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Ética I – Prof. Juan Antonio Acha e Prof. Dr. Pe. Sérgio Ibanor Piva
e-mail: juan@claretiano.edu.br
e-mail: reitor@claretiano.edu.br
ÉTICA I
Caderno de Referência de Conteúdo
Batatais
Claretiano
2013
© Ação Educacional Claretiana, 2013 – Batatais (SP)
Versão: dez./2013
170 A16e
ISBN: 978-85-67425-57-3
1. Visão geral dos fundamentos da Ética, bem como das bases conceituais e de suas
diferenças ligada à moral. 2. Influência do cristianismo no pensamento medieval
ocidental. I. Piva, Sérgio Ibanor. II. Ética I.
CDD 170
Preparação Revisão
Aline de Fátima Guedes Cecília Beatriz Alves Teixeira
Camila Maria Nardi Matos Felipe Aleixo
Carolina de Andrade Baviera Filipi Andrade de Deus Silveira
Cátia Aparecida Ribeiro Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz
Dandara Louise Vieira Matavelli Rodrigo Ferreira Daverni
Elaine Aparecida de Lima Moraes Sônia Galindo Melo
Josiane Marchiori Martins
Talita Cristina Bartolomeu
Lidiane Maria Magalini
Vanessa Vergani Machado
Luciana A. Mani Adami
Luciana dos Santos Sançana de Melo
Luis Henrique de Souza Projeto gráfico, diagramação e capa
Patrícia Alves Veronez Montera Eduardo de Oliveira Azevedo
Rita Cristina Bartolomeu Joice Cristina Micai
Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli Lúcia Maria de Sousa Ferrão
Simone Rodrigues de Oliveira Luis Antônio Guimarães Toloi
Raphael Fantacini de Oliveira
Bibliotecária Tamires Botta Murakami de Souza
Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11 Wagner Segato dos Santos
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web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do
autor e da Ação Educacional Claretiana.
CRC
Ementa––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Visão geral dos fundamentos da Ética, bem como das bases conceituais e de
suas diferenças ligadas à moral. Influência do Cristianismo no pensamento me-
dieval ocidental.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
1. INTRODUÇÃO
O presente Material Didático Mediacional aspira introduzir o
estudante de EaD no estudo dos problemas fundamentais da Ética
no âmbito da Filosofia. A Ética é uma parte da Filosofia que estuda
a vida moral dos homens. Centra-se no comportamento da pessoa.
Os temas que integram este material são: desenvolvimento
histórico da Filosofia, moral dos gregos antigos até a Idade Média,
doutrinas éticas fundamentais, importância da moral, estudo da
Ética como essência da moral e relação da Ética com a moral.
Quanto ao corpo conceitual da Ética, apresentaremos uma
completa explicação na Unidade 2. O conhecimento factual e a cla-
8 © Ética I
Abordagem Geral
Glossário de Conceitos
O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rá-
pida e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um
bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de
conhecimento dos temas tratados no CRC Ética I. Veja, a seguir, a
definição dos principais conceitos:
1) Amor: virtude central na maioria das tradições éticas,
denotando uma atitude para com o outro que envolve
tanto afeto como um compromisso sério em relação ao
próximo.
2) Amoral: termo que reúne o prefixo "a" ("acéfalo, priva-
ção") e a palavra "moral" (o termo se refere aos campos
da conduta humana). Tem a ver com os princípios que
orientam a conduta do homem. Ser amoral significa não
possuir um código moral.
3) Antinomismo: literalmente significa "contra a lei". Ter-
mo teológico-cristão nos primórdios da Igreja, afirma
que a graça, por meio da fé, aboliu a lei, e que, portanto,
o cristão não está sujeito à lei.
4) Autonomia: literalmente "lei de si mesmo". Exercício
independente da vontade no sentido de obrar indepen-
dentemente.
5) Bem comum: ideia baseada em que o padrão normativo
para a justiça é o bem das pessoas como um todo.
6) Bem viver: como um princípio ético, o "bem viver" é fun-
damento da moralidade e processo para tomar determi-
nações éticas.
7) Caráter: as várias dimensões de personalidade que dis-
tinguem um indivíduo de outro.
8) Cinismo: escola de pensamento ético que afirma que
todo comportamento humano é motivado pelo desejo
egoísta, e que a bondade é a mais alta realização da vida.
