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ESPECIAL
CONTRATAÇÃO PÚBLICA
O que vai mudar
na contratação
pública em Portugal
Entrevista a Artur Trindade Mimoso:
“É urgente profissionalizar
a função do comprador público” | PIV
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II | 15 dezembro 2017
ESPECIAL CONTRATAÇÃO
FORMAÇÃO PÚBLICA
Metas
de simplificação
e flexibilização
por atingir?
A revisão do CCP, fruto da necessidade de alinhar o código português com
as diretrizes europeias da contratação pública,entra em vigor a 1 de janeiro.
ção, “são poucas as alterações que ção de um critério de adjudicação em
SÓNIA BEXIGA têm esses objetivos ou que os conse- que não seja submetido à concorrên-
sbexiga@jornaleconomico.pt guem efetivamente atingir”. Por cia o preço ou o custo a suportar.
exemplo, na consulta preliminar ao Em seu entender, “também não é
Aquando da publicação em Diário da mercado (visando dar agora guarida verdade que exista qualquer desbu-
República do novo Código dos Con- legal a uma atividade informal que as rocratização dos procedimentos.
tratos Públicos, em setembro último, entidades adjudicantes sempre reali- Pelo contrário, algumas alterações
o Governo sublinhava que o diplo- zaram) é imposta a obrigação de in- são tiques burocráticos: a circunstân-
ma - em vigor a 1 de janeiro de 2018 cluir nas peças procedimentais todas cia de os anúncios dos concursos
- pretende “simplificar, desburocra- as informações pertinentes que fo- passarem a ser considerados peças do empresa, provocarão certamente Do ponto de vista estrito da políti-
tizar e flexibilizar os procedimentos ram trocadas”. Por outro lado, acres- procedimento implicou que as suas uma maior dispersão das adjudica- ca de procurement, considera que a
de formação de contratos públicos”, centa, estas entidades passam a ter a minutas tenham de ser aprovadas ções, e, consequentemente uma única alteração ao CCP que “pode
bem como, “aumentar a eficiência da obrigação de promover procedi- pelos órgãos decisores, o que dantes maior abertura dos mercados públi- realmente fazer a diferença” em ter-
despesa pública e facilitar o acesso mentos de contratação em que a ad- não era necessário sem que tal afetas- cos às PME”. Considera também mos concorrenciais é a permissão
aos contratos públicos”. judicação será feita por lotes, a fim de se a regularidade do procedimento”. “muito positivo”, a fixação da pro- para as entidades adjudicantes nego-
Evidenciando ainda que, fruto promover o acesso das PME aos Em matéria de flexibilização, afir- posta “economicamente mais vanta- ciarem o conteúdo das propostas na
das alterações introduzidas para mercados públicos. Porém, “a não di- ma que “nenhuma das alterações in- josa” como critério de adjudicação. generalidade dos concursos públicos
adaptação às diretivas europeias, o visão do objeto do contrato em lotes troduzidas a promove, muito prova- em que o preço base seja inferior aos
decreto-lei passa a considerar como implica para a entidade adjudicante a velmente porque é uma miragem”. Celeridade e concorrência limiares europeus. “Mas receio que
“critério regra” para adjudicação o obrigação de fundamentar as razões Salientando que os procedimentos No que concerne a celeridade, João seja uma alteração sem consequên-
da proposta economicamente mais dessa não divisão, mesmo que essa são “formais e obedecem a regras es- Amaral de Almeida defende tratar-se cias práticas, tendo em conta a cultu-
vantajosa, “tendo por base a melhor fundamentação seja a própria incin- tritas em nome da segurança jurídica de “um erro ou uma ingenuidade ra dominante da nossa Administra-
relação qualidade/preço e o preço dibilidade do objeto do contrato”. e da igualdade de tratamento”, acres- acreditar que a celeridade dos proce- ção Pública, pouco habituada às di-
ou custo, utilizando uma análise A estes “exemplos paradigmáticos centa que “a inovação que consiste na dimentos de contratação pública se nâmicas negociais”, remata.
