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Compreensão histórica do regime
empresarial-militar brasileiro
Historical understanding of the
Brazilian corporate-military regime

Fábio Konder Comparato


Professor Emérito
Universidade de São Paulo

Resumo

Este artigo busca compreender como o regime político que se ins-


talou no país após o Golpe de 1964 fundou-se na aliança das Forças Ar-
madas com os latifundiários e os grandes empresários, nacionais e es-
trangeiros, e como esse consórcio político engendrou duas experiências
pioneiras na América Latina: o terrorismo de Estado e o neoliberalismo
capitalista. Grandes empresários não hesitaram em financiar a instala-
ção de aparelhos de terror estatal, como a Operação Bandeirante (em-
brião do futuro DOI-CODI), ou ainda a Federação das Indústrias de São
Paulo – FIESP, que convidou empresas a colaborar – enquanto a Ford e
a Volkswagen forneciam automóveis, a Ultragás emprestava caminhões
e a Supergel abastecia a carceragem militar com refeições congeladas.
Entre outros, um dos setores em que a colaboração do empresariado
com a corporação militar mais se destacou foi o das comunicações de
massa, necessário para a difusão sistemática dos méritos do sistema
capitalista.
Palavras-chave: regime autoritário, colaboração empresarial-mili-
tar, terrorismo de estado, neoliberalismo capitalista.

Summary

This article seeks to understand how the political regime settled


in Brazil after the coup d’etat in 1964 was based on the military alliance
with the landowners and big businessmen, foreign and domestic, and
how this political consortium engendered two pioneering experiments
in Latin America: State terrorism and capitalist neoliberalism. Great
entrepreneurs do not hesitate to finance the installation of apparatus of
State terror, like Operação Bandeirante (embryo of the future DOI-CODI),
or Federação de Indústrias de São Paulo – FIESP that invited companies
to cooperate – while Ford and Volkswagen provided cars, Ultragás lent
trucks and Supergel supplied the military prisons with frozen meals. Among
others, one of the sectors in which the business collaboration with the
military corporation stood out was the mass communications, necessary
for the systematic dissemination of the merits of the capitalist system.
Keywords: authoritarian regime, corporate-military collaboration,
state terrorism, capitalist neoliberalism.]
Compreensão histórica do regime
empresarial-militar brasileiro
Fábio Konder Comparato
Universidade de São Paulo

ano 12 fQž‡YRO‡‡,661
Cadernos IHU ideias é uma publicação quinzenal impressa e digital do Instituto Humanitas
Unisinos – IHU que apresenta artigos produzidos por palestrantes e convidados(as) dos eventos
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Ano XII – Nº 205 – V. 12 – 2014
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Cadernos IHU ideias / Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Instituto Humanitas Unisinos.
– Ano 1, n. 1 (2003)- . – São Leopoldo: Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 2003- .
v.
Quinzenal (durante o ano letivo).
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Descrição baseada em: Ano 1, n. 1 (2003); última edição consultada: Ano 11, n. 204 (2013).
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1. Sociologia. 2. Filosofia. 3. Política. I. Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Instituto Hu-
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32
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COMPREENSÃO HISTÓRICA DO REGIME
EMPRESARIAL-MILITAR BRASILEIRO

Fábio Konder Comparato

Meio século após a instauração do mais longo regime de


exceção de nossa história política, é importante examinar suas
causas e analisá-lo num amplo contexto social, ultrapassando
fatos singulares e personagens individuais.
Com esse propósito, parece-me necessário considerar, an-
tes de tudo, a tradicional estrutura de poder vigente entre nós e
a posição que nela ocupou a corporação militar.

1
Posição das Forças Armadas na Estrutura de nosso
Poder Político
Em todo o curso da História do Brasil, a organização do
poder apresentou uma estrutura dualista, englobando, de um
lado, os agentes estatais e, de outro, os potentados privados, ou
seja, os grandes proprietários e empresários. Enquanto os pri-
meiros se apresentaram oficialmente como titulares do poder
político e administrativo, os segundos, graças ao seu poderio
econômico, não deixaram de exercer sobre aqueles uma in-
fluência determinante. Essa organização do poder político, a
bem dizer, é própria da civilização capitalista. “O capitalismo”,
como bem advertiu Fernand Braudel, “só triunfa quando se iden-
tifica com o Estado, quando é o Estado”.1
Como órgão auxiliar dessa estrutura dualista de poder,
sempre atuou a Igreja Católica. A monarquia portuguesa havia
obtido do papado, durante a Idade Média, o privilégio do pa-
droado régio, que habilitava o monarca a propor a criação de
novas dioceses, escolher os bispos e propor sua sagração ao
papa; além do chamado beneplácito, que era o poder do rei de
aprovar previamente as normas e determinações da Santa Sé
destinadas ao reino. Em razão do padroado, que vigorou entre
nós até a República, os eclesiásticos atuaram como autênticos
funcionários da Coroa. Mesmo após a separação entre a Igreja
e o Estado, estabelecida pela primeira Constituição republicana
de 1891, a Igreja Católica exerceu no Brasil uma influência deci-
siva, em defesa da ordem política estabelecida.

1 La dynamique du capitalisme, Éditions Flammarion, 2008, p. 68.


6 ‡ Fábio Konder Comparato

Quanto ao povo propriamente dito, ele nunca, nem de lon-


ge, deteve a soberania e, salvo períodos de curta duração – co-
mo durante a “Era Vargas”, por exemplo – ficou totalmente alheio
ao esquema geral de exercício do poder político, mesmo quan-
do, a partir do período republicano, foi constitucionalmente pro-
clamado como a fonte de onde emanam todos os poderes.
Entre os dois grupos dominantes acima nomeados – os
agentes estatais e os potentados privados – estabeleceu-se
aquela dialética da ambiguidade a que se referiu o historiador
José Murilo de Carvalho, retomando uma expressão cunhada
pelo sociólogo Guerreiro Ramos.2 Cada um desses grupos de
poder sempre busca, antes de tudo, realizar o seu próprio inte-
resse, e não o bem comum do povo. Mas, salvo conflitos episó-
dicos, mantêm-se associados, em situação de mútua depen-
dência. Assim, enquanto o conjunto dos agentes estatais
– governantes, legisladores, juízes, membros do Ministério Pú-
blico, altos funcionários – no exercício de suas funções oficiais
favorece a realização dos interesses econômicos dos potentados
privados, estes últimos, sob o disfarce da submissão ao poder
oficial, não cessam de exercer pressão sobre os primeiros em to-
dos os níveis – legislação, administração, prestação da justiça –,
quando não os corrompem, pura e simplesmente. Aliás, a genera-
lizada prática da corrupção dos agentes públicos, herdada de Por-
tugal, marcou toda a nossa história, havendo chamado a atenção
de notáveis viajantes estrangeiros no século XIX.3
Até o final do Império, as Forças Armadas atuaram como
organização auxiliar desse esquema dúplice de poder. A partir
da Guerra do Paraguai (1865-1870), entretanto, a corporação
militar manifestou crescente insatisfação com o seu estado de
dependência na organização estatal, como passamos a ver.

a) Período colonial

A colonização portuguesa, tanto na América quanto na Ásia e


na África, teve, desde o início, um caráter nitidamente mercantil.4

2 Cf. José Murilo de Carvalho, I A Construção da Ordem, II Teatro de Sombras,


Rio de Janeiro (Editora UFRJ – Relume Dumará), 2ª ed., p. 212.
3 Vejam-se Auguste de Saint-Hilaire, Viagem pelas Províncias do Rio de Janeiro
e Minas Gerais, Editora da Universidade de São Paulo e Livraria Itatiaia Edi-
tora Ltda., 1975, p. 157; John Luccock, Notas sobre o Rio de Janeiro e partes
meridionais do Brasil, Editora da Universidade de São Paulo e Livraria Itatiaia
Editora Ltda., 1975, p. 321; Charles Darwin, O Diário do Beagle, Editora UFPR,
2006, p. 100
4 Cf., principalmente, Caio Prado Jr., Formação do Brasil Contemporâneo, cit.,
pp. 15 e ss.; Sérgio Buarque de Holanda, Visão do Paraíso, 2ª ed., São Paulo
(Companhia Editora Nacional e Editora da Universidade de São Paulo), Cole-
ção Brasiliana – vol, 333, 1969, pp. 318 e ss.; Raymundo Faoro, Os Donos do
Poder, 1ª edição, 1958; 3ª edição, Editora Globo, 2001, pp. 45 e ss.
Cadernos IHU ideias ‡ 7
Com efeito, a partir do reinado de D. João I, inaugurador da
dinastia de Avis na segunda metade do século XIV, o pequeno
reino ibérico conheceu a primeira grande revolução dos tempos
modernos, com o rompimento da milenar estrutura social da ci-
vilização indo-europeia. Nesta, como sabido, a sociedade era
dividida em três estamentos (États, Stände): o dos clérigos, o
dos aristocratas-militares e o dos simples servos lavradores. Su-
cedeu que, no dealbar da Baixa Idade Média, nas localidades
chamadas “burgos de fora”, ou seja, não sujeitas ao poder feu-
dal, surgiram e prosperaram três grupos sociais estranhos àque-
la tripartição estamental, e que passaram, em razão de sua ori-
gem territorial, a ser denominados burgueses: os comerciantes,
os juristas e os militares de profissão.
O Mestre d’Avis, assumindo o trono logo após a grande
crise de 1383-1385 entre Portugal e Castela, afastou da Corte
a nobreza favorável à aliança entre ambas as Coroas ibéricas
e chamou a si aquelas três categorias de burgueses, atribuin-
do-lhes a missão de servi-lo diretamente na luta pela manuten-
ção da independência do reino. Criou, destarte, aquele esta-
mento burocrático, cuja atuação na história política de nosso
país foi analisada em profundidade por Raymundo Faoro em
obra já clássica.5
A grande aventura colonial, desenvolvida a partir da desco-
berta da América e a abertura do caminho marítimo para as Ín-
dias, foi desde o início montada com o auxílio dos militares e
comerciantes ligados à Coroa. O próprio rei tornou-se o primeiro
comerciante do reino. Em suma, como disse Alexandre Hercula-
no, fundou-se em Portugal um regime de capitalismo político.6
No sistema das capitanias hereditárias, por primeiro insta-
lado no Brasil, a autoridade máxima local, o capitão-donatário,
era dotado de todos os atributos régios, notadamente o poder
militar, e desenvolvia pessoalmente a atividade de exploração
mercantil da terra. Sobrevindo o regime de governo-geral, inau-
gurado por Tomé de Souza em 1549, garantiu-se, em benefício
de alguns senhores de engenho designados pela Coroa, o oligo-
pólio da produção de açúcar. “O ser senhor de engenho”, asse-
verou Antonil em sua obra de 1711,7 “é título a que muitos aspi-
ram, porque traz consigo o ser servido, obedecido e respeitado
de muitos.”
Criou-se, em consequência, em todo o período colonial,
uma estrutura dúplice de poderes, reunindo, de um lado, os
grandes fazendeiros e senhores de engenho e, de outro, o esta-
mento burocrático nomeado pela Coroa, ou seja, os altos funcio-
nários régios. Entre esses dois grupos de potentados, estabele-
5 Os Donos do Poder, cit.
6 História de Portugal, 8ª ed., Lisboa (Bertrand), t. I, p. 99.
7 Cultura e Opulência do Brasil, Editora Itatiaia Limitada e Editora da Universida-
de de São Paulo, 1982, pág. 75.
8 ‡ Fábio Konder Comparato

ceram-se ao longo dos séculos estreitas relações de parentesco,


amizade e compadrio.8
No conjunto dos funcionários oriundos da metrópole, os mi-
litares sempre predominaram, pois desde o início da aventura
colonial houve constante preocupação com a defesa do territó-
rio. A corporação militar organizava-se em três grupos9: 1) as
tropas de linha, compostas essencialmente de regimentos portu-
gueses, e que operavam em todo o território colonial; 2) as milí-
cias, constituídas também por tropas regulares de recrutamento
compulsório, mas não remuneradas, distribuídas em freguesias
ou circunscrições eclesiásticas; 3) os corpos de ordenanças,
que abrangiam toda a população masculina entre 18 e 60 anos,
não recrutada nos dois primeiros corpos militares.
Essa avassaladora organização militar nunca se distin-
guiu pela disciplina. Enquanto os chefes mantinham-se estrei-
tamente unidos à classe dos ricos senhores, sendo que muitos
oficiais de alto grau adquiriam propriedades rurais ou torna-
vam-se comerciantes, a soldadesca cometia frequentes abu-
sos contra a população pobre. Luís dos Santos Vilhena, em
suas crônicas da Bahia do final do século XVIII,10 relata a fre-
quência com que, nas épocas de escassez de alimentos, os
militares invadiam currais e açougues, a fim de se apossar de
toda a carne destinada à venda.

