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A Produção do Pensamento Ocidental em Nós

Quinto Encontro

Texto extraído de gravação do seminário de Luiz Fuganti em 29/04/99 na Role Playing Pesquisa e
Aplicação
Texto não revisado e reprodução não autorizada pelo
Palestrante.

Vamos dando uma sintetizada com elementos essenciais que se repetem e em função disso a
gente vai abrindo caminhos inéditos, digamos assim, sempre improvisando e articulando as coisas
aqui em ato, de uma forma mais interessante por que não adianta a gente programar demais, por
que acaba limitando e a gente acaba caindo na representação, então é melhor fluir assim mesmo.
Então hoje nós vamos retomar alguma coisa que a gente falou na exposição passada em relação à
seção da orientação, da distribuição e da hierarquia do ser. Em função disso a gente vai voltar a
marcar a diferença entre um ser que se distribui e que se ordena de modo sedentário e um ser
nômade que distribui o desejo, o pensamento e essas conexões num plano de imanência aberto. E
é nesse sentido que a gente vai estar retornando aos temas essenciais e entrando em coisas mais
detalhadas como a questão do juízo que é exatamente a estância que distribui, que reparte, o que
hierarquiza um ser sedentário num plano de organização transcendente, ou seja a representação
que foi fundada por Platão e desenvolvida por Aristóteles é baseada numa estrutura orgânica e
num plano de pulsação mínima do desejo e do inconsciente, é essa topologia do desejo que a
gente vai tentar por em evidência aqui, na medida em que é ela que gera um ser que reparte e que
distribui de modo sedentário e que forma o juízo ancorado no bom senso e senso comum ou o
imaginário coletivo.
Na última exposição marcou a diferença entre orientações distintas do desejo e do pensamento,
através da diferença de objetos que o desejo e o pensamento tinham.
A gente viu que Sócrates, Platão e Aristóteles fazem uma opção pelas alturas, eles orientam o
desejo e o pensamento para um plano que ultrapassa esse plano real, que estaria fora da própria
natureza e estaria na altura própria do ser, uma altura que tem também um sentido hierárquico de
superioridade como sentido primeiro do ser. Essa orientação em direção às alturas revelava um
modo do ser em suas várias estâncias enquanto sujeito, enquanto objeto, enquanto relação entre
sujeitos e objetos e enquanto organização desses sujeitos e objetos relacionados rebatidos a esse
plano de transcendência que é exatamente o plano metafísico socrático platônico.
E a gente viu que uma vez que a orientação se dá por um objeto ou por um ser que se encontra
numa topologia das alturas, a gente também entende que a causa da organização da realidade
dos seres está alojada nessa altura ou nesse modelo transcendente. A causalidade ou a ação da
forma ou do modelo sobre a realidade daqui de baixo tem eficácia na medida em que eu projeto o
meu desejo e o meu pensamento numa estância que vai moldar exatamente o meu desejo e os
meus pensamentos, vai dar uma parada um repouso ,um limite para o meu sujeito e para o meu
objeto, o meu sujeito enquanto alma e o meu objeto enquanto corpo, ou o objeto do mundo que
forma todo esse plano sensível.
A questão platônica a gente viu bem, a motivação que se esconde atrás da idéia de fazer a
diferença entre o mundo essencial e o mundo aparente, entre o mundo modelar e do mundo das
cópias, ou entre o mundo inteligível e o mundo sensível, na realidade tem o objetivo apenas de
instaurar uma estância capaz de ser o critério, o elemento a partir do qual se julga a realidade
sensível, a realidade corpórea e se divide essa realidade numa realidade boa e uma realidade má,
uma realidade que se submete a ação da forma que está no modelo ou que subverte à ação dessa
forma, o que escapa o tempo inteiro, ou seja em dois devires, um devir bom outro mau, um devir
que é formado por imagens ícones que recebem a ação da idéia e um devir enlouquecido que não
se submete nunca, que não pára, que não entra em repouso, que não se cerca dentro de certos
limites, de certas qualidades ou de certas quantidades que seriam a condição de fixação daqueles
devires numa projeção que se torne transcendente de organização
Bom, havia aí uma cisão fundamental entre ser e devir, o ser estando simplesmente como uma
estância a partir da qual o critério de autenticidade ou autenticação de uma pretensão pudesse ser
determinado e esse ser então vai reproduzir uma repartição, uma distribuição de realidade e uma
hierarquização segundo o modo como as imagens, os devires, os seres sensíveis se projetam
nesse modelo de acordo com uma semelhança interna a esse modelo e na medida que essa
semelhança é mais próxima, esse ser está mais próximo do real em si, ele tem que adquirir uma
qualidade que é dada por esse ser, em segundo, em terceiro, em quarto lugar, indefinidamente, até
o plano em que não há nenhuma semelhança se quer e a imagem muda de natureza, ao invés de
ser uma imagem ícone, uma imagem moral que se liga as alturas, ela é uma imagem que escapa
lateralmente, é uma imagem perversa que não tem semelhança ou que produz apenas um efeito
exterior de semelhança como algo demoníaco, algo que vem aí para subverter a realidade e
impedir que a ordem se estabeleça, ou seja, que esta distribuição e essa hierarquia sedentária do
ser se estabeleça. ...-...-... é uma vontade de dividir o real em bem e mal, na parte boa e na parte
má, ou seja, é uma vontade de selecionar, de fazer a diferença e ficar só com aquilo que vai
manter a minha realidade e a minha realidade é a partir de um estado de alma e de corpo de
impotência por que só o corpo que está numa condição dessas, o desejo e o pensamento que se
encontra numa posição de separação e de isolamento daquilo que pode realizar, que é exatamente
afirmar o seu devir, é só esse tipo de alma e de corpo que pode dizer assim, olha tem uma parte
do acaso que é boa e outra parte que é má, é a posição moralista, por isso é que o Nietzsche dizia
que na base de toda ciência, de toda a especulação está a moral, é a condição de haver
representação, não há uma representação sem uma postura moral, por que a representação é
exatamente esse plano de transcendência instaurado para a partir dele fazer as distribuições, as
paradas, os repousos, os limites, as quantificações, as medidas dos devires ou dos entes
sensíveis, e a partir daí distribuir cargos, funções, ou seja, há uma organização no tempo, no
espaço e uma determinação de elemento. Você tem o elemento, o espaço e o tempo inteiros e
recortados e é aí que você vai ter sujeitos, objetos e significantes entre eles. E aí você produz toda
uma relação corpórea submetida a uma máquina abstrata que vai determinar o limite e a
adequação justa desses corpos e dessas almas. É por isso que no fundo isso tudo não passa de
uma máquina judiciária, é uma máquina que julga a vida e o devir a partir de uma idéia ou de uma
posição de que é necessário se dar um limite ou uma ordem de fora a essa desordem caótica que
seria a matéria, o inconsciente ou o mundo sensível.
Então o objeto do pensamento da filosofia platônica é o modelo ou a idéia ou o ser que estaria fora
desse mundo, aí existe uma ruptura entre pensamento e desejo, entre pensamento e corpo e esse
ser que é incorpóreo, que é ideal, que é idêntico a si próprio é o portador de toda a realidade na
mesma medida em que ele não muda, ou seja, o signo de realidade ou de eternidade é o fato dele
não mudar, de ele ser idêntico a si mesmo e daí o modelo do mito que é uma narrativa circular.
