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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Faculdade de Ciências Aplicadas

RENATO GEORGETTE FRIGO

POLÍTICA, MEMES E O FACEBOOK NO BRASIL:


EM BUSCA DA CIBERDEMOCRACIA

LIMEIRA
2017

1
RENATO GEORGETTE FRIGO

POLÍTICA, MEMES E O FACEBOOK NO BRASIL:


EM BUSCA DA CIBERDEMOCRACIA

Dissertação apresentada à
Faculdade de Ciências
Aplicadas da Universidade
Estadual de Campinas como
parte dos requisitos exigidos
para a obtenção do título de
Mestre em Ciências Humanas
e Sociais Aplicadas.

Orientador: Prof. Dr. Rafael de Brito Dias


Coorientador: Prof. Dr. Álvaro de Oliveira D'Antona

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO


FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELO
ALUNO RENATO GEORGETTE FRIGO,
ORIENTADO PELO PROF. DR. RAFAEL DE
BRITO DIAS E CO-ORIENTADO PELO PROF.
DR. ÁLVARO DE OLIVEIRA D´ANTONA.

LIMEIRA – SP
Fevereiro de 2017

2
Autor: Renato Georgette Frigo
Título: Política, Memes e o Facebook no Brasil: Em busca da Ciberdemocracia
Natureza: Dissertação de mestrado em [Ciências Humanas e Sociais
Aplicadas]
Instituição: Faculdade de Ciências Aplicadas, Universidade Estadual de
Campinas.

Aprovado em: 20/02/2017.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________
Prof. Dr. Rafael de Brito Dias – Presidente
Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA/UNICAMP)

________________________________________________
Prof. Dr. João José Rodrigues Lima de Almeida - Avaliador
Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA/UNICAMP)

________________________________________________
Prof. Dr. Victor Kraide Corte Real – Avaliador
Escola de Comunicação e Artes (ECA/USP)

A Ata da Defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no


processo de vida acadêmica do aluno.

3
Aos meus pais: Arnaldo e Luzia.

4
“Nós, seres humanos, jamais pensamos sozinhos ou sem ferramentas.
As instituições, as línguas, os sistemas de signos, as técnicas de comunicação,
de representação e de registro informam profundamente nossas atividades
cognitivas: toda uma sociedade cosmopolita pensa dentro de nós.”
O que é o Virtual?
Pierre Lévy

“Não somos mais nós mesmos.


Cada um reconhecerá os seus.
Fomos aspirados, multiplicados.”
Mil Platôs
Gilles Deleuze e Félix Guattari
5
AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, amigo e conselheiro Prof. Dr. Rafael de Brito Dias pela
infinita paciência em me ajudar a cada mudança e a seguir em frente ao longo
dessa feliz trajetória no campo interdisciplinar. Muito obrigado por compartilhar,
de forma tão pontual, humana e competente, um pouco da sua vasta bagagem
intelectual e do seu tempo comigo. Acima de tudo obrigado por confiar no meu
trabalho.

Aos professores Dr. Álvaro de Oliveira D´Antona por aceitar ser o meu
coorientador nessa primeira pesquisa pela Unicamp e ao Dr. Peter Alexander
Bleinroth Schulz que foi meu primeiro professor na FCA e me ensinou a ver a
ciência de uma maneira apaixonada. Também quero agradecer ao Prof. Dr.
Eduardo José Marandola Junior por me desafiar constantemente a não ficar na
zona de conforto e a buscar a interdisciplinaridade em minhas pesquisas. Não
posso deixa de agradecer a Profa. Dra. Adriana Bin por me aceitar como seu
bolsista PED e de me proporcionar grande momentos de crescimento pessoal
e intelectual. Agradeço também a todos os professores da FCA com os quais
tive o prazer de compartilhar ideias e momentos que levo comigo como um
presente do mestrado.

Aos meus pais, Luzia Aparecida Georgette Frigo e Arnaldo Frigo Filho, pelo
amor incondicional. Graças a vocês eu nunca desisti de nada e mais uma vez
estou aqui agradecendo pelo apoio de vocês, pela dedicação e pelo incentivo a
cada pequena etapa superada nessa caminhada. Obrigado Deus! Obrigado por
tudo mãe! Pai saiba que sua vontade de ser professor sempre foi a motivação
que me trouxe até aqui. Através de mim, você realiza seu sonho, por isso onde
eu estiver você estará comigo.

A minha irmã Fernanda Georgette Frigo, que é um exemplo pra mim e que
agora vai ser mamãe da Maria Eduarda Frigo Tabosa. E ao Murilo Tabosa,
meu cunhado, futuro papai coruja, que assim como eu vai buscar seu lugar no
doutorado. Que um dia minha amada sobrinha possa ler essa dissertação.

As minhas avós, Eleonora Cabrini Georgette e Nica Ülrich Frigo, meus grandes
exemplos de vida, de humildade, de conduta e de felicidade. Obrigado por me
ajudarem a construir o Renato que eu sou hoje.
6
À minha amada namorada Laiz dos Santos, que pacientemente suportou
minhas lamúrias, minha clausura e minha vontade em querer usar todo o
tempo disponível para realizar essa pesquisa. Você sabe como isso é
importante pra mim. Obrigado por me ajudar a passar por tudo isso até o final.
Espero que no futuro, quando for a sua vez, eu possa ajudá-la tanto quanto
você me ajudou com essa dissertação.

Ao amigo e companheiro Antônio Carlos Rodrigo de Campos que entrou na


vida da minha família e fez tudo ficar mais feliz. Você me ajudou muito nessa
jornada, sem você eu não teria conseguido por isso sinta-se tão iluminado
quanto eu nesse momento. Muito obrigado por existir em nossas vidas.

Aos amigos Profa. Dra. Adriana Pessatte e Profa. Dr. Tomas Sniker por me
apoiarem nos momentos mais complicados, me mostrando o caminho, me
colocando junto de vocês. Obrigado por reconhecerem minha competência.

Ao grande amigo Victor Kraide Corte Real por ter me indicado, em 2006, para
participar de uma banca de TCC. Foi ali que tudo começou. Se hoje estou aqui
é porque o Victor acreditou em mim no momento que eu mais precisei. Daquela
data em diante, o destino nos uniu várias vezes em momentos de lazer e
trabalho e espero que continue assim. Você não tem ideia do quanto eu sou
grato a você. Tudo isso aconteceu por causa da sua atitude inicial. Que um dia
eu possa lhe retribuir tudo isso. Muito obrigado meu amigo.

A todos os meus tios, tias e claro meus primos (que são muitos) que juntos me
dão a coragem para continuar e me enchem de orgulho em fazer parte da
nossa família. Principalmente ao meu tio Artemio Bertholini que é um exemplo
de profissionalismo, determinação e força de vontade. Ele nunca se acomodou,
nunca desistiu e nunca parou de aprender até hoje. Graças a você e a minha
tia Regina Bertholini tive acesso a uma cultura que me define como pessoa e
que me faz querer continuar estudando para o resto da minha vida.

Aos meus amigos do mestrado, que dividiram comigo as angustias do


pensamento interdisciplinar e a vontade de superação buscando uma nova
forma de fazer ciência com o coração em uma mão e o cérebro na outra. Vou
levar comigo as lembranças dos nossos momentos em sala de aula.

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RESUMO

Os fenômenos promovidos pelas redes sociais, na Internet, se encontram em


constante transformação, produzindo resultados fascinantes e efeitos sociais
concretos através da comunicação existente entre seus membros. No Brasil, o
uso contínuo das redes sociais permitiu ao Facebook se tornar uma poderosa
ferramenta de comunicação social que evoluiu de um software para promover
novas amizades para uma nova esfera pública, utilizada também como mídia,
para quem deseja se organizar e protestar politicamente. Expandindo o foco do
estudo sobre a relação entre Sociedade, Comunicação e Tecnologia, esse
trabalho tem como premissa observar, analisar e categorizar como as imagens
de cunho politico veiculadas no Facebook, funcionam como uma unidade de
informação e identificação com a capacidade de se multiplicar, através das
ideias e cultura que se propagam de indivíduo para indivíduo dentro da
estrutura promovida pela rede social e assim compreender como essa
propagação constante afeta a nossa percepção sobre a democracia e a própria
sociedade. Para entender o cenário atual, partindo das eleições presidenciais
de 2014, quando foi possível perceber um grande aumento no fluxo de
imagens de conteúdo dicotômico entre “direita e esquerda”, vamos pesquisar
essa manifestação social discursivo-imagética através da qual poderemos
identificar diferentes categorias de imagens políticas-ideológicas sob a
perspectiva da criação de um processo de ciberdemocracia no Brasil
começando pela propagação de processos de identificação social que
promovem novos laços e novas práticas políticas referenciadas e reforçadas
culturalmente pelo uso constante de imagens de cunho políticos em redes
sociais.

Palavras-chave: Memes Políticos, Internet e cultura política, Humanidade


Digitais, Unidades Culturais e de Informação, Ciberdemocracia, Impeachment
Brasileiro.

8
ABSTRACT

The phenomena promoted by social networks over the Internet are constantly
changing, producing fascinating results and concrete social effects through the
communication between its members. In Brazil, the continued use of social
networks has enabled Facebook to become a powerful social media tool that
evolved from a software to promote new friendships to a new public sphere,
also used as media, for those who want to organize and protest politically.
Expanding the focus of the study on the relationship between Society,
Communication and Technology, this work has the premise of observing,
analyzing and categorizing how the political images transmitted on Facebook
function as a unit of information and identification with the ability to multiply,
Through the ideas and culture that spread from individual to individual within the
structure promoted by the social network and thus understand how this constant
spread affects our perception about democracy and society itself. To
understand the current scenario, starting from the 2014 presidential elections,
when it was possible to perceive a great increase in the flow of images of
dichotomous content between "right and left", we will investigate this discursive,
visual and social manifestation through which we can identify different
categories of political-ideological images from the perspective of creating a
process of cyber-democracy in Brazil beginning with the propagation of
processes of social identification that promote new ties and new political
practices referenced and reinforced culturally by the constant use of political
images in social networks.

Keywords: Political Memes, Internet and Political Culture, Digital Humanities,


Cyberdemocracy, Cultural and Information Units, Brazilian Impeachment.

9
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Tipologia aplicada aos memes (2014 - 2016)...............................31

Quadro 2 – Tipos de memes na amostra.........................................................82

Quadro 3 – Tipos de memes usados pelo PT..................................................83

Quadro 4 – Tipos de memes usados pelo PSDB.............................................83

Quadro 5 – Tipos de memes usados pelo PMDB............................................83

Quadro 6 – Tipos de memes usados pelo MCC..............................................84

Quadro 7 – Tipos de memes usados pelo QOT...............................................84

Quadro 8 – Tipos de memes persuasivos usados pelo PT..............................85

Quadro 9 – Tipos de memes persuasivos usados pelo PSDB.........................85

Quadro 10 – Tipos de memes persuasivos usados pelo PMDB.......................85

Quadro 11 – Tipos de memes persuasivos usados pelo MCC.........................86

Quadro 12 – Tipos de memes persuasivos usados pelo QOT.........................86

10
SUMÁRIO

Introdução ............................................................................................................. 12
Capítulo 1 – O CONCEITO DE CIBERDEMOCRACIADE PIERRE LÉVY, A EVOLUÇÃO DA
MEMÉTICA E UMA PROPOSTA DE TAXONOMIA PARA MEMES POLÍTICOS DO
FACEBOOK NO BRASIL. ........................................................................................... 16
1.1 – Ciberculturas como caminho para a ciberdemocracia? ................................................. 16
1.2 – A ideia de meme é um meme. ....................................................................................... 19
1.3 – Memes, Internet e Semiótica: o surgimento de uma nova forma de passar a
informação. ............................................................................................................................. 23
1.4 – Uma taxonomia para os memes políticos: a linguagem do Facebook ........................... 27
1.5 – O conturbado cenário político brasileiro entre 2013 e 2014 ......................................... 36
1.6 – O Movimento Passe Livre em 2013: coxinhas e petralhas em fúria .............................. 39
1.7 – Nunca antes na história deste país uma eleição presidencial foi tão disputada ........... 44
1.8 – Os brasileiros e a rede social: um caso de amor ............................................................ 47
1.9 – Facebook: ferramenta ideal para a criação de uma nova cultura? ................................ 48
Capítulo 2 – MEMES, CAPITAL SOCIAL E O FACEBOOK. ............................................ 53
2.1 – Imagens, discursos políticos e o admirável mundo digital ............................................. 53
2.2 - O poder das imagens nas redes sociais: a ascensão dos memes.................................... 54
2.3 – Duas maneiras de entender o papel dos memes ........................................................... 57
2.4 – Memes e política: uma combinação muito adequada ao cenário brasileiro ................. 60
2.5 – Cooperação x Competição nas redes Sociais: uma dinâmica que tende ao caos .......... 62
2.6 – Transmídia, Clusters, Desterritorialização e Memes Políticos. ...................................... 67
2.7 – O capital social................................................................................................................ 69
2.8 – Visibilidade, Reputação, Popularidade e Autoridade ..................................................... 76
2.9 – Valores Culturais, Capital Social e a construção dos Memes ......................................... 80
Capítulo 3 – RESULTADOS E DISCUSSÕES SOBRE A BASE EMPÍRICA: OS MEMES
VIERAM PARA FICAR............................................................................................... 84
3.1 Ciberdemocracia ou Pluripartidismo Digital? ................................................................... 84
CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 94
Referência Bibliográfica .......................................................................................... 97
Anexos ................................................................................................................. 108

11
INTRODUÇÃO

Esta dissertação visa compreender a manifestação dos memes políticos


que tem ganhado destaque na internet, nos últimos quatro anos, como um
indicador da ciberdemocracia. No presente trabalho, buscaremos lançar luz a
esse objeto em uma perspectiva interdisciplinar, compreendendo-o como um
fenômeno de linguagem, que emerge de práticas comunicacionais em um meio
(Facebook) que, como veremos a seguir aqui, é tomado como uma esfera
sígnica.

Durante anos os pesquisadores tentarão explicar os acontecimentos que


permearam a política brasileira no intervalo de tempo entre 2013 e 2017.
Independente da linha de pensamento adotada é perceptível que algumas
coisas mudaram. Essas mudanças ainda são superficiais, mas já conseguiram
alterar de maneira destacável a forma como olhamos para a nossa sociedade.
Um dos fatores que mudaram a nossa visão sobre a sociedade foi o Facebook.
Uma rede social digital que conecta boa parte dos habitantes da Terra em um
novo território virtual onde cada indivíduo se expressa de maneira a posicionar
suas ideias como valores de troca. No Brasil não foi diferente. Assim como
aconteceu em diversos países, a sociedade brasileira se adaptou ao Facebook
e essa mudança de paradigmas, onde o virtual sobrepõe o real, não para de
crescer a cada dia. Entre julho e novembro de 2014, um fato que chamou muito
a nossa atenção foi a proliferação dos memes políticos que apareceram na
linha do tempo de milhares de brasileiros dentro do Facebook. Alguns veículos
de comunicação chamaram esse pleito de "as eleições dos memes" e diante
dessa nova forma de debate político mediado pela rede social, os partidos e os
movimentos por sua vez, compartilharam dessa percepção ao buscarem
desenvolver estratégias de influência no Facebook. O que acontecia nesse
momento era um grande crescimento da cibercultura política brasileira.

Entre os eleitores brasileiros que habitam o território livre das mídias


sociais, todo conteúdo associado a política era motivo para escárnio e, como
muito se discutiu, um radicalismo exacerbado. Mas, sob um ponto de vista
científico, há ainda raras tentativas de compreender o que o fenômeno dos
memes políticos no ambiente da internet representa para a sociedade. Uma
12
dessas tentativas se encontra no campo da memética que estuda os memes
como formas de cultura e comunicação e a partir dai se mescla com outros
campos do conhecimento na busca do entendimento interdisciplinar para o
papel dos memes em cada uma de suas metamorfoses. Diante disso, e de uma
curiosidade latente, partimos em busca de coletar, analisar e entender qual
seria o papel dos memes ao se associarem a política e como essa invasão
memética afetou nossa percepção política. Ressaltamos desde já que no
presente trabalho procuraremos dar continuidade ao empreendimento de
melhor compreender o meme, um processo já iniciado por alguns
pesquisadores dessas manifestações culturais, dando continuidade às
reflexões sobre o tema, discutindo o mesmo através de uma perspectiva
interdisciplinar. Nessa obra, pretendemos encontrar os elementos partilhados
por essas diversas manifestações, levando em consideração principalmente
seu caráter informacional e semiótico, pois mesmo sendo esse um fenômeno
muito recente, já existem evidências quantitativas e qualitativas sobre os
memes do Facebook apresentadas em estudos anteriores. Por isso decidimos
em não investigar a natureza dos memes e sim a forma como eles coexistem
na ecologia de saberes proporcionada pelas redes sociais. Dessa forma
analisamos os memes em um intervalo de tempo maior e fizemos relações
entre seu lugar de origem e a forma como ele foi criado e divulgado ao longo
de dois anos. Foi possível notar uma evolução na quantidade dos memes o
que nos levou a indagar se esse compartilhamento contínuo e a forma como
ele acontece até hoje não seria um indício da ciberdemocracia apontada por
Pierre Lévy. Então surgiu a seguinte dúvida:

A memesfera política do Facebook promove indícios de evolução para


uma ciberdemocracia?

Entendemos a memesfera aqui como uma esfera sígnica para os


memes que circulam pelo seu meio (Facebook), mas que não se restringem
apenas à soma de códigos, linguagens e textos. Ela pode ser vista como um
ambiente no qual diversas formações semióticas se encontram imersas em
diálogos constante, um espaço-tempo, cuja existência viabiliza o ciclo vital dos
memes. Por isso é importante ver a memesfera como algo vivo, dinâmico,
ativo, um organismo, uma máquina social complexa e multifacetada que se faz

13
necessária para processar a informação memética, mas que por um paradoxo
só consegue sobreviver a partir da existência dos memes.

Dessa forma este trabalho tem como objetivo expor resultados


preliminares de uma abrangente investigação sobre os usos e apropriações
dos memes políticos. Nossa principal meta, nessa etapa da pesquisa, é aplicar
uma matriz taxonômica capaz de auxiliar pesquisadores interessados no tema
a tratarem dos memes com maior objetividade e a partir desse interesse,
monitorar os indicadores que nos aproximariam de uma possível
ciberdemocracia.

Para tanto, procuramos realizar uma análise de conteúdo sobre memes


políticos que circularam no Facebook entre 2014 e 2016. Novamente é preciso
ressaltar que diferentemente da maior parte de trabalhos que aborda o
assunto, não estamos preocupados em avaliar, dentre estes conteúdos, quais
alcançaram maior repercussão, mas em investigar que tipo de conteúdo
circulou e assim que tipologia de meme político prevalece nas redes sociais.

Este esforço inicial de análise é exaustivo, e tem a intenção de


aprofundar o conhecimento sobre usos e efeitos dos memes na política
brasileira. Nossa hipótese é de que memes políticos atuaram como uma
mistura entre publicidade e militância, funcionando assim como verdadeiros
termômetros políticos, capazes de indicar, especialmente durante os fatos da
política nacional, pontos altos e baixos no desempenho de movimentos e
partidos.

O presente trabalho se organiza em quatro seções além desta


introdução. No primeiro momento, apresentaremos uma revisão sobre a
literatura que tem trabalhado com os conceitos de memes e de
ciberdemocracia assim como a relação entre o Facebook e o cenário político
brasileiro de 2014.

Em seguida, pontuaremos como os memes atuam como linguagem, a


maneira como se relacionam com a política e como migraram para o Facebook
se adaptando tanto na militância quanto nos eleitores através do capital social.
E, então, acercando-nos mais especificamente de nosso objeto, procuraremos
recuperar algumas análises sobre o fenômeno dos memes políticos do

14
Facebook, atentando especialmente para o seu uso pelos partidos e
movimentos políticos aplicando uma proposta interdisciplinar para
investigações sobre memes. Encerramos esta dissertação ainda um tanto
distate da ciberdemocracia proposta por Pierre Lévy, mas com uma proposta
metodológica robusta para investigações sobre memes políticos, apresentando
para discussão os resultados preliminares dessa pesquisa.

15
CAPÍTULO 1 – O CONCEITO DE
CIBERDEMOCRACIADE PIERRE LÉVY, A EVOLUÇÃO
DA MEMÉTICA E UMA PROPOSTA DE TAXONOMIA
PARA MEMES POLÍTICOS DO FACEBOOK NO BRASIL.

1.1 – Ciberculturas como caminho para a ciberdemocracia?

Diante dessa realidade social que está sendo moldada pelas novas
tecnologias de informação, como o Facebook, Pierre Lévy analisa alterações
sociais influenciadas pelo referido “instrumento digital” e reflete sobre o futuro
que vem sendo moldado diante desse contexto influenciado pela constante
fluidez da sociedade atual inserida no meio digital.

Ciberespaço, cibercultura e ciberdemocracia são conceitos evocados


com frequência no decorrer de suas obras, onde se apresentam de forma
interconectada pela Internet que desde a sua popularização se apresenta como
o meio preponderante nas mudanças sentidas nas manifestações sociais,
alterando assim as formas de interação e manifestação do diálogo. Lévy afirma
que o ciberespaço se apresenta como um cenário privilegiado da cibercultura,
possuindo dessa forma uma essência política. E que por isso, no que diz
respeito ao futuro da própria Internet, por um movimento ao encontro de “novas
modalidades de emissão livre, de formas de compartilhamento de informação,
de cooperação”, o autor espera o acontecimento de “mudanças globais da
esfera política em direção a uma ciberdemocracia” (LEMOS, p. 28).

A relação entre os três termos acima citados são aspectos recorrentes


nesse ambiente em constante construção e observação e dessa relação nasce
a possibilidade de um novo Estado, com o intuito de abarcar a diversidade
cultural, que se destaca através das “novas mídias”, assim como estimular a
inteligência coletiva, sendo esta última um fenômeno, frequentemente estudado
e explicado por Lévy em seu conceito de ciberdemocracia. Em se tratando da
referida inteligência, destaca-se a liberdade como elemento de
aperfeiçoamento daquela, que acaba por resultar no produto e sentido da
evolução cultural (LÉVY, p. 38). A dinâmica social oriunda do ciberespaço incita
a capacidade de comunicação e circulação de informações, com isso
disseminando a liberdade, e, como consequência, conforme referido,

16
aprimorando a inteligência coletiva (p. 43), pois o “ciberespaço permite uma
liberdade de expressão e de comunicação em escala planetária absolutamente
sem precedente” (p. 52).

Ao abordar o tema o autor consegue distinguir a função midiática pós-


massiva da apenas massiva, no momento que se observa a evolução das
mídias e seus respectivos discursos. Em se tratando da função apenas
massiva, cabe somente informar, mas quando se fala em pós-massiva, além da
informação, se tem a interação resultante de uma conversação coletiva, fruto
das novas mídias digitais, principalmente no âmbito da Internet. Assim existe a
possibilidade de uma aprendizagem coletiva, uma vez que existe uma
colaboração “em rede”, pois ela acontece no ciberespaço, onde se visualiza
então, um conjunto de práticas sociais e comunicacionais, que se pode definir
como cibercultura (LÉVY, p. 70).

