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Idealismo de Platão.............................................................................................................. 01
Positivismo Lógico-Verificacionismo................................................................................. 13
Falseacionismo .................................................................................................................... 24
Relativismo Pragmático....................................................................................................... 36
CONCLUSÃO..................................................................................................................... 56
ABREVIATURAS ............................................................................................................. 60
Idealismo de Platâo 1
IDEALISMO DE PLATÃO
Mas o que tem que haver mundo sensível e mundo inteligível com o sujeito e com
o objeto? Muito simples, o mundo sensível é o mundo dos objetos. São objetos aqui
tudo aquilo que pertence a natureza física e humana. Platão irá dizer-nos que o mundo
sensível é o mundo físico, do movimento, da mudança, do dinamismo, da pluralidade,
das imagens, enfim, de tudo aquilo que é particular. Portanto, é o mundo dos sentidos
(audição, visão, paladar, tato e odor). A ciência não pertence a esse mundo, não
pertence ao mundo sensível. Ora, se a ciência não pertence ao mundo sensível o mesmo
não poder-se-ia dizer dos objetos, dos habitantes do mundo sensível. Estes objetos são
objetos da ciência mas que pertencem ao mundo sensível. Os objetos de estudo da
ciência são os habitantes do mundo sensível. Agora, quais são os objetos do mundo
sensível? São as imagens, as sombras, os reflexos; objetos materiais, sensíveis e visíveis
que são animais, plantas e coisas artificiais fabricadas. Esse também é o mundo da
opinião.
Para Platão, sempre que, "ao aproximar-se esse contrário, ou fogem ou cessam de
existir". Ao "aproximar-se o par, o ímpar e o três fogem depressa. E o mesmo
Idealismo de Platâo 4
poderíamos dizer a propósito do fogo, do calor e das demais coisas." (FÉD. 106c). Mas
o que significa "FUGIR DEPRESSA"? Ou, o que significa "CESSAR DE EXISTIR"?
Essa é a consequência quando queremos aproximar a idéia do três da idéia de par, ou, a
idéia do seis da idéia de ímpar. Se às idéias não compartilham uma e mesma natureza,
elas nao participam uma das outras.
Assim como a idéia do três não participa da idéia de par, assim também, os
objetos da ciência não participam da ciência. O mundo sensível não participa do mundo
inteligível. Mas como compreender isso? Para Platão, os objetos da ciência fogem ou
cessam de existir quando colocados lado à lado a ciência. Os objetos da ciência são
contrários a própria ciência. A contingência e particularidade nunca participará da
Universalidade e necessidade.
Há diversos graus de amor: primeiro grau: é o amor físico, que é desejo de possuir
o corpo belo como objeto e engendrar, no belo, outro corpo; segundo grau: é dos
amantes fecundos, não no corpo, mas em almas. Portanto, portadores de uma semente
Idealismo de Platâo 5
Por outro lado, o imortal participa da mortalidade pelo Amor. "É em virtude da
imortalidade que a todo ser esse zelo e esse amor acompanham." (BANQ. 208b)
Platão realiza mais uma tentativa de relacionar o mundo sensível com o mundo
inteligível em seu diálogo. Fedro ou sobre a Beleza. Desta vez Platão procura juntar o
mundo sensível e o mundo inteligível por meio do conceito de IMITAÇÃO. Como no
conceito de participação, Platão não apresenta uma justificação consistente para a
efetiva (a) substituição do conceito de participação pelo conceito de imitação; (b) para
que o conceito de imitação se firme como mediador e elemento de ligação entre o
mundo sensível e o mundo inteligivel.
ARTÍFICE ou INTELECTO que copiou ou imitou o mundo das formas para fazer
nascer o mundo natural. Mas por que a cópia ou a imitação teria sido tão diferente, ou
melhor, imperfeita em relação ao modelo original? Essa mesma questão podemos retirar
do Timeu (ou da Natureza).
Para nosso problema: todas as coisas do mundo sensível possuem uma natureza
particular e contingente porque são cópias ou imitações imperfeitas do mundo
inteligível que é por natureza Universal e necessário.
Uma outra consideração que podemos fazer do FEDRO é que o homem pode até
contemplar, PARTICIPAR momentâneamente do lugar hiperuranio, ou simplesmente,
mundo inteligível, mas quando procura COMUNICAR a outros a sua proeza, sua
aventura, não encontra palavras que possam cumprir esse objetivo. A sua IMITAÇÃO
do mundo inteligível é imperfeita. "Este lugar supraceleste (hiperuranio) jamais tem
sido contado dignamente pelos poetas daque de baixo. É, pois, assim (se tem que ter
com efeito, a ousadia de dizer a verdade e sobretudo quanto se fala a verdade): a
realidade que verdadeiramente é sem cor, serm forma, impalpável, que somente pode
ser contemplada pela inteligência, piloto da alma, que ocupa este lugar. Assim, pois,
como o pensamento da divindade se alimenta de inteligência e CIÊNCIA SEM
MESCLA, e o mesmo de toda a alma que se preocupa de receber o que lhe corresponda,
ao ver o transcurso do tempo, a realidade, a ama e contemplando a verdade se alimenta
e se sente feliz até que o movimento circular em sua revolução retoma ao mesmo lugar.
Durante esta circunevolução contempla a mesma justiça, contempla a temperança,
CONTEMPLA A CIÊNCIA, não aquela em que está vinculado o devir, nem aquela que
é imutável porque fala de coisas distintas, objetos distintos que chamamos entes, senão
daquela que é realmente ciência do objeto que é realmente ser. E depois de termos
contemplado do mesmo modo as demais entidades reais e de termos saciado delas,
submergimos outra vez no interior do céu e voltamos para casa". (FEDR. 247b)
Uma última consideração que podemos fazer ainda em relação a essa belíssima
Idealismo de Platâo 7
Agora, ninguém tem a posse dessa verdadeira ciência. Podemos ter contemplado
ou até vir a contemplá-la em um futuro, mas dificilmente poderemos COMUNICAR
toda sua beleza. Não há palavras, não há gestos, não há gestos, não há ação que possa
traduzir o verdadeiro sentido de ciência ou a ciência verdadeira. Muito antes pelo
contrário, a nossa noção de ciência é meramente uma CÓPIA ou IMITAÇÃO dessa
verdadeira ciência.
no ser o que por isso mesmo ele é? Sim. Mas por isto mesmo o Uno se tem mostrado
como múltiplo. Assim é." (PARM. 143d).
A segunda tese gira em torno do seguinte: O Uno não É porque não participa do
SER. Ora, o Universal e necessário não existe porque não participa do particular e
contingente. Portanto, o Universal e necessário é INCOGNOSCÍVEL para nós. Apenas,
pensamos com eles, mas não o podemos conhecê-lo em sua natureza específica. As
formas somente mantém RELAÇÃO CONSIGO MESMAS. Essas relações são lógicas
e matemáticas. Diz Platão, enfim: "Em resumo, se dissermos que o UNO NÃO É, nada
é, não estaríamos falando como toda certeza? Completamente. Concluamos, pois, e
digamos que, segundo parece, do que o UNO seja ou não seja DEPENDE que o mesmo
e os outros sejam, inteiramente ou não, tanto em sua relação consigo mesmo, como em
sua relação mútua, e que, assim mesmo, pareçam ou não pareçam ser. É pura verdade."
