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LIMEIRA
2017
1
RENATO GEORGETTE FRIGO
Dissertação apresentada à
Faculdade de Ciências
Aplicadas da Universidade
Estadual de Campinas como
parte dos requisitos exigidos
para a obtenção do título de
Mestre em Ciências Humanas
e Sociais Aplicadas.
LIMEIRA – SP
Fevereiro de 2017
2
Autor: Renato Georgette Frigo
Título: Política, Memes e o Facebook no Brasil: Em busca da Ciberdemocracia
Natureza: Dissertação de mestrado em [Ciências Humanas e Sociais
Aplicadas]
Instituição: Faculdade de Ciências Aplicadas, Universidade Estadual de
Campinas.
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________
Prof. Dr. Rafael de Brito Dias – Presidente
Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA/UNICAMP)
________________________________________________
Prof. Dr. João José Rodrigues Lima de Almeida - Avaliador
Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA/UNICAMP)
________________________________________________
Prof. Dr. Victor Kraide Corte Real – Avaliador
Escola de Comunicação e Artes (ECA/USP)
3
Aos meus pais: Arnaldo e Luzia.
4
“Nós, seres humanos, jamais pensamos sozinhos ou sem ferramentas.
As instituições, as línguas, os sistemas de signos, as técnicas de comunicação,
de representação e de registro informam profundamente nossas atividades
cognitivas: toda uma sociedade cosmopolita pensa dentro de nós.”
O que é o Virtual?
Pierre Lévy
Ao meu orientador, amigo e conselheiro Prof. Dr. Rafael de Brito Dias pela
infinita paciência em me ajudar a cada mudança e a seguir em frente ao longo
dessa feliz trajetória no campo interdisciplinar. Muito obrigado por compartilhar,
de forma tão pontual, humana e competente, um pouco da sua vasta bagagem
intelectual e do seu tempo comigo. Acima de tudo obrigado por confiar no meu
trabalho.
Aos professores Dr. Álvaro de Oliveira D´Antona por aceitar ser o meu
coorientador nessa primeira pesquisa pela Unicamp e ao Dr. Peter Alexander
Bleinroth Schulz que foi meu primeiro professor na FCA e me ensinou a ver a
ciência de uma maneira apaixonada. Também quero agradecer ao Prof. Dr.
Eduardo José Marandola Junior por me desafiar constantemente a não ficar na
zona de conforto e a buscar a interdisciplinaridade em minhas pesquisas. Não
posso deixa de agradecer a Profa. Dra. Adriana Bin por me aceitar como seu
bolsista PED e de me proporcionar grande momentos de crescimento pessoal
e intelectual. Agradeço também a todos os professores da FCA com os quais
tive o prazer de compartilhar ideias e momentos que levo comigo como um
presente do mestrado.
Aos meus pais, Luzia Aparecida Georgette Frigo e Arnaldo Frigo Filho, pelo
amor incondicional. Graças a vocês eu nunca desisti de nada e mais uma vez
estou aqui agradecendo pelo apoio de vocês, pela dedicação e pelo incentivo a
cada pequena etapa superada nessa caminhada. Obrigado Deus! Obrigado por
tudo mãe! Pai saiba que sua vontade de ser professor sempre foi a motivação
que me trouxe até aqui. Através de mim, você realiza seu sonho, por isso onde
eu estiver você estará comigo.
A minha irmã Fernanda Georgette Frigo, que é um exemplo pra mim e que
agora vai ser mamãe da Maria Eduarda Frigo Tabosa. E ao Murilo Tabosa,
meu cunhado, futuro papai coruja, que assim como eu vai buscar seu lugar no
doutorado. Que um dia minha amada sobrinha possa ler essa dissertação.
As minhas avós, Eleonora Cabrini Georgette e Nica Ülrich Frigo, meus grandes
exemplos de vida, de humildade, de conduta e de felicidade. Obrigado por me
ajudarem a construir o Renato que eu sou hoje.
6
À minha amada namorada Laiz dos Santos, que pacientemente suportou
minhas lamúrias, minha clausura e minha vontade em querer usar todo o
tempo disponível para realizar essa pesquisa. Você sabe como isso é
importante pra mim. Obrigado por me ajudar a passar por tudo isso até o final.
Espero que no futuro, quando for a sua vez, eu possa ajudá-la tanto quanto
você me ajudou com essa dissertação.
Aos amigos Profa. Dra. Adriana Pessatte e Profa. Dr. Tomas Sniker por me
apoiarem nos momentos mais complicados, me mostrando o caminho, me
colocando junto de vocês. Obrigado por reconhecerem minha competência.
Ao grande amigo Victor Kraide Corte Real por ter me indicado, em 2006, para
participar de uma banca de TCC. Foi ali que tudo começou. Se hoje estou aqui
é porque o Victor acreditou em mim no momento que eu mais precisei. Daquela
data em diante, o destino nos uniu várias vezes em momentos de lazer e
trabalho e espero que continue assim. Você não tem ideia do quanto eu sou
grato a você. Tudo isso aconteceu por causa da sua atitude inicial. Que um dia
eu possa lhe retribuir tudo isso. Muito obrigado meu amigo.
A todos os meus tios, tias e claro meus primos (que são muitos) que juntos me
dão a coragem para continuar e me enchem de orgulho em fazer parte da
nossa família. Principalmente ao meu tio Artemio Bertholini que é um exemplo
de profissionalismo, determinação e força de vontade. Ele nunca se acomodou,
nunca desistiu e nunca parou de aprender até hoje. Graças a você e a minha
tia Regina Bertholini tive acesso a uma cultura que me define como pessoa e
que me faz querer continuar estudando para o resto da minha vida.
