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UNIVERSIDADE CATÓLICA DO SALVADOR

Pós graduação em Logoterapia e Análise Existencial - Campus da Federação

DAVI SANTOS OLIVEIRA

O SENTIDO DO SOFRIMENTO
A dor necessária ao crescimento

Jequié/Ba
2018
DAVI SANTOS OLIVEIRA

O SENTIDO DO SOFRIMENTO
A dor necessária ao crescimento

Resenha do livro EM BUSCA DE SENTIDO


– Um psicólogo no campo de concentração,
apresentada na matéria vida e obra de Viktor
Frankl. Ministrada pela Professora Sheila
Rabuske, para fins avaliativos.

Jequié/Ba
2018
FRANKL, E Viktor. Em Busca de Sentido: Um psicólogo no campo de concentração.
Tradução de Walter O. Sclupp e Carlos C. Avelino. Editora Sinodal-Vozes, 11ª edição, 2000.
107 p.

A busca por um sentido para a vida e o lugar do sofrimento, dor e perda nesta, é ou deveria ser
uma questão sinequanon de todo indivíduo, embora, de alguma forma, a reflexão sobre o tema
se dá mesmo em rodas de conversas informais, assim como foi proposta por gerações de
pensadores. No livro em apreço, a questão é posta não por curiosos ou intelectuais observadores
distantes, antes, é o relato de quem – tendo uma visão científica e clinica – é objeto da própria
observação.

Viktor Frankl é um psiquiatra judeu vienense, que foi levado como prisioneiro aos campos de
concentração nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, passando por quatro deles. Ali
dentro, na vivência diária do sofrimento e do constante conflito entre “ser e o não ser”, suas
observações leva-no a solidificar as bases para a logoterapia. O relato, apesar de ser
autobiográfico em termos de ser uma narrativa em primeira pessoa, não visa apontar o autor
como personagem principal, o que ele deixa claro ao se apresentar apenas como “o prisioneiro
nº 119104”. Antes, a proposta é discutir “a partir de dentro”, como os seres humanos reagem e
assimilam os sofrimentos e quanto isso pode fazer sentido em suas vidas. O autor estrutura o
primeiro capitulo do livro em três momentos cruciais: a chegada, a vivência diária e a
libertação.

A chegada ao campo de concentração é apresentada com horror, expectativa e desespero. O


trem que leva os prisioneiros para Auschwitz, em vagões abarrotados e em penumbra, anuncia
as más noticias com um “apito horripilante”. Frankl tem suas primeiras impressões a partir da
primeira de muitas seleções, que será sempre um momento de angustia para os prisioneiros. Este
choque de realidade gera reações psicológicas nestes, que se agarram na esperança de que não
será tão ruim, o que lembra a “ilusão de indulto”, para logo depois lançarem mão do humor
negro, brincando com a própria miséria e a de seus companheiros. Estas reações surgem como
atenuantes psicológicos da realidade enfrentada, que é inescapável, mas que, no decorrer do
tempo evoluirá para uma luta pela vida aonde muitas vezes a própria sobrevivência ou dos mais
chegados será a única meta. Ver a si mesmo e a seus companheiros cruamente nus, gera a
primeira reflexão em Frankl sobre o sentido da existência. Levados a seus “galpões
alojamentos”, eles mal reconhecem um ao outro.

A vida nos campos, dia após dia, transforma aqueles seres numerados e alienados de identidade
em sobreviventes. Frankl nota as adaptações que o ser humano é capaz de fazer em seus
próprios modos a fim de conservar sua vida. Lembrando Dostoievski, é possível ver ali
claramente que o ser humano é capaz de se adaptar, se moldar e seguir o fluido das
circunstancias que o cercam. Todavia, a lucidez mantida é certamente uma arma de
sobrevivência, pois o próprio autor faz uma resolução pessoal, contrária a muitos, de não “ir
para o fio”, pois, raciocina, cometer suicídio em um ambiente onde a morte é uma certeza não
parece inteligente. A esperança deve ser alimentada sem, contudo, alienar-se da realidade. A
insensibilização e a desconfiguração do caráter vão sendo paulatinamente esculpidos em cada
prisioneiro e no próprio autor que admite esses efeitos em si mesmo no simples ato de negociar
a troca de seu número em uma lista, ainda que sabendo que este ato insignificante determina a
morte de outro. Expostos à fome, ao frio, ao escárnio, ao trabalho extenuante dia após dia, ao
pouco sono, e à expectativa constante pelo próximo momento, as marcas na psique vão se
tornando sulcos cada vez mais profundos, refletidos no comportamento de cada prisioneiro.

Um dos traços percebidos por Frankl nesse processo transformatório dos prisioneiros nos
campos de concentração é a absoluta pragmatização dos sentimentos e relações. Diante do
estabelecimento da sobrevivência como única meta urgente, todas as demais coisas são medidas
em relação a ela, de forma que o que não serve à conservação da vida é descartado ou reduzido
drasticamente. Desejos sexuais, sentimentalismo, dignidade, são excluídos ou menosprezados
enquanto notícias sobre a guerra e informações sobre o próprio ambiente e seus algozes são
valorizados, pois estes podem significar mais tempo ou mais recursos. Porém, não significa que
haja uma desumanização, pelo contrário, naquilo que Frankl vê como “fuga para dentro de si”,
os valores mais preciosos são relembrados, sonhados e contemplados, como o rosto da amada.
Esta fuga é uma defesa contra a dura realidade que se mostra. Um recurso de autoconservação.
Diante da emergência da morte, cada dia a mais, cada dispensa nas seleções, cada ausência do
nome em uma lista é vista como motivo de felicidade. Porém, mesmo estando envolto nesta
realidade, o autor resolve, ao contrário dos que desistem de lutar e se entregam aos últimos
cigarros e inércia sobre o feno encharcado de urina, dar um sentido à sua provável morte
cuidando dos doentes de tifo, o que mostra o realismo paradoxal entre sentimentos como a
apatia e o altruísmo.

