Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
Nº 75
em
Out/Nov/Dez 2015
foco
em
foco
EDITORIAL Nº 75 / 2015
Outubro / Novembro / Dezembro
Em comemoração aos 20 anos do Instituto, a IBGC em Foco
CONSELHO
chega à 75ª edição com um formato especial. Ao longo das
Presidente: Sandra Guerra
páginas, o leitor poderá contemplar artigos com temas que
Vice-presidentes: Eliane A. Lustosa eFernando Alves
vão desde a evolução dos códigos de conduta à perspectiva Conselheiros: Emílio Carazzai, Luiz Carlos Cabrera,
de aprimoramento das práticas nas empresas estatais. Marta Viegas Rocha, Ricardo E. Setúbal, Robert
Juenemann e Roberto S. Waack
Infelizmente, não há como abordar todo o espectro de temas
DIRETORIA
relacionados à Governança Corporativa nesta publicação.
Henri Vahdat, Matheus Rossi e Angelim Curiel
Contudo, destacamos alguns assuntos considerados importantes
pelo IBGC. SUPERINTENDENTE GERAL
Heloisa Belotti Bedicks
Agradecemos a ocasião para agradecer os articulistas, que
PRODUÇÃO E COORDENAÇÃO DA NEWSLETTER
dispuseram de tempo e dedicação na concepção de seus
Jornalista responsável: Sandra Nagano (MTB 42425/SP)
textos, especialmente elaborados para esse informativo.
Colaboração: Lygia Gil
Por se tratar de uma edição especial, excepcionalmente, não PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO
Boa leitura!
É vedada a reprodução de textos e imagens desta
publicação sem autorização prévia, mediante
consulta formal e citação de fonte.
ÍNDICE IBGC
Av. das Nações Unidas, 12551
World Trade Center Tower - 25º andar - cj. 2508
Os 20 anos do IBGC
CEP 04578-903 - São Paulo/SP
PÁG. 3
tel.: 55 11 3185 4200
e-mail: ibgc@ibgc.org.br
A Evolução dos Códigos de Conduta www.ibgc.org.br
PÁG. 6
Capítulo Ceará: ibgc@ibgc.org.br
Capítulo Minas Gerais: ibgcmg@ibgc.org.br
Um caminho para o aprimoramento da governança das estatais
Capítulo Paraná: ibgcparana@ibgc.org.br
PÁG. 12
Capítulo Pernambuco: ibgc@ibgc.org.br
Capítulo Rio de Janeiro: ibgcrj@ibgc.org.br
Gestão de Riscos Socioambientais Capítulo Santa Catarina: ibgc@ibgc.org.br
PÁG. 15 Capítulo Rio Grande do Sul: ibgcsul@ibgc.org.br
2 www.ibgc. org . br
E D I Ç Ã O E S P E C I A L - I B G C 2 0 A NO S
H
OS 20 ANOS DO IBGC
O Instituto chega maduro aos 20 anos, com um elevado grau de reconhecimento de seu trabalho e,especialmente de sua
causa. Mas ainda estamos no meio da jornada
HELO IS A BE DIC KS
Superintendente geral do IBGC
“Compreendemos que Há vinte anos, ainda não existia do que viria ser o IBGC, até
a adoção das melhores no Brasil uma tradução para os dias atuais, crescemos em
práticas como um caminho o termo em inglês “Corporate tamanho, em presença regional,
para mudar positivamente Governance” e muito menos o em relevância e também na forma
uma cultura no âmbito conhecimento pelo mercado do de abordar o tema. Se antes
das organizações e, seu significado. Nessa trajetória nosso foco eram unicamente as
consequentemente, do de duas décadas, o IBGC teve empresas, hoje ampliamos nossa
nosso País” de desbravar mares, por vezes abordagem para outros públicos
revoltos, de resistências, dúvidas e tipos de organização, tais
e desconhecimento para que hoje como cooperativas, entidades do
tivesse condições de oferecer terceiro setor e, mais recentemente,
muito mais que a tradução literal as estatais. Também estamos
desse termo, mas um sentido adquirindo competência no
mais amplo da importância tema da Governança Pública,
de se adotar boas práticas de dando assim um novo passo em
Governança Corporativa. nosso propósito de influenciar os
agentes da sociedade no sentido
E isso foi possível somente pela de promover maior transparência,
persistência e doação de tempo e justiça e responsabilidade.
