Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
ISSN: 0104-8740
revistapoliticaspublicasufma@gmail.com
Universidade Federal do Maranhão
Brasil
LATIN AMERICA: the social struggle for the public spaces and affairs at the structural crisis of capitalism
Abstract: This article highlights the historical importance of the new social struggle for public affairs and spaces
in the countries of Latin America. It emphasizes the importance of political struggle and analyses the strategy of
popular movements in Latin America, so that the construction of the public is not only subject of State - in strict
sense, but also of civil societies in the region. The analysis is based on a review of the current situation in Latin
America in which the new progressive governments seem to be taking back a new cult of masses of the State,
the consequence of the success of economic and social policies. The complex criticai understanding of the
capitalist State is an unsolved issue in Latin American societies, and it must be resolved not to give up politics
but to lead politics to be the real space of the constitution of a new historical force which deepens popular
participative democracy and contributes to radically transform the social and political relations.
Key words: Latin America, social movements, progressive governments, social struggle for public affairs,
alternatives.
41
R. PaI. Públ. I Sãa Luis MA I Número Especial I p. 41 54 I Outubro de 2012
Lucia Fernando Oliver Castilla
das capacidades produtivas das sociedades que consolidam a velha diferenciação entre
modernas, embora essa relação tenha gerado grupos de países e mantêm os velhos
uma contínua corrente de contradições condicionamentos do capitalismo central sobre
profundas nascidas no seu interior mesmo, que os capitalismos periféricos: no centro (reduzido),
ao ser superadas parcial e pontualmente pelo um padrão produtivo e de acumulação baseado
próprio desenvolvimento do capitalismo geraram nos circuitos financeiros transnacionalizados e
novas contradições ainda mais profundas: entre nos closters produtivos com alta tecnologia,
riqueza produtiva social e pobreza do trabalho desempregadores do trabalho juvenil e
vivo, valor de troca e valor de uso, trabalho ampliadores do consumismo artificial dos jovens,
abstrato e trabalho concreto, dinheiro e baseado no cartão de crédito e na exportação
mercadoria, capital e trabalho vivo, produção e de tecnologia e capitais; e, na periferia
circulação, domínio autoritário das máquinas e (ampliada), além de relações pós-fordistas e um
potencial criador e libertador do trabalho social, toyotismo parciais nos países grandes (BRICS),
capital fictício e capital produtivo, capacidade volta a prevalecer um padrão de acumulação
cultural, política e científica das sociedades e baseado principalmente numa nova
esbanjamento dessa vitalidade provocado pelos especialização produtiva primaria de despojo e
interesses do lucro (MARX, 1971), até chegar exploração, destrutiva dos recursos naturais não
ao ponto atual, a época da globalização, em que, renováveis, apoiada no agro negocio de
como coloca Mészáros (2008, p.99-100), o exportação, na economia especializada de
capital encontra seus limites absolutos nas enclave agro minera transnacional, baseados
consequências decorrentes das suas relações na sobre exploração do trabalho vivo qualificado
sociais determinadas pela procura do lucro: e na valorização financeira. (OLlVER, 2006;
destruição da natureza e do meio ambiente, o OSORIO, 2007).
desemprego estrutural dos jovens, a diminuição Assim, a nova fase do capitalismo mundial, a
artificial do tempo do valor de uso dos produtos globalização capitalista, tem produzido
mercantis e pela imposição ao mundo do poder contradições novas e ampliadas que aprofundam
autoritário destrutivo da maquinaria militar as anteriores, gerando um novo patamar de crise
industrial. ou de contradições explosivas no período que
A globalização capitalista faz parte de uma Mészáros (2008, p.126) vincula à crise estrutural
nova fase de expansão transnacional das do capital: o capital esbanja energia social para
relações de produção e troca, nas quais o forçar um crescimento global, re-edita as guerras
domínio mundial do capital dinamiza e e potência os intervencionismos bélicos cíclicos
reformula a produção e a acumulação do imperialismo hegemônico global dos Estados
capitalista via novos processos de Unidos (a saída de tropas do Iraque será seguida
concentração e centralização mundiais do do ingresso formiga de tropas na América Latina,
capital e novos processos de trabalho: dai suas particularmente no México?).