(PARM. 166b-166c)
A tese de Parmênides é a de que só existe o Ser e que o não-ser não existe. Platão,
na necessidade de esclarecer a natureza da figura do sofista como não-ser que seria,
recorre a seguinte tese - em contraposição a Parmênides: devemos mostrar "pela força
de nossos argumentos que, em certo sentido, o NÃO-SER É; e que, por sua vez, o SER,
de certa forma, NÃO-É. " (Sof. 241 e). Platão, opta por explicar a PARTICIPAÇÃO do
SER no NÃO-SER e pela participação do NÃO-SER no SER.
Platão procura aplicar essa solução brilhante na ciência. A ciência enquanto tal é
Una, mas pode dividir-se. A ciência possui um Ser, isto é, uma forma do mundo
inteligível. A ciência, assim é o mesmo, enquanto que as suas partes; divisões, e sub-
divisões são o outro, o não-ser, A NÃO-CIÊNCIA. A não-ciência são todos os nomes
que damos à ciência, são seus múltiplos. Pois tudo o que chamamos de não-ciência é
Idealismo de Platâo 10
outro que a ciência, exclusivamente. "Também a ciência é una, não é? Mas cada parte
que dela se separa, para aplicar-se a um determinado objeto, tem um nome que lhe é
próprio: é por isso que se fala de uma pluralidade de artes e ciências." (Sof. 257 d).
Nasceu em Estagira. Platão foi seu mestre e estimava-o muito chamando-o de "o
leitor" e "a mente da escola". No entanto, havia diferenças sensíveis entre o
pensamento de Platão e o de Aristóteles. Vamos apenas citar três dessas diferenças: a) o
pensamento platônico ainda possui raízes nas legiões órficas. Assim, o elemento
místico-religioso-escatológico está presente. No pensamento Aristotélico há um
abandono total, completo desses elementos. A razão disso certamente é o discurso
lógico, isto é, o discurso amparado em regras lógicas. Isso evidentemente deu uma
consistência bem maior ao logos (razão); b) em segundo lugar, o pensamento platônico
preocupa-se especialmente com as ciências formais, em particular pela matemática
(Geometria). O pensamento Aristotélico envolve-se muito mais pelas ciências
empíricas, em particular pela biologia; c) em terceiro lugar, o pensamento platônico
caracterizou-se fortemente pela ironia e maiêutica socrática, dando dessa forma uma
abertura ao discurso e uma busca sem interrupção da resposta ao seu problema central; a
conciliação entre o mundo sensível e o mundo inteligível. O pensamento Aristotélico,
ao contrário, procura uma sistematização aos problemas. Cada problema possui uma
determinada natureza, e, exige a aplicação de um determinado método racional. Assim,
temos em Aristóteles, os problemas de natureza metafísica, psicológica, física, ética,
política, estética e lógica. O "CORPUS ARISTOTELICUM" está articulado da seguinte
maneira: a) obras de lógica: organon - que se compõe: (a.1) Categorias ao
predicamentos; (a.2) Interpretação ou sobre os juízos; (a.3) Primeiros analíticos ou
sobre o silogismo; (a.4) Segundos analíticos ou Analíticos posteriores ou sobre a
demonstração silogística; (a.5) Tópicos ou sobre a demonstração silogística que conduz
a uma conclusão provável; (a.6) Refutações sofísticas, incluídos nos tópicos, sobre os
silogismos que conduzem ao erro; b.Filosofia Primeira: Metafísica. c. Física; ( c.1 )
Físicos; ( c.2 ) Do céu ou sobre a astronomia; ( c.3 ) Da geração ou da corrupção; ( c.4 )
Meterologia; d. BIOLOGIA; I) TRATADOS MAIORES: De anima ou sobre o vivente
em geral; História dos Animais entre outros. II) Tratados menores: Da memória e da
reminiscência; Do sono e da vigília; Da respiração; Da vida e da morte; entre outros. e.
Ética : Ética de Nicômaco, entre outros.f. Política: Política; Constituição de Atenas; g.
Arte: Retórica; Poética; Poesias.
primeira define o seu objeto de estudo: o ser enquanto ser, isto é, o estudo dos
princípios da razão e do ser. Pertencem à Filosofia primeira à física e à todas as
ciências particulares, que estudam propriedades concretas e específicas. Podemos
subdividir este período em quatro momentos: (a) Metafísica VI 1 - XI 7; VI 2-4 - XI 8;
XI 9-12 (resumo da física); (b) metafísica VII, VIII, XIII 1-9 (sobre a substância); (c)
IX 1-9 ( sobre o ato e a potência) ; (d) Metafísica livro XII (sobre a substância como
ato puro - Ser transcendente).
O problema em Aristóteles
Não-viventes
Princípios (Matéria-Forma)
Elementos (Água-Ar-Fogo-Terra)
Realismo natural de Aristóteles 13
Viventes
O 2º NÍVEL é o Mundo físico celeste. Composto das esferas, Astros que são
móveis, eternos, não são geráveis, incorruptíveis, compostos de matéria (éter - o 5º
elemento), dotadas de formas viventes, inteligentes e perfeitíssimas. São 54 esferas que
rodeiam a terra em círculo e não possuem contrários. A última esfera é movimentada
pelo motor primeiro imóvel; O 3º NÍVEL é o da SUBSTÂNCIA DIVINA
SUPRACELESTE que está fora do Universo. É simples, eterna, imóvel, incorruptível,
forma pura sem matéria, ato puro sem potência. É Deus. Não criou o mundo, pois o
mundo é eterno. Não organizou o mundo. A Única ação de Deus no mundo é ser a causa
do movimento por atração e por amor.
Uma vez que nossos sentidos foram afetados e que nós percebemos, essa sensação
perpetua-se na MEMÓRIA. A memória, segunda etapa do processo indutivo, é a
persistência e a conservação das impressões sensitivas. É o armazenamento daquilo que
mais significativamente nos afetou.
De acordo com Aristóteles, podemos falar de dois tipos de indução: Indução por
simples enumeração e a Indução intuitiva que é uma questão de visão interior. A
indução por simples enumeração parte da premisssa de que - o que se observa em vários
indivíduos - pode-se generalizar para a conclusão de que - é o que se presume
verdadeiro para a espécie que pertencem os indivíduos. Continuando o processo de
generalização por indução simples: Da premissa que diz: o que se observa para várias
espécies - generalizamos para a conclusão de que: o que se presume verdadeiro para o
genêro ao qual pertence as espécies. Assim temos: um esquema de indução por simples
enumeração.