7
RESUMO
8
ABSTRACT
The phenomena promoted by social networks over the Internet are constantly
changing, producing fascinating results and concrete social effects through the
communication between its members. In Brazil, the continued use of social
networks has enabled Facebook to become a powerful social media tool that
evolved from a software to promote new friendships to a new public sphere,
also used as media, for those who want to organize and protest politically.
Expanding the focus of the study on the relationship between Society,
Communication and Technology, this work has the premise of observing,
analyzing and categorizing how the political images transmitted on Facebook
function as a unit of information and identification with the ability to multiply,
Through the ideas and culture that spread from individual to individual within the
structure promoted by the social network and thus understand how this constant
spread affects our perception about democracy and society itself. To
understand the current scenario, starting from the 2014 presidential elections,
when it was possible to perceive a great increase in the flow of images of
dichotomous content between "right and left", we will investigate this discursive,
visual and social manifestation through which we can identify different
categories of political-ideological images from the perspective of creating a
process of cyber-democracy in Brazil beginning with the propagation of
processes of social identification that promote new ties and new political
practices referenced and reinforced culturally by the constant use of political
images in social networks.
9
LISTA DE QUADROS
10
SUMÁRIO
Introdução ............................................................................................................. 12
Capítulo 1 – O CONCEITO DE CIBERDEMOCRACIADE PIERRE LÉVY, A EVOLUÇÃO DA
MEMÉTICA E UMA PROPOSTA DE TAXONOMIA PARA MEMES POLÍTICOS DO
FACEBOOK NO BRASIL. ........................................................................................... 16
1.1 – Ciberculturas como caminho para a ciberdemocracia? ................................................. 16
1.2 – A ideia de meme é um meme. ....................................................................................... 19
1.3 – Memes, Internet e Semiótica: o surgimento de uma nova forma de passar a
informação. ............................................................................................................................. 23
1.4 – Uma taxonomia para os memes políticos: a linguagem do Facebook ........................... 27
1.5 – O conturbado cenário político brasileiro entre 2013 e 2014 ......................................... 36
1.6 – O Movimento Passe Livre em 2013: coxinhas e petralhas em fúria .............................. 39
1.7 – Nunca antes na história deste país uma eleição presidencial foi tão disputada ........... 44
1.8 – Os brasileiros e a rede social: um caso de amor ............................................................ 47
1.9 – Facebook: ferramenta ideal para a criação de uma nova cultura? ................................ 48
Capítulo 2 – MEMES, CAPITAL SOCIAL E O FACEBOOK. ............................................ 53
2.1 – Imagens, discursos políticos e o admirável mundo digital ............................................. 53
2.2 - O poder das imagens nas redes sociais: a ascensão dos memes.................................... 54
2.3 – Duas maneiras de entender o papel dos memes ........................................................... 57
2.4 – Memes e política: uma combinação muito adequada ao cenário brasileiro ................. 60
2.5 – Cooperação x Competição nas redes Sociais: uma dinâmica que tende ao caos .......... 62
2.6 – Transmídia, Clusters, Desterritorialização e Memes Políticos. ...................................... 67
2.7 – O capital social................................................................................................................ 69
2.8 – Visibilidade, Reputação, Popularidade e Autoridade ..................................................... 76
2.9 – Valores Culturais, Capital Social e a construção dos Memes ......................................... 80
Capítulo 3 – RESULTADOS E DISCUSSÕES SOBRE A BASE EMPÍRICA: OS MEMES
VIERAM PARA FICAR............................................................................................... 84
3.1 Ciberdemocracia ou Pluripartidismo Digital? ................................................................... 84
CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 94
Referência Bibliográfica .......................................................................................... 97
Anexos ................................................................................................................. 108
11
INTRODUÇÃO
13
necessária para processar a informação memética, mas que por um paradoxo
só consegue sobreviver a partir da existência dos memes.
14
Facebook, atentando especialmente para o seu uso pelos partidos e
movimentos políticos aplicando uma proposta interdisciplinar para
investigações sobre memes. Encerramos esta dissertação ainda um tanto
distate da ciberdemocracia proposta por Pierre Lévy, mas com uma proposta
metodológica robusta para investigações sobre memes políticos, apresentando
para discussão os resultados preliminares dessa pesquisa.
15
CAPÍTULO 1 – O CONCEITO DE
CIBERDEMOCRACIADE PIERRE LÉVY, A EVOLUÇÃO
DA MEMÉTICA E UMA PROPOSTA DE TAXONOMIA
PARA MEMES POLÍTICOS DO FACEBOOK NO BRASIL.
Diante dessa realidade social que está sendo moldada pelas novas
tecnologias de informação, como o Facebook, Pierre Lévy analisa alterações
sociais influenciadas pelo referido “instrumento digital” e reflete sobre o futuro
que vem sendo moldado diante desse contexto influenciado pela constante
fluidez da sociedade atual inserida no meio digital.
16
aprimorando a inteligência coletiva (p. 43), pois o “ciberespaço permite uma
liberdade de expressão e de comunicação em escala planetária absolutamente
sem precedente” (p. 52).
17
Assim o cidadão é inserido no ciberespaço através da inclusão digital e
passa a contribuir para o fortalecimento da cibercultura, se adaptando as novas
tecnologias e se comportando cada vez mais como um cibercidadão,
promovendo dessa forma o surgimento, em longo prazo, da ciberdemocracia.
Cabe deixar registrado que a exclusão digital é o verdadeiro obstáculo para o
desenvolvimento das expectativas desse novo contexto social, moldado pelas
novas tecnologias de informação e comunicação.