Para esses pensadores, a virtude está em alcançar a total
independência do material. O cínico mais famoso é Dió-
genes de Sínope.
9) Compaixão: atitude ou emoção altruísta, leva a atos de-
sinteressados.
Questões Autoavaliativas
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem
ser de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dissertati-
vas.
Responder, discutir e comentar essas questões, bem como
relacioná-las à prática do ensino de Filosofia, pode ser uma forma
de você avaliar o seu conhecimento. Assim, mediante a resolução
de questões pertinentes ao assunto tratado, você estará se prepa-
rando para a avaliação final, que será dissertativa. Além disso, essa
é uma maneira privilegiada de você testar seus conhecimentos e
adquirir uma formação sólida para a sua prática profissional.
Você encontrará, ainda, no final de cada unidade, um gaba-
rito correspondente às questões de múltipla escolha, que lhe per-
mitirá conferir as suas respostas.
Bibliografia Básica
É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus
estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as
bibliografias complementares.
Dicas (motivacionais)
O estudo deste CRC convida você a olhar, de forma mais apu-
rada, a Educação como processo de emancipação do ser humano.
É importante que você se atente às explicações teóricas, práticas
e científicas que estão presentes nos meios de comunicação, bem
como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois, ao com-
partilhar com outras pessoas aquilo que você observa, permite-se
descobrir algo que ainda não se conhece, aprendendo a ver e a
notar o que não havia sido percebido antes. Observar é, portanto,
uma capacidade que nos impele à maturidade.
Você, como aluno dos Cursos de Graduação na modalidade
EaD, necessita de uma formação conceitual sólida e consistente.
Para isso, você contará com a ajuda do tutor a distância, do tutor
presencial e, sobretudo, da interação com seus colegas. Sugeri-
mos, pois, que organize bem o seu tempo e realize as atividades
nas datas estipuladas.
É importante, ainda, que você anote as suas reflexões em
seu caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas pode-
rão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de produ-
ções científicas.
3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FRANKENA, W. K. Ética. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1969.
STANLEY, J. G.; SMITH, J. T. Dicionário de Ética. São Paulo: Vida, 2005.
PLATÃO. Diálogos. São Paulo: Nova Cultural, 1999. (Os Pensadores).
EAD
Filosofia moral – legado
grego
1
1. OBJETIVOS
• Entender os fundamentos da Ética.
• Perceber quais são os objetos material e formal da Ética.
• Apreender as doutrinas éticas fundamentais que se de-
senvolveram em diferentes épocas do pensamento oci-
dental: ética grega, greco-romana, ética cristã medieval.
2. CONTEÚDOS
• A Ética como a parte da Filosofia que se dedica à reflexão
sobre as questões morais.
• A tradição socrática e platônica, o conhecimento do bem
como provocador da ação justa.
• A Ética sofista, mera convenção social.
• Aristóteles, ética e virtudes. Fim último da vida ética.
22 © Ética I
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Os conteúdos desta primeira unidade auxiliarão você, aluno,
a entender mais claramente as questões filosóficas acerca da Éti-
ca. Para isso, partiremos da proposta grega clássica sobre o com-
portamento ético, levando em consideração que a preocupação
por estabelecer o que está bem e o que está mal apõe códigos e
normas morais e é tão antiga como a humanidade.
A felicidade, eudaimonia
Eudaimonia é um termo formado por o prefixo "eu" que
significa "bem disposto" e "daimon", "com um poder divino";
"eudaimon" é o adjetivo para "feliz". No pensamento grego anti-
go, ser feliz significa poder usufruir os dons divinos. Para Platão, a
felicidade é produto da sabedoria. O sábio que acede ao mundo
das ideias é então eudaímon: feliz. Contrariamente a esse pensa-
mento, para Aristóteles a felicidade é uma atividade acessível ao
ser virtuoso que respeita os valores morais.
Esse tema foi comentado por Platão nas obra A República,
(2006, 354a) e As Leis (1991, livro 5) e citado por Aristóteles em
Ética a Nicômaco (2002, livro 1).
A proposta platônica também é diferente da defendida pelo
estoicismo; para os seguidores dessa doutrina, a felicidade resulta
A virtude, aretê
Figura 1 A escola de Atenas (1509-1510), quadro de Rafael, que mostra Platão ao centro.