custo-eficácia, nomeadamente os de que os procedimentos não serão possibilidade de serem supridas ‘irre- obtém à custa da redução dos prazos Já Jorge Macara considera ser “cla-
custos do ciclo de vida”, o Governo mais simples de organizar”, João gularidades’ das propostas não terá mínimos fixados na lei para a apre- ro” o impulsionar da celeridade, justi-
assegurava ainda que “continua a Amaral e Almeida junta ainda a obri- sequer aplicação digna de registo, já sentação das propostas”. Na sua óti- ficamndo, desde logo, com o encurta-
ser possível adjudicar pelo preço gação de as adjudicantes terem de que as formalidades impostas pelo ca, “a experiência e a prática ensinam mento de “praticamente” todos os
mais baixo, quando for esse o crité- fundamentar o “valor estimado do CCP são, todas elas, essenciais”. que o ‘gargalo’ reside sobretudo no prazos como, por exemplo, na sub-
rio mais adequado”. contrato”, a decisão de contratar, o Também para Jorge Macara, VP relaxe em que sistematicamente in- missão de propostas em concurso
Recorde-se que o decreto-lei 111- preço base – agora obrigatório no ca- Iberia na Vortal, o CCP revisto não correm as entidades adjudicantes público que foi reduzida, a introdu-
-B/2017 procede à nona alteração ao derno de encargos –; o limiar do pre- trará “alterações significativas” às re- quando chegam à fase de tomarem a ção de um prazo para o júri elaborar e
CCP, aprovado pelo decreto-lei ço baixo e os próprios critérios da fi- lações comerciais entre as empresas e decisão de adjudicação. Por outro disponibilizar o relatório preliminar
18/2008, e transpõe as diretivas eu- xação desse limiar; bem como a ado- o Estado. Ainda assim, identifica lado, se é verdade que esta alteração bem como para a audiência prévia
ropeias 2014/23/UE, 2014/24/EU, como maior impacto, a introdução do CCP reduz os prazos mínimos (ambos, três dias na consulta prévia).
2014/25/EU e 2014/55/UE sobre do novo procedimento por consulta para a apresentação das propostas,
adjudicação de contratos de conces- prévia. “Sendo obrigatório convidar importa prestar atenção à circuns- O “peso” da faturação eletrónica
são, contratos públicos e faturação A partir de novembro no mínimo três empresas, antecipa- tância de a fixação de prazos curtos A revisão do CCP estabeleceu a
eletrónica nos contratos públicos. de 2018, os Estados mos que esta alteração vá obrigar, a ser muitas vezes uma forma de redu- transposição da Diretiva Comunitá-
que as compras sejam feitas de uma zir a concorrência. Por outro lado, ria 2014/55/EU para a legislação na-
Principais metas Membros deverão forma mais estruturada com níveis com prazos curtos para apresentação cional, vinculando a obrigatoriedade
Sobre o impacto da nova legislação, comunicar de concorrência superiores. Esta al- das propostas e passando os concor- da Faturação Eletrónica para contra-
João Amaral e Almeida, docente da teração legislativa, conjugada com o rentes a ter apenas o primeiro terço tos de natureza pública. As alterações
Faculdade de Direito da Universida- à Comissão Europeia facto de também ter sido revisto o desse prazo para apresentarem as lis- irão alicerçar a desmaterialização in-
de Católica Portuguesa e coordena- as disposições critério de apuramento dos montan- tas de erros e omissões do caderno de tegral do processo de compras na
dor da pós-gradução em Direito e tes adjudicados a uma empresa, a encargos, “serão cada vez maiores os Administração Pública, desde o pe-
Prática da Contratação Pública, con- legislativas que irão partir dos quais a adjudicante fica li- casos em que não lhes é exigível que dido interno, passando pela tramita-
sidera que embora o diploma refira ser aplicadas em mitada a voltar a convidar para um detetem esses erros e omissões, obri- ção e adjudicação do procedimento
que as inovações se centram, essen- ajuste direto ou consulta prévia, que, gando as entidades adjudicantes a su- público, celebração de contrato, até à
cialmente, na procura da simplifica-
matéria de Faturação deixa de ser por categoria e passa a portar por inteiro os custos financei- receção da fatura.
