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ANDRÉIA SEVERO DA SILVA

O ORIENTADOR EDUCACIONAL NA ATUALIDADE: O REAL E O


POSSÍVEL

CANOAS, 2008
ANDRÉIA SEVERO DA SILVA

O ORIENTADOR EDUCACIONAL NA ATUALIDADE: O REAL E O


POSSÍVEL

Trabalho de conclusão do curso de Pedagogia –


Habilitação em Magistério nos Anos Iniciais do Ensino
Fundamental e Orientação Educacional do Centro
Universitário La Salle – Unilasalle, como exigência
parcial para a obtenção do grau de Licenciatura em
Pedagogia, sob Orientação da Prof. Berta Helena
Moelecke.

CANOAS, 2008
TERMO DE APROVAÇÃO

ANDRÉIA SEVERO DA SILVA

O ORIENTADOR EDUCACIONAL NA ATUALIDADE: O REAL E O


POSSÍVEL

Trabalho de conclusão aprovado como requisito parcial para obtenção do grau de


Licenciatura do Curso de Pedagogia – Habilitação em Magistério nos Anos Iniciais
do Ensino Fundamental e Orientação Educacional do Centro Universitário La Salle –
Unilasalle, sob Orientação da Prof. Berta Helena Moelecke.

Prof. Berta Helena Moehlecke


UNILASALLE

Canoas, 5 de dezembro de 2008.


DEDICATÓRIA

Dedico este Trabalho de Conclusão de Curso, a minha mãe, pelo amor e


incentivo e também a todos os profissionais da educação, em especial aos
Orientadores Educacionais.
Agradecimentos

Pela coragem e força:


Deus, meu Criador.
Pela paciência e incentivo:
Diva, minha mãe.
Pelo auxílio, confiança, dedicação e orientação:
Professora Berta Helena Moehlecke.
“Um sonho que se sonha só, é só um sonho: um sonho
que se sonha junto é realidade”.
Muito Obrigada!
Epígrafe

“Quanto mais penso sobre a prática educativa, reconhecendo a


responsabilidade que ela exige de nós, tanto mais me convenço do dever nosso de
lutar no sentido de que ela seja realmente respeitada”.
Paulo Freire.
RESUMO

Este Trabalho de Conclusão de Curso tem como objetivo lançar um novo olhar ao
Orientador Educacional dentro da instituição escolar, analisando sua função na
prática educativa. Sabe- se que hoje o Orientador é um profissional comprometido
com a educação e com a formação do cidadão, fazendo-se cada vez mais
necessário porque professores e alunos não se bastam. A grande preocupação dos
Orientadores Educacionais tem sido definir e redefinir suas funções, numa tentativa
de deixar claro para si e para os outros envolvidos, o que ele deve fazer na escola e
com isso tentar diminuir a insatisfação profissional e valorizar o seu papel educativo.
Nessa perspectiva, busco com este trabalho lançar um olhar mais aprofundado a
respeito do lugar ocupado pelo Orientador dentro da escola. O aporte teórico
metodológico utilizado foi uma entrevista semi-estruturada com cinco Orientadoras
de diferentes redes de ensino. Autoras como Grinspun (2003), Placco (1994) e
Giacaglia (2003) constituíram o apoio teórico para a construção deste trabalho.
Palavras-chave: Orientador Educacional. Insatisfação profissional. Papel educativo.

RESUMEN

Este Trabajo de Conclusión de Curso tiene por objetivo, percebir acerca de la


importância del Orientador Educacional em la institución escolar, analisando su
función em la práctica educativa, así considerada importante em el ambiente
educacional. Sabiendo que hoy em día el Orientador es um profesional
comprometido com la formación del ciudadano, há sido cada vez más necesario,
porque profesores y alumnos no es el todo. La grande preocupación de los
Orientadores Educacionales, es definir y rever sus funciones em una tentativa de
aclarar para sí y para los otros envueltos lo que él debe hacer em la escuela y com
eso intentar disminuir la insatisfacción profesional y valorar su papel educativo. Em
esta perspectiva, busco com este trabajo echar um vistazo más profundo al respecto
del sítio ocupado por el Orientador Educacional adentro de la escuela. La
metodología fue uma encuesta semiestructurada com cinco Orientadoras de
diferentes redes de enseñanza. Autoras como Grinspun (2003), Placco (1994) y
Giacaglia (2003) constituyeran el apoyo teórico para la construcción de este trabajo.
Palabras clave: Orientador Educacional. Insatisfacción profesional. Papel educativo.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................9
2 O ORIENTADOR EDUCACIONAL HOJE..............................................................10
2.1 O Orientador Educacional no contexto escolar....................................................10
2.2 Entrevistas feitas com cinco Orientadoras Educacionais de cinco escolas.........13
2.2.1 Orientadora entrevistada nº 1............................................................................13
2.2.2 Orientadora entrevistada nº 2............................................................................17
2.2.3 Orientadora entrevistada nº 3............................................................................18
2.2.4 Orientadora entrevistada nº 4............................................................................28
2.2.5 Orientadora entrevistada nº 5............................................................................30
2.3 Considerações sobre a realidade das Orientadoras entrevistadas......................31
3 O QUE DIZEM OS TEÓRICOS SOBRE O ORIENTADOR EDUCACIONAL........37
3.1 Visão de Vera Maria Nigro de Souza Placco.......................................................38
3.2 Visão de Mirian Paura Salrosa Zippin Grinspun...................................................38
4 MEU PERFIL DE ORIENTADORA EDUCACIONAL.............................................43
4.1 Atualização...........................................................................................................43
4.2 Escuta...................................................................................................................43
4.3 Trabalho em equipe..............................................................................................44
4.4 Competência com autoridade...............................................................................45
4.5 Criatividade...........................................................................................................45
4.6 Meio cultural.........................................................................................................46
4.7 Minha personalidade............................................................................................46
5 CONCLUSÕES.......................................................................................................48
REFERÊNCIAS..........................................................................................................49
ANEXOS....................................................................................................................51
1 INTRODUÇÃO

No presente Trabalho de Conclusão de Curso abordo a visão do Orientador


Educacional frente à função que ocupa na prática educativa, com a finalidade de
levantar contribuições no contexto escolar. O foco essencial será a importância do
Orientador Educacional na instituição escolar.
Tomei como referencial as autoras Giacaglia, Grinspun e Placco e foram
entrevistadas cinco Orientadoras de diferentes redes de ensino onde investigo a
prática exercida e as concepções que cada Orientadora tem em relação a sua
profissão. Relaciono os resultados obtidos com três autoras que considero
essenciais na minha trajetória acadêmica.
No primeiro capítulo, relato o contato das cinco Orientadoras com a visão
delas em relação à função que ocupam dentro da escola. Neste capítulo ainda faço
minha análise da atuação delas. No segundo capítulo, abordo a concepção dos
teóricos citados, ou seja, Giacaglia, Grinspun e Placco sobre o Orientador
Educacional. No terceiro e último capítulo, descrevo meu perfil de Orientadora
Educacional, fechando com as conclusões que tirei desta busca sobre o profissional
que almejo neste curso.
2 O ORIENTADOR EDUCACIONAL HOJE

2.1 O Orientador Educacional no contexto escolar

Hoje, o orientador tem espaço próprio junto aos demais protagonistas da


escola para um trabalho pedagógico integrado, compreendendo criticamente as
relações que se estabelecem no processo educacional. O orientador, mais do que
nunca, está atento ao trabalho coletivo da escola, atuando harmoniosamente com os
demais profissionais da Educação; o trabalho é interdisciplinar.
Percebe-se a existência de poucos Orientadores Educacionais nas escolas,
além de um certo descaso das instituições públicas em estimular o desenvolvimento
de suas atividades.. Em muitos casos, o Orientador Educacional cuida da disciplina
nos corredores ou no recreio, cobre a ausência do diretor, do secretário ou de outros
profissionais que atuam na escola; se for preciso substitui o professor. Seria este o
verdadeiro papel do Orientador? Me pergunto, muitas vezes, a verdadeira razão de
ele estar tão deslocado de sua verdadeira função.
A autora Giacaglia esclarece-nos que é incompatível com o exercício da
função de Orientador Educacional:

proceder à chamada de alunos; recolher, carimbar e/ou entregar


cadernetas escolares ou de passes; cuidar da disciplina em salas de aula,
nos corredores ou nos recreios; cobrir sistematicamente as ausências do
diretor (a não ser que seja afastado de seu cargo e dsignado para assumir
a direção), do secretário ou de qualquer outro profissional que atue na
escola. (2002, p. 7).

Quanto à questão de substituir o professor, a autora nos diz que: “[...] O


Orientador Educacional poderá ser considerado um substituto eventual de
professores, o que contribuirá para o estabelecimento de confusões de funções,
11
comprometendo, inclusive, a sua imagem”. (2002, p. 7). Existem funções próprias,
que não podem ser confundidas com outras para que não seja afastada a sua
verdadeira imagem.
Vivemos a fase crítica, em que se procura ajudar o aluno, como um todo, com
os seus problemas e o significado dos mesmos junto ao momento histórico em que
vivemos. Nesse sentido, o Orientador Educacional é considerado um educador e
seu trabalho está voltado para o que é fundamental na escola: o currículo, o ensinar,
o aprender , o seu ajustamento escolar e todas as relações decorrentes.Ao lado dos
professores, é também um educador e tem um papel fundamental nesta caminhada.
O autor Rubem Alves compara a profissão do professor e do educador assim:

Educadores, onde estarão? Em que covas terão se escondido?


Professores, há aos milhares. Mas o professor é profissão, não é algo que
se define por dentro, por amor. Educador, ao contrário, não é profissão; é
vocação. E toda vocação nasce de um grande amor, de uma grande
esperança. (2000, p. 16).

Para que seja concretizada esta forma de ensinar, o orientador constitui um


grande paradigma; é o elo que atua com os alunos, professores, pais e comunidade.
Cria possibilidades para uma educação mais global.
Tendo em vista as novas transformações nos contextos sociais, econômicos e
políticos, que resultam em novas demandas e desafios na educação e
conseqüentemente em novas necessidades, um novo perfil de aluno, está surgindo.
Percebe-se a exigência e a relevância do profissional de Orientação Educacional no
espaço escolar. Tendo o aluno como seu principal objeto de trabalho, o Orientador
Educacional passa a ser um profissional de grande relevância para o resultado final
do ensino e da aprendizagem. Conseqüentemente, ser comprometido com a
formação do cidadão consciente no mundo em que vive, é uma importante tarefa
que resulta da sua presença na escola..
É significativo o número de professores que atuam como orientadores
educacionais, embora o procedimento seja criticado por muitos educadores. Um
ponto, porém, é consenso: eles têm importância fundamental para o trabalho
desenvolvido nas escolas. O Orientador Educacional, junto com o professor,
estabelece diretrizes para que o currículo seja o melhor possível e o
desenvolvimento do ensino seja adequado ao aluno. A aprendizagem se torna mais
significativa quando existem situações que facilitam a sua construção. As
12
dificuldades são mediadas com o auxílio do Orientador. O meio em que o aluno está
tem uma grande participação nesta aprendizagem; através desta articulação e
reflexão, constroem-se novas propostas de ação. Novas propostas de ação geram
novas maneiras de ensinar e estas poderão tornar o mundo um pouco melhor.
Como afirma Grinspun:

A prática de orientador, hoje, deve estar em procurar ajudar o aluno a


construir o conhecimento, a facilitar as condições de aquisição desse
conhecimento, promovendo as interações e toda a teia de relações que
envolva o sujeito e o meio. Os sentimentos permearão todo o processo e o
seu significado será valorizado na construção pretendida. É com esse
desafio que o orientador, na prática, terá que lidar: ajudar o aluno, orientá-
lo no sentido de permitir viver seus desejos, sonhos e paixões, que se inter-
relacionam com os saberes, com os fazeres, com o próprio conhecimento.
(2003, p. 149-150).

