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5ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS DA

BAHIA

PROCESSO Nº 0005598-53.2011.8.05.0027
CLASSE: RECURSO INOMINADO
RECORRENTE: IZABEL PRADO DE ARAÚJO
RECORRIDA: COMPANHIA DE ELETRICIDADE DO ESTADO DA BAHIA -
COELBA
JUIZ PROLATOR: ARMANDO DUARTE MESQUITA JUNIOR
JUIZ RELATOR: ROSALVO AUGUSTO VIEIRA DA SILVA

EMENTA

RECURSO INOMINADO. AÇÃO INDENIZATÓRIA. SERVIÇO DE


ENERGIA ELÉTRICA. SUSPENSÃO DA PRESTAÇÃO APÓS O
PAGAMENTO DAS FATURAS VENCIDAS. SENTENÇA QUE
JULGOU IMPROCEDENTE A PRETENSÃO DEDUZIDA.
PROVIMENTO PARCIAL DO RECURSO DA AUTORA PARA
FIRMAR CONDENAÇÃO PELOS DANOS MORAIS
CONFIGURADOS.

Dispensado o relatório nos termos do artigo 46 da Lei n.º 9.099/95.

Circunscrevendo a lide e a discussão recursal para efeito de registro,


saliento que a Recorrente, IZABEL PRADO DE ARAÚJO, pretende a reforma da sentença
lançada nos autos que julgou improcedente a pretensão deduzida, buscando a condenação da
Recorrida, COMPANHIA DE ELETRICIDADE DO ESTADO DA BAHIA – COELBA,
ao pagamento de indenização por danos morais por ter promovido a suspensão da prestação
do serviço de energia elétrica após o pagamento das faturas em atraso.

Presentes as condições de admissibilidade do recurso, conheço-o,


apresentando voto com a fundamentação aqui expressa, o qual submeto aos demais
membros desta Egrégia Turma.

VOTO

Assiste razão em parte à Recorrente, senão vejamos:

Como norma de ordem pública constitucional (arts. 5º, XXXII, e 170, V, da


CF), o Código de Defesa do Consumidor foi promulgado com o objetivo precípuo de
garantir o equilíbrio de direitos e deveres entre o consumidor e o fornecedor nas relações de
consumo, pautado nos princípios da boa-fé e lealdade.

1
Por ser inerente ao risco do desenvolvimento de sua atividade econômica 1,
o CDC consagra que a ocorrência de caso fortuito ou de força maior ou mesmo a culpa da
vítima ou de terceiro não excluem ou atenuam a culpa do fornecedor quando ele concorre de
alguma forma para o evento. Somente a atuação isolada e exclusiva do elemento externo faz
desaparecer a relação de causalidade entre a atuação do fornecedor e o evento danoso,
dissolvendo-se a própria relação de responsabilidade civil. Concorrendo de alguma forma
para o resultado lesivo, mediante ação ou omissão, o fornecedor envolvido atrai para si a
responsabilidade integral perante o consumidor, não podendo isentá-lo a eventual ocorrência
concomitante de culpa do consumidor ou de terceiro ou mesmo de caso fortuito ou força
maior.

No caso, restou provado que a fatura com vencimento em dezembro de


2010 foi paga em fevereiro de 2011 e a fatura com vencimento em fevereiro de 2011 foi
liquidada pela Recorrente no dia anterior à efetivação do corte da energia (evento 01). No
entanto, mesmo não mais existindo as dívidas, a Recorrida promoveu a suspensão da
prestação do serviço à unidade consumidora de responsabilidade daquela.

A questão atinente ao processamento do pagamento diz respeito apenas ao


desenvolvimento de sua atividade empresarial, não podendo ser transferida à consumidora 2,
parte vulnerável na relação.

Vale lembrar que, existindo entre a Recorrida e o agente que recebeu o


valor da dívida sistema de cooperação voltado ao lucro para facilitar seus empreendimentos
econômicos, incide a solidariedade preconizada no CDC, que iguala todos os que participam
da cadeia empresarial, face aos riscos inerentes as atividades enconômicas,
independentemente do grau de culpa e de atuação no episódio, com a consagração da
responsabilidade civil objetiva, sendo, portanto, todos os fornecedores envolvidos
responsáveis pelo desfecho da atuação defeituosa, autorizando, em consequência, o
consumidor prejudicado acioná-las conjunta ou individualmente, nos termos do parágrafo
único, do art. 7º, do CDC3.

