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História da Economia como ciência

PRELIMINAR

Professor: BOUZID IZERROUGENE


OBJETIVO: Expor as diferentes metodologias assumidas na história da Ciência
Econômica (CE)

Origem, natureza e evolução da Ciência Econômica (CE)


Duas visões diferentes sobre a origem, natureza e evolução da CE

1) Visão que considera que não é possível identificar uma origem precisa da CE, porque
supõe que essa ciência se forma gradativamente pela acumulação positiva do
conhecimento, superando erros e controvérsias. Nessa perspectiva, há uma evolução
linear, uma acumulação progressiva e positiva do conhecimento, cada vez mais
abrangente e verdadeiro. É um marco teórico que sustenta toda a doutrina funcionalista /
positivista.

2) Visão que considera que a CE só teve início com a formação da economia capitalista,
a qual conferiu finalidade à economia: lucro e valorização do capital e não mais a
produção de bens e serviços para satisfazer as necessidades humanas. De acordo com essa
visão, antes do capitalismo as ideias relativas à economia não formavam um corpo
sistematizado de conhecimento, mas representavam apenas proposições sobre fatores ou
elementos particulares. Estavam inseridas em outros discursos científicos, como a moral,
a filosofia, o direito e a política. Essa visão é defendida pelos marxistas e evolucionistas
(Shumpeterianos e neo-shumpeterianos). Os shumpeterianos, precisamente, afirmam que
a CE não progride de forma uniforme ou linear, mas por saltos: momentos de revoluções,
de consolidação e de dominação de teorias, seguidos por momentos de crise e novas
revoluções no pensamento econômico. Um pensamento que corresponde à teoria
khuniana dos paradigmas.

O confronto entre essas duas visões na contemporaneidade levou a distinguir a CE como


ciência rígida e ciência flexível.

a) Ciência Rígida: (da visão 1). Valoriza o estágio atual da teoria e não a sua história. O
que vale é o conhecimento de fronteira e não o passado, nem o contexto em que o mesmo
se originou, pois, todos os elementos verdadeiros de teorias antigas estariam incorporados
na teoria atual. Assim, a história do pensamento econômico só interessa como história
dos erros e das antecipações das teorias futuras. Essa interpretação se vale da teoria da
falseabilidade de Popper em que teríamos apenas uma única teoria econômica verdadeira,
que seria a síntese positiva das teorias que se comprovaram como verdadeiras ao longo
da história.

b) Ciência flexível: (da Visão 2). Valoriza os clássicos da CE e os contextos econômicos


e sociais em que as teorias foram inicialmente formuladas. Não se pode estudar uma teoria
sem conhecer sua história. O conhecimento se encontra disperso ao longo do tempo.
Assim, o estudo dos clássicos é indispensável para a compreensão da ciência, além de se
constituir numa fonte indispensável de novas inspirações e interpretações teóricas. Nesta
perspectiva, não teríamos uma única teoria econômica, mas vários paradigmas teóricos,
em permanente confronto e competição. Essa visão se vale da teoria dos Programas de
Pesquisa Científicos de Lakatos.
Advertência de Screpanti e Zamagni: Não cair numa dupla tentação: a de reler o
passado a partir de uma visão do presente; ou de se tentar explicar o presente através de
uma visão do passado. Não se deve buscar nas teorias do passado uma simples
antecipação do presente. Importam as estruturas lógicas das teorias e o contexto de seu
surgimento.

Considerando que a metodologia econômica reflete discussões travadas no âmbito da


filosofia da ciência, alguns desses debates se apresentam como questões fundamentais na
compreensão das disputas teóricas em Economia. A CE, desde suas origens, não se define
como ciência unificada, nem mesmo seria uma ciência específica. Suas práticas, a
modelagem, a abstração e matematização não parecem ser suficientes para explicar os
fenômenos econômicos reais.

Vamos apresentar as principais ideias dos mais importantes economistas e correntes


ideológicas, associando-as aos debates compreendidos na filosofia da ciência e seus
impactos no pensamento econômico. Tratando-se de uma exposição amplamente
resumida, é recomendável, para maiores esclarecimentos em cada tópico, consultar a
bibliografia específica de cada autor ou período, descrita nas referências das últimas
páginas. O presente resumo seria mais bem visto como um “guia” de leitura que apenas
lista alguns conceitos fundamentais no pensamento econômico.

DO MERCANTILISMO AO CAPITALISMO INDUSTRIAL


No período de transição do Mercantilismo para o Capitalismo Industrial, entre 1450 e
1750, não existia ainda ciência econômica propriamente dita, mas apenas ideias sobre
fenômenos econômicos, especialmente sobre a causa da inflação que fora provocada pelo
grande afluxo de metais oriundos da América para a Europa. As atividades econômicas e
monetárias eram basicamente comerciais: economia mercantil. As ideias econômicas
eram inseridas no discurso econômico e representavam, antes de tudo, uma arte empírica,
um conjunto de formulas práticas para o uso dos governos e defesa dos interesses
nacionais. As ideias econômicas diziam respeito à administração pública e ao Tesouro
Real.

Alguns pensadores, quase todos empiristas, prepararam, no final do período de transição


para o capitalismo industrial, o advento da ciência econômica. Os mais importantes foram
Cantillon, Petty, Hume e Dubley.

RICHARD CANTILLON (1680 – 1734) é considerado precursor da economia política


por ter se dedicado à análise da produção e distribuição, a qual passou a ser característica
da economia clássica. Escreveu “Ensaio sobre a natureza do comércio em geral”, em
1755. Empirista, procurou induzir fenômenos complexos da simples observação.
Interessou-se particularmente pela origem da riqueza e pela formação dos preços. Foi
também inspirador da teoria fisiocrata por definir o valor como resultado da terra e do
trabalho. Enfatizou as relações de causa e efeito na economia e foi primeiro a utilizar
explicitamente a clausula ceteris paribus para isolar variáveis econômicas independentes.
WILLIAM PETTY (1623 – 1687), outro empirista, escreveu “Aritmética política” em
1640. Chegou a esboçar a teoria do valor trabalho, ao dizer que a terra era mãe e o trabalho
pai do valor. Já na sua época defendeu o uso dos procedimentos quantitativos na
representação da economia. Preocupou-se com a divisão do trabalho. Embora empirista,
acreditava em leis naturais que gerem as trocas e definem os preços.

DUBLEY NORTH (1641 – 1691), racionalista dedutivo, escreveu “Discurso sobre o


comércio”, publicado em 1691. Rico financista, defendia a divisão do trabalho, o livre
comércio e o juro baixo para elevar a acumulação de riquezas. Discutiu o problema do
método com Petty, num debate que gerou uma eterna controvérsia metodológica na
economia.

Para Petty, o conhecimento na economia deve se basear nos sentidos e nas causas que
tenham fundamentos naturais. Antecipou o método empírico/indutivo/experimental na
economia. Os argumentos devem ser baseados em números, pesos e medidas, prevendo
a futura estatística econômica.

Em North, de inspiração cartesiana, ao contrário, o método em economia deve se basear


na dedução. Só devem ser aceitos conhecimentos fundados em ideias claras e evidentes,
a partir das quais se pode deduzir logicamente outros conhecimentos também claros e
evidentes.

DAVID HUME (1711 – 1776). Formulou a teoria quantitativa da moeda, em que os


preços são definidos pelo volume da moeda na economia. Na base dessa teoria,
identificou o mecanismo regulador do comercio internacional, onde a elevação das
reservas monetárias de um país superavitário causa inflação que reduz a competitividade
deste país e, consequentemente, abaixa o seu superávit. Um processo inverso se observa
num país deficitários, configurando tendência ao equilíbrio.

OS FISIOCRATAS - Quesnay, Mirabeau, Gourmay, Bergamini, Turgot.

Economistas racionalistas do século XVIII, com seu conceito de riqueza que não mais se
associa ao comercio, como na época mercantilista, mas à produção agrícola. Liderados
por François Quesnay, desprezaram a administração pública e se voltaram para o estudo
da riqueza privada e seus efeitos na atividade econômica em geral.
A explicação do funcionamento do organismo econômico se inspira na ideia de uma
ordem natural, do corpo biológico guiado por leis naturais mecânicas e deterministas. Os
governos já não podem fazer o que querem contra as leis naturais da economia. O
funcionamento de tais leis é que forma o objeto da investigação na CE.
O quadro (Tableau) econômico de Quesnay (1758) é uma representação da ordem
econômica natural: as formas que governam a geração do produto e a distribuição da
riqueza entre as classes sociais e que asseguram também a reprodução traduzem as leis
dessa ordem. Quesnay, médico de formação, representou a circulação econômica pelo
sistema de circulação do sangue no corpo.
Com os fisiocratas surgiu um domínio do saber que cuida na economia da produção e
distribuição de riqueza e da origem do valor econômico. Domínio este que será conhecido
como Economia Política quando retomado pela Teoria Clássica.
SÉCULO XVIII ao XIX — Surgimento dos clássicos da Economia:
A teoria clássica em Economia Política se consolidou entre 1750 e 1850, fazendo surgir
a economia como ciência moderna. Pode ser caracterizada por enfocar as questões de
produção, circulação e distribuição da Riqueza, enfatizando o valor trabalho. Para boa
parte de seus expoentes, vale a ideia de que no mercado toda oferta cria a sua própria
demanda, relação conhecida como Lei de SAY. Essa visão foi muito criticada
posteriormente por prender-se à noção de equilíbrio das ciências naturais.

A Escola Clássica tem como protagonistas principais:

ADAM SMITH (1723-1790)


DAVID RICARDO (1772-1823)
THOMAS MALTHUS (1766-1834)
JEAN BAPTISTE SAY (1767-1832)
KARL MARX (1818-1883)
JEREMY BENTHAM (1748-1832)
NASSAU WILLIAM SENIOR (1790-1864)
JOHN STUART MILL (1806-1873)

Estes autores teceram os fundamentos metodológicos que resultaram em divisões


profundas no pensamento econômico clássico, as quais se verificam até o presente
momento. A multiplicação das divisões coloca distintas formas de separar o pensamento
econômico. Geralmente, utilizam-se as separações entre ortodoxia e heterodoxia, liberais
e defensores da intervenção do governo na economia, assim como outras classificações.
Mas, uma divisão interessante é a que distingue os economistas clássicos que tinham fé
nos movimentos mecânicos de equilíbrio daqueles que repeliam toda ideia de harmonia
inerente ao sistema. Por um lado, temos a ênfase no equilíbrio, com influência das
ciências naturais, principalmente da física, destacando SMITH, SAY, MILL. Por outro,
temos o contraponto ao equilíbrio econômico, no qual as tendências do sistema
econômico não seriam tão benéficas e destinadas ao equilíbrio necessariamente, como em
MALTHUS e MARX. Na verdade, a noção de equilíbrio deve ser considerada não apenas
como uma tendência, mas como uma “crença”, sendo um objetivo teórico estabelecido
em muitas teorias clássicas.

Os Clássicos da Economia retiveram o valor trabalho como forma de representação do


valor das mercadorias produzidas no modo de produção capitalista, embora a teoria do
valor trabalho seja um capítulo de significativas divergências entre os clássicos,
principalmente SMITH, RICARDO e MARX. Enquanto SMITH acreditava que o valor
trabalho seria apenas um componente fixo do valor de uma mercadoria, não precisando
ser quantificado, em RICARDO e MARX o trabalho era valorado, sendo quantificado
pelas horas trabalhadas. No entanto, MARX se difere de SMITH e RICARDO quando
distingue valor e preço de uma mercadoria, considerando que apesar do valor apontar de
fato o trabalho necessário para a produção de uma mercadoria, seu preço final no mercado
indicava uma divergência de valores monetários. Logo, o trabalho exercido na produção
de uma mercadoria não geraria um valor suficiente para igualar-se ao preço final da
mercadoria, dado o interesse capitalista por excedentes (mais valia).

No período de dominação da Teoria Clássica, os anos 1815-1845 se destacam como um


subperíodo de crise econômica, mas também de crescimento do pensamento econômico.
Nesse período se confrontaram várias correntes: socialistas utópicos, marxistas,
ricardianos e antiricardianos, malthusianos, historicistas, monetaristas e os primeiras
utilitaristas. Esses confrontos foram de grande impacto no pensamento econômico.
Atualmente, uma leitura acerca das mudanças ocorridas no método científico seria de
grande auxílio na compreensão de como se estruturou (ou desestruturou) o método em
Economia.

ADAM SMITH (1723-1790) - A Economia como ciência moral

Smith pode ser considerado o fundador da ciência econômica, por ter estruturado uma
concepção geral do sistema econômico, enfatizando sua importância social. Suas
principais obras: “Teoria dos Sentimentos Morais” (1759), “Riqueza das Nações” (1776)
e “Ensaio sobre a Filosofia da Ciência” (1795).

SMITH sofreu influências diversas:


 do empirismo de JOHN LOCKE e DAVID HUME, no qual, sabidamente, o
método científico se baseia na experimentação e nas impressões do sensível;
 do racionalismo cartesiano e fisiocrata, onde, contrariamente ao empirismo, o
conhecimento do mundo independeria dos sentidos físicos, sendo a consciência a
fonte de todo o conhecimento e da verdade;
 dos fisiocratas e iluministas em geral, quando deles herdou a noção da ordem
natural das coisas;
 De ISAAC NEWTON, de quem retém a ideia de sistema e aquela de princípio
teórico único.

No seu Ensaio Sobre a Filosofia da Ciência, SMITH afirma seguir o método de


NEWTON, segundo o qual, partindo de certos princípios originais ou comprovados,
estabelecemos explicações para os diversos fenômenos conectando-os com a mesma
corrente.

SMITH impressionou-se pela Lei de gravitação universal de NEWTON, em que:


 o universo é ordenado e racional;
 os diversos fenômenos se explicam através de um princípio único;
 os fenômenos naturais são regulados por leis intrínsecas e universais;
 a ordem natural é racional e o conhecimento de suas leis é accessível pela razão;
o pensamento racional possui capacidade superior de conhecer o universo natural
do que a observação empírica: um ponto culminante de uma concepção filosófica
iniciada por DESCARTES

SMITH partilhava também da noção do Commun Sense ou Ordinary Knowledge, que:


 representa um sistema de pensamento com papel relevante na formação dos
primeiros princípios;
 forma uma estrutura conceitual baseada na experiência da vida cotidiana;
 equivale a um conjunto de princípios originais de nossa constituição mental;
 expressa um papel ativo da razão e do juízo na conceituação dos fenômenos,
atribuindo-lhes um conteúdo pragmático e estético.

