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E D I Ç Ã O E S P E C I A L - I B G C 2 0 A NO S

Nº 75

em
Out/Nov/Dez 2015

foco
em
foco
EDITORIAL Nº 75 / 2015
Outubro / Novembro / Dezembro
Em comemoração aos 20 anos do Instituto, a IBGC em Foco
CONSELHO
chega à 75ª edição com um formato especial. Ao longo das
Presidente: Sandra Guerra
páginas, o leitor poderá contemplar artigos com temas que
Vice-presidentes: Eliane A. Lustosa eFernando Alves
vão desde a evolução dos códigos de conduta à perspectiva Conselheiros: Emílio Carazzai, Luiz Carlos Cabrera,
de aprimoramento das práticas nas empresas estatais. Marta Viegas Rocha, Ricardo E. Setúbal, Robert
Juenemann e Roberto S. Waack
Infelizmente, não há como abordar todo o espectro de temas
DIRETORIA
relacionados à Governança Corporativa nesta publicação.
Henri Vahdat, Matheus Rossi e Angelim Curiel
Contudo, destacamos alguns assuntos considerados importantes
pelo IBGC. SUPERINTENDENTE GERAL
Heloisa Belotti Bedicks
Agradecemos a ocasião para agradecer os articulistas, que
PRODUÇÃO E COORDENAÇÃO DA NEWSLETTER
dispuseram de tempo e dedicação na concepção de seus
Jornalista responsável: Sandra Nagano (MTB 42425/SP)
textos, especialmente elaborados para esse informativo.
Colaboração: Lygia Gil

Por se tratar de uma edição especial, excepcionalmente, não PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO

teremos as seções comumente publicadas na IBGC em Foco. Atelier de Criação


atelierdecriacao.com.br

Boa leitura!
É vedada a reprodução de textos e imagens desta
publicação sem autorização prévia, mediante
consulta formal e citação de fonte.

ÍNDICE IBGC
Av. das Nações Unidas, 12551
World Trade Center Tower - 25º andar - cj. 2508
Os 20 anos do IBGC
CEP 04578-903 - São Paulo/SP
PÁG. 3
tel.: 55 11 3185 4200
e-mail: ibgc@ibgc.org.br
A Evolução dos Códigos de Conduta www.ibgc.org.br
PÁG. 6
Capítulo Ceará: ibgc@ibgc.org.br
Capítulo Minas Gerais: ibgcmg@ibgc.org.br
Um caminho para o aprimoramento da governança das estatais
Capítulo Paraná: ibgcparana@ibgc.org.br
PÁG. 12
Capítulo Pernambuco: ibgc@ibgc.org.br
Capítulo Rio de Janeiro: ibgcrj@ibgc.org.br
Gestão de Riscos Socioambientais Capítulo Santa Catarina: ibgc@ibgc.org.br
PÁG. 15 Capítulo Rio Grande do Sul: ibgcsul@ibgc.org.br

Governança corporativa em empresas de controle familiar ASSOCIADOS MANTENEDORES


PÁG. 18

As revisões do Código das Melhores Práticas de


Governança Corporativa do IBGC
PÁG. 22

Crise: oportunidade para aperfeiçoar a governança


PÁG. 26

2 www.ibgc. org . br
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H
OS 20 ANOS DO IBGC
O Instituto chega maduro aos 20 anos, com um elevado grau de reconhecimento de seu trabalho e,especialmente de sua
causa. Mas ainda estamos no meio da jornada

HELO IS A BE DIC KS
Superintendente geral do IBGC

“Compreendemos que Há vinte anos, ainda não existia do que viria ser o IBGC, até
a adoção das melhores no Brasil uma tradução para os dias atuais, crescemos em
práticas como um caminho o termo em inglês “Corporate tamanho, em presença regional,
para mudar positivamente Governance” e muito menos o em relevância e também na forma
uma cultura no âmbito conhecimento pelo mercado do de abordar o tema. Se antes
das organizações e, seu significado. Nessa trajetória nosso foco eram unicamente as
consequentemente, do de duas décadas, o IBGC teve empresas, hoje ampliamos nossa
nosso País” de desbravar mares, por vezes abordagem para outros públicos
revoltos, de resistências, dúvidas e tipos de organização, tais
e desconhecimento para que hoje como cooperativas, entidades do
tivesse condições de oferecer terceiro setor e, mais recentemente,
muito mais que a tradução literal as estatais. Também estamos
desse termo, mas um sentido adquirindo competência no
mais amplo da importância tema da Governança Pública,
de se adotar boas práticas de dando assim um novo passo em
Governança Corporativa. nosso propósito de influenciar os
agentes da sociedade no sentido
E isso foi possível somente pela de promover maior transparência,
persistência e doação de tempo e justiça e responsabilidade.
empenho de alguns empresários,
executivos, conselheiros, advogados, Com o passar desses anos,
auditores, todos estudiosos e compreendemos que já não era
voluntários, que perceberam a possível isolar nossa atuação
potencialidade do tema - a desdém em um só segmento. Isso devido
de um modismo estrangeiro - e a ao fato de estarmos cada vez
importância de discuti-la no âmbito mais interligados, inclusive no
das empresas brasileiras. que diz respeito aos problemas
que assolam o nosso cotidiano.
Atualmente, já contamos com Compreendemos a adoção
quase 1700 associados, entre das melhores práticas como
pessoas física e jurídica, e 44 um caminho para mudar
colaboradores. Dos primórdios do positivamente uma cultura no
Instituto Brasileiro de Conselheiros âmbito das organizações e,
de Administração (IBCA), embrião consequentemente, do nosso País.

OUTUBR O / NOVEMBR O / D EZ EMBRO 2015 IBGC EM FOCO 3


O S 2 0 A NO S D O I B G C - H E L O I S A BED ICKS

“Ainda estamos no meio Também expandimos nossa de temas que envolvem a


dessa jornada. As boas atuação além das fronteiras, nos Governança Corporativa.
práticas de Governança tornamos referência nacional
são reflexo do contexto e internacional. Atualmente, Nesse sentido, creio que o IBGC
histórico no qual se hospedamos as atividades da chegou aos 20 anos maduro,
inserem, sendo assim, Global Reporting Initiative (GRI) com um elevado grau de
estão incutidas em no Brasil. Além disso, integramos reconhecimento de seu trabalho
contínuo processo de a rede de Institutos de Gobierno e, especialmente, de sua causa.
aperfeiçoamento” Corporativo de Latino América Mas ainda estamos no meio
(IGCLA) e a Global Network of dessa jornada. As boas práticas
Director Institutes (GNDI), grupo de Governança são reflexo do
que congrega os principais contexto histórico no qual se
institutos de Governança e de inserem, sendo assim, estão
Conselheiros de Administração ao incutidas em contínuo processo
redor do mundo. de aperfeiçoamento.

Mas, ao meu ver, é preciso Desta forma, ainda temos


destacar em nossa trajetória muito a avançar e contribuir,
um aspecto bastante caro ao especialmente neste momento de
Instituto, que é o engajamento crise de confiança em que vivemos
de nossos associados. Sempre no País. É preciso sempre atentar
me surpreendeu positivamente para o fato de que a disseminação
o grau de participação e das boas práticas é um processo
comprometimento deste público contínuo, cujos efeitos tendem a
em nossos eventos, cursos e demais surtir no longo prazo. Assim, temos
atividades do IBGC. Somente uma responsabilidade contínua
para ilustrar, aproximadamente para com as organizações e
400 associados estão ativamente para com o nosso País. Vamos
presentes nas comissões, nos continuar levando nossa bandeira
grupos de trabalhos, grupos de da ética, da transparência,
estudos do Instituto, discutindo da prestação de contas e da
a fundo um largo espectro responsabilidade corporativa.

4 www.ibgc.org . b r
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IBGC AO LONGO 1995 Criação do Instituto Brasileiro de Conselhos de Administração (IBCA).

DOS 20 ANOS
1996 Primeiro evento público do IBCA, no Museu de Arte Moderna,
abre ciclo de debates inédito no País sobre Conselhos de
Administração e Governança Corporativa.

Inicia-se a estruturação do curso para conselheiros. 1997


Primeira edição do curso para conselheiros de administração.
1998 Realizada a primeira Jornada Técnica para Washington (EUA).
O IBCA passa a ser Instituto Brasileiro de Governança
1999
Corporativa (IBGC) e lança o Código das Melhores Práticas de
Governança Corporativa, primeiro documento do gênero no País. Em comemoração ao seu 5º aniversário, o IBGC realiza o
2000
primeiro Congresso Brasileiro de Governança Corporativa.

Lançada a 2ª versão do Código das Melhores Práticas de 2001


Governança Corporativa, que passa a abordar Propriedade, Gestão, O IBGC inicia a implantação de um processo de Planejamento
Auditoria Independente e Ética, além do Conselho de Administração. 2002 Estratégico para nortear seus passos até 2010 e garantir seu
propósito de ser referência nacional em Governança Corporativa.

Lançada a 3ª edição do Código das Melhores Práticas de


Governança Corporativa, revista e ampliada, no qual é 2003 Realização do primeiro Prêmio IBGC de Monografias e lançada a
abordado de forma didática e detalhada o papel dos pesquisa Panorama Atual da Governança Corporativa (parceria
diferentes públicos-alvo da Governança. com a Booz Allen Hamilton).
2004
Nova regional é formalizada: o Capítulo Rio. Formalizada a criação de sua primeira regional, o Capítulo Sul.

2005
Primeira edição do Prêmio IBGC Itaú de Jornalismo. 2006 IBGC completa 10 anos e lança o livro
"Uma década de Governança Corporativa" e realiza a primeira
edição do Prêmio IBGC de Governança Corporativa.

