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Análise Psicológica (1989).

1-2-3 (Vil): 215-219

Novas perspectivas da Psicologia Social:


a Psicologia do Espaço e suas aplicações

CARLOS JOSÉ BARRACHO (*)

i. INTRODUÇÃO problemas mais ou menos teóricos de uma


abordagem ambiental e limitar-nos-emos a
As investigações no domínio da ((Psico- uma apresentação de algumas ideias de
logia do Espaço)) começaram há bem pouco fenomenologia, bem assim como as suas
tempo, mais concretamente a partir dos aplicações àquela abordagem.
anos 60.Para tal contribuíram, entre outros, A abordagem fenomenológica define a
investigadores como Goffman, Sommer, Psicologia como o estudo científico do
Barker, Hall, Carpenter, Hediger, Prohans- homem em situação, ou seja, a análise psi-
ky, Ittelson, Moles, Stea, etc. ('). cológica da experiência ou do comporta-
A elaboração de um quadro teórico como mento do homem (enquanto que tal ela
orientação teórica é muito recente e o maior centra-se sobre o indivíduo), quer se trate de
problema foi o da utilidade da teoria beha- pessoas ou de personalidades, utilizando da
viorista e da sua aplicação A Ecologia, Meio mesma maneira a palavra «situação», mas
Ambiente e, nomeadamente, Psicologia do a concepção fenomenológica do homem em
Espaço. situação difere sensivelmente da definição
Propomos referenciar fundamentos mais anterior.
adequados tt investigação dos domínios cita- Tanto a escola fenomenológica como a
dos, os quais têm a sua origem no pensa- ecológica são muitas vezes mal interpreta-
mento fenomenológico. das pela ((PsicologiaAcadémicav. São cor-
rentes os debates polémicos entre os
2. A PERSPECTIVA DA fenomenologistase os representantes da psi-
PSICOLOGIA FENOMENOLÓGICA cologia experimental.
A Psicologia Fenomenológica não é nem
Não propomos uma introdução, mas sim uma teoria nem um método, mas sim uma
uma contribuição ao esclarecimento dos análise de investigação fundada sobre impli-
cações teóricas e metodológicas, e não uma
~

(*) Assistente no ISPA. Investigador da Universi-


dade Louis Pasteur. teoria fechada, q.d., uma «outra Psico-
(') O termo ((Psicologia do Espaço)) foi criado logia)).
por A. A. Moles em 1966 e introduzido no seu curso, Neste sentido, ela não pode ser uma meta-
leccionado em Estrasburgo. -teoria na acepção técnica do termo, e por