GENERALIZAÇÃO
GENERALIZAÇÃO
a1 tem a propriedade P
a2 tem a propriedade P
a3 tem a propriedade P
_________________________________
Aristóteles temos:
Todos os M são P
Todos os S são M
t M Premissa menor
Quanto a segunda condição, há leis gerais da ciência, segundo Aristóteles, que são
indemonstráveis para podermos evitar o regresso infinito nas explicações. Quanto a
quarta condição, Aristóteles constata que há silogismos em que há uma conexão causal
entre as premissas e a conclusão, mas há outros silogismos em que essa conexão não há,
isto é, são correlações causais acidentais, enquanto que, no primeiro caso, as correlações
causais são essenciais. Mas qual seria o critério para diferenciar relações causais
essenciais de acidentais? Disse Aristóteles que os critérios são os seguintes: (a) o
predicado ou atributo é verdadeiro para todos os casos em que aparece o sujeito; (b) o
predicado ou atributo é verdadeiro específicamente para o sujeito, e não por ele ser
parte de um todo maior; (c) o predicado ou atributo é essencial ao sujeito. Com esse
último ítem Aristóteles retorna ao mesmo problema: " Na verdade, ele sugeriu que
"animal" é um predicado essencial do "homem", enquanto "musical" não o é, e que
cortar o pescoço de um animal é essencialmente relacionado com a sua morte, enquanto
que dar um passeio não é essencialmente realcionado com aocorrência de raios. Mas dar
exemplos de predicação essencial é uma coisa, e estipular um critério geral para
distingui-los é outra." (HFC,21).
O problema das causas dos fenômenos encontra-se restringida a causa final: ora,
se a causa final pressupõem que um futuro estado de coisas determina o desenrolar de
um estado presente, então, significa que o futuro está determinado pelo presente, pois o
estado futuro "puxa consigo" a sucessão de estados que leva a ele.
RACIONALISMO CARTESIANO
A razão aparece como a faculdade mais precisa do homem. Sua origem, sua
evolução e seu destino enfim, sua sobrevivência estão ligados íntimamente a ela. Esse
zelo pela razão será a pedra de toque do racionalismo que iniciou seu programa com a
figura de Descartes.
"Pois, quando penso que a pedra é uma substância, ou uma coisa que é por si
capaz de existir, e em seguida que sou uma substância, embora eu conceba de fato que
sou UMA COISA PENSANTE E NÃO EXTENSA, e que a pedra, ao contrário, é UMA
COISA EXTENSA E NÃO PENSANTE, e que assim, entre essas duas concepções há
uma notável diferença, elas parecem, todavia, concordar na medida em que representam
substâncias." (Meditações, 107)
Ora, enquanto que a substância pensante aqui em nosso estudo será melhor
explicitada na segunda parte que trata da METAFÍSICA, a substância extensa será
tratada neste momento. A razão disso é que a extensão é a categoria fundamental, em
Descartes, para entender-se a concepção de UNIVERSO.
Isto é, como ocorre a passagem de uma idéia localizada no interior do cógito para um
objeto localizado fora do cógito? Em termos Cartesianos:
Isto é, como ocorre a passagem de substância pensante para a substância extensa? Como
Descartes reconhece a existência do mundo exterior? Vejamos em Descartes:
"Tomemos, por exemplo, este PEDAÇO DE CERA que acaba de ser tirado da
colmeia (...) todas as coisas que podem distintamente fazer conhecer um corpo
encontram-se neste (...) Mas eis que, enquanto falo, é aproximado do fogo (...) A
mesma cera permanece após essa modificação? Cumpre confessar que permanece : e
ninguém o pode negar, (...) Consideramo-lo atentamente e, afastando todas as coisas
que não pertencem à cera, vejamos O QUE RESTA. Certamente, nada permanece
SENÃO ALGO DE EXTENSO, flexível e mutável (...) E agora, que é essa extensão?
(...)" (Meditações, 96)
Ora, chegamos a idéia de extensão por intuição da mente. Mas, o que significa
extensão? Extensão, em Descartes, significa "SER CHEIO DE MATÉRIA". Portanto, é
uma contradição sustentar a extensão como algo desprovido de toda matéria. A matéria
possui extensão e movimento. E a razão concebe a extensão pelo método geométrico.
Aqui que começa-se a explicar a passagem que vai do interior do cógito para o
seu exterior. Isso ocorre graças ao método geométrico de Descartes. Ora, se eu me
constituo como uma substância finita, como posso ter a idéia de um ser infinito em
mim? Logo, esse ser infinito está fora de mim. Diz neste sentido Descartes:
(...) ainda que a idéia de substância esteja em mim, pelo próprio fato de ser eu uma
substância, EU NÃO TERIA, todavia, a IDÉIA DE UMA SUBSTÂNCIA INFINITA,
EU QUE SOU UM SER FINITO, se ela não tivesse sido colocada em mimpor alguma
substância que fosse verdadeiramente infinita" (Meditações,107-8)
O infinito não pode estar contido no finito, mas o finito (homem) pode estar
contido no infinito (Deus). Logo, o infinito está fora do finito, existe fora do finito.
Deve haver uma realidade exterior ao cógito.
O Universo físico será um mecanismo criado por Deus, que pode ser reduzido ao
cálculo. O Universo é um relógio preciso. A precisão desse relógio se explica pelo
movimento das partes extensas. Esse princípio, e assim acreditou Descartes, explica
todos os fenômenos da natureza. Deus é a causa primeira desse mecanismo e as leis da
física dele são deduzidas.
Destas leis é que Descartes deduz toda estrutura do Universo e aponta para o fato
de que todos os fenômenos desse Universo, dessa natureza possam, por essas leis, serem
REDUZIDOS.
Cabe por último salientar que, toda matéria existente no Universo, na concepção
Cartesiana, foi posta em movimento uma vez por todas, ao mesmo tempo e, o papel de
Deus é que esse movimento seja perpétuamente conservado.
Agora partiremos para o estabelecimento da substância pensante que, por sua vez,
é a pedra de toque da metafísica de Descartes.
Descartes inicia todo seu filosofar pela dúvida, pela dúvida orientada ou
direcionada pelo método, enfim, pela DUVIDA METÓDICA. Diz Descartes que o seu
propósito é:
"(...) desfazer-me de todas opiniões a que até então dera crédito, e começar tudo
Racionalismo Cartesiano 23
Ora, não será necessário, para alcançar esse desígnio, provar que todas elas são
falsas, o que talvez nunca levasse a cabo (...) o menor motivo de dúvida que eu nelas
encontrar bastará para me levar a rejeitar todas." (Meditações, 85)
Ora, apartir deste problema do conhecimento, faz com que Descartes, de sua
dúvida metódica se volte para dentro de si mesmo. Mas todo este procedimento é
coordenado pela razão. Portanto, haverá, por assim dizer, um método de valor universal
para que tudo se desenrole do jeito que está se desenrolando. É sobre este método que
queremos dizer alguma coisa a partir de agora.
