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Revista de Políticas Públicas

ISSN: 0104-8740
revistapoliticaspublicasufma@gmail.com
Universidade Federal do Maranhão
Brasil

Oliver Costilla, Lucio Fernando


AMÉRICA LATINA: a luta social pelo público na crise estrutural do capital
Revista de Políticas Públicas, octubre, 2012, pp. 41-53
Universidade Federal do Maranhão
São Luís, Maranhão, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=321131651004

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AMÉRICA LATINA: a luta social pelo público na crise estrutural do capital

Lucia Fernando Oliver Costilla


Universidad Nacional Autônoma do México (UNAM)

AMÉRICA LATINA: a luta social pelo público na crise estrutural do capital


Resumo: O escrito sublinha a importância histórica da nova luta social pelo público nos países da América
Latina. Enfatiza a importância da luta política e da estratégia dos movimentos populares da América Latina
para que a construção do público não seja só assunto do Estado -em sentido estrito-, senão também das
sociedades civis da região. A analise baseia-se numa revisão da situação atual da América Latina em que com
os novos governos progressistas parece estar resurgindo um novo culto de massas ao Estado, a consequência
do êxito das políticas econômicas e sociais. A compreensão crítica complexa do Estado capitalista é um assunto
pendente das sociedades latino-americanas, e precisam resolve-lo não para abdicar da política mas para que
a política seja o espaço real da constituição de uma nova força histórica popular que aprofunde a democracia
participativa e contribuía para transformar radicalmente as relações sociais e políticas.
Palabras·chave: América Latina, movimentos sociais, governos progressistas, luta social pelo público,
alternativas.

LATIN AMERICA: the social struggle for the public spaces and affairs at the structural crisis of capitalism
Abstract: This article highlights the historical importance of the new social struggle for public affairs and spaces
in the countries of Latin America. It emphasizes the importance of political struggle and analyses the strategy of
popular movements in Latin America, so that the construction of the public is not only subject of State - in strict
sense, but also of civil societies in the region. The analysis is based on a review of the current situation in Latin
America in which the new progressive governments seem to be taking back a new cult of masses of the State,
the consequence of the success of economic and social policies. The complex criticai understanding of the
capitalist State is an unsolved issue in Latin American societies, and it must be resolved not to give up politics
but to lead politics to be the real space of the constitution of a new historical force which deepens popular
participative democracy and contributes to radically transform the social and political relations.
Key words: Latin America, social movements, progressive governments, social struggle for public affairs,
alternatives.

Recebido em: 23.01.2010. Aprovado em: 16.06.2011.

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R. PaI. Públ. I Sãa Luis MA I Número Especial I p. 41 54 I Outubro de 2012
Lucia Fernando Oliver Castilla