E então essa separação entre pensamento e corpo é inaugurada por Sócrates, como diz... o último
Xamã e o primeiro filósofo no sentido da decadência da filosofia mesmo ( esse autor escreveu Os
gregos e o irracional, pensador inglês, Dodds)
O Sócrates na verdade acredita em todas aquelas idéias religiosas das transinversões das almas,
da purificação pela ascese daquelas idéias xamânicas e ele orienta então o seu desejo e o seu
pensamento para essa ascese ideal, ascensional, ao movimento de ascensão e de queda em
Sócrates, que é exatamente do ponto de vista clínico, o movimento maníaco depressivo. Tem-se
subidas e descidas, a descida é exatamente a queda do corpo que é um castigo, uma expiação.
Então de tem uma orientação topológica do desejo e do inconsciente para as alturas que efetua
uma cisão entre desejo e pensamento. É uma opção que na realidade vai dar um modelo e o
arquétipo de todos os planos de organização transcendente. É por isso que Platão é tão nosso e
Aristóteles também. Na realidade não é que eles inventaram apenas um tipo de filosofia moralista,
eles começaram a descrever arquétipos e como funciona todos os planos de transcendência. São,
digamos, modelos universais de separação de potência e de desejo que eles podem efetuar. ...-...-
... depois ela vai desenvolver a representação para o infinito, por que até então a representação
tem um modelo de atingir elementos finitos, generalidades mas num certo plano finito, ao menor
elemento representado possível é a espécie, ou a espécie especialíssima. E o maior elemento
representado aí é o gênero generalíssimo ou a categoria.
Então há um limite da representação que se chama representação finita e depois outros vão levar
a representação para o infinito. Vão espalhar bosta pelo universo, no fundo é isso.
...-...-... é... modelos de planos de organização transcendentes, ou seja, toda a instância que quaira
no ar, por assim dizer, e que de fora vem nos organizar, na medida em que a gente se atrela, o
nosso desejo investe isso também, há um fetiche aí que leva o nosso desejo a investir esse tipo de
estrutura, ...-... Jung chama de persona ...-... exato, as máscaras ...-...
e você ao investir os desejos e crenças nessas personas ou nessas máscaras, você colhe nessas
máscaras elementos primários e originais e agentes formadores do seu corpo e da sua alma.
Essas máscaras vão ser os porta-vozes, os agentes que vão dar a forma ao seu desejo e ao seu
pensamento, é dessa forma que a coisa funciona, tanto que Platão inventou um elemento de
ligação, que era exatamente a semelhança que é tida como um critério de um amor verdadeiro e
de um pensamento verdadeiro. Em Platão há uma erótica do pensamento na medida em que ele
diz , o seu desejo deve investir o elemento incorporal, ele deve ser inspirado pela beleza que ele
encontre nos corpos, e em função disso ele se reporta, ele se lembra do que ele viu antes da
encarnação e ele deslumbra então essas realidades puras, ideais, incorpóreas em si mesmo e
dirige sua força, seu desejo, sua crença em torno dessas idéias. ...-...-... nos elementos das
formações mágico-religiosas há uma estância platônica em todas elas. Platão já herda do sistema
mágico-religioso alguns modelos que ele vai simplesmente incorporar à sua filosofia. Assim como
ele inova ele tem grandes arcaísmos. Platão herda através de uma narrativa mística assim
consciente que está dissolvida na sociedade, assim consciente digo por que não há mais rituais de
atualização dessas narrativas místicas, por que aquele poder, aquela formação já não existe mais,
então no inconsciente platônico existe o que ele chama naquelas narrativas místicas de idade do
ouro, na realidade é uma memória inconsciente da época das formações mágico-religiosas.
Então, esses modelos se disseminaram na medida em que o estado foi inventado,... todo estado,
dez mil anos a.C., ele tinha essa forma de atuação, uma forma mágico-religiosa, que se chama de
estados despóticos ou estados bárbaros e os gregos é que inventaram o estado propriamente
civilizado, que é aí que eles inauguram uma idéia de lei diferente, uma idéia de igualdade e de
semelhança e tal, uma idéia de centro, de distâncias dos centros, existe toda uma questão
geométrica, matemática e jurídica fundamentalmente nessas inspirações socrática , platônica e
aristotélica, ou seja, há esses elementos que atravessam esse tipo de filosofia moralista, assim
como há esses arcaísmos que agem no inconsciente platônico.
Ora se existe essa orientação para as alturas e existe essa cisão entre o ser e o devir, é por que
uma estância se separa da natureza, onde os homens, os seres se voltam para ela e dão um
sentido, uma orientação e uma forma de organização. Então você tem aí uma imagem de filósofo
ou de pensamento ou de modo de vida que se orienta para as alturas e destitui o nosso plano
sensível e corporal de realidade plena, ou seja, nós vamos ter uma realidade derivada, secundária
e enquanto você for capturado por esse esquema representativo nunca você recupera o real, aí o
Lacan tem razão, o real passa a ser impossível. Você não consegue mais atingir o real, uma vez
que você não afirma mais a diferença, a tua afirmação está submetida a esse juízo transcendente.
...
A outra orientação do desejo e do pensamento era dada pêlos pré-socráticos que mantinham a
unidade do ser e do devir na medida que o objeto do pensamento e o objeto do corpo eram os
mesmos e mais, esse objeto se esconde na profundidade da natureza, então você vê aqui um
outro elemento topológico, um outro lugar, uma outra orientação, você agora se dirige para a
profundidade e não para as alturas.
Então o que que tem na superfície da natureza, tem índices ou indicadores, que para falar ao
modo de Nietzsche, dizem que atrás de uma caverna existe sempre outra, e que atrás daquela
outra mais outra e assim por diante, e nunca se desce o suficiente ou nunca se vai encontrar o
fundo, é uma descida infinita às dobras da própria matéria. Então é um pensamento que afirma
uma unidade invisível que se esconde atrás da superfície da natureza mas essa unidade é um
corpo, um elemento unificador mas é um elemento corpóreo e que é a causa do nosso corpo, do
nosso pensamento e causa de todos os seres. ...-... você pode até chamar de Deus, mas eles não
tem essa visão nos pré-socráticos. Então o que ocorre aqui é que o elemento que se esconde
atrás da natureza ele não está separado, ele é um ser e a natureza, a superfície da natureza é um
devir. Esse ser é coextensivo ao devir, ele está aqui presente, então não há separação entre ser e
devir e mais não há separação entre desejo e pensamento por que o objeto dos dois é o mesmo.
Se você for ver que elementos são esses, Talles diz que é a água, o Heráclito vai dizer que é o
fogo, o Parmênides vai ser o primeiro a dizer que é o ser. ...-...