O momento atual instiga o orientador a assumir em sua prática uma nova


abordagem, voltada para a construção de um cidadão mais comprometido com o
seu tempo. Sua ação precisa estar direcionada para compreender o
desenvolvimento do aluno, do ponto de vista cognitivo, da afetividade, da tomada de
decisão, da sua inserção social. Os sentimentos permeiam todo o processo
pedagógico; não existe ação ou pensamento que venha desvinculado dos
sentimentos.
Se antes o Orientador se preparava para resolver todos os possíveis
problemas enfrentados pelo aluno (ligados à afetividade, sexualidade, família, ajuste
social), hoje, seu papel relaciona-se a incitar reflexões, discussões e identificação
dos problemas vivenciados não apenas pelos alunos, mas pela comunidade escolar
em geral. Existem ainda preconceitos e antagonismos, por vezes falsos, que há
muito persistem no imaginário da escola e o Orientador, por estar em contato com
os diferentes segmentos dela, tem a possibilidade de percebê-los mais facilmente.
Cuidar para que a escola como um todo seja guiada por interesses comuns,
certamente é uma das mais importantes tarefas do Orientador, conduzindo reflexões
que entendam a íntima relação entre autoridade e liberdade; respeito às normas e
formação de cidadãos; disciplina, construção do conhecimento e criticidade.
Em muitas escolas permanece o entendimento de que o Orientador
Educacional possa apresentar soluções para os problemas que lhes chega. A
satisfação demonstrada das conversas que se estabelecem no SOE pode contribuir
13
para a perpetuação de um paradigma de Orientação Educacional que hoje é
considerado ultrapassado, devido às forças múltiplas que atuam nas situações
escolares. Ou seja, o Orientador Educacional não tem como dar conta dos amplos
conflitos que lhes são apresentados, nem poderia restringir-se a aconselhar os
alunos, quando, na contemporaneidade, quer-se autonomia de pensamento e senso
crítico para optar pelo caminho que o sujeito achar melhor.

2.2 Entrevistas feitas com cinco Orientadoras Educacionais de cinco escolas

Baseado nesta reflexão realizei uma entrevista qualitativa com cinco


Orientadoras de diferentes Redes de Ensino, questionando a visão do Orientador
Educacional frente à função que ocupa dentro da instituição escolar. Estas
interrogações buscam compreender a sua prática nos dias de hoje, prática esta
contestada muitas vezes pelos representantes dos órgãos públicos que administram
a rede escolar.

2.2.1 Primeira Orientadora entrevistada

A primeira Orientadora entrevistada é de uma escola de Rede Estadual. Ao


ser questionada sobre as dificuldades encontradas no seu trabalho, apontou a falta
de participação da família como um grande entrave no contexto do aluno. As
facilidades são inerentes ao dia-a-dia do seu trabalho. Afirma que a imagem que
professores, alunos, direção e supervisão têm do trabalho desenvolvido pelo SOE é
positiva. Salienta que a Orientação Educacional na escola é importante; ajuda
coletivamente no andamento da escola (em tudo), em todos os aspectos. O
acompanhamento das dificuldades das turmas é feito à medida em que são
encaminhadas pelos professores. O único instrumento utilizado e necessário,
segundo a Orientadora, é o diálogo. Diz que os acompanhamentos são feitos
através de registro - quando necessário; retorno, que ela obtém na maior parte das
vezes; conselho de classe - participativo e elaborado pela Supervisão e Orientação,
onde ela consegue resultados satisfatórios.
Esta Orientadora tem uma linha pouco organizada e planejada. Os resultados
não podem ser observados concretamente, quando não existem registros de alunos
14
atendidos. Torna-se difícil e complicado trabalhar desta forma. É importante ter
sempre na sala da Orientação todos os dados possíveis dos alunos que freqüentam
a escola, principalmente daqueles que apresentam problemas. O Orientador
Educacional saberá de que forma auxiliar o aluno nas dificuldades encontradas,
através do acompanhamento do que foi realizado com ele. Este deverá ser
cuidadosamente planejado, de acordo com as individualidades observadas em cada
caso. Teorias de aprendizagem, autores que escrevem sobre o assunto, estudiosos
que relatam suas experiências devem auxiliar na busca de soluções para amenizar
os entraves que ocorrem com alunos problemáticos. É comum não acertar na ação,
mas existem muitas formas de buscar auxílio, principalmente através de feedback,
onde podemos buscar novas formas de atuar.
O grau de eficiência ou ineficiência do Orientador, vai depender do seu
relacionamento e integração com a direção, supervisão, professores, alunos, pais e
comunidade em geral. No momento em que existem relatórios, anotações,
depoimentos sobre as dificuldades encontradas, pode-se inserir no planejamento de
ações, um posicionamento de toda a equipe. Muitas vezes a busca de referenciais
teóricos auxiliarão a traçar diretrizes mais eficazes na solução do problema.. Ao se
tratar de seres humanos, não se pode ir somente pela intuição, pelos caminhos
aprendidos até então; existem muitas formas diferentes de atuar, que também
chegarão em lugares com novas paisagens e novas perspectivas.
Acredito na importância de desenvolver nos alunos a capacidade de
compreender que cada um pode mudar, buscando através do diálogo, a construção
de uma consciência de respeito, a fim de resgatar valores que são essenciais no
convívio escolar. Esta capacidade só poderá se desenvolver quando houver um
trabalho específico que a tornará possível. Aprender a aprender é aprender para a
vida, para sempre. Buscar novos caminhos significa crescer e quem cresce se torna
um cidadão útil para si e para sociedade.
O amor e o respeito ao aluno produz no espaço escolar uma relação humana
carregada de beleza, de prazer e de diálogo. Este tem uma conotação de auto-
análise, direcionada para uma vida plena, de desafios e de buscas.
Paulo Freire nos diz que:
15
Sendo fundamento do diálogo, o amor é, também, diálogo. Daí que seja
essencialmente tarefa de sujeitos e que não possa verificar-se na relação
de dominação. Nesta, o que há é patologia de amor: sadismo em quem
domina; masoquismo nos dominados. Amor, não. Porque é um ato de
coragem, nunca de medo, o amor é compromisso com os homens. Onde
quer que estejam estes, oprimidos, o ato de amor está em comprometer-se
com sua causa. A causa de sua libertação. Mas, este compromisso, porque
é amoroso, é dialógico.
Como ato de valentia, não pode ser piegas; como ato de liberdade, não
pode ser pretexto para a manipulação, senão gerador de outros atos de
liberdade. A não ser assim, não é amor.
Somente com a supressão da situação opressora é possível restaurar o
amor que nela estava proibido.
Se não amo o mundo, se não amo a vida, se não amo os homens, não me
é possível o diálogo. (FREIRE, 2005, p. 92).

O diálogo é então a base do método de Freire, mas o que é o diálogo?O autor


fala de uma relação de comunicação, de intercomunicação, que gera a crítica e a
problematização, uma vez que é possível a ambos os parceiros perguntar: “por
quê?”. Ele nutre-se da esperança, da confiança, da humildade e da simpatia. É uma
relação horizontal, ao contrário do anti-diálogo nascido das relações verticais em
que um fala e o outro ouve. O anti-diálogo não é capaz de gerar a crítica, pois por
ser arrogante, desamoroso, auto-suficiente gera o medo que intimida e aliena. Ao
invés de comunicar, o anti-diálogo faz comunicados. Isto precisa ser trabalhado no
contexto escolar.
Ao analisar melhor o fenômeno humano do diálogo, Freire constata a
necessidade de analisar a palavra como um meio para que o diálogo aconteça.
Quem dialoga, dialoga com alguém e sobre algo. O conteúdo do diálogo é
justamente o conteúdo programático da educação, e já na busca desse conteúdo ele
deve estar presente.
Na visão de Freire, o diálogo nos leva a ser mais. Através dele ocorre um
processo de conscientização da realidade de si mesmo, do seu mundo e de suas
relações com o mundo. Tem significação precisa porque os sujeitos dialógicos não
apenas conservam sua identidade, mas a defendem e assim crescem um com o
outro. Freire aponta o diálogo como um nivelamento, não reduz um ao outro. Nem é
favor que um faz ao outro. Nem é tática manhosa, envolvente, que um usa para
confundir o outro. Implica, na visão do autor, um respeito fundamental dos sujeitos
nele engajados. Nele, a participação entre as pessoas ocorre a partir e em função
dos problemas que se são enfrentados em conjunto. Os problemas que emergem da
vida e da prática social se tornam, portanto, o objeto principal de conhecimento, o
16
conteúdo próprio da prática educacional. Na busca de compreender e resolver os
problemas que surgem da própria prática, as pessoas discutem, trocam opiniões e
experiências, buscam informações e elaboram novos conhecimentos. O diálogo
sobre os problemas vividos se torna, pois, a base principal de aprendizagem e de
elaboração teórica, que se faz de maneira estritamente ligada à prática. Esta
posição de Freire, concretiza a minha maneira de ver esta necessidade na ação
desta Orientadora.
Todos os seres humanos são dotados de razão e estão voltados para uma
ardente busca do certo, do justo e do verdadeiro. O diálogo pode ser travado entre
duas ou mais pessoas de categoria social idêntica ou não, pouco importando se a
comunicação é ascendente, descendente ou lateral. Dialogando nos tornamos mais
civilizados, diz o autor.
Complexos e sofisticados meios de comunicação estão presentes em nossa
sociedade, mas isso não é suficiente para que se consiga uma linguagem comum e
clara, capaz de dar condições para o diálogo aberto e produtivo. A interação social
baseia-se na intercomunicação, que se metodiza em forma de diálogo. Participar é
dialogar, é comungar interesses, sentimentos e idéias; é compartilhar experiências e
interesse; é viver em comunidade. Contudo, a participação não é somente
espontânea, muitas vezes ela é e pode ser programada em qualquer tipo de
organização ou instituição. Afinal de contas, participar é uma das grandes
aspirações humanas, nem sempre correspondida por aqueles que detêm o poder.
Neste caso em análise, falta esta interação com a clientela alvo. A Orientadora não
detém o poder. Ela está apenas intermediando uma situação de necessidades. Ela
pode e deve buscar a ação conjunta.
Gadamer afirma que:
“O diálogo possui uma força transformadora. Onde um diálogo é bem
sucedido, algo nos ficou e algo fica em nós que nos transformou”. (2000, p. 134).
O autor afirma que toda educação é uma ação interativa: se faz mediante
informações, comunicação, diálogo entre seres humanos. Em toda educação há um
outro em relação. O ensino é um processo transitivo, ou seja, como deviam ser
todas as relações humanas: homens e mulheres, negros e brancos, classes e
classes, países e países. Mas esses diálogos, se não forem carinhosamente
cuidados ou energicamente exigidos, bem cedo se transformam em monólogos, nos
17
quais apenas um dos “interlocutores” tem direito à palavra: um sexo, uma classe,
uma raça, um conjunto de países. E os outros são reduzidos ao silêncio, à
obediência. Como o autor Gadamer fundamenta esta questão, posso concluir que
esta primeira Orientadora entrevistada deixa muito a desejar na sua atuação
enquanto Orientadora.