características marcantes, aguçadas pelas No contexto da atual crise do capital, o
formas neoliberais: a queda geral das barreiras horizonte das políticas dos governos dos países
alfandegárias, a privatização das empresas periféricos, ainda daqueles com políticas
estatais, a transnacionalização da produção e neodesenvolvimentistas, é acrescentar o
dos mercados, a hipermaquinização e o uso domínio mundial do capital mantendo a
intensivo da ciência e da tecnologia (toyotismo, prioridade das políticas de valorização
nova cooperação complexa), a regionalização multilateral do grande capital, especialmente do
das economias, a precarização o trabalho vivo capital financeiro. Este modelo na América
e a diminuição do potencial criativo do trabalho, Latina se apresenta como aprofundamento de
o domínio mundial de uma financeirização uma crise orgânica dos Estados nacionais. Dai
volátil, que levam à situação de crise estrutural a problemática que se coloca na ordem do dia
do capital. na região depois de um período de
Podemos agregar a tese da crise estrutural decrescimento e de espoliação extrema e
do capital de Mészáros (2011) que a unilateral dos recursos naturais e sociais pelo
globalização não desmancha claramente a capital transnacional (finais do século XX). Os
diferenciação entre países centrais e periféricos, movimentos sociais críticos e os governos
nem diminui definitivamente a dependência dos progressistas reagiram criando novas opções
últimos: pelo contrário, afirma padrões de de crescimento e de políticas sociais. Como
acumulação distintos no centro e na periferia, relacionamos tais opções com os enfoques
43
R. PaI. Públ. I São Luis MA I Número Especial I p. 41 54 I Outubro de 2012
Lucia Fernando Oliver Castilla
estruturais críticos do capital? São uma resposta é uma relação de contradições profundas e
adequada à crise orgânica dos Estados? antagonismos constantes.
A relação de capital é um sistema de Não é bastante para as forças histórico
vínculos sociais universais de exploração e plus políticas capitalistas ter o poder político nas
valorização monetário-industrial sobre o mãos se as contradições da relação de capital
trabalho vivo que subsume vínculos mercantis são gritantes e provocam antagonismos,
de exploração sobre formas produtivas pré- conflitos e lutas que enfraquecem as instituições
capitalistas veiculadas pelo mercado. É um e mediações, e as desestabilizam, ao mesmo
sistema econômico mundial hoje dominante, tempo que educam e organizam a resistência.
criado histórica e politicamente: a abstração A gravidade desses conflitos gerou as grandes
"relações de capital" caracteriza um processo lutas sociais de resistência e ofensiva popular
histórico social em expansão global no qual tem crítica na última década nos países latino-
ido se constituindo determinadas relações americanos e colocou no horizonte a questão
sociais e forças histórico pol íticas em da hegemonia e das alternativas.
correlação e luta. Como já esclareceram tanto a história como
Podemos dizer que essas forças são o os pensadores clássicos da teoria social crítica,
movimento e a personificação das relações a profundidade e o agravamento das
°
sociais de capital na história mundial, nas
diversas histórias nacionais e locais. resultado
da sua relação e luta na qualidade de forças
contradições da relação do capital não levam
de per si à queda do sistema social prevalecente,
nem produzem os mesmos efeitos impactantes
histórico políticas tem incidido naturalizando e de uma crise conjuntural do capital; o que se
legitimando ideológica e politicamente, nas produz é um processo lento e contínuo de
sociedades políticas e civis, essas relações de deterioração da vida social, de destruição da
capital. Portanto, produzindo e legitimando a natureza e de domínio de burocracias estatais
separação entre economia e política. que impõem seu autoritarismo estrutural.
A relação de capital produz, ela mesma, o Concordo com a apreciação de Oliveira de que
Estado capitalista, que nasce como a "a relação de capital não se destrui, se supera".
expressão alienada da capacidade produtiva (FELlCIO, 2009). Alternativas requerem visão
da sociedade (que aparece transfigurada como crítica sensível e teórica dos movimentos sociais;
capacidade só do "capital") e, portanto, gera o são uma construção social e político cultural.
estranhamento do poder político, a sua (GRAMSCI, 2000). Dai que considero que a crise
separação da sociedade, isto é, cria a estrutural do capital não gerará alternativas
possibilidade da sua existência só como espontaneamente no campo popular, em termos
"comunidade política" e da luta entre forças de acrescentar universalmente novas relações
°
político ideológicas ainda que históricas.
(MARX, 1958). Estado político, a legitimidade
das suas suas instituições e a fragmentação
sociais de produção e de solidariedade social não
dominadas pelo capital, nem nos países centrais
nem na periferia. São os posicionamentos
ou coesão social que provoca, são resultado universalizantes de forças político sociais
de um processo de luta de forças nesse marco amadurecidas nessas contradições e nos
de separação histórico política. Assim, conflitos, que contribuem à expansão nas classes
podemos argumentar que as forças políticas populares duma visão crítica e abrem a opção
que personificam a hegemonia baseada no duma altemativa ao sistema do capital. As classes
projeto histórico atual do capital são populares, com as suas capacidades produzem
dominantes e dirigentes no mundo de hoje, ora a legitimação ora a deslegitimação das
entre outras razões, pela 1) expansão do instituições e mediações. (PORTANTIERO,
imperialismo hegemônico global, 2) as 1981). Mas a historia tem mostrado que essa
transformações das relações de trabalho e de expansão da crítica nas massas populares requer
associação dos trabalhadores 3) a queda do organização e um trabalho político constante com
comunismo político do século XX 4) a alienação capacidade de intervenção radical na vida social.