As formas são sempre superficiais, elas são sempre efeitos de um ser, o ser não é formal, o ser é
uma potência, uma energia, o ser é um corpo sem órgãos, invisível, imperceptível, o ser absoluto,
ou seja, esses filósofos pré-socráticos inventaram uma maneira de se relacionar com a natureza
que descarta as religiões, os estados, a lei, ou seja eles vão direto à natureza, a natureza por si só
oferece o elemento de autonomia para que o pensamento e o desejo sejam constituídos para um
modo livre de se efetuar, livre e autônomo. Essa é a grande revolução, a grande inauguração do
pensamento grego, ele inaugura um modo de vida que não é religioso, nem político, nem civil, nem
nada, é um modo de vida que descobre que no pensamento há uma capacidade de apreensão de
elementos imperceptíveis na natureza que são imperceptíveis mas são reais, ou seja começa-se a
fazer distinção entre real e a sensibilidade existencial. O real está além do visível, além do simples
existencial orgânico. E esse pensamento não vai contra a sensibilidade, apesar das interpretações
que tiveram dado do poema de Parmênides que havia uma via do ser e outra via da opinião, quem
deu essa interpretação foi Platão, a ele interessava esse tipo de divisão, em Parmênides não há
esse tipo de separação, na medida em que ele diz que o ser é imóvel, é eterno, é pleno, ele está
narrando exatamente o estado do plano de imanência, a condição do plano de imanência que é
exatamente uma condição imóvel e ao mesmo tempo que ela é imóvel ela tem velocidade
absoluta, então a maneira como ele se exprimiu naquele poema, Platão interpretou como
interessava a ele. Então nem Parmênides, nem Anaxmando, nem.... Heráclito... nem... fazem
distinção alguma entre ser e devir, o ser e o devir estão numa unidade fundamental. O pensamento
e o desejo contraíram núpcias desde o momento em que esse modo de vida foi inventado, e essas
núpcias vão no sentido de afirmar-se num jogo lúdico, uma maneira de jogar com o acaso ao invés
de recortá-lo, reparti-lo em probabilidades, em previsões, ou seja, esses seres não precisam dizer
é provável, vamos fazer previsão, vamos eliminar a parte de riscos, vamos ficar só com a parte
segura, esses seres, ao contrário, estabelecem um jogo lúdico entre pensamento e devir, entre
pensamento e desejo e na medida em que o desejo corre riscos o pensamento avança, na medida
que o pensamento corre outros riscos, o desejo e a vida arranca o pensamento daquele lugar de
estagnação e assim eles estabelecem núpcias lúdicas e nunca uma seriedade trabalhosa de um
pensamento moralista que vem para julgar e não para liberar. A orientação agoira ao invés de ser
para as alturas, não agoira é antes do pré-socratismo, antes do socratismo você tem uma
orientação para a profundidade, o desejo e o pensamento se relacionam numa superfície em
direção a uma profundidade. ...-...-...
a dualidade entre heráclito e Parmênides é uma falsa dualidade...-...-... para Heráclito o ser é o
próprio devir, ele identifica ser a devir, esse fogo primordial ele tem intenções e ele se efetua, ele
se atualiza, digamos assim que ele seja virtual e ele se ,atualiza em jogos diferenciais que na
linguagem dialética dele ele chama de oposis, o contrário, mas na realidade são elementos
diferenciais. E em Parmênides que você tem é a via do ser, é ele que vai para a unidade plena de
todas as diferenças ou de todo o devir, então ele vai diretamente a essa via unitária, essa via de
afirmação do ser, mas isso não significa que ele diga que o ser é superior ao devir, o que ele diz é
que esse ser primordial, sem dúvida ele é superior às situações orgânicas mas isso aí todo mundo
diz, o olho e o ouvido é um produto do som e da luz, ele é um produto de um elemento anterior ao
próprio órgão, então o que ele está falando da essencialidade ou da hegemonia do ser em relação
ao devir é apenas isso, mas não que o devir se oponha ao ser e vice versa ou que o devir iria
cometer injustiças ou desequilíbrios no ser e por isso mesmo o devir deveria ser expiado, em
Anaximando você tem essa vertente, passa um veio religioso, nos outros você não tem isso, agoira
em Péduclis você não tem isso, ele diz que existem quatro elementos o fogo o ar a terra e a água
que são a base de todas as composições materiais e agem através de ódio e de amor que é o
modo que ele tem de dizer atração e repulsão, ou composição e decomposição. Então na
realidade o que nós estamos analisando aqui é que o ser se distribui topológicamente, que há uma
topologia do ser que é mais imediata e mais revolucionária do que uma história do ser ou do que
uma falsa profundidade do ser no tempo, ou que nesse tempo histórico da memória ou das marcas
sensíveis. ...-... por que o desejo ocupa um lugar imediatamente no devir e no tempo, ele ocupa
tempo e ocupa lugar, aliás ele ocupa tempo e ocupa vazio, na medida que ele ocupa tempo ele
está envolto de acontecimento constante, é permanentemente envolvido por acontecimento, ou
seja, ele está permanentemente em devir, e na medida que ele ocupa o vazio ele está
permanentemente em velocidade no espaço ou no lugar. Então esse desejo é sempre topológico,
ele ocupa um lugar e um tempo e essa orientação que vai em direção a profundidade, ela acredita
que a salvação ou que a realidade plena , que a causa de tudo está no elemento profundo.
Os estóicos eles vão destacar uma outra dimensão para isso tudo que é a dimensão da superfície,
nem mais altura, nem mais profundidade ou melhor eles dão um novo sentido à profundidade e
destituem as alturas, eles vão fazer com que as alturas platônicas caiam na
superfície. ...-...-... eu estou aqui falando dos estóicos gregos, principalmente Crisico... e os
estóicos que eu falo tem um problema ético sim, que a gente pode até desenvolver daqui a pouco
na medida em que formos desenvolvendo o pensamento deles, mas de nenhum modo tem a ver
com o moralismo socrático e platônico...-...-... na medida que a natureza se parcializa vai haver aí
uma ética de relações espaciais, mas no fundo da natureza não tem lei nenhuma...-...-... a relação
selecionada e regulada se desenvolve a partir de uma superfície no momento em que há encontro
de corpos, então os estóicos dizem que existe na realidade só o corpo, nas idéias platônicas não
existe, no sistema aristotélico não existe, a virtude é um corpo, a vergonha é um corpo, o medo, as
paixões, são corpos que se manifestam nas efetuações de corpos também, elas são corpos e
produtos de corpos ... existe uma lógica estóica em vários planos, no plano dos corpos e no plano
dos incorporais que é o que a gente vai começar introduzir agoira.
Então eles dizem assim, tudo que existe, ou que se chama ser é corpo. Só o corpo existe no
espaço e só o presente existe no tempo. O presente dos estóicos é um presente cósmico que não
existe no tempo como passado e futuro. Se você pega uma faquialização de corpo e diz antes
desse corpo e depois desse corpo haveria um passado e haveria um futuro, os estóicos dizem não,
você simplesmente amplia o presente, há uma ampliação da extensão do presente. O presente é a
medida da ação e da paixão dos corpos no tempo. Então ele dá exatamente o caráter existencial
dos corpos, o presente é o único que existe em tempo e os corpos os únicos que existem no
espaço ou no vazio. E no limite dos corpos há uma unidade de um fogo primordial que você pode
até associar ao fogo primordial de Heráclito. Esse fogo primordial é a unidade de todas as causas,
por que só os corpos são causas, então há uma unidade nos limites das causas que se unifica com
esse fogo primordial.
