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Resumo
A resistividade elétrica é uma característica dos materiais em geral. O
concreto, quando saturado em água, comporta-se como um semicondutor, com
resistividade elétrica da ordem de 10.m, enquanto que seco pode ser
considerado um isolante elétrico com resistividade da ordem de 106 .m. A
importância da resistividade elétrica do concreto reside no fato de que esta
propriedade, juntamente com o acesso de oxigênio, controla o processo
eletroquímico que gera o fenômeno da corrosão das armaduras imersas no
concreto. A resistividade elétrica está relacionada aos principais estágios da
vida útil de uma estrutura (períodos de iniciação e propagação da corrosão das
armaduras) e considera-se existir uma relação entre a resistividade do concreto
e a velocidade de corrosão do aço após a sua despassivação. Alguns fatores,
intrínsecos ou extrínsecos ao concreto, afetam as medidas de resistividade
elétrica, principalmente quando se trata da resistividade elétrica superficial do
material, podendo resultar em falsos valores baixos ou altos, que levam a
interpretações errôneas quanto ao estado de uma estrutura, se em corrosão
ativa ou não do aço. Este trabalho apresenta um estado-da-arte sobre os
principais fatores intervenientes nas medidas de resistividade elétrica
superficial do concreto realizadas com o método dos 4 pontos (Wenner), tais
como: relação a/c, agregados, carbonatação, temperatura, parâmetros
geométricos, e outros.
Introdução
A resistividade elétrica, uma propriedade dos materiais em geral e que
pode ser definida como o inverso da condutividade da corrente elétrica, é uma
propriedade que tem significativa importância na durabilidade das estruturas de
concreto armado. Sua importância encontra-se no fato de que, juntamente com
o acesso de oxigênio, controla o processo eletroquímico que gera o fenômeno
da corrosão das armaduras imersas no concreto. Sendo a corrosão das
armaduras uma das manifestações patológicas mais freqüentemente
observadas nas estruturas de concreto, vem daí a importância em se estudar
• Agregados
O concreto pode ser considerado como um compósito de partículas de
agregado de vários tamanhos imersos em uma pasta de cimento Portland [12].
Segundo Gowers e Millard [4], quando empregada a técnica de Wenner para
monitoração da resistividade elétrica, assume-se que o material monitorado
seja homogêneo. Entretanto, as partículas de agregado do concreto
apresentam, geralmente, uma resistividade elétrica muito mais elevada que a
da pasta de cimento, o que faz com que grande parte da corrente seja
conduzida através da pasta. Assim, a resistividade elétrica do concreto,
segundo Santos [9], é muito mais sensível às alterações das características da
pasta de cimento do que às mudanças no tipo de agregado.
Entretanto, a resistividade elétrica do concreto tende a aumentar com o
aumento da quantidade de agregado utilizado. Segundo Monfore [13 apud 9], a
presença de agregados, partículas praticamente não-condutoras, entre a matriz
de concreto, causa a obstrução da passagem de corrente elétrica, fazendo com
que o comprimento efetivo da trajetória a ser percorrida pela corrente seja
maior do que a dimensão do material na direção da corrente. Assim, quanto
maior for o teor de agregados, maior será o seu efeito de obstrução e maior
será a resistividade.
• Hidrataçao do cimento
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A resistividade aumenta com a idade do concreto, o que significa
progresso na hidratação do cimento.
Com base no exposto por Whitington et al [12], uma vez que a
quantidade de água evaporável em uma pasta de cimento comum varia de
60%, no momento da mistura, a 20% após hidratação completa do cimento, a
condutividade elétrica do concreto, ou ao inverso, sua resistividade, é função
do tempo (ou idade) do concreto. Estudos apresentados por Woelf e Lauer [11]
apresentaram um aumento significativo da resistividade elétrica aos 23 dias
para corpos de prova curados ao ar quando comparados com corpos de prova
submetidos a cura úmida. Esse aumento é devido à evaporação da água livre,
que é condutora de corrente pelo concreto.
• Temperatura
Polder at al [14] afirmam que mudanças de temperatura exercem
alterações importantes na resistividade do concreto. A umidade relativa
constante, uma temperatura elevada provoca a queda da resistividade e vice-
versa. De acordo com os referidos autores, isso é causado por mudanças na
mobilidade iônica na solução dos poros e por mudanças na interação íon-sólido
com a pasta de cimento.
Em seus estudos, Al-Abdul-Hadi [15] verificou a influência da variação
da temperatura em um concreto de relação a/c = 0,5, avaliando o
comportamento da resistividade desse concreto a 20ºC, 40ºC, 60ºC e 80ºC. Foi
verificado que para uma variação de temperatura entre 20ºC e 80ºC a
resistividade do concreto a 80ºC correspondia a cerca de apenas 46% da
resistividade a 20ºC. Para a temperatura de 40ºC, houve uma queda de cerca
de 34% no valor da resistividade em relação ao valor a 20ºC.