no consumismo e a desilusão das massas de Alternativas são, como bem esclareceu o teórico
trabalhadores sobre as suas próprias político Antônio Gramsci, um produto de
potencialidades e, 5) a fraqueza crítica das processos complexos de formação de novas
forças de esquerda institucional e social. Não vontades coletivas (GRAMSCI, 2000) como foi
obstante, o domínio político das forças do colocado no Caderno 13 dos Cadernos do
capital nunca é total e absoluto, pois o capital Cárcere. Um quesito dessa formação de vontade
44
R. PaI. Públ. I São Luis MA I Número Especial I p. 41 54 I Outubro de 2012
AMÉRICA LATINA: a luta social pelo público na crise estrutural do capital
coletiva alternativa é o impulso espontâneo das constitua como sujeito da política. As velhas
massas, o que não quer dizer a espontaneidade classes operarias e camponesas, produtoras
como política e estratégia, senão ao contrário, fabris e produtoras do campo reduziram número,
exige projetos e políticas de direção consciente função e influência perante as novas classes
e crítica. populares precarizadas, fragmentadas,
Vários autores contemporâneos da América desorganizadas, dêsconscientizadas. Assim, na
Latina e da Europa, entre eles René Zavaleta América Latina a nova situação está determinada
(2009), Ruy Mauro Marini (2007), István pelo fim relativo das economias nacionais, pelas
Mészáros (2008) e Joachim Hirch (2002) têm políticas econômicas transnacionais dos Estados
chamado a atenção de que nas relações ajustadores e pela mudança na situação das
sociais que sustentam os atuais Estados classes da região.
políticos, o capital controla o metabolismo Não obstante, o trabalho vivo produtivo não
social e sustenta estruturalmente o domínio e tem diminuído nem desmanchado, senão, ao
a hegemonia das forças histórico políticas contrário, tem acrescentado seu papel na
capitalistas, o que coloca para as esquerdas produção e na circulação. (ANTUNES, 1995).
atuais da América Latina o problema de Tratase de um trabalho vivo submetido a novas
esclarecer as complexidades do processo- formas produtivas tecnológicas e as cadeias de
sempre em mudança histórico político de distribuição e comercialização das empresas
construção das forças alternativas dentro, mas mundiais. Vinculados ao mundo pela ação da
também na sociedade civil, isto é, fora do mega banca e empresas transnacionais que os
Estado político em senso estrito. Parece contratam, os novos jovens operários do
necessária uma revisão crítica pelas massas processo de produção e circulação sofrem o
populares, da estratégia e tática, do programa peso duma correlação de forças negativa, de
e da política tradicionais, na época atual de um mercado que não satisfaz a partir do
predomínio do capital global, de esvaziamento emprego formal suas necessidades estruturais,
da democracia no Ocidente, de poder da política parcializada dos Estados nacionais
crescente das burocracias e tecnocracias, de empresariais e da ausência dum Estado mundial
aumento do autoritarismo estrutural, e da que regule o sistema do capital.(MÉSZÂROS,
alienação social das maiorias silenciosas pelo 2008).
consumo de massas. A persistência nos países do centro e da
periferia de uma diversidade de Estados
3 OS NOVOS SUJEITOS SOCIAIS DA provoca o isolamento e a separação dos
POlÍTICA trabalhadores de um país a respeito dos
produtores assalariados de outros países e leva
A ofensiva do grande capital monopólico os Estados a desenvolverem políticas de
transnacional no final do século XX gerou o desorganização dos novos trabalhadores, o
enfraquecimento da estrutura industrial da que afirma a desagregação e fragmentação da
América Latina e levou ao fim relativo das grande massa popular. Assim, a mudança
economias nacionais como espaço decisivo das estrutural do mundo do capital tem combinado
sociedades nacionais -o capitalismo é hoje com o enfraquecimento orgânico político da
basicamente transnacional. Dai a queda de classe trabalhadora e incide em dificultar a
hegemonia econômica interna das frações necessária constituição de forças histórico
industriais nacionais do capital e a tendência à políticas com capacidade de impulsionar uma
substituição do domínio e da hegemonia das nova vontade política coletiva nacional popular,
classes políticas internas pelo poder das novas incluso de caráter transnacional.