empenho de alguns empresários,
executivos, conselheiros, advogados, Com o passar desses anos,
auditores, todos estudiosos e compreendemos que já não era
voluntários, que perceberam a possível isolar nossa atuação
potencialidade do tema - a desdém em um só segmento. Isso devido
de um modismo estrangeiro - e a ao fato de estarmos cada vez
importância de discuti-la no âmbito mais interligados, inclusive no
das empresas brasileiras. que diz respeito aos problemas
que assolam o nosso cotidiano.
Atualmente, já contamos com Compreendemos a adoção
quase 1700 associados, entre das melhores práticas como
pessoas física e jurídica, e 44 um caminho para mudar
colaboradores. Dos primórdios do positivamente uma cultura no
Instituto Brasileiro de Conselheiros âmbito das organizações e,
de Administração (IBCA), embrião consequentemente, do nosso País.
4 www.ibgc.org . b r
E D I Ç Ã O E S P E C I A L - I B G C 2 0 A NO S
DOS 20 ANOS
1996 Primeiro evento público do IBCA, no Museu de Arte Moderna,
abre ciclo de debates inédito no País sobre Conselhos de
Administração e Governança Corporativa.
2005
Primeira edição do Prêmio IBGC Itaú de Jornalismo. 2006 IBGC completa 10 anos e lança o livro
"Uma década de Governança Corporativa" e realiza a primeira
edição do Prêmio IBGC de Governança Corporativa.
Lançado o Código de Conduta do IBGC. 2007 Formalização do Capítulo Paraná, a terceira regional do Instituto.
Realização do 1º Fórum Exclusivo para Presidentes de Conselho 2013 Aprovação de outros três Capítulos: Santa Catarina,
Pernambuco e Ceará.
de Administração.
Lançamento da 5ª edição do Código das Melhores Práticas de Relatório Anual 2013 do IBGC é classificado em segundo lugar
Governança Corporativa. 20 15 no Prêmio Abrasca.
C
códigos de conduta são nossos velhos conhecidos e têm uma longa história a ser contada em milênios, séculos e décadas
LE L IO L AU RE T T I
Socio-fundador e professor dos cursos do IBGC
AD RIANA D E AN D R A D E S OL É
Conselheira Certificada pelo IBGC
6 www.ibgc.org . b r
E D I Ç Ã O E S P E C I A L - I B G C 2 0 A NO S
8 www.ibgc. org . br
E D I Ç Ã O E S P E C I A L - I B G C 2 0 A NO S
IDADE
CONTEMPORÂNEA
1789 ATÉ OS DIAS ATUAIS
10 www.ibgc. org . br
E D I Ç Ã O E S P E C I A L - I B G C 2 0 A NO S
O
Um passo importante seria o êxito do programa da BM&FBovespa para a melhoria da Governança Corporativa
no setor público
MA RIO E NG L E R PI N T O J U N I OR
Professor e Coordenador do Mestrado Profissional da FGV Direito SP
12 www.ibgc.org . b r
E D I Ç Ã O E S P E C I A L - I B G C 2 0 A NO S
8 4
conselho fiscal) para Governança aparelhamento político-partidário
Corporativa da empresa estatal, da companhia, colocando-a
propugnando pelo seu efetivo a serviço do conjunto da
empoderamento e adoção de sociedade e respeitando ainda
7 3 9
cuidados especiais na escolha as compreensíveis aspirações dos
dos conselheiros. A preocupação acionistas privados.
central é assegurar que o órgão
1 2
colegiado possa atuar de forma O quarto e último tópico do
4 4 5
autônoma e independente, sem se programa de melhoria da
sujeitar a pressões políticas que Governança das estatais procura
não se revestem da necessária envolver diretamente o ente público
2 3
institucionalidade para representar
a vontade legítima do acionista
controlador. A questão crítica tem
a ver com a correta divulgação de
9 8 5
controlador público. informações sobre os negócios da
companhia. Mesmo quando sejam
A solução apresentada consiste de domínio dos representantes
4 3 fundamentalmente na observância governamentais e afetas às suas
6 8 2 de uma quota mínima de funções institucionais, as notícias
14 www.ibgc. org . br
E D I Ç Ã O E S P E C I A L - I B G C 2 0 A NO S
V
serviços ecossistêmicos é condição “sine qua non” para a sua sobrevivência.