2.2.2 Segunda Orientadora entrevistada

A segunda Orientadora Educacional entrevistada é de uma escola de Rede


Estadual, em cujo trabalho vejo circunstanciais diferenças. Apontou facilidades que
ela encontra no que diz respeito à direção, que é aberta, disponível, preparada. Há
respeito e valorização pelo seu trabalho. Como a Orientadora anterior, destaca como
dificuldade a falta de participação da família. Em relação à imagem que tem perante
a comunidade escolar, é muito positiva, pois os alunos aprovam a forma como o
trabalho é desenvolvido. Considera que a Orientação Educacional na escola é
importante devido ao papel de interagir, de ajustamento, de integração, de ajuda, de
auxílio, de fazer pensar e refletir e de estar presente em cada situação.
Diferentemente da primeira Orientadora, o acompanhamento das dificuldades das
turmas é feito por: liderança, contrato de convivência (no papel, por escrito) –
elaborado e cobrado, hábitos de estudo bem estabelecidos, contato direto com a
família, através de chamamento à escola, conselhos de classe – avaliação e auto-
avaliação das turmas. Os limites são trabalhados. O projeto coletivo é questionando:
Escola, Para quê?, o foco é a escola que temos e a que queremos. O principal
instrumento utilizado é a observação direta em sala de aula. A entrevista com os
alunos, com a família e com os professores são contrapostos, para que haja uma
ação conjunta na busca de soluções. . Quando necessário é feito o encaminhamento
para especialistas, para o Conselho Tutelar, junto com fichas de encaminhamento
como: FICAI – Ficha do Aluno Infreqüente; IAF – Infância Adolescência e Família;
CAE – Centro de Atendimento ao Estudante e formulário de psiquiatria. Há também
encaminhamentos para o posto do SUS. Os acompanhamentos são feitos através
de registro. Cada aluno tem uma ficha de acompanhamento. Cada turma tem uma
lâmina com o controle do rendimento escolar. Na classificação por dificuldades, há
aulas de reforço no turno inverso. A clientela atendida são alunos do 1º ano até a 8ª
18
série. Há acompanhamentos em grupos e individuais. A Orientadora destaca que o
retorno é positivo, mas sempre espera mais das famílias. O Conselho de Classe é
realizado primeiramente com os professores e pais, de forma participativa e logo em
seguida, realiza-se um conselho de classe obtido no encontro com os pais e com a
equipe diretiva da escola, onde são debatidos os resultados e apontadas estratégias
de soluções. A Direção e a Orientação Educacional trabalham em perfeita harmonia
e estreita colaboração, movidas ambas por objetivos comuns, para que haja um bom
desempenho na escola.
Me vejo refletida nesta Orientadora. Apresenta uma linha organizada e
planejada. Referente aos registros dos alunos, acrescento que esta Orientadora é
privilegiada. Ela tem uma ficha de cada aluno que é atendido pelo setor. Nela
encontram-se todos os dados do aluno e suas dificuldades, diferentemente da
primeira que não tem nada concreto para ser visualizado e apresentado às pessoas
interessadas, ou seja, pais, professores e equipe diretiva. Os casos são
acompanhados, buscando estratégias. Os alunos são realmente prioridade para ela,
o que não foi comprovado na primeira entrevistada.

2.2.3 Terceira Orientadora entrevistada

A terceira Orientadora Educacional entrevistada é de uma escola de Rede


Comunitária. As facilidades encontradas são as trocas de idéias entre a equipe
diretiva da escola e a participação das famílias na discussão dos problemas
apresentados pelos filhos na escola. A única dificuldade encontrada pela
Orientadora é tentar resgatar os valores nas famílias. Há inversão de valores: a
honestidade, valor fundamental num convívio social, não é priorizado nem pela
mídia e nem a família reforça a sua preservação. Ao sumir material de colegas e da
escola em geral, não existe um movimento para resgatar este valor. Não existem
campanhas que valorizem a honestidade, a verdade, a justiça, o respeito, a
amizade, fundamentais no convívio em sociedade. O SOE apresenta uma imagem
de apoio, está sempre pronto para atender e trocar experiências. A Orientação
Educacional na escola é importante, pois é essencial para o auxílio, para ajudar as
famílias e os professores. Segundo ela, o acompanhamento das dificuldades das
turmas é feito primeiramente através de um diagnóstico para detectar a dificuldade,
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trabalhos individuais (atividades), encaminhamento para um especialista, trabalho de
prevenção, triagem com dificuldades da fala, da parte motora. Este
acompanhamento é realizado durante todo o ano. A Orientadora em questão não
utiliza nenhuma ficha como instrumento; pelo contrário, há um polígrafo contendo a
ficha do aluno. Ela imprime a ficha e encaderna. Há encaminhamentos ao Conselho
Tutelar quando necessário. O único convênio que a escola tem é com uma Clínica
Terapêutica chamada SER. Os acompanhamentos são feitos através de registros
por todo o ano, aula de reforço com voluntários, no turno inverso. A clientela
atendida são alunos do pré até a 6ª série. Na sala de aula, o professor lê,
juntamente com o aluno, seu desempenho. O professor tem um diário; o aluno é
acompanhado também pelo caderno em dia. O retorno é positivo tanto do aluno
quanto da família. Em relação ao conselho de classe, nesta escola a Orientadora
optou por não haver conselho de classe participativo, pois, segundo ela, este tipo de
conselho é muito constrangedor para as famílias. Ocorre então, conselho de classe
na sala de aula com a turma (individual por aluno) e por último com a equipe diretiva
da escola e professores.
Quando se decide fazer algo, está se realizando uma escolha, manifestando
prioridades; evocam-se então, certos motivos para justificar as decisões, os valores.
Com isso, designa-se um sentido muito amplo ao que é bom, útil, positivo, ou algo
que se deve realizar. Valores são a justiça, o amor, a solidariedade. São critérios
segundo os quais se valorizam ou desvalorizam as coisas; contudo são também
razões que justificam ou motivam as ações, tornando-as preferíveis a outras; por
isso os valores reportam-se, em geral, sempre em ações que as justificam. Nos dias
atuais estamos vivendo uma intensa crise de valores. As pessoas vivem com medo
e mostram-se descrentes em relação à capacidade das instituições.
A sociedade atual tem levado os indivíduos a se mostrarem indiferentes ou
indecisos quanto às regras que devem seguir e, com isso, garantir a harmonia social
e a individual. As pessoas julgam-se perdidas quando chegam a refletir sobre o
amanhã que sonham para si e para seus semelhantes mais próximos. Por não
saberem ou não refletirem sobre o quê e em quem acreditar, os pais sentem-se
ignorantes quanto à maneira como devem educar seus filhos. Afinal, convencidos,
enganados ou simplesmente perdidos diante dos vários conhecimentos com que são
constantemente bombardeados pela mídia e muitas vezes com informações
20
contraditórias, vêem-se incapazes de ensinar aos seus filhos os primeiros passos do
viver em sociedade. Outras vezes os pais até educam, mas o ensinamento é o do
uso da violência como arma para a resolução dos conflitos em vez do diálogo. O
diálogo dentro da família é cada vez mais inexistente. Dificilmente encontramos pais
dispostos ao diálogo no verdadeiro sentido da palavra. O fato é que, nos moldes
atuais, a família não está preenchendo de modo geral as exigências do mundo
moderno.
Os pais não sabem mais como educar, pois agem de maneira oposta às suas
crenças, mesmo quando consideram pertinentes e válidos os valores transmitidos
pela tradição. Acham que valores como honestidade são apontados como ridículos,
porque autoridades que deveriam servir de modelo não demonstram este valor tão
importante e rico no convívio social.
O descuido aos valores aparentemente imutáveis à sociedade atual mudou;
tem-se uma inversão de papéis e valores, mais informações do que se pode
absorver; a mulher trabalha fora; o avanço tecnológico foi grande, a família mudou, a
criança mudou, o aluno e a escola também mudaram e com tantas mudanças, o
normal é gerar confusão e expectativas. Dessa forma, buscam proteger de forma
excessiva os filhos. Os pais podem impedir o desenvolvimento da maturidade
emocional e psicológica, ao invés de desenvolver nos filhos a capacidade de auto-
estima e autonomia para escolhas seguras na sociedade a qual pertencem. Por
outro lado, a família encontra-se num momento de transição, ficando assim, confusa
diante das várias mudanças que vêm ocorrendo na sociedade. Acaba transferindo a
responsabilidade da educação dos filhos somente para a escola, que tem agora a
função de educar seus filhos. Geralmente esta tende a assumir um papel que não é
seu, acarretando equívocos quanto à distinção de papéis na construção de valores
entre família e escola. Sabe-se que cabe principalmente à família o alicerce de
valores e à escola a continuação desta construção e a formação de habilidades para
competências na vida adulta. Portanto, vive-se numa época que aceita como dado
adquirido que os valores estão em crise; não existem mais valores, pois os que
tradicionalmente eram dados como imutáveis, ou foram postos em causa, ou foram
abandonados.
A família é onde, em princípio, qualquer ser humano adquire os seus
primeiros valores. Muitos pais manifestam cada vez mais dificuldade em elegerem
21
um conjunto de valores que consideram fundamentais na educação dos seus filhos.
Observa-se então, que as estruturas familiares estão em crise. É na relação familiar
que os verdadeiros valores se formam e se consolidam. De nada adianta os pais
darem limites, proibir certas atitudes, cobrar respeito ao próximo, exigir que não
falem palavrão, se eles burlam as leis e os valores morais. Suas atitudes valem mais
que mil palavras; seria mais coerente buscar ações simples e concretas que possam
ajudar seu filho a assumir responsabilidades de forma concreta, pois a criança que
aprende a ter responsabilidades desde pequena, enfrenta melhor a escola e a
própria vida.
As profundas alterações que a sociedade moderna tem conhecido não
apenas estimulam o abandono dos valores tradicionais, mas parecem ter conduzido
a humanidade para um vazio dos mesmos. Os valores podem expressar os
sentimentos e o propósito de nossas vidas, tornando-se muitas vezes a base de
nossas lutas e dos nossos compromissos. A cultura, a sociedade e a personalidade
antecedem os nossos valores e as nossas atitudes, sendo nosso comportamento a
sua maior conseqüência.
Segundo o autor Vázquez (2001, p. 146):

Os valores existem para um sujeito, entendido não no sentido de mero


indivíduo, mas de ser social [...]. É o homem que cria os valores e os bens
nos quais se encarnam, independentemente dos quais só existem como
projetos ou objetos ideais. Os valores são, pois, criações humanas, e só
existem e se realizam no homem e pelo homem.