1 INTRODUÇÃO superficiais dos governos capitalistas para


superá-Ias são a incubação de crises mais
Neste escrito apresento uma abordagem graves que seguirão se apresentando.
teórica sobre a relação entre a atual crise A relação de capital, como relação social
estrutural do capital, a crise orgânica do Estado orgânica abarcadora, domina o mundo todo há
periférico latinoamericano e as lutas dos mais de um século: "o capital é a potência
movimentos sociais da região na primeira econômica que o domina todo, na sociedade
década do século. O escrito sublinha a moderna". (MARX, 1971, p.28). Desde o ano
importância histórica da nova luta social pelo em que Marx escreveu essa conclusão nos
público nos países da América Latina e, famosos "Grundrisse", até hoje, esse domínio
enfatiza a importância da luta política e da do capital tem-se acrescentado sem cessar a
estratégia dos movimentos populares da despeito da existência de grandes eventos
América Latina para que a construção do mundiais que alertaram ao mundo sobre seus
público - o projeto nacional, o espaço dos efeitos: crises, guerras e instabilidade resultante
assuntos coletivos da sociedadenão seja só de ditaduras e fluxos de luta política de massas
assunto do Estado em sentido estrito, senão tanto nos países centrais como nos periféricos.
também das sociedades civis da região. Isto O capitalismo histórico das nossas sociedades
me parece particularmente importante numa latino-americanas é forma dessa relação social
revisão da situação atual da América Latina em moderna, concreção histórica que implica
que com os novos governos progressistas estímulos, limitações e obstáculos para o
parece estar ressurgindo um novo culto de desenvolvimento social libre e igualitário das
massas ao Estado, a consequência do êxito sociedades e dos indivíduos. As múltiplas e
das políticas econômicas e sociais. Parece-nos diversas contradições e conflitos decorrentes
fundamental lembrar que a compreensão crítica dessa relação social são cada vez mais amplas
complexa do Estado capitalista é um assunto e explosivas tanto nos países centrais como nos
pendente das sociedades latinoamericanas, e países periféricos. Acrescentam o autoritarismo
precisam resolvê-lo não para abdicar da política econômico-social dos regimes políticos atuais
mas para que a política seja o espaço real da e geram continuamente a ação política
constituição de uma nova força histórica contestadora das massas populares.
popular que profunde a democracia O autor húngaro-inglês Istvan Mészáros tem
participativa e contribuia para transformar importantes contribuições recentes para
radicalmente as relações sociais e políticas. caracterizar teoricamente a crise estrutural do
Como toda análise teórica, às vezes o nível de sistema (das relações sociais) de capital e para
abstração é alto e parece distante da realidade desvendar o poder personificado do
quotidiana, embora esteja mais próxima de autoritarismo do capital da potência hegemônica
conhecer as múltiplas determinações da mundial, os Estados Unidos, conceituando-lhe
realidade, que muitas apreciações baseadas com a noção de "imperialismo hegemônico
no senso comum. global". Estes dois aspectos são um bom ponto
de partida para discutir a situação atual de crise
2 CONSIDERAÇÕES RECENTES SOBRE A e as alternativas.
ATUAL CRISE DO CAPITAL Segundo Mészáros (2008), a crise estrutural
do capital é um produto gritante do agravamento
As periódicas e cada vez mais proxlmas atual das sucessivas contradições que tem
crises financeiras e de pagamentos nos países acompanhado o desenvolvimento histórico das
periféricos (nos últimos anos (2008, 2011), relações sociais capitalistas, isto é, sua
também nos países centrais (EUA, União existência é conatural ao amadurecimento da
Europeia)), são decorrentes de uma crise mais própria relação de produção mercantil capitalista
profunda das relações sociais de produção e e do domínio do capital sobre todas as formas
troca que abarcam o mundo todo. Por isso produtivas e sociais não capitalistas.
mesmo, não será com ajustes monetaristas e Falando da importância histórica das relações
com empréstimos externos que as contradições sociais de capital, não é um segredo que elas
que expressam serão resolvidas. Tampouco geraram um grande impulso histórico para a
serão evitadas só com políticas para fomentar criação dos indivíduos universais modernos,
o crescimento do produto interno bruto. As decorrente da contínua expansão periódica do
sa ídas pol íticas baseadas em reformas comércio e da produção, da expansão irrefreável
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das capacidades produtivas das sociedades que consolidam a velha diferenciação entre
modernas, embora essa relação tenha gerado grupos de países e mantêm os velhos
uma contínua corrente de contradições condicionamentos do capitalismo central sobre
profundas nascidas no seu interior mesmo, que os capitalismos periféricos: no centro (reduzido),
ao ser superadas parcial e pontualmente pelo um padrão produtivo e de acumulação baseado
próprio desenvolvimento do capitalismo geraram nos circuitos financeiros transnacionalizados e
novas contradições ainda mais profundas: entre nos closters produtivos com alta tecnologia,
riqueza produtiva social e pobreza do trabalho desempregadores do trabalho juvenil e
vivo, valor de troca e valor de uso, trabalho ampliadores do consumismo artificial dos jovens,
abstrato e trabalho concreto, dinheiro e baseado no cartão de crédito e na exportação
mercadoria, capital e trabalho vivo, produção e de tecnologia e capitais; e, na periferia
circulação, domínio autoritário das máquinas e (ampliada), além de relações pós-fordistas e um
potencial criador e libertador do trabalho social, toyotismo parciais nos países grandes (BRICS),
capital fictício e capital produtivo, capacidade volta a prevalecer um padrão de acumulação
cultural, política e científica das sociedades e baseado principalmente numa nova
esbanjamento dessa vitalidade provocado pelos especialização produtiva primaria de despojo e
interesses do lucro (MARX, 1971), até chegar exploração, destrutiva dos recursos naturais não
ao ponto atual, a época da globalização, em que, renováveis, apoiada no agro negocio de
como coloca Mészáros (2008, p.99-100), o exportação, na economia especializada de
capital encontra seus limites absolutos nas enclave agro minera transnacional, baseados
consequências decorrentes das suas relações na sobre exploração do trabalho vivo qualificado
sociais determinadas pela procura do lucro: e na valorização financeira. (OLlVER, 2006;
destruição da natureza e do meio ambiente, o OSORIO, 2007).
desemprego estrutural dos jovens, a diminuição Assim, a nova fase do capitalismo mundial, a
artificial do tempo do valor de uso dos produtos globalização capitalista, tem produzido
mercantis e pela imposição ao mundo do poder contradições novas e ampliadas que aprofundam
autoritário destrutivo da maquinaria militar as anteriores, gerando um novo patamar de crise
industrial. ou de contradições explosivas no período que
A globalização capitalista faz parte de uma Mészáros (2008, p.126) vincula à crise estrutural
nova fase de expansão transnacional das do capital: o capital esbanja energia social para
relações de produção e troca, nas quais o forçar um crescimento global, re-edita as guerras
domínio mundial do capital dinamiza e e potência os intervencionismos bélicos cíclicos
reformula a produção e a acumulação do imperialismo hegemônico global dos Estados
capitalista via novos processos de Unidos (a saída de tropas do Iraque será seguida
concentração e centralização mundiais do do ingresso formiga de tropas na América Latina,
capital e novos processos de trabalho: dai suas particularmente no México?).
características marcantes, aguçadas pelas No contexto da atual crise do capital, o
formas neoliberais: a queda geral das barreiras horizonte das políticas dos governos dos países
alfandegárias, a privatização das empresas periféricos, ainda daqueles com políticas
estatais, a transnacionalização da produção e neodesenvolvimentistas, é acrescentar o
dos mercados, a hipermaquinização e o uso domínio mundial do capital mantendo a
intensivo da ciência e da tecnologia (toyotismo, prioridade das políticas de valorização
nova cooperação complexa), a regionalização multilateral do grande capital, especialmente do
das economias, a precarização o trabalho vivo capital financeiro. Este modelo na América
e a diminuição do potencial criativo do trabalho, Latina se apresenta como aprofundamento de
o domínio mundial de uma financeirização uma crise orgânica dos Estados nacionais. Dai
volátil, que levam à situação de crise estrutural a problemática que se coloca na ordem do dia
do capital. na região depois de um período de
Podemos agregar a tese da crise estrutural decrescimento e de espoliação extrema e
do capital de Mészáros (2011) que a unilateral dos recursos naturais e sociais pelo
globalização não desmancha claramente a capital transnacional (finais do século XX). Os
diferenciação entre países centrais e periféricos, movimentos sociais críticos e os governos
nem diminui definitivamente a dependência dos progressistas reagiram criando novas opções
últimos: pelo contrário, afirma padrões de de crescimento e de políticas sociais. Como
acumulação distintos no centro e na periferia, relacionamos tais opções com os enfoques
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estruturais críticos do capital? São uma resposta é uma relação de contradições profundas e
adequada à crise orgânica dos Estados? antagonismos constantes.
A relação de capital é um sistema de Não é bastante para as forças histórico
vínculos sociais universais de exploração e plus políticas capitalistas ter o poder político nas
valorização monetário-industrial sobre o mãos se as contradições da relação de capital
trabalho vivo que subsume vínculos mercantis são gritantes e provocam antagonismos,
de exploração sobre formas produtivas pré- conflitos e lutas que enfraquecem as instituições
capitalistas veiculadas pelo mercado. É um e mediações, e as desestabilizam, ao mesmo
sistema econômico mundial hoje dominante, tempo que educam e organizam a resistência.
criado histórica e politicamente: a abstração A gravidade desses conflitos gerou as grandes
"relações de capital" caracteriza um processo lutas sociais de resistência e ofensiva popular
histórico social em expansão global no qual tem crítica na última década nos países latino-
ido se constituindo determinadas relações americanos e colocou no horizonte a questão
sociais e forças histórico pol íticas em da hegemonia e das alternativas.
correlação e luta. Como já esclareceram tanto a história como
Podemos dizer que essas forças são o os pensadores clássicos da teoria social crítica,
movimento e a personificação das relações a profundidade e o agravamento das

