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FABRICIA DAMASCENA ROSA

Violência Doméstica

Trabalho conclusão do Curso de Graduação em


Serviço Social da UNOPAR - Universidade Norte
do Paraná.

Profrº: Valquiria Aparecida Dias Capriolo

Palmas – TO
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2016

Dedicatória

A Deus que permitiu que tudo isso acontecesse


em minha vida, sendo ele o maior mestre que
alguém pode conhecer, á minha família, meus
pais, meus irmãos, e em especial meu esposo
pelo incentivo e encorajamento nos momentos
difíceis.
3

Agradecimentos

Ao final dessa etapa de minha formação acadêmica nasce o sentimento


de gratidão, a tantas pessoas que formam inspirações, motivações, apoio.

Primeiramente agradeço a Deus que é a razão da minha existência.

Em segundo lugar venho extremar meus sinceros agradecimentos aos


meus pais, meu esposo, meus irmãos, amigos enfim, agradeço a todas as
pessoas que de forma direta ou indiretamente fizeram parte dessa etapa
decisiva em minha vida.

Agradeço também a minha professora Carmina Ribeiro de Freitas


Maldonado pelo encorajamento de todos os dias.
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Ó momento que vivemos é um momento pleno


de desafios.

Mais do que nunca é preciso ter coragem.

É preciso ter esperanças para enfrentar o


presente.

É preciso resistir e sonhar.

É necessário alimentar os sonhos e concretizá-


los dia-a-dia no horizonte de novos tempos
mais humanos, mais justos, mais solidários.

(Marilda Iamamoto)
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Resumo: Esse artigo tem por objetivo discorrer sobre o tratamento da violência
domestica na visão da terapia Comportamental, tendo como foco a
apresentação dastécnicas e formas de abordar o problema em questão.
Pretende-se também a partir desse artigopromover uma discussão teórico-
prático, entre profissionais e acadêmicos da área de Serviço Social para que se
possa haver uma melhor compreensão da condução do tratamentonesses
casos, tanto com a vítima de violência quanto com os perpretadores. Portanto,
apresenta uma pesquisa bibliográfica tanto no campo social, cultural e
principalmente da Psicologia de dados a respeito da violência contra mulher.
Nele encontram-se informações acerca das formas de violência contra mulher,
suas origens sociais e culturais ao longo dahistória, alternativas e formas de
tratamento em relação à saúde psicológica da mulherrevelando desta forma o
papel do psicólogo nesse âmbito, destacando o tratamento naabordagem
cognitivo-comportamental. Para a construção teórica deste artigo utilizou-se
debibliografias dos seguintes autores: Dattilio & Freeman (2004), Williams et al
(2002), Cortezet al (2008), Giordani (2006) e Soares (2005).

Palavras-Chave: Violência doméstica, Problemas, Terapia Cognitivo-


Comportamental,

Abstract: This article aims to discuss the treatment of violence against women
in the vision of cognitive-behavioral therapy, to the presentation of techniques
and ways to address theproblem. It is also from that article to promote a
theoretical and practical discussion amongpractitioners and academics in the
area of psychology in order to have a better understandingof the conduct of
treatment in these cases, both with victims of violence as perpetrated with.This
article presents a literature both in the social, cultural and especially the
psychology ofdata about violence against women. It can be found information
about the forms of violenceagainst women, its social and cultural backgrounds
throughout history, and alternative formsof treatment on the psychological
health of women thus revealing the role of the psychologist
in this context, emphasizing the treatment approach in cognitive-behavioral. For
the theoretical construction used in this article are bibliographies of the following
authors: Dattilio& Freeman (2004), Williams et al (2002), Cortez et al (2008),
Giordani (2006) e Soares (2005).

SIGLAS E ABREVIATURAS
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APAV - Associação Portuguesa de Apoio a Vítima

FONAVID- Fórum Nacional de Juízes de Violência Doméstica e Familiar contra


a Mulher.

ADC - Ação Declaratória de Constitucionalidade.

Sumario
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1. Introdução ……………………………………………………………………………....10

2.A violência contra a mulher........................................................................................15

2.1 Historicidade das medidas utilizadas......................................................................20

2.2 Problemas na aplicação da Lei Maria da Penha................................................. 23

3. Definição da violência doméstica e familiar contra a mulher.....................................30

3.1Formas.....................................................................................................................31

3.2 Causas...................................................................................................................33.

4. Considerações sobre a violência de gênero e violência domestica........................33

5. Algumas inovações da lei Maria da Penha, nº 11.340/06........................................37

5.1 Autoridade policial..................................................................................................38

5.2 Processo Judicial ..................................................................................................39

5.3 Violência contra criança e adolescente...............................................................39

5.4 A violência doméstica e os danos para as vitimas..............................................43

6..Considerações Finais ...........................................................................................49

7. Referencias ........................................................................................................51
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1.Introdução

Este trabalho tem como objetivo apresentar um contexto referente a


vida das mulheres que sofrem de violência e a necessidade que as mesmas
tem em encontrar uma solução que coloque um fim a esse sofrimento. Às
vezes são vulneráveis ás informações e necessitam de orientação, isto é, de
um sistema que as proteja.
A violência contra a mulher é resultado da dominação e exploração
praticada pelo homem ao longo da história, afetando mulheres de todas as
idades, raças e classes sociais, pois ela é criada para ser uma moça recatada,
obediente ao seu companheiro, se tornando uma pessoa subordinada perante
a sociedade.
Desde muito cedo a mulher é explorada enquanto o homem desde
novo já tem tendência para ser machista, ser superior à mulher, pois foi criado
assim. Assim sendo é possível observar a desigualdade que existe entre a
mulher e o homem ainda quando criança.
É percebido também no mercado de trabalho que as diferenças
entre homens e mulheres mesmo trabalhando na mesma função é gritante a
diferença de salário o homem sempre ganhou e até hoje ganha mais que a
mulher.
Mesmo que atualmente as mulheres lutem contra a tal afamada
desvalorização, ainda existe a exploração que é bem abrangente. Atualmente
em pleno século XXI sabe-se que ainda existem homens retrógrados e tratam a
esposa como sendo sua propriedade, ele é o marido e dono e a submete ao
seu domínio.
As mulheres que são vítimas da violência sofrem a privação por
parte do companheiro de ter amigas, de trabalhar fora, de sair só, de escolher o
tipo de roupa que deseja usar, de participar de atividades sociais, ou até
mesmo acabam sofrendo agressões por recusar ter relações sexuais com seu
marido enfim, é prisioneira dentro da própria casa.
Esta exclusão de liberdade que o homem tira de sua mulher afeta
todo seu lado físico, psicológico e mental, causa depressão, abala a auto
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estima e muitas vezes para piorar ainda mais a situação fica grávida
indesejadamente, sua vida acaba, perde o prazer de viver. Muitas mulheres
chegam ao suicídio por não suportam tanta violência.
A violência contra a mulher ao longo do tempo é um processo de
socialização das pessoas, é uma cultura que já existe na sociedade há muito
tempo, onde o homem é visto como sendo o chefe de família, tendo poder
absoluto e autoridade sobre sua esposa e filhos e atualmente essa cultura
ainda se faz presente.
As vítimas destas agressões podem e devem denunciar o agressor
em qualquer Delegacia da Mulher, pois existe o amparo da Lei Maria da Penha,
que irá assegurar os seus direitos, mas infelizmente a maioria não faz a
denúncia pois sentem medo de seu companheiro se vingar, e tornar uma
relação pior que a já existente, além de ter a esperança de que tudo ira mudar
para melhor, achando que é apenas uma fase de sua vida.
É fundamental não esquecer que os motivos da violência
doméstica não são baseados em mágoas, mas sim em manter o poder e
controle sobre a vitima.
Na maioria dos casos dos quais se tem conhecimento sobre a
violência doméstica, o consumo de álcool está em primeiro lugar, pois a bebida
faz com que o sujeito fique mais agressivo. O agressor quando está sóbrio
sempre tem um comportamento absolutamente normal e até mesmo amável o
que por vezes a mulher não o denuncia.
O objetivo é procurar melhor compreender o porquê que a maioria das
mulheres e crianças que são vítimas de violência doméstica não denunciam
seus algozes e continuam a viver ao lado de quem tanto lhe maltrata. Assim
também como analisar qual conduta profissional que o Serviço Social deve
tomar em relação aos atendimentos das vítimas de violência doméstica;
Conhecer como a Lei Maria da Penha pode contribuir para estas vítimas de
agressão;Entender o que leva a vítima de violência doméstica a se calar, e não
denunciar seu agressor seja adulto ou criança
Este contexto retrata uma demonstração da questão social que faz
parte dos dias atuais, é importante porque gostaria de poder informar essas
mulheres que sofrem este tipo de violência, quem sabe até trabalhar em
10

alguma instituição que responda a está questão social, depois de formada no


Curso de Serviço Social.
Atualmente na sociedade, a violência doméstica contra mulheres é
conseqüência de uma cultura machista e discriminatória, onde muitas dessas
mulheres sofrem caladas, muitas vezes não contam com o apoio da família e
nem de outras pessoas. Infelizmente este problema não é resolvido logo pelo
poder da Lei, pois ainda faltam abrigos para acolher as vítimas que não tem
para onde ir, a maioria das vitimas não denunciam seu companheiro por medo
de voltar para casa e serem agredidas ainda mais.
Este tema é importante para a sociedade para que entendam que
este assunto é sério, uma realidade muito triste para a mulher e a família que
sofre essa violência, uma forma de conscientização da importância de ajudá-
las.
A sociedade será favorecida com esta pesquisa, pois é um assunto
que todos precisariam ter informação, para saber como lidar com está situação,
quanto mais se pesquisa, mais se obtém conhecimentos, mais se aprende e
pode se ficar atenta e nunca deixar e nem aceitar que alguém nos agrida.
A sociedade cada vez mais está consciente e conhece mais sobre o
assunto, distinguindo a realidade dessas mulheres, e não a realidade que a
mídia coloca. Iria tomar conhecimento e saber onde se encontram as redes
sociais que poderiam de certa forma ajudar estas vítimas, e se presenciar
algum ato de agressão, devem continuar a denunciar sem medo, pois a
denuncia pode ser feita de maneira que o agressor jamais venha, a saber,
quem a fez.
Este trabalho de conclusão de curso é de interesse para o mundo
acadêmico e para o Serviço Social, pois estes assuntos estão sempre em
acontecendo e em constante atualização de Leis e Direitos, e universitários tem
que estar atentos em pesquisas, estar a par da situação e acompanhar as
transformações e progressão das coisas.
O Serviço Social também tem que buscar transformações, se
atualizar para defender este tema lutando a favor das mulheres.
Esse tema é fundamental para o Serviço Social é que esta
expressão é um contexto do mesmo, onde sempre acontece esta questão, é
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uma forma de ajudar o profissional a levar mais informações e conhecimentos


