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2 Campinas, 1º de agosto a 7 de agosto de 2011

RESENHA por: MAURICIO MENDONÇA CARDOZO

traduções para ler além


Fotos: Arquivo/Reprodução

poem(a)s de e. e. cummings por Augusto de Campos

A
Editora da Uni- Cummings mundo afora, Augusto
camp acaba de de Campos foi o quarto a publicar
saudar o público uma antologia em livro, se às duas
brasileiro com primeiras traduções (a alemã e a
mais um lança- italiana, ambas de 1958) somarmos
mento importante. a pequena edição japonesa de Yasuo
Trata-se do livro poem(a)s, que traz Fujitomi (também de 1958). No (D. V. B). Não se trata aqui de estra-
74 traduções de Augusto de Campos entanto, nenhum desses tradutores nhar o procedimento, em si, mas de
para poemas do poeta americano publicaria tantas edições revistas perceber esse gesto no movimento de
E. E. Cummings (1894-1962). Esta e ampliadas como o brasileiro. um tradutor como Augusto de Cam-
é a quinta antologia de poemas de Mais do que pioneiro, Augusto de pos, cuja imagem é tão fortemente
Cummings publicada pelo tradutor Campos é um dos mais importantes marcada como a de um tradutor
brasileiro, resultado de um trabalho nomes para a recepção do poeta predominantemente preocupado com
iniciado em meados da década de 50 americano fora dos EUA. Primeiro, questões formais. Ao dizer o que diz
e que encontraria a primeira edição por seu papel decisivo na consolida- na nota, o tradutor oferece subsídios
em livro em 1960. ção de uma percepção crítica mais de leitura que tornam ainda mais
Neste ano de 2011, em que se receptiva aos procedimentos em explícito o poema-protesto. Mas, ao
completam os 80 anos de vida do jogo na obra do poeta. Segundo, por usar desses recursos explicativos,
tradutor, bem como os 51 anos fundar suas traduções nessa percep- diz também de uma liberdade de
daquela edição princeps, que foi ção crítica, sem capitular diante dos ousar fazê-lo em tradução de poesia,
também a primeira antologia de desafios poético-tradutórios que tal colocando em questão a ideia de que
poesia traduzida publicada em livro tarefa impõe. Terceiro, porque suas um rigor formal extremo implique
pelo tradutor, pode-se dizer de seu traduções tiveram impacto sobre um necessariamente em um descaso com
trabalho o que ele mesmo dissera círculo de leitores, poetas e traduto- questões de outra ordem.
de Cummings na edição de 1999: res que não se restringiu ao público
INCANSAVELMENTE AMPLIADO,
“É espantoso pensar que e. e. cum- de língua portuguesa, alavancando
INCESSANTEMENTE REVISTO
mings teria feito 100 anos em 14 o movimento de tradução de Cum-
de outubro de 1994, tal a juventude mings também em outras partes do É elogiável a precisão e o rigor
que emana de sua poesia, ainda tão mundo. com que esta edição encara o pesa-
pouco assimilada e ainda tão nova”. A publicação de cinco edições de delo tipográfico da publicação de
No caso de Augusto de Campos, Cummings em 51 anos evidencia, Cummings, o que a torna a edição
espanta-nos menos sua juventude, ainda, o quanto o poeta americano O poeta e tradutor Augusto de mais bem-sucedida de Cummings já
Campos: Cummings revelado publicada por Augusto de Campos.
quase estigmatizada na sempre se fez importante para o poeta e tra- também em outras facetas
tão viva figura de um dos enfants dutor brasileiro. Nada que nos cause Ainda que partindo de uma
terribles da vanguarda poética espanto se, pensando em Augusto se, sem poder ignorar a forma do edição tão bem cuidada, como a
brasileira. Maior espanto causa- de Campos poeta, lembrarmos que soneto, mas também sem querer de 1999, é impressionante a quan-
nos a evidência de que tão pouco Cummings foi poeta e pintor e que elevá-la à condição de relíquia, tidade e a variedade das revisões
avançou-se na discussão de seu se autodefinia como “autor de ima- morta em sua preciosidade intocá- que um cotejo das edições permite
trabalho de tradutor, a despeito de gens, desenhista de palavras”. Nada vel, o poeta agisse sobre o soneto perceber: o ajuste de uma ou outra
sua grande exemplaridade, de que que nos surpreenda se, pensando como o tempo sobre as construções palavra à nova ortografia; o acrés-
nos dá dimensão o imenso impacto em Augusto de Campos tradutor, do passado e, com a força de sua cimo de um ou outro acento, de um
formativo que teve (e ainda tem) lembrarmos que Cummings foi intempérie poética, produzisse um hífen, de um parêntese, de uma vír-
sobre as gerações de tradutores de exemplar como poeta que revisitou soneto ruína: não para reafirmar gula, um ponto e vírgula ou de uma
poesia posteriores a sua. rigorosamente a tradição, ao mesmo uma ruína da forma (como se a aspa que faltava; e, entre outras, a
Esboça-se aí um paradoxo, que tempo que criou modos ousados e forma, em si, tivesse perdido sua adequação de mais de uma dezena
tanto mais se explicita diante de originais de inová-la. Se Augusto de vitalidade), mas para dar-lhe novo de espaçamentos ao padrão de
uma tarefa como a de dar resenha Campos reconheceu em Ezra Pound vigor, mostrando que a falta de vi- não-espaçamento cummingsiano.
do presente lançamento. Por um (1885-1972) uma das figuras que talidade reside, antes, no modo de Poucas intervenções do tradutor