Em sua obra mais conhecida, a Riqueza das Nações (1776), SMITH coloca que as
relações econômicas entre os indivíduos seriam embasadas pela conveniência, isto é,
todos os animais da natureza possuem interesses individuais. Para realiza-los, a
cooperação e a troca com outros seriam necessárias. Os seres humanos não estariam
distintos deste processo, considerando suas atividades realizadas no cotidiano. Segue-se
deste raciocínio, o memorável exemplo de SMITH:

"Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro e do padeiro que


esperamos o nosso jantar, mas da consideração que eles têm pelos próprios
interesses."

No seu método de analisar a economia, SMITH baseia seu conhecimento em observações


dos fatos econômicos, mas tais observações se fundamentam em hipóteses ou princípios
originais. A sua grande hipótese é que o homem age racionalmente, guiado ao mesmo
tempo pelo auto interesse e pela simpatia, dois princípios que superam o domínio das
ciências naturais para chegar à filosofia moral, no sentido de que o comportamento
humano é também regulado por leis naturais objetivas. O princípio do egoísmo é análogo
ao princípio newtoniano de gravitação no mundo da natureza, onde um pequeno conjunto
de princípios organizaria a pesquisa cientifica, conectando uma ampla diversidade de
fenômenos. A partir dele se pode derivar e deduzir os fenômenos múltiplos da economia,
como a oferta e demanda, a formação dos preços, o nível de produção, etc.

A premissa do egoísmo como sendo lei de ordem natural do homem aponta para o uso de
princípios organizadores da multiplicidade da experiência, o que mostra o uso em SMITH
do método racional que privilegia a razão como fonte ou como princípio ativo e
organizador do conhecimento. Mas, apesar do apriorismo, sua obra é repleta de
observações históricas e de recursos empíricos, ou seja, de indutivismo (conhecimento
que, após considerar casos empíricos específicos, estabelece uma verdade geral). Ele
confere importância tanto à realidade dos fatos (empirismo), quanto ao papel ativo da
mente (racionalismo). Para SMITH, os fatos são importantes, mas não ensinam nada se
não forem interpretados pelo raciocínio cuidadoso e pela análise. Ele buscou um método
que pudesse fundamentar o sistema teórico de pensamento em aspectos concretos de
realidade. Com isso, foi além da dicotomia tradicional Dedutivismo/Indutivismo,
sugerindo um método próprio de analise, como fizeram KARL MARX e, mais tarde no
século XX, JOHN MAYNARD KEYNES (1883-1946), que serão discutidos adiante.

Na sua maior obra, Riqueza das Nações, ao definir o trabalho como a força produtiva
geradora do valor, SMITH passou a discutir a divisão do trabalho como fator que acelera
a produtividade. É conhecido o exemplo da fábrica de alfinetes que o economista usou
para demonstrar a importância da especialização. Neste exemplo, destaca-se que a
centralização de tarefas e a repetição levariam a ganhos de escala na produção muito
superiores do que manter cada trabalhador a cuidar de todas as etapas de produção. Depois
da revolução industrial, quando já se verifica uma extensa maquinação dos processos
produtivos, grandes fábricas fizeram uso abusivo desta “vantagem”. O filme de Charles
Chaplin, “Tempos Modernos”, enfatiza esse ponto.
A associação dos dois princípios de egoísmo e de divisão do trabalho gera trocas
econômicas individuais que, em mercados concorrentes, garantem o equilíbrio
econômico e a coesão social de forma despercebida. Daí a famosa ideia de Mão Invisível,
que é uma forma metafórica de defender a capacidade do capitalismo de promover a
harmonia social. A economia política smithiana é uma ciência moral que resulta na
harmonia social, uma tese que foi objeto central da crítica de Marx à Economia Política.

SMITH pensou a economia sob dois aspectos relacionados: a Microeconomia e a


Macroeconomia. Sua visão macro tem raiz jusnaturalista (Direito Natural) baseada em
LOCKE e QUESNAY, em que a economia é regida por leis morais naturais que a razão
pode revelar. Essa linha de pensamento, que chegou a DAVID RICARDO, se refere aos
indivíduos que, movidos por interesses egoístas, produzem um equilíbrio que se traduz
no bem coletivo. A visão micro constitui o fundamento da mão invisível e do capitalismo
competitivo como ordem natural. Essa linha de pensamento tem grande influência nos
Neoclássicos, corrente de pensamento econômico que viria a se tornar hegemônica no
início do século XX. BENTHAM, na perspectiva micro de SMITH, desenvolveu a teoria
de equilíbrio individualista e utilitarista como uma nova maneira de explicar a motivação
da ação humana.

DAVID RICARDO (1772-1823) – A Economia como um instrumento

O método de RICARDO é estritamente racionalista: Lógico/Abstrato/Dedutivo. Sua


análise econômica se baseia em premissas apresentadas como leis econômicas em si,
tamanha era o seu racionalismo. Suas principais obras são: “O Alto Preço do Ouro, uma
Prova da Depreciação das Notas Bancárias” (1810), “Ensaio sobre a Influência de um
Baixo Preço do Cereal sobre os Lucros do Capital” (1815) e “Princípios da Economia
Política e Tributação” (1817).

No seu primeiro ensaio teórico sobre o problema concreto em O Alto Preço do Ouro,
RICARDO inicia sua análise partindo de princípios abstratos. Pretendia propor uma
teorização suficientemente ampla para explicar a realidade como ela se apresentaria,
possibilitando a elaboração de práticas, valendo-se do dedutivismo. Sua conclusão lógica
no caso do ouro fora a de que a depreciação da moeda corrente se deve à abundância da
moeda corrente, e que a mesma poderia ser neutralizada por meio da exportação de ouro
em barra. Procurou assim formular leis gerais que regulariam a distribuição de metais no
mundo. No país que tem excesso de metal, a moeda se deprecia e vice-versa. No seu
segundo ensaio, RICARDO tratou da relação entre o preço do trigo e o lucro do capital,
deduzindo que o aumento do preço do trigo gera queda do lucro do capital, contrariamente
ao que se pensava naquele contexto.

RICARDO indicava uma maior preocupação com a aplicação de princípios teóricos do


que com a análise dos fatos. Sua aplicação de um método altamente abstrato ao mundo
real fora qualificada de vício, “Vício Ricardiano”, por JOSEPH SCHUMPETER (1883-
1950). SCHUMPETER referia-se ao hábito de “copiar” conclusões práticas utilizando
uma base teórica frágil. Não obstante, a obra principal de RICARDO, Princípios da
Economia Política, foi altamente influente no pensamento econômico, ao lado da Riqueza
das Nações de SMITH, apesar de estabelecer o dito vício denominado por
SCHUMPETER. Nesta obra, RICARDO procurou elucidar princípios e demonstrar que
eles se aplicam à realidade. Ficou claro na sua obra que os fatos não falam por si, mas
através de princípios abstratos.

O ponto de partida de RICARDO, ao invés de ser sobre as condições de produção de


riqueza e de divisão do trabalho, como em SMITH, passou a ser a distribuição, com o
tema da acumulação de capital sendo subordinado às hipóteses sobre valor e distribuição.
RICARDO defrontou-se, desde o início, com o problema do valor. No entanto, quando
formulou sua teoria do valor-trabalho, ele tinha como objetivo explicar variações do valor
das mercadorias, o que poderia servir de base para dar sustentação à sua argumentação
sobre a distribuição de riqueza.

Dentre os conceitos fundamentais contidos no Princípios de RICARDO, destacam-se o


valor trabalho, a renda e o aluguel da terra e as vantagens comparativas. Em primeiro
lugar, um grande avanço da teoria ricardiana seria seu contraponto com a ideia de SMITH
em que o trabalho era invariável diante o valor das mercadorias. Para RICARDO, o valor
do trabalho é tão variável quanto o valor de uma outra mercadoria qualquer, considerando
que o preço dos bens de subsistência com os quais são gastos os salários sofriam dos
mesmos efeitos que afetam a produção das mercadorias em geral. Sendo o trabalho visto
como atividade única capaz de gerar valor, o preço da mercadoria refletiria o montante
de trabalho utilizado na sua produção. Em SMITH, tal montante seria fixo, enquanto que
em RICARDO ele varia juntamente com o preço das mercadorias.

Em segundo lugar, a concepção de RICARDO sobre as relações econômicas com a terra


seria a seguinte:
“O produto da terra — tudo o que se extrai da sua superfície pela aplicação
conjunta do trabalho, equipamento e capital — é dividido pelas três classes da
comunidade, quer dizer, o proprietário de terra, o possuidor do capital
necessário para o seu cultivo e os trabalhadores que a amanham. Porém, cada
uma destas classes terá, segundo o avanço da civilização, uma participação
muito diferente no produto total da terra, participação esta denominada
respectivamente de renda, lucros e salários; esta situação dependerá
principalmente da fertilidade da terra, da acumulação de capital, da densidade
da população e da habilidade, inteligência e alfaias aplicadas na agricultura. O
principal problema da Economia Política consiste em determinar as leis que
regem esta distribuição (...)”

Do processo de uso de terras cada vez menos férteis se origina uma renda extra que
beneficia a produção e o aluguel das terras mais produtivas. Na medida em que se expande
a dimensão da terra para produção, o produto líquido será cada vez menor, podendo-se,
portanto, imaginar que a produtividade seria uma linha descendente em relação aos lotes
de terra explorados. A consideração da produtividade agrícola revelou para RICARDO
as noções de fertilidade decrescente e de escassez dos recursos. Essa noção de escassez
deve ser considerada pela sua ampla reprodução na metodologia econômica.

Por último, o conceito de vantagens comparativas de RICARDO fora tão relevante ao


pensamento econômico que essa concepção ainda é amplamente utilizada em teorias e até
mesmo políticas econômicas de comércio exterior. A ideia básica parte da comparação
da produção de bens entre dois países. Um país deve se especializar na produção do bem
para o qual possui maior produtividade em relação aos outros bens que ele mesmo produz,
explorando vantagens comparativas que se realizam via melhores termos de troca entre
bens.
De forma lógica e coerente, RICARDO articulou princípios teóricos emprestados a outros
pensadores:
 De EDWARD WEST (1782-1828), tomou a lei dos rendimentos decrescentes na
agricultura (o aumento de um fator de produção, mantendo os demais fixos,
implicaria em decréscimos marginais na produção). RICARDO E WEST tentaram
usar esta lei para explicar a tendência para o lucro industrial reduzir-se quando se
aumenta o uso de novas terras.
 De HUME emprestou a lei dos preços monetários.
 De SMITH adotou a lei do auto interesse e da livre concorrência.
 De MALTHUS tomou a lei da população.

Embora para esses autores, com exceção de Smith, tais princípios tenham tido como base
alguma observação da realidade empírica do seu tempo, Ricardo ignora esse ponto de
partida e considera esses princípios uma base suficientemente sólida para deles deduzir
leis de valor universal, dispensando a verificação empírica. Com essas premissas
emprestadas a pensadores anteriores ou contemporâneos, RICARDO construiu, usando
um número reduzido de variáveis, um modelo analítico simples que ele empregou para
estudar problemas econômicos complexos e justificar diretrizes de política econômica,
ou seja, explicar as leis que regulam o processo de distribuição da riqueza, ao invés de se
limitar a explicar suas origens, como em SMITH.

O raciocínio abstrato e lógico de RICARDO só poderia ser contestado por meio de


refutações igualmente lógicas, e não mediante verificação empírica, como tentou fazer
MALTHUS.

THOMAS MALTHUS (1766-1834) – A Economia para o crescimento populacional

MALTHUS criticou RICARDO, afirmando que a ciência deve explicar as coisas como
elas são, considerando os fatos. No entanto, MALTHUS se preocupou em demasia com
os fatos particulares, esquecendo de buscar uma explicação teórica geral para os mesmos.

Suas principais obras são: “Um Ensaio sobre o Princípio da População” (1798),
“Princípios da Economia Política” (1820) e “Definições na Economia Política” (1827).

Analisando a relação entre a produção de meios de subsistência e a evolução demográfica


nos EUA e na Europa, MALTHUS concluiu que a taxa de crescimento populacional era
exponencialmente superior à taxa de produção de alimentos, estes extraídos da terra.
Enquanto o crescimento populacional tenderia a seguir um ritmo de progressão
geométrica, a produção de alimentos cresceria segundo uma progressão aritmética.
Assim, a população tenderia a crescer além dos limites de sua sobrevivência, e disso
resultariam a fome e a miséria. Estabelece-se neste ponto a ideia de ESCASSEZ
ABSOLUTA, contraponto com a ESCASSEZ RELATIVA de RICARDO.

Da mesma forma que RICARDO, MALTHUS investigou as relações entre escolhas de


consumo e escolhas de “fertilidade” da terra em uma economia caracterizada por altos
salários de mercado. Nessa análise, uma mudança nos hábitos de consumo, via
mercadorias de melhor qualidade, poderia implicar em mudanças nos hábitos de
fertilidade. Uma vez que o melhoramento nos “modos de subsistência” se torna algo
persistente no mercado, os trabalhadores atualizam seus padrões de vida, antes
estabelecidos. Logo, a taxa de salários, antes entendida como alta, começa a ser
considerada novo padrão. SMITH não compreendeu essa natureza circular da relação
entre taxa natural de salários, por um lado, e a ampliação da fronteira agrícola, por outro.

MALTHUS não foi um representante “fiel” da Escola Clássica. Negou a validade da “Lei
de SAY”, retirada das ideias de JEAN BAPTISTE SAY, e considerava a possibilidade de
uma “Abundância Geral” de bens. Isto é, MALTHUS acreditava que poderiam ocorrer
crises econômicas devido à excessos de oferta em contraponto com uma demanda
insuficiente. Liberalista, tal como SMITH e RICARDO, pregava o Estado Mínimo, pois
a intervenção não pode resolver os problemas, somente atrapalha o processo natural das
coisas. Nessa perspectiva, não se deve auxiliar os pobres, porque a ajuda que receberiam
representaria um poder de compra que não corresponde a nenhum acréscimo de produto.
Isso eleva os preços e acaba gerando mais pobreza ainda.