Aqui o autor enfatiza a realização dos valores no próprio homem. É ele que
deve garantir a sobrevivência deles numa sociedade em que todos buscam
harmonia e bem-estar.
Para ele:

Os valores existem unicamente em atos humanos. Tão-somente o que tem


um significado humano pode ser avaliado moralmente [...]. Neste sentido,
podemos qualificar moralmente o comportamento dos indivíduos ou de
grupos sociais, as intenções de seus atos e seus resultados e
conseqüências, as atividades das instituições sociais, etc. (VÁZQUEZ,
2001, p. 149).
22
E é na escola, através da convivência, que se torna possível desenvolvê-los.A
família unida à escola pode garantir que eles se concretizem, buscando formas de
agir em conjunto, unânimes, coesas e persistentes.
Grinspun relaciona o trabalho do Orientador e os valores assim:

[...] o trabalho do orientador tem uma conotação de pluralidade dos


objetivos, que envolve, além dos aspectos pessoais do aluno, os aspectos
políticos e sociais do cidadão. A Orientação, por certo, procurará
compreender e ajudar o aluno inserido no seu próprio contexto, com suas
culturas e seus próprios valores. (2001, p. 14).

O ser humano não nasce com uma moral pronta e definida, ela precisa ser
construída e para isso temos que ter muito claro quais são os valores que formarão
o indivíduo independente de sua ação. Cada indivíduo comportando-se moralmente,
se sujeita a determinados princípios, valores ou normas morais. Mas os indivíduos
pertencem a uma época determinada e a uma determinada comunidade humana
(tribo, classe, nação, sociedade, em seu conjunto, etc.). Nesta comunidade
consideram-se válidos alguns princípios, normas ou valores ainda que se
apresentem com uma formulação geral ou abstrata. O comportamento moral é de
indivíduos quanto de grupos sociais humanos, cujas ações têm um caráter coletivo,
mas deliberado livre e consciente.
O caráter social implica em uma relação entre o indivíduo e o coletivo, por
isso o indivíduo pode agir moralmente em sociedade. Desde a infância sofre a
influência social, formando as idéias morais e seus modelos. O comportamento
moral, manifesta-se na forma de hábitos e costumes. O que foi ao longo de
gerações “é o que é”. E muitas vezes continua a ser seguido. O costume opera de
um modo eficaz de integrar o indivíduo à comunidade, fortalecendo a socialização.
Define-se moral como um conjunto de regras e de valores que têm por
finalidade garantir a convivência humana. Se a moral é um conjunto de limites que
têm por intenção regular as relações entre as pessoas numa determinada realidade
social, então, ela é absolutamente necessária para se garantir a convivência. Sem
ela, todos nós estaríamos condenados ao desaparecimento, já que constantemente
um interferiria no espaço do outro, sem sofrer qualquer tipo de punição reparadora
do elo social momentaneamente rompido. O modo como o indivíduo age
moralmente, ou o seu comportamento moral numa dada situação, não é algo
23
totalmente espontâneo e imprevisto, mas está inscrito como uma possibilidade no
seu caráter. O valor só é tal pela verdade. A vida só é vida pelo seu real valor. O ser
humano procura a verdade, e quando a encontra, tem o valor de sua vida. Sem
dúvida, o maior valor do ser humano seja o de existir e conceber a vida como uma
busca dinâmica dos reais valores numa hierarquia de verdade. O ser humano global
valoriza tudo do menos para o mais, do natural ao sobrenatural, do relativo ao
absoluto, do imperfeito ao perfeito... parte como peregrino em busca de um caminho,
caminhando.
Na arte de aprender e comunicar a verdade, há um longo e árduo caminho a
percorrer que se chama estudo das idéias. A hipocrisia, a mentira, o orgulho, a
ignorância são as situações impossíveis da verdade. É necessária uma convivência
harmoniosa e sadia, capaz de ampliar ou mudar a capacidade de ação e reflexão
das pessoas, de modo a que elas possam tomar consciência de seu emocionar, sem
perder o respeito por si mesmas e pelos outros. Sem auto-aceitação e auto-respeito,
é impossível aceitar e respeitar o outro; e sem aceitá-lo como um legítimo outro de
convivência não há sobrevivência social.
Então, como posso me aceitar e me respeitar, se não aprendi a respeitar
meus erros e a tratá-los como legítimas oportunidades de crescimento e mudança?
Como posso me respeitar, se sempre sofro punições, castigos, quando me
equivoco? Como posso ter auto-respeito, se o valor do que faço é medido pela
referência do que faz o outro em competição comigo? Como posso me auto-
respeitar, se o que faço não é avaliado pela seriedade, compromisso e
responsabilidade de minhas ações? Estas devem ser algumas das questões e
preocupações da ação de um Orientador Educacional. Elas indicam que a tarefa do
Orientador é a formação humana dos alunos. Para que isto se concretize, precisa
haver projetos dentro da escola, que envolvam desde o funcionário, professores,
alunos, pais e comunidade.
Na infância, a criança vive o mundo em que se funda sua possibilidade de
converter-se num ser capaz de aceitar e respeitar o outro, a partir da aceitação e do
respeito de si mesma. Na juventude, experimenta-se a validade desse mundo de
convivência na aceitação e no respeito pelo outro a partir da aceitação e do respeito
por si mesmo; o começo de uma vida adulta social e individualmente responsável
inicia na infância.
24
O autor Maturana (2002, p. 30-33) referente ao respeito, faz-nos refletir sobre:
Que mundo queremos? Um mundo em que os filhos cresçam como pessoas que se
aceitam e se respeitam, aceitando e respeitando outros num espaço de convivência
em que os outros os aceitam e respeitam a partir do aceitar-se e respeitar-se a si
mesmo? Num espaço de convivência desse tipo, a negação do outro será sempre
um erro detectável que se pode e se deseja corrigir. Como conseguir isso? É fácil:
vivendo esse espaço de convivência.
Com isso, na escola, a criança deve aprender a aceitar-se e a respeitar-se, a
ser aceita e respeitada em seu ser, porque assim aprenderá a aceitar e a respeitar
os outros. Se dizemos que uma criança é de uma certa maneira boa, má, inteligente
ou boba, estabilizamos nossa relação com ela de acordo com o que dizemos, e a
criança, a menos que se aceite e se respeite, não terá escapatória e cairá na
armadilha da não aceitação e do não respeito por si mesma, porque depende de
como ela surge: como criança boa, má, inteligente ou boba nas relações. E se a
criança não pode aceitar-se e respeitar-se não pode aceitar e respeitar o outro. Vai
temer, invejar ou depreciar o outro, mas não o aceitará nem respeitará. E sem
aceitação e respeito pelo outro como legítimo outro na convivência não há fenômeno
social.
Uma criança que não se aceita e não se respeita não tem espaço de reflexão,
porque está na contínua negação de si mesma e na busca ansiosa do que não é e
nem pode ser. Como poderá a criança olhar para si mesma se o que vê não é
aceitável, porque assim a têm feito saber os adultos, sejam pais, professores, ou
orientadores educacionais? Como poderá a criança olhar para si mesma se já sabe
que algo está sempre errado com ela, porque não é o que deve ser ou é o que não
deve ser?
Mas a aceitação de si mesmo e o auto-respeito não se dão se os afazeres de
uma pessoa não são adequados ao viver. Como posso aceitar-me e respeitar-me se
o que sei, quer dizer, se meu fazer não é adequado ao meu viver e, portanto, não é
um saber no viver cotidiano?Como posso aceitar-me e respeitar-me se estou
aprisionado no meu fazer, ou saber, porque não aprendi um fazer, ou pensar que me
permitisse aprender quaisquer outros afazeres ao mudar meu mundo, se muda meu
viver cotidiano?Como posso aceitar-me e respeitar-me se o valor do que faço se
25
mede pela referência ao outro na contínua competição que me nega e nega o outro,
e não pela seriedade e responsabilidade com que realizo o que faço?
É difícil na escola esta aceitação e o respeito de si mesmo, que leva à
aceitação e ao respeito pelo outro, assim como a seriedade no fazer? Não, só que
isto requer que os profissionais de dentro da escola saibam como interagir num
processo que não negue ou castigue os alunos, seja pela forma como eles
aparecem na relação, seja porque não aparecem como as exigências culturais
dizem que deve ser. Esses profissionais podem fazê-lo porque, eles também,
respeitam a si mesmo e ao outro. Se aprendi a conhecer e a respeitar meu mundo,
seja este o campo, a montanha, a cidade, o bosque ou o mar, e não a negá-lo ou a
destruí-lo, e aprendi a refletir na aceitação e respeito por mim mesmo, posso
aprender quaisquer fazeres.
Isto também é válido para o adolescente na escola. O adolescente moderno
aprende valores, virtudes que deve respeitar, mas vive num mundo adulto que os
nega. Prega-se o amor, mas ninguém sabe em que ele consiste porque não se
vêem as ações que o constituem, e se olha para ele como a expressão de um sentir.
Ensina-se a desejar a justiça, mas os adultos vivem na falsidade. A tragédia dos
adolescentes é que começam a viver um mundo que nega os valores que lhes foram
ensinados. O amor não é um sentimento, é um domínio de ações nas quais o outro
é constituído como um legítimo outro na convivência. A justiça não é um valor ou um
sentimento de legitimidade: é um domínio de ações no qual não se usa a mentira
para justificar as próprias ações ou as do outro.
A escola, a família conscientiza o educando a compreender o conceito de
justiça, a fim de sensibilizar o mesmo da necessidade de se construir uma sociedade
justa e mais humana. Adotando por exemplo, atitude de respeito entre as pessoas.
Respeito esse, necessário para o convívio numa sociedade democrática.
A definição da amizade é curiosa porque não sabemos exatamente se a
amizade é uma virtude ou algo que pressupõe a existência de virtudes, sendo,
então, uma conseqüência da vida virtuosa. Na verdade, não há ambigüidade na
definição porque, de fato, a amizade é uma virtude, é condição da vida virtuosa e é
conseqüência da vida virtuosa. O filósofo Aristóteles diz que “sem amigos, a vida
não vale a pena ser vivida”.
26
O que é a amizade? É benevolência mútua, cada um desejando o bem do
outro; benevolência que não pode permanecer ignorada, mas deve ser conhecida e
reconhecida pelas partes envolvidas na relação; e tem como condição e finalidade a
virtude, jamais a utilidade ou a obrigação. Só pode existir entre os iguais e
semelhantes por caráter, isto é, somente entre os virtuosos.
Segundo a autora Marilene Chaui (2002, p. 461):

A amizade perfeita é aquela entre os virtuosos que são semelhantes na


virtude, pois tais amigos desejam-se reciprocamente o bem enquanto são
bons e são bons por si mesmos. Porém, os que desejam o bem a seus
amigos por amor a eles são os amigos por excelência, [...], sua amizade
persiste enquanto forem bons e a virtude é uma disposição estável. Cada
um é bom, simultaneamente, de modo absoluto e para seu amigo, pois os
bons são, ao mesmo tempo, absolutamente bons em si mesmos e úteis
uns aos outros [...]. São agradáveis uns aos outros, porque cada um
encontra prazer nas ações que exprimem seu caráter e nas que são de
mesma natureza que ele [...]. Toda amizade, com efeito, tem como fonte o
bem ou o prazer, seja em sentido absoluto, seja para aquele que ama, isto
é, em razão da semelhança.