Os corpos, as ações, as paixões, estados de corpos, as qualidades, as quantidades são
parcializações desse fogo primordial, são tensões ou então graus de potência, para falar ao modo
de Spinoza, dessa potência primordial. E a única regra, a única lei que existe nesse mundo dos
corpos é a mistura de uma maneira absolutamente livre. Então tudo se mistura com tudo do ponto
de vista do fogo primordial.
Agoira na medida em que as misturas são realizadas tem-se as parcializações e essas vão se
encontrar no mundo e gerar relações de superfície. Essas relações são na realidade co-extensões
de causas por que, na medida em que os corpos se encontram, eles que são causas não
produzem efeitos corpóreos, eles produzem efetuações corpóreas e aqui a grande inovação
histórica, os estóicos vão fazer uma cisão entre causa e efeito, eles fazem um corte, por que os
corpos que se misturam ou que se encontram eles são na realidade causas de efeitos que não são
corpos, causas de efeitos que são elementos incorporais, causas não de seres que são corpos,
mas de extra seres, causas não de propriedade, de qualidades ou de quantidades, mas de
atributos incorporais, atributos que se atribuem aos corpos e que se expressam na linguagem. Eles
não geram fatos físicos apenas ou efetuações físicas, eles geram acontecimentos incorporais.
Acontecimentos para os estóicos não são simples fatos físicos, mas são elementos metafísicos ,
na medida em que eles não são físicos, eles são elementos que se desprendem da superfície ou
do limite dos corpos, intangíveis e ao mesmo tempo eles tangenciam os corpos, eles não tocam
mas tocam, há um paradoxo... exemplo, a árvore verdeja, você não toca o verdejar da árvore, a
criança corre, o correr você não toca no correr, eu estou sentado, o sentado é um elemento
incorporal, é um sentido do ser, um sentido do corpo. Então os estóicos inventam uma lógica
assim, só que é uma lógica de atribuição do ser em devir e não com fazia a lógica platônica e
aristotélica que fixava um ser que não era corpóreo, que era uma idéia, que era um sujeito ideal ou
formal e se atribuía a esse sujeito propriedades e qualidades que geravam traço de caráter, ou
seja, você fixava no sujeito as suas qualidades, quantidades, movimentos de acordo com a
definição que ele possuía, então se é dado uma definição eu dou um limite, a forma ou a camisa
de força daquele ser. Não se pode passar dos limites sob pena de cometer injustiça, ou
transgressão ou perversão.
...-... muitos pensadores são estóicos mesmo sem ter lido os estóicos.
Na última exposição quando você me disse que esse pensamento platônico e aristotélico não
levou a um desenvolvimento da ciência que hoje se tem uma técnica avançada, e eu te disse que
na realidade esse pensamento capturou ou capitalizou o que o pensamento tem de mais autêntico
que é exatamente esse plano onde há esse pensamento estóico, spinosista, epicurista, ou até
nietzscheano, ou onde haja o pensamento real.
...-...-... a Lógica dos Sentidos, essa obra genial do Deleuse foi inteira inspirada nos estóicos.
Na realidade os pensadores que inovaram de fato beberam nos pré-socráticos e também nos
estóicos. Platão e Aristóteles inovam na elaboração do arquétipo desse plano de organização
mesmo, ...-...- os estóicos eles tem o sentido parmenismo na medida em que eles dizem que há
um elemento, que eles chamam de alicuídio de alguma coisa, que é o ser e o não ser ao mesmo
tempo que determina todo o real e esse alicuídio envolve o tempo, o vazio e envolve o corpo, o ser
do corpo.
Voltando a nossa questão, você tem então uma nova sementeira que é traçada, um novo corte no
ser que não é mais a profundidade, nem a altura, é uma superfície, é um efeito de superfície
gerado a partir dessa mistura de corpos em profundidade. Então na medida que os corpos estão
em relação, na medida em que eles interagem ou se parcializam, um efeito entre eles emerge na
medida que só eles são causa e esse efeito não é corpo, não é qualidade, não é quantidade, não é
estado de corpo, não é fato mas é um acontecimento, é um atributo...
acontecimento não é causa é efeito, pode-se dizer que acontecimento é uma quase causa, mas
nunca uma causa, só os corpos são causa, e daí uma reversão radical do platonismo por que
Sócrates , Platão e Aristóteles nos fizeram acreditar que as causas estavam nas idéias, nas
definições, nas formas. Os estóicos dizem que as causas estão nos corpos, não há nenhuma
causa que seja ideal. Toda idealidade socrática, platônica e aristotélica cai nessa superfície estéril
estóica, por que o acontecimento se ele não é paixão e ele não é ação, ele é impassível. Se ele
não é causa de movimento e ele não é corpo, ele é uma idealidade que não causa nada ou que
não interfere em nada, na medida que essa idealidade se remete a outra idealidade e não ao corpo
enquanto interação. A idealidade na medida que ela é efeito de encontro de corpos, ela envolve
sempre os corpos e é nessa medida mesmo que você pode dizer que todos os corpos pensam, por
que eles estão sempre envolvidos por uma idealidade ou por um acontecimento.
Então você tem um sistema que diz que tudo que existe no espaço é o corpo e tudo que existe no
tempo é o presente, mas além disso tem algo que não existe mas é real que é o acontecimento,
esse atributo dos corpos no sentido de linguagem, e última estância é o vazio e o tempo aiônico do
passado e do futuro ao mesmo tempo. O corpo no vazio ocupando um lugar, ou seja, um corpo no
vazio faz emergir um efeito incorporal chamado lugar e o corpo no tempo aiônico que é aberto para
a linha infinita do passado e futuro ao mesmo tempo faz emergir um acontecimento de tempo.
Então para os estóicos não há um corpo se quer que não esteja em acontecimento e agindo
topológicamente.
...-...-... o vazio só é uma atração na medida que a tua sensibilidade não capta o vazio, o vazio é
apenas objeto de pensamento, o vazio é o incorporal e nenhum incorporal é objeto da nossa
sensação. O verdejar não é objeto de sensação, você vê o verde em devir mas o verdejar em si
você só capta no pensamento... o passado e futuro também... então se tem a liberação de um
novo objeto para o pensamento que é o incorporal de superfície.
Os pré-socráticos tinham como objeto o elemento da profundidade corpórea, era um elemento
físico. Sócrates, Platão e Aristóteles tem como objeto a idéia, o modelo, o conceito, é formal, ideal,
que está no mundo das alturas e os estóicos vão ter como objeto de pensamento o acontecimento.
