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Processo: 0000574-40.2017.8.16.0120
Classe Processual: Procedimento Comum
Assunto Principal: Aposentadoria Especial (Art. 57/8)
Valor da Causa: R$1.000,00
Autor(s): MARIA RITA GONÇALVES RODRIGUES
Réu(s): INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
SENTENÇA
I. RELATÓRIO.
Trata-se de “Ação Previdenciária” proposta por MARIA RITA GONÇALVES RODRIGUES em face do
INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL. Alega a parte requerente que, em 28/11/2016, protocolou
pedido administrativo perante o INSS de aposentadoria por tempo de contribuição, o que foi indeferido sob o
argumento de não ter alcançado o tempo mínimo de contribuição exigida na legislação para a concessão da
benesse.
Contudo, aduz que o INSS não considerou para o cálculo do tempo de contribuição o período de
serviço rural laborado pela parte autora sem registro em CTPS como trabalhadora rural com os seus pais e
irmãos entre 03/10/1976 a 31/01/1984, bem como deixou de averbar o período laborado em atividade
especial, como técnica de química, no período de 01/02/1991 a 28/11/2016.
Por fim, pleiteou pela averbação do período de 03/10/1976 a 31/01/1984, em relação ao labor rural
desenvolvido, bem como o reconhecimento do período que exerceu atividade especial de 01/02/1991 até
28/11/2016. Por consequência, requereu a concessão do benefício de aposentadoria por tempo especial, ou
alternativamente, aposentadoria por tempo de contribuição, com a condenação do INSS ao pagamento das
parcelas vencidas e vincendas desde a data do pedido administrativo até a implantação do benefício. Instruiu
a inicial com os documentos nos movs. 1.2 a 1.13.
Devidamente citado, o requerido apresentou contestação (mov. 17.1), insurgindo-se, no mérito, sobre
a ausência de início de prova material e a impossibilidade de concessão de benefício a partir da prova
exclusivamente testemunhal, bem como a ausência de comprovação da exposição habitual e permanente a
agentes nocivos em níveis fora dos padrões de tolerância.
Ao final, pugnou pela improcedência do pedido inicial. Juntou documentos (movs. 17.2 e 17.5).
Foi proferida decisão saneadora (mov. 29.1), fixando os pontos controvertidos e deferindo a produção
das provas documental, testemunhal e pericial.
É em síntese o relato.
DECIDO.
II. FUNDAMENTAÇÃO
DA ATIVIDADE RURAL
Nos termos do artigo 55, § 2º, da Lei nº 8.213/91, o trabalhador rural, ora enquadrado como segurado
empregado, autônomo ou segurado especial pode ter reconhecido o tempo de serviço anterior a novembro
de 1991, independentemente do recolhimento das contribuições a ele correspondentes, exceto para efeitos
de carência.
Saliente-se que tão somente a prova testemunhal não é suficiente para comprovar o efetivo exercício
de atividade rural, sendo necessário que haja início razoável de prova material (Súmula 149, STJ).
b) Certidão de nascimento da autora, lavrada em 03/10/1964, constando a profissão dos pais como
lavradores (mov. 1.8);
c) Certidão de óbito do pai da autora 22/03/1976, constando a profissão de agricultor (mov. 1.10);
d) Fichas de inscrição escolar da autora, constando a profissão de seu pai como lavrador, residentes
na Fazenda Santa Rita, datadas em 1975 e 1976 (mov. 1.9);
e) CTPS – com um único registro, com admissão em 01/08/2013 sem data de saída, no Município de
Nova Fátima, como agente administrativo.
g) Declaração emitida pelo Serviço de Água e Esgoto de Nova Fátima - SAAE e Decretos de
nomeação e exoneração (movs. 1.11/1.12)
Nota-se que a documentação apresentada não abrange todo o período de atividade que se deve
comprovar. No entanto, isto não impediria o reconhecimento do exercício de atividade rural.
Afinal, não se exigem documentos para todo o período de carência, devendo ser a exigência de início
de prova material analisada com seu devido temperamento, em razão da informalidade das relações de
trabalho no campo e a natural dificuldade da produção de tal prova em juízo pelos interessados, sob pena de
se inviabilizar o acesso ao benefício.
Com efeito, é dispensável que o início de prova material abranja o período de carência, desde que a
prova testemunhal amplie a eficácia probatória da documentação juntada.
Ainda, insta destacar que os documentos hábeis à comprovação da atividade rural não se restringem
apenas aos indicados no art. 106 da Lei 8213/91, vez que se trata de rol exemplificativo.
Primeiro, porque os documentos encartados nos autos, em verdade, não são aptos como início de
prova material, uma vez que são extemporâneos ao período que se pretende reconhecer.
