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- Leiam os livros de Machado de Assis, para que vocês possam escrever bem. Ele é um
escritor sutil, perfeito, incomparável, e nunca errou ao manejar o nosso idioma.
"Henriqueta Bernard é uma rapariga aldeã que vivia no regaço da paz em casa de seus
pais, um honrado vendedor de trigos, e uma matrona respeitável, a Sra. Marta".
Um erro de regência verbal foi cometido por Machado de Assis, conforme podemos ver na
mesma página 27:
"Não tendo nada a perder, mas tudo a ganhar, este homem arrisca tudo, e não se lhe dá dos
meios, visando o fim..."
"Tinha anseios e desejos, mas anseios e desejos acentuados, visando a objetivo certo"
(Júlio Ribeiro, A carne, página 95).
"A educação profissional visa aos interesses e exigências da vida" (Ernesto Carneiro
Ribeiro, Páginas de língua e de educação, página 85).
Daí concluímos que Machado de Assis, em vez de escrever "visando o fim", deveria ter
escrito "visando ao fim".
"O estrangeiro é uma figura grave e circunspecta...A primeira vez que se encontrou só com
Henriqueta na sala da cabana, exerceu ele a sua ação simpática sobre ela por intermédio
do qual pôs-se em contato com ocorrências absolutamente estranhas ao drama".
Bem claro é o erro de Machado, porque na segunda frase não vemos a atração do pronome,
exigida pelo relativo qual. Ficaria correto assim:
"...exerceu ele a sua ação simpática sobre ela, por intermédio da qual se pôs em contato
com ocorrências..."
Melhorou? Sim, ficou inteligível, porque eu coloquei uma vírgula depois de ela e substitui o
do qual por da qual. Vírgulas, em diversos textos, são os mal colocados sinais de trânsito
do idioma, e por este motivo causam acidentes gramaticais.
"Os olhos da platéia já estão fatigados de oscilarem entre decorações gastas e importunas".
Percorrendo com cuidado o texto de Crítica teatral, vi na página 109 este erro de sintaxe:
"Agora, que o governo estenda a mão ao punhado de artistas que em tão larga empresa se
deitam".
Vamos corrigir: o certo é "que a tão larga empresa se deitam", pois o verbo deitar, no
sentido de se abalançar, de se aventurar, além de ser pronominal, exige a preposição a.
"Há na moderna literatura dramática uma cabeça onde a faculdade produtiva levantou-
se..."
Ele não seguiu esta regra bem simples: o advérbio onde atrai o pronome se. Portanto, o
certo é "onde a faculdade produtiva se levantou".
"Estamos em festa e como que os teatros se apostaram para não nos darem novidade
alguma".
Ora, o verbo apostar, como transitivo indireto, rege complemento com a preposição em. A
frase de Machado de Assis seria correta, incriticável, se ele a tivesse escrito deste modo:
"Estamos em festa e como que os teatros se apostaram em não nos dar novidade alguma".
Fiz duas correções. Eliminei a preposição para e a substituí pela preposição em. Também
pus o infinito dar, verbo augusto, no trono do horroroso darem, que joguei no lixo...
Machado de Assis, no trecho acima, devia ter deixado a conjunção que, embora distante,
atrair o pronome do verbo fazer, imitando o exemplo fornecido por Rui Barbosa numa
conferência:
Analise agora, prezado leitor, estas linhas da página 144 do livro Crítica teatral:
"Então, a crítica aplaudida ontem, é hoje ludibriada, o crítico vendeu-se, ou por outra, não
passa de um ignorante a quem por compaixão se deu algumas migalhas de aplauso".
Novo erro de Machado de Assis, e erro grave. Como o verbo precisa concordar com o
sujeito, atrevi-me a corrigir a sua frase: "...não passa de um ignorante a que por compaixão
se deram algumas medalhas de aplauso".
O autor de A mão e a luva, na página 155, cometeu dois erros de português. Eis o primeiro:
"...amor casto e honesto para sufocar-lhe as aspirações..."
Eis o segundo erro, idêntico ao da página 27, quando ele empregou o verbo visar: "Não
visa o ouro do opulento..."
Que a sua alma gentil me perdoe, mas tão severo como o mais intransigente dos
gramáticos, eu quis logo corrigi-lo:
O verbo, nesta frase, deixou de concordar com o sujeito. É assim que Machado deveria ter
escrito:
Voltarei ao assunto. O sociólogo inglês Samuel Smiles (1812 - 1904) estava certo quando
declarou na sua obra Self - Help:
("We learn wisdom from failure much more than from success").