...-...-... nada é mais íntimo ao corpo do que é acontecimento apesar dele ser incorporal...-...-...
agoira, exatamente por que o corpo está em devir que ele emite esse extra ser de relação, ou seja,
seria impossível haver devir se não tivesse esses limites móveis, esse vazio e esse tempo aiônico,
essa linha aberta ao infinito para o passado e para o futuro, os corpos estariam encerrados em um
presente num espaço fechado, eles não se moveriam, eles seriam estáticos. O corpo só existe
essa intimidade do acontecimento ao corpo tendo o fato do corpo estar aberto no devir, na medida
mesma que ele é incorporal, ele permanece envolvendo o corpo, ele é o que há de mais íntimo ao
corpo, o que acontece de mais íntimo ao corpo, o acontecimento envolve o corpo, não nenhum
acontecimento que se separe de um corpo, ainda que o acontecimento não cause, que ele seja
apenas um efeito de encontro de corpos, ele é um efeito de superfície, ele não é um ser, ser é só o
corpo, ele é um extra ser, ele não é um ser ao modo de um substantivo ou de um adjetivo, de uma
qualidade ou de uma quantidade, ele é um verbo, uma maneira de ser, ele é um infinitivo, ele é
aquilo que acontece ao ser, ele é o tornar-se. O "é" é o corpo, mas não tem um corpo sequer que
não esteja ocupando um lugar e ocupando um tempo, então esse corpo está em relação, em devir
ou se tornando algo, então esse devir do corpo é exatamente o que une acontecimento e corpo, há
uma unidade essencial, de novo tem-se as bodas entre pensamento e corpo, não há como separar
acontecimento e corpo...-...-... o que deixam as marcas são os corpos, eles é que produzem
marcas sensíveis. Existem acontecimentos traumáticos que acabam deixando marcas e aí não
houve sentido. Os estóicos eles tem a teoria da apresentação, da representação e da expressão, é
uma lógica em três níveis. Tem muita semelhança com a lógica do Spinoza.
Eles dizem, os corpos ao se encontrarem eles se apresentam, eles apresentam uma realidade e
marcam uns aos outros, eles deixam impressões assim como um cinête numa cera, deixa um
decalque na alma que é corpo para os estóicos. Essa alma que para os estóicos é um pneuma tem
essa capacidade de receber as impressões sensíveis que geram imagens confusas ou claras. As
imagens confusas tem que ser selecionadas e você se liga as imagens claras e essas imagens
claras depois são levadas a idéias comuns, ou noções comuns ao modo spinosista mesmo que
vão ser exatamente o que os estóicos chamam de representação racional, então você vai ter uma
comunidade de relação, e vai se ter uma noção que é comum à várias relações, e eles chamam
isso de razão representativa.
E existe um outro plano ainda que é a lógica que apreende os elementos incorporais, por que até
então essas noções comuns ainda são corpos para os estóicos. A representação racional e a
representação sensível para eles são corpos. A alma é corpo, a linguagem é corpo. Ao dizer
carroça, uma carroça passa pela tua boca e aí é que começa uma produção de paradoxos, essa
carroça não é um corpo...-...-... então os sentidos que atravessam a linguagem não são corpóreos.
Então é exatamente essa a dimensão nova que eles estão instituindo, eles estão estabelecendo
uma fronteira, uma divisão no ser, uma repartição diferente, uma nova distribuição, uma nova
hierarquia, por que a gente começou falando em orientação, em distribuição e hierarquia do ser ...-
...-... uma hierarquia às avessas, uma anarquia coroada...-...-...-... essa idéia está ligada a
afirmação do ser, a gente ainda vai desenvolver.
Então você tem aí uma nova fronteira que é traçada além da profundidade e das alturas, agoira
essa dimensão se dá na lateralidade ou na superfície, a direita ou a esquerda e não mais em altura
ou em profundidade, quer dizer a profundidade ganha uma nova luz, um novo sentido, essa
profundidade ela se efetua numa superfície e esses encontros que se dão nessa superfície, essa
seleção, se dão sempre de modo a estabelecer as conexões ou as composições de partes que vão
produzir a própria realidade, então é uma máquina produtiva de realidade, na medida em que há
encontro de corpos numa profundidade que se expressam ou se revelam numa superfície e essa
superfície passa a ser uma espécie de filtro desse ser ou desses encontros. Esse filtro é
exatamente a estância ética, a estância seletiva, a estância afirmativa.
Agoira se a idealidade dos acontecimentos ou da superfície não é mais uma idealidade causal, ela
é apenas efeito de encontros de corpos que são as verdadeiras causas, é impossível eu
determinar ou delegar uma autoridade para esse plano ideal, digamos assim, para esse plano do
extra ser, para esse plano superficial, delegar uma autoridade que venha fazer com que dessa
idealidade provenham formas ou limitações do corpo, do desejo e do próprio pensamento, por que
essa idealidade é um puro efeito impassível e estéril, ela não tem mais essa capacidade de limitar
os corpos. Ainda que por efeitos de simulacros eu possa congelar e fazer com que ela seja um
elemento feitixizador de desejos e de pensamentos e faça com que esses elementos atraiam e
rebatam os desejos e as crenças num plano que então seria congelado, fixado e distribuído de
uma maneira sedentária. Então o que há de mais essencial aí é que essa nova orientação
descobre que o mais profundo agoira está na superfície. A efetuação do ser, o fluxo do devir se
desenvolve ou se desenrola ou flui de uma maneira livre numa superfície que não é recortada, que
não é congelada, que não é fixada, mas uma superfície lisa, uma superfície livre, uma superfície a
onde o sentido de todo o ser desliza, onde há fluxo, onde há fluidez.
Então a distribuição do ser é uma distribuição ao mesmo tempo nômade, por que a superfície não
reserva nenhum lugar, nenhum tempo, nenhuma função privilegiada a partir da qual eu deveria me
espelhar ou me rebater, ela é uma superfície aberta, e se existe algum limite, esse limite é um
limite móvel.
O ser para os estóicos, ou a essência do ser é uma energia, uma força e nunca uma forma, é ao
modo de uma semente, de um elemento biológico. Uma semente por exemplo, se desenvolve no
espaço e no tempo exatamente na medida em que ela encontra elementos que se compõe com
ela, a água, os minerais, luz,... e ela vai ser efetuando e crescendo, assim é uma essência para os
estóicos. A essência não é uma fórmula matemática vazia, fria, modelar, que estaria fora da
natureza, essência para os estóicos é um corpo imanente ao próprio ser, imanente à natureza,
uma parte do fogo primordial, uma tensão desse fogo primordial que ao se distender efetua o que
há de energia contida nela mesma, ou seja, é uma complicácia que se descomplica ou que se
explica, é uma dobra que se desdobra, é um envoltório, um envolvimento, uma pele que envolve
uma quantidade de energia e um tempo que se desenvolve ou se explica ou se expressa no tempo
ou no devir. Então essa relação ética que os estóicos vão fazer surgir exatamente do problema que
é gerado na seleção das misturas, dos encontros de corpos vai ser uma seleção provinda de uma
necessidade de afirmação da própria causa, uma necessidade de ação daquela potência, daquela
energia e essa necessidade de afirmação faz com que eu selecione nessa superfície lisa, aberta,
infinita o que vai levar a minha essência mais longe, no limite, vai fazer com que minha essência
cresça a partir da sua própria efetuação, ela se efetua e uma vez efetuada, uma vez expresso
aquele limite exterior móvel ela tem o retorno da energia e dá um novo passo, um novo avanço,
então é um moto contínuo, a natureza para os estóicos é uma auto afirmação, é um alto
desenvolvimento a partir de uma postura ética de afirmação de potência e não de um dever moral
de espelhamento a um limite exterior a si próprio. ...-...-... a termodinâmica, a segunda lei, tem um
modelo de aniquilamento de indiferenciação. Essa segunda lei na verdade, ela é um efeito do
juízo, ou do bom senso e do senso comum, ela é uma ilusão de ótica produzida pelo bom senso e
senso comum, uma ilusão de ótica criada pela fixidez da consciência, assim como todas as
estruturas sedentárias são uma ilusão de ótica criada pela fixidez...-...-...-...