Analisando o âmbito das mídias pós-massivas, onde emerge o indivíduo


informado e informante, através de suas condutas nos âmbitos virtuais, tais
como, softwares sociais, define-se então o ciberespaço como esfera pública
em constante expansão, a ponto de se intitular hoje de modo global. Essa
expansão possui como significativo protagonista o referido indivíduo e o seu
conteúdo representativo, que não mais está atrelado à esfera pública midiática
de massa, pois passa a exercer sua presença e cidadania no ciberespaço,
recebendo e produzindo informação através das inúmeras ferramentas de
informação disponíveis na Internet.

Essa nova forma de fazer sociedade (LÉVY, p. 101) vem a desenvolver


a iniciativa da inteligência coletiva no ciberespaço, através do desenvolvimento
humano, da educação universal e da luta contra a pobreza, para além da
moralidade, mas também como pressupostos, em âmbito internacional, de
competitividade e desenvolvimento da ciberdemocracia (LÉVY, p. 151). Esta
propõe uma governança eletrônica centrada no cidadão informado/informante,
onde se abstrai a relação de autoridade, passando-se a uma relação de
serviço. Isso se dá, pois o governo eletrônico facilita a prestação de contas,
havendo assim transparência e possibilidade de controle, por parte de todos
que se encontram inseridos no âmbito virtual.

17
Assim o cidadão é inserido no ciberespaço através da inclusão digital e
passa a contribuir para o fortalecimento da cibercultura, se adaptando as novas
tecnologias e se comportando cada vez mais como um cibercidadão,
promovendo dessa forma o surgimento, em longo prazo, da ciberdemocracia.
Cabe deixar registrado que a exclusão digital é o verdadeiro obstáculo para o
desenvolvimento das expectativas desse novo contexto social, moldado pelas
novas tecnologias de informação e comunicação.

Lévy destaca o conceito de globalização da visibilidade, uma vez que a


opinião pública torna-se cada vez mais global e instantânea, seja através da
potência do ciberespaço ou do constante uso dos novos instrumentos
tecnológicos de informação. A referida visibilidade global traz consigo a
possibilidade de monitoramento, vigilância e controle da opinião pública
mundial, com a finalidade política ou de mercado. Dessa forma é possível
perceber que existe um teste em relação à existência da ciberdemocracia que
é promover a transparência sem lesar direitos, tais como a liberdade individual
e à vida privada (LÉVY, p. 158 – 159).

Através dessa constante visibilidade, o autor propõe o conceito de um


Estado transparente, sendo uma nova noção e não o entendimento pelo fim do
ente estatal (LÉVY, p. 182). O idealizado Estado refletirá uma inteligência
coletiva, que abarcará a cidadania planetária balizada pela ideia de justiça, um
mercado mundial direcionado a prosperidade e a humanidade consciente de
sua evolução inserida na biosfera (LÉVY, p. 186). Nesse novo contexto
civilizatório, a inteligência coletiva será o meio e a finalidade da ação política
(LÉVY, p. 189), manifestando uma responsabilidade da humanidade, sendo
relevante reflexão do denominado “Estado transparente da ciberdemocracia do
futuro” (LÉVY, p. 197).

Lévy também destaca que nesse momento teremos uma nova forma de
usar o espaço virtual através da cibercultura e de uma nova linguagem,
passando pela ética da inteligência coletiva, onde se destaca o “eu” no mundo
virtual, que vai além dos limites geográficos, possuindo agora uma identidade
inserida num “corpo informacional”, dentro do espaço global da rede, fonte da
potência intelectual (p. 202).

18
Esse corpo informacional representado aqui no papel dos memes
políticos do Facebook podem nos aproximar de uma ciberdemocracia?

1.2 – A ideia de meme é um meme.

Independente de todas as críticas recebidas, especialmente a de uma


falta de cientificidade desse conjunto de conhecimentos propostos por
Dawkins, devemos reconhecer certo valor analítico da memética, que pode nos
proporcionar uma reflexão acerca dos traços dessa nova cultura política
brasileira em uma perspectiva diferente, ainda que, segundo Toledo (2013,
p.196), suas analogias não provem nem demonstrem empiricamente nada. Não
intencionamos, portanto, entrar em uma discussão da “utilidade” dessa ciência,
mas reconhecer sua validade enquanto um exercício filosófico e, como dito
anteriormente, que nos serviu de provocação para pensar os memes políticos
do Facebook.

No início dessa investigação e das inúmeras leituras realizadas, o


primeiro incômodo percebido foi à possibilidade de uma aparente passividade
do sujeito no processo de transmissão cultural. Não existiria uma ação
intencional e consciente do sujeito que apenas replica o meme? Essa dúvida é
respondida por Toledo ao mostrar que nossa mente é o ambiente ao qual os
memes devem se adaptar, sobrevivendo aqueles que, graças às escolhas do
sujeito, conseguem ser passados adiante. A construção memética dos
fenômenos de cultura, mesmo reconhecendo essa intencionalidade do sujeito
de propagar e o seu favoritismo por alguns memes (seleção), ignora a
compreensão por parte desse sujeito do que lhe é “transmitido” e o que ele
“transmite”. Nesse sentido, a memética serviu de indicador, pois apreender
sobre o entendimento de um objeto cultural parece ser crucial para abordar um
fenômeno que se manifesta em um ambiente comunicacional. Dessa forma,
podemos destacar uma diferença que nem sempre ficou nítida nessa breve
leitura que fizemos da memética de Dawkins e que justifica o desenvolvimento
da crítica à falta da ação humana, que seria uma forma de diferenciar os
termos “cérebro” e “mente”.

Quando Dawkins postulou seu conceito de meme ele afirma que a


proliferação de ideias se daria por sua passagem de cérebro para cérebro e
19
não de mente para mente. Na obra “Gene Egoísta”, ele confirma sobre a
existência da mente humana quando propõe que a evolução da capacidade
dos seres vivos de simular situações “parece ter culminado na consciência
subjetiva” (DAWKINS, 2007, p. 127), porem em sua abordagem das unidades
culturais replicadoras, a forma como está argumentada a hipótese dos memes
e o uso de termos como cérebro e transmissão cultural acabam implicando, a
posição do indivíduo como um simples vetor aleatório de memes e não como
alguém que experimenta e compreende o mundo por meio de sua cultura,
sendo, talvez, uma consequência da escolha da abordagem na perspectiva do
meme.

O incômodo com essa aparente passividade dos indivíduos nos leva a


querer questionar como a memética entenderia a relação entre esses
indivíduos pelos memes. Os memeticistas não ignoram o fato de que a cultura
pressupõe o outro. Tanto é que a memética, entendida aqui como uma teoria
parte do darwinismo universal, admite, por exemplo, as ideias de
hereditariedade e competição, conceitos dos quais precisa-se da existência de
um segundo indivíduo. Contudo por não estar focada na compreensão que
esses sujeitos fazem dessas unidades replicadoras, isto é, o que significam
esses memes em uma comunidade de indivíduos, não há uma explicação
satisfatória da relação que os indivíduos estabelecem por meio dessas
unidades culturais para além de ambientes aos quais elas têm de se adaptar.
Por isso, até agora, a preocupação da memética é a transmissão e a
sobrevivência das informações culturais.
Apesar das críticas a hipóteses dessa disciplina, a analogia meme e
gene é positiva no sentido de entender a cultura como algo que ultrapassa o
limite temporal da existência humana. Não desejando ignorar a essência da
agência humana que alguns autores (por exemplo, FONTANELLA, 2009) tanto
ressaltam ser um equívoco da memética, é possível reconhecer que essas
unidades culturais, de certa forma, possuem “vida própria”. Então podemos sim
entender o meme como um signo (e a ideia de signo inclui a intelecção
humana) e a comparação entre gene e meme soa como válida se aceitarmos
que essas unidades dependem do homem para se replicar, mas também são
elementos que vivem para além da consciência de determinado indivíduo, no

20
sentido de que nós, enquanto seres biológicos morremos, mas a vida dos
signos (ou memes) se perpetua através da cultura.

É através desse sentido que é possível entender os memes como


dotados de uma vida própria e certamente mais longa que a nossa: uma
existência fundada na coletividade que permite que eles, enquanto signos se
perpetuem no tempo e no espaço. Essa aproximação entre memes e signos,
permite compreender melhor o sujeito, isto é, refletir semioticamente acerca da
evolução dos memes. Um ponto que podemos pensar, por exemplo, é a ideia
de fidelidade da cópia. Questionamos a noção da fidelidade na replicação por
uma dificuldade em definir os limites da variação entre um meme e sua réplica,
para que essa réplica ainda seja considerada cópia do mesmo meme. Dawkins,
ao discutir a também a questão da fidelidade da cópia, dá como exemplo a
própria teoria do gene egoísta como uma possível variação da teoria
darwinista:

[...] quando dizemos que todos os biólogos


hoje em dia acreditam na teoria de Darwin, não
queremos dizer que cada biólogo tem, gravada no
seu cérebro, uma cópia idêntica das palavras
exatas de Charles Darwin. Cada indivíduo tem a
sua própria maneira de interpretar tais ideias, e
provavelmente as aprendeu não a partir dos
textos de Darwin, mas de autores mais recentes.
Muito do que Darwin afirmou pode ser
considerado, em seus detalhes, incorreto. Se
Darwin lesse este livro, dificilmente reconheceria
nele a sua teoria original, embora eu goste de
pensar que o modo como a apresento o agradaria.
No entanto, apesar de tudo isso, há qualquer
coisa do Darwinismo que está presente na cabeça
de cada indivíduo que compreende a sua teoria.
(DAWKINS, 2007, p. 335)

Entendendo assim o meme em um contexto de compreensão e não de


simplesmente transmissão, ou seja, tomando-o como um signo, é possível
entender as réplicas como parte do meme, pois ainda que não sejam cópias
fiéis e justamente por não serem cópias, integram sua semiose: “para Peirce o
signo nunca é algo repetitivo”, no sentido de que “cada vez que se volta a usá-
lo é um novo ato de semiose, que acarreta renovação e, portanto, determina
que seu interpretante não possa estar estabilizado: trata-se do princípio
peirciano da semiose ilimitada” (PONZIO, 2008, p. 165)

21
Analisando os memes como signos é possível aproximar o conceito de
ferramentas para essas unidades replicadoras, o que faz alguns memeticistas
reconhecerem a externalidade da mente quando dizem que os memes também
se alojam em suportes físicos. Dessa forma “nossos cérebros” não seriam os
únicos veículos para eles, podendo essas unidades replicadoras, de acordo
com alguns autores (MATOS, 2008; BLACKMORE, 1999; DAWKINS, 2007),
também serem transportadas em suportes como jornais, computadores, livros,
placas, roupas, internet, entre outros. Desse modo, quando trazemos a
abordagem dos memes como um fenômeno de consciência, não excluímos a
noção de materialidade dos signos: há continuidade entre material e mental, os
fenômenos da mente (os signos) não estão localizados somente no cérebro,
estão em um trânsito de pensamentos constantes.

Por isso podemos dizer que a intenção aqui não é definir como errada a
abordagem de Dawkins, mas no que se refere ao fenômeno analisado e a
hipótese de entendê-lo como uma possível nova linguagem de um meio de
comunicação digital. Assim, instâncias como sobrevivência, perenidade,
hereditariedade e evolução, propõe um entendimento geral da cultura e, no
caso dos memes da internet, temos um fenômeno com certas características
que, para essa análise, são relevantes – como o fato de ele estar
contextualizado com a mídia política em um cenário de comunicação social no
ciberespaço. Nesse sentido, pensar os memes no ambiente da internet e com
mais ênfase os memes políticos do Facebook, permite uma reflexão sobre a
influência e o impacto dessa linguagem memética no curso da cibercultura, o
que implica a interação social mediada, como se configuram os memes dentro
do cenário político do Facebook e que aspectos confirmam essas possíveis
significações, entre outros fatores.

É possível reconhecer que a escolha do termo meme para denominar o


fenômeno que ocorre na internet partiu de um ponto específico da teoria de
Dawkins, que seria a replicação, e com ela, a repetição de determinada
informação. Assim, o que se entende por “meme” no discurso da cibercultura
pode ser definido como um fenômeno caracterizado pela rápida difusão de
ideias, brincadeiras, jogos, piadas, comportamentos e conceitos entre os
usuários da rede, i.e., a circulação viral de informações que se repetem de
determinada maneira (FONTANELLA, 2009b, p. 8; BAUCKHAGE, 2011, p. 42).
22
Desse modo, o que os memes de Dawkins e os memes da internet têm em
comum é o fato de existirem através da variedade e fidelidade de suas réplicas.
O próprio Richard Dawkins definiu o fenômeno cibercultural com certas
particularidades que o diferenciam da noção primária de meme:

A própria ideia de meme sofreu mutações e


evoluiu em uma nova direção. E o meme da
internet é um sequestro da ideia original. Em vez
de modificar-se ao acaso, em vez de se propagar
na forma de uma seleção darwiniana, os memes
da internet são deliberadamente alterados pela
criatividade humana. Na versão sequestrada,
mutações são esboçadas, não aleatoriamente,
com o total conhecimento da pessoa que está
realizando a mutação. (DAWKINS, 2013)

1.3 – Memes, Internet e Semiótica: o surgimento de uma nova forma de


passar a informação.

O termo meme, criado por Dawkins na década de 70, evoluiu da maneira


acima e passou a ser vinculado ao contexto da comunicação mediada pela
internet. Assim, referir-se a um meme nas últimas décadas, nas redes sociais,
passou a ser referir-se a um meme da internet. E foi justamente essa atribuição
do termo a algo que estava acontecendo corriqueiramente nas redes sociais
que chamou a atenção para um fenômeno que estava se repetindo com certa
regularidade nas interações em rede, de modo que essas ocorrências
frequentes já estavam inclusive sendo nomeadas com o mesmo termo por seus
usuários. Era possível observar um padrão de expressão desses memes, isto
é, uma forma própria de configurar, promover e dar novos significados as
informações. E esse fenômeno estava surgindo na internet e exigindo uma
espécie de “letramento” e troca de conhecimentos atualizados para a sua
prática e compreensão das mensagens veiculadas. A percepção do fenômeno
dessa maneira nos remete à hipótese de que os memes podem configurar um
certo tipo de linguagem, uma vez que operam a partir de algumas regras que
não são preestabelecidas, porém são conhecidas e compartilhadas através da
repetição, padronizando assim os modos de comunicar ao ponto de destacar-

23
se de outras formas de expressão e ao mesmo tempo se configura como uma
forma de entendimento da realidade, uma maneira particular de ver o mundo.

Por isso se faz necessário entender que para ser meio de comunicação
uma tecnologia não pode ser vista apenas como um suporte, mas sim como
um ambiente que promove interação de consciências, podendo desse modo
operar como um dispositivo que promove cultura. Essa compreensão de que o
meio cria um ambiente cultural, uma semiosfera, um espaço de transformação,
compreensão e interação visual é a base para entender como os memes se
proliferaram tão rápido no Facebook. “Assim, através da teoria do meio,
podemos ver os meios de comunicação não como um suporte passivo, mas
como uma tecnologia que produz impactos nos nossos modos de comunicar,
pensar e agir, não se tratando de um espaço inerte pelo qual as mensagens
passam.” (MEYROWITZ, 1985).

É necessário aqui fazer uma referência a Marshall McLuhan e suas


pesquisas onde ele procurou entender como e por que os efeitos dos meios
modificam o homem e a sociedade (BARBOSA, 2010, p. 32). McLuhan buscou
desenvolver a ideia de que os meios geram impactos que incidem diretamente
em nós (em nosso corpo) e, por assim dizer, na nossa maneira de ver e
aprender o mundo. Essa noção estaria sustentada pela ideia de que os meios
(tecnologias) funcionam como extensões do homem – como um martelo que
pode ser entendido como uma extensão da mão, um automóvel de nossas
pernas ou ainda a escrita da nossa memória. Assim, McLuhan analisa cada
meio como uma extensão de um ou mais sentidos, membros ou processos
humanos, sugerindo que o uso das diferentes tecnologias afeta tanto a
estrutura da cultura, quanto a organização dos sentidos humanos
(MEYROWITZ, 1994, p. 52), uma vez que a introdução de um novo meio na
cultura muda o “equilíbrio sensorial” dos indivíduos e altera suas consciências
(MEYROWITZ, 1986, p. 3).

Assim, quando é usado aqui o termo “internet”, não é uma referência


exclusiva ao plano técnico. Esse plano por si só não constitui um meio de
comunicação: se pensarmos em uma TV ligada em um ambiente vazio, não
teríamos nessa situação um meio de comunicação, “um jornal, rádio ou TV
executam seu papel na presença do leitor i.e., qualquer um desses dispositivos

24
sozinhos em uma sala não seria mais que do que isso, componentes físicos e
mecânicos” (RUSSI, 2013, p. 49).

Desse modo, posto que o meio tratado aqui não é exclusivamente


material, o conceito usado como meio de comunicação se dá, na realidade,
pela viabilização da técnica em estabelecer relações com outros indivíduos: é a
ação e a intenção de consciências que fundamentam o suporte como meio de
comunicação. Assim sendo, a comunicação é a interação (ação) dos sujeitos
com o dispositivo técnico e pelo dispositivo técnico – e é essa ação que
concede a determinado suporte a função de meio de comunicação. Partindo
portanto da ideia de que todo dispositivo é uma extensão de um órgão humano,
de uma função ou ainda de uma faculdade do corpo humano, poderíamos
pensar que os meios de comunicação, como o próprio nome diz, prolongam
nossa faculdade de comunicação, que por sua vez é uma propriedade da
consciência:

[...] mas a que corresponde a comunicação


em relação ao corpo humano? A resposta mais
uma vez não admite nenhum equívoco, quer dizer,
trata-se da consciência já que a comunicação é
uma relação de consciências. Os meios de
comunicação são, então, objetos técnicos que
guardam uma relação bastante especial com a
consciência na medida em que se manifestam
como uma extensão da consciência ou, como nós
preferimos dizer, como simulação da consciência.
(MARTINO, 2000, p. 109 e 110).

Consciência entendida aqui como um fenômeno externo a mente como


propõe Peirce. Para ele, o homem é um signo em constante crescimento.
Assim a mente não se localizaria na cabeça, estando em um trânsito de
pensamentos (semiose). Para ele, “a mente é um signo desenvolvendo-se de
acordo com as leis da inferência”, não tendo assim um lugar, sendo na
realidade o resultado do processo inferencial de conhecer (PEIRCE apud
SILVA, 2012, p.147).

É possível pensar então que há uma continuidade que permite que o


pensamento esteja tanto na mente quanto em suportes físicos. Essa noção
sustenta o entendimento de Martino de que a comparação funcional entre
consciência e meio não é simplesmente arbitrária, pois o meio de comunicação

25
e a consciência estabelecem uma relação de identidade, isto é, ambos
possuem uma natureza de significado – o que permite aos meios simularem a
faculdade que temos de representar o mundo (MARTINO, 2000, p. 111). Dessa
forma, entendendo o meio digital como uma extensão da consciência (uma
simulação da consciência), por sua vez preenchido por um contínuo de signos,
é possível então entendê-lo como um espaço da mente e, portanto, como uma
cibercultura, uma vez que esta opera como um dispositivo pensante, como se
fosse uma consciência, estando dotada de memória, ação inteligente e da
capacidade de produzir hábitos. Através de uma promissora perspectiva
semiótica, podemos afirmar que essa cultura consiste em “inteligência coletiva”
e “memória coletiva”, ou seja, um “mecanismo de conservação, transmissão e
recepção de conteúdo digital” (ARÁN, 2001, p. 53).

É possível afirmar então que a cultura se apresenta dessa forma como


um ambiente de ação inteligente e produtiva, na qual a geração de sentido se
torna possível. Definindo aqui o conceito de semiosfera como algo que se
tornou “um modo de pensar para os modelos de cultura como um espaço
semiótico de suas práticas” (MACHADO, 2013, p. 62). Lotman define esse
espaço da seguinte maneira:

Como agora podemos supor, não existem por si,


de forma isolada, sistemas precisos e
funcionalmente unívocos que funcionam
realmente. Sua separação está condicionada
unicamente por uma necessidade heurística.
Tomados separadamente, nenhum deles têm, na
realidade, capacidade de trabalhar. Só funcionam
estando submergidos em um continuum
semiótico, completamente ocupado por formações
semióticas de diversos tipos que se encontram em
diversos níveis de organização. A esse continuum,
por analogia ao conceito de biosfera introduzido
por V.I Vernadski, o chamamos de semiosfera.
(LOTMAN, 1996, p. 22)

Lotman afirma ainda que a semiosfera é uma condição de existência da


linguagem, “sem semiosfera a linguagem não funciona, como tampouco existe”
(LOTMAN, 1996, p. 35). Ele entende a semiosfera e também os diversos
sistemas culturais que dela fazem parte como algo vivo, dinâmico, em ação,
anterior à comunicação, à linguagem e à semiose (RAMOS et al., 2007, p. 35).
Desse modo, é possível afirmar que a internet, não apenas enquanto suporte
de comunicação, mas também como uma extensão da própria consciência, se
26
configura atualmente como um ambiente semiótico, pois torna possível a
existência do meme como linguagem. E enquanto linguagem, o meme também
origina o seu próprio espaço semiótico (semiosfera) e suas fronteiras de
conexão com outros elementos da cibercultura. Então agora é possível ter
como base o fato de que o meme atua como uma subcultura possibilitada pelas
interações na internet e se apresentando como uma extensão da consciência.
Assim, partindo de Lotman, é possível aceitar a linguagem do meme
como o elemento do núcleo da semiosfera, isso porque o fator repetição na
essência do meme o leva rumo a um equilíbrio evolutivo provocando a
formação de hábitos, do constante diálogo que esse núcleo estabelece com a
cibercultura por meio da incorporação de seus elementos.

1.4 – Uma taxonomia para os memes políticos: a linguagem do Facebook

A provocação realizada no item anterior nos levou a entender o meme


como linguagem e tal fato partiu da curiosidade ao observar que, em espaços
de extensão da consciência, como o da internet onde a cibercultura cresce a
cada minuto, as redes sociais - no caso o Facebook - se organiza de um modo
onde o meme encontra um ambiente fértil para a sua reprodução e
perpetuação permitindo assim que por meio dessas formas organizadas e
regulares, os indivíduos podiam compartilhar humor, opiniões, críticas e
experiências, ou seja, o meme conformava também um modo de comunicar,
uma maneira de externalizar um pensamento, de expressar uma compreensão
do mundo. Vale lembrar ainda que o meme tende a existir por meio de uma
constante ressignificação de uma informação. Assim, cada ocorrência
memética acontece como um coeficiente de releituras de uma imagem, um
vídeo ou um texto, com isso cedendo novos sentidos a esse conteúdo, de
forma expansiva, repetitiva e coletiva, parecendo ser este aspecto o que existe
de regular em todas as ocorrências realizadas durante essa pesquisa.