"regras certas e fáceis que, por quem quer que sejam exatamente observadas, lhe
tornam impossível tomar o falso pelo verdadeiro e, sem nenhum esforço mental inútil,
antes aumentando sempre gradualmente a ciência, o conduzirão ao conhecimento de
tudo o que ele será capaz de conhecer" (Discurso do Método). Esse aumento gradual de
que fala Descartes em sua definição de Método, espelha sua atitude de contela e
desconfiança para, por fim, alcançar a certeza incontestável.
b) a regra da análise
c) a regra da síntese
d) a regra da
enumeração
Vejamos pois, cada uma: pela regra da evidência Descartes procura estabelecer que
Racionalismo Cartesiano 24
jamais podemos aceitar algo como verdadeiro se não pudessemos reconhecê-lo como
evidente. Reconhecer como evidente é reconhecer segundo a luz natural da razão, é
reconhecê-lo pela INTUIÇÃO, chave de toda boa razão. Oposta a noção de evidência é
a de conjectura, que é em Descartes, aquilo que não nos dá a verdade de modo
IMEDIATO ao espírito, mas tal verdade é MEDIADA por outras circunstâncias para
alcançar o espírito. Daí se deduz que a evidência é aquilo que se dá imediatamente ao
espírito, sem a interferência de outros fatores. O conceito, por assim dizer, se torna
cristalino, transparente para a razão. Daí se deriva a CLAREZA enquanto tal. A
DISTINÇÃO é um outro momento que consiste na separação do conceito
imediatamente captado de outros conceitos adjacentes. A distinção é um processo de
discernimento de conceitos ou idéias e a clareza é propriamente dita como a
apresentação da idéia para a mente. Diz Descartes a respeito desta primeira regra:
"O primeiro era o de jamais acolher alguma coisa como verdadeira que eu não
conhecesse EVIDENTEMENTE como tal; isto é, de evitar cuidadosamente a
precipitação e a prevenção, e de nada incluir em meus juízos que não se apresentasse
tão clara e distintamente a meu espírito, que não tivesse nenhuma ocasião de pô-lo em
dúvida." (DM,37)
"A análise designa aqui o método que consiste em supor conhecida a linha
desconhecida, em estabelecer as relações que a ligam a grandezas conhecidas, até que
se possa constituí-la a partir destas relações." (DM, nota 20)
Segundo Descartes a etapa da análise pode ser definida como "... o de dividir (no
sentido de decompor até os elementos mais simples cuja combinação engendrará a
solução) cada uma das dificuldades que eu examinasse em tantas PARCELAS quantas
possíveis e quantas necessárias fossem para melhor resolvê-las" (DM, 37-8)
Em quarto lugar, temos a etapa da enumeração, que, segundo Descartes, pode ser
assim definida:
"E o último, o de fazer em toda parte enumerações tão completas e revisões tão
gerais, que eu tivesse a certeza de nada omitir".(DM,38)
Pois bem, por substância, como já sabemos, entendemos aquilo que existe
independentemente de qualquer outra coisa. Ora, a substância pensante se impõem na
medida em que, uma vez efetuada a dúvida metódica, ocorre a constatação: se estou
duvidando de tudo, uma coisa porém não posso duvidar, a de que estou PENSANDO,
porque para duvidar eu tenho que pensar. Por acaso poderia existir alguém que
duvidasse de tudo e até mesmo que estivesse a pensar? Seria contraditório. Se cumpre
em Descartes o princípio da lógica que diz: posso pensar em tudo quizer, desde que, não
entre em contradição comigo mesmo.
"A teoria do conhecimento subjetivo é muito antiga: mas torna-se explícita com
Descartes: "Conhecer" é uma atividade e pressupõe A EXISTÊNCIA DE UM SUJEITO
CONHECEDOR. É o ser subjetivo quem conhece." (CO,77)
Vimos que a proposição Penso, logo existo (ou até mesmo, Duvido de tudo, logo
existo) é a única proposição absolutamente VERDADEIRA porque a própria dúvida a
confirma. Ora, devemos distinguir aqui, na filosofia cartesiana, as verdades necessárias
das verdades contingentes. A verdade necessária é aquela que pode ser conhecida pela
luz natural da razão, pela evidência, pela intuição. A verdade necessária, portanto,
nunca será falsa. Ao contrário, a verdade contingente pode (possibilidade) ser falsa.
Portanto, não é que necessariamente seja FALSA. Porém, somente as verdades
necessárias estarão vinculadas ao cógito, a substância pensante, enquanto que as
verdades contingentes estão representadas pela realidade exterior ao cógito. O que leva
Descartes de dentro do cógito para a realidade exterior, é a noção de Deus. Temos
assim,
são necessárias por que Descartes tinha que voltar-se para fora do cógito? Descartes
precisa abandonar o solipcismo e demonstrar geométricamente a existência da realidade
exterior. Já tivemos alguma idéia de como ele o faz, mas vejamos:
Ora, segundo Anselmo, não é possível conceber um triângulo que não tenha
ângulos internos iguais a dois retos, logo, também não é possível conceber Deus como
não existente. Essa é exatamente a lógica de Descartes! Como pode ser que o ser
soberanamente perfeito possa ser privado daquela perfeição que é a EXISTÊNCIA? A
existência está para Deus assim como a propriedade do triângulo está para o triângulo.
Perante essa situação dirá Pascal, o Deus de Descartes não tem nada a ver com o
Deus de Abraão, de Isaac, de Jacob, com o Deus Cristão; é, simplesmente autor de
verdades geométricas e da ordem do mundo. (Pensamento, 556) Pascal acha isso
lastimável. Descartes dizia é bom que seja assim!
"Ainda que a idéia de substância esteja em mim, pelo fato mesmo de que sou
substância, não poderia ter a idéia de uma substância infinita, posto que sou finito, se
ela não procedesse de outra substância, realmente infinita." (MED.III)
Portanto, assim como não é possível que algo infinito esteja contido no que é
finito, assim também EU (substância pensante) e finito não posso conter Deus em mim,
pois ele é infinito.
Ora, se por um lado, Deus não me engana porque ele é perfeito e, seria uma
imperfeição dele querer enganar-me, por outro lado, não estaria EU me enganando em
relação a Deus?
Racionalismo Cartesiano 27
Se devo reconhecer que eu sou sujeito ao erro e, que, o erro é um juízo falso com
conhecimento, mais do que isso, o erro é "uma privação de algum conhecimento que
parece que eu deveria possuir" (MED. IV, 116). Uma privação que significa não ter
acesso ao conhecimento, não estaria EU me enganando em relação a Deus?
"Como é que o que não tem extensão pode conhecer um universo dotado de
extensão e, conhecendo-o alcançar propósitos nele?" (BMCM, 96)
Mas, Deus existe? Descartes tenta mostrar que sim. Há duas provas distintas: uma
ontológica e outra cosmológica. O argumento cosmológico é o seguinte: Se sou um ser
IMPERFEITO porque eu erro, então, como posso ter a idéia de um SER PERFEITO em
mim? Não é possível que a PERFEIÇÃO esteja contida na imperfeição. Portanto, a
perfeição só pode ter sido causada, colocada em mim pelo próprio ser perfeito. Deus
existe.
EMPIRISMO DE D. HUME
Tal como Locke que nos fala de uma realidade interna (reflexão) e da realidade
externa (sensação), Hume atribui à realidade interna a indicação própria de "relação
entre idéias" e, para a realidade externa a de "questões de fato". Portanto, em Hume, se
envolver com a problemática acima descrita é perguntar pelas questões de fato.