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tanto, mesmo que nós consideremos a feno- dente, como a geografia perante a paisagem,
menologia somente como uma atitude teó- onde nós aprendemos primeiramente o que
rica a adoptar no domínio das ((ciênciasdo é uma floresta, uma pradaria ou uma ribei-
comportamento)), poderemos tirar certa- ra.»
mente algumas conclusões para a Psicolo- Por que foi esquecida a experiência pri-
gia do Meio Ambiente e do Espaço. mordial que fazemos do Mundo? Porque
pusemos de lado o «espaço» do Mundo que
habitamos, com os seus lugares diferencia-
3. A FENOMENOLOGIA DO ESPAÇO dos, heterogéneos, as direcções dos sentidos,
E PERCEPÇÃO em outros termos, a espacialidade do
Mundo ao qual pertencemos foi remetida
A Psicologia Fenomenológica centra-se para a esfera da aparência subjectivo-rela-
sobre a situação. O interesse primordial tem tiva sem que esta se dissolvesse face ao escla-
acento no homem em situação. Dito de recimento científico?!
outra maneira, uma situação constitui-se Isto quer dizer que se desprende do que
segundo a perspectiva dos sujeitos em si é pertinente para o pensamento tanto o
mesmos, abrangidos por ela. Longe de ser espaço enquanto habitado (pois que não
uma simples adição de estímulos agindo remetemos senão a representação do espaço
sobre o indivíduo, a situação é, ao contrá- exigido pelo conhecimento físico-matemá-
rio, um conjunto estruturado por actos tico da natureza) como o sujeito enquanto
intencionais. habitante, quer dizer, tanto como pelo seu
A análise intencional, orientada para um movimento próprio de existir, ele (homem)
objectivo, de situações concretas, é o pri- permite, também, espacializar: proteger-se,
meiro passo para a investigação fenomeno- caminhar, orientar-se, ordenar os espaços
lógica em Psicologia. A Fenomenologia do necessários a sua existência, enfim, dar lugar
Espaço, enquanto que movimento do pen- às diferentes instituições da sua vida comu-
samento, é um caminho que cada um deve nitária.
percorrer por si, abrindo-o a custa dos seus Mas que nos traz de novo uma fenome-
próprios riscos e perigos. nologia da percepção a questão do espaço?
Segundo Husserl, «é necessidade do pen- Em primeiro lugar, é preciso reconhecer
samento ter em consideração a nossa expe- que ela esclarece e desfaz as dificuldades
riência primordial do Mundo, a sua abertura com que se debateu a psicologia filosófica
(o pensamento) a este Lebenswelt)). clássica. Esta, por exemplo, tendia a redu-
Ao tentar formular a relação que o Uni- zir a profundidade a uma largura vista de
verso da Ciência tem com o ((mundo da perfil, o que era inevitável, uma vez que ela
vida», Merleau-Ponty a f i i a : «Todo o Uni- se referia ao espaço como espaço racionali-
verso da Ciência é construído sobre o zado pela cultura científica (geometria, geo-
Mundo vivido e se nós quisermos pensar a grafia) e não como um espaço vivido (mas
ciência em si mesma com rigor, em apreciar se nós voltarmos a experiência do espaço,
exactamente o sentido e o seu valor, é-nos representado mentalmente, ao qual perten-
necessário em primeiro lugar fazer desper- cemos como sujeitos incarnados tendentes
tar esta experiência do Mundo do qual ela a caminhar, a avançar e a recuar, a aproxi-
é a expressão secundária. Voltar às coisas marmo-nos e a distanciarmo-nos das coisas,
em si, é voltar ao Mundo antes do conheci- as quais não se apresentam senão numa
mento, do qual o conhecimento fala sempre certa perspectiva e numa certa distância em
e A atenção do qual toda a determinação relação a nós, então encontramos a profun-
científica é abstracta, significativa e depen- didade como uma dimensão inerente ao

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movimento através do qual nós vamos ao intencionalidade queremos dizer que toda a
encontro das coisas). experiência humana se refere sempre a qual-
Em segundo lugar, a fenomenologia da quer coisa existente, independentemente
percepção pode exercer o papel de uma ins- dessa experiência. E como nos referimos
tância crítica perante uma psicologia de intencionalmente a objectos, pessoas e
laboratório, que tende a ignorar os seus acontecimentos que simplesmente existem
pressupostos e em particular os limites da (aqui-acolá), podemos falar de uma função
própria situação experimental (2). objectivante da consciência humana; na
Podemos afumar que a fenomenologia da medida em que as coisas e os acontecimen-
percepção nos traz, através das suas descri- tos do nosso mundo correspondem a objec-
ções e análises, a dupla polaridade espacial tivação do homem, é necessário ver coisas
da experiência perceptiva. Espacialidade do e acontecimentos humanos, no sentido pró-
lado do apercebido)), que não se realiza prio do termo. Queremos dizer que estas
senão dentro de uma certa orientação sobre coisas e acontecimentos têm um valor, um
o fundo da sua coexistência com outras coi- sentido, e por isso elas relacionam-se com
sas num campo ou espaço perceptivo, o comportamento actual ou passado e não
antecipando-se ao horizonte aberto de um são apenas dados sensoriais que captamos,
mundo. Espacialidade do lado do observa- mas antes um conjunto que tratamos de
dor que não apercebe senão a partir da sua determinada maneira, que nos motiva e nos
própria espacialidade. A contribuição da incita a acção (segundo Sartre, a situação e
fenomenologia da percepção constituição motivação são únicas - 1947) (3).
de uma fenomenologia do espaço tem cer- A incapacidade da Psicologia tradicional
tamente os seus limites. Se quisermos recor- em compreender a natureza intencional e a
rer a uma imagem provisória, podemos dizer dialéctica da relação Homem-Mundo é cor-
que a fenomenologia da percepção se encon- roborada pelas conclusões dos fundadores
tra entre dois limiares: de uma parte o limiar da Psicologia do Meio Ambiente (Environ-
da afectividade e de outra o da linguagem mental Psychology), quando dizem: «In
e do cultural. terms of a systematic and useful conceptua-
lization, the environment, physical or other-
wise, remains a wast unknown insofar as we
4. A INTENCIONALIDADE
have been able to establish a viable theory
ENTRE O HOMEM E O MUNDO
of human behavior and experiente)) (Ittel-
A Psicologia Fenomenológica considera son).
que a relação existente entre um indivíduo
(e os seus movimentos) com o seu ((mundo 5. CONTRIBUIÇ6ES DA ECOLOGIA
envolvente)) não pode ser definido em ter- Â PSICOLOGIA DO MEIO AMBIENTE
mos de estímulos ou de variáveis indepen-
dentes. Segundo Graumann, uma psicologia de
Ela tenta pôr em destaque a relação inten- orientação ecológica deveria começar por
cional entre o homem e o Mundo. Como uma análise de situações concretas; para tal