Assim sendo podemos entender o meme como linguagem ao destacar


seu caráter “normativo”, de formação de regras de funcionamento que os
caracterizam; também por seu aspecto social através do compartilhamento, o
que faz dele uma forma de comunicar com emissor e receptor e por fim o

27
caráter do meme que diz respeito à maneira de dar novos sentidos às coisas
do mundo, de dar um novo significado informações, imagens, vídeo, textos.

Esses três aspectos nunca estão separados, pois na realidade um


implica no outro. A ideia de apresentar a construção do meme como linguagem
foi a forma escolhida para explicar de uma maneira clara e direta o processo
através doo qual foi construído o objeto dessa pesquisa, o meme como uma
linguagem da cibercultura usado para fins políticos. Nesse sentido, se faz
necessário a partir daqui, buscar uma forma de analisar os memes dentro do
filtro proposto pelo viés político e pelas fronteiras do Facebook com uma
taxonomia aceitável e com a intenção de entender cada vez mais como os
memes políticos se relacionam com o conceito de ciberdemocracia. A busca
pelo entendimento dessa semiosfera política digital no Facebook permitiu a
analise da formação de hábitos culturais, leis de ação e conduta, orientação
coletiva, concepções sobre o mundo, entre outros fatores. Esses memes
ajudaram a criar uma comunidade linguística interpretativa que, inserida em um
contexto cultural (semiosfera), compreende o conteúdo produzido nas
dinâmicas comunicativas mediadas pelo Facebook.

E por isso os estudos em relação ao papel dos memes tendem a


crescer, pois hoje os memes, em sua maioria, são analisados como objetos
despretensiosos, simples ou até superficiais (MILTNER, 2011). Mas esta visão
é fruto de uma percepção distorcida sobre o fenômeno e por isso parte desta
compreensão errada se deve à falta de maiores estudos que investiguem
profundamente o universo polissemântico dos memes políticos – pois cada vez
mais se apresentam como um novo gênero midiático, como demonstram
Knobel e Lankshear (2007) – a partir de um olhar sobre usos e apropriações
dessas produções em contextos reconhecidamente políticos.

A gama de exemplos é vasta: desde imagens com Geraldo Alckmin, às


páginas de conteúdo ficcional como Dilma Bolada, no Facebook. A
disseminação de correntes de e-mails e mensagens de celular avisando sobre
os riscos da eleição da candidata Dilma Rousseff, uma “ex-terrorista”, ao
Palácio do Planalto. Também a expressão “coxinha” que se vulgarizou como
classificação para manifestantes conservadores a favor do PSDB e “petralha”
para manifestantes de esquerda a favor do PT.

28
Atuando como excelentes indicadores eleitorais, eles dinamizam e
dimensionam a opinião pública a respeito de um dado candidato, partido ou
uma proposta específica. Funcionando como comentários situacionais,
escárnio ou manifestação de apoio explícito, os memes são capazes de
descortinar de forma bastante evidente o comportamento das massas em um
cenário eleitoral.

Estudar os memes políticos é uma forma de compreender todas as


motivações e as manifestações que são expressas por meio destas peças de
conteúdo e comportamentos específicos. Por esta razão, esta dissertação se
detém sobre que tipo de conteúdo é difundido e não quem os difunde. Uma
parte das pesquisas sobre o fenômeno dos memes procura demonstrar o
ecossistema de circulação dos mesmos (JENKINS, 2009), ou abordam os
modos de recepção e reprodução (MILTNER, 2011). A maioria das abordagens
propõem taxonomias desenvolvidas procurando se adequar às características
apresentadas originariamente por Dawkins (1976), dentro da visão de
processos de reprodução dos conteúdos (RECUERO, 2010). Por ora, devido
ao atual cenário político brasileiro não é da competência dessa pesquisa
mensurar se e como um determinado grupo específico de memes pode ser ou
não bem-sucedido em termos de aceitação pública a ponto de influenciar o
destino da política nacional. Para entender esse efeito faz-se necessário tempo
e entrevistas pessoais para avaliar parte desse fenômeno que cresce a cada
eleição. Assim a intenção dessa investigação é entender como os memes
políticos, publicados diariamente no Facebook, influenciam o estabelecimento
de uma ciberdemocracia, como proposta por Pierre Levy, no Brasil.

Também por esse motivo, ao invés de trabalhar com a coleta de dados


partindo de um espectro qualitativo de análise, nesse momento é estratégico
enveredar por uma pesquisa sobre um quantitativo expressivo de dados para
em uma pesquisa futura poder investigar o espectro qualitativo dos memes
políticos. Os atuais trabalhos que têm investido neste segmento quantitativo
dos memes, têm se concentrado em desenvolver análises formais dos
conteúdos, comparando-os no que respeita ao tamanho das imagens,
resolução, cromaticidade e outros aspectos relacionados (SOUZA, GOVEIA &
CARREIRA, 2014; HONORATO, CARREIRA & GOVEIA, 2014). Estas

29
análises, embora enriquecedoras por um lado, parecem acrescentar poucos
resultados ao atual campo de investigações da comunicação política digital.

E diante da necessidade de uma abordagem interdisciplinar sobre o


papel dos memes políticos, quando se relacionam com as redes sociais
digitais, se fez necessário investigar novos métodos e novas formas de pensar
como a natureza altamente mutável do meme pode influenciar outras formas
de participação política e assim através de uma disseminação massiva de
memes promover o caminho para uma inteligência coletiva que seria um dos
itens pressupostos para a ciberdemocracia. A inteligência coletiva descrita por
Lévy é o processo onde as inteligências individuais, em suas diversidades, são
somadas e compartilhadas por toda a sociedade, potencializadas com o
advento de novas tecnologias de comunicação.

Na busca de novos estudos sobre os memes, encontramos uma matriz


taxonômica que objetiva avaliar o enquadramento discursivo desses memes
políticos baseada em propostas de taxonomias anteriores, tanto oriundas do
universo de pesquisas recentes sobre memes (SHIFMAN, 2014; TAY, 2012)
quanto do universo da Comunicação Política (BENNETT & SEGERBERG,
2012; ALBUQUERQUE, 1999; FIGUEIREDO et al., 1998).

Esta taxonomia também já havia sido usada anteriormente em pesquisa


sobre memes das eleições presidenciais de 2014 (CHAGAS & FREIRE & RIOS
& MAGALHAES, 2015). A pesquisa partiu então de um quantitativo massivo de
dados recolhidos no Facebook, durante sete dias, em três momentos distintos
para efeitos de registro comparativo. São eles: eleições presidenciais (2014), o
primeiro ano do segundo mandato de Dilma Roussef (2015) e o processo de
Impeachment (2016). Os três momentos foram escolhidos, pois juntos
representam uma trajetória de acontecimentos que marcou a política brasileira
e assim repercutiram diretamente na linha do tempo do Facebook de milhares
de brasileiros. Dessa forma o campo empírico desta pesquisa foi o Facebook e
a clivagem partiu da necessidade de analisar os memes dos dois maiores
grupos que se declaram como movimentos políticos (orientação de esquerda e
de direita) e as páginas oficiais dos partidos: PT, PSDB e PMDB 1.

______________________________________

1
Todos os memes coletados estão disponíveis em https://memespoliticosdofacebook.wordpress.com

30
O monitoramento e a coleta, de memes políticos, acontecem
semanalmente desde setembro de 2014 até a data atual mas para efeito de
recorte e análise o foco se manterá nos três momentos citados acima com a
oportunidade de analisar esse material coletado, sobre outra perspectiva, no
doutorado.

Para a coleta de imagens, foram salvos os memes como arquivos de


imagens direto do Facebook para manter a fidelidade e a fonte. Todos os
memes foram coletados no formato JPG por este ser o formato de imagem
mais comum na internet. A busca foi realizada, no Facebook, através do uso de
hashtags relacionadas às eleições presidenciais de 2014, ao primeiro ano do
segundo mandato do governo Dilma Roussef (2015) e ao processo
impeachment de 2016, que assim indicaram as páginas com maior número de
participantes relacionados a esses assuntos no Facebook. Foram escolhidas
assim cinco páginas como campo empírico: a página com maior quantidade de
memes políticos de direita e a página com maior quantidade de memes
políticos de esquerda mais as três páginas oficiais dos partidos PT, PSDB e
PMDB durante sete dias nos três momentos citados acima. Entre as páginas,
foram coletadas exatamente 262 memes que foram publicados no Facebook, e
que constituem o corpus desta pesquisa.

Durante a análise e catalogação, as imagens dos memes foram


auditadas, segundo um conjunto de variáveis que indicam que entre as
imagens analisadas, há um montante de peças que colocam em dúvida o seu
status como meme. Isso devido ao fato de que, ao menos para este momento
atual, a pesquisa não se preocupou em avaliar quais dentre estas imagens
obteve maior ou menos grau de compartilhamento, qual foi mais ou menos
reapropriada e serviu de base para outras postagens, e mesmo quais eram os
posts e hashtags que acompanhavam estes memes. À primeira vista, alguns
destes memes se apresentam como registros visuais descontextualizados
porem com uma visão mais focada, é possível identificar que uma imagem
aparentemente descontextualizada também é capaz, na dinâmica de memes
replicados e cujo conteúdo é culturalmente compartilhado, de gerar respostas
mais elaboradas.

31
Por isso se faz necessário entendermos os memes como construções
culturais que se articulam e que são difundidos por agentes humanos e/ou
grupos organizados. Em outras palavras, não existe um poder misterioso e
intrínseco dos memes em si (BLACKMORE, 2000) que impulsiona e mantem
os processos de difusão cultural, mas sim a construção de teias de significados
e estruturas construídas pelas pessoas em torno deles. Ao avaliar os memes
relacionados a três fases distintas do atual processo político brasileiro é
possível aproximá-los do entendimento de Shifman (2014) sobre a necessidade
de avaliarmos os memes não como unidades de conteúdo isoladamente
apreensíveis, mas como um conjunto semântico, uma coleção, sem o que não
é possível alcançar seu significado pleno.

Também no que diz respeito ao humor, alguns memes políticos


conseguiram ir além das fronteiras tradicionais, pois

Ao passo que alguns memes políticos são


enquadrados na forma humorística, outros são
extremamente sérios. Independentemente do
apelo emocional, memes políticos têm um ponto
em comum – participam de um debate normativo
sobre como o mundo poderia ser e o que fazer
para alcançá-lo (SHIFMAN, 2014, p. 120).
Com estas questões permeando a coleta e a análise, foi feita a divisão
dos memes políticos, primeiramente, entre (1) persuasivos, (2) de ação popular
e (3) de discussão pública. Esta classificação é baseada na divisão de Shifman
(2014), resultante de sua pesquisa sobre memes políticos relacionados às
eleições presidenciais de 2008 nos Estados Unidos e ao movimento Occupy
Wall Street em 2011. Memes persuasivos são aqueles construídos para serem
disseminados e que pretendem angariar apoio a uma determinada ideia,
partido ou candidatura, com a intenção de convencer o eleitor. Subscrevem-se
a esta categoria memes que apresentam gráficos comparativos entre dois ou
mais candidatos ou dois ou mais partidos. Já os memes de ação popular são
aqueles que se caracterizam por uma construção coletiva de sentido,
mobilizando o cidadão comum. Alguns utilizam frases de efeito, como “Fora
PT!” ou “Fora Temer!” e têm relação com a militância partidária, embora não
tenham necessariamente relação com o partido em si. Memes que apontam
para comportamentos coletivos como selfies, também se caracterizam como
memes de ação popular. Memes de discussão pública são aqueles criados

32
para funcionar como comentários despropositados dos eleitores a uma
situação ou reação específica, expressão polifônica e de múltiplas opiniões,
geralmente identificados como humor ou ódio. Na primeira fase da coleta, são
apresentados os resultados relacionados aos memes difundidos durante a
eleição presidencial brasileira de 2014. Para esta fase, foi recolhido um total de
76 memes, o que gerou uma amostra de aproximadamente 29% de todo
material coletado. Para classificar essa amostragem, cada meme foi avaliado
em:

(1) suas dinâmicas de ação coletiva nas mídias sociais e como


influenciadores de comportamentos – partindo de nova adaptação da
proposta de categorização de W. Lance Bennett e Alexandra Segerberg
(2012), a respeito das dinâmicas de ações coletivas tradicionais e
surgidas com o advento das novas mídias;

(2) e o tipo de mensagem apresentada, qualificando os conteúdos de


acordo com o objeto do humor – conforme categorias descritas por Tay
(2012).

Na segunda fase da coleta, são apresentados os resultados


relacionados aos memes difundidos durante o primeiro ano do segundo
mandato de Dilma Roussef, especificamente em relação ao vazamento das
ligações telefônicas da presidenta em março de 2015. Para esta fase, foi
recolhido um total de 56 memes, o que gerou uma amostra de
aproximadamente 21% de todo material coletado. E por fim na terceira fase da
coleta, são apresentados os resultados relacionados aos memes postados
durante o processo de impeachment de Dilma Roussef, especificamente em
relação ao seu afastamento do cargo, para o qual foi eleita, em maio de 2016.
Para esta fase, foi recolhido um total de 130 memes, o que gerou uma amostra
de aproximadamente 50% de todo material coletado.

Durante todo o momento da análise era de conhecimento geral que os


conteúdos coletados, na prática, apresentam interseções entre estes tipos
citados acima. Mas, para efeito de simplificação e checagem, o trabalho foi
desenvolvido com estas categorias e subcategorias como excludentes entre si
(a um conteúdo poderia ser atribuída somente uma classificação), utilizando
como expediente uma experiência baseada na quantidade interações,

33
comentários e compartilhamentos dos usuários dessas páginas no Facebook.
Terminada a análise, os memes foram dispostos de acordo com o quadro
abaixo.

QUADRO 1

Tipologia aplicada aos memes


Meme de Persuasão Meme de Ação Popular Meme de Discussão Política

TABELA 1
Tipos de memes políticos

Memes persuasivos
Retórica propositiva e/ou um apelo pragmático. O conteúdo sugere ou faz
referência a propostas do candidato, levanta uma discussão que aponta para o
cálculo racional do eleitor (apelo pragmático) ou toca em questões
relacionadas a temas discutidos nas eleições e opiniões dos candidatos.
Retórica sedutora ou ameaçadora e/ou um apelo emocional. O conteúdo
faz uso de aspectos marcadamente subjetivos e emocionais, como retratar um
candidato como "pai/protetor dos pobres" ou colocá-lo ao lado de crianças ou
ainda fazendo um apelo para emoções como o medo, a esperança, o futuro e
os valores sociais, etc.
Retórica ético-moral e/ou um apelo ideológico. O conteúdo investe em
denúncias de escândalos, faz críticas à corrupção ou má gestão de recursos
públicos, menciona a rivalidade entre esquerda e direita de forma acentuada e
ataca o passado de candidatos e partidos, etc.
Retórica crítica e/ou um apelo à credibilidade da fonte. O conteúdo se
ancora em outras fontes, como depoimentos de terceiros ou a própria mídia
(notícias da imprensa), pesquisas de opinião, ou outros, para garantir maior
credibilidade ao candidato ou ao próprio conteúdo dos partidos.
Retórica e/ou um apelo de difícil classificação ou de ambiguidade extrema.

34
Memes de ação popular
Dinâmica de ação coletiva e redes curadas por organizações. O conteúdo
é explicitamente patrocinado por uma organização partidária (e não pela
militância), uma empresa ou organização sem fins lucrativos, uma categoria
profissional ou entidade sindical específica (médicos, jornalistas, professores
etc.) e assim por diante.
Dinâmica de ação conectiva híbrida e redes catalisadas por
organizações. O conteúdo é resultado de ação de militância sem vinculação
explícita com organizações partidárias ou possui estreitas relações com
organizações e entidades que não são diretamente mencionadas no cenário
político. Nesta categoria incluem-se conteúdos criados pela militância como os
avatares de Facebook que utilizavam os slogans das campanhas de Dilma e
Aécio ou hashtags como #petralha #coxinha #fascista #comunista.
Dinâmica de ação conectiva e redes auto-organizadas. O conteúdo é
criação de um coletivo que não se constitui formalmente como organização.
Nesta categoria incluem-se conteúdos gerados espontaneamente com algum
teor de engajamento político, como p.ex. o #foradilma ou o #foratemer, etc.
Dinâmica de ação conectiva não-engajada. O conteúdo é resultado de uma
tendência ou comportamento não necessariamente atrelado a um particular
engajamento político, como photo fads, selfies etc. Nesta codificação incluem-
se fotos da televisão durante o debate eleitoral ou durante a votação do
impeachment p.ex. Dinâmica de ação popular de difícil classificação ou de
ambiguidade extrema.

Memes de discussão pública


Lugares-comuns da política. Conteúdos que apresentem comentários sobre
a corrida eleitoral como guerra, a luta contra o comunismo, os políticos como
corruptos, a ação da justiça, o ataque as instituições, etc.
Alusões literárias ou culturais. Conteúdos que apresentem menções a
produtos culturais (séries, filmes etc.) ou à cultura popular em geral, incluindo
referências a expressões populares e gírias da internet, personagens famosos
e celebridades e assim por diante.
Piadas sobre personagens da política. Conteúdos que apresentem
comentários sobre personagens específicos da cena política, especialmente,
mas não apenas os personagens contemporâneos, candidatos ou não.
Piadas situacionais. Conteúdos que apresentem comentários sobre reações,
expressões faciais, gestuais ou corporais dos candidatos em determinadas
situações, como os memes que brincam com a linguagem usada por Dilma
Roussef durante seus discursos.
Discussão pública de difícil classificação ou de ambiguidade extrema.

35
Além destas categorias de classificação, os memes foram analisados de
acordo com variáveis formais e de conteúdo, variáveis relacionadas
diretamente à política e aos diferentes gêneros de memes. Assim, foi
identificada a presença de referências aos candidatos, as emissoras de
televisão, questões quanto à linguagem (popular ou culta), ao discurso
empregado (direto ou indireto), à voz do narrador, e muitos outros aspectos
que estudarei no futuro onde pretendo dar continuidade aos estudos em
memética.

1.5 – O conturbado cenário político brasileiro entre 2013 e 2014

A dicotomia política entre a esquerda e a direita existe na maioria dos


países com regimes democráticos e tem determinado a maneira de conduzir o
processo político ao longo do tempo. A disputa pelo poder democrático traz à
tona os ideais de poder e os interesses individuais das pessoas, que se
articulam e se envolvem em uma disputa de ideologias em massa, deixando-se
influenciar por um grupo de ideias que estejam do lado que representa a sua
definição de interesse político. Essa definição política deriva da construção de
ideologias partidárias alimentadas por dispositivos que viabilizam o
desenvolvimento e a divulgação destes novos sujeitos ideológicos.

Segundo Bobbio (1995), a direita e a esquerda são formadas por um


pensamento a partir de uma díade, ou seja, uma forma de pensamento em que
a existência de um implica, necessariamente, a existência do outro, ou seja, a
direita não existiria se não existisse a esquerda, e vice-versa. A ausência de
um dos lados torna o modo de pensar do outro estranho e confuso. Esse
conjunto caracterizado por dois elementos é qualificado por Bobbio como
antagônico, de forma que a oposição entre um e outro seja necessária para a
existência de ambos. Dessa forma, um pensamento político de esquerda só
pode existir se houver um pensamento político de direita que lhe contraponha,
e vice-versa.

Diante desse cenário, os partidos políticos passaram aos poucos a


deixar de lado seus discursos radicais característicos e passaram a se agrupar
cada vez mais próximos de um centrismo ideológico, de forma que as

36
diferenças nos partidos são cada vez menores e cada vez mais focadas em
apoiar grupos ao invés de ideologias.

Essa nova forma de posicionamento político que tem caracterizado os


partidos nas últimas eleições brasileiras sinaliza para a incapacidade dos
mesmos em proporcionar novos códigos interpretativos para que os cidadãos
construam suas identidades coletivas. Nas eleições presidenciais de 2002 e
2006, por exemplo, a grande maioria da população brasileira não considerava
que os partidos representassem sua maneira de pensar (Baquero, 2010).
Nesse contexto, as crenças e preferências político-partidárias das pessoas
carecem de substância ideológica, reduzindo a capacidade dos partidos de
representar as múltiplas correntes de opinião e de crenças. Somado a esses
fatores, o processo de constante individualização das sociedades modernas
também tem impactado no crescente afastamento das pessoas dos partidos
políticos. Tal situação complica a função representativa que os partidos estão
obrigados a desempenhar perante os seus eleitores.

A participação política por associativismo, também se apresenta de


forma enfraquecida (FERREIRA, 2000). Sindicatos, que entre os anos 80 e 90
tiveram forte atuação política, foram agraciadas com uma forte aproximação no
governo Lula a partir de 2002.

A consequência disso foi uma elevação do trabalho de mobilização


política da classe trabalhadora (SOARES, 2013). Os estudantes, sempre
pioneiros em mobilizações, limitavam suas ações em espaços protegidos pelos
muros das universidades, colocando em sua agenda de protestos apenas
assuntos relacionados à vida universitária.

Após as manifestações de junho de 2013 (então capitaneada pelo


Movimento Passe Livre), a identificação da população entre ideais de esquerda
e de direta ressurgiu de maneira perceptível. Após a população em geral tomar
as ruas protestando por todas as suas insatisfações, as diferenças ideológicas
dentro das próprias manifestações rapidamente começaram a aparecer, até
esse movimento chegar ao ponto de se separar, dividindo as pessoas em dois
rumos de militância política com caminhos radicalmente opostos.

37
Esse estopim na polarização ideológica entre esquerda e direita se
intensificou e resistiu de forma a se manter em pauta e assim se desenvolver
até as eleições presidenciais de 2014. A esquerda se mobilizou contra o projeto
neoliberal do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), e a direita
respondeu desenvolvendo sua ideologia em torno de um forte sentimento
contra o Partido dos Trabalhadores (PT). A maneira radical e até mesmo
conversadora do discurso da direita adquiriu elementos de ódio e fugiu do
debate puramente ideológico e político. A campanha das eleições de 2014 foi
extremamente tensa por esse motivo, aumentando assim as provocações e a
injúrias entre os partidários do PSDB e do PT. Durante o período eleitoral de
2014, diversos conflitos foram registrados em manifestações, principalmente
quando militantes da esquerda e da direita se encontravam nas ruas. A tensão
que existia na insatisfação geral da população se solidificou no discurso dos
dois partidos.