O texto também evidencia a clara visão do autor sobre o sofrimento como algo benéfico, e
mesmo necessário. Ele entende (e isso claramente vem de sua própria experiência no campo de
concentração) a afirmação de Nietzsche de que “quem tem um porque, suporta quase que
qualquer como”. Para Frankl, o problema não está no sofrimento, na dor, na perda... Está no
propósito destas. Está no sentido maior, mais além, ou até fora de si mesmo. Ele vê o sofrimento
como necessário à boa formação do eu além de si mesmo. E o contrário disto, ou seja, a fuga
para uma vida preterista, só impede o crescimento e o fortalecimento pessoal. Diante da quase
certeza do fim (5% nas contas do autor), não importa quanta dor ainda resta, quanto frio, quanta
fome, quantos escárnios, quanta solidão ainda restam. Frankl entende que se tudo isso tiver um
“porque” e ele for alcançado, então a alma se elevará acima das cadeias físicas e finitas.

Embora normalmente o foco dos relatos sobre os campos de concentração, incluindo seus
efeitos psicológicos, sejam muito mais voltados aos prisioneiros, Framkl consegue olhar para
seus algozes analiticamente e perguntar “como podem seres humanos agirem de tal forma com
seus semelhantes?”, “como alguém que está na mesma situação pode ser ainda mais cruel que os
próprios algozes?”, “será que resta nestes alguma humanidade?”. Contrariando o pensamento
humanista de forma geral no século XX, Frankl não encontra nos campos de concentração um
sujeito absolutamente moldado por seu ambiente. Ele vê homens capazes de si, de atitudes
livres, de escolhas conscientes para o bem ou para o mal. Usando exemplos de CAPOS
terrivelmente sádicos e oficiais SS capazes de compadecerem-se, conclui que há apenas “duas
raças de pessoas no mundo: pessoas direitas e pessoas torpes, e nesse sentido, não há raça pura”.
E essas pessoas estão em todos os grupos que se possam formar socialmente.

Finalizando sua narrativa neste primeiro capitulo, o autor apresenta a mudança de status dos
prisioneiros, agora libertos. Esta transição não se dá facilmente e animicamente muitos lutam
para saírem. Sentimentos dos mais contraditórios eclodem nos restos de humanidade que
sobreviveram para sair dos campos. Após uma longa sujeição psicológica é quase impossível o
simples gesto de por o pé para fora dos portões, atravessa-los, caminhar pelos campos plantados
ao redor. Tudo parece estranhamente livre. Mas há também rancores ilógicos demonstrados em
acesso de fúria contra plantações a florescer. Frankl, em uma lúcida e admirável demonstração
de humanidade, simplesmente evita pisar nos brotos, nas plantações, nas lavouras recém-
plantadas. Não lhe ocorre motivo plausível para descarregar a mágoa de anos de humilhação em
plantas. Não lhe ocorre a vingança, pois está ocupado sorvendo a liberdade.

A busca de sentido é uma necessidade existencial urgente na atual sociedade tanto quanto (ou
mais) no contexto do fim do século quando o autor viveu estas experiências. Em um mundo
hedonista e superficial, a proposta de Frankl em ver a vida de forma realista, porém não
desesperançada, ainda soa religiosa demais para tal secularismo. Todavia, embora o autor não
conduza diretamente a este ponto, sua narrativa revela uma transcendência de alma que é
responsável por sua resistente persistência em não sucumbir, não “ir para o fio”, não tentar
controlar seu destino. Certamente o homem que saiu dos campos de concentração nazistas era
muito mais forte psicologicamente, muito mais resiliente, muito mais lúcido, muito mais
temente e grato a Deus. A dor não deformou o caráter ou a psique de Frankl, nas verdade, foi o
propulsor de uma vida ainda mais frutífera.

A dor e o sofrimento são categoricamente rejeitados pelo homem pós-tudo. A dor é imobilizante
e o sofrimento é aniquilador. Todavia, a fuga irracional destes leva a uma imaturidade
permanente, pois evita os caminhos de aprendizagem que mais profundamente gravam no
homem e lhe produz capacidade de vivência. A resiliência ainda persiste como ato de covardia
ou apatia, pois, aquele que aceita sua realidade de dor, nesta nossa época pró-produtividade,
tende a ser visto como conformado. A dor e o sofrimento são realidades positivas presentes em
todo tempo e lugar, como experiências de uma verdadeira humanidade não utópica.

Ao invés da fuga e negação, encarar os fatos e trata-los como inevitáveis, é a forma encontrada
por Frankl para lidar com realidades dolorosas da vida, não as atribuindo a terceiros, mas
buscando um sentido maior, transcendente, lúcido, trazendo o homem à condição de ativo
responsável em sua existencialidade.

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