Lévy também destaca que nesse momento teremos uma nova forma de
usar o espaço virtual através da cibercultura e de uma nova linguagem,
passando pela ética da inteligência coletiva, onde se destaca o “eu” no mundo
virtual, que vai além dos limites geográficos, possuindo agora uma identidade
inserida num “corpo informacional”, dentro do espaço global da rede, fonte da
potência intelectual (p. 202).
18
Esse corpo informacional representado aqui no papel dos memes
políticos do Facebook podem nos aproximar de uma ciberdemocracia?
20
sentido de que nós, enquanto seres biológicos morremos, mas a vida dos
signos (ou memes) se perpetua através da cultura.
21
Analisando os memes como signos é possível aproximar o conceito de
ferramentas para essas unidades replicadoras, o que faz alguns memeticistas
reconhecerem a externalidade da mente quando dizem que os memes também
se alojam em suportes físicos. Dessa forma “nossos cérebros” não seriam os
únicos veículos para eles, podendo essas unidades replicadoras, de acordo
com alguns autores (MATOS, 2008; BLACKMORE, 1999; DAWKINS, 2007),
também serem transportadas em suportes como jornais, computadores, livros,
placas, roupas, internet, entre outros. Desse modo, quando trazemos a
abordagem dos memes como um fenômeno de consciência, não excluímos a
noção de materialidade dos signos: há continuidade entre material e mental, os
fenômenos da mente (os signos) não estão localizados somente no cérebro,
estão em um trânsito de pensamentos constantes.
Por isso podemos dizer que a intenção aqui não é definir como errada a
abordagem de Dawkins, mas no que se refere ao fenômeno analisado e a
hipótese de entendê-lo como uma possível nova linguagem de um meio de
comunicação digital. Assim, instâncias como sobrevivência, perenidade,
hereditariedade e evolução, propõe um entendimento geral da cultura e, no
caso dos memes da internet, temos um fenômeno com certas características
que, para essa análise, são relevantes – como o fato de ele estar
contextualizado com a mídia política em um cenário de comunicação social no
ciberespaço. Nesse sentido, pensar os memes no ambiente da internet e com
mais ênfase os memes políticos do Facebook, permite uma reflexão sobre a
influência e o impacto dessa linguagem memética no curso da cibercultura, o
que implica a interação social mediada, como se configuram os memes dentro
do cenário político do Facebook e que aspectos confirmam essas possíveis
significações, entre outros fatores.
23
se de outras formas de expressão e ao mesmo tempo se configura como uma
forma de entendimento da realidade, uma maneira particular de ver o mundo.
Por isso se faz necessário entender que para ser meio de comunicação
uma tecnologia não pode ser vista apenas como um suporte, mas sim como
um ambiente que promove interação de consciências, podendo desse modo
operar como um dispositivo que promove cultura. Essa compreensão de que o
meio cria um ambiente cultural, uma semiosfera, um espaço de transformação,
compreensão e interação visual é a base para entender como os memes se
proliferaram tão rápido no Facebook. “Assim, através da teoria do meio,
podemos ver os meios de comunicação não como um suporte passivo, mas
como uma tecnologia que produz impactos nos nossos modos de comunicar,
pensar e agir, não se tratando de um espaço inerte pelo qual as mensagens
passam.” (MEYROWITZ, 1985).
24
sozinhos em uma sala não seria mais que do que isso, componentes físicos e
mecânicos” (RUSSI, 2013, p. 49).
25
e a consciência estabelecem uma relação de identidade, isto é, ambos
possuem uma natureza de significado – o que permite aos meios simularem a
faculdade que temos de representar o mundo (MARTINO, 2000, p. 111). Dessa
forma, entendendo o meio digital como uma extensão da consciência (uma
simulação da consciência), por sua vez preenchido por um contínuo de signos,
é possível então entendê-lo como um espaço da mente e, portanto, como uma
cibercultura, uma vez que esta opera como um dispositivo pensante, como se
fosse uma consciência, estando dotada de memória, ação inteligente e da
capacidade de produzir hábitos. Através de uma promissora perspectiva
semiótica, podemos afirmar que essa cultura consiste em “inteligência coletiva”
e “memória coletiva”, ou seja, um “mecanismo de conservação, transmissão e
recepção de conteúdo digital” (ARÁN, 2001, p. 53).
27
caráter do meme que diz respeito à maneira de dar novos sentidos às coisas
do mundo, de dar um novo significado informações, imagens, vídeo, textos.
28
Atuando como excelentes indicadores eleitorais, eles dinamizam e
dimensionam a opinião pública a respeito de um dado candidato, partido ou
uma proposta específica. Funcionando como comentários situacionais,
escárnio ou manifestação de apoio explícito, os memes são capazes de
descortinar de forma bastante evidente o comportamento das massas em um
cenário eleitoral.
29
análises, embora enriquecedoras por um lado, parecem acrescentar poucos
resultados ao atual campo de investigações da comunicação política digital.
______________________________________
1
Todos os memes coletados estão disponíveis em https://memespoliticosdofacebook.wordpress.com
30
O monitoramento e a coleta, de memes políticos, acontecem
semanalmente desde setembro de 2014 até a data atual mas para efeito de
recorte e análise o foco se manterá nos três momentos citados acima com a
oportunidade de analisar esse material coletado, sobre outra perspectiva, no
doutorado.