oligarquias transnacionalizadas. Hoje, nas O problema principal, entretanto, para as
economias da América Latina, predominam o sociedades latino-americanas é ideológico e
capital financeiro transnacional, o capital das político, isto é, não provêm da piora na sua
montadoras transnacionais de exportação, o situação estrutural; o problema é a
capital minero e do agro negócio. Nesse contexto subalternidade; o desmanchamento, na atual
e sob esse padrão primarizado de produção e posmodernidade 1) de uma identidade político
acumulação, a integração econômica e a cultural própria, 2) da queda ideológica dos
estrutura social popular têm mudado e provocado projetos históricos alternativos ao dom ínio do
uma larvada crise orgânica dos Estados que não capital, 3) da ausência de uma política de
encontram uma força própria interna que se autonomia de classe e de hegemonia de
45
R. PaI. Públ. I São Luis MA I Número Especial I p. 41 54 I Outubro de 2012
Lucia Fernando Oliver Castilla
massa popular que absorva os intelectuais relação hierárquica entre governo e sociedades
críticos, oriente a confrontação e consiga civis dispersas, locais, corporativistas e
contribuir à acumulação de uma força histórica clientelismo. O que a crise orgânica expõe é
alternativa, 4) da falta de capacidade, desde um enfraquecimento da hegemonia do grupo
o metabolismo social, desde a sociedade civil social dominante sobre as classes populares,
e desde os novos movimentos sociais um hiper controle da burocracia civil e militar
populares, para influir como opção de direção sobre as organizações civis e os partidos
produtiva, social, política e cultural nas políticos, abandono de recursos produtivos
sociedades modernas da América Latina e nacionais outrora existentes, maior domínio
criar novas opções políticas. Eis algumas das mediático, desorganização das camadas
dificuldades para as grandes massas populares e perda de legitimidade das formas
populares das sociedades latino-americanas de representação parlamentares liberais.
gerarem uma alternativa. O eixo profundo e Dai que a crise orgânica do Estado abre
ainda não resolvido desta problemática é, no espaços para os movimentos sociais lutarem
entanto, a incapacidade de intervir no por políticas radicais. Na América Latina, no final
metabolismo social desde a sociedade civil. do século XX, uma política estatal parcializada
de valorização preferente do capital financeiro
4 A CRISE ORGÂNICA DOS ESTADOS em particular, levou à integração subordinada
dos ganhos da economia e do trabalho nacionais
Nos anos recentes, os Estados periféricos ao capital volátil transnacional e à afirmação dum
da América Latina viveram reiteradas crises padrão de acumulação de especialidade
políticas, que suscitaram a partir das dificuldades produtiva primária neo exportadora, sustentos
de governabilidade das elites, da resistência da atual crise orgânica do Estado. O Estado
popular às contradições e às políticas do capital como expressão da integração econômica,
e, da defesa social das massas perante o política, social e cultural das sociedades latino-
domínio autoritário e depredador do capital no americanas ficou esvaziado e desarticulado.
capitalismo globalizado. Essas crises foram, ao Marx desenvolveu uma noção de Estado como
mesmo tempo, o espaço e o tempo de debates a síntese da sociedade burguesa, como o
e propostas visando criação de alternativas. resultado da articulação entre capital, trabalho
Falamos de uma crise orgânica dos Estados assalariado e renda da terra. (MARX, 1971).
na periferia do sistema capitalista nascida da Pois bem, o Estado latino-americano é hoje essa
desintegração da economia interna e da síntese como expressão do capital mundial que
separação entre objetivos e projetos das subordina as nossas capacidades produtivas,
sociedades políticas e o posicionamento crítico que transforma as classes nacionais em correias
das sociedades civis. Na América Latina se de transmissão das classes transnacionais.
configurou uma situação parecida à Europeia Não estamos pensando que pudesse persistir
de finais do século XIX e inícios do século XX hoje uma oposição entre interesse nacional do
(na qual umas burocracias agressivas capital e interesse internacional, pois todo capital
conduziram às sociedades à Primeira Guerra é hoje capital mundial. Fica constatado que o
Mundial buscando prevalecer na competição novo capitalismo latino-americano é capitalismo
internacional entre capitais e impunham mundo mundial. Mas isso hoje na região gera abandono
dentro e mundo fora a sobreexploração e esbanjamento de recursos produtivos sociais,
desmedida do trabalho, sem que as suas energéticos, culturais e políticos. Nacionaliza o
sociedades civis nem as instituições esbanjamento de recursos. A crise orgânica do
parlamentares - com representação de Estado é justamente a existência de um Estado
operários pudessem controlar ou colocar limites que bloqueia e desperdiça recursos e desintegra
a essas políticas. Isso no inicio do século XX a sociedade e a nação. Nesse sentido a crise
gerou uma crise orgânica do Estado na Europa, orgânica do Estado latino-americano é uma
que, igual que hoje, levou a uma desintegração expressão da crise estrutural do capital. Os
econômica e à separação entre sociedades conflitos atuais entre frações políticas do capital
políticas e sociedades civis). expressam falta de acordos entre elas sobre
Crise orgânica do Estado na América Latina políticas particulares, mas não a busca de outras
(PORTANTIERO, 1981), entretanto, não quer orientações para mudar a situação estrutural.