para a população, além de poder construir novos projetos defendendo os
direitos destas vítimas erradicando com o positivismo e o conservadorismo.
Vivemos numa sociedade que desde seus primórdios históricos vê
a mulher numa relação inferior ao homem. Consultando nossos registros
históricos podemos verificar que, antigamente muitas mulheres eram vistas
como mercadorias, como uma propriedade que podia ser vendida ou
comprada, que não possuía autonomia, que era obrigada a servir a seus
senhores ou marido, que podia ser escravizada, espancada, e que não possuía
direitos.
A partir da constituição dos direitos humanos criada no século XIX,
o assunto sobre a violência doméstica se expandiu passando a ser analisada
pelos setores representativos da sociedade.
Numa sociedade que chamamos de moderna, por ter a sua
disposição mais tecnologia, informação, leis, e que a grande maioria da
população pode ter acesso a educação, ainda a mulher é remetida aos
mesmos atos que existiram em séculos passados.
Segundo a Associação Portuguesa de Apoio a Vítima (APAV)
constatou em pesquisa realizada no ano de 2011 que 83% das vítimas de
violência doméstica são do sexo feminino, com faixa etária entre 35 - 40 anos
(8,4%) e mais de 65 anos (8,3%). Os autores dos crimes predominantemente
estavam entre faixa etária 35 – 40 anos (7,9%), as relações que se destacaram
entre vítima e autor foi a de cônjuge (35,9%) seguida de companheiro/a
(13,9%).
A APAV faz distinção dentre os crimes de violência doméstica
classificando-os em sentido estrito, que se refere aos atos criminais
enquadráveis no art. 152º - maus tratos físicos; maus tratos psíquicos; ameaça;
coação; injúrias; difamação e crimes de natureza sexual, e os de sentido lato:
que inclui outros crimes em contexto doméstico - violação de domicílio ou
perturbação da vida privada; devassa da vida privada. (imagens; conversas
telefônicas; revelar segredos e fatos privados, etc.); violação de
correspondência ou de telecomunicações; violência sexual; subtração de
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menor; violação da obrigação de alimentos; homicídio tentado/consumado;


dano; furto e roubo.
Na pesquisa realizada sobre a Associação Portuguesa de Apoio a
Vítima (APAV) constatou-se que os crimes de sentido lato a prevalência maior
está na violação de domicílio (4,5%) seguido pela violação de correspondência
(3,5%), já no sentido estrito destacam-se os crimes de maus tratos psíquicos
(33,3%), e maus tratos físicos com (28,1%).
Atualmente, existe maior empenho governamental em combater esse
tipo de crime, no ano de 2005 foi criado pela Secretaria de Políticas para as
Mulheres da Presidência da República o serviço de denúncia Ligue 180,
específico para receber queixas de violência doméstica contra a mulher, o
serviço registrou alta de 112% de janeiro a julho 2011 em comparação com o
mesmo período de 2010. Acredita-se que esse aumento na busca pelo
atendimento seja reflexo de maior acesso aos meios de comunicação da
população.
Segundo Dias (2006) Uma mulher pode permanecer durante anos
vivenciando uma relação que lhe traz dor e sofrimento, sem nunca prestar
queixa das agressões sofridas, ou mesmo, quando decide fazê-la, em alguns
casos, é convencida ou até mesmo coagida a desistir de levar seu intento
adiante.
Observa-se também que sempre a violência é protegida, chega a
ser até um segredo onde agressor e agredida fazem um acordo, onde o
silencio os livrará de alguma forma de castigo, e a partir daí, a mulher, além de
vítima, se torna cúmplice das agressões praticadas contra si mesma.
Ainda com base em teorias sobre o assunto, (PALLOTA e
LOURENÇO, 1999) afirmam que grande número das mulheres sabe que têm
direitos, mas, pelo fato de viverem sob o jugo econômico de seus
companheiros, submetem-se anos a fio a todos os tipos de violência, e
somente procuram lutar por esses direitos quando a situação fica de fato
intolerável.
A pesquisa foi de abordagem qualitativa. Quanto aos objetivos a
pesquisa se caracterizou como exploratória. Quanto aos procedimentos
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técnicos foram classificados como bibliográfica, uma vez que a natureza das
fontes investigadas serão os livros, revistas, sites eletrônicos e artigos.
A violência contra a mulher é um tema que atualmente vem sendo
bastante discutido e vivenciado na sociedade contemporânea, pois levantam
diversos questionamentos sobre o porquê de tanta violência contra a mulher no
Brasil e no mundo, não apontando as classes sociais, já parte das famílias
pobres e ricas, sem escolher inclusive orientações sexuais.
Segundo CHIZZOTTI (1998, p. 84) Na pesquisa qualitativa todos os
fenômenos são igualmente importantes e preciosos: a constância das
manifestações e sua ocasionalidade, a frequência e a interrupção, a fala e o
silêncio. É necessário encontrar o significado manifesto e o que permanece
oculto.
De acordo com o autor, os sujeitos da pesquisa são importantes,
porque mostraram seu ponto de vista e demonstraram suas expressões, além
de conhecer o perfil dos sujeitos pesquisados e suas características em
comum.
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2. A violência contra a mulher

Para a execução deste trabalho, partiu-se primeiramente de uma


revisão bibliográfica a fim de refletir sobre os problemas enfrentados por
mulheres em diversas etapas da vida,
A violência contra a mulher por parte do marido ou parceiro assume
números significativos e configura se como relevante problema de saúde
pública no Brasil e no mundo. A partir de 48 estudos de base populacional
conduzidos em todo o mundo identificou-se que entre 10% e 69% das
mulheres já foram agredidas pelo seu parceiro (World Health Organization,
2002).
É sabido que o Brasil é um dos países que mais sofre com a
violência doméstica: 23% das mulheres brasileiras estão sujeitas a esse tipo de
violência e a maioria dos atos de violência contra crianças e adolescentes
ocorre dentro da própria família (Cartilha Direita da Mulher).
Os resultados da violência doméstica podem trazer serias
complicações, pois crianças e adolescentes aprendem com cada situação que
vivenciam, seu psicológico é condicionado pelo social e o primeiro grupo social
que a criança e adolescente tem contato é a família.
O meio familiar ainda é o único lugar onde com certeza é o mais
apropriado para o desenvolvimento físico, mental e psicológico de seus
membros um lugar “sagrado” e desprovido de conflitos.
Pensando assim,o objetivo da pesquisa é analisar como a violência
doméstica sofrida por crianças e adolescentes afeta o psicológico das pessoas
e podem influenciar no processo de aprendizagem.
Para se chegar as raízes do problema da violência doméstica é
preciso quebrar o silêncio que oculta e protege os agressores. A idéia de
família remete a laços afetivos, de confiança, formação de caráter e amor.Os
indivíduos sentem dificuldade em falar sobre a violência que sofrem, muitas
vezes por medo, vergonha, culpa ou por se sentirem responsáveis pela
violência sofrida. O objeto de seu afeto se confunde com o sujeito da violência
contra ela perpetrada.
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Não se deve subestimar os efeitos negativos da violência doméstica


vivenciadas por criança e adolescentes, acreditando que o impacto será
temporário e desaparecerá com o transcorrer dos anos.
Muitas vezes, as sequelas psicológicas das agressões são ainda
mais graves que seus efeitos físicos.
A criança que é criada dentro de uma família violentada e vivencia
a agressão todos os dias, poderá ter todo o seu processo de aprendizagem
comprometido e também o seu desenvolvimento tanto,físico, mental quanto
emocional também.
No Brasil, uma pesquisa realizada no ano de 2010 constatou que
3,1milhões de mulheres já sofreram espancamentos graves, havendo, ainda,
uma média de 198 mil mulheres agredidas por mês ou quatro por minuto
(Venturi ecol., 2001).
A violência conjugal é uma das principais ameaças à saúde e a vida
das mulheres e grande parte dessas agressões mostram um modelo de
violência contínua. As consequências da violência doméstica para a pessoa
agredida são severas e abrangem diversas dimensões, desde ocorrência de
fraturas, luxações e hematomas até impactos psicológicos e comportamentais,
como depressão, ansiedade, dependência química e farmacológica, ou, em
casos mais severos, desequilíbrios que levam a suicídios (World Health
Organization, 2002).
A violência entre casais mostra comportamentos dentro de uma
relação doméstica que podem causar morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou
psicológico e dano moral ou patrimonial (Brasil, 2006).
Historicamente, a violência entre casais carrega preconceito e medo
e em diversos locais não tem sido tratado como sendo crime real, o que causa
falta de consequências processuais a tais atos.
Segundo Guattari e Rolnik (1993), o modo como os agressores
vivem essa condição de agressor oscila entre dois extremos: uma relação de
alienação e de opressão, na qual o homem agressor se submete à
subjetividade tal como ela se apresenta; ou uma relação de criação e de
expressão, na qual se reapropria dos componentes da subjetividade, criando
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um processo de singularização, ou seja, reconhecendo as dificuldades que traz