Lançado o Código de Conduta do IBGC. 2007 Formalização do Capítulo Paraná, a terceira regional do Instituto.

Inicia a série de Cadernos de Governança Corporativa com o título


"Guia de Orientação para o Conselho Fiscal".
Publicada a primeira Carta Diretriz, na qual o Instituto se
posiciona sobre o tema da independência dos conselhos de
administração, e a nova série de Estudos de Casos sobre a O IBGC anuncia dois grandes programas: Certificação e Banco
Gestão de Riscos. 2008 de Conselheiros.
O IBGC adota as diretrizes da Global Reporting Iniative (GRI) Lançada a quarta edição do Código das Melhores Práticas de
em seu Relatório Anual, levando informações financeiras e não Governança Corporativa.
financeiras aos seus stakeholders. 2009
Formalizada a criação da quarta regional, o Capítulo Minas Gerais.

Publicada nova série Experiências em Governança Corporativa,


IBGC é escolhido como Centro de Excelência e Incubador em tendo como primeiro volume "A Prática da Sustentabilidade:
Governança para América Latina, Caribe e África Lusófona Desafios vividos por Agentes da Governança Corporativa".
pelo GCGF.

Relatório Anual de 2009 é vencedor do 12º Prêmio Abrasca 2010


na Categoria Organização não Empresarial.
Relatório Anual de 2010 é vencedor pelo segundo ano
Assinado tratado de cooperação com a GRI para hospedar as consecutivo do 13º Prêmio Abrasca na Categoria Organização
2011 não Empresarial.
atividades da iniciativa no Brasil nos próximos dois anos.
Participação na primeira reunião dos Centros de Excelência em
Governança em Washington DC.
Vence o prêmio anual da International Corporate Governance Network
(ICGN), na categoria Excelência em Governança Corporativa.
2012
Promoção do primeiro Encontro de Conselheiros.
Membro fundador do Global Network of Director Institutes (GNDI).

Realização do 1º Fórum Exclusivo para Presidentes de Conselho 2013 Aprovação de outros três Capítulos: Santa Catarina,
Pernambuco e Ceará.
de Administração.

20 anos do IBGC. 2014 Divulgação do novo Código de Conduta.

Lançamento da 5ª edição do Código das Melhores Práticas de Relatório Anual 2013 do IBGC é classificado em segundo lugar
Governança Corporativa. 20 15 no Prêmio Abrasca.

IBGC EM FOCO OU T U BRO / N O V EM BRO / DEZEM BRO 2015 5


A EVOLUÇÃO DOS CÓDIGOS DE CONDUTA
Atualmente em enorme evidência, em grande parte promovida pelo fortalecimento das práticas anticorrupção, os

C
códigos de conduta são nossos velhos conhecidos e têm uma longa história a ser contada em milênios, séculos e décadas

LE L IO L AU RE T T I
Socio-fundador e professor dos cursos do IBGC

AD RIANA D E AN D R A D E S OL É
Conselheira Certificada pelo IBGC

“O instrumento adequado Consideramos os códigos de


para disseminar uma conduta como uma “ponte” entre a • Visão
“cultura ética” na Ética e as empresas. Para justificar Síntese do planejamento
organização é o Código nossa posição, vamos partir da estratégico, ou seja, aonde a
de Conduta” ideia de que as empresas podem empresa quer chegar;
ser vistas sob 3 ângulos:
• Valores
PRIMEIRO ÂNGULO Fatores que permitem à
Perfil corporativo: É uma espécie organização alcançar sua visão
de retrato de corpo inteiro, e cumprir sua missão. Não se
apresentando dados relativos cuida, aqui, de princípios éticos,
à fundação, objeto social, como integridade, transparência,
controle acionário, número de responsabilidade social etc., que
funcionários, filiais no país e no se referem à “cultura”, mas dos
exterior, posição nos mercados “fortes” da organização, como
em que atua, número de tradição no mercado, força da
clientes, principais indicadores marca, qualidade dos produtos,
operacionais e econômico- rede de distribuição, motivação
financeiros etc.; do pessoal, desenvolvimento
tecnológico, bom atendimento
SEGUNDO ÂNGULO aos clientes e assim por diante.
Identidade organizacional: Está
espelhado na Declaração de TERCEIRO ÂNGULO
“Missão, Visão e Valores”, cuja Cultura corporativa: Tem tudo a
estrutura básica deve ser uma ver com Ética, porque envolve,
exposição bastante objetiva e basicamente, o nível de confiança,
concisa dos seguintes pontos: de respeito e solidariedade que
permeia as relações internas e
• Missão externas da organização e se
Maneira pela qual a atividade traduz nas melhores práticas de
da empresa ou organização Governança Corporativa, orientadas
está contribuindo para pelos princípios de transparência,
melhoria da qualidade de vida equidade, prestação de contas e
da sociedade; responsabilidade socioambiental.

6 www.ibgc.org . b r
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O instrumento adequado para


disseminar uma “cultura ética” PRIMEIRO ÂNGULO
na organização é o Código de PERFIL CORPORATIVO
Conduta, como registramos na
abertura deste texto. Não o –– Retrato de corpo inteiro da organização
rotulamos de “Código de Ética” (dados relativos à fundação, objeto social,
porque Ética é a inspiração dos controle acionário, etc)
códigos, que são conjuntos de
normas de comportamento. Algo
parecido com um hipotético SEGUNDO ÂNGULO
“Código de Direito” ou um IDENTIDADE ORGANIZACIONAL
“Código de Justiça”: o que temos
são códigos de deveres inspirados –– Espelhado na declaração de
pelo Direito e pela Justiça, como o “Missão, Visão e Valores”
Código Penal, o Código Civil, o
Código de Defesa do Consumidor
e muitos outros. Além disso, é Missão: Influência na melhoria na qualidade de vida da sociedade
importante que não se misturem
“valores” com “princípios éticos”: Visão: Síntese do planejamento estratégico
os primeiros fazem parte da
identidade organizacional, Valores: Fatores que permitem à organização alcançar sua visão e
enquanto os segundos se integram cumprir sua missão
à cultura ética.

Embora atualmente em enorme TERCEIRO ÂNGULO


evidência, em grande parte CULTURA CORPORATIVA
promovida pelo fortalecimento
das práticas anticorrupção, os –– Tem tudo a ver com a Ética
Códigos de Conduta são nossos –– Envolve nível de confiança, respeito
velhos conhecidos e têm uma e solidariedade
longa história a ser contada em –– Se traduz nas melhores práticas
milênios, séculos e décadas. de Governança
Vamos tentar resumi-la no
infográfico que se segue:

IBGC EM FOCO OU T U BRO / N O V EM BRO / DEZEM BRO 2015 7


A Evolução dos
MUNDO ANTIGO
2.450 A.C. ATÉ 50 D.C.
Códigos de Conduta
2450 A.C. | SUMÉRIA
ESTELA DE ABUTRES
Considerações sobre a relação Estado e
Deuses - Mais antigo tratado diplomático
registrando termos de paz da vitória do 450 A.C | ITÁLIA ERA CRISTÃ - IDADE MÉDIA
rei Lagash sobre a cidade Oumna. LEI DAS XII TÁBUAS 476 A 1634
Base da cultura jurídica italiana e Época rotulada como anos escuros
considerada a Lei escrita mais antiga ou idade das trevas
2350 A.C. | MESOPOTÂMIA do mundo ocidental que codificou os
CÓDIGO DE URAKAGINA velhos costumes nacionais.
Limitava o poder dos sacerdotes 100
e grandes proprietários de terras. 594 A.C | GRÉCIA NOVO TESTAMENTO DA
Dispunha sobre usura, roubos e CÓDIGO DE SÓLON IGREJA CRISTÃ
mortes. Primeira codificações de Introduziu o testamento e determinou
normas jurídicas. que a lei e normas fossem iguais 476 A.C | EUROPA
e aplicadas a todos. Aboliu a Regras de conduta dos
2040 A.C. | SUMÉRIA escravidão por dívida e proibiu senhores e cavaleiros feudais.
CÓDIGO DE UR-NAMMU homens de vender filhas e irmãs.
Transformou em leis os costumes antigos
e enfatizou penas pecuniárias para 621 A.C | GRÉCIA
delitos diversos. Criou a escrita em CÓDIGO DE DRACÓN
forma sentencial condicional “Se alguém Famoso por sua crueldade pois suas
fizer isso será penalizado com aquilo”. leis foram ditadas por uma religião 529 | IMPÉRIO BIZANTINO E EUROPA
implacável que via em qualquer CODEX JUSTINIANUS/ CORPUS
falta uma ofensa á divindade, IURIS CIVILLIS
1930 A.C. | IRAQUE constituindo um crime irremissível. Primeiro registro sistemático do direito
CÓDIGO DE ESHUNNA Diferenciava homicídio voluntário e romano combinado com princípios locais.
Previa a interferência real no domínio legítima defesa. Até hoje, utilizamos
econômico para coibir alta dos preços a expressão “draconiano“ para
de alimentos, definia sistema de côrtes referirmos a puniçãões consideradas 650 | MECA – ARÁBIA
de julgamento, e dispunha sobre excessivamente severas. ALCORÃO
escravidão, casamento e divórcio. Conjunto de preceitos e
Maioria das penas eram pecuniárias 1230 A 960 A.C | PALESTINA recomendações éticas e morais que
e apenas 3 penais: crimes sexuais, PENTATEUCO (TORAH) direcionam o mundo Islamico.
assaltos e roubos. Antigo testamento da Bíblia - cinco
livros que alternavam seções 1487 | ALEMANHA
1870 A.C. | SUMÉRIA E ACADIA de instrução ao povo de Israel e MALLEUS MALEFICARUM
CÓDIGO DE LIPS ISHTAR DE ISIN regulamentavam a sua conduta, (MARTILLO DE LAS BRUJAS)
Estabeleceu o Direito nestas regiões. tanto na ordem ética pessoal, Recompilação de crenças sobre bruxaria,
social e religiosa. um dos códigos mais obscuros e nocivos da
história. Serviu de base para a condenação
1780 A.C. | MESOPOTÂMIA 1300 A.C. | ÍNDIA a morte de milhares de mulheres via
CÓDIGO DE HAMURABI CÓDIGO DE MANU queimação em praça pública e degola.
Estabelecia regras de vida e de propriedade Base da legislação indiana -
e trazia indício de preocupação em relação Estabeleceu o sistema de casta 1563 | ITÁLIA
a fraudes de processos judiciais. da sociedade hindu. CONCILIO DE TRENTO
Conjunto de diretrizes para regular a
doutrina católica.