Os maus, diz Aristóteles, “não sentem o menor prazer na companhia uns dos
outros e não se unem para se fazerem reciprocamente o bem”.
A amizade pressupõe que cada amigo deseje a mesma coisa: fazer
desinteressadamente o bem ao amigo, desejar-lhe longa vida, desejar viver em sua
companhia, compartilhar as mesmas idéias, opiniões e gostos, compartilhar alegrias
e tristezas, isto é, deseja ao outro o que deseja para si próprio.
No caso desta análise, os projetos idealizados no contexto escolar, priorizam
estes valores importantes para uma convivência sadia. Esta Orientadora adotou
outra forma de obter dados dos alunos e conseguir trabalhar satisfatoriamente.
Detecta as dificuldades através de um diagnóstico, que, aliás, no meu ver, é
importantíssimo para o Orientador Educacional.
Segundo afirma Gandin:
“O diagnóstico é a pedra de toque do planejamento”. E devemos utilizá-lo
“como elemento de transformação”. (GANDIN, p. 54). De um simples diagnóstico,
podemos perceber qual o problema que aflige o aluno.
Quando a autora Clarice Monteiro diz que:
“É no momento do diagnóstico que o Orientador Educacional deve organizar
sua ação de forma a engajar todos os envolvidos, trazendo para o interior da escola
27
a realidade concreta do aluno e da comunidade”. (PROSPECTIVA nº 22, p. 35), ela
reafirma todo o comprometimento que deve existir no contexto da escola. Cabe a
nós, Orientadores Educacionais não apenas fornecer a informação, mas mobilizar a
todos (professores, alunos, pais, funcionários) para a investigação da realidade.
Teremos muito a contribuir com um riquíssimo material, que são os registros dos
acontecimentos e das intervenções realizadas nas reuniões de professores,
reuniões de pais, conselhos de classe, trabalhos de grupos com alunos, com
funcionários e reuniões da equipe diretiva da escola.
É importante mobilizar os diversos segmentos para contribuírem com o
planejamento, pois se cada sujeito que é parte do coletivo, traz suas observações e
interpretações sobre o que ocorre na Escola, esse espaço vai ficando mais claro;
registrando e fazendo levantamentos e interpretações sobre o que está ocorrendo, à
luz de um referencial teórico, estaremos trabalhando com pesquisa-ação. Clarice
Monteiro ainda afirma que:

Alunos, pais, professores e funcionários vão identificando suas sugestões


para superar os obstáculos que irão surgindo. Sentem-se ouvidos e
respeitados. E é nosso papel lutar para que assim seja. Criar condições
para que eles percebam que são atores e não expectadores.
(PROSPECTIVA nº 21).

Para muitos orientadores o diagnóstico constitui-se na tarefa essencial da


orientação, desde que a formulação do diagnóstico conduza a prognósticos que
tenham por finalidade permitir ao orientando tomar decisões prudentes.
À medida que se vão acumulando dados, conhecendo-se detalhes sobre o
desenvolvimento do aluno, sua história, associados à natureza de suas relações
interpessoais e aos resultados das entrevistas e observações, tem o orientador a
possibilidade de complementar detalhes sobre a imagem formada inicialmente, bem
como a elaboração de um diagnóstico preciso de sua real situação conflitiva.
Pode-se afirmar que o diagnóstico constitui-se em um processo em
desenvolvimento, onde o orientador capta a significação do momento, de tal forma
que se estabeleça uma relação entre diagnóstico e assessoramento. Será sempre,
através do contato direto com o aluno, que o Orientador Educacional conhecerá a
sua realidade interior, bem como a realidade situacional conflitiva do outro e assim
28
juntos poderão buscar, além da resolução dos problemas que afligem o orientando,
a auto-realização de suas personalidades.
O polígrafo, usado pela Orientadora em questão, com as fichas de todos os
alunos, não é aconselhável existir, uma vez que pode ser manuseado por várias
pessoas e o aspecto sigiloso fica comprometido. Dados sigilosos não podem ficar
guardados por muito tempo, nem expostos para manuseio de pessoas que não
estejam diretamente ligadas ao aluno em questão. Polígrafos reúnem informações e
dados de vários alunos. Se um professor manuseá-lo, terá acesso a outros que não
são alvo dele.
Giacaglia afirma que:

O sigilo das informações constantes dos prontuários dos alunos deve ser
igualmente preservado. Assim, questionários preenchidos com dados mais
íntimos sobre o aluno e seus familiares; resultados de entrevistas e de
testes e opiniões de professores sobre determinado aluno devem ser
mantidos fora do alcance de pessoas que, propositada ou casualmente,
possam chegar a eles. Por esse motivo, tais dados devem ser arquivados
no SOE em local seguro, com chave, ao qual apenas o Orientador
Educacional tenha acesso. (1997, p. 9-10).

O diário de classe do professor também desempenha um papel importante


para o planejamento, pois este se faz e se refaz, dinamicamente, na prática. Como
defende Madalena Freire (1983, p. 77):

O diário torna-se importante instrumento de reflexão constante da prática


do professor. Através dessa reflexão diária ele avalia e planeja sua prática.
É também importante documento, onde o vivido é registrado, com a
colaboração dos alunos. Neste sentido, educador e educando, juntos,
repensam sua prática.

2.2.4 Quarta Orientadora entrevistada

A quarta Orientadora Educacional entrevistada é de uma escola de Rede


Municipal. As facilidades encontradas são os relacionamentos com os alunos e com
as famílias. A dificuldade encontrada é o apoio dos especialistas. Segundo a
Orientadora, todos que fazem parte da escola têm uma imagem positiva do trabalho
desenvolvido pelo SOE e acreditam neste trabalho. A importância da Orientação
Educacional na escola é definida pela Orientadora, a partir do relacionamento
29
estabelecido com a equipe de trabalho e com os alunos. Vê o Orientador
Educacional como um facilitador e mediador. O acompanhamento das dificuldades
das turmas é feito através de reuniões mensais, ficha para os professores
apresentarem as dificuldades de seus alunos. Há, na sala de aula, um
acompanhamento, onde a turma faz sugestões, tanto para o professor como para a
turma em si. Dependendo de cada caso, há uma intervenção por parte da
Orientação. Os instrumentos utilizados pela Orientadora são: ficha, pasta dos alunos
que são indicados pelos professores, a participação verbal do Conselho Tutelar,
quando necessário. A FICAI, é a maior preocupação da Orientadora em questão,
pois a ficha do aluno é encaminhada e a escola não obtém nenhum retorno. Os
acompanhamentos são feitos através do registro do aluno que está identificado na
sua pasta. No laboratório de aprendizagem, os alunos de 1ª à 4ª séries possuem
uma ficha das dificuldades, que são apresentadas no setor de Orientação da escola.
Com os alunos de 5ª à 8ª séries, a Orientadora fala diretamente com a turma. Na
escola, a clientela atendida são alunos desde o 1º ano até a 8ª série. Há um
planejamento em grupos. Na maior parte das vezes o retorno é satisfatório. O
conselho de classe é participativo e com os professores.
Organização e planejamento é o lema desta Orientadora. Os registros dos
alunos são organizados em uma pasta. O laboratório de aprendizagem auxilia o
setor de Orientação da escola apresentando as dificuldades dos alunos e isto, tem
uma importância fundamental para a Orientação Educacional, pois com a
intersecção de outros setores da escola, fica mais fácil o trabalho. Promover uma
ação integradora entre a escola e seus membros, para a construção do processo
educativo como um todo, é talvez a mais importante das atribuições do Orientador
Educacional.
Segundo a autora Ribeiro:
“A Orientação deve se constituir em um trabalho de equipe, feito por todos os
membros da Escola”. (1994, p. 17-18). O trabalho deve ser conjunto e o Orientador,
para o bom desempenho de suas funções, precisa relacionar-se de maneira
construtiva, tanto com a direção, como com os professores, alunos, pais,
funcionários e comunidade. A Orientação Educacional deve mobilizar cada membro
da escola para que seus serviços sejam requisitados e se alcance o objetivo
principal: ajudar o aluno a aprender.
30
2.2.5 Quinta Orientadora entrevistada

A quinta e última Orientadora Educacional entrevistada é de uma escola de


Rede Particular. Ela começou a trabalhar no setor de Orientação este ano. Na sua
concepção, não encontra dificuldades no seu trabalho e atualmente sente-se muito
feliz como Orientadora. A imagem que o setor de Orientação passa é muito positiva,
pois os setores se ajudam muito. O SOE procura sempre orientar quando solicitado.
Segundo a Orientadora, a importância da Orientação Educacional na escola é poder
orientar os professores, os pais nas dificuldades dos seus filhos, com o objetivo de
investigar algum distúrbio de comportamento. Agressividade, falta de limites quando
relacionados com o desenvolvimento emocional, dificuldades de relacionamento
com professores e colegas, dificuldades na aprendizagem, problemas familiares,
dificuldades na fala, imaturidade para a série que freqüenta, desadaptação escolar
são os principais motivos dos encaminhamentos. Às vezes a solicitação da família
também é atendida. O acompanhamento das dificuldades das turmas é feito através
da solicitação dos professores conselheiros e entrevista com os líderes de turma. No
que diz respeito aos instrumentos utilizados, a Orientadora informou que quando os
alunos são encaminhados para o setor de Orientação, é pedido aos professores
conselheiros observar os alunos bem em sala de aula, conversar com a
coordenação sobre a situação observada, comunicar aos pais os motivos do
encaminhamento. E por último, preencher a ficha do encaminhamento com dados
sobre o aluno. Com as turmas da Educação Infantil ao Ensino Médio trabalha-se
através de sessões já programadas no planejamento do serviço de Orientação. O
aluno encaminhado é acompanhado individualmente. São realizadas avaliações
conforme a série do aluno. A clientela são alunos da 3ª à 4ª séries; da 7ª e 8ª séries
do Ensino Fundamental e do 1º ano do Ensino Médio. Após feita as avaliações com
o aluno, é solicitada a presença dos pais na escola para dar-lhes o retorno da
avaliação. Há uma conversa também com os professores conselheiros. Caso
necessite, o SOE encaminha para uma avaliação com o especialista.
Esta Orientadora, por sua vez, está aos poucos se adaptando à função, mas
a organização é uma das suas características. Ela trabalha em etapas: primeiro, os
professores observam os alunos, relatam para a coordenação a situação observada.
Os pais são comunicados e por último, preenche a ficha do aluno. Há também a
31
participação positiva dos outros setores da escola. A adaptação em qualquer
ambiente sempre é difícil, mas com a ajuda de pessoas colaborando, torna-se
agradável de se trabalhar.