dizer ausência do Estado, falta de domínio Os movimentos populares, as forças políticas
sobre a sociedade, ou enfraquecimento da de esquerda e os governos progressistas têm o
46
R. PaI. Públ. I São Luis MA I Número Especial I p. 41 54 I Outubro de 2012
AMÉRICA LATINA: a luta social pelo público na crise estrutural do capital
ricano de Defesa, Projetos econômicos e finan- importantes para a história das nossas
ceiros de integração regional, assim como a sociedades), apenas para melhorar a
defesa da democracia institucional perante as subsistência e administrar a crise, no entanto
tentativas golpistas oligárquicas. persistem as condições gerais de subordinação
Em todos os casos, o assunto crucial que dos homens e do trabalho vivo ao domínio do
ainda não foi resolvido é a construção coletiva capital. Quando se pensa em alternativas não
de um novo - ou de novos- sujeito social popular cabe considerar somente o melhoramento
com capacidade contra hegemônica, que social e o crescimento econômico de curto e
direcione um novo bloco social popular de meioprazo e sim a crítica às relações de capital
poder, que promova a construção de um novo e à crise orgânica do Estado.
Estado em processo de desmanchamento e Trata-se da problemática universal de
reforme a sociedade civil, que atue como construir com políticas e mudanças atuais, as
impulsionador e condutor dos processos de forças, as condições e os caminhos para uma
mudança. As formas de constituição desse (s) nova fase histórica de organização social
sujeito (s) estão em experimentação e debate: baseada no domínio dos produtores livremente
centralizadas ou descentralizadas, unificadas associados -do conjunto da sociedadesobre as
ou múltiplas, direcionadas ou moleculares, relações mercantis capitalistas.
apriorísticas ou conclusivas, etc. Considerando os limites e imposições da
Ao lado dos governos reformadores democracia institucional na sociedade moderna
mencionados, durante a última década se se abrem vários problemas. Expondo o fracasso
conformou um bloco de governos autoritários das lutas da socialdemocracia europeia no
da contrarrevolução, integrados por forças século XX, Mészáros (2008, p. 263) propõe não
neoliberais. Trata-se de uma resistência civil e seguir o caminho da política e lutar por constituir
política subcontinental encabeçada por partidos um movimento de massas pelo socialismo fora
de direita que ficou reforçada com a nova da democracia institucionalizada e da política
política de intervenção dos Estados Unidos na formal dos Estados. Para ele o caminho é a
América Latina. Destaca a participação ativa conformação de um movimento socialista de
dos governos atuais do México, da Colômbia, massas fora da política institucional, pela
de Honduras, de Panamá e de Chile em uma transformação do sistema do capital e pela
política para defender a orientação neoliberal instalação paulatina de experiências de poder
na região, desprestigiar o programa do retorno dos produtores livremente associados. É
ao público e ao nacional, e procura deter o importante considerar o argumento sobretudo
avanço das lutas sociais e pol íticas porque, acredito, ignora a existência de uma
progressistas. subalternidade social popular à hegemonia
conservadora na sociedade moderna.
6 EXISTEM ALTERNATIVAS? A QUESTÃO Na nossa América Latina, as importantes
DA HEGEMONIA E DA CONTRA e inusitadas experiências da primeira década
HEGEMONIA do século XXI em quase toda América do Sul,
com protagonismo de movimentos sociais de
Dada a natureza inumana das contradições resistência e ainda com as políticas sociais
atuais e a gravidade dos conflitos estruturais avançadas dos novos governos progressistas,
que gera a crise estrutural do capital, a única não existe um avanço evidente para um novo
Alternativa histórica é a superação das relações comunitarismo que critique prática ou
que sustentam o domínio do capital, e não só teoricamente a persistente relação de capital,
pela superação do capitalismo como aconteceu ainda que tenham se colocado em questão
na experiência comunista do século XX, mas as formas selvagens do neoliberalismo
pela substituição histórica da relação de capital, mundial e imposto limites regionais ao domínio
como esclarece adequadamente Istvan aberto do imperialismo hegemônico global dos
Mészáros (2011). Estados Unidos.
