciência, deixando
evidente sua diferença para as demais Ciências da Informação.
Para compreendermos melhor a teoria dos arquivos é necessário
compreendermos um pouco do contexto em que foram lançados os princípios
arquivísticos.
Seguindo a mesma linha de raciocínio Rangel (2015, p. 20) reitera que

o princípio de uma ciência assim o é porque se caracteriza como um


preceito a ser seguido e necessário ao desenvolvimento das
atividades relacionadas àquele saber específico. Ressaltamos,
igualmente, que o contexto de criação e de reconhecimento de um
princípio não pode ser desconsiderado.

De acordo com Reis (2006) os arquivos mais antigos que são conhecidos
datam do 4° milênio a.C., junto a civilizações do Vale do Nilo e Mesopotâmia através
de descobertas arqueológicas. Estes arquivos ficavam em sua maioria em templos e
palácios por estarem mais próximos ao centro do governo da época.
O grande marco para os Arquivos ocorreu após a Idade Média com a
revolução francesa em meados de 1780. Conforme Schellenberg (1973) a teoria dos
arquivos começa após a criação dos arquivos nacionais de Paris, onde surgiu o
termo “respeito aos fundos”. Posteriormente foi criado o princípio fundamental da
Arquivologia, o princípio da proveniência e de respeito aos fundos.
Mora (2001, p. 229) versa sobre a dependência entre os princípios e do papel
dos primeiros princípios para uma ciência e pondera que

Embora um princípio seja um ponto de partida, nem todo o ponto de


partida pode ser um princípio. Por isso, reservou-se o nome de
princípio para aquele que não pode reduzir-se a outro. Em
contrapartida, pode admitir-se que os princípios de uma determinada
ciência são, por sua vez, dependentes de certos princípios
superiores e, em última análise, dos chamados “primeiros princípios”
ou axiomas.

Segundo Bellotto (2002) os princípios arquivísticos são:


20

1. Proveniência: este princípio concerne em oferecer uma identidade ao


documento referente seu produtor. Neste os documentos produzidos,
acumulados ou armazenados por uma instituição ou uma pessoa não
devem ser mesclados com documentos oriundos de outra instituição.
2. Organicidade: neste princípio podemos entender que os documentos
refletem a instituição na qual foi produzido, salientando o caráter
orgânico da instituição.
3. Unicidade: independente de gênero, forma, tipo ou suporte os
documentos arquivísticos tem caráter único.
4. Indivisibilidade/ Integridade arquivística: este princípio é derivado
do princípio da proveniência e estabelece que os documentos de um
fundo arquivístico não devem ser separados, alienados, destruídos ou
sofrer alguma adição.
5. Cumulatividade: a informação arquivística se acumula de maneira
natural progressiva e orgânica no decorrer das rotinas administrativas.

É importante salientar que existem outros princípios arquivísticos como:


territorialidade, reversibilidade, imprescritibilidade, entre outros. No entanto nesta
pesquisa resolvemos nos deter aos acima citados por serem os principais e não
haver um consenso sobre sua aceitabilidade e sua usabilidade atualmente.
Após conhecer os princípios da Arquivologia fica nítida a diferença dele para a
Biblioteconomia e Museologia. Exemplificando: a informação arquivística é feita
naturalmente no decorrer das atividades administrativas, refletindo-as e possuem
caráter único não devendo ser misturados com documentos de instituições
produtoras diferentes. Na Biblioteconomia os documentos são produzidos em muitos
exemplares e são feitos com um fim premeditado e não de maneira natural como
ocorre nas bibliotecas. Na museologia os acervos já nascem com valor histórico,
diferentemente dos documentos arquivísticos que nascem com valor a administrativo
e com o decorrer do tempo podem se tornar objeto de memória institucional.
21

4 MUNÚS PÚBLICO COM A GESTÃO DOCUMENTAL COM BASE NA


LEGISLAÇÃO ARQUIVÍSTICA

Durante a Segunda Guerra Mundial e no início da corrida tecnológica a


expectativa era de que os documentos em suporte de papel iram se extinguir, mas
ocorreu inteiramente o inverso. Com o avanço das tecnologias de informação a
produção de informação arquivística registrada no papel cresceu vertiginosamente e
em decorrência disso surgiram muitos desafios na organização, preservação e
acesso documental.
Nas últimas décadas a população passou a ser mais participativa nas ações
governamentais e mais atenta as decisões do governo. Isto ocorreu essencialmente
devido ao desenvolvimento ao acesso da sociedade as tecnologias da informação
que romperam diversos paradigmas na comunicação social e sendo fundamental no
processo de globalização da informação. Sobre isto Toby Mendel, em entrevista2 ao
Estadão em 29 de março de 2012, discursa dizendo

[...] eu identifico três fatores que tem estimulado a demanda pelo


direito a informação em várias partes do mundo. Um deles é o
crescimento da importância dos governos participativos. As pessoas
não querem apenas votar nas eleições de tantos em tantos anos,
querem participar das administrações, querem ter controle sobre as
decisões que lhe dizem respeito. Há 15 ou 20 anos não havia esse
tipo de demanda. É um fenômeno global. No Egito, essa foi uma das
causas da revolução. A tecnologia é outro fator. Com a tecnologia as
pessoas entendem melhor o valor das informações, principalmente
daquelas que costumam ser retidas pelos governos. Por fim, há um
fenômeno da globalização. As pessoas estão conectadas
independentemente de fronteiras, podem ver que os cidadãos de
outros países têm e exigem os mesmos direitos.