2.3 Considerações sobre a realidade das Orientadoras entrevistadas

Analisando as entrevistas destas Orientadoras de diferentes Redes de


Ensino, constatei que o fator preocupante entre elas na atualidade é a falta de
participação das famílias na escola. Não é de hoje que isto ocorre. Há muito tempo a
Escola convive com este problema. Apesar de detectado, não houve, até hoje, uma
forma de resolver, ou minimizar esta problemática. Os pais estão cada vez mais
exigentes e menos participativos.
Pergunto-me então, qual será o motivo da falta de participação das famílias?
Será que as escolas estão atraindo de alguma forma as famílias para que elas
participem satisfatoriamente? Ou estão afastando cada vez mais devido ao mau
atendimento de alguns profissionais da escola? Existe um preparo do profissional
para interagir com os pais na busca de soluções? Ou a ida do pai à escola se
transforma num momento de queixas e de críticas? Onde se busca uma solução
junto com os pais?
A educação para todos, como forma de democracia, tem trazido para a escola
um conjunto diferente de alunos quanto à origem socioeconômica, à etnia, aos
valores, às demandas e necessidades; e a escola, tanto em relação à sua
organização como em relação aos docentes, não se encontra preparada para
recebê-los.
A família não ficou imune às mudanças sociais e tem delegado para a escola,
cada vez mais, funções educativas que historicamente vinha exercendo, tais como a
formação de valores morais, a criação e o fortalecimento de vínculos, a colocação
de limites, entre outras.
As funções do Orientador Educacional e do setor de Orientação Educacional
da escola estão sendo repensadas na direção de um trabalho articulado e integrado,
e, neste caso, funções que eram atribuições exclusivas da Orientação Educacional,
como o trabalho com os pais e com a família, sobretudo para colocá-los a par da
situação escolar de seu filho, hoje estão ampliadas. A participação dos pais na
32
escola pode ocorrer, individualmente, no sentido de buscar e receber orientações
sobre a caminhada escolar do filho; e, coletivamente, quando eles podem contribuir
com a gestão da escola, como membros do conselho escolar, da associação de pais
e mestres ou de outra forma de participação prevista no projeto político-pedagógico
da escola.
Este fato mostra-nos que, geralmente, vivemos uma crise que envolve família
e escola: esta, abrindo espaços de participação para uma comunidade que ainda
não está habituada à prática participativa; a família, exigindo da escola o que ambas
ainda não sabem como resolver; e a Orientação Educacional, revendo suas funções
em relação ao trabalho com os pais.
Acredito que a relação família-escola deva ser uma relação de parceria. A
parceria constitui o encontro de diferentes para realizar um projeto comum. A
parceria em questão é a educação da criança ou do adolescente, filho e aluno, o que
significa assumir juntos essa educação. A relação de parceria supõe confiança
mútua e cumplicidade, isto é, conversas, trocas, discussões dos problemas e
solução conjunta das decisões tomadas.
Essa tarefa não está isenta de dificuldades e conflitos, pois as estratégias
educativas adotadas pelas famílias podem se apresentar complementares às da
escola, mas podem também ser distintas, uma vez que toda tomada de posição é
caracterizada por concepções, valores, contextos socioeconômicos e modelos
educativos diversos. Deste modo, teremos alunos e pais atuando de acordo com
padrões de comportamento que poderão, ou não, ser os da escola, bem como trazer
expectativas diferenciadas e, muitas vezes, difíceis de ser conciliadas.
Para que o trabalho de parceria se efetive, é necessário que escola e família
se dêem a conhecer mediante o exercício do diálogo, a fim de estabelecerem
estratégias educativas comuns.
Um dos responsáveis por essa intervenção e pela mediação dos possíveis
conflitos entre a escola e as famílias é o Orientador Educacional. Suas ações
alcançarão as metas de maneira satisfatória, sem preconceitos e com boa
qualidade.
Escola e família têm os mesmos objetivos: fazer a criança se desenvolver em
todos os aspectos e ter sucesso na aprendizagem. Com a parceria da família, na
escola com certeza, melhora o rendimento dos alunos. Para a relação ser
33
duradoura, tem de se basear em respeito. Preconceito, portanto, não pode existir.
Falar em família desestruturada ou desajustada não faz sentido quando se analisa a
realidade atual. Grande parte das famílias presentes no cotidiano das escolas não
corresponde à imagem de família bonita, boa, harmoniosa, desejável, veiculada pela
mídia, sobretudo nas propagandas. O que temos encontrado são famílias com
composições diferentes desse modelo nuclear idealizado, constituídas a partir das
situações reais e não ideais. A principal característica da família é a capacidade de
seus membros de manter e educar seus dependentes para a vida, segundo
princípios éticos, culturais e legais. Os vínculos biológicos (ser o pai ou a mãe),
jurídicos (matrimônio formal ou não), afetivos (amor), domiciliares (morar sob o
mesmo teto) ou econômicos (dependência financeira) podem existir juntos ou
isoladamente. Devemos derrubar a primeira barreira que impede uma convivência
eficiente: o fato de muitas vezes a escola achar que uma família, por não
corresponder aos padrões tradicionais, não é capaz de cuidar da formação de seus
descendentes.
A família é o primeiro grupo com o qual a pessoa convive e seus membros
são exemplos para a vida. Cada um tem seus direitos e deveres que precisam ser
respeitados e praticados. A família é importante na preservação dos valores
permanentes. A sociedade será o que forem as famílias. Os costumes e os
princípios das famílias influirão na sociedade. O comportamento das famílias
caracteriza-se conforme a camada social a que pertencem. Dessa maneira, muitos
pais presentes na rede particular de ensino, devido à situação econômico-financeira
e à escolaridade privilegiadas, tendem a se relacionar com a escola como
consumidores de um serviço, fazendo críticas e cobranças que aqueles da rede
pública não se arriscariam a fazer, pois relacionam-se com a escola de maneira
obediente e submissa. Essa situação precisa ser revista e a equipe escolar deve
posicionar-se, pois parte daí o norteamento da maioria das ações e intervenções da
Orientação Educacional junto às famílias. Um importante papel que a escola deve
repensar é o dos filhos neste contexto. Hoje os direitos são muito mais evidenciados
do que os deveres. O resultado é o que vemos na mídia.
É na família que o ser humano começa a se desenvolver e se preparar para a
vida em sociedade. Ela é um pequeno grupo social onde vamos aprendendo a amar
e ser amado, respeitar e ser respeitado, a cooperar, a ter o espírito de sacrifício
34
necessário para enfrentar os problemas da vida. O ser humano precisa de amor,
compreensão, afeto, atenção e a família é um ambiente social capaz de atender a
essas exigências na formação da criança e do jovem.
No que diz respeito à Educação, se essas pessoas demonstrarem curiosidade
em relação ao que acontece em sala de aula e reforçarem a importância do que está
sendo aprendido, estarão dando uma enorme contribuição para o sucesso da
aprendizagem. Mostrar isso às famílias é tarefa dos educadores. Para tanto, é
preciso um trabalho de conquista. Só que é impossível haver aproximação quando
só são marcados encontros para falar de problemas. Isso causa antipatia e repulsa.
O bom relacionamento deve começar na matrícula e se estender a todos os
momentos. O importante é que os familiares se engajem totalmente: Os mais
comprometidos, ainda que sejam minoria, têm capacidade de influenciar o restante
da comunidade e mudar a escola. E essa mudança pode ser o segredo do sucesso
para uma relação duradoura e com final feliz.
Para um bom relacionamento com a família, destaco algumas atitudes que
considero essencial:
☺Conhecer a família dos alunos e a comunidade que pertence à escola.
Assim todos se sentem mais integrados à escola.
☺Aceitar as diferentes formas de famílias. Não existem mais só famílias
tradicionais.
☺Observar atitudes e rotinas dos estudantes, sem julgar. As escolhas de
valores são da família e devem ser respeitadas, se não houver danos à criança. Em
caso de atitudes inadequadas, como falta de higiene ou cuidados com a saúde,
divulgar alternativas.
☺Saber quais são as reais necessidades das famílias antes de planejar
palestras, cursos ou atividades.
☺Ouvir os responsáveis familiares e estar aberto a críticas e sugestões.
☺Orientar os funcionários da escola sobre a importância da participação dos
pais na educação, para todos os receberem bem.
☺Conversar com os familiares sobre as conquistas dos alunos e não só
sobre as dificuldades.
☺Mostrar a rotina da escola e a importância de ela ser seguida para o
sucesso da aprendizagem.
35
☺Evitar sobrecarregar a família com atividades de complementação do
ensino: pedir apoio e incentivo.
As ações de parceria nas relações família-escola, quando se pretendem
transformadoras da situação vigente, precisam considerar a complexidade dos
universos escolar e familiar, a sociedade na qual estão inseridos e a capacidade e a
disponibilidade do Orientador Educacional para ouvir, escutar, saber fazer, tolerar,
dialogar e buscar parcerias.
Quando as crianças são pequenas, o interesse da família pela vida escolar é
maior: os responsáveis querem saber como elas se comportaram na aula e as
conquistas que fazem. O tempo passa, as crianças crescem e ficam mais
independentes. Os adultos acham que o adolescente já sabe cuidar de si e não
precisa de tutoria. Engano: Quanto mais autonomia tem o jovem, mais a parceria
entre família e escola deve se fortalecer. É nessa fase que os jovens vão construir a
identidade e seu projeto de vida, tarefas nada fáceis. Por isso, quanto mais esses
dois pilares estiverem em sintonia, mais fácil fica para eles planejarem o futuro.
Participar de reuniões e se informar sobre os aprendizados continua sendo
fundamental, mas é hora de os responsáveis ficarem atentos às mudanças de
comportamento e comunicarem a escola. Esta, por sua vez, deve promover
atividades recreativas que possam ser praticadas ou apreciadas conjuntamente,
como jogos, shows de música, teatro, onde a participação dos filhos atrai a presença
dos pais. É importante criar espaços para discutir valores e promover o jovem em
ações sociais, campanhas comunitárias e a educação para o mundo do trabalho. O
contato amistoso e freqüente com as famílias dos alunos é fundamental neste
trabalho. Conquistar sua confiança, orientá-la quanto a educação dos filhos e as
maneiras de colaborar com a escola são importantes tarefas na conquista da família,
esclarecendo os pais quanto aos verdadeiros objetivos de seu trabalho na escola,
estimulando sua participação nos encontros, reuniões e eventos que acontecem no
decorrer do ano letivo.
Assim vimos que cabe ao Orientador, hoje, uma tarefa, embora muito difícil,
de grande responsabilidade, mas fundamental para a mudança de sociedade que
precisa rever valores, repensar ações e fazer um trabalho conjunto com a família.
Através das entrevistas, percebi que há várias formas de se trabalhar no
Serviço de Orientação Educacional, dentro de uma escola e que cada Orientadora,
36
tem sua maneira, para enfrentar as situações cotidianas; algumas com mais
empenho e dedicação, outras, com menos e ainda hoje, há Orientadora com quase
nenhum registro que possa ajudar a facilitar seu trabalho.
Situações como: família cada vez mais omissa, mais ausente da educação
dos filhos, agressão familiar, família desestruturada, indisciplina dos filhos, presentes
no cotidiano escolar, possibilita para mim, como futura Orientadora Educacional,
grandes desafios de trabalho na relação com as famílias.
3 O QUE DIZEM OS TEÓRICOS SOBRE O ORIENTADOR EDUCACIONAL