Essa tensão bipartidária seguida das manifestações e dos conflitos


físicos, sempre registrados e divulgados pela mídia (que deliberadamente criou
termos para esses conflitos como: “esquerda x direita”, “petralhas x coxinhas”,
“comunistas (sic) x liberais” e até o famoso “esquerdopatas x reaças“), levou a
população a discutir política no seu dia a dia, principalmente no novo território
promovido pela Internet através das redes sociais. Entre todas as redes
sociais, disponíveis em 2014, foi o Facebook que permitiu uma maior
possibilidade de debates pela existência de grupos e páginas dedicadas ao
assunto e por isso se tornou o principal meio para a proliferação e o
desenvolvimento do posicionamento e das discussões políticas. Dentro dessa
nova esfera pública criada pelo Facebook, em meados de 2014,
aproximadamente 59 milhões de brasileiros faziam parte da rede social e desse
montante, boa parte se polarizaram em grupos e páginas que proliferavam
ideologias políticas partidárias.

A liberdade de expressão permitida pela Internet somada à semelhança


da origem dos debates gerados pelo ambiente das redes sociais como o
Facebook permitiu um grande desenvolvimento de grupos ideológicos com
liberdade para se expressarem e se radicalizarem, conforme foram se sentindo
seduzidos em seu discurso ideológico de poder das massas. A partir do
momento em que esse discurso encontrou eco em milhares de seguidores ele
38
cresceu e se tornou um mantra que definiu os estereótipos dos dois lados
desse embate. De um lado temos a esquerda representada pelo PT e seus
correligionários chamados de “Petralhas” enquanto do outro lado temos a
direita representada pelo PSDB e seus correligionários chamados de
“Coxinhas”.

Diante desse cenário, entenderemos como aconteceu essa polarização


ideológica e tentaremos entendê-la a partir do ressurgimento da militância
agora virtual, que encontrou nas redes sociais a coragem que necessitava para
levantar sua voz tanto no mundo virtual quanto nas ruas do Brasil.

No pleito presidencial de 2002, o PSDB apresentou uma campanha


eleitoral baseada no medo de vermos o Brasil sendo governado por Lula do PT
e pela instauração de um governo de esquerda em terras brasileiras. Em um
discurso de esperança, Lula apresentou uma campanha com tons de
conciliação com a área pública e a privada e, assim, construiu a imagem de um
candidato moderado, revelando suas preocupações com o mercado e com a
economia (CHAIA, 2004). Lula ouviu os anseios do empresariado em troca de
apoio político e conseguiu assim promover uma campanha para desmistificar o
paradigma do medo criado pelos seus opositores e pela mídia.

Desse modo a eleição de 2002 definiu o começo de uma forte


centralização das ideologias declaradas por cada um dos partidos opositores.
O PT deu seu grande passo com êxito, pois conseguiu se aproximar dos
mercados se mostrando como um partido de centro-esquerda moderado. Nas
eleições seguintes (pleito de 2006 e 2010), o partido foi seguido pelos demais
adversários, principalmente o PSDB, que após se deparar com a grande
aprovação dos mandatos de Lula necessitou admitir que as políticas sociais do
PT são importantes e legítimas para o povo brasileiro. Essa suposta inversão
de valores atingiu, nas eleições de 2010, o ponto do candidato do PSDB, José
Serra, passar a defender a política social de Lula e afirmava que ele era o
melhor candidato para levar à frente essa política, e não Dilma Rousseff, a
candidata do próprio PT.

1.6 – O Movimento Passe Livre em 2013: coxinhas e petralhas em fúria

39
Com a realização de novos protestos em 2013, todo esse cenário
bipartidário foi literalmente virado de cabeça para baixo. Os protestos que
começaram com o Movimento Passe Livre, declaradamente de esquerda e
com foco de militância no transporte público, cresceram acima do esperado. A
partir do momento em que houve repressão tanto policial quanto do próprio
governo do Estado, a esquerda se uniu ainda mais e começou a se mobilizar e
a participar cada vez mais dos protestos.

A televisão e os jornais tentavam desconstruir o movimento e assim o


caráter das manifestações, apresentando seus participantes como vândalos
que só estavam ali para causar o caos nas cidades. Ao mesmo tempo, sem voz
nas mídias tradicionais, muitos ativistas tentavam apresentar pelas mídias
sociais o que não era contado pelos telejornais e assim o movimento cresceu.
Depois de diversas divergências sobre a cobertura fiel das manifestações, as
mídias tradicionais perderam sua audiência para a liberdade das redes sociais,
um fato até agora inédito e histórico. A possibilidade tecnológica de registrar
todos os momentos dos protestos com câmeras de celulares passou a gerar
provas instantâneas que contrariavam imediatamente o que a mídia tradicional
divulgava.

Diante dessa nova versão dos fatos, a indignação popular aumentou de


maneira geral e o questionamento sobre o que era apresentado para as
pessoas todos os dias pela mídia se desenvolveu fortemente nas redes sociais.
Esse comportamento duvidoso da mídia foi levado às últimas consequências
dando a uma parte do povo o poder de divulgar ideias e questionar realidades
através do Facebook e esse novo poder se manifestou nas grandes
mobilizações por todos os lados do Brasil. Através de cartazes os
manifestantes repetiam frases e ideias debatidas nas redes sociais. As
reivindicações cresceram e se multiplicaram ao ponto de unir na mesma
manifestação tanto a esquerda quanto a direita. Pela primeira vez a voz
popular surgiu com força e pressão suficientes para mudar o jogo político e
trazer novos posicionamentos para todos os partidos.

Nessa nova arena das manifestações, o período de trégua não durou


muito tempo. Para alguns esse período nunca existiu. Pois o combate
ideológico continuou e os extremos se confrontaram novamente nesse novo

40
território virtual apresentado pelo Facebook. A esquerda, representada por
militantes de partidos políticos como PSTU, PSOL e o próprio PT, e a direita,
que aqui se declarava apartidária, entraram em um conflito de interesses
constante. Nos protestos era possível ouvir gritos lado a lado de “Fora, Dilma” e
“Fora, Alckmin” e, logo após, vaias de ambos os lados. Dessa forma, a união
pela causa do passe livre rapidamente se desfez, e as pessoas começaram a
declarar e a sustentar suas próprias bandeiras. Passaram a dizer então que os
protestos não eram pelos 20 centavos do transporte público, mas pela total
insatisfação da população com a política e a sua representatividade no Estado.

Desse momento em diante, os protestos passaram a demandar novas


mudanças sociais em diversos setores da sociedade. Fernando Haddad,
prefeito da capital paulista pelo PT, diante das incertezas das motivações das
manifestações, colocou-se em uma posição neutra e prática. Ele condenou
publicamente a violência exercida pela polícia militar, a qual respondia ao
governador Geraldo Alckmin do PSDB, e apoiou desde o começo teor das
manifestações públicas, porém sempre condenando as depredações e os
prejuízos gerados pelos seus manifestantes. Ao mesmo tempo, Haddad
afirmou que não seria possível a redução das passagens do transporte coletivo
por não haver verba disponível para determinado propósito. Apesar de seus
comentários mais neutros, o prefeito Fernando Haddad sofreu com protestos
em frente à prefeitura de São Paulo.

No dia 20 de junho de 2013, após a vitória do movimento que finalmente


conseguiu o retorno das tarifas para o valor R$3, ao invés da tarifa de R$3,20
proposta pelo governo, o Movimento Passe Livre, ao perceber a tensão
ideológica dentro das manifestações, declarou-se satisfeito com a vitória e
transformou o seu ato marcado para o mesmo dia em uma celebração do
movimento popular. O PT de forma reconhecidamente atrasada em relação aos
acontecimentos do Movimento Passe Livre, (pois ainda não tinha entendido
como se posicionar diante dos protestos, uma vez que era situação tanto na
cidade de São Paulo quanto em Brasília), resolveu de maneira direta colocar
boa parte dos seus militantes nas ruas. A militância da direita, que se formava
desde o começo do movimento e que se declarava apartidária, revoltou-se com
essa atitude entrando em conflito físico com os militantes de esquerda,

41
depredando e queimando bandeiras de partido e agredindo manifestantes a
favor do PT.

Desde esse dia então, os manifestantes pró-direita de São Paulo


tentaram levar todos os créditos das manifestações, visando que o movimento
fosse visto como um manifesto pela indignação contra a corrupção e o governo
do PT, o que acabou culminando no último protesto em São Paulo em 22 de
junho, que lutava pelo fim da PEC 374 e trazia protestos da classe médica
contra médicos cubanos chamados ao Brasil por um convênio entre os dois
países. Durante esses últimos protestos, a ala da esquerda já havia se retraído
em seu movimento, com o intuito de não deixar sua luta se vincular a essa
nova face da direita que se colocava constantemente nas ruas. E também por
uma grande desmotivação geral, ao ver as interpretações da mídia que eram
feitas sobre o movimento alegando que as manifestações eram um exercício
democrático das pessoas insatisfeitas com o governo do PT, exaltando
principalmente as bandeiras levantadas pela direita que criticavam diretamente
a política do governo.

É possível assim perceber a estratégia usada pela esquerda que através


de movimentos planejados se posiciona, ataca e depois recua quando sente
essa necessidade. Podemos dizer com isso que no Brasil existia uma militância
de esquerda que já era acostumada a protestar como uma herança de luta
desde a ditadura. Já para a nova militância da direita, por sua vez, sair às ruas
foi uma grande novidade. Novidade essa trazida todo dia para a realidade do
indivíduo através do Facebook. Com esse empoderamento tecno-social nasceu
um sentimento de prazer cívico que tomou a maioria das pessoas nos
protestos que eram organizados, difundidos e registrados todos os dias pelo
Facebook. Essa possibilidade de divulgar suas ideias com esse sentimento de
prazer de protestar pelo Brasil permitiu aos protestos um crescimento
vertiginoso em número de participantes e chamou a atenção da mídia global.

Porém, no desenvolvimento desse gosto pelo poder de tomar as ruas e


protestar, a direita tentou impor sua ideologia sobre o movimento Passe Livre.
Essa imposição tomou aos poucos a forma de radicalização, em que ideias
diferentes das colocadas por eles não eram aceitas, impossibilitando assim a
busca por objetivos comuns com seus colegas de manifestação.

42
Bobbio (1995) interpreta a radicalização tanto da esquerda quanto da
direita como uma ameaça á democracia. O extremo da radicalização é o ponto
em que a esquerda e a direita se aproximam. No caso das manifestações pelo
Passe Livre, a esquerda não chegou ao ponto da radicalização, já a direita
radicalizou-se e demonstrou um discurso de não tolerância, impedindo até
bandeiras de movimentos dentro dos protestos. Dessa forma podemos
entender que a direita, em minoria, tentou falar mais alto abafando os protestos
da esquerda.

Apesar do fato de que a maioria das pessoas se considerava de centro,


durante os protestos, podemos dizer realmente que a dualidade esquerda e
direita renasceu no Brasil mais forte do que nunca depois do Movimento Passe
Livre. A esquerda percebeu a necessidade de não mais se contentar em um
discurso conciliador de centro proposto por Lula desde o primeiro mandato.

Agora era necessário haver uma identificação maior com a esquerda,


abandonando o discurso centrista e se diferenciando da nova classe da direita.
Essa nova classe, amavelmente, apelidada pela esquerda como a classe
política “coxinha”, mostrava todo o seu conservadorismo ao mesmo tempo em
que tentava apresentar o PT como a expressão mais pura da esquerda,
atribuindo-lhe um caráter comunista e corrupto por natureza ideológica.

No artigo de Singer (SINGER, 2013), é citada uma pesquisa feita pelo


Datafolha no dia 20 de junho de 2013, em que a distribuição dos manifestantes
por ideologia declarada era respectivamente: Esquerda: 22%, Centro-
Esquerda: 14%, Centro: 31%, Centro-Direita: 11% e Direita: 10%.

Depois desse dia, independente dos partidos que defendessem, os


esquerdistas foram apelidados de “Petralhas” em uma mistura de palavras
entre PT e o nome dos personagens Irmãos Metralha dos estúdios Disney.
Grande parte da sociedade brasileira ficou dividida diante das discussões
ideológicas em dois blocos antagônicos: De um lado os “coxinhas” e do outro
os “petralhas”. Mas isso ainda ficaria pior no sentido de quem não se encaixava
em nenhum desses dois grupos. Esses eram chamados de alienados políticos.

43
1.7 – Nunca antes na história deste país uma eleição presidencial foi tão
disputada

Houve assim uma polarização ideológica na política brasileira de uma


maneira muito forte e que vem se tornando cada vez mais constante. Devemos
ressaltar aqui que a polarização ideológica deve ser analisada como um
movimento social. Ela se dá quando diferentes polos se atraem ou se repelem
em suas ideologias. A polarização não pode ser analisada pela forma do
distanciamento em uma dualidade. Pelo contrário, a polarização se dá em um
espaço onde pode haver os mais diversos níveis de ideologia (BOBBIO, 1995).

Analisando agora as eleições de 2014, poderíamos interpretar que a


militância da esquerda se tonificou desde os protestos do Movimento Passe
Livre. Prova disso é que a esquerda que defendeu o PT passou a agrupar em
sua agenda ideológica itens comuns à ideologia da esquerda em outros países,
como a busca da igualdade de oportunidades, a defesa das minorias, o
empoderamento do povo e a defesa do Estado como responsável por atingir
essas metas. Essa esquerda de fato já existia, porém era desunida e depois
dos protestos ela começou a agrupar consigo outros setores mais moderados
da esquerda, que por sua vez não militavam e não exerciam um pensamento
característico de esquerda.

É importante ressaltar que essa esquerda unificada não pregava a


defesa de um regime socialista. A esquerda mais radical que defende o
socialismo se absteve do debate, uma vez que não concordava com as
políticas praticadas pelo PT.

O que podemos observar agora é que em 2014 a direita se polarizou


muito em seu discurso de ódio ao PT. Ao ponto de difamar o processo eleitoral
de como antidemocrático e sugerir um golpe de Estado por intervenção militar.
Podemos citar como exemplo disso as pessoas que saíram às ruas após o fim
das eleições, pedindo pelo impeachment de Dilma Rousseff. Podemos assim
entender então que existe hoje no Brasil uma nova direita e que essa é bem
mais radical do que sua versão anterior. O filósofo brasileiro Paulo Eduardo
Arantes traz uma descrição dessa nova direita ao caracterizar essa nova classe
como uma direita oriunda do “Surto da Impaciência” revelado pelas

44
manifestações de junho de 2013 que provocou um surto simétrico e antagônico
que permitiu a união de discursos contra a esquerda agora defendida e
representada pelo PT (LUCENA, 2014).

Esse surto simétrico e antagônico, promovido pelo Facebook e


responsável por uma polarização assimétrica, é característico da política
bipartidária dos Estados Unidos. A polarização assimétrica parte do princípio
de que a polarização tem que acontecer com o agrupamento entre polos de
direita e de esquerda. Em segundo lugar, é preciso que as forças não tenham a
mesma intensidade de radicalização. Podemos fazer uma analogia com o
mesmo mecanismo para avaliar se a análise empírica de polarização
assimétrica apresentada no Brasil até agora nos leva para um cenário próximo
ao modelo americano onde dois grandes partidos disputam o poder há anos.

No Brasil, em 2014, a base dos deputados que formam o Congresso


Nacional é a mais conservadora desde 1964. Números apresentados pelo
DIAP (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar) justificam essa
afirmação. Dos 513 candidatos eleitos, 257 candidatos foram financiados pelo
agronegócio, que normalmente vão contra causas como direitos indígenas,
preservação de florestas e regulamentações no uso de defensivos agrícolas.
Deputados ligados à Polícia foram 55; estes vão trabalhar por questões como
redução da maioridade penal e fortalecimento de instituições como a Polícia
Militar. A bancada evangélica conseguiu eleger 82 representantes diretos da
igreja; são estes que normalmente trabalham contra direitos de homossexuais
e direitos da mulher. Em contrapartida, deputados defensores das causas
sociais se encolheram, e deputados relacionados a frentes sindicais foram
reduzidos de 83 para 46. Importante destacar aqui que candidatos
ultraconservadores, que trabalharam com declarações racistas, homofóbicas e
com discursos de ódio, obtiveram votações muito expressivas (BEDINELLI,
2014). Como o caso de Luiz Carlos Heinze (PP-RS), eleito deputado federal
com mais votos pelo Rio Grande do Sul, conhecido por declarações racistas 1,

_________________________________
1
Deputado diz que quilombolas, índios e homossexuais são "tudo o que não presta". Vídeo gravado em audiência

pública com produtores rurais em Vicente Dutra (RS) registra discursos dos deputados Alceu Moreira (PMDB/RS) e
Luís Carlos Heinze (PP/RS), ambos da bancada ruralista, estimulando que agricultores usem de segurança armada
para expulsar indígenas do que consideram ser suas terras. 0'17". Disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=PjcUOQbuvXU>. Acesso em outubro de 2016.

45
como a do dia 29 de novembro de 2013 em audiência pública, quando afirmou
que “quilombolas, índios, gays e lésbicas, tudo que não presta” estariam
mandando no governo federal. Jair Bolsonaro (PP-RJ), ultraconservador
conhecido pelo seu discurso de ódio contra homossexuais, foi o deputado
federal com mais votos no Rio de Janeiro, com 464.572 votos. Outras
expressivas votações são a de Marcos Feliciano (PSC-SP), homofóbico,
protestante com 398.087 votos; a do delegado Waldir Soares (PSBD-GO),
deputado mais votado em Goiás; e a do policial militar Alberto Fraga, deputado
mais votado no Distrito Federal (BEDINELLI, 2014).

Isso demonstra a grande preferência da população por candidatos de


viés conservador no Brasil. Por isso é possível entender que comentários
discriminatórios em relação às minorias se tornaram desejáveis para o discurso
desses candidatos. É a eterna oportunidade de inclusão social que norteia os
discursos eleitorais no Brasil. Isso devido ao fato que existe hoje um repúdio ao
diferente, uma incapacidade de identificação com o outro, com o próximo. Esse
repúdio cada vez mais se expressa no Facebook como forma de violência
verbal e de um constante desejo de repressão aos direitos do outro. Os
discursos dos candidatos ultraconservadores refletem as discussões que têm
vindo à tona nas redes sociais tendo como o templo da manifestação política: o
Facebook.

Hoje o Facebook reflete a transposição da violência social para a


violência no meio público. Para conviver com essa violência, são criados
dispositivos ideológicos que precisamos interpretar a luz da ciência para
entender o fenômeno da melhor maneira possível até o momento.

Sobre outro ângulo, o filósofo Pierre Lévy acredita que existe uma
ideologia por trás da política, que nasce da possibilidade de uma comunicação
sem fronteiras, não controlada pela mídia tradicional, buscando uma nova
identidade na própria rede. Com a presença de mais inteligência coletiva e
transparência da informação pública. Ele ainda argumenta que o debate
político pelas redes sociais é mais importante do que o resultado gerado por
ele. Para o filósofo não são as mudanças que o ciberativismo pode trazer para
os partidos políticos e sim o nascimento de uma nova consciência social, um
choque cultural que terá efeitos em longo prazo na sociedade brasileira. Lévy

46
acredita que a revolução promovida pelas redes sociais está acima de qualquer
evento emocional, social e cultural. É o experimento de uma nova forma de
comunicação que promove a revolução social destacando aqui que o filósofo
acredita ser normal que qualquer força social e política tente tirar vantagem da
mídia social. Mas é impossível “controlar” a rede social sendo apenas possível
então “tentar” influenciar tendências de opiniões ao longo do tempo em que o
indivíduo fica exposto a tecnologia da informação (LÉVY, 2013).

1.8 – Os brasileiros e a rede social: um caso de amor

Um momento importante na construção de uma nova atitude política no


Brasil, através das redes sociais, foi durante as revoltas de junho de 2013, que
se difundiram com o uso constante da Internet. A informação a qual estávamos
acostumados a receber através da televisão passou a não ser realmente a
mais confiável. Um sentimento de ilusão deu lugar a um sentimento de
empoderamento digital personificado aqui pelo Facebook – um “lugar” onde a
maioria dos seus usuários expressa aquilo que sente e pensa. Assim foi muito
rápida a evolução desse desabafo de sentimentos para grandes encontros que
eram arranjados através do Facebook e tinham o poder de parar as cidades e,
até mesmo, o país. Todas as ideologias eram convocadas para as ruas através
do Facebook e ali todos podiam se expressar livremente.

Porém essa fase áurea do debate político no Facebook durou muito


pouco tempo também, pois as pessoas que protestavam não tinham uma visão
ideológica unificada. Reuniu-se uma grande soma de medos e desejos sobre
toda a sociedade. Através da manifestação desses medos, muitos em forma de
preconceito, as pessoas perceberam aos poucos que seus companheiros de
protesto pensavam de maneira diferente e que isso dificultava a união entre
eles. Isso contribuiu para a dissipação das manifestações e assim a Internet
voltou a ser o palco dos debates e enfrentamentos ideológicos.

“Entre o fim dos protestos de 2013 e o


início de 2014, passamos a ver um desfile de
ideologias. As ferramentas mais utilizadas durante
esse período eram os comentários em cima de
notícias. A possibilidade de se expressar em uma
notícia de um site ou em um blog, algumas vezes
47
sem nenhum tipo de filtro, deu às pessoas um
novo poder, o de opinar sobre qualquer coisa.
Com a massiva produção de notícias de Internet
para abastecer esse público sedento por
novidades rápidas, todos se tornam conhecedores
de tudo. As notícias então são esvaziadas, pois
precisam ser rápidas, e as pessoas as filtram
ideologicamente. Os comentários passam a serem
formas de expressão inquestionáveis. Podemos
citar os comentários da Internet quase como uma
ágora para o sofista. O comentário não precisa ter
o conteúdo da verdade para ser feito, ele não
precisa se basear em dados, em pesquisa, ele
pode ser simplesmente criado. O importante do
comentário é convencer aos pares. Se uma única
pessoa questiona apresentando fatos, dados e
estudos científicos, não importam. O que importa
é a palavra de quem comentou e o apoio da rede.
Se a rede apoia quem comentou, as provas e
fundamentos contrários se tornam irrelevantes.
Longos textos são indesejados; na rede, a
informação precisa ser rápida. E se o conteúdo for
contra, mais facilmente poderá ser ignorado ou
refutado pelos comentários mais esvaziados e
agressivos, pois a rede por trás o protegerá com
seus próprios comentários.” (CHAIA, 2004, pg23).

1.9 – Facebook: ferramenta ideal para a criação de uma nova cultura?

Embora o ambiente virtual ainda seja um espaço em formação e de


características que não estão completamente definidas, Pierre Levy explica o
ciberespaço como “não apenas a infraestrutura material da comunicação
digital, mas também o universo oceânico de informações que ela abriga, assim
como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo” (2000, p.
17). Essa característica faz com que a internet abrigue uma ambiência social
mais democrática, livre e horizontal, não controlada e relativamente barata,
seja de um-para-um ou de um-para-muitos (CASTELLS, 2004).