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XX SÉCULO XX 2013 | BRASIL


Período quando proliferaram os LEI ANTICORRUPÇÃO
1873 | ALEMANHA códigos de condutas de todas Recomenda e reforça a importância da
CÓDIGO ALEMÃO as profissões e os principais existência de Códigos de Conduta nas
Considerado o mais avançado da época referenciais aos direitos empresas brasileiras.
e caracterizado por sua perfeição técnica humanos pós guerras.
que refletia o panorama sócio econômico
e o modelo social adotado na época. 1947 | EUA
CÓDIGO DE NUREMBERG 2007 | UNIÃO EUROPEIA
1807 | FRANÇA preceitos focados no respeito CÓDIGO DE CONDUTA
CÓDIGO FRANCÊS necessário no uso de seres humanos CORPORATIVA
Código de leis patrocinado por Napoleão em pesquisas clínicas.
Bonaparte, baseado em 3 pilares:
propriedade, contrato, e responsabilidade 1948 | EUA 2001
civil. Regulamentava as relações entre os DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS Código de Conduta Corporativa como auto
cidadãos franceses. DIREITOS HUMANOS – ONU regulação da Economia Global - ONU

1800 | INGLATERRA 1964


PRIMEIRO CÓDIGO DE ÉTICA DECLARAÇÃO DE HELSINKI 2001
MÉDICA OCIDENTAL Tornou obrigatório Código de condutas Inventário OCDE sobre códigos de
Manual de condutas profissionais éticas á todos os pesquisadores clínicos . condutas de empresas transnacionais.
relacionadas a hospitais comuns e de
caridade criado por Thomas Percival 1979
(1740 -1804) CÓDIGO DE CONDUTA DAS 1999
NAÇÕES UNIDAS PARA SEUS OCDE
1789 | FRANÇA FUNCIONÁRIOS Considerado o Primeiro Código de Boas
PRIMEIRA VERSÃO Normas orientadoras aos governos Práticas de Governança Corporativa.
DA DECLARAÇÃO sobre questões relacionadas com direitos
DE DIREITOS DO humanos e justiça criminal. 1999 | BRASIL
HOMEM E CIDADÃO PRIMEIRO CÓDIGO DE
“Os homens nascem e permanecem livres 1992 | INGLATERRA BOAS PRÁTICAS DO
e iguais em direitos. As distinções sociais RELÁTÓRIO CADBURY INSTITUTO BRASILEIRO DE
só podem fundar-se na utilidade comum”. Considerado o Primeiro Código de Boas GOVERNANÇA CORPORATIVA
Práticas de Governança Corporativa

IDADE
CONTEMPORÂNEA
1789 ATÉ OS DIAS ATUAIS

IBGC EM FOCO OU T U BRO / N O V EM BRO / DEZEM BRO 2015 9


A E VO L UÇ Ã O D O S C Ó D I G O S D E C O ND UTA

CÓDIGOS EM RETROSPECTO EMPRESAS E CÓDIGOS EM FACE


DA GRANDE TRANSIÇÃO
O infográfico precedente
cobre um período de 5.000 Estamos convictos de que estamos
anos, durante o qual diferentes assistindo à maior transição já
povos, em diferentes épocas, ocorrida na história da civilização,
mostraram sua preocupação com e ela acontece a partir de uma
o estabelecimento de normas sociedade quase totalmente
de conduta que evidenciassem guiada por princípios econômicos,
o contínuo progresso da típica do século XX, em direção
humanidade em direção a um a uma sociedade orientada por
relacionamento entre pessoas e princípios éticos, que tendem
povos, orientado por confiança, a caracterizar os processos
solidariedade, transparência, decisórios no século XXI.
respeito e equidade. Nessa
caminhada, o conceito de “elite” – Não estamos trabalhando com
tradicionalmente aplicado às elites a hipótese da revogação pura e
de qualquer natureza (dinastias, simples dos princípios econômicos,
poder militar, religiosas e, mais mas é para nós evidente que
recentemente, econômicas) – foi aqueles princípios, dos quais
se reconfigurando, para dar lugar resultaram enormes desperdícios
à verdadeira “elite”, desta vez, de recursos, agressões constantes
formada por todas as pessoas e violentas contra a natureza, ou
de bem, em qualquer classe absurda concentração de renda e
social, que são a impressionante riqueza, serão reavaliados à luz
maioria. Este processo foi dos interesses da maioria e das
“Os códigos de conduta alimentado pela globalização prioridades estabelecidas pela
continuarão a ser a da informação que, finalmente e própria sociedade, agora muito
ponte entre a ética e as pela primeira vez na história da mais esclarecida a respeito de
organizações empresariais, civilização, converteu o mundo sua realidade pela globalização
destacando-se, entre as em uma comunidade global, em da informação. Seria ingênuo
melhores práticas de que propostas como “interesses imaginar que uma transição dessa
Governança, como aquela coletivos” e “prioridade para o estatura pudesse realizar-se sem
de maior convergência e social” encontraram campo para resistências ou turbulências e em
mais rápido retorno” florescer e se impor. curto prazo. Não esquecer, porém,
que os trabalhos de demolição
No momento – que acreditamos costumam anteceder obras novas
próximo – em que a maravilhosa e, também significativo, que
tecnologia da informação erigir nessa caminhada o que importa
o bem como notícia, substituindo fundamentalmente é a direção,
a esdrúxula situação presente em não a velocidade.
que o mal é a notícia, o processo
de aperfeiçoamento da sociedade Nesse novo quadro, a finalidade
dará um salto quântico, os ciclos da empresa, como entidade
de mudança na sociedade econômica, já foi definida como
ocorrerão em intervalos muito “criar valor para o acionista”
mais curtos do que os verificados (M. Friedman); alguns anos
no passado e as forças do bem depois, como “criar um cliente”
latentes serão despertadas. (P. Drucker); mais recentemente,

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em nossos dias, como “ajudar a anos, um curso sobre “fundamentos


criar um mundo sem pobreza” éticos e técnicas de elaboração
(M. Yunus). E não se trata de de códigos de conduta”. Como
uma questão de puro otimismo etapa conclusiva desse curso, os
ou de fantasia: o maior participantes são convidados a
respeito aos direitos humanos, responder às perguntas abaixo,
a severidade das punições por com referência aos códigos das
atos danosos aos interesses suas respectivas organizações:
da coletividade, o crescimento
exponencial do número de • O código tem um modelo bem
governos democráticos no mundo definido: código de princípios ou
(com todos os seus defeitos...), código de relacionamento?
a intensa difusão das práticas
de autorregulação, em paralelo • Ele se aplica igualmente a líderes
com o endurecimento das e liderados, sem influência
disposições legais, a crescente da hierarquia?
independência dos tribunais, a
ampliação e aperfeiçoamento • Os princípios estão bem
tecnológico dos órgãos de definidos e sua conversão em
controle, são realidades com normas é bem clara?
as quais nos defrontamos em
nosso dia-a-dia e que não • Mistura princípios éticos com
comportam outra interpretação princípios puramente disciplinares
senão a de que a tão temida (para os quais a organização
quanto alardeada corrupção dispõe de outros veículos)?
entrou para o rol das “espécies
em extinção”, e não poderia ser • Define bem a responsabilidade
outro o destino de uma atividade dos líderes pelo bom ambiente
que depende totalmente da de trabalho?
existência de três fatores: sigilo
completo, cumplicidade absoluta • Aborda com franqueza os objetivos
e garantia de impunidade. Estão econômicos da organização?
aí o mensalão e o petrolão que
não nos deixam mentir... • É construído em tom
predominantemente afirmativo
Neste novo cenário, os códigos de ou é uma série de vedações?
conduta continuarão a ser a ponte
entre a ética e as organizações, • Tem disposições que possam ser
particularmente as empresariais, percebidas como manifestação
destacando-se, entre as melhores de desconfiança nas pessoas?
práticas de Governança, como
aquela de maior convergência e • Como é tratada a questão da
mais rápido retorno. gestão do código?

Sugerimos que os nossos leitores


OS BONS CÓDIGOS DE CONDUTA levem essas diretrizes em conta
na elaboração ou revisão de seus
Em mais uma iniciativa pioneira, códigos. Será, sem dúvida, um
o IBGC vem promovendo, há 5 bom começo...

