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Tanto quanto sua estrutura, varia também sua extensão: há parágrafos de uma ou
duas linhas como os há de página inteira. E não é apenas o senso de proporção
que deve servir de critério para bitolá-lo, mas também, principalmente, o seu núcleo,
a sua ideia central.
1 1 Estávamos em plena seca. 2 Amanhecia. Um crepúsculo fulvo alumiava a terra
3 com a claridade de um incêndio ao longe. 4 A pretidão da noite esmaecia. Já
começava a se 5 individualizar o contorno da floresta, a silhueta das 6 montanhas
ao longe. 7 A luz foi pouco a pouco tornando-se mais viva. 8 No oriente assomou o
Sol, sem nuvens que lhe velassem 9 o disco. Parecia uma brasa, uma esfera
candente, suspensa 10 no horizonte, vista através da ramaria seca das árvores. 2
o 11 A floresta completamente despida, nua, somente 12 esqueletos negros, tendo
na fímbria aceso o facho que 13 a incendiou, era de uma eloquência trágica! 3 o 14
Amanhecia, e não se ouvia o trinado de uma ave, 15 o zumbir de um inseto! 16
Reinava o silêncio das coisas mortas. 17 Como manifestação da vida percebiam-se
os gemi18 dos do gado, na agonia da fome, o crocitar dos urubus nas 19 carniças.
(Rodolfo Teófilo apud Monteiro, 1939:85)
Se o núcleo do parágrafo de dissertação e de argumentação é uma
determinada ideia, se o da narração é um incidente (episódio curto), o da
descrição é ou deve ser um quadro, i.e., um fragmento de paisagem ou
ambiente num determinado instante, entrevisto de determinada perspectiva.
1. Tópico Frasal
O Brasil é a primeira grande experiência que faz na história moderna a espécie
humana para criar um grande país independente, dirigindo-se por si mesmo,
debaixo dos trópicos. Somos os iniciadores, os ensaiadores, os experimentadores
de uma das mais amplas, profundas e graves empresas que ainda se acharam em
mãos da humanidade. Os navegadores das descobertas que chegaram até nós
impelidos pela vibração matinal da Renascença, cumpriram um feito que terminava
com o triunfo na luz da própria glória; belo era o país que descobriam, opulenta a
terra que pisavam, maravilhoso o mundo que em redor se desdobrava; podiam
voltar, contentes, que tudo para eles se cumprira. (Gilberto Amado).
Esse modo de assim expor ou explanar ideias é, em essência, o método
dedutivo: do geral para o particular. Quando o tópico frasal vem no fim do
parágrafo — e neste caso é, realmente, a sua conclusão —, precedido pelas
especificações, o método é essencialmente indutivo: do particular para o
geral.
Conta uma tradição cara ao povo americano que o Sino da Liberdade, cujos
sons anunciaram, em Filadélfia, o nascimento dos Estados Unidos,
inopinadamente se fendeu, estalando, pelo passamento de Marshall. Era uma
dessas casualidades eloquentes, em que a alma ignota das coisas parece lembrar
misteriosamente aos homens as grandes verdades esquecidas (...). (Barbosa,
1952:41)
Na floresta vizinha de Cenci Assisa, no tempo de São Francisco de Assis, tal foi a
maravilha das prédicas do santo, que os animais, perdendo a ferocidade dos
instintos, abraçavam as leis divinas que governavam o mundo. (“O novo Esopo”,
Floresta de exemplos, [Ribeiro, 1959]).
1.5.3 Interrogação
Sabe você o que é manhosando? Bem, eu lhe explico, que você é homem de
asfalto, e esse estranho verbo só se conjuga pelo sertão nordestino. Talvez o amigo
nem tenha tempo para manhosar, ou quem sabe se dorme tanto, que ignora esse
estado de beatitude, situado nos limites do sono e da vigília. O espírito está
recolhido, mas o ouvido anda captando os sons, que não mais interferem, todavia,
com a quietude, com a paz interior. Nesses momentos somos de um universo de
sombras, em que o nosso pensamento flutua livre, imitando aquele primeiro dia de
Criação, quando a vontade de Deus ainda era a única antes de separadas as trevas
e a luz. (...) (Dinah Silveira de Queiroz, “Manhosando”, Quandrante 2 [Queiroz,
1963:109]).