O momento atual instiga o Orientador a assumir em sua prática uma nova


abordagem, voltada para a construção de um cidadão mais comprometido com o
seu tempo. Sua ação precisa estar direcionada para compreender o
desenvolvimento do aluno, do ponto de vista cognitivo, da afetividade, da tomada de
decisão, da sua inserção social. Os sentimentos permeiam todo o processo
pedagógico; não existe ação ou pensamento que venha desvinculado dos
sentimentos. O comprometimento com o desenvolvimento do processo pedagógico
da escola e com toda a comunidade escolar é fundamental. Através desta
articulação e reflexão, se constroem novas propostas de ação. O currículo, o
ensinar, o aprender, as ações conjuntas e suas relações decorrentes são
importantes bases para o seu trabalho.
O orientador é um educador consciente, não é alguém alheio e alienado ao
mundo e ao que acontece nele, mas, a ele pertence e nele participa. Essa
consciência permite que ele perceba o que acontece em sua sincronicidade para
então operar, interferir, buscar alternativas e transformar.
Nesse processo se destaca mais uma importância do trabalho do orientador
educacional que é a de promover a integração de todos os profissionais da escola,
conscientizando-os da necessidade da sincronicidade no fazer pedagógico, isto é,
despertarem que em suas ações, está presente a dimensão política que se revela
pela relação ética do educador com a realidade social mais ampla: pela busca de um
relacionamento entre o que faz e a realidade do aluno; a dimensão humano-
interacional que se caracteriza pela relação sócio-afetiva e cognitiva que o educador
busca construir entre ele e o aluno e entre aluno-aluno e pela preocupação em
construir o grupo de educadores e educandos, garantindo um trabalho integrado e
cooperativo na escola; e a dimensão técnica manifestada pelo conhecimento do
38
educador em relação aos conteúdos e técnicas de sua área de trabalho; pela sua
capacidade de planejamento e previsão, pela sua atitude; pela preocupação em
relacionar conteúdo e metodologia à realidade de vida do aluno, selecionando
conteúdos e metodologias que sejam pertinentes aos interesses da comunidade
escolar.

3.1 Visão de Vera Maria Nigro de Souza Placco

Segundo a autora Placco:

O Orientador Educacional é um dos educadores da escola que participa e


propicia uma ação educacional coletiva, assessorando o corpo docente no
desencadeamento de um processo em que a sincronicidade é desvelada,
torna-se consciente, autônoma e direcionada para um compromisso com a
ação pedagógica competente e significativa para os objetivos propostos no
projeto pedagógico da escola. (1994, p. 30).

O Orientador atua junto com os demais professores da escola, participando


de um projeto coletivo, de uma formação de um homem coletivo, procurando
identificar as questões das relações de poder, das resistências dentro e fora da
escola e do como e do porquê devemos agir juntos em prol de uma educação
transformadora e, especialmente, junto aos alunos no desenvolvimento do que
caracteriza sua subjetividade.

3.2 Visão de Mirian Paura Salrosa Zippin Grinspun

O Orientador propicia em primeiro momento, condições mobilizadoras do


meio externo, possibilitando o contato mais próximo do aluno com a realidade.
Referente a isto, Grinspun ressalta que:

A prática do orientador educacional deverá estar centrada na realidade dos


alunos, propiciando-lhes as condições favoráveis à aquisição do
conhecimento e concomitante a esta aquisição, o próprio desenvolvimento.
(2003, p. 154).

Dessa forma, o indivíduo constrói o conhecimento através da elaboração de


relações, as mais abrangentes possíveis. O orientador pode ajudar o aluno na
39
interpretação das ações do meio, na construção da representação mental dessas
ações. Discutindo, refletindo, interpretando o contexto, o orientador pode colaborar
com a passagem do significado do meio externo para as reflexões pertinentes ao
próprio indivíduo.
Para a construção do conhecimento, segundo a autora em foco, três fatores
são importantes: a historicidade - conhecer, interpretar, analisar, e "viver" a história
de seu tempo; a totalidade - identificar as partes para a formação do todo; e a
criticidade - realizar criticamente a leitura de sua formação, de sua prática.
Na proposta defendida é de suma importância enfatizar a linguagem, a
comunicação e o diálogo. E para isso, o orientador promoverá condições, meios,
para que a voz dos alunos seja ouvida e respeitada no espaço pedagógico.

Grinspun afirma que:

O Orientador Educacional deve buscar compreender o aluno em sua


totalidade, participando consciente e ativamente de sua própria história,
“valorizando todas as ações que formam seu contexto pessoal no cotidiano
da escola”.

É necessária a existência do Orientador Educacional no espaço escolar, em


virtude da importância do seu trabalho para a formação de sujeitos conscientes e
atuantes no meio em que vive.
Tendo o aluno como seu principal objeto de trabalho, o orientador educacional
passa ser um profissional de grande relevância para o resultado final do ensino que
é a aprendizagem, conseqüentemente ser comprometido com a formação do
cidadão consciente no mundo em que vive, disso portanto, resulta a sua importância
na escola.
Qual o futuro do orientador, em termos de mercado de trabalho, se muitas
escolas, inclusive da rede oficial não têm, nos seus quadros, esse profissional? Qual
será a nova prática que teremos?
A ênfase dada ao Orientador Educacional deve-se fundamentalmente a tarefa
mediadora que desempenha com os aprendizes, ajudando-os a constituírem-se
sujeitos sociais e históricos em meio a uma cultura com normas e comportamentos
já estabelecidos, decorrendo disso grande parte da responsabilidade de propiciar
40
práticas que levem ao auto-conhecimento e ao reconhecimento da necessidade de
adaptar-se, em grande medida, a uma organização social construída historicamente.
Não há dúvida de que o Orientador Educacional seja necessário ao processo
educacional. Existe uma ligação entre tal prática e a própria educação, uma vez que
na raiz da palavra educação encontra-se “orientar, guiar, conduzir o aluno”. Em
outras palavras, o papel do Orientador Educacional deve ser o de mediador entre o
aluno, as situações de caráter didático-pedagógico e as situações socioculturais.
O orientador, aliado aos demais profissionais da escola e a outros pedagogos,
pode contribuir muito para a organização e a dinamização do processo educativo. É
o que dizem Giacaglia e Penteado (2002, p. 15): "Participando do planejamento e da
caracterização da escola e da comunidade, o orientador educacional poderá
contribuir, significativamente, para decisões que se referem ao processo educativo
como um todo".
Cabe a ele integrar todos os segmentos que compõem a comunidade escolar:
direção, equipe técnica, professores, alunos, funcionários e famílias, visando à
construção de um espaço educativo ético e solidário.
A construção de uma parceria entre orientador, supervisor, professores e
direção, redimensiona as práticas pedagógicas, pois encontra a solução dos
problemas no coletivo, através do diálogo e do planejamento de acordo com a
realidade, visando alcançar os objetivos propostos e uma maior qualidade na
aprendizagem. Caminha-se em busca de uma ação reflexiva na qual orientadores,
supervisores e professores examinam questionam e avaliam criticamente a sua
prática.
É um dos profissionais mais procurados para ajudar na solução de problemas,
principalmente quando diz respeito a questões de indisciplina, sexualidade, uso de
drogas, gravidez precoce e indesejada, violência, abuso sexual contra crianças e
adolescentes, doenças sexualmente transmissíveis, enfim, buscam neste
profissional informação e ajuda sobre fatos concretos relacionados ao cotidiano da
escola e do aluno.
O Orientador Educacional, para realizar um bom trabalho, precisa estar atento
ao que acontece ao seu redor, tanto os acontecimentos e interesses da comunidade
quanto às relações, valores e conceitos da sociedade como um todo são fatores
influentes na condução do seu trabalho. É o profissional encarregado da articulação
41
entre escola e família. Assim, cabe a ele a tarefa de contribuir para a aproximação
entre as duas, planejando momentos culturais em que a família possa estar
presente, junto com seus filhos, na escola. Cabe também ao orientador educacional
a tarefa de servir de elo entre a situação escolar do aluno e a família, sempre
visando a contribuir para que o aluno possa aprender significativamente. A
perspectiva de orientação educacional que consideramos válida não se equipara ao
trabalho do psicólogo escolar, que tem dimensão terapêutica. O papel do orientador
com relação à família não é apontar desajustes ou procurar os pais apenas para
tecer longas reclamações sobre o comportamento do filho e, sim, procurar caminhos,
junto com a família, para que o espaço escolar seja favorável ao aluno. Não cabe ao
orientador a tarefa de diagnosticar problemas ou dificuldades emocionais ou
psicológicas e, sim, que volte seu trabalho para os aspectos saudáveis dos alunos.
Compreender o modo de vida, os interesses, as aspirações, as necessidades,
as conquistas da comunidade é muito importante. Só assim será possível o apoio da
escola na luta da comunidade por melhores condições de vida. Neste sentido, pode-
se apontar que uma das tarefas do orientador educacional é o conhecimento da
comunidade e das situações que facilitam sua vida, bem como as que a dificultam.
Cabe à escola e, especificamente, ao orientador educacional elevar o nível
cultural dos membros da comunidade, propiciar debates sobre temas de interesse,
bem como de alunos, pais, professores, envolvendo questões presentes no dia-a-
dia. É fundamental que se estabeleça um clima de constante diálogo entre ambas,
uma vez que a escola deve estar aberta à comunidade à qual pertence.
Da mesma forma que se dá o trabalho do orientador educacional no que se
refere à comunidade, assim também o é no que se refere à sociedade. O orientador
educacional é o profissional da escola que, não tendo um currículo a seguir, pode se
organizar para trazer aos alunos os fatos sociais marcantes que nos envolvem, bem
como propor a participação em lutas maiores. A escola não pode silenciar face às
grandes questões que a mídia veicula diariamente. Discutir a corrupção, os atos de
terrorismo, a violência urbana e outras situações presentes na sociedade brasileira e
na mundial serão de grande utilidade para os demais componentes curriculares.
Não só deve o orientador educacional levar a sociedade para a escola, mas,
também, como uma via de mão dupla, levar a escola, suas conquistas e dificuldades
para a sociedade.
42
Em todos os campos em que o orientador educacional atua, ele estará
sempre em contato com algumas informações que precisam ser sigilosas. Isso
acontece, por exemplo, quando o profissional conversa com alunos e seus
familiares, momentos em que, muitas vezes, toma conhecimento de situações
complexas e delicadas. O bom senso, o sigilo e o cuidado na emissão de juízos de
valor podem favorecer o trabalho do orientador. A confiança na pessoa do orientador
é fundamental para o êxito de seu trabalho.
Nosso olhar na ação do Orientador Educacional é buscar no cotidiano a
criação do novo, de formas alternativas de atuação, comprometidas com a
construção de saberes que rompam com as velhas estruturas de conhecimento
prontas e acabadas. Desta forma, despertará no aluno a alegria do descobrir, do
recriar e de ser cientista do seu próprio processo, de ser o arquiteto de sua própria
vida.
Enfim, O Orientador Educacional, na visão dos teóricos citados, é a figura
central da escola, participa ativamente, assessorando da melhor maneira possível
alunos, professores, pais, para que haja um resultado favorável, competente e
significativo no ambiente escolar.
4 MEU PERFIL DE ORIENTADORA EDUCACIONAL

4.1 Atualização

Eu, como Orientadora Educacional neste contexto estou me capacitando para


ser uma profissional qualificada no futuro. É evidente que pretendo estar sempre em
formação para aprimorar meus conhecimentos. Com os avanços tecnológicos,
também evoluem as pesquisas no campo educacional. Não podemos ficar alheios
às novas metodologias, como também à realidade social em que a escola está
inserida.