°
sociais de capital na história mundial, nas
diversas histórias nacionais e locais. resultado
da sua relação e luta na qualidade de forças
contradições da relação do capital não levam
de per si à queda do sistema social prevalecente,
nem produzem os mesmos efeitos impactantes
histórico políticas tem incidido naturalizando e de uma crise conjuntural do capital; o que se
legitimando ideológica e politicamente, nas produz é um processo lento e contínuo de
sociedades políticas e civis, essas relações de deterioração da vida social, de destruição da
capital. Portanto, produzindo e legitimando a natureza e de domínio de burocracias estatais
separação entre economia e política. que impõem seu autoritarismo estrutural.
A relação de capital produz, ela mesma, o Concordo com a apreciação de Oliveira de que
Estado capitalista, que nasce como a "a relação de capital não se destrui, se supera".
expressão alienada da capacidade produtiva (FELlCIO, 2009). Alternativas requerem visão
da sociedade (que aparece transfigurada como crítica sensível e teórica dos movimentos sociais;
capacidade só do "capital") e, portanto, gera o são uma construção social e político cultural.
estranhamento do poder político, a sua (GRAMSCI, 2000). Dai que considero que a crise
separação da sociedade, isto é, cria a estrutural do capital não gerará alternativas
possibilidade da sua existência só como espontaneamente no campo popular, em termos
"comunidade política" e da luta entre forças de acrescentar universalmente novas relações