É importante também ressaltar aqui que toda essa onda tecnológica que
possibilitou a transposição do debate para as redes sociais aconteceu
principalmente por causa daquilo que Foucault chama de “dispositivo” e que
para ele tem o poder de servir como elo, como viabilizador da propagação do
poder através desses meios do saber digital. Esse dispositivo se expressa aqui
no papel do celular que para muitos brasileiros é o meio que permite o acesso
às redes sociais, no caso o Facebook. E dentro desse ambiente da rede social
48
os vínculos funcionam como meios de propagação de dispositivos, agora
virtuais, como notícias multimídia, opiniões e comentários, imagens
manipuladas e divulgação de eventos que juntos perpetuam o conteúdo visto,
consumido e debatido por seus seguidores.

Esses fatores são fundamentais para entender que entre setembro e


dezembro de 2014, o Facebook apresentou um relatório afirmando que 89
milhões de brasileiros estavam conectados à rede social e a acessam ao
menos uma vez ao mês1. Diariamente, 59 milhões de brasileiros acessavam o
Facebook, o que corresponde aproximadamente à metade dos votantes da
última eleição.

É fato de que toda narrativa para manter-se precisa ser constantemente


alimentada, portanto ela precisa ser espalhada para poder sobreviver. Dessa
forma, todas as formas de comunicação contribuem para essa dissipação e,
portanto para a sobrevivência das ideologias. Nas últimas eleições, o meio
onde as ideologias se espalharam e cresceram foram as redes sociais. Por isso
se torna tão importante analisar como as redes sociais, mais particularmente o
Facebook, e as novas formas de relação com o mundo, por meio da internet,
transformaram os comportamentos e como isso influenciou na criação de
novas formas de pensar e de agir.

Bauman demonstra como a sociedade moderna transita atualmente da


sociedade de consumo para a sociedade que tem a vida para o consumo
(BAUMAN, 2008). Na transição do perfil de produtores para o perfil dos
consumidores, aconteceu assim à diminuição no relacionamento do trabalho
com a mercadoria, que foi passando e então para a relação da mercadoria com
o consumidor. Assim não era mais importante o que se podia produzi e sim
aquilo que se podia consumir. Nascia assim a sociedade de consumo que
entende o trabalho não como forma de produção, mas sim de gerar recursos
para se consumir. O consumo foi transformado em desejo, e a sua realização
transformada em satisfação. A essência de toda ação voltada para o Marketing.
__________________________________________

1
Oito a cada dez internautas do Brasil estão no Facebook, diz rede social – Disponível em
http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2014/08/oito-cada-dez-internautas-do-brasil-estao-no-facebook-diz-rede-
social.html. Acesso em outubro de 2016.

49
Porém, a satisfação de um desejo faz com que o desejo morra. A
satisfação, portanto, não é a do consumo em si, mas o da realização do desejo
de consumo. Portanto, a satisfação em si é muito rápida, pois ao mesmo tempo
em que ela ocorre, ela deixa um vazio que é a falta do desejo já realizado. É
necessário então que se crie um novo desejo para um novo consumo.
Podemos assim analisar que a direita que migrou das passeatas e protestos
para as redes sociais procurava uma nova ideologia política para se polarizar
com a esquerda militante e assim encontrar o seu lugar na polarização das
ideias e se posicionar perante a massa de brasileiros insatisfeitos com o
governo do PT.

Outro fator que contribui para a configuração desse cenário foi a


possibilidade de, através da Internet, ser possível ter a informação acessível
para todos. Todos podem a qualquer momento pesquisar e conhecer sobre
tudo e sobre todos. Esse fator aumentou a radicalização dos argumentos nos
debates realizados nos grupos do Facebook. A proliferação da informação
transformou a sociedade de modo que as próprias pessoas passaram a ser
informação e a acreditar que sua informação é valorosa ao ponto de se
tornaram mercadorias. Na teoria de Bauman, as pessoas passaram, assim, da
sociedade de consumo à vida para o consumo, na qual a pessoa, além de viver
a sua busca contínua pelo consumo, também passa a ser consumida.
Transforma-se em um produto mediado pelo desejo e pela satisfação.

Ao se transformar nesse produto informacional, a pessoa precisa


despertar o desejo do outro, para que este a consuma – novamente a essência
de toda ação voltada para o Marketing - ou seja, a pessoa precisa ser
compartilhada, precisa fazer comentários interessantes para ser curtida, ela
quer ser seguida pelo máximo de pessoas no Facebook. Existe agora um novo
status social delimitado dentro do mundo virtual, determinado pelo quanto você
é consumido, pois como um produto, você precisa de audiência, as pessoas
precisam desejar ver seus vídeos e suas fotos, ler seus comentários, ver seus
compartilhamentos, consumir o que você consome.

Esse admirável mundo novo das mídias sociais nasceu para o


consumismo, foi moldado e desenvolvido em cima do desejo dos seus usuários
em consumir e mostrar o seu hábito de consumo e por fim ser desejado como

50
um produto. A opção de construir esse cenário de conforto e intimidade veio
com as relações entre as pessoas em primeiro lugar. Todos podem ser amigos
no Facebook. Esses amigos são o limite do que o autor descreve na sociedade
líquida como as conexões (BAUMAN, 2001). O homem deixa de ter amigos, as
relações são feitas por conexões que são relações frágeis baseadas em
interesse e que podem ser descartadas sem grande custo para a maioria. Igual
a um produto, essa conexão baseada em interesse pode ser consumida e
descartada rapidamente, assim, nessa modernidade as pessoas também
passam a ser descartáveis. O Facebook tem um recurso que te ajuda a
encontrar novas conexões baseadas em interesses em comum. Dessa forma,
se você perde um ponto de conexão da sua rede, você normalmente pode se
conectar com outras e manter o desejo de fazer parte da rede social.

Quanto maior o número de conexões de um indivíduo no Facebook,


maior é o direcionamento de informação com propósitos de Marketing para ele
e para todas as suas conexões. Exponencialmente é essa quantidade de
conexões, que no Facebook chamamos de quantidade de amigos, que permite
a rede social vender a informação gerada pelos seus usuários para as marcas
que estimulam o consumo. Podemos entender que a partir do momento em
que as redes de amigos das pessoas no Facebook se tornaram muito grandes
e os conteúdos também se multiplicaram, o direcionamento de conteúdo
passou a comandar as diretrizes de troca de informação dentro da rede social,
pois do contrário ninguém conseguiria absorver todo o conteúdo gerado
diariamente.

Da mesma forma que o Facebook aproxima o conteúdo das pessoas ele


permite que o usuário execute um bloqueio em alguém que se tornou
inconveniente por sempre estar falando coisas de que o usuário não gosta.
Assim, as redes vão se tornando mais agradáveis, pois tendemos a
compartilhar nossas ideias com pessoas que possam curti-las. É uma relação
positivista ideológica com grande capacidade de crescimento e também de
radicalização, pois o mesmo mecanismo que antes era voltado para o consumo
passou a ser um campo para a reprodução confortável das ideologias. A partir
do momento em que a pauta política passou ao foco dos debates sociais, o
Facebook começou a se reconfigurar com base nas ideologias políticas da

51
mesma forma que faria com uma campanha publicitária para o lançamento de
um produto ou serviço.

Essas mudanças foram aceitas pelos usuários que promoveram uma


divisão do território virtual do Facebook em glebas digitais com a percepção de
que a ação política deslocada para o mundo virtual trazia exigências sociais
reduzidas comparadas as ações físicas das ruas e isso devido ao fato de que
as pessoas, em um mundo ampliado de conexões, passam a ser agrupadas
pelos seus interesses no mundo virtual. Nesse caso, a radicalização
gradualmente produzida pela tendência de nos associarmos a pessoas que
pensam de forma semelhante a nós. E isso inclui os problemas sociais. No
Facebook essa insatisfação ganhou voz ao se unir ao imediatismo político
deixando as pessoas impacientes e insatisfeitas em relação ao assunto
política. Essa insatisfação generalizada promovida na linha do tempo do
Facebook de milhares de brasileiros levou o cenário pós-eleitoral para um
ponto de ebulição social onde a política começou a ganhar mais destaque nos
jornais e na televisão.

É possível perceber indícios dessa ebulição, pois com a derrota de Aécio


Neves repercutindo no Facebook, a militância da direita entrou em desespero.
Os valores democráticos foram deixados de lado e começaram a se discutir
soluções para acabar com o PT. Entre as soluções discutidas no Facebook, um
possível separatismo para a desconexão do Norte e do Nordeste como o resto
do Brasil foi muito bem aceita por grande parte dos grupos de direita, outro
assunto produtivamente abordado foi um imediato desejo de impeachment e
até de um golpe militar. Para cada debate, para cada imagem ou discurso feito
por qualquer um dos lados, sempre existe uma reação do outro lado, ou seja,
uma polarização ideológica bipartidária interpretada até agora por dois partidos
que perdem seguidores a cada dia que passa. Enquanto a esquerda promove a
hashtag #NaoVaiTerGolpe, a direita responde no mesmo lugar com a hashtag
#NaoVaiSerGolpe. Isso mostra a ideia de Bobbio (BOBBIO, 1995), sobre como
a forma de pensar e agir da esquerda determina a forma de pensar e agir da
direita, e vice-versa.

52
CAPÍTULO 2 – MEMES, CAPITAL SOCIAL E O
FACEBOOK.

2.1 – Imagens, discursos políticos e o admirável mundo digital

Desde as eleições presidenciais de 2014, é possível constatar um


aumento significativo das postagens com conteúdo dicotômico, entre a “direita
e esquerda” nas mídias convencionais (rádio, jornais, revistas e a televisão)
assim como um grande aumento desse tipo de comunicação nas redes sociais.
A proposta aqui é refletir sobre essa nova forma de comunicação política
digital, mais especificamente na rede social Facebook. Diante da relevância
dessa nova maneira de se manifestar vamos analisar a forma de expressão
política como um evento digital das massas que integram hoje o Facebook
(SOUZAJÚNIOR, 2015).

Para entender essa proposta devemos lembrar que as imagens, desde


as pinturas rupestres, fazem parte do cotidiano de todas as sociedades
humanas. Atualmente, no contexto social da tecnologia da informação, as
imagens servem para a divulgação de valores, ideologias e mensagens de
cunho pessoal e público, substituindo aos poucos o uso do alfabeto.
(FLUSSER, 1985, p. 07). As imagens como vetores da comunicação, devem
ser decifradas pelo simples fato de representarem um conjunto de símbolos
“conotativos”, ou seja, elas não têm significados específicos, o que possibilita
diversas interpretações ao longo do tempo. Essas interpretações estão
diretamente relacionadas com a cultura de quem as interpreta. Segundo
Flusser, ao vagar pela superfície da imagem, o “olhar vai estabelecendo
relações significativas” em uma perspectiva que permite perceber “relações
temporais entre os elementos da imagem” e que não necessariamente é um
tempo linear, pois o que foi visto “antes” pode se tornar algo visto “depois”. E,
pelo simples fato de passear pela imagem, o olhar tende a fixar os elementos
“preferenciais do significado” e estabelecer relações significativas.

Esse caráter cultural das imagens é essencial para a compreensão das


suas mensagens. Imagens são códigos que traduzem eventos em situações,
processos em cenas. Assim é possível pensar que imagens substituem
eventos inteiros por uma única cena. Partindo do conceito que toda imagem é

53
na verdade um resumo daquilo que ela representa. “E tal poder mágico,
inerente à estruturação plana da imagem, domina a dialética interna da
imagem, própria a toda mediação, e nela se manifesta deforma incomparável.”
(FLUSSER, 1985, p. 07).

Podemos entender então que o entendimento da representação


imagética se dá pela identificação e reordenação de significado dos elementos
das imagens. Esse processo de identificação é o fator inicial que garante o
fenômeno estudado nessa dissertação, pois é a partir dessa identificação que
se inicia o entendimento, a aceitação e a replicação do discurso. Esse
entendimento depende do referencial sociocultural dos indivíduos ao longo do
espaço e do tempo histórico. A partir desse momento, podemos considerar
então que as imagens são portadoras de discursos e, como tal, atuam como
produtos culturais inseridos nos processos de comunicação política no
Facebook.

2.2 - O poder das imagens nas redes sociais: a ascensão dos memes

Podemos entender o Facebook como um novo território de disputa


ideológica? Uma nova arena pública, onde esquerda e direita se enfrentam
pela audiência dos seus argumentos? O Facebook como um produto de uma
empresa americana se apresenta como o lugar ideal para esse tipo de debate
político? Foucault critica a suposta centralidade do poder estatal ao defender
que o poder político é exercido por variados “centros e pontos de apoio
invisíveis e desconhecidos”. Esse suposto poder estaria relacionado com o que
seria um processo ordenado de produção de discursos sociais, “o discurso não
é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas
aquilo por que, pelo que se luta o poder do qual nos queremos apoderar.”
(FOUCAULT, 1999, p. 10).

Entendemos então que as representações imagéticas que circulam no


Facebook atuam como produtos/agentes culturais, por consequência, são
portadoras de mensagens, valores e ideologias. Ideologia apresentada aqui
sem o viés negativo da teoria marxista de domínio de classe, mas seguindo a
proposta do sociólogo J. B. Thompson (2002), que conceitua ideologia como

54
um “sistema de crenças, ou formas e práticas simbólicas”. De acordo com
Thompson (2002), os fenômenos simbólicos só podem ser compreendidos
como ideológicos quando situados em seu contexto socio-histórico. Para o
autor, poderemos constatar se os fenômenos simbólicos estabeleceram e
sustentaram relações de dominação – que podem ser entre homens e
mulheres, entre grupos étnicos ou entre grupos do Facebook, em nosso caso –
“[...] somente ao examinar as maneiras como as formas simbólicas são
empregadas, transmitidas e compreendidas por pessoas situadas em contextos
sociais estruturados” (THOMPSON, 2002, p. 78).

Para compreender melhor o que é a imagem na rede social, primeiro nos


perguntamos: o que é o digital? O que é virtual? Pierre Lévy argumenta que há
um erro em pensar que o virtual é algo imaterial e recente e que nasceu com a
tecnologia. Segundo o autor, precisamos entender que o mundo digital é real
(os hardwares, os códigos 0 e 1, as telas etc.) e o virtual, o que não é físico,
começou no início da humanidade. Para ele, o verdadeiro mundo virtual é “o
que é imaterial, é a significação”, podendo dizer que o virtual é “mundo que
começa com a linguagem”. Para Lévy, o que os computadores fazem é
“manipular de maneira automática os signos da linguagem. E a significação
existe sempre na nossa mente.” Implica dizer que a significação é o conceito
que não pode ser tocado (LÉVY, 2014). Nesse sentido, para compreender o
que é a imagem virtual na rede social, Vilém Flusser (1985, p. 08) defende que
“[...] decifrar textos é descobrir as imagens significadas pelos conceitos” e a
escrita seria o metacódigo da imagem. Na contemporaneidade, segundo o
autor (1985, p. 08), as imagens “se tornam cada vez mais conceituais e os
textos, cada vez mais imaginativos. Atualmente, o maior poder conceitual
reside em certas imagens, e o maior poder imaginativo, em determinados
textos da ciência exata”. A partir dessa ideia, o filósofo (1985) aborda as
imagens técnicas – imagens produzidas por aparelhos que são produtos da
ciência aplicada – como “produtos indiretos de texto”. O que para o autor lhes
confere uma “posição histórica e ontológica diferente das imagens tradicionais”.
Nas palavras de Flusser (1985, p. 10):

“[...] a imagem tradicional é abstração de primeiro


grau: abstrai duas dimensões do fenômeno
concreto; a imagem técnica é abstração de
terceiro grau: abstrai uma das dimensões da

55
imagem tradicional para resultar em textos
(abstração de segundo grau); depois,
reconstituem a dimensão abstraída, a fim de
resultar novamente em imagem. [...] Por uma
questão de ordem, as imagens tradicionais
imaginam o mundo; as imagens técnicas
imaginam textos que concebem imagens que
imaginam o mundo. Essa posição das imagens
técnicas é decisiva para o seu deciframento. [...] O
caráter aparentemente não simbólico, objetivo,
das imagens técnicas faz com que seu observador
as olhe como se fossem janelas e não imagens. A
aparente objetividade das imagens técnicas é
ilusória, pois na realidade são tão simbólicas
quanto o são todas as imagens. Devem ser
decifradas por quem deseja captar-lhes o
significado.”

A partir desse ponto da dissertação, focaremos o conteúdo ideológico


das imagens, visto que nos interessam as maneiras como o sentido, mobilizado
pelas formas simbólicas, serve para estabelecer e sustentar discursos
ideológicos através dos memes. Nesse contexto, uma vez que as imagens se
comportam como veículos de divulgação de valores e ideologias no Facebook,
podemos então identificar e investigar a propagação dos memes políticos que,
cada vez mais, tem surgido no Facebook dos brasileiros.

Mas, afinal, o que são os memes do Facebook e qual a relação deles


com a política? A modernidade e a tecnologia da informação acabaram
influenciando e adaptando o conceito criado, em 1979, pelo biólogo
evolucionista Richard Dawkins, que definiu que um meme seria “o gene da
cultura” – quer dizer, a concepção de uma ideia ou informação replicada de
maneira homogênea, somente de cérebro para cérebro. Esse “meme” seria
uma ideia (ou informação) caracterizada pela: fidelidade, fecundidade e
longevidade. Desde então, o conceito foi sendo estudado e aprofundado por
vários estudiosos de diversas áreas (SOUZA JÚNIOR 2015, p. 33).

A partir dos estudos de Souza Júnior (2015, p. 2), entendemos os


memes da Internet como “composto de práticas (de produção e distribuição de
linguagem, e de produção e distribuição por mídia) que passam a ser
propagadas como ou conjuntos de memes da Internet”.

56
2.3 – Duas maneiras de entender o papel dos memes

Atualmente podemos dizer que existem duas formas para se


compreender o fenômeno contemporâneo dos memes no Facebook. A
primeira, consolidada nas questões do campo da memética (BLACKMORE,
2000), enxerga os memes como unidades de reprodução com características
comuns à teoria sociobiológica do determinismo genético, que propõe, como
condição de afirmação destas “mensagens”, uma avaliação de sua longevidade
– isto é, se o meme é capaz de persistir no tempo, propagando-se através da
“duração” –, sua fecundidade – ou seja, se o meme é capaz de conceber sua
própria prole –, e sua fidelidade em relação ao conteúdo original (DAWKINS,
1976; RECUERO, 2006; 2007). Na segunda concepção, os memes são
tratados não como uma unidade de reprodução, mas como um acervo, um
coletivo orgânico de conteúdos, de modo que só encontram sentido quando
analisados em conjunto. Grande parte dos trabalhos acadêmicos relacionados
a memética ainda buscam aplicar o conceito dos memes como categoria
idealizada no campo da biologia aos estudos de memes de internet e com isso
não percebem como a terminologia evoluiu junto com o próprio conceito ao
longo dos anos através do uso feito pelos usuários da internet. A terminologia
ainda pode ter relação temporária com a biologia, mas o estudo dos memes é
acima de tudo um estudo social.

Para Shifman (2014, pp. 37-8), o campo dos estudos de memes se


fundamentou, por um longo tempo, na compreensão bipartida do fenômeno,
que por um lado entendia os memes como ideias (Deus, a religião, mitologias,
ideologias políticas etc.), ou racionalizando-os como comportamentos e
práticas (rituais e cerimônias, hábitos culturais, folclore, moda etc.). Para essa
dissertação, olhamos o fenômeno pela perspectiva interdisciplinar, que
compreende os memes não como unidades propagadoras de informação, mas
como “grupos de conteúdos”.

De acordo com os pressupostos da abordagem integradora de Souza


Júnior (2015, p. 2), “os verdadeiros memes são as formas de construir e os
modos de indicar propósito que os internautas transmitem pela unidade de
propagação criada e que passa a ser configurada como unidade de
propagação.” Souza Júnior (2015, p. 4) assinala ainda que a propagação de

57
um evento digital surge através da “prática de construção ou produção
linguístico-midiática primária (por exemplo: um internauta digita letras no
teclado e associa textos a uma imagem que ele mesmo cria ou que lhe foi
passada anteriormente. Assim, a imagem ganha destaque, se difundido de tela
em tela, a representação multimodal segue adiante, através de mecanismos de
destaque, frequência de menção e visualização, comuns nas redes sociais)”.

Como exemplo podemos citar pesquisa realizada anteriormente,


(CHAGAS et al., 2015), onde cerca de 6 mil imagens foram publicadas no
Twitter no decorrer dos debates televisivos das eleições de 2014, em meio à
amostra coletada, havia uma série de fotografias com legendas (os chamados
image macros), montagens que utilizam sobreposições (os exploitables), selfies
e outros gêneros de memes, incluindo um contingente de peças que, em
princípio, questionam o próprio status do meme como objeto disciplinar. No
exemplo, temos uma imagem, originalmente postada logo nos primeiros
minutos do primeiro debate eleitoral de 2014, na Rede Bandeirantes de
Televisão. O exemplo mostra a reprodução de um frame do antigo seriado
“Família Dinossauros”. A imagem deu origem a uma série de macros e look-
alikes com a candidata Marina Silva.

1
Figura 1 – variações de um meme político

Uma primeira impressão sobre o fenômeno tende a considerar somente


as duas últimas imagens na sequência acima como memes. Entretanto,
mesmo considerado fora de seu contexto, o frame inicial carrega elementos
que fazem alusão a um conjunto de referências culturais. Por isso embora os
memes se apresentem como peças fluidas, que circulam em grande velocidade

_______________
1
Fonte: The meme politics and the political memes - Trabalho apresentado no VI Congresso da
Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação e Política (VI COMPOLÍTICA), na
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), de 22 a 24 de abril de 2015.

58
pelo Facebook, é impossível caracteriza-los em tempo real, pois somente em
retrospecto conjunto de elementos que compõe o meme, ganha sentido. Ou
seja, os memes são uma experiência e ao mesmo tempo um relato de
memórias sociais. Traduzi-los desta forma implica em reconhecermos todas as
três imagens acima como pertencentes a um mesmo meme, ainda que
integrem famílias distintas (os macros, os look-alikes etc.).

Conforme afirma Shifman (SEGEV et al., 2015), estes conteúdos são


passíveis de serem reconhecidos como membros de uma mesma família
graças às características que compartilham entre si.

Blackmore (1999) definiu o meme como “instruções para ações


comportamentais, armazenadas em cérebros (ou outros objetos) e passadas
por repetição” (p.43, tradução nossa), salientando sua propagação pela
imitação/repetição. Já outros autores, como Heylighen (1994) tratam o meme
como um padrão cognitivo, que é simplesmente propagado de um indivíduo a
outro (não necessariamente por imitação), enquanto Bjarneskans, Gronnevick
e Sandberg (2005) salientam que é preciso que o meme influencie o
comportamento dos indivíduos para gerar replicação. Deste modo, o meme é
um replicador, que se propaga através das pessoas, por imitação.

Esses conceitos salientam a analogia do meme com a da teoria da


seleção natural, como elementos capazes de replicação, que estão sujeitos a
uma seleção e que podem variar no tempo, características que Dennett (2005)
associa à evolução. A partir dessa perspectiva é que Dawkins (2001) enumera,
como características essenciais do meme, enquanto replicador: a longevidade,
a fecundidade e a fidelidade das cópias. A longevidade é a capacidade do
meme de permanecer no tempo. A fecundidade é sua capacidade de gerar
cópias. Por fim, a fidelidade é a capacidade de gerar cópias com maior
semelhança ao meme original.