Diante deste cenário, ficou cada vez mais evidente a necessidade de


gerenciar as informações produzidas cotidianamente por pessoas físicas e jurídicas
no curso de suas atividades. Logo, não se pode mais somente produzir e aglomerar
informações, pois em meio a uma sociedade que anseia por informação é
necessário oferecer boas condições de acesso à população. Para ofertar isto a
sociedade é necessário um programa de gestão da informação eficaz e que seja
capaz de acompanhar o papel da informação nas rotinas administrativas.

2
Estadão. Disponível em: <http://blogs.estadao.com.br/publicos/toby-mendel-especialista-
emgoverno-aberto-avalia-lei-brasileira-de-acesso-a-dados/>. Acesso em: 28 fev. 2017.
22

De acordo com a lei Federal n° 8.159, de 08 de janeiro de 1991, dispõe em


seu art. 3 que Gestão de Documentos é

o conjunto de procedimentos e operações técnicas referentes à sua


produção, tramitação, uso, avaliação e arquivamento em fase
corrente e intermediária, visando a sua eliminação ou recolhimento
para guarda permanente.

A gestão documental é o acompanhamento e monitoramento da informação


no decorrer do fluxo documental, “com vistas à racionalização e eficiência
administrativa, bem como a preservação do patrimônio documental de interesse
histórico-cultural” (BERNARDES, 1998, p.11).
A gestão de documentos estabelece uma série de políticas que permitem
acesso rápido a informação, controle e integridade dos documentos, respeitando os
princípios arquivísticos de ordem original e proveniência. (CARPES & CASTANHO,
2014)
Lopes (1997) destaca entre as etapas da gestão documental a classificação,
avaliação e descrição e as coloca como indissociáveis e complementares sob a ótica
da arquivística integrada. Isto posto, a má execução de uma dessas etapas pode
comprometer o funcionamento do programa de gerenciamento da informação.
A classificação é tida por muitos autores como uma das mais importantes
atividades arquivísticas, pois uma vez que a documentação é classificada ela pode
ser melhor compreendida, sempre dentro do seu contexto de produção e tramitação.
Lopes (2000, p. 250) entende classificação como “ordenação intelectual e física dos
acervos, baseada em uma proposta de hierarquização das informações referente
aos mesmos”.
Corroborando ao pensamento supracitado Camargo e Machado (2000, p. 24)
acrescentam que classificação é “a sequência de operações que de acordo com as
diferentes estruturas organizacionais, funções e atividades da entidade produtora,
visam a distribuir em classes os documentos de um arquivo”.
A avaliação é o procedimento posterior à classificação e sua relevância é
equivalente a primeira, pois nesta etapa é atribuído o valor documental e analisado
seu fluxo na instituição para que a partir disto seja definida sua destinação final.
Farias (2006) considera que
23

a avaliação é uma função essencial para o ciclo de vida documental,


na medida em que define quais documentos serão preservados para
fins administrativos ou de pesquisa e em que momentos poderão ser
eliminados ou mantidos permanentemente, segundo o valor e o
potencial de uso que apresentam para a administração que os gerou
para a sociedade.

A descrição arquivística dentro da gestão documental permite identificar e


sintetizar elementos documentais para que a partir disto sejam elaborados os
instrumentos de pesquisa. Em consonância a isto Cunha e Cavalcanti (2008, p. 119),
a descrição arquivística é o “processo intelectual de sintetizar elementos formais e
conteúdo textual de unidades de arquivamento, adequando-os aos instrumentos de
pesquisa que se tem em vista produzir (inventários sumário ou analítico, guia, etc.)”.
Instrumentos de pesquisa são “o meio que permite a identificação, localização ou
consulta de documentos ou a informações neles contidas”. (ARQUIVO NACIONAL,
2005, p. 108)
Os principais instrumentos de pesquisa são o plano de classificação e a
tabela de temporalidade. No que se refere ao primeiro mencionado podemos
compreendê-lo por “esquema pelo qual se processa a informação de um arquivo”
(CAMARGO; BELLOTO, 1996, p. 60). Quanto ao segundo podemos compreendê-la
conforme o Dicionário de Terminologia Arquivística (2005, p. 159) como “instrumento
de destinação, aprovado por autoridade competente, que determina prazos e
condições de guarda tendo em vista a transferência, recolhimento, descarte ou
eliminação de documentos”.
A elaboração de instrumentos de pesquisa deve ser feita com base em
normas nacionais ou internacionais que serão adotadas dependo do contexto de
atuação e localização da entidade produtora. Dentre as principais normas podemos
destacar: (NOBRADE) – Normal Brasileira de Descrição Arquivística criada em 2006;
(ISAD (G)) – Norma Geral Internacional de Descrição; (ISAAR (CPF)) – Norma
Internacional de Registro de Autoridade Arquivística para Entidades coletivas,
pessoas e família.
A legislação arquivística brasileira é bastante clara no que se refere à
responsabilidade da administração pública com a informação coletiva. A gestão
documental está expressamente citada na Constituição Federal de 1988, art.216 § 2
“Cabe à administração pública, na forma de lei, a gestão da documentação
governamental e as providências para franquear sua consulta a quantos dela
24