7) Se fugisse, Sócrates evitaria ser morto injustamente, mas, para isso, iria de-
sobedecer a lei, nomos, que como cidadão jurou respeitar. Ainda que a lei
seja injusta deve ser acatada? Do ponto de vista ético, isto é correto? Assi-
nale qual das seguintes alternativas não é compatível com as teorias éticas
socrática e platônica:
a) Para a tradição socrática e platônica, só o conhecimento do bem poderia
dirigir a ação justa.
b) Sócrates defende a necessidade de se estabelecer critérios racionais
para diferenciar a verdadeira virtude da virtude aparente, defendida pe-
los sofistas. Essa doutrina que equipara sabedoria e virtude é denomina-
da "Intelectualismo ético".
c) Platão afirma que só o sábio é virtuoso, porque unicamente conhece o
que é virtude, ou seja, conhecendo a Ideia de virtude é possível ser vir-
tuoso.
d) Tanto para Platão como para Aristóteles a felicidade é o fim da ação hu-
mana.
e) Na República (2006), Platão, ao reportar sobre as qualidades da cidade,
enumera as quatro virtudes principais: o individualismo, a vontade ou
ânimo, o amor e a medida justa. Posteriormente essas virtudes foram
chamadas de cardeais.
Gabarito
7) e.
© U1 - Filosofia moral – legado grego 49
13. CONSIDERAÇÕES
A moral sempre esteve presente em todas as sociedades e
culturas na forma de regulamento do comportamento social, o que
supõe que sempre existiu uma reflexão filosófica sobre ela, e tam-
bém porque é próprio da natureza humana esclarecer os critérios
que levam a ter uma boa vida. No entanto, foi com Sócrates que a
Ética se organiza a partir de princípios teóricos racionais. Fervente
opositor do relativismo sofista, defendeu a existência de normas
e valores morais absolutos e imutáveis. Esse pensador ateniense
afirmava que, para alcançar a felicidade, devemos ser virtuosos e,
para alcançar a virtude, dependemos do conhecimento.
Assim, o termo grego eudaimonia se relaciona com aretê,
entendido como virtude. As virtudes no trinômio Sócrates, Platão
e principalmente Aristóteles cobraram sentido enquanto caminho
para alcançar a felicidade. As reflexões socráticas sobre a Filoso-
fia Moral possibilitaram o surgimento de muitas propostas éticas.
Platão considerava que a felicidade era o fim da ação humana, e o
bem, o fim da Ética. Aristóteles definiu a felicidade também como
fim que concorda com o atributo humano da razão. E os estoicos
aderiram às virtudes cardinais, propostas por Platão, e centraram
sua reflexão nos problemas da conduta para alcançar o fim da vida
humana, que é a felicidade.
14. E-REFERÊNCIAS
Lista de figuras
Figura 1 A escola de Atenas (1509-1510), quadro de Rafael, que mostra Platão ao centro.
Disponível em: <http://jornaldefilosofia-diriodeaula.blogspot.com.br/2012/01/os-
sofista.html>. Acesso em: 24 abr. 2013.
Figura 2 O império romano antigo. Disponível em: <http://profellingtonalexandre.
blogspot.com.br/2012/09/historia-de-roma-antiga-e-o-imperio.html>. Acesso em: 24
abr. 2013.
Figura 3 A morte de Sócrates (1787), quadro de Jacques-Louis David. Disponível em:
<http://paxprofundis.org/livros/apologia/apologia.htm>. Acesso em: 24 abr. 2013.
Sites pesquisados
BOFF, L. Saber cuidar: Ética do humano. Disponível em: <http://cursa.ihmc.us/
rid=1GMSLFWNB-5RXV9C-GSQ/Saber%20Cuidar%20-%20Etica%20do%20Humano.
pdf>. Acesso em: 24 abr. 2013.
BROCHADO, M. Prolegômenos à Ética Ocidental. Revista do Tribunal de Contas do Estado
de Minas Gerais, Belo Horizonte, ano XXVII, v. 73, n. 4, out./dez. 2009. Disponível em:
<http://revista.tce.mg.gov.br/Content/Upload/Materia/637.pdf> Acesso em: 24 abr.