°
político ideológicas ainda que históricas.
(MARX, 1958). Estado político, a legitimidade
das suas suas instituições e a fragmentação
sociais de produção e de solidariedade social não
dominadas pelo capital, nem nos países centrais
nem na periferia. São os posicionamentos
ou coesão social que provoca, são resultado universalizantes de forças político sociais
de um processo de luta de forças nesse marco amadurecidas nessas contradições e nos
de separação histórico política. Assim, conflitos, que contribuem à expansão nas classes
podemos argumentar que as forças políticas populares duma visão crítica e abrem a opção
que personificam a hegemonia baseada no duma altemativa ao sistema do capital. As classes
projeto histórico atual do capital são populares, com as suas capacidades produzem
dominantes e dirigentes no mundo de hoje, ora a legitimação ora a deslegitimação das
entre outras razões, pela 1) expansão do instituições e mediações. (PORTANTIERO,
imperialismo hegemônico global, 2) as 1981). Mas a historia tem mostrado que essa
transformações das relações de trabalho e de expansão da crítica nas massas populares requer
associação dos trabalhadores 3) a queda do organização e um trabalho político constante com
comunismo político do século XX 4) a alienação capacidade de intervenção radical na vida social.
no consumismo e a desilusão das massas de Alternativas são, como bem esclareceu o teórico
trabalhadores sobre as suas próprias político Antônio Gramsci, um produto de
potencialidades e, 5) a fraqueza crítica das processos complexos de formação de novas
forças de esquerda institucional e social. Não vontades coletivas (GRAMSCI, 2000) como foi
obstante, o domínio político das forças do colocado no Caderno 13 dos Cadernos do
capital nunca é total e absoluto, pois o capital Cárcere. Um quesito dessa formação de vontade
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coletiva alternativa é o impulso espontâneo das constitua como sujeito da política. As velhas
massas, o que não quer dizer a espontaneidade classes operarias e camponesas, produtoras
como política e estratégia, senão ao contrário, fabris e produtoras do campo reduziram número,
exige projetos e políticas de direção consciente função e influência perante as novas classes
e crítica. populares precarizadas, fragmentadas,
Vários autores contemporâneos da América desorganizadas, dêsconscientizadas. Assim, na
Latina e da Europa, entre eles René Zavaleta América Latina a nova situação está determinada
(2009), Ruy Mauro Marini (2007), István pelo fim relativo das economias nacionais, pelas
Mészáros (2008) e Joachim Hirch (2002) têm políticas econômicas transnacionais dos Estados
chamado a atenção de que nas relações ajustadores e pela mudança na situação das
sociais que sustentam os atuais Estados classes da região.
políticos, o capital controla o metabolismo Não obstante, o trabalho vivo produtivo não
social e sustenta estruturalmente o domínio e tem diminuído nem desmanchado, senão, ao
a hegemonia das forças histórico políticas contrário, tem acrescentado seu papel na
capitalistas, o que coloca para as esquerdas produção e na circulação. (ANTUNES, 1995).
atuais da América Latina o problema de Tratase de um trabalho vivo submetido a novas
esclarecer as complexidades do processo- formas produtivas tecnológicas e as cadeias de
sempre em mudança histórico político de distribuição e comercialização das empresas
construção das forças alternativas dentro, mas mundiais. Vinculados ao mundo pela ação da
também na sociedade civil, isto é, fora do mega banca e empresas transnacionais que os
Estado político em senso estrito. Parece contratam, os novos jovens operários do
necessária uma revisão crítica pelas massas processo de produção e circulação sofrem o
populares, da estratégia e tática, do programa peso duma correlação de forças negativa, de
e da política tradicionais, na época atual de um mercado que não satisfaz a partir do
predomínio do capital global, de esvaziamento emprego formal suas necessidades estruturais,
da democracia no Ocidente, de poder da política parcializada dos Estados nacionais
crescente das burocracias e tecnocracias, de empresariais e da ausência dum Estado mundial
aumento do autoritarismo estrutural, e da que regule o sistema do capital.(MÉSZÂROS,
alienação social das maiorias silenciosas pelo 2008).
consumo de massas. A persistência nos países do centro e da
periferia de uma diversidade de Estados
3 OS NOVOS SUJEITOS SOCIAIS DA provoca o isolamento e a separação dos
POlÍTICA trabalhadores de um país a respeito dos
produtores assalariados de outros países e leva
A ofensiva do grande capital monopólico os Estados a desenvolverem políticas de
transnacional no final do século XX gerou o desorganização dos novos trabalhadores, o
enfraquecimento da estrutura industrial da que afirma a desagregação e fragmentação da
América Latina e levou ao fim relativo das grande massa popular. Assim, a mudança
economias nacionais como espaço decisivo das estrutural do mundo do capital tem combinado
sociedades nacionais -o capitalismo é hoje com o enfraquecimento orgânico político da
basicamente transnacional. Dai a queda de classe trabalhadora e incide em dificultar a
hegemonia econômica interna das frações necessária constituição de forças histórico
industriais nacionais do capital e a tendência à políticas com capacidade de impulsionar uma
substituição do domínio e da hegemonia das nova vontade política coletiva nacional popular,
classes políticas internas pelo poder das novas incluso de caráter transnacional.
oligarquias transnacionalizadas. Hoje, nas O problema principal, entretanto, para as
economias da América Latina, predominam o sociedades latino-americanas é ideológico e
capital financeiro transnacional, o capital das político, isto é, não provêm da piora na sua
montadoras transnacionais de exportação, o situação estrutural; o problema é a
capital minero e do agro negócio. Nesse contexto subalternidade; o desmanchamento, na atual
e sob esse padrão primarizado de produção e posmodernidade 1) de uma identidade político
acumulação, a integração econômica e a cultural própria, 2) da queda ideológica dos
estrutura social popular têm mudado e provocado projetos históricos alternativos ao dom ínio do
uma larvada crise orgânica dos Estados que não capital, 3) da ausência de uma política de
encontram uma força própria interna que se autonomia de classe e de hegemonia de
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massa popular que absorva os intelectuais relação hierárquica entre governo e sociedades
críticos, oriente a confrontação e consiga civis dispersas, locais, corporativistas e
contribuir à acumulação de uma força histórica clientelismo. O que a crise orgânica expõe é
alternativa, 4) da falta de capacidade, desde um enfraquecimento da hegemonia do grupo
o metabolismo social, desde a sociedade civil social dominante sobre as classes populares,
e desde os novos movimentos sociais um hiper controle da burocracia civil e militar
populares, para influir como opção de direção sobre as organizações civis e os partidos
produtiva, social, política e cultural nas políticos, abandono de recursos produtivos
sociedades modernas da América Latina e nacionais outrora existentes, maior domínio
criar novas opções políticas. Eis algumas das mediático, desorganização das camadas
dificuldades para as grandes massas populares e perda de legitimidade das formas
populares das sociedades latino-americanas de representação parlamentares liberais.
gerarem uma alternativa. O eixo profundo e Dai que a crise orgânica do Estado abre
ainda não resolvido desta problemática é, no espaços para os movimentos sociais lutarem
entanto, a incapacidade de intervir no por políticas radicais. Na América Latina, no final
metabolismo social desde a sociedade civil. do século XX, uma política estatal parcializada
de valorização preferente do capital financeiro
4 A CRISE ORGÂNICA DOS ESTADOS em particular, levou à integração subordinada
dos ganhos da economia e do trabalho nacionais
Nos anos recentes, os Estados periféricos ao capital volátil transnacional e à afirmação dum
da América Latina viveram reiteradas crises padrão de acumulação de especialidade
políticas, que suscitaram a partir das dificuldades produtiva primária neo exportadora, sustentos
de governabilidade das elites, da resistência da atual crise orgânica do Estado. O Estado
popular às contradições e às políticas do capital como expressão da integração econômica,
e, da defesa social das massas perante o política, social e cultural das sociedades latino-
domínio autoritário e depredador do capital no americanas ficou esvaziado e desarticulado.
capitalismo globalizado. Essas crises foram, ao Marx desenvolveu uma noção de Estado como
mesmo tempo, o espaço e o tempo de debates a síntese da sociedade burguesa, como o
e propostas visando criação de alternativas. resultado da articulação entre capital, trabalho
Falamos de uma crise orgânica dos Estados assalariado e renda da terra. (MARX, 1971).
na periferia do sistema capitalista nascida da Pois bem, o Estado latino-americano é hoje essa
desintegração da economia interna e da síntese como expressão do capital mundial que
separação entre objetivos e projetos das subordina as nossas capacidades produtivas,
sociedades políticas e o posicionamento crítico que transforma as classes nacionais em correias
das sociedades civis. Na América Latina se de transmissão das classes transnacionais.
configurou uma situação parecida à Europeia Não estamos pensando que pudesse persistir
de finais do século XIX e inícios do século XX hoje uma oposição entre interesse nacional do
(na qual umas burocracias agressivas capital e interesse internacional, pois todo capital
conduziram às sociedades à Primeira Guerra é hoje capital mundial. Fica constatado que o
Mundial buscando prevalecer na competição novo capitalismo latino-americano é capitalismo
internacional entre capitais e impunham mundo mundial. Mas isso hoje na região gera abandono
dentro e mundo fora a sobreexploração e esbanjamento de recursos produtivos sociais,
desmedida do trabalho, sem que as suas energéticos, culturais e políticos. Nacionaliza o
sociedades civis nem as instituições esbanjamento de recursos. A crise orgânica do
parlamentares - com representação de Estado é justamente a existência de um Estado
operários pudessem controlar ou colocar limites que bloqueia e desperdiça recursos e desintegra
a essas políticas. Isso no inicio do século XX a sociedade e a nação. Nesse sentido a crise
gerou uma crise orgânica do Estado na Europa, orgânica do Estado latino-americano é uma
que, igual que hoje, levou a uma desintegração expressão da crise estrutural do capital. Os
econômica e à separação entre sociedades conflitos atuais entre frações políticas do capital
políticas e sociedades civis). expressam falta de acordos entre elas sobre
Crise orgânica do Estado na América Latina políticas particulares, mas não a busca de outras
(PORTANTIERO, 1981), entretanto, não quer orientações para mudar a situação estrutural.
dizer ausência do Estado, falta de domínio Os movimentos populares, as forças políticas
sobre a sociedade, ou enfraquecimento da de esquerda e os governos progressistas têm o
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desafio de procurar alternativas para superar a estatais, o domínio burocrático do público, o