Embora sejam muito importantes as As políticas postas em pauta pelos governos
mudanças atuais na América do Sul, com progressistas estão dirigidas a instalar um novo
melhoramento social, combate à extrema intervencionismo de Estado e uma regulação
desigualdade, políticas sociais de inclusão, política do capitalismo, junto a políticas públicas
crescimento econômico e democracia assistenciais que têm melhorado a vida diária
institucional, trata-se de corretivos (embora, dos trabalhadores, sem enfrentar a crise
48
R. PaI. Públ. I São Luis MA I Número Especial I p. 41 54 I Outubro de 2012
AMÉRICA LATINA: a luta social pelo público na crise estrutural do capital
organlca do Estado. Cabe dizer que as massas pelo socialismo propiciador do poder
mudanças não têm trocado o padrão neocolonial dos trabalhadores livremente associados? E
de submissão periférica à divisão internacional como esse movimento conseguiria o apoio dos
do trabalho, nem são o início de processos de outros componentes sociais, políticos e
conformação da hegemonia de forças culturais das sociedades modernas? Será que
alternativas autônomas. Em alguns países têm como poder local radical dos trabalhadores,
acontecido processos de empoderamento de possível sim em alguns lugares da América
organizações comunitárias dos povos originários Latina -e em construção já em situações
e das organizações de classe dos trabalhadores, focalizadas da Bolívia, Venezuela, Argentina,
com conquista jurídico políticas assentadas em Brasil-, coexistiria pacificamente junto ao poder
políticas públicas ou, em novas constituições social do capital e não seria confrontado pelo
com novos direitos, acompanhadas com novas poder político e até militar dos Estados, e sendo
mediações institucionais sob influência popular. isolado pela sociedade civil subalterna à
Entretanto, nesses processos a crítica à relação direção dos projetos do capital? Não é melhor
de capital e a questão da alternativa estão ainda pensar no desenvolvimento de movimentos
fora da pauta: hoje temos, como produto da sociais que na sua inserção nos espaços e
atividade dos governos progressistas, um tímido assuntos públicos alterem as relações de poder
melhoramento social do capitalismo sob a e mudem a política mostrando a crise de
continuidade do domínio da relação de capital, representação e o anacronismo dos partidos
e uma remoçada da hegemonia capitalista em institu-cionalizados?
sociedades civis atreladas a um novo Desde a esquerda radical é lógico o interesse
consumismo. E nada indica que o trabalho vivo numa experiência possível sem interferência
nessas experiências tenha reorganizado estatal que fosse parte de um caminho real a
autonomamente as relações sociais. uma sociedade alternativa. Mas o objetivo
Mészáros está certo quando critica as radical pela derrocada do sistema social do
políticas reformadoras capitalistas da capital não assegura que o caminho seja
socialdemocracia e projetos similares, como autossustentável. O caminho proposto por
projetos que não questionam a separação da Mészáros é uma luta social e econômica fora
política e dos políticos da sociedade e, no do Estado, uma luta em expansão gradual na
passado serviram para legitimar a relação de sociedade que fortaleça um pensamento crítico
capital, sobretudo nos períodos de crise parcial e as experiências cooperativas de solidariedade.
do capitalismo: reforçaram uma democracia Pois bem, isso não parece possível de
separada da sociedade e legitimadora da conformar fora das relações de poder e da
hierarquia e do domínio do capital no atividade política na sociedade moderna.
metabolismo social. Parece-me que um movimento alternativo
A concepção de Mészáros (2008, p. 254) de radical de massas é um projeto político de poder
que a alternativa tem que surgir já na própria vida que incide diretamente nas relações de poder e
social do capitalismo pela imposição de formas na política.
de produção e de poder dos trabalhadores A crise da democracia institucional, dos
livremente associados sustenta que as espaços políticos e da política já é uma realidade
conquistas políticas não ajudam, pois o real no mundo contemporâneo, fato evidente na
problema é o metabolismo social criado pelo segunda década do século XXI; assim como é
sistema do capital e esse metabolismo está num uma realidade a estatização dos partidos
outro plano, diferente das relações políticas do políticos e seu distanciamento da sociedade e
Estado ou, das relações de democracia política, seus problemas. (HIRSCH, 2002). O recente
formas políticas cuja função segundo ele, é movimento espanhol dos indignados é uma
somente assegurar a coesão social, separando expressão clara do fato de que a democracia
a política da economia e a democracia do burocratizada da União Europeia não permite
metabolismo social dominado pelo capital. ainda a "democracia real do povo", isto é, nas
A pergunta que fica no ar para o pensamento instituições atuais do Estados da União Europeia
crítico é a seguinte: considerando que o Estado não existe lugar para políticas próprias e
é o somatório de sociedade política com autônomas da própria sociedade fora dos
sociedade civil -Gramsci-, como e porque marcos definidos pelo capital financeiro global
surgiria assim, fora do Estado, pela vontade e ratificados pela União Europeia. Na situação
de revolucionários radicais, um movimento de mundial atual, de extremo agravamento das
49