necessitem”. A lei 8.159/91 em seu art.1 determina que “é dever do poder público a
gestão documental e a proteção especial a documentos de arquivos”.
A legislação apresentada determinar que a Administração Pública exerce
múnus público sobre os acervos das instituições de caráter público e este por sua
vez não pode ser transferido ou revogável. Segundo Neto Lôbo (2006, p. 34) “múnus
público é o encargo a que se não pode fugir, dadas as circunstâncias, no interesse
social.”.
Ao Poder Público não cabe somente o gerenciamento da informação, visto
que o objetivo da gestão documental é organizar a informação, acompanhando ela
desde sua produção a sua destinação final. Logo é necessário também tornar esta
informação acessível a sociedade. A Lei 8.158/91 também pondera que
“Todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu
interesse particular ou de interesse coletivo ou geral, contidas em
documentos de arquivos, que serão prestadas no prazo da lei, sob
pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado, bem como à
inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem
das pessoas”.

No ano de 2012 foi criada a Lei de Acesso a Informação (LAI) n° 12.527 que
regulamenta o direito de acesso a informação, inclusive com prazos e ressalvas.
Este ordenamento jurídico fez com que o acesso se tornasse comum e que o sigilo
se tornasse exceção (Art 1° - parágrafo I). Com isso os gestores públicos passaram
se preocupar mais com a organização documental, pois para dar acesso e ter rápida
recuperação da informação é necessário que a informação esteja devidamente
organizada.
A LAI foi lei implementada tardiamente, tendo a República Federativa do
Brasil sido antecedida até mesmo por países de menor economia e menos influência
nas decisões de caráter global. Sobre isto discorre Fonseca e Sá e Malin (2012, p. 8-
9)

Leis de acesso à informação já existem em 90 países já existem,


sendo que o primeiro a instituir a sua foi a Suécia e, no século XVIII
em 1766. Na América Latina, o primeiro país a adotar lei semelhante
foi a Colômbia, em 1988. [...] Inglaterra, Alemanha, França, Portugal
e Bélgica são países que, por causa da lei de acesso à informação
que possuem, estabeleceram que empresas estatais necessitam
publicar relatórios de sustentabilidade para informar a sociedade
sobre a evolução de dados como os impactos socioambientais e as
questões relacionadas a gênero e raça na empresa.
25

O acesso à informação não deve ser visto somente sob a ótica legal, mas
deve ser visto, sobretudo sob o ponto de vista social. É importante também enaltecer
os benefícios de uma informação bem erudita, conhecedora do seu passado e que
saiba fazer uma leitura do seu presente para que possa construir um futuro melhor.
Sobre isto Fonseca (2007, p.1) afirma que

a questão de acesso nos arquivos não pode ser estudada do ponto


de vista extremamente legal, embora não se possa negar a
importância de serem estabelecidos legalmente os direitos de acesso
aos documentos de arquivo e as exceções relativas ao direito de
privacidade e de segurança do estado.

Ainda sobre os benefícios que o direito a informação quando assegurado pelo


Estado pode trazer para a população. Destacamos o pensamento de Mendel (2009,
p. 162) que afirma que

Em sua melhor manifestação, o direito a informação é capaz de


proporcionar importantes benefícios sociais. Ele pode oferecer
valioso embasamento para a democracia, alimentando a capacidade
das pessoas de participar de forma efetiva e cobrar dos governos.
Exemplos do uso do direito a informação para expor a corrupção são
abundantes e poderosos, indo desde casos de base associados à
garantia dos meios de subsistência até grandes escândalos de
corrupção que derrubaram governos. O direito a informação também
já foi usado de forma menos espetacular, porém não menos
importante, para assegurar um eficiente fluxo de informações entre o
governo e o setor privado.