crise orgânica do Estado, recuperar uma monoculturalismo institucional, a precariedade
integração social nacional, colocar em pauta um dos direitos populares, a ausência dos direitos
padrão de acumulação mundial baseado na da natureza, etc.
expansão e elevação das forças produtivas Poucos governos fizeram uma nova crítica
internas, produzir uma nova vinculação nacional programática ao desenvolvimento produtivista,
entre sociedades civis e sociedades políticas e e poucos colocaram em pauta a autonomia
criar um bloco de poder crítico popular que abra política e sociocultural dos povos e a
a intervenção decisiva das sociedades no descolonialização e refundação do Estado,
programa e nos espaços públicos. (OLlVER propondo novas constituições que recuperaram
COSTILLA, 2005; OLlVER COSTILLA, 2009). formas políticas comunitárias tradicionais,
Mas as novas classes políticas dirigentes dos introduzindo novas instituições abertas à
Estados latino-americanos não parecem estar participação popular, gerando um modelo de
plenamente conscientes do problema da crise desenvolvimento baseado na noção do bem
orgânica do Estado, nem da importância de uma viver e uma nova noção do público que é
sa ída diferente àquela de caráter reformador definido pela intervenção direta das sociedades
superficial, questão sobre a qual falaremos civis, etc. Na onda de novas políticas que
embaixo. sinalizaram uma ampliação e aprofundamento
da democracia, sem embargo, não apareceu
5 GEOPOlÍTICA DA REFORMA E DA ainda no centro da mudanças e dos
CONTRARREFORMA NAAMÉRICA LATINA questionamentos a crítica à separação entre
Estado e sociedade e colocaram em debate a
A transformação das resistências de mais problemática das contradições e conflitos que
de duas décadas das múltiplas minorias cria a relação do capital no metabolismo social.
despojadas ou excluídas pelo neoliberalismo O que existe, já, entretanto, desde vários anos,
transformou-se nos inícios do novo século em são diferentes experiencias de governos
quase todos os países da América Latina em progressistas e de movimentos sociais em luta
movimentos sociais majoritários, críticos das pelo aprofundamento da democracia e por
políticas de privilégio à valorização do grande políticas públicas abertas à sociedade.
capital financeiro, as políticas monetaristas e O processo não tem sido uniforme: as distintas
ajustadoras, à privatização do público e ao políticas têm conformado agrupamentos e
autoritarismo neo-oligárquico dessas mesmas posicionamentos de governos e governantes,
forças, fato que evidenciou a grande separação com vasos comunicantes, mas com distintos
de interesses entre as burocracias dirigentes eixos programáticos e políticos, que abrem ou
dos governos neoliberais e as massas fecham espaços para uma crítica radical e uma
populares. Os movimentos sociais em praxe transformadora.
resistência crescente logo influíram no ânimo Assim, temos os casos da: 1) Venezuela,
eleitoral e possibilitaram o triunfo de novos Bolívia e Equador, que transformaram de ma-
governos progressistas. neira radical as suas constituições, estimula-
Desde 1999 tem havido novos governos na ram novas mediações estatais, propuseram
América Latina com peculiares e inéditas avanços que, entretanto, combinaram um pre-
lideranças populares nascidas dos excluídos sidencialismo acentuado com formas de demo-
das elites e dos oprimidos. Um elo reformador cracia participativa e formaram o bloco da Alba;
apareceu no horizonte político social latino- 2) Entretanto, Brasil, Uruguai, Argentina e
americano cuja característica relevante parecia Paraguai constituíram um bloco em torno ao
criar as condições para uma inédita vinculação Mercosul, propuseram políticas econômicas e
política entre lutas sociais e lutas políticas. Essa sociais progressistas, mantiveram as velhas
situação reposicionou na mesa de debate instituições estatais autoritárias e se distanci-
latino-americana algumas novidades concretas aram dos programas propostos pelos movimen-
e reafirmou a persistência de problemáticas tos sociais autônomos. As atividades políticas
sem resolver: a relação centro periferia, o conjuntas de ambos os blocos de governos têm
Estado da colonial idade, a subordinação das gerado novas instituições regionais tais como
sociedades civis aos partidos burocratizados a Comunidade dos Estados Latinoamericanos
e a Estados autoritários, a democracia e Caribenhos, CELAC, a União de Nações de
delegativa, o autoritarismo das instituições América do Sul, UNASUL, o Conselho Sul-ame-
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ricano de Defesa, Projetos econômicos e finan- importantes para a história das nossas
ceiros de integração regional, assim como a sociedades), apenas para melhorar a
defesa da democracia institucional perante as subsistência e administrar a crise, no entanto
tentativas golpistas oligárquicas. persistem as condições gerais de subordinação
Em todos os casos, o assunto crucial que dos homens e do trabalho vivo ao domínio do
ainda não foi resolvido é a construção coletiva capital. Quando se pensa em alternativas não
de um novo - ou de novos- sujeito social popular cabe considerar somente o melhoramento
com capacidade contra hegemônica, que social e o crescimento econômico de curto e
direcione um novo bloco social popular de meioprazo e sim a crítica às relações de capital
poder, que promova a construção de um novo e à crise orgânica do Estado.
Estado em processo de desmanchamento e Trata-se da problemática universal de
reforme a sociedade civil, que atue como construir com políticas e mudanças atuais, as
impulsionador e condutor dos processos de forças, as condições e os caminhos para uma
mudança. As formas de constituição desse (s) nova fase histórica de organização social
sujeito (s) estão em experimentação e debate: baseada no domínio dos produtores livremente
centralizadas ou descentralizadas, unificadas associados -do conjunto da sociedadesobre as
ou múltiplas, direcionadas ou moleculares, relações mercantis capitalistas.
apriorísticas ou conclusivas, etc. Considerando os limites e imposições da
Ao lado dos governos reformadores democracia institucional na sociedade moderna
mencionados, durante a última década se se abrem vários problemas. Expondo o fracasso
conformou um bloco de governos autoritários das lutas da socialdemocracia europeia no
da contrarrevolução, integrados por forças século XX, Mészáros (2008, p. 263) propõe não
neoliberais. Trata-se de uma resistência civil e seguir o caminho da política e lutar por constituir
política subcontinental encabeçada por partidos um movimento de massas pelo socialismo fora
de direita que ficou reforçada com a nova da democracia institucionalizada e da política
política de intervenção dos Estados Unidos na formal dos Estados. Para ele o caminho é a
América Latina. Destaca a participação ativa conformação de um movimento socialista de
dos governos atuais do México, da Colômbia, massas fora da política institucional, pela