b) Período imperial

Desde a criação do Estado brasileiro independente, em


1822, até o final do reinado de D. Pedro II, a corporação militar
representou o braço armado da Coroa imperial, em defesa da or-
ganização política centralizada e da unidade territorial do país.
Nessa posição, as Forças Armadas atuaram, já em 1824,
na pacificação do conflito entre o presidente da Província de
Pernambuco, nomeado pela Corte, e seu adversário local. Nos
anos seguintes, a corporação militar teve que enfrentar, não
poucas vezes, segmentos rebeldes dos proprietários agrícolas e
comerciantes urbanos, ou seja, o outro ramo da dominação oli-
gárquica. Assim sucedeu durante todo o período regencial –
Guerra dos Cabanos (Pará, 1835-1840), Guerra dos Farrapos
(Rio Grande do Sul e Santa Catarina, 1835-1845), Sabinada
(Salvador, 1837-1838), Balaiada (Maranhão e Piauí, 1838-1841)
– estendendo-se até os primeiros anos do reinado de D. Pedro
II: revoltas liberais de 1842 e a Revolta Praieira de 1848.

8 Cf. Stuart B. Schwartz, Sovereignty and Society in Colonial Brazil – The High
Court of Bahia and its Judges 1609-1751, University of California Press, 1973,
capítulo XIII (The Brazilianization of Bureaucracy).
9 Para maiores informações sobre o assunto, cf. Caio Prado Jr., Formação do
Brasil Contemporâneo, 2011 (Companhia das Letras), pp. 329 e ss.
10 A Bahia no Século XVIII, vol. I (Livro I), Editora Itapuã, 1969, pp. 129-130.
Cadernos IHU ideias ‡ 9
A corporação militar foi, porém, poupada no combate aos
vários levantes de escravos, como a Revolta dos Carrancas em
Minas Gerais em 1831, a Revolta dos Malês na Bahia em 1835
e os combates contra quilombolas. Nesses confrontos, o gover-
no imperial preferiu servir-se das forças policiais e dos chama-
dos capitães-do-mato, estipendiados pelos senhores rurais. O
governo chegou mesmo a criar, em 1831, como força auxiliar
da polícia, a Guarda Nacional. Compunham-na todos os cida-
dãos ativos de 21 a 60 anos, entendendo-se como tais as pes-
soas que dispunham de uma renda anual de 100 mil-réis e
constituíam, nessa condição, os eleitores de primeiro grau.11
Eles formavam a ínfima minoria de brasileiros, considerada a
“elite” da nação.
Mais importante que isso, todavia, foi o desempenho de pri-
meira linha das Forças Armadas imperiais em vários conflitos
externos, como as sucessivas guerras platinas e, sobretudo, a
Guerra do Paraguai (1865-1870).
Esta última representou o fator desencadeante de um in-
conformismo geral no seio da corporação militar. Havendo com-
batido ao lado das tropas da Argentina e do Uruguai, repúblicas
onde os militares podiam ocupar altos postos políticos, inclusive
a chefia do Estado, os oficiais brasileiros não mais aceitavam
permanecer como cidadãos de segunda categoria, sem desfru-
tar de todas as liberdades políticas asseguradas aos civis. Por
outro lado, nossos militares tomaram consciência de sua condi-
ção humilhante de subordinados ao poder escravocrata, deven-
do assinalar-se que um contingente apreciável das tropas brasi-
leiras era composto de escravos.
A partir de 1883 e praticamente até a Proclamação da Re-
pública, ocorreu uma série de incidentes, que os historiadores
classificaram como “a questão militar”. Influenciados pela prega-
ção positivista, desenvolvida sobretudo por Benjamin Constant
na Escola Militar da Praia Vermelha, os integrantes das Forças
Armadas começaram a reivindicar direitos fundamentais de ci-
dadania que lhes eram recusados, como o de reunião e de livre
manifestação política.
Por outro lado, com o crescimento exponencial da fuga de
escravos e a multiplicação de quilombos em todo o sudeste do
país, o governo imperial, pressionado pelos grandes proprietá-
rios rurais e verificando a fraqueza dos contingentes policiais,
tentou recorrer às forças do Exército para a recaptura dos fugiti-
vos, o que causou generalizado mal-estar entre os militares. A
tensão agravou-se até que, em outubro de 1887, poucos meses

11 De acordo com o disposto no art. 90 da Constituição imperial de 1824, “as no-


meações dos Deputados e Senadores para a Assembleia Geral, e dos Mem-
bros dos Conselhos Gerais das Províncias, serão feitas por Eleições indiretas,
elegendo a massa dos Cidadãos ativos em Assembleias Paroquiais os Eleito-
res de Província, e estes os Representantes da Nação e Província”.
10 ‡ Fábio Konder Comparato

antes da Abolição, o Clube Militar, sob a presidência de Deodoro


da Fonseca, dirigiu um apelo à Princesa Regente, no sentido de
que os soldados ficassem dispensados da “captura de pobres
negros que fogem à escravidão”.
Em suma, ao final do Império as Forças Armadas entraram
em aberto conflito, não só com os agentes estatais detentores
do poder político oficial, mas também com o conjunto dos gran-
des proprietários agrícolas; ou seja, os dois grupos titulares efe-
tivos da soberania.
É nesse contexto que sobrevém a Proclamação da Repú-
blica. Como sempre em nossa História, o povo ficou totalmente
alheio ao episódio. Na famosa carta a um amigo, Aristides Lobo,
que assistira à manifestação de protesto de Deodoro e sua tropa
no Campo de Santana, assim declarou: “O povo assistiu àquilo
bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava.
Muitos acreditavam sinceramente estar vendo uma parada”.

c) O consulado militar

Os primeiros anos do novo regime transcorreram sob a for-


ma de um verdadeiro consulado militar, com Deodoro da Fonse-
ca e Floriano Peixoto na chefia do Estado. Para se ter uma ideia
do ambiente de insegurança e temor que então predominou,
ressalte-se que, em março de 1890, como reação a um simples
cartaz afixado em certos pontos do Rio de Janeiro, conclamando
o povo a pôr abaixo a ditadura, três civis foram presos e subme-
tidos, pela primeira vez desde 1825, a julgamento pela Justiça
Militar, que os condenou a penas de prisão. O regime empresa-
rial-militar instaurado em 1964 voltou a dar preponderância à
Justiça Militar, determinando sua competência obrigatória para
julgar os crimes ditos contra a segurança nacional.
Sob a chefia de Floriano, a situação de turbulência latente
acabou por explodir em duas revoltas da Armada contra o Exér-
cito, em 1891 e 1893; neste último ano coincidindo com o defla-
grar da Revolução Federalista no Rio Grande do Sul, em oposi-
ção à ditadura positivista de Borges de Medeiros.
De qualquer maneira, para os grandes fazendeiros do Su-
deste do país, onde surgiu a ideia republicana – o Manifesto de
1870 foi lançado em Itu, Estado de São Paulo – os militares já
haviam feito o que deles se esperava, ou seja, derrubar a mo-
narquia. Eles deviam, doravante, voltar à caserna e entregar o
comando do Estado aos civis; o que foi feito, afinal, em 15 de
novembro de 1894, com a assunção da Presidência da Repú-
blica por Prudente de Morais, legítimo representante da oligar-
quia cafeeira.
Cadernos IHU ideias ‡ 11
d) A “República Velha” (1894-1930)

O restabelecimento da supremacia do poder civil não sig-


nificou um apaziguamento da insubordinação dos militares;
longe disso.
Já em 1904, no contexto da revolta popular contra a vacina
obrigatória, instituída por Osvaldo Cruz para debelar a febre
amarela, deu-se no Rio de Janeiro a Revolta da Escola Militar da
Praia Vermelha, na qual morreram, em confronto com as forças
policiais, além de um aluno, o tenente-coronel e senador Lauro
Sodré e o general Travassos.
Na década de 1920, com o chamado movimento tenentista,
irrompeu a revolta da jovem oficialidade do Exército contra a
falsidade de uma representação política subordinada ao poder
latifundiário. Em 1922, um grupo de tenentes revoltou-se no for-
te de Copacabana. Em 1924, em São Paulo, a capital ficou três
semanas em mãos de jovens militares, chefiados pelo general
reformado Isidoro Dias Lopes. Ainda em 1924, graças à junção
de um contingente militar, que se retirava vencido de São Paulo,
com outro grupo de soldados rebeldes, chefiado pelo capitão
Luis Carlos Prestes, futuro líder do Partido Comunista, teve iní-
cio a façanha da Coluna Prestes, que percorreu em torno de 25
mil quilômetros no território nacional, protestando contra o regi-
me político fraudulento da “República Velha”.

e) A “Era Vargas”