A (LAI) tem seu fundamento no princípio da publicidade do Direito


Administrativo e seus objetivos vão além de regulamentar o acesso à informação.
Um dos seus objetivos principais é orientar a Administração Pública Direta no
tocante a transparência pública, fomentando a estes a exercerem a transparência de
maneira ativa. Podemos considerar a lei de grande relevância para o país, visto que
o Brasil tem altos índices de corrupção e péssimos indicadores de transparência
pública.
26

De acordo com matéria3 publicada pela revista Exame em 2015, a CGU


(Controladoria Geral da União) em comemoração aos três anos da LAI, avaliou a
transparência publica no Brasil em 492 municípios do país e constatou que 305
cidades têm nota zero no quesito abordado, este número equivale a quase dois
terços do total avaliado. Com isto podemos perceber que a lei ainda não trouxe os
resultados esperados pelo governo brasileiro e que este cenário deve ser tratado
como um problema social que requer cuidados maiores.
Diante desta conjuntura podemos considerar o cenário não é animador e que
após dois anos foram dados poucos avanços em relação ao acesso à informação e
transparência publica. Em consonância a este pensamento, a revista BBC4 publicou
o resultado da pesquisa feita pela organização não governamental (ONG)
Transparência Internacional que avalia a corrupção no mundo. De acordo com a
ONG o país é o 79° colocado no ranking em 2016 com 40 pontos, tendo caído três
posições em relação ao ano anterior.

3
Matéria de autoria de Mariana Desidério publicada em 16 de maio de 2015. Disponível em:
http://exame.abril.com.br/brasil/apenas-2-cidades-tem-nota-dez-em-transparencia-veja-
ranking/. Acesso em 10 de março de 2017.
4
Matéria de autoria de Clarissa Neher, publicada em 25 de janeiro de 2017, de Berlim para
a BBC Brasil. Disponível em: http://www.bbc.com/portuguese/brasil-38721706. Acesso em
10 de março de 2017.
27

5 POLÍTICAS PÚBLICAS DE INFORMAÇÃO NO BRASIL

No capítulo anterior discutimos um pouco sobre o papel do Estado quanto à


gestão documental com base na legislação arquivística. Também foi debatido as
limitações do Estado quanto ao gerenciamento da informação arquivística, os
avanços dados pelo poder público e os resultado dessas ações.
Neste capítulo iremos abordar as políticas públicas de informação, seus
agentes, como são elaboradas e quais resultados concretos podem trazer para a
sociedade. Ademais, também abordaremos as políticas públicas de informação e
sua contribuição para a sociedade e instituições arquivísticas.

5.1 POLÍTICAS PÚBLICAS: O QUE SÃO? QUEM SÃO SEUS AGENTES? E


COMO SÃO ELABORADAS?

Para podermos discutir políticas públicas de informação é necessário


primeiramente compreendermos onde surgiram os estudos sobre este tema, o que
são políticas públicas, quem as formula e como são elaboradas.
Entender a origem de uma área é importante para entender melhor seus
desdobramentos, sua trajetória e suas perspectivas. A Política pública enquanto
área de conhecimento surgiu nos EUA. Na Europa, esta área surgiu de teorias sobre
o Estado e sobre a atuação do governo. Já nos EUA foi dada uma ênfase maior nos
estudos sobre a ação dos governos. (SOUZA, 2006)
Uma vez que conhecemos a origem do estudo as políticas públicas,
passamos a buscar o entendimento da sua definição. Desde já podemos saber que
não existe uma unanimidade sobre isto e que não existe a melhor e mais fiel
definição. O que existem são pontos de vistas diferentes sobre o mesmo objeto de
estudo.
Segundo artigo5 escrito por Dos Santos (2009, p. 2), pesquisador do
observatório dos direitos do cidadão e membro da equipe de participação cidadã,
podemos compreender política pública como:

5
Artigo escrito por Agnaldo dos Santos para o Instituto Pólis que é uma ONG que atua na
construção de cidades justas e sustentáveis. O texto está disponível em:
<http://polis.org.br/autor/agnaldo-dos-santos/>. Acesso em: 10 de março de 2017
28

um conceito muito utilizado no discurso dos gestores e das


lideranças da sociedade civil, mas dificilmente paramos para pensar
em seu significado. Sua caracterização foi necessária quando, em
dado momento da história moderna, as pessoas perceberam que a
burocracia estatal não deveria apenas garantir a ordem e a
segurança social, mas também prover serviços destinados a diminuir
as desigualdades sociais e promover o crescimento econômico.
Portanto, política pública compreende o conjunto de intervenções e
ações do Estado orientadas para a geração de impactos nas
relações sociais, sendo as mais conhecidas as políticas de
educação, saúde, assistência social, transporte e habitação, entre
outros.

Podemos perceber com o conceito supradito que as políticas públicas podem


trazer para a população benefícios como diminuir desigualdades sociais e auxiliar no
processo de crescimento econômico.
Em uma linha de pensamento um pouco diferente, Boneti (2007, p. 74)
acredita as políticas públicas são resultado de relações de poder entre grupos
políticos, sociais e econômicos. Deste modo, o autor delimita políticas públicas como

o resultado da dinâmica do jogo de forças que se estabelece no


âmbito das relações de poder, relações essas constituídas pelos
grupos econômicos e políticos, classes sociais e demais
organizações da sociedade civil. Tais relações determinam um
conjunto de ações atribuídas à instituição estatal, que provocam o
direcionamento (e/ou o redirecionamento) dos rumos de ações de
intervenção administrativa do Estado na realidade social e/ou de
investimentos.