O debate entre MALTHUS e RICARDO, pode ser visto como um marco na metodologia
econômica. No entanto, MALTHUS não teria argumentos suficientes para superar o
raciocínio lógico-abstrato de RICARDO. Pode-se dizer que a consolidação do método
excessivamente abstrato de RICARDO, pela sua “aparência” de possuir maior
cientificidade, dado seu potencial analítico, possibilitou uma separação da teorização
econômica da realidade como ela se apresenta. MALTHUS, ao utilizar argumentos
empíricos para contestar o método de RICARDO, teria negligenciado a necessidade de
fundamentar teoricamente seus posicionamentos, abrindo espaço para o triunfo e a
consolidação do método dedutivo/abstrato na ciência econômica. De maneira geral, a
hegemonia deste método será influente no pensamento econômico, ao ponto de persistir
até os dias de hoje.

JEAN BAPTISTE SAY (1767-1832) – A Economia do equilíbrio

A noção de equilíbrio na concepção clássica, formulada por SAY, se fundamenta numa


economia de oferta que cria a sua própria demanda, conforme a chamada lei de Say, que
é uma das bases do pensamento clássico ortodoxo.

Principais obras: “Tratado sobre a Economia Política, ou a Produção, Distribuição e


Consumo da Riqueza” (1803), “Cartas à Thomas Robert MALTHUS sobre Economia
Política e a Estagnação do Comércio” (1821) e “Curso Completo de Prática na Economia
Política” (1828).

SAY ignora o problema da realização da demanda (sua ocorrência, sua efetivação) e reduz
a economia a um problema de produção e distribuição. Sua conhecida lei se baseia na
ideia de que “produtos são pagos com produtos”, nas palavras de SAY, ou seja, que
existiria uma identidade circular entre oferta e demanda, de tal maneira que não se
consideraria a possibilidade de superprodução ou excesso de oferta na economia. Tudo
que fora devidamente produzido implicaria no seu consumo imediato.

A despesa seria igual à produção e à renda; o pleno emprego (NOTA onde toda a
capacidade de uma economia esteja sendo utilizada sem ociosidade, sendo o ambiente
ideal de equilíbrio para um mercado, apesar de altamente irreal) estaria automaticamente
garantido; os investimentos dependeriam dos lucros (ou da poupança). E os lucros serão
tanto mais altos quanto mais baixos forem os salários.

SAY foi um discípulo de SMITH, posicionando-se como um defensor do liberalismo


econômico, com crença na harmonia social provida das relações econômicas individuais.
Em seu Tratado de 1803, encontram-se algumas de suas ideias específicas que viriam à
ser reproduzidas e generalizadas pela “lei” que leva seu nome.

Ao observarmos as crises recorrentes no modo de produção capitalista, podemos notar


que a dita lei de SAY não parece representar corretamente as “leis” econômicas que atuam
na realidade, se é que tais leis existem. Um dos seus maiores críticos foi KARL MARX,
para quem a lei de SAY não possui sentido algum, haja vista o crescente desequilíbrio
entre busca por lucro e a expansão e centralização do capital. Acreditar que
superprodução ou excessos de oferta são improváveis no sistema capitalista, para MARX,
constitui um erro, uma visão que não atende ao funcionamento do modo de produção
capitalista.

KARL MARX (1818-1883) – A Economia como um reflexo do capitalismo

KARL MARX é contrário à ideia da coesão social e econômica no modo de produção


capitalista. (Nota: modo de produção é a relação entre os meios de produção e as forças
produtivas). Entender a obra de MARX, à luz da sua crítica ao sistema capitalista, é uma
tarefa complexa dentre sua extensa obra.

Principais obras: “Grundrisse: Elementos Fundamentais para a Crítica da Economia


Política” (1857-1858), “Contribuição para a Crítica da Economia Política” (1859) e “O
Capital” – Volumes I (1867), II (1885) e III (1894). Note que FRIEDRICH ENGELS
(1820-1895) foi coautor de diversas obras com Marx, sendo que a mais conhecida é
“O Manifesto Comunista”. O amigo de Marx contribuiu na criação da noção de
“socialismo científico” e publicou, após a morte de Marx, os dois últimos volumes de O
Capital, principal obra de seu colaborador.

Marx distingue claramente dois métodos, ou dois momentos no processo do


conhecimento: o primeiro, parte do todo concreto para chegar ao conhecimento abstrato
de suas partes; e o segundo, parte das abstrações feitas pelo pensamento e retorna ao todo
concreto, depois de ter sido reconstruído pelo pensamento.

Portanto, a leitura da obra de MARX, mesmo nos Grundrisse, pode ser interpretada
considerando dois níveis de abstração: o do “capital em geral” e o da “pluralidade de
capitais”. Estes dois planos devem ser entendidos como partindo da análise do mesmo
objeto real observado, qual seja, o modo de produção capitalista.

No “capital em geral” temos o capital, tal como conceituado por MARX, sendo que na
“pluralidade de capitais”, temos a visão de MARX da concorrência tomada como objeto
de investigação em si mesma, passível de teorização. O objetivo de MARX, na sua análise
do modo de produção capitalista, pode ser entendido como uma tentativa de representar
as leis gerais de movimento deste objeto real observado. Apesar destes níveis de abstração
constituírem dois objetos teóricos distintos (capital e concorrência), estes são, na análise
de MARX, objetos complementares e compatíveis.
Generalizando a intenção de MARX, podemos, resumidamente, descrever que sua análise
entende o capital como forma (historicamente) particular de riqueza distinta de todas as
demais. O capital, principal sujeito da dinâmica capitalista, impulsiona e transforma as
condições de produção a partir do processo de autovalorização.

Metodologicamente, o pensamento em Marx, como já vimos anteriormente, mas vale aqui


repetir, é o sujeito ativo do conhecimento nos dois momentos do processo: primeiro na
abstração ou separação mental das partes do objeto da experiência sensível; e, segundo,
na reconstrução do todo, a partir de relações lógicas descobertas através da análise. Para
MARX, no primeiro momento, “a representação plena volatiliza-se em determinações
abstratas; no segundo, as determinações abstratas conduzem à reprodução do concreto
por meio do pensamento” (MARX, 1978, p. 116). O segundo momento, o caminho de
volta, que vai do abstrato à reconstrução do todo, é o que Marx chama de “método
cientificamente exato”.

Para Marx, os cientistas burgueses pararam no meio do caminho, pois não foram além do
primeiro momento do método, e ficaram apenas no conhecimento abstrato da realidade.
Não retornaram ao todo concreto reconstruído pelo pensamento. São dois momentos de
um único processo, um se dissolvendo no outro dentro de uma lógica dialética. Dialética
diz respeito ao conhecimento que só seria gerado ou constituído em meio à contradição
de fatos ou ideias. É uma ideia fundamental no pensamento de MARX e continua sendo
de grande influência na ciência hoje, quando se começa a analisar os fenômenos por meio
de sistemas complexos.

Ir do concreto ao abstrato e não fazer o caminho inverso, do abstrato ao concreto, fazendo


a crítica das abstrações, levaria a um conjunto vazio de abstrações; mas, por outro lado,
ir do concreto ao abstrato, ao azar, sem hipóteses, também não leva a uma teoria, mas
apenas a um conjunto de abstrações desordenadas. Por esse motivo, as abstrações devem
ser feitas a partir de um princípio unificador, uma pressuposição da existência e uma
determinada concepção do todo; cada passo da análise e da abstração deve ter em conta,
desde o começo, esse todo, que ultrapassa a intuição e a representação; análise (abstração)
e síntese (concreção) formam um único método do conhecimento. Justamente, trata-se de
começar pela análise do modo de produção capitalista (o objeto real observado por
MARX), a partir das suas mercadorias e como estas se apresentam.

Para MARX, o método do conhecimento não é independente da definição do objeto que


se propõe investigar. Ele parte da suposição de que a economia capitalista não é um
aglomerado nem uma soma de partes isoladas, mas forma uma totalidade contraditória e
dialética. A concepção inicial de mercadoria de Marx advém de uma concepção de valor
já utilizada por ARISTÓTELES, na qual se considera a existência de dois tipos de valores
nos produtos trocados entre os indivíduos: valor-de-uso; e valor-de-troca. Esta separação
também está presente em SMITH e RICARDO. Ambos os autores unificam esta relação
por meio do valor-trabalho.

De maneira bem didática, podemos descrever que valores-de-uso representam o uso


individual que um produto proporciona à pessoa que o consome. Enquanto que valores-
de-troca representam o valor do produto quando inserido em um processo de troca, onde
não é mais valor-de-uso para o indivíduo que objetiva a sua troca. Isto, por si, aponta para
uma contradição interna do produto, dado que a mercadoria não pode ser valor-de-troca
e valor-de-uso simultaneamente. Na verdade, em MARX considera-se um terceiro tipo,
o qual incorre no processo produtivo, antes da formação do valor-de-troca, denominado
apenas valor. A circulação de mercadorias seria explicada pelos distintos valores-de-troca
entre elas.

Descobrir as determinações recíprocas entre essa totalidade (a circulação, por exemplo)


e suas partes (mercadorias como outro exemplo), constitui a essência do método dialético
do conhecimento elaborado por MARX. O ponto de partida de toda investigação, para
MARX, é a realidade concreta, empírica, sensorial, histórica, a partir da qual fazemos
experiências, coletamos as informações básicas, fazemos as primeiras induções,
analisamos criticamente os dados, selecionamos e abstraímos o que julgamos mais
importante; fazemos as perguntas e formulamos as primeiras hipóteses e conjecturas de
explicação teórica.

A investigação de MARX iniciou pelo estudo da jurisprudência, mas ele logo descobriu
que a “essência da sociedade burguesa estava na Economia Política” e não no direito, no
Estado ou na política. MARX faz uma revisão crítica da concepção idealista da sociedade
e do Estado, que deixa de ser encarnação divina do poder para expressar a dominação das
forças econômicas e políticas da sociedade. Neste ponto que se constitui uma crítica
fundamental de MARX ao grande filósofo alemão, GEORG HEGEL (1770-1831), e seu
pensamento idealista. A crítica de MARX a HEGEL é fundamental ao entendimento da
teoria marxista.

Voltando à visão metodológica de MARX, a visão unitária e dialética do processo do


conhecimento permite superar a clássica oposição entre conhecimento indutivo e
conhecimento dedutivo, uma vez que indução e dedução não constituem métodos
independentes, mas apenas momentos do mesmo processo do conhecimento teórico da
realidade.

Por um lado, não seria possível um conhecimento indutivo puro, pois não se pode ir do
particular ao geral sem que se tenha anteriormente uma ideia “geral” do particular. Por
outro lado, assim como não há fatos puros, também não há pensamentos puros; não se
pode ir do geral ao particular, sem antes ter ido do particular ao geral.

As novas determinações obtidas pela dedução resultam não apenas da análise de


conceitos, mas também de uma análise mais rigorosa dos fatos empíricos. Por isso,
indução e dedução fazem parte do mesmo processo do conhecimento; uma se realiza
dialeticamente através da outra, enquanto seu momento é abolido. O método dialético de
Marx se expressa através das atividades de abstrair as partes e de, em seguida, reconstruir
o todo concreto. Ambas constituem um único processo teórico do conhecimento: ir do
concreto real ao abstrato, e deste ao concreto concebido pelo pensamento, num único
processo cujos momentos se implicam mutuamente, cada um dos quais se realiza através
do outro. A análise de MARX parte não do indivíduo, mas da base material que parece
constituir especificamente a sociedade capitalista. Esta base material seriam as
mercadorias e o que estas significam para a sociedade em questão.

No entanto, diferentemente de SMITH, RICARDO e MILL (e poderíamos dizer, de todos


os economistas posteriores que podem ser associados ao positivismo), para MARX o
conhecimento abstrato das partes é insuficiente para revelar a verdadeira natureza do
objeto da Economia Política. É este o sentido da sua afirmação:
“O concreto é concreto porque é a síntese de muitas determinações, isto é,
unidade do diverso. Por isso, o concreto aparece no pensamento como processo
de síntese, como resultado, não como ponto de partida, ainda que seja o ponto
de partida efetivo e, portanto, o ponto de partida da intuição e da
representação”.

Dessa forma, conhecer a realidade não é apenas abstrair as partes do todo, para conhecer
suas leis internas, como fizeram os economistas clássicos, mas reproduzi-la
conceitualmente. O conceito, como o próprio nome indica (conceptus), é o real
concebido. Conhecimento teórico de uma realidade não é nem conhecimento prático-
sensível, nem contemplação, mas atividade de “recriação” da realidade através do
pensamento.

Por meio da dialética, Marx pretendeu descobrir a lei econômica dos fenômenos e, mais,
a lei de sua modificação, de seu desenvolvimento, ou seja, a transição de uma forma de
relações econômicas para outra. O desenvolvimento da sociedade é visto como um
processo histórico, dirigido por leis que se sobrepõem e determinam a vontade,
consciência e intenção dos homens. No entanto, as leis da vida econômica não são leis
abstratas, válidas para sempre, pois cada período histórico possui suas leis próprias, de
modo que os organismos sociais se distinguem entre si tão profundamente como os
organismos animais e vegetais. Isto está relacionado à Especificidade Histórica das
Ciências Sociais (EHCS).

O resultado a que Marx chegou com sua investigação e que serve de fio condutor de seus
estudos é que as leis do capital são as leis básicas de organização e desenvolvimento da
sociedade moderna: “O capital é a potência econômica da sociedade burguesa, que
domina tudo. Deve constituir o ponto inicial e o ponto final a ser desenvolvido ...” (Marx,
1978, p. 126). O modo de produção capitalista, o conjunto das relações sociais, as leis do
capital, todos atuam como processo-movimento, como um todo que confere sentido às
partes, aos indivíduos e aos capitais particulares, e é isto que constitui o objeto complexo
da Economia Política.

JEREMY BENTHAM, NASSAU WILLIAM SENIOR JOHN STUART MILL e


JULES DUPUIT – A Economia do Utilitarismo

JEREMY BENTHAM (1748-1832). Abstrato dedutivo, a sua contribuição ao


pensamento econômico não decorre de suas ideias técnicas ou analíticas, mas, sim, da sua
concepção do utilitarismo, o qual ampliou a capacidade de simulação na Economia.

Principais obras: “Defesa da Usura” (1787), “Princípios da Moral e da Legislação” (1789)


e “Manual de Economia Política” (1793).

O método de BENTHAM pode ser identificado na sua atenção aos detalhes, onde, como
HOBBES, separa o todo em partes, abstrações que ele entende como generalidades de
categorias simples. É reducionista ao ponto de dividir excessivamente o observado em
partes mínimas, como no caso dos indivíduos e os seus comportamentos (mensurado pela
utilidade). Estas abstrações seriam o ponto de partida de BENTHAM.
Na concepção do utilitarismo, temos a ideia da utilidade (uma medida de satisfação ou
felicidade), “mensurada” hedonisticamente entre prazer e dor, ou seja, uma forma de
justificar o comportamento (ações) dos indivíduos por meio de uma “contabilidade” de
prazeres e dores. O hedonismo, diz respeito à concepção de indivíduos movidos apenas
pelo prazer, sendo, portanto, avessos à dor.