Sobrevindo a chamada Revolução de 1930, que levou Ge-


túlio Vargas à Presidência da República, este percebeu desde
logo a necessidade de contar com o apoio do novo operariado
industrial urbano, bem como da jovem oficialidade das Forças
Armadas; tudo no contexto da primeira experiência de intensa
propaganda política pessoal levada a efeito no Brasil. Assim,
além de criar a legislação trabalhista e desenvolver a organiza-
ção sindical sob a tutela do governo, Getúlio não hesitou, duran-
te o período de governo provisório, em nomear tenentes do
Exército como interventores em todos os Estados da Federação.
Além disso, cercou-se de vários generais na cúpula do governo,
o que lhe permitiu, sem qualquer reação, repudiar em 1937 o
Estado Constitucional (em 1934 fora promulgada nova Constitui-
ção), instituindo o Estado Novo, de inspiração fascista. Graças
ao apoio militar, foram sucessivamente esmagadas a revolta co-
munista de 1935 e a integralista de 1938, as quais contaram
com a participação de oficiais do Exército.
Com o início da Segunda Guerra Mundial, Getúlio decidiu,
após dois anos de hesitação, apoiar os Estados Unidos no con-
flito bélico. Em julho de 1941, assinou um pacto secreto com o
governo ianque para a construção de bases aéreas e navais no
12 ‡ Fábio Konder Comparato

extremo oriental do Nordeste brasileiro, como trampolim para o


transporte de tropas e armamentos norte-americanos em territó-
rio africano, onde já operava a Wehrmacht. Em compensação, o
governo americano liberou um empréstimo de 20 bilhões de dó-
lares para a fundação da Companhia Siderúrgica Nacional, em
Volta Redonda, o primeiro complexo de siderurgia criado na
América Latina.
Em agosto de 1942, após o torpedeamento de 21 navios
mercantes brasileiros que navegavam em nosso mar territorial,
o governo declarou o estado de beligerância e, logo após, a de-
claração de guerra contra a Alemanha e a Itália. Um ano depois,
em 9 de agosto de 1943, foi criada a Força Expedicionária Bra-
sileira – FEB, enviada em 1944 para combater na Itália.
A influência norte-americana fez-se presente também no pla-
no da política interna, envolvendo os militares. Em 1943, o Gene-
ral Manuel Rabelo criou a Sociedade Amigos da América, que
contava com o apoio dos Generais Horta Barbosa e Candido Ron-
don. Em 1944, Oswaldo Aranha, desde há muito amigo dos ame-
ricanos, desligou-se do Ministério das Relações Exteriores e pas-
sou a apoiar a instauração de um regime democrático.
Tal como ocorreu após a Guerra do Paraguai, nossos mili-
tares da FEB, ao retornarem da Europa, onde foram sacrificadas
443 vidas, sentiram-se inconformados com sua posição subordi-
nada na estrutura da máquina governamental. Acresça-se a isto
o fato de que o governo norte-americano, servindo-se da recen-
te ligação de seus generais com os comandantes das tropas da
FEB na Itália, passou a pressionar o ditador a deixar o poder,
alegando que a guerra contra as potências do Eixo Roma-Berlim-
Tóquio fora desenvolvida em nome dos ideais democráticos.
Na verdade, o que mais incomodava os Estados Unidos era
o nacionalismo getulista em matéria de política econômica, for-
temente contrário aos interesses das macroempresas norte-
americanas. Em 1938, foi criado o Conselho Nacional do Petró-
leo, sendo localizada pela primeira vez no ano seguinte, na
Bahia, uma reserva do óleo. O cartel internacional do petróleo,
com forte apoio norte-americano, desenvolveu, desde logo, forte
pressão sobre o governo brasileiro para impedir a exploração do
combustível, o que realmente aconteceu.
Terminada a guerra, Getúlio, que acabara de receber total
apoio de Luis Carlos Prestes, foi afinal deposto pelos generais
Góis Monteiro e Eurico Gaspar Dutra em 29 de outubro de 1945.
Conservou, no entanto, seus direitos políticos e, sobretudo,
imenso apoio popular. Nessa condição, aproveitando-se das dis-
posições da lei eleitoral, que permitia candidaturas individuais
em mais de um estado, foi eleito deputado federal por sete esta-
dos e senador por São Paulo e Rio Grande do Sul. Optou pela
cadeira de senador do estado gaúcho.
Cadernos IHU ideias ‡ 13
Lançando mão de uma argúcia política jamais igualada en-
tre nós, Getúlio criou dois partidos políticos, o PSD e o PTB; o
primeiro reunindo os grandes líderes ruralistas e os novos em-
presários industriais, e o segundo como porta-voz da massa tra-
balhadora urbana, enquadrada pelos sindicatos, desde sempre
getulistas. Ou seja, como disse ferinamente seu grande opositor,
Carlos Lacerda, enquanto o PSD criava a miséria, o PTB explora-
va suas consequências.
O maquiavelismo do grande líder populista não se limitou,
porém, a isso. Abertas as eleições para a Presidência da Repú-
blica, Getúlio apoiou a candidatura do General Dutra, que o de-
pusera em 1945. Afastou, com isso, toda oposição militar ao
processo eleitoral, além de tranquilizar o grande empresariado,
inquieto com a livre atuação dos militantes comunistas.
O governo do (já então) Marechal Dutra representou a pri-
meira grande experiência de liberalismo capitalista no Brasil, es-
pecialmente em matéria de política cambial, movimentação inter-
nacional de capitais e comércio exterior. Conquistou, com isso, o
apoio integral do grande empresariado, nacional e estrangeiro. No
campo propriamente político, Dutra deu inteira satisfação aos Es-
tados Unidos, ao apoiar abertamente o processo judicial que con-
duziu à cassação do registro do Partido Comunista, em 1947.
Ao voltar legitimamente à Presidência da República pela
via eleitoral em 1951, Getúlio Vargas pôs fim à orientação liberal
privatista do seu antecessor, suscitando com isso a oposição do
empresariado à sua linha de governo. Logo após a posse, foi
criada, junto à Secretaria da Presidência, uma Assessoria Eco-
nômica, composta de competentes administradores públicos de
orientação nacionalista. Esse órgão exerceu, na prática, pela
primeira vez em nosso país, as funções de planejamento gover-
namental, dando especial atenção à política de investimentos na
infraestrutura econômica. Da Assessoria Econômica presiden-
cial saíram, entre outros, os projetos de criação da Petrobras, do
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico, do Fundo Ro-
doviário Nacional e da Eletrobras.
Estava-se, porém, naquele momento, em pleno conflito da
chamada Guerra Fria – o confronto não bélico entre os Estados
Unidos e seus aliados, de um lado, e a União Soviética e seus
satélites, de outro. A corporação militar encontrava-se à época
fundamente dividida entre oficiais nacionalistas, favoráveis es-
pecificamente ao monopólio estatal de exploração do petróleo,
e oficiais treinados e doutrinados pelos norte-americanos, que
advogavam a livre iniciativa econômica do setor privado, ainda
que estrangeiro.
Estes últimos acabaram afinal por prevalecer e, estimula-
dos pelo principal partido da oposição, a União Democrática
14 ‡ Fábio Konder Comparato

Nacional – UDN,12 aderiram abertamente à campanha de críti-


cas a Getúlio, acusando-o de ser o chefe de uma massa de
subversivos e corruptos; ou seja, exatamente o mote utilizado
dez anos depois para justificar o golpe que deu origem ao regi-
me empresarial-militar.
Em fevereiro de 1954, o chamado “manifesto dos coronéis”,
reivindicando uma ampliação dos recursos orçamentários desti-
nados ao Exército e protestando contra o aumento do salário
mínimo em 100%, forçou Getúlio Vargas a exonerar João
Goulart, Ministro do Trabalho, e o General Ciro Espírito Santo
Cardoso, Ministro da Guerra.
Na madrugada do dia 5 de agosto, o líder udenista Carlos
Lacerda e seu guarda-costas, o major da Aeronáutica Rubens
Florentino Vaz, sofreram no Rio de Janeiro um atentado a bala,
que feriu Lacerda e matou o major Vaz. Imediatamente, os oficiais
mais graduados daquela Arma reuniram-se em comissão de in-
quérito no aeroporto do Galeão (a chamada “República do Ga-
leão”), e poucos dias depois obtiveram a confissão de membros
da guarda pessoal do presidente Getúlio Vargas de que o atenta-
do fora por eles planejado e executado. A partir de então, os ofi-
ciais superiores do Exército e da Marinha manifestaram-se solidá-
rios com a Aeronáutica e passaram a exigir a renúncia de Getúlio.
Buscou-se, sem êxito, até o dia 23 uma fórmula de conciliação. No
dia seguinte, pela manhã, recebendo do irmão, Benjamin Vargas, a
informação de que o oficialato das três Armas exigia sua renúncia
imediata da Presidência da República, Getúlio suicidou-se, provo-
cando em todo o país intensa revolta popular.
O suicídio de Getúlio foi, na verdade, um golpe de mestre,
que adiou por dez anos a mudança do regime político.

f) O período pós-Vargas

Embora derrotadas pelo inesperado golpe do suicídio, as For-


ças Armadas permaneceram em estado de constante agitação.
Em 11 de novembro de 1955, o então Ministro da Guerra,
General Henrique Teixeira Lott, decidiu prevenir um golpe de Es-
tado em preparação para impedir a posse do presidente da Re-
pública regularmente eleito, Juscelino Kubitschek de Oliveira. O
presidente em exercício, Carlos Luz, foi deposto, e o vice-presi-
dente, Café Filho, que sucedera Getúlio e se afastara da presi-
dência por razões de saúde, foi impedido de voltar ao poder.
Uma vez empossado, Juscelino tomou a resolução de orga-
nizar o indispensável apoio militar em torno do seu governo. Co-

12 Leia-se, sobre esse partido, a monografia de Maria Victoria de Mesquita Benevi-


des, A UDN e o Udenismo – Ambiguidades do Liberalismo Brasileiro (1945-1965),
Paz e Terra, 1981.
Cadernos IHU ideias ‡ 15
mo resumiu Maria Victoria de Mesquita Benevides,13 a organiza-
ção desse apoio fez-se de três maneiras: 1) a atribuição ao
ministro da guerra, General Lott, de um papel preponderante na
manutenção da ordem interna e da disciplina militar; 2) o atendi-
mento das reivindicações dos militares, quanto a vencimentos,
equipamentos e promoções, aliado ao apoio das Forças Armadas
à política desenvolvimentista do governo; 3) a crescente participa-
ção dos militares no exercício das funções governamentais.
Apesar desse empenho em articular seu governo com os
interesses das Forças Armadas, o governo Kubitschek não lo-
grou suprimir a hostilidade da corporação militar. Em 1956 e
1959, por exemplo, oficiais da Aeronáutica declararam-se em
estado de insurreição contra o presidente, respectivamente em
Jacareacanga (PA) e Aragarças (GO).
Graças, porém, às suas iniciativas ousadas, como a cons-
trução de Brasília e a criação de grandes facilidades para a ins-
talação de uma indústria automobilística no território nacional,
Juscelino conquistou integral apoio do empresariado.
Em janeiro de 1959, um fato relevante mudou o cenário
político de toda a América Latina: um grupo de revolucionários
cubanos, sob a liderança de Fidel Castro, tomou o poder na ilha,
instaurando um regime comunista.
As eleições para a sucessão de Juscelino Kubitschek vol-
taram a trazer grande insatisfação no seio das Forças Arma-
das. Candidato da coligação partidária governista PSD-PTB, o
já então Marechal Lott foi derrotado por Jânio Quadros, candi-
dato da oposição.
No campo da política externa, o governo de Jânio foi mar-
cado pelo conflito aberto com os Estados Unidos. A abertura do
comércio exterior aos países socialistas e, sobretudo, a conde-
coração de Che Guevara com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do
Cruzeiro do Sul, suscitaram a aberta hostilidade dos oficiais mi-
litares anticomunistas ao seu governo.
Após a renúncia de Jânio, em 25 de agosto de 1961, os
ministros militares, marechal Odílio Denys, almirante Sílvio Heck
e brigadeiro Gabriel Grün Moss, declararam-se contrários à pos-
se do vice-presidente João Goulart, que se encontrava ausente
do país, em viagem oficial. Imediatamente, o governador do Rio
Grande do Sul, Leonel Brizola, levantou-se contra os ministros
militares, obtendo o apoio do comando do III Exército, sediado
em Porto Alegre.
O confronto acabou sendo resolvido por meio de uma tran-
sação conciliatória: os ministros militares aceitaram a investidu-
ra de João Goulart como presidente da República, contanto que
se adotasse o sistema parlamentar de governo; o que foi feito
pelo Congresso Nacional ao votar a emenda constitucional nº 4,

13 O governo Kubitschek – Desenvolvimento Econômico e Estabilidade Política,


Paz e Terra, 1976, p. 149.
16 ‡ Fábio Konder Comparato

de 2 de setembro de 1961. Dita emenda previa, em seu art. 25,


que a lei “poderá dispor sobre a realização de plebiscito que
decida da manutenção do sistema parlamentar ou volta ao siste-
ma presidencial, devendo, em tal hipótese, fazer-se a consulta
plebiscitária nove meses antes do termo do atual período presi-
dencial”. Realizado o plebiscito, uma ampla maioria optou pelo
retorno ao sistema presidencial de governo. O Congresso Na-
cional, dando cumprimento à vontade popular, aprovou a emen-
da constitucional nº 6, de 23 de janeiro de 1963.
Em 12 setembro de 1963, centenas de sargentos, fuzilei-
ros e soldados da Aeronáutica e da Marinha de Guerra suble-
varam-se em Brasília, ocupando na madrugada importantes
centros administrativos. O motivo do levante foi a decisão toma-
da pelo Supremo Tribunal Federal, que confirmava a inelegibili-
dade das pessoas enumeradas no art. 132, parágrafo único da
Constituição de 1946 (praças de pré, suboficiais, subtenentes,
sargentos e alunos das escolas militares de ensino superior).
Chegamos, assim, seis meses depois, ao golpe de Estado
que pôs fim ao regime constitucional e instaurou a dominação
militar-empresarial durante mais de vinte anos.