31
Por isso se faz necessário entendermos os memes como construções
culturais que se articulam e que são difundidos por agentes humanos e/ou
grupos organizados. Em outras palavras, não existe um poder misterioso e
intrínseco dos memes em si (BLACKMORE, 2000) que impulsiona e mantem
os processos de difusão cultural, mas sim a construção de teias de significados
e estruturas construídas pelas pessoas em torno deles. Ao avaliar os memes
relacionados a três fases distintas do atual processo político brasileiro é
possível aproximá-los do entendimento de Shifman (2014) sobre a necessidade
de avaliarmos os memes não como unidades de conteúdo isoladamente
apreensíveis, mas como um conjunto semântico, uma coleção, sem o que não
é possível alcançar seu significado pleno.
32
para funcionar como comentários despropositados dos eleitores a uma
situação ou reação específica, expressão polifônica e de múltiplas opiniões,
geralmente identificados como humor ou ódio. Na primeira fase da coleta, são
apresentados os resultados relacionados aos memes difundidos durante a
eleição presidencial brasileira de 2014. Para esta fase, foi recolhido um total de
76 memes, o que gerou uma amostra de aproximadamente 29% de todo
material coletado. Para classificar essa amostragem, cada meme foi avaliado
em:
33
comentários e compartilhamentos dos usuários dessas páginas no Facebook.
Terminada a análise, os memes foram dispostos de acordo com o quadro
abaixo.
QUADRO 1
TABELA 1
Tipos de memes políticos
Memes persuasivos
Retórica propositiva e/ou um apelo pragmático. O conteúdo sugere ou faz
referência a propostas do candidato, levanta uma discussão que aponta para o
cálculo racional do eleitor (apelo pragmático) ou toca em questões
relacionadas a temas discutidos nas eleições e opiniões dos candidatos.
Retórica sedutora ou ameaçadora e/ou um apelo emocional. O conteúdo
faz uso de aspectos marcadamente subjetivos e emocionais, como retratar um
candidato como "pai/protetor dos pobres" ou colocá-lo ao lado de crianças ou
ainda fazendo um apelo para emoções como o medo, a esperança, o futuro e
os valores sociais, etc.
Retórica ético-moral e/ou um apelo ideológico. O conteúdo investe em
denúncias de escândalos, faz críticas à corrupção ou má gestão de recursos
públicos, menciona a rivalidade entre esquerda e direita de forma acentuada e
ataca o passado de candidatos e partidos, etc.
Retórica crítica e/ou um apelo à credibilidade da fonte. O conteúdo se
ancora em outras fontes, como depoimentos de terceiros ou a própria mídia
(notícias da imprensa), pesquisas de opinião, ou outros, para garantir maior
credibilidade ao candidato ou ao próprio conteúdo dos partidos.
Retórica e/ou um apelo de difícil classificação ou de ambiguidade extrema.
34
Memes de ação popular
Dinâmica de ação coletiva e redes curadas por organizações. O conteúdo
é explicitamente patrocinado por uma organização partidária (e não pela
militância), uma empresa ou organização sem fins lucrativos, uma categoria
profissional ou entidade sindical específica (médicos, jornalistas, professores
etc.) e assim por diante.
Dinâmica de ação conectiva híbrida e redes catalisadas por
organizações. O conteúdo é resultado de ação de militância sem vinculação
explícita com organizações partidárias ou possui estreitas relações com
organizações e entidades que não são diretamente mencionadas no cenário
político. Nesta categoria incluem-se conteúdos criados pela militância como os
avatares de Facebook que utilizavam os slogans das campanhas de Dilma e
Aécio ou hashtags como #petralha #coxinha #fascista #comunista.
Dinâmica de ação conectiva e redes auto-organizadas. O conteúdo é
criação de um coletivo que não se constitui formalmente como organização.
Nesta categoria incluem-se conteúdos gerados espontaneamente com algum
teor de engajamento político, como p.ex. o #foradilma ou o #foratemer, etc.
Dinâmica de ação conectiva não-engajada. O conteúdo é resultado de uma
tendência ou comportamento não necessariamente atrelado a um particular
engajamento político, como photo fads, selfies etc. Nesta codificação incluem-
se fotos da televisão durante o debate eleitoral ou durante a votação do
impeachment p.ex. Dinâmica de ação popular de difícil classificação ou de
ambiguidade extrema.
35
Além destas categorias de classificação, os memes foram analisados de
acordo com variáveis formais e de conteúdo, variáveis relacionadas
diretamente à política e aos diferentes gêneros de memes. Assim, foi
identificada a presença de referências aos candidatos, as emissoras de
televisão, questões quanto à linguagem (popular ou culta), ao discurso
empregado (direto ou indireto), à voz do narrador, e muitos outros aspectos
que estudarei no futuro onde pretendo dar continuidade aos estudos em
memética.
36
diferenças nos partidos são cada vez menores e cada vez mais focadas em
apoiar grupos ao invés de ideologias.
37
Esse estopim na polarização ideológica entre esquerda e direita se
intensificou e resistiu de forma a se manter em pauta e assim se desenvolver
até as eleições presidenciais de 2014. A esquerda se mobilizou contra o projeto
neoliberal do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), e a direita
respondeu desenvolvendo sua ideologia em torno de um forte sentimento
contra o Partido dos Trabalhadores (PT). A maneira radical e até mesmo
conversadora do discurso da direita adquiriu elementos de ódio e fugiu do
debate puramente ideológico e político. A campanha das eleições de 2014 foi
extremamente tensa por esse motivo, aumentando assim as provocações e a
injúrias entre os partidários do PSDB e do PT. Durante o período eleitoral de
2014, diversos conflitos foram registrados em manifestações, principalmente
quando militantes da esquerda e da direita se encontravam nas ruas. A tensão
que existia na insatisfação geral da população se solidificou no discurso dos
dois partidos.