RO BE RTA S I M O N E T T I
PhD. em Física e Especialização em Gestão de Sustentabilidade, coordenadora da CESE/IBGC
risco e retorno. Entretanto, existem e indiretos de natureza financeira localizarem na cadeia de valor não
limites para a aplicação desses e reputacional. Ao negligenciar diminui sua responsabilidade.
modelos, nem sempre considerados, a manutenção do equipamento,
e muitas vezes se esquece que aumenta-se o risco da ocorrência Outra perspectiva, que adiciona
“modelos são (apenas) modelos” de vazamentos, apesar da possível a característica de ‘emergente’
e que, portanto, não se mantêm, redução de custos no curto prazo. a essa categoria de riscos, é a
necessariamente, fieis à realidade Na realidade, essa decisão interdependência que foi até agora,
ou atribuem valores apropriados aos acabará por reduzir o retorno se não negligenciada, ao menos
bens e/ou aos impactos envolvidos. na medida em que sanções são subestimada. Vejamos a atual crise
aplicadas, há custos adicionais hídrica. Esta crise é um ícone da
Esta reflexão ganha importância para recuperação e impactos na falta de compreensão sistêmica do
na medida em que ‘emerge’ uma imagem. Muitos riscos podem mundo em que vivemos; não tem uma
categoria de riscos que desafia a ser significativamente reduzidos causa única e simples; são várias
lógica da razão direta entre risco e por meio da adoção de medidas causas interligadas que vão desde o
retorno; são os riscos de natureza preventivas ou protetivas e excesso de demanda, desperdício,
socioambiental que têm sido adequados sistemas de gestão. intensa impermeabilização do solo,
analisados essencialmente pela supressão vegetal (especialmente
perspectiva do impacto causado. O problema se agrava quando esses matas ciliares), ocupação de áreas
Consideremos a seguinte situação: riscos sequer foram percebidos ou de mananciais e preservação
a falta de manutenção em uma adequadamente dimensionados. O permanente; até falta de
válvula provoca um vazamento fato é que hoje os riscos de natureza planejamento e gestão deste recurso
que despeja um grande volume socioambiental com maior potencial finito e ‘parcialmente’ renovável.
de substâncias tóxicas, que de impacto situam-se ‘fora dos muros’ Além dessas causas, estão os
contaminam um rio, provocando a das empresas, menos visíveis na efeitos das mudanças climáticas
morte de peixes e, por fim, afetando sua cadeia de valor. São situações globais que alteram o regime de
a população. Um risco de natureza que demandam grande atenção e chuvas, diminuindo a precipitação
operacional com impactos diretos compromisso da alta gestão para o e prolongando os períodos de
na sociedade e no meio ambiente seu enfrentamento, pois o fato de se estiagem em algumas regiões.
16 www.ibgc. org . br
E D I Ç Ã O E S P E C I A L - I B G C 2 0 A NO S
E as empresas nesse cenário? A ser possível “dividir o mundo e 1 A exemplo dos ‘stranded assets’.