2013.
CICÉRO. The offices. Tradução de Thomas Cockman. Disponível em: <http://
pensamentosnomadas.files.wordpress.com/2012/04/offices-english.pdf>. Acesso em: 6
maio 2013.
EARNHART, P. O sermão da montanha. Extraindo os tesouros das Escrituras: exposições
práticas. São Paulo, 1997. Disponível em: <http://www.estudosdabiblia.net/som.pdf>.
Acesso em: 24 abr. 2013.
PESSANHA, J. A. M. (Org.). Antologia de textos / Epicuro. Da natureza / Tito Lucrécio Caro.
Da república / Marco Túlio Cícero. Consolação a minha mãe Hélvia; Da tranqüilidade da
alma; Medéia ; Apocoloquintose do divino Cláudio / Lúcio Aneu Sêneca. Meditações /
Marco Aurélio. Traduções e notas de Agostinho da Silva et al.; estudos introdutórios de
E. Joyau e G. Ribbeck. 3. ed. São Paulo : Abril Cultural, 1985. (Os Pensadores). Disponível
em: <http://www.nhu.ufms.br/Bioetica/Textos/Livros/OS%20PENSADORES%20-%20
Epicuro,%20Lucr%C3%A9cio,%20C%C3%ADcero,%20S%C3%AAneca,%20Marco%20
Aur%C3%A9lio%20-%20Cole%C3%A7%C3%A3o%20Os%20Pensadores.pdf>. Acesso em:
23 abr. 2013.
______. Sócrates. Platão. Defesa de Sócrates / Xenofonte. Ditos e feitos memoráveis
de Sócrates; Apologia de Sócrates / Aristófanes. As nuvens. Tradução de Jaime Bruna,
Libero Rangel de Andrade, Gilda Maria Reale Strazynski. 4. ed. São Paulo: Nova Cultural,
1987. (Os Pensadores). Disponível em: <http://bvespirita.com/Os%20Pensadores%20
-%20S%C3%B3crates%20(Jos%C3%A9%20Am%C3%A9rico%20Motta).pdf>. Acesso em:
24 abr. 2013.
PLATÃO. Diálogos Platônicos. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/
pesquisa/PesquisaObraForm.do?select_action&co_autor=173>. Acesso em: 24 abr.
2013. SANTOS, A. L. Para uma Ética do como se. Contingência e Liberdade em Aristóteles
e Kant. Covilhã: Universidade da Beira Interior, 2008. Disponível em: <http://www.
lusosofia.net/textos/santos_ana_leonor_para_uma_etica_do_como_se.pdf>. Acesso
em: 22 abr. 2013.
2
1. OBJETIVOS
• Entender o cerne da reflexão ética na perspectiva filosó-
fica.
• Apreender a natureza, o objeto e o campo semântico da
Ética e da moral.
• Compreender a relação que o aspecto moral tem com a
liberdade humana.
• Dotar de uma ideia adequada o que é um valor moral.
• Entender a presença iniludível de regras morais no seio
da sociedade.
• Compreender por que as normas morais são de caráter
obrigatório.
54 © Ética I
2. CONTEÚDOS
• A Ética no âmbito das disciplinas filosóficas.
• Razão prática e Ética.
• Análise dos termos "moral", "moralidade", "ética".
• Diversidade de concepções morais e éticas.
• Campo da Ética e campo da moral.
• Conceitos fundamentais da Ética: o ser humano, razão,
história, liberdade.
• Ética e religião: os grandes princípios éticos.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Como vimos na primeira unidade, quando analisamos as di-
ferentes doutrinas éticas da Antiguidade, a Ética é uma reflexão
sobre a conduta humana considerando seus dois aspectos: parti-
cular ou subjetivo e social ou objetivo. A dimensão subjetiva cor-
responde à noção grega de "êthos", forma de ser da pessoa, tra-
duzida por "caráter", enquanto a parte dos costumes e hábitos, o
que tem como desencadeador o social, corresponde ao conceito
de "ethos", traduzido como "o que vem da casa", "o que surge dos
costumes da comunidade". As teorias éticas buscam responder às
perguntas: por que existe a moral? Por que esse sistema moral é
válido para orientar nossa vida social? Enquanto as morais con-
cretas buscam esclarecer de que modo podemos organizar uma
boa sociedade, respondem à pergunta: como devo atuar ou o que
devo fazer ante tal ou qual situação?
