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All content following this page was uploaded by Carmem Beatriz Neufeld on 05 June 2017.
ASPECTOS DESENVOLVIMENTAIS,
TEÓRICOS E PRÁTICOS
DESENVOLVIMENTO
COGNITIVO,
SOCIOEMOCIONAL E
FÍSICO NA ADOLESCÊNCIA
E AS TERAPIAS COGNITIVAS
CONTEMPORÂNEAS
DAVI MANZINI MACEDO
CIRCE SALCIDES PETERSEN
SILVIA H. KOLLER 1
O conceito de adolescência diz respeito a um período do contínuo do desenvol-
vimento humano que demarca socialmente a transição da infância para a adul-
tez. Esse período é permeado por múltiplas transformações nos níveis físico,
neuroquímico, cognitivo, emocional e comportamental. As tarefas e exigências
do meio modificam-se na transição entre a infância e a adolescência, bem como
desta para a fase adulta. As demandas dos adolescentes dizem respeito, por
exemplo, ao maior convívio social com pares, maior autopercepção e desenvol-
vimento de suas habilidades e competências, construção da própria identidade
e de valores de vida, bem como tomadas de decisão quanto à trajetória profis-
sional. Uma vez que as experiências dessa fase podem comprometer aspectos
da qualidade de vida por um período considerável do ciclo vital, é necessário
que a sociedade e o poder público busquem a promoção de experiências de vida
saudáveis, que estimulem os adolescentes a selecionar experiências positivas
para seu desenvolvimento nos diferentes contextos em que estão inseridos.
O objetivo deste capítulo é discutir as transformações nos âmbitos citados,
bem como os riscos e as potencialidades implicadas nesse período do desen-
volvimento humano.
O estudo desse contínuo do desenvolvimento envolve uma pergunta básica,
porém essencial: quem são os adolescentes? Os delimitadores cronológicos
adotados para a demarcação da adolescência apresentam algumas variações.
A Organização das Nações Unidas (ONU) e o Fundo das Nações Unidas para a
Infância (Unicef) compreendem o período dos 10 aos 19 anos como referencial
para essa etapa e adotam a distinção entre fase inicial (10 a 14 anos) e fase final
(15 a 19 anos) da adolescência. A Assembleia Geral das Nações Unidas, ao de-
bater políticas globais a respeito dessa faixa etária, utiliza o termo juventude,
TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL PARA ADOLESCENTES 17
mental composto por fatores de ordem individual, histórica e cultural (Senna &
Dessen, 2012). As teorias do desenvolvimento foram responsáveis, inicialmen-
te, pela realização de investigações descritivas e ateóricas, de modo a avançar
para estudos sistêmicos e longitudinais voltados a testagem de hipóteses e ela-
boração de modelos teóricos. Essa primeira fase foi marcada por teorias que
priorizavam a comparação de aspectos biológicos, psicológicos e socioculturais
para fins de delimitação das características da adolescência (Lerner & Stein-
berg, 2004; Senna & Dessen, 2012). Em sequência, as ciências interessadas no
desenvolvimento humano passaram a considerá-lo a partir de seu potencial
dinâmico e da interação com fatores como o contexto e o tempo. Por fim, o
desenvolvimento passa a ser considerado como permeado por mudanças em
potencial, e as diferentes ciências, incluindo a psicologia, consideram a ne-
cessidade da investigação das potencialidades individuais e contextuais, bem
como dos fatores de promoção de saúde (Senna & Dessen, 2012).
Um dos marcos iniciais do estudo do desenvolvimento humano é o modelo
teórico sobre o desenvolvimento das habilidades cognitivas proposto por Pia-
get (1960). De acordo com essa teoria clássica, é nos anos finais da infância e
iniciais da adolescência que os indivíduos se tornam aptos ao raciocínio hi-
potético-dedutivo, de modo a poder estabelecer relações abstratas entre con-
ceitos, fazer avaliações mais complexas e projeções para o futuro. A aquisição
dessa maturação cognitiva permite que os adolescentes estejam aptos a reali-
zar processos avaliativos e reflexivos a respeito de sua própria imagem, bem
como dos relacionamentos aos quais se vinculam. Esse processo abstrato per-
mite a elaboração de uma teoria a respeito de si mesmo, ou seja, de um senso
de identidade próprio, que busca a integração de valores e propósitos pessoais.
A percepção do sentido de vida dos adolescentes de modo congruente com rela-
ção a sua identidade e seus valores pessoais associa-se a consequências desen-
volvimentais saudáveis, como maiores níveis de felicidade, autoestima estável
e comportamento pró-social (Rodrígues & Damásio, 2014).
Desde o início da adolescência, os indivíduos tendem a se comparar aos pa-
res, a compreender que seus comportamentos estão sob avaliação e a se preo
cupar mais com as implicações sociais de tais julgamentos. A maior atenção à
perspectiva dos outros é mais uma fonte para que os adolescentes construam
sua identidade pessoal e sua visão de si mesmos (Sebastian, Burnett, & Black
more, 2008). Conforme começam a questionar-se sobre quem são e sobre a
posição que ocupam em seu ambiente social, tornam-se mais sensíveis ao jul-
gamento do entorno e suscetíveis a acreditar que estão constantemente sendo
observados e avaliados (Lapsley & Murphy, 1985). Essa é uma característica
marcante a ser observada na adolescência, em função de sua importância para
o desenvolvimento das cognições a respeito do self e das habilidades sociais de
cada um. O modo como os adolescentes se percebem e avaliam seu senso de
autoeficácia pode influenciar decisivamente o curso de suas vidas (Bandura,
2005).
TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL PARA ADOLESCENTES 19
TIPOS DE DIFICULDADES
em casos extremos.
X
Sintomas externalizantes
Sintomas internalizantes
(oposição, desafio,
(ansiedade, depressão)
conduta antissocial)
Figura 1.1
ESCOLHA DAS TÉCNICAS PSICOTERÁPICAS DE ACORDO COM O TIPO DE SINTOMA.
• Empatia
• Autocontrole
• Civilidade
• Capacidade de demonstração de afeto
• Desenvoltura social
24 CARMEM BEATRIZ NEUFELD (org.)
ADULTEZ EMERGENTE
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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