IBGC EM FOCO OU T U BRO / N O V EM BRO / DEZEM BRO 2015 11


UM CAMINHO PARA O APRIMORAMENTO DA
GOVERNANÇA DAS ESTATAIS

O
Um passo importante seria o êxito do programa da BM&FBovespa para a melhoria da Governança Corporativa
no setor público

MA RIO E NG L E R PI N T O J U N I OR
Professor e Coordenador do Mestrado Profissional da FGV Direito SP

O programa da Bolsa de Valores 2. fortalecimento dos mecanismos


de São Paulo (BM&FBovespa) de compliance para prevenir
para melhoria da Governança desvios de conduta;
Corporativa no setor público
empresarial merece elogios, na 3. composição adequada dos órgãos
medida em que combina bom de administração para preservar
senso, objetividade e pragmatismo. a autonomia empresarial
e evitar o aparelhamento
Os estudos realizados adotam um político-partidário;
olhar crítico sobre a realidade
concreta, menos com a pretensão 4. comprometimento do acionista
de propor reformas político- controlador com boas práticas
institucionais abrangentes (v.g. a de governança corporativa.
retração do Estado como agente
econômico), e mais para identificar O programa parte da constatação
as questões chaves e sugerir de que a lei autorizativa da empresa
medidas factíveis de melhoria estatal raramente define com clareza
da Governança Corporativa. o interesse público que justificou
INICATIVAS EM GOVERNANÇA O trabalho de análise e sua criação, de modo a permitir
EM ESTATAIS proposição leva em conta o a correta aplicação do artigo
marco legal vigente e busca criar 238 da Lei nº 6.404/76. Daí, a
Versão preliminar do Programa da incentivos para adesão voluntária necessidade de explicitação através
BM&FBovespa: ao programa pelo ente público de outros canais institucionais,
http://goo.gl/47pLrC controlador e administradores da notadamente no estatuto social, no
empresa estatal. formulário de referência (no caso de
Carta de Opinião do IBGC sobre companhia aberta) e em documento
a Governança das Sociedades de As propostas de aprimoramento específico intitulado “Carta Anual de
Economia Mista: da Governança das estatais Governança Corporativa”.
http://migre.me/s1Lxu concentram-se em quatro
linhas básicas: A ideia central consiste em
Carta Diretriz 5 do IBGC disponibilizar informações suficientes
Sociedade das Economia Mista: 1. explicitação do interesse público aos participantes do mercado de
http://migre.me/s1LzE que pode nortear a atuação da capitais, para que possam avaliar
companhia mista; o risco e as perspectivas de retorno

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E D I Ç Ã O E S P E C I A L - I B G C 2 0 A NO S

do investimento (aquisição de ações de auditoria estatutário (CAE), “A proposta está em linha


ou de títulos de dívida), levando constituído nos moldes da Instrução com os princípios da
em conta o impacto do custo das 308/1999 da CVM (Comissão confiança legítima e da
políticas públicas no resultado da de Valores Mobiliários). O CAE transparência, que devem
companhia. A proposta está em deve funcionar como órgão de presidir as relações entre os
linha com os princípios da confiança assessoramento vinculado ao setores público e privado, e
legítima e da transparência, que conselho de administração, composto cuja a violação pode gerar
devem presidir as relações entre os majoritariamente por membros consequências jurídicas
setores público e privado (inclusive independentes e com a participação bem concretas”
no âmbito societário), e cuja violação obrigatória de pelo menos um
pode gerar consequências jurídicas conselheiro de administração. A
bem concretas. missão principal do CAE consiste
na supervisão das atividades
A divulgação ao mercado das de auditoria interna e externa,
estratégias que a empresa estatal juntamente com o monitoramento
pretende adotar para consecução dos controles internos (incluindo
da missão pública que lhe é inerente avaliação sobre exposição de riscos
deve ser complementada com outros e adequação das transações com
informes correlatos, a exemplo na partes relacionadas). As medidas
política de destinação de resultados nesse campo se completam com
e distribuição de dividendos, a existência de um código de
do relatório de sustentabilidade conduta para orientar a atuação
e ainda das transações com de empregados e administradores
partes relacionadas. da companhia, combinado com
a manutenção de um canal para
O segundo pilar do programa recebimento de denúncias anônimas.
recomenda a instituição de
uma área de compliance com As diretrizes sugeridas nesse
foco nos controles internos e particular compartilham das mesmas
no gerenciamento de riscos preocupações que inspiraram a
empresariais (estratégicos, edição da Lei Anticorrupção (Lei nº
operacionais e financeiros). A 12.846/2013). A diferença é que
proposta não se resume apenas buscam induzir comportamentos
na busca de maior eficiência da do lado das empresas estatais, e
gestão empresarial, mas também não das empresas privadas que
tenciona prevenir condutas transacionam com o setor público
disfuncionais por parte dos (como faz a Lei Anticorrupção).
administradores sociais. A receita Ademais, são coerentes com a ideia
segue essencialmente o modelo de valorização das instâncias internas
Coso (Committee of Sponsoring de Governança da companhia mista,
Organizations of the Tradeway em detrimento dos instrumentos
Comission), sem necessidade de clássicos de tutela administrativa e
maiores adaptações em relação controle externo, incidentes sobre o
ao que as empresas privadas já conjunto do setor público.
praticam para o aprimoramento de
sua Governança Corporativa. A terceira linha de ação do
programa trata da composição
No caso da empresa estatal, do conselho de administração
a aposta recai sobre o comitê e do conselho fiscal. Nesse

IBGC EM FOCO OU T U BRO / N O V EM BRO / DEZEM BRO 2015 13


U M PAS S O PA R A O A P R I M O R A M E NT O D A G O VE R NA NÇ A D A S E S TATA IS

particular, o documento reconhece prática. Nesse sentido, a medida


a importância o conselho de poderá contribuir favoravelmente
administração (e também do para minimizar o risco de

8 4
conselho fiscal) para Governança aparelhamento político-partidário
Corporativa da empresa estatal, da companhia, colocando-a
propugnando pelo seu efetivo a serviço do conjunto da
empoderamento e adoção de sociedade e respeitando ainda

7 3 9
cuidados especiais na escolha as compreensíveis aspirações dos
dos conselheiros. A preocupação acionistas privados.
central é assegurar que o órgão

1 2
colegiado possa atuar de forma O quarto e último tópico do

4 4 5
autônoma e independente, sem se programa de melhoria da
sujeitar a pressões políticas que Governança das estatais procura
não se revestem da necessária envolver diretamente o ente público

2 3
institucionalidade para representar
a vontade legítima do acionista
controlador. A questão crítica tem
a ver com a correta divulgação de

9 8 5
controlador público. informações sobre os negócios da
companhia. Mesmo quando sejam
A solução apresentada consiste de domínio dos representantes
4 3 fundamentalmente na observância governamentais e afetas às suas
6 8 2 de uma quota mínima de funções institucionais, as notícias

7 5 conselheiros independentes (que


podem muito bem representar
sensíveis somente devem vir a
público pelos canais adequados
3 2 4 os vários grupos de interesses de comunicação, de modo
9
78 afetados pela atividade que todos os participantes do
empresarial), combinada com mercado sejam tratados de forma
2 5
requisitos positivos e negativos isonômica. Para isso, o documento
4
de elegibilidade para o conjunto estimula a imposição de regras
dos membros do conselho de comportamentais aos agentes
administração. Pretende-se, no públicos, por intermédio de
fundo, que os conselheiros eleitos códigos de conduta de aplicação
possam efetivamente desempenhar geral, editados no âmbito da
o seu papel, sem subserviência ao administração pública.
acionista controlador, e buscando
atender ao melhor interesse da Em suma, o programa de
companhia (aí, também incluído Governança das estatais da
o interesse público que justificou a BM&FBovespa demonstra grande
sua criação). senso da realidade, na medida
em foi capaz de identificar os
Apesar do disposto no artigo 154, principais problemas nessa área e
§ 1º, da Lei nº 6.404/76 (que propor soluções ponderadas, cuja
impõe a todos os administradores aplicação dispensa alterações no
o mesmo dever de lealdade à marco legal e regulatório. Para
companhia), a experiência mostra tanto, basta a vontade política de
que não basta o comando legal preservar a empresa estatal como
para moldar a realidade, fazendo- instrumento de políticas públicas
se necessário criar condições legítimas e bem dosadas, com
objetivas para que o resultado vistas a restabelecer a confiança
pretendido seja alcançado na do mercado de capitais.

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E D I Ç Ã O E S P E C I A L - I B G C 2 0 A NO S

GESTÃO DE RISCOS SOCIOAMBIENTAIS


Compreender a intrínseca e inevitável dependência que os negócios têm das pessoas, dos recursos ambientais e dos

V
serviços ecossistêmicos é condição “sine qua non” para a sua sobrevivência.