(’) Ela tem por finalidade controlar todas as variá-


veis do meio ambiente, ignorando os seus pressupos- (3) Retoma-se o conceito definido pelo biofil6sofo
tos e em particular os limites da própria situação von Uexkull de «Umwelt» (meio ambiente perspec-
experimental, substituindo-apor uma ((Psicologia de tivo no qual o Mundo se constrói em conchas suces-
Terreno» onde o homem é colocado numa situação sivas a partir da função do Eu no Espaço e no
bem mais complexa. Tempo).

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será necessário desenvolver um método Para nós é um conjunto organizado de ele-
apropriado permitindo estudar o comporta- mentos visuais situados num lugar do terri-
mento «in situ)). tório e apreendidos como um todo.
O comportamento não pode ser definido O segundo termo, usado por Barker, é o
unicamente como movimento ou actividade de ((behavior settings)), que se refere a rela-
em si, mas como uma referência as pessoas, ção intencional e específica dos indivíduos
lugares, acontecimentos, objectos e finalida- as coisas e aos outros que constituem o
des. I? descobrindo esta espécie de correla- mundo vivido. Para melhor descrever a
çdes do comportamento e da experiência que noção de espaço habitado, utilizaremos a
nós compreenderemos o que é um compor- palavra de origem alemã «Umwelt».
tamento, uma experiência. Pessoa e mundo ambiente são, pois, dois
Para Schütz, todas as experiências e com- termos fundamentais para a compreensão de
portamentos servem-nos para analisar o toda a actividade humana.
aspecto social da vida quotidiana, pois eles É sabida a importância que o meio
são de natureza social. Nós nascemos num ambiente tem para o desenvolvimento men-
mundo de «iguais» (seres semelhantes), gra- tal do ser humano. Estudos comparativos
ças aos quais aprendemos o significado dos realizados com animais (em situação de con-
objectos e a maneira de os utilizar. Não ape- trolo) permitiram demonstrar como as
nas os produtos, mas também os objectos necessidades do homem, de espaço, variam
naturais (animais, flores) são vividos num em função do seu meio ambiente. Limi-
contexto tipicamente humano, ou seja, tando as observações aos animais e ao uso
social, e os seus sentidos aprendidos neste que fazem do espaço, pode-se descobrir um
contexto. elevado número de dados transponíveis em
Segundo Moles, a maior parte destes termos humanos. Entre outros, é bem
objectos podem servir como elementos conhecido o modelo de organização de
mediadores na comunicação entre pessoas espaço desenvolvido por E. Hall: a percep-
ou grupos. Assim, a definição de um meio ção do espaço, a distância entre animais ou
ou mundo ambiente em termos de objecti- seres humanos, a importância dos diferen-
vos correlativos de uma experiência e de um tes receptores e da cultura que lhes confere
comportamento ajudar-nos-á a compreen- estrutura e significação. Moles (no sentido
der os diversos meios (as casas, as ruas, as da filosofia alemã) considera o homem uma
praças públicas, etc.), quer eles facilitem ou ((esfera pessoal», uma interface com o
dificultem as acções humanas. mundo - Merkwelt - através da qual esta-
belece (as suas) relações com ele próprio.