R. PaI. Públ. I São Luis MA I Número Especial I p. 41 54 I Outubro de 2012
Lucia Fernando Oliver Castilla
Pode essa luta ser encaminhada a constituir compartimentos faz parte da luta por transformar
uma força histórico política nova contra o criticamente a sociedade. Mészáros associa
domínio do capital e pela alternativa radical? A corretamente a luta contra o domínio do capital
questão não é somente construir uma cidadania com a luta contra a múltipla separação da vida
para a democracia participativa, senão ampliar histórica social. A civilização moderna, sob o
o sentido da disputa para colocar em pauta "o influxo do domínio do capital, foi criando e
público" como referencia e conteúdo da política, impondo a separação da sociedade em múltiplos
como espaço de construção social da política, espaços e compartimentos que hoje fazem parte
que deve ser decidido pela sociedade. da normalidade da vida, mas cria numerosas
A experiência da América do Sul mostra que dificuldades para cristalizar um movimento social
o público não é somente um espaço defensivo; de massas anticapitalista com visão de
é um objetivo e um processo que enquanto totalidade, crítico da relação orgânica do capital,
altera as relações de força na política encontra- na medida em que se dificulta a construção da
se dentro do Estado e, enquanto faz parte dum consciência e a ação social autônoma das
projeto próprio e autônomo, está fora. Assim, é massas sobre a sociedade como um todo. A
possível entender melhor a luta pelo público ideologia dominante separa política e economia,
como parte de um movimento social de massas poder e sociedade. Estamos sublinhando a
por uma sociedade alternativa, como um fragmentação de indivíduos e sociedades, a
processo interno e externo ao Estado. separação entre cidadania e sociedade, entre
Hoje o processo de disputa pela democracia lutas parciais e totalidade. Sem superar essa
e pelo público pode ser também de disputa pela separação não existe a possibilidade de
participação decisória da sociedade nos estabelecer uma relação afirmativa entre ação
assuntos do Estado, e ao mesmo tempo, um imediata e ação histórica das massas, formadas
processo pela organização autônoma dos por indivíduos, classes e grandes grupos sociais.
trabalhadores com consciência política e Não da para ignorar o peso da hegemonia
ideológica. Assim, o público aparece como a ideológica do capital nas sociedades atuais,
chave para o processo de construção de uma ideologia que se baséia na fragmentação da
contra hegemonia. sociedade. Uma separação transcendental, por
Na América do Sul, no entanto, a abertura exemplo, é a que existe entre vida sensível, ação
democrática propiciada pelos governos prática e pensamento teórico, com a consequência
progressistas e pelas lutas sociais e cidadãs está de existir uma ideologia dominante que separa
abrindo mais claramente as possibilidades da tais expressões da vida social. Junto a essa
ampliação da política. separação está o distanciamento entre economia,
Só que, como argumenta Francisco de política e cultura, entre mundialização e localidade
Oliveira, para que a ampliação da política seja e, mais amplamente, entre Estado, sociedade civil
real tem que existir uma grande massa popular e comunitarismo.
que lute por direitos e pela autonomia, e não Tem sentido a ideia de que para se desenvolver
faça parte duma legitimação por consensos um movimento de massas crítico da relação social
apolíticos dos novos governos progressistas que do capital, no processo de resistência e ofensiva
passam pela cooptação dos pobres. (OLIVEIRA, espontânea das massas contra o domínio
2009). neoliberal, se precisa unir no processo os
movimentos sociais e as formações políticas
9 CONCLUSÃO críticas; programa e movimento; democracia e
transformação anticapitalista; ação política e lutas
A riqueza da experiência latino-americana sociais, política e estratégia? Assim, o problema
permite acreditar que democracia participativa e de fundo é criar condições para que os movimentos
apropriação crescente do público pela sociedade sociais lutem contra a separação institucionalizada
são caminhos para a construção de uma força entre o político e o social, entre programa alternativo
histórico política alternativa. Para isso é preciso, e política de aprofundamento democrático partici-
não obstante, debater sobre a relação entre pativo, entre ação política e organização social.
estratégia e tática, atividade de minorias e de Cabe argumentar que lutar pela alternativa num
maiorias, pensamento crítico radical e movimento processo político radical faz parte da luta por
social de massas. incorporar às massas de trabalhadores à luta social
Superar a atual separação dos indivíduos e e política, e faz parte de estabelecer a unidade da
da sociedade em múltiplos espaços e variegada luta social pelas alternativas e a luta
52
R. PaI. Públ. I São Luis MA I Número Especial I p. 41 54 I Outubro de 2012
AMÉRICA LATINA: a luta social pelo público na crise estrutural do capital
política de múltiplos atores perante a crise orgânica, HIRSCH, Joachim. EI Estado nacional de
anda mais nos nossos dias. O grande problema da competencia. México: Ed. UAM Xochimilco, 2002.
luta alternativa radical é desafiar pratica e MARINI, Ruy Mauro. América Latina, dependencia
teoricamente o controle das instituições e das y globalización: antología. Colombia: Ed. CLACSO-EI
mediações sobre a política - transformar o político- Siglo dei Hombre, 2007.