Para o CDC, terceiro é a pessoa não integrante da relação de consumo, cuja


atuação, isolada e exclusiva, faz desaparecer a relação de causalidade entre o defeito no
fornecimento do serviço ou produto e o evento danoso, dissolvendo-se a responsabilidade do
fornecedor acionado, situação que não se enquadra o agente arrecadador, já que atuava em
regime de cooperação econômica com a Recorrida, integrando, assim, a mesma relação de
consumo, sendo ambos, parceiros comerciais, solidariamente responsáveis entre si.

1
- DIREITO CIVIL, PROCESSUAL CIVIL E CONSUMIDOR - APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR
DANOS MATERIAIS E MORAIS C/C AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER - CONSTRUÇÃO CIVIL - ATRASO NA
ENTREGA DO IMÓVEL - ALEGAÇÃO DE FORÇA MAIOR E CASO FORTUITO PARA JUSTIFICAR A INADIMPLÊNCIA -
FATOS PREVISÍVEIS - TEORIA DO RISCO DO NEGÓCIO - RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA DA CONSTRUTORA
- INTELIGÊNCIA DO ART. 14 DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR - DANO MATERIAL E MORAL
RECONHECIDOS - RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO - A teoria do risco do negócio ou atividade é a base da
responsabilidade do fornecedor no Código de Defesa do Consumidor , que se harmoniza com o sistema de produção e consumo em
massa, protegendo a parte mais frágil da relação jurídica, o consumidor. Não se considera caso fortuito ou motivo de força maior o
evento que, apesar de inevitável, se liga aos riscos do próprio empreendimento, integrando de tal modo à atividade empresarial,
que seja impossível exercê-la sem assumi-los - Conforme art. 14, § 3º, do Código de Defesa do Consumidor , o ônus da prova, em
caso de causa excludente de responsabilidade, é do fornecedor, que não se desincumbiu do encargo. - Apelo conhecido e
desprovido. (TJAM - AC 0215996-83.2011.8.04.0001 - 3ª C.Cív. - Rel. Des. Aristóteles Lima Thury - DJe 05.12.2013 - p. 48)

2
“A simplificação de procedimentos para agilização da atividade econômica, em prejuízo da segurança, é risco assumido pela
empresa para bem exercer sua atividade de fins lucrativos. Se houve falha nesse procedimento, advindo dano à vítima, esta não
pode ser responsabilizada, mas a própria empresa, que assumiu o risco de sua ocorrência ao exercer a atividade econômica ”.
(TAPR – AC 0244359-0 – (209920) – Foz do Iguaçu – 6ª C.Cív. – Rel. Juiz Luiz Carlos Gabardo – DJPR 20.08.2004).
3

Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos
nas normas de consumo.
2
Assim, não comprovada a culpa exclusiva da consumidora ou de terceiro,
deve a parte recorrida responder pela sua desorganização administrativa, sendo, portanto,
absolutamente necessária a sua condenação ao pagamento dos inegáveis prejuízos morais
sofridos pela Recorrente4, face à suspensão indevida da prestação de serviço público
essencial, o que, inegavelmente, vulnerou a sua intangibilidade pessoal, sujeitando-a ao
constrangimento, aborrecimento, transtorno e incômodo, oriundos da atividade ilícita da
Recorrida.

Buscando o arbitramento dos danos morais vislumbrados, observo que,


devendo duas faturas, a Recorrente foi previamente avisada a respeito da possibilidade de
suspensão da prestação do serviço, tendo deixado transcorrer o prazo de trinta dias para a
liquidação da dívida, conforme consta no evento 01, tendo realizado o pagamento no dia
anterior ao corte, razão pela qual entendo que o evento não pode ser classificado de natureza
grave.

Com isso, atendendo às peculiaridades do caso e à míngua de outros dados


tangíveis que pudessem auxiliar na quantificação da indenização, entendo que emerge a
quantia de R$ 2.000,00 (dois mil reais), como o valor próximo do justo, a qual se mostra
capaz de compensar, indiretamente, os desgastes emocionais advindos à Recorrente, e trazer
a punição suficiente ao agente causador, sem centrar os olhos apenas na aparente capacidade
econômica da Recorrente.