A documentação que comprova a atividade rurícola familiar é do período de 1950, 1964 e 1976,
sendo que o período que se quer reconhecer, nestes autos, é relativo a 03/10/1976 a 31/01/1984. Assim, os
documentos não são suficientes para provar a dedicação da requerente à atividade rural no período descrito
na exordial
"Que, em 1976, tinha 12 anos. Que estudou na Fazenda Santa Rita. Que morou na
Fazenda Santa Rita até uns 19/20 anos. Que estudou até o ensino primário na
fazenda e depois estudava na cidade. Que da Fazenda para a cidade eram 7
quilômetros. Que alguns irmãos estudavam de manhã e à noite. Que a Fazenda Santa
Rita era fundada pelos avós da autora dela. Que o pai cultivava uma parte da fazenda
maior. Que o pai cultivava na maioria das vezes o café até o falecimento dele. Que
antes teve uma geada, daí começou a aparecer outras culturas. Que tinha um trator.
Que os irmãos mais velhos ficavam trabalhando no trator, e os mais novos ficam
colhendo algodão, arroz, sem maquinário. Que são em 11 irmãos. Que o pai faleceu
até 76. Que trabalhava no período da tarde, depois que chegava da escola. Que não
tinham empregados. Que antes do pai falecer tinham alguns empregados, aí depois
do falecimento do pai não tinham mais condições (...). Que estudou em Maringá
engenharia química. Que vendiam o que plantavam. Que o dinheiro que ganhavam
não era suficiente. Que um irmão formou em medicina na época, porque o pai ajudou,
sendo que depois que o pai faleceu esse irmão passou a auxiliar os demais. Que
quando o pai faleceu, só não trabalhava na lavoura dois irmãos, o médico e uma irmã
que era professora (...). Que o sítio existe ainda, sendo que a mãe arrenda
atualmente. Que o sítio tem 26 alqueires, contudo, não eram os 26 alqueires
plantados, porque tinha uma parte que era pasto, sendo que plantavam em 18
alqueires. Que, na época de colheita, era alugado maquinário, que não lembra quanto
era pago (...). Que hoje a mãe é aposentada rural".
"Que conhece a Maria da Santa Rita. Que morava no sítio São José que era vizinho
do sítio Santa Rita. Que o depoente conheceu a Maria bem pequena, ela morava com
o pai no sítio. Que, quando a conheceu, o pai dela ainda era vivo e ele faleceu em
1976. Que lembra do falecimento porque teve enfarto durante um jogo de futebol, que
ele era juiz do jogo. Que Maria morava com seus pais e 11 irmãos. Que a autora
ajudava os pais que, na época, era algodão, milho, soja. Que plantavam café e,
depois da geada, mudaram a lavoura. Que o sítio tinha uns 20 e poucos alqueires com
plantação e pasto. Que tinham um trator e um arado. Que o depoente morava no sítio
vizinho, também trabalhador rural. Que, na época que o pai era vivo, tinham
empregados. Que com o seu falecimento repartiram o sítio e não tinham empregados.
Que a Maria deixou o sítio antes do depoente. Que ela saiu do sítio com uns 19, 20
anos. Que ela saiu do sítio para estudar. Que a família permaneceu no sítio. Que o
sítio ainda é da família, mas não trabalham mais lá. Que eles faziam de tudo,
trabalhavam na roça, plantando algodão, e a autora ia ajudar de baixo do sol. Que o
serviço doméstico era a mãe. Que a autora ia junto com os irmãos. Que eles vendiam
a sobra, que sempre guardava para consumo. Que todos estudavam, que um foi
ajudando o outro, mas não sabe se só com a renda da fazenda era possível (...). Que,
na época do pai dela, a fazenda era uma só, que depois do falecimento foi repartido
entre os irmãos do pai dela. Que os 20 alqueires já era a parte repartida da família
dela, mas antes essa era maior".
Desta forma, é conclusivo pelos depoimentos colhidos em Juízo que a autora não trabalhava em
regime de economia familiar, tratando-se, pois, de hipótese de família que cultivava o ramo empresarial rural
e com maquinário próprio, de modo que deveria comprovar haver vertido as devidas contribuições
previdenciárias.
O Egrégio Tribunal Regional Federal da 1ª Região resumiu bem qual foi o verdadeiro espírito do
legislador ao instituir o regime de economia familiar, salientando que a finalidade é conferir tratamento
especial “àquele que não tem capacidade econômica para ingressar no sistema previdenciário, com o
pagamento das respectivas contribuições, mas que não pode permanecer à margem da proteção, ainda que
mínima, conferida pela previdência social” (TRF1, AC 2005.01.99.0732917).
Com efeito, a família da autora ostenta uma realidade que se distancia, e muito, da condição do labor
rural exercício em regime de econômica familiar.
Sabe-se que o regime de economia familiar foi criado para quem não pode (e não para aquele que
não quer) contribuir com a Previdência Social.
Assim, no período que pretende ver reconhecido a autora, embora alegue que tenha se dedicado ao
campo, não o fez na condição de mera lavradora ou para a subsistência do núcleo familiar, mas sim porque
apenas fazia parte da família de produtores rurais, restando descaracterizada a condição de segurada
especial para o reconhecimento do período requerido.