percepção é que poucas se deram isolar suas partes em caixas” Para mais informações ver
conta de que esses riscos põem sobrevalorizando algumas variáveis “Unburnable carbon 2013: wasted
em xeque seus negócios atuais e em detrimentos de outras. Estas capital and stranded assets”
futuros. Investidores encontram-se em análises não consideram o contexto www.carbontracker.org
estado semelhante de inação não ecológico, não adotam uma visão
tendo ainda inserido, de maneira sistêmica, não incorporam limites 2 ISO: International Standards
sistemática e abrangente, aspectos e permitem a quem os interpreta Organization
socioambientais em suas análises e, pensar ser possível continuar a
principalmente, nas suas decisões operar indefinidamente dessa forma. 3
Coso: Committee of Sponsoring
estratégicas. Investimentos continuam Organizations of the Treadway
sendo feitos em empreitadas cujos A realidade nos mostra que o mundo Commission. Em 2013 foi lançado um
riscos financeiros associados a fatores não funciona de maneira linear e relatório sobre o tema “Demystifying
socioambientais são elevados, não fragmentada, mas cíclica, sistêmica Sustainable Risk”.
sendo clara, tampouco garantida, e interdependente. Gerenciar
a relação favorável entre risco e riscos de forma segmentada faz 4 BIS: Bank of International Settlements e
retorno para nenhuma das partes perder elementos e correlações os Acordos da Basiléia
envolvidas (acionistas, empresas ou fundamentais: o mundo complexo
sociedade). Além das dúvidas sobre requer um olhar integrado, que 5 Banco Central do Brasil Resolução
a disponibilidade de recursos e sua conecte seus elementos e permita 4.327 de 25.04.14; dispõe sobre
viabilidade econômica futura1, há compreender correlações, que as diretrizes para o estabelecimento
outros riscos, tão ou mais impactantes, antes pareciam não existir. e implementação de uma Política de
como a violação de direitos humanos, Responsabilidade Socioambiental
a supressão vegetal e a irreversível Por indução do mercado, órgãos (PRSA) que deve conter princípios e
perda de biodiversidade. reguladores ou sociedade, novos diretrizes que norteiem as ações de
compromissos, princípios e natureza socioambiental nos negócios,
Portanto, é essencial que os riscos ferramentas foram desenvolvidas assim como estabelecer diretrizes sobre
socioambientais sejam considerados nos últimos anos. Exemplos são as ações estratégicas relacionadas à
de forma estratégica: compreender os esforços da ISO2, do Coso3 sua governança, inclusive para fins do
a intrínseca e inevitável dependência e do BIS4. Nos anos 80 e 90, a gerenciamento do risco socioambiental,
que os negócios têm das pessoas, gestão de riscos focava nos riscos definido como sendo a possibilidade de
da natureza e dos serviços financeiros e operacionais, sendo ocorrência de perdas decorrentes de
ecossistêmicos é condição “sine qua mais recentes iniciativas que danos socioambientais.
non” para a sobrevivência de todos, consideram riscos socioambientais
seja no curto, médio e longo prazos. (ver Bacen5). 6
WEF (World Economic Forum):
“Insight Report – Global Risks 2015”
É necessário adotar novos modelos Este assunto é crítico e precisa receber (10ª edição)
que tenham como premissa a inclusão atenção da mais alta instância da
de variáveis socioambientais, Governança das empresas. Em 7
Divididos em 5 categorias:
avaliem e valorizem os ativos naturais seu relatório o WEF6 lista 28 riscos geopolítica, econômica, ambiental,
e seus serviços. Análises tradicionais globais e destaca os dez mais social e tecnológica.
partem de premissas incompletas, críticos em termos de probabilidade
às vezes até equivocadas; com e impacto. Praticamente metade 8
Eventos climáticos extremos,
base nessas análises tomadores estão na categoria de riscos sociais e catástrofes naturais, falhas na
de decisão se esquecem que os ambientais. É algo para se considerar adaptação às mudanças climáticas,
modelos não são a realidade, mas seriamente a partir de agora e não crise hídrica, aumento da incidência
uma visão simplificada que hoje exclusivamente pela ótica dos riscos, de doenças contagiosas, perda
reflete a primazia do pensamento mas percebendo as oportunidades de biodiversidade e colapso
cartesiano que nos fez acreditar que se apresentam. dos ecossistemas.
E
JO S É PAS C HO AL R OSS E T T I
Professor da Fundação Dom Cabral e instrutor de programas do IBGC. É sócio-diretor da consultoria Rossetti & Associados.