consigo e que não dá conta de resolver a não ser por meio da violência.
Para Machado (1998), as estatísticas em torno dos altos índices de
violência dos companheiros contra as mulheres no mundo, e mais
especificamente no Brasil, não deixam dúvidas quanto à necessidade do seu
combate sistematizado, bem como quanto à necessidade de mudanças de
comportamento e atitudes do homem e da mulher que vivem juntos e são
vítimas autores de violência conjugal.
Schraiber e colaboradores (2005) referem pelo menos três razões
para trazer a temática de homens e masculinidade para pautados estudos de
saúde e gênero: A primeira é por estimular cientistas e formuladores de
políticas a enfrentar questões das inter-relações entre os gêneros; em segundo
lugar por trazer novas temáticas para os estudos e políticas em saúde da
mulher, além de proporcionar novos olhares para antigos objetos da saúde das
mulheres e dos homens; e, finalmente, por ressaltar o entrelaçamento entre
saúde, cidadania e direitos humanos.
Compreende-se que ainda têm enormes espaços e dúvida a
respeito do tema violência conjugal.
Inquéritos a partir da visão da pessoa que agredi ainda são
pequenas, porém, podem cooperar para uma melhor inclusão desse fenômeno
e para desvelar nesse mundo o entendimento de que a agressão determina
mais do que a simples punição prevista em lei, é necessário que aconteça a
instrumentalização de políticas públicas que abranjam esse sujeito e que tal
ação possa diminuir a violência cometida contra a mulher.
Considera-se que o recurso da agressão abrange aspectos
complicados que vão bem além da penalização, pois ela não atinge somente o
agressor e a vitima, mas a família também acaba se envolvendo.
Segundo FERRARI (2000)

A violência pode ser pensada do ponto de vista de relações de força


expressas enquanto relações de dominação. Nessa ótica, pode-se
especular que as diferenças na sociedade são convertidas em
relações de desigualdade, que são por sua vez convertidas em
relações assimétricas de hierarquia, que implicam em que a vontade
de uns seja subordinada a de outros.(2000, p. 29).
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Os diversos tipos de violência se unem a esta forma de estruturação


social e desenvolvem uma rede emaranhada e complicada onde todos, cada
um a sua maneira, tornam-se ao mesmo tempo vítimas e autores.

Como em uma epidemia, todos são atingidos pela fonte comum de


uma estrutura social desigual e injusta, que não só alimenta, mas
também mantém ativos os focos específicos de violência que se
expressam, inclusive, nas relações conjugais. Esse fato relaciona-se
à violência de gênero, manifestada de maneira perversa a partir das
relações de poder historicamente desiguais entre homens e mulheres,
sendo o componente cultural seu sustentáculo e fator de perpetuação
(Carreira e Pandjiarjian, 2003).

Embora tenham aumentado número de pesquisas a respeito de


violência domestica e das estatísticas já apresentadas, ainda existe a
dificuldade de saber realmente o tamanho da violência, pois a relação conjugal,
a familiar e o ambiente doméstico ainda são considerados aspectos privados e
particulares, naturalizando e banalizando este acontecimento social diário.
Para Giddens (2000), as relações podem ser ordenadas por meio
do diálogo, e não do poder arraigado. A violência pode também ser vista como
uma ação que envolve a perda de autonomia, de forma que as pessoas são
privadas de manifestarem sua vontade, submetendo-se à vontade e ao desejo
dos outros.
Assim, a violência passa a ser utilizada como uma maneira de
manifestação das relações de dominação, expressando uma negação da
liberdade do outro, da igualdade, da vida. Essa desigualdade se manifesta
como assimetria de poder, a submissão do mais fraco pelo mais forte
traduzindo-se em maus-tratos (Vecina, 2002).
Os sentimentos expressos pelos sujeitos deste estudo evocam a
necessidade de mudanças de comportamento e atitudes de homens e
mulheres que convivem em situação de violência conjugal, conforme já
apontado por Santana e Ribeiro (2000) e Fukuda e colaboradores (2002).
18

Para esses autores, sempre acontecem brigas na vida conjugal


ocorrem,na vida conjugal, vários tipos de violência, às vezes tornando difícil
conferir de forma definitiva os papéis de vítima e agressor. Do ponto de vista do
agressor há mudança de papéis, misturando o agressor (enquanto protagonista
na ação agressiva) e a vítima (ao responsabilizar a mulher quanto à motivação
do comportamento agressivo).
Camargo (2002) já apontava essa alternância, que descreve o
aprisionamento do sujeito nesses dois papéis.
Além dos indivíduos ter feito referência a agressão da mulher,
afirmaram ainda que ela os agredia verbal ou fisicamente, o que permite
evidenciar a subcategoria ‘Resposta à agressão física, verbal ou psicológica da
companheira’. A agressão decorre de vários motivos, mesmo quando eles não
admitem que sejam agressores.

2.1 Historicidades das medidas utilizadas

Por volta dos anos de 1970, quando surgiu o movimento feminista,


as partiram para a luta, foram às ruas, lutaram por seus espaços, mercado de
trabalho, lugar na política. Tomaram atitudes, saíram do lar, onde até ali
ficavam cuidando da casa, dos filhos, do marido, da família, enfim, resolveram
lutar pelos seus direitos.
Conseguiram seu espaço, seus direitos, e o principal deles era
denunciar a agressão, queriam acabar com a violência doméstica, onde na
maioria das vezes, é sofrida pelo marido.
“Na luta pelo reconhecimento da violação dos direito das mulheres,
a estratégia feminista foi a de publicizar essa violência, de denunciá-la e
reivindicar sua punição, já que a impunidade era freqüente”. (Campos, 2003, p.
155)
O tempo foi passando e certo dia foi criada a Delegacia de Polícia da
Mulher, em defesa dos direitos das mesmas, apesar deste fato ser uma vitória,
não obteve êxito satisfatório.
19

Até o ano de 1995, os crimes praticados contra a mulher eram


julgados pelo Código Penal e a partir de setembro do mesmo ano, foi criada a
Lei nº 9.099, dos Juizados Especiais, um juizado despenalizante ou penas não
privativas de liberdade a determinados delitos, tratados como de menor
potencial ofensivo.
O problema que esta lei tinha como objetivo aliviar a justiça brasileira,
pois estava sobrecarregada de processos e outros, deveria se tornar mais
dinâmica, rápida e não sobrecarregar ainda mais os presídios.
Os crimes de violência doméstica contra a mulher foi um dos
crimes penais enquadrados e sujeito a punição com até um ano de detenção,
sendo tratada com banalidade.
Na Lei nº 9.099/95, ainda que considerada uma vitória e mais um
instrumento a ser utilizado nas agressões do homem contra a mulher, seus
efeitos ainda não eram tão estimados.
Alguns dos motivos para isso foram: muitas mulheres ainda se
negam a fazer denúncias, pra isso existem vários argumentos, tais como: a
dependência econômica, os filhos, a família, a sociedade, o medo, a vergonha,
inclusive as ameaças muitas vezes sofridas.
Também nos casos de violência, a impunidade continuava em
grande numero e depois, mesmo que o homem fosse punido, o máximo que
acontecia era doação de cestas básicas, como punição alternativa, devido ao
período de detenção muito baixo.
Mesmo que a violência doméstica seja uma ação penal pública
condicionada, onde para haver processo é necessário o consentimento da
vítima, e a penalidade ainda era paga à sociedade. A mulher sofre, apanha, é
ameaçada, tem que querer denunciar e o agressor pagava por isso com cestas
básicas para uma sociedade que não se importava com a situação e segurança
da vítima?“ A mulher vitima de violência doméstica, em geral, convive com o
agressor e não quer uma indenização por danos, mas uma medida capaz de
diminuir a violência e garantir sua segurança”. (campos, 2003, p. 165)
A Lei nº 9.099/95, Juizado Especial Criminal, um juizado de
conciliação, tratava os casos de violência para acordos. Ao invés do conciliador
ou mediador punir o agressor ou ao menos fazer a separação judicial, não,
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partiam para a conciliação do casal. Como se a vítima e o agressor saíssem do


Fórum com tudo resolvido, mudado e daquele dia em diante se tratassem com
respeito.
A Lei nº 10.886, de 17 de junho de 2004, acrescenta parágrafos ao
art. 129 do Decreto-Lei nº 2.848/40 – Código Penal, criando o tipo especial
denominado “Violência Doméstica”. Nesta, caracteriza os crimes, os envolvidos
e define a penalidade, mas ainda assim permanece com os juizados Especiais.
Em 2006, eis que surge uma nova lei, muito mais severa do que
qualquer outra que já existiu nessa área, fruto de um ótimo exemplo, de uma
história que durante muitos anos tramitou pelo Poder Judiciário.
O processo de uma mulher, Maria da Penha, que viveu durante 15
anos com seu agressor. Ela agredida e com medo de pedir a separação, tinha
receio que a situação viesse a se agravar. E independente de sua atitude, de
não denunciá-lo e sequer pedir a separação o que Maria da Penha tanto temia
aconteceu. Sofreu tentativa de “femicídio” (homicídio) por duas vezes, a
primeira, seu marido deu-lhe um tiro, deixando-a paraplégica, mas o autor na
época convenceu as autoridades que investigavam o caso que foi uma
tentativa de roubo. Na segunda, o autor, seu marido, tentou matá-la
eletrocutada durante o banho da vítima. Nesta ocasião, a vítima se encorajou e
decidiu separar-se.
O processo de Penha tramitou durante 15 anos no Judiciário sem
que o atraso fosse justificado, por este motivo acabou se manifestando a
Comissão Interamericana de Direitos Humanos, com a seguinte denúncia:
Considera apropriado lembrar aqui o fato de que a justiça brasileira
esteve mais de 15 anos sem proferir sentença definitiva neste caso e de que o
processo se encontra, desde 1997, à espera da decisão do segundo recurso de
apelação perante o Tribunal de Justiça do Estado do Ceará.
A esse respeito, a Comissão considera, ademais, que houve
atraso injustificado na tramitação da denúncia, atraso que se agrava pelo fato
de que pode acarretar a prescrição do delito e, por conseguinte, a impunidade
definitiva do perpetradore a impossibilidade de ressarcimento da vitima (...)
(www.agende.org.br/docs/File/convencoes/belem/docs/Caso%20maria%20da
%20penha.pdf)
21

Cabe lembrar que o Estado Brasileiro não se manifestou sobre a


denúncia feita pela Comissão, resultando em 2001, no informe nº 54, que a
Comissão Interamericana de Direitos Humanos responsabilizou o Estado
Brasileiro por negligência, omissão e tolerância em relação à violência
doméstica contra as mulheres, recomendando, entre outras medidas: a
finalização do processo penal do responsável pelas agressões; investigar as
irregularidades e atrasos do processo e determinar as responsabilidades; e
adotar políticas públicas voltadas a prevenção, punição e erradicação da
violência contra a mulher.
Com tudo isso, por fim o agressor foi preso, em outubro de 2002,
alguns meses antes a prescrição do crime.Então, no mês de setembro do ano
de 2006, foi promulgada a Lei nº 11.340/06, que leva o nome de Maria da
Penha,em homenagem a mesma.