BENTHAM identifica prazer e dor como a base para uma contabilidade utilitarista do
valor. Logo, os indivíduos estariam constantemente maximizando o prazer e minimizando
a dor. BENTHAM possuía um conceito de valor subjetivista, o que o diferenciava de
SMITH e RICARDO. BENTHAM faz a mesma distinção tradicional entre valor-de-uso
e valor-de-troca, assim como muitos dos economistas clássicos (MARX incluso) também
o fizeram. BENTHAM entende que o valor-de-uso seria mais importante, na medida em
que todo o valor esteja sujeito ao bem-estar e, também, dependente do uso das coisas.
Logo, o valor-de-uso pressupõe o valor-de-troca.

Comparada com a doutrina de SMITH, a concepção de BENTHAM seria a mais pura


forma de subjetivismo, dado que considerava que as categorias mais objetivas da
economia (como terra, trabalho e capital) estariam condicionadas às categorias subjetivas
do ser humano (como o conhecimento, a criatividade e a vontade para exercer sua força
individual sobre a Natureza).

Para calcular a utilidade, BENTHAM fazia uso do felicific calculus, que pode ser
entendido como cálculo da utilidade, cálculo hedonista ou cálculo hedônico. Sua
concepção de utilidade marginal (NOTA marginal referindo-se à margem, limite, ou
última unidade aceita para uso) provém desse cálculo, baseado no princípio onde o ser
humano, na busca por prazer, leva em consideração que o prazer “adicional” prevalece
sobre a dor “adicional”.

A utilidade marginal, portanto, refere-se ao aspecto de comparação de dor e prazer, onde


BENTHAM divide estas duas emoções em pequenas partes, revelando a “lei da utilidade
marginal decrescente”. Esta “lei” explica que a utilidade aumenta sempre que se consome
mais uma unidade do bem, mas que esses aumentos são cada vez menores, ou seja, a
utilidade marginal é decrescente e a satisfação de uma unidade adicional de um mesmo
bem é cada vez menor indicando “saciedade”.

BENTHAM tentou medir a utilidade por meio de comparações interpessoais de utilidade,


acreditando que fosse possível encontrar uma unidade de medida padrão. Ele atribuiu o
número 1 como o menor nível de utilidade possível, baseando-se nas experiências do
cotidiano. Na medida que os prazeres iam aumentando, esse número, e com ele a
utilidade, aumentariam proporcionalmente.

BENTHAM reconheceu que as estimativas de prazer e de sofrimento eram subjetivas,


mas escolheu o dinheiro como unidade de sua medição, mais precisamente da medição
de comparações interpessoais. Persistem inúmeras dúvidas acerca das hipóteses de
Bentham: como se pode determinar o valor monetário das coisas prazerosas? Quando
alguém compra um objeto de R$10,00, espera que o objeto lhe ofereça R$10,00 de prazer?
Há pessoas dispostas a pagar mais do que outras pelo mesmo produto. Assim, elas
recebem aquilo que se chama de "excedente consumidor" (utilidade no excesso de preço).
Como medir esse excedente? Nunca de maneira correta.
O prazer não é necessariamente interpessoal. Os indivíduos não possuem a mesma
propensão a pagar: não se dispõem a pagar o mesmo valor para o mesmo prazer. O próprio
BENTHAM observou isso, mas não modificou sua doutrina liberal. Mesmo que houvesse
um critério ou uma medida para se quantificar o prazer, os aspectos de felicidade podem
ser mais qualitativos do que quantitativos. Sua importância também varia no tempo: pode-
se ter um prazer moderado, mas que dure no tempo, ou um prazer intenso que dure pouco,
etc.

Por fim, será que todas as pessoas são hedonistas? Será que as pessoas são somente
motivadas pelo desejo de maximizar o prazer e minimizar a dor? A psicologia freudiana
por exemplo, diz que a força impulsionadora fundamental que governa o comportamento
humano é o profundo conflito entre forças opostas na personalidade. Prazer e dor são duas
faces de uma mesma realidade necessária ao desenvolvimento da consciência.

NASSAU WILLIAM SENIOR (1790-1864) e JOHN STUART MILL (1806-1873).


Nas ideias de SENIOR e MILL se consolidam a ortodoxia metodológica e o utilitarismo
no pensamento econômico.
Principais obras de SENIOR: “An Introductory Lecture” (1827), “Esboço sobre a Ciência
da Economia Política” (1836) e “Four Introductory Lectures on Political
Economy” (1852).

Principais obras de MILL: “Sobre a definição de Economia Política e o Seu Método


Próprio de Investigação” (1836), “Sistema de Lógica” (1844) e “Princípios de Economia
Política” (1848).

A partir do pensamento de RICARDO, MILL e SENIOR tentaram separar um domínio


especificamente científico para a Economia Política. Na visão de SENIOR (1836),
existiria algo como uma ciência da Economia Política pura, 100% dedutiva, e que não
poderia dar conselhos éticos ou políticos, pois se ocupa unicamente do estudo da riqueza.
E existiria uma “ciência da legislação”, que levaria em conta problemas éticos e políticos,
podendo, desta forma, aconselhar o Soberano ou o Governo sobre que atitude prática
tomar. Ficava cada vez mais evidente a possibilidade de divisão no pensamento
econômico, ou seja, haveria um ramo teórico e outro prático para a Economia Política.

Em 1836, SENIOR escreve “Esboço sobre a Ciência da Economia Política”, onde sugere
dividir a Economia em dois campos: a economia como ciência e a economia como arte.
Divisão esta que serviu como base para a divisão posterior entre a economia positiva e a
economia normativa. SENIOR pretendeu transformar a Economia positiva numa ciência
exata, cujas proposições teriam validade universal. Para tanto, a economia deveria usar o
método abstrato, a priori, e resumir-se a poucas preposições gerais, derivadas mais da
introspecção do que da observação.

Sênior entendia que as deduções, quando bem feitas, geram conhecimento tão verdadeiro
quanto as suas premissas. Os principais postulados retidos por Sênior:

- todo homem deseja o máximo de riqueza com o mínimo de esforço;


- a população é regulada pela disponibilidade de alimentos;
- os instrumentos aumentam a produtividade do trabalho;
- os rendimentos da agricultura são decrescentes.

O valor-de-troca, para SENIOR, depende da demanda e da oferta, e a oferta depende dos


custos de produção. Mas o custo é subjetivo, sendo entendido como a soma de sacrifícios
exigidos dos agentes para o uso da Natureza na produção de bens. Os custos de produção
são o trabalho do trabalhador, somado à abstinência dos capitalistas (NOTA: o capital
deriva do esforço do capitalista em não gastar tudo que ganha).

SENIOR, ainda em 1840, formula o princípio básico da teoria do valor utilidade, princípio
que também aparece nos “Princípios de Economia Política” de MILL, em 1848. SENIOR
foi um dos primeiros a discutir o método como problema ou tema específico no campo
da economia. Ele se apresentou como um discípulo fiel de RICARDO, embora tenha
introduzido mudanças conceituais.

MILL seguiu os passos de SENIOR, e definiu com maior precisão a divisão da economia
de SENIOR. MILL entendia a Economia como ciência positiva (verdades objetivas
materiais) e como arte (regras normativas e práticas de ação). Assim, a ciência deveria
ser uma coleção de verdades e, a arte, um conjunto de regras de conduta.

MILL abriu espaço para o conceito de “homem econômico” (homoeconomicus) na


Economia. Um indivíduo hipotético universal, mas muito empobrecido e limitado quando
comparado ao homem em sentido abrangente. O “homem econômico” em MILL está
determinado por sua própria natureza a preferir mais riqueza a menos riqueza e com o
menor custo possível. Assim, a ciência da Economia Política trata o principal motivo das
ações econômicas como se fosse o único motivo das ações humanas. Logo, estabelece-se
a ideia do comportamento racional e maximizador na Economia, ideias válidas em muitas
teorias econômicas até hoje.

Em MILL, entende-se riqueza como o conjunto de bens materiais que dão prazer e
afastam o risco e a dor, como visto em BENTHAM. Os princípios básicos da economia
estão na natureza humana, sendo o “homem econômico” um indivíduo que procura o
máximo de riqueza com o mínimo de esforço. A partir deste comportamento poderíamos
deduzir leis gerais perfeitamente rigorosas.

MILL, influenciado por SENIOR, explicitou a metodologia ricardiana e deu um grande


impulso ao desenvolvimento e à formalização da metodologia econômica, ainda nos
primórdios da nova ciência. Criticou SMITH por colocar como um dos objetivos da
Economia Política investigar as causas da riqueza das nações e a arte de enriquecer e
governar os povos. Para MILL, a arte de enriquecer e de governar não é objeto da ciência
teórica e sim de sua aplicação prática, a política econômica, que se situa no campo da arte
e não da ciência.

A Economia emprega o método a priori, pois o indutivo experimental não se aplica aos
fatos econômicos, que são complexamente determinados, sendo difícil isolar causas e
realizar experiências controladas. Assim, a economia é uma ciência abstrata que raciocina
a partir de princípios e não de fatos. MILL reconhece que a natureza abstrata do
conhecimento teórico, por basear-se em hipóteses verdadeiras, fundadas na evidência da
experiência humana, cuja veracidade sequer pode ser contestada, tornam esse
conhecimento verdadeiro por si. Confrontar a teoria com os fatos não faria sentido, pois
isso não é uma tarefa da ciência, mas de sua aplicação prática ou da arte. A única função
da ciência é chegar a verdades abstratas.

Outro utilitarista, o francês JULES DUPUIT (1804-1866) escreveu: “A utilidade e sua


medição – da utilidade pública”, 1853. Como os demais utilitaristas, enfatizou a ideia de
utilidade decrescente e observou que a utilidade de um bem varia de um indivíduo para
outro e, também, varia para o mesmo indivíduo no tempo.
Todos eles enfocaram a análise do valor utilidade no fluxo e não no estoque do valor,
tendo como ponto central a utilidade da última unidade do bem adquirido, isto é, a
utilidade marginal. Isso foi o ponto de partida para um conjunto de análises à margem,
tanto no que se refere ao consumo, quanto no que diz respeito à produção. Essa análise
que presta à formalização matemática gerou o que se chamou de Revolução Marginalista.

SÉCULO XIX ao XX: A Revolução Marginalista

Em decorrência da crise na teoria de valor-trabalho ricardiana, inicia-se um processo


divisório na teoria econômica que é chamado de cismas. Teríamos duas cismas na
Economia: a divisão entre o método dedutivo/abstrato contra o indutivo/histórico; e a
separação entre a Economia Política e Economia Neoclássica.

Nos marcos dessa divisão consolidada no final do século XIX ocorreu uma “batalha de
métodos” entre os pensadores de duas escolas de pensamento: uma que defende a
preservação dos aspectos sociais na teoria, contra outra que procura eliminar quaisquer
influências das características sociais e culturais para uma melhor compreensão dos
fenômenos econômicos, ou seja, a crença de que a Economia possa analisar a realidade,
isenta de julgamento de valores. Dentre os protagonistas principais desta escola:
- HERMMAN HEINRICH GOSSEN (1810–1858)
- WILLIAM STANLEY JEVONS (1835-1882)
- LEON WALRAS (1834-1910)
- CARL MENGER (1840-1921)
- ALFRED MARSHAL (1842-1924)
- ARTHUR CECIL PIGOU (1877-1959)

Tratando-se de uma síntese resumida deste período, estamos nos delimitando a estes
autores apenas. No entanto, devemos levar em consideração que neste mesmo período
apareceram muitos pensadores que merecem destaque por suas contribuições, mas que no
decorrer deste estudo serão apenas mencionados sem muita extensão acerca do conteúdo
de suas obras.

HERMMAN HEINRICH GOSSEN (1810–1858). Escreveu, em 1854, “O


desenvolvimento das leis de intercâmbio entre os homens”, em que formula os dois
princípios básicos orientadores do comportamento humano, que viriam a se constituir em
pilares da nova escola marginalista: o da utilidade decrescente e o da maximização. Estes
princípios seriam associados a “leis” da utilidade no pensamento econômico.

A primeira diz que uma pessoa em posse de um certo bem, desejando troca-lo por uma
unidade de outro bem e mantendo sua utilidade no mesmo nível anterior, precisa abrir
mão de uma quantidade superior do bem inicial que possuía anteriormente, em troca do
outro bem. Ou seja, a primeira lei abre a possibilidade de maximização da utilidade sob
a condição da restrição orçamentária.

A segunda lei, baseada na maximização da utilidade, mostra que o indivíduo irá manter
seu nível de utilidade quando aloca sua renda em diferentes fins, dado que mantendo este
nível de utilidade o indivíduo estará maximizando-a, evitando perdas.

A orientação utilitarista do pensamento de GOSSEN emerge mais claramente se


observarmos o título de outra obra sua: “As Leis das Relações Humanas e as Regras da
Ação Humana Daí Derivadas” (1854). Observamos que o livro consiste em duas partes:
uma positiva e outra normativa. Esta divisão é mais ou menos o padrão nos escritos do
utilitarismo de BENTHAM, assim como dos seus seguidores, como MILL e SENIOR.
No entanto, é neste ponto, nas leis de GOSSEN, que a possibilidade analítica da utilidade
na Economia torna-se uma “realidade”.

GOSSEN teve, de fato, uma teoria completa para descrever e explicar o comportamento
humano, em todos os aspectos econômicos, sendo que a partir daí ele deduziu uma
prescrição detalhada para este comportamento. As “leis” sugeridas e demonstradas
matematicamente por GOSSEN representaram grande importância na estruturação do
pensamento econômico marginalista.

No pensamento marginalista pós-Gossen, destacam-se três Escolas:


 Cambridge: Jevons, Marshall, Pigou.
 Lausanne: Walras, Edgworth, Pareto.
 Austria: Menger, Weisser, Mises, Bawerk, Hayek.

ESCOLA DE CAMBRIDGE

WILLIAM STANLEY JEVONS (1835-1882), no seu modelo, defende que a Economia


possui analogia com a ciência da mecânica estática: as leis de troca se assimilam às leis
de equilíbrio de uma alavanca. Da mesma forma que a teoria da estática se apoia na
igualdade de montantes infinitamente pequenos de energia, a riqueza e o valor se
explicam através do cálculo de montantes infinitamente pequenos de prazer e dor.