Uma outra definição de políticas públicas é apresentada por Guareschi (2004,


p. 180), o autor a define como: “conjunto de ações coletivas voltadas para a garantia
dos direitos sociais, configurando um compromisso público que visa dar conta de
determinada demanda, em diversas áreas”.
Entretanto, a mais simples, antiga e direta definição de política pública soou
como a mais provocativa. Dye (1984) resumiu política pública àquilo que o governo
decide fazer ou não. Trazendo isto para o contexto das políticas públicas de
informação podemos levantar o seguinte questionamento: em um país como o Brasil
com altos índices em educação e com péssimos indicadores de transparência
pública, teria o governo brasileiro interesse em gerenciar a informação arquivística
que é elemento de prova de ações administrativas e pode servir como memória de
ações administrativas passadas? Não seria mais cômodo aos políticos brasileiros
29

negligenciar isto? Talvez isto responda ao menos em partes a crítica situação que os
arquivos públicos brasileiros se encontram.
Os agentes das políticas públicas são basicamente a máquina pública, a
população com seus grupos e movimentos e o mercado financeiro. Dos Santos
(2009) identifica como “atores” das políticas públicas a burocracia estatal,
fornecedores de insumos e serviços do poder público e a sociedade civil. Diante
disto, podemos constatar que as políticas públicas funcionem de fato é necessário
que haja uma harmonia entre essas três esferas.
Para Carvalho et al. (2010, p. 10) vários fatores podem atrapalhar a
implementação de uma política pública. Dentre estes os autores delimitam que:

Vários fatores podem interferir na implementação alterando os rumos


previstos. São circunstancias externas ao agente implementador
relativas à adequação, suficiência e disponibilidade de tempo e
recursos; à característica da política em termos de causa e efeito,
aos vínculos e dependências externas; à compreensão e
especificação dos objetivos e tarefas; à comunicação, coordenação e
obediência. O sucesso da implementação estará também
relacionado à adequação de sua direção top-down ou botton-up ao
tipo de política e ao ambiente onde é implementada. Há ainda os
fatores relativos às características do processo de negociação, à
natureza do foco da política; às ações e relações entre os
implementadores e sua capacidade de adaptação e de aceitar e
acomodar imprevistos, às características da equipe, à condições
políticas, econômicas e sociais.

A construção de uma política pública deve ser construída baseada na


constituição do país. Ohlweiler (2007, p. 284) indica que:

as políticas públicas, veiculadas por programas de governo, devem


ser construídas a partir de um conjunto de indicações constitucionais.
[...] a elaboração de políticas públicas deve ser compreendida como
a continuidade do jogo constitucional, conforme um conjunto de
indicações contidas em preceitos, bens, princípios e valores.

Diante do cenário exposto podemos concluir que o governo é o responsável


pela elaboração de políticas públicas para atender alguma demanda da população,
no caso brasileiro tem-se dois caminhos: o poder legislativo propõe e discute sua
implementação, se julgado favorável a população é encaminhado para sanção
presidencial. O outro caminho seria o executivo, através do presidente propor e o
legislativo apreciar a proposta.
30

5.2 POLÍTICAS PÚBLICAS: TRADUÇÃO DA LEGISLAÇÃO ARQUIVÍSTICA EM


AÇÕES CONCRETAS

Diante de tantos aparatos legais idealiza-se que os arquivos públicos estão


cumprindo sua função administrativa e social de fazer da informação arquivística um
instrumento da gestão administrativa para tomada decisão estratégica e para a
população no sentindo de intensificar o processo desburocratização da esfera
pública. No entanto, atos normativos não se traduzem simultaneamente em políticas
públicas. Sobre isto Jardim (2010, p3) considera que “a existência de textos legais
que regulem uma atividade governamental não basta para identificarmos uma
política pública”.
As políticas públicas estão sendo reduzidas ao aspecto legal, não basta lei
bem escrita para que ela seja cumprida e obedecida. O cumprimento não se dá pelo
tamanho da punição, mas pela certeza da aplicação da lei. (SOUSA, 2006)
A maior dificuldade em identificar uma política pública está em diferenciar
legislação de ações concretas governamentais. Podemos entender políticas públicas
como
conjuntos de programas, ações e atividades desenvolvidas pelo
Estado diretamente ou indiretamente, com a participação de entes
públicos ou privados, que visam assegurar determinado direito de
cidadania, de forma difusa ou para determinado seguimento social,
cultural, étnico ou econômico. (BELINOVSKI, 2013, p. 12)