2
O Golpe Militar de 1964 e a Instauração do
Regime Autoritário

Origens do golpe

Na gênese do golpe de Estado de 1964, encontramos a


profunda cisão lavrada entre os dois grupos que sempre compu-
seram a oligarquia brasileira: os agentes políticos e a classe dos
grandes proprietários e empresários.
Até então, os conflitos entre ambos eram sempre resolvi-
dos por meio de arranjos conciliatórios, segundo a velha tradi-
ção brasileira. Nos últimos anos do regime constitucional de
1946, porém, essa possibilidade de conciliação tornou-se cada
vez mais reduzida. A principal razão para tanto foi o agravamen-
to do confronto político entre esquerda e direita no mundo todo,
no contexto da Guerra Fria e, em especial, na América Latina,
com a Revolução Cubana. Deve-se notar, aliás, que naquela
época boa parte das nossas classes médias havia abandonado
sua tradicional colocação à direita do espectro político, passan-
do a apoiar as chamadas “reformas de base” do governo João
Goulart: a reforma agrária, a bancária, a tributária e a política de
repúdio ao capital estrangeiro.
Era natural, nessas circunstâncias, que os grandes proprie-
tários e empresários, nacionais e estrangeiros, temessem pelo
Cadernos IHU ideias ‡ 17
seu futuro em nosso país e se voltassem, agora decididamente,
para o lado das Forças Armadas, a fim de que estas depuses-
sem os governantes em exercício, substituindo-os por outros,
associados aos potentados privados, segundo a velha herança
histórica. Uma vez perpetrado o golpe de estado, manifesta-
ram-se desde logo a favor dele a Igreja Católica14 e várias enti-
dades de prestígio da sociedade civil, como a Ordem dos Advo-
gados do Brasil.
O que o empresariado não levou em conta, todavia, era o
fato de que a corporação militar amargurava, desde a proclama-
ção da República, uma série de tentativas malsucedidas para li-
vrar-se da subordinação ao poder civil. Não seria justamente na-
quele momento, quando chamadas a salvar o grande empresariado
do perigo esquerdista, que as Forças Armadas iriam depor os
governantes em exercício e voltar em seguida à caserna.
Na preparação do golpe, o governo norte-americano teve
uma atuação decisiva. Já em 1949, um grupo de altos oficiais do
Exército Brasileiro, entre os quais o general Cordeiro de Farias,
influenciados pelos Estados Unidos, criou, nos moldes do Natio-
nal War College norte-americano, o Instituto de Altos Estudos de
Política, Defesa e Estratégia, a seguir denominado Escola Supe-
rior de Guerra. Com o aprofundamento da chamada Guerra Fria
e, sobretudo, logo após a tomada do poder em Cuba por Fidel
Castro, esse instituto de ensino passou a formar a oficialidade
brasileira para impedir a assunção do poder pelos comunistas,
assim compreendidos todos os agentes políticos que, embora
não filiados ao PCB, manifestassem, de alguma forma, oposição
aos Estados Unidos. Pode-se afirmar que todos os oficiais mili-
tares que participaram do golpe de 1964 foram alunos da Escola
Superior de Guerra. Os cursos lá administrados, aliás, não eram
reservados apenas aos militares, mas abertos também a políti-
cos e empresários de destaque.
De 1961 a 1966, atuou como embaixador norte-americano
no Brasil Lincoln Gordon, que já em 1960 havia colaborado na
implantação da Aliança para o Progresso, programa de ajuda
oferecido pelos Estados Unidos aos países da América Latina, a
fim de evitar que eles seguissem o caminho revolucionário de
Cuba. Na preparação do golpe, Gordon coordenou a criação no
Brasil de entidades de propaganda política, como o Instituto Bra-
sileiro de Ação Democrática – IBAD e o Instituto de Pesquisas e
Estudos Sociais – IPES. Sabe-se, aliás, por uma gravação de-
pois divulgada, que já em 30 de julho de 1962 Lincoln Gordon
14 Em declaração de 29 de maio de 1964, os bispos brasileiros afirmaram que,
vendo “a marcha acelerada do comunismo para a conquista do poder, as for-
ças armadas acudiram em tempo e evitaram que se consumasse a implanta-
ção do regime bolchevista em nossa terra”. Atendendo, no entanto, à preocu-
pação da minoria episcopal quanto ao viés autoritário do regime castrense, a
declaração advertiu: “Que os acusados tenham o sagrado direito de defesa e
não se transformem em objeto de ódio ou de vindita”.
18 ‡ Fábio Konder Comparato

discutiu com o presidente Kennedy, na Casa Branca, o gasto de


US$ 8 milhões para “expulsar do poder, se necessário”, o presi-
dente João Goulart.
Como arma decisiva, o governo norte-americano – ao que
parece, a pedido dos militares brasileiros golpistas – desenca-
deou, em março de 1964, a Operação Brother Sam, consistente
em uma força-tarefa naval composta de um porta-aviões, quatro
destróieres e navios-tanques para exercícios ostensivos na cos-
ta sul do Brasil, além de 110 toneladas de munição.

A aliança das Forças Armadas com os detentores do poder


econômico privado

Ao assumirem o comando do Estado, os chefes militares


não hesitaram, ao longo dos anos, em mutilar o Congresso Na-
cional e o Judiciário: 281 parlamentares foram cassados, e três
ministros do Supremo Tribunal Federal, aposentados compulso-
riamente. Os governantes militares fizeram questão de subme-
ter à sua dominação absoluta, durante as duas décadas do regi-
me, o conjunto dos integrantes do poder civil, como uma espécie
de desforra pela longa série de frustrações políticas por eles,
homens de farda, sofridas desde o final do século XIX. É preciso
reconhecer que a grande maioria dos agentes públicos, poupa-
dos pela repressão instaurada após o golpe, colaborou desonro-
samente no funcionamento deste.
O novo regime político fundou-se na aliança das Forças Ar-
madas com os latifundiários e os grandes empresários, nacio-
nais e estrangeiros. Esse consórcio político engendrou duas
experiências pioneiras na América Latina: o terrorismo de Esta-
do e o neoliberalismo capitalista. A partir do exemplo brasileiro,
vários outros países latino-americanos adotaram, nos anos se-
guintes, com explícito apoio dos Estados Unidos, regimes políti-
cos semelhantes ao nosso.
Um dos setores em que a colaboração do empresariado
com a corporação militar mais se destacou foi o das comunica-
ções de massa. As Forças Armadas e o grande empresariado
necessitavam dispor de uma organização capaz de desenvolver,
em todo o território nacional, a propaganda ideológica do regime
autoritário, com a constante denúncia do perigo comunista e a
difusão sistemática, embora sempre encoberta, dos méritos do
sistema capitalista.
Os chefes militares decidiram, para tanto, fixar sua esco-
lha no Sistema Globo de Comunicações. Em 1969, ele possuía
três emissoras (Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte).
Quatro anos depois, em 1973, já contava com nada menos do
que onze.
A dominação empresarial do sistema de comunicações de
massa continuou a subsistir, uma vez encerrado o regime auto-
Cadernos IHU ideias ‡ 19
ritário, e persiste até hoje. A Constituição Federal de 1988 dis-
põe, em seu art. 220, § 5º, que “os meios de comunicação social
não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou
oligopólio”. Mas até o momento em que escrevo estas linhas –
mais de um quarto de século depois de promulgada a Consti-
tuição em vigor – esse dispositivo constitucional, como vários
outros do mesmo capítulo, permanece ineficaz por falta de regu-
lamentação legal.15
O casamento entre a corporação militar e o empresariado
continuou inabalado, enquanto subsistiram grupos de oposição
decididos a desenvolver, com ou sem apoio cubano, a luta arma-
da contra o regime autoritário.
No Brasil, os grandes empresários não hesitaram em finan-
ciar a instalação de aparelhos de terror estatal. No segundo se-
mestre de 1969, por exemplo, o II Exército, com sede em São
Paulo, lançou a Operação Bandeirante – embrião do futuro
DOI-CODI (Destacamento de Operações Internas e Centro de
Operações de Defesa Interna) – destinada a dizimar os princi-
pais opositores ao regime.16 Reunido com banqueiros paulistas
no segundo semestre daquele ano, o então ministro da econo-
mia Delfim Neto pediu e obteve sua contribuição financeira, ale-
gando que as Forças Armadas não tinham equipamento nem
verbas para enfrentar a “subversão”. Ao mesmo tempo, a Fede-
ração das Indústrias de São Paulo – FIESP convidou as empre-
sas que a integravam a colaborar no empreendimento. Assim,
enquanto a Ford e a Volkswagen forneciam automóveis, a Ultra-
gás emprestava caminhões e a Supergel abastecia a carcera-
gem militar com refeições congeladas.