Para JEVONS, na definição da Economia como uma ciência, “devemos começar por
algumas leis psicológicas óbvias, como, por exemplo, que um ganho maior é preferível a
um menor, e daí em diante devemos raciocinar e predizer os fenômenos que serão
produzidos na sociedade por tal lei”.

As leis fundamentais da economia, conhecidas pela intuição imediata, seriam as


seguintes: “que toda pessoa escolherá o maior bem aparente, que as necessidades
humanas são rapidamente saciáveis, que o trabalho perlongado se torna cada vez mais
penoso”. A partir desses axiomas, dizia JEVONS, podemos deduzir as leis da oferta e da
demanda, as leis do valor e todos os intrincados resultados do comércio, desde que os
dados estejam disponíveis (sic!).
Mudanças profundas foram trazidas pela contribuição de Jevons na relação entre valor e
distribuição. Em RICARDO, assim como em MARX, a distribuição era anterior à troca,
no sentido de que as relações de preço só poderiam ser obtidas após a determinação da
distribuição. E os determinantes da distribuição se situam nas condições de produção.
Após JEVONS, o problema da distribuição fica reduzido à determinação dos preços dos
insumos, os quais são definidos indiretamente pelos preços de mercado dos bens finais.
Há uma unidirecionalidade na determinação dos preços dos fatores de produção e da
distribuição de renda: a demanda e a oferta de bens determinam os preços dos bens que,
por sua vez, definem a demanda e oferta de fatores, das quais derivam os preços destes.
O ponto frágil dessa argumentação é que a demanda de bens não depende apenas da
utilidade que os consumidores obtêm dos bens, mas também de seu poder de compra e,
portanto, da distribuição de renda. Alguma distribuição de renda deve ser
necessariamente tomada como dada para se determinar as condições de demanda dos
diversos bens.

A nova abordagem da distribuição de renda inaugurada por Jevons permitiu eliminar


qualquer traço institucional da análise econômica, pois as instituições no novo enfoque
podem somente mudar o padrão de distribuição de renda entre as pessoas, mas não entre
os fatores. Isso se deve ao fato de que com JEVONS o problema econômico fundamental
deixa de ser a determinação do ritmo de criação dos recursos (taxa de acumulação de
capital) para se transformar na alocação de uma dada quantidade de recursos (dotação
inicial) entre fins alternativos. Por isso, a concepção da distribuição como resultado
residual veio acompanhada de um uso crescente nas técnicas de otimização.

Sobre a teoria do valor, JEVONS considerava que o valor-de-uso era tido como uma
variável não quantificável e não relacionada com o valor-de-troca: o Paradoxo do valor,
ou “Paradoxo da água e dos diamantes”. O que mais interessa na economia é o valor-de-
troca, que passou a ser explicado pelo “grau final de utilidade dos bens”. Mais
precisamente, o que importa para explicar o valor de uma mercadoria é o acréscimo
marginal (ou de 1 unidade a mais) na satisfação que o indivíduo aufere com uma certa
quantidade adicional da mesma. Utilidade pode ser entendida como a qualidade abstrata
pela qual um objeto pode atender as necessidades individuais. A razão de troca entre duas
mercadorias quaisquer será inversamente proporcional aos graus finais de utilidade dessas
mercadorias, após a realização da referida troca: P1/P2 = UmgX1/UmgX2, com UmgX,
utilidade marginal do bem X. Quando a razão entre o preço do bem 1 com relação ao bem
2 se iguala à razão entre a utilidade marginal do bem 1 com relação a do bem 2, o
indivíduo estará satisfeito com o consumo do bem 1.

Assim, a ciência da economia deveria fundar-se sobre poucas noções de caráter


aparentemente simples, tais como a utilidade, a riqueza, o valor, a mercadoria, o juro, o
trabalho, a terra, o capital, etc., sendo que a teoria consistiria na aplicação do cálculo
diferencial a esses “conceitos familiares”. Para Jevons era “claro que a Economia deveria
ser uma ciência matemática”. Era apenas uma questão de tempo, dizia: “não sei quando
teremos um perfeito sistema de estatísticas, mas sua falta é o único obstáculo insuperável
no caminho para transformar a Economia numa ciência exata”.

Em 1890, ALFRED MARSHALL (1842 - 1924) publicou, em 1890, sua grande obra
“Princípios de Economia”, trazendo uma formulação “melhorada” das ideias da
Revolução Marginalista. MARSHALL teria tido uma atitude conciliatória por conseguir
“resgatar” o Pensamento Clássico, reinterpretando-o com ideias marginalistas. Retomou
a ideia ricardiana de Escassez Relativa, pela qual explicou o Paradoxo do diamante e da
agua. O valor de mercado do diamante é mais elevado que o valor da agua, apesar desta
oferecer maior utilidade. O fato se deve, explicou Marshall, à maior desejabilidade do
diamante frente à sua escassez. Concebeu a chamada “tesoura” marshalliana,
denominação metafórica ao diagrama da oferta e demanda com eixos invertidos. Discutiu
o equilíbrio Parcial, utilizando-se da clausula ceteris paribus, ignorando o efeito da
variação dos preços de um produto sobre a utilidade marginal de outro. Tentou levar o
tempo em consideração, dividindo-o em curto e longo. No primeiro, não há, segundo ele,
mudanças estruturais em termos de demografia e inovação tecnológicas, a passo que, no
segundo, as variações estruturais podem gerar alterações no comportamento do
consumidor.

ARTHUR CECIL PIGOU (1877-1959), aluno de Marshall, escreveu “Economia do bem-


estar”, 1912 e “teoria geral de Keynes – retrospectiva”, 1950. Afirma que uma queda de
preços implica na valorização da moeda, o que eleva a demanda por bens e por títulos
financeiros, contrariando o efeito depressivo sobre a economia. Essa ideia é conhecia
como Efeito Pigou na literatura econômica. Admitiu a importância da intervenção do
estado para corrigir externalidades negativas.

ESCOLA DE LAUSANNE

LEON WALRAS (1834 - 1910) também afirma a ideia de uma economia pura, conforme
o título de sua obra Compêndio dos elementos da economia política pura (1874). Defende
a economia como ciência físico-matemática, ideologicamente neutra, voltada para a
determinação dos preços em regime de concorrência perfeita e de equilíbrio.

A principal façanha de WALRAS: realizar uma síntese dos diversos aspectos do novo
enfoque dentro de um sistema matemático de dependência mútua. Apesar do formalismo
matemático, a interpretação econômica e as implicações causais de sua teoria eram
similares àquelas de JEVONS ou MENGER (autor do próximo tópico). Os preços dos
produtos são derivados das necessidades dos consumidores e o valor dos serviços dos
fatores de produção é definido a partir de seu uso na criação de bens de consumo.

Uma característica importante do sistema de WALRAS, que o difere do sistema de


JEVONS, é a determinação simultânea dos preços dos produtos e dos preços dos fatores
de produção. Walras analisou o consumo individual de bens finais como sendo consumo
de insumos que produzem utilidades, eliminando a contradição entre valor-de-uso e valor-
de-troca. Isso se mostrou uma vantagem analítica, ao mesmo tempo um equívoco na
simplificação da realidade.

WALRAS considerava que em condições de equilíbrio estático, os bens de capital são


definidos de forma exógena, isto é, fora do sistema econômico, e que o valor desses bens
é calculado através da capitalização, a preço de mercado, dos seus serviços produtivos.
Ou seja, o valor do equipamento seria o valor presente de seus serviços futuros avaliados
aos preços de mercado em cada momento no tempo.
WALRAS não desenvolvera um conceito de capital agregado, porque tal conceito
apresenta muitas dificuldades. Uma dificuldade é que a taxa de lucro não é igual entre os
diversos ramos de produção da economia, de modo que o equilíbrio estático obtido por
intermédio da solução do sistema de equações interdependentes não poderia ser
considerado um equilíbrio de longo-prazo, mas apenas um equilíbrio temporário.

Enquanto MARSHALL evitou considerar no seu modelo a multiplicidade dos mercados,


WALRAS se preocupou com essa complexidade e colocou à frente o pensamento
marginalista formalizando-o teoricamente com sua noção de Equilíbrio Geral.
Resumidamente, esta noção diz que qualquer mercado particular está em equilíbrio se, e
somente se, todos os demais mercados na economia também estiverem em equilíbrio.
Trata-se de uma noção matemática na qual os excessos de demanda e de oferta são de
soma zero.

VILFREDO PARETO (1848-1923) publicou em 1896, seu “Manual de Economia


Política”, onde expressou sua desconfiança na possibilidade e mesmo na utilidade de
definir um método científico para a economia. Por isso, defende o uso de todos os meios
e métodos que permitam descobrir “regularidades nos fatos” ou leis econômicas que
estejam de acordo com os fatos, através da observação e da verificação empírica.
PARETO foi o idealizador do princípio muito referenciado na Economia, denominado
“Ótimo de Pareto”. Neste, é proposta a ideia de que não se pode melhorar a situação
(utilidade) de um agente sem piorar a de outro, estabelecendo a importância da alocação
de recursos.

O “Ótimo de Pareto” ocorrerá, quando existe uma situação onde, ao se sair dela, para que
“um ganhe”, pelo menos “um perde”, necessariamente.

A ESCOLA AUSTRÍACA ou ESCOLA DE VIENA

A Teoria Austríaca do Capital e do Juro foi desenvolvida por EUGEN VON BÖHM-
BAWERK (1851-1914), CARL MENGER (1840-1921) e LUDWIG VON MISES
(1881-1973).

EUGEN VON BÖHM-BAWERK (1851-1914) escreveu “Crítica da teoria do juro”,


1884. Considerou o tempo na sua análise para justificar o juro. Argumentou que os
processos de produção mais prolongados ou “indiretos” são mais produtivos, sendo que
a taxa de juros derivada da produtividade adicional resultante do prolongamento do
período de produção. Mas o que impede o aumento indefinido do período de produção?
O limite é dado pela “impaciência intertemporal”, ou seja, pela “subavaliação subjetiva
dos bens futuros com relação aos bens presentes”.

Há uma expectativa de que, no futuro, o nível de renda seja mais alto do que no presente,
subestimando as necessidades futuras. Supõe-se também uma superioridade técnica dos
bens presentes com relação aos bens futuros. Os bens presentes estão disponíveis para
serem investidos em métodos de produção indiretos mais produtivos. Entre os defensores
dessa teoria encontra-se também KNUT WICKSELL (1851-1926), outro economista
influente no movimento marginalista.
Bawerk criticou a teoria marxista de exploração, alegando que não há exploração uma
vez que o capitalista adianta o salário do trabalhador, ao pagá-lo antes mesmo de vender
o bem produzido, correndo sozinho o risco de não realização. Defendeu a redução dos
impostos, como forma de estimular o investimento.

CARL MENGER (1840-1921) apregoava para a economia a aplicação do método de


pesquisa utilizado nas ciências naturais e afirmava que “os fenômenos da vida econômica
se regem estritamente por leis iguais às leis da natureza” e são “totalmente independentes
da vontade humana”. Dentre as ideias de MENGER, podemos destacar sua tentativa de
desenvolver uma teoria de preço unificada com base na combinação do individualismo
metodológico com a teoria do valor subjetivo. A teoria de valor subjetivo de MENGER,
justamente por partir dos indivíduos isolados, causou grande avanço analítico na
metodologia econômica. Isso teria possibilitado a sistematização da utilidade marginal
para explicar a troca e os preços relativos, tornando a teoria de preços em geral mais
analítica.

Para MENGER, em primeiro lugar vem a dedução a partir de leis gerais do


comportamento humano. E em segundo lugar, entra a indução para verificar em que
medida as leis gerais são aplicáveis. A Economia deve ser uma ciência abstrata separada
da ética e da política (como MILL considerava). Na ciência econômica, na visão de
MENGER, o problema da Especificidade Histórica das Ciências Sociais (EHCS) não
existiria. Logo, devemos usar um princípio geral a-histórico (sem considerar mudanças
históricas) para entender o comportamento humano. Esse princípio é a Utilidade
Marginal.

MENGER apresentou uma teoria do valor e da distribuição muito semelhante àquela de


JEVONS, na qual divide os bens existentes em dois tipos ou classes: bens de consumo
(“bens de primeira ordem”), cujo valor deriva de sua capacidade de satisfazer as
necessidades humanas; e bens de produção (“bens de ordem superior”), cujo valor deriva
da contribuição dos mesmos ao atendimento das necessidades humanas.

No caso dos bens de primeira ordem, as necessidades humanas se aproximam


continuamente do ponto de saciedade à medida que aumenta a disponibilidade de um
determinado bem. Um consumidor estará obtendo a máxima satisfação possível à medida
que distribui a sua renda de forma a equalizar a utilidade marginal de todos os bens que
consome. Por extensão, pode se dizer, como crítica, que uma intervenção na distribuição
de renda entre segmentos da população pode elevar a utilidade marginal da sociedade
quando eleva o consumo dos mais pobres, cuja queda da utilidade marginal se encontra
ainda muito lenta em ralação à média da população. Mas a Escola Austríaca não admite
intervenção externa.

FREDERICH AUGUST HAYEK (1899-1992), da mesma escola, sustenta que a


sociedade não é produto do desenho humano, senão o resultado de uma ordem
espontânea. Portanto, para este pensador, Nobel de economia, a ideia de que seja possível
aplicar ou impor políticas para melhorar essa ordem ou torna-la mais eficaz não somente
é um erro epistemológico, mas também um erro do ponto de vista moral. Precursor do
neoliberalismo, refutou toda intervenção do Estado na economia. Em sua forma extrema,
segundo o autor, a crença na capacidade do governo em adquirir conhecimentos
suficientes para governar a sociedade e dirigir a economia levou aos horrores do fascismo
e do estalinismo (Hayek, 1944).

Hayek criticou a ideia da existência do objetivo empírico do conhecimento, emitida pelo


Positivismo Lógico da Escola de Viena (que será visto abaixo), positivismo lógico,
segundo o qual as proposições científicas devem ser formuladas de forma a poderem ser
submetidas a testes empíricos. Foi contra o argumento de que o método empírico
positivista possa formar a base para derivar leis ou para realizar planejamento científico
da sociedade. Afirmava que o conhecimento humano é muito limitado e fragmentado. Em
consequência, a crença na habilidade da ciência ou do Estado para reunir e coordenar a
infinita informação necessária na hora de tomar decisões sociais ou decisões que
interferem no livre funcionamento da escolha individual e dos mercados é equivocada e
perigosa.