Heylighen (1994) salienta ainda que, ao utilizar a Internet, as pessoas


encontram um ambiente fecundo para os memes. A digitalização da informação
proporcionaria uma maior fidelidade da cópia original do meme, além de uma
maior facilidade de propagação. Além disso, a Internet agregaria um maior
potencial de longevidade (no conceito de Dawkins, 2001), pois os memes
poderiam ser arquivados sem desaparecerem do caldo cultural. “O conjunto

59
dessas características (fidelidade, fecundidade e longevidade) garantem que os
memes podem se reproduzir com mais eficiencia via rede” (HEYLIGHEN, 1994,
p. 5).

No entanto, apesar de encontrar na Internet um ambiente propício para a


sua propagação, memes necessitam de pessoas que as escolham para
propagar-se (BLACKMORE, 1999) e promover tal replicação. Por conta disso,
memes propagam-se através das redes sociais na Internet, impactando–as, a
partir das interações entre os indivíduos.

Para que se compreenda a propagação dos memes nas redes sociais,


foi ainda acrescido outro critério: o alcance. Isso porque redes sociais são
conjuntos de redes interconectadas, onde laços fortes e fracos
(GRANOVETTER, 1973) conectam indivíduos através da interação social.
Assim, a distância é um elemento que frequentemente compõe o estudo
dessas redes, associada à proximidade ou ao distanciamento entre os
indivíduos entre si (SCOTT, 2001; DEGENNE e FORSÉ, 1999; WELLMAN,
2003; 2002 e 1997). Indivíduos próximos possuem laços sociais mais fortes e
maior interação a conectá-los, com um grau pequeno de separação. Indivíduos
mais distantes podem estar conectados entre si por laços fracos ou por
nenhum laço e necessariamente possuem um grau maior de separação.

2.4 – Memes e política: uma combinação muito adequada ao cenário


brasileiro

As eleições presidenciais brasileiras de 2014 ficaram marcadas no


jornalismo brasileiro como as “eleições dos memes”. Pois tanto veículos online
e offline repercutiram diariamente as “piadas” eleitorais e o humor dos usuários
das redes sociais. Os candidatos, sem perder tempo, compartilharam desta
percepção, ao desenvolver estratégias de influência para o Facebook, que foi
desde conteúdos criados especificamente para a rede social a robôs que
supostamente ampliariam o alcance de suas mensagens reproduzindo-as
através de perfis falsos. Entre os eleitores que habitam o território das mídias
sociais, tudo era motivo para posicionamento e, como muito se percebeu um
radicalismo exacerbado.

60
Castells (2003) determina que à estrutura da rede promove a ascensão
do individualismo (“individualismo em rede”), salientando neste fato a
importância do papel do indivíduo na construção da sua própria rede social.
Dessa forma o Facebook é ao mesmo tempo social e individual. Segundo o
autor, na rede o indivíduo escolhe com quem irá interagir. “O individualismo em
rede é um padrão social, não um acúmulo de indivíduos isolados. O que ocorre
é que indivíduos montam suas redes, online e off-line, com base em seus
interesses, valores, afinidades e projetos” (Castells, 2003, p.109). As formas de
se expressar em uma rede social acontecem no estabelecimento de interações
entre os usuários da rede. Essas interações são dinâmicas e permitem
estabelecer os relacionamentos que surgem na rede e que chamamos de laços
sociais. Os laços podem ser fortes ou fracos de acordo com a qualidade das
interações e das trocas sociais realizadas entre os usuários. Laços fortes são
aqueles que se caracterizam pela intimidade e pela proximidade dos usuários e
dentro do cenário político brasileiro, com a divisão ideológica entre direita e
esquerda, foi possível perceber como esses laços se fortificaram através do
uso diário do Facebook como arena política de debates.

Mas não podemos deixar de analisar os laços fracos, pois Granovetter


(1973) descobriu que aquilo que chamamos de laços fracos seriam muito mais
importantes na manutenção da rede social do que os laços fortes, para os
quais habitualmente os sociólogos davam mais importância. Os laços fracos
seriam constituídos pelas interações mais pontuais e superficiais, enquanto os
fortes, pelas relações de amizade e intimidade. Granovetter mostrou também
que pessoas que compartilhavam laços fortes (de amigos próximos, por
exemplo) em geral participavam de um mesmo círculo social (de um mesmo
grupo que seria altamente conectado). Já aquelas pessoas com quem se tinha
um laço mais fraco, ou seja, conhecidos ou amigos distantes, eram justamente
importantes porque conectariam vários grupos sociais.

Esses laços e debates políticos tenderam ao radicalismo graças à


constante produção e promoção de memes políticos utilizados tanto pela
direita, quanto pela esquerda de acordo com o cenário político em Brasília.
Após o termino do período eleitoral o fenômeno ganhou força devido à vitória
do PT nas eleições principais e desde então os memes vem sendo usados na
política como uma forma de comunicação e posicionamento que promove e
61
replica todo dia o conteúdo político/ideológico. Para observar este fato,
procuramos realizar uma análise de conteúdo sobre memes políticos que
circularam no Facebook, nas páginas do PT e do PSDB, durante o período da
abertura do processo de impeachment da presidenta Dilma Roussef.

Um dos propósitos dessa dissertação é iniciar e manter uma rotina de


coleta, classificação e analise de memes políticos para poder investigar que
tipo de conteúdo circulou no Facebook durante os fatos políticos brasileiros.
Este primeiro esforço de análise é exaustivo, e tem a intenção de aprofundar o
conhecimento sobre usos e efeitos dos memes na politica e na internet
brasileira e mostrar como os memes influenciam a opinião pública.

É possível destacar desde já que estes memes atuaram como um misto


entre peças publicitárias para a militância e charges políticas, constituindo-se
como verdadeiros termômetros eleitorais, capazes de indicar pontos altos e
baixos no desempenho dos candidatos e que por se espalhar de maneira
rápida e barata tem sido um recurso usado por muitos políticos em suas
páginas no Facebook. Por isso a opção de analisar os memes durante o inicio
do processo de Impeachment, pois foi nesse ponto que direita e esquerda
mudaram suas formas de agir nas redes sociais e por consequência mudaram
o conteúdo dos memes divulgados pelos dois lados. Mas antes de falarmos
sobre esse novo comportamento devemos entender melhor a dinâmica das
redes sociais.

2.5 – Cooperação x Competição nas redes Sociais: uma dinâmica que


tende ao caos

Toda rede social, que exista ou não na Internet, modifica-se em relação


ao tempo. Essas alterações constituem-se também em um padrão importante
para a compreensão dessa rede (Thacker, 2004 e 2004) e devem ser levadas
em consideração. Essa dinâmica é dependente das interações que acontecem
na rede e podem influenciar diretamente sua estrutura. Por isso não podemos
observar uma rede social como um elemento estático, pois ele se encontra em
constante mutação no tempo. Como Watts (2003) afirmou, não há redes
“paradas” no tempo e no espaço. Redes são dinâmicas e estão sempre em

62
transformação. Essas transformações são largamente influenciadas pelas
interações que ocorrem dentro da rede social. É possível existir interações que
venham a somar e construir um determinado laço social e interações que
venham enfraquecer ou mesmo destruir outro laço ou a própria rede social.

Dessa forma, o primeiro elemento que deve ser destacado para o estudo
das redes sociais como elemento dinâmico é o aparecimento da cooperação,
da competição e do conflito, entre os usuários da rede, como processos sociais
que influenciam a forma e o conteúdo da mesma.

Ogburn e Nimkoff (1975, p.236) denominam de “processo social” as


“maneiras fundamentais de interação entre os homens”. A ideia de processo
social é intimamente ligada à ideia de interação no tempo. Watzlawick, Beavin
e Jackson (2000) destacam a importância do estudo do tempo, denominando
os padrões resultantes como padrões de interação ou padrões de
comunicação. Trata-se do estudo das regularidades e irregularidades nas
interações, que gera um padrão na relação social. A interação social é
compreendida como geradora de processos sociais a partir de seus padrões na
rede, classificados aqui como competição, cooperação e conflito. Quando os
homens trabalham juntos, tendo em vista um objetivo comum, seu
comportamento é chamado cooperação. Quando lutam um contra o outro, a
conduta é rotulada oposição. Cooperação e oposição constituem os dois
processos básicos da vida em grupo (Ogburn & Nimkoff, 1975, p.236) e essa
são as bases do debate político no Facebook.

A cooperação é o grande processo formador das estruturas sociais. Sem


cooperação, no sentido de agir de maneira organizada, não há sociedade. A
cooperação pode ser gerada pelos interesses individuais, pelo status envolvido
e pelas finalidades dos cooperados. Entretanto, é essencial para a
compreensão das ações coletivas dos usuários que compõem a rede social. A
competição é reconhecida por Ogburn e Nimkoff (p.238) como “a forma
fundamental de luta social”. A competição aqui compreende a luta, mas não a
hostilidade, característica do conflito. A competição pode, por exemplo, gerar
cooperação entre os atores de uma determinada rede, no sentido de tentar
suplantar os atores de outra. O conflito, de outro lado, pode gerar hostilidade,
desgaste e ruptura da estrutura social. Muitas vezes, é associado à violência e

63
à agressão. Para que exista a competição, não é necessário um antagonismo
concreto, enquanto no conflito, sim.

Primo (2005) salienta a importância de não se observar o conflito


separadamente, de forma a percebê-lo unicamente como destruição da
estrutura social. Ele também destaca que o “conflito e cooperação, por não
serem extremos opostos, separados por um vazio abismal, só podem de fato
ser separados conceitualmente” (2005, p.20). Burt (1992) estudou, por outro
lado, a estrutura social da competição e descobriu que há redes que
proporcionam acesso a diferentes tipos de capital social e que a participação
nas redes pode ser optimizada, em termos de competição, pelo acesso aos
recursos. A cooperação, a competição e o conflito não são, necessariamente,
processos distintos e não relacionados. São, sim, fenômenos naturais
emergentes das redes sociais. O conflito, por exemplo, pode envolver
cooperação, pois há a necessidade de reconhecimento dos antagonistas como
adversários. Esse reconhecimento implica em uma cooperação.

Do mesmo modo, o conflito entre grupos pode gerar cooperação dentro


dos mesmos. Além disso, Ogburn e Nimkoff salientam a importância da
competição como condição de cooperação. Para os autores, os indivíduos e
grupos podem “competir para melhor cooperar” (p.242). Todas as relações
sociais podem ser constituídas de interações diversas, mas a diferenciação
entre elas torna-se importante na medida em que ajuda a entender os efeitos
dessas interações/relações sobre a estrutura das redes sociais. É necessário
entender que, para que a própria comunidade exista, grande parte das
interações precisa ser cooperativa, pois o conflito e a competição podem
promover mudanças, desequilíbrios e obrigar a comunidade a se adaptar a
uma nova realidade.

Entretanto, se o conflito suplantar a cooperação, pode acarretar em um


desgaste ou ruptura na estrutura social. Cada um desses processos tem,
assim, impacto diferenciado na estrutura social. Enquanto a cooperação é
essencial para a criação e a manutenção da estrutura, o conflito contribui para
o desequilíbrio. A competição, por outro lado, pode agir no sentido de fortalecer
a estrutura social, gerando cooperação para atingir um fim comum,
proporcionar bens coletivos de modo mais rápido, ou mesmo gerar conflito,
desgaste e ruptura nas relações.
64
Smith (1999) explica que, apesar de muitos autores perceberem o
conflito como forma de rompimento das relações sociais (e, portanto, de forma
negativa, como uma “patologia” do sistema), para Simmel (1950 e 1964) os
conflitos envolvem, ao mesmo tempo, harmonia e dissonância. Um sistema
completamente harmônico não pode existir, pela sua incapacidade de mudança
e evolução. O autor explica que o conflito tem aspectos positivos, não sendo
por si só um elemento negativo para o sistema social. O conflito pode fortalecer
as estruturas de um sistema, aumentando a união através de uma polarização,
quando em conflito com outros sistemas.

Uma das dinâmicas esperadas em grupos sociais é sua capacidade de


agregar mais pessoas e de que pessoas rompam com o grupo. Essa dinâmica
é referida, pelos estudiosos das redes, como clusterização. Holland (1996)
também prevê a agregação como uma propriedade dos sistemas complexos,
necessária à sua evolução, já que permite que as características do sistema
sejam passadas adiante pelos seus agentes.

A clusterização apontada pelo modelo de Barabási e Albert (1999)


explica que há a presença de conectores em todas as redes, ou seja,
indivíduos que possuiriam muito mais conexões com outras pessoas do que a
média do grupo. Conectores são extremamente importantes em redes sociais
pois criam tendências e promovem a circulação da informação pois
desempenham um papel crítico na configuração da rede, sendo os
responsáveis pela divulgação das informações em um determinado grupo.

Além disso, a clusterização tende a produzir grupos cada vez mais


densos do que o restante da rede. É através desse processo então que os
grupos apareceriam dentro da rede social. Do mesmo modo, a ruptura é
também uma dinâmica esperada em redes sociais onde o conflito prolifere.

Allen (2004) trabalha com a possibilidade das rupturas acontecerem de


modo “natural”. Ele explica que, de acordo com o trabalho de Dunbar, um
antropólogo do University College of London, existiria um limite na quantidade
de conexões que uma pessoa é capaz de manter. Para Dunbar (1993), o limite
seria biológico (referente ao tamanho do neocórtex, região do cérebro), e seria
o número de 150 (conhecido por “Dunbar number”), que Allen especifica como
o tamanho máximo dos grupos com laços fortes. Dentro desta perspectiva, o

65
processo de conflito seria tão importante quanto o de cooperação, para permitir
que os grupos continuassem em tamanhos nos quais fosse possível a todos os
seus membros interagir socialmente.

As redes sociais são dinâmicas e por isso estão em constante mudança.


Essa mudança implica o surgimento de novos padrões estruturais. A mediação
pelo computador, por exemplo, gerou outras formas de estabelecimento de
relações sociais. As pessoas adaptaram-se aos novos tempos, utilizando a
rede para formar novos padrões de interação e criando novas formas de
sociabilidade e novas organizações sociais. Como essas formas de adaptação
e auto-organização são baseadas em interação e comunicação, é preciso que
exista circularidade nessas informações, para que os processos sociais
coletivos possam manter a estrutura social e as interações possam continuar
acontecendo. Como a comunicação mediada por computador proporciona que
essas interações sejam transportadas a um novo espaço, que é o ciberespaço,
novas estruturas sociais e grupos que não poderiam interagir livremente
tendem a surgir. Redes sociais, portanto, precisam ter capacidade de
adaptação, pois têm um equilíbrio dinâmico, constantemente redirecionado
entre caos e ordem. E podemos aqui fazer uma tentativa de aproximar os
memes como indicadores dessa relação caos e ordem. Voltamos nesse ponto
depois da análise coletada.

Um fator relevante da dinâmica das redes sociais é a emergência.


Emergência aqui no sentido de emergir, de ser visto ou tornar-se claro;
aparecer, expressar-se, manifestar-se. Dentro desta esfera, o aparecimento da
ordem em sistemas caóticos, a auto-organização e a adaptação dos sistemas,
são considerados comportamentos emergentes. O próprio aparecimento de
redes sociais na Internet pode ser considerado um comportamento emergente
e auto-organizado. Essas características são apontadas pelos modelos de
Barabási (2003), como o aparecimento de clusters muito conectados em uma
rede, e Watts (1999), como o aparecimento de “atalhos” nas redes sociais,
constituindo pequenos mundos paralelos, também podem ser considerados
padrões emergentes. Redes sociais na Internet apresentam comportamentos
emergentes com frequência, como a propagação de memes, a adaptação e a
auto-organização, bem como o aparecimento de mundos pequenos e clusters.
Isso é importante porque implica o fato de que ferramentas que são utilizadas
66
pelos usuários fatalmente apresentarão indicativos de emergência em longo
prazo e destaca com a importância dos memes para a própria existência da
rede social. Como se a evolução dos memes pudesse ser um indicador da
evolução da linguagem da rede social.

2.6 – Transmídia, Clusters, Desterritorialização e Memes Políticos.

Não podemos continuar essa discussão sem observar se realmente é


possível entender que o uso constante das NTICs (Novas Tecnologias de
Informação e Comunicação) amplia as capacidades de inteligência e ação
coletiva (LEVY, 1995), e assim também permite novos desafios a politização da
sociedade. A facilidade de mobilização não impõe que as massas tenham a
mesma facilidade de se formar ou de se organizar de modo mais consistente
por meio dessas ferramentas digitais. Pelo contrário, isso pode se tornar até
mais difícil. Algumas pesquisas (HINDMAN, 2009; MOROZOV, 2011;
PARISER, 2011; KEEN, 2012; MCCHESNEY, 2013) demonstram que a
internet incentiva as pessoas a praticamente só entrarem em contato com
aquilo que gostam. As redes sociais fortalecem ainda mais esse processo de
reafirmação de preferências. Desse processo nascem os clusters. E isso só
fortalece os argumentos das pessoas que fazem parte das redes sociais,
sobretudo, por meio de um direcionamento baseado em algoritmos de seleção.
Por trás da operação do Google ou o Facebook está a busca do Marketing em
apresentar e oferecer como conteúdo exatamente aquilo que mais agrada ou
encanta, de uma forma que o usuário receberá esse conteúdo na sua linha do
tempo e assim o absorverá com mais facilidade.

O indivíduo que usa o Facebook para o debate político encontra no seu


espaço público virtual uma série de opiniões discordantes. Para evitar esse tipo
de conteúdo a rede social permite o bloqueio do usuário o que garante a cada
um a opção de só receber aquilo que gosta. Porém, o debate político parece
não se aprofundar, se perde em meio ao gigantesco fluxo de informações
multidirecionais e a constante inundação ou infestação ou ainda epidemia
frenética de memes para todos os assuntos possíveis. É da dinâmica das redes
sociais e nesse caso do Facebook mostrar o atual, o imediato, o engraçado. O
resultado desse desempenho e do poder do imagético diante do discursivo
67
(memes no lugar de argumentos) gera um impacto transformador na forma de
entender os debates virtuais e assim abrir caminho para a possibilidade de um
maior entendimento? Maior participação? Maior conscientização? Uma
verdadeira “democracia digital”? Só a constante observação e analise dos
dados nos permitirá dizer com certeza.

Algo que não podemos esquecer, pois acaba influenciando toda a


abordagem desses debates virtuais, é a lógica “participativa” das redes sociais
que é guiada não apenas por métodos científicos, mas por propósitos
consideravelmente diferentes daqueles dos conselhos e assembleias da vida
pública. Existe uma diferença enorme nesses dois territórios. A conhecida
lógica do espetáculo e a desnecessidade de tomada de decisões coletivas que
imperam no Facebook permitem a criação de um perfil de participação pouco
capaz de promover a disposição de ação pública coletiva a não ser para as
mobilizações/passeatas e ações individuais como o panelaço.

Esses elementos indicam que vivemos em um momento de transição de


realidades políticas em que a antiga ação das grandes cadeias de jornais, rádio
e televisão emitindo mensagens para as massas, da sociedade industrial e sua
comunicação centralizada, do “um para muitos” é substituída pela dinâmica
interativa e multidirecional da internet, do “muitos para muitos”, das redes
sociais, da desterritorialização do ambiente de convívio. Não estamos falando
de substituir um canal por outro e sim de convergir todos eles para uma nova
mídia, uma nova forma de comunicar, uma nova ecologia para a informação
que permite uma nova cognição para a comunicação (e também de
mobilização) para um novo modo do organizar a vida em sociedade. Para
Jenkins (2009), essa nova mídia é a “transmídia”: em que as televisões e
rádios interferem nas mídias sociais, que interferem nas ruas, que voltam a
interferir nas televisões e rádios; num ciclo que se retroalimenta sem que
compreendamos com clareza onde tudo começou e onde pode terminar. A
linearidade cognitiva, discursiva e ideológica do século XX não se adequa a
velocidade do digital.

Nessa era da transmídia o apreço pelo individual, como característica


principal dos usuários, faz com que ao se expressar cada participante da rede
se identifique com certos tipos de conteúdo e com isso se posicionem em
clusters que reforçam suas ideologias.
68
A rotina de uso da rede social tende a ser diária, pois os laços e o
conteúdo ali gerados são de interesse de seus usuários. Dentro do cluster são
construídos valores sociais. A análise do tipo de valor construído em cada rede
ou cluster pode auxiliar também na percepção do capital social construído
nesses ambientes e como sua influência ajuda na construção e na manutenção
das redes sociais.

Um dos destaques das redes sociais é a capacidade de construir e


promover a emergência de diferentes tipos de capital social que muitas vezes
não são acessíveis aos usuários no mundo offline. Por exemplo, no Facebook
um indivíduo pode ter até 5.000 amigos. Essa quantidade de conexões, que ali
são denominadas amizades, é impossível de se promover na vida off-line e
isso influencia algumas coisas que trazem certas consequências. Por exemplo,
deixar uma pessoa mais visível na rede social, pode tornar as informações
mais acessíveis a essa pessoa. Pode, inclusive, ajudar a construir impressões
de popularidade que ultrapassem o espaço off-line.

Mediante esse cenário descrito acima, como definir e depois como medir
o valor desse capital social que circula no Facebook? Como são construídos,
compartilhados e como podem influenciar os usuários das redes sociais?
Abordando os tipos de capital social de Bertolini e Bravo (2001) podemos dizer
que a primeira mudança significativa que o Facebook proporcionou foi
relacionada com o capital social relacional, ou seja, com as conexões
construídas, mantidas e amplificadas dentro do Facebook. Em essência, redes
sociais permitem que seus usuários aumentem suas conexões sociais. No
entanto, essas conexões não são iguais às conexões da vida off-line, pois
essas em sua maioria são conexões mantidas pelo algoritmo do Facebook e
não pelas interações sociais aumentando assim a conectividade dos grupos
sociais e promovendo os clusters.

2.7 – O capital social

O elemento mais significativo para a análise da qualidade das conexões


de uma rede social na Internet é o capital social. Por isso precisamos definir

69
muito bem como entender esse conceito para que todo o resto do processo
investigativo possa seguir um padrão.

O capital social é um dos fatores estudados por diversos autores como


um indicador da conexão entre indivíduos de uma rede social. O conceito de
capital social é variado e ainda não há uma concordância, entre os estudiosos,
sobre qual caminho deve ser seguido. Mas é possível entender aqui que o
conceito refere-se a um valor constituído a partir das interações entre as
pessoas que fazem parte das redes sociais. Então, é possível entender que na
internet o capital social ganha um peso fundamental na estrutura e manutenção
dos laços sociais. No contexto da presente reflexão, partimos das ideias de
Putnam (2000, p.19), que entende que o capital social “refere-se à conexão
entre indivíduos – redes sociais e normas de reciprocidade e confiança que
emergem dela”. Para ele o conceito de capital social é diretamente ligado ao
conceito de virtude cívica, de moralidade e de fortalecimento através de
relações recíprocas. Essa ideia conecta dois aspectos fundamentais para a
construção do valor social: o individual e o coletivo. O aspecto individual se
manifesta no interesse dos indivíduos em fazer parte de uma rede social para
seu próprio benefício. O aspecto coletivo nasce do fato de que o capital social
individual reflete-se na esfera coletiva do grupo, sejam eles como custos ou
benefícios. É desse ponto que vem a natureza do conceito, que pode englobar
tanto bens privados (características do individuo) como coletivos
(características que emergem do grupo).