39
Com a realização de novos protestos em 2013, todo esse cenário
bipartidário foi literalmente virado de cabeça para baixo. Os protestos que
começaram com o Movimento Passe Livre, declaradamente de esquerda e
com foco de militância no transporte público, cresceram acima do esperado. A
partir do momento em que houve repressão tanto policial quanto do próprio
governo do Estado, a esquerda se uniu ainda mais e começou a se mobilizar e
a participar cada vez mais dos protestos.
40
território virtual apresentado pelo Facebook. A esquerda, representada por
militantes de partidos políticos como PSTU, PSOL e o próprio PT, e a direita,
que aqui se declarava apartidária, entraram em um conflito de interesses
constante. Nos protestos era possível ouvir gritos lado a lado de “Fora, Dilma” e
“Fora, Alckmin” e, logo após, vaias de ambos os lados. Dessa forma, a união
pela causa do passe livre rapidamente se desfez, e as pessoas começaram a
declarar e a sustentar suas próprias bandeiras. Passaram a dizer então que os
protestos não eram pelos 20 centavos do transporte público, mas pela total
insatisfação da população com a política e a sua representatividade no Estado.
41
depredando e queimando bandeiras de partido e agredindo manifestantes a
favor do PT.
42
Bobbio (1995) interpreta a radicalização tanto da esquerda quanto da
direita como uma ameaça á democracia. O extremo da radicalização é o ponto
em que a esquerda e a direita se aproximam. No caso das manifestações pelo
Passe Livre, a esquerda não chegou ao ponto da radicalização, já a direita
radicalizou-se e demonstrou um discurso de não tolerância, impedindo até
bandeiras de movimentos dentro dos protestos. Dessa forma podemos
entender que a direita, em minoria, tentou falar mais alto abafando os protestos
da esquerda.
43
1.7 – Nunca antes na história deste país uma eleição presidencial foi tão
disputada
44
manifestações de junho de 2013 que provocou um surto simétrico e antagônico
que permitiu a união de discursos contra a esquerda agora defendida e
representada pelo PT (LUCENA, 2014).
_________________________________
1
Deputado diz que quilombolas, índios e homossexuais são "tudo o que não presta". Vídeo gravado em audiência
pública com produtores rurais em Vicente Dutra (RS) registra discursos dos deputados Alceu Moreira (PMDB/RS) e
Luís Carlos Heinze (PP/RS), ambos da bancada ruralista, estimulando que agricultores usem de segurança armada
para expulsar indígenas do que consideram ser suas terras. 0'17". Disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=PjcUOQbuvXU>. Acesso em outubro de 2016.
45
como a do dia 29 de novembro de 2013 em audiência pública, quando afirmou
que “quilombolas, índios, gays e lésbicas, tudo que não presta” estariam
mandando no governo federal. Jair Bolsonaro (PP-RJ), ultraconservador
conhecido pelo seu discurso de ódio contra homossexuais, foi o deputado
federal com mais votos no Rio de Janeiro, com 464.572 votos. Outras
expressivas votações são a de Marcos Feliciano (PSC-SP), homofóbico,
protestante com 398.087 votos; a do delegado Waldir Soares (PSBD-GO),
deputado mais votado em Goiás; e a do policial militar Alberto Fraga, deputado
mais votado no Distrito Federal (BEDINELLI, 2014).
Sobre outro ângulo, o filósofo Pierre Lévy acredita que existe uma
ideologia por trás da política, que nasce da possibilidade de uma comunicação
sem fronteiras, não controlada pela mídia tradicional, buscando uma nova
identidade na própria rede. Com a presença de mais inteligência coletiva e
transparência da informação pública. Ele ainda argumenta que o debate
político pelas redes sociais é mais importante do que o resultado gerado por
ele. Para o filósofo não são as mudanças que o ciberativismo pode trazer para
os partidos políticos e sim o nascimento de uma nova consciência social, um
choque cultural que terá efeitos em longo prazo na sociedade brasileira. Lévy
46
acredita que a revolução promovida pelas redes sociais está acima de qualquer
evento emocional, social e cultural. É o experimento de uma nova forma de
comunicação que promove a revolução social destacando aqui que o filósofo
acredita ser normal que qualquer força social e política tente tirar vantagem da
mídia social. Mas é impossível “controlar” a rede social sendo apenas possível
então “tentar” influenciar tendências de opiniões ao longo do tempo em que o
indivíduo fica exposto a tecnologia da informação (LÉVY, 2013).
É importante também ressaltar aqui que toda essa onda tecnológica que
possibilitou a transposição do debate para as redes sociais aconteceu
principalmente por causa daquilo que Foucault chama de “dispositivo” e que
para ele tem o poder de servir como elo, como viabilizador da propagação do
poder através desses meios do saber digital. Esse dispositivo se expressa aqui
no papel do celular que para muitos brasileiros é o meio que permite o acesso
às redes sociais, no caso o Facebook. E dentro desse ambiente da rede social
48
os vínculos funcionam como meios de propagação de dispositivos, agora
virtuais, como notícias multimídia, opiniões e comentários, imagens
manipuladas e divulgação de eventos que juntos perpetuam o conteúdo visto,
consumido e debatido por seus seguidores.
1
Oito a cada dez internautas do Brasil estão no Facebook, diz rede social – Disponível em
http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2014/08/oito-cada-dez-internautas-do-brasil-estao-no-facebook-diz-rede-
social.html. Acesso em outubro de 2016.
49
Porém, a satisfação de um desejo faz com que o desejo morra. A
satisfação, portanto, não é a do consumo em si, mas o da realização do desejo
de consumo. Portanto, a satisfação em si é muito rápida, pois ao mesmo tempo
em que ela ocorre, ela deixa um vazio que é a falta do desejo já realizado. É
necessário então que se crie um novo desejo para um novo consumo.
