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Mil Cskszentmihalyi A Psicologia da Felicidade ano etna de lor sto poseder sor mtn oe {ado coceat ao ents Mihaly Csikszentmihalyi A Psicologia da Felicidade “rade de Dene Maria olano Revo st de Maria Sis Mawr Netto 12 elgto — 1992 SARAIVA 7 O TRABALHO COMO FLUIR. Como outros animais, precisamos pasar grande parte de nossa existincia provendo noseo sustento: as falorias necossarias & nutrigdo do corpe nfo surgem por magia sobre a tesa, carrot e easas no se consiroom espontancamente. Contado, nio existem formulas 1 fBidas detorminando quanto tempo as pessoas devern de fato trabathar. Parece, por exemple, que os antigos c ‘adores ecolhedores de plantas, como sous atuais descon- ‘entos que vivem nos dosertos indepitos da Africae da ‘Australia, passam apenas de trés avcinco horas por dia aquilo que chamariamos de trabalho — providencian: do comida, abrigo, roupas ¢ ferramentas. O resto do dia, fonversam, deseansam ou dangam. No extremo opasto ‘ctavam os traballindores industriais do séctla XIX, que ‘ram com froqUdnela obrigados a pasenr doze horas dia a, sols dias por semana, trabathando arduamente em Tbricas sombrias ou em perigosas minas ‘A quantidade do trabalho, bom como sua qualidade, tem sido muito variavel Exist um antigo dtado tealinno! “I lavoro nobilita womo, elo rende simile alle bestie" 0 "0 teabalto enobrece 9 homem, © 0 transforma nim ani ‘mall Bote ditade trdnieo pode ser tm comentario sobre a rnaturezn de Lados os trabalhos, mas pode tambem si hifiear quo o trabalho que exige grande aptidio e 6 exe- cutado liveemente aperfeigon a complexidade do self, © ‘que, nio obstanto,poucas coisas so do entrdpieas quanto 206 © trabatho néo-especializado, realizado sob congfo, O ‘novrocirurgido que opera num hospital reluzente & 0 trabathador eseravo que cambalein sb una pesada caren caminhando penosamente sobre Inia, esto ambos trabalhando. ‘Mase cirurgigo tem a aportunidado de aprender novas coisas todos os dias, ¢ todo dia sabe que fest no controle © quo pode realizar Larefas dificeis O operirio ¢ forgado Tepetir os mesmos movimentos © hustivos,o 0 que apronde diz Fespeite prineipalmente Sua propria impoténcia, Como o trabalho to universal, embora tdo varia- bo, faz uma enorme diferenga para noseo nivel goral de fontentamento se 0 que fazomes para gankar a vida nos 44 aatisfapto ov no. Thomas Carlyle nao estava muito errado quando escreveu: "Abengoado 6 aquele que en- fontrou seu trabalho; quo elo nio pega nenhuma outra Dingio". Sigmund Froud ampliou um pouco mais esse simples eonselho. Quando the perguntaram qual sus re- Goita para a felicidade, dow uma resposta breve poréim muito scnsnta: "Trabaie © ame”. Averdade é que se fencontramoso luir no trabalho e nas relagdes com otras pessoas, estamos no eaminho eerto para selhorar a qua Tidade de vida como um todo. Neste capitulo verenios como o trabalho pode facilitar o fluir e, no seguinte, trataremos de outro importante tema de Freud — come ler satisfagdo na companhia de outens pessoas OPERATIOS AUTOTELICOS Como castigo por sua ambigho, Adso foi eondenado por Dous a trabalhar a terra com 0 suor de seu tosto. A Passagom do Gnesis (3:17) que narra caso eventareflee ‘viedo que muitas cultaras, eepecinimente aquelas que ‘tingivam a complexidade da "eivliaagao', tem do traba Tho: uma maldigho sor evitada a tulo eveto. E verdad ‘que, devido no mod ineficiente como funciona wniverso, tuita enorgin 6 nocessaia para realizar nossa neces sidades e aspiragies basicas. Se nfo nos preacupassemos coma quantidado e alimenta de que dispamas, so vivéasemos 207 ow ndo om casas sélidas © bem decoradas, ou ae tivés- fomoe aceaso aos sltimos frutos da teenclogia, w neces sidade de trabalhor pesaria muito menos sobre noseos ‘mbros, como aconteco com os ndmades do deserto de Kalahari. Porém, quanto mais energia investimos bjetivos