ção, desburocratização e flexibiliza- Eletrónica ser por valor global já adjudicado à ros do seu suprimento”. Tendo por base a experiência al-
15 dezembro 2017 | III
ESPECIAL CONTRATAÇÃO
FORMAÇÃO PÚBLICA
“É urgente profissionalizar
a função do comprador público”
Na ótica de umas das várias entidades adjudicantes, as alterações ao CCP vão traduzir-se em melhorias de gestão,
tanto para a Saúde como para os restantes setores da economia nacional.
va que trará alguma complexidade
SÓNIA BEXIGA inicial mas certamente e como
sbexiga@jornaleconomico.pt aconteceu em 2008, estabilizará e
que é a possibilidade do júri do
Artur Trindade Mimoso, vogal concurso deve pedir aos concor-
Executivo do Conselho de Admi- rentes que corrijam irregularida-
nistração na Empresa Pública do des nas propostas apresentadas,
Estado – Serviços Partilhados do desde que a correção não altere o
Ministério da Saúde, desde 2014, conteúdo da proposta, evitando
aprofunda o cenário das alterações assim a exclusão da mesma por
ao CCP na esfera da Saúde. motivos ou formalidades não es-
senciais.
Com a Nova Lei da
Contratação Pública, de que Considera que estas alterações
forma se alteram os processos favorecem a celeridade e a
de gestão no setor da Saúde? concorrência?
As medidas de simplificação, des- A maior prova de celeridade na
burocratização, flexibilização, de tramitação procedimental é o en-
transparência, boa gestão pública e curtamento do prazo de apresenta-
melhor interpretação da lei agora ção de propostas ou de candidatu-
introduzidas permitirão já em ja- ras que em alguns casos e situações
neiro de 2018, melhorar a tramita- reduzem até menos 15 dias nesse
ção dos procedimentos de aquisi- prazo. A redução de prazos na fase
ção de bens e serviços no setor da da outorga do contrato. Não me-
saúde, bem como em todos os ou- nos importante é a fusão dos dois
tros setores dos Estado. Como é regimes de esclarecimentos e erros
sabido o regime jurídico de con- e omissões num “Esclarecimentos,
tratação pública é um regime téc- mentará significativamente, o Es- dade das parcerias para a inovação, dificuldades existentes na tramita- retificações e suprimento de erros
nico-jurídico de elevada complexi- tado não poupará diretamente, que creio que será na saúde onde as ção procedimental acontecem por e omissões”, simplificado e dotan-
dade, assim, toda e qualquer medi- uma vez que esgotará o budget de mesmas vingarão mais. As mes- esta falha em ambos os lados, com- do o procedimento de maior cele-
da de simplificação administrativa uma programa de saúde, mas che- mas serão utilizadas quando a es- prador e vendedor, falta de conhe- ridade. Outra medida de celeridade
e celeridade procedimental será gará a mais pessoas, que na minha pecificidade dos contratos conte- cimento técnico-jurídico do regi- é o alargamento da simplificação
determinante no dia-a-dia do Es- opinião na saúde é a melhor forma nham atividades de investigação me. Ultrapassada esta dificuldade procedimental em empreitadas,
tado e das empresas. Na área da poupar, prevenindo doenças ou para o desenvolvimento de bens, inicial de ambos os lados se depa- através do ajuste direto simplifica-
saúde destacaria como marcos im- estados mais críticos que oneram serviços ou obras não disponíveis rarem com o novo diploma total- do com um prazo de tramitação
portantes nesta revisão: a introdu- mais o país. Por que é impossível no mercado, tendo em vista a sua mente revisto, creio que as altera- muito reduzido. E por último des-
ção de um novo regime simplifica- destacar todas novidades impor- aquisição posterior, por exemplo, ções ao CCP revisto terá um im- tacar um maior apelo à tramitação
do para serviços de saúde, serviços tantes para a saúde, destaco a novi- medicamentos ou dispositivos mé- pacto muito positivo para as em- eletrónica e digitalização dos pro-
sociais e outros serviços específi- dicos inovadores. presas, na desburocratização, cedimentos. Como medidas de
cos de valor superior a 750 mil eu- como por exemplo a centralização promoção da concorrência, para
ros; a obrigatoriedade da divisão Como antevê o impacto junto de todos os documentos de habili- ale das já mencionadas, acrescenta-