LUDWIG VON MISES (1881-1973) escreveu o livro “Ação humana”, no qual defende
que a economia é uma ciência de ação humana, isto é, uma praxeologia. Desenvolveu
uma Teoria dos Ciclos de Negócios, baseada nas mudanças das relações entre o crédito e
o sistema produtivo. Reforçou a ideia da neutralidade da moeda, afirmando que os agentes
econômicos demandam moeda por sua utilidade como meio para aquisição de bens e não
por algum valor intrínseco.

Todas essas escolas com seus respectivos colaboradores contribuíram para a realização
da Revolução Neoclássica Marginalista, um forte movimento intelectual em defesa da
Economia como ciência exata isenta de valores sociais ou culturais. Como principais
características, buscou fundamentos subjetivos para estruturar a Economia como ciência,
valendo-se das ideias de SENIOR e MILL que levaram à substituição da teoria do valor-
trabalho pela teoria subjetiva do valor utilidade e, também, dos princípios orientadores
do comportamento humano revelados por GOSSEN, que viriam a se constituir nos pilares
da nova escola marginalista: utilidade decrescente e maximização.

No entanto, frente a todo esse desejo de tornar a Economia uma ciência exata, persistem
pensadores contrários a este pensamento cientificista, dado que a Economia não estaria
tão isenta de julgamento de valor. Nem mesmo com toda a cientificidade aparente, a
economia não poderia deixar de ser uma ciência social. Em oposição às ideias da Escola
Austríaca, diretamente, estaria a Escola Historicista Alemã, liderada por GUSTAV VON
SCHOMLLER, com o qual MINGER travou um debate metodológico conhecido como
Batalha dos Métodos.

A ESCOLA HISTÓRICA ALEMÃ E A “BATALHA DOS MÉTODOS” OU


“METHODENSTREIT” (FINAL DO SÉCULO XIX)

Tanto a Escola Histórica quanto a Escola Austríaca, ambas acreditavam na necessidade


de uma reforma na Economia Política Clássica, mas suas opiniões eram diretamente
contraditórias acerca do método mais adequado para o estudo da economia: um indutivo
e o outro dedutivo.
Os pensadores da Escola Histórica Alemã (Roscher, Knics, Hilderband, List, Schomller)
entendiam que os agentes econômicos agem por fins amplos e complexos, e não
unicamente pelo interesse no ganho econômico individual, como alega a teoria ortodoxa
em geral. Nesta perspectiva, a Escola Histórica criticava a própria ideia de uma ciência
econômica autônoma e propunha que a mesma fosse considerada apenas como ramo das
ciências sociais. FRIEDRICH LIST (1789-1846), um fundador dessa escola, sustentava
a necessidade de estudos interdisciplinares da economia para entender todos os seus
aspectos, e não apenas a lógica do homoeconomicus.

No contexto de atraso do capitalismo alemão, a Escola Histórica defendia a intervenção


do Estado na economia, opondo-se à doutrina do liberalismo econômico do século XIX.
A partir de uma visão evolucionista, os historicistas acreditavam na existência de leis
específicas de desenvolvimento nacional, condicionadas pelas circunstâncias históricas e
geográficas de cada país. Estavam contra a pretensão de se estabelecer leis econômicas
naturais e universais. Entendiam que tais leis econômicas se circunscrevem a cada país,
e podem ser induzidas das regularidades observadas dos dados empíricos e históricos,
negando o método de deduzi-las da própria razão.

Na visão neoclássica, o único meio de se chegar a uma teoria econômica válida seria pela
derivação lógica a partir de princípios básicos da ação humana (como a utilidade
marginal), que são regras ou leis imutáveis. Enquanto isso, a escola alemã enfatizava a
importância das mudanças comportamentais e sociais em decorrência das mudanças
históricas. A Escola Histórica Alemã não admite usar princípios gerais a-históricos de
comportamento humano, já que este comportamento muda na história. Se há
cientificidade na economia, ela deve ser buscada justamente na história. Em razão da
Especificidade Histórica das Ciências Sociais, alegam os historicistas alemães, os
teoremas econômicos não seriam universalmente válidos.

GUSTAV VON SCHOMLLER (1838-1917), outro fundador da Escola Histórica, tentou


mostrar, por meio dos avanços nas ciências naturais, que o conhecimento científico
precisa ser provado pela observação, de forma que afirmações científicas devem permitir
a realização de previsões comprováveis, antes que estas afirmações fossem inseridas no
conhecimento humano da realidade. Se os economistas marginalistas afirmavam estarem
fazendo ciência, principalmente com a matematização da utilidade, precisariam provar
cientificamente seus feitos, algo que seria, de certa forma, impossível, quando se
consideram os seres humanos em seus comportamentos imprevisíveis.

SCHOMLLER considera, em primeiro lugar, o estudo dos fatos concretos, pois somente
a partir deles é que, alega o pensador, se pode começar a fazer teorias econômicas
dedutivas. Para ele, é algo inviável separar a economia de fatores sociais, históricos,
antropológicos, éticos e políticos. Exatamente porque a economia é vista como ciência
histórica concreta, o problema da Especificidade Histórica das Ciências Sociais deve
sempre ser levado em conta.

SCHMOLLER propôs o pluralismo metodológico em substituição ao conceito do


homoeconomicus dos neoclássicos. Apontou os desvios que esse conceito abstrato de
indivíduo calculador traz em termos de esquematizações irreais da economia, defendendo
a importância da indução para se chegar a teorias gerais mais fiéis à realidade observada.
Todavia, as críticas dos historicistas não afetaram o progresso dos marginalistas,
sobretudo porque estes, por meio do uso do utilitarismo, propuseram uma análise técnica
dos fenômenos econômicos, com a crença de que a disciplina seja isenta de valores sociais
e morais. O que JOHN NEVILLE KEYNES e WALRAS chamaram de Economia Pura
ou a Arte da Economia viria a dominar o pensamento econômico, estabelecendo os
fundamentos do que se reconhece hoje como o pensamento Neoclássico, e, até certo
ponto, o Mainstream na teoria econômica. Paralelamente, a Escola Histórica, por carecer
de uma organização teórica, perdeu popularidade contra a teoria neoclássica, não por falta
de racionalidade, mas porque os princípios neoclássicos apareciam mais “científicos”,
mesmo quando seus resultados iam de encontro aos fatos.

O conflito entre as duas escolas demarcava claramente dois campos em que se dividia a
economia: a economia racionalista e abstrata da utilidade marginal e a economia histórica,
experimental e contextual. O enfoque analítico abstrato e dedutivo da teoria marginalista
teve uma vitória devastadora que marcou profundamente toda história da ciência
econômica desde os meados do século XIX, sem que houvesse, contudo, total rendição
do método indutivo.

Buscando valorizar a observação na ciência econômica, MAX WEBER (1864-1920)


criou o conceito de “socioeconomia”, como uma espécie de síntese. Para ele, a análise
econômica não pode se basear unicamente na teoria econômica abstrata, mas deve valer-
se também da história econômica e da sociologia. Na mesma linha, em 1890, JOHN
NEVILLE KEYNES (1852-1949) procurou superar o conflito metodológico na economia
e conciliar indução e dedução. Para ele, o dedutivo/abstrato não contradiz o
indutivo/histórico; os dados estatísticos são tão necessários quanto as abstrações
matemáticas. Mas o método indutivo, alertou o pai de J.M. KEYNES, não é um caminho
seguro para o conhecimento científico. Por isso o saber verdadeiro só poderia ser obtido
pela dedução, a partir de princípios gerais e abstratos.

A TEORIA MARGINALISTA NO SÉCULO XX

A matemática nos trabalhos de JEVONS e WALRAS atraiu alguns economistas pelo


mundo. Dentre eles, podemos destacar FRANCIS YSIDRO EDGEWORTH (1845-
1926), PHILIP WICKSTEED (1844-1927), IRVING FISHER (1867-1947) e KNUT
WICKSELL (1851-1926). Pela contribuição destes economistas, as ideias marginalistas
ganharam uma nova forma, principalmente com a extensão da teoria marginal à produção,
via produtividade marginal. De acordo com esta teoria, uma firma estaria disposta a pagar
por um fator de produção (trabalho, maquinário, etc.) somente se houver aumento no
“bem-estar”, ou na produtividade da firma. Esta concepção marginalista de um insumo
produtivo seria denominada valor do produto marginal, ou seja, o resultado extra
produzido por uma unidade de um fator de produção.

Outro economista neoclássico, LIONEL ROBBINS (1898-1984), buscou uma unificação


do objeto da ciência econômica, contestando as análises que entendiam a Economia como
uma explicação das causas da riqueza material. A definição neoclássica da ciência
econômica de ROBBINS prega que: "A Economia é a ciência que estuda o aspecto do
comportamento humano resultante da alocação entre fins e recursos escassos que
possuem usos alternativos."

ROBBINS criticou o empirismo, afirmando que não se pode prever os eventos históricos
através da indução. Somente a dedução, a partir de premissas, garantiria a validez de uma
teoria. ROBBINS critica também o monismo científico, pois afirma que nas ciências
existe a subjetividade e a intencionalidade e o objeto social não é estático, mas muda ao
longo da investigação. A ciência econômica se apoia sobre uma determinada ideia de
homem cujo comportamento consiste a responder a estímulos externos. ROBBINS critica
esse pensamento behaviorista (comportamental) da teoria dominante.

No século XX se consolidou na CE o que JOSEPH SCHUMPETER (1883-1950)


identificou, num princípio relevante, como individualismo metodológico. Segundo
SCHUMPETER, uma teoria científica não precisa explicar as causas dos fenômenos; este
procedimento compete à metafísica. A função da ciência é estabelecer as relações
funcionais entre os fenômenos observados. Como tais fenômenos econômicos se alteram
de acordo com variações em níveis individuais, o individualismo metodológico passou a
ser visto como o corolário científico mais adequado à teoria econômica.

O individualismo metodológico expõe que o indivíduo é o ponto de partida correto (ou o


melhor até o momento) a ser utilizado pelas teorias econômicas para alcançar fins
práticos. Deste modo, o conceito não tenta explicar nem generalizar o comportamento do
homem, mas apenas indicar que as relações econômicas devem ser sistematizadas e
modeladas utilizando os indivíduos como causa primária. Com efeito, o individualismo
metodológico não tem propostas específicas, nem pré-requisitos comportamentais,
apenas baseia certos processos econômicos nas ações dos indivíduos. Em MILL e em
PARETO, o significado do individualismo metodológico pode ser identificado nas
tentativas destes de explicar os fenômenos econômicos com base em estados
psicológicos. Esse movimento define, de fato, a introdução do marginalismo no
pensamento econômico, assim como na tradição neoclássica.

O POSITIVISMO LÓGICO DO “CÍRCULO DE VIENA” (Schlik, Ayer,


Wittgenstein, Neurath, Waisman, Hempel, etc) e os EMPIRISTAS LÓGICOS (Hempel
e Openheim) - (1940-1960)

É um método que pregava a filosofia científica da exclusão, que refuta qualquer discussão
metafísica das práticas científicas. O método denominado positivismo lógico refere-se ao
método originado nas reuniões de um grupo de filósofos da ciência por volta de 1920,
denominado “Círculo de Viena”. O grupo propôs afastar da investigação todas as
considerações culturais e pessoais, que seriam prejudiciais às práticas ditas científicas.
Nesta combinação entre positivismo e lógica, desenvolveu-se uma análise lógica que
utiliza as ciências empíricas positivas como objeto. A objetividade do discurso científico
seria determinada por um método de representação unificado das observações empíricas,
baseado na distinção entre o que seria científico e o que seria metafísico.

Na determinação da ciência dentro do positivismo lógico, a matemática e a lógica seriam


determinadas a priori, formando as teorias. Enquanto as ciências empíricas, determinadas
a posteriori, seriam restritas às observações. A passagem do método a posteriori para o a
priori dependeria de uma “linguagem protocolo” unívoca (de um único significado) e
neutra. Esta “linguagem protocolo” almejada pelos lógicos/positivistas, impediria que
distintas interpretações fossem feitas de um único fenômeno observado. O processo se
daria na observação de um fenômeno seguido pela determinação de um termo científico.

O discurso só seria ligado à ciência caso fosse expresso em determinados termos


científicos relacionados ao fenômeno observado por meio de certas “regras de
correspondência”. Toda a observação levaria a um termo científico que corresponderia
ao fenômeno em questão. Os critérios estabelecidos para a separação das proposições
significativas das não-significativas (metafísicas) seriam os da verificação que,
posteriormente, foram substituídos pelos da confirmação. Portanto, no positivismo lógico
do Círculo de Viena, a principal preocupação consiste em demarcar o que era ciência do
que não era. Para os positivistas lógicos, a ciência seria formada por sentenças analíticas
a priori, como as da matemática e da lógica, e sentenças sintéticas a posteriori, que
transmitem os dados atômicos dos sentidos através de frases-protocolo.

O critério estabelecido pelo positivismo lógico julgava que as proposições significativas


seriam aquelas que podiam ser testadas, e assim declaradas falsas ou verdadeiras. Isso
implicava na realização de testes infinitos, ou seja, uma proposição pode ser testada
inúmeras vezes e mesmo assim não poder ser seguramente comprovada. Posteriormente,
após o critério da verificação indicar este problema, foi adotado o critério da confirmação,
no qual eram atribuídas significâncias às proposições que fossem confirmadas no teste
empírico. Porém, a própria ideia de confirmação do teste para fazer uma teoria resulta
num método normativo, e não positivista.

A representatividade na ciência passa a ser criticada a partir da impossibilidade de separar


completamente a metafísica das práticas científicas. A tese DUHEM-QUINE indicou
claramente este problema da inexistência de um teste definitivo para a comprovação da
significância das proposições passiveis de teste empírico. A ciência não poderia mais
estabelecer a relação (protocolo) entre a linguagem e os fenômenos observados, pois os
testes de significância não são suficientes para comprovar a cientificidade de uma
proposição.

Embora os defensores do positivismo lógico quisessem eliminar a metafísica (isto é, o


estudo da essência das coisas), eles mesmos eram metafísicos, pois queriam fornecer uma
“cientificidade” para a ciência. Nem sempre se pode garantir que uma dedução teórica
forneça uma explicação causal para um fenômeno. Apesar de ser possível verificar
experimentalmente uma teoria, nada nos garante que ela valerá na próxima vez. Na
verdade, os próprios fatos descritos utilizando a linguagem protocolo já vêm carregados
de teoria.