A quebra de confiança do empresariado no poder militar

A lua de mel entre os grandes empresários e as Forças


Armadas, porém, não durou muito tempo. Em 12 de dezembro
de 1968, exatamente na véspera do lançamento do Ato Institu-
cional nº 5, que suspendeu o habeas corpus nos casos de cri-
mes políticos e contra a segurança nacional, o chefe da Polícia
Federal impediu a publicação, no jornal superconservador O
Estado de São Paulo, do editorial em que o diretor Júlio de Mes-
quita Filho condenava o “artificialismo institucional, que pela
pressão das armas foi o País obrigado a aceitar”.
15 Inconformado com essa vergonhosa submissão do Poder Legislativo aos
potentados privados do setor de comunicação social, consegui convencer
em 2011 um partido político (PSOL) e a Confederação Nacional dos Trabalha-
dores em Comunicação e Publicidade – Contcop a ingressarem com ações
diretas de inconstitucionalidade por omissão no Supremo Tribunal Federal
(ADO nº 10 e 11).
16 Cf. Elio Gaspari, A Ditadura Escancarada, 2002, Companhia das Letras, pp. 59
e ss.
20 ‡ Fábio Konder Comparato

Alguns anos mais tarde, quando se verificou que todos os


grupos engajados na luta armada contra o regime haviam sido
exterminados, os empresários começaram a manifestar sua irri-
tação com a permanência dos militares no comando do Estado
brasileiro. Tanto mais que os homens de farda deixaram-se se-
duzir pelas vantagens econômicas particulares desfrutadas no
comando do Estado, tais como o exercício de cargos de admi-
nistração altamente remunerados em empresas estatais, várias
delas criadas a partir do golpe de 1964.17
Em 1974, um dos grandes sacerdotes do credo liberal, Eu-
gênio Gudin, declarou publicamente que “o capitalismo brasilei-
ro é mais controlado pelo Estado do que o de qualquer outro
país, com exceção dos comunistas”. A seguir, em fevereiro de
1975, o jornal O Estado de São Paulo publicou uma série de
nada menos do que onze reportagens sob o título Os caminhos
da estatização, enquanto a Federação das Indústrias do Estado
de São Paulo divulgava o documento intitulado O Processo de
Estatização da Economia Brasileira: O Problema do Acesso aos
Recursos para Investimentos.18
A classe empresarial entendia, assim, haver chegado o mo-
mento de voltar a instalar no país o tradicional regime da falsa
democracia representativa, em cuja fachada aparece o poder
oficial atribuído a agentes políticos eleitos, enquanto por trás de-
la tem livre curso a dominação econômica, exercida pelos poten-
tados privados.
A pressão empresarial contra as Forças Armadas no co-
mando do Estado coincidiu com a eleição, para a Presidência
dos Estados Unidos, de Jimmy Carter, crítico implacável das vio-
lações de direitos humanos cometidas pelo regime militar brasi-
leiro. Em entrevista a um periódico norte-americano, ele chegou
a afirmar:
“Quando Kissinger [Secretário de Estado no governo Ri-
chard Nixon] diz, como fez há pouco, que o Brasil tem um
tipo de governo compatível com o nosso, bem, aí está o ti-
po de coisa que nós queremos mudar. O Brasil não tem um
governo democrático. É uma ditadura militar. Em muitos as-
pectos é altamente repressiva para os presos políticos.”19

17 Confiram-se os dados referidos por Elio Gaspari (A Ditadura Encurralada,


2004, Companhia das Letras, pág. 54): “Em 1962 só doze das trinta maio-
res empresas pertenciam ao Estado. Em 1971 elas eram dezessete. No final
do delfinato [período de atuação de Antonio Delfim Neto como ministro dos
governos militares] o Estado detinha 45,8% do patrimônio líquido das 5.257
principais empresas não agrícolas. Em 1972, durante as grandes festas do Mi-
lagre [o período de crescimento médio anual de 10% da economia brasileira],
o Estado era dono de 46 das cem maiores empresas não financeiras do Brasil,
e de nove das cem maiores empresas manufatureiras (contra sete em 66). No
delfinato a participação do setor público na indústria passara de 8% em 1966
para 15% em 72”.
18 Apud Elio Gaspari, A Ditadura Encurralada, cit., pp. 59 e ss.
19 Citado por Elio Gaspari, A Ditadura Encurralada, cit., p. 373.
Cadernos IHU ideias ‡ 21
Por sua vez, no seio do episcopado brasileiro – embora
vinculado, como de costume, aos detentores do poder supremo
– destacaram-se as figuras exponenciais de D. Helder Câmara e
de D. Paulo Evaristo Arns, para denunciar sem eufemismos, tan-
to aqui como no exterior, as atrocidades praticadas contra pre-
sos políticos.
O regime militar entrava, assim, em sua fase de declínio
inelutável, havendo perdido o apoio dos grupos que, tradicional-
mente, compõem a estrutura do poder entre nós.

A fase final do regime

Tudo parecia encaminhar-se para a “distensão lenta, gra-


dual e segura”, como pregava o General Golbery do Couto e
Silva, não fora o fato de restar irresolvida a questão das atroci-
dades cometidas pelos agentes militares e policiais, no quadro
do terrorismo de Estado.
Conforme dados oficiais da Comissão Especial sobre Mor-
tos e Desaparecidos Políticos, criada pela Lei nº 9.140 de 1995,
foram comprovados, até fevereiro de 2014, 362 (trezentos e ses-
senta e dois) casos de opositores políticos assassinados ou de-
saparecidos durante o regime militar.
Já a Secretaria Especial de Direitos Humanos do Ministério
da Justiça, no relatório intitulado Direito à Memória e à Verdade,
publicado em 2007, afirmou que tivemos não menos de 475
(quatrocentos e setenta e cinco) mortos e desaparecidos políti-
cos durante aquele período. Calcula-se, ademais, que 50 mil
pessoas foram presas por razões políticas, sendo a maior parte
delas torturadas, algumas até a morte. O governo militar chegou
mesmo a aparelhar, em Petrópolis, uma casa onde pelo menos
19 pessoas foram executadas, sendo seus corpos incinerados a
fim de não deixar vestígios.20
Em momento algum de nossa vida de país independente,
os governantes, quer no Império, quer na República, chegaram
a cometer tão repugnantes atrocidades.
A pressão do empresariado para que os chefes militares
deixassem o poder foi reforçada com a redução significativa da
taxa de crescimento econômico do país, a partir do final do go-
verno Geisel. Mas a corporação fardada hesitava em deixar o
comando do Estado, procurando a todo custo uma garantia de
que, quando isso ocorresse, os agentes policiais e militares res-
ponsáveis pelos atos de criminalidade violenta contra opositores
ao regime não seriam punidos. Essa solução contava com o
apoio decidido do grande empresariado, quando mais não fosse
porque alguns de seus líderes, como assinalado anteriormente,
20 Tive a honra de ser advogado da única sobrevivente da Casa da Morte de Petró-
polis, Inês Etienne Romeu, em ação declaratória proposta contra a União Fede-
ral em 1999, pelo sequestro, cárcere privado e torturas cometidos contra ela.
22 ‡ Fábio Konder Comparato

foram coautores dos crimes de terrorismo de Estado, havendo


financiado a operação do sistema repressivo.
Por sugestão dos políticos colaboradores do regime, os
chefes militares decidiram afinal embarcar no movimento já ini-
ciado de anistia aos presos e exilados políticos, de modo a es-
tendê-la aos autores de crimes de terrorismo de Estado.
Em junho de 1979, o general-presidente Figueiredo apre-
sentou ao Congresso Nacional um projeto, convertido em 28 de
agosto na Lei nº 6.683. Ela concedeu anistia “a todos quantos
[...] cometeram crimes políticos ou conexos com estes”; assim
considerados “os crimes de qualquer natureza relacionados com
crimes políticos ou praticados por motivação política”. Lançando
mão de cavilosa astúcia, os redatores da lei, ao invés de desig-
narem precisamente os demais crimes abrangidos pela anistia,
além dos delitos políticos propriamente ditos, preferiram utilizar
a expressão técnica “crimes conexos”. Ora, ela é totalmente
inepta no caso, pois são considerados como tais tão somente os
delitos com comunhão de intuitos ou objetivos, e ninguém em
são juízo pode afirmar que os opositores ao regime militar e os
agentes estatais que os torturaram e mataram tivessem agido
com objetivos comuns.
Irresignado com essa solerte velhacaria, sugeri em 2008
ao Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil que
ajuizasse, em relação a essa lei, uma arguição de descumpri-
mento de preceito fundamental perante o Supremo Tribunal
Federal. A ação foi proposta, pedindo-se ao tribunal que inter-
pretasse o texto legal de acordo com a Constituição que entrou
em vigor em 1988, em cujo art. 5º, inciso LXIII, dispõe-se que o
crime de tortura é insuscetível de graça ou anistia, sendo in-
controverso que toda lei contrária ao texto ou ao espírito de
uma Constituição nova considera-se tacitamente revogada por
esta. Pediu-se, ademais, que a lei de anistia fosse interpretada
à luz dos princípios e normas do sistema internacional de direi-
tos humanos.
Em abril de 2010, o Supremo Tribunal Federal julgou, por
maioria, improcedente a ação proposta pela OAB. Desse acór-
dão foi interposto recurso de embargos declaratórios, pois o tri-
bunal deixou de considerar o fato de que vários dos crimes ditos
conexos, cometidos por agentes do regime militar – como, por
exemplo, o sequestro ou a ocultação de cadáver –, são qualifica-
dos como permanentes ou continuados; o que significa que ain-
da não se consideram consumados e, portanto, não foram
abrangidos pela lei de anistia, dado que esta declarou não apli-
car-se aos crimes cuja consumação é posterior a 15 de agosto
de 1979.
Seis meses depois desse julgamento, mais exatamente em
24 de novembro de 2010, a Corte Interamericana de Direitos
Humanos, por unanimidade, condenou o Estado Brasileiro, ao
Cadernos IHU ideias ‡ 23
julgar o Caso Gomes Lund e outros v. Brasil (“Guerrilha do Ara-
guaia”). Nessa decisão, declarou a Corte:
“As disposições da Lei de Anistia brasileira que impedem
a investigação e sanção de graves violações de direitos
humanos são incompatíveis com a Convenção America-
na [sobre Direitos Humanos], carecem de efeitos jurídicos
e não podem seguir representando um obstáculo para a
investigação dos fatos do presente caso, nem para a iden-
tificação e punição dos responsáveis, e tampouco podem
ter igual ou semelhante impacto a respeito de outros casos
de graves violações de direitos humanos consagrados na
Convenção Americana ocorridos no Brasil.”
Dois foram os fundamentos para tal decisão.
Em primeiro lugar, o fato de que as gravíssimas violações
de direitos humanos praticadas durante o terrorismo de Estado
do nosso regime empresarial-militar constituíram crimes contra
a humanidade; ou seja, crimes nos quais é negada às vítimas a
condição de ser humano.
Em duas Resoluções formuladas em 1946, a Assembleia
Geral das Nações Unidas considerou que a conceituação tipológi-
ca de tais delitos representa um princípio de direito internacional.
Essa mesma qualificação foi dada pela Corte Internacional
de Justiça às disposições da Declaração Universal dos Direitos
do Homem, de 1948, cujos artigos III e V estatuem que “todo
homem tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal”, e
que “ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou
castigo cruel, desumano ou degradante”.
Ora, os princípios, como assinalado pela doutrina contem-
porânea, situam-se no mais elevado grau do sistema normati-
vo. Eles podem, por isso mesmo, deixar de ser expressos em
textos de direito positivo, como as Constituições, as leis ou os
tratados internacionais.
O segundo fundamento da decisão condenatória do Estado
Brasileiro no processo Gomes Lund e outros v. Brasil (“Guerri-
lha do Araguaia”) foi o fato de que a Lei nº 6.683 de 1979 repre-
sentou, na verdade, uma autoanistia, inadmissível no sistema
internacional de direitos humanos. Como salientou a referida
Sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos, a res-
ponsabilidade pelo cometimento de graves violações de direitos
humanos não pode ser reduzida ou suprimida por nenhum Esta-
do, menos ainda mediante o procedimento de uma autoanistia
decretada pelos governantes responsáveis, pois trata-se de ma-
téria que transcende a soberania estatal.
Pois bem, no julgamento pelo Supremo Tribunal Federal da
arguição de descumprimento de preceito fundamental nº 153,
proposta pelo Conselho Federal da OAB, o ministro relator e ou-
tro que o acompanhou afirmaram que a Lei nº 6.683 não poderia
ser concebida como autoanistia, mas sim como uma anistia bila-
24 ‡ Fábio Konder Comparato