Todo ato de afirmação de uma causa ou de um corpo é um ato de criação, é um ato inédito no
tempo, um acontecimento inédito, há uma produção enorme de acontecimentos e de novos
sentidos. Para os estóicos o acontecimento tem dois lados, um que envolve o corpo e outro que se
manifesta como sentido no pensamento ou na própria linguagem, é o expresso da linguagem, é o
sentido do corpo , e o sentido é o próprio pensamento, o sentido não é o significante, não é o
significado, não é o designante, o designado, não é o manifestante e nem o manifestado, ele não é
sujeito, não é objeto e não é relação entre sujeito e objeto, ele é um elemento anterior a sujeito,
objeto e significação, ele é o que gera tudo isso, esse sentido é o próprio pensamento, é o próprio
acontecimento. É por isso que não há como, uma vez estando no sentido, dizer eu posso estar
errado, não há idéia de erro nem fé de verdade por que...-...-...-...-... se tem uma história só que é
de acontecimentos, são narrativas que se abrem para uma pluralidade de direções, não se tem
mais a história do bom senso, nem passado nem futuro, ela é secundária, ou seja as histórias
agoira são embaralhadas, embrulhadas, por que agoira as séries de acontecimentos se misturam,
há uma ressonância de séries. Essa questão é uma questão rica e a gente pode desenvolvê-la
num outro sentido, num outro tempo... agoira vamos voltar para a questão do Aristóteles...-...-...-...
" você ser um átomo que explode que já é anterior a própria relação "...-...-... sim, mas aí tem o
outro sentido também que é assim, que é imaginar o átomo como uma estrutura fechada ou como
uma estrutura última, divisível ou então imaginar que haveria uma partícula corpórea indivisível ou
atingir uma forma metafísica fechada, então essa idéia de explodir é exatamente essa camisa de
força, essa ficção de consciência, uma ilusão de superfície e ao mesmo tempo a idéia de efetuar
uma energia que não se contém em amarras ou limites exteriores... ela só se contém na medida
que ela se liga, se conecta, se compõe, por que também é fácil de você cortá-la ou separá-la dos
elementos que se compõe com ela. ...-...-... Por exemplo se você analisar a relação entre partículas
ou até entre esses elementos mais atuais... se você tiver um elemento que aumenta a energia o
outro diminui a energia, é ao mesmo tempo em que há um devir de aumento e um de diminuição
de energia ou de carga, ou de magnetismo..., se tem sempre uma identidade infinita entre passado
e futuro...-...-... a tua energia interfere na observação, há uma interação sem dúvida e aí há um
elemento aleatório que ele sempre se desloca e pelo bom senso e senso comum você nunca capta
ele por que ele não tem identidade, e isso já é mais uma prova de que o juízo é destituído. Não há
física quântica a partir de um juízo aristotélico, não há como. Então essa questão que você pôs na
última exposição dizia assim, não há que se reconhecer uma contribuição dessa metafísica
ocidental para esse tipo de pensamento? não, ao contrário esse tipo de pensamento destitui esse
modelo. Não há física quântica com o modelo do juízo, não tem como, por que o que faz o juízo,
vamos entrar nisso por que faz tempo que eu quero entrar e não estou conseguindo...
É o seguinte, o Aristóteles ele partiu de uma base platônica que já estava balizada, digamos assim,
o Platão designou, delimitou o perímetro, o limite, o acabamento digamos assim, do ponto onde
uma representação pode ser fundada, ele diz , essa matéria é a matéria sobre a qual se pode
trabalhar e as noções de identidade ou seja, algo que permanece sempre idêntico a si mesmo e de
semelhança ou seja, algo que está em devir mas que entra dentro de certos limites espaciais,
temporais e funcionais na medida em que investe por semelhança nas relações internas
constitutivas daquela identidade, você tem a condição de desenvolver um sistema representativo
que o Aristóteles veio a desenvolver. Então para o Aristóteles tudo que existe são substâncias ou
indivíduos físicos no mundo... o ser a alma e a linguagem, é isso que existe para ele. Os indivíduos
físicos são captados pela nossa razão que é uma parte da nossa alma. O Aristóteles dizia que a
nossa alma tem três partes, a vegetativa, a sensitiva e a intelectiva. A sensitiva capta os fantasmas
sensíveis ou as impressões sensíveis que os outros corpos deixam sobre nós. A vegetativa capta o
movimento próprioceptivo, as nossas próprias modificações, as nossas sensações internas e
orgânicas. E a intelectiva vai selecionar, classificar, delimitar através do modelo do juízo o que vale
a pena ser classificado, selecionado e o que não tem realidade ou que não tem importância. Então
as diferenças acidentais numa substância ou num indivíduo são desprezadas como acidentais.
Você tem um indivíduo que é uma substância e que é feito de matéria, forma e acidentes, que são
materiais e também formais. Os acidentes são formas e matérias secundárias. Se tem uma forma
essencial e uma forma essencial que constituem o indivíduo. Mas o indivíduo para Aristóteles não
é objeto de interesse ou de conhecimento, por que o indivíduo não leva à unificação, à
hierarquização, não leva à distribuição do ser a partir de uma unidade que se chama o bem, por
que Aristóteles é um socrático, ele é um platônico, ele acredita nessa entidade ou nesse elemento
universal de unidade. Então ele capta do indivíduo só a forma que é a única capaz de ser
universal, a única que é comum a todos os indivíduos. Então aos homens eu vou captar a forma
homem e essa forma vai se dar através de uma intuição das diferenças últimas que eu encontro
em toda a natureza, que são as categorias, a substância, a qualidade, a quantidade, o
movimento... as grandes diferenças e uma adequação disso tudo às pequenas diferenças que são
os indivíduos, e partir do momento que eu abstraio essas diferenças que não interessam dos
indivíduos, eu fico só com a forma universal eu dou a definição da forma daqueles indivíduos que
no caso de homem é o animal racional, existe toda uma lógica para se chegar ao animal racional.
Tem um gênero generalíssimo que é dividido a partir dos termos médios através do silogismo você
vem se assentando, mas a diferença específica a um gênero vai ter numa espécie, numa espécie
intermediária e assim vem e de espécie em espécie intermediária, na medida que você vem
dividindo gêneros com a diferença específica em espécie, você chega até a espécie última que
seria aquela que a partir da qual não se pode mais chegar a uma nova espécie, mas a partir da
qual só os indivíduos são suprimidos por ela, então se tem por exemplo a forma homem, o homem
é um animal racional, é a forma específica ou a definição universal que leva as diferenças a uma
unificação racional, diferenças físicas e materiais a uma unificação racional.