Diante da persistência da metafísica, da evidência de que os fatos eram carregados de


teoria e de que a verificação não garantia totalmente um conhecimento sério e rigoroso,
surgiu o método formalizado por HEMPEL e OPPENHEIM, em 1948, denominado
método Nomotético-Dedutivo (N-D), ou Dedutivo-Nomológico. Este modelo supõe a
tese da simetria entre previsão e explicação: primeiro partimos de Leis Gerais,
adicionamos estas leis às condições iniciais em que se realizam (explanans ou hipóteses
auxiliares) e chegamos ao resultado de comprovação (denominado explanandum ou o
fenômeno a ser explicado). O exemplo que se dá para a compreensão disso: o cobre dilata
(lei geral). Dilata quando aquecido (condição de realização ou Explanans). O cobre
aquecido dilata (comprovação ou explanandum).

No entanto, a tese da simetria entre previsão e explicação nem sempre funciona. A lei
gravitacional de NEWTON e a teoria de DARWIN das origens das espécies indicariam
isso. Tanto os positivistas lógicos quanto seus descendentes, os empiristas lógicos, não
conseguiram, apesar das tentativas, encontrar uma metodologia que levasse a um
conhecimento plenamente rigoroso.

O POSITIVISMO LÓGICO E A FALSEABILIDADE NA ECONOMIA – A


ESCOLA DE CHICAGO (TERRENCE HUTCHINSON (1912-2007), MILTON
FRIEDMAN (1912-2006)

A partir da década de 1930, aparecem as primeiras tentativas de aplicar tanto o


positivismo lógico, do Círculo de Viena, como o falsificacionismo popperiano, na
economia. A primeira foi feita por HUTCHINSON e a segunda, principalmente por
FRIEDMAN.

HUTCHINSON critica o caráter abstrato do ensaio de ROBBINS e a introspecção como


fonte dos postulados econômicos e defende maior uso de procedimentos empíricos.
Concorda com o positivismo lógico, segundo o qual as proposições científicas devem ser
passíveis de comprovação empírica. Para adquirir o estatuto de ciência, a Economia deve
lidar com fatos e não com abstrações; ela seria uma ciência dos fatos, representada pelo
acúmulo de conhecimentos factuais. HUTCHINSON criticou o arcabouço teórico
neoclássico, defendendo uma economia empiricamente significativa contra uma
economia de pressupostos a priori.

Em 1940, FRANK KNIGHT (1885-1972) e, depois, em 1950, FRITZ MACHLUP (1902-


1983) criticaram e acusaram HUCHINSON de ultra-empirista. Para esses críticos, os
princípios e hipóteses não podem ser submetidos a testes empíricos. Apenas os resultados
da aplicação dos princípios teóricos podem ser submetidos à verificação empírica.

Em 1948, PAUL SAMUELSON (1915-2009) propôs que a ciência econômica deveria


ser elaborada a partir de teoremas operacionalmente significativos (Economia
operacional, positiva). Ou seja, deve se referir à definição de “hipóteses relativas a dados
empíricos que podem ser refutadas, mesmo que em condições ideais”. Definição que se
aproxima do método da falseabilidade proposto por POPPER, onde a teoria válida seria
aquela que tivesse o maior conteúdo empírico de verificação, até que apareça um fato
novo que a torna falsa.

EM 1953, FRIEDMAN publica a sua obra “METODOLOGIA DA ECONOMIA POSITIVA ”.


Para ele, a economia positiva é um “corpo sistematizado de conhecimentos sobre aquilo
que é” ou, ainda, “a economia positiva é ou pode vir a ser uma ciência objetiva,
exatamente como qualquer das ciências físicas”. Seu caráter dogmático aparece com
todas as letras, quando diz que o “processo da economia positiva elimina as divergências”.
E o critério de cientificidade também repousa nos fatos: “um enunciado positivo deve ser
aceito ou rejeitado com base na evidência empírica”.
FRIEDMAN, inspirado em Wittgenstein, defende a teoria como linguagem, ou seja,
como um conjunto de raciocínios sistemáticos, um corpo de hipóteses, “sem conteúdo
substantivo”, uma coleção de proposições apenas com conteúdo factual, elaboradas para
abstrair características essenciais da realidade complexa. Ele foge, assim, de qualquer
teorização de caráter especulativo, mas se preocupa apenas em proporcionar soluções a
problemas concretos. Esta seria a ideia do Instrumentalismo e do Pragmatismo.

Suas proposições científicas podem ser resumidas nos seguintes pontos: o objetivo da
ciência é dominar e controlar a natureza; a evidência empírica é o ponto de partida de
toda elaboração teórica e a realidade objetiva, o ponto de chegada da investigação
científica, ou seja, a validez de uma teoria depende de seus resultados práticos. Assim, a
ciência se define como um instrumento teórico que objetiva solucionar problemas
práticos, mais especificamente explicar a realidade é prever seu comportamento, pois é a
capacidade de prever de uma teoria que lhe confere validade científica. Ou, ainda, dizendo
de outra forma, uma teoria é válida se é útil para prever, não importando se é verdadeira
ou falsa. O teste empírico de hipóteses, como afirma POPPER, permite no máximo saber
se uma teoria é falsa, mas nunca a comprovação de que ela seja verdadeira. Não importa
que as hipóteses donde se parte sejam realistas ou verdadeiras, desde que sejam úteis para
produzir boas previsões sobre a realidade, ou seja, premissa realista não é condição
suficiente para chegar a conclusões válidas. Do mesmo modo, não se pode negar que o
realismo das hipóteses seja condição para se chegar a resultados verdadeiros.

A posição de FRIEDMAN sobre o realismo das hipóteses foi objeto de muita polêmica.
SAMUELSON, por exemplo, critica o irrealismo das hipóteses, afirmando que as teorias
devem descrever a realidade e não apenas prever o comportamento futuro. Mas
FRIEDMAN rebate as críticas, dizendo que as hipóteses são simplificações da realidade.
Quanto mais significativa uma teoria, mais irrealistas são seus supostos. Na verdade, o
que este autor defende é a utilidade do conhecimento e não sua veracidade, isto é, seu teor
instrumental. Trata-se de buscar um saber útil e positivo e não um conhecimento
verdadeiro.

JOHN MAYNARD KEYNES (1883-1946) - O método da incerteza.

Na época de KEYNES, ou mais precisamente no período entre as duas guerras mundiais,


predominava o positivismo lógico que defendia a possibilidade de um conhecimento certo
e objetivo da realidade econômica. Mas KEYNES notou que essa visão não era
compatível com a realidade, porque se fundava numa ontologia (visão ou recorte do
mundo real) positiva, para a qual “o ser é sua aparência” e, também, numa racionalidade
abstrata e não-histórica que menosprezava a dúvida e a incerteza.

Por isso, a crítica de KEYNES procurou atingir o âmago dessa teoria, qualificando-a
como “uma daquelas técnicas bem bonitas e bem-feitinhas que tentam lidar com o
presente, abstraindo-se do fato de que sabemos muito pouco sobre o futuro”.
Efetivamente, para KEYNES, a teoria Neoclássica supõe um conhecimento sobre o futuro
que não podemos ter. A visão de KEYNES não é visão positiva e racionalista da realidade.
Para KEYNES, muito mais importante que a formalização da teoria é a visão de mundo
que se coloca na raiz ou na fonte das ideias. O ser não é estático, mas dinâmico, complexo
e contraditório, envolvendo o tempo e a história. Para ele, o futuro e a ideia que fazemos
dele plasmam o presente; a realidade econômica não é “dada”, “positiva”, mas construída
pelas decisões econômicas de cada um. Os dados não estão aí prontos para ser colhidos,
mas são uma obra humana. O objeto de investigação não é um dado, pré-existente, a ser
descoberto e conhecido, mas um mundo criado pelas próprias decisões humanas. Existe
aqui uma interação entre sujeito e objeto do conhecimento e o método de KEYNES, como
o de SMITH e o de MARX, supera a dicotomia racionalismo-empirismo que permeia
toda história da ciência econômica.

É com base nesta visão de que a realidade econômica é criada pela própria ação humana
que KEYNES define a economia como ciência moral: lida com introspecção e com
valores; lida com motivos, expectativas e incertezas psicológicas. Uma ciência de cunho
moral, como KEYNES define a economia, não pode por consequência ser formada por
conhecimento preciso como a física, mas por um conhecimento de natureza incerta.
Conhecimento incerto é aquele do qual não se pode ter base para cálculo, mas apenas
graus de probabilidade, graus de certeza, convicção, crença racional, peso do argumento,
convenção. Como não conhecemos o futuro, raciocinamos com incertezas,
probabilidades, expectativas e juízos convencionais, afirma Keynes.

Podemos sintetizar o pensamento de KEYNES, na sua “Teoria Geral do Emprego, do


Juro e da Moeda” de 1936, da seguinte forma: o problema das expectativas dos agentes
econômicos, ou seja, a incapacidade natural de estabilidade destas expectativas seria a
causa dos ciclos econômicos. Estas expectativas dificilmente convergiriam para o pleno
emprego dos fatores, mostrando que o mercado não é autorregulado e apresenta forte
incerteza. A rigidez dos preços e dos salários contraria necessariamente a suposta
tendência clássica e neoclássica ao equilíbrio de pleno emprego. Ainda, a moeda não é
neutra e, quando entesourada, causa déficit de demanda efetiva no mercado, o que pode
gerar crises.

Em pouco tempo após a publicação da Teoria Geral de KEYNES, JOHN HICKS (1904-
1989) em 1937 publica “Mr. Keynes and the Classics: A Suggested Interpretation”, onde
formula o conhecido modelo IS-LM (amplamente ensinado nas instituições acadêmicas
até hoje), no qual introduz o mercado monetário na análise macroeconômica. A
intepretação de HICKS, na verdade, deturpa as ideias fundamentais de KEYNES,
obstruindo o diálogo em torno das causas de crise econômica. O próprio HICKS, muitos
anos depois, teria formalizado uma espécie de pedido de desculpas pela sua má
interpretação da teoria keynesiana.

Finalmente, é importante salientar que KEYNES pretendeu conferir à economia o caráter


de uma ciência prática, que lhe fornecesse razões e instrumentos para intervir na
realidade. Ou seja, ao mesmo tempo em que acredita no progresso da ciência, seu método
rompe com a ideia de uma ciência racionalista, abstrata, certa, única e a-histórica. A
ciência econômica deve caracterizar-se como uma ciência prática, um instrumento da
política econômica e de intervenção na realidade. Políticas estatais de orçamentos
públicos deficitários e de juros baixos são capazes de estimular crescimento econômico.
A NOVA ECONOMIA CLÁSSICA

Conhecido também como teoria das expectativas racionais, este movimento intelectual
aparece como escola de macroeconomia por volta de 1970. Por construir sua análise
inteiramente a partir da teoria Neoclássica, enfatizando a importância das ações dos
indivíduos como agentes racionais que baseiam suas escolhas em modelos
microeconométricos, esta corrente se coloca na oposição à economia keynesiana. Ela
assume que os agentes são racionais e têm expectativas racionais, defendendo que a
macroeconomia tem um único equilíbrio em pleno emprego, que é atingido através do
ajustamento entre preços e salários.

O mais famoso modelo novo clássico é o da teoria dos ciclos reais de negócios (Real
Business Cycles, ou RBC), construído a partir das ideias de JOHN MUTH, ROBERT
LUCAS, THOMAS SARGENT, ROBERT BARRO, FINN KYDLAND e EDWARD
PRESCOTT.

A microfundamentação da Macroeconomia no modelo novoclássico apresenta um


arquétipo esclarecedor da força do individualismo metodológico na tradição Neoclássica.
Foi introduzida na Economia na década de 1970, quando LUCAS e SARGENT
questionaram a validade das teorias macroeconômicas, acusando-as de não possuírem
fundamentos rigorosos. Obviamente estes teóricos reclamavam da ausência dos modelos
comportamentais da microeconomia Neoclássica na base dos agregados
macroeconômicos.

A visão da economia novo clássica segue a sistemática da informação perfeitamente


simétrica entre os agentes. Estes acreditariam nas regras de política econômica baseadas
nas decisões das instituições monetárias. Os agentes econômicos então fazem suas
previsões, criam suas expectativas subjetivas, observando dados de demanda agregada.

Assim sendo, numa situação onde os mercados se equilibram e os agentes econômicos se


comportam segundo seus próprios interesses, maximizando suas funções utilidade e
lucro, a teoria das expectativas racionais supõe que qualquer choque exógeno na
economia não produz efeitos nas variáveis reais do sistema econômico. Isso porque os
distúrbios casuais, reais e monetários, são previamente antecipados pelas expectativas
subjetivas dos agentes econômicos que os neutralizam.

A NOVA ECONOMIA KEYNESIANA (Krugman, Stiglitz, Mankiw, Sachs Blanchard,


etc.)

Embora conserve a referência ao equilíbrio geral da Economia, a corrente dos


novoskeynesianos, surgida nos anos de 1980, rejeita a hipótese de informação perfeita,
que é fundamental no modelo neoclássico. Além disso, é crítica em relação às prescrições
de política econômica usuais entre os keynesianos (déficit orçamentário e taxa de juros
baixa), acusadas de não dar grande importância aos problemas estruturais ligados ao
funcionamento dos mercados.

Os novos keynesianos, com diferença aos novos clássicos, não acreditam que os mercados
se equilibrem rapidamente segundo a lei da oferta e da procura. Admitem o postulado de
Keynes de que os salários e os preços não são flexíveis, mas "rígidos". Essa rigidez seria
associada à concepção contrária à informação perfeita, ou seja, informação imperfeita ou
assimétrica. Os novos keynesianos não tratam de substituir o mercado pelo Estado, mas
de encontrar formas de melhorar o funcionamento da economia.

A política fiscal e monetária é eficaz para os novos keynesianos no curto prazo (mesmo
que muitos não defendam seu uso recorrente), em razão da existência daquela rigidez de
preços e de salários neste prazo. A rigidez se explica pela presença de imperfeições nos
mecanismos de mercado, imperfeições que são, na verdade, características
organizacionais de cada mercado, e que se constituem em fontes causadoras e
propagadoras de choques econômicos, gerando ciclos econômicos.