4.2 Escuta

Acredito que uma Orientadora precisa ter a competência de saber ouvir as


opiniões e aceitar o trabalho dos outros ainda que sejam diferentes da sua. Admitir
que existem caminhos mais acertados, mais ricos, mais produtivos está implícito
nesta competência. Sou uma pessoa responsável, mas, existem preocupações
sobre minha trajetória, se vou alcançar a meta que tracei durante o meu curso. O
Orientador está cada vez mais assumindo papéis que não são seus e a educação
está se modificando em função da sociedade que está em constante transformação.
A realidade que se está diante de nós exige comportamentos e atuações cada vez
mais avançados.
Libâneo afirma que:

Uma forma mais eficaz de aprender a enfrentar as mudanças e ir, ao


mesmo tempo, construindo uma nova identidade profissional é o
desenvolvimento de uma atitude crítico-reflexiva, isto é, o desenvolvimento
da capacidade reflexiva com base na própria prática. (2004, p. 38)
44
Esta visão de Libâneo perpassa uma prática baseada só no dia-a-dia. Mostra

um real em constante transformação, em mudanças necessárias quando o momento

solicita. .Assim como as pessoas ao nosso redor mudam, exigem também mudanças
em nós mesmas. A capacidade de resolver problemas significativos para o indivíduo
e para a espécie deve ser uma constante em nossa vida profissional. E exige
exercício.
Acredito que a comunicação é um aspecto muito importante porque, é ela que
garante um bom relacionamento. . Se o Orientador não tiver uma boa comunicação
e não souber expor com clareza suas idéias, e ainda mais, não ter uma boa
argumentação, a escola vira uma bagunça generalizada. Vai parecer que cada um
fala um idioma diferente do outro. Retornaremos à Sodoma e Gomorra.
Esta identidade da qual Libâneo se refere, nos faz repensar a Orientação
hoje. A realidade poderia ser diferente se estes princípios fossem colocados em
prática nas nossas escolas. Os resultados do nosso trabalho é que vão traçar os
rumos de nossas futuras atuações.

4.3 Trabalho em equipe

O trabalho coletivo tem se tornado um assunto preocupante nos dias atuais,


pois pode apresentar-se como uma tarefa quase impossível nas escolas. Esta
proposta deve ser uma meta a ser perseguida pelos profissionais, pois a tarefa de
educar se constrói pela ação conjunta dos vários componentes que fazem parte desse
processo. Para que a instituição escolar se fortaleça cada vez mais é necessário que
haja um trabalho coletivo por parte de toda a escola e comunidade escolar; a escola
se faz através de um todo, de profissionais que contribuem para a formação de
cidadãos (alunos) ao exercício da cidadania para uma visão de mundo mais crítico.
Sendo assim, para que a escola possa funcionar adequadamente, os membros que
nela atuam, precisam trabalhar coletivamente para que ocorra uma boa organização.
Quando as pessoas não se sentem pressionadas ou ameaçadas ao expor suas idéias,
o trabalho coletivo encontra um espaço favorável para sua realização. Mas, quando
não há clareza de objetivos e as pessoas não estão devidamente preparadas para
isso, essa estratégia pode se mostrar ineficiente. A escola somente poderá cumprir
45
sua função educativa quando houver consciência, por parte de todos, de que não é
possível resolver situações isoladamente, de dentro de sua própria sala. Diante desta
situação, como profissional, realizarei dentro da escola em que vou atuar um trabalho
organizado em parceria, em conjunto, em equipe, pois penso que todos devem
caminhar juntos na solução dos problemas e como diz aquele antigo ditado popular:
“Uma andorinha sozinha não faz verão”.

4.4 Competência com autoridade

Existe uma diferença fundamental entre ter autoridade e ser autoritário. Ter
autoridade implica em fazer o seu trabalho de forma segura, sem vacilos, sem se
preocupar com reações negativas. Para isto é preciso que a sua ação seja bem
planejada e organizada. O Orientador precisa ter autoridade, mas não deve ser
autoritário. A autoridade é o exercício de um poder delegado a alguém para dirigir e
coordenar medidas tomadas coletivamente, implicando determinadas qualidades e
conhecimento de suas funções. É recomendável que a autoridade seja
descentralizada, delegando-se tarefas aos demais membros da equipe escolar. É
preciso ter firmeza e clareza de objetivos para se ter autoridade, sem isso vira
autoritarismo.

4.5 Criatividade

É muito comum encontrar pessoas que repetem a história. Fazem as tarefas


sempre da mesma forma. Cria-se um jeito rotineiro de resolver as questões... Falta
criatividade para inovar. A iniciativa é essencial no trabalho do Orientador, pois implica
na capacidade de enfrentar o imprevisto e situações inusitadas ou embaraçosas.
Como Orientadora Educacional, não serei negligente na escola em que irei atuar, ou
seja, não fecharei os olhos para os problemas que surgirão. Tentarei resolver da
melhor forma possível, buscando sempre novas soluções, novos caminhos e outras
maneiras de atuar. O objetivo sempre será conseguir melhores resultados.
Sinto que a cada dia que passa, aperfeiçoam-se minhas habilidades e
competências. Elas aparecem mesmo é na prática; vamos nos construindo e quando
começamos nossa atividade profissional, procuramos ser sempre o melhor possível.
46
Isto nos habitua a sermos sempre melhores e a perceber que cada dia que se
passa nos tornamos diferentes e renovados. Nessa perspectiva, sei que há desafios e
muitas experiências a serem vividas e isso é que nos torna competentes.

4.6 Meio cultural


A concepção teórica, que na minha visão norteará o trabalho do Orientador
Educacional, terá como base os princípios do construtivismo social, defendido por
Vygotsky, teórico histórico-cultural.
Segundo Grinspun, citando Becker, o construtivismo significa:

[...] a idéia de que nada, a rigor, está pronto, acabado, e de que,


especificamente, o conhecimento não é dado, em nenhuma instância,
como algo terminado. Ele se constitui pela intenção do indivíduo com o
meio físico e social, com o simbolismo humano, com o mundo das relações
sociais. (2001, p. 153).

Nesta perspectiva, o Orientador propicia em primeiro momento, condições


mobilizadoras do meio externo, possibilitando o contato mais próximo do aluno com a
realidade. Dessa forma, o indivíduo constrói o conhecimento através da elaboração de
relações, as mais abrangentes possíveis. O Orientador pode ajudar o aluno na
interpretação das ações do meio, na construção da representação mental dessas
ações. Discutindo, refletindo, interpretando o contexto, o Orientador pode colaborar
com a passagem do significado do meio externo para as reflexões pertinentes ao
próprio indivíduo.

4.7 Minha personalidade

Sou dedicada em tudo que faço, pontual e assídua quando tenho um trabalho
a realizar.Organização é um ponto forte que destaco. Em relação a isto, sou muito
organizada e sempre procuro ampliar meus conhecimentos.
O Orientador precisa conhecer a realidade escolar em sua diversidade, a
história de vida de cada aluno, a fim de saber como agir e que decisões tomar.
Pretendo, como profissional nesta área, dar prioridade a esta questão.
Ter um bom relacionamento com as pessoas que farão parte do cotidiano
escolar é muito importante. Sem uma boa aceitação, não conseguirá colocar em
47
prática suas ações. Quanto a isto, não terei com o que me preocupar, pois como uma
pessoa comunicativa que sou, esta interação com todas as pessoas que atuam no
ambiente escolar, não se tornará um obstáculo, pelo contrário, proporcionará
facilidades no trabalho a ser desenvolvido.
Tendo o aluno como meu principal objeto de trabalho, quero poder ser uma
profissional de grande relevância para aqueles que esperam algo de mim. Ser
comprometida com a formação do cidadão consciente no mundo em que vivo, fará a
minha importância na escola... Será o diferencial que dará direção ao meu fazer.
Com este perfil de Orientadora Educacional, pretendo ser uma profissional
diferente, ética, responsável e coerente com minhas obrigações, repensando minhas
ações, para que eu me torne uma profissional consciente e crítica no mundo em que
vivo. Esta foi minha meta no decorrer dos 8 anos que cursei a graduação. Hoje sou
consciente de que serei uma boa profissional, sempre com objetivos e metas de fazer
a minha parte na trajetória de todos aqueles com quem terei oportunidade de conviver.
5 CONCLUSÕES

Entrevistando cinco Orientadoras de diferentes redes de Ensino,


fundamentando minhas considerações em Placco, Grinspun e Giacaglia, cheguei às
seguintes conclusões:
→ Importância do Orientador Educacional, pois dele depende grande parte do
funcionamento de uma escola.
→ A responsabilidade no seu trabalho, respeitando a individualidade de cada
educando.
→ Acompanha e assessora alunos, professores e pais.
→ Seu comportamento é ético, por ser uma pessoa conhecida e valorizada
na escola e comunidade.
→ É um dos profissionais mais procurados para ajudar na solução dos
problemas relacionados ao cotidiano da escola e do aluno.
→ É o profissional encarregado da articulação entre escola e família.
Como Orientadora Educacional, considero fundamental:
→ Atualização e criatividade.
→ Um ambiente harmonioso.
→ A interação no meio escolar.
→ A qualidade do ensino.
→ O apoio de especialistas.
→ Projetos e propostas de ação para o ano letivo escolar.
→ O aluno e sua realidade.
Acredito que, com estas conclusões, serei uma Orientadora Educacional
ativa, participativa, humana, persistente e acima de tudo, corajosa para enfrentar
grandes desafios, de maneira harmoniosa, sem ferir os princípios do outro,
buscando na reflexão a solução para as questões do dia-a-dia da comunidade
escolar.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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educação) / Rubem Alves. – Campinas, SP: Papirus, 2000.

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FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2005.

GADAMER, H. G. A Incapacidade para o Diálogo. In: Hermenêutica Filosófica,


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GIACAGLIA, Lia Renata Angelini. Orientação educacional na prática: princípios,


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LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão da escola: teoria e prática. 5. ed.


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MATURANA, Humberto. Emoções e Linguagem na Educação e na Política. Ed.


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PLACCO, Vera Maria Nigro de Souza. Formação e prática do educador e do


orientador: confrontos e questionamentos / Vera Maria Nigro de Souza Placco.

50
Campinas, São Paulo: Papirus, 1994. – (Coleção Magistério: Formação e Trabalho
pedagógico).

Revista de Orientação Educacional Prospectiva.


RIBEIRO, Maria Tereza. Orientação Educacional – uma experiência em
desenvolvimento. São Paulo. EPU: 1994.

VÁZQUEZ, Adolfo Sanches. Ética. 22. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2001.
ANEXOS
52
Questionário da entrevista com as Orientadoras

1. Na sua opinião, quais as facilidades e dificuldades encontradas no seu trabalho?


2. Qual a imagem que os professores, alunos, direção e supervisão têm, do trabalho
desenvolvido pelo SOE?
3. Qual a importância da Orientação Educacional na escola?
4. Como você faz o acompanhamento das dificuldades das turmas?
5. Que instrumentos são utilizados?
6. Como são feitos os acompanhamentos (registro, classificação por dificuldades,
clientela, grupos, professor, sala de aula, retorno, conselho de classe)?

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