RO BE RTA S I M O N E T T I
PhD. em Física e Especialização em Gestão de Sustentabilidade, coordenadora da CESE/IBGC

“Viver é muito perigoso... porque incerteza, um risco residual que


aprender a viver é o viver mesmo” deverá ser conhecido, avaliado, se
nos alerta João Guimarães Rosa possível, quantificado e assumido.
em “Grande Sertão: Veredas”.
A vida nos ensina que é preciso A decisão de assumir ou não certo
arriscar, percorrer caminhos cujo risco, especialmente estratégico,
destino final é incerto. Correr riscos deve ser tomada pelo mais alto nível
é parte da natureza humana e esse da Governança da empresa, tendo
impulso nos moveu adiante frente como fundamento sua identidade
à possibilidade de sermos bem (propósito, visão, princípios, valores),
sucedidos. Ao longo de história, seus objetivos estratégicos e metas
compreendemos que riscos são estabelecidas para o curto, médio e
inerentes a todas as atividades, não longo prazos. Decisões cotidianas,
podem ser totalmente eliminados e de natureza operacional, devem ser
o melhor a fazer é gerenciá-los. balizadas por diretrizes previamente
E aprender com o passado para aprovadas no âmbito do conselho
construir o futuro desejado. de administração. Essa premissa
é fundamental, pois a história nos
“A decisão de assumir Assim, a gestão de riscos foi revela que grandes perdas e impactos
ou não certo risco, aprimorada, contando com o indesejados foram originados
especialmente avanço da ciência e de ferramentas não da falta de conhecimento,
estratégico, deve ser específicas. Partindo dos princípios má gestão ou cálculo errado,
tomada pelo mais alto básicos de respeito à lei e conduta mas de decisões equivocadas,
nível da Governança ética (o que implica que os possíveis que não seguiram princípios ou
da empresa” caminhos alternativos a serem diretrizes pré-determinadas.
escolhidos sejam inteiramente lícitos
e visem promover o bem comum), A área de Finanças conta com
a assunção do risco passa a ser ferramentas que permitem avaliar e
uma função do perfil de risco que, quantificar riscos como de mercado
em última análise, resulta de um e crédito. Sofisticados modelos
balanço qualquer entre ‘o quê’ e matemáticos permitiram desenvolver
‘quanto’ estamos dispostos a perder produtos que premiam investidores
comparado com o potencial ganho. que assumem mais risco, seguindo
Vale lembrar que sempre haverá a lógica da correlação direta entre

OUTUBR O / NOVEMBR O / D EZ EMBRO 2015 IBGC EM FOCO 15


G E S TÃ O D E R I S C O S S O C I O A M B I ENTA IS

risco e retorno. Entretanto, existem e indiretos de natureza financeira localizarem na cadeia de valor não
limites para a aplicação desses e reputacional. Ao negligenciar diminui sua responsabilidade.
modelos, nem sempre considerados, a manutenção do equipamento,
e muitas vezes se esquece que aumenta-se o risco da ocorrência Outra perspectiva, que adiciona
“modelos são (apenas) modelos” de vazamentos, apesar da possível a característica de ‘emergente’
e que, portanto, não se mantêm, redução de custos no curto prazo. a essa categoria de riscos, é a
necessariamente, fieis à realidade Na realidade, essa decisão interdependência que foi até agora,
ou atribuem valores apropriados aos acabará por reduzir o retorno se não negligenciada, ao menos
bens e/ou aos impactos envolvidos. na medida em que sanções são subestimada. Vejamos a atual crise
aplicadas, há custos adicionais hídrica. Esta crise é um ícone da
Esta reflexão ganha importância para recuperação e impactos na falta de compreensão sistêmica do
na medida em que ‘emerge’ uma imagem. Muitos riscos podem mundo em que vivemos; não tem uma
categoria de riscos que desafia a ser significativamente reduzidos causa única e simples; são várias
lógica da razão direta entre risco e por meio da adoção de medidas causas interligadas que vão desde o
retorno; são os riscos de natureza preventivas ou protetivas e excesso de demanda, desperdício,
socioambiental que têm sido adequados sistemas de gestão. intensa impermeabilização do solo,
analisados essencialmente pela supressão vegetal (especialmente
perspectiva do impacto causado. O problema se agrava quando esses matas ciliares), ocupação de áreas
Consideremos a seguinte situação: riscos sequer foram percebidos ou de mananciais e preservação
a falta de manutenção em uma adequadamente dimensionados. O permanente; até falta de
válvula provoca um vazamento fato é que hoje os riscos de natureza planejamento e gestão deste recurso
que despeja um grande volume socioambiental com maior potencial finito e ‘parcialmente’ renovável.
de substâncias tóxicas, que de impacto situam-se ‘fora dos muros’ Além dessas causas, estão os
contaminam um rio, provocando a das empresas, menos visíveis na efeitos das mudanças climáticas
morte de peixes e, por fim, afetando sua cadeia de valor. São situações globais que alteram o regime de
a população. Um risco de natureza que demandam grande atenção e chuvas, diminuindo a precipitação
operacional com impactos diretos compromisso da alta gestão para o e prolongando os períodos de
na sociedade e no meio ambiente seu enfrentamento, pois o fato de se estiagem em algumas regiões.

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E as empresas nesse cenário? A ser possível “dividir o mundo e 1 A exemplo dos ‘stranded assets’.
percepção é que poucas se deram isolar suas partes em caixas” Para mais informações ver
conta de que esses riscos põem sobrevalorizando algumas variáveis “Unburnable carbon 2013: wasted
em xeque seus negócios atuais e em detrimentos de outras. Estas capital and stranded assets”
futuros. Investidores encontram-se em análises não consideram o contexto www.carbontracker.org
estado semelhante de inação não ecológico, não adotam uma visão
tendo ainda inserido, de maneira sistêmica, não incorporam limites 2 ISO: International Standards
sistemática e abrangente, aspectos e permitem a quem os interpreta Organization
socioambientais em suas análises e, pensar ser possível continuar a
principalmente, nas suas decisões operar indefinidamente dessa forma. 3
Coso: Committee of Sponsoring
estratégicas. Investimentos continuam Organizations of the Treadway
sendo feitos em empreitadas cujos A realidade nos mostra que o mundo Commission. Em 2013 foi lançado um
riscos financeiros associados a fatores não funciona de maneira linear e relatório sobre o tema “Demystifying
socioambientais são elevados, não fragmentada, mas cíclica, sistêmica Sustainable Risk”.
sendo clara, tampouco garantida, e interdependente. Gerenciar
a relação favorável entre risco e riscos de forma segmentada faz 4 BIS: Bank of International Settlements e
retorno para nenhuma das partes perder elementos e correlações os Acordos da Basiléia
envolvidas (acionistas, empresas ou fundamentais: o mundo complexo
sociedade). Além das dúvidas sobre requer um olhar integrado, que 5 Banco Central do Brasil Resolução
a disponibilidade de recursos e sua conecte seus elementos e permita 4.327 de 25.04.14; dispõe sobre
viabilidade econômica futura1, há compreender correlações, que as diretrizes para o estabelecimento
outros riscos, tão ou mais impactantes, antes pareciam não existir. e implementação de uma Política de
como a violação de direitos humanos, Responsabilidade Socioambiental
a supressão vegetal e a irreversível Por indução do mercado, órgãos (PRSA) que deve conter princípios e
perda de biodiversidade. reguladores ou sociedade, novos diretrizes que norteiem as ações de
compromissos, princípios e natureza socioambiental nos negócios,
Portanto, é essencial que os riscos ferramentas foram desenvolvidas assim como estabelecer diretrizes sobre
socioambientais sejam considerados nos últimos anos. Exemplos são as ações estratégicas relacionadas à
de forma estratégica: compreender os esforços da ISO2, do Coso3 sua governança, inclusive para fins do
a intrínseca e inevitável dependência e do BIS4. Nos anos 80 e 90, a gerenciamento do risco socioambiental,
que os negócios têm das pessoas, gestão de riscos focava nos riscos definido como sendo a possibilidade de
da natureza e dos serviços financeiros e operacionais, sendo ocorrência de perdas decorrentes de
ecossistêmicos é condição “sine qua mais recentes iniciativas que danos socioambientais.
non” para a sobrevivência de todos, consideram riscos socioambientais
seja no curto, médio e longo prazos. (ver Bacen5). 6
WEF (World Economic Forum):
“Insight Report – Global Risks 2015”
É necessário adotar novos modelos Este assunto é crítico e precisa receber (10ª edição)
que tenham como premissa a inclusão atenção da mais alta instância da
de variáveis socioambientais, Governança das empresas. Em 7
Divididos em 5 categorias:
avaliem e valorizem os ativos naturais seu relatório o WEF6 lista 28 riscos geopolítica, econômica, ambiental,
e seus serviços. Análises tradicionais globais e destaca os dez mais social e tecnológica.
partem de premissas incompletas, críticos em termos de probabilidade
às vezes até equivocadas; com e impacto. Praticamente metade 8
Eventos climáticos extremos,
base nessas análises tomadores estão na categoria de riscos sociais e catástrofes naturais, falhas na
de decisão se esquecem que os ambientais. É algo para se considerar adaptação às mudanças climáticas,
modelos não são a realidade, mas seriamente a partir de agora e não crise hídrica, aumento da incidência
uma visão simplificada que hoje exclusivamente pela ótica dos riscos, de doenças contagiosas, perda
reflete a primazia do pensamento mas percebendo as oportunidades de biodiversidade e colapso
cartesiano que nos fez acreditar que se apresentam. dos ecossistemas.

IBGC EM FOCO OU T U BRO / N O V EM BRO / DEZEM BRO 2015 17


GOVERNANÇA CORPORATIVA EM EMPRESAS DE
CONTROLE FAMILIAR

E
JO S É PAS C HO AL R OSS E T T I
Professor da Fundação Dom Cabral e instrutor de programas do IBGC. É sócio-diretor da consultoria Rossetti & Associados.
É conselheiro externo independente do Grupo Fleury, Grupo Boticário, RaiaDrogasil e Química Amparo/YPÊ. É presidente
do Conselho de Administração da Usina Santa Adélia. Autor, entre outros livros, de Governança Corporativa: Fundamentos,
Desenvolvimento e Tendências (7ª Ed., Atlas, São Paulo).