Podemos assim analisar que a direita que migrou das passeatas e protestos
para as redes sociais procurava uma nova ideologia política para se polarizar
com a esquerda militante e assim encontrar o seu lugar na polarização das
ideias e se posicionar perante a massa de brasileiros insatisfeitos com o
governo do PT.
50
um produto. A opção de construir esse cenário de conforto e intimidade veio
com as relações entre as pessoas em primeiro lugar. Todos podem ser amigos
no Facebook. Esses amigos são o limite do que o autor descreve na sociedade
líquida como as conexões (BAUMAN, 2001). O homem deixa de ter amigos, as
relações são feitas por conexões que são relações frágeis baseadas em
interesse e que podem ser descartadas sem grande custo para a maioria. Igual
a um produto, essa conexão baseada em interesse pode ser consumida e
descartada rapidamente, assim, nessa modernidade as pessoas também
passam a ser descartáveis. O Facebook tem um recurso que te ajuda a
encontrar novas conexões baseadas em interesses em comum. Dessa forma,
se você perde um ponto de conexão da sua rede, você normalmente pode se
conectar com outras e manter o desejo de fazer parte da rede social.
51
mesma forma que faria com uma campanha publicitária para o lançamento de
um produto ou serviço.
52
CAPÍTULO 2 – MEMES, CAPITAL SOCIAL E O
FACEBOOK.
53
na verdade um resumo daquilo que ela representa. “E tal poder mágico,
inerente à estruturação plana da imagem, domina a dialética interna da
imagem, própria a toda mediação, e nela se manifesta deforma incomparável.”
(FLUSSER, 1985, p. 07).
2.2 - O poder das imagens nas redes sociais: a ascensão dos memes
54
um “sistema de crenças, ou formas e práticas simbólicas”. De acordo com
Thompson (2002), os fenômenos simbólicos só podem ser compreendidos
como ideológicos quando situados em seu contexto socio-histórico. Para o
autor, poderemos constatar se os fenômenos simbólicos estabeleceram e
sustentaram relações de dominação – que podem ser entre homens e
mulheres, entre grupos étnicos ou entre grupos do Facebook, em nosso caso –
“[...] somente ao examinar as maneiras como as formas simbólicas são
empregadas, transmitidas e compreendidas por pessoas situadas em contextos
sociais estruturados” (THOMPSON, 2002, p. 78).
55
imagem tradicional para resultar em textos
(abstração de segundo grau); depois,
reconstituem a dimensão abstraída, a fim de
resultar novamente em imagem. [...] Por uma
questão de ordem, as imagens tradicionais
imaginam o mundo; as imagens técnicas
imaginam textos que concebem imagens que
imaginam o mundo. Essa posição das imagens
técnicas é decisiva para o seu deciframento. [...] O
caráter aparentemente não simbólico, objetivo,
das imagens técnicas faz com que seu observador
as olhe como se fossem janelas e não imagens. A
aparente objetividade das imagens técnicas é
ilusória, pois na realidade são tão simbólicas
quanto o são todas as imagens. Devem ser
decifradas por quem deseja captar-lhes o
significado.”
56
2.3 – Duas maneiras de entender o papel dos memes
57
um evento digital surge através da “prática de construção ou produção
linguístico-midiática primária (por exemplo: um internauta digita letras no
teclado e associa textos a uma imagem que ele mesmo cria ou que lhe foi
passada anteriormente. Assim, a imagem ganha destaque, se difundido de tela
em tela, a representação multimodal segue adiante, através de mecanismos de
destaque, frequência de menção e visualização, comuns nas redes sociais)”.
1
Figura 1 – variações de um meme político
_______________
1
Fonte: The meme politics and the political memes - Trabalho apresentado no VI Congresso da
Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação e Política (VI COMPOLÍTICA), na
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), de 22 a 24 de abril de 2015.
58
pelo Facebook, é impossível caracteriza-los em tempo real, pois somente em
retrospecto conjunto de elementos que compõe o meme, ganha sentido. Ou
seja, os memes são uma experiência e ao mesmo tempo um relato de
memórias sociais. Traduzi-los desta forma implica em reconhecermos todas as
três imagens acima como pertencentes a um mesmo meme, ainda que
integrem famílias distintas (os macros, os look-alikes etc.).
59
dessas características (fidelidade, fecundidade e longevidade) garantem que os
memes podem se reproduzir com mais eficiencia via rede” (HEYLIGHEN, 1994,
p. 5).
60
Castells (2003) determina que à estrutura da rede promove a ascensão
do individualismo (“individualismo em rede”), salientando neste fato a
importância do papel do indivíduo na construção da sua própria rede social.
Dessa forma o Facebook é ao mesmo tempo social e individual. Segundo o
autor, na rede o indivíduo escolhe com quem irá interagir. “O individualismo em
rede é um padrão social, não um acúmulo de indivíduos isolados. O que ocorre
é que indivíduos montam suas redes, online e off-line, com base em seus
interesses, valores, afinidades e projetos” (Castells, 2003, p.109). As formas de
se expressar em uma rede social acontecem no estabelecimento de interações
entre os usuários da rede. Essas interações são dinâmicas e permitem
estabelecer os relacionamentos que surgem na rede e que chamamos de laços
sociais. Os laços podem ser fortes ou fracos de acordo com a qualidade das
interações e das trocas sociais realizadas entre os usuários. Laços fortes são
aqueles que se caracterizam pela intimidade e pela proximidade dos usuários e
dentro do cenário político brasileiro, com a divisão ideológica entre direita e
esquerda, foi possível perceber como esses laços se fortificaram através do
uso diário do Facebook como arena política de debates.