Nesse sentido:
O segurado que trabalhou alternativamente em atividade comum e especial tem direito a ter
convertido o seu tempo de serviço especial incompleto, para efeitos de concessão de aposentadoria por
tempo de contribuição, na forma do art. 57, § 5º da Lei nº 8.213/91 e art. 58, inciso XXII, e art. 64 do Decreto
nº 2.172/97.
Contudo, apesar de a parte autora ter realizado o pedido com relação ao período lavorado em
01/02/1991 a 28/11/2016, de forma contínua, ao contrário do alegado, observo por meio da declaração
emitida pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Nova Fátima, que o período foi fracionado, tendo
diversas nomeações e exonerações, motivo pelo qual referidas datas serão as observadas na presente
decisão.
De acordo com a declaração referida, consta que os períodos trabalhados pela requerente são os
seguintes:
De 03/01/2017, até a data em que a declaração foi emitida (10/01/2017) – cargo: provimento
em comissão de chefe do setor de engenharia química, Lei n°1185/2013, símbolo CC-2, Decreto
n°10/2017.
Porém, o pedido do presente feito, é com relação ao período laborado de 01/02/1991 a 28/11/2016:
a) 01/02/1991 a 23/02/1994: 3 anos e 23 dias;
Da Aposentadoria Especial.
A aposentadoria especial é devida ao segurado que tenha trabalhado durante 15, 20 ou 25 anos,
conforme o caso, sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física.
Para a sua concessão exige-se o preenchimento dos seguintes requisitos: a) tempo de trabalho
sujeito a condições especiais; b) carência: comprovação de um mínimo de 15 anos de contribuição (180
contribuições mensais), observada a regra de transição do artigo 142 da Lei 8.213/91.
Tal benefício visa a atender segurados que são expostos a agentes físicos, químicos e biológicos, ou
uma combinação destes, acima dos limites de tolerância aceitos, o que se presume produzir a perda da
integridade física e mental em ritmo acelerado, sendo que esta exposição deverá ser efetivamente
comprovada pelo período equivalente ao exigido para a concessão do benefício, através do perfil
profissiográfico previdenciário (PPP), emitido pela empresa ou seu preposto, com base em laudo técnico de
condições ambientais do trabalho, expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho.
Embora não tenha havido, por parte do empregador, o recolhimento de TODAS as contribuições
previdenciárias devidas, o empregado não poderá ser penalizado por tal irregularidade, uma vez que a
fiscalização e arrecadação das contribuições é responsabilidade da autarquia previdenciária, não podendo
ensejar óbice à concessão de benefício a que o segurado tem direito.
Ainda, não se diga que as anotações na CTPS não constituem prova plena do exercício de atividade
em relação à Previdência Social, uma vez que é pacífico o entendimento no sentido de que as anotações
efetuadas em CTPS, desde que não comprovada fraude, constituem prova plena para efeitos de contagem
de tempo de contribuição, ainda que o beneficiário seja servidor público e tenha contribuído para um regime
próprio de previdência durante o seu tempo de contribuição. Neste sentido o seguinte julgado do Tribunal
Regional Federal da 4ª Região:
A declaração apresentada pela autarquia comprova o labor exercido pela parte autora durante
aludidos períodos extemporâneos (mov. 1.11), o qual é corroborado pela CTPS (mov. 1.13).
Reconhecida a aposentadoria especial, pedido principal da parte autora, resta prejudicada a análise
do pedido subsidiário de aposentadoria por tempo de contribuição.
III. DISPOSITIVO
Diante do exposto, julgo PROCEDENTE o pedido formulado pela parte requerente e coloco termo ao
feito com resolução do mérito, com base no artigo 487, inciso I, do Código de Processo Civil para o fim de
CONDENAR o INSS a:
Quanto às parcelas do benefício em atraso, deverão ser corrigidas monetariamente a partir das datas
em que deveriam ser pagas e acrescidas dos juros de mora a partir da citação, observando-se o seguinte:
correção monetária pelo INPC e juros moratórios que corresponderão aos incidentes sobre a caderneta de
poupança, nos termos do artigo 1º-F da Lei 9.494/97, com redação dada pela Lei nº 11.960/09, considerando
o disposto no RE nº 870947, do E. Supremo Tribunal Federal, Tema 810.
Condeno o INSS, ainda, ao pagamento das custas judiciais e honorários advocatícios, os quais fixo
em 10% (dez por cento) das prestações vencidas até a data desta sentença (Súmula 111 do STJ).
Diante do disposto no art. 496, § 3º, inc. I, do Código de Processo Civil, da constatação de que o
valor dos atrasados não se revela ilíquido, mas depende apenas de cálculos aritméticos e que não
ultrapassará o limite de 1.000 (mil) salários mínimos, bem como face ao recente entendimento do E. TRF4,
deixo de determinar a remessa necessária dos autos ao E. Tribunal.
Juiz Substituto