6. ESPAÇO E MEIO AMBIENTE


7. ABORDAGEM A PSICOLOGIA
A relação entre o homem e o meio am- DO ESPAÇO
biente é um dos traços de identificação das
Ciências do Meio Ambiente. Dissemos atrás que o espaço foi durante
Para caracterizar o meio envolvente em muito tempo uma dimensão ignorada pelas
que o homem vive, pode-se utilizar dois ter- Ciências Sociais.
mos: o primeiro será o equivalente a pala- De facto, o conceito de espaço é hoje em
vra «paisagem», termo que tenta significar dia uma nova matéria da Psicologia e em
aquela parte do mundo em que uma pessoa particular da Psicologia Social. A Psicologia
habita num dado momento. Tanto pode ser do Espaço mostra-nos como toda a estru-
a cidade como os campos ou a montanha. tura da interacção entre os homens (e para

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tal contribuíram, entre outros, todos os mento do organismo, marcado por signos
autores atrás citados) está marcada pelo visuais, vocais e olfactivos, é um exemplo
contexto espacial através da qual ela se daquele aspecto. Entre outras, a percepção
exprime; por exemplo, certas formas de do espaço dá-nos as ideias de Parede (para
comunicação entre os indivíduos são deter- o psicólogo, é a materialização de uma des-
minadas pela sua distância relativa. continuidade, localizada num lugar, do
Para Moles, o espaço é o espelho da cul- valor das variáveis sensoriais que se exercem
tura e não é apreciado em si mesmo, mas sobre o meio envolvente daquele), de Iden-
sim em função das actividades sociais que tidade do Lugar (aqui-além), de Apropria-
ele autoriza ou não. ção de um Lugar (pelos meus actos, objectos
Sendo assim, processos como a divisão que marcam a minha presença), de Privati-
dos indivíduos num dado espaço, a separa- zação, do Deserto e de Labirinto C).
ção e o aproveitamento dos locais de traba- Labirinto é a expressão em termos simples
lho e domicíiio, a urbanização, a circulação de um gráfico comportamental do movi-
dos peões e viaturas constituem um campo mento dos seres e uma aplicação da teoria
ilimitado de estudos das relações que o dos grafos ao espaço real. Para Moles, o
homem mantém com o seu meio circundante Labirinto é uma imagem de um arquétipo
(trabalhos de Theves, Fischer e Ribey). O do espaço, mas também a do próprio
espaço entrou pois, definitivamente, na homem em sociedade.
estrutura das relações sociais e nos estudos A Psicologia do Espaço é, pois, um novo
que a elas se referem, em particular através e valioso utensílio ao serviço do psicólogo
da Lei da Proxémica. social e permite uma vasta gama de aplica-
ções; entre elas é, sem dúvida, a protecção
Mas, a apropriação deste espaço não é do Meio Ambiente e Turismo, que são da
necessariamente a apropriação de um dado
maior importância para os países europeus.
lugar, mas sim a extensão de um controlo
que permita ao indivíduo dominar o seu Entre os vários estudos realizados neste
domínio, refiro alguns efectuados por inves-
meio envolvente em vez de ser dominado tigadores do Instituto de Psicologia Social
por ele. das Comunicações da Universidade de
O homem, situado num lugar definido Estrasburgo:
(aqui), divide instintivamente o espaço que
o envolve em camadas ou conchas sucessi- - «A Percepção do Habitatn, de E.
vas, segundo critérios distintos relativos a s Schmidt;
percepções e acções que poderão acontecer - ((Psicologiado Espaço Industrial)), de G.
em cada uma dessas camadas. N. Fischer;
A adaptação do homem ao espaço foi - «ACidade como Labirinto)),de Friedrich
definida pela lei da «proxémica», que não - ((Fluxos Turísticos e Labirintos Urba-
é mais do que o conjunto das observações nos», de Lefèvre;
e das teorias ligadas ao uso que o homem - ((Comunidadee Privatização nas Estru-
faz desse mesmo espaço (existindo a partida turas Labirínticasn, de J. Conwembergh;
as mesmas condições, aquilo que está pró- - ((MapasMentais dos Apartamentos)), de
ximo é mais importante para mim do que Zimmermann.
aquilo que se encontra longínquo).
Este, por sua vez, pode dividir-se em (4) O «Corredor» é uma das formas essenciais do
vários aspectos, dos quais o espaço de orga- «espaço constrangido)):aquele onde a mobilidade lon-
nização fixa (rígida) é o mais comum; ele é gitudinal é um fenómeno maior do que a mobilidade
transversal e que corresponde a uma liberdade limi-
a moia que impele uma grande parte do tada na sua forma; um Labirinto é então um conjunto
comportamento humano. O conceito de ter- complexo de corredores cuja estrutura ultrapassa o
ritório, que não é mais do que o comporta- campo da consciência clara daquele que o percorre.

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