62
transformação. Essas transformações são largamente influenciadas pelas
interações que ocorrem dentro da rede social. É possível existir interações que
venham a somar e construir um determinado laço social e interações que
venham enfraquecer ou mesmo destruir outro laço ou a própria rede social.
Dessa forma, o primeiro elemento que deve ser destacado para o estudo
das redes sociais como elemento dinâmico é o aparecimento da cooperação,
da competição e do conflito, entre os usuários da rede, como processos sociais
que influenciam a forma e o conteúdo da mesma.
63
à agressão. Para que exista a competição, não é necessário um antagonismo
concreto, enquanto no conflito, sim.
65
processo de conflito seria tão importante quanto o de cooperação, para permitir
que os grupos continuassem em tamanhos nos quais fosse possível a todos os
seus membros interagir socialmente.
Mediante esse cenário descrito acima, como definir e depois como medir
o valor desse capital social que circula no Facebook? Como são construídos,
compartilhados e como podem influenciar os usuários das redes sociais?
Abordando os tipos de capital social de Bertolini e Bravo (2001) podemos dizer
que a primeira mudança significativa que o Facebook proporcionou foi
relacionada com o capital social relacional, ou seja, com as conexões
construídas, mantidas e amplificadas dentro do Facebook. Em essência, redes
sociais permitem que seus usuários aumentem suas conexões sociais. No
entanto, essas conexões não são iguais às conexões da vida off-line, pois
essas em sua maioria são conexões mantidas pelo algoritmo do Facebook e
não pelas interações sociais aumentando assim a conectividade dos grupos
sociais e promovendo os clusters.
69
muito bem como entender esse conceito para que todo o resto do processo
investigativo possa seguir um padrão.
Para Coleman, o capital social não está nos usuários, mas na estrutura
das relações sociais. Assim o capital social poderia ser transformado em outras
formas de capital como exemplos as organizações, que permitem aos
indivíduos atingir seus objetivos; a força dos laços sociais, que permite que
transações aconteçam com confiança. O apoio que um usuário solicita a um
grupo, por exemplo, pode ser concedido pelo grupo, mas jamais como um todo,
e sim unicamente através da ação dos indivíduos que fazem parte do mesmo.
Ao mesmo tempo, a solicitação de apoio tem suas bases na confiança de que
este apoio será obtido de uma ou várias pessoas no grupo. Tais relações têm
base individual, embora sejam compreendidas como coletivas.
72
Estes dois conceitos complementam a compreensão do que pode vir a
ser o capital social mediado pela presença dos memes. Mesmo se
apresentando como um conjunto de recursos coletivos (Putnam e Bertolini e
Bravo), ainda sim são recursos que estão agregados às relações sociais e,
simultaneamente, são definidos e moldados pelo conteúdo destas relações.
Por isso, o capital social dos memes pode ser identificado, pelos indivíduos,
através da mediação simbólica da interação (Bourdieu) e, ao mesmo tempo,
através de sua participação às estruturas sociais. É por isso que podemos
entender que através do aprofundamento de um laço social o capital social
pode ser acumulado, (laços fortes permitem trocas mais amplas e íntimas),
potencializando assim o sentimento de grupo ou aqui no caso, uma página do
Facebook. Partindo da discussão desses conceitos, vamos considerar aqui o
capital social como um conjunto de recursos de um grupo (recursos variados e
dependentes da função do grupo, como afirma Coleman) que pode ser usado
por todos os membros do grupo, mesmo que individualmente, e está baseado
na reciprocidade (Putnam) e ao mesmo tempo dentro das relações sociais
(Bourdieu) e é determinado pelo conteúdo dessas relações (Bertolini & Bravo,
2001). Portanto, para que se estude o capital social do Facebook, é preciso
estudar suas relações e o conteúdo das mensagens/imagens que são trocadas
pelos seus usuários.
74
ele aparece nas redes sociais e como ele promove a evolução das estruturas
para um possível terceiro nível de capital social.
75
2.8 – Visibilidade, Reputação, Popularidade e Autoridade
79
Na tabela a seguir um resumo das observações com relação aos tipos
de capital social discutidos.
Visibilidade Relacional
Popularidade Relacional
O estudo das características dos memes mostra que há valores que são
criados e difundidos nas redes sociais online, valores esses que são
associados ao capital social. Alguns desses valores são fundamentalmente
importantes para a difusão de informações, tais como a autoridade, a
popularidade e a influência, que são atribuídos aos usuários. Esses valores são
influentes principalmente por conta das redes sociais como o Facebook. E a
existência de redes como o Facebook implicam mudanças expressivas nos
80
modos através dos quais esses valores são construídos e promovidos. Isso por
que existe um maior controle nos meios digitais e segundo, porque esses
valores são alterados quando trazidos para a rede. Autoridade, popularidade e
influência são valores relacionados com o capital social observado nas redes
sociais, mas são valores diferentes entre si. Portanto a presença de memes é
relacionada ao capital social, na medida em que a motivação dos usuários para
espalhá-las é, direta ou indiretamente, associada a um desses valores citados
anteriormente. Por exemplo, as pessoas que espalham os recados com
imagens acreditam estar fazendo algo positivo, que deixará aquele que
recebeu a mensagem contente. Portanto, existe uma intenção na construção,
repetição e aprofundamento de um laço social, que é ultimamente explicado
pela necessidade de capital social. Do mesmo modo, muitas pessoas que
espalham mensagens de vírus e informações o fazem com a intenção de
auxiliar e mostrar-se bem informadas, o que também pode ser associado à
construção de capital social. Mas como podemos relacionar os valores de
capital social, o valor da informação e o valor para o usuário da rede social?