teral entre governantes e governados. Ou seja, segundo essa


original interpretação, torturadores e torturados, reunidos em
uma espécie de contrato particular de intercâmbio de presta-
ções, teriam resolvido anistiar-se reciprocamente...
Frise-se, desde logo, a repulsiva imoralidade de um pacto
dessa natureza, se é que ele realmente existiu: o respeito mais
elementar à dignidade humana impede que a impunidade dos
autores de crimes hediondos ou contra a humanidade seja obje-
to de negociação pelos próprios interessados.
Na verdade, o propalado “acordo de anistia” dos crimes
contra a humanidade, praticados pelos agentes da repressão,
não passou de uma encoberta conciliação oligárquica, na li-
nha de nossa mais longeva tradição. A validade de qualquer
pacto ou acordo supõe a existência de partes legitimadas a
concluí-lo. Se havia à época, de um lado, chefes militares de-
tentores do poder supremo, quem estaria do outro lado? Por-
ventura, as vítimas ainda vivas e os familiares de mortos pela
repressão militar foram chamados a negociar esse acordo? O
povo brasileiro, declarado solenemente como titular da sobera-
nia, foi convocado a referendá-lo?
O mais escandaloso de toda essa tese do acordo político é
que, após a promulgação da lei de anistia, certos agentes milita-
res continuaram a desenvolver impunemente sua atividade terro-
rista. O Ministério Público Militar apurou que, entre 1979 e 1981,
houve 40 atentados a bomba, praticados por um grupo de oficiais
militares reunidos em uma organização terrorista. Foi preciso, no
entanto, aguardar até fevereiro de 2014, ou seja, 33 anos depois
do último atentado, para que fosse apresentada denúncia criminal
contra os integrantes dessa quadrilha por homicídio doloso, asso-
ciação criminosa armada e transporte de explosivos.
É deplorável constatar que o nosso país é o único na Amé-
rica Latina a continuar sustentando a validade de uma autoanis-
tia decretada pelos militares que deixaram o poder. Na Argenti-
na, no Chile, no Uruguai, no Peru, na Colômbia e recentemente
na Guatemala, o Poder Judiciário decidiu pela flagrante incons-
titucionalidade desse remendo institucional.
O caso do regime pós-militar argentino é paradigmático a
esse respeito e nos cobre de vergonha. A Suprema Corte de
Justiça do país julgou inconstitucional, em 2005, a anistia dos
crimes cometidos pelos agentes estatais contra os opositores
políticos aos governos militares, iniciando-se desde então os
consequentes processos penais. Pois bem, até fevereiro de
2014, nada menos do que 370 (trezentos e setenta) criminosos
dos dois regimes militares argentinos (1966-1973 e 1973-1983)
foram condenados à pena de prisão; inclusive dois ex-presi-
dentes da República, que amargaram a prisão perpétua, sendo
que um deles faleceu no cárcere. A persecução penal esten-
deu-se até mesmo a ex-magistrados, considerados coautores
de tais crimes.
Cadernos IHU ideias ‡ 25
No Brasil, bem ao contrário, até hoje nem um só autor de
crime praticado no quadro do terrorismo de Estado do regime
empresarial-militar foi condenado pela Justiça. Passados
mais de três anos da prolação da sentença condenatória da
Corte Interamericana de Direitos Humanos, o Estado Brasilei-
ro ainda não cumpriu nenhum dos seus 12 pontos conclusi-
vos, em flagrante violação da Constituição Federal e do siste-
ma internacional de direitos humanos. De minha parte, há
pelo menos três anos tenho envidado esforços no sentido de
que essa grave omissão de nossos Poderes Públicos seja le-
vada a juízo no Brasil e denunciada perante as instâncias in-
ternacionais, a fim de que fique bem marcada a responsabili-
dade do Estado brasileiro.

Conclusão
A votação da lei de anistia em 1979 representou, na verda-
de, a conclusão de um pacto oculto entre as Forças Armadas e
ambos os grupos que sempre exerceram conjuntamente a sobe-
rania entre nós – os agentes políticos e os potentados econômi-
cos privados –, com o objetivo de devolver aos dois últimos o
comando supremo do Estado, que os militares haviam arrebata-
do em 1964.
Nesse episódio, à semelhança de tantos outros em nossa
História, o povo foi posto de lado, como se nada tivesse a ver
com isso. A Constituição promulgada em 5 de outubro de 1988,
seguindo as que a antecederam, proclama solenemente que “to-
do poder emana do povo” (art. 1º, parágrafo único). Chega mes-
mo a declarar que o povo exerce seu poder não apenas por
meio de representantes eleitos, mas diretamente, isto é, me-
diante plebiscitos e referendos (art. 14).
Tais declarações constitucionais – é lamentável dizê-lo –
são meras figuras de retórica.
Sem dúvida, os cidadãos brasileiros votam regularmente
em eleições. O conjunto dos eleitos, no entanto, sempre ficou
muito longe de defender os verdadeiros interesses da maioria do
eleitorado, pertencente aos estratos pobres da população. O
que os mal chamados representantes do povo defendem, isto
sim, são os interesses da minoria proprietária e empresária, a
qual fornece, por meio de doações, nada menos que dois ter-
ços das receitas dos principais partidos políticos. Para se ter
uma ideia da falsidade de nossa democracia representativa,
basta assinalar um só fato: enquanto cerca de 40 mil produto-
res agrícolas, os quais exploram 50% das áreas cultiváveis do
país, elegem de 120 a 140 deputados federais, os componen-
tes das 4 a 6 milhões de famílias que praticam a agricultura
familiar são representados no Congresso Nacional por, no má-
ximo, 12 deputados.
26 ‡ Fábio Konder Comparato

Quanto às instituições da democracia direta – grande novi-


dade do texto constitucional de 1988 –, elas só existem no pa-
pel. O art. 49, inciso XV da Constituição dispõe que “é da compe-
tência exclusiva do Congresso Nacional autorizar referendo e
convocar plebiscito”. Ou seja, o povo soberano somente poderá
tomar diretamente decisões políticas, quando autorizado pelos
seus representantes. Trata-se, sem dúvida, de uma original mo-
dalidade de mandato...
Enquanto persistir essa triste realidade, não ficará afastada
a possibilidade de voltarem a ocorrer prolongados desmandos
políticos, como o provocado pelo golpe de Estado de 1964.
Felizmente, a consciência pública começa aos poucos a se
dar conta de que a única via de solução para esse impasse con-
siste em instituir no país um regime político de efetiva soberania
popular, no qual haja a supremacia constante do bem comum do
povo (a res publica romana) sobre todo e qualquer interesse par-
ticular, com controles permanentes sobre o exercício do poder
em todos os níveis. Em suma, a criação de um autêntico Estado
de Direito, Republicano e Democrático.
Para alcançar esse objetivo, o caminho é longo e penoso.
Mas o que importa é começar desde logo a dar os primeiros
passos, no sentido da defesa intransigente da dignidade do po-
vo brasileiro.
“Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!”21