Tanto os pensadores citados na primeira unidade como os
pensadores da Ética medieval propunham uma moral universal
obrigatória para toda a humanidade, que na Grécia Antiga estava
baseada em normas de validez objetiva, em supostos necessaria-
mente verdadeiros, enquanto na Idade Média ela dependia da pa-
lavra de Deus.
Porém, é bom esclarecer que a moral não pode estar fun-
damentada em um primeiro princípio indemonstrável (tese fun-
damentalista). A comunidade é formada por pessoas; quando
dizemos que o homem é pessoa, estamos supondo que tem auto-
nomia ética, traduzida como a capacidade de distinção entre bem
e mal. E, também, que possui a capacidade de autodeterminação,
de assumir a condução de sua própria vida desde a perspectiva
moral.
Diferente do resto dos entes, o ser humano contém na sua
natureza a dimensão de pessoa, evidenciada na disposição que
possui para atuar de forma autônoma ante uma ação concreta.
Por ser pessoa, ante um caso extremo pode escolher entre o me-
lhor e o pior dos males. A liberdade é a capacidade de que dispõe
o ser humano de obrar ou não obrar, de se sentir responsável por
seus atos voluntários; a liberdade ética caracteriza a pessoa. A pes-
soa humana pode agir em conformidade com agentes externos ou
não, por isso o direito a considera como sujeito ético e um ser de
responsabilidade. A responsabilidade tem relação com a capaci-
dade humana de exercer reflexivamente os atos, ponderando as
consequências (boas ou más) dos mesmos. Atuar com responsa-
bilidade equivale a crescer em direção ao bem (ao ser) no sentido
de um crescimento individual e comunitário, traduzido como hu-
manização.
© U2 - A finalidade da Ética e a essência da moral 57
5. MORAL
Schopenhauer diz que instituir moral é simples, o difícil é funda-
mentá-la. E Wittgenstein acrescenta, instituir moral é simples,
fundamentá-la impossível.
Atos morais
Os atos morais são atos essencialmente humanos. Neles dis-
tinguimos três elementos: objeto, fim e circunstâncias.
São motivados por uma eleição relacionada com a pergunta
"por quê?", sucedida pela indagação "para quê?", relacionada à
finalidade do referido ato. A consciência das possíveis consequên-
cias de nossos atos é importante para a valoração moral. Os atos
morais devem ser realizados de forma voluntária, podendo esco-
lher realizá-los ou não.
Figura 2 Têmis, divindade grega responsável por definir a justiça, no sentido moral
Moral e religião
Toda crença religiosa leva, implícita, uma determinada con-
cepção moral e uma visão de mundo ou cosmovisão. As grandes
religiões, como o Cristianismo, Budismo e Islamismo, possuem
um corpo doutrinar moral, em geral muito bem elaborado, que o
crente deve observar para orientar suas ações. Nele detalham-se
valores, objetivos, normas e virtudes que servirão para orientar a
ação. Entretanto, a religião não compreende só um código moral;
é uma forma de relacionar-se com o transcendente e ordenador.
A obrigatoriedade moral
A realização da moral é um fato individual, porém a moral
responde aos interesses da sociedade, formada pelos indivíduos e
sua vida econômica, política, espiritual e social.
7. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Chegamos ao final desta unidade. Sugerimos que você pro-
cure analisar, responder e comentar as questões a seguir, que tra-
tam da temática aqui desenvolvida, ou seja, dos problemas éticos
e dos problemas morais da vida cotidiana.
1) Com base nos conteúdos desta unidade e nos conhecimentos sobre a rela-
ção entre Ética e moral, analise se é correto afirmar que:
Os problemas éticos são caracterizados pela generalidade. Seria inútil recorrer
à Ética para encontrar uma norma de ação para uma situação concreta. A ética
vai ajudar na análise do comportamento pautado por normas, que consiste o
fim do comportamento moral.
Resposta:______________________________.
Gabarito
4) c.