De acordo com Polder at al [14], através de uma recomendação técnica
da International Union of Labroratories and Experts in Construction Materials,
Systems and Structures – RILEM, a correção dos dados de resistividade em
função da variação da temperatura é algo complexo. Os próprios autores
apresentam um modelo matemático, baseado na equação de Arrhenius, que
emprega um fator empírico com uma faixa de variação muito elevada (de 1500
a 4500). Tanto a composição do concreto quanto a umidade podem influenciar
a resistividade e sua dependência com a temperatura. De forma simplificada,
os Autores colocam que pode ser assumido que dentro de uma variação de
0ºC a 40ºC, a resistividade dobra quando há uma queda de 20ºC, podendo-se
assumir também que uma variação de 3% a 5% ocorre para cada grau de
temperatura.
• Carbonatação
Segundo Millard [16], a carbonatação gera a precipitação de carbonato
de cálcio pelos poros, o que provoca o endurecimento da superfície do
concreto, havendo um aumento significativo da resistividade elétrica na
superfície.
• Íons Cloreto
O efeito dos íons Cloreto na resistividade elétrica do concreto é algo
contraditório. Alguns autores afirmam ser insignificante a ação dos Cloretos
sobre a resistividade elétrica; outros afirmam ocorrer uma redução significativa
da resistividade elétrica com o aumento do teor desses íons no interior do
concreto.
Segundo Polder et al [14], em uma determinada estrutura existente,
áreas mais permeáveis apresentam uma baixa resistividade e uma elevada
penetração aos íons Cloreto. Para um concreto não carbonatado, o efeito da
penetração dos íons Cloreto na resistividade é relativamente pequeno.
Hunkeler [17] expõe que o pH da solução de Ca(OH)2 diminui com o
aumento do conteúdo de NaCl, havendo a redução também dos conteúdos dos
íons Ca2+ e OH- do concreto. Para uma solução de 2,5 molar de NaCl, ocorre a
redução do pH para cerca de 12. Tendências similares são observadas para
soluções de KOH + NaOH. Desta forma, o aumento da condutividade (ou a
redução da resistividade) com o aumento do conteúdo de íons Cloreto ocorre
simultaneamente à redução da concentração de íons OH- na água contida nos
poros do concreto.
• Teor de umidade
O grau de saturação na rede de poros capilares do concreto varia em
função das condições atmosféricas do ambiente no qual está exposto. As
alterações na umidade relativa e a ocorrência de chuvas podem alterar o
conteúdo de umidade do concreto [18 apud 9]. Considerando que a passagem
de corrente pelo concreto depende do teor de eletrólito contido em seus poros,
alterações no teor de umidade da matriz acarretarão em alterações na
resistividade elétrica do concreto.
A umidade relativa é um parâmetro decisivo para o grau de saturação
dos poros, que por sua vez controla a resistividade elétrica do concreto de
cobertura e desta forma limita a transferência de carga elétrica entre áreas
anódicas e catódicas do aço. Assim, quanto mais saturados estiverem os poros
do concreto, menor será a resistividade elétrica e mais elevada, a princípio, a
velocidade de corrosão [10].
• Adições minerais
• Presença da armadura
A armadura conduz corrente muito melhor do que o concreto e irá
provocar alterações na homogeneidade do fluxo de corrente. Leituras
realizadas sobre as barras resultam em falsas medidas de resistividade
elétrica. Mesmo que apenas um dos quatro eletrodos esteja próximo à barra, o
fluxo de corrente não será ideal, e resultados errôneos poderão ser produzidos.
Neste caso, a leitura resultante poderá ser um falso valor baixo ou alto,
dependendo de qual eletrodo estiver próximo à barra [14].
• Parâmetros geométricos
Gowers e Millard [4] apresentaram um estudo segundo o qual alguns
parâmetros geométricos devem ser tomados como referência para que se
tenha precisão nas leituras efetuadas com os equipamentos para leitura da
resistividade elétrica superficial dos concretos. As dimensões mínimas que os
elementos de concreto deveriam apresentar para que não ocorresse o
fenômeno de fuga de corrente foram investigadas. Na Figura 2 é apresentado o
esquema dos parâmetros geométricos cuja adoção é recomendada por esses
autores.
Discussão
Diversos são os parâmetros que influenciam nas medidas de
resistividade elétrica superficial do concreto, sendo apenas alguns deles
apresentados neste trabalho. Entretanto, o efeito de muitos desses parâmetros
pode ser evitado com medidas simples, que podem ser tomadas tanto em
campo quanto em ambiente de laboratório.
Considerações finais
Os ensaios de resistividade elétrica superficial do concreto são uma
ferramenta bastante útil no controle e monitoração da corrosão das armaduras,
Agradecimentos
Referências
[1] Associação Brasileira de Normas Técnicas: NBR9204:1985 - Concreto
endurecido – Determinação da resistividade elétrica-volumétrica. ABNT, Rio de
Janeiro, (1985).
[2] ASTM International: G57-06 - Standard Test Method for Field Measurement
of Soil Resistivity Using the Wenner Four-Electrode Method. ASTM, West
Conshohocken.
[7] C. Andrade; C. Alonso: Progress on design and residual life calculation with
regard to rebar corrosion of reinforced concrete. In: Techniques to assess the
corrosion activity of steel reinforced concrete structures. ASTM Publication,
West Conshohocken, (1996), p. 23-40.