Vous êtes sur la page 1sur 3

Ao Fim da idade média a lepra deixou de assolar o mundo ocidental como teria outrora feito.

Porém não o fez sem sequelas.

Chegaram a haver 19000 deles em toda cristandade. Dois mil deles recenseados na França.
Quarenta e três apenas na Diocese de Paris. A partir do século XV foram desaparecendo a
medida que a lepra se extinguia e deixando um espaço vazio com potencial de ser preenchido
por novos motivos. O desaparecimento da doença é celebrado. Há procissões em nome dele.

Com o fim do mal, logo se estabeleceu a idéia da reorganização dos bens fundiários dos
inúmeros leprosários. Esvaziaram-se os que tinham poucos pacientes, que foram transferidos
para outros, concentrando-os. As rendas são redirecionadas em sua maioria para hospitais.
Alguns desses ambientes agora vazios são povoados por incuráveis e loucos, como é o caso de
Lippiglen, na Alemanha.

O desaparecimento da doença, no entanto, não foi efeito de uma prática médica com intento
de cura, mas justamente resultado da segregação dos doentes da sociedade e a ruptura com
os focos de infecção orientais após o fim das cruzadas. A lepra sai de foco, mas os valores e as
imagens aderidos à personagem do leproso, essa figura temida, não. Essa é um sequela
permanente.

A figura do leproso permanece como manifestação ambivalente do divino. Indica a cólera do


Senhor ao mesmo tempo em que marca sua bondade: é uma graça que serve como punição
aos males que alguém tenha feito na terra. Uma chance para a purificação da alma. É afastado
do povo, mas aproximado de Deus. Por um lado é excluído e abandonado, por outro, salvo.
Uma espécie de purgação terrena que garantiria sua entrada direta no paraíso após a morte.

Desaparecida a lepra, essa estruturas permanecerão. Deu-se lugar brevemente as doenças


venéreas isoladamente, tão comuns, contagiosas e estigmatizadas como esta primeira. Dois a
três séculos mais tarde, de forma sobreposta, a exclusão dos pobres, vagabundos, presidiários,
cabeças alienadas, de maneira semelhante como outrora, mas com um sentido novo.

A grande herdeira, entretanto, do modus operandi dessa segregação foi a loucura. Esta, que
até o século XVII estava ligada obstinadamente a todas experiências maiores da renascença.
Foucault então nos remete a figura simbólica da Nau dos Loucos que habitou imaginário
popular durante tal período. As Naus eram uma moda de composições literárias da época que
retratavam heróis, modelos éticos ou tipos sociais que lhes trazem a figura de seus destinos ou
suas verdades. Entretanto, ressalta que de todas essas, uma de fato existiu, A Nau dos loucos,
esses barcos que levavam sua carga insana de uma cidade para outra. As cidades
escorraçavam seus loucos através desses navios, costume esse mais frequente na Alemanha.
Costume esse não era meramente uma medida de expurgo uma vez que havia durante toda a
idade média e Renascença um lugar de detenção reservados aos loucos. Tratava-se,
provavelmente, de excluir apenas aqueles que não eram cidadãos de origem local. Já outros
lugares como Nuremberg acolhia grande número de loucos levados pelos navios, são alojados,
porém não tratados, mas jogados a reclusão. Nesta mesma cidade os loucos são proibidos de
frequentar as igrejas. “Mas a isso a água acrescenta a massa obscura de seus próprios valores:
ela leva embora, mas faz mais que isso, ela purifica. Além do mais, a navegação entrega o
homem à incerteza da sorte: nela, cada um é confiado a seu próprio destino, todo embarque
é, potencialmente, o último.”

A partir da segunda metade do século XV a loucura substitui a morte como temática de


destaque. A loucura passa a ser vista como o já-está-aí da morte. Trata-se do vazio da
existência, que antes era visto exterior, mas agora interior como forma contínua e constante
da existência.

Outra causa de fascinação da loucura era devido a ela ser uma forma de saber. Um saber
difícil, fechado e esotérico. Um saber proibido, que prediz ao mesmo tempo o reino de Satã e
o fim do mundo.

Foucault então resume o que pensa indispensável para entender a experiência que o
classicismo teve da loucura.

Primeiro, loucura e razão se fundamentam uma vez que se recusam. “Isto é, a loucura só
existe com relação à razão, mas toda a verdade desta consiste em fazer aparecer por um
instante a loucura que ela recusa, a fim de perder-se por sua vez numa loucura que a dissipa.
Num certo sentido, a loucura não é nada: a loucura dos homens não é nada diante da razão
suprema que é a única a deter o ser; e o abismo da loucura fundamental nada é, pois esta só é
o que é em virtude da frágil razão dos homens. Mas a razão não é nada, dado que aquela em
cujo nome a loucura humana é denunciada revela-se, quando finalmente se chega a ela,
apenas como uma vertigem onde a razão deve calar-se. (...) A loucura não tem mais uma
existência absoluta na noite do mundo: existe apenas relativamente à razão, que as perde uma
pela a outra enquanto as salva uma com a outra.”

Segundo, A loucura torna-se uma das próprias formas da razão. Ela só tem sentido e valor no
próprio campo da razão.Tal é a pior loucura do homem: não reconhece a miséria em que está
encerrado, a fraqueza que o impede de aproximar-se do verdadeiro e do bom; não saber que
parte da loucura é a sua. A verdadeira razão não está isenta de todo compromisso com a
loucura; pelo contrário, ela tem mesmo de tomar os caminhos que esta lhe traça.

Entre formas de razão e formas da loucura, grandes são as semelhanças. Como distinguir,
numa ação prudente, se ela foi cometida por um louco, e como distinguir, na mais insensata
das loucuras, se ela pertence a um homem normalmente prudente e comedido?

A loucura é um momento difícil, porém essencial, na obra da razão; através dela, e mesmo em
suas aparentes vitórias, a razão se manifesta e triunfa. A loucura é, para a razão, sua força viva
e secreta.

A loucura é um momento difícil, porém essencial, na obra da razão; através dela, e mesmo em
suas aparentes vitórias, a razão se

manifesta e triunfa. A loucura é, para a razão, sua força viva e secreta. impossível se dissipou.
O esquecimento cai sobre o mundo sulcado

pela livre escravidão de sua Nau: ela não irá mais de um aquém para um além, em sua
estranha passagem; nunca mais ela será esse
limite fugidio e absoluto. Ei-la amarrada, solidamente, no meio das coisas e das pessoas.
Retida e segura. Não existe mais a barca, porém o hospital. Este passa a ser o novo tema
iterário. Hospital dos Loucos. Os personagens agora são os loucos bêbados, os loucos sem
memória e entendimento, os loucos mansos e semimortos, os loucos avoados e sem cérebro.
A perfeita separação da razão, aquela que rotula, e a não-razão que é rotulada.

A despeito disso, a loucura

Vous aimerez peut-être aussi