Diante deste contexto, é possível concluir que na construção de uma política


pública os atos normativos servem de base e norteiam a formulação de práticas
concretas que visam preservar a garantia de direitos adquiridos pela população. As
políticas públicas de informação buscam preservar o direito social a informação
presente na nossa constituição e reforçado através da Lei 12.527/2011.
Jardim (2006, p.10) reputa políticas públicas arquivísticas como:

O conjunto de premissas, decisões e ações, produzidas pelo Estado


e inseridas nas agendas governamentais em nome do interesse
social, que contemplam os diversos aspectos (administrativo, legal,
científico, cultural, tecnológico etc.) relativos à produção, uso e
preservação da informação arquivística de natureza pública e
privada.
31

Precisamos compreender que o entendimento de que políticas públicas de


informação se consolidam a partir de uma gestão da informação supervisionada.
Nesse sentido, Andrychuck (apud Jardim; Silva; Nharreluda, 2009, p. 9) pondera:

[...] política pública constitui então um conjunto de princípios, leis,


diretrizes, regras, regulamentos e procedimentos inter-relacionados
que orientam a supervisão e gestão do ciclo vital da informação: a
produção, coleção, organização, distribuição/disseminação,
recuperação e eliminação da informação.

Em síntese podemos concluir que políticas públicas de informação


representam um conjunto de ações governamentais que instruem as instituições
públicas quanto ao gerenciamento da informação em todo seu fluxo institucional.
Estas ações são provocadas pelo anseio social por informação e necessidade de
garantia da preservação do direito de acesso á informação.
As políticas públicas de informação são muito importantes para a população e
podem contribuir socialmente no processo de democratização da informação,
aumento da transparência pública, combate a corrupção, preservação da memória,
desburocratização dos serviços públicos, entre outros.
Diante de uma sociedade inserida no contexto da sociedade da informação é
cada vez mais necessária à inclusão digital, tendo em vista que a maioria das
informações públicas é divulgada pelos governos através da internet nos portais de
transparência. Sobre isto Ferreira et al. (2012, p. 4) reiteram que:

Um aspecto importante da política pública da informação é assegurar


a inclusão digital de todas as pessoas. Isso significa não só a
disponibilização das informações, mas também a disponibilização
dos meios tecnológicos e dos meios educacionais, contemplando
tanto a aquisição de habilidades para o uso da tecnologia, como
formação de uma cultura informacional e a aquisição de uma
competência informacional.

O objetivo maior de uma política pública de informação deve ser oferecer o


acesso da sociedade a população de natureza pública. Isto pode vir a contribuir e
estimular a população a exercer o protagonismo no exercício da cidadania. Sobre
isto Borges et al. (2008, p. 2), “o acesso e uso de informações dos órgãos/entidades
do serviço público contribuem para o desenvolvimento social e o exercício da
cidadania”
32

Reforçando este pensamento, Gómez (1999) considera que a socialização da


informação não se resume só ao acesso amplo às informações relevantes
socialmente. Todavia reside mais na implementação de procedimentos para
aumentar a participação dos grupos sociais no modelo de ações e infraestrutura da
informação.
Outra contribuição importante das políticas públicas para a sociedade é a
otimização das informações públicas, tendo em vista que as mesmas embasam a
gestão documental nas instituições. Barbosa et al. (2015) consideram que políticas
públicas de arquivos eficazes não se remetem apenas ao armazenamento da
informação, mas também a sua gestão, que se caracteriza como uma ferramenta de
otimização da informação e minimização dos impactos do descarte dos suportes de
informação no meio ambiente.
Conforme Carpes e Castanho (2014, p. 73) “as políticas públicas arquivísticas
servem como base para a gestão documental [...] Elas servem como subsídio e
orientação para o desenvolvimento de atividades arquivísticas”.
Políticas públicas arquivísticas surgem de um somatório de forças do Estado,
profissionais e sociedade que expressam uma vontade coletiva. Secchi (2012 apud
BARBOSA et al. 2015, p. 90) pondera que:

políticas públicas são decorrentes de uma vontade coletiva de


solucionar questões imprescindíveis da sociedade, podendo resultar
em uma lei, uma norma, uma decisão judicial entre outros.
Entretanto, se não há interesse em agir diante de um problema
público, a política pública se torna-se sem efeito, não se constituindo.