Por fim, estudam a própria rigidez nominal de preços e salários, baseando-se no


escalonamento das decisões, incluindo o conceito de custo de mudanças de preços e
salários. A rigidez nominal, considerando firmas em competição monopolista, é o
chamado "custo do menu". Essa rigidez pode ser entendida como um ajustamento de
preços que pode ter custos tais que não sejam compensados pela variação dos lucros
decorrentes. A ideia é que clientes de restaurante podem reagir mal ao constatar aumento
dos preços e se irritarem com a mudança, sobretudo se não forem prevenidos em tempo
hábil. Assim, mesmo pequenas variações nos “custos de menu” podem levar a grandes
oscilações da economia, já que envolvem, por exemplo, alterações na programação
contábil-financeira dos clientes, e estes podem ter dificuldades em fazê-las e acabam por
desistir do restaurante.

ABORDAGEM PÓS-KEYNESIANA: Robinson, Kaldor, Harrod, Pasinetti, Davidson,


Minsky, Kregel, etc.

Os keynesianos entendem a economia como processos não-ergódigos (imprevisíveis,


variantes) formados por estruturas políticas, econômicas e sociais incorporadas em um
processo histórico que torna a realidade transmutável. A mudança ocorre pela interação
da ação humana com as estruturas mencionadas e cuja própria ação humana é derivada,
em parte, de fatores éticos, culturais, políticos e ideológicos.

De maneira geral, o principal objetivo da teoria pós-keynesiana consiste em criticar e


refutar o paradigma Neoclássico cada vez mais difundido na teoria econômica. Para tanto,
os pós-keynesianos, ao resgatarem a essência do pensamento de KEYNES, têm
desenvolvido algumas linhas de pesquisa em Economia que estão associadas à ideia de
economia monetária de KEYNES: "(...) economia na qual as variações de pontos de vista
sobre o futuro são capazes de influenciar a quantidade de emprego e não somente sua
direção". Assim sendo, as discussões estão quase sempre centradas no papel da incerteza,
no caráter histórico do tempo e no papel da moeda e das instituições financeiras, entre
outras.

Dentre os economistas que desenvolvem estudos em teoria pós-keynesiana, destacam- se,


basicamente, dois grupos de pensamento econômico: os keynesianos de Cambridge e os
keynesianos "fundamentalistas". Os keynesianos de Cambridge, Inglaterra, cujos
principais representantes são JOAN ROBINSON (1903-1983), NICHOLAS KALDOR
(1908-1986), ROY HARROD (1900-1978) e LUIGI PASINETTI (1930-), foram os
primeiros a questionar a teoria ortodoxa a partir das óticas do crescimento e da
distribuição de renda. Partindo do pressuposto de que os modelos Neoclássicos de
crescimento e de distribuição de renda são incompatíveis com a visão do sistema
capitalista de KEYNES. Esses keynesianos criticaram e refutaram a consistência lógica e
o realismo da teoria Neoclássica do capital.

Por sua vez, os keynesianos "fundamentalistas", de certa maneira identificados na


publicação “Journal of Post Keynesian Economics”, cujos expoentes principais são
PAUL DAVIDSON (1930-), HYMAN MINSKY (1919-1996) e JAN Kregel (1944-).
Têm desenvolvido seus trabalhos a partir de três frentes de pesquisa: o papel da incerteza,
a natureza da moeda e a instabilidade do sistema financeiro. Para essa concepção pós-
keynesiana o objetivo consiste em mostrar que as decisões de investimento, poupança e
financiamento são determinadas em uma economia monetária onde, havendo uma
incerteza “forte” sobre o futuro, o processo de produção demanda certo tempo. Assim
sendo, numa situação em que a incerteza acerca do futuro aumenta, os agentes
econômicos passam a reter moeda, e, por conseguinte, ocorre uma insuficiência de
demanda efetiva que provoca desemprego na economia.

Independentemente, contudo, das duas visões pós-keynesianas, ambas as escolas de


pensamento têm como ponto central o fato de que as economias capitalistas são
economias essencialmente monetárias, conforme Keynes assim o entendia, e, portanto,
passíveis de crises. Em outras palavras, para os pós-keynesianos a economia não está
necessariamente em um estado permanente de pleno emprego, na medida em que as leis
de mercado são incompatíveis com a instabilidade do próprio capitalismo.

METODOLOGIAS MAIS RECENTES NA ECONÔMICA


Vimos como em FRIEDMAN o papel da teoria seria o de captar regularidades empíricas
para fazer boas previsões. As teorias consistem de uma linguagem e de hipóteses
substantivas. Estas hipóteses devem ser simples (ser baseadas em poucos dados
observáveis) e fecundas (serem capaz de prever muitos dados). Logo, para FRIEDMAN,
as hipóteses devem ser irrealistas e funcionam “como se” fossem verdades. Isto, contudo,
não quer dizer que uma teoria não possa explicar a realidade. Para que as teorias possam
explicar de fato a realidade, devemos determinar seu domínio de aplicabilidade e os
fatores que estamos negligenciando. Este é o ponto de entrada do Realismo Crítico,
desenvolvido por TONY LAWSON.

Para LAWSON, devemos nos preocupar com a ontologia da Economia. Inspirado em


ROY BHASKAR, afirma que a realidade possui 3 domínios ontológicos: o real, o efetivo
e o empírico. O mal dos positivistas (e de FRIEDMAN) seria manter-se apenas no
empírico, sem tentar explicar as leis e os mecanismos reais que causam os fenômenos
empíricos a serem explicados. Toda teoria pressupõe uma ontologia por detrás, e esse é
um dos argumentos centrais do Realismo Crítico na Economia.

O brasileiro PÉRSIO ÁRIDA também critica, assim como LAWSON, a influência


positivista na economia. Contudo, a ênfase dele está em como a retórica pode resolver as
controvérsias teóricas na economia, tendo como influência as ideias de DEIRDRE
MCCLOSKEY. ÁRIDA observa que existem dois modelos para aprender Economia:
como ciência hard, tipo natural (nos EUA); e, como ciência soft, mais para histórica.

O modelo hard esquece que não é por falsificação ou verificação que as controvérsias são
resolvidas. Devido à tese de DUHEM-QUINE e aos fatos serem carregados de teoria,
muitas vezes as brigas metodológicas acabam por cansaço e desinteresse. Já o modelo
soft se esquece que as teorias são contextuais e dependem de fatores extra-científicos para
serem desenvolvidas (como em KUHN e FEYERABEND). Não havendo consenso,
podemos apelar para a retórica, a arte de convencer e persuadir. Neste caso, a evidência
passa a ser a conformidade do discurso às regras da boa retórica – disposição em aceitar
a evidência empírica inequívoca.

Alguns autores identificam no Realismo Crítico os fundamentos filosóficos da escola pós-


keynesiana (como SHEILA DOW e VICTORIA CHICK), ainda que dentro dessa escola
isso não seja consensual. O objetivo do Realismo Crítico, como visto anteriormente,
sobretudo para a Economia, é trazer considerações ontológicas e indicar as reais
possibilidades na esfera social e não determinar a priori quais possibilidades devem ser
consideradas. É uma abordagem filosófica que se contrapõe à posição lógico positivista,
ao admitir que no mundo existem estruturas não empíricas subjacentes aos fenômenos e
que elas delimitam e possibilitam os estados das coisas e eventos verificados em nível
empírico. Em outras palavras, existem estruturas, poderes, mecanismos e tendências que
governam e estão por trás do fluxo de eventos em um mundo essencialmente aberto. Essa
concepção anda em simetria com a abordagem pós-keynesiana e, ainda que essa não possa
ser identificada como a única orientação filosófica sobre a qual se baseia o pensamento
pós-keynesiano, há de se considerar que existe alto grau de confluência entre essas duas
abordagens.

Deve-se ressaltar que as associações mais evidentes e que, até certo ponto, teriam
influenciado o Realismo Crítico, mesmo que não diretamente, provêm da análise do
sistema econômico em MARX. Muitos trabalhos enfatizam a relação do pensamento de
MARX com o Realismo Crítico. Ao que tudo indica, quando notamos a relação do
Realismo Crítico com correntes importantes do pensamento econômico, parece que essa
abordagem está ganhando cada vez mais espaço na análise do método em Economia.

A recente crise econômica mundial desencadeada a partir de 2008, aparentemente


iniciada no mercado de derivativos americano, teria levado ao questionamento de
algumas ideias econômicas antigas, como a não-regulação das instituições financeiras, ao
mesmo tempo que gerou novas possibilidades às teorias econômicas. O impacto
sociológico sobre os termos de delimitação do pensamento econômico, principalmente
no entendimento do mainstream, começa a ficar evidente.

Na presente conjuntura, algumas ideias mais recentes começam a se estruturar no


pensamento econômico. Temos a Economia Evolucionária, a Economia
Comportamental, a Neuroeconomia (muito superficialmente ainda) e a Economia
Ecológica. Não estamos dizendo que a crise econômica recente tinha permitido o
surgimento destas ideias, pois estas concepções da Economia existiam muito antes da
presente crise. O que ocorre é que os acontecimentos recentes possibilitam a inserção,
assim como a aceitação de novas ideias, antes negligenciadas.
ECONOMIA EVOLUCIONÁRIA: Veblen, Schumpeter, Nelson, Winter, Dosi,
Freeman.

A Economia Evolucionária seria ortodoxa e heterodoxa ao mesmo tempo. Isso porque ela
ressalta conceitos como competição, crescimento econômico, estática comparativa e
restrição orçamentária, presentes na ortodoxia econômica, mas aborda estes aspectos de
modo um tanto distinto.

Partindo da biologia evolucionária, a Economia Evolucionária leva em consideração


postulados Neoclássicos como a escassez, a racionalidade e a maximização, estruturando
tudo em formulações matemáticas. Sistemas evolucionários estariam associados a
sistemas complexos. Tem-se uma nova abordagem de análise econômica, mas ainda sem
uma estrutura precisamente definida.

A Economia já estaria anteriormente considerando ideias de evolução e seleção natural,


como darwinismo e biologia evolucionária, mas até recentemente sem maiores
compromissos. Os exemplos clássicos são MARSHALL, VEBLEN e, posteriormente,
HAYEK, de forma explícita, e SCHUMPETER, de forma implícita, ainda que talvez
potencialmente mais fértil. A introdução de elementos evolucionários, na tentativa de
deslocar a crítica ao suposto comportamento maximizador de lucros da firma Neoclássica
do nível individual para níveis agregados é ainda pautada por simples analogia com a
seleção natural, e os argumentos permanecem no plano da análise econômica tradicional.

O principal desafio para a incorporação teórica e analítica completa do enfoque


evolucionário em Economia consiste na passagem micro para macrodinâmica, feita com
as devidas mediações, o que nem sempre tem sido observado, quer na literatura da visão
evolucionária (mais micro) quer na da visão macrodinâmica.

Muitos evolucionistas, como Veblen, Wesley e Schumpeter são também institucionalistas


visto que consideram a economia como processo de transições materiais e institucionais
movido pela inovação. Na Teoria Institucional, o mercado é o resultado de interação
complexa de diferentes instituições, e a economia, como todo, se insere em processo
sociais e políticos constantemente em evolução.

ECONOMIA COMPORTAMENTAL E NEUROECONOMIA:

A Economia Comportamental sugere a análise dos pressupostos comportamentais


basicamente neoclássicos, na aplicação mais específica às finanças comportamentais,
considerando fatores psicológicos para explicar as decisões econômicas tomadas por
indivíduos e instituições. Ainda valem as premissas comportamentais Neoclássicos,
sendo que a análise vai além das decisões de mercado para considerar impactos sobre
decisões coletivas, valendo, de certa forma, as convenções de KEYNES, mas não
estritamente no sentido da Teoria Geral. Aspectos sobre a escolha pública também são
considerados.

Enquanto os governos buscam resolver a crise macroeconômica e regular mercados,


alguns cientistas estão empenhados em saber o que leva os indivíduos a gastar, vender ou
investir. Para analisar estes aspectos do comportamento, áreas distintas da ciência
estariam se estruturando para melhor explica-los. O campo de estudo que reflete estas
tentativas de explicar o que leva a estas ações econômicas é a Neuroeconomia. Ela reúne
ferramentas de investigação e conhecimento de distintas áreas da Psicologia, Economia e
Neurologia, fazendo uso de sofisticados equipamentos de diagnóstico de imagem por
ressonância magnética funcional ou tomografia. Mas ainda se mostra um campo em pleno
estado da arte.

ECONOMIA ECOLÓGICA:

Voltando a ideia da ESCASSEZ na Economia, a Economia Ecológica tem como base


fundamental o esgotamento possível dos recursos naturais utilizados na produção. A
ênfase no “estoque” de recursos naturais, assim como a tentativa de mensurar a escassez
no pensamento econômico, é antiga, identificada no início do século XX. Indo mais no
passado, a concepção da escassez, como vimos, parece prover das teorias de RICARDO
(escassez relativa) e MALTHUS (escassez absoluta).

A Economia Ecológica, teria se balizado neste conceito. Em meados de 1970, posterior


ao primeiro choque nos preços internacionais do petróleo, criou-se a percepção de uma
possiblidade de escassez absoluta de algum recurso natural. Surgem, nesta década,
diversos estudos, sendo que alguns tentam mensurar a escassez na Economia, enquanto
outros tentam mostrar os problemas identificados no estudo denominado “Limites do
Crescimento”.

Como principais idealizadores relacionando à Economia Ecológica, temos HERMAN


DALY e NICHOLAS GEORGESCU-ROEGEN. Enquanto DALY utiliza uma
abordagem um tanto Neoclássica para lidar com os limites ao crescimento econômico,
GEORGESCU-ROEGEN fora um revolucionário neste aspecto, trazendo a noção da
termodinâmica nas relações econômicas entre indivíduo e recursos naturais. O próprio
GEORGESCU-ROEGEN criticou abertamente DALY, assim como os modelos de
crescimento econômico neoclássicos e as relações equivocadas entre insumos e produção.
GEORGESCU-ROEGEN, apesar de suas ideias revolucionárias, de certa forma fora
excluído da corrente dominante da Economia na época, justamente pela sua grande
criatividade radical.

Atualmente, considerando os crescentes problemas e questionamentos ambientais, a


Economia Ecológica vem ganhando mais espaço na Economia. O contexto parece ideal
para uma retomada ecológica da Economia, apesar de já existirem muitas críticas às
concepções de DALY e GEORGESCU-ROEGEN. Este último é também relacionado à
corrente evolucionária. O impacto revolucionário da Economia Ecológica,
principalmente das ideias radicais de GEORGESCU-ROEGEN parecem ser cada vez
mais relevantes no debate sobre a necessidade de decrescimento econômico, no lugar do
crescimento desenfreado.

SÉCULO XXI — Novas possibilidades em um mainstream “diluído”:


A seguir

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