lado, impõe-se a impressão geral teve maior impacto sobre sua for- empenhar tal forma poeticamente. chegam a produzir uma nova versão
de que há muito pouco de novo a mação, em Cummings reconhecerá A edição bilíngue é um convite de poema publicado anteriormen-
ser dito sobre a obra de um poeta um poeta com antenas sintonizadas aberto. Um convite que frustra o te, caracterizando-se antes como
como Cummings, traduzida por na mesma estação. leitor interessado apenas no jogo pequenos ajustes. Os dois casos
um tradutor-poeta como Augusto dos 7 erros, mas que surpreende mais extremos dizem respeito a
de Campos. Por outro lado, a cons- NOVOS POEMAS, o leitor interessado em flagrar um mudanças na quebra de verso: uma
tatação de que a obra tradutória NOVAS TRADUÇÕES tradutor em seus movimentos. no poema 29 e outra no poema 65.
de Augusto de Campos, em geral, Se a primeira edição de tradu- No poema 4, em que as mi- Não bastasse tamanho rigor e
e suas traduções de Cummings, ções de Cummings publicada por galhas rímicas do soneto ruína cuidado editorial, a presente edição
em particular, oferecem-se ainda Augusto de Campos contava com parecem menos centrais que a ainda amplia consideravelmente a
como um vasto continente, de que uma pequena mostra de 10 poe- persistência de um ou outro pen- sessão de documentos e imagens,
conhecemos apenas a porção mais mas, cinco dos quais oriundos do tâmetro iâmbico (i like my body que agora ganha cor nas 15 páginas
litorânea. Esse paradoxo é sintoma importante livro No thanks (1935), when it is with your), que se finais do livro.
de um determinado olhar, fundado explicitando, então, uma seleção vai quebrando em outras formas
ENVOI: ALGUÉM NOS OUVIRÁ?
numa lógica crítica que mais renega mais representativa da marcante rítmicas, flagramos um tradutor
ou condecora do que nos abre novas tipografia poética cummingsiana, que constrói uma ruína rítmica Ao final do prefácio à segunda
perspectivas, que mais descarta ou esta nova edição, ao reunir poemas de matriz alexandrina, que se vai edição de suas traduções de Cum-
eleva do que nos aproxima da obra de cada um de seus livros, oferece ao esfacelando, mas sem perder sua mings (1979), o tradutor, aludindo
desse tradutor. leitor brasileiro um Cummings que referência de unidade, como a ao desafio tradutório, tipográfico e
Para falar da importância desta se revela também em outras facetas. palavra “vértebras”, do quinto para editorial da publicação de Cummin-
edição é preciso lembrar o lugar que Três dos onze poemas acrescidos o sexto verso, que, cortada (vért / gs no Brasil, lançava uma pergunta:
as traduções de Cummings têm na a esta edição dão exemplo disso: “as ebras) para o ajuste do alexandrino alguém nos ouvirá?
Cabe somente a nós, leitores, ou-
obra de Augusto de Campos. Foram damas de Cambridge” (poema 2), no quinto verso, mantém viva a
vir de novo, dar novos ouvidos a esse
muitos os poetas que ele traduziu, “eu gosto do meu corpo” (poema lembrança de sua unidade na força Cummings que Augusto de Campos
publicados primeiramente em su- 4) e “depois de é claro deus américa do enjambement que constitui. No nos oferece. E, nesse Cummings,
plementos de jornal ou em revistas eu” (poema 11), poemas da década poema 11, flagramos um tradutor ouvir o que nos diz aquele que, na
e, posteriormente, na forma de anto- de 20, agregam-se a um conjunto de que reconstrói o tom da canção tradução, diz o poema do outro, mas
logias mistas. Destes, alguns ganha- poemas já traduzidos anteriormente patriótica americana com alusões também diz de si e da poesia e da
ram também espaço em antologia por Augusto de Campos, o dos sone- ao hino nacional brasileiro, em ver- tradução. Quem dará ouvidos ao que
exclusiva. Um número ainda mais tos cummingsianos. Já integravam sos como “te amo ó pátria amada o tradutor e crítico Augusto de Cam-
reduzido de poetas, como Hopkins e esse conjunto, na edição anterior, o idolatrada etc não / viram do ipi- pos diz, não apenas no espaço de seus
Rilke, ganharia uma segunda edição poema 35, mais claramente disposto ranga as margens?em teu”. E num prefácios e ensaios, mas também no
revista e ampliada. Cummings é um como um soneto, e os poemas 29, poema tão repleto de referências e próprio gesto de sua tradução, a cada
caso à parte. 37 e 43, todos da década de 40 e citações como o poema 7, flagra- passo, a cada lance, a cada drible,
A publicação de cinco edições 50 e já menos evidentes na inte- mos um tradutor que não somente ainda agora, aos 51 anos do segundo
diferentes dá ideia da importância gridade de sua forma tradicional. se permite acrescentar uma nota tempo desse jogo de tradução da
que Augusto de Campos teve para Esse conjunto de sete poemas é de rodapé, como não hesita em poesia cummingsiana?
a divulgação crítica do poeta ame- representativo de um dos modos incorporar, entre colchetes, num
Mauricio Mendonça Cardozo é professor de
ricano. De uma lista que hoje ultra- de embate de Cummings com as verso, no próprio corpo do poema, literatura e tradução na Universidade Federal O poeta americano E. E. Cummings:
passa uma centena de tradutores de formas poéticas da tradição. É como uma nota explicativa para a sigla do Paraná (UFPR) “autor de imagens, desenhista de palavras”

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas


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