É conselheiro externo independente do Grupo Fleury, Grupo Boticário, RaiaDrogasil e Química Amparo/YPÊ. É presidente
do Conselho de Administração da Usina Santa Adélia. Autor, entre outros livros, de Governança Corporativa: Fundamentos,
Desenvolvimento e Tendências (7ª Ed., Atlas, São Paulo).
18 www.ibgc.org . b r
E D I Ç Ã O E S P E C I A L - I B G C 2 0 A NO S
Este universo de empresas tem um conjunto similar Mas, em contrapartida a estes dez pontos positivos,
de características. Pesquisas de abrangência as empresas de controle familiar também se veem
mundial realizadas pela PwC em 2012 e 2014 às voltas vulnerabilidades e com grandes desafios.
revelaram várias e expressivas características Entre os que se observam com maior frequência,
comuns. Destacamos estas dez. destacamos também dez.
Objetivos predominantes: perpetuidade da empresa e Número significativo de casos em que não há herdeiros/
sustentação do controle pelas gerações sucessoras. sucessores preparados para a sucessão: ou, quando
reconhecidamente preparados, demonstram preferência
para se posicionarem como “investidores”, não como
“gestores” da empresa controlada pela família fundadora.
Estes conjuntos de características sob condições adversas (ou nos OBJETIVOS RELACIONADOS
comuns definem as razões pelas processos menos traumáticos AOS NEGÓCIOS
quais um número crescente de de preparação da empresa
empresas de controle familiar para que elas transcorram • Definição e emissão de
mostra interesse em definir sistemas sob condições alinhadas) que expectativas de resultados para a
de Governança Corporativa que se desenvolvem projetos de Diretoria Executiva.
deem sustentação ao objetivo adequação dos sistemas de
dominante de perpetuidade Governança Corporativa sob • Emissão de direcionadores para a
do negócio construído pelos orientação de consultorias construção do business plan e do
fundadores, mantido o controle externas, em praticamente todos planejamento orçamentário anual.
familiar. No universo das empresas os casos.
brasileiras pesquisadas pela • “Abertura da janela” para ver e
PwC, apenas 16% das empresas Os objetivos então buscados podem analisar o que está acontecendo
de controle familiar estavam ser sintetizados em três blocos: no ambiente empresarial e no
sob comando da 1ª geração; setor de atividade da empresa,
52% estavam na passagem da OBJETIVOS SOCIETÁRIOS em termos mundiais.
1ª para a 2ª geração; 28% em
terceira geração; e 4% em 4ª. • Estabelecer, via conselho de • Aperfeiçoamento do
Neste conjunto, apenas 31% administração, “um poder processo de avaliação e
dos controladores manifestaram moderador”, para mediação decisão de investimentos.
a disposição em passar a de pontos de vista conflituosos,
administração para a próxima que possam afetar a • Sustentação de bom entendimento
geração. Mas quase o dobro, coesão societária. entre os acionistas quanto ao
59%, revelaram a preferência direcionamento dos negócios.
por passar a propriedade • Tratamento preventivo de
aos herdeiros, mas construir potenciais de conflito, que possam • Proposição consensada e
administração profissional; em 7% conduzir a mudanças indesejáveis acompanhamento de projetos
dos casos, a decisão manifestada no quadro societário. de alto impacto.
era mais radical: vender ou abrir
o capital; e 3% revelaram não ter • Definição de critérios para • Ousadia, mas com os “pés
ainda decisões definidas quanto ingresso de sucessores no chão”: conciliar o apetite
ao processo de transição. nas empresas. empresarial com as reais
possibilidades de expansão
Independentemente, porém, • Orientação isenta e segura de sustentada dos negócios.
de como serão conduzidas as oportunidades de consolidação
transições entre gerações, estas (fusões e aquisições). • Orientação das estratégias de
são inevitáveis e geralmente crescimento das usinas.
ocorrem sob circunstância • Redesenho dos canais de
menos favoráveis, à presença comunicação entre os • Orientação isenta para a
da maior parte dos desafios e órgãos colegiados. destinação de recursos gerados
vulnerabilidades que listamos. pelos negócios.