materiis, e quanto mais improvavels nossa ‘metas, mais diffell'co torna realiza-lne. Assim, ‘noves sitamos cada ver mais de clevadas somas de eeforgo mien: fale fisico, em como de recursos naturais, pra sutistazer expectativus progressivamente maiores. Etn muitas épo fas, a grande maloria das pessoas que vivia na periferia dus sociedades “evilizadns” teve de desistir de qualquor fesperanga de aleangar satisfagdo na vida, parm concn tizar os sonhos de poueas possoas que encontraram uma maneira de explori-las. As obras que diferenciaram as hajdes civilizadas das mais primitivas — como as pi ‘4a China, 0 Taj Maal, © 08 plicios e reprocas da antigaidade — foram uase todas constru(des cot a energia de oscravos, fo ‘dos. realizar as ambigdes de sous governantes, Porlan- {o, nao € de admirar que a trabalho tena adguirido tao Com todo o rospoito dovide a Biblia, néo parece, contudo, sor verdade yue e trabatho tena, neceseat ‘monte, de ser desagradavel. Talvos requeira sempre es. forgo, pelo menos mais exforgo do que nho fazer nada. Mes hi abundante comprovagao de que o trabalho pode teaser satisfiagdo, e de que, na realidade e com Trequéncia, é a parte mais satisfatria da vida ‘vere, as culluras ¢e dosenvolvem de uma ma- neira que tors as tarefas produtivas do dia-a-din tao proximas quanto poss(vel das atividadea do ule. Exis- fom grupos em que o trabalho e a vide farniliar odo \desafiadores embora estejam harmoniosamente integra: ‘dos, Nos vales montanhosos da Europa, nae sldeiay pinas poupadas pela Revolusdo Industrial, ainda ha comunidades desso tipo. Curiosos de saber como se ei fara o trabatho num contexto "tradivional”tipiea do estilo ‘do wida agricola que predominava em toda parte ha poveas berayies, uma oquipe de peicdlogositalianosliderados pelo 208 Prof. Fausto Massiminie pela Dra, Antonella Delle Fave entrevistaram recentemente alguns de seus hebitanten, ‘com gonorosidade, divelg Tugares & ‘quo sous habilantes raramente conseguem distiogult 6 trabalho do tempo livre. Pode-re dizer que trabalhacn ezesseis horas todos os dias, como se pode também aft. zar que nunca trabalhem. Uma de suse habitantes, Se rafina Vinoa, uma mulher de 76 anos de idade, da pequens aldeia de Pont Trentaz, na regiso do Vale d’Absta dos Alpes italianos, ainda se levanta da &h pera ordenhar as ‘vatas. Dopois, prepara wm imenso desjejum,limpa a cana «,dependende do tempo eda époen do ano, leva orebanho para as campinas logo abaixo das geleiras, cuida do po- mar ou tece a ld. No vordo, passa rematias nas altas pestagens cortando feno e ontao carrege na cabeye om fenormes fardos, camishando varios quildmettos at6 ¢ celvio. Bla poderia chogar a celeio na metade do tempo fe andasse em linha reta; mas prefere seguir por visiveis rilhas tortuosas para alo provecar erendo. A tarde, podo ler, contar histériae aos bisnctos, ou tocar sordodo numa das festas de amigos e parenter que te ‘edinem em sua casa algunas veres por semen Serafina conhece cada drvore,eada pedre, cada ponto das montanhas come ee forsem veihos amigos. As lendas ‘da familia, datadas de muitos séculos, este ligadas 3 Paisagen: nesta velha ponte de pedra, quando a peste acabou, em 1473, uma noite, a sltima eobrevivento da aldein de Serafina, com uma tocha na miko, encontrou 0 ‘ltimo sobrevivente da aldein If debaino, do vale. Aju daramse, casaram-se ¢ tornaram-se os antapassados de sua familia. Naquele campo de fremboesas sua avé per. dese quando era pequena. Nessa peden, com um forcedo ‘na mio, o demdnio ameagou tio André durante a ines perada tempostade de nove de 1924 Quando perguntaram a Serafina o que mais the dave satisfagdo de fazer na vida, ela nao tove dificuldade para responder: ordenhar as vacua, levé-las para o paste, podar o pomar, tver ala saute que aie Ihe duva satisfagao 6 0 que faria para prover 0 eu su: 209

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