Assim sendo, ante ao exposto, voto no sentido de CONHECER e DAR


PROVIMENTO PARCIAL ao recurso interposto pelo Recorrente, IZABEL PRADO DE
ARAÚJO, para, reformando integralmente a sentença hostilizada, condenar a Recorrida,
COMPANHIA DE ELETRICIDADE DO ESTADO DA BAHIA – COELBA, ao
pagamento de indenização pelos danos morais observados, ora arbitrada na quantia de R$
2.000,00 (dois mil reais), acrescida de juros, contados da citação, e correção monetária
contada a partir do julgamento do recurso, momento em que se deu a condenação.

Como a Recorrente logrou êxito em parte do recurso e o disposto na


segunda parte do art. 55, caput, da Lei 9.099/95, não se aplica ao recorrido, mas somente ao
recorrente integralmente vencido, não há condenação por sucumbência.

Salvador, Sala das Sessões, 16 de junho de 2015.

Rosalvo Augusto Vieira da Silva


Juiz Relator

COJE – COORDENAÇÃO DOS JUIZADOS ESPECIAIS


TURMAS RECURSAIS CÍVEIS E CRIMINAIS

PROCESSO Nº 0005598-53.2011.8.05.0027
CLASSE: RECURSO INOMINADO
4

- ENERGIA ELÉTRICA - INDENIZAÇÃODANO MORAL - DÍVIDA PAGA - CORTE INDEVIDO - Argumento de


que o cancelamento da conta original implicou na pendência no sistema da conta substituta é inadmissível, pois efetuado o
pagamento no vencimento não há que se cogitar de pendência. Falha da fornecedora reforçada porque, mesmo após apresentada a
fatura quitada, manteve em aberto no sistema, bem como efetuou o corte. Impossibilidade de impor ao usuário culpa pelo corte
imotivado, diante da negligência da concessionária quanto aos registros. Dever de indenizar pela supressão de bem essencial à
dignidade da vida humana, inclusive acarretando constrangimento e privação do bem estar. Redução da indenização diante da
razoabilidade e proporcionalidade. Apelo parcialmente provido. (TJSP - Ap 992.05.066254-5 - Jaboticabal - 35ª CDPriv. - Rel. José
Malerbi - DJe 19.08.2011 - p. 1302)
3
RECORRENTE: IZABEL PRADO DE ARAÚJO
RECORRIDA: COMPANHIA DE ELETRICIDADE DO ESTADO DA BAHIA -
COELBA
JUIZ PROLATOR: ARMANDO DUARTE MESQUITA JUNIOR
JUIZ RELATOR: ROSALVO AUGUSTO VIEIRA DA SILVA

EMENTA

RECURSO INOMINADO. AÇÃO INDENIZATÓRIA. SERVIÇO DE


ENERGIA ELÉTRICA. SUSPENSÃO DA PRESTAÇÃO APÓS O
PAGAMENTO DAS FATURAS VENCIDAS. SENTENÇA QUE
JULGOU IMPROCEDENTE A PRETENSÃO DEDUZIDA.
PROVIMENTO PARCIAL DO RECURSO DA AUTORA PARA
FIRMAR CONDENAÇÃO PELOS DANOS MORAIS
CONFIGURADOS.

ACÓRDÃO

Realizado julgamento do Recurso do processo acima epigrafado, a


QUINTA TURMA, composta dos Juízes de Direito, WALTER AMÉRICO CALDAS,
EDSON PEREIRA FILHO e ROSALVO AUGUSTO VIEIRA DA SILVA decidiu, à
unanimidade de votos, CONHECER e DAR PROVIMENTO PARCIAL ao recurso
interposto pelo Recorrente, IZABEL PRADO DE ARAÚJO, para, reformando
integralmente a sentença hostilizada, condenar a Recorrida, COMPANHIA DE
ELETRICIDADE DO ESTADO DA BAHIA – COELBA, ao pagamento de indenização
pelos danos morais observados, ora arbitrada na quantia de R$ 2.000,00 (dois mil
reais), acrescida de juros, contados da citação, e correção monetária contada a partir do
julgamento do recurso, momento em que se deu a condenação. Como a Recorrente logrou
êxito em parte do recurso e o disposto na segunda parte do art. 55, caput, da Lei 9.099/95,
não se aplica ao recorrido, mas somente ao recorrente integralmente vencido, não há
condenação por sucumbência.

Salvador, Sala das Sessões, 16 de junho de 2015.

JUIZ WALTER AMÉRICO CALDAS


Presidente

JUIZ ROSALVO AUGUSTO VIEIRA DA SILVA


Relator

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