2.2 Problemas na aplicação da Lei Maria da Penha

A Lei Maria da Penha não definiu um procedimento específico para a


aplicação das medidas protetivas de urgência. Cada juiz tem aplicado conforme
a sua interpretação e, como os entendimentos não são consensuais, não há
uma uniformidade, o que gera insegurança jurídica.
Não foi acentuada por essa lei a natureza jurídica das medidas
protetivas, se elas têm caráter de cautelar (sentido jurisprudencial dominante),
exigindo ajuizamento de processo principal.
Entendendo que há a necessidade de ajuizamento, surge outra
dúvida: se o processo principal seria civil ou criminal.
Há juízes que concebem essas medidas como de caráter
acessório à ação principal. Já outros entendem que são de caráter satisfativo,
isto é, encerram por si mesmas e por sua natureza, o intento almejado, sem
depender de qualquer outra ação.
Em consequência da não definição da natureza jurídica das
medidas protetivas pela Lei Maria da Penha, ficam incertos assuntos como: o
quanto duram as medidas protetivas; a perda de eficácia pelo fato de ação
principal não ter sido ajuizada; qual recurso (a apelação, o agravo de
22

instrumento, o habeas corpus ou o recurso em sentido estrito) pode ser


interposto à decisão que determina a aplicação da medida de proteção; a
competência para apreciar o recurso (quais câmaras dos Tribunais de Justiça: as
cíveis ou as criminais); as consequências da não obediência da ordem.
A respeito da audiência prevista, no art. 16 da Lei nº11.340, há
dissenso entre os juízes em relação à questão de se essa audiência é ou não
obrigatória. Há um enunciado do Fórum Nacional de Juízes de Violência
Doméstica e Familiar contra a Mulher (FONAVID) que trata desse assunto:“A
audiência prevista no artigo 16 da Lei nº11.340/06 é cabível, mas não
obrigatória, somente nos casos de ação penal pública condicionada à
representação, independentemente de prévia retratação da vítima.” (FÓRUM
NACIONAL DE JUÍZES DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER, 2011).
Outra questão sobre a qual há dissenso entre os juízes é o
destino do processo, caso a ofendida não compareça à audiência: o
arquivamento (o não comparecimento da mulher implicaria a sua renúncia
tácita no sentido de não desejar que o processo tenha continuidade) ou o
prosseguimento. O enunciado 19 do FONAVID discorre acerca disso: “O não-
comparecimento da vítima à audiência prevista no art. 16 da Lei nº11.340/06
tem como consequência o prosseguimento do feito.” (FÓRUM NACIONAL DE
JUÍZES DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER,
2011).
É indispensável observar que os enunciados do FONAVID não
apresentam efeito vinculante, e sim servem apenas como uma orientação, uma
diretriz para os juízes de como aplicar a Lei Maria da Penha. Tais dissensos,
assim como a questão da natureza jurídica das medidas protetivas, geram
insegurança jurídica.
Outra questão que também resulta em insegurança jurídica é o
papel da Defensoria Pública na defesa da mulher. O art. 28 da Lei nº11.340/06
garante que toda mulher vítima de violência doméstica e familiar pode fazer
uso dos serviços da Defensoria Pública ou da Assistência Judiciária Gratuita.
Conforme Silva (2006), o artigo 7° da Lei Maria da Penha n° 11.340, de 7 de
agosto de 2006 a violência contra a mulher pode ser praticada de várias
formas:
23

 A violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua


integridade ou saúde corporal.
 II A violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe
cause dano emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe cause
prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação.
 III A violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja
a presenciar, a manter, ou a participar de relação sexual não desejada,
mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força.
 IV A violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que
configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus
objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e
direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer
suas necessidades.
 V A violência moral, entendida como qualquer conduta que configure
calúnia, difamação ou injúria.
Segundo SILVA (2011), nota-se que estas mulheres têm muito medo
de fazer a denuncia, pois ficam reprimidas, com vergonha, intimidadas, medo
de sofrer mais do que já estão sofrendo, pensam em como seus familiares e a
sociedade olharam para ela, o que pensariam dela, o medo do desamparo,
este sentimento esta presente em todas elas, o que dificulta a ação da
denuncia.

As diferentes maneiras de violência praticadas contra as mulheres


trazem consequências seriíssimas para suas vidas;problemas psicológicos,
auto estima abalada, depressão, ansiedade, isolamento das pessoas, sequelas
físicas e lesões graves ou leves, e, as cicatrizes que deixam marcas para o
resto de suas vidas. No contexto familiar e social gera também um sentimento
de incapacidade na mulher. (SILVA, 2011, p. 45)
Existe um relato do sofrimento de Maria da Penha Maria
Fernandes e como conseguiu garantir seus direitos como mulher. Maria da
Penha é uma farmacêutica cearense, quando casada com Marco Antônio
Herredia Viveros sofria agressões vindas de seu marido, recebeu um tiro que a
deixou paraplégica, além de ser mantida em cárcere privado, continuou
24

sofrendo outras tentativas de assassinato e diversas agressões, todas vindas


de seu companheiro.
Após não agüentar mais sofrer tanta violência, ela o denunciou para
a Justiça. Dandoinicio ao processo no Centro pela Justiça pelo Direito
Internacional e no Comitê Latino-Americano de Defesa dos Direitos da Mulher,
a partir daí a discussão chegou ao Governo Federal coordenada pela
Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres e depois de muitos debates e
estudo de projetos, criou-se a Lei Maria da Penha. ( Observatório Lei Maria da
Penha).
A Lei Maria da Penha, de número 11.340, decretada pelo
Congresso Nacional e sancionada pelo ex Presidente do Brasil Luíz Inácio Lula
da Silva em 07 de agosto de 2006, entrando em vigor no dia 22 de setembro de
2006. Esta Lei garante os direitos da mulher, a prevenção, a eliminação de
todas as formas de discriminação contra ela, com o objetivo de punir seus
agressores e erradicar a violência ( Silva, 2006).
A Lei Maria da Penha é enérgica para quem a procura e a siga da
maneira corretamente, esta Lei tenta preencher os descuidos e falhas,
protegendo as vitimas de violência doméstica e familiar garantindo sua
integridade física, moral, psíquica e patrimonial. Nós mulheres não somos
“saco de pancadas” e nem nascemos para isso, nascemos para ser livres de
escolhas e não nos tornar propriedade de alguém
Fazendo uso do contexto de que essa lei não limita essa abertura,
fundamentada na situação econômica da mulher, existe juízes que, em todos
os processos de violência doméstica, designam a Defensoria Pública para
fazer o acompanhamento da mulher independentemente de sua condição
financeira.
O acordo desses juízes é no sentido de que a defesa dos
financeiramente hipossuficientes é a função típica da Defensoria Pública,
enquanto a defesa da mulher vítima desse tipo de violência,
independentemente de sua condição financeira, dá-se em virtude da existência
de vulnerabilidade jurídica (no tocante ao acesso à justiça e ao exercício da
cidadania) e estabelece uma das funções atípicas da DP, tais como a defesa
da criança e do adolescente, do idoso e do consumidor, que, assim como as
25

mulheres vítimas de violência doméstica e familiar, constituem grupos


organizacionalmente hipossuficientes.
Segundo CAMPOS (2003)

Os defensores não se contrapõem à defesa da mulher no domínio


criminal. No entanto, a defesa, na esfera cívil, da mulher pela DP é
bastante questionada por defensores, tendo em vista que a
Constituição Federal, em seu art. 134, determina que a Defensoria
Pública é responsável pela orientação jurídica e pela defesa, em
todos os graus, dos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º
da CF/88 (os que comprovarem ser desprovidos de recursos para
pagar advogado e os gastos de uma postulação ou defesa em
processo judicial, extrajudicial ou de um aconselhamento
jurídico).Outro problema que se percebe, na aplicação da Lei Maria
da Penha, é a morosidade do judiciário, a qual está associada ao
número insuficiente de funcionários para atender a demanda dos
processos. Como consequências da demora no andamento dos
processos, a ofendida fica mais exposta à agressão e ainda pode
haver a prescrição da ação, o que dificulta o enfrentamento à
violência aqui 2discutida. (2003p, 164)

De acordo com a pesquisa referente a Lei Maria da Penha, somam-


se a esses outros problemas a precária aplicação das Políticas Públicas
previstas na Lei Maria da Penha, por exemplo, são necessários: mais estudos
e pesquisas sobre todas as questões associadas à violência doméstica e
familiar contra a mulher; a intensificação da promoção de campanhas
educativas direcionadas à educação popular no tocante à violência aqui
discutida; a reversão do quadro de precária preparação especial (que,
inclusive, pode nem existir à qual são submetidos os profissionais que
trabalham no combate à violência doméstica e familiar contra a mulher
(profissionais, do Centro de Referência, da Casa-abrigo, do Juizado, da
Defensoria Pública, do Ministério Público).
O contexto se refere às discussões sobre a violência domestica e
sobre a Lei Maria da Penha, discussões essas que têm como objetivo melhorar
o atendimento às mulheres, e, também aumentar o efeito do combate à
violência em questão.
Portanto, ainda existe o problema de alguns dos profissionais que
trabalham nesse serviço e são insensíveis à causa e que, não vestem a camisa
na luta contra essa violência., os diversos fatores que desestimulam a ofendida
26

a denunciar constituem uma outra dificuldade ao enfrentamento à violência em


questão.
Segundo CAMPOS:

Tais fatores são, entre outros: ameaça medo de uma possível


retaliação por parte do agressor; receio da perda da guarda dos filhos
(várias mulheres temem que seus maridos busquem a guarda dos
filhos como uma forma de vingança por elas o terem denunciado);
dependência financeira em relação ao agressor; a partilha dos bens;
temor de processar o (ex-)cônjuge, o (ex-)namorado ou o filho e
depois se arrepender pelo fato de o delito constar na ficha criminal do
agressor ou o medo de o filho, o (ex-)marido ou o (ex-)namorado
acabar sendo preso; a própria mentalidade machista de algumas
mulheres, de que elas devem ser submissas e obedientes ao marido;
receio da mulher de se expor para a sociedade (bastante comum
entre mulheres de classe social mais elevada).Tendo em vista o grave
problema de grande parte das ofendidas desistirem do processo, não
representando ou afastando a representação anteriormente feita, é
relevante destacar a recente decisão do STF, segundo a qual, nos
casos de lesão corporal decorrente de violência doméstica contra a
mulher, é cabível ação penal pública incondicionada. (2003, p. 168).

Assim sendo, o Ministério Público oferece a acusação sem


precisar de representação da parte ofendida. Contudo, na decisão, ressalta-se
a estabilidade da necessidade de representação para os casos de crimes
dispostos em leis diversas da Lei nº 9.099/95, por exemplo, o crime de ameaça
e os praticados contra a dignidade sexual.
Consta, no Informativo STF nº 654, que, na citada decisão do
Supremo Tribunal Federal, que se deu, no dia 9 de fevereiro de 2012, “No
mérito”, evidenciou-se que os dados estatísticos no tocante à violência
doméstica seriam alarmantes, visto que, na maioria dos casos em que
perpetrada lesão corporal de natureza leve, a mulher acabaria por não
representar ou por afastar a representação anteriormente formalizada.
Sobre o assunto, o Min. Ricardo Lewandowski advertiu que o fato
ocorreria, estatisticamente, por vício de vontade da parte dela.
Ficou evidente que o agente passaria a repetir seu comportamento
ou agir de maneira mais agressiva.
Esclarece-se que, sob o ponto de vista feminino, a ameaça e as
agressões físicas apareceriam, na maioria dos casos, em ambiente doméstico.
27

Seriam eventos decorrentes de dinâmicas privadas, o que aprofundaria o


problema, já que acirraria a situação de invisibilidade social.
Registrou-se a necessidade de intervenção estatal acerca do
problema, baseada na dignidade da pessoa humana (CF, art. 1º, III), na
igualdade (CF, art. 5º, I) e na vedação a qualquer discriminação atentatória dos
direitos e liberdades fundamentais (CF, art. 5 º, XLI). Reputou-se que a
legislação ordinária protetiva estaria em sintonia com a Convenção sobre a
Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher e com a
Convenção de Belém do Pará. Sob o ângulo constitucional, ressaltou-se o
dever do Estado de assegurar a assistência à família e de criar mecanismos
para coibir a violência no âmbito de suas relações. Não seria razoável ou
proporcional, assim, deixar a atuação estatal a critério da vítima. A proteção à
mulher esvaziar-se-ia, portanto, no que admitido que verificado a agressão com
lesão corporal leve, pudesse ela, depois de acionada a autoridade policial,
recuar e retratar-se em audiência especificamente designada com essa
finalidade, fazendo-o antes de recebida a denúncia. Dessumiu-se que deixar a
mulher – autora da representação – decidir sobre o início da persecução penal
significaria desconsiderar a assimetria de poder decorrente de relações
histórico-culturais, bem como outros fatores, tudo a contribuir para a diminuição
de sua proteção e a prorrogar o quadro de violência, discriminação e ofensa à
dignidade da pessoa humana. Implicaria “revelar os graves impactos
emocionais impostos à vítima, impedindo-a de romper com o estado de
submissão.” (BRASIL, 2012).

3. Definição da violência doméstica e familiar contra a mulher

Segundo o art. 1º do documento da Convenção Interamericana


para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a mulher (Convenção de
Belém do Pará), ratificada pelo Brasil em 1995, a referida violência consiste em
“qualquer ação ou conduta, baseada no gênero, que cause morte, dano ou
sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público como
no privado” (ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS, 1994).
28

Tendo como base a alínea “a” do art. 2º desse documento, foi


elaborada a definição de violência doméstica e familiar contra a mulher que
consta na Lei Maria da Penha, definição essa presente no art. 5º da Lei.
Segundo o art. 2º do documento da aludida Convenção, “Entender-se-á que
violência contra a mulher inclui violência física, sexual e psicológica:
a. Que tenha ocorrido dentro da família ou unidade doméstica ou em
qualquer outra relação interpessoal, em que o agressor conviva ou haja
convivido no mesmo domicílio que a mulher e que compreende, entre outros,
estupro, violação, maus-tratos e abuso sexual;
b. Que tenha ocorrido na comunidade e seja perpetrada por qualquer pessoa
e que compreende, entre outros, violação, abuso sexual, tortura, maus tratos
de pessoas, tráfico de mulheres, prostituição forçada, sequestro e assédio
sexual no lugar de trabalho, bem como em instituições educacionais,
estabelecimentos de saúde ou qualquer outro lugar, e
c. que seja perpetrada ou tolerada pelo Estado ou seus agentes, onde quer
que ocorra.” (ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS, 1994).
Prontamente, conforme o caput e os incisos do art. 5º da Lei
Maria da Penha, “Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e
familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe
cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou
patrimonial:
I – no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio
permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as
esporadicamente agregadas;
II – no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por
indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais,
por afinidade ou por vontade expressa;
III- em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha
convivido com a ofendida, independentemente da coabitação.” (BRASIL, 2006).
É necessário destacar que a violência doméstica e familiar contra a
mulher nem sempre é praticada no ambiente da residência. De fato, pode ser
praticada em outros espaços, por exemplo, bares, comércio, área de serviço.
29

A existência de relação carinhosa entre o agressor e a vítima já


caracteriza essa violência. Em termos gerais, essa relação de afeto é
justamente o que distingue a violência doméstica da violência não doméstica.
Ao contrário do que se verifica, na violência não doméstica, essa
relação está presente na doméstica, como já foi enfatizado.

3.1Formas

A Lei nº 11.340 aponta como formas de violência doméstica e


familiar contra a mulher, dentre outras:
 Física, que consiste em qualquer agressão que afronte a integridade ou
saúde corporal da mulher, por exemplo, empurrar, puxar o cabelo, dar
tapas, desferir socos, pontapés, chutes, pauladas, provocar
queimaduras, cortes, apunhalar, atirar;
 A psicológica, concebida, tal como consta, no inciso II do Art. 7º da Lei
Maria da Penha, como: “qualquer conduta que lhe cause dano
emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe
o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações,
comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça,
constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância
constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização,
exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que
lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;” (BRASIL,
2006);
 A sexual, que, segundo o inciso III do referido Art. 7º, consiste em:
“qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a
participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação,
ameaça, coação ou uso da força; que induza a comercializar ou a
utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar
qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à
gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem,
suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus
direitos sexuais e reprodutivos;” (BRASIL, 2006);
30

 A patrimonial, entendida, conforme o inciso IV do citado Art. 7º, como:


“qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial
ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos
pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os
destinados a satisfazer suas necessidades;” (BRASIL, 2006);
Em casos mais graves, há estupro e/ou lesão corporal de natureza
grave ou gravíssima. É necessário enfatizar que, como os casos de homicídio
doloso, os de tentativa de homicídio devem ser julgados pelo Júri Popular e
não pelo Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, por isso
há a necessidade de uma especial atenção no tocante à análise das
estatísticas da violência aqui discutida
De acordo com relatório de estudo sobre a violência em questão,
no contexto do Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher da
cidade de Teresina, elaborado pela Comissão Especial de Estudos da
Corregedoria Geral da Justiça do Piauí, tendo como base dados extraídos de
30% dos processos protocolados de janeiro a junho de 2012, em tramitação no
referido Juizado, a forma mais constatada de violência doméstica e familiar
contra a mulher foi a moral (37,87%). Em segundo lugar, veio a psicológica
(32,72%); em terceiro, a física (19,67%); em quarto, a patrimonial (8,27%); em
quinto, a sexual (1,47%).

3.2 Causas

A respeito das causas da violência tema deste artigo, deve-se, em


primeiro lugar, advertir, como já foi dito anteriormente, que a violência
doméstica e familiar contra a mulher é uma violência baseada no gênero.
Assim, a causa primordial desse tipo de violência é o machismo, resultante da
tradição patriarcal e ainda hoje bastante difundido, em grande parte da
sociedade, até mesmo entre mulheres.
Tendo isso em mente, foram identificados, especialmente por meio
da análise das entrevistas realizadas, os fatores que, com maior frequência,
contribuem para a prática da violência aqui tratada: bebidas, drogas, controle
31

de sexualidade sobre a mulher (o qual se encontra relacionado a ciúmes, medo


de ser traído, possessividade, controle da vestimenta da mulher).
As bebidas e as drogas atuam como um disparo para os casais, ex-
casais, e/ou filhos (todos esses são os freqüentes agressores,praticam as
diversas formas de violência contra as mulheres.