de Honduras, de Panamá e de Chile em uma transformação do sistema do capital e pela
política para defender a orientação neoliberal instalação paulatina de experiências de poder
na região, desprestigiar o programa do retorno dos produtores livremente associados. É
ao público e ao nacional, e procura deter o importante considerar o argumento sobretudo
avanço das lutas sociais e pol íticas porque, acredito, ignora a existência de uma
progressistas. subalternidade social popular à hegemonia
conservadora na sociedade moderna.
6 EXISTEM ALTERNATIVAS? A QUESTÃO Na nossa América Latina, as importantes
DA HEGEMONIA E DA CONTRA e inusitadas experiências da primeira década
HEGEMONIA do século XXI em quase toda América do Sul,
com protagonismo de movimentos sociais de
Dada a natureza inumana das contradições resistência e ainda com as políticas sociais
atuais e a gravidade dos conflitos estruturais avançadas dos novos governos progressistas,
que gera a crise estrutural do capital, a única não existe um avanço evidente para um novo
Alternativa histórica é a superação das relações comunitarismo que critique prática ou
que sustentam o domínio do capital, e não só teoricamente a persistente relação de capital,
pela superação do capitalismo como aconteceu ainda que tenham se colocado em questão
na experiência comunista do século XX, mas as formas selvagens do neoliberalismo
pela substituição histórica da relação de capital, mundial e imposto limites regionais ao domínio
como esclarece adequadamente Istvan aberto do imperialismo hegemônico global dos
Mészáros (2011). Estados Unidos.
Embora sejam muito importantes as As políticas postas em pauta pelos governos
mudanças atuais na América do Sul, com progressistas estão dirigidas a instalar um novo
melhoramento social, combate à extrema intervencionismo de Estado e uma regulação
desigualdade, políticas sociais de inclusão, política do capitalismo, junto a políticas públicas
crescimento econômico e democracia assistenciais que têm melhorado a vida diária
institucional, trata-se de corretivos (embora, dos trabalhadores, sem enfrentar a crise
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organlca do Estado. Cabe dizer que as massas pelo socialismo propiciador do poder
mudanças não têm trocado o padrão neocolonial dos trabalhadores livremente associados? E
de submissão periférica à divisão internacional como esse movimento conseguiria o apoio dos
do trabalho, nem são o início de processos de outros componentes sociais, políticos e
conformação da hegemonia de forças culturais das sociedades modernas? Será que
alternativas autônomas. Em alguns países têm como poder local radical dos trabalhadores,
acontecido processos de empoderamento de possível sim em alguns lugares da América
organizações comunitárias dos povos originários Latina -e em construção já em situações
e das organizações de classe dos trabalhadores, focalizadas da Bolívia, Venezuela, Argentina,
com conquista jurídico políticas assentadas em Brasil-, coexistiria pacificamente junto ao poder
políticas públicas ou, em novas constituições social do capital e não seria confrontado pelo
com novos direitos, acompanhadas com novas poder político e até militar dos Estados, e sendo
mediações institucionais sob influência popular. isolado pela sociedade civil subalterna à
Entretanto, nesses processos a crítica à relação direção dos projetos do capital? Não é melhor
de capital e a questão da alternativa estão ainda pensar no desenvolvimento de movimentos
fora da pauta: hoje temos, como produto da sociais que na sua inserção nos espaços e
atividade dos governos progressistas, um tímido assuntos públicos alterem as relações de poder
melhoramento social do capitalismo sob a e mudem a política mostrando a crise de
continuidade do domínio da relação de capital, representação e o anacronismo dos partidos
e uma remoçada da hegemonia capitalista em institu-cionalizados?
sociedades civis atreladas a um novo Desde a esquerda radical é lógico o interesse
consumismo. E nada indica que o trabalho vivo numa experiência possível sem interferência
nessas experiências tenha reorganizado estatal que fosse parte de um caminho real a
autonomamente as relações sociais. uma sociedade alternativa. Mas o objetivo
Mészáros está certo quando critica as radical pela derrocada do sistema social do
políticas reformadoras capitalistas da capital não assegura que o caminho seja
socialdemocracia e projetos similares, como autossustentável. O caminho proposto por
projetos que não questionam a separação da Mészáros é uma luta social e econômica fora
política e dos políticos da sociedade e, no do Estado, uma luta em expansão gradual na
passado serviram para legitimar a relação de sociedade que fortaleça um pensamento crítico
capital, sobretudo nos períodos de crise parcial e as experiências cooperativas de solidariedade.
do capitalismo: reforçaram uma democracia Pois bem, isso não parece possível de
separada da sociedade e legitimadora da conformar fora das relações de poder e da
hierarquia e do domínio do capital no atividade política na sociedade moderna.
metabolismo social. Parece-me que um movimento alternativo
A concepção de Mészáros (2008, p. 254) de radical de massas é um projeto político de poder
que a alternativa tem que surgir já na própria vida que incide diretamente nas relações de poder e
social do capitalismo pela imposição de formas na política.
de produção e de poder dos trabalhadores A crise da democracia institucional, dos
livremente associados sustenta que as espaços políticos e da política já é uma realidade
conquistas políticas não ajudam, pois o real no mundo contemporâneo, fato evidente na
problema é o metabolismo social criado pelo segunda década do século XXI; assim como é
sistema do capital e esse metabolismo está num uma realidade a estatização dos partidos
outro plano, diferente das relações políticas do políticos e seu distanciamento da sociedade e
Estado ou, das relações de democracia política, seus problemas. (HIRSCH, 2002). O recente
formas políticas cuja função segundo ele, é movimento espanhol dos indignados é uma
somente assegurar a coesão social, separando expressão clara do fato de que a democracia
a política da economia e a democracia do burocratizada da União Europeia não permite
metabolismo social dominado pelo capital. ainda a "democracia real do povo", isto é, nas
A pergunta que fica no ar para o pensamento instituições atuais do Estados da União Europeia
crítico é a seguinte: considerando que o Estado não existe lugar para políticas próprias e
é o somatório de sociedade política com autônomas da própria sociedade fora dos
sociedade civil -Gramsci-, como e porque marcos definidos pelo capital financeiro global
surgiria assim, fora do Estado, pela vontade e ratificados pela União Europeia. Na situação
de revolucionários radicais, um movimento de mundial atual, de extremo agravamento das
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contradições estruturais da relação de capital, o resultado dessa democracia de elites foi a


a tendência atual dominante é à barbárie sua utilização pelas classes políticas
autoritária. Dai que a grande pergunta seja: dominantes em quase todos os países para
existe um espaço de luta política na procura conseguir a passividade das massas perante
pelas alternativas que pudesse transformar as o neoliberalismo e a globalização imperialista,
instituições para permitir a constituição de uma com redução de direitos cidadãos e o apoio do
força alternativa autônoma em expansão dentro sistema político institucional à reforma
e fora do Estado e que se fortaleça com neoliberal dos Estados. Foi uma democracia
experiencias de produção solidarias e com luta de exclusão das massas da política que levou
pela ampliação e aprofundamento da à consolidação das formas eleitorais e
democracia? parlamentares restritivas como horizonte único
da igualdade e da liberdade na política.
7 A DISPUTA PELA DEMOCRACIA Vejamos a seguir o impacto das lutas histórico
políticas no período 1999-2010. O período de
Colocar o social no político, ampliar o conceito controle pol ítico pelas elites das novas
da política, fazer da democracia uma guerra de exigências sociais e políticas de massas levou
posições e luta de interesses? Isso é um processo à crise orgânica do Estado, caraterizada pelo
aberto de luta. Cabe perguntar então: é possível abandono do padrão desenvolvimentista
para a constituição e o crescimento expansivo nacional de acumulação e pela inserção
de um movimento de massas popular e subordinada à globalização neoliberal o que
alternativo hoje a disputa de uma democracia propiciou a transnacio-nalização do domínio do
formalizada, controlada histórica e politicamente capital e a reforma neoliberal dos Estados. A
pelas elites capitalistas, que construíram e consequência foi uma grande insatisfação das
legitimaram instituições que separaram política massas populares com essa democracia
e economia e colocaram fora de debate a relação restringida de aprofundamento da desigualdade
de capital, no contexto da crise financeira do e quebra da integração econômica nacional, o
Estado transnacio-nalizado de concorrência? que levou a que as lutas sociais de resistência
Vejamos as contribuições recentes sobre este ganhassem espaço desde o ano 1999 até 2010
assunto da história política de massas na América e, o que é bem importante, colocaram em pauta
Latina. uma ressignificação da ideia da democracia,
A nossa região passou desde o retorno a uma para um reconhecimento e inclusão das
democracia de elites (finais do século XX) para diferenças e uma recuperação do público pelos
uma democracia de projetos (primeira década cidadãos: a democracia participativa popular
do século XX) e está em pauta na luta atual pela com confronto de projetos. Foi a luta das massas
democracia, a construção de uma forma política que mudou os Estados e as democracias, ainda
de luta pelo público com projetos atrelados a que essa mudança não colocara ainda em
forças histórico políticas alternativas. questão a relação de capital.
Com exceção do Uruguai e do Brasil, pela Qual o papel da sociedade civil nesse novo
sua luta democrática cidadã contra a ditadura espaço de luta estratégica? Não foi o Estado
e, no caso deste último, pela afirmação nem o desenvolvimentismo, o ponto central
constitucional de 1988, nos anos oitenta do duma estratégia popular radical, senão a
passado século prevaleceu na política latino- sociedade civil organizada e crítica. Na nova
americana a noção de que a democracia era disputa pela democracia, a sociedade civil está
sobre tudo um pacto entre elites sobre regras jogando um papel central como espaço de
civis de eleição de autoridades, de forma que guerra de posições e luta de interesses
o problema era a construção de um consenso encontrados. A democracia passou de problema
em torno a novas regras de funcionamento civil das elites a ser um espaço da luta entre forças
eleitoral. Essa noção efetivamente separava a e projetos políticos distintos: elitistas e de
política da sociedade e colocava impedimentos massas, representativos delegatórios e
para colocar as questões sociais em debate. participativos, com discussão sobre a
Também o caráter delegado da representação manutenção do projeto neoliberal ou de
(O'DONNELL, 2010) bloqueou a organização recuperação da regulação popular do Estado.
política dos trabalhadores e dificultou fazer da Evelina Dagnino está certa quando estabelece
organização social e da mudança das relações que a significação da democracia mudou neste
de produção e circulação o eixo da luta política. século XXI para ser um espaço de disputa
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cidadã de projetos políticos distintos.(DAGNINO; entanto, os projetos da esquerda fazem a


OLVERA; PANFICHI, 2006). Mas, temos que crítica a essa continuidade. A luta social dos
agregar, isso foi o resultado das lutas sociais movimentos sociais e das forças políticas
de conteúdo histórico pol ítico contra a populares em diversos países latino-
democracia de elites. americanos tem colocado na pauta a luta por
Por que é tão difícil atrelar a intervenção da um projeto de democracia participativa popular
sociedade organizada nos assuntos públicos que ubique o público como problema da
com a independência progra-mática? Uma sociedade e não somente como direito da
disputa de projetos políticos não é por si mesma burocracia. Será nesse sentido que a
uma disputa sócio-histórica; uma disputa democracia participativa é um caminho aberto
democrática radical não gera espontaneamente à construção de um projeto alternativo com um
uma perspectiva autônoma dos trabalhadores peso específico das massas? E a reivindicação
e não coloca em pauta um projeto próprio de do público como algo determinado pela
crítica da relação de capital. Para que possa se sociedade, como processo aberto, não é a
desenvolver um movimento alternativo radical relação social de capital também? Aparece aqui
de massas, precisasse também de uma política a importância do público como objetivo
popular e uma independência programática e estratégico e como espaço de construção das
que não será espontânea. Mas também o alternativas.
projeto político não é algo pronto e fechado,
acabado para sempre, senão que se trata de 8 A AMPLIAÇÃO DOS CONCEITOS DA
uma conjunção de elementos de um processo. POlÍTICA, DO PÚBLICO E DA HEGEMONIA
E nesse processo os sujeitos não são somente
os atores pol íticos institucionais-I íderes, Nos países da América Latina onde prevalece
partidos, associações políticas, organizações o projeto político neoliberal e autoritário como
culturais senão também as forças histórico no México (1982-2012) o Estado está
políticas da sociedade civil que personificam as organizado para dificultar a participação das
contradições da relação de capital, que geram massas populares assim como para excluir o
uma influência nacional e uma coesão social: conflito social. México tem hoje um Estado
isto é, atores e sujeitos que lutam pela burocratizado e militarizado de direita que está
hegemonia. Assim, junto à noção que preocupa contra a participação direta e ativa das massas,
a Dagnino, de projetos políticos distintos que que criminaliza os movimentos e somente
às vezes coincidem discursivamen-te, a questão permite (e às vezes com fraudes) a pol ítica
é que esses projetos estão expressando eleitoral, com tanto que seja com exclusão do
também um processo de confrontação de forças conflito social. No México, a burocracia mantem
histórico políticas distintas, que não provêm o exclusivo poder decisório sobre o público e
somente de partidos políticos senão de não existe uma experiência tão grande como
movimentos e organizações sociais. Esse em outros países de construção de espaços
conflito tem um sentido histórico nas sociedades públicos (no entanto parece existir menos
e uma relação da política com a ideologia e a alienaçãoda sociedade mexicana com respeito
cultura que faz parte dos sistemas hegemônicos ao consumo e mais opções para questionar a
existentes. Foram construídos na história relação de capital porque esse é também um
sociopolítica das sociedades e ainda canalizam problema ideológico e México tem cultura
os conflitos em cada sociedade. solidaria e experiências de comunitárias no sul
Nesse sentido, convém sublinhar que os do pais).
projetos da direita conservadora individualista Mas as dificuldades para ampliar a política
neoliberal latino-americana e do centro liberal nos países autoritários não significa que tenha
social não estão procurando a organização da se acabado a disputa pela democracia:
sociedade, pelo contrário: requerem uma justamente trata-se de uma disputa viva por
sociedade desorganizada e passiva. São os ampliar o horizonte e o conflito social na
projetos de centro esquerda que hoje procuram conquista de um novo patamar de democracia.
uma sociedade civil ativa, propositiva e A democracia participativa está dirigida a ampliar
relacionada com propostas políticas ou forças o conceito da política, a abrir-se à participação
políticas. Os projetos da direita e do centro das massas populares e cidadãs nas decisões
procuram colocar o debate dentro da do Estado e à exigência de plena liberdade para
continuidade neoliberal e autoritária, no a autoorganização.
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Pode essa luta ser encaminhada a constituir compartimentos faz parte da luta por transformar
uma força histórico política nova contra o criticamente a sociedade. Mészáros associa
domínio do capital e pela alternativa radical? A corretamente a luta contra o domínio do capital
questão não é somente construir uma cidadania com a luta contra a múltipla separação da vida
para a democracia participativa, senão ampliar histórica social. A civilização moderna, sob o
o sentido da disputa para colocar em pauta "o influxo do domínio do capital, foi criando e
público" como referencia e conteúdo da política, impondo a separação da sociedade em múltiplos
como espaço de construção social da política, espaços e compartimentos que hoje fazem parte
que deve ser decidido pela sociedade. da normalidade da vida, mas cria numerosas
A experiência da América do Sul mostra que dificuldades para cristalizar um movimento social
o público não é somente um espaço defensivo; de massas anticapitalista com visão de
é um objetivo e um processo que enquanto totalidade, crítico da relação orgânica do capital,
altera as relações de força na política encontra- na medida em que se dificulta a construção da
se dentro do Estado e, enquanto faz parte dum consciência e a ação social autônoma das
projeto próprio e autônomo, está fora. Assim, é massas sobre a sociedade como um todo. A
possível entender melhor a luta pelo público ideologia dominante separa política e economia,
como parte de um movimento social de massas poder e sociedade. Estamos sublinhando a
por uma sociedade alternativa, como um fragmentação de indivíduos e sociedades, a
processo interno e externo ao Estado. separação entre cidadania e sociedade, entre
Hoje o processo de disputa pela democracia lutas parciais e totalidade. Sem superar essa
e pelo público pode ser também de disputa pela separação não existe a possibilidade de
participação decisória da sociedade nos estabelecer uma relação afirmativa entre ação
assuntos do Estado, e ao mesmo tempo, um imediata e ação histórica das massas, formadas
processo pela organização autônoma dos por indivíduos, classes e grandes grupos sociais.
trabalhadores com consciência política e Não da para ignorar o peso da hegemonia
ideológica. Assim, o público aparece como a ideológica do capital nas sociedades atuais,
chave para o processo de construção de uma ideologia que se baséia na fragmentação da
contra hegemonia. sociedade. Uma separação transcendental, por
Na América do Sul, no entanto, a abertura exemplo, é a que existe entre vida sensível, ação
democrática propiciada pelos governos prática e pensamento teórico, com a consequência
progressistas e pelas lutas sociais e cidadãs está de existir uma ideologia dominante que separa
abrindo mais claramente as possibilidades da tais expressões da vida social. Junto a essa
ampliação da política. separação está o distanciamento entre economia,
Só que, como argumenta Francisco de política e cultura, entre mundialização e localidade
Oliveira, para que a ampliação da política seja e, mais amplamente, entre Estado, sociedade civil
real tem que existir uma grande massa popular e comunitarismo.
que lute por direitos e pela autonomia, e não Tem sentido a ideia de que para se desenvolver
faça parte duma legitimação por consensos um movimento de massas crítico da relação social
apolíticos dos novos governos progressistas que do capital, no processo de resistência e ofensiva
passam pela cooptação dos pobres. (OLIVEIRA, espontânea das massas contra o domínio
2009). neoliberal, se precisa unir no processo os
movimentos sociais e as formações políticas
9 CONCLUSÃO críticas; programa e movimento; democracia e
transformação anticapitalista; ação política e lutas
A riqueza da experiência latino-americana sociais, política e estratégia? Assim, o problema
permite acreditar que democracia participativa e de fundo é criar condições para que os movimentos
apropriação crescente do público pela sociedade sociais lutem contra a separação institucionalizada
são caminhos para a construção de uma força entre o político e o social, entre programa alternativo
histórico política alternativa. Para isso é preciso, e política de aprofundamento democrático partici-
não obstante, debater sobre a relação entre pativo, entre ação política e organização social.
estratégia e tática, atividade de minorias e de Cabe argumentar que lutar pela alternativa num
maiorias, pensamento crítico radical e movimento processo político radical faz parte da luta por
social de massas. incorporar às massas de trabalhadores à luta social
Superar a atual separação dos indivíduos e e política, e faz parte de estabelecer a unidade da
da sociedade em múltiplos espaços e variegada luta social pelas alternativas e a luta
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AMÉRICA LATINA: a luta social pelo público na crise estrutural do capital

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y Presente, 1926. Av Universidad, n. 3000 Coyoacan - Distrito Federal
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