Os pontos positivos que tendem • Orientação para mudanças
a bloquear desalinhamentos nos Estatutos Sociais e Acordos
radicais são os legados e valores de Acionistas.
morais definidores da cultura da
empresa, a resiliência diante de
diversidades graves e o objetivo
de perpetuidade. É exatamente
quando ocorrem as transições
20 www.ibgc. org . br
E D I Ç Ã O E S P E C I A L - I B G C 2 0 A NO S
Estratégia Sucessão
Alinhamento quanto a: Alinhamento entre os Herdeiros/Sucessores: Aderência das gerações sucessoras aos
• Valores e princípios • Projetos de vida profissional legados, valores e cultura da empresa.
• Propósito orientador (missão) • Paixão ou grande satisfação em atuar Alinhamento quanto a:
• Propósito empresarial (visão) nos negócios herdados. • Inserção de Herdeiros/Sucessores
• Forma como os negócios são conduzidos. • Aspirações e visão compartilhadas. na empresa.
• Políticas e diretrizes de gestão. Envolvimento de Herdeiros/Sucessores na • Critérios, processos e formatação do
• Definição do sistema de Governança. construção da estratégia. programa de inserção.
Harmonia e soluções condensadas para Negociação entre Colaboradores e Clareza nas expectativas:
conflitos nos órgãos de Governança: Herdeiros/Sucessores para direcionamentos: • Atuais Controladores em relação
• Vetores de crescimento. aos Herdeiros/Sucessores.
• Conselho de Família.
• Portfólio de negócios/produtos. • Herdeiros/Sucessores em relação
• Conselho de Sócios.
• Âmbito geográfico de atuação. aos Controladores.
• Conselho de Administração.
Atenção redobrada ao binômio Focos em fundamentos racionais e em
olhares para o futuro, mais do que para
riscos/oportunidades.
o passado.
F
Principal documento do Instituto chega à sua 5ª edição em 2015 com conteúdo mais reflexivo.
LYGI A G I L
Jornalista do IBGC
22 www.ibgc. org . br
E D I Ç Ã O E S P E C I A L - I B G C 2 0 A NO S
24 www.ibgc.org . b r
E D I Ç Ã O E S P E C I A L - I B G C 2 0 A NO S
2001
1999 2004
2015 2009
“Nos apropriamos com Ao longo desses 20 anos, o valor que se viu na esteira das crises.
orgulho do papel que tivemos, resultante da boa Governança Os códigos de boas práticas foram
mas estamos plenamente tem sido tangibilizado a partir ajustados em todo o mundo. A
conscientes que ainda temos de situações de crise. Foi assim autorregulação se aperfeiçoou. As
muito a avançar. Seremos no início do milênio quando os empresas buscaram fortalecer suas
totalmente inflexíveis com escândalos corporativos como práticas. Os investidores fizeram um
situações como as que Enron, Tyco, WorldCom, deixaram mea culpa e passaram a acompanhar
levaram o País a viver esse os mercados perplexos com a mais de perto as práticas de
tsunami do ponto de vista dimensão das fraudes empresariais Governança das empresas onde
ético. Estaremos vigilantes. e as perdas colossais de todas as investem, criando inclusive códigos
Seguiremos resolutos, suas partes interessadas. Menos para si próprios, os stewardship
educando e advogando pelas de uma década depois, em 2008, codes. Junto com tudo isso, veio
boas práticas” o mundo voltou a ficar atônito com o aumento da consciência sobre a
a crise financeira internacional, importância da boa Governança
como consequência da derrocada como fator preventivo e protetor, um
de muitos bancos nos Estados verdadeiro escudo para preservação
Unidos e Europa, na sequência de valor.
da crise do mercado de hipotecas
estadunidense. Ao lado de fatores É com esse olhar que podemos
estruturais e sistêmicos, a fragilidade observar a crise política e
da Governança nessas instituições econômica que devasta o País e que
foi claramente evidenciada entre nos deixa a todos desolados. As
as causas da crise que foi a maior notícias dos jornais dão contornos
desde a quebra da bolsa de Nova sombrios sobre a amplitude e
York, em 1929. profundidade das práticas de
corrupção. Como chegamos a
Estes dois momentos históricos esse ponto em que corruptores e
foram seguidos de um movimento corruptos se sentiam tão à vontade
de reforma regulatória e também para desenvolver esquemas tão
de transformações nas empresas e grandes e sofisticados, envolvendo
por parte dos investidores. As leis um número tão grande de pessoas?
