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OLIVEIRA, Francisco de. A EMERGÊNCIA DO MODO DE PRODUÇÃO DE


MERCADORIAS: uma interpretação teórica da economia da República Velha no
Brasil (1889-1930). Capítulos 1 e 2. P. 09-75. Editora: Bertrand Brasil. Rio de Janeiro.
1997

Oliveira, 1997, assinala na chamada primeira república (1889-1930): “o país


surgira inserido no bojo da expansão do capitalismo ocidental”. Nessa condição, se
especializara em sua declarada “vocação agrícola”, que atingira o auge com a
exportação do café, entre 1910 e 1925. O legado econômico do Segundo Império à
primeira vista, como de uma economia que se expandia rapidamente, havendo
encontrado seu lugar na divisão internacional do trabalho já caracterizada, como a crise
da Abolição predominante anunciava e cujos limites eram dados precisamente tanto
pela expansão quanto pelas suas formas.
O crescimento econômico do Segundo Império de apresentou fundado na
produção e exportação de matérias-primas e produtos agrícolas. No Primeiro Império, a
classe dominante se subordinava aos interesses da metrópole. Já no Segundo Império, o
baronato brasileiro passou à condição de classe dominante e repudiava um tipo de
Estado estranho aos seus interesses. Um baronato que detinha o principal meio de
produção, a terra, e que, portanto, detinha a total virtualidade de mediar o emprego da
mão- de -obra escrava e de autonomizar-se em relação ao Estado.
O autor chama a atenção ao fato da formação do campesinato no Brasil ter se
dado concomitantemente à instauração das formas de trabalho livre e esse dado é uma
das especificidades do processo de economias que nasceram como uma reserva de
acumulação primitiva da expansão do sistema capitalista mundial. Sobre esses pontos,
a saber, temos: a formação de um baronato no sentido de proprietários dos meios de
produção em oposição a uma suposta aristocracia nos moldes europeus que
reconfigurava um Estado de acordo com seus interesses; é nesse período que se observa
a formação de um campesinato e de uma população para o capital com fundamento nas
relações de troca; intensificação dos lucros pela intermediação comercial via potências
estrangeiras e etc.
Uma questão importante que o autor aponta é a parte das alterações na divisão
social do trabalho e que encontra na abolição formal da escravatura um ponto de
inclinação: a passagem para o trabalho livre transforma a mão-de-obra fundada no
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capital constante em capital variável. "A Primeira República herda, pois, uma economia
cujas condições de acumulação e crescimento haviam sido grandemente
potencializadas”. Em primeiro lugar, avançam os processos de acumulação primitiva,
que a nova classe revertia agora pro domo suo, e que significavam, não apenas a
ampliação da posse e propriedade da terra, mas o controle das nascentes trocas entre
unidades de produção distintas, desfeita a autarquia anterior, por intermédio de todas as
instituições que depois vão caracterizar a estrutura política e social da República Velha,
como o coronelismo, o complexo latifúndio - minifúndio, os agregados. Em segundo
lugar, a instauração do trabalho livre no coração das próprias unidades produtivas do
complexo agroexportador significa uma inversão de situação da economia escravocrata
predominando agora o capital variável e fazendo crescer a rentabilidade das
explorações. Quantitativamente, pois, o volume do excedente sob controle dos “barões
do café” , assim como dos barões do açúcar e dos outros barões era, agora, maior que
em épocas anteriores.
Na república, virá a ter a “intermediação comercial e financeira da agro-
exportação”, uma intermediação “quase totalmente externa”, realizada por instituições e
capital estrangeiros. Neste sentido, afirma o autor, a reiteração da “vocação agro-
exportadora” do país e as formas pelas quais se financiava essa “vocação” chegaram ao
ponto de converter a libra esterlina, então à moeda internacional por excelência, quase
em moeda interna. O autor segue chamando a atenção mostrando que a partir da
Independência em que o Brasil reconfigura sua relação entre apropriação de excedente-
acumulação capitalista, com a inserção de trabalhadores “livres”, os mesmos são
expulsos do custo constante de manutenção da terra e são deslocados para o jogo das
forças de mercado. O custo com o capital constante, que incluía o escravo e sua
subsistência, na produção agroexportadora é jogado para fora da mesma promovendo o
aumento da taxa de lucro. A ruptura das relações escravocratas e a instauração do
trabalho assalariado não podiam elevar a renda derivada do trabalho, o nível global da
renda permanecia constante.
A passagem para o trabalhado assalariado expulsou para fora dos custos de
produção do café a manutenção da massa trabalhadora. Existe uma mudança de
conteúdo fundamental, para a existência de um modo de produção de mercadorias. A
produção de subsistência pelos próprios escravos não fundava nenhuma troca. A partir
desse momento no campo brasileiro a produção de renda da terra passa a transformar a
acumulação de riquezas em acumulação substancial de capital. Esses processos já
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estavam contidos anteriormente, mas essa alteração estrutural é um dos marcos do