, controle que se origina na separação entre a vida
MARX, Carlos. Grundrisse: elementosfundamentales
política e os outros âmbitos do social. de la crítica de la Economía Política. México: Ed. Siglo
Nas crises políticas e nas crises nacionais XXI,1971.
gerais, as sociedades tendem claramente a
quebrar a separação: as massas que lutam nas ",-...,-,_" La ideologia alemana. Uruguay: Ediciones
Pueblos Unidos, 1958.
ruas intervêm diretamente na política, debatem e
transformam as ideologias petrificadas e criam MÉSZÀROS, István. Crise estrutural necessita de
novas formas produtivas sociais. Aí as forças mudança estrutural. In: ENCONTRO DE SÃO
históricas atuam politicamente e mostram a sua LÁZARO, 2., 2011, Salvador. Conferência de
abertura. Salvador: UFBAI Instituto de Psicologia, 13
fisionomia, como Gramsci deixou claro nas teses jun. 2011. Mimeo.
de Lyon. (GRAMSCI, 1926). Enquanto aparecem
no horizonte novas crises que alteram o normal -,-_-;-" EI desafio y la carga dei tiempo histórico:
das sociedades, o importante é a preparação el socialismo en el siglo XXI. Buenos Aires: Ed.
CLACSO, 2008.
política expressa na conquista de posições nos
múltiplos espaços vitais (transformando- os), da O'DONNELL, Guillermo. Revisando la democracia
vida social: sindicatos, partidos políticos, escolas, delegativa. Información Estratégica, 27 marzo 201 O.
burocracias, etc., conquista que não é um fim em Disponible en:<http://informacionestrategica.wordpr
ess.com/aboutJ>. Acceso en: 27 maio 2011.
si mesmo, senão um elemento de transformação
ideológica política, de reforma intelectual e moral,
e um componente da futura luta das massas. O
°
OLIVEIRA, Francisco de. avesso do avesso. Revista
Piaui, São Paulo, n.37, ocl. 2009.
problema não é uma separação artificial entre luta
OLlVER COSTILLA, Lucio F. EI Estado nación en el
pacífica e luta violenta. A possibilidade de optar
desarrollo económico. In: CALVA, José Luis (Coord.).
entre uma ou outra não existe, pois é a realidade Globalización y bloques económicos: mitos y
histórica política que coloca as condições da luta. realidades. México: UNAM-Ed, 2006. p. 303-320.
O que é importante é a transformação da ideologia
=-c~-' Revisitando ai Estado: las especificidades dei
e da política na vida das massas, o que unirá,
Estado en América Latina. In: OLlVER COSTILLA,
caso de concretizar-se num movimento social, o Lucio; CASTRO, Teresa. (Coords.). Poder y política
programa e a política, o político e o social, a en América Latina. México: Ed. Siglo XXI-UNAM,
economia e a política, o imediato e o histórico. 2005. p. 50-86.
REFERÊNCIAS
==:c" EI Estado ampliado en Brasil y México.
México: Ed. UNAM, 2009.
ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho: ensaio sobre OSORIO, Jaime. Entre la explotación redoblada y la
as metamorfoses e a central idade do mundo do actualidad de la revolución: América Latina hoy.
trabalho. São Paulo: Cortez Editora, 1995. Revista Argumentos, México, v. 20, n. 54, p.11-34,
mayo/ag. 2007.
DAGNINO, Evelina; OLVERAAlberto; PANFICHI,Aldo.
Introducción. In: . La disputa por la
PORTANTIERO, Juan Carlos. Los usos de Gramsci.
construcción democrática en América Latina. México: Folios Eds, 1981.
México: Ed. Fondo de Cultura Econômica, 2006. p.
15-102. ZAVALETA, René. La autodeterminación de las
masas: antología. Colombia: Ed. CLACSO-EI Siglo dei
FELicIO, César. Cientista político eleitor de Lula diz Hombre, 2009.
que a disputa de 2010 será esvaziada de política e
regionalista: consenso despolitiza sociedade e coloca Lucio Fernando Oliver Costilla
Lula à direita de FHC. Jornal Valor Econômico, Belo Dlipomata
Horizonte, São Paulo, 27 maio 2009. Entrevista a Doutor em Sociologia pela Universidad Nacional
Francisco de Oliveira. Autónoma de México
Professor Titular da Universidad Nacional
GRAMSCI, Antonio. Cadernos do cárcere. Rio de Autônoma do México (UNAM)
Janeiro: Ed. Civilização brasileira, 2000. 5 v. E-mai!: oliverbar@hotmail.com
....-;:;=:cc. Teses de Lyon. México: Cuadernos Pasado Universidad Nacional Autônoma do México - UNAM
y Presente, 1926. Av Universidad, n. 3000 Coyoacan - Distrito Federal
CP: 04510
53
R. PaI. Públ. I São Luis MA I Número Especial I p. 41 54 I Outubro de 2012