Agora isso só é possível se eu estou numa posição ou num tópus, para falar em topologia do
desejo e do pensamento, a partir do qual eu visualizo a necessidade de encontrar uma
comunidade nos objetos, nos sujeitos e nas idéias e além disso encontrar uma boa direção, um
bom sentido, uma orientação para o bem, uma orientação para a finalidade, para a universalização
ou para essa indeterminação genérica que seria o modo com que faríamos que o indivíduo fosse
um indivíduo justo, comportado, bem realizado ...
O juízo então possui duas funções ou dois órgãos, e daí a designação de uma representação
orgânica. Um órgão que seria um órgão unificador das nossas sensações, das nossas ações, das
nossas paixões, memórias, imagens, seria exatamente o senso comum. O senso comum nos
informa que é a mesma forma ou o mesmo eu que anda, dorme, senta, come, defeca, trepa, fala,
pensa, sente imagina, ou seja é uma mesma entidade que tem todas essas ações e paixões ou
essas atitudes. Isso dá a inversão da imagem que vai fundar a unidade do sujeito ou seja, você
através de uma falsa unidade, de uma unidade abstrata de ações e de paixões vai acreditar que é
o mesmo agente ou paciente que age ou que padece e que pensa.
Além disso essa mesma posição de desejo e de pensamento, para não falar logo de imaginação,
vai ver nos objetos que percebe ações e reações distintas, modos distintos de se comportar, não
obstante vai dizer há algo que subsiste, há um substrato atrás daquelas manifestações diferenciais
e singulares, e isso que subsiste do substrato é a forma unitária do objeto, é a forma da
substância, é a forma do indivíduo, é o universal que conduz o indivíduo à sua virtude, ao bem, à
sua organização, é o que faz com que o indivíduo tenha um lugar, um cargo, uma função, um
sentido, um valor.
E há uma outra manifestação funcional desse órgão genérico que nos constitui ou de como dizia o
Aristóteles, ser e sentir, que é exatamente o bom senso, o bom sentido. Você determina um
sentido no tempo e diz que a realidade se ordena a partir de um passado em direção a um futuro.
Dá um bom sentido ao tempo e diz que o tempo só tem um sentido, ordenável que conduz do mais
diferencial, do mais singular ao mais universal, ao mais regular, ao mais genérico, no fundo ao
mais indiferenciado, ou seja, há uma anulação da diferença, uma anulação da singularidade,
anulação de desejo...-...-... o bom senso só capta o devir para aprisioná-lo, para capturá-lo, separá-
lo do que ele pode, por que o bom senso vai dizer ao seu devir aja de acordo com o que vai te
fazer bem por que tem algo que lhe vai fazer mal, e o que vai te fazer bem é você entrar no
sistema de regulação e ordenação de mediação, ou seja, você vai encontrar o limite, a forma, a
idéia que vai dar exatamente a justeza das suas ações, das suas paixões, dos seus
pensamentos... isso já é o juízo, ele age de fora e de dentro ao mesmo tempo no momento em que
ele está instalado em mim, por isso é que eu disse que o estado age dentro de nós no momento
que a gente fala "eu", na medida em que eu tenho o bom senso e o senso comum, o eu do juízo, o
eu moral. ...-...-...-... se existe uma forma que eu devo seguir, eu sou responsável pela minha vida,
se eu me identificar com aquela forma eu tenho já uma opção, eu me dirijo para as alturas ou para
esse extrato que paira na nossa sociedade, isso é uma altura mesmo que tenha a estatura
humana, uma estatura do sistema capitalista, seja o que for, mas há um elemento que faça com
que o meu desejo, o meu pensamento se projete nisso, se descole do real e eu perca o sentido de
como o real é produzido, e então na medida em que eu perco esse sentido eu sou incapaz de
avaliar a minha potência de efetuação, então eu vou precisar de uma medida exterior, um limite
que vem de fora e mais, eu vou ser um homem de bem na medida em que eu obedecer esse
limite, por que assim eu vou estar tendo uma recompensa de ordenação e não vou ter risco de
entrar no caos e ficar louco, de ser um criminoso, um pirado... ...-...-... fixa-se o tempo ... se dá um
nome o tempo e o lugar...-... o número ou a identidade seja o que for...-...-... você já nasce
covarde, você é incentivado a ser covarde, é incrível isso... já nasce com o medo que o mal vai te
pegar...-... o Nietzsche dizia na Genealogia da Moral que nós não passamos de mulherzinhas
estéricas, aí é Nietzsche falando... -...-...-... o Nietzsche é completamente anti machista, é só lê-lo...
ele diz que a gente é incentivado a eliminar a dor, há uma dorzinha vamos inventar um antídoto,
uma anestesia, nós estamos tão anestesiados de uma maneira tal que nós não sabemos mais a
onde que a força é produzida. ...-...-... não se apeguem tanto a significados das palavras enquanto
palavras... -...-... eu vou dizer mais, Nietzsche diz que se vão ter com as mulheres não se esqueças
do chicote...-...-... eu vou começar a provocar você se você se apegar muito às palavras...-...-...
quem mais do que Nietzsche denunciou o homem como covarde, fraco e miserável...-...-... não é
uma questão de gênero...-...-... o homem deve morrer... a forma homem deve morrer ...
O que é importante marcar é que foi Aristóteles o primeiro a explicitar essa instância que é o juízo,
que é o lugar a partir do qual uma entidade se arroga o direito de julgar a realidade classificando,
ordenando a realidade segundo o bom senso e o senso comum. Em nome do bom senso e do
senso comum se arma uma arapuca para o desejo e para o pensamento...
tem aquela música ... "eu não gosto do bom gosto, eu não gosto do bom senso, eu não gosto dos
bons modos, eu não gosto... eu gosto dos que tem fome, dos que morrem de vontade...-...
é lindo... é o devir cantor...-...-...
O que a gente está aqui liberando é uma consistência para se chegar numa obra de Deleuze...