“Cabe destacar que o bom Excetuando-se os casos atualmente da população economicamente


desempenho do sistema de raros de países em que prevalecem ativa. Mesmo na China, após o
Governança que venha a ser os fundamentos do coletivismo processo de abertura econômica,
estabelecido estará na boa e da estatização dos meios de desencadeado em 1984, é
condução do tripé coesão, produção, em todas as demais fortemente crescente a parcela
estratégia e sucessão” partes do mundo, as empresas do PNB gerada por novos grupos
de controle familiar têm alta empresarias privados e familiares,
participação na geração do PNB, a despeito de ainda ser de 1/3 a
no emprego da força de trabalho parcela de produção originária de
e na disseminação de valores e empreendimentos estatais.
princípios em que se alicerça a
vida em sociedade. Estima-se que No Brasil, a presença do controle
2/3 das empresas do mundo são familiar é relevante não só em
controladas por grupos familiares. empresas de médio porte (receita
Mesmos nos Estados Unidos e operacional líquida inferior a
em outros países de formação R$100 milhões anuais), como nas
anglo-saxônica, em que o grande de maior porte. Há 270 empresas
mundo dos negócios é constituído de controle familiar com ROL anual
por corporações de controle superior a R$1 bilhão; 350 entre
aberto e pulverizado, a origem R$1 bilhão e R$500 bilhões; 380
dos grandes conglomerados foi entre R$500 e R$300 milhões;
predominantemente familiar. e 500 entre R$300 e R$100
Na União Europeia, em 75% milhões. Este universo totaliza
das empresas ainda se mantêm 1.500 empresas, de reconhecida
o controle de grupos familiares representatividade no sistema
fundadores e há países em que corporativo, comparada por outros
essa proporção é superior ou indicadores. Das 1.000 maiores,
próxima de 80% – Espanha e classificadas pela revista Exame
França, 85%; Alemanha, 79%. em 2014, 628 são de controle ou
São também originárias de clãs de origem familiar. Entre as SAs
familiares as empresas do Oriente registradas na CVM, a proporção
Médio e da Ásia. Na Índia, das empresas de controle familiar
as empresas familiares geram se mantém estável nos últimos dez
65% do PNB e empregam 2/3 anos: 62% a 67%.

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Este universo de empresas tem um conjunto similar Mas, em contrapartida a estes dez pontos positivos,
de características. Pesquisas de abrangência as empresas de controle familiar também se veem
mundial realizadas pela PwC em 2012 e 2014 às voltas vulnerabilidades e com grandes desafios.
revelaram várias e expressivas características Entre os que se observam com maior frequência,
comuns. Destacamos estas dez. destacamos também dez.

Apego ao passado, síndrome do sucesso: baixa percepção


Valores e cultura mais fortes e visíveis que os das empresas
de que as condições históricas não se reproduzem no futuro.
de outras origens societárias. Reconhecida atenção aos
Reações geralmente tardias a novas tendências. Rigidez e baixa
legados morais e empresariais dos fundadores: os valores capacidade de pensar “fora da caixa”. Aversão a mudanças.
construídos preponderam sobre regras circunstanciais.
Complacência com resultados decrescentes. Propensão a
Alta importância dada a seus papéis na criação de atribuí-los mais a fatores externos que a internos.
empregos e maiores compromissos com meio em que
Diagnósticos conflitantes. Negação de problemas. Passagem
estão instaladas. de bastão sob condições nem sempre bem aceitas pela
geração sucedida. Revelação de conflitos até então ocultos.
DNA empreendedor, resiliência, compromisso preferencial
dos controladores com a capitalização da empresa, em Dificuldades de coesão entre gerações. Alinhamentos
muitos casos em detrimento de maior acesso dos sócios ao difíceis na transição da primeira para segunda geração; de
maior complexidade nas transições seguintes.
fluxo livre de caixa.
Fundadores não preparados para a finitude e para deixar
Rumos seguidos com determinação. Obsessão pela seus espaços. Mas, prontas ou não, mais cedo ou mais
continuidade do negócio. tarde, frequentemente e nem sempre no momento certo as
transições ocorrem e os ciclos recomeçam.
Estrutura de poder estabelecida: comando e controle
Preservação de “tradições” quanto ao portfólio de negócios
centralizados, traduzindo-se em segurança e confiabilidade.
e de produtos e também quanto às tecnologias de processo.
Apego à história e ao “jeito de ser” da empresa.
Proximidade com o conjunto de stakeholders, notadamente
pessoas empregadas, fiéis e confiáveis, que demonstram Ocorrência de conflitos destrutivos. Dificuldades entre sócios
satisfação em terem participado da história empreendimento. e novos grupos familiares que vão se construindo para
decisões consensuais sobre direcionadores estratégicos.
Administração objetiva, descomplicada, envolvente.
Visões e aspirações não necessariamente traduzidas em
Quadro gerencial com “senso de dono”.
processos estruturados de planejamento para horizonte
plurianual. A disposição em olhar para o futuro não condiz
Visão de longo prazo na tomada de decisões. com as barreiras para a construção formal e compartilhada de
Maior disposição em olhar para o futuro do que para o plano estratégico de longo prazo.
próximo trimestre.
Dificuldades em segregar as questões familiares, das
societárias e das relacionadas aos negócios e à gestão. Ao
Agilidade, flexibilidade em negociações, toques mais
se constituírem órgãos colegiados (Conselhos de Família, de
personalizados na condução dos negócios e nos processos
Sócios e de Administração), tornam-se visíveis os desafios
de gestão.
para a clara separação entre propósitos e questionamentos.

Objetivos predominantes: perpetuidade da empresa e Número significativo de casos em que não há herdeiros/
sustentação do controle pelas gerações sucessoras. sucessores preparados para a sucessão: ou, quando
reconhecidamente preparados, demonstram preferência
para se posicionarem como “investidores”, não como
“gestores” da empresa controlada pela família fundadora.

IBGC EM FOCO OU T U BRO / N O V EM BRO / DEZEM BRO 2015 19


G O VE R NA NÇ A C O R P O R AT I VA E M E M P R E S A S D E C O NT R O L E FA M ILIA R

Estes conjuntos de características sob condições adversas (ou nos OBJETIVOS RELACIONADOS
comuns definem as razões pelas processos menos traumáticos AOS NEGÓCIOS
quais um número crescente de de preparação da empresa
empresas de controle familiar para que elas transcorram • Definição e emissão de
mostra interesse em definir sistemas sob condições alinhadas) que expectativas de resultados para a
de Governança Corporativa que se desenvolvem projetos de Diretoria Executiva.
deem sustentação ao objetivo adequação dos sistemas de
dominante de perpetuidade Governança Corporativa sob • Emissão de direcionadores para a
do negócio construído pelos orientação de consultorias construção do business plan e do
fundadores, mantido o controle externas, em praticamente todos planejamento orçamentário anual.
familiar. No universo das empresas os casos.
brasileiras pesquisadas pela • “Abertura da janela” para ver e
PwC, apenas 16% das empresas Os objetivos então buscados podem analisar o que está acontecendo
de controle familiar estavam ser sintetizados em três blocos: no ambiente empresarial e no
sob comando da 1ª geração; setor de atividade da empresa,
52% estavam na passagem da OBJETIVOS SOCIETÁRIOS em termos mundiais.
1ª para a 2ª geração; 28% em
terceira geração; e 4% em 4ª. • Estabelecer, via conselho de • Aperfeiçoamento do
Neste conjunto, apenas 31% administração, “um poder processo de avaliação e
dos controladores manifestaram moderador”, para mediação decisão de investimentos.
a disposição em passar a de pontos de vista conflituosos,
administração para a próxima que possam afetar a • Sustentação de bom entendimento
geração. Mas quase o dobro, coesão societária. entre os acionistas quanto ao
59%, revelaram a preferência direcionamento dos negócios.
por passar a propriedade • Tratamento preventivo de
aos herdeiros, mas construir potenciais de conflito, que possam • Proposição consensada e
administração profissional; em 7% conduzir a mudanças indesejáveis acompanhamento de projetos
dos casos, a decisão manifestada no quadro societário. de alto impacto.
era mais radical: vender ou abrir
o capital; e 3% revelaram não ter • Definição de critérios para • Ousadia, mas com os “pés
ainda decisões definidas quanto ingresso de sucessores no chão”: conciliar o apetite
ao processo de transição. nas empresas. empresarial com as reais
possibilidades de expansão
Independentemente, porém, • Orientação isenta e segura de sustentada dos negócios.
de como serão conduzidas as oportunidades de consolidação
transições entre gerações, estas (fusões e aquisições). • Orientação das estratégias de
são inevitáveis e geralmente crescimento das usinas.
ocorrem sob circunstância • Redesenho dos canais de
menos favoráveis, à presença comunicação entre os • Orientação isenta para a
da maior parte dos desafios e órgãos colegiados. destinação de recursos gerados
vulnerabilidades que listamos. pelos negócios.
Os pontos positivos que tendem • Orientação para mudanças
a bloquear desalinhamentos nos Estatutos Sociais e Acordos
radicais são os legados e valores de Acionistas.
morais definidores da cultura da
empresa, a resiliência diante de
diversidades graves e o objetivo
de perpetuidade. É exatamente
quando ocorrem as transições

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OBJETIVOS RELACIONADOS • Abrir espaços para a presença condução do tripé coesão,


À GESTÃO de conselheiros externos estratégia e sucessão. A criação de
independentes no conselho condições para a perpetuidade da
• Monitorar formalmente os de administração. empresa, sob controle das famílias
resultados, com postura fundadoras, estão sintetizadas
crítica e construtiva. Obviamente, os pesos desses na figura com que encerraremos
objetivos não são os mesmos em estes apontamentos. Ali estão
• Sistematizar indicadores de todas as empresas. Mas, ainda registradas as conexões entre esses
desempenho e estabelecer que uma parte deles seja menos três elementos-chave do processo
critérios para premiações e por relevante, todos estão de alguma de Governança. Quanto mais
cobranças de resultados. forma presentes quando se estruturam consistentes forem as soluções para
novos sistemas de governança. os pontos destacados, maiores
• Avaliar e orientar a serão as chances de se preservarem
adequação da estrutura Por fim, cabe destacar que o os bons atributos das empresas de
organizacional aos planos bom desempenho do sistema controle familiar e de mitigação
estratégicos e orçamentários. de governança que venha a dos riscos e vulnerabilidades a que
ser estabelecido estará na boa estão expostas.