O pensamento do autor supracitado é bastante provocativo e nos leva as


seguintes reflexões: o governo brasileiro está realmente interessado em preservar o
direito social a informação? os profissionais de arquivo estão tratando a
implementação de políticas públicas de informação como prioridade? a sociedade
tem se posicionado e cobrado as autoridades a garantia do seu direito à informação?
A fragilização de uma das forças mencionadas acima dificulta a elaboração de
uma política pública. Isto não quer dizer que sem uma destas variáveis não seja
possível a implementação de políticas públicas. É possível que nem todas decisões
governamentais sejam reflexo de demandas sociais. Em um primeiro momento isso
pode soar como algo extremamente negativo, mas um estado não pode pautar suas
ações somente em ações populistas. No entanto, o Estado brasileiro não está dando
33

a atenção devida ao problema social do acesso a informação. “As demandas


socioculturais são frequentemente ignoradas, não havendo vontade política de
resolver os problemas informacionais da população”. (FERREIRA et al. 2012, p. 4)
No que se refere aos arquivistas podemos considerar que o assunto não está
na pauta principal dos maiores representantes da classe no país (Arquivo Nacional,
CONARQ). A lei de arquivos n° 8.159 de 1991 é um pouco dúbia e não deixou claro
em primeiro momento a qual dos dois órgãos competia a implementação da política
nacional de arquivos. No ano posterior o decreto n° 4.073 acabou com esta dúvida e
determinou que esta tarefa é de competência do CONARQ.
Passados vinte e cinco anos do decreto que regulamentou a política nacional
de arquivos ainda não temos uma política nacional de arquivos. Jardim (2008)
realizou uma análise das atas de reunião do CONARQ entre 1994 e 2006 e chegou
a constatação de que a política nacional de arquivos foi discutida apenas três vezes
em um período em uma década. Observemos o quadro elaborado pelo autor com os
assuntos discutidos ao longo deste período.

Figura 2: Temas abordados pelo CONARQ

Fonte: Jardim 2008, p. 5

Diante do acima exposto podemos considerar que a política nacional de


arquivos foi tratada como um assunto de pouco relevância para o CONARQ. O
mesmo preferiu se deter demasiadamente a normas técnicas, legislação, etc. Isto
pode ser uma pista do abandono as políticas públicas arquivísticas em nosso país.
34

A população brasileira sofre com inúmeros problemas sociais como: pobreza,


fome, violência, más condições de educação e saúde pública. Entretanto nos últimos
anos tem sido visto como um problema social a preservação e direito de acesso à
informação. A lei de acesso a informação surgiu para tentar suprir a esta demanda e
também incentivar a busca por informação de natureza pública.
De acordo com o Relatório6 de quatro anos da Lei de Acesso à Informação
publicado em 2015 foram feitos 334. 463 pedidos dos quais 99,8% foram
respondidos, representando um índice de omissão de resposta de 0,2%. O prazo de
resposta no âmbito federal foi de 14 dias, abaixo dos vinte dias estipulas pela lei de
acesso à informação. Ao primeiro olhar o número apresentado pelo governo pode
ser considerado bom, mas poderia ter sido maior se houvesse mais participação da
sociedade.
Diante deste contexto podemos considerar que a população dentre as três
forças mencionadas para elaboração de uma política pública de informação é a que
mais demonstra interesse a aspectos relacionados a informação pública. Os dados
apresentados refletem o desejo social por informação e a necessidade latente de
maior transparência nos atos administrativos.

6
Relatório disponível em: <http://www.acessoainformacao.gov.br/central-
deconteudo/publicacoes/relatorio_4anos_web.pdf>. Acesso em: 21 de março de 2017.
35

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo compreender qual a função do poder público
no tocante a Gestão Documental e como são desenvolvidas as políticas públicas de
informação. Esta investigação científica buscou evidenciar através de uma revisão
de literatura o múnus público, ou seja, a obrigação que a Administração Pública tem
em zelar, proteger e propiciar à sociedade a informação através da gestão
documental e políticas públicas.
Tratou-se no capítulo 1 conceitos e princípios norteadores da Arquivística
através de estudos sobre a temática. Sem este ponto seria difícil compreender os
capítulos posteriores e atender os objetivos propostos por este estudo, pois a
Arquivologia é uma ciência composta de muitas particularidades e assim como toda
ciência é dinâmica e está em constante evolução.
Na primeira parte do primeiro capítulo abordamos conceitos básicos da
Arquivologia como: arquivo, informação, documento, informação de caráter público e
uma breve abordagem sobre ciclo vital de documentos. Um leitor da área
provavelmente já terá conhecimento destes conceitos, mas em uma pesquisa
acadêmica precisamos pensar que as ciências são transdisciplinares e que é cada
vez mais comum pesquisadores de outras áreas procurarem embasamento científico
na Arquivística.
Na segunda parte do primeiro capítulo apresentamos os princípios
arquivísticos que são a base da arquivologia. Tudo que é escrito, debatido e
pensado no cenário arquivístico deve levar em consideração estes princípios, pois
através destes princípios podemos compreender os atributos comuns na informação
arquivística.
Em continuidade a esta linha de raciocínio discutimos no segundo capítulo o
dever do Estado no tocante a gestão documental, suas implicações, avanços e
retrocessos. Começamos este pronto com uma breve análise da conjuntura da
sociedade brasileira no contexto da sociedade da informação e com isto pudemos
perceber que o Brasil acompanhou o anseio global por informação causado pelo
desenvolvimento tecnológico causador da globalização da informação, no entanto,
as ações governamentais foram insuficientes diante de uma demanda de proporções
relativamente grandes.
36