8. CONSIDERAÇÕES
É comum na Filosofia encontrarmos correntes de pensa-
mento que embaraçam o significado dos termos "ética" e "moral"
por partirem eles de uma mesma fonte, o "ethos". Essa posição
é muito discutida porque as funções dos dois saberes são bem
diferenciadas: a Ética consiste fundamentalmente numa reflexão
filosófica sobre a moral, enquanto a esta última competem as nor-
mas e códigos que regulam o comportamento dos indivíduos em
sociedade.
Moral e Ética respondem a diferentes questionamentos, já
que a moral tem relação com os códigos que versam sobre a ação
do indivíduo na sociedade e opera ante o questionamento: o que
devo fazer perante determinada situação concreta? Enquanto isso,
a Ética atua num nível teórico, tratando de responder a perguntas
9. E-REFERÊNCIAS
Lista de Figuras
Figura 1 Astreia, divindade que difundia entre os homens sentimentos de justiça e de
virtude. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verTexto.asp?servico=bibliot
ecaConsultaProdutoBibliotecaSimboloJustica&pagina=astreia>. Acesso em: 26 abr. 2013.
Figura 2 Têmis, divindade grega responsável por definir a justiça, no sentido moral.
Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verTexto.asp?servico=bibliotecaCons
ultaProdutoBibliotecaSimboloJustica&pagina=temis>. Acesso em: 26 abr. 2013.
Figura 3 O anel de Giges. Disponível em: <http://www.outonos.com.br/filosofia.asp>.
Acesso em: 26 abr. 2013.
Sites pesquisados
ARISTÓTELES. Moral. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/
texto/bk000424.pdf>. Acesso em: 26 abr. 2013.
BOFF, L. Ética e moral: a busca dos fundamentos. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2003. Disponível
em: <http://pt.scribd.com/doc/89815308/Etica-e-moral-a-busca-dos-fundamentos>
Acesso em 26 abr. de 2013.
______. Saber cuidar: Ética do humano. Disponível em: <http://cursa.ihmc.us/
rid=1GMSLFWNB-5RXV9C-GSQ/Saber%20Cuidar%20-%20Etica%20do%20Humano.
pdf>. Acesso em: 26 abr. 2013.
JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Veritatis Splendor. Disponível em: <http://www.
rainhamaria.com.br/Pagina/193/CARTA-ENCICLICA-VERITATIS-SPLENDOR>. Acesso em:
25 abr. 2013.
RICOEUR, P. Ética e Moral. Tradução de António Campelo Amaral. Covilhã: Universidade
da Beira Interior, 2011. Disponível em: <http://www.conteudojuridico.com.br/pdf/
cj035379.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2013.
SANTOS, A. L. Para uma Ética do como se. Contingência e Liberdade em Aristóteles e Kant.
Convilhã: Universidade da Beira Interior, 2008. Disponível em: <http://www.lusosofia.
net/textos/santos_ana_leonor_para_uma_etica_do_como_se.pdf>. Acesso em: 26 abr.
2013.
© U2 - A finalidade da Ética e a essência da moral 71
2. CONTEÚDOS
• As Éticas medievais.
• Concepção de pessoa humana.
• A obra de Santo Agostinho.
• A Ética eudemonista de Tomás de Aquino.
• A origem das virtudes.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
O apóstolo Paulo trouxe as noções evangélicas ao mundo
greco-romano e a mensagem contida nos Evangelhos revolucio-
nou os valores tradicionais, e pode ser descrita como uma das
maiores revoluções éticas da humanidade.
6. PESSOA HUMANA
Apoiada na declaração do Livro do Gênesis, que diz que o ser
humano foi criado à imagem e semelhança de Deus (Gn 1, 26-27),
a Bíblia eleva à condição de dignidade "todos os seres humanos"
por participarem da condição divina.
O conceito de pessoa humana reflete a essência de todos
os seres humanos. Segundo Comparato (2006, p. 457), o concei-
to de pessoa humana toma forma com Boécio no século 6. Esse
pensador define a pessoa humana como "substância individual da
natureza racional", definição que, posteriormente, foi adotada por
Tomás de Aquino.
O nome "pessoa" vem ganhando destaque desde a Antigui-
dade grega. Platão, na República (2006), e Aristóteles, na Meta-
física (2006), destacaram a capacidade racional como condição
de imortalidade existente entre os deuses e que se repete no ser
humano. Contudo, o conceito de pessoa humana nos moldes cris-
tãos, mesmo que mantendo pontos em comum com a concepção
grega clássica, traz uma nova visão do mundo e do homem. Desta-
ca o ser pessoal do homem como imagem e semelhança de Deus
(MARÍAS, 1975, p. 78).