81
capacidade de influência. Esse tipo de usuário também pode divulgar memes
do tipo replicadores, simplesmente agregando um julgamento de valor.
82
Tabela 3: Tipos de meme e valores gerados
83
CAPÍTULO 3 – RESULTADOS E DISCUSSÕES SOBRE A
BASE EMPÍRICA: OS MEMES VIERAM PARA FICAR.
TABELA 4
Tipo de meme N %
Persuasão 151 57,63%
Ação popular 61 23,28%
Discussão pública 50 19,08%
Total 262 99,99%
84
QUADRO 2
TABELA 5
Tipos de memes por Partido/Movimento1
85
QUADRO 3
QUADRO 4
QUADRO 5
86
QUADRO 6
QUADRO 7
TABELA 6
Memes Persuasivos por Partido/Movimento
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propositiva sedutora ético-moral crítica
PT 3 22 22 46 0 93
PSDB 3 4 14 12 0 33
PMDB 0 3 0 8 0 11
Movimento Contra a Corrupção 0 1 3 8 0 12
Quebrando o Tabu 0 0 1 1 0 2
TOTAL 6 30 40 75 0 151
QUADRO 8
QUADRO 9
QUADRO 10
88
QUADRO 11
QUADRO 12
89
Os memes de ação popular permitem destacar aspectos interessantes.
(ver Tabela 7). Um fato que se destacou foi a grande quantidade de memes de
“ação conectiva hibrida” compartilhados pelo MCC (Movimento Contra a
Corrupção) na intenção de mostrar a existência de grupos de militância sem
vinculação explícita com organizações partidárias ou que possuem estreitas
relações com organizações e entidades que não são diretamente mencionadas
no cenário político, mas que crescem constantemente no território do
Facebook. Esse dado mostra como o processo de engajamento partidário-
político já migrou para o Facebook e se adaptou aos memes para manter seu
posicionamento e ideologia disponíveis para as massas. Aqui novamente é
possível perceber o uso de dados da imprensa explorados como argumentos
de veracidade para alavancar o capital social do meme.
90
TABELA 7
Memes de Ação Popular por Partido/Movimento
Por outro lado, a análise dos memes de discussão pública (ver Tabela 8)
ressalta o fato de que, entre os partidos e os movimentos que protagonizaram
esta pesquisa, o PMDB foi nulo no uso de memes de Discussão Pública,
chegando a ser superado, neste quesito pelo PT, que durante esse tempo
também se utilizou muito pouco dos memes de Discussão Pública. Dilma
Roussef é a pessoa que figura em muitas “piadas situacionais”, ao passo que
Lula é o vencedor na categoria “piadas sobre personagens da política”, que
exploram a sátira aos próprios candidatos ou outros políticos, e em “alusões
culturais”, a maior parte em menções e referências a filmes e programas de
televisão.
TABELA 8
Memes de Discussão Pública por Partido/Movimento
Outro fator que deve ficar registrado é que na divisão geral temos uma
evolução gradual do número de memes postados. Enquanto em 2014 temos
um total de 76 memes analisados, em 2015 esse número caiu para 56, mas em
92
2016 analisamos 130 memes no mesmo período das coletas anteriores
(aumento de 171% entre 2014 e 2016). Isso nos mostra que tanto os partidos
quanto os movimentos aumentaram o número de memes publicados para os
mais variados assuntos. As páginas analisadas tem um impacto muito grande
se analisarmos a quantidade de indivíduos que as compõem: PT (1.149.651
integrantes), PMDB (65.398 integrantes), PSDB (1.328.892 integrantes), MCC
(3.112.093 integrantes) e QOT (6.190.824 integrantes). Somadas elas
interagem com aproximadamente 11.846.858 pessoas enviando memes com
conteúdo relacionado tanto a esquerda quanto a direita.
93
CONSIDERAÇÕES FINAIS
94
É impossível negar, portanto que o Facebook possa ser usado como
instrumento político e lugar de visibilidade das lutas ideológicas entre esquerda
e direita, uma vez que atualmente parece não haver outro lugar de visibilidade
senão o virtual. Todavia, uma indagação dever ser feita: o que o Facebook e
suas ferramentas oferecem não podem ser danosos ao processo político como
um todo? Devido ao fato do Facebook promover uma linha seletiva por divisão
de conteúdo é permitido ao indivíduo ter acesso apenas aquilo que lhe agrada
em primeiro momento. Essa divisão não promove o debate, pelo contrário,
promove um discurso unanime.
Diante dessa partidarização não pode haver dúvida de que uma nova
forma de política digitalmente mediada é um componente crucial da revolução
provocada pela internet. Ela já é utilizada para o estabelecimento de agendas
de baixo para cima, capacitar os cidadãos a falar-se em uma esfera pública
interligada, e empurrando os limites da ação coletiva. Em particular, os memes
políticos tem mudado a natureza da campanha política e continuarão a
desempenhar um papel estratégico em futuras eleições e campanhas políticas.
Com efeito, cumpre aqui chegar ao fio da meada lembrando uma fala de
Castells (2015), que demonstra um dos motivos do crescimento dos memes
políticos do Facebook. Ele conclui: “O que é certo é que a comunicação dos
jovens passa pelas redes sociais, e por isso os partidos e movimentos de todo
tipo intervêm nas redes sociais, porque a única coisa segura sobre o futuro é
que são os jovens de hoje que o farão. Quem mais influenciar a mente dos
jovens no espaço da comunicação construirá as bases do poder – conservador,
reformista ou revolucionário – no Brasil”.
96
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