período em questão.
A burguesia agrária paulista contava com o principal motor para acelerar os
rumos do capitalismo brasileiro em toda a Primeira República: a constituição e o
incremento da força de trabalho, capaz de potencializar a “vocação agrícola” do país e
tornar o café o produto primário de maior valor no mercado internacional. A passagem
do escravismo ao modo capitalista de produção é marcada pelo nascimento de uma
dinâmica reprodutiva do capital em que uma divisão interna de trabalho, de que a
indústria fabril é componente, origina internamente a economia mercantil, com a qual se
logra criar e avançar sempre para adiante o processo interno da acumulação primitiva.
Nesse momento, transfere-se, pois, para o trabalhador a tarefa do seu próprio
custeio. E isto requer uma nova estrutura social e produtiva, em que dois componentes
têm importância fundamental: a criação do binômio latifúndio-minifúndio através do
nascimento do campesinato; e a invenção da indústria de bens de consumo popular
como novidade da divisão interna do trabalho. A primeira medida é necessária a que o
próprio novo trabalhador das fazendas produza seu sustento sem sair dos intervalos do
tempo dedicado ao produto nobre; e a segunda a que dessa sua reprodução conste bens
não-agrícolas a custo baixo para a acumulação geral do capital. E é o aprofundamento,
no sentido da subversão destas duas componentes, no bojo da qual o campesinato se
metamorfoseie no moderno proletário e a indústria vá injetando modernização à grande
propriedade (industrialização do latifúndio) e assim tornando-se a base do novo padrão
de acumulação, exatamente isto, o movimento da acumulação primitiva até o fim da
acumulação primitiva.
A questão é: da condição de produtor de bens primários para o mercado
capitalista mundial em expansão desde o século XVI. Mas havia obstáculos rumo ao
capitalismo industrial, não bastava produzir os produtos com procura crescente nos
mercados europeus, mas produzi-los de modo a que sua comercialização promovesse
estímulos à originária acumulação primitiva de capital e isto, obrigava as economias
coloniais a se organizarem de modo a permitir o funcionamento do sistema de
exploração colonial, o que impunha a adoção de forma de trabalho compulsório ou, na
sua forma limite, o escravismo. O escravismo como forma de trabalho compulsório
alimenta a acumulação primitiva nas metrópoles capitalistas em expansão. Mas no caso
brasileiro, o que resulta é a ampliação do fundo de terras, sem, entretanto produzir renda
da terra é uma acumulação de riquezas, mas não de capital. Para tentar solucionar essa
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questão, assalariados e semi-assalariados produzem agora apenas os bens de exportação,


camponeses e quase-camponeses, apenas os bens alimentícios de sua própria cesta de
consumo e algumas matérias-primas , cujos excedentes vão para as cidades.
Por fim, o café chegou a ser o principal produto primário do comércio
internacional e, ao funcionar como moeda não nacional de subsistemas nacionais
diferentes, o capitalismo financeiro inglês produziu a reiteração de um padrão de
reprodução do tipo do que regeu a economia brasileira desde os fins do Império até a
República Velha. Com isso fica evidente que a expansão da economia brasileira traz,
em seu bojo, mudanças na divisão do trabalho entre as diversas regiões que compõem o
país. E a questão que se coloca é: existe um “problema regional” no Brasil? Obviamente
que sim. E o crescimento industrial da região Sudeste que se erige em árbitro e
orientador da divisão regional do trabalho no Brasil.

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