A arte (...) é tudo o que pode causar uma emoção nossa sensibilidade,
dando a volúpia do sonho e da harmonia, fazendo pensar em coisas
vagas e transparentes, mas iluminadas e amplas como o firmamento,
dando-nos a visão É, em conclusão, emoção estética [tópico frasal],
tudo que é capaz de emocionar suavemente a dando-nos a visão de uma
realidade mais alta e mais perfeita, transportando-nos a um mundo novo,
onde se aclara todo o mistério e se desfaz toda a sombra, e onde a própria
dor se justifica como revelação ou pressentimento de uma volúpia sagrada.
conclusão, a energia criadora do ideal. se (Farias Brito
2.2 Confronto
Lendo-os com atenção, sente-se que Vieira, ainda falando do céu, tinha os
olhos nos seus ouvintes; Bernardes, ainda falando das criaturas, estava
absorto no Criador. Vieira vivia para fora, para a cidade, para a corte, para o
mundo, e Bernardes para a cela, para si, para o seu coração. Vieira estudava
graças a louçainhas de estilo (...); Bernardes era como essas formosas de
seu natural que se não cansam com alinhamentos (...) Vieira fazia a
eloquência; a poesia procurava a Bernardes. Em Vieira morava o gênio; em
Bernardes, o amor, que, em sendo verdadeiro, é também gênio (...). (A. F.
de Castilho apud Barreto e Laet, 1960:186)
O Sol é muitíssimo maior do que a Terra, e está ainda tão quente que é
como uma enorme bola incandescente, que inunda o espaço em torno
com luz e calor. Nós aqui na Terra não poderíamos passar muito tempo sem
a luz e o calor que nos vêm do Sol, apesar de sabermos produzir aqui mesmo
tanto luz como calor. Realmente podemos acender uma fogueira para
obtermos luz e calor. Mas a madeira que usamos veio de árvores, e as
plantas não podem viver sem luz. Assim, se temos lenha, é porque a luz do
Sol tornou possível o crescimento das florestas.
Toda esta alma de Santo [Antero] morava, para tornar o homem mais
estranhamente cativante, num corpo de Alcides [sobrenome patronímico de
Hércules]. Antero foi na sua mocidade um magnífico varão [tópico frasal
constituído por dois períodos de sentido equivalente]. Airoso e leve
[detalhe], marchava léguas [exemplo geral], em rijas caminhadas [exemplo
específico] que se alongavam até à mata do Bussaco: com a mão seca e
fina, de velha raça [detalhe], levantava pesos [exemplo específico] que me
faziam gemer a mim, ranger todo, só de o contemplar na façanha; jogando o
sabre para se adestrar [exemplo] tinha ímpetos de Roldão [detalhe por
comparação], os amigos rolavam pelas escadas, ante o seu imenso sabre de
pau, como mouros desbaratados: — e em brigas que fossem justas o seu
murro era triunfal [detalhe]. Conservou mesmo até a idade filosófica este
murro fácil: e ainda recordo uma noite na rua do Oiro, em que um homem
carrancudo, barbudo, alto e rústico como um campanário, o pisou,
brutalmente, e passou, em brutal silêncio... O murro de Antero foi tão vivo e
certo, que teve de apanhar o imenso homem do lajeado em que rolara... (Eça
de Queirós, Notas contemporâneas [Simões, 1957:83])
Os fatores históricos influem na literatura pelo simples fato de não existir esta
fora do tempo [tópico frasal cuja ideia-núcleo é uma das especificações
indicadas no parágrafo anterior]. Incorpora-se o passado no presente,
como também o futuro, sob a forma de rememorações, tradições e
aspirações. O artista vive no tempo, e o problema da herança é sempre um
dos primeiros a se apresentar em seu esforço criador. [Seguem-se outros
detalhes e exemplos com que o autor justifica a sua declaração inicial.]
2.7 Definição