Associada intimamente ao controle de sexualidade exercido pelo


homem sobre a mulher, faz-se presente a frequente prática da violência
doméstica contra a mulher como uma espécie de “estratégia pedagógica”,caso
em que o marido agride a esposa com a finalidade de que ela “aprenda” a se
comportar da maneira que ele espera.

4. Consideração sobre a violência de gênero e violência


doméstica

No referente às afinidades das mulheres que tem afinidaes com o


mundo do direito, Sabadell (2008) salienta que “há algumas décadas
pesquisadoras oriundas dos movimentos de mulheres começaram a estudar a
possível contribuição do sistema jurídico para a perpetuação das violações dos
direitos da mulher. Surgiram, assim, estudos que realizavam tanto leituras
internas, relativas à estrutura do direito positivo, como leituras externas,
relativas à eficácia e às relações entre o direito e a cultura machista/sexista”.
Chamando a atenção sobre as dificuldades que a mulher tem em
enfrentar a violência doméstica a autora supracitada lembra os limites do direito
para resolver o problema.
Em uma pesquisa sobre o papel do sistema judiciário na decisão dos
conflitos de gênero, Izumino (2004) completa, baseada em outros estudos, que
a Justiça, ao julgar os casos que lhes cjhegam as mãos não se pauta somente
nos crime mas tambem pela presença de elementos que comprovem sua
ocorrência (autoria, materialidade e os vínculos pertinentes a esses dois
aspectos), mas por dispositivos extralegais que se referem aos
comportamentos sociais das vítimas e de seus agressores.
32

No referente aos acontecimentos que abrangeram desordem de


gênero, os papéis sociais são sempre ligados às instituições família,
casamento e também aos aspectos que definem os papéis sociais nesses
interesses: sexualidade feminina e trabalho masculino.
Segundo FORENSE:

O fenômeno da violência doméstica e conjugal é emblemático, logo,


difícil de resolver partindo de uma perspectiva única. O conflito de
gênero que está por trás da violência doméstica não pode ser tratado
pura e simplesmente como matéria criminal. O retorno do rito
ordinário do processo criminal para apuração dos casos de violência
doméstica não leva em consideração a relação íntima existente entre
a vítima e o acusado, não considera a pretensão da vítima nem
mesmo seus sentimentos e necessidades.É possível pensar, a partir
das reflexões e da pesquisa realizada, que o mais adequado seria
lidar com a questão da violência de gênero fora do sistema penal,
radicalizando a aplicação dos mecanismos de mediação, realizada
por pessoas devidamente treinadas e acompanhadas de profissionais
do Direito, Psicologia e Assistência Social. (2007, p.07)

A Lei Maria da Penha tem como enfoco criar estrutura para restringir a
violência doméstica e familiar. Em outras palavras, tornam-se indispensáveis
ações voltadas à atenção e ao cuidado de vítimas e também de agressores nos
casos de violência doméstica, trazendo contribuições de diferentes campos do
conhecimento na busca da resolução dos conflitos de gênero.
'Saímos da ditadura do masculino para a ditadura de um feminino
esteriotipado. Um feminino que nega tudo o que é feminino.' (Janaína
Paschoal, 'Mulher e Direito Penal', Coordenadores: Miguel Reale Júnior e
Janaína Paschoal, Rio de Janeiro: Forense, 2007, p.10.)
O Plenário do Supremo Tribunal Federal julgou procedente, na
sessão do último dia 09 de fevereiro, por maioria, a Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADI 4424) ajuizada pela Procuradoria-Geral da
República quanto aos artigos 12, inciso I; 16; e 41 da Lei Maria da Penha. Na
mesma sessão, agora por unanimidade, os Ministros acompanharam o voto do
relator da Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) nº 19, Ministro
Marco Aurélio, e concluíram pela procedência do pedido a fim de declarar
constitucionais os artigos 1º, 33 e 41, da Lei Maria da Penha.
33

Destaca-se que a lei comentada não reprime nenhum novo tipo


penal, apenas oferece um tratamento penal e processual diferenciado para as
infrações penais já elencadas em nossa (exagerada) legislação.
De toda sorte, entende-se a utilização, em um documento legal de
natureza penal e processual penal, de termos tais como 'diminuição da auto-
estima', 'esporadicamente agregadas', 'indivíduos que são ou se consideram
aparentados', 'em qualquer relação íntima de afeto', etc.
Paulo Freire diz que, 'só, na verdade, quem pensa certo, mesmo
que, às vezes, pense errado, é quem pode ensinar a pensar certo. E uma das
condições necessárias a pensar certo é não estarmos demasiado certos de
nossas certezas. Por isso é que o pensar certo, ao lado sempre da pureza e
necessariamente distante do puritanismo, rigorosamente ético e gerador de
boniteza, me parece inconciliável com a desvergonha da arrogância de quem
se acha cheia ou cheio de si mesmo.
Observa-se que o entendimento de Naele Ochoa Piazzeta quando
afirma que 'corretas, certas e justas modificações nos diplomas legais devem
ser buscadas no sentido de se ver o verdadeiro princípio da igualdade entre os
gêneros, marco de uma sociedade que persevera na luta pela isonomia entre
os seres humano, plenamente alcançado. '
Willis Santiago Guerra Filho, 'princípios como o da isonomia e
proporcionalidade são engrenagens essenciais do mecanismo político-
constitucional de acomodação dos diversos interesses em jogo, em dada
sociedade, sendo, portanto, indispensáveis para garantir a preservação de
direitos fundamentais, donde podermos incluí-los na categoria, equiparável,
das garantias fundamentais'.'
Bem diferente da regra estabelecida no art. 25 do Código de
Processo Penal, a retratação da representação pode ser manifestada após o
oferecimento da denúncia, desde que antes da decisão acerca de sua
admissibilidade.
Neste ponto, duas observações devem ser feitas: primeiro a lei foi
mais branda com os autores de crimes praticados naquelas circunstâncias, o
que demonstra de certa forma uma incoerência do legislador.
34

Se a intenção era reprimir com mais ênfase este tipo de violência,


por que aumentar o prazo para a retratação da representação? Por ser mais
benéfica para o autor do crime a possibilidade de retratação em tempo maior
que aquele previsto pelo art. 25, CPP.
Tratando-se de norma processual penal material, e sendo mais
benéfica, deve retroagir para atingir processos relativos aos crimes praticados
anteriormente à vigência da lei (data da ação ou omissão–art. 2°. e 4°. Do
código Penal)
O prazo para o oferecimento da representação (bem como o dies a
quo) continua sendo o mesmo (art. 38, CPP). Ademais, é perfeitamente válida
a representação feita perante a autoridade policial, pois assim permite o art. 39
do CPP.
A retratação deve ser um ato espontâneo da vítima (ou de quem
legitimado legalmente), não sendo necessário que ela seja levada a se retratar
por força da realização de uma audiência judicial.
Como, então, tratar diferentemente autores de crimes cuja pena
máxima aplicada não foi superior a quatro anos, se atendidos os demais
requisitos autorizadores da substituição (art. 44 do código Penal)?
Os indivíduos acusados por crimes como furto, receptação,
estelionato, apropriação indébita, peculato, concussão, etc., podem ser
favorecidos pela substituição da pena exclusiva de liberdade por prestação
pecuniária ou multa. Já um condenado por uma injúria ou uma ameaça (pena
máxima de seis meses), estará impedido de ser beneficiado pela substituição,
caso tenha praticado aqueles delitos contra uma mulher, em situação de
violência doméstica e familiar.
É um verdadeiro absurdo; a violação aos referidos princípios
constitucionais estão claros como a luz solar.
Sebástian Melo, ensina que 'sendo o Direito Penal um instrumento
de realização de Direitos Fundamentais, não pode prescindir do princípio da
proporcionalidade para realização de seus fins.
Esse princípio, mencionado com destaque pelos constitucionalistas,
remonta a Aristóteles, que relaciona justiça com proporcionalidade, na medida
35

em que assevera ser o justo um das espécies do gênero proporcional. Seu


conceito de proporcionalidade repudia tanto o excesso quanto a carência.
A justiça proporcional, em Ética e Nicômaco é uma espécie de
igualdade proporcional, em que cada um deve receber de forma proporcional
ao seu mérito. Desta forma, para Aristóteles, a regra será justa quando seguir
essa proporção.
Nas palavras do filósofo grego em questão, a sua igualdade
proporcional representa uma conjunção do primeiro termo de uma proporção
com o terceiro, e do segundo com o quarto, e o justo nesta acepção é o meio-
termo entre dois extremos desproporcionais, já que o proporcional é um meio
termo, e o justo é o proporcional.
Do exposto, entendo que os arts. 17 e 41 da Lei nº. 11.340/2006, além
do inciso III do art. 313 do Código de Processo Penal, não devem ser
aplicados, pois, apesar de normas vigentes formalmente (porque aprovadas
pelo Poder Legislativo e promulgadas pelo Poder Executivo), são
substancialmente inválidas, tendo em vista a incompatibilidade material com a
Constituição Federal. Não é demais lembrarmos que 'não se pode interpretar a
Constituição conforme a lei ordinári. O contrário é que se faz.

5.Algumas inovações da lei Maria da Penha, nº 11.340/06

 Tipificando e definindo a violência doméstica e familiar contra a mulher;


 Estabelece as formas da violência doméstica contra a mulher como
física, psicológica, sexual, patrimonial e moral;
 Determina que a violência doméstica contra a mulher independe de
orientação sexual;
 Determina que após a denúncia, a mulher somente poderá renunciar a
mesma perante o juiz;
 Ficam proibidas as penas pecuniárias (pagamento de multas ou cestas
básicas);
 É vedada a entrega da intimação pela mulher ao agressor;
36

 A mulher vítima de violência doméstica será notificada dos atos


processuais, em especial quando do ingresso e saída da prisão do
agressor;
 A mulher deverá estar acompanhada de advogado (a) ou defensor(a)
em todos os atos processuais;
 Retira dos juizados especiais criminais (Lei nº 9.099/95) a competência
para julgar os crimes de violência doméstica contra a mulher;
 Altera o código de processo penal para possibilitar ao juiz a decretação
da prisão preventiva quando houver risco à integridade física ou
psicológica da mulher;
 Altera a lei de execuções penais para permitir ao juiz que determine o
comparecimento obrigatório do agressor a programas de recuperação e
reeducação;
 Determina a criação de juizados especiais de violência doméstica contra
a mulher;
 Caso a violência doméstica seja cometida contra a mulher com
deficiência, a pena será aumentada em 1/3.