Segundo Lucas (1996), a palavra "pessoa" é derivada do ver-
bo latino "personare", que significa "ressoar" em português. Os
pensadores comprometidos com essa radical visão de ser humano
colocaram a origem da pessoa na cultura grega. "Pessoa" decorre
do vocábulo grego "prósopon", que significa "máscara", em alusão
às máscaras utilizadas pelos atores nas tragédias gregas, que re-
presentavam personagens (pessoas) das diferentes classes sociais.
Suas vozes ressoavam por meio das máscaras utilizadas pelos ato-
res; assim também na pessoa ressoa uma voz que tem caracterís-
ticas de divindade por trás de sua forma biológica.
No Direito romano, eram pessoas os que possuíam direitos e
deveres de cidadãos; os escravos e os estrangeiros não eram pes-
soa para essa forma de Direito. Com a difusão da idia cristã de
espiritualidade e imortalidade da alma e a noção de que todos os
homens são filhos de Deus e iguais em direitos, o conceito de pes-
soa se universalizou em todo o Império Romano.
que, a partir dessa visão, todo ser humano passa a ter direitos,
que emanam do fato de ter sido criado à imagem e semelhança
de Deus.
Com a Teologia medieval, o princípio do Direito formulado
por Cícero (comentado na Unidade 1) fica em segundo plano en-
quanto a organização da vida em sociedade e conduta individual,
em primeiro lugar está a supremacia da fé. Porém, a fonte da refle-
xão jurídica continua sendo o Direito Natural.
8. AGOSTINHO DE HIPONA
Como explicam Cortina e Martínez (2005, p. 63-64) a obra
de Agostinho pertence cronologicamente ao período romano, mas
seu conteúdo inaugura uma série de temas que serão discutidos
ao longo da Idade Média. A Ética cristã de Santo Agostinho é inspi-
rada, como todo o seu pensamento, na Filosofia greco-platônica-
-estoica, matizada pela visão bíblica. Tanto Santo Agostinho como
São Boaventura se apoiam na Filosofia de Plotino (204-270), que
possui características neoplatônicas, mas ambos se contrapõem
ao racionalismo ético dos pensadores gregos.
Concordando com os gregos, Agostinho afirma que a moral
é um conjunto de normas que ajudam a alcançar a "boa vida" e,
como consequência, a felicidade. Sua Ética resulta da releitura das
teorias éticas socráticas. Diferente dos gregos, Agostinho, em Ci-
dade de Deus (AGOSTINHO, 2000), explica que a meta para alcan-
çar a felicidade é o encontro amoroso com Deus, a partir do que
se deduz que os conteúdos da moral não podem ser outros que
os ensinados por Jesus aos homens. Para Agostinho, na doutrina
cristã está a solução para os problemas éticos.
Esse raciocínio nos afasta um pouco do caminho que a Ética
vinha traçando, na medida em que os conteúdos da fé não podem
ser apresentados com o mesmo valor de verdade para todos os
seres racionais, mas, como dizem Cortina e Martínez (2005, p. 64):
Para entender melhor sobre este tema, sugerimos que leia O Ser-
mão da Montanha, de Paul Earnhart, disponível em: <http://www.
estudosdabiblia.net/som.pdf>. Acesso em: 29 abr. 2013.
Gabaritos
1) e.
6) d.
12. E-REFERÊNCIAS
Lista de figuras
Figura 1 Os Dez Mandamentos. Disponível em: <http://rompendoemfe4.blogspot.com.
br/2010/12/os-dez-mandamentos.html>. Acesso em: 29 abr. 2013.
Figura 2 Lápide sepulcral com peixes e âncora. Disponível em: <http://blogdefrine.
blogspot.com.br/2007/08/en-las-entraas-de-roma.html>. Acesso em: 29 abr. 2013.
Figura 3 Martírio dos escravos. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/
Ficheiro:Museum_of_Sousse_-_Mosaics_2_detail.jpg>. Acesso em: 6 maio 2013.
Sites pesquisados
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