Putnam define três elementos centrais para o capital social: a obrigação


moral e as normas, a confiança (valores sociais) e as redes sociais (Siisiäinem,
2000). A confiança, para Putnam (2000) vem da crença na reciprocidade, do
consenso, do senso comum. Decorre de escolhas no nível interpessoal, nas
interações, que geram, aos poucos, reciprocidade e confiança. Essas escolhas
refletem-se no nível macro e geram as mesmas vantagens para a coletividade,
criando valores de integração e apoio. Daí nasce o consenso que é a base
para as sociedades “saudáveis”, segundo o autor.

Já as redes sociais consistem nas associações voluntárias que


compreendem a base do desenvolvimento da confiança e da reciprocidade.
Essas associações estimulariam a cooperação entre os indivíduos e a
emergência dos valores sociais. Por fim, as normas e obrigações referem-se ao
70
estabelecimento da confiança e das trocas sociais. Assim, os indivíduos agem
com maior confiança naquilo que os demais farão. Putnam vê o capital social
como elemento fundamental para a constituição e o desenvolvimento das
comunidades.

Outro conceito que se destaca é o de Bourdieu (1983):

O capital social é o agregado dos recursos


atuais e potenciais, os quais estão conectados
com a posse de uma rede durável, de relações de
conhecimento e reconhecimento mais ou menos
institucionalizadas, ou em outras palavras, à
associação a um grupo – o qual provê cada um
dos membros com o suporte do capital coletivo
(...) (p.248-249).
Para o autor o capital social é relacionado a um determinado grupo (que
aqui podemos entender como rede social, inclusive a virtual). O conceito de
Bourdieu lida fundamentalmente com elementos como poder e conflito.
Siisiäinen (2000) explica que isso se dá porque o conceito de capital social em
Bourdieu está ligado com suas ideias a respeito de classe. O conceito de
capital social teria então dois componentes: um lado que é conectado ao
pertencimento a um determinado grupo; às relações que um determinado
usuário é capaz de manter; e o conhecimento e reconhecimento mútuo dos
participantes de um grupo. Esse conhecimento transformaria o capital social
em capital simbólico, capaz de objetivar as diferenças entre as classes e
adquirir um significado.

O capital social em Bourdieu é diretamente relacionado com os


interesses individuais, no sentido de que provém de relações sociais que dão a
determinado usuário determinadas vantagens no grupo. Trata-se, portanto de
um recurso fundamental para a conquista de interesses individuais. Por fim, há
um terceiro conceito de capital social, o conceito de Coleman (1988). Para ele,
cada usuário da rede social possui controle de certos recursos e interesses em
certos outros recursos. Coleman também conceitua o capital social como um
valor mais geral, capaz de adquirir várias formas na estrutura social.

O capital social é definido por sua função. Não é uma possibilidade


única, mas uma variedade de possibilidades, com dois elementos em comum:
consistem em um aspecto das estruturas sociais, e facilitam certas ações dos
usuários – tanto empresas quanto pessoas – dentro da estrutura da rede
71
social. Como outras formas de capital, o capital social é produtivo, fazendo com
que seja possível atingir certos fins que, em sem ele, não seriam possíveis de
ser atingidos.

Para Coleman, o capital social não está nos usuários, mas na estrutura
das relações sociais. Assim o capital social poderia ser transformado em outras
formas de capital como exemplos as organizações, que permitem aos
indivíduos atingir seus objetivos; a força dos laços sociais, que permite que
transações aconteçam com confiança. O apoio que um usuário solicita a um
grupo, por exemplo, pode ser concedido pelo grupo, mas jamais como um todo,
e sim unicamente através da ação dos indivíduos que fazem parte do mesmo.
Ao mesmo tempo, a solicitação de apoio tem suas bases na confiança de que
este apoio será obtido de uma ou várias pessoas no grupo. Tais relações têm
base individual, embora sejam compreendidas como coletivas.

Embora os três conceitos sejam amplamente utilizados, o conceito de


Putnam é explicitamente positivo. Para ele, o capital social não entende o
conflito e não lida com a não cooperação por isso ele não aborda o conflito
entre os interesses individuais e coletivos do capital social. Outro detalhe é a
sua forte ênfase no engajamento cívico que acaba por deixar de lado diversos
aspectos do capital social, por exemplo, em grupos marginais, ou grupos contra
a lei. Já o conceito de Bourdieu, focado numa visão de luta de classes a partir
do momento que se foca na capacidade de um indivíduo em contribuir e utilizar
os recursos coletivos para seus próprios fins. Por outro lado, Coleman vê o
capital social de um ponto de vista estrutural, sem desenvolver as
características e as implicações da construção ou da ausência desse capital.
Uma diferença básica no conceito dos três autores, apontada por DeFilippis
(2001, p.785) é o fato de que, para Putnam (2000), o capital social percebido
pelos indivíduos pode ser transformado em algo possuído por indivíduos ou
grupos. Desse modo as instituições, grupos e comunidades são essenciais
para a formação do capital social e essencialmente responsáveis pelo mesmo.
Já para Bourdieu (1983) e Coleman (1988), o capital social não está nos
indivíduos, mas nas relações entre as pessoas. Os indivíduos percebem esse
capital social e podem transformá-lo, operacionalizá-lo em outras formas de
capital, mas não podem possuir capital social.

72
Estes dois conceitos complementam a compreensão do que pode vir a
ser o capital social mediado pela presença dos memes. Mesmo se
apresentando como um conjunto de recursos coletivos (Putnam e Bertolini e
Bravo), ainda sim são recursos que estão agregados às relações sociais e,
simultaneamente, são definidos e moldados pelo conteúdo destas relações.
Por isso, o capital social dos memes pode ser identificado, pelos indivíduos,
através da mediação simbólica da interação (Bourdieu) e, ao mesmo tempo,
através de sua participação às estruturas sociais. É por isso que podemos
entender que através do aprofundamento de um laço social o capital social
pode ser acumulado, (laços fortes permitem trocas mais amplas e íntimas),
potencializando assim o sentimento de grupo ou aqui no caso, uma página do
Facebook. Partindo da discussão desses conceitos, vamos considerar aqui o
capital social como um conjunto de recursos de um grupo (recursos variados e
dependentes da função do grupo, como afirma Coleman) que pode ser usado
por todos os membros do grupo, mesmo que individualmente, e está baseado
na reciprocidade (Putnam) e ao mesmo tempo dentro das relações sociais
(Bourdieu) e é determinado pelo conteúdo dessas relações (Bertolini & Bravo,
2001). Portanto, para que se estude o capital social do Facebook, é preciso
estudar suas relações e o conteúdo das mensagens/imagens que são trocadas
pelos seus usuários.

A classificação construída por Bertolini e Bravo (2001) determina que o


capital social seja heterogêneo, e constroem categorias que denotam aspectos
nos quais o capital social pode ser encontrado. Essas categorias podem ser
compreendidas como os recursos a que os indivíduos têm acesso através da
rede social e seriam:

a) relacional – a soma das relações, laços e trocas sociais que


conectam os indivíduos de uma determinada rede social;

b) normativo – as normas de comportamento de um determinado grupo


e os valores deste grupo;

c) cognitivo – a soma do conhecimento e das informações colocadas


em comum por um determinado grupo;

d) confiança no ambiente social – a confiança no comportamento de


indivíduos em um determinado ambiente social;
73
e) institucional – as instituições formais e informais, que se constituem
na estruturação dos grupos, onde é possível conhecer as “regras” da interação
social, e onde o nível de cooperação e coordenação é alto.

Tais aspectos do capital social seriam divididos entre os aspectos de


grupo (segundo nível de capital social), ou seja, aqueles que apenas podem
ser desfrutados pela coletividade, como a confiança no ambiente social (d) e a
presença das instituições (e); e os aspectos individuais, como as relações (a),
as leis ou normas (b) e o conhecimento (c), que variam de acordo com os
indivíduos (primeiro nível de capital social). A existência de capital social de
primeiro nível é necessária para a constituição do capital de segundo nível
(Bertolini & Bravo, 2001).

Deste modo, um segundo nível de capital social demonstra uma maior


maturidade da rede social, além de maior densidade e existência no tempo de
seus laços sociais. O capital de segundo nível é importante porque aumenta a
qualidade e a produção do primeiro nível, criando um mecanismo de produção
constante e gerando mais recursos para o grupo. No primeiro nível, temos os
valores que podem ser acessados pelos indivíduos. Suporte social é um valor
muito invocado pelos usuários do Facebook. Alguém que escreve que está
chateado porque teve um mau dia no trabalho e acha que sua vida está ruim
invoca, de certa forma, o apoio dos comentaristas, que poderão manifestar-se
de forma a fazer o usuário sentir-se melhor. Já o segundo nível compreende
valores que são apenas acessados pela coletividade. Por exemplo, um grupo
que utiliza um determinado grupo no Facebook para organizar uma partida de
futebol. Essa partida é resultado de um esforço coletivo e institucional,
portanto, proveniente do capital social de segundo nível.

Com base nessas ideias, é possível associar a existência de capital


social de segundo nível à existência de laços fortes, pois para que estes
existam, o capital social de segundo nível depende da sedimentação dos laços
sociais, que acontecem apenas com o passar do tempo através da interação
estabelecida entre um grupo de pessoas. Já o capital social de primeiro nível,
por outro lado, poderia estar associado a diversas interações dos mais diversos
tipos de laços. Apesar de o capital social ser entendido como um dos
elementos principais para o estudo das redes sociais, poucos estudam como

74
ele aparece nas redes sociais e como ele promove a evolução das estruturas
para um possível terceiro nível de capital social.

Um dos estudos que conectou o capital social à mediação pelo


computador foi desenvolvido por Wellman, em uma vizinhança de Toronto,
durante a década de 90. O autor sugere que a Internet e a tecnologia em geral
poderiam fortalecer e trazer novas formas de comunidades baseadas na
localidade geográfica e, por consequência, poderiam também gerar capital
social. Quan-Haase e Wellman (2002), através de outro exemplo mostraram
que a comunicação mediada por computador modifica consideravelmente o
fluxo de capital social nos grupos envolvidos. Eles demonstraram que a
Internet, muitas vezes, constitui-se em uma via alternativa para o envolvimento
em grupos sociais. A mediação pelo computador, assim, seria uma via de
construção do capital social, permitindo a indivíduos acesso a outras redes e
grupos. Ao associar-se ao Facebook o indivíduo pode estar iniciando
interações através das quais terá acesso a um tipo diferente de capital social,
ou ainda, a redes diferentes de conhecimento.

Compreender a existência de valores nas conexões sociais e no papel


do Facebook para auxiliar essas construções e suas mudanças na percepção
desses valores é fundamental para compreender também como os memes
atuam na criação de valor e capital social para o conteúdo político que circula
na rede social. Os tipos de capital social criados pelos memes funcionam não
apenas como estimuladores para as novas conexões, mas também ajudam a
auxiliar e a moldar os valores que vão emergir da apropriação de imagens e
textos que juntos criam a conexão que promove as ideologias praticadas pelos
seus usuários. Por isso é importante destacar a tese de Victor Real (2015)
sobre os perfis de comunicação política nas redes sociais onde através da
analise dos comentários postados pelos usuários, o autor aponta uma perda de
capital social na comunicação estabelecida no Facebook durante as eleições
presidenciais de 2014. Assim devemos ficar atentos a esses valores mais
comumente relacionados às redes sociais e que de certa forma atraem uma
quantidade enorme de usuários para a sua rotina, mas que nem sempre
significam um ganho de capital social. Por isso ao analisar completamente os
memes políticos devemos destacar ainda outras características.

75
2.8 – Visibilidade, Reputação, Popularidade e Autoridade

É característica das redes sociais permitirem que seus usuários fiquem


cada vez mais conectados. Isso implica que há um aumento proporcional da
visibilidade desses usuários. Aqui a visibilidade é entendida como um valor
porque proporciona que os usuários se destaquem na rede social. Assim, um
determinado usuário pode amplificar os valores que são obtidos através de
suas conexões sociais, tais como o suporte social e as informações. Quanto
mais conectado está o usuário, maiores as chances de que ele receba
determinados tipos de informação que estão circulando na rede social e de
obter suporte social quando achar necessário.

Assim, a visibilidade está conectada ao capital social relacional (Bertolini


& Bravo, 2001). Finalmente, a visibilidade também está relacionada com a
manutenção da rede social: um site de rede social, como apontaram Ellison,
Steinfield & Lampe (2007), pode ser utilizado para auxiliar a manter laços
sociais com quem está fisicamente distante.

Aumentar a visibilidade social de um usuário tem efeitos não apenas na


complexidade da rede social, mas também, no capital social obtido por este
usuário. Alguém pode intencionalmente aumentar sua visibilidade para poder
obter outros valores, como reputação. A visibilidade, assim, é um valor
decorrente da presença do usuário na rede social e atua como matéria-prima
para a criação de outros valores.

Em relação à reputação, podemos afirmar, concordando com Buskens


(1998) que se trata de uma noção ligada às informações recebidas pelos
usuários sobre o comportamento dos demais e o uso dessas informações no
sentido de decidir como se comportarão. A reputação, portanto, é aqui
entendida como a percepção construída de alguém pelos demais usuários e
com isso implica em três elementos: o “eu” e o “outro” e a relação entre ambos.

O conceito de reputação está diretamente relacionado ao fato de que há


informações sobre quem somos e o que pensamos que auxiliam outros a
construir, por sua vez, suas impressões sobre nós. Partindo das noções de
Goffman (1975) podemos dizer que a reputação de alguém seria uma
consequência de todas as impressões dadas e emitidas deste indivíduo. A
76
reputação dessa forma é influenciada pelas nossas ações, mas não
unicamente por elas, pois depende também da visão dos outros usuários sobre
essas ações. Um dos destaques na construção das redes sociais como o
Facebook é o fato de que os sistemas que as suportam permitem um maior
controle das visões/impressões que são emitidas e dadas por todos, auxiliando
assim na construção da reputação. Assim podemos dizer que uma das
mudanças causadas pelas redes sociais reside no fato de que a reputação é
facilmente construída através de um maior controle sobre as impressões
deixadas pelos usuários. Ou seja, redes como o Facebook são extremamente
efetivas para a construção de reputação. De acordo com Golbeck & Hendler,
(2004) a reputação atua como um mecanismo de seleção dos laços em uma
rede social Através da reputação é possível selecionar em quem confiar e com
quem se relacionar.

Por isso quando falamos de reputação em redes sociais online, não


estamos focando no número de leitores/seguidores, pois assim poderíamos
concluir que a reputação nas redes sociais é relacionada ao número de
conexões. No território do Facebook a reputação é relacionada com as
impressões que os demais usuários pensam sobre um determinado fato. Então
devemos pensar que a reputação é uma percepção qualitativa, pois tem
relação a outros valores agregados. Por isso podemos dizer que no Facebook
não há um único tipo de reputação. Cada usuário da rede pode construir tipos
de reputação baseado no tipo de informação ou meme que divulga em seu
perfil, canal, grupo ou página.

Coleman (1990) e Granovetter (1983) ligaram a reputação à densidade e


à estrutura da rede. Embora as conexões possam auxiliar a compreender a
reputação, elas não oferecem uma percepção das qualidades dessa reputação
e dos valores que estão associados a ela. Assim, a posição de um usuário em
uma rede não é capaz de explicitar o tipo de reputação deste usuário, embora
tal informação possa auxiliar o pesquisador, em conjunto com outras
observações qualitativas das percepções da rede do próprio ator em questão, a
ter uma visão mais ampla desses valores. Todos os usuários possuem
reputação em menor ou maior grau, algum tipo de percepção em sua audiência
proveniente das qualidades percebidas pelos demais membros da rede social.
Essa reputação pode ser administrada uma vez que é permitido a cada usuário
77
construir impressões de forma intencional. Com essa intencionalidade, um
determinado usuário poderia trabalhar na construção de sua própria reputação,
seja através das informações publicadas, seja através da construção de
visibilidade social. A reputação, portanto, está associada ao capital social
relacional e cognitivo. Relacional porque é uma consequência das conexões
estabelecidas pelos usuários. Cognitivo porque está também relacionada ao
tipo de informação publicada pelo usuário em seu perfil no Facebook.

A popularidade, por sua vez, é um valor relacionado à audiência, que é


também facilitada nas redes sociais na Internet. Como a audiência é mais
facilmente medida na rede, é possível visualizar as conexões e as referências a
um indivíduo, a popularidade é mais facilmente percebida. Trata-se de um valor
relativo à posição de um usuário dentro de sua rede social. Um usuário mais
centralizado na rede é mais popular, porque há mais pessoas conectadas a ele
e, por conseguinte, esse usuário poderá ter uma capacidade de influência mais
forte que outros usuários na mesma rede. Esses usuários poderiam ser
também aqueles classificados por Barabási (2003) como conectores.

A popularidade é diretamente relacionada ao número de comentários e


ao tamanho da audiência de cada perfil no Facebook, pelo número de
seguidores de uma página ou participantes de um grupo. A popularidade, como
valor, refere-se mais a uma posição estrutural do usuário na rede do que à
percepção que os demais usuários têm. O valor da popularidade pode ser
medido a partir de um valor quantitativo.

A popularidade também é um valor mais relacionado com os laços


fracos do que os laços fortes. Isso porque para a percepção do valor é
associada à quantidade de conexões e não à qualidade das conexões. Por isso
a popularidade também é mais facilmente medida nos sistemas online por
causa da chamada permanência (Boyd, 2007) das interações no mundo digital.
Existem links que podem ser utilizados para avaliar popularidade, ou amigos no
perfil do Facebook. Podemos, por exemplo, avaliar a popularidade de um perfil
na rede social pela quantidade de seguidores que esse perfil possui ou pela
quantidade de referências que são feitas ao perfil em uma conversação. Trata-
se de uma consequência também da visibilidade social, mas enquanto a
visibilidade é um valor relacionado com a capacidade de cada usuário de se
fazer visto (portanto existem usuários que são mais visíveis e usuários que são
78
menos visíveis), a popularidade é uma característica relacionada à posição
estrutural do usuário na rede. Apenas alguns usuários são populares, mas
todos os usuários possuem visibilidade.

Esse valor relaciona-se com o número de conexões ou relações de um


determinado usuário com outros. Logo, não é um valor como à reputação. A
popularidade também não é relacionada com autoridade, mas, simplesmente,
com algum tipo de reputação (boa ou ruim, por exemplo). Uma página no
Facebook pode ser popular porque é ruim, porque é engraçada, porque é
crítica e não necessariamente porque o usuário que mantem a página tem
autoridade. A popularidade pode ser assim, uma medida quantitativa da
localização do usuário na rede social.

Por fim, podemos afirmar que a autoridade é o valor que se refere ao


poder de influência de um usuário na rede social. Não é a simples posição do
usuário na rede, ou mesmo, a avaliação de sua centralidade ou visibilidade. É
uma medida da real influência de um usuário em relação à rede a qual ele faz
parte, juntamente com a percepção dos demais usuários sobre a reputação
dele. Autoridade, portanto, compreende também reputação, mas não se
resume somente a ela. Autoridade é uma medida de influência, a qual
influencia a reputação. A autoridade é decorrente não apenas do capital social
relacional, mas, igualmente, do capital social cognitivo de acordo com os tipos
de Bertolini e Bravo (2001). A autoridade também é um valor relacionado à
reputação, mas de uma forma diferente daquela do compartilhamento de
conhecimento, da contribuição. Os usuários que buscam autoridade
preocupam-se em construir uma reputação relacionada a um assunto
específico, mais do que apenas ser reconhecidos como alguém que está
interessado em alguma coisa. Aqueles que buscam autoridade são usuários
bastante comprometidos com seu conteúdo. A autoridade está conectada ao
capital social conector, uma vez que este é o foco dos usuários que desejam
construir uma audiência, mais do que construir intimidade com outros.

. Dessa forma, a autoridade é uma medida que só pode ser percebida


através dos processos de divulgação de informações nas redes sociais e da
percepção dos outros usuários em relação aos valores contidos nessas
informações.

79
Na tabela a seguir um resumo das observações com relação aos tipos
de capital social discutidos.

Tabela 2: Valores e Capital Social

Valor Percebido Capital Social

Visibilidade Relacional

Reputação Relacional Cognitivo

Popularidade Relacional

Autoridade Relacional Cognitivo

Os valores da tabela acima são todos provenientes do chamado primeiro


nível e das definições de capital social de Bertolini e Bravo (2001). Isso porque
redes sociais somente são eficientes para o gerenciamento do capital social
básico. As redes são capazes de manter esse capital social, mas não de
aprofundar os laços desses usuários. Para isso, é preciso a participação ativa
dos usuários envolvidos. Dessa forma, o uso do Facebook para a construção
de capital social é eficiente para o primeiro nível, que seria influenciar os
valores mais direcionados à construção e à manutenção da rede dos
indivíduos. Já os valores associados ao segundo nível, voltados para a
institucionalização de um grupo social, não são facilmente construídos e nem
facilmente obtidos nas redes sociais. São valores de grupo, associados à
presença deste e aos usuários que ali atuam dentro da rede social.

2.9 – Valores Culturais, Capital Social e a construção dos Memes

O estudo das características dos memes mostra que há valores que são
criados e difundidos nas redes sociais online, valores esses que são
associados ao capital social. Alguns desses valores são fundamentalmente
importantes para a difusão de informações, tais como a autoridade, a
popularidade e a influência, que são atribuídos aos usuários. Esses valores são
influentes principalmente por conta das redes sociais como o Facebook. E a
existência de redes como o Facebook implicam mudanças expressivas nos
80
modos através dos quais esses valores são construídos e promovidos. Isso por
que existe um maior controle nos meios digitais e segundo, porque esses
valores são alterados quando trazidos para a rede. Autoridade, popularidade e
influência são valores relacionados com o capital social observado nas redes
sociais, mas são valores diferentes entre si. Portanto a presença de memes é
relacionada ao capital social, na medida em que a motivação dos usuários para
espalhá-las é, direta ou indiretamente, associada a um desses valores citados
anteriormente. Por exemplo, as pessoas que espalham os recados com
imagens acreditam estar fazendo algo positivo, que deixará aquele que
recebeu a mensagem contente. Portanto, existe uma intenção na construção,
repetição e aprofundamento de um laço social, que é ultimamente explicado
pela necessidade de capital social. Do mesmo modo, muitas pessoas que
espalham mensagens de vírus e informações o fazem com a intenção de
auxiliar e mostrar-se bem informadas, o que também pode ser associado à
construção de capital social. Mas como podemos relacionar os valores de
capital social, o valor da informação e o valor para o usuário da rede social?