21 Mário Quintana, Espelho Mágico.


CADERNOS IHU IDEIAS
N. 01 A teoria da justiça de John Rawls – Dr. José Nedel
N. 02 O feminismo ou os feminismos: Uma leitura das produções teóricas – Dra. Edla Eggert
O Serviço Social junto ao Fórum de Mulheres em São Leopoldo – MS Clair Ribeiro Ziebell e Acadêmicas
Anemarie Kirsch Deutrich e Magali Beatriz Strauss
N. 03 O programa Linha Direta: a sociedade segundo a TV Globo – Jornalista Sonia Montaño
N. 04 Ernani M. Fiori – Uma Filosofia da Educação Popular – Prof. Dr. Luiz Gilberto Kronbauer
N. 05 O ruído de guerra e o silêncio de Deus – Dr. Manfred Zeuch
N. 06 BRASIL: Entre a Identidade Vazia e a Construção do Novo – Prof. Dr. Renato Janine Ribeiro
N. 07 Mundos televisivos e sentidos identiários na TV – Profa. Dra. Suzana Kilpp
N. 08 Simões Lopes Neto e a Invenção do Gaúcho – Profa. Dra. Márcia Lopes Duarte
N. 09 Oligopólios midiáticos: a televisão contemporânea e as barreiras à entrada – Prof. Dr. Valério
Cruz Brittos
N. 10 Futebol, mídia e sociedade no Brasil: reflexões a partir de um jogo – Prof. Dr. Édison Luis
Gastaldo
N. 11 Os 100 anos de Theodor Adorno e a Filosofia depois de Auschwitz – Profa. Dra. Márcia Tiburi
N. 12 A domesticação do exótico – Profa. Dra. Paula Caleffi
N. 13 Pomeranas parceiras no caminho da roça: um jeito de fazer Igreja, Teologia e Educação Popular
– Profa. Dra. Edla Eggert
N. 14 Júlio de Castilhos e Borges de Medeiros: a prática política no RS – Prof. Dr. Gunter Axt
N. 15 Medicina social: um instrumento para denúncia – Profa. Dra. Stela Nazareth Meneghel
N. 16 Mudanças de significado da tatuagem contemporânea – Profa. Dra. Débora Krischke Leitão
N. 17 As sete mulheres e as negras sem rosto: ficção, história e trivialidade – Prof. Dr. Mário Maestri
N. 18 Um itinenário do pensamento de Edgar Morin – Profa. Dra. Maria da Conceição de Almeida
N. 19 Os donos do Poder, de Raymundo Faoro – Profa. Dra. Helga Iracema Ladgraf Piccolo
N. 20 Sobre técnica e humanismo – Prof. Dr. Oswaldo Giacóia Junior
N. 21 Construindo novos caminhos para a intervenção societária – Profa. Dra. Lucilda Selli
N. 22 Física Quântica: da sua pré-história à discussão sobre o seu conteúdo essencial – Prof. Dr. Paulo
Henrique Dionísio
N. 23 Atualidade da filosofia moral de Kant, desde a perspectiva de sua crítica a um solipsismo prático
– Prof. Dr. Valério Rohden
N. 24 Imagens da exclusão no cinema nacional – Profa. Dra. Miriam Rossini
N. 25 A estética discursiva da tevê e a (des)configuração da informação – Profa. Dra. Nísia Martins do
Rosário
N. 26 O discurso sobre o voluntariado na Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS – MS Rosa
Maria Serra Bavaresco
N. 27 O modo de objetivação jornalística – Profa. Dra. Beatriz Alcaraz Marocco
N. 28 A cidade afetada pela cultura digital – Prof. Dr. Paulo Edison Belo Reyes
N. 29 Prevalência de violência de gênero perpetrada por companheiro: Estudo em um serviço de aten-
ção primária à saúde – Porto Alegre, RS – Prof. MS José Fernando Dresch Kronbauer
N. 30 Getúlio, romance ou biografia? – Prof. Dr. Juremir Machado da Silva
N. 31 A crise e o êxodo da sociedade salarial – Prof. Dr. André Gorz
N. 32 À meia luz: a emergência de uma Teologia Gay – Seus dilemas e possibilidades – Prof. Dr. André
Sidnei Musskopf
N. 33 O vampirismo no mundo contemporâneo: algumas considerações – Prof. MS Marcelo Pizarro
Noronha
N. 34 O mundo do trabalho em mutação: As reconfigurações e seus impactos – Prof. Dr. Marco Aurélio
Santana
N. 35 Adam Smith: filósofo e economista – Profa. Dra. Ana Maria Bianchi e Antonio Tiago Loureiro
Araújo dos Santos
N. 36 Igreja Universal do Reino de Deus no contexto do emergente mercado religioso brasileiro: uma
análise antropológica – Prof. Dr. Airton Luiz Jungblut
N. 37 As concepções teórico-analíticas e as proposições de política econômica de Keynes – Prof. Dr.
Fernando Ferrari Filho
N. 38 Rosa Egipcíaca: Uma Santa Africana no Brasil Colonial – Prof. Dr. Luiz Mott
N. 39 Malthus e Ricardo: duas visões de economia política e de capitalismo – Prof. Dr. Gentil Corazza
N. 40 Corpo e Agenda na Revista Feminina – MS Adriana Braga
N. 41 A (anti)filosofia de Karl Marx – Profa. Dra. Leda Maria Paulani
N. 42 Veblen e o Comportamento Humano: uma avaliação após um século de “A Teoria da Classe
Ociosa” – Prof. Dr. Leonardo Monteiro Monasterio
N. 43 Futebol, Mídia e Sociabilidade. Uma experiência etnográfica – Édison Luis Gastaldo, Rodrigo
Marques Leistner, Ronei Teodoro da Silva e Samuel McGinity
N. 44 Genealogia da religião. Ensaio de leitura sistêmica de Marcel Gauchet. Aplicação à situação atual
do mundo – Prof. Dr. Gérard Donnadieu
N. 45 A realidade quântica como base da visão de Teilhard de Chardin e uma nova concepção da
evolução biológica – Prof. Dr. Lothar Schäfer
N. 46 “Esta terra tem dono”. Disputas de representação sobre o passado missioneiro no Rio Grande do
Sul: a figura de Sepé Tiaraju – Profa. Dra. Ceres Karam Brum
N. 47 O desenvolvimento econômico na visão de Joseph Schumpeter – Prof. Dr. Achyles Barcelos da Costa
N. 48 Religião e elo social. O caso do cristianismo – Prof. Dr. Gérard Donnadieu
N. 49 Copérnico e Kepler: como a terra saiu do centro do universo – Prof. Dr. Geraldo Monteiro Sigaud
N. 50 Modernidade e pós-modernidade – luzes e sombras – Prof. Dr. Evilázio Teixeira
N. 51 Violências: O olhar da saúde coletiva – Élida Azevedo Hennington e Stela Nazareth Meneghel
N. 52 Ética e emoções morais – Prof. Dr. Thomas KesselringJuízos ou emoções: de quem é a primazia
na moral? – Prof. Dr. Adriano Naves de Brito
N. 53 Computação Quântica. Desafios para o Século XXI – Prof. Dr. Fernando Haas
N. 54 Atividade da sociedade civil relativa ao desarmamento na Europa e no Brasil – Profa. Dra. An Vranckx
N. 55 Terra habitável: o grande desafio para a humanidade – Prof. Dr. Gilberto Dupas
N. 56 O decrescimento como condição de uma sociedade convivial – Prof. Dr. Serge Latouche
N. 57 A natureza da natureza: auto-organização e caos – Prof. Dr. Günter Küppers
N. 58 Sociedade sustentável e desenvolvimento sustentável: limites e possibilidades – Dra. Hazel
Henderson
N. 59 Globalização – mas como? – Profa. Dra. Karen Gloy
N. 60 A emergência da nova subjetividade operária: a sociabilidade invertida – MS Cesar Sanson
N. 61 Incidente em Antares e a Trajetória de Ficção de Erico Veríssimo – Profa. Dra. Regina Zilberman
N. 62 Três episódios de descoberta científica: da caricatura empirista a uma outra história – Prof. Dr.
Fernando Lang da Silveira e Prof. Dr. Luiz O. Q. Peduzzi
N. 63 Negações e Silenciamentos no discurso acerca da Juventude – Cátia Andressa da Silva
N. 64 Getúlio e a Gira: a Umbanda em tempos de Estado Novo – Prof. Dr. Artur Cesar Isaia
N. 65 Darcy Ribeiro e o O povo brasileiro: uma alegoria humanista tropical – Profa. Dra. Léa Freitas Perez
N. 66 Adoecer: Morrer ou Viver? Reflexões sobre a cura e a não cura nas reduções jesuítico-guaranis
(1609-1675) – Profa. Dra. Eliane Cristina Deckmann Fleck
N. 67 Em busca da terceira margem: O olhar de Nelson Pereira dos Santos na obra de Guimarães
Rosa – Prof. Dr. João Guilherme Barone
N. 68 Contingência nas ciências físicas – Prof. Dr. Fernando Haas
N. 69 A cosmologia de Newton – Prof. Dr. Ney Lemke
N. 70 Física Moderna e o paradoxo de Zenon – Prof. Dr. Fernando Haas
N. 71 O passado e o presente em Os Inconfidentes, de Joaquim Pedro de Andrade – Profa. Dra. Miriam
de Souza Rossini
N. 72 Da religião e de juventude: modulações e articulações – Profa. Dra. Léa Freitas Perez
N. 73 Tradição e ruptura na obra de Guimarães Rosa – Prof. Dr. Eduardo F. Coutinho
N. 74 Raça, nação e classe na historiografia de Moysés Vellinho – Prof. Dr. Mário Maestri
N. 75 A Geologia Arqueológica na Unisinos – Prof. MS Carlos Henrique Nowatzki
N. 76 Campesinato negro no período pós-abolição: repensando Coronelismo, enxada e voto – Profa.
Dra. Ana Maria Lugão Rios
N. 77 Progresso: como mito ou ideologia – Prof. Dr. Gilberto Dupas
N. 78 Michael Aglietta: da Teoria da Regulação à Violência da Moeda – Prof. Dr. Octavio A. C. Conceição
N. 79 Dante de Laytano e o negro no Rio Grande Do Sul – Prof. Dr. Moacyr Flores
N. 80 Do pré-urbano ao urbano: A cidade missioneira colonial e seu território – Prof. Dr. Arno Alvarez Kern
N. 81 Entre Canções e versos: alguns caminhos para a leitura e a produção de poemas na sala de
aula – Profa. Dra. Gláucia de Souza
N. 82 Trabalhadores e política nos anos 1950: a ideia de “sindicalismo populista” em questão – Prof. Dr.
Marco Aurélio Santana
N. 83 Dimensões normativas da Bioética – Prof. Dr. Alfredo Culleton e Prof. Dr. Vicente de Paulo Barretto
N. 84 A Ciência como instrumento de leitura para explicar as transformações da natureza – Prof. Dr.
Attico Chassot
N. 85 Demanda por empresas responsáveis e Ética Concorrencial: desafios e uma proposta para a
gestão da ação organizada do varejo – Profa. Dra. Patrícia Almeida Ashley
N. 86 Autonomia na pós-modernidade: um delírio? – Prof. Dr. Mario Fleig
N. 87 Gauchismo, tradição e Tradicionalismo – Profa. Dra. Maria Eunice Maciel
N. 88 A ética e a crise da modernidade: uma leitura a partir da obra de Henrique C. de Lima Vaz – Prof.
Dr. Marcelo Perine
N. 89 Limites, possibilidades e contradições da formação humana na Universidade – Prof. Dr. Laurício
Neumann
N. 90 Os índios e a História Colonial: lendo Cristina Pompa e Regina Almeida – Profa. Dra. Maria
Cristina Bohn Martins
N. 91 Subjetividade moderna: possibilidades e limites para o cristianismo – Prof. Dr. Franklin Leopoldo
e Silva
N. 92 Saberes populares produzidos numa escola de comunidade de catadores: um estudo na pers-
pectiva da Etnomatemática – Daiane Martins Bocasanta
N. 93 A religião na sociedade dos indivíduos: transformações no campo religioso brasileiro – Prof. Dr.
Carlos Alberto Steil
N. 94 Movimento sindical: desafios e perspectivas para os próximos anos – MS Cesar Sanson
N. 95 De volta para o futuro: os precursores da nanotecnociência – Prof. Dr. Peter A. Schulz
N. 96 Vianna Moog como intérprete do Brasil – MS Enildo de Moura Carvalho
N. 97 A paixão de Jacobina: uma leitura cinematográfica – Profa. Dra. Marinês Andrea Kunz
N. 98 Resiliência: um novo paradigma que desafia as religiões – MS Susana María Rocca Larrosa
N. 99 Sociabilidades contemporâneas: os jovens na lan house – Dra. Vanessa Andrade Pereira
N. 100 Autonomia do sujeito moral em Kant – Prof. Dr. Valerio Rohden
N. 101 As principais contribuições de Milton Friedman à Teoria Monetária: parte 1 – Prof. Dr. Roberto
Camps Moraes
N. 102 Uma leitura das inovações bio(nano)tecnológicas a partir da sociologia da ciência – MS Adriano
Premebida
N. 103 ECODI – A criação de espaços de convivência digital virtual no contexto dos processos de ensino
e aprendizagem em metaverso – Profa. Dra. Eliane Schlemmer
N. 104 As principais contribuições de Milton Friedman à Teoria Monetária: parte 2 – Prof. Dr. Roberto
Camps Moraes
N. 105 Futebol e identidade feminina: um estudo etnográfico sobre o núcleo de mulheres gremistas –
Prof. MS Marcelo Pizarro Noronha
N. 106 Justificação e prescrição produzidas pelas Ciências Humanas: Igualdade e Liberdade nos discur-
sos educacionais contemporâneos – Profa. Dra. Paula Corrêa Henning
N. 107 Da civilização do segredo à civilização da exibição: a família na vitrine – Profa. Dra. Maria Isabel
Barros Bellini
N. 108 Trabalho associado e ecologia: vislumbrando um ethos solidário, terno e democrático? – Prof. Dr.