em lotes e a possibilidade de limi- das empresas? tação numa única base de dados ria, o ‘self-cleaning’, ou seja, a rele-
tar a adjudicação de um número de No início de janeiro, antevejo al- das centrais de compras, como a vação de alguns impedimentos
lotes; o esforço de que haja uma in- gumas dificuldades tanto para o SPMS, promoção da concorrência, desde que o concorrente demostre
versão do critério de adjudicação Estado como para as Empresas, o com a obrigatoriedade de divisão que se libertou daquela situação ou
do mais baixo para a proposta eco- regime da contratação pública é em lotes, permitindo o acesso de está em vias de o fazer, como por
nomicamente mais vantajosa per-
No início de janeiro, muitíssimo complexo e existe um pequenas e médias empresas aos exemplo: medidas adotadas pelo
mitindo desta forma que se atinja antevejo algumas enorme deficit na formação dos mercados públicos, redução dos candidato ou concorrente para de-
uma melhoria significativa da qua- dificuldades tanto técnicos da administração pública, valores do ajuste direto e introdu- monstrar que recuperou a sua ido-
lidade da prestação de cuidados de que todos os dias trabalham nesta ção da consulta prévia com obriga- neidade. E também a avaliação da
saúde. Destacaria como muito re- para o Estado como área, e como é óbvio também nas toriedade de consulta pelo menos a performance da prestação do con-
levante na área da saúde a possibi- para as empresas, próprias empresas. Por um lado, três entidades, possibilidade de de- corrente em anteriores contratos,
lidade de colocar um preço máxi- na Administração Pública é urgen- finir um valor de caução inferior a premiando desta forma aqueles
mo no concurso e não submeter o o regime te formar os seus quadros e profis- 5% e possibilidade de liberação da que executam o contrato com toda
preço à concorrência, isto é, defi- da contratação pública sionalizar a função do comprador caução de forma gradual no decor- a diligência e o cumpre pontual-
nir/fixar padrões de qualidade ele- público como já é referenciado em rer da execução do contrato, maior mente daqueles que não o fazem, é
vada, definir um preço fixo/máxi- é muitíssimo complexo vários diplomas europeus, por ou- regulação dos contratos públicos, uma forma de promoção da con-
mo e o que submeto à concorrên- e existe um enorme tro lado as empresas devem dotar reforço do recurso a arbitragem corrência com grande benéfico
cia é por exemplo a quantidade. os seus quadros de vendedores de como forma de ultrapassar a de- para o interesse público na satisfa-
Certamente a abrangência na deficit na formação bens e serviços ao Estado. Esta se- sonra na resolução de litígios, e so- ção do interesse geral e racionaliza-
prestação de cuidados de saúde au- dos técnicos” ria a fórmula perfeita. Muitas das bretudo uma melhoria significati- ção do erário publico. ●
15 dezembro 2017 | V
OPINIÃO
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VI | 15 dezembro 2017
ESPECIAL CONTRATAÇÃO
FORMAÇÃO PÚBLICA
PEDRO MATIAS PEREIRA PEDRO MELO PAULA BAPTISTA FERNANDES SÉRGIO DEUS AFONSO DUARTE ABECASIS
Advogado Associado da TELLES Sócio da PLMJ Advogada Associada da pbbr VIEIRA CHOON Sócio coordenador de Direito
Advogados Advogados da UM-PC Público da Cuatrecasas
As alterações ao Código de Contratação Pública, em vigor a partir do próximo dia 1 de janeiro, respondem à obrigatoriedade
de transpor as diretrizes europeias sobre esta matéria e pretendem operar modificações significativas na dinâmica estabelecida
entre entidades públicas e o tecido empresarial português, com as PME a ser, unanimamente, reforçadas e a poder ocuopar
um lugar de destaque. Em prol da transparência, simplificação e flexibilidade, Portugal passa a ter novos focos: por um lado,
a cooperação e, por outro, a inovação em produtos e serviços.
JOSÉ EDUARDO MARTINS SANDRA TAVARES MAGALHÃES HUGO CORREIA MIGUEL LORENA BRITO DAVID COELHO
Sócio Abreu Advogados, Advogada da Miranda Advogado da DLA Piper ABBC Sócio da FCB Sociedade Sócio da PRA-Raposo,
responsável Direito Público & Associados de Advogados Sá Miranda & Associados