O TRIPÉ DE SISTEMAS CONSISTENTES DE GOVERNANÇA EM EMPRESAS DE CONTROLE FAMILIAR

Coesão Aspirações de longo


prazo alinhadas

Estratégia Sucessão

Coesão + Estratégia Estratégia + Sucessão Coesão + Sucessão

Alinhamento quanto a: Alinhamento entre os Herdeiros/Sucessores: Aderência das gerações sucessoras aos
• Valores e princípios • Projetos de vida profissional legados, valores e cultura da empresa.
• Propósito orientador (missão) • Paixão ou grande satisfação em atuar Alinhamento quanto a:
• Propósito empresarial (visão) nos negócios herdados. • Inserção de Herdeiros/Sucessores
• Forma como os negócios são conduzidos. • Aspirações e visão compartilhadas. na empresa.
• Políticas e diretrizes de gestão. Envolvimento de Herdeiros/Sucessores na • Critérios, processos e formatação do
• Definição do sistema de Governança. construção da estratégia. programa de inserção.

Harmonia e soluções condensadas para Negociação entre Colaboradores e Clareza nas expectativas:
conflitos nos órgãos de Governança: Herdeiros/Sucessores para direcionamentos: • Atuais Controladores em relação
• Vetores de crescimento. aos Herdeiros/Sucessores.
• Conselho de Família.
• Portfólio de negócios/produtos. • Herdeiros/Sucessores em relação
• Conselho de Sócios.
• Âmbito geográfico de atuação. aos Controladores.
• Conselho de Administração.
Atenção redobrada ao binômio Focos em fundamentos racionais e em
olhares para o futuro, mais do que para
riscos/oportunidades.
o passado.

Dimensão Família Dimensão Sociedade Dimensão Empresa

ÓRGÃOS COLEGIADOS COM OBJETIVOS E FUNÇÕES SEGREGADAS

IBGC EM FOCO OU T U BRO / N O V EM BRO / DEZEM BRO 2015 21


AS REVISÕES DO CÓDIGO DAS MELHORES PRÁTICAS
DE GOVERNANÇA CORPORATIVA DO IBGC

F
Principal documento do Instituto chega à sua 5ª edição em 2015 com conteúdo mais reflexivo.

LYGI A G I L
Jornalista do IBGC

Fundado por um grupo de visionários, Brasileiro de Governança Corporativa


em 27 de novembro de 1995, com (IBGC), em 1999. Neste mesmo
o nome de Instituto Brasileiro de ano, com o intuito de disseminar os
Conselheiros de Administração princípios da Governança e propor
(IBCA), o IBGC trouxe para o sua adesão voluntária aos agentes do
cenário brasileiro os conceitos da mercado, o Instituto lançou o “Código
Governança Corporativa, assunto das Melhores Práticas de Governança
que criava forma ao redor do mundo e Corporativa”. Embora o IBGC tenha
tinha sólidas bases na Inglaterra. Sob decidido ampliar seus horizontes
a liderança de Bengt Hallqvist e João acerca de sua causa, o documento
“Em um formato inovador, Bosco Lodi, o então IBCA tinha em ainda manteve seu foco apenas no
a 5ª edição do Código foco os conselhos de administração, conselho de administração.
passou a separar as órgão colegiado responsável pela
recomendações dos supervisão, orientação e controle Cofundador do Instituto, o
fundamentos, o que deu da gestão, visto como guardião engenheiro Paulo Villares considera
um tom menos prescritivo das boas práticas de Governança a mudança de posicionamento
ao documento” Corporativa nas organizações. fundamental para a continuidade
das atividades do IBGC. “A troca
A intensa atividade de estudos e do nome foi apropriada porque
pesquisa realizada pelo grupo, chamou a atenção dos conselheiros
necessária para adaptar os conceitos e pessoas ligadas às empresas
de Governança à realidade das sobre os conceitos da Governança
empresas brasileiras, resultou no Curso Corporativa”, comentou.
para Conselheiros de Administração,
ministrado pela primeira vez em Em 2001, Villares foi convidado
1998. Com a experiência adquirida, por Bengt a ser presidente do
foi percebida pelos fundadores a Conselho de Administração do
necessidade de ampliar a discussão Instituto, mesmo ano em que foi
e levá-la também para outros âmbitos lançada a 2ª edição do Código
das empresas como: diretoria, do IBGC, chamada de versão
conselho fiscal e auditoria. ampliada, a qual passou a
incluir recomendações para os
A mudança de cenário fez com que o principais agentes da Governança
IBCA fosse rebatizado como Instituto Corporativa, como sócios, gestores,

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auditorias e Conselho Fiscal. De práticas. Este movimento trouxe à “O ambiente empresarial


acordo com Villares, o Código tona a necessidade de uma nova mudou muito e a pressão da
sempre teve a característica de revisão do Código das Melhores sociedade sobre as empresas
ouvir seus associados e agentes Práticas de Governança Corporativa. também. Então, a Governança
de mercado para fazer com que o Convidada por Paulo Villares, a tem que evoluir para
conteúdo estivesse de acordo com atual vice-presidente do Conselho acompanhar este cenário e, se
a necessidade brasileira. de Administração do IBGC, Eliane possível, andar na frente”
Lustosa, assumiu a coordenação do
“Na época, deveriam ter cerca de 70 grupo de revisão da 3ª edição do Luiz Martha, gerente do Centro de
associados. E, obviamente, era muito documento, lançada em 2004. Pesquisa e Conhecimento do IBGC
mais fácil ouvir a opinião dessas
pessoas. Houve a formação de uma “Na ocasião, estávamos no esteio
Comissão de Revisão do Código das da crise Enron, que foi uma lição
Melhores Práticas, que pode discutir de Governança importante. O
e chegar a um consenso sobre quais grupo de revisão analisou o caso
seriam os princípios do documento e, a partir desta reflexão, foram
ampliado”, relembrou. indicados aprimoramentos na
Governança e sua implementação
pelas empresas. Foi abordado
ATUALIZAÇÕES EM LINHA COM O também o Novo Mercado, que veio
CENÁRIO BRASILEIRO E MUNDIAL com a evolução da Governança das
empresas e a percepção, na prática,
Embora a Governança Corporativa de como a Governança cria valor”,
tenha sido introduzida no Brasil nos pontuou Lustosa, que continuou: “A
anos 90 pelo IBGC, seus conceitos Governança passou a entrar no DNA
ficaram ainda pouco explorados dos administradores e das empresas”.
e restritos a um seleto grupo de
pessoas por cerca de dez anos. O Segundo a conselheira, as
cenário começou a mudar a partir revisões do Código não ocorrem
do momento em que grandes casos necessariamente por causa das
de fraudes contábeis, utilização de crises. Porém, elas acabam
informação privilegiada e falta de influenciando o conteúdo do
transparência em negociações entre trabalho de alguma forma. “Na
partes relacionadas emergiram revisão seguinte, vivemos a
nos noticiários internacionais, chamada crise dos derivativos e
evidenciando o problema também aproveitamos as lições.
da ausência da Governança Exploramos o que deu errado
Corporativa na condução dos e reforçamos bem o papel do
negócios das organizações. conselho de administração, tanto
Exemplos emblemáticos de má que foi o capítulo que mais cresceu
Governança ficaram a cargo da na 4ª edição do Código. Foi um
empresa Enron e da auditoria trabalho grande”, exaltou Lustosa.
norte-americana Arthur Andersen.
Os trabalhos para essa atualização
Devido à globalização dos foram iniciados em 2007, quando
mercados, os escândalos corporativos o IBGC recebeu sugestões e críticas
internacionais também refletiram no de associados a respeito da versão
âmbito nacional e impulsionaram anterior. Uma vez compilado,
a discussão sobre as melhores este material foi trabalhado por