é começar viajar no pensamento em silêncio, algo assim e não se deixar envolver por palavras ou
significantes, é você embarcar noutro sentido, é viajar mesmo em velocidade absoluta, então ao ler
um texto você começa abrir a partir do momento que você abre exatamente esses planos de
consistência, dá consistência para que o real nos invada novamente. O que é fundamental aqui é
que... a filosofia ocidental, os planos de transcendência, as máquinas de captura, elas tem sempre
essas duas funções a de um sentido ou de um único retorno, uma única direção e ao mesmo
tempo isso só pode ser feito se você fixa uma origem do sentido...-... No caso de uma distribuição
nômade o ser é igual para todas as diferenças, não tem mais hierarquia como tinha em Platão e
Aristóteles, não só ele é igual, mas é pleno, unívoco, eu, você, a minhoca, essa vela tem o ser e o
mesmo ser em nós. É um ser absoluto e o mais singular possível, o único mesmo, a única
igualdade nesse ser, desse eterno retornar do ser é exatamente a afirmação do diferente. A grande
identidade do ser é a diferença. O ser tem um único sentido e mesmo sentido de todos os seres,
ele se afirma de todos os seres. Então ao invés de eu habitar um juízo, um eu, um bom senso e
um senso comum, eu me torno esse ser e essa diferença. No momento em que eu me torno esse
ser, ele afirma todo o acaso. Todo o acaso é uma benção, é uma graça, é uma salvação, todo
acaso é necessariamente vitorioso, então ele se torna um ser afirmativo e não um camicase nunca,
ele não se torna suicidável, o medo dos homens é de cair no sem fundo, é de cair numa loucura...-
...-...-... o que está se dizendo é que não tem verdade, é que não tem um ponto, uma referência
fixa para a verdade e nem para o erro, o erro para Nietzsche é fraqueza, o erro não é o desvio de
uma forma verdadeira, o erro é impotência, é covardia, é um estado de impotência ou seja o
desejo e o pensamento separados daquilo que eles podem, ou seja, o que é a verdade? a verdade
é afirme o que você pode, se ligue ao que você pode, por que o que você pode é sempre uma
diferença, é sempre uma perspectiva absoluta na medida que você afirma plenamente, então todo
ponto de vista é uma perspectiva, mas ela é absoluta, ou seja, não há relatividade também como
não há absolutismo. Você é uma singularidade e essa singularidade só gera realidade, só produz
realidade na medida em que ela afirma o que há de próprio nela, o que há de diferença nela. E na
medida que ela afirma ela se efetua e só aí que ela sabe o que ela podia, Spinoza diz nós não
sabemos o que pode o corpo e também o que pode o pensamento a não ser que a gente exerça a
potência do corpo, exerça o poder, essa potência imanente...
...-...-...-... esse ser está atravessando, e esse ser quer afirmar uma diferença, uma multiplicidade,
uma pluralização, ele quer se enriquecer, ele quer dizer que a minha forma de expressão não é só
essa, tem essa e essa e mais essa indefinidamente...-...-... o pensamento é um exercício lúdico de
efetuação de sua potência, ele quer saber o que ele pode e só assim você sabe o que ele pode por
que senão você fica esperando uma medida que vem de fora, uma transcendência, mesmo que
essa altura seja psicológica, no fundo ela é imaginária, essa altura, esse ego, esse superego, ele é
simplesmente a capa da imaginação que ocorre no meio das relações... ...-...-...-... essa estatura
psíquica nada mais é que o estado mais superficial e fútil e impotente da nossa consciência por
que eu olho para um objeto e vejo a forma, essa é a consciência mais superficial, ela não viaja na
relação, ela não viaja no processo do objeto percebido, ela se chapa na imagem, ela paralisa ali,
então essa é a base de toda a representação, esse é o chapado literalmente, quando você não
está em devir você está chapado...-...-... em geral acaba sendo um falso devir por que esse ser
enfraquecido, abestalhado e idiotizado que já vem fabricado por uma xuxa da vida, e todos os
sistemas inviáveis de idiotização, ele já está tão imbecilizado que no momento em que ele transa a
droga, a droga só intensifica o seu estado, então se você está idiota, você fica mais idiota ainda...
se você está livre ela vai intensificar sua liberdade, você vai dizer que ela te abriu um campo mas
eu posso ir até além sem ela, então não é moralizar a droga, é por isso que essa publicidade anti
droga é completamente hipócrita por que eles moralizam a droga, é um caminho sem volta, isso é
estupidez... é obediência, você obedece a lei, tudo bem, numa sociedade hipócrita precisa desse
sistema que é obediência. Então o que eles não dizem é que a droga de fato te arrasta para um
devir que a sociedade inteira te ensinou a recusar. Então você tinha um devir criança, então você
tinha mil afetos, mil ligações e derepente a sociedade através dos seus ritos de passagem, do seu
nome, da sua identidade, do seu número, a sua função, agora você é criança, agora você é aluno,
daqui a pouco você é filho, irmão, então essas relações, essas fixações de funções vai te roubando
devir e você vai começando a se fixar nas imagens chapadas e aí vem a droga e te puxa esse
tapete imaginário que são essas fixações, as drogas intensificam e soltam as marcas e aí se você
não apreender de fato o que está acontecendo, se você não for um experimentador, se você não
tiver aquele ser afirmativo em você, você dança, por que daí você vai moralizar, e não há nada pior
do que gente pervertida, isso é horrível, o cara foi um bandido, assassino e de repente vira
crente...-...-...
...-...-...-... você falou em simulacro, o que é o efeito mais diabólico e demoníaco do simulacro, ele
produz uma ilusão de semelhança, ele é uma imagem, um signo, uma coisa qualquer que esconde
o local de onde que ele está sendo gerado, produzido, então aquele tempo e aquele lugar que ele
ocupa está oculto, isso que é diabólico no simulacro e no entanto o simulacro é o único modo de
produção de realidade, então não há que se moralizar o simulacro, há que se aprender o como a
realidade é produzida. É evidente que o capitalismo vai produzir simulacro da maneira que mais
lhe interessa, que são fantasmas que geram uma demanda fictícia, inclusive na falta e você vai
correr atrás dela e nunca vai conseguir o seu preenchimento, é uma casa vazia e um elemento
sem casa, sempre vai estar a casa vazia aqui na frente e o elemento sem casa atrás, é o sem teto
correndo atrás da casa, é isso aí, essa imagem da cenourinha na frente do burro...
existe lógica em tudo, os estóicos dizem aliás é isso, a natureza está plena de sentido, onde há
acontecimento há sentido...-...-... não tem nada que destruir a lógica, tem que levar a lógica onde
ela é o pensamento e não fazer uma lógica para representar o pensamento, é lógica e pensamento
numa coisa só e mais do que isso, é lógica e pensamento e modo de vida ser tudo uma coisa só,
aí não tem dicotomia. Então o que ocorre é que esses sistemas de lógica ou de pensamento entre
aspas dos EUA , da Yuguslávia disso ou daquilo são sistemas que estão travestindo um interesse
de um tipo de relação, então eles tem a verdade que eles merecem, tem o sentido de mundo que
eles merecem e estão tendo esse retorno.
...-...-...-... hoje em dia nós não estamos submetidos exclusivamente aos códigos, existe um
elemento ainda mais sutil que o código que é a axiomática, equivalência abstrata do sistema
capitalista, DM, dinheiro e mercadoria. Só que a mercadoria que se pensou ser essencial que era o
dinheiro, não era essencial, a essencial é que essa axiomática entrou na nossa subjetividade, a
produção de subjetividade é a grande mercadoria que o capitalismo inventou, por isso que o
comunismo não deu certo... e nem chegou a existir... ocorre que o capitalismo deu uma sutileza
assim incrível, àquele velho modelo do juízo aristotélico, então hoje em dia se tem uma lei
imanente a você mesmo. Essa forma homem é uma sutileza que permite ao capitalismo fazer
essas trocas axiomáticas e dizer assim o meu poder é o meu dinheiro, essa sociedade só se
alimenta disso...-...-... é então vamos levar para a próxima... tem que ter espaço para o devaneio...
devanear é preciso...

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