Sarbannes-Oxley e Dodd Frank nos
Estados Unidos são exemplares da Que Governança era essa
profunda transformação regulatória praticada nas empresas envolvidas
26 www.ibgc. org . br
E D I Ç Ã O E S P E C I A L - I B G C 2 0 A NO S
com os casos da Operação Lava- É nesse quadro que a boa exemplo, na administração dos
Jato da Política Federal? Quando se Governança pode mais uma vez conflitos de interesses; nos processos
toma conhecimento das denúncias e se apresentar como um caminho de decisão mais robustos; no aumento
acusações, pode-se especular que os seguro para a criação de valor da confiança interna e externa que
esquemas de corrupção estivessem para toda a sociedade. Assim, é resultante da maior transparência
na raiz do modelo de negócios de não poderia ser mais oportuno junto às partes interessadas; e
certas empresas. Onde estavam os que o IBGC comemore seus 20 na criação de valores tangíveis e
conselhos de administração? Como anos lançando a 5a edição de seu intangíveis à organização. Esses
os administradores, executivos e Código das Melhores Práticas. benefícios acabam por conduzir
vários funcionários não viram os a negócios mais sustentáveis e
sinais de práticas tão nocivas e que Nessa nova edição, nós propomos geradores de valor no longo prazo.
ganharam tamanha grandeza? um novo olhar em relação às
boas práticas. O novo código Completamos 20 anos com a
Esses construtos ilegais com esse nível propõe a reflexão que leva a uma certeza de que o IBGC teve papel
de sofisticação não se formam do dia escolha responsável e madura. fundamental no aperfeiçoamento
para a noite. Eles foram crescendo Menos prescritivo que as versões da Governança no Brasil. Foi o
em um ambiente tolerante, tanto no anteriores, nosso código ancora- sustentáculo independente para
âmbito do setor público como o do se nos princípios como elementos motivação de todos os tipos de
privado, onde princípios éticos foram norteadores inequívocos do que organizações, para as iniciativas
sendo esquecidos e a integridade se espera como boa Governança. dos reguladores e autorreguladores
perdeu o seu valor. Um ambiente onde Entendemos que esta é uma edição e para a ação de todos aquelas
os princípios da boa Governança de transição da prescrição para partes interessadas que gravitam
não são o mantra da organização e um documento essencialmente em torno da Governança. Nos
os modelos de supervisão e controles baseado em princípios. E fizemos apropriamos com orgulho do
são feitos para não ver. assim considerando que essa papel que tivemos, mas estamos
transição gradual seria educativa plenamente conscientes que ainda
Esse doloroso momento brasileiro para nossa sociedade. temos muito que avançar.
pode ser visto como uma
oportunidade de virarmos a página O novo Código do IBGC pretende Seremos totalmente inflexíveis com
e escrevemos uma nova história, a estimular as organizações a moverem situações como as que levaram o
qual precisa ser redigida a partir da da Governança do parecer ser, País a viver esse verdadeiro tsunami
absoluta intolerância aos desvios uma abordagem que leva à adoção do ponto de vista ético. Estaremos
éticos e priorização dos valores superficial de boas práticas, motivada vigilantes. Seguiremos resolutos,
e princípios da boa Governança. pelo percepção que ela vai gerar, educando e advogando pelas
Nessa nova história, não se faz para aquela adotada pelo valor boas práticas. Vamos incentivar
vista grossa aos oportunistas e intrínseco de se adotar as melhores para que nossa sociedade
“espertos” que cortam caminhos e práticas, a Governança do ser. amadureça com essa crise e se
produzem riqueza para si apenas torne altamente intolerante com
e por caminhos tortuosos. O valor intrínseco da boa as práticas em arrepio à ética e à
Governança é observado, por boa Governança.
www.ibgc.org.br