A resposta dada pelo governo brasileiro ao anseio social por informação da


população foi a elaboração tardia de atos normativos e regulamentadores referentes
a produção, uso, tramitação, acesso e eliminação da informação, trazendo para si a
responsabilidade natural de gerenciar a informação pública. No entanto, a
Administração Pública não foi capaz de exercer seu papel auto atribuído e as
demandas sociais não foram atendidas com eficácia. Muitas são as possíveis
justificativas para isto: “o país é muito grande e difícil de administrar”; “A
administração pública brasileira ainda é muito burocrática e repleta de vícios
históricos”, entre outros. Essas justificativas não são totalmente plausíveis e não
justificam os resultados inócuos conseguidos somente com a legislação, conforme
foi exposto no decorrer do capítulo.
O capítulo 3 consistiu em responder ao cenário apresentado no capítulo
anterior. Nele apresentamos que um arcabouço legislativo não é garantia de
obtenção de resultados e que para conseguir os resultados esperados é necessário
que estas leis se traduzam em políticas públicas bem estruturadas. Diante de uma
articulação de pesquisas voltadas ao tema podemos compreender o que são
políticas públicas, seus agentes, como são elaboradas e quais resultados podem
trazer se bem executadas.
Na segunda parte do último capítulo abordamos diretamente as políticas
públicas de informação sob o olhar de autores que dedicam boa parte de suas
pesquisas a este objeto de estudo. O cerne deste tópico foi responder a seguinte
questão: a quem interessa as políticas públicas de informação? Os políticos? Os
profissionais da informação? A população? Como se posiciona cada um desses
atores frente as políticas de informação?
Os políticos que são seus formuladores não a tratam com a prioridade devida,
pois em uma política pública de informação ou resultados vem, mas não são tão
tangíveis, não são vistos por toda população, diferentemente da construção de um
viaduto que todos os dias parte da população ver o andamento das obras. Também
podemos considerar que a elaborações de políticas públicas de informação não se
transformam naturalmente em votos, tendo em vista que a população considera
atualmente a transparência como uma obrigação pública. No entanto, podemos
perceber que cada vez mais a união, estados e municípios têm utilizado indicadores
para mostrarem a população que exercem a transparência de maneira ativa.
37

O desinteresse não é exclusivo das autoridades, pois os profissionais da área


ainda são muito passivos e o assunto ainda não recebeu o olhar devido pelos
pesquisadores. O CONARQ após vinte e seis anos ainda não definiu a política
nacional de arquivos a qual foi incumbido a esta missão através da lei de arquivos.
Cabe aos arquivistas e técnicos em arquivo fomentarem o debate e cobrarem aos
representantes da categoria avanços concretos em direção a uma política nacional
de arquivos que leve em consideração o contexto dos arquivos brasileiros e de seus
profissionais. Através da revisão de literatura ficou nítido que há lacunas importantes
que precisam ser preenchidas, este trabalho buscou contribuir neste processo de
enriquecimento científico desta área.
A população tem a necessidade de informação, mas de certa forma a busca
pelo acesso a informação pública ainda é pequeno, mas há de se considerar que
tem aumentado gradativamente, ainda que de forma lenta e retardatária. Porém, o
povo brasileiro é o menor culpado da inexistência de políticas públicas de
informação, pois tornam evidente o anseio por informação e desejo de uma gestão
pública transparente e que represente de fato os interesses sociais. A contribuição
que a população brasileira pode dar é cobrar os seus representantes políticas de
inclusão digital, transparência pública, acesso à informação, entre outros.
A ausência de políticas públicas é um problema estrutural e a resolução deste
problema perpassa por um projeto nacional de desenvolvimento do país. O Brasil
historicamente tende a acompanhar acordos, tratados e legislações internacionais
ainda que de maneira atrasada. Talvez a sensibilização para implantação da política
nacional de arquivos e outras políticas de informação emerjam da influência externa.
A Lei de Acesso é um exemplo disto. Neste caso o Brasil foi um dos últimos países
de economia considerável a regulamentar o direito social à informação.
Ao final desta pesquisa consideramos que o estudo sobre políticas públicas
de informação exige um olhar minucioso sobre o tema devido a sua complexidade.
Para entender esta questão é necessário trabalhar o aspecto transdisciplinar e
buscar diálogos com outras ciências como: sociologia, direito, filosofia, economia,
entre outros. Com isso consideramos que conseguimos responder os objetivos
propostos por esta pesquisa, mesmo em meio às dificuldades encontradas no
decorre da pesquisa, dentre as quais destacamos a escassa literatura específica
com abordagem a este assunto. Buscaremos em pesquisas futuras dar continuidade
a esta investigação científica, pois consideramos que o debate sobre esta temática
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não pode cessar e que através destas investigações é possível trazer uma rica
contribuição científica e social.
39

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