"E as impressões distinguem-se das idéias, que são as impressões menos vivazes
das quais temos consciência quando refletimos sobre qualquer dessas sensações ou
movimentos acima mencionados." (IEH, paragrafo 12)
Os movimentos que Hume fala são de sentir, amar, odiar, desejar ou querer que
em si mesmos são percepções mais vivazes, mas que, no entanto, se refletirmos sobre
tais movimentos obteremos idéias ou cópias dessas impressões.
Segundo Hume, "todas as nossas idéias ou percepções mais fracas são cópias de
Empirismo de D.Hume 31
nossas impressões, ou percepções mais vivas." (IEH, paragrafo 13) Portanto, toda idéia
deve necessariamente ter seu correlato em uma impressão. A questão essencial sobre a
realidade externa (questões de fato) será a seguinte: DE QUE IMPRESSÃO DERIVA
TAL IDÉIA?
Questão mais simples, mas que mantém estreita relação com o que foi acima
exposto, é a relação entre idéias (realidade interior). Para Hume, passamos de uma idéia
para outra mediante a ASSOCIAÇÃO, isto é, pela associação de idéias Hume enumera
três princípios de associação de idéias: (a) semelhança; (b) contiguidade de tempo e
espaço; (c) causa e efeito.
Os objetos da natureza estão dispostos de tal maneira que constatamos neles uma
uniformidade : de um evento segue-se outro evento. Mas como justificar essa
uniformidade, se a natureza oculta a sua VERDADEIRA face? Diz Hume:
"Mas, apesar dessa ignorância dos poderes e princípios naturais, ao ver qualidades
sensíveis semelhantes sempre presumimos que elas possuam poderes secretos
semelhantes e esperamos que daí decorram efeitos análogos aos que já
experimentamos." (IEH, paragrafo 29)
outro problema mais grave: o problema da indução. A experiência, segundo Hume, nos
dá informações diretas e certas sobre a natureza EM UM PERÍODO PRECISO DE
TEMPO. Ora, se as coisas, os objetos da natureza, existem em tempos diferentes, logo,
eles deveriam ser distinguiveis. As experiências deveriam ser distintas. Mas nós
supomos uma identidade que atravessa todos os segmentos de tempo. Se assim não
fizessemos, a OBJETIVIDADE estaria ameaçada. Está colocado o ceticismo. Diz
Hume:
2) Competição
cadeia causal, também pode ser explicada, como sendo uma grande rede onde um
cordão se CRUZA com o OUTRO, e dele depende. Assim, o rompimento de um desses
laços, de um desses nós, acarretaria dificuldades de sustentação para outros tantos
fenômenos. Representaríamos assim:
<><><><><><><><><><><><><><><><><><><><>
<><><><><><><><><><><><><><><><><><><><>
“Se a natureza é amoral, então a evolução não pode oferecer-nos nenhuma teoria
ética. A suposição de que seria capaz de fazê-lo esteve na origem de toda uma panóplia
de males sociais que os ideólogos impõem ilegitimamente à natureza a partir das suas
próprias crenças - sendo os mais gritantes o eugenismo e quilo que designamos
incorrectamente de darwinismo social.” (QGD, 47)
Ora, daí decorre que a COMPETIÇÃO na natureza ocorre sem ética alguma e
que, somente entre os homens que a COMPETIÇÃO deva estar relacionada a uma ética.
Para resolvermos esse impasse seria interessante considerarmos o SUJEITO da
competição. Enquanto que na natureza os SUJEITOS dessa competição são os animais e
o resultado é uma luta violenta e sangrenta pela sobrevivência, na competição entre os
homens, os sujeitos dessa competição não são os homens propriamente ditos mas, as
O problema da filosofia da ciência
suas teorias. Isso muda sensivelmente a perspectiva do problema: agora não são mais os
homens que têm que competir de uma maneira violenta e sangrenta pela sua
sobrevivência, mas, são as TEORIAS que devem morrer em nosso lugar.
Na competição entre TEORIAS, o problema será enfocado de maneira diversa:
Como sabemos qual é a melhor teoria? Como decidir em prol de uma teoria A em
relação a teoria B? Em outras palavras: precisamos mostrar como a ciência progride
pela competição de teorias.
3) Leis
4) Problemas
REPRESENTAÇÃO
5) Ciência
conclusões. Mas ainda, essa posição de senso comum é supor que todas pessoas
apreendem o objeto IN NATURA, ou seja, o objeto bruto tal com ele é, e, que por isso
mesmo compreenderia o mundo da mesma maneira, sem diferença alguma.
“Há um limite preciso entre ciência (tal como praticada pelos cientistas) e senso
comum (que as pessoas sem formação científica usam em suas observações do dia-a-
dia). É o que Gaston Bachelar (1884-1962) chamou de “corte epistemológico”. Graças a
este, trata-se de esferas cognitivas diferentes, embora possam referir à mesma realidade
.” (CPD, 20)
Em segundo lugar, temos a posição continuista que diz que há uma continuidade
entre ciência e senso comum. A ciência é uma extensão do senso comum, sendo que a
diferença residiria em que a primeira é mais sofisticada. Sofisticada significa que a
ciência se utiliza de crítica para progredir e o senso-comum é acrítico, não admite
progresso (estático)
“Toda ciência e toda filosofia são senso comum esclarecido”. (CO, 42)
Por que ocorre isso? Isso ocorre porque as teorias são apenas representações da
realidade e não a própria realidade. Uma teoria (T1) pode no presente momento
representar muito bem a realidade. No entanto, em um futuro mais distante ser superada
por outra teoria. O que significa “ representar muito bem a realidade”? Significa que
uma determinada teoria responde a problemas ou quebra-cabeças cruciais para o
momento. Agora, como podemos falar com tanta segurança em progresso de teorias ou
evolução de teorias? Esse é o problema.
6) Filosofia da Ciência
A filosofia da ciência exige do filósofo ou até mesmo do cientista que quer fazer
filosofia, uma atitude de que ele não deve esperar que a natureza revele seus segredos,
mas que ele deva interrogar-se incessantemente, ativamente, perante essa mesma
natureza.
O problema da filosofia da ciência
Mas por que precisava um cientista saber filosofia da ciência? Diz a esse
respeito Newton Freire-Maia: “Se o cientista pretende ser um intelectual de alto
gabarito, deve ir mais além. Metido na estreiteza de sua ESPECIALIDADE, corre o
risco de não ter consciência plena dos pressupostos filosóficos que tacitamente aceita e
nem dos procedimentos gerais que sua mente elabora ao longo da investigação. É a
filosofia da ciência que poderá armá-lo com esses conhecimentos, Sem eles, o cientista
nem mesmo saberá descrever as regras necessárias e suficientes para desenvolver um
bom trabalho científico - isto é, nem mesmo saberá contar, com precisão, como é que
realiza todos os processos de seu trabalho.” (CPD, 33)
Na verdade, são três andares de uma pirâmide: no primeiro andar estão os fatos;
no segundo andar, a ciência que estuda os fatos; e no terceiro andar, a filosofia da
ciência que estuda a ciência. Temos assim:
FILOSOFIA
DA
CIÊNCIA
CIÊNCIA
FATOS
a) história: Foi por volta de 1923 em Viena - Áustria que um grupo de filósofos
se reuniu em torno de seu fundador e organizador M.Schilick para objetivar o
desenvolvimento de um nova filosofia da ciência em um espírito de rigor e excluindo
toda a consideração metafísica.