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“Como em outras edições, o um grupo denominado comitê Comissão de Revisão do Código,
IBGC preocupou-se em ouvir de Revisão, liderado por Lustosa. liderada mais uma vez por
seus stakeholders e, para Os integrantes discutiram novos Eliane Lustosa, em três frentes de
isso, foram realizadas duas temas decorrentes das mudanças trabalho”, explicou Martha, que
consultas públicas e uma no ambiente empresarial, da continuou: “A divisão foi feita pelos
audiência restrita ao longo do legislação e de Governança, temas: Conselho de Administração;
processo de revisão” ocorridas desde 2004 no Brasil. Propriedade e Conselho Fiscal;
Gestão, Auditoria Independente e
Uma versão preliminar do material Conduta e Conflito de Interesses”.
passou por consulta pública, entre
dezembro de 2008 e fevereiro de Como nas outras edições, o
2009, na qual foram feitos cerca Instituto preocupou-se em ouvir seus
de 350 apontamentos. Foram stakeholders e, para isso, foram
necessários quatro meses para que realizadas duas consultas públicas e
o comitê avaliasse e assimilasse as uma audiência restrita ao longo do
sugestões. E, em julho de 2009, processo de revisão. “O documento
quase dois anos depois, a quarta é entregue para um grupo
versão foi publicada. diversificado de pessoas, composto
por membros de órgãos reguladores,
conselheiros, agentes de mercado,
A PLURALIDADE DA juristas, acadêmicos, entre outros. A
GOVERNANÇA CORPORATIVA ideia é tornar o documento coerente
com a realidade”, relatou Lima. Ao
Devido ao cenário de plena apresentar a minuta da nova edição
expansão da disseminação do para consulta pública final, o IBGC
conceito de Governança no Brasil, recebeu cerca de 900 comentários.
incentivado pelos escândalos
políticos e corporativos que “É um processo difícil por termos
tomaram os noticiários nacionais muitos stakeholders com diferentes
ao longo dos últimos anos, decidiu- visões. Mas, justamente por isso,
se dar início a uma nova revisão o Código é tão rico. O ambiente
do Código das Melhores Práticas empresarial mudou muito e a pressão
de Governança Corporativa, no da sociedade sobre as empresas
segundo semestre de 2014. também. Então, a Governança tem
que evoluir para acompanhar este
O cronograma do trabalho de cenário e, se possível, andar na
revisão da 5ª edição do Código, frente”, concluiu Martha.
elaborado por Luiz Martha e Rodrigo
Lima, gerente e coordenador do
Centro de Pesquisa e Conhecimento MAIS REFLEXÃO, MENOS REGRAS
do IBGC, respectivamente, previu
então o dia 16 de novembro de Em um formato inovador, a 5ª edição
2015 como o de lançamento da do Código passou a separar as
publicação - data do 16º Congresso recomendações dos fundamentos, o
do IBGC e mês em que o Instituto que deu um tom menos prescritivo ao
completa 20 anos de existência. documento. “Quando optamos por
fazer uma redação com destaque ao
“Devido ao prazo estreito, optou- fundamento, tornamos o tema mais
se por dividir os integrantes da convidativo do que se fosse apenas

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1999 2004

2015 2009

uma recomendação, que pode estratégica, para que realmente


até mesmo não se enquadrar na sirvam para o desenvolvimento da
realidade da organização”, pontuou organização”, analisou Brandão,
Lima. De acordo com ele, a ideia é também membro da Comissão de
suscitar a reflexão sobre o elemento Estudos de Sustentabilidade para
de Governança que está sendo as Empresas – Cese.
tratado e como ele gera valor para a
organização que aderir a ele. Responsável pela redação da “É um Código que propõe menos
Apresentação e Introdução do check list e mais reflexão.
Responsável pela revisão da documento - ao lado de Martha Ele vem com menos números e
consistência interna do Código, e Lima -, Brandão aponta o está embasado em fundamentos,
Carlos Eduardo Lessa Brandão, tema externalidades como o que convida à reflexão”
coordenador do Grupo de Estudos uma novidade no documento.
de Governança e Ética do IBGC, “O tema trata dos impactos positivos Carlos Eduardo Lessa Brandão,
acredita que um dos motivos e negativos que a organização responsável pela revisão da
da mudança de estrutura do gera a terceiros, e aborda consistência interna do Código
documento tem como finalidade questões ambientais, sociais e
convidar o leitor a pensar na de Governança, que compõe a
maturidade da Governança sustentabilidade”, ressaltou.
Corporativa em sua organização.
Na mesma linha, vem a definição
“É um Código que propõe menos de Martha: “A 5ª edição enfatiza a
check list e mais reflexão. Ele empresa e todos que se relacionam
vem com menos números e está com ela. Afinal, a empresa não
embasado em fundamentos, o que vive somente para distribuir
convida à reflexão. O documento dividendos a seus acionistas, ela
estimula a utilização das melhores tem uma função social e impacta
práticas de Governança de forma seu entorno”, finalizou.

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A
CRISE: OPORTUNIDADE PARA APERFEIÇOAR
A GOVERNANÇA
SAN D RA G U E RRA
Presidente do Conselho de Administração do IBGC

“Nos apropriamos com Ao longo desses 20 anos, o valor que se viu na esteira das crises.
orgulho do papel que tivemos, resultante da boa Governança Os códigos de boas práticas foram
mas estamos plenamente tem sido tangibilizado a partir ajustados em todo o mundo. A
conscientes que ainda temos de situações de crise. Foi assim autorregulação se aperfeiçoou. As
muito a avançar. Seremos no início do milênio quando os empresas buscaram fortalecer suas
totalmente inflexíveis com escândalos corporativos como práticas. Os investidores fizeram um
situações como as que Enron, Tyco, WorldCom, deixaram mea culpa e passaram a acompanhar
levaram o País a viver esse os mercados perplexos com a mais de perto as práticas de
tsunami do ponto de vista dimensão das fraudes empresariais Governança das empresas onde
ético. Estaremos vigilantes. e as perdas colossais de todas as investem, criando inclusive códigos
Seguiremos resolutos, suas partes interessadas. Menos para si próprios, os stewardship
educando e advogando pelas de uma década depois, em 2008, codes. Junto com tudo isso, veio
boas práticas” o mundo voltou a ficar atônito com o aumento da consciência sobre a
a crise financeira internacional, importância da boa Governança
como consequência da derrocada como fator preventivo e protetor, um
de muitos bancos nos Estados verdadeiro escudo para preservação
Unidos e Europa, na sequência de valor.
da crise do mercado de hipotecas
estadunidense. Ao lado de fatores É com esse olhar que podemos
estruturais e sistêmicos, a fragilidade observar a crise política e
da Governança nessas instituições econômica que devasta o País e que
foi claramente evidenciada entre nos deixa a todos desolados. As
as causas da crise que foi a maior notícias dos jornais dão contornos
desde a quebra da bolsa de Nova sombrios sobre a amplitude e
York, em 1929. profundidade das práticas de
corrupção. Como chegamos a
Estes dois momentos históricos esse ponto em que corruptores e
foram seguidos de um movimento corruptos se sentiam tão à vontade
de reforma regulatória e também para desenvolver esquemas tão
de transformações nas empresas e grandes e sofisticados, envolvendo
por parte dos investidores. As leis um número tão grande de pessoas?
Sarbannes-Oxley e Dodd Frank nos
Estados Unidos são exemplares da Que Governança era essa
profunda transformação regulatória praticada nas empresas envolvidas

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com os casos da Operação Lava- É nesse quadro que a boa exemplo, na administração dos
Jato da Política Federal? Quando se Governança pode mais uma vez conflitos de interesses; nos processos
toma conhecimento das denúncias e se apresentar como um caminho de decisão mais robustos; no aumento
acusações, pode-se especular que os seguro para a criação de valor da confiança interna e externa que
esquemas de corrupção estivessem para toda a sociedade. Assim, é resultante da maior transparência
na raiz do modelo de negócios de não poderia ser mais oportuno junto às partes interessadas; e
certas empresas. Onde estavam os que o IBGC comemore seus 20 na criação de valores tangíveis e
conselhos de administração? Como anos lançando a 5a edição de seu intangíveis à organização. Esses
os administradores, executivos e Código das Melhores Práticas. benefícios acabam por conduzir
vários funcionários não viram os a negócios mais sustentáveis e
sinais de práticas tão nocivas e que Nessa nova edição, nós propomos geradores de valor no longo prazo.
ganharam tamanha grandeza? um novo olhar em relação às
boas práticas. O novo código Completamos 20 anos com a
Esses construtos ilegais com esse nível propõe a reflexão que leva a uma certeza de que o IBGC teve papel
de sofisticação não se formam do dia escolha responsável e madura. fundamental no aperfeiçoamento
para a noite. Eles foram crescendo Menos prescritivo que as versões da Governança no Brasil. Foi o
em um ambiente tolerante, tanto no anteriores, nosso código ancora- sustentáculo independente para
âmbito do setor público como o do se nos princípios como elementos motivação de todos os tipos de
privado, onde princípios éticos foram norteadores inequívocos do que organizações, para as iniciativas
sendo esquecidos e a integridade se espera como boa Governança. dos reguladores e autorreguladores
perdeu o seu valor. Um ambiente onde Entendemos que esta é uma edição e para a ação de todos aquelas
os princípios da boa Governança de transição da prescrição para partes interessadas que gravitam
não são o mantra da organização e um documento essencialmente em torno da Governança. Nos
os modelos de supervisão e controles baseado em princípios. E fizemos apropriamos com orgulho do
são feitos para não ver. assim considerando que essa papel que tivemos, mas estamos
transição gradual seria educativa plenamente conscientes que ainda
Esse doloroso momento brasileiro para nossa sociedade. temos muito que avançar.
pode ser visto como uma
oportunidade de virarmos a página O novo Código do IBGC pretende Seremos totalmente inflexíveis com
e escrevemos uma nova história, a estimular as organizações a moverem situações como as que levaram o
qual precisa ser redigida a partir da da Governança do parecer ser, País a viver esse verdadeiro tsunami
absoluta intolerância aos desvios uma abordagem que leva à adoção do ponto de vista ético. Estaremos
éticos e priorização dos valores superficial de boas práticas, motivada vigilantes. Seguiremos resolutos,
e princípios da boa Governança. pelo percepção que ela vai gerar, educando e advogando pelas
Nessa nova história, não se faz para aquela adotada pelo valor boas práticas. Vamos incentivar
vista grossa aos oportunistas e intrínseco de se adotar as melhores para que nossa sociedade
“espertos” que cortam caminhos e práticas, a Governança do ser. amadureça com essa crise e se
produzem riqueza para si apenas torne altamente intolerante com
e por caminhos tortuosos. O valor intrínseco da boa as práticas em arrepio à ética e à
Governança é observado, por boa Governança.

IBGC EM FOCO OU T U BRO / N O V EM BRO / DEZEM BRO 2015 27


IBGC lança a 5ª edição do Código das Melhores
Práticas de Governança Corporativa.

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