Telmo Adams
N. 109 Transumanismo e nanotecnologia molecular – Prof. Dr. Celso Candido de Azambuja
N. 110 Formação e trabalho em narrativas – Prof. Dr. Leandro R. Pinheiro
N. 111 Autonomia e submissão: o sentido histórico da administração – Yeda Crusius no Rio Grande do
Sul – Prof. Dr. Mário Maestri
N. 112 A comunicação paulina e as práticas publicitárias: São Paulo e o contexto da publicidade e pro-
paganda – Denis Gerson Simões
N. 113 Isto não é uma janela: Flusser, Surrealismo e o jogo contra – Esp. Yentl Delanhesi
N. 114 SBT: jogo, televisão e imaginário de azar brasileiro – MS Sonia Montaño
N. 115 Educação cooperativa solidária: perspectivas e limites – Prof. MS Carlos Daniel Baioto
N. 116 Humanizar o humano – Roberto Carlos Fávero
N. 117 Quando o mito se torna verdade e a ciência, religião – Róber Freitas Bachinski
N. 118 Colonizando e descolonizando mentes – Marcelo Dascal
N. 119 A espiritualidade como fator de proteção na adolescência – Luciana F. Marques e Débora D.
Dell’Aglio
N. 120 A dimensão coletiva da liderança – Patrícia Martins Fagundes Cabral e Nedio Seminotti
N. 121 Nanotecnologia: alguns aspectos éticos e teológicos – Eduardo R. Cruz
N. 122 Direito das minorias e Direito à diferenciação – José Rogério Lopes
N. 123 Os direitos humanos e as nanotecnologias: em busca de marcos regulatórios – Wilson Engelmann
N. 124 Desejo e violência – Rosane de Abreu e Silva
N. 125 As nanotecnologias no ensino – Solange Binotto Fagan
N. 126 Câmara Cascudo: um historiador católico – Bruna Rafaela de Lima
N. 127 O que o câncer faz com as pessoas? Reflexos na literatura universal: Leo Tolstoi – Thomas Mann
– Alexander Soljenítsin – Philip Roth – Karl-Josef Kuschel
N. 128 Dignidade da pessoa humana e o direito fundamental à identidade genética – Ingo Wolfgang
Sarlet e Selma Rodrigues Petterle
N. 129 Aplicações de caos e complexidade em ciências da vida – Ivan Amaral Guerrini
N. 130 Nanotecnologia e meio ambiente para uma sociedade sustentável – Paulo Roberto Martins
N. 131 A philía como critério de inteligibilidade da mediação comunitária – Rosa Maria Zaia Borges Abrão
N. 132 Linguagem, singularidade e atividade de trabalho – Marlene Teixeira e Éderson de Oliveira Cabral
N. 133 A busca pela segurança jurídica na jurisdição e no processo sob a ótica da teoria dos sistemas
sociais de Nicklass Luhmann – Leonardo Grison
N. 134 Motores Biomoleculares – Ney Lemke e Luciano Hennemann
N. 135 As redes e a construção de espaços sociais na digitalização – Ana Maria Oliveira Rosa
N. 136 De Marx a Durkheim: Algumas apropriações teóricas para o estudo das religiões afro-brasileiras
– Rodrigo Marques Leistner
N. 137 Redes sociais e enfrentamento do sofrimento psíquico: sobre como as pessoas reconstroem
suas vidas – Breno Augusto Souto Maior Fontes
N. 138 As sociedades indígenas e a economia do dom: O caso dos guaranis – Maria Cristina Bohn
Martins
N. 139 Nanotecnologia e a criação de novos espaços e novas identidades – Marise Borba da Silva
N. 140 Platão e os Guarani – Beatriz Helena Domingues
N. 141 Direitos humanos na mídia brasileira – Diego Airoso da Motta
N. 142 Jornalismo Infantil: Apropriações e Aprendizagens de Crianças na Recepção da Revista Recreio
– Greyce Vargas
N. 143 Derrida e o pensamento da desconstrução: o redimensionamento do sujeito – Paulo Cesar
Duque-Estrada
N. 144 Inclusão e Biopolítica – Maura Corcini Lopes, Kamila Lockmann, Morgana Domênica Hattge e
Viviane Klaus
N. 145 Os povos indígenas e a política de saúde mental no Brasil: composição simétrica de saberes para
a construção do presente – Bianca Sordi Stock
N. 146 Reflexões estruturais sobre o mecanismo de REDD – Camila Moreno
N. 147 O animal como próximo: por uma antropologia dos movimentos de defesa dos direitos animais –
Caetano Sordi
N. 148 Avaliação econômica de impactos ambientais: o caso do aterro sanitário em Canoas-RS – Fer-
nanda Schutz
N. 149 Cidadania, autonomia e renda básica – Josué Pereira da Silva
N. 150 Imagética e formações religiosas contemporâneas: entre a performance e a ética – José Rogério
Lopes
N. 151 As reformas político-econômicas pombalinas para a Amazônia: e a expulsão dos jesuítas do
Grão-Pará e Maranhão – Luiz Fernando Medeiros Rodrigues
N. 152 Entre a Revolução Mexicana e o Movimento de Chiapas: a tese da hegemonia burguesa no
México ou “por que voltar ao México 100 anos depois” – Claudia Wasserman
N. 153 Globalização e o pensamento econômico franciscano: Orientação do pensamento econômico
franciscano e Caritas in Veritate – Stefano Zamagni
N. 154 Ponto de cultura teko arandu: uma experiência de inclusão digital indígena na aldeia kaiowá e
guarani Te’ýikue no município de Caarapó-MS – Neimar Machado de Sousa, Antonio Brand e
José Francisco Sarmento
N. 155 Civilizar a economia: o amor e o lucro após a crise econômica – Stefano Zamagni
N. 156 Intermitências no cotidiano: a clínica como resistência inventiva – Mário Francis Petry Londero e
Simone Mainieri Paulon
N. 157 Democracia, liberdade positiva, desenvolvimento – Stefano Zamagni
N. 158 “Passemos para a outra margem”: da homofobia ao respeito à diversidade – Omar Lucas Perrout
Fortes de Sales
N. 159 A ética católica e o espírito do capitalismo – Stefano Zamagni
N. 160 O Slow Food e novos princípios para o mercado – Eriberto Nascente Silveira
N. 161 O pensamento ético de Henri Bergson: sobre As duas fontes da moral e da religião – André
Brayner de Farias
N. 162 O modus operandi das políticas econômicas keynesianas – Fernando Ferrari Filho e Fábio Hen-
rique Bittes Terra
N. 163 Cultura popular tradicional: novas mediações e legitimações culturais de mestres populares pau-
listas – André Luiz da Silva
N. 164 Será o decrescimento a boa nova de Ivan Illich? – Serge Latouche
N. 165 Agostos! A “Crise da Legalidade”: vista da janela do Consulado dos Estados Unidos em Porto
Alegre – Carla Simone Rodeghero
N. 166 Convivialidade e decrescimento – Serge Latouche
N. 167 O impacto da plantação extensiva de eucalipto nas culturas tradicionais: Estudo de caso de São
Luis do Paraitinga – Marcelo Henrique Santos Toledo
N. 168 O decrescimento e o sagrado – Serge Latouche
N. 169 A busca de um ethos planetário – Leonardo Boff
N. 170 O salto mortal de Louk Hulsman e a desinstitucionalização do ser: um convite ao abolicionismo –
Marco Antonio de Abreu Scapini
N. 171 Sub specie aeternitatis – O uso do conceito de tempo como estratégia pedagógica de religação
dos saberes – Gerson Egas Severo
N. 172 Theodor Adorno e a frieza burguesa em tempos de tecnologias digitais – Bruno Pucci
N. 173 Técnicas de si nos textos de Michel Foucault: A influência do poder pastoral – João Roberto Barros II
N. 174 Da mônada ao social: A intersubjetividade segundo Levinas – Marcelo Fabri
N. 175 Um caminho de educação para a paz segundo Hobbes – Lucas Mateus Dalsotto e Everaldo Cescon
N. 176 Da magnitude e ambivalência à necessária humanização da tecnociência segundo Hans Jonas –
Jelson Roberto de Oliveira
N. 177 Um caminho de educação para a paz segundo Locke – Odair Camati e Paulo César Nodari
N. 178 Crime e sociedade estamental no Brasil: De como la ley es como la serpiente; solo pica a los
descalzos – Lenio Luiz Streck
N. 179 Um caminho de educação para a paz segundo Rousseau – Mateus Boldori e Paulo César Nodari
N. 180 Limites e desafios para os direitos humanos no Brasil: entre o reconhecimento e a concretização
– Afonso Maria das Chagas
N. 181 Apátridas e refugiados: direitos humanos a partir da ética da alteridade – Gustavo Oliveira de
Lima Pereira
N. 182 Censo 2010 e religiões:reflexões a partir do novo mapa religioso brasileiro – José Rogério Lopes
N. 183 A Europa e a ideia de uma economia civil – Stefano Zamagni
N. 184 Para um discurso jurídico-penal libertário: a pena como dispositivo político (ou o direito penal
como “discurso-limite”) – Augusto Jobim do Amaral
N. 185 A identidade e a missão de uma universidade católica na atualidade – Stefano Zamagni
N. 186 A hospitalidade frente ao processo de reassentamento solidário aos refugiados – Joseane Mariéle
Schuck Pinto
N. 187 Os arranjos colaborativos e complementares de ensino, pesquisa e extensão na educação supe-
rior brasileira e sua contribuição para um projeto de sociedade sustentável no Brasil – Marcelo F.
de Aquino
N. 188 Os riscos e as loucuras dos discursos da razão no campo da prevenção – Luis David Castiel
N. 189 Produções tecnológicas e biomédicas e seus efeitos produtivos e prescritivos nas práticas sociais
e de gênero – Marlene Tamanini
N. 190 Ciência e justiça: Considerações em torno da apropriação da tecnologia de DNA pelo direito –
Claudia Fonseca
N. 191 #VEMpraRUA: Outono brasileiro? Leituras – Bruno Lima Rocha, Carlos Gadea, Giovanni Alves,
Giuseppe Cocco, Luiz Werneck Vianna e Rudá Ricci
N. 192 A ciência em ação de Bruno Latour – Leticia de Luna Freire
N. 193 Laboratórios e Extrações: quando um problema técnico se torna uma 0questão sociotécnica –
Rodrigo Ciconet Dornelles
N. 194 A pessoa na era da biopolítica: autonomia, corpo e subjetividade – Heloisa Helena Barboza
N. 195 Felicidade e Economia: uma retrospectiva histórica – Pedro Henrique de Morais Campetti e Tiago
Wickstrom Alves
N. 196 A colaboração de Jesuítas, Leigos e Leigas nas Universidades confiadas à Companhia de Jesus:
o diálogo entre humanismo evangélico e humanismo tecnocientífico – Adolfo Nicolás
N. 197 Brasil: verso e reverso constitucional – Fábio Konder Comparato
N. 198 Sem-religião no Brasil: Dois estranhos sob o guarda-chuva – Jorge Claudio Ribeiro
N. 199 Uma ideia de educação segundo Kant: uma possível contribuição para o século XXI – Felipe
Bragagnolo e Paulo César Nodari
N. 200 Aspectos do direito de resistir e a luta socialpor moradia urbana: a experiência da ocupação
Raízes da Praia – Natalia Martinuzzi Castilho
N. 201 Desafios éticos, filosóficos e políticos da biologia sintética – Jordi Maiso
N. 202 Fim da Política, do Estado e da cidadania? – Roberto Romano
N. 203 Constituição Federal e Direitos Sociais: avanços e recuos da cidadania – Maria da Glória Gohn
N. 204 As origens históricas do racionalismo, segundo Feyerabend – Miguel Ângelo Flach
Fábio Konder Comparato possui graduação em
Direito pela Universidade de São Paulo (1959) e
doutorado em Direito pela Université Paris 1 (Pan-
théon-Sorbonne) (1963). Professor Emérito da Fa-
culdade de Direito da Universidade de São Paulo
e Doutor Honoris Causa da Universidade de Coim-
bra. É especialista em Filosofia do Direito, Direitos
Humanos e Direito Político. Titular da Medalha Rui
Barbosa, conferida pelo Conselho Federal da Or-
dem dos Advogados do Brasil.

Algumas publicações do autor


COMPARATO, Fábio Konder. Brasil: verso e reverso constitucional. In:
Cadernos IHU ideias. São Leopoldo: Instituto Humanitas Unisinos, ano
11, n. 197, 2013.
COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos Direitos Huma-
nos. São Paulo: Saraiva, 2013. 8. ed. 577 p.
COMPARATO, Fábio Konder. Rumo à Justiça. São Paulo: Editora Saraiva,
2010. v. 01. 449 p.
COMPARATO, Fábio Konder. Ética: Direito, Moral e Religião no Mundo
Moderno. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
COMPARATO, Fábio Konder. Sobre a Legitimidade das Constituições.
In: Revista Latino-Americana de Estudos Constitucionais, v. 5, p. 19-56,
2005.

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