E nas ciências humanas, qual é o controle científico que estão estas ciências
submetidas? Ora, se não há controle científico não pode haver progresso. Como todo
controle científico se faz pelo método, é o método que determinará o progresso na
ciência. Mas, podem ser as proposições das ciências humanas (economia, direito,
sociologia, história) controláveis cientificamente? Qual seria o método? Diz o
Positivista: se não pudermos responder a essas duas questões, não podemos falar em
progresso nas ciências humanas.
COMBINAÇÃO EPISTEMOLOGIA
LÓGICA A PRIORI A POSTERIORI
Analítico Matemática
Sintético Filosofia Física
Ciências Enunciados
Empíricas Sintéticos a posteriori
Formais Analíticos a priori
Humanas Sintéticos a priori
eliminada (tese a) não só porque seus enunciados não são verificáveis, mas porque eles
não podem ser COMUNICADOS. As expressões metafísicas são incomunicáveis. Não
há uma intersubjetividade inteligível. É nisto que reside a objetividade da ciência: Em
poder ser comunicada, discutida racionalmente. Como bem colocou Hume: se uma idéia
não possui uma impressão correspondente, não pode ser inteligível.
“Na concepção dos empiristas lógicos, novas teorias científicas são geralmente
propostas para explicar as antigas, isto é, para mostrar que estas últimas valem para uma
faixa limitada de fenômenos e estão logicamente implícitas em teorias que são mais
abrangentes.” (CAH, 58)
A teorias mais nova não substitui e nem refuta as teorias mais antigas, mas
apenas FIXA OS SEUS LIMITES DE ATUAÇÃO. E, a teoria mais nova é deduzida da
mais antiga.
A principal crítica que se faz a essa concepção positivista e que estes
pressupõem, talvez até ingenuamente, que a teoria mais nova NUNCA ENTRE EM
CONFLITO com a teoria mais antiga. Na construção do edifício da ciência NENHUM
tijolo é rejeitado. Em segundo lugar, os Positivistas Lógicos tinham como interesse
Positivismo lógico - verificacionismo
Mas, assim como um enunciado que tem sentido é falso, poderá tornar-se
verdadeiro, também poderíamos dizer que um enunciado que é SEM SENTIDO poderá
algum dia ter SENTIDO? Creio que Schilick não responde a questão, se um enunciado
que hoje é verdadeiro poderá vir a ser falso em um futuro.
QUADRO DE
RELAÇÕES CRITÉRIO DE VERIFICAÇÃO
NEM
ENUNCIADO VERDADEIRO FALSO VERDADEIRO/
NEM FALSO
CRITÉRIO DE
SENTIDO * * -
SIGNIFICATIVIDADE SEM SENTIDO - - +
CIÊNCIA METAFÍSICA
falar de algo que possa ser verificado na experiência e ser identificado. Com uma
descrição que deverá envolver as regularidades, as conexões segundo leis naturais do
objeto descrito. “REALIDADE significa sempre estar em uma determinada conexão
com o dado”. (PR, 62). Só podemos interpretar um enunciado sobre a realidade como
sendo uma “disposição em um contexto ou conjunto de percepções”. (PR, 62)
“Nos sistemas filosóficos é ele pensado como estando de certa maneira atrás do
mundo empírico, sendo que com o termo “atrás” se quer indicar também que não é
RECONHECÍVEL no mesmo sentido que o mundo empírico, o qual se encontra para
além daquele limite que separa o acessível do inacessível.” (PR, 64)
É aqui que Schilick enfatiza, destaca e insiste para que nós atentemos: Essa
pergunta é crucial. Ela é o porquê, a razão de qualquer análise lingüística. É por assim
dizer o como a metafísica atinge a ciência impedindo o seu desenvolvimento e seu
progresso. Ele responde a questão acima apontando duas razões:
4) Conclusão:
FALSEACIONISMO
1) Ciência e Metafísica
“Meu critério de demarcação deve, portanto, ser encarado como proposta para
que se consiga um acordo ou se estabeleça uma convenção. As opiniões podem variar
quanto à oportunidade de uma convenção deste gênero. Todavia, uma discussão
Falseacionismo
25
razoável dos temas em pauta só é viável se os interlocutores têm um objeto comum.
Ora, o que ocorre em tudo isso? Podemos até mesmo ter dificuldade de entender
a tradução acima citada, porém o que deve ficar claro é que tais enunciados são
metafísicos - que para os positivistas lógicos não teria sentido, ou seja, seriam vazios, -
Falseacionismo
26
possuem A MESMA FORMA LÓGICA que enunciados científicos. Isto é, há
enunciados científicos que possuem a mesma forma lógica que os enunciados
metafísicos puramente existenciais. Esses enunciados não podem ser Esses enunciados
não podem ser testados ou verificados porque o seu caráter existencial o protege. No
entanto, eles têm sentido porque todos podem ser descritos em termos que possuem
significado.
Qual deveria ser nossa (a do cientista) atitude perante a ciência? Popper, como
falseacionista, está ciente de que conforme a atitude do cientista perante a ciência, a
história da ciência e a filosofia da ciência poderemos determinar, ainda que não
totalmente, a direção, o progresso na ciência.
3) Dedução e Indução:
Para Popper, o cientista assume um compromisso de sempre, toda vez, que sua
teoria for falseada por um teste, a sua estrutura lógica estará comprometida, e, ela
deverá ser rejeitada. Na assimetria entre falseabilidade e verificabilidade, fica claro que
a VERIFICAÇÃO não assume compromisso algum, pois, nenhuma teoria foi verificada
(de forma conclusiva). Como poderíamos então, saber se uma teoria é verdadeira ou
não?
Bem, podemos dizer que uma teoria é falseável em dois sentidos: (a) podemos
falar de falseamento de enunciados básicos, isto é, FALSIFICAÇÃO; e, (b) podemos
falar de falseamento de teorias, isto é, FALSEABILIDADE. A Falsificação se opera por
testes, a Falseabilidade obedece a estrutura do MODUS TOLLENS, que pode ser assim
representado:
T →p, ~p ∴ ~t
Aqui todo o espírito que perpassa o falseacionista: A luta pela sobrevivência não
Falseacionismo
30
é a luta dos homens, mas é a luta de suas teorias. Mas falemos um pouco mais da
falseabilidade.
“... pelo menos UM raio ... deve mostrar-se incompatível com a teoria e ser por
ela proibido.”
5) Progresso na Ciência:
A terceira etapa é a eliminação de erros. Essa etapa está de acordo com uma
realidade muito humana: todo empreendimento e, especialmente aqui a ciência, é
FALÍVEL. Nós erramos, e devemos estar sempre dispostos a identificar nossos erros e,
sobretudo, dispostos a CORRIGIR NOSSAS TEORIAS. Devemos saber trabalhar com
nossos erros. Tanto eu posso estar errado, como tu podes estar errado, ou até mesmo nós
dois estarmos errados. Esse é um processo crítico de avaliação. Devemos argumentar
logicamente, portanto, criticamente, para reconhecer não só no outro como em nós
mesmos o nosso erro e podermos corrigi-lo.
Como conclusão dessa parte temos, no esquema de Luís Alberto Peloso: Pelo
processo evolucionário:
P1 → TT → EE →
_________________________
EVOLUÇÃO BIOLÓGICA
P1 = problema
TT = Ensaio de soluções
EE = Tentativa de eliminação do erro
X = toda espécie pode perecer, o fim do processo é um dúvida.
P1 → T → EE →
_________________________
Evolução do Conhecimento
Quanto ao aspecto lógico. Popper enumera dois critérios lógicos que são
decorrência do seu critério de demarcação - a Falseabilidade.
“...uma nova teoria, não importa quanto revolucionária, deve sempre estar em
condições de explicar completamente os êxitos da teoria precedente... Mas devem
existir casos em que a teoria nova conduza a resultados diferentes e melhores do que os
obtidos pela teoria precedente.” (PRC, 102-3)
O relativismo pragmático
36
RELATIVISMO PRAGMÁTICO:
T.S. Kuhn é físico e ainda hoje dedica-se a pensar a sua atividade, a saber, a
ciência. Sua posição pode ser mais facilmente estudada em contraposição, em contraste,
com o falseacionismo de K.R. Popper que é um filósofo por excelência.
O que fica bem claro aqui é que há momentos em que o cientista impõe seu
controle, sua autoridade e exerce seu domínio sobre a natureza. Em períodos de
anomalia, a natureza mostra que este controle, esta autoridade e esse domínio é frágil.
Os conceitos precisam, mesmo que o cientista resista, serem reformulados.
Um exemplo de crise Kuhn descreve em sua ERC na página 97. Se trata da crise
na Astronomia quando Copérnico propôs seu modelo de Universo em substituição ao
modelo Ptolmaico. Aí, Kuhn descreve não só conseqüências internas da mudança, mas
as pressões sociais advindas de fatores externos, que apesar de não serem
determinantes, corroboraram para o “fracasso técnico” do paradigma até ali dominante.
Interessante é a conclusão de Kuhn: “A única antecipação completa é igualmente a mais
famosa: a de Copérnico por Aristarco, no século III a.c.. Afirma-se freqüentemente que
se a ciência grega tivesse sido menos dedutiva e menos dominada por dogmas, a
astronomia heliocêntrica poderia ter iniciado seu desenvolvimento dezoito séculos
antes.” (ERC, 103-4)
Mas, isso basta para Kuhn mostrar o caráter revolucionário da ciência? Como
decidir entre dois paradigmas em COMPETIÇÃO neste período? O progresso é não-
cumulativo em período de ciência revolucionária. Em período de ciência normal o
progresso é cumulativo. Kuhn novamente apela para um argumento psicológico que diz
estar justificado na História da Ciência. Diz Kuhn, portanto: “Para descobrir como as
revoluções científicas são produzidas, teremos, portanto, que examinar não apenas o
impacto da natureza e da LÓGICA, mas igualmente as TÉCNICAS DE
ARGUMENTAÇÃO PERSUASIVA que são eficazes no interior dos grupos muito
O relativismo pragmático
41
especiais que constituem a comunidade dos cientistas.” (ERC, 128)
2) Natureza do Paradigma:
Ciências Naturais X Ciências Humanas
O relativismo pragmático
42
O que nos interessa agora é refletir sobre o significado de um termo que Kuhn
usa muito. Estamos falando do termo PARADIGMA. Todas as ciências possuem o seu
paradigma? Não. Nem todas as ciências possuem paradigma, o exemplo disso são as
ciências humanas. Diz bem Newton Freire Maia quando afirma que a partir de Kuhn;
“Quando examinarmos a sociologia, a economia, a história, a psicologia, etc., a situação
é outra. Nessas ciências pré-paradigmáticas, teorias fundamentais e opostas
permanecem em luta durante longos períodos sem que haja meios de se optar pelas que
devessem ser as mais corroboradas. Os adeptos de cada uma dessas teorias combatem
os adeptos das outras, cada grupo se julgando dono da verdade.” (CPD, 117)
Kuhn reconhece e absorve essa crítica. No posfácio de 1969 de seu livro ERC
(1962) reduz o significado de Paradigma a duas formas: em primeiro lugar, paradigma
para Kuhn é indicador da constelação de crenças, valores, técnicas, etc... partilhados,
repartidos, pelos componentes da comunidade científica. Em segundo lugar, paradigma
“denota apenas um elemento dessa constelação: as soluções concretas de quebra-
cabeças que, empregados como modelos ou exemplos, podem substituir regras
explícitas como base para a solução dos restantes quebra-cabeças da ciência normal.”
(ERC, 218)
O que fica claro é que Kuhn tem preferência por dissertar a respeito de ciências
que possuem, de uma maneira ou outra, o seu paradigma estabelecido. Mas como uma
ciência alcança o estágio de estabelecer o SEU paradigma como real? O que queremos
dizer é que há muita coisa a ser analisada ANTES DO SURGIMENTO DE UM
PARADIGMA. Já existe comunidade científica constituída antes do surgimento de um
paradigma? Ora, se para Kuhn uma comunidade científica só é comunidade se possui
paradigma, então, os “cientistas” das humanidades nem constituem comunidade. O
resultado é que o ciclo de Kuhn teria que ser ampliado.
O relativismo pragmático
43
Newton Freire Maia diz o seguinte a respeito dessa situação: “Elas enfrentam
um dilema epistemológico que não pode ser ignorado: ou se tornam cada vez mais
“rigorosas” e concomitantemente vão perdendo sua especificidade, ou preservam a
especificidade de seu objeto e perdem o rigor que se encontra nas ciências naturais e
principalmente na física, na química e na astronomia.” (CPD, 117)
Concordamos com Newton Freire Maia na medida em que: (1) as ciências
humanas carecem de uma estrutura epistemológica mais coerente; (2) por isso mesmo
tais ciências são imaturas, isto é, não possuem paradigma; (3) Não podemos falar de
progresso nas ciências humanas da mesma maneira que falamos para as ciências
naturais. No entanto, algo ocorre (um progresso?) até surgir um paradigma, e que
somente a partir desse momento é que poderíamos falar de comunidades. (4) Parece
evidente que o conceito de ciência deva ser ampliado. Ciência tem que ser mais do que
aquilo que físicos, químicos e biólogos fazem. Ciência deveria abarcar aquilo que
sociólogos, historiadores, economistas fazem. O problema é que o objeto de estudo é
totalmente diferenciado: nas ciências naturais, a natureza é o objeto de estudo: nas
ciências humanas, o homem é o objeto de estudo. A natureza possui um mecanismo que
implica leis processos e explicações causais. O homem está sujeito a natureza por
pertencer a natureza, mas em sua atividade, em seus empreendimentos TRANSCENDE
A PRÓPRIA NATUREZA. É a partir desse momento que se justifica o retorno a
metafísica.
A visão histórica:
História da Ciência X Filosofia da Ciência
Em conclusão, poderíamos dizer que Kuhn faz uma tentativa de superar uma
visão logicista da ciência. Para estes a FC é uma disciplina em que leis e teorias
científicas se reformulam segundo padrões da lógica formal e, ainda mais, questões de
confirmação ou explicação abordam-se como problemas de lógica aplicada. (conferir
FCIH p.34). Para Kuhn há uma dimensão histórica e psicológica que influi
decisivamente na determinação do progresso ou evolução da ciência. Assim, progresso
na ciência para Kuhn ocorre em dois sentidos: primeiro, no período de ciência normal
sendo que a principal característica ai é a acumulação ou o somatório de informações
que reforçam o paradigma dominante e, num segundo período de ciência revolucionária
onde o progresso ocorre por uma mudança de GESTALT.
(e) A ciência é uma entre muitas FORMAS DE VIDA. Ora, este conceito
não é original. A sua derivação é do Wittgenstein das INVESTIGAÇÕES
FILOSÓFICAS (1953). Diz Wittgenstein “ o que tem que ser postulado, o que é dado,
poderíamos dizer, são as FORMAS DE VIDA” (IF, 238/601). Mas o que significa
FORMAS DE VIDA? Falar de formas de vida em epistemologia é estabelecer as
condições gerais em que é possível falar-se da compreensão da realidade, enquanto que
falar de formas de vida em filosofia é estabelecer as formas peculiares de que se
estrutura a compreensão em determinados contextos. Diz Peter Winch, interpretando
Wittgenstein: “enquanto as filosofias da ciência, da arte, da história, etc terão a tarefa de
elucidar as naturezas peculiares dessas formas de vida chamadas “ciências”, “arte”,
O anarquismo epistemológico de P. Feyerabend
47
etc..., a epistemologia tentará elucidar o que está envolvido na noção de forma de vida
com tal.” (ICS, 47-8). A contribuição de Wittgenstein para esta análise epistemológica
consistiu em dois pontos: (a) a análise do conceito de “seguir uma regra”; (b) e a
descrição da espécie peculiar de concordância interpessoal que isto envolve.
Ora, uma vez que as teorias estabelecem competição entre si, a concepção de
O anarquismo epistemológico de P. Feyerabend
49
progresso positivista fica ameaçada e o programa reducionista esfacela-se. Feyerabend
critica justamente em E. Nagel e em Karl Hempel esse reducionismo lógico. Diz Nagel
a respeito da Redução: “O objetivo da redução é mostrar que as leis, ou os princípios
gerais da ciência secundária são simplesmente CONSEQÜÊNCIAS LÓGICAS dos
supostos da ciência primária.” (ERE, 46) O segundo pressuposto é assim expresso por
Nagel: “os significados são invariantes a respeito do processo de redução”. (ERF, 47)
Diz Feyerabend que a prática científica desmente estes dois pressupostos aceitos pelos
positivistas.
Em conclusão: “Feyerabend nos diz que estes dois aspectos juntos, implicam a
liberdade do teórico perante a experiência, liberdade que vem restringida pela tradição
(aspectos sociais e culturais), a idiossincrasia do indivíduo (aspectos subjetivos), pelos
formalismos e uso da linguagem (problema de terminologias e tecnicismos), conjunto
O anarquismo epistemológico de P. Feyerabend
50
de crenças metafísicas (Kuhn) e inclusive por motivos estéticos (Galileu perante
Kepler).
Mais ainda, todas teorias envolvem termos, palavras e expressões. Jogar com
estas palavras significa convencer nosso opositor, persuadi-lo e mudar sua perspectiva
da realidade (GESTALT). Conforme a linguagem que o cientista utiliza - o jogo de
linguagem escolhido - a sua teoria pode o não pode ganhar credibilidade. A lógica é um
entre tantos jogos de linguagem e, não necessariamente o mais convincente ou
persuasivo.
Isso seria: T2 afirma tudo o que T1 possui, todo o seu conteúdo empírico e mais
um pouco, que T1 não teria afirmado. Sintetiza bem John Watkins em seu artigo “o
enfoque popperiano do conhecimento científico.” (conferir PRC, 31-48)
Assim uma T2 ou T ’ possui três partes: (a) uma região de conteúdo empírico
que vai além de T1 ou T; (b) uma região de conteúdo empírico que é comum tanto a T2
com a T1; (c) e uma região de conteúdo empírico que é usado para revisar o conteúdo
empírico de T1. Por sua vez T1 ou T possui duas partes; (a) a região de conteúdo
empírico que é comum a T2; (b) e a região de conteúdo empírico que foi REVISADA
por T2.
T'E
α parte de T ' E que vai além de TE
parte de TE que é
revisada por T ’E (β)
O que fica claro é que, Kuhn não explica o que ocorre e como procedem os
cientistas na troca de um período de ciência normal para um período de Revoluções
Científicas. “Que é o que acontece no fim de um período normal?” (CDC, 254) e, ainda
mais importante: “Se a ciência normal é de FACTO tão monolítica quanto o quer Kuhn,
DE ONDE VÊM AS TEORIAS CONCORRENTES?” (CDC, 255) Da mudança do
estilo argumentativo do cientista? Se é assim, para Feyerabend isso é um amor
exagerado pela METODOLOGIA. Kuhn “Disse, portanto, que os cientistas criam
revoluções de acordo com o nosso modelozinho metodológico e NÃO seguindo
inexoravelmente um paradigma e abandonando-o de repente quando os problemas se
agigantam.” (CDC, 256)
(3) O terceiro problema metodológico de Kuhn, que atesta que Kuhn estava mais
interessado em fornecer uma metodologia à ciência do que libertá-la dessas
metodologias, é que a ciência normal de Kuhn não é um FATO HISTÓRICO. A razão
dessa tese é que, como o próprio Kuhn afirmou, anomalias ocorrem em qualquer
momento da história de um paradigma e, até mesmo em períodos de ciência normal.
Sendo assim, as anomalias já em período de ciência normal dão início ao surgimento de
teorias alternativas ao paradigma dominante. Isso mostra-nos que a ciência normal não
existe. Vivemos em um grande oceano de anomalias.
Em síntese, diríamos que os argumentos de Feyerabend contra Kuhn são os
seguintes: (a) falta da precisão em definir a finalidade da ciência; (b) o abandono do
paradigma dominante pelo cientista é algo LÓGICO ou não-lógico? (c) É difícil
precisar se ALGO DE MELHOR se seguirá de uma mudança de paradigma - Gestalt;
O anarquismo epistemológico de P. Feyerabend
55
(d) A ciência normal não existe na história da ciência.
CC DE DEUS, Jorge Dias (org.). A crítica da ciência. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.
CPD MAIA, N. F. A ciência por dentro. Rio de Janeiro - Petrópolis: Vozes, 1991.
ERC KUHN, T.S. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva,
1987.
ICS WINCH, P. A idéia de uma ciência social. São Paulo: Editora Nacional, 1970.
DE DEUS, Jorge Dias (org.). A crítica da ciência. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.
KUHN, T.S. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 1987.
__________. Qué son las revoluciones científicas? y outros ensayos. Barcelona: Paidós,
1989.
WINCH, P. A idéia de uma ciência social. São Paulo: Editora Nacional, 1970.