Usuários não são independentes de motivações. Eles são capazes de


perceber os valores constituintes das redes sociais e utilizar esses valores
através da apropriação do seu espaço nas de redes sociais – como o seu perfil
do Facebook. Por isso é importante conectar as motivações e os valores
percebidos pelos usuários do Facebook e os tipos de capital social percebidos
nos tipos de memes utilizados durante o período relacionado ao impeachment
de Dilma Rousseff.

Inicialmente, a divulgação e promoção dos memes estão relacionadas


diretamente com a autoridade. Isso implica que as informações são difundidas
porque há usuários que são influentes. Essa influência é causa e consequência
dos tipos de informação publicada por um determinado usuário e das
impressões que este causa nos demais usuários do cluster. Autoridade é,
portanto, relacionada principalmente a memes do tipo metamórfico, onde há
espaço para a construção de argumentos que possam influenciar terceiros.
Além disso, a autoridade também está relacionada com a capacidade de gerar
memes epidêmicos, pois os usuários que detêm algum tipo de autoridade
podem, através da divulgação de um meme, fazê-lo epidêmico, graças à sua

81
capacidade de influência. Esse tipo de usuário também pode divulgar memes
do tipo replicadores, simplesmente agregando um julgamento de valor.

A autoridade também pode influenciar a difusão global de determinados


tipos de memes, dependendo do tipo de autoridade associada ao usuário. Já a
reputação está relacionada a todos os tipos de meme. Uma reputação pode ser
construída com base em memes miméticos, metamórficos e mesmo,
replicadores. Publicar primeiro um meme engraçado pode conferir reputação a
um determinado usuário e publicar um meme informativo pode conferir outro
tipo de reputação e assim por diante. A popularidade e a visibilidade de um
usuário também atuam na construção de determinados tipos de meme. Um
meme epidêmico, por exemplo, tem maiores possibilidades de iniciar em um
usuário muito popular e muito visível na rede. Do mesmo modo, memes globais
também poderiam ser associados ao número de conexões que um
determinado usuário possui. Imaginemos que um determinado usuário X
deseja iniciar uma campanha contra o racismo no Facebook utilizando seu
perfil. A capacidade de difundir a campanha é diretamente relacionada com a
visibilidade e com a popularidade do usuário no Facebook. A reputação e a
autoridade certamente ajudam, mas é ainda mais essencial que a campanha
seja vista, que atinja uma grande quantidade de usuários. Enquanto alguém
com autoridade pode influenciar muitas pessoas, somente através da
popularidade e da visibilidade é que a campanha será conhecida. Assim, a
popularidade e a visibilidade são essenciais para o alcance da propagação do
meme na rede. No entanto a reputação e a autoridade lhe conferem algum tipo
de valor e de influência.

Finalmente, memes voláteis e persistentes, no entanto, não parecem


relacionar-se diretamente com o capital social, mas, meramente, com ciclos de
vida desse tipo de mensagem na rede.

Na tabela a seguir, vemos os valores associados ao capital social de


Bertolini e Bravo (2001).

82
Tabela 3: Tipos de meme e valores gerados

Tipo de meme Valor gerado


Replicador Reputação, Visibilidade, Autoridade
Metamórfico Reputação, Autoridade
Mimético Reputação, Autoridade
Epidêmicos Popularidade, Visibilidade, Reputação
Fecundos Popularidade, Reputação
Global Popularidade, Visibilidade, Reputação
Local Popularidade, Visibilidade, Reputação

Memes são relacionados, assim, a dois tipos de capital social dentro da


proposta de Bertolini e Bravo (2001): o relacional, que é voltado para os
memes cujo valor está na sociabilidade da rede que o difunde na complexidade
dos laços sociais e, mesmo, na ampliação da própria rede; e o cognitivo, que é
relacionado ao valor da informação do que circula nessa rede.

Portanto é possível entender que as informações difundidas no


Facebook possuem um forte componente relacionado ao capital social. Assim,
as pessoas publicam informações não aleatoriamente, mas baseada na
percepção de valor contida na informação que será divulgada. E esse
comportamento nos leva a refletir sobre diferentes tipos de memes. Portanto
podemos concluir que a percepção de um valor pelos usuários influencia a
propagação do meme e seu próprio impacto na rede social.

83
CAPÍTULO 3 – RESULTADOS E DISCUSSÕES SOBRE A
BASE EMPÍRICA: OS MEMES VIERAM PARA FICAR.

3.1 Ciberdemocracia ou Pluripartidismo Digital?

Vamos começar essa análise pela categoria que relaciona os memes


políticos do Facebook as estratégias de persuasão. Os memes persuasivos
são peças com propósito de convencimento, criadas seja pelo marketing dos
candidatos, seja pela militância, pela imprensa, ou pelo eleitor comum
deliberadamente para influenciar o processo político.

Essa categoria, de início parece contraditória, porque uma vez que os


memes são tidos pelo senso comum como fruto da ação dos usuários do
Facebook, mas este tipo de meme representa quase 58% do total da amostra
analisada (ver Tabela 4) – de certa forma, comprovando assim que a incidência
de memes está em grande parte relacionada com um comportamento
emergente dos partidos políticos e dos movimentos populares para o território
do Facebook somada a participação cada vez mais frequente das massas que
aderem as redes sociais todos os dias –, a ocorrência deste tipo de conteúdo
ajuda a explicar a estratégia discursiva assumida pelos partidos e pelos
movimentos e replicada pelos seus militantes nas redes sociais. Por outro lado,
os números se equilibram um pouco mais quando falamos de memes de
discussão pública e ação popular, com uma forte caracterização do uso do
Facebook como um canal de mobilização para passeatas e protestos em
lugares públicos.

TABELA 4

Tipos de memes na amostra

Tipo de meme N %
Persuasão 151 57,63%
Ação popular 61 23,28%
Discussão pública 50 19,08%
Total 262 99,99%

84
QUADRO 2

Tipos de memes na amostra

Meme de Persuasão Meme de Ação Popular Meme de Discussão Política

Na tabela 5, apresentamos o resultado da análise desta tipologia em


conjunto com a referência dos memes a cada um dos partidos e dos
movimentos analisados. Nele, percebemos que o PT, o PSDB e o Movimento
Contra a Corrupção são os mais beneficiados pela produção de memes
persuasivos durante o período pesquisado. O PMDB, mesmo estando muito
presente no cenário político nacional, possui um conteúdo muito pouco
expressivo nesta categoria comparado com os outros partidos enquanto o
Movimento Quebrando o Tabu se utiliza muito pouco dessa categoria levando
seus memes para o lado da discussão pública.

TABELA 5
Tipos de memes por Partido/Movimento1

Origem Persuasão Ação Popular Discussão Pública


PT 93 12 2
PSDB 33 2 5
PMDB 11 0 0
Movimento Contra a Corrupção 12 44 32
Quebrando o Tabu 2 3 11
TOTAL 151 61 50
1
A tabela leva em consideração apenas os memes publicados nas páginas da pesquisa durante o recorte temporal e
que ainda se encontram disponíveis no Facebook – desde que sejam identificados elementos nesses memes que
sugiram referência entre os conteúdos analisados.

85
QUADRO 3

Tipos de memes usados pelo PT

Meme de Persuasão Meme de Ação Popular Meme de Discussão Política

QUADRO 4

Tipos de memes usados pelo PSDB

Meme de Persuasão Meme de Ação Popular Meme de Discussão Política

QUADRO 5

Tipos de memes usados pelo PMDB

Meme de Persuasão Meme de Persuasão Meme de Persuasão

86
QUADRO 6

Tipos de memes usados pelo MCC

Meme de Persuasão Meme de Ação Popular Meme de Discussão


Política

QUADRO 7

Tipos de memes usados pelo QOT

Meme de Persuasão Meme de Ação Popular Meme de Discussão Política

Ao avaliar as subcategorias desta taxonomia, é possível perceber que


memes que fazem referência a Dilma Roussef e ao PT se destacam pela
retórica ético moral e a crítica ao governo embasada em sua grande maioria
em dados da imprensa que são explorados como argumentos de veracidade
para alavancar o capital social do meme gerando credibilidade. (ver Tabela 6).

TABELA 6
Memes Persuasivos por Partido/Movimento

Origem Retórica Retórica Retórica Retórica Outros Total

87
propositiva sedutora ético-moral crítica
PT 3 22 22 46 0 93
PSDB 3 4 14 12 0 33
PMDB 0 3 0 8 0 11
Movimento Contra a Corrupção 0 1 3 8 0 12
Quebrando o Tabu 0 0 1 1 0 2
TOTAL 6 30 40 75 0 151

QUADRO 8

Tipos de memes persuasivos usados pelo PT

Retórica Crítica Retórica Sedutora Retórica Propositiva

QUADRO 9

Tipos de memes persuasivos usados pelo PSDB

Retórica Crítica Retórica Ético-Moral Retórica Propositiva

QUADRO 10

Tipos de memes persuasivos usados pelo PMDB

Retórica Sedutora Retórica Crítica Retórica Sedutora

88
QUADRO 11

Tipos de memes persuasivos usados pelo MCC

Retórica Crítica Retórica Ético-Moral Retórica Crítica

QUADRO 12

Tipos de memes persuasivos usados pelo QOT

Retórica Crítica Retórica Ético-Moral

89
Os memes de ação popular permitem destacar aspectos interessantes.
(ver Tabela 7). Um fato que se destacou foi a grande quantidade de memes de
“ação conectiva hibrida” compartilhados pelo MCC (Movimento Contra a
Corrupção) na intenção de mostrar a existência de grupos de militância sem
vinculação explícita com organizações partidárias ou que possuem estreitas
relações com organizações e entidades que não são diretamente mencionadas
no cenário político, mas que crescem constantemente no território do
Facebook. Esse dado mostra como o processo de engajamento partidário-
político já migrou para o Facebook e se adaptou aos memes para manter seu
posicionamento e ideologia disponíveis para as massas. Aqui novamente é
possível perceber o uso de dados da imprensa explorados como argumentos
de veracidade para alavancar o capital social do meme.

Estes memes foram classificados como “ação conectiva híbrida” na


medida em que permitem especificar posicionamentos dos grupos ativos na
nova esfera pública promovida pelo Facebook. Esse fato é de extrema
relevância, pois tanto nessa categoria como na Discussão Pública é onde
podemos perceber os fatores que podem promover a ciberdemocracia. Como
foi demonstrado no item 3.1 o cidadão é inserido no ciberespaço através da
inclusão digital e passa a contribuir para o fortalecimento da cibercultura, se
adaptando as novas tecnologias e se comportando cada vez mais como um
cibercidadão, promovendo dessa forma o surgimento, em longo prazo, a
ciberdemocracia. Então ao fazer parte do Facebook e participar diariamente de
páginas relacionadas a política o usuário tem acesso a memes usados para
difundir ideias e valores. Essa cultura passa a fazer parte da timeline do
usuário no Facebook que interage com a mesma aumentando sua relevância e
conhecimento. Esse processo começou a crescer em outubro de 2014 e não
parou mais até o momento em que finalizamos essa dissertação. Por isso essa
categoria é importante como um possível indicador de ciberdemocracia. Nota-
se também que a categoria “ação conectiva”, o MCC (Movimento Contra a
Corrupção) incorpora imagens que convidam ao ataque ideológico, e/ou
imagens da imprensa exploradas como argumentos de veracidade para
alavancar o capital social do meme, entre outros.

90
TABELA 7
Memes de Ação Popular por Partido/Movimento

Origem Ação Ação Ação Ação Outros Total


coletiva conectiva conectiva conectiva
híbrida não-engajada
PT 0 3 8 1 0 12
PSDB 0 2 0 0 0 2
PMDB 0 0 0 0 0 0
Movimento Contra a Corrupção 4 24 16 0 0 44
Quebrando o Tabu 0 1 2 0 0 3
TOTAL 4 30 26 1 0 61

Por outro lado, a análise dos memes de discussão pública (ver Tabela 8)
ressalta o fato de que, entre os partidos e os movimentos que protagonizaram
esta pesquisa, o PMDB foi nulo no uso de memes de Discussão Pública,
chegando a ser superado, neste quesito pelo PT, que durante esse tempo
também se utilizou muito pouco dos memes de Discussão Pública. Dilma
Roussef é a pessoa que figura em muitas “piadas situacionais”, ao passo que
Lula é o vencedor na categoria “piadas sobre personagens da política”, que
exploram a sátira aos próprios candidatos ou outros políticos, e em “alusões
culturais”, a maior parte em menções e referências a filmes e programas de
televisão.

TABELA 8
Memes de Discussão Pública por Partido/Movimento

Origem Lugares Alusões Piadas sobre Piadas Outros Total


comuns literárias personagens situacionais
da ou da política
política culturais
PT 1 0 1 0 0 2
PSDB 0 0 1 4 0 5
PMDB 0 0 0 0 0 0
Movimento Contra a Corrupção 7 1 9 15 0 32
Quebrando o Tabu 3 2 1 5 0 11
TOTAL 11 3 12 24 0 50

É digno de nota que essa categoria representa o caminho mais próximo


para uma possível ciberdemocracia, pois através da constante discussão
política através do Facebook, seria possível promover um cenário de expansão
91
onde o protagonista, o referido indivíduo, e o seu conteúdo representativo, que
não mais está atrelado à esfera pública midiática de massa, pois passa a
exercer sua presença e cidadania no ciberespaço, recebendo e produzindo
informação através das inúmeras ferramentas de informação.

Devemos destacar que entre os memes coletados, 86,5% (N=227) não


apresentam traço evidente de humor, podendo se caracterizar como
informação, comentário ou ataque. Outro fator importante se destaca quando
analisamos como o humor é usado constantemente pelas páginas dos
movimentos enquanto que nas páginas dos partidos o humor é muito pouco
utilizado. Piadas situacionais são as preferidas, pois alavancadas pela mídia
tradicional ganham grande repercussão dentro do Facebook.

Em relação à iconologia destes memes, 21% (N=55) eram memes que


combinavam desenho e texto, ao passo que 72% (N=188) combinavam
fotografias com texto e 7% apresentaram somente texto. Um detalhe
importante é que poucos memes presentes na amostra de fato continham
características típicas dos diferentes gêneros de memes registrados até hoje. A
baixa variação de gêneros mostra que para os partidos o uso dos memes ainda
é algo estrategicamente utilizado, em sua maioria, para ataques e o humor. Já
para os movimentos analisados, essa baixa variação de memes acaba sendo
disfarçada pela grande quantidade de postagens. Esta baixa incidência de
gêneros, no entanto, realça a hipótese de que os memes de 2014 não
evoluíram muito em relação aos memes de 2016, pois não exploram a fundo a
linguagem interativa, são frutos de opiniões em tempo real nas mídias sociais e
de grandes canais de jornalismo digital e continuam assim sendo usados para
alimentar argumentos ideológicos e manter unificados os indivíduos das
páginas do Facebook – o que reitera a nossa perspectiva de que se trata, em
grande medida, de um fluxo de produção de conteúdo de marketing político
transcrito para o posicionamento dos partidos dentro das redes sociais. Do lado
do eleitor militante esses memes causam um eco transcrito na forma de
compartilhamentos, curtidas e comentários diversos em cada um dos 262
memes analisados nessa pesquisa.

Outro fator que deve ficar registrado é que na divisão geral temos uma
evolução gradual do número de memes postados. Enquanto em 2014 temos
um total de 76 memes analisados, em 2015 esse número caiu para 56, mas em
92
2016 analisamos 130 memes no mesmo período das coletas anteriores
(aumento de 171% entre 2014 e 2016). Isso nos mostra que tanto os partidos
quanto os movimentos aumentaram o número de memes publicados para os
mais variados assuntos. As páginas analisadas tem um impacto muito grande
se analisarmos a quantidade de indivíduos que as compõem: PT (1.149.651
integrantes), PMDB (65.398 integrantes), PSDB (1.328.892 integrantes), MCC
(3.112.093 integrantes) e QOT (6.190.824 integrantes). Somadas elas
interagem com aproximadamente 11.846.858 pessoas enviando memes com
conteúdo relacionado tanto a esquerda quanto a direita.

93
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados obtidos nesta primeira etapa de análise sobre os memes


políticos do Facebook nos permitiram testar a proposta taxonômica
apresentada, de tal forma que pudemos levantar algumas questões iniciais
para o debate sobre o papel dos memes tanto para os partidos como para os
movimentos. A taxonomia usada aqui, se ainda imperfeita, ao menos confere
ao investigador dimensão sobre as motivações para a produção dos memes
analisados.

A grande incidência, por exemplo, de memes persuasivos e ataques


pessoais a Dilma Roussef nos apontam em direção à hipótese de que o
território do Facebook é dominado pelo partidarismo com grande ambivalência
entre esquerda e direita e que o monitoramento deste tipo de memes é capaz
de indicar a evolução dos discursos praticados pelos partidos assim como
medir a performances dos movimentos populares. Mas isso ainda não é o
suficiente. Não no sentido de entender o porquê agora o virtual se tornou tão
importante para a política e como ele influenciou esses três momentos
analisados entre 2014, 2015 e 2016. Acontece agora uma naturalização do
virtual, através de uma nova realidade digital focada na posição de centralidade
que cada vez mais o virtual detém, de um protagonismo assumido sem
contestações, de modo que se torna cada vez mais impossível pensar a
política real sem o virtual. Os atos políticos, talvez este seja o exemplo mais
redundante, já não podem acontecer se antes não forem eventos criados e
divulgados nas redes sociais.

O sucesso dos atos reais ou manifestações populares depende, cada


vez mais, do modo como o evento faz sucesso anteriormente no mundo virtual.
Aí está um dos traços da naturalização do virtual, serem tratados como
espontâneos. Tais eventos-manifestações existem antes de tudo no mundo
virtual, uma precedência ante o real que diz muito sobre o modo como o partido
político e o virtual se conectam. Os memes seguem a mesma lógica, porem
com uma poder muito maior de informar e entreter, divulgar e julgar e assim
manter o discurso vivo nas páginas e nas linhas do tempo dos militantes.

94
É impossível negar, portanto que o Facebook possa ser usado como
instrumento político e lugar de visibilidade das lutas ideológicas entre esquerda
e direita, uma vez que atualmente parece não haver outro lugar de visibilidade
senão o virtual. Todavia, uma indagação dever ser feita: o que o Facebook e
suas ferramentas oferecem não podem ser danosos ao processo político como
um todo? Devido ao fato do Facebook promover uma linha seletiva por divisão
de conteúdo é permitido ao indivíduo ter acesso apenas aquilo que lhe agrada
em primeiro momento. Essa divisão não promove o debate, pelo contrário,
promove um discurso unanime.

Podemos abrir algumas vias de explicitação para a pergunta acima, não


tanto de resposta à mesma, mas sobre o porquê desta indagação não ser feita
pela maioria. Em primeiro lugar, tratar-se-ia de considerar o virtual como uma
espécie de campo de batalha das ideias, que a priori sendo neutro, isto é, nem
de “esquerda”, nem de “direita”, ganhará a “batalha das ideias” aquele lado que
conseguir maior visibilidade, ocupando os espaços, se comunicando melhor.
A permanência da visibilidade no virtual implica que se opere segundo um
modus operandi previamente estabelecido no campo empírico do Facebook.
Por conseguinte, a visibilidade política não é mais que a visibilidade virtual.
Este comunicar-se melhor implica que, na imensa maioria das vezes, os
discursos não sejam apenas simples, mas simplórios. Que possam ser
consumidos rapidamente, diminuindo grandemente o nível de problematização,
redundando em um debate fraco de conteúdo, porém forte de caricaturas.

Novamente aqui temos indicadores que colaboram com a grande


quantidade de memes persuasivos encontrados durante a pesquisa. Não se
trata de uma simples crise da política tradicional, mas da renúncia à própria
ideia de verdade. A estratégia de sedução e ocupação que concretiza a
expansão do virtual através dos memes não é mudar os critérios de
veracidade, não é estabelecer uma nova ideia de verdade, mas trata-se da
própria recusa da verdade. Não havendo mais necessidade de verdade, ao
virtual não pode ser mais imputada ou remetida uma ideia de falsidade, mesmo
que a seu favor. Essa recusa na verdade pode ser considerada além de
estratégica, o fundamento último da proposição de Pierre Lévy de que o virtual
não é o oposto do real. Isso fica muito claro depois de agosto de 2016 quando
Michel Temer assume o cargo de Presidente da República e desde então o
95
espaço ocupado pelos partidos e movimentos de direita aumentou
significativamente no Facebook. Verifica-se dessa forma que não há uma
politização da internet, mas sim uma partidarização virtual, pois não podemos
esquecer que é primordialmente pela direção do capital que o Facebook opera.

Diante dessa partidarização não pode haver dúvida de que uma nova
forma de política digitalmente mediada é um componente crucial da revolução
provocada pela internet. Ela já é utilizada para o estabelecimento de agendas
de baixo para cima, capacitar os cidadãos a falar-se em uma esfera pública
interligada, e empurrando os limites da ação coletiva. Em particular, os memes
políticos tem mudado a natureza da campanha política e continuarão a
desempenhar um papel estratégico em futuras eleições e campanhas políticas.

No entanto, a partidarização virtual também pode ser uma plataforma de


conflito e agitação maliciosa por populistas de direita que são disfuncionais
para um discurso democrático saudável, enquanto os nossos sistemas de
governação atual são suscetíveis a explosões emocionais e movimentos
populistas que se desdobram na internet. O que podemos perceber é que o
Facebook está aberto a todos e pode ser usado para influenciar a agenda
pública de muitas maneiras diferentes. Intimado pelo poder dos indivíduos,
nossas atuais instituições de governança são, no entanto, incapazes de lidar
com o dinamismo e a diversidade das opiniões cidadãs mediadas digitalmente.

Assim podemos afirmar que não temos indicadores sólidos para


argumentar a favor de uma possível ciberdemocracia brasileira. A este
respeito, esperamos que etapas subsequentes da pesquisa, no doutorado,
descortinem novos e instigantes novos resultados.

Com efeito, cumpre aqui chegar ao fio da meada lembrando uma fala de
Castells (2015), que demonstra um dos motivos do crescimento dos memes
políticos do Facebook. Ele conclui: “O que é certo é que a comunicação dos
jovens passa pelas redes sociais, e por isso os partidos e movimentos de todo
tipo intervêm nas redes sociais, porque a única coisa segura sobre o futuro é
que são os jovens de hoje que o farão. Quem mais influenciar a mente dos
jovens no espaço da comunicação construirá as bases do poder – conservador,
reformista ou revolucionário – no Brasil”.

96
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107
ANEXOS

Todos os memes coletados e as devidas análises apresentadas para essa


pesquisa se encontram disponíveis para consulta na Internet através do
endereço:

http://memespoliticosdofacebook.wordpress.com

108

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