5.1. Autoridade policial

 Prevê um capítulo específico para o atendimento pela autoridade policial


para os casos de violência doméstica contra a mulher;
 Permite a autoridade policial prender o agressor em flagrante sempre
que qualquer houver das formas de violência doméstica contra a mulher;
 Registra boletim de ocorrência e instaura inquérito policial (composto
pelos depoimentos da vítima, do agressor, das testemunhas e de provas
documentais e periciais);
 Remete o inquérito policial ao Ministério Público;
 Pode requerer ao juiz, em 48 horas, que sejam concedidas diversas
medidas protetivas de urgência para a mulher em situação de violência;
 Solicita ao juiz a decretação da prisão preventiva com base na nova lei
que altera o código de processo penal.
37

5.2 Processo Judicial

 O juiz poderá conceder, no prazo de 48 horas, medidas protetivas de


urgência (suspensão do porte de armas do agressor, afastamento do
agressor do lar, distanciamento da vítima, dentre outras), dependendo
da situação;
 O juiz do juizado de violência doméstica e familiar contra a mulher terá
competência para apreciar o crime e os casos que envolvem questões
familiares (pensão, separação, guarda dos filhos, etc.);
 O Ministério Público apresentará denúncia ao juiz e poderá propor
penas de 3 meses a 3 anos de detenção, cabendo ao juiz a sentença
final.

5.3. Violência contra criança e adolescente

A história de violência contra crianças e adolescentes acompanha a


trajetória humana das relações sociais e, principalmente, familiares.
. Alguns autores afirmam que a violência domestica contra crianças e
adolescente percorre a história do mundo, desde os acontecimentos mais
primitivos que se tem conhecimento, divulgado por diferentes modalidades
dentro de diversificadas culturas.
DESLADES (2009), diz que “os exemplos de violência praticados contra
a infância estão presentes na História, na Mitologia, na Antropologia e nos
Processos Religiosos”. No entanto, somente no século XX a problemática da
violência contra crianças e adolescentes começou a ser estudada, devido aos
novos valores atribuídos à família moderna
Apesar dos problemas de registros e notificações e da omissão
demonstrada pelo silêncio de muitos, as estatísticas começam a realçar
38

violência contra a criança e o adolescente como um fenômeno universal e


endêmico, sem distinção de raça, classe social, sexo ou religião.
A violência intrafamiliar se refere à ação ou omissão que venha
prejudicar tanto o bem-estar, a integridade física, psicológica ou a liberdade e
até mesmo o direito da criança ou adolescente se desenvolver. Essa forma de
violência pode acontecer tanto dentro quanto fora de casa por algum membro
da família, incluindo pessoas que passam a assumir função parental, ainda que
sem laços de consangüinidade, e de relação de poder à outra.
Quando se fala sobre violência doméstica , desta faz parte outros
membros do grupo, que não seja parente mas está presente no espaço
doméstico e te a confiança das pessoas,incluindo empregados (as), pessoas
que convivem esporadicamente e juntos
De acordo com a pesquisa realizada os terapeutas que trabalham
com a questão da violência doméstica descobriram que a agressão contra
crianças e adolescentes tem a função social de manter as famílias unidas,
sendo usada como um meio de solucionar problemas emocionais.
Essa modalidade de violência tem sido um meio eficaz de conservar
o equilíbrio emocional coletivo e preocupação pelo grau de subjetividade,
polissemia e controvérsia que contém, no entanto, pode-se analisá-la em suas
caracterizadas formas e expressões.
Enfatiza-se ainda, que existe relação aberta entre o método de
globalização e a produção de novas formas de violência expressas, por
exemplo, pelo crime organizado, pelas atividades de grupos de jovens em
facções armadas e pela violência doméstica.
Esclarece-se que a violência contra a criança e o adolescente
abrange conceitos específicos de violência física, psicológica, sexual e de
negligência, os quais são abordados a seguir.
Violência física é entendida quando uma pessoa, que está em
relação de poder à criança, causa ou tenta causar dano não acidental, através
do uso da força física ou de algum tipo de arma que pode provocar - ou não -
lesões externas, internas ou ambas.
Segundo concepções mais recentes, o castigo repetido, não severo,
também é considerado como violência física violência psicológica “evidencia-se
39

como a interferência negativa do adulto sobre a criança e sua competência


social, conformando um padrão de comportamento abusivo. As formas mais
comuns são: rejeitar, isolar, aterrorizar, ignorar, corromper e criar expectativas
irreais ou extremadas sobre a criança ou adolescente”
Quanto à violência sexual, é entendida como sendo todo ato ou
jogo sexual, relação hétero ou homossexual onde o agressor está em estágio
de desenvolvimento psicossexual mais adiantado, ou seja é mais velho que a
criança ou adolescente, tem como objetivo estimulá-la sexualmente ou utilizá-la
para alcançar satisfação sexual de alguma forma.
A negligência é explicada como sendo o fato da família se excluir em
prover as necessidades físicas e emocionais de uma criança ou adolescente,
ou seja, as vezes a criança é molestada de alguma forma por alguém
conhecido e a família nem sempre dá ouvidos quando a mesma reclama..
Configuram-se quando os pais ou responsáveis falham em alimentar, vestir
adequadamente, medicar ou educar seus filhos
Há ainda que se levar em consideração que os acidentes também
pode ser classificados como um dos tipos de negligência, pois são passíveis de
prevenção e resultantes do descuido dos responsáveis, da falta de
investimento público ,entre outros.
As experiências da vida sejam elas boas ou más refletem-se de
alguma forma na personalidade adulta, contudo, constata-se com facilidade
que a violência que acontece silenciosamente dentro das famílias e na
sociedade, como se fosse um fenômeno banal, é ainda um assunto cercado de
mitos e tabus. A literatura refere que famílias podem ser despreparadas para
compreender, administrar e tolerar seus próprios conflitos e tornarem-se
violentas por tradição.
Acredita-se que o ciclo da violência contra crianças e adolescentes
está ligado inteiramente ao relacionamento afetivo entre pais e filhos, e muitas
crianças se sentem ameaçadas, negligenciadas, abandonadas, não
encontrando motivos no seu próprio ambiente para crer que são importantes.
Essas, constantemente submetidas à violência, aprendem que é só
através de tal forma, inadequada, que há resolução de conflitos. Essa assertiva
é reforçada esclarecendo que crianças que vivem em ambientes violentos a
40

tendência é acreditar que essa é a única forma de socialização, contribuindo


para a manutenção generalizada da violência.
Nesse assunto, a família causadora da violência define, para a
criança ou adolescente, uma situação de rigorosa desproteção e
vulnerabilidade, o fenômeno em sua complexidade social, política, econômica e
cultural, e as reciprocidades entre todos esses aspectos na gênese da
violência.
Segundo pesquisadores, o relacionamento interpessoal, o qual
configura um padrão abusivo de influência mútua entre pais e filhos, foi
estabelecido historicamente por pessoas que mostram as marcas de sua
história pessoal no contexto social, econômico, político e cultural do qual faz
parte.
A violência deve ser focalizada por diversos lados, pois,
dependendo do modelo habitual para envolver a razão pela qual esse
fenômeno acontece no dia-a-dia de cada um, é que se formará uma adequada
intervenção.
DESLADES (2009), diz que:

Sob a ótica de que a violência contra crianças e adolescentes é uma


forma de relação que se estabelece entre os membros da família - em
seu funcionamento interior ou na própria convivência social - é
preciso primeiramente denunciá-la e desnaturalizá-la. Conforme
aponta a literatura, “as diferentes formas de violência presentes em
cada um dos conjuntos relacionais que estruturam o social podem ser
explicadas se compreendermos a violência como um ato de excesso,
qualitativamente distinto, que se verifica no exercício de cada relação
de poder presente nas relações sociais de produção social. A idéia de
força, ou de coerção, supõe um dano que se produz em outro
indivíduo ou grupo social, seja pertencente a uma classe ou categoria
social, a um gênero ou uma etnia, a um grupo etário ou cultural.
(2004, p. 24)

A violência social contemporânea se caracteriza através da força,


coerção e dano, em relação ao outro, enquanto um ato de excesso presente
nas relações de poder tanto nas estratégias de dominação do poder soberano
quanto nas redes de micro poder entre os grupos sociais.

5.4 A violência doméstica e os danos para as vitimas


41

As decorrências da violência doméstica podem ser muito sérias, pois


crianças e adolescentes aprendem com cada situação que vive seu psicológico
é dependente pelo social e o primeiro grupo social que a criança e adolescente
tem contato é a família.
O ambiente familiar ainda é visto como sendo um espaço sagrado
para o desenvolvimento físico, mental e psicológico de seus membros um lugar
onde os conflitos não têm vez.
Entretanto, para se chegar às origens do problema da violência
doméstica é imprescindível transformar esse mito de família, enquanto
instituição intocável, para que os atos violentos ocorridos no contexto familiar
não permaneçam no silêncio, mas sejam denunciados a autoridades
competentes a fim de que se possam tomar providências.
É na relação em família que acontecem os fatos mais expressivos
da vida das pessoas, tais como a descoberta do afeto, da subjetividade, da
sexualidade, a experiência da vida, a formação de identidade social. A idéia de
família refere-se a algo que cada um experimenta, carregada de significados
afetivos, de representações, opiniões, juízos, esperanças e frustrações.
Assim, falar de família é falar de algo que todos já experimentaram.
É o espaço íntimo, onde seus integrantes procuram refúgio, sempre que se
sentem ameaçados. No entanto, é no núcleo familiar que também acontecem
situações que modificam para sempre a vida de um indivíduo, deixando marcas
irreparáveis em sua existência, uma dessas situações é a violência doméstica
contra a criança e o adolescente.
A violência doméstica pode ser definida como sendo:

Todo ato ou omissão, praticado por pais, parentes ou responsáveis


contra crianças e/ou adolescentes que, sendo capaz de causar dano
físico, sexual e/ou psicológico à vítima, implica numa transgressão do
poder/dever de proteção do adulto e, por outro lado, numa
coisificação da infância, isto é, numa negação do direito que crianças
e adolescentes têm de ser tratados como sujeitos e pessoas em
condição peculiar de desenvolvimento. (AZEVEDO E GUERRA,
2001).

A criança e o adolescente estão em fase de desenvolvimento e


para que essa transição aconteça de uma maneira tranqüila, é fundamental
que o ambiente familiar dê condições favoráveis de desenvolvimento, incluindo
42

os estímulos positivos, assim também como o equilíbrio, boa relação


familiar,incluindo também o vínculo afetivo, diálogo, entre outros.
Pois, como diz Weiss (2004, p.23):

Aspectos emocionais estariam ligados ao desenvolvimento afetivo e


sua relação com a construção do conhecimento a expressão deste
através da produção escolar (...). O não aprender pode, por exemplo,
expressar uma dificuldade na relação da criança com sua família;
será o sintoma de que algo vai mal nessa dinâmica.

Partindo dessa hipótese, afirma-se que um ambiente familiar


agressivo e desequilibrado, pode afetar gravemente não só a aprendizagem
como também o desenvolvimento físico, mental e emocional de seus membros;
pois, a aparência cognitivo e o aspecto afetivo estão integrados, assim, um
problema emocional decorrente de uma situação familiar desestruturada
aparece diretamente na aprendizagem.
Para se compreender melhor essa aparência, torna-se indispensável
discutir e analisar o impacto da violência doméstica contra crianças e
adolescentes na aprendizagem e em outros aspectos da vida, uma vez que, é
uma das situações mais degradantes e opressivas, pois, afeta profundamente
a vida do indivíduo e a dinâmica familiar.
De acordo com Azevedo (1997, p. 233):

As crianças vítimas de violência formam no Brasil um país chamado


infância que está longe de ser risonho e franco. Nele vamos
encontrar:
-infância pobre, vítima da violência social mais ampla;
-infância tortura; vítima da violência
-infância fracassada; vítima da violência escolar;
-infância vitimada, vítima da violência doméstica (...) todas elas
compõem o quadro perverso da infância violada, isto é daquelas
crianças que tem cotidianamente violados seus direitos de pessoa
humana e de cidadão.

É pensando nessa infância transgredida, ou prestes a ser violada,


que precisamos rever conceitos e estratégias de ação adequados, pois a
violência pode causar danos irreparáveis nos desenvolvimentos físico e
psíquico de crianças e adolescentes. Muitas vezes, por tratar-se de um
43

fenômeno polêmico que desestrutura o padrão familiar acaba sendo de difícil


constatação, ficando assim, camuflado entre quatro paredes do que chamam
de lar.
Quando se trata de violência doméstica, os atacantes habituam
contar com um aliado poderoso que é o silêncio das vítimas, pois essas tem
medo, vergonha, sentimento de culpa, por parte do agressor. É esse silêncio
que faz com que se torne difícil a interferência.
Portanto, o profissional que trabalha com crianças e adolescentes,
principalmente em instituição escolar, ou seja, o educador, precisa estar atendo
aos sinais, pois as vítimas pedem socorro não só através de suas vozes, mas
através da linguagem corporal,de ações e de comportamento que indicam que
alguma coisa não está bem, e que a criança precisa de ajuda.
Com base em Guerra e Azevedo (2001), existe alguns indicadores
orgânicos na criança e adolescente que nos mostram quando devemos
desconfiar:
Caso 1 de violência sexual:
 Desconfia dos contatos com adultos;
 Está sempre alerta esperando que algo ruim aconteça;
 Tem mudanças severas e freqüentes de humor;
 Demonstra receio dos pais (quando é estudante procura chegar cedo à
escola e dela sair bem mais tarde);
 Apreensivo quando outras crianças começam a chorar;
 Demonstra comportamentos extremos: agressivo, destrutivo,
excessivamente tímido ou passivo, submisso;
 Apresenta dificuldades de aprendizagem não atribuíveis a problemas
físicos;
 Revela que está sofrendo violência física.

2. Casos de Violência Sexual:


 Interesses não usuais sobre questões sexuais, isto inclui expressar
afeto para crianças e adultos de modo inapropriado para a idade,
desenvolve brincadeiras sexuais persistentes com amigos, brinquedos
ou animais, começa a masturbar-se compulsivamente;
44

 Medo de uma acerta pessoa ou sentimento de desagrado ao ser


deixada sozinhaem algum lugar ou com alguém;
 Uma série de dores e problemas físicos sem explicação médica;
 Gravidez precoce;
 Poucas relações com colegas e companheiros;
 Não quer mudar de roupa na frente de pessoas;
 Fuga de casa, prática de delitos;
 Tentativa de suicídio, depressões crônicas;
 Mudanças extremas, súbitas e inexplicadas no comportamento infantil
(anorexias, bulimias);
 Pesadelos, padrões de sono perturbados;
 Regressão a comportamentos infantis tais como choro excessivo,
enurese, chupar os dedos;
 Hemorragia vaginal ou retal, cólicas intestinais, dor ao urinar, secreção
vaginal;
 Comportamento agressivo, raiva fuga, mau desempenho escolar;
 - Prostituição infanto-juvenil.
Portanto, é preciso ter um olhar atento e comprometido com a causa
da infância e adolescência para que nossas crianças possam obter auxílio e
serem encaminhadas para profissionais éticos e capazes de fazer um
diagnóstico mais preciso.
Em casos de violência doméstica contra crianças e adolescentes, é
preciso que a família confie na palavra da vítima, pois, dificilmente a criança
inventa ou mente. Então, até que circunstâncias mostrem o contrário, é
fundamental acreditar na criança. Assim como, é importante prestar atenção
em mudanças súbitas de comportamentos, elas podem ser o principal indicador
de que algo está errado.
Os profissionais que trabalham sobre a violência doméstica
precisam estar comprometidos com a causa, fazer as orientações necessárias
para interromper o ciclo de violência, principalmente a fim de proteger a
criança, pois, uma atuação imprópria pode danificar seriamente a vida de uma
criança a qual, na maioria das vezes, não tem condições de se defender da
violência que lhe é imposta.
45

6.Considerações Finais

Portanto, conclui-se que diante da violência domestica não há


neutralidade possível. É preciso romper o pacto que protege a vazão dos
impulsos sob várias justificativas que vão desde uma ofensa à atitude da
mulher e dos filhos que ele considera inadequada.
As pessoas conhecedoras sobre o assunto apontaram
comportamentos e atitudes que sinalizaram para a possibilidade de identificar
as causas da violência conjugal sob a ótica do homem do homem ser o
agressor que são: interferência de pessoas que não são amigos e nem
parentes na relação conjugal; presença de ações e comportamentos
inadequados da companheira; domínio da mulher sobre o companheiro;
resposta à agressão física, verbal ou psicológica da companheira; hábito de
beber e situação financeira.
Em relação às causas, constata-se que se mesclam no dia-a-dia,
acumulam-se sob a forma de conflitos e eclodem em atos que configuram a
violência conjugal do homem contra a companheira. Observa-se, ainda, que os
sujeitos não demonstraram compreensão ativa de serem agressores, ou seja,
ao mesmo tempo em que não negávamos atos que relatavam, não os
compreendiam como ações que os caracterizassem como autores da
agressão.
Os sujeitos não deixaram transparecer arrependimentos, haja vista a
insignificância que deram ao comportamento violento, justificando suas ações
como atitudes de defesa ou de reação ao comportamento da companheira,
como demonstramos na categoria ‘ela’.
Segundo Gelles (1997), para tratar da violência domestica é
necessário que se adote uma abordagem empática, o que não significa
endossar ou minimizar a responsabilidade do agressor, mas significa, sim,
compreender o ato violento como resultado de elementos associados à
condição do homem autor da agressão.
46

Os sujeitos tiveram a oportunidade de expressar sentimentos,


crenças, justificativas, valores e informações sobre o que os levou a agredir ou,
mesmo, a. não concordar que agrediram a companheira. Evidenciamos
aspectos que consideramos importantes para compreender as causas da
violência conjugal, com a finalidade de contribuir com informações sobre o
assunto.
É preciso que o homem autor da violência não se configure
unicamente como caso de polícia, que a Lei Maria da Penha seja efetivamente
implementada nos estados e municípios, para que os envolvidos em situações
de violência sejam institucionalmente acolhidos.
E que a sociedade se indigne e assegure à pessoa agredida
segurança e dignidade, uma vez que, sozinha, não possui instrumentos
capazes de romper com essa realidade para vencer o medo e denunciar as
situações de violência.
O fenômeno da violência doméstica e conjugal é emblemático,
logo, difícil de resolver partindo de uma perspectiva única. O conflito de gênero
que está por trás da violência doméstica não pode ser tratado pura e
simplesmente como matéria criminal.
O retorno do rito ordinário do processo criminal para apuração dos
casos de violência doméstica não leva em consideração a relação íntima
existente entre a vítima e o acusado, não considera a pretensão da vítima nem
mesmo seus sentimentos e necessidades.
Percebe-se que diante de pesquisas e do trabalho de renomados
estudiosos, verifica-se que um assunto tão sério, ainda é tratado com
descaso pelas autoridades.Fica evidente em várias pesquisas, e neste
contexto, destaca- que as delegacias de mulheres não estão preparadas para
lidar com a mulher em situação de violência. A própria polícia não está
qualificada para um posto tão importante e na maioria das vezes vital para a
mulher.

7.Referências
47

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violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226
daConstituